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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL Por: Jorge de Almeida Bastos Orientador Prof. Geni Lima Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA DO

ORIENTADOR EDUCACIONAL

Por: Jorge de Almeida Bastos

Orientador

Prof. Geni Lima

Rio de Janeiro

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA DO

ORIENTADOR EDUCACIONAL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Orientação Educacional e

Pedagógica

Por: Jorge de Almeida Bastos

3

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora e aos

colaboradores deste trabalho...

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos orientandos que

tive durante esses anos e que me

ajudaram a entender a importância da

orientação profissional tanto para eles

quanto para mim,.......

RESUMO

5

O presente trabalho aborda de forma simples uma poderosa

ferramenta do orientador educacional, a orientação profissional,

buscando desde as suas origens no Brasil até a sua prática atual com

alunos do ensino médio, contextualizar e refletir sobre alguns aspectos

dessa vertente de trabalho.

É inegável a importância da prática da orientação profissional com

alunos do último ano do ensino médio, pois é notadamente perceptível a

pressão que sociedade – família – escola exercem sobre o vestibulando,

pressão esta cujo resultado pode trazer ao aluno conseqüências

psicológicas graves, como por exemplo, a frustração por escolher um

curso com o qual não se identifique e conseqüentemente acabar por

abandoná-lo. Podemos ressaltar ainda questões econômicas como os

custos gerados pelos processos seletivos dos vestibulares e os cursos

preparatórios.

A orientação educacional tem na orientação profissional uma

poderosa ferramenta de trabalho, seja ela usada com o objetivo de

escolha profissional, aproximação entre família e escola ou simplesmente

como um elo entre o orientador e o corpo discente.

Embora existam formas diversas de exercício da orientação

profissional, excluindo–se a questão dos testes psicológicos, não há

restrições para que o orientador possa “apossar-se” delas e fazer o uso

que mais acreditar se adequar ao seu trabalho dentro da escola.

O nosso trabalho tem como principais nomes Bohoslavsky e Bock,

pois são autores muito expressivos na orientação profissional brasileira e,

portando, de uma importância teórica inegável. Quanto ao primeiro,

adotamos grande parte de suas idéias como embasamento teórico para

nossa prática, pois além de fundamentar sua estratégia clinica na

psicanálise, ele aceita o uso de testes, o que pode trazer características

muito peculiares a orientação profissional, já o segundo autor, citamos

6

incansavelmente, pois apesar de sua relevância teórica, não sentimo-nos

atraídos pela sua teoria, uma vez que acreditamos distanciar-se muito

daquilo que denominamos orientação profissional.

METODOLOGIA

7

O presente estudo tem por objetivo mostrar através de uma

pesquisa bibliográfica a importância do trabalho de orientação

profissional na vida de cada indivíduo. E em específico no momento em

que adolescentes e jovens precisam fazer suas escolhas no que se

refere a uma atuação no mercado de trabalho, não apenas de forma

ocupacional, mas principalmente por ter se identificado com aquela

prática e efetivamente tê-la escolhido. Relatamos também um estudo de

caso prático da aplicação da orientação profissional segundo os preceitos

teóricos usados neste trabalho.

SUMÁRIO

8

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - Os antecedentes 11

CAPÍTULO II - A orientação profissional na prática 16

CAPÍTULO III – Um estudo de caso 25

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

INTRODUÇÃO

9

A pressão social e familiar, excesso de informações e o mercado

de trabalho altamente competitivo colocam cada vez mais em evidência a

necessidade da orientação profissional para os vestibulandos, com o

intuito de viabilizar seu acesso a informações corretas sobre as

profissões e sobre si mesmos. O Orientador Educacional como educador,

pode e deve ajudar o adolescente nesse momento singular da vida a

encontrar o seu caminho.

O momento da escolha profissional costuma ser cercada de mitos

e informações inverídicas, situação esta que contribui bastante para que

o adolescente seja bombardeado de sentimentos profundos acerca deste

momento, como ansiedade, medo, angustia e às vezes até mesmo

depressão.

A função do orientador profissional é não apenas de esclarecer e

ajudar o orientando na sua questão profissional, mas também de

compreendê-lo e aceitá-lo como um todo, saber que naquele momento

em grande parte das vezes a questão profissional está em segundo

plano, pois existem outros conflitos dificultando uma visão clara da

situação. Cabe a este profissional tentar minimizar estas interferências e

ajudar o vestibulando a escolher com consciência e segurança, levando

em consideração que o orientando possui a resposta dentro de si

mesmo, apenas não consegue enxergar sozinho por causa dessas

interferências e não acreditar que ele (o profissional) tem as respostas

necessárias. A orientação profissional quando bem executada, pode

trazer muitos benefícios para o orientando, como a redução da

ansiedade, aumentar a auto confiança e ainda transmitir ao vestibulando

e para a sua família a segurança de estar fazer a opção mais correta

possível para o seu futuro. Um fato que não podemos deixar passar em

branco é o alto índice de evasão no ensino superior devido a insatisfação

com o curso, ou ainda pior, o aluno se decepciona com o curso, mas não

desiste devido aos esforços que realizou para ser aprovado no vestibular

10

e as pressões sociais e familiares e continua cursando mesmo sem

gostar, o que pode ocasionar na formação de um profissional de

qualidade e motivações duvidosas.

CAPÍTULO I

OS ANTECEDENTES

11

Embora a Orientação Profissional tenha suas origens na Europa,

focaremos no seu trajeto no Brasil, ressaltando os aspectos e teóricos

envolvidos nesse processo e alguns resultados obtidos nesse período.

