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UNIVERSIDA DE CANDIDO MENDES PÓS-GRA DUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A RE-ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – UMA NEC ESSIDADE NO ENSINO SUPERIOR Por: Aline Patitucci Lage Tavares Orientador Prof ª Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A RE-ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – UMA NECESSIDADE NO

ENSINO SUPERIOR

Por: Aline Patitucci Lage Tavares

Orientador

Prof ª Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A RE-ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – UMA NECESSIDADE NO

ENSINO SUPERIOR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior

Por Aline Patitucci Lage Tavares

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AGRADECIMENTOS

Aos professores da Universidade

Candido Mendes, especialmente a

orientadora e amiga Mary Sue por sua

disponibilidade, orientação e apoio em

momentos difíceis.

Aos colegas de Docência do Ensino

Superior, especialmente a Sandra

Cunha por seu empenho que foram

preponderantes para a realização

deste trabalho.

A amiga Antonieta por sua amizade

incondicional em todos os momentos

difíceis de minha vida, por seu

incentivo e apoio permanentes durante

todo o curso.

“A verdadeira amizade acalma, acalenta e livra das ondas tempestuosas nosso imenso

mar interior”

Aline Patitucci Lage Tavares

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DEDICATÓRIA

Ao meu marido Raul por sua

persistência, paciência, incentivo e

amor verdadeiro ao longo dos nossos

22 anos de casados.

Aos meus filhos Bruna e Rafael por

serem verdadeiros companheiros na

jornada da vida.

A minha afilhada Roberta por seu

amor incondicional e presença

marcantes em todos os momentos.

A minha afilhada Sylvia, um exemplo

de criança sensível, amorosa e

companheira que colore meu coração

com seus pensamentos e palavras

sensatas de apoio.

A querida Louise, criança de uma força

vital incontestável, da qual tenho

saudades e que onde quer que esteja

será lembrada, em meu coração,

eternamente.

“A vida é um turbilhão de emoções que vividas intensamente, permanecerão eternamente”

Aline Patitucci Lage Tavares

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RESUMO

As mudanças constantes no mundo, com os avanços tecnológicos, digitais e a

globalização que provocaram, conseqüentemente, mudanças radicais no

mundo do trabalho, definem, claramente, a necessidade de uma reflexão sobre

o momento em que passa o Ensino Superior no Brasil. Faz-se necessária uma

investigação sobre as questões que envolvem a escolha profissional, a

definição de carreira que, atualmente, tem um grande peso para a formação

dos futuros profissionais e do futuro da pesquisa no Brasil, pois o país

encontra-se em um momento de mudanças políticas, econômicas e sociais que

interferem, sobremaneira, no rumo que a Educação Superior deve ou pode

tomar. Desta forma, o trabalho realizado visa investigar as questões da escolha

profissional dos alunos do Ensino Superior que trocam de curso, mais de uma

vez, não somente no início do curso mas em qualquer momento de sua

formação ou abandonam ou, ainda, terminam o curso insatisfeitos com suas

escolhas. Ocorrem, ainda, casos de profissionais, engajados e trabalhando em

sua área de formação mas que, também, demonstram insatisfação. Diante do

exposto, torna-se de extrema importância uma reflexão sobre estas questões e

a necessidade da elaboração de uma proposta, que tenha como prioridade

atender a demanda instalada, que se caracteriza com um trabalho de re-

orientação profissional e de carreira que esteja disponível durante o período de

duração do curso de graduação em todas as áreas e como e qual deve ser o

papel das Instituições Superiores de Ensino nesta proposta.

Palavras-chave: Ensino Superior no Brasil, Evasão no Ensino Superior,

Escolha Profissional, Re-Orientação Profissional.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada destina-se a apresentar, de forma abrangente, a

questão central do trabalho monográfico, a comprovação da necessidade de

uma ação efetiva junto aos alunos de graduação, em todo o país, em

Instituições Superiores, que enfrentam uma problemática de insatisfação com a

escolha profissional inicial e que, na maioria das vezes, provoca inúmeras

mudanças de curso ou abandono da graduação. Como conseqüência, há um

aumento do número de vagas ociosas em nossas instituições.

Para atingir este objetivo foi realizada uma pesquisa bibliográfica e teórica,

perpassando autores consagrados em Orientação Profissional.

Foram consultados, também, periódicos direcionados e de grande tiragem

enfocando o sujeito da Orientação Profissional: o adolescente atual.

Artigos científicos, revistas especializadas também foram de grande

importância para uma visualização mais abrangente sobre as questões que

envolvem a escolha profissional, o mercado de trabalho no mundo globalizado,

informações e reflexões sobre o Ensino Médio e Superior e o Vestibular.

A internet foi um importante meio de informação de fontes de referência para a

pesquisa tanto na busca de livros, revistas, sites especializados e recebimento

de informações de órgãos competentes relacionados ao assunto.

De especial relevância para a elaboração desta pesquisa encontram-se o CIEE

e o INEP, que gentilmente encaminharam diversos materiais como revistas,

pesquisas e censos para uma maior compreensão às questões da evasão

escolar, 1° estágio e 1° emprego.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 13

CAPÍTULO II O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 56

CAPÍTULO III RE-DEFINIÇÃO PROFISSIONAL 93

CONCLUSÃO 113

ANEXOS 122

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 129

ÍNDICE 132

FOLHA DE AVALIAÇÃO 135

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INTRODUÇÃO

“ Escolhendo a mim, escolho o homem”

J. P. Sartre

O presente trabalho visa compreender o fenômeno do processo de decisão que

envolve a escolha da carreira e as conseqüências desta escolha. O trabalho

vai analisar o que vem ocorrendo nas Instituições Superiores de Ensino

Públicas (Federais, Estaduais) e Privadas.

Toda escolha gera angústia, insegurança e de uma forma ou outra causa uma

reflexão. Por volta dos 17/18 anos de um jovem, terminando o 3o. ano do

Ensino Médio, ocorre um momento importante de escolha por um curso de

graduação.

Especificamente com relação a essa escolha da profissão há um atividade

especializada: a Orientação Profissional. Entretanto, este tipo de trabalho vem

sendo equivocadamente praticado pelas escolas de Ensino Médio. Na

realidade elas oferecem: palestras com profissionais, inventários de interesse

ou visitas a universidades. A escolha do aluno não é trabalhada, uma vez que

esta implica em outras reflexões que caracterizam o processo de Orientação

Profissional.

No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,

muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores. Algumas

pesquisas (IBGE, MEC) indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em

um curso superior tem certeza de sua escolha.

Quando questionados sobre como foi realizada essa escolha muitos apontam

como critério: o curso menos concorrido, o curso que a família dizia ser "a cara

deles", o curso apontado pela mídia como aquele que dá mais dinheiro. Isto

quando há um critério prévio, pois vários jovens confessam que escolheram "na

sorte", a caminho ou na fila da inscrição para o vestibular. É como se o

importante fosse passar no vestibular, provando à sociedade, à família e a si

próprio que é capaz, independente do que vai fazer...ou seja, independente do

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que vai fazer com sua vida futura, como se esta escolha fosse desvinculada da

vida e de todas as conseqüências a ela interligadas. (UNICENP, 2005)

A conseqüência desta realidade é a de que os alunos fazem uma escolha e

entram para uma Instituição Superior de Ensino onde se vêem insatisfeitos, em

algum momento de seu curso, ou até mesmo após sua conclusão, por variadas

razões. Alunos chegam a trocar de curso mais de uma vez ao longo de seu

período estudantil, inclusive nos últimos períodos da graduação.

Esses acontecimentos fazem da vida do aluno de graduação uma permanente

angústia e insegurança com relação a sua vida pessoal, social e profissional.

As Instituições Superiores de Ensino estão formando profissionais que quando

chegam ao mercado de trabalho se sentem perdidos e insatisfeitos.

Ampliando esta visão, fica claro que os indivíduos se sentem incompletos, com

a sensação de uma busca permanente por algo que não conseguem encontrar.

Isso afeta não somente a questão profissional, mas permeia todos os aspectos

da vida.

A questão central do trabalho que se impõe é refletir sobre a desistência nos

cursos de graduação e/ou a troca periódica de curso durante a formação dos

alunos e investigar quais estratégias, com ajuda especializada, que as

Instituições Superiores de Ensino oferecem a esses alunos.

Este tema foi escolhido por sua importância no âmbito geral da formação do

ser humano bio-psico-social, pois os indivíduos que devem encontrar-se como

profissionais competentes, seguros, satisfeitos e pesquisadores conscientes.

Somente desta forma poderão se tornar cidadãos em condições de exercer a

cidadania de forma plena e, conseqüentemente se verem como agentes

transformadores da sociedade.

A realização deste estudo monográfico permite a reflexão de vários aspectos

tanto pessoais como sociais. A formação de um indivíduo pleno, consciente,

cidadão com possibilidades de participar ativamente de questões de seu bairro,

sua cidade, seu estado, seu País.

O trabalho aborda diversas situações, reflexões de pensadores e profissionais

envolvidos com Educação e Orientação Profissional.

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Para tanto, a reflexão sobre o momento da escolha, a dificuldade da escolha, a

Orientação Profissional e como ela vem sendo realizada, a insatisfação dos

alunos dos cursos de graduação, suas dúvidas na vida pessoal, social e

profissional, o papel da Universidade e o equívoco de seus objetivos e as

estratégias utilizadas.

Outras questões ligadas ao tema central também serão refletidas durante o

trabalho:

1) As Universidades, não se sentem responsáveis pelo percentual de

estudantes que desistem e/ou trocam de curso durante a graduação, até várias

vezes.

2) A Orientação Profissional que têm sido oferecida pelas escolas de Ensino

Médio não atendem a demanda de seus alunos por questões que devem ser

investigadas.

3) A grade curricular dos períodos iniciais, nitidamente, não têm vínculo visível

para o aluno com a profissão escolhida.

4) As Instituições Superiores de Ensino, em algumas áreas, não disponibilizam

o estágio dentro e fora da instituição, não havendo orientação adequada aos

alunos, bem como convênios com empresas.

5) O mesmo ocorre com a questão do 1o. emprego. Normalmente, os alunos

terminam o curso de graduação perdidos, sem saber o que fazer e,

logicamente, por conta da ausência da Universidade.

6) O aumento crescente do número de vagas ociosas nas Universidades.

O aspecto profissional tem sido, ao longo do tempo, intrinsecamente ligado ao

objetivo principal das Instituições Superiores de Ensino. Entretanto, O

Ministério da Educação e Cultura vêm promovendo debates com membros

acadêmicos, a comunidade científica, a sociedade em geral, representantes de

Instituições Superiores de Ensino Públicas e Particulares e representantes dos

alunos através da Une, com o objetivo de promover uma reforma no Ensino

Superior. Uma das questões debatidas diz respeito ao enfrentamento da

questão: a Universidade forma para o mercado de trabalho ou está

comprometida com a busca do conhecimento?

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Ao final do presente trabalho, este apresenta uma possibilidade de minimizar

estas questões com o desenvolvimento de atividades especializadas e

mudanças estratégicas que podem ser realizadas pelas Instituições Superiores

de Ensino e que seriam de grande ajuda para a resolução das questões

apresentadas.

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“Para enxergar claro basta mudar a direção do olhar”

Antoine Saint-Exupéry

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CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

“Comerás do fruto das tuas mãos, serás feliz e prosperarás”. (SALMOS, 1982,)

“Não há outra felicidade para o homem além de comer, beber e gozar do bem-estar,

fruto do seu trabalho”. (ECLESIASTES, 1982)

1.1 - BREVE HISTÓRICO

A existência do homem está relacionada ao trabalho a fim de manter a

sua sobrevivência. Historicamente, o trabalho constrói vida social e esta o

determina, pois para transformar a natureza foram constituídas, entre os

homens, relações de produção que mudaram no tempo e no espaço, assim

como os meios e os modos de produção.

A produção de bens refere-se ao próprio modo de vida vigente em uma

determinada sociedade e em um determinado momento histórico, não se

resume à produção e reprodução das condições materiais de existência. A

ação que modifica a natureza não se limita à produção de bens materiais, mas

a condições que permitam os relacionamentos dos homens entre si e com a

própria natureza.

O ser humano não possui nenhuma outra atividade que preencha seu tempo

da forma como o trabalho o faz e ainda lhe dê o sustento e ao mesmo tempo

lhe possibilite desenvolver o relacionamento interpessoal e a realização

pessoal. O sujeito ocupa seu lugar na sociedade através da profissão que

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desempenha, pois a ela se agregam valores. Não trabalhar é abdicar do

progresso pessoal e social.

BOHOSLAVSKY (1998) afirma que a identidade ocupacional está diretamente

relacionada à pessoal, portanto o conhecimento contextual, os vínculos

estabelecidos e o auto-conhecimento são relevantes. Definir o que fazer

futuramente é decidir o que irá ser, e também o que não será, pois quando se

escolhe algo, deixa-se de escolher todas as demais opções. Uma escolha

autônoma e responsável implica na conscientização dos fatores internos e

externos que influenciam no processo decisório.

Várias outras teorias psicológicas surgiram: psicodinâmicas (Bordin,Holland....),

desenvolvimentistas (Pelletier, Ginzberg...) e decisionais (Gellat, Hilton...),

cujos objetivos, resumidamente, são os de explicar: a escolha profissional

através de conceitos psicanalíticos e de características da personalidade, o

desenvolvimento vocacional e o processo de tomada de decisão,

respectivamente. (FERRETTI, 1997)

PIMENTA (1981) menciona que a Teoria de Frank Parsons dá a idéia de

“homem certo no lugar certo”. Inicialmente, as aptidões eram consideradas

inatas, bastando a aplicação de testes para desvendá-las, mais um

determinismo vocacional do que uma escolha, pois havia a limitação da

psicometria que passou a um segundo plano a partir da década de cinqüenta,

com a Teoria Desenvolvimentista. No Brasil a Orientação Profissional teve

início a partir da década de quarenta.

FERRETTI (1997), reforça a questão de se refletir para além da escolha, sobre

o ingresso e o exercício de determinada profissão, considerando-se o contexto

social. Ressalta a necessidade da Orientação Vocacional trabalhar com

aqueles que não optam por uma carreira ou ocupação ou o fazem sob

limitações, sujeitando-se a subempregos e má remuneração, ou seja,

submetem-se à situação, sem escolha. Pode-se incluir aqui os jovens de

classes menos abastadas e os deficientes, de modo geral. Algumas das

propostas deste autor são de que se possa ampliar o atendimento, sem

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exclusão, atingindo também aqueles cujas possibilidades de escolha são

restritas.

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1.1.1- No mundo

A prática em orientação vocacional no mundo ocidental pode ser concebida a

partir do período da Revolução Francesa, em 1789. Antes desse período,

vigorava a influência do regime da Idade Média, que atrelava a ocupação

profissional dos sujeitos a condições de nascimento.

Os princípios difundidos pela Revolução Francesa estabeleceram a liberdade

de escolha e legitimaram igualdade de direitos aos homens, o que lhes

possibilitava fazer opção por ocupações diferenciadas daquelas determinadas

por sua condição familiar.

Posteriormente, a Revolução Industrial ocasionou uma série de alterações na

economia, deflagrando a mudança do modo de produção agrário para o modo

de produção industrial. Esse novo modo de produção, cuja operacionalização é

feita pelo uso de máquinas, exigiu qualificação humana para sua utilização.

Os primeiros registros de trabalhos sobre orientação vocacional surgiram

dentro desse contexto de desenvolvimento econômico.

Em 1908/1920. na Inglaterra, ocorreram as primeiras medidas sobre

Orientação e em 1920, Myers cria o 1o. Instituto de Orientação Profissional.

Em 1906, na França, surge o 1o. Instituto de Orientação Profissional, com

preocupações voltadas para crianças e adolescentes, fruto do trabalho

psicométrico de Binet.

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O desenvolvimento da Psicometria e o aumento da oferta de trabalho

ocasionada pela Primeira Grande Guerra oportunizaram a maciça difusão de

trabalhos sobre Orientação Vocacional. O movimento da saúde mental,

consolidado após a Primeira Guerra, também favoreceu a preocupação e

exploração do tema.