Data da década de 20 do século passado os primeiros relatos

sobre o uso da Orientação Profissional no Brasil, principalmente em

razão da regulamentação dos cursos destinados à profissionalização

para o comércio, indústria e agricultura. Do ponto de vista prático, a

primeira experiência de aplicação sistemática da Psicologia à

organização do trabalho ocorreu em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de

São Paulo, sob a direção do engenheiro suíço Roberto Mange e consistiu

na seleção de alunos para o Curso de Mecânica Prática da referida

escola. A esta experiência muitas outras se seguiram das quais cabe

destacar as relativas às empresas ferroviárias: em 1930, foi criado o

Curso de Ferroviários de Sorocaba e o Serviço de Ensino e Seleção

Profissional da Estrada de Ferro Sorocabana. A partir de então, a

aplicação da Psicologia ao trabalho teve acelerado desenvolvimento,

expandindo-se para um grande número de empresas (Antunes, 1991). O

cenário político-econômico brasileiro era composto pelo governo ditatorial

de Getúlio Vargas (1930-1945) e pela mudança de um modelo de

economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial.

Durante o governo do general Dutra (1946 – 1950) foi criado o

ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional) na Fundação

Getúlio Vargas com o objetivo básico de contribuir para o ajustamento

entre o trabalhador e o trabalho, mediante estudo científico das aptidões

e vocações do primeiro e dos requisitos psicofisiológicos do segundo. O

ISOP desenvolveu nos dez primeiros anos de seu funcionamento um

trabalho voltado principalmente para a implantação de técnicas de

seleção e orientação profissional, dando atendimento à classe média alta,

numa tentativa de orientação da futura elite dirigente. Esse instituto

12

também foi responsável pela formação dos primeiros especialistas na

área da Psicologia.

A instalação do ISOP no Rio teve especial importância para a

criação do Serviço de Orientação e Seleção Profissional (SOSP) em Belo

Horizonte com o objetivo de orientar vocações no meio escolar e

estabelecer critérios para a seleção de pessoal destinado à

administração pública e organizações particulares. O SOSP foi o primeiro

instituto no país sob responsabilidade governamental. Ele foi dirigido pelo

professor Bessa, que era orientado pelo diretor do ISOP, o espanhol Mira

y Lopez.

Os projetos desenvolvidos tanto pelo SOSP quanto pelo ISOP

enquadravam-se na perspectiva da administração científica do trabalho.

O psicotécnico era o profissional que adquiria o domínio do conhecimento

sobre a natureza humana e buscava adaptá-la ao novo contexto da

sociedade urbanoindustrial.

Podemos notar claramente que nesse momento da criação da

Orientação Profissional ela estava estritamente ligada a prática de

seleção profissional, um campo da psicologia hoje ligado a área de

recursos humanos e não a área educacional, podemos notar também

uma forte influencia da psicometria na Orientação Profissional, pois foi

justamente no início do século passado que o mundo passou por um

período de forte influência da psicometria, em parte devido aos famosos

testes de QI (quoeficiente de inteligência). Entretanto, já em um momento

posterior, meados da década de 1970, a regulamentação da profissão de

psicólogo (Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962) e a vinculação da

Orientação Profissional a atividade clínica, afastou o enfoque brasileiro

da psicometria e o aproximou fortemente da psicanálise, principalmente

por causa da Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo

argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996), introduzida no Brasil na

década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho.

13

Carvalho foi a primeira professora da disciplina de Seleção

e Orientação Profissional do curso de Psicologia da Universidade

de São Paulo (USP), desenvolveu um processo de intervenção

grupal que juntamente com a Estratégia Clínica de Bohoslavsky

deram origem a um modelo brasileiro de Orientação Profissional,

que vem sendo largamente utilizado até os dias de hoje por todo

o país. Este modelo de Orientação Profissional, baseado na

Psicologia Clínica, na Psicanálise e em Teorias de Dinâmica de

Grupo, assemelha-se à Terapia Breve Focal, cujo foco de

trabalho é a escolha profissional. Vários autores brasileiros

aceitam esta definição da Orientação Profissional como uma

Terapia Breve Focal o que acaba por subestimar o seu caráter

pedagógico, restringir sua prática aos psicólogos e limitar o seu

alcance de intervenção.

A Estratégia Clínica de Orientação Profissional foi

desenvolvida por Bohoslavsky (1977/ 1996) e chamada por ele

de Estratégia Estatística. Ela foi influenciada pela idéia de não

diretividade da Terapia Centrada no Cliente de Rogers, pela

Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente por Melanie Klein, e

pela Psicologia do Ego norte-americana. A entrevista clínica

aparece como o principal instrumento durante o processo de

orientação e a primeira entrevista tem por objetivo alcançar o

diagnóstico de orientabilidade, que permitirá a realização de um

prognóstico de orientabilidade e a definição de estratégias de

trabalho. Bohoslavsky aceita a utilização de testes para a

realização do diagnóstico, contanto que sejam utilizados apenas

em seu caráter instrumental.

14

Mais recentemente, Silvio Bock (2002), propôs uma nova

abordagem de Orientação Profissional que chamou de

Abordagem Sócio-histórica. Sua base teórica são as idéias de

Vygotsky de que o indivíduo desenvolve-se através de uma

relação dialética com o ambiente sócio-cultural em que vive. Tal

abordagem tem um cunho educativo e visa a promoção de

saúde, conforme o proposto por Ana Bock (Bock & Aguiar,

1995).