Em 1908, Frank Parsons inaugurou nos Estados Unidos o serviço de

Orientação Profissional e começou a por em prática os princípios da sua teoria,

denominados de Traço e Fator. Frank Parsons defendeu a idéia de que a

adaptação às ocupações depende do equilíbrio entre as características dos

indivíduos e as exigências das funções. As idéias desse autor dominaram por

muito tempo os trabalhos existentes sobre o tema. O desenvolvimento da

psicometria e uma série de preocupações pedagógicas fizeram com que as

idéias de Frank Parsons se estendessem para a área escolar.

Em 1919, em Barcelona, surgiu Myra e Lopes com a Orientação Profissional.

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1.1.2 – No Brasil

Em 1931, Lourenço Filho criou o 1o. Serviço Público de Orientação Profissional

no Brasil, na cidade de São Paulo.

Em 1933, surgiu o Código de Educação do Estado de São Paulo que previa a

instituição dos cursos vocacionais entre o 1o e o 2o. graus.

Em 1937, O Instituto Profissional Masculino, hoje a Escola Técnica Getúlio

Vargas, criou o gabinete de Psicotécnica, Escolha Profissional.

Em 1937, Edmir de Aguiar Witaker criou, na Escola Industrial de Santos, o

Serviço de Orientação Profissional, trabalho interrompido em 1938.

Artigo 80 da Lei Orgânica do Ensino Secundário:

“ É função da Orientação Educacional, mediante as necessárias observações,

cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos

estudos e na escolha da profissão, ministrando-se esclarecimentos e

conselhos, sempre em entendimento com a família. “

Em 1945, no Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas criou o Instituto de

Orientação Profissional (ISOP), a partir do modelo europeu do psicólogo Emilio

Myra Y Lopes, Barcelona, Espanha.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Carl Rogers, psicólogo, sinalizou uma

abordagem não diretiva e centrada no cliente para acolher os indivíduos

problemáticos, inclusive aqueles com conflitos em relação à escolha

profissional, em uma atmosfera de aceitação incondicional do cliente por parte

do terapeuta.

A década de 50 foi marcada pelo número marcante de pesquisas sobre o tema.

GINZBERG in apud (LEVENFUS & NUNES, 2002) apresenta sua teoria e

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define a orientação vocacional como um processo de desenvolvimento que se

inicia desde a infância até a fase adulta e que é irreversível.

Donald Super elabora, em 1957, uma teoria com enfoque desenvolvimentista e

dimensionou a Orientação Vocacional enquanto processo. Na concepção do

autor, o desenvolvimento da vocação é um processo que acompanha o ciclo

evolutivo do indivíduo. Trata-se de um processo dinâmico que resulta da

interação entre as características do indivíduo e as demandas do meio. O papel

do orientador dentro da teoria de Donald Super é o de indicar uma profissão

que seja adequada à imagem que o indivíduo tem de si mesmo.

HOLLAND (1959) defendeu que a escolha profissional devia relacionar-se com

as características do sujeito. O sujeito é fruto da interação entre a

hereditariedade e as demandas do ambiente, desse modo, a atividade é

escolhida pelo sujeito a partir de sua percepção da ligação entre suas aptidões

inatas e suas aprendizagens. A escolha, segundo Holland, deve levar em conta

uma "orientação pessoal".

As idéias defendidas pelos teóricos influenciaram as duas principais

modalidades de atendimento em Orientação Vocacional atualmente realizadas.

O método estatístico/psicométrico está sedimentado na teoria do traço e fator

de Frank Parsons. O método clínico apresenta, em sua fundamentação,

influências de Carl Rogers, Donald Super, entre outros. Nesta época, a

Orientação Profissional estava voltada para a escolha da vocação do indivíduo

e durante muito tempo foram estas as técnicas que preponderavam no

processo de Orientação Vocacional / Profissional.

Por volta do final do Séc, XX, começaram os questionamentos sobre o que é

vocação e o processo de escolha passou a ser chamado de Orientação

Profissional.

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1.2 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Cada uma das abordagens consiste em um conjunto de princípios, modelos teóricos e

métodos de intervenção pautados em diferentes concepções de indivíduo e de

sociedade. As abordagens citadas a seguir têm base nas revisões de Crites, Herr e

Cramer e Zunker e nos trabalhos de Silvio Bock..

1.2.1 - Abordagens psicológicas

As abordagens psicológicas estão relacionadas a um enfoque clínico da Orientação

Profissional. Seu principal foco é o indivíduo, como este vivencia as escolhas e como a

Orientação Profissional pode contribuir no processo. O conceito fundamental nessas

abordagens é o de que o indivíduo é livre para escolher e, assim, é o principal

responsável pelo seu destino. Entretanto, a escolha só poderá ser livre se o sujeito

estiver consciente e bem informado. Segundo BOHOSLAVSKY, 1998, "Um acúmulo de

experiências adquiridas de modo consciente e inconsciente leva o adolescente à

convicção de que pode escolher por ele mesmo. Para isso, necessita conhecer e

conhecer-se".

1.2.1.1 - Abordagem Traço-e-Fator

Originária do início do século passado, com o trabalho de Parsons, também

conhecida como abordagem "atuária", tem como finalidade encontrar o

casamento perfeito entre perfis ocupacionais e pessoais. Filosófica e

ideologicamente está vinculada a uma concepção positivista, liberal e médica

de indivíduo e sociedade.

Teórica e metodologicamente, fundamenta-se na psicologia diferencial e na

psicometria. Suas principais premissas são:

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a

escolha ocupacional é um evento pontual e deve ser feita com

bases racionais e científicas;

o

perfil individual pode ser claramente identificado por meio de

instrumentos psicométricos;

o

perfil correspondente a cada ocupação pode ser

estatisticamente determinado e permanece estável ao longo do

tempo;

a

escolha certa é aquela em que melhor coincide o perfil

ocupacional com o individual.

A intervenção segue o modelo médico tradicional de análise, diagnóstico,

prognóstico e tratamento. O cliente submete-se passivamente às instruções do

orientador, que detém os instrumentos, o saber e a autoridade para

prognosticar o rumo profissional do sujeito.

1.2.1.2 - Abordagem Centrada na Pessoa

(ou Não-Diretiva)

A partir da década de 40, alguns terapeutas começaram a aplicar os princípios

da abordagem rogeriana no aconselhamento profissional. A principal premissa

da Orientação Profissional centrada na pessoa é que o indivíduo

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psicologicamente equilibrado poderá melhor resolver os seus dilemas

ocupacionais.

Assim, o principal objeto do processo de aconselhamento não é a escolha em

si, mas o auto-desenvolvimento, isto é, a reorganização do "self" na direção de

uma maior maturidade, autoconsciência, auto-aceitação e abertura para novas

experiências. Para alcançar isso, o terapeuta segue os princípios da terapia

centrada no cliente como: confluência, empatia, aceitação incondicional e não-

diretividade. O cliente é incentivado a desempenhar um papel ativo na

condução do mesmo. Os determinantes sociais e individuais da escolha

profissional são considerados dentro da ótica e referencial de valores do

cliente.

1.2.1.3 - Behaviorista

Nas décadas de 60 e 70, a Orientação Profissional de base behaviorista usou

conceitos e técnicas da teoria comportamental e da aprendizagem para

explicar e facilitar o processo da escolha, tendo como referencial os trabalhos

de Goodstein e Krumboltz.

Essa abordagem, busca eliminar a ansiedade gerada pela indecisão

ocupacional e depois investe em uma elaboração cognitiva mais efetiva sobre a

escolha. Isso é conseguido através da análise de comportamentos e de uma

série de técnicas para: descondicionamento, dessensibilização, modelagem,

aprendizagem discriminativa, reforço da assertividade e de comportamentos de

tomada de decisão, busca efetiva de informações ocupacionais, entre outras. O

cliente desempenha um papel ativo na solução de seu problema, seguindo as

direções do orientador.

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1.2.1.4 - Abordagem Desenvolvimentista

A abordagem desenvolvimentista, proposta por DONALD SUPER (1957) nas

décadas de 40 e 50, representa a confluência de várias correntes teóricas em

Orientação Profissional. Foi influenciada pela Psicologia do Desenvolvimento,

pela Teoria Traço-e-Fator e pelo enfoque Centrado na Pessoa. Tem como

premissa que é necessário entender o que o indivíduo fez no passado para

melhor orientar o seu futuro. É preciso analisar os temas recorrentes, as

características e tendências do seu desenvolvimento. Isso é feito através de

uma extensa avaliação da personalidade, da história pessoal e dos dilemas

ocupacionais atuais, através de entrevistas, questionários e testes. A avaliação

tem uma conotação positiva, diferentemente da abordagem Traço-e-fator, pois

é mais ampla e sua responsabilidade recai tanto sobre o orientador quanto

sobre o cliente. Após a avaliação, é possível identificar o nível de maturidade

ocupacional do sujeito e, assim, propor atividades que promovam o

desenvolvimento de sua capacidade de exploração, cristalização, especificação

e realização, a fim de que ele possa fazer escolhas realistas e bem adequadas,

que respeitem suas características, interesses e valores.

1.2.1.5 - Abordagem Psicodinâmica

Desenvolvida a partir da década de 60, aprimorada por BOHOSLAVSKY e

outros na década de 80, consiste na aplicação dos conceitos e das técnicas

psicanalíticas à escolha ocupacional. A história do indivíduo e a forma como

este lida com a realidade e o princípio do prazer são aspectos cruciais deste

enfoque.

O objeto da intervenção está no desvelamento e elaboração dos conflitos,

ansiedades, medos e fantasias relacionados com a problemática ocupacional,

bem como a busca de escolhas conciliatórias ou reparatórias. Bohoslavsky

chama atenção também para a sobredeterminação da escolha pela sociedade,

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considerando as influências da família, da estrutura educacional e sócio-

econômica, da mídia e da cultura, como importantes no processo. Durante as

entrevistas, o orientador alterna a escuta psicanalítica com interpretações,

interposições, comparações, questionamentos e esclarecimentos. Podem ser

usadas técnicas projetivas, dinâmicas, jogos e questionários.

1.2.1.6 - Teorias Decisionais

As Teorias Decisionais estão fundamentadas em modelos econômicos,

conceitos e técnicas da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Social, e tiveram

grande impulsão na década de 90. Sua premissa básica é de que as pessoas

escolhem profissões que irão maximizar ganhos e minimizar perdas em termos

daquilo que elas valorizam.

Cada profissão possui um valor particular para cada indivíduo. O processo de

orientação busca identificar e analisar, junto com o cliente, atitudes, valores,

expectativas, esquemas cognitivos, auto-conceito, auto-eficácia e objetivos

pessoais, a fim de auxiliá-lo nos processos de solução de problemas, tomada

de decisão e estabelecimento de prioridades em relação à sua formação e

trajetória ocupacional.

Refletindo sobre as abordagens até agora citadas, a Centrada na Pessoa e a

Psicodinâmica são as que mais apresentam elementos para questionamento e

crítica do sistema sócio-econômico, político e ideológico. As abordagens

Traço-fator, Behaviorista e Decisional são pró-sistema ou indiferentes.

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1.2.2 - Abordagens não-psicológicas

O principal objeto das abordagens não-psicológicas é a estrutura e dinâmica

sócio-econômica e seus efeitos sobre as trajetórias ocupacionais. O determinismo

individual dá lugar ao determinismo social e econômico.

1.2.2.1 - Teoria do Acidente

Este enfoque sustenta que a trajetória de carreira é determinada de forma

acidental. Acontecimentos na vida da pessoa, como uma palestra, um

programa de rádio ou TV, a leitura de um livro ou revista, uma oferta de estudo

ou de trabalho podem despertar o seu interesse, influenciando-a a seguir este

ou aquele caminho.

Esses acontecimentos ocorrem mais ou menos ao acaso, mas admite-se que

sua probabilidade pode ser influenciada por variáveis intervenientes individuais,

culturais e socioeconômicas.

1.2.2.2 - Abordagem Social-Crítica

Inspirada nas visões de Bourdieu, Passeron e Althusser, entre outros, sobre a sociedade

e, no Brasil, representada pelas críticas dos educadores Selma Pimenta e Celso Ferreti,

essa abordagem traz uma compreensão mais profunda dos determinantes sócio-

econômicos e culturais.

Considera as relações de poder e dominação, conflitos de classe, diferenças culturais,

influências institucionais, questões de gênero e minorias, revelando e colocando em

questão as ideologias liberais, pró-sistema, subjacentes às práticas de Orientação

Profissional.

Segundo essa visão, os orientadores devem construir uma prática contra-

ideológica, crítica e transformadora da sociedade e não meramente reprodutora

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da ideologia de mercado. A forma de conseguir isso é proporcionar uma maior

conscientização dos orientandos quanto a seus próprios determinantes sócio-

culturais, isto é, dos referenciais e influência dos grupos de referência, da

comunidade local, das instituições, da mídia e da sociedade como um todo.

Mas apenas a conscientização libertária não basta. É preciso ir além. É preciso

uma revisão radical das relações de trabalho e das profissões numa dada

sociedade. A própria orientação vocacional deve fazer uma revisão radical de

si mesma, enquanto profissão.

1.2.2.3 - Psicossocial

Situando-se a meio caminho entre as abordagens psicológicas e não

psicológicas, articulando elementos do enfoque social-crítico com o

psicodinâmico, a abordagem Psicossocial representa uma proposta

relativamente nova de intervenção. A Psicossociologia Clínica se propõe a

analisar os problemas das comunidades e de seus integrantes enfocando os

diversos condicionantes sócio-econômicos, históricos e culturais, a fim de

promover sua conscientização e mobilizá-los mais efetivamente em torno de

seus próprios objetivos. Para isso, recorre a conceitos como trajetória social,

herança e mitos familiares, projeto parental e habitus.

A Psicossociologia confere à Orientação Profissional uma percepção mais

apurada das relações dos indivíduos dentro de sua família e no contexto social

em que vive. Remete a uma situação existencial que não é dada, mas produto

da história das gerações anteriores de seus familiares, bem como à gênese

das disposições culturais e contingências da vida em sociedade. Na medida em

que permite a análise das características de heteronomia e autonomia por

parte dos indivíduos, cria condições de se estabelecer metas educacionais e de

orientação, melhorando a compreensão dos indivíduos sobre as influências que

incidem sobre suas existências, contribuindo para que o sujeito faça suas

escolhas de vida de acordo com motivações mais autênticas.

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1.2.3 - Técnicas utilizadas em Orientação Profissional

Para a realização do processo de Orientação Profissional é necessário o

desenvolvimento e aplicação de técnicas, quer sejam atendimentos individuais

ou de grupo.

Esta utilização deve estar apoiada em um referencial teórico que fundamente a

sua seleção e sua aplicação durante o processo.

De acordo com LEVENFUS & SOARES (2002) o papel das técnicas consiste,

dentre outros, levantar dados, permitir elaborações, conduzir uma tomada de

consciência do jovem, com o objetivo de facilitar o processo de escolha

profissional.

A seleção das técnicas a serem utilizadas nos processos de Orientação

Profissional varia conforme as características da clientela, os objetivos dos

encontros ou a escolha teórica do orientador.

De acordo com esses critérios, pode-se optar pelo uso de técnicas como:

entrevistas, dinâmicas de grupo, técnicas projetivas, técnicas expressivas,

técnicas plásticas, além de técnicas informativas de exploração profissional e

de testes objetivos.

Dentre as inúmeras técnicas utilizadas em orientação profissional, segundo

GIACAGLIA, (2000), destacam-se as entrevistas individuais e grupais.

Utilizadas com grande freqüência, são especialmente indicadas para seleção

dos participantes, para o aprofundamento de temáticas específicas durante

todo o processo de orientação, inclusive no momento de realização do

atendimento de fechamento, a entrevista devolutiva, o encerramento dos

atendimentos.

Outro recurso bastante utilizado são as técnicas dramáticas e lúdicas, que

consistem na representação de situações vividas e relacionadas com a escolha

a fim de possibilitar a exploração e a elaboração. As técnicas expressivas,

realizadas através de jogos e as técnicas plásticas, através de colagens,

desenhos, argila, produção de histórias, são recursos que facilitam a

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mobilização e a comunicação de conteúdos relacionados com a problemática

da escolha.

Existem, ainda, a possibilidade da utilização de técnicas e recursos

psicométricos que facilitam o acesso ao conhecimento de habilidades e

interesses dos jovens, denominadas baterias, cujos resultados são inseridos no

processo de orientação em uma perspectiva complementar e crítica. Os

interesses e identificações profissionais podem ser explorados através de

inventários de interesse da mesma forma como são usados os testes:

exploração das habilidades.

Outra técnica bastante utilizada são as técnicas de informação profissional, que

consistem em desenvolvimento de atividades de consulta a manuais sobre as

profissões, entrevistas com profissionais da área de interesse, fóruns de

discussão sobre as profissões, pesquisas junto a profissionais e instituições.

Essas técnicas visam exercitar o papel de protagonista e de desenvolver a

responsabilidade do jovem no processo.

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1.3 - ORIENTAÇÂO PROFISSIONAL NO BRASIL

1.3.1 - Conceitos de trabalho, alienação, profissão e

ocupação

Definir a realização humana é tão difícil quanto definir o que é felicidade. A

realização humana é sempre um vir-a-ser, um projeto eternamente inacabado.

O homem realizado, no sentido absoluto, não existe. É a busca incessante da

realização que permite ao homem transformar o seu meio natural e fazer

história. A vida em sociedade, assim como o progresso tecnológico é resultado

dessa transformação que ele efetiva.

É na ação transformadora que o homem encontra momentos de satisfação, de

realização de seus projetos, mesmo que gere novas ansiedades. No momento

em que ele completa um projeto qualquer, isso o faz feliz e o estimula a iniciar

um novo projeto.

Por trabalho entendemos toda a atividade do homem transformando a natureza

e a sociedade em que vive.

Trabalho e realização humana é uma relação tão antiga quanto a história da

humanidade. Dos gregos antigos às sociedades industrializadas de hoje,

passando pela experiência socialista, o homem procura a sua realização por

meio do trabalho.

O homem organizou a sociedade de tal forma que, para a maioria dos

indivíduos, o trabalho que fazem não são projetos seus, como também não são

seus os frutos dos seus esforços. Longe de ser sinônimo de criação e de

transformação, o trabalho que desenvolvem torna-se opressivo e estafante.

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Com o Capitalismo iniciou-se a busca da produção de excedentes mediante a

introdução de novas técnicas de produção e de organização do trabalho.

Ocorreu, portanto, a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios

de produção. (capital, ferramentas, máquinas, matérias-primas, terras) Desse

modo, podemos afirmar que a essência do sistema capitalista encontra-se na

separação entre o capital e o trabalho.

Essa separação criou dois tipos de homens livres: o trabalhador livre

assalariado, que vive exclusivamente de seu trabalho, ou seja, da venda de

sua força de trabalho e o capitalista, proprietário dos meios de produção. O

trabalho deixa de existir apenas para atender às necessidades humanas

básicas. Sua finalidade principal é produzir riqueza acumulada e, mais

especificamente, para o trabalhador assalariado ou não, a sua sobrevivência

nesta sociedade capitalista.

A chamada sociedade pós-industrial que surgiu a partir dos meados do século

XX caracteriza-se pela ampliação dos serviços : publicidade, comunicação,

pesquisa, empresas de comércio e finanças, saúde, educação, lazer, etc. e,

mais recentemente, a terceirização, o trabalho autônomo, as consultorias, os

contratos por tempo determinado.

Hegel, filósofo alemão do século XIX, faz uma leitura otimista da função do

trabalho em Fenomenologia do Espírito. O filósofo se refere a dois homens:

senhor e escravo que lutam entre si e um deles sai vencedor, podendo matar o

vencido. O vencedor decide conservar o outro como servo. Com o passar do

tempo o senhor percebe que nada mais sabe fazer porque colocou o servo

entre ele e a natureza. Ele descobre-se como dependente do escravo e este,

aprendendo a vencer a natureza, recupera de certa forma a liberdade. O

trabalho, então, surge como a expressão da liberdade reconquistada.

Carl Marx retoma a temática hegeliana, mas critica a visão otimista do trabalho

ao demonstrar como o objeto produzido pelo trabalho surge como um ser

estranho ao produtor, não mais lhe pertencendo: é o fenômeno da alienação.

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A palavra alienação significa, etimologicamente, tornar-se estranho a si próprio.

Deriva do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a um outro”. A

pessoa alienada, de certa forma não se reconhece em suas atividade, essas,

constituem uma ação automática, não reflexiva, não criativa. O alienado não

se realiza em suas atividades, pois estas lhe são totalmente estranhas.

É a alienação no trabalho que faz com que este seja enfadonho, pesado, uma

obrigação, um fardo para o homem. Por isso, o homem de hoje encara o

trabalho somente como meio de subsistência, não se realizando como pessoa

ao executá-lo.

Marx não deixa, com isso, de considerar o trabalho como condição da

liberdade do homem. Ao contrário, para ele o conceito supremo de toda

concepção humanista está em que o homem deve trabalhar para si, não

entendendo isso como trabalho sem compromisso com os outros, pois todo

trabalho é tarefa coletiva, mas no sentido de que deve trabalhar para fazer-se a

si mesmo homem. O trabalho alienado o desumaniza.

Realizar um trabalho de Orientação Profissional, atualmente, que não leve em

conta as relações entre trabalho, realização e alienação é realizar um trabalho

de Orientação Profissional também alienado.

Ocupação é aquilo que a pessoa de fato faz, a atividade econômica exercida

pelo cidadão, como empregado ou de outra forma. Nas palavras da CBO

(Classificação Brasileira de Ocupações), uma ocupação é definida como "a

agregação de empregos ou situações de trabalho similares quanto às

atividades realizadas".

Freqüentemente se confunde ocupação com profissão embora elas não

tenham o mesmo significado. Ocupação tem um sentido mais geral, enquanto

profissão é um caso particular que exige conhecimentos especiais e, em geral,

preparação extensa e intensiva. Há muito mais ocupações do que profissões

porque muitas daquelas não têm essa exigência. Com a mesma profissão, uma

pessoa pode exercer diferentes ocupações. Um exemplo recente foi o fato de

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ter havido dois candidatos de profissões diferentes disputando o cargo de

Presidente da República, que é uma ocupação, e não uma profissão.

No Brasil, a Orientação Profissional, equivocadamente, enfatiza demais as

profissões e raramente aborda as ocupações. Com o diploma na mão os

profissionais graduados podem exercer um número muito maior de ocupações,

típicas ou não da profissão escolhida. Assim, quem está escolhendo cursos e

profissões deveria também receber informações sobre o mundo das

ocupações. A CBO recém-divulgada, 2002, registra 2.422 profissões e 7.258

títulos ocupacionais.

Um jovem, em primeira instância, poderia desistir do curso de Engenharia

devido a saturação desta profissão no mercado de trabalho.

Entretanto, existem diversas ocupações possíveis com essa formação como

por exemplo: administração de empresas ou executivo financeiro. Olhando

esse lado ocupacional, portanto, o curso não deixaria de ser atraente ao jovem

interessado.

Segundo Roberto Macedo, Economista (USP), com doutorado pela

Universidade de Harvard (EUA), é pesquisador da Fipe-USP e professor da

Universidade Presbiteriana Mackenzie orienta que “a nova CBO poderá

contribuir para tomarmos a direção correta, mas seu grande passo precisa ser

completado com outros igualmente importantes. Assim, será fundamental

utilizá-la no levantamento periódico do número de trabalhadores em cada

ocupação, e levar aos jovens, educadores, orientadores e outros interessados

um diagnóstico quantificado e analisado das perspectivas ocupacionais. Na

corrente de informações que orienta sobre o mercado de trabalho estão

faltando esses importantes elos entre as profissões e as ocupações,

indispensáveis também às decisões de caráter educacional.”

A Orientação Profissional baseada apenas numa visão estreita das profissões

e isolada das suas perspectivas ocupacionais está desconectada da

perspectiva atual relacionada a sua própria área de atuação. O mundo do

trabalho exige flexibilidade ocupacional e formação educacional que combine

adequadamente a especialização e outros conhecimentos capazes de facilitar

a adaptação à diferentes ocupações, inclusive as que continuam surgindo.

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1.3.2 - Perfil Profissional

Não é mais possível ignorar as rápidas transformações sociais que vêm

ocorrendo na atualidade. Tais transformações vêm certamente influenciando as

subjetividades, e vice-versa, numa constante relação dialética aberta para o

futuro. Sobre isso cabe citar Howard Rheingold, autor entusiasta da chamada

“revolução digital”:

“Eu não apenas habito nas minhas comunidades virtuais, mas, na medida em

que eu carrego comigo as conversações na minha cabeça e começo a misturá-

las com a vida real, essas comunidades virtuais habitam na minha

vida.”(RHEINGOLD in apud ANDERSON, 2002)

Segundo Anderson ”a globalização da economia e da política dispersa as

pessoas por todo o planeta, arrancando raízes, desfazendo fronteiras,

abandonando as velhas certezas de lugar, nacionalidade, papel social e

classe.”(2002) Essas transformações também têm sua face excludente, no

sentido de que têm ajudado a aumentar a abismo social e econômico entre

ricos e pobres de nosso país e de todo o mundo. Mas, inevitavelmente, elas

repercutem sobre os jovens de todas as classes sociais, na medida em que

precisam se inserir no (mercado de trabalho).

As profissões também vêm mudando. Algumas se tornaram obsoletas ou

desnecessárias, enquanto várias outras surgem a cada momento para

corresponder às inovações científicas e tecnológicas. Por outro lado, sabe-se

que o perfil do profissional desejado hoje é muito diferente do de poucas

décadas atrás.

Não se valoriza mais o profissional fiel a uma única empresa ou única

experiência profissional. Procura-se, ao contrário, profissionais com autonomia

e adaptabilidade, que acumulem em seu currículo uma ampla variedade de

experiências. Além disso, aumenta a rotatividade nas empresas, gerando o fim

da estabilidade e o conseqüente desemprego. Os trabalhadores precisam ser

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flexíveis e versáteis para ingressarem em diferentes trabalhos durante o curso

de suas vidas.

Constatamos que as identidades profissionais deixaram de ser estáticas. Os

jovens que hoje buscam ingressar no mercado de trabalho precisam

desenvolver uma identidade profissional bem-definida, mas, ao mesmo tempo,

serem capazes de se transformar rapidamente de acordo com as necessidades

de mercado.

A Orientação Profissional deve estar atenta para que seus procedimentos de

trabalho com o jovem, em sua decisão profissional leve em consideração as

mudanças das profissões e, especialmente, o perfil do profissional desejado.

1.3.3 - Orientação Profissional no Brasil

A palavra vocação, nos seus primórdios, foi associada aos termos convocação

ou chamado. Através de influências de Martin Luther, esta passou a ser vista

como uma espécie particular de chamado, ou seja, algo que vinha de Deus.

Esta definição foi aos poucos se modificando, principalmente quando o termo

vocação passou a ser pensado como “o tipo de trabalho ou ocupação que se

faz gera o nosso sustento”, LONDON (1973)

A origem da palavra é latina - vocatione (substantivo) – e significa chamado,

escolha, tendência, disposição, talento, aptidão; ou Vocare (verbo) que significa

chamar, convocar, mandar vir, nomear, designar, etc. O conceito de vocação

é, portanto, etimológico: forte tendência do indivíduo para uma determinada

atividade, geralmente de caráter profissional. Podemos dizer que tendência

indica aspiração e aptidões. A primeira é geralmente influenciada pelo meio,

pela educação e leva o indivíduo a desejar, às vezes ardentemente, a ser

determinado profissional. As aptidões têm mais a ver com a hereditariedade.

Elas irão complementar a aspiração, sem as quais esta última não irá muito

longe.

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Vocação tem como um outro significado: a predestinação. O indivíduo estaria,

então, decidindo o que já está pré-destinado, algo que ele teria nascido para

ser ou fazer. Desta forma, não caberia a ele decidir e sim descobrir o que já

está determinado. Vocação tem como significado, também, a palavra escolha.

Com esse sentido, seria então uma opção, alternativa do indivíduo e caberia,

então, a ele, seria de sua responsabilidade.

Vocação é uma força organizadora do trabalho, segundo GREEN (1968). O

autor dá um sentido ao trabalho como emprego assalariado, como atividade

respondendo a uma necessidade ou algo sem maior significado, e como algo

produtivo, requerendo esforço, auto-investimento, competência, jeito,

respondendo a objetivos e sentido da própria vida.

Para ele, vocação é entendida como procura de possuir uma existência

autêntica, verdadeira, um conceito central de Green sobre a noção de trabalho.

Sem a noção de vocação como sendo uma procura de realização existencial,

as ideologias de trabalho descritas por Green, são inadequadas para responder

aos questionamentos diários do trabalho no mundo.

A clássica afirmação da Filosofia Existencial de que “existência precede à

essência” significa dizer que o homem precisa escolher a cada momento o que

será no momento seguinte; só existindo poderá ser. Significa dizer que o

indivíduo é um ser de quem não se pode afirmar nenhuma essência, uma vez

que a essência invocaria uma idéia permanente e contraditória com a proposta

de auto-criação. Se o homem é o que atua ser, na expressão de Sartre, uma

visão essencial viria a se opor radicalmente.

Entretanto, o ponto mais importante é a recuperação do indivíduo como um ser,

a valorização do existir. O que importa é o existir e a atitude que se tem em

relação a isso. Se a existência precede à essência (Sartre) ou se estas são, na

verdade, uma mesma coisa (Heidegger) não impede o indivíduo de ser livre

para ser criativo, ou seja, escolher.

Durante muito tempo referia-se ao processo de escolha da profissão como

Orientação Vocacional, visando “descobrir” a vocação de cada indivíduo, como

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se esta já existisse e precisasse apenas ser desvelada. Atualmente, este

termo não mais é empregado, tendo sido substituído por Orientação

Profissional, que abre caminhos para uma escolha livre e responsável sobre o

seu próprio devir.

A Orientação Profissional tem como objetivo, abrir caminhos para clarificar o

pensamento, oferecendo como possibilidades a capacidade de reflexão e auto

conhecimento; a fim de possibilitar opções e escolhas mais claras de acordo

com o crescimento interno e com os ideais da pessoa. Proporciona um contato

consigo mesmo, com interesses e necessidades reais para a escolha da

carreira profissional. Avalia-se, também, se a profissão escolhida é viável, se

está de acordo com a atual conjuntura do mercado de trabalho.

Para tanto, a Orientação Profissional busca:

Refletir sobre escolhas em geral e, em especial, a escolha da

profissão;

Conhecer-se quanto a interesses, habilidades, valores, projeto de

vida;

Informar-se sobre as profissões existentes: diversidade e

quantidade de profissões existentes, mercado de trabalho para cada

uma delas e que cada profissão abrange diversas áreas de atuação;

Associar o conhecimento das profissões com o auto

conhecimento ;

Avaliar que profissões são mais compatíveis com seu projeto de

vida.

Vale ressaltar, que entre as diversas técnicas utilizadas em Orientação

Profissional, para que o processo atinja seus objetivos, uma, em especial,

merece considerações como as que Silvio Bock faz em sua entrevista a

Revista Isto É (2005)

Segundo Silvio Bock, os chamados "testes vocacionais" são mal vistos, embora

sejam utilizados no Brasil e no mundo há mais de 50 anos e permanecem os

mesmos até hoje. Não foram atualizados e tornaram-se obsoletos. Eles são,

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geralmente, imprecisos e dão respostas muito vagas, freqüentemente trazendo

mais dúvidas do que orientação. “Em levantamento feito em Institutos, com

mais de 500 pessoas que haviam feito estes testes, descobriu-se que cerca de

70% deles haviam feito a escolha errada da profissão por falha dos próprios

testes.Esta performance insatisfatória trouxe, ao longo do tempo, falta de

credibilidade à Orientação Profissional.”

Outro aspecto que vale ressaltar foi a mudança ocorrida no Brasil, ao longo dos

últimos dez anos com relação a prática em Orientação Profissional.

As idéias preconizadas por Rodolfo Bohoslawsky, a teoria de John Holland e a

teoria evolutiva de Donald Super passam a se destacar: "a partir desses

enfoques teóricos, muitas técnicas de trabalho em Orientação Vocacional vêm

sendo desenvolvidas através de pesquisa sistemática, realizada em

Universidades" (LASSANCE,1999)

Surgiram inúmeras consultorias , atividades de Orientação Profissional

realizadas pelas Universidades, em centros de atendimento ligados aos cursos

de Psicologia, buscando atender às crescentes demandas das comunidades e

as escolas de Ensino Médio, através de pedagogos, que oferecem palestras

sobre as profissões.