No ano de 1993, foi fundada a Associação Brasileira de

Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio

Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional A ABOP foi

criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da

Orientação Profissional no Brasil. Desde então, vem promovendo

simpósios nacionais bienais.

No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por

psicólogos e pedagogos, mas infelizmente, a formação de

orientadores profissionais brasileiros ainda não possui

regulamentação ou lei que determine conteúdos mínimos a

serem ministrados. Esta formação fica a cargo de universidades

e cursos livres, mas a falta de uma regulamentação mais estrita

da profissão acaba por diluir boas iniciativas e não oferece poder

para que a ABOP possa fiscalizar os cursos oferecidos em

território nacional. Uma das conseqüências desta situação foi a

não inclusão da Orientação Profissional no rol de especialidades

para psicólogos, de acordo com as determinações da Resolução

014/00 do Conselho Federal de Psicologia, que dispõe sobre o

título de profissional especialista em Psicologia (Conselho

Federal de Psicologia, 2000). Na prática, psicólogos e

15

orientadores educacionais podem exercer a atividade de

Orientação Profissional sem qualquer formação específica na

área, o que, infelizmente, retarda o seu desenvolvimento e a

desqualifica.

CAPITULO II

A Orientação Profissional na prática

16

Antes de começarmos a discutir os principais aspectos da

prática em orientação profissional, faz se necessário um breve

momento para alguns esclarecimentos acerca de como é

classificada e exercida esta prática no Brasil. Em primeiro lugar,

gostaríamos de abordar a classificação adotada por Bock (2002)

em que divide a orientação profissional em três grupos: 1)

Teorias tradicionais, 2) Teorias críticas e 3) Teorias para além

da crítica. Bock adotou esta classificação, pois “acredita-se que

tal forma de classificação permite o desvelamento das

concepções de indivíduo e sociedade contidas em suas

formulações”. (Bock 2002). É óbvio que não necessariamente

concordamos com Bock mas precisamos partir de algum ponto e

selecionamos este por pertencer a um autor com questões bem

atuais e de renome em sua área. Em segundo lugar, discutir

algumas questões relativas ao exercício profissional da

orientação profissional, ressaltando as características que

especificam e diferenciam a sua prática por psicólogos ou outros

profissionais.

2.1 Teorias tradicionalistas.

17

São as teorias que mais se aproximam da orientação

profissional nos seus momentos iniciais, ou seja, na época

“psicometrista” da op. Embora esta classificação possa provocar

um equívoco entendimento do lugar que estas abordagens

ocupam na atualidade, pois mesmo havendo mais diferenças

que semelhanças, presta-nos um grande auxílio, uma vez que

diminui bastante o numero de autores e orientações que

precisamos abordar neste trabalho, levando em consideração

que não dispomos de espaço suficiente para uma elaboração

mais extensa do assunto.

As teorias de abordagem tradicionalista seriam aquelas em

que há uso de testes psicológicos e psicométricos mas não

necessariamente trabalham exclusivamente com estes métodos,

utilizando também técnicas de entrevistas entre outras.

Segundo Bock:

A função da orientação profissional, nesta abordagem,

seria ajudar o indivíduo a conhecer-se (em algumas

teorias isto nem é necessário, bastando que o

orientador conheça o sujeito), isto é, conscientizar-se

de suas características pessoais, além de ajudá-lo a

conhecer as profissões. Esta ação, para diferenciar-se

daquilo que o indivíduo pode fazer sozinho, vem

revestida de certa aparência de ciência ao utilizar

instrumentos que só o orientador pode manipular e que

carrega a idéia de que o indivíduo tem uma essência

que só um profissional pode descobrir. (Bock, 2002. P

45)

18

Podemos notar no final da afirmação de Bock um tom de

crítica, talvez até um pouco irônico no que diz respeito ao uso

de testes em orientação profissional: “para diferenciar-se

daquilo que o indivíduo pode fazer sozinho, vem revestida de

certa aparência de ciência ao utilizar instrumentos que só o

orientador pode manipular”. Em um espaço mais adiante

reformularemos esta afirmativa de Bock, redirecionando a ao

próprio autor, com o objetivo de obter uma resposta adequada a

questão que levantaremos quando estivermos um pouco mais

avançados no assunto.

Podemos afirmar que as teorias desta vertente buscam

traçar um perfil do orientando e cruzar estas informações com

os perfis ocupacionais existentes, tentando encontrar a maior

compatibilidade / adaptabilidade possível do sujeito a sociedade.

19

2.2 Teorias críticas.

Podemos entender como teorias críticas aquelas em que ao

contrário das teorias tradicionais, não foca sua atuação em

testes, usando outras técnicas mas também sem excluir

completamente a psicometria. Segundo Silvio Bock, podemos

assim definir (ou não) o que seriam as teorias críticas:

Assim, a orientação profissional teria como tarefa clarear

as determinações subjetivas e objetivas da escolha, tendo uma

função meramente descritiva e explicativa. O indivíduo teria

maior consciência dos motivos que o levam a se aproximar de

uma profissão. (Bock. 2002, P 65)

Notamos claramente o antagônico confronto objetivo X

subjetivo entre as teorias tradicionais e as críticas, onde Silvio

Bock coloca Bohoslavsky (a estratégia clínica) como um autor

pertencente a segunda linha, embora seu trabalho não exclua e

até mesmo use testes elaborados pelo próprio Bohoslavsky, que

aliás é um dos autores de maior importância na história da

orientação profissional e que será devidamente abordado mais

adiante.