Podemos citar, como exemplos:

Serviço de Orientação Vocacional do Instituto de Psicologia da USP (São

Paulo) prioriza o trabalho de grupo, mas quando há necessidade realiza

atendimento individualizado. O processo toma em média 12 encontros de uma

hora, uma vez por semana. Estudantes de 14 a 18 anos compõem boa parte

da clientela, mas o público adulto já começa a descobrir o trabalho. A USP

também oferece atendimento às escolas e instituições públicas.

Serviço de Psicologia da UFBa (Bahia) oferece orientação profissional a alunos

de Ensino Médio e capacita estudantes de graduação e psicólogos recém-

formados nesta área. O objetivo do trabalho é facilitar aos orientandos a

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identificação dos fatores que podem estar influenciando, interferindo ou mesmo

impedindo o processo de escolha profissional. As atividades utilizam vários

recursos psicológicos, entre testes, questionários, inventários e dinâmicas de

grupo.

A Colméia (São Paulo) é uma entidade privada, que utiliza vários recursos,

além da tradicional aplicação de testes. São cinco sessões com dinâmica de

grupo, exercícios de auto-conhecimento, jogos, debates sobre temas relativos

à escolha e levantamento de interesses das principais áreas e profissões

correlatas, além de pesquisas bibliográficas.

A Orientação Profissional, no Brasil, atualmente, merece algumas

considerações, conforme Informe da ABOP (Associação Brasileira de

Orientação Profissional):

1. Existe um engano com relação a grande parte das escolas, que

dizem praticar Orientação Profissional junto a seus alunos, fazendo, na

realidade, arte do que seria o processo , como: palestras com

profissionais, inventários de interesse ou visitas à Universidades.

A escolha do aluno não é trabalhada, uma vez que esta implica em

outras reflexões que se caracterizam como parte essencial de um

processo de Orientação Profissional.

2. Alguns profissionais se utilizam do computador na realização da

Orientação Profissional, tratando este procedimento como um processo de

O.P., o que não se caracteriza como tal. É impossível sua efetivação sem o

conhecimento do indivíduo. O computador pode prestar-se como mais um

instrumento de informação, nada além disto.

3. Não existe, por parte dos Orientadores Profissionais, um trabalho de

massa quanto ao valor deste procedimento junto a jovens e adultos. Faz-se

necessária uma reflexão aprofundada sobre esta questão sob pena da sua

não valorização pela sociedade, o que já ocorre, e a conseqüente busca de

valorização.

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4. Seria importante o apoio, a regulamentação, a fiscalização e a divulgação

da Orientação Profissional, através de projeto a ser elaborado pela ABOP,

como meta de sua competência.

5. Seria importante incrementar o trabalho de Orientação Profissional

através de equipes interdisciplinares. A Orientação Profissional tem se

consolidado hoje como uma das áreas de grande interesse acadêmico e

profissional. Ela apresenta amplas possibilidades de atuação prática como

também existe uma necessidade de absorção deste saber e desta prática

pelo mercado de trabalho, não só em nível de escolas como também

empresas e universidades.

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1.4 - MERCADO DE TRABALHO

1.4.1 - Conceitos de interesse :

Donald SUPER (1957) compilou as seguintes definições para o interesse:

Claparède: “O interesse é o sintoma de uma necessidade. É um instinto, uma

necessidade que tende a ser satisfeita”.

Baumgarten: “O interesse é um aspecto particular da inclinação”.

Buhler reconhece a dificuldade em definir o termo e fala de “uma complicada

estrutura de intenções”.

Remier fala de “interesses profissionais”, diferenciando-os dos “gostos”. Mas,

entre “interesse e gosto” não estabelece, segundo Super, diferenças.

O dicionário de Littré fala de “qualidade de certas coisas, que as torna

apropriadas para cativar a atenção, para chegar ao espírito”.

Lalande, em seu Vocabulário de Filosofia, fala de “O que realmente importa a

um agente determinado, o que lhe é vantajoso, quer ele saiba ou não” e da

“característica do que provoca, num determinado espírito, um estado de

atividade mental fácil e agradável, uma atenção agradável”.

Segundo Pierón, “é uma correspondência entre certos objetos e as tendências

próprias de um sujeito interessado nesses objetos, que, por esse motivo,

atraem sua atenção e orientam suas atividades”.

Para English y English, “É uma atitude de atenção, é uma tendência a ocupar-

se de alguma coisa, simplesmente pelo prazer que se encontra nisso; é, enfim,

a atividade ou o objeto pelo qual alguém se interessa.”

Burloud: “... centro de onde convergem múltiplas tendências, desejos... tema de

investigação... idéia, força”.

Strong, criador do primeiro ensaio para avaliação dos interesses, fala de

“tendências para ocupar-se de certos objetos e para orientar-se para certas

atividades”.

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SUPER (1957), tentando esclarecer este assunto, propõe “definições

operacionais”. Fala de interesses expressos, manifestados, revelados por meio

de testes e inventários. A descrição das técnicas de análise dos interesses não

esclarece suficientemente o que seja um interesse. Diz, textualmente: “Neste

momento, nos encontramos, a respeito dos interesses, no ponto em que nos

encontrávamos, a respeito da inteligência, em 1930, quando a inteligência era,

para dizermos a verdade, medida do resultado do teste de Binet e do teste Alfa.

Pergunto-me sobre o valor de um conceito explicativo, ou pelo menos

descritivo, tão ambíguo. Não teria chegado o momento de renunciar

definitivamente ao conceito de interesse, substituindo-o por “construções”,

realmente operativas e não só operacionais?

1.4.2– Globalização

O mundo vive um momento histórico, no qual predomina uma economia

globalizada que tende a destruir fronteiras nacionais, embaralhando todos os

sistemas comerciais, culturais e ideológicos. Num novo processo social onde

predomina a incerteza, as experiências passadas não ajudam muito nas

projeções futuras.

O desenvolvimento tecnológico desenfreado, especialmente, no setor das

comunicações e da informática e as rápidas transformações político-

econômicas afetam profundamente as relações sociais e o desenvolvimento

psíquico do homem da pós-modernidade. Todos afetados pela velocidade

dessas mudanças.

A territorialidade externa e interna já não são também definidas: Nação e o

lugar são circunstâncias, aparecendo o homem em qualquer lugar. O campo da

ciência e tecnologia não está vinculado aos Estados nacionais. As redes de

pesquisa são transnacionais e complexas.

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Romperam-se os limites territoriais do consumo, mudaram-se as leis nacionais,

perderam-se o modelo de ética e de competitividade, declina-se à capacidade

de gerar empregos.

No Brasil, observamos as conseqüências da globalização da economia

mundial: expansão de franquias, contratação de filhos e netos de imigrantes

para preencher a carência de mão de obra nos países mais avançados, como o

Japão, busca de repatriação de descendentes de estrangeiros, permitindo a

dupla nacionalidade e a formação de rede de cooperativas.

Os grandes especialistas, através dos meios de comunicação, anunciam o fim

de uma estrutura do emprego formal. Por causa dos benefícios trabalhistas,

torna-se inviável contratar um trabalhador e busca-se novas soluções para o

contrato de trabalho. Com isso, mudam-se as relações capital-trabalho, onde

as expectativas sociais e institucionais coincidiam e formavam uma relação

linear e evolutiva, com possibilidade de elaboração de projetos pessoais e

sociais. A nova realidade abala as convicções e a visão do mundo.

(LEHMAN, in apud LEMOS, 1996 )

Podemos dizer que estamos num momento de grande transformação no

processo de fragmentação do trabalho, provocado pela revolução tecnológica.

Estamos num outro momento muito interessante: a ciência descobre, a

indústria põe em prática e o homem adapta. Isso nos coloca num cenário

totalmente adverso e incerto.

As estratégias para a Orientação Profissional e escolha da profissão devem ser

revistas frente a esta nova situação de mudanças para diagnosticar os

fenômenos na vida e no trabalho das pessoas.

1.4.3 - Transformações no Mundo do Trabalho

As mudanças no mundo do trabalho envolveram várias transformações sócio-

econômicas. Na organização, o trabalho braçal ou mecânico, realizado

anteriormente pelos homens, vem sendo substituído. Com isso, ocorreu o

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desaparecimento da estrutura do emprego devido a redução do tempo de

fabricação de um produto para a área de serviços acarretando a diminuição

das pessoas envolvidas no processo.

Desta forma, o emprego tradicional com carga horária definida, funções claras

e com plano de carreira pré estabelecido tendem a desaparecer. Vão surgindo

o trabalho com projetos específicos, temporários, realizados por equipes multi-

profissionais. A era chamada Capitalista ( produção fordista ) baseada na

produção em massa, com poder nas mãos da gerência passou para a

chamada era Capitalista Avançada. ( produção “ just in time “ )

Na organização geral da empresa as estruturas ficaram mais flexíveis e

enxutas. Para (SALERMO in apud LEMOS,1994) a reorganização das

empresas ocorre a partir da redução dos níveis hierárquicos, re-divisão de

diretorias, departamentos, etc e sub-contratações por terceirização. A estrutura

se organiza com um grupo de trabalhadores em tempo integral que usufruem

de maior segurança no trabalho. Existem dois outros grupos: trabalhadores em

tempo integral, mas com habilidades disponíveis no mercado de trabalho

gerando alta rotatividade; o outro, mais flexível ainda, com empregados

casuais, em tempo parcial, ou contrato por tempo determinado, temporários e

sub-contratados.

As mudanças na atividade econômica para BRIDGES (in apud LEMOS, 1983),

além das transformações no modelo do setor industrial, houve também um

grande deslocamento de velhas “ empresas de produção de coisas para “

novas “ empresas de : sistema financeiro, telecomunicações, biotecnologia e

computadores. A informação passa a ser o principal produto e fonte de riqueza

ao invés de máquinas e equipamentos.

Segundo HARMAN e HORMAN ( in apud LEMOS, 1990) o capital não é o

dinheiro e sim o “ know-how “ técnico gerencial. Há grande valorização do

chamado “ capital humano “. As pessoas que produzem “ coisas “ perdem

espaço para as que produzem idéias.

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1.4.4 - Novos significados do Trabalho

No antigo capitalismo, o que era considerado trabalho era apenas aquele com vínculo

empregatício em tempo integral e legalmente reconhecido; formas alternativas de

ocupação eram consideradas subempregos ou outro tipo de atividade. Atualmente, o

trabalho é definido de maneira mais abrangente, porque ele assume novas formas de

ação, novas competências e novos contextos.

De acordo com HARMAN e HORMAN (1990), um dos principais paradigmas da

sociedade industrial é o conceito de que as pessoas são motivadas somente pelo desejo

de um ganho econômico. O paradigma moderno desvalorizou o nosso poder criativo e

acabou convencendo que a motivação para o trabalho é econômica e que trabalha-se

por uma recompensa financeira. Para os autores, a visão materialista e dominadora das

cidades modernas, ainda persistem nos dias atuais, precisando ser substituídas por

outras, ligadas ao aprendizado e ao desenvolvimento humanos.

Na “sociedade da aprendizagem” o trabalho está ligado ao aprender em seu sentido mais

amplo, como educação, pesquisa, desenvolvimento da auto-compreensão , a

participação numa comunidade de cidadãos envolvidos na melhoria da qualidade de

vida. Essas transformações que estão ocorrendo se devem em grande parte à entrada

cada vez maior das mulheres no mundo do trabalho. (LEMOS, 2001)

Para HARMAN e HORMAN (1990) a influência feminina é sentida nos movimentos

sociais e constitui os alicerces dos movimentos ecológicos ou pacifistas, dos projetos de

combate à fome e dos movimentos pelos direitos civis.

Também contribuiu na mudança de postura de “conquista e exploração da natureza” pelo

cuidado com o meio ambiente, na preocupação com a preservação dos recursos naturais

e com o desenvolvimento da melhoria da qualidade de vida em geral. Segundo

pesquisas feitas pelas empresas de recrutamento de executivos Artur Andersen e Grupo

Catho (REVISTA VEJA, 1999), as empresas contratantes estão preferindo candidatos,

homens ou mulheres, que demonstrem possuir características consideradas femininas

como: saber trabalhar em equipe, fazer planejamentos a longo prazo e preocupar-se com

detalhes.

Essa tendência mostra que o modelo feminino de trabalho além de estar conquistando

espaços maiores no mundo do trabalho tradicional, está também se tornando referência e

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fonte de atividades alternativas para os profissionais da sociedade pós-tradicional.

(LEMOS, 2001).

Novas formas de organização de trabalho concorrem com as tradicionais: auto-emprego,

trabalho domiciliar, dedicação em tempo parcial, interrupções voluntárias de carreira,

carreiras compostas, prestação de serviços, entre outros. Rifkin (1995) denomina essas

atividades de “ terceiro setor”, diferenciando-as dos setores privado e público da

economia.

O “terceiro setor compreende atividades comunitárias para idosos, deficientes físicos,

doentes mentais, jovens desamparados, desabrigados e indigentes; campanhas para

eliminar o analfabetismo, programa de reforço escolar após as aulas, instituições de

ajuda a vítimas de estupro e violência doméstica, participação em programas de auto

ajuda como alcoolismo e drogas; profissionais que prestam seus serviços como médicos,

contadores, psicólogos, advogados, para organizações voluntárias. Participação em

programas ambientalistas: atividades de reciclagem, conservação dos recursos naturais,

anti-poluição, proteção aos animais, defesa dos direitos civis. Voluntários de brigadas de

incêndio, trabalhos de prevenção ao crime. Há ainda os que se engajam em atividades

artísticas como grupos de teatro, corais e orquestras.

As ONGs são outra atividade do “terceiro setor” que vêm crescendo consideravelmente

nos últimos anos, tanto em países do primeiro mundo como nos países em

desenvolvimento.

Elas buscam solucionar desde problemas de saneamento básico, até programas de

profissionalização, criação de cooperativas de produtos rurais, luta pela reforma agrária,

entre outros.

Apesar das intensas transformações sócio-econômicas e as mudanças de mentalidade

que vêm ocorrendo, a cultura ainda recompensa empreendimentos tipicamente calcados

em valores narcísicos: sucesso, dinheiro, poder, competitividade, individualismo.

Segundo LOWEN (1983), quando a riqueza ocupa uma posição mais elevada que a

sabedoria, quando a notoriedade é mais admirada do que a dignidade, quando o êxito é

mais importante que o respeito por si mesmo, a própria cultura supervaloriza a “imagem”

e deve ser considerada narcisista.

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De acordo com o exposto, tem fixado claro que a característica principal das sociedades

pós-tradicionais e pós- modernas é a convivência lado a lado com valores divergentes e

com a pluralidade de opções, o que exige do indivíduo um posicionamento contínuo.

1.4.5 - Desemprego

O mercado de trabalho, atualmente, encontra-se fragmentado, ainda indefinido.

Empregos assalariados, garantidos com” carteira assinada” estão cada vez

mais raros.

As empresas têm optado por trabalhar com um núcleo menor de profissionais

fixos, diminuindo sua folha salarial e, conseqüentemente, evitando as

imposições fiscais: FGTS, férias, altas rescisões contratuais, Em contrapartida,

elas têm usado para suprir suas necessidades, as empresas terceirizadas,

contratos por tempo determinado e prestadores de serviço como por exemplo:

serviços na área de recursos humanos, de segurança, de limpeza , auditoria e

telemarketing.

Segundo pesquisa realizada por Marcio Pochmann, publicada no Jornal O

Estado de São Paulo, em 24/08/1997, são os setores não organizados da

economia, principalmente no segmento de serviços, os responsáveis pela

criação de novos postos de trabalho no Brasil.

Neste segmento predominam os empregos sem carteira, por conta própria ou

pequenos negócios familiares. Ele vem sendo ampliado nos últimos anos,

apresentando taxas anuais de crescimento de 5,2% entre 1989 a 1995, o que

significa que a cada dez vagas criadas no período, onze foram de

responsabilidade do segmento não organizado.

PASTORE (1998, in apud LEMOS, 2001) defende a flexibilização das leis

trabalhistas no Brasil como forma de ampliação da oferta de trabalho nos

setores organizados da economia. Segundo ele quanto mais as leis trabalhistas

de um país permitem a articulação de estruturas móveis da força de trabalho

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nas empresas, maiores são as oportunidades de trabalho neste país. Diz ainda,

que quando as regras legais contratuais são flexíveis, as sociedades

conseguem acomodar as pessoas nas novas modalidades de trabalho. Quando

são rígidas, os ajustes são difíceis e o desemprego “explode”.

O fenômeno do desemprego gera uma crise nas sociedades, não somente no

Brasil, mas em todo o mundo. As pesquisas mais impressionantes estão

ligadas aos impactos da instabilidade econômica na saúde dos indivíduos.

Nas universidades de Michigan e Johns Hopkins, importantes centros de

estudos sobre saúde pública, mostram que o aumento do desemprego é

acompanhado por suicídios, ataques do coração e doenças mentais. Além

disso, o desempregado corre o risco de sofrer de depressão, ansiedade,

agressividade, insônia, perda da auto- estima e problemas conjugais.

(DIMENSTEIN, 2000)

Sem dúvida, o atual contexto de insegurança e incerteza do futuro e do próprio

presente de profundas modificações sociais que afetam os indivíduos, com

processos sociais cuja extensão ainda ignoramos, gera uma situação de mal

estar.

Segundo Paulo Nathanael Pereira de Souza, doutor em Educação, presidente

do Conselho Direto do CIEE Nacional e do Conselho de Administração do

CIEE/SP, em artigo da REVISTA AGITAÇÃO, 2005, “depende apenas de nós

mesmos sair do atraso a tempo de não perder a condução para o futuro.” Ele

reflete sobre o momento atual de competição mundial na economia em que

países do primeiro mundo lutam para não perder a hegemonia e os

emergentes, por um lugar ao sol, que só conquistarão se forem capazes de

educar o povo, investir em pesquisa e tecnologia e reformar as relações de

trabalho. Para ele o país que não conseguir se conscientizar disso corre o risco

de agir na contramão da história. Especificamente no caso do Brasil é urgente

que se ative, o quanto antes, ao lado da educação e da inovação tecnológica, a

reforma trabalhista. O Brasil não poderá continuar a divorciar trabalho de

emprego: ambas as situações devem-se integrar de forma ampla e total, e

merecer igualmente o amparo da lei. “Caso contrário, a economia corre risco

de perecer e o desenvolvimento, de emperrar.”

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1.4.6 - Desemprego no mundo jovem

Segundo POCHMANN, (2004), “de maneira geral, o jovem tem mais

dificuldade de ingressar ou de continuar empregado, se comparado ao adulto.

Há no mundo poucos países, entre eles a Alemanha e a Áustria, que são

países que possuem taxa de desemprego juvenil menor do que a taxa de

desemprego dos adultos. Mas nos demais países, e também aqui no caso

brasileiro, a taxa de desemprego dos jovens é quase duas vezes mais alta do

que a dos adultos. “

Há, de fato, no mundo, uma dificuldade para o jovem ter um bom começo no

mercado de trabalho. Nessas duas últimas décadas a situação do jovem

tornou-se ainda mais grave, pelo menos no Brasil. Segundo POCHMANN

(2004) “o Brasil abandonou uma trajetória de crescimento econômico

sustentado, o que quer dizer que o país está crescendo abaixo de 5% em

média ao ano. Na verdade, de 1981 até o ano passado, nós crescemos em

torno de 2% ao ano. Se o Brasil cresce abaixo de 5% ele não tem condições de

gerar o volume de empregos necessários para atender as pessoas que estão

ingressando no mercado de trabalho (em torno de 1,8 ou 1,9 milhões de

pessoas). Por isso que o jovem termina sendo o mais perversamente afetado

pela situação do desemprego.”

A partir do desemprego, duas situações ocorrem em decorrência da situação

no Brasil. A primeira é que os jovens mais pobres, atualmente, têm se

envolvido em quase 50% dos homicídios no Brasil.

A quantidade de homicídios é superior a 40 mil pessoas por ano. A segunda

situação é em relação aos jovens de melhor renda, com maior qualificação

profissional e escolaridade. Há um movimento de migração muito intenso de

saída de jovens do Brasil, procurando outras perspectivas de trabalho, de

realização, em outros países. Entre 1991 e 2000, baseado em dois sensos

demográficos, houve uma saída estimada em um milhão e trezentas e

cinqüenta mil pessoas, na faixa etária de 15 a 24 anos de idade. (POCHMANN,

2004)

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O desemprego estrutural ressalta novas questões de identidade do homem no

século XXI. É preciso buscar um novo discurso e estratégias de atuação, sair

do modelo anterior e auto-referente. Nesta mudança de vinculo e de nova

"cultura" a Orientação Profissional terá que ter um papel ativo. Os jovens que

ainda não estão muito conscientes disto, correm o risco de se sentirem

excluídos e postos fora do sistema considerando-se vítimas, paralisados e

perplexos, sentindo desorientados e desvitalizados.

1.4.7 - Profissional do Futuro

SCHAWARTZ ( 2002 ) aponta como profissões do futuro: designer, gerente de

comunidades, engenheiro genético, gerente de ONG, marketeiro, assistente

social, produtor cultural e missionário. Para Dulce Helena Soares o que está

em ascensão são as profissões do setor terciário, ou seja, as prestações de

serviços: transporte, higiene e limpeza. (SOARES, 2002)

As profissões tradicionais modificam-se no sentido de oferecer consultorias,

como a engenharia, administração, a economia.

Dentro da realidade sócio-econômica atual, verifica-se uma transformação e

reestruturação dos alicerces das profissões e de seus espaços ocupacionais.

A preocupação com relação a escolha da profissão têm sido em função das

profissões que surgirão daqui para frente, as "profissões do futuro".

A realidade de mercado expande a gama de categorias profissionais, de modo

que fica impossível trabalhar apenas com as categorias tradicionais de carreira,

como por exemplo, a engenharia, administração, pedagogia, direito, medicina,

etc. As atribuições exigidas pelo mercado não se encaixam diretamente no

escopo das categorias profissionais que eram demandadas no passado.

Surgem novas necessidades e exigências ocupacionais. Novas especialidades

são desenvolvidas, levando ao aparecimento de carreiras constituídas a partir

de confluências ocupacionais, tal como engenheiro mecatrônico (espécie

híbrida entre a engenharia elétrica e a mecânica), engenheiro de produção,

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engenheiro de segurança, gerente de relacionamento, administrador de

contratos etc. "Não podemos esquecer ainda que a constituição da profissão

deve ser encarada como um projeto em aberto permanentemente interferindo

nas trajetórias de vida, não podendo ser desvinculada de forma alguma das

múltiplas dimensões aí presentes" (MANSANO, 2003).

Nessa nova realidade social, campos de saber tidos como distantes e

incomuns têm, cada vez mais, terreno de atuação. É o caso de, por exemplo,

engenharia genética, engenharia nuclear, técnico em fotônica, além de muitas

outras profissões e atividades resultantes da evolução da informática.

Acredita-se que existam profissões com um futuro mais promissor que outras,

com isso os jovens estão cada vez mais curiosos para descobrir que profissões

serão estas. Na verdade, o que acontecerá é o que sempre ocorreu ao longo

dos séculos: profissões que desaparecem, pois perdem sua função devido ao

avanço tecnológico, e outras, em função das novas necessidades, que surgem

relativas a evolução humana.

A tendência é que a tecnologia facilite a vida de todas as pessoas, fazendo

com que a carga horária de trabalho seja reduzida e sobre mais tempo para as

atividades de lazer. Dentro desta perspectiva, setores como o turismo, lazer,

ambientalismo e urbanismo serão beneficiados, pois ocorrerá um aumento na

procura destes serviços. Como já era de se esperar, os profissionais da área

de informática e de desenvolvimento de novas tecnologias, estão sendo cada

vez mais requisitados.

O profissional do futuro, independente da área que encontre, deverá ter espírito

de iniciativa; ser criativo; hábil em buscar novas formas e soluções para a

efetivação das novas tarefas; ser comunicativo, tanto verbal como

interpessoalmente e deverá, também, saber trabalhar em grupos. As diferentes

profissões, futuramente, trabalharão muito próximas, e o que se espera dos

indivíduos é que tenham um espírito de cooperação.

O individualismo não terá espaço neste novo mundo do trabalho. Com as

profissões trabalhando cada vez mais juntas, ocorrendo parcerias entre os

profissionais, a escolha da profissão pode se tornar mais fácil para quem está

em dúvida entre dois cursos supostamente diferentes. Eles podem se encontrar

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em algum ponto, e o profissional poderá conciliar as duas áreas. (DIÁLOGO

MÉDICO, 1998)

Num passado não muito distante, as opções de carreira limitavam-se a uma

pequena lista de elite: Medicina, Engenharia e Direito. Hoje, o estudante tem a

sua disposição uma infindável lista de cursos, de nível superior, técnico,

seqüenciais ou tecnólogos.

Segundo artigo da Revista Agitação (2005),o setor de relacionamento do CIEE

tem hoje cadastrados 2.108 cursos de nível superior, médio e técnico. Este

elevado número , no entanto, ao invés de ajudar, angustia ainda mais o jovem

que tem que escolher. Muitas vezes, eles acabam decidindo por áreas

tradicionais como Direito. Um dos vestibulares mais concorridos, o Fuvest

2005, atraiu 10.387 candidatos que disputaram suas 460 vagas, perdendo

apenas para Medicina.

No livro Profissões 2005, recém-lançado pelo CIEE, a crescente procura por

Direito Internacional ocorre devido a globalização, criação de áreas de livre

comércio entre países e do aumento dos negócios entre empresas

transnacionais. Na área do Direito do Consumidor há também boas

perspectivas.

O vestibular da Fuvest 2005, com 488 candidatos para as vagas de

Biblioteconomia, demonstrou que os jovens parecem ainda não ter descoberto

esta profissão como uma opção. Jeane dos Reis Passos, presidente do

Conselho Regional de Biblioteconomia, 8a. região, que inclui o Estado de São

Paulo, diz que a profissão não parou no tempo e oferece um campo amplo de

atuação; transformou-se em ciência da gestão da informação. Já Sistemas de

Informação, curso recém-inaugurado no campus da Universidade de São

Paulo, teve 1.710 inscritos. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)

Maria Clara Cavalcante Bugarim, presidente da Fundação Brasileira de

Contabilidade e integrante do Conselho Federal de Contabilidade explica que o

potencial do profissional de Contabilidade está crescendo pois existem de 4 a 5

milhões de microempresas no país, todas elas necessitando de contador

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devidamente registrado para fechar as contas e cuidar das relações com o

fisco. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)

Arnaldo Niskier, secretário estadual de Cultura do Rio de Janeiro e membro da

Academia Brasileira de Letras, diz que todas as profissões podem ser

consideradas novas e com características polivalentes e mulidisciplinares, no

quadro atual das mudanças empresariais. Ele dá como exemplos profissões

como: environmental acountant ou contador ambiental, que trabalha na

relação custo-benefício dos negócios ambientais, como controle da poluição e

reciclagem. Entre as novas profissões ele cita a web development, uma

especialização em projetos de divulgação das empresas via rede mundial de

computadores. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)

Mudanças no mercado de trabalho fizeram proliferar um novo perfil de

profissionais. Nesse contexto, a chamada educação continuada tornou-se o

caminho ideal para se manter no mercado. Com iss , um número cada vez

maior de profissionais tem procurado atualizar-se em sua própria área de

atuação como também buscar alternativas em áreas correlatas retornando ao

mundo acadêmico a procura de cursos de pós-graduação, MBA,

especialização, Mestrado, Mestrado Profissional, Doutorado e Pós-Doutorado.

A busca por esse cursos pode não trazer resultados imediatos para o momento

atual do profissional mas, em alguma etapa da jornada profissional a

oportunidade pode surgir.

Além disso, o enriquecimento intelectual que a educação continuada

proporciona cada vez tem sido mais reconhecido. Tanto que vem tornando-se,

cada vez mais comum as próprias empresas custearem cursos para seus

funcionários, de forma coletiva ou individual, de forma presencial ou à

distância. É importante ressaltar que a EAD (Educação à Distância) tem cada

vez mais crescido no Brasil e hoje é uma realidade incontestável apesar de

críticas e preconceitos que ela ainda suscita.

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1.4.8 - Ciência como Opção Profissional

A profissão de cientista figura como estratégica para o desenvolvimento econômico de

um país. Ao lado do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) há outro adotado pela

UNESCO, o IAC (índice de alfabetização científica) para medir a qualidade de vida de

uma nação que se refere a proporção de cientistas e pesquisadores em relação a

população escolarizada. Países como Japão e EUA possuem políticas públicas para o

incentivo e fomento dos jovens interessados na profissão de cientista, pois tais governos

estão cientes dos significados de um bom IAC nacional. (REIS, 2004)

Se, pois, a Ciência é algo tão importante, por que tão poucas pessoas decidem adotá-la

como opção profissional? Poucos jovens enxergam a atividade de pesquisa científica

como opção profissional no Brasil deste início de século XXI.

A maior parte dessa problemática se explica não pela carência de demanda para essa

atividade, pois a demanda e contratantes são crescentes), e nem pela ausência de

formação específica para cientistas no país, dado o sucesso administrativo de órgãos

como o CNPq. A quase inexistência de interesse pela profissão de cientista explica-se na

verdade pela mais pura desinformação.

Mitos nocivos cercam tal profissão, a maioria deles divulgados pelo romantismo das

mídias, em especial o cinema, que foram decisivos para uma representação social

negativa do cientista.

Para minimizar os mitos que envolvem a Ciência como uma possível escolha profissional

deve haver ,um bom estudo da história da Ciência no Brasil. Os cientistas brasileiros

sempre foram famosos mais no exterior do que em sua própria pátria, talvez pelo

prejudicial desinteresse da população brasileira pela Ciência. No exterior, os cientistas

brasileiros são famosos por sua qualidade e por obterem surpreendentes resultados a

partir de escassos recursos. Um dos maiores físicos do mundo na atualidade, por

exemplo, é o carioca Marcelo Gleiser. Este, antes dos 35 anos, já chefiava equipes de

pesquisadores na NASA. Exemplos de sucesso em Ciência no Brasil não faltam:

Oswaldo Cruz, Ivo Pitanguy, Tarsila do Amaral, Santos Dummont, dentre outros.

.

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O começo de uma boa Orientação Profissional não deve deixar de lado a profissão de

cientista. Antes e mais importante que a determinação de suas técnicas e metodologia,

deve estar atento para o esclarecimento, isto é, na anulação dos empecilhos que

obstruem o desenvolvimento da profissão de cientista. Empecilhos esses que tanto

prejudicam o país quanto os futuros profissionais, pois estes, deixam de contar com a

possibilidade de poder escolher esta profissão.

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“Existir, para um ser consciente, consiste em mudar, mudar para amadurecer,

amadurecer para se criar indefinidamente.”

Henri Bergson

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CAPÍTULO II

O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

“Os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade.

Desrespeitam adultos e gastam seu tempo vadiando por aí, tagarelando uns com os outros. Estão

sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, comem

insaciavelmente e tiranizam

seus mestres.”

Sócrates

2.1- AS CARACTERÍSTICAS DO ADOLESCENTE

2.1.1- Um resgate histórico

A adolescência não é novidade nos dias atuais; palavra simples que permeia

os discursos tanto da ciência como do senso comum é aparentemente bem

definida: fase que se segue à puberdade, aproximadamente entre 14 e 21

anos. Mas, nem sempre a adolescência foi uma fase supostamente conhecida,

estudada e valorizada como no século que acabamos de ultrapassar: o século

XX. Para uma compreensão do conceito atual de adolescência e a

conseqüente crise de identidade relacionada à mesma, é importante um

resgate histórico do termo pois esse é, sem dúvida, derivado de movimentos da

história.

Num dos mais ricos impérios de que se teve notícia, o romano,ou helênico, que

corresponde ao período do século I d.C. ao ano 476, o nascimento de um

romano não era o suficiente para que esse ocupasse um lugar no mundo. Era

necessário que o pai o quisesse e o recebesse para que, então, iniciasse sua

educação e conseqüente colocação na aristocracia romana.

Tão logo nascia, a criança era entregue a uma nutriz que ficava responsável

por sua educação até a puberdade, educação essa que era extremamente

rígida, tendo como objetivo a formação do caráter. Somente aos 14 anos o

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jovem romano abandonava as vestes infantis e, aos 17 anos, passava a ter o

direito de entrar para a carreira pública, como o exército. Não havia um marco

que separasse a criança do adolescente, pois isso era decidido pelo pai.