É óbvio que quando estamos tratando de subjetividade,

não é possível restringirmos as questões a simples

antagonismos, as coisas nunca podem ser tratadas o “preto no

branco”, sempre há particularidades a serem abordadas e

questões que em uma primeira reflexão já descartam esta

simplória bipolaridade teórica colocada pelo autor (Bock),

20

devemos ainda dedicar a devida atenção a terceira classificação

para as teorias em orientação profissional, as chamadas teorias

para além da crítica, ou seja, que teoricamente estariam em

grande vantagem em relação ao exposto até este ponto e que,

obviamente, engloba a teoria defendida pelo autor, a chamada

abordagem sócio-histórica.

21

2.2 Teorias para além da crítica.

A terceira linha abordada por Bock na sua obra “Orientação

profissional – a abordagem sócio-histórica” é justamente aquela

que nomeia o trabalho. Na abordagem sócio-histórica são,

segundo o autor, descartadas as características psicometristas

das teorias tradicionalistas e embora ele afirme que esta teoria

seria um aprofundamento das teorias críticas, descarta as

características psicodiagnósticas da abordagem clínica de

Bohoslavsky, autor que o próprio Bock afirma ser o mais

importante das teorias críticas. A sócio-histórica critica a

aproximação do sujeito com as profissões pelos modelos de

perfis, pois acredita que um perfil profissional pode ser tão

mutável quanto as características da personalidade do sujeito.

A abordagem sócio-histórica aponta caminhos para

entender o indivíduo na sua relação com a sociedade de forma

dinâmica e dialética. Vygotsky, o principal representante desta

abordagem, tem como um dos seus pressupostos básicos a

idéia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua

relação com o outro social. A cultura torna-se parte da

natureza humana, num processo histórico que, ao longo do

desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o

funcionamento psicológico do homem. (Bock. 2002, P. 70, 71)

É obvio que a abordagem sócio-histórica apresenta uma

evolução no que diz respeito ao lado informativo da orientação

profissional e também na questão da aproximação do orientando

com as profissões, entretanto, penso que o afastamento das

22

questões clínicas remete esta prática a um grande retrocesso,

pois a abordagem sócio-histórica pode ser encarada como de

fato uma prática informativa e que em sua grande maioria é

praticada em grupos, descartando, ou melhor, estimulando a

interação (e por que não interferência) dos indivíduos dos

grupos uns com os outros.

Em um momento anterior do nosso trabalho, pudemos

observar a crítica de Bock as teorias tradicionalistas:

Esta ação, para diferenciar-se daquilo que o indivíduo

pode fazer sozinho, vem revestida de certa aparência de

ciência ao utilizar instrumentos que só o orientador pode

manipular e que carrega a idéia de que o indivíduo tem uma

essência que só um profissional pode descobrir. (Bock, 2002. P

45)

Partindo do ponto de que a teoria sócio histórica acredita

que a melhor maneira de orientar é proporcionar ao orientando

o simples autoconhecimento e as informações profissionais,

como dados estatísticos, ocupacionais e relacionados aos

vestibulares, retornamos ao autor a sua própria pergunta: “ O

que o orientador pode fazer pelo orientando que ele não possa

fazer sozinho”?

23

2.4 A prática em OP na atualidade:

Como vimos no primeiro capítulo deste trabalho, a

orientação profissional nos seus momentos iniciais foi exercida

exclusivamente pelos psicólogos, sendo posteriormente adotada

também pelos pedagogos. Na atualidade cabem ao psicólogo

escolar e ao orientador educacional essa prática dentro do

ambiente escolar, não sendo legalmente restrita a estes,

embora não seja adequado ao orientando buscar este serviço

em outro campo profissional que não os já citados neste

trabalho. Ao falarmos em restrições, podemos citar apenas os

casos de orientadores profissionais que optem por aplicar testes

psicométricos, de aptidão ou interesse profissionais

regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia, pois esta

prática é restrita ao psicólogo devidamente registrado no

conselho regional de sua área (Resolução CFP N.º 25/2001),

sendo que o profissional que se utilizar destes métodos sem

estar apto técnica e legalmente, estará sujeito as penalidades

previstas em lei.

Podemos inferir também que pelo seu caráter mais

abrangente e acessível, a abordagem sócio histórica seja a mais

procurada por profissionais “não psicólogos”, justamente por

negar as características psicodiagnósticas relacionadas a op que

tanto tentamos ressaltar neste trabalho.

O campo da Orientação Profissional possui vária formas de

trabalho e várias linhas teóricas, o que na verdade enriquece o

seu conteúdo e proporciona ao orientando escolher aquelas que

melhor lhe pareçam, assim como o paciente clínico que pode

24

optar por ser atendido por um psicanalista ou por um psicólogo

cognitivo-comportamental.

De maneira alguma afirmamos ser uma ou outra técnica

melhor ou pior que outra, a questão em si é que não podemos

ignorar o caráter terapêutico e clínico da orientação profissional,

assim como seus resultados durante a após sua realização.

CAPITULO III

25

Um estudo de caso

3.1 – Considerações Iniciais:

Antes de iniciarmos o nosso estudo de caso, precisamos

fazer alguns esclarecimentos sobre a abordagem teórica

escolhida e também sobre o uso de testes em orientação

profissional. Resolvemos selecionar como autor principal Rodolfo

Bohoslavsky e a sua estratégia clínica por acreditarmos ser o

teórico mais adequado, onde podemos apresentar uma série de

justificativas, dentre as quais o fato de ser um autor de

orientação psicanalítica, da ênfase a questão do psicodiagnóstico

em orientação profissional e também o de aceitar o uso de

testes na sua prática. Segundo a classificação de Bock usada

neste trabalho, descartamos a abordagem tradicionalista, pois

acreditamos que esta não evoluiu com o tempo e que possua

um caráter extremamente limitado, principalmente no que diz

respeito a relação do orientador com o orientando, sem ressaltar

as questões transferenciais principalmente. Já as teorias sócio

históricas, acreditamos serem um pouco limitadas, pois em um

capítulo anterior o próprio Bock criticou as teorias

tradicionalistas pelo seu uso de testes por desejarem dar “um ar

de falsa ciência a sua prática” e também por tentar dizer ao

orientando que estão fazendo por ele algo que ele mesmo não

possa fazer por si mesmo. Pois bem, acreditamos que a

orientação sócio histórica peca justamente naquilo que Bock

critica nas outras teorias, pois se não há psicodiagnóstico e nem

mesmo o uso de técnicas privativas a qualquer categoria

profissional e se esta prática se limita ao autoconhecimento

26

(através de jogos e brincadeiras) e a informação profissional

(informações sobre as carreiras) como posso dizer que isto não

pode ser conseguido pelo orientando sem a ajuda de um

profissional com doutorado ou pós doutorado? Acreditamos que

as atividades lúdicas são importantes sim, mas não

determinantes, assim como a busca por informações que no

século XXI pode ser a coisa mais simples de acontecer devido as

múltiplas maneiras de ficar conectado que os jovens costumam

praticar. Acreditamos que a escolha de uma profissão depende

em grande parte do momento econômico atual, mas também

não podemos descartar os fatores inconscientes atuantes nesta

escolha, as características da personalidade e também as

influencias sofridas pelo orientando, sejam elas conscientes ou

inconscientes. Pensamos que o uso dos testes não é

determinante para a orientação profissional, é apenas uma

ferramenta que pode agilizar o trabalho e guiar nossa prática

por caminhos mais seguros.

O uso de testes em orientação profissional requer um certo

cuidado pois o Conselho Federal de Psicologia (órgão

responsável pela fiscalização e prática profissional) determina

através de uma resolução que tal atividade só pode ser exercida

por psicólogo, ou seja, pedagogos e outros profissionais não

poderiam realizá-la. (Resolução CFP N.º 25/2001), sendo ainda

impossível a outros profissionais o exercício do psicodiagnóstico.

A seguir colocaremos uma lista dos testes usados neste trabalho

e sua respectiva situação junto ao CFP no que diz respeito a sua

autorização / validação.

27

AC (Atenção concentrada), Autor: Suzy Vijande Cambraia.

Situação: Favorável (06/11/2003)

AIP (Avaliação dos Interesses Profissionais) Autor: Rosane

Schotgues Levenfus. Situação: Favorável

CPS (Escalas de Personalidade de Comrey) Autor: Andrew L.

Comrey. Situação: Favorável (6/11/2003)

LIP (Levantamento de Interesses Profissionais) Autor: Carlos Del

Nero. Situação: Não avaliado.

MATRIZES PROGRESSIVAS Autor: J. C. Raven. Situação:

Favorável (20/01/2004)

QUATI (Questionário de Avaliação Tipológica) Autor: José Jorge

de Morais Zacharias. Situação: Favorável (6/11/2003)

R1 Autor: Rynaldo de Oliveira. Situação: Favorável (6/11/2003)

Segundo a tabela acima, todos os testes são para uso

exclusivo do psicólogo e com exceção do teste LIP (que ainda

não atualizou suas tabelas), todos estão validados para uso.

Gostaríamos de ressaltar ainda a questão da psicanálise

em orientação profissional, pois algumas teorias estão

demasiadamente preocupadas em passar informações sobre o

mercado de trabalho e sobre as profissões e podem não se dar

conta de que num processo de orientação podem estar

28

envolvidos fatores muito mais profundos e determinantes do

que isto, como por exemplo fatores do passado do orientando, a

sua relação com o orientador ou ainda o lugar que este

orientador ocupa na transferência com o orientando.

29

2.1 O caso N.

O caso narrado a seguir descreve um atendimento em

orientação profissional realizado no segundo semestre de 2010

em uma escola de ensino médio técnico por solicitação da

própria aluna, tendo sido realizado em oito atendimentos com

duração aproximada de uma hora cada.

N é uma adolescente de dezessete anos, muito bonita,

inteligente e popular entre os colegas de colégio, possui

desempenho escolar excelente e uma boa relação com o corpo

docente da instituição, onde suas virtudes são unanimidade. A

solicitação do atendimento em orientação profissional foi feita

diretamente pela aluna ao setor de psicologia escolar da

instituição, logo após assistir a uma palestra sobre o assunto

realizada pelo psicólogo da escola com a sua turma de 3º ano,

onde foram colocadas questões sobre o desejo deles de se

inserirem no mercado de trabalho a partir do curso técnico que

estavam concluindo, ENEM/vestibular, a opção por fazer ou não

um curso superior, quais tipos de curso estavam disponíveis,

onde cursar e tantas outras coisas relacionadas ao tema que

tanto despertam o interesse desse tipo de público.