Durante a Idade Média também não houve nenhum período de transição entre

a infância e a idade adulta. O chamado jovem era o recém entrado no mundo

adulto, o que era feito através da barbatoria, cerimônia que se seguia ao

primeiro barbear do rapaz, portanto o pêlo era a prova de que a criança

tornara-se homem e, então, a agressividade, começava a ser cultivada,

objetivando a boa formação do guerreiro.

No século XVIII começar a aparecer as primeiras tentativas de se definir,

claramente, a adolescência. Somente no século XX foi que nasceu o

adolescente moderno típico, exprimindo uma mistura de pureza provisória,

força física, espontaneidade e alegria de viver. A partir de então, passou a

haver interesse sobre o que o adolescente pensa, faz e sente. Definiu-se ,

então, claramente a puberdade e as mudanças psíquicas.

O adolescente das sociedades modernas apresenta toda uma caracterização

própria dessas sociedades, pois a grande maioria das questões ligadas à

adolescência está diretamente relacionada ao funcionamento da sociedade em

que esse adolescente encontra-se inserido.

Os adolescentes modernos se encontram com um mundo de escolhas. São

livres para escolher entre as mais variadas religiões, deparam-se com diversos

códigos morais e encontram-se frente a uma série de grupos diferentes, que

têm crenças diferentes e proclamam práticas diversas. As civilizações

modernas são heterogêneas, variadas, diversas. O adolescente tem um grande

rol de possibilidades, vive conflitos afetivos, sociais e morais por ter que

escolher em uma sociedade onde as opções são muitas e existem profundas

transformações.

2.1.2 - A conceituação da adolescência

Alguns autores sublinham as transformações corporais, a chamada puberdade, marcada

pelo estirão (crescimento rápido), surgimento de pêlos pubianos, mudança na voz dos

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meninos, aumento dos seios nas meninas, ebulições hormonais levando à explosão da

sexualidade, etc. Outros autores frisam as transformações comportamentais, tais como

uma suposta rebeldia, um certo isolamento, um apego exagerado ao grupo, adoção de

novas formas de se vestir, falar e se relacionar, além de episódios de depressão, tristeza

ou euforia. Tal metamorfose inclui idéias megalomaníacas: crença de que pode mudar o

mundo e perda de algumas referências, como a de seu lugar no mundo.

Acredita-se que as mudanças corporais, ao nível físico, são relativamente universais, com

algumas variações. Um exemplo disso é a menstruação nas meninas, não se conhece

cultura em que esse fato não ocorra; podem-se variar as datas mas nunca deixar de

acontecer.

Já no nível psicológico, principalmente comportamental, há uma vasta diferença de

características no que tange às mudanças. Acredita-se que não há nada de universal nas

transformações psicológicas que variam de cultura para cultura, de grupo para grupo e de

indivíduo para indivíduo. A adolescência faz nascer um novo ser, é como um novo

nascimento.

Becker afirma que a adolescência é como o nascer da borboleta. Um belo dia, a lagarta

inicia a construção do seu casulo. Este ser que vivia em contato íntimo com a natureza e a

vida exterior, se fecha dentro de uma “casca”, dentro de si mesmo e dá início à

transformação que levará a um outro ser, mais livre, mais bonito e dotado de asas que lhe

permitirão voar. Se a lagarta pensa e sente, também o seu pensamento e o seu sentimento

se transformarão. Serão agora o pensar e o sentir de uma borboleta. Ela vai ter um outro

corpo, outro tipo de relação com o mundo. (Becker, 1997)

2.1.3- Características dos adolescentes

Ao longo da história, os jovens apresentaram características diferenciadas.

Atualmente, eles preocupam a todos com comportamentos como: transar e

engravidar mais cedo, contrair mais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e

AIDS, beber e fumar cada vez mais, usar mais drogas, sofrer mais acidentes, cometer

mais suicídios, morrer mais. São mais pessimistas, individualistas, estressados,

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competitivos e deprimem-se com mais facilidade. (Eugenio Chipkevitch, REVISTA

VIVER, 2001)

CORDIÉ (1996) menciona a adolescência como uma fase crítica, pois as mudanças

ocorridas no sujeito podem afetar sua eficiência intelectual, pois a pressão relativa

aos estudos, à entrada na universidade, à profissão, às competições, competências,

os exames escolares, enfim, as escolhas necessárias à entrada no mundo adulto,

podem ser desencadeantes de um estado psicótico, pois diante de uma estrutura

fragilizada há o risco de rompimento com a realidade.

Os jovens passam a tomar remédios para disfunção erétil quando querem transar

mais vezes; medicamento para emagrecer quando se sentem gorduchos;

antidepressivos ou ansiolíticos quando estão tristes ou ansiosos. Muitos jovens entre

15 e 25 anos, são incapazes de lidar com a dor ou suportar privações. Formam a

chamada “geração anlagésico”, segundo o psiquiatra César Ibrahim. Márcia Neder

Bacha, pioneira do trabalho de psicanálise com professores para que eles possam

acolher melhor os jovens, explica que, antes de fugirem da dor e das frustrações,

buscam o prazer imediato, aqui e agora, mágico. Conquistar o sono e o orgasmo, o

alívio da dor e da ansiedade, avançar sobre os limites do corpo e da própria

subjetividade, sem o esforço próprio e sem a agonia da espera, dá uma grandiosa

sensação de onipotência que está longe de ser desprezível. A idéia de uma

adolescência sofredora e de uma infância vitimada tem atravessado nossas

concepções teóricas sobre o desenvolvimento psíquico. Há um lado positivo nessa “

geração analgésico.” (REVISTA “O GLOBO”, 2005)

O jovem fantasia ser melhor que os demais e sente-se realmente especial como

forma de não encarar suas limitações. Para não sofrer com sua insegurança, mostra-

se excessivamente seguro. Com freqüência, ele tende a compensar os sentimentos

de inferioridade por meio dos riscos a que se expõe, negando os perigos reais.

São típicos os casos de meninas que dizem que determinada colega é invejosa. Já

nos rapazes, dúvidas com relação à sua própria masculinidade podem levá-lo a

atribuir caráter homossexual aos colegas. O aluno pode se ver espelhado no

professor, que se torna um ídolo, o que geralmente é desejável e somente em casos

extremos pode ser prejudicial. Na relação professor-aluno, deve ser dada atenção

especial para projeção de características negativas no professor. Nesse caso, o aluno

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projeta no professor as suas dificuldades pessoais, levando, inevitavelmente à queda

no rendimento escolar. É comum que o jovem justifique seu mau desempenho

racionalizando, como na frase "Essa matéria não serve para nada, mesmo!".

"Ninguém entende essa matéria".

É muito freqüente ocorrer o deslocamento, quando o sentimento para com uma

pessoa é transferido para outra. Muitas vezes o professor, enquanto representante do

mundo adulto e no papel de autoridade, pode ser inconscientemente associado ao pai

ou à mãe. Sentimentos hostis para com os genitores podem ser deslocados para o

professor, que se torna o alvo das agressões.

O jovem apresenta, momentaneamente, reações tipicamente infantis. Pode bater os pés no chão,

fazer birra, falar de forma infantilizada e até mesmo agir como criança; o adolescente que

morde e chupa o lápis ou a caneta, ou ainda que rói as unhas.

Para Içami Tiba, o adolescente não quer mais a influência dos adultos. Quer

vestir o que ele escolheu, assim como as pessoas com quem quer conviver.

“Está em busca da própria personalidade. Não quer receber nada pronto e sim

participar da construção do seu caminho.”

Segundo o estudioso, os adolescentes querem ser bem tratados em casa e na escola

enquanto se submetem a privações com a turma durante as viagens e

acampamentos.

Ele podem agir como selvagens: sem cumprimentar, agradecer ou respeitar, fazem o

que lhes vêm à cabeça, sem o mínimo bom senso. Praticam atos de vandalismo,

usam drogas, expõem-se a perigos como esportes radicais, pegas, “rachas”, etc. As

jovens se deixam levar pelos relacionamentos, usando drogas com os namorados se

eles o fizerem. Elas não são selvagens, mas teimosas e agressivas: quando querem

algo, simplesmente, insistem até conseguir.

Os jovens vivem uma situação de ambigüidade: hostilizam os pais mas querem sua

atenção; desejam viver o novo, mas sentem perder o que lhes dava segurança;

dependem dos pais, mas divergem deles quanto aos objetivos de sua conduta;

rejeitam interferências, mas exigem o apoio para sua subsistência. (TIBA, 1998)

“A alienação do jovem atual flui, em grande medida, por ser forçado a aceitar um

papel não produtivo na sociedade, durante uma adolescência interminavelmente

prolongada...talvez possamos ver, dentro em pouco, campanhas políticas a favor e

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não contra o trabalho da criança e do adolescente...evitar a desocupação e todos os

ales que acompanham a delinqüência juvenil, a violência e a degradação psicológica

da juventude, isto é, restituir aos jovens papéis sociais e economicamente produtivos,

como se tinha na era pré-industrial. “ (A. Tofler, in aput PAGNONCELLI, 1996)

Adolescentes vivem mais um vir-a-ser do que uma existência plena de sentidos.

Estudam para passar no vestibular, sem entender a utilidade de quase nada do que

aprendem, ou fingem aprender.

Eles curtem tantos ritos de passagem que as próprias turmas impõem a seus

membros, provas de coragem, de competência, de adesão ao grupo. Isso ocorre

porque os ritos de passagem, praticamente desapareceram na sociedade atual.

“Entretanto, eles são preciosos mecanismos atávicos de consolidar identidade, de dar

contornos à confusão.” (Eugênio Chipkevitch, REVISTA VIVER, 2001)

Victor Frankl enxergou na falta de sentido para a vida uma causa moderna das

neuroses, da depressão e de tantos outros problemas que assolam a

juventude. Os jovens precisam de esperanças, projetos, sonhos, como

qualquer um de nós, para sobreviver dignamente. Precisam poder cultivar sua

auto-estima, o seu senso de competência, sua solidariedade e os seus afetos.

No mundo de hoje, sucumbir ao vazio, à confusão de valores, à falsidade da

família, ao massacre intelectual da escola, à competição individualista e à

massificação do mundo neoliberal globalizado, é um risco grande. (Eugenio

Chipkevitch, , REVISTA VIVER, 2001 )

2.1.4 - A crise de identidade própria da adolescência

O período da adolescência é marcado por diversos fatores mas, sem dúvida, o

mais importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a

entrada em uma nova realidade que produz confusão de conceitos e perda de

certas referências.

O adolescente desestrutura e tenta reestruturar tanto seu mundo interior como

suas reações com o mundo tentando poder ser um objeto para si mesmo, em

busca da definição de que “eu sou eu”. O encontro dos iguais no mundo dos

diferentes é o que caracteriza a formação dos grupos de adolescentes, que

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terão livre expressão e de reestruturação da personalidade, ainda que essa

fique por algum tempo sendo coletiva. É exatamente essa crise e, conseqüente

confusão de identidade que fará com que o dolescente parta em busca de

identificações, encontrando outros “iguais” e formando seus grupos. A

necessidade de dividir suas angústias e padronizar suas atitudes e idéias, faz

do grupo um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de

comportamentos, pensamentos e hábitos.

Essa busca do “eu” nos outros na tentativa de obter uma identidade para o seu

ego é o que o psicanalista Erik Erikson chamou de “crise de identidade”, o que

acarreta angústias, passividade ou revolta, dificuldades de relacionamento inter

e intrapessoal, além de conflitos de valores. Para Erikson, o senso de

identidade é desenvolvido durante todo o ciclo vital, onde cada indivíduo passa

por uma série de períodos desenvolvimentais distintos, havendo tarefas

específicas para enfrentar. A tarefa central de cada período é o

desenvolvimento de uma qualidade específica do ego.

Segundo ERIKSON (1972) em termos psicológicos, a formação da identidade

emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que

ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo julga

a si próprio à luz daquilo que percebe ser, a maneira como os outros o julgam,

em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para

eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo

como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos

que se tornaram importantes para ele.

Portanto, a construção da identidade é pessoal e social, acontece de forma

interativa, através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido.

Esse autor enfatiza, ainda, que a identidade não deve ser vista como algo

estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas

como algo em constante desenvolvimento.

Entre os aspectos importantes no desenvolvimento da identidade está o

controle vital, ou seja, as fases ou períodos da vida que o indivíduo atravessa

até chegar à idade adulta, que são marcados por crises apresentadas como

situações a serem resolvidas.

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Como afirma ERIKSON (1972), entre as indispensáveis coordenadas da

identidade está o ciclo vital, pois partimos do princípio de que só com a

adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de crescimento

fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para atravessar a

crise de identidade. De fato, podemos falar da crise de identidade como o

aspecto psicossocial do processo adolescente.

Desta forma, o grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada

crise de identidade. É importante entender que o termo crise, adotado por

Erikson, não é sinônimo de catástrofe ou desajustamento, mas de mudança; de

um momento importante no desenvolvimento onde há a necessidade da opção

por uma ou outra direção, mobilizando recursos que levam ao crescimento.

O sentido pejorativo normalmente atribuído a situação de crise deve ser revisto

e encarado como “ruptura”, pois este momento pode ser criativo, onde o antigo

equilíbrio desaparece para dar lugar ao novo. Crise pode ser condição de

crescimento, ela é benéfica, produtiva, pois impulsiona o indivíduo ao estágio

seguinte do desenvolvimento.

É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as

construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem

assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever

suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos. A crise de

identidade é marcada, também, por uma confusão de identidade, que

desencadeará um processo de identificações com pessoas, grupos e

ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou coletiva, no

caso dos grupos, até que a crise em questão seja resolvida e uma identidade

autônoma seja construída.

Em nossa cultura, não há somente o período de adolescência mas a tendência

em ampliá-lo na medida em que o tempo de estudo aumenta, adiando a

entrada no mercado de trabalho. Torna-se cheio de contradições o espaço de

tempo entre o abandono do mundo infantil até poder assumir as obrigações e

responsabilidades da vida adulta.

Eugenio Chispkevitch, pediatra, médico de adolescentes e diretor do Instituto

Paulista de Adolescência, afirma que o adolescente merece confiança e que

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sua auto-determinação é um direito e um compromisso consigo mesmo, pois

legitima a sua condição de pessoa plena, em crescimento e desenvolvimento,

cheio de vida e significados. “Taxá-los de seres “em crise” é redundante –

quem de nós não está “em crise”?” (REVISTA VIVER, 2001)

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2.1.5 - Identidade profissional e a vida do adolescente

Rodolfo Bohoslavsky, importante teórico da Orientação Profissional,

compreende que a identidade profissional ou ocupacional é “um aspecto da

identidade do sujeito, parte de um sistema mais amplo que a compreende, e é

determinada e determinante na relação com toda a personalidade.”

(BOHOSLAVSKY, 1987).

A identidade profissional é, portanto, parte da identidade pessoal total, e pode

ser compreendida como “a autopercepção, ao longo do tempo, em termos de

papéis ocupacionais”. (BOHOSLAVSKY, 1987) Da mesma forma que a

identidade pessoal, a formação da identidade profissional deve ser entendida

numa contínua interação entre fatores internos e externos ao indivíduo. Apesar

de ser apenas um aspecto da identidade total, pode-se facilmente notar que a

importância da identidade profissional é enorme na sociedade capitalista

moderna, chegando mesmo a ser confundida com a identidade pessoal como

um todo.

Entende-se que a identidade profissional se relaciona estreitamente com a

escolha profissional, tal como afirma Wagner Fiori: “A escolha de uma profissão

é fundamental na normalização das relações com o mundo. Num nível mais

concreto, é claro, entende-se que, em parte, sou aquilo que faço. ” (FIORI, in

apud RAPPAPORT, 1982). Como essa identidade se entrelaça com a escolha

de papéis ocupacionais e a definição concreta de uma profissão, a maioria dos

autores concorda que ela é, em geral, formada na adolescência, época de

grandes transformações biopsicossociais para um sujeito que comumente está

em processo de inserção no mercado de trabalho.

Para o teórico do desenvolvimento Erikson, a formação da identidade se

configura, desde a infância até a idade adulta, em três áreas básicas de

definição, a saber, a identidade sexual, ideológica (político-religiosa) e

profissional. Segundo o autor, esta formação atinge um momento crítico na

adolescência, pois nesta fase do desenvolvimento o indivíduo deve fazer a

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transição de uma identidade infantil, dependente, para uma adulta,

independente. Em conseqüência, Erikson define a existência de uma “crise

normativa da identidade na adolescência”, devido à confusão de papéis

experimentada pelo jovem, associada à pressão que a sociedade impõe pela

sua definição.

Em suas palavras, “a adolescência não é uma doença mas uma crise

normativa, isto é, uma fase normal de crescente conflito ... que poderá liquidar-

se por si só e até, de fato, contribuir para o processo de formação da

identidade” (ERIKSON, 1987).

ABERASTURY (1992), psicanalista contemporânea, define a existência de uma

“síndrome da adolescência normal”, ou seja, um estágio pseudopatológico pelo

qual passa todo adolescente “normal”, do qual um dos principais sintomas é a

busca de si mesmo e da identidade. Segundo Bohoslavsky (1987), a identidade

profissional se forma basicamente a partir da identificação do adolescente com

o grupo familiar, o grupo de pares e sua própria sexualidade. A família é

referência fundamental, seus valores e os papéis ocupacionais que

desempenham são bases significativas de orientação para o adolescente, tanto

como grupo positivo ou negativo de referência. Os grupos de pares, por sua

vez, influenciam de forma mais imperativa que a família, e sempre como

referência positiva. Por fim, as identificações sexuais influenciam a identidade

profissional, na medida em que os padrões culturais sobre o papel social de

homens e mulheres influenciam os gostos, interesses, atitudes e inclinações

dos adolescentes.

Por outro lado, é importante também atentar para as especificidades de parte

da população adolescente na realidade socioeconômica brasileira. Lisboa

(1997) afirma que em nosso contexto não se pode considerar que a totalidade

do grupo adolescente tenha como preocupação a escolha profissional,

porquanto a “grande maioria de nossa população jovem não só é compelida a

lançar-se no mundo do trabalho muito antes de concluir os estudos de segundo

grau, como interrompe seus estudos para trabalhar por necessidade de

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sobrevivência sua e de sua família. ” Entretanto, de maneira geral ainda se

pode considerar que a formação da identidade profissional está na intersecção

com a identidade adolescente, quaisquer que sejam as circunstâncias sociais

em que o jovem estiver.

2.1.6- Auto-estima

A auto-estima está presente em tudo o que fazemos. Da entrevista para um

emprego ao pedido de desconto em uma loja, de uma conquista amorosa à

aceitação de novos desafios. No mundo competitivo em que vivemos tem

enorme valor de sobrevivência, sendo uma necessidade humana, essencial

para o desenvolvimento psicológico adequado.

A auto-estima relaciona-se ao auto-respeito, calcada sobre os sentimentos de

competência pessoal e de valor pessoal. Quando a auto-estima é elevada, o

sujeito sente-se adequado à vida, competente e merecedor. Ao contrário, na

baixa auto-estima sente-se errado como pessoa, inadequado à vida, podendo

apresentar sentimento de culpa, dúvidas e medos exagerados. Uma auto-

estima média pode apresentar oscilações, ou seja, existem momentos em que

o sujeito se sente mais adequado e em outros menos, o que é perfeitamente

normal.

A auto-estima pode ser profundamente abalada na adolescência,

principalmente quando a estrutura emocional do sujeito é mais frágil, tornando

mais difícil lidar com as mudanças. A adolescência caracteriza-se por

transformações orgânicas, emocionais, intelectuais e sociais inerentes ao

processo de desenvolvimento humano. Seu início é facilmente observado com

as primeiras transformações corporais, enquanto que o final, caracterizado

socialmente, ocorre de forma sutil, com a independência relativa, uma profissão

ou estudos superiores. As transformações do corpo geram intensa angústia no

jovem, porque não sabe como irá ficar e também pelas pressões da mídia

quanto ao "corpo ideal". É uma fase em que a auto-imagem modifica-se tanto

ou mais que o corpo, o que pode levar à queda da auto-estima. Se a queda do

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rendimento escolar ocorre no início da adolescência, provavelmente, a causa

relaciona-se à aparência e às mudanças corporais.

A baixa auto-estima pode gerar da depressão ao uso de drogas, da anorexia e

bulimia à obesidade, da timidez ao medo do sucesso, do fracasso dos

relacionamentos ao insucesso acadêmico e profissional, enquanto que a auto-

estima elevada aumenta a perseverança diante de situações adversas. Mais

perseverança significa mais chance de reverter esta situação. Proporciona

maior otimismo e, por isso, mais perspectivas de sucesso.

Em um segundo momento, o jovem necessita pertencer a um mundo próprio,

com plena identificação junto ao grupo e seguir determinados líderes, não

representantes típicos do mundo adulto. É necessário ter vínculo com o grupo

para que, ao compartilhar suas idéias junto a amigos com características

semelhantes, possa romper com alguns valores de seus pais e sedimentar sua

própria identidade. A dificuldade nos relacionamentos é, muitas vezes, derivada

dos conflitos quanto à aparência. O jovem sente-se feio, desajeitado, muito

gordo ou muito magro, muito alto ou muito baixo – e, com isso, afasta-se do

grupo. O isolamento reforça ainda mais a crença de ser diferente ou

inadequado. Se a auto-estima estiver baixa, será mais difícil para o jovem dizer

"não" aos colegas, pois a necessidade de aprovação torna-o ainda mais

influenciável.

Ao final da adolescência, o sistema de valores dos adultos é incorporado e o

jovem está emocionalmente mais estável, buscando a independência

econômica e vínculos afetivos mais estreitos. Nessa fase predominam os

conflitos relacionados à escolha da profissão e à aquisição de maiores

responsabilidades. Dúvidas e medos com relação ao futuro, bem como o

sentimento de incapacidade, podem dificultar e até mesmo impedir que o jovem

consiga o sucesso profissional. Nessa fase, a auto-estima pode ser o

diferencial que o levará ou não a uma boa escolha profissional e ao sucesso.

Independentemente da fase, a baixa auto-estima leva a uma espécie de ciclo

vicioso, no qual o indivíduo tende ao fracasso e, ao esperar pelo pior, faz com

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que isso ocorra. A cada novo fracasso reforça a idéia de incapacidade ou

inadequação, alimentando o ciclo.

A sucessão de experiências dolorosas, como as frustrações e os conflitos

psíquicos não elaborados, leva à necessidade de encobri-los para diminuir a

tensão e a ansiedade. Entram em cena os mecanismos de defesa, que são

processos mentais inconscientes para aliviar a ansiedade ou outras formas de

tensão, em geral oriundas de frustrações. O mais comuns são: negação,

racionalização, generalização, fantasia, defesa maníaca, identificação,

projeção, deslocamento e regressão.

2.1.7- Período de escolha profissional

O período de adolescência compreende dos 11 aos 21 anos. É um momento de

crise, de transição entre a infância e o mundo adulto, adaptação e ajustamento,

vividos de forma intensa e, muitas vezes, conflituosa. É um período de verdades

absolutas e grandes compromissos. É a fase em que o indivíduo molda a sua

personalidade, que o acompanha durante toda a vida. É quando se procura a verdade

em tudo: em pensamentos e atitudes.

Amplia-se o horizonte, aprende-se coisas diferentes, desenvolve-se novas formas de

pensar e valores são postos em dúvida. E, de repente, percebe-se que existem

muitos caminhos além dos adotados pela família.

Passa-se, então, a questionar o que se pode fazer, que necessidades e que

interesses existem. Inicia-se uma busca do novo quanto à significados, ídolos, ideais;

uma busca de si mesmo com o objetivo de se auto-afirmar e conscientizar-se da sua

diferença em relação ao outro. Enfim, as mudanças físicas, cognitivas, afetivas e

sociais típicas desta fase levam o adolescente a reestruturar sua identidade pessoal e

a reconhecer sua identidade profissional.

Para Erikson, dos 13 aos 18 anos a qualidade do ego a ser desenvolvida é a identidade,

sendo a principal tarefa adaptar o sentido do eu às mudanças físicas da puberdade, além

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de desenvolver uma identidade sexual madura, buscar novos valores e fazer uma escolha

profissional. Para Bohoslavsky, é na adolescência, especificamente entre os 15 e 19 anos

aproximadamente, que emergem as dificuldades e soluções de natureza vocacional,

delineando-se com mais clareza, os conflitos profissionais. "Todas as dúvidas do jovem a

respeito de quem quer ser obedecem a identificações que ainda não se integraram".

(BOHOSLAVSKY, 1993)

Segundo Bohoslavsky (1998), o processo de Orientação Vocacional não leva a uma

identidade profissional, isto ocorre muitos anos depois. A conquista da identidade

ocupacional passa por três etapas: escolha fantasista, tentativa de escolha e escolha

realista.

Ronald Pagnoncelli de Souza coloca que devemos lembrar que, em função das

reformas do ensino, a maioria dos jovens presta exame e ingressa na Universidade

com 16 ou 17 anos de idade. Encontram-se em plena adolescência, ainda imaturos

psicologicamente; alguns também do ponto de vista do amadurecimento físico. “...o

jovem entra, hoje, com pouca idade na Universidade e por esse motivo a maioria mal

sabe de suas reais tendências vocacionais. “ (PAGNONCELLI, 1996)

Num momento de tantas dificuldades, a sociedade espera que o jovem exerça seu

direito e dever de realizar algo muito significativo e importante em sua vida: escolher

um curso e/ou uma profissão. Observe-se ainda, como fator agravante, que tal

escolha geralmente é considerada como algo para o resto da vida.

Priscila do Amaral, Psicanalista, Terapeuta de Regressão filiada à Sociedade

Brasileira de Psicanálise Integrativa, Mestre em Ciências pela USP diz que é

importante notar que outras variáveis contribuem para tal distorção, como o fato do

Brasil exigir cedo demais - entre os 17 e 18 anos - uma definição profissional por

parte dos jovens. Nos EUA, por exemplo, geralmente só após completar 20 anos é

que o estudante necessita estar com seus rumos profissionais estabelecidos.

Em entrevista ao site Conversa Fiada, Silvio Bock diz que dizer que um jovem de 16 a

18 anos está preparado para escolher uma profissão para a vida toda, significa

cometermos o crime de dizer para este jovem que a sua decisão nunca mais poderá

ser modificada. É evidente que uma das funções da Orientação Vocacional é fazer

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com que o aluno identifique claramente seus desejos e, assim, faça a escolha

acertada. Mas, numa sociedade minimamente equilibrada, é preciso dar chances para

a recuperação.

Os caminhos podem ser corrigidos e é ótimo que seja assim. No que diz respeito à

idade, a questão é simples: o ideal seria que todos pudessem escolher o caminho

profissional com a com a experiência de quem tem 65 anos, mas aí já é hora de se

aposentar. “ O jovem tem, sim, condições de fazer uma boa opção. Uma coisa é

certa: a escolha sempre será algo difícil. Escolher é um ato de coragem. Significa ter

de optar por uma entre duas ou mais alternativas atraentes. Costumo dizer que

pensar em profissão significa esboçar um projeto de vida.” (BOCK, SITE CONVERSA

FIADA)

2.2 - A ciência explica o “aborrescente”

2.2.1 - Mudanças

2.2.1.1 - Físicas

Nesta fase, as alterações se processam devido ao grande volume dos

hormônios : estrogênio, em garotas e testosterona, em garotos que são

lançados pela hipófise na corrente sangüínea.

São estes hormônios os principais responsáveis pelo nascimento de pêlos:

tanto no púbis e nas axilas, em ambos os sexos, como na face e no tórax nos

rapazes; pelo surgimento dos seios nas meninas, pelas mudanças na voz,

assim como alterações às vezes menos significativas na pele, nos cabelos. Há

ainda as mudanças na estatura, no peso corpóreo e outras também

consideráveis, como as mudanças de humor, causadas pelas alterações

hormonais.

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Diante de tantas modificações, o jovem passa por um período de estranheza a

seu próprio corpo, sendo comum, especialmente nos rapazes, que eles se

tornem estabanados, desajeitados, pois não estão ainda acostumados com sua

nova força física, com o tamanho de suas mãos e pés. É comum que deixem

cair coisas, que esbarrem em tudo ou todos com facilidade, que tropecem e

quebrem objetos. Além disso, é muito mais aceito socialmente e, às vezes, até

reforçado que o rapaz tenha atitudes grosseiras, desastrosas.

As moças, em geral, quer por razões hormonais quer por incentivo social, ou

por ambos, são mais delicadas, mais sensíveis, emocionam-se e choram com

mais facilidade. A diferenciação entre os sexos se estabelece, não apenas em

função do orgânico, mas também e muito pelo que é aprovado e reforçado

socialmente.

Nesta época também acontece o aumento do interesse pelo sexo oposto ou o

despertar da sexualidade. Em suma, é um período de profundas e intensas

transformações. Em relação a todas essas mudanças, autores ligados à

corrente psicanalítica, tais como Erikson, escrevem que o jovem tem de

“elaborar a perda pelo corpo infantil”, visto que as transformações corporais

têm uma forte repercussão psíquica.

2.2.1.2 - Afetivas e psíquicas

As alterações físicas refletem-se nas relações de afeto, impregnando

mudanças psíquicas. Nesta fase de mudanças, geralmente, começa a haver

uma relação diferenciada com os pais que já não apresentam mais o grau de

importância que antes tinham. É o que se denomina o luto pela relação infantil

com os pais. Estes, que antes ocupavam o mais importante lugar no afeto da

criança e eram considerados heróis, ídolos, passam a um segundo plano: o

jovem percebe que os pais não sabem tudo como antes ele imaginava. Há uma

significativa alteração na relação afetiva e de valores. O grupo de iguais ou

grupo de pares (colegas, amigos) passa a ocupar lugar central na vida e no

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afeto dos jovens e são os valores por eles expressos que passam a orientá-los,

servindo-lhes como referência.

2.2.1.3 - Valores pessoais e sociais

Parece claro que, diante de tudo o que foi descrito até agora, também ocorrem

mudanças nos valores pessoais e sociais.

O jovem não apenas já possui maior domínio de conhecimentos, como revê os

que possuía anteriormente. Ele tem agora novo foco, nova maneira de

entender e de perceber a realidade, analisando-a sob seu modo pessoal de

ver.Os valores familiares são normalmente questionados, às vezes

deliberadamente rejeitados, numa forma de contestação e tentativa de marcar

sua individualização. Nota-se que, no entanto, este mecanismo de oposição

não significa, necessariamente, um repúdio ao sistema de valores dos pais.

É como se fosse necessário contestar, protestar, para marcar a diferença; mas

o jovem sabe, ainda que não conscientemente que somente na família

encontrará espaço para fazer suas “birras” e continuar sendo querido e aceito.

Mesmo que haja desentendimentos, que as brigas com os pais aconteçam, ele

sabe que sempre haverá a possibilidade da aceitação. Neste período, diante do

que pode ocorrer, nota-se a importância de uma relação afetiva sólida,

anteriormente construída.

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2.2.2 - O cérebro em formação

Sempre se pensou que a atitude briguente dos jovens fosse culpa do vulcão de

hormônios colocado em ebulição pelo processo de crescimento. Ou da angústia

existencial própria de uma época de transição. Há agora uma nova explicação: o

que se passa com os adolescentes é, por assim dizer, conseqüência do que se

passa na cabeça deles. A juventude nem se ajustou direito às mudanças

causadas em seu corpo pela puberdade e o cérebro também começa a mudar.

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que ao chegar à adolescência o cérebro já

estivesse completamente formado. Pesquisas recentes revelam que, ao contrário,

nessa fase se inicia um processo de rearranjo dos neurônios tão intenso como

aquele que aconteceu nos primeiros anos da infância. As áreas onde ocorrem as

maiores transformações são justamente aquelas ligadas às emoções, ao

discernimento e ao autocontrole. Essa é uma boa explicação científica para o

comportamento tão impulsivo e temperamental dos jovens. "Algumas áreas da

estrutura cerebral só vão estar inteiramente maduras depois dos 20 anos", diz o

psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro.