1º Encontro:

N relatou possuir uma irmã gêmea e mais dois irmãos de

10 anos também gêmeos. O pai tem 41 anos, é advogado e

corretor de imóveis a mãe tem 38 e é vendedora. Relatou ainda

que tinha grande interesse pela faculdade de direito mas que a

30

orientação profissional poderia ajudá-la a clarear suas idéias e

fazer uma escolha mais consciente. Ao continuarmos a

entrevista, N afirmou que as matérias da escola que menos

gosta são Sociologia, Filosofia, Literatura e Redação, pois

possuem muita teoria e leitura e as que mais gosta são

Educação Física e Artes. Disse ainda que espera na universidade

entrar em um mundo completamente novo e fascinante, bem

diferente do ensino médio e descobrir muitas coisas. A jovem

disse também que nas horas vagas gosta de ouvir musica e

assistir TV, vez ou outra pega alguma coisa para ler e que tem

feito tudo sozinha porque a irmã (gêmea) e o namorado

trabalham, quando a questionei sobre como ela pode pegar algo

pra ler nas horas vagas se as matérias da escola que menos

gosta são justamente aquelas que mais envolvem leitura?

Respondeu da seguinte maneira:” Mas quando pego algo pra ler

geralmente é uma coisa curta e interessante e não aqueles

livros do colégio”. Segundo relatado por N, o namorado é

funcionário do Metrô Rio, tem 21 anos e um pouco de influência

sobre ela, pois se a profissão escolhida for muito “absurda” ele

poderia pressioná-la para que escolhesse outra.

2º Encontro:

No 2º encontro, N surgiu bastante empolgada e trouxe os

cursos de Relações Internacionais e Administração como opções,

disse que tinha conversado sobre esses cursos com amigos e

que havia surgido um grande interesse, passamos parte do

nosso atendimento discutindo sobre essas profissões, em outro

31

momento N preencheu um questionário que tenta aproximar as

características de raciocínio do orientando a teoria das

inteligências múltiplas de Gardner, onde N obteve o seguinte

resultado: (escala de 5 até 25 pontos)

Maior escore:

Inteligência Interpessoal 20 pontos

Inteligência Lógica 19 pontos

Menor escore:

Inteligência Sinestésica 10 pontos

Inteligência Verbal 13 pontos

Segundo Howard Gardner, as inteligências em destaque seriam:

Inteligência Interpessoal – Esta inteligência pode ser descrita como uma

habilidade pare entender e responder adequadamente a humores,

temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Ela é mais bem

apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e

vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência

interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para

distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para

perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente

a partir dessa percepção.

Inteligência lógico matemática – Os componentes centrais desta inteligência

são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e

sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões,

através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma

controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para

reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de

matemáticos e cientistas. Gardner, porém, explica que, embora o talento

cientifico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo,

32

os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os

mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato

consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. (CIEE, 2012 em

www.cieerj.org.br)

Por outro lado, as inteligências onde obteve o menor escore

seriam:

Inteligência sinestésica – Esta inteligência se refere à habilidade para

resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o

corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes,

artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na

manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na

inteligência sinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos

musicais ou verbais demonstra uma grande habilidade atlética ou uma

coordenação fina apurada.

Inteligência lingüística – Os componentes centrais da inteligência

lingüística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das

palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da

linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar,

estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na

sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta

através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com

precisão, experiências vividas. (Idem, ibd)

Os resultados confirmam a postura da orientanda de não

sentir-se atraída pela leitura, o que a principio poderia dificultar

bastante sua evolução em um curso de direito onde as leituras

tendem a ser bastante densas e extensas, fato este que talvez

não seja tão intenso em administração ou relações

internacionais (com exceção da questão da língua estrangeira).

33

3º Encontro:

N parecia bastante pensativa sobre a questão do direito e

praticamente havia descartado o curso de administração após

uma breve pesquisa e não se mostrou tão empolgada com o

curso de Relações Internacionais. Relatou em entrevista que

quase não lê jornais e revistas e não gosta dos assuntos que

aprende na disciplina de língua portuguesa, o que até o

momento confirma o averiguado no teste de Gardner.

Ao preencher o questionário desiderativo de Bohoslavsky

(1998), N escreveu o seguinte (completando):

22: Minha família é uma “merda”.

24: Estou certa de que farei meus filhos muito felizes.

E não conseguiu completar as seguintes frases:

11 – Nesta sociedade vale mais a pena_________________

23 – Meus colegas pensam que eu ____________________

Ao ser questionada sobre os itens 22 e 24, respondeu que

“minha família é uma merda porque é cada um por si, nunca

tive família” e “vou fazer pelos meus filhos tudo o que meus pais

não fizeram por mim”. Podemos inferir então que há fortes

indícios que a opção da orientanda pelo curso de direito tenha

alguma ligação com a relação dela com o pai (advogado), talvez

alguma necessidade inconsciente de agradar o pai ou mesmo de

ser o pai.

34

3º Encontro:

Ao chegar para o atendimento, N pareceu tranqüila e ainda

bem motivada para o processo de orientação profissional,

desenvolvemos uma atividade chamada dinâmica dos

quadrantes, onde o orientando deve escrever nos 4 quadrantes

coisa que gosta/não gosta, faz/não faz, onde N apresentou o

seguinte resultado:

Gosta e faz: Inglês e conversar com amigos.

Não gosta e faz:Escrever e arrumar a casa.

Gosta e não faz:Ler e fazer exercício.

Não faz e não gosta:Sair muito e ser arrogante.

N Novamente relata aqui sua dificuldade no que diz

respeito a linguagem, quando questionada sobre o motivo pelo

qual gosta de leitura mas não pratica, responde que “não tenho

tempo e nem interesse”. Ainda neste encontro, foi aplicado o

teste Quati (Questionário de Avaliação Tipológica - ZACHARIAS,

J.2000), um teste de personalidade com o objetivo de

aprofundar um pouco mais as idéias que tivemos nas

entrevistas, onde obtivemos os seguintes resultados:

11 pontos para Extrovertido

9 pontos para Sensação

5 pontos para sentimento

35

Tipo Psicológico E Ss St, onde o manual do teste afirma o

seguinte:

Pessoas com este perfil de preferência podem ser amistosas, adaptáveis e

realistas. Confiam naquilo que podem comprovar através de seus próprios

órgãos dos sentidos. Aceitam e usam os fatos da melhor forma possível,

quaisquer que sejam estes. Buscam sempre uma solução satisfatória em vez de

tentar impor seus parâmetros pessoais ao mundo que as cerca. Geralmente são

suficientemente populares para que os demais levem em conta suas sugestões

no sentido de se chegar a um acordo comum. Usualmente não são

preconceituosas, têm o espírito bastante aberto e são muito tolerantes –

principalmente com elas mesmas. Podem mostrar muita habilidade para

aliviar situações tensas e conseguir que as partes em conflito cheguem a um

acordo.

Por terem uma certa tendência a absorver melhor os conteúdos cujas praticas

já tenham experimentado, podem ter que desenvolver um esforço um pouco

maior que pessoas com outros tipos de personalidade, pois aprendem com mais

facilidade na prática do que na teoria. Por outro lado, se compreenderem

realmente o valor da vida acadêmica, poderão sair-se bem nela. Precisam

tomar cuidado com frustrações em projetos a longo prazo, pois algumas vezes

essas frustrações podem fazer com que desistam de algo que poderia trazer-

lhes grande satisfação. Pessoas com este perfil psicológico tendem a admirar a

prática de esportes e também a prática musical, têm como palavra-chave:

Animação do Ambiente e podem se desenvolver bem em qualquer atividade

onde possam exercer suas capacidades de liderança e persuasão. Na vida

profissional mostram um bom desempenho em carreiras que exijam uma boa

dose de realismo que ofereçam oportunidades de ação e uma boa capacidade

de adaptação. Como exemplos podemos citar a área de vendas, saúde, estilista,

arquitetura, relações públicas e relações internacionais. (ZACHARIAS,

J.2000)

Até o momento pudemos apurar que nossa orientanda tem

aptidão para profissões em que ela tenha que se comunicar e

36

trabalhar com outras pessoas, em grupos e passando

informações, entretanto a questão da leitura ainda tem se

mostrado um entrave e isso pode acabar tornando qualquer

curso por mais interessante que pareça no início, enfadonho do

meio para o final pela carga de leitura.

4º Encontro:

Foi aplicado o teste LIP (DEL NERO, Carlos. LIP:

Levantamento de Interesses Profissionais. São Paulo: 1998.),

um teste que aponta a área de interesse do orientando de uma

forma mais específica e que pode realmente nos ajudar a

recortar um pouco mais nossas suspeitas, onde podemos

analisar os seguintes resultados obtidos:

20 Pontos em Negócios

19 Pontos em Sociais

17 Pontos em persuasivas

E obteve menor escore em Artes (10 pontos)

Segundo o manual do teste as áreas onde obteve maior escore

são assim definidas:

Negócios — Inclinação ao comércio e suas técnicas. Empreendimentos,

transações em grande ou pequena escala. Transações entre entidades ou

37

países. Gerenciar empresas. Controlar recursos humanos, administrar.

(Comércio Exterior e Relações Internacionais)

Ciências Sociais — Bem estar do ser humano. Ajustamento ao lar, a escola, a

profissão e a sociedade. Prevenção de desajustamentos. Promoção de

assistência aos necessitados. Amparo moral espiritual e emocional.

(Pedagogia e Psicologia)

Persuasiva — Uso da persuasão: convencer. Habilidade para determinar a

vontade, para induzir, para levar a convicção. Formar juízo. Habilidade para

comandar, para dirigir, para liderar e para influenciar pessoas. (Direito e

Relações Públicas), (Del Nero, Carlos. 1998)

A esta altura do trabalho, a orientanda acreditava

fielmente que poderia cursar direito mas também começava a

questionar bastante o curso de Relações internacionais, o único

entrave no entanto ainda era a alta carga de leitura, que no

caso de Relações internacionais incluía até direito internacional,

história e línguas.

Em um questionário aplicado neste dia a jovem relatou que

perdeu muito tempo da sua vida estudando para ser Técnica em

Segurança do Trabalho, pois nesse momento tinha certeza que

isso ela não queria ser de jeito nenhum, relatou ainda que

quando criança queria ser militar e no futuro seria plenamente

realizada se fosse Delegada de Polícia ou Juíza.

38

5º Encontro:

Com a aplicação do teste Matrizes Progressivas (Raven, J.

C. 1998) foi possível, a partir do percentil alcançado pela

orientanda (60) obter dados sobre o seu nível de raciocínio

lógico (mediano / normal) e também sobre o seu grupo, que

segundo a tabela B-5, teria maior aptidão para vendas, ou seja,

ainda segundo nossas suspeitas, a orientanda possui aptidão

para desenvolver atividades onde sejam necessárias habilidades

verbais e empáticas (relação com o outro). Quando interpelada

sobre suas habilidades para venda, a orientanda respondeu que

seus planos para o ano seguinte incluíam realizar sua inscrição

no CRECI (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis) e

trabalhar como corretora (assim como o pai), além de cursar

direito (novamente seguindo os passos do pai). Ainda neste dia,

N realizou uma atividade denominada como “cariciograma”,

onde o orientando deve distribuir um percentual de 100% entre

quatro itens (profissão, família, amizades e relacionamentos)

onde podemos observar o seguinte:

Profissão: 45%

Família: 20%

Amizades: 15%

Relacionamentos: 20%

Ao ser questionada sobre esta atividade, a orientanda

relatou que a coisa mais importante para ela naquele momento

era o sucesso profissional e que não se importava com as

39

amizades, relatou ainda que com exceção da irmã gêmea, os

demais integrantes da família não possuíam importância

alguma, obviamente havia se esquecido do pai ao relatar tal

opinião, que ao ser questionada, imediatamente se deu conta de

sua falta e corrigiu sua fala: “Meu pai é a pessoa mais

importante da minha vida”.

Desde o início até o presente momento podemos

notar claramente a influência do pai nas escolhas de N, só não

podemos afirmar a profundidade desta influência pois não

sabemos o quanto N tem consciência dela. Os conflitos são um

tanto quanto óbvios, pois ao mesmo tempo que N quer se

diferenciar do modelo familiar que conhece, quer ser igual ao

pai, buscando atividades e interesses que tem a certeza de

agradá-lo, talvez a adolescente não esteja fazendo nada além

de com a sua escolha profissional buscar a aprovação do pai,

assim como a menina que ao passar pelo Édipo entra em

conflito com a mãe na disputa pelo amor do pai, como podemos

observar nesta citação do “Algumas conseqüências psíquicas da

distinção anatômica entre os sexos”: “Ela abandona o seu desejo de um

pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho; com esse fim em vista,

toma o pai como objeto de amor. A mãe se torna seu objeto de ciúme”.

(Freud, S. 1925: 318).

40

6º e 7º Encontros:

Dedicamos estes dois últimos encontros a discutir e buscar

informações relacionadas aos cursos de Direito e Relações

Internacionais, usando a internet (sites sobre programas como o

Globo Universidade, Guia do Estudante e CIEE), informações

sobre os processos seletivos (vestibular, ENEM, relação

candidato/vaga, específicas e etc) e também na apresentação de

palestras com profissionais da área, N mostrou-se muito mais

interessada na palestra de Relações Internacionais do que na

palestra de Direito, apesar de ter declarado que seguiria seu

planejamento de no ano seguinte cursar direito e talvez fazer

uma pós em direito imobiliário.

8º Encontro:

N chegou um pouco cabisbaixa, o semblante não

apresentava o brilho no olhar que rotineiramente emoldurava-

lhe a bela face, relatou que estava triste por dois motivos, o

primeiro deles era que a orientação profissional estava acabando

e que ela havia gostado muito de ter alguém para ouvi-la e

ajudá-la em algo que ela considerava tão importante. A segunda

coisa era que estava tendo problemas com a irmã, pois tinha

certeza que ela ficaria reprovada por faltas e que isso provocaria

um certo mal estar entre elas e o pai. Relatou ainda que embora

tenha gostado muito do curso de Relações Internacionais, ele

seria apenas uma segunda opção, pois “mesmo não gostando

tanto de direito, com a ajuda do meu pai, as coisas não serão

41

tão difíceis” . Como considerações finais eu disse-lhe que ela

deveria começar a mudar seus hábitos no que diz respeito a

leitura e a informação e afirmei que a orientação é só uma

ajuda, a verdade está dentro do próprio orientando, ele apenas

tem dificuldade em enxergar naquele momento por uma série de

fatores.

42

CONCLUSÃO

A orientação profissional inegavelmente é uma poderosa ferramenta a

disposição do orientador educacional e podemos chegar a esta conclusão

devido ao desenvolvimento deste trabalho. Nele foi possível acompanhar o

desenvolvimento da orientação profissional desde o inicio da sua prática no

Brasil até os dias atuais, considerando a multiplicidade de teorias e práticas

existentes. O estudo de um caso prático nos mostra a aplicabilidade dos

conceitos em OP e faz com que tentemos enxergar a questão profissional

pelos olhos da adolescente N, cujos conflitos e desejos são atravessados por

vários fatores, como sua relação com seus pais, com amigos, seus

relacionamentos e suas idéias sobre si e sobre o mundo.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

43

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1890/1930: Uma contribuição aos estudos em História da Psicologia. Tese

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17/12/2011, Psicologia Online:

http://www.pol.org.br/atualidades/ materias.cfm?id_area=14

___________________________. (2011). Sistema de Avaliação de Testes

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psicólogos devidamente registrados, segundo a resolução CFP N.º 25/2001.

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ZACHARIAS, J. QUATI: Questionário de Avaliação Tipológica. São Paulo:

Vetor, 2000.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 09

46

CAPÍTULO I - Os antecedentes 11

CAPÍTULO II - A orientação profissional na prática 16

Capítulo 2.1 – Teorias tradicionalistas 17

Capítulo 2.2 – Teorias críticas 19 Capítulo 2.3 – Teorias para além da crítica 21

Capítulo 2.4 – A prática em OP na atualidade 23

CAPÍTULO III – Um estudo de caso 25

CAPÍTULO 3.1 – Considerações Iniciais 25 Capítulo 3.2 – O caso N 29

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43