Região Parietal

Responsável pela atenção e noção

de espaço

Atinge a maturidade aos 16 anos

Região Frontal

Responsável pelo autocontrole, pela capacidade

de discernimento e pelo humor

Atinge a maturidade aos 20 anos

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Durante a adolescência, dois fenômenos acontecem no cérebro. Surgem novas

conexões entre os neurônios e as sinapses. Algumas áreas passam por

grandes mudanças estruturais. A mais significativa acontece nos lobos frontais,

área responsável pelo autocontrole e pelo senso de organização e de

planejamento. Ocorre uma espécie de “faxina” nas sinapses feitas entre os

neurônios durante toda a infância. No decorrer do processo, a região dá uma

encolhida, num fenômeno conhecido entre os especialistas como "poda". "É

como se o cérebro sentisse, por volta da puberdade, que as velhas conexões

são inúteis e que há necessidade de abrir espaço para outras, muito mais

importantes, a serem feitas na idade adulta", explica o psiquiatra Jorge Alberto

da Costa e Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Outras partes

do cérebro estão “a mil”. Uma delas é o sistema límbico, centro de

processamento das emoções, como a raiva, que trabalha de forma exuberante.

Sistema Límbico

Responsável pelas emoções, como a

raiva

Atinge a maturidade aos 20 anos

Região Temporal

Responsável pela memória

Atinge a maturidade aos 16 anos

A imaturidade de certas áreas talvez explique por que as regiões do cérebro

usadas pelos adolescentes são diferentes das utilizadas pelos adultos para as

mesmas tarefas. Não se conhece muito bem o mecanismo, mas estudos

mostram que os jovens podem interpretar certas coisas diversamente dos

adultos, uma expressão facial de medo pode ser confundida com escárnio, por

exemplo. Na adolescência, o cérebro desenvolve a capacidade de planejar,

organizar, controlar as emoções, entender os outros, fazer julgamentos e até

decifrar a lógica matemática. O cérebro está completamente aberto a novos

conhecimentos.

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2.2.3 - A influência dos hormônios

“ O que determina o comportamento feminino é o estrogênio, hormônio

secretado pelos ovários; o responsável pelo comportamento masculino é a

testosterona, hormônio produzido pelos testículos.O estrogênio é um hormônio

de ligação e de ajuda mútua, estimula a compartilhar problemas e soluções. A

testosterona é um hormônio, de “ brigação “ e expulsão.O estrogênio

transborda afeto para o universo enquanto que a testosterona provoca mal

humor e afastamento. Definem-se assim, dois modos de ser: o feminino e o

masculino. “ (TIBA, 1998)

2.2.4 - Escolha profissional - fator de saúde

A máxima com que a nova ciência opera é: o todo é mais que a soma de suas

partes.

É a perspectiva de entender o processo de escolha profissional. Não somos

um braço, uma cabeça, etc. e sim todos eles funcionando harmonicamente.

Somos também sentimentos e ações o que faz com que a harmonia, que pode

ser entendida como saúde, poder ficar comprometida. Saúde é um estado de

bem-estar, uma experiência em que mente, corpo e cultura não estão

separados.

O homem faz parte da natureza e não está aqui para dominá-la, como nos faz

crer a visão cartesiana. Precisamos pensar-nos como parte do sistema

ecológico do mundo, que não considera o universo uma máquina, mas que vive

e sobrevive através de inter-relações e interdependência. A natureza não se

constitui somente de estímulos mas também em função de processos

dinâmicos subjacentes.

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A definição de saúde é uma experiência de bem-estar resultante de um

equilíbrio dinâmico que envolve o psicológico do organismo, assim como suas

interações com o meio ambiente natural e social.

Há uma relação direta entre o sistema de criação do universo e sua réplica no

sistema humano. Somos, portanto, um micro-sistema em toda a sua grandeza.

Com essa visão, pensar a saúde do homem e seu bem-estar, é pensar suas

escolhas, já que elas terão reflexo nos demais sistemas.

O organismo costuma funcionar em desarmonia, por isso, o sistema emite

avisos de que as coisas não estão bem e o estresse apresenta sinais como

forma de reequilibrar-se novamente.

O estresse é, portanto, um desequilíbrio do organismo em resposta a

influências ambientais. A interação contínua com o meio ambiente, entre o

mundo subjetivo e o mundo objetivo, passa por momentos de estresse

temporário até a adaptação à situações e circunstâncias, seja para aceitar ou

agir sobre ela. Ou o indivíduo adoece ou enfrenta uma crise, que tende-se a

encarar como uma tragédia e não como uma forma de crescimento.

Uma escolha profissional leva a um estado de menos saúde, menos bem-estar.

Ela assume, momentaneamente, um lugar significativo na decisão a ser

tomada, em termos de futuro, um investimento na saúde pessoal, na prevenção

de estados desarmoniosos.

Os passos necessários para iniciar a cura seriam, portanto: o reconhecimento,

pelas pessoas, de que elas participam, consciente ou inconscientemente, da

origem e do processo de sua doença, e que, também podem participar de sua

cura; as atitudes mentais e as técnicas psicológicas e pedagógicas são

importantes meios para a prevenção e a cura; a vontade da pessoa de ficar

bem e a confiança no tratamento, no aconselhamento ou orientação

profissional são aspectos cruciais.

É exatamente neste ponto que coloca-se a questão da escolha profissional.

Há, no mínimo, dois momentos: na adolescência e em algum momento na vida

em que o indivíduo percebe a inadequação da escolha profissional.

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É através do trabalho que o homem se liberta de seus limites,

condicionamentos e fragilidades. Para isso, reflete e trabalha sua vontade, sua

inteligência, sua imaginação e criatividade. O homem é um ser social e o

sentido do que faz, amplia na integração com os outros, portanto, se expressa

na medida em que serve aos outros, em que é útil à sociedade. Este

sentimento de pertencer, dá ao indivíduo uma identidade e a sensação de

unidade com a humanidade, “o todo é mais que a soma das partes “.

2.3 – O processo de escolha

"De acordo com os preceitos da sociedade, a realização profissional está ligada ao bem

estar financeiro. Acho que não é só isso."

"Quando a gente faz com amor, surge a oportunidade e a gente acaba se dando bem.”

"Você pode ter seu ideal, mas ninguém age assim. Abrir mão da questão financeira é difícil".

"O que eu quero ?...Fica uma dúvida."

"Como vou escolher um curso se eu nem quero fazer vestibular?"

2.3.1 – As diferentes escolhas

O cotidiano é cercado por escolhas. Independente de raça, credo ou cultura de

origem a todomomento a humanidade está envolvida por situações que exigem

um posicionamento individual, que necessitam da tomada de uma atitude em

detrimento de outra.

E quando se escolhe, não se faz ao mero acaso, mas baseia-se nas

percepções e nos valores que possui-se internalizados e transmitidos através

das trocas sociais estabelecidas com o contexto ao qual se é parte integrante,

no caso dos adolescentes: a família, os amigos(as), professores(as), namorado

(a). Diante de determinadas etapas do desenvolvimento humano a

necessidade de escolher se torna mais complexa e fundamental, além de ser

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acompanhada por uma série de desejos externos ao indivíduo, que muitas

vezes são contrários aos seus próprios.

Assim pode ser na escolha profissional, na decisão de casar-se, ter filhos ou

mudar de país em busca de melhores condições de vida. Muitas vezes, até

mesmo na maioria delas, optar por um caminho implica em sacrificar um outro,

pois não podendo ocupar dois lugares no espaço ao mesmo tempo. O

indivíduo decide aquele que mais lhe traz significado ou aquele que mais lhe

seduz, e aí que deve precaver-se contra os jogos das estruturas de poder que

tentam lhe conduzir a vida, papel largamente desempenhado pela família. Há

ainda quem escolha não escolher, mas a própria frase já atesta que a não

escolha é uma escolha, pois existe a decisão de não expressar a

individualidade, de deixar que outros assumam para si essa responsabilidade.

A questão “escolher” não é para muitas pessoas sinônimo de liberdade, pois

existem vários indivíduos que não conseguem efetuá-la, por estarem sempre

envoltos pelas decisões dos outros, ou por nunca terem oportunidade concreta

para tal, ou ainda por não sentirem-se seguros.

Pensando a um nível mais profundo, até que ponto nossas escolhas não estão

contaminadas pela realidade histórica e cultural do momento?

Na época em que vivemos tudo é ditado pela mídia: que roupa usar, o que

comer, que corpo ter. Eu escolho livremente exercer uma profissão ou apenas

sigo um padrão? Escolho o que é bom para mim, ou o que a sociedade diz que

é esperado dos seus cidadãos? Com certeza há muitas expectativas

permeando as escolhas e alterando os rumos da existência.

2.3.2 – A escolha profissional

A escolha profissional torna-se mais complexa por não se tratar de uma

escolha momentânea, assim como quando para obter uma satisfação imediata

do desejo, por exemplo, decidir se vai sair de bota ou de tênis, onde já existe

bem formulada uma prévia finalidade, mas consiste em uma decisão que irá

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lançar a um projeto de futuro, acompanhado por um definitivo adeus à infância

e pela consciência de estar com um “ pé “ na vida adulta.

Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas.

A primeira delas é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do

desemprego e assegurar o sucesso profissional. Uma boa escola pode até

abrir portas no início da carreira, mas vale lembrar que existem muitos

profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram de cursos de

primeira linha. Para os especialistas em Recursos Humanos, o sucesso numa

profissão depende de 30% de conhecimento e 70% de atitude. (REVISTA

VEJA, 2003)

Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta

no mercado normalmente é o caminho mais rápido para o abandono de uma

profissão. "Quem não leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer

uma escolha fatalmente desistirá dela quando a oferta de trabalho cair", afirma

a psicóloga Renata Mello, da equipe de orientação profissional do Centro de

Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado deve ser

redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito e que não

possibilitam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como

oceanografia, odontologia e telecomunicações. O jovem que já se decidiu por

uma carreira não deve desistir dela por causa do temor do desemprego,

fantasma que ronda todas as profissões. "Quem faz a escolha certa tem mais

autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE.

(REVISTA VEJA, 2003)

Segundo FERRETTI (1997), as condições de escolha implicam em : qualidade;

estar informado e dominar alguma metodologia de escolha e possibilidade;

dispor de alternativas e autonomia.

Segundo o pedagogo Sílvio Bock, ,a escolha profissional pode, de fato, ser

dolorosa e cansativa para o vestibulando. “Se, no entanto, ele se debruçar

sobre a questão, buscando entender o mundo em que vive e se informando

sobre as profissões, sem dúvida poderá tomar uma decisão de melhor

qualidade.” É importante conversar com pessoas mais experientes, que

trabalhem em ocupações distintas. (BOCK, 2002)

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A escolha profissional não é necessariamente definitiva, pois a mudança é

constante companheira do homem e ele é capaz de satisfazer-se

desenvolvendo suas potencialidades em inúmeras atividades.

Nenhum indivíduo está condenado a perpetuar sua existência sobre um

determinado fim, por isso constitui-se em ser livre, pela possibilidade de fazer

escolhas e também alterá-las se assim desejar. A escolha livre, consciente e

segura acerca da profissão é fundamental, pois através dela o sujeito será

capaz de desenvolver suas aptidões, dar fluxo a sua criatividade, realizar-se

enquanto estiver realizando e obter junto a isso reconhecimento social e

pessoal.

A psicóloga e administradora de empresas Elaine Saad, sócia-diretora da

Right-Saad Fellipelli, uma das principais empresas especializadas em

recolocação profissional da cidade de São Paulo, chama a atenção para outro

ponto. “O importante, para o jovem, é escolher a profissão com a qual se

identifica, sem pensar, pelo menos num primeiro momento, em mercado ou

dinheiro”, diz. “Depois da escolha, vem o segundo passo: encontrar colocação

no mercado de trabalho. Nesse momento, sim, é conveniente verificar os

setores que estão em alta.” Especialista em planejamento de carreira, ela

explica que, além das habilidades técnicas próprias da profissão que escolheu,

o jovem, para se realizar, necessita de certas competências. “Flexibilidade,

liderança e facilidade de relacionamento são indispensáveis”.. (REVISTA

VEJA, 2003)

Mesmo com tantos desníveis e encruzilhadas, existe um ponto inquestionável,

em torno do qual os especialistas parecem concordar: a grande pergunta do

jovem não deve versar sobre se ele deve seguir a profissão de biólogo, de

estatístico ou de cientista social. O importante, todos parecem concordar, é o

projeto de vida que ele tem. “O adolescente não pode escolher uma carreira

para satisfazer um sonho não realizado dos pais ou pelo mero desejo de

ampliar a conta bancária”, conclui a psicóloga Norma Garbulho. “Afinal, a

existência é única e deve ser vivida de forma plena.” (REVISTA VEJA, 2003)

O que o jovem define como sua atuação e participação social reproduzirá o seu

papel social quanto ao seu futuro profissional, assim, faz-se necessário

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observar o caminho da construção desse papel social para que futuramente o

jovem universitário não apresente dúvidas sobre o que fazer com seu

conhecimento socialmente, imaturidade quanto a participação social da sua

profissão, e integração com um ideal de trabalho/ produção do sistema

capitalista.

2.3.3 – Fatores de influência na escolha

Todas os jovens e adultos são influenciados pelos mais diversos fatores na

hora de realizar sua escolha profissional. Os fatores econômicos, regionais,

sociais, educacionais, políticos, psicológicos exercem influência na escolha e

são, facilmente percebidos, pelo menos em teoria.

Mas até mesmo as atividades de lazer que o jovem e o adulto realizam podem

estar exercendo alguma influência na escolha profissional. Em uma pesquisa

realizada por estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Santa

Catarina, com estudantes do mesmo curso, foi constatado que estes

estudantes têm como hobbies atividades com grande contato social. Estes

estudantes percebem nesta profissão a possibilidade de constante e freqüente

contato social, estabelecendo uma relação entre atividades de lazer desta

natureza e seu futuro profissional.

São muitos fatores, portanto, que podem estar influenciando na escolha da

profissão. É importante ao jovem e ao adulto que estão passando pelo

processo da escolha ou re-escolha, a reflexão dos possíveis fatores que estão

interferindo na mesma. Uma vez percebidas estas influências, as mesmas

podem ser melhor controladas, alteradas e até mesmo extintas.

Os fatores políticos podem ser resumidos no fato da educação estar atrelada a

política dominante. Dessa forma, não é interessante para o governo ter toda a

sua população crítica, consciente dos seus direitos, efetivamente constituída de

cidadãos.

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Dessa forma, a educação é deficitária e, muitas vezes, menosprezada. Assim,

apesar de, nos dias de hoje, existirem algumas boas iniciativas em termos de

educação pública, esta não é a regra. Na verdade, o país vive um período de

insegurança quanto ao futuro da educação. Pode-se, inclusive, questionar se

daqui há alguns anos teremos universidades públicas e gratuitas.

Pensando no sistema educacional, percebe-se uma série de falhas. A

formação de grande parte dos professores é deficitária, formam-se neste

sistema que apenas repassa conhecimentos, menosprezando a capacidade

criativa dos alunos ; aprendendo assim, é dessa forma que irá ensinar.

Os currículos aprendidos em sala de aula estão muito distantes de ter alguma

aplicação prática no cotidiano. Dessa forma, os estudantes não conseguem

entender por que aprendem uma série de conteúdos , na verdade não há

integração da escola com a vida fora dos seus portões. A nível de Ensino

Médio, todas as atenções voltam-se para o vestibular, especializando-se na

“arte de preparar” e esquecendo de todas as informações e conceitos que são

importantes para a vida do aluno enquanto indivíduo, simplesmente porque não

“cai ” no vestibular.

A política econômica vigente no país também influencia a decisão,ou a não

opção, por uma profissão. Até a década de 70, o diploma de um curso superior

era garantia de um emprego.

Da mesma forma, os salários, para aqueles que ainda mantém seus empregos,

estão cada vez mais achatados. Os filhos da classe média que, até poucos

anos atrás freqüentavam escolas particulares e cursos de inglês, estão indo

para a escola pública. Assim, estes jovens, quando conseguem chegar a uma

universidade, têm que trabalhar para custear os seus estudos, muitas vezes

fazendo alguma coisa que nada tem a ver com a profissão por eles escolhida.

O meio social no qual a pessoa está inserida também contribui para a sua

escolha. O meio tem expectativas quanto ao futuro profissional do jovem,

dessa forma, há cursos que, em determinados grupos, têm status, como

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medicina, direito, engenharias. São, assim, os cursos mais procurados dentro

de uma certa população de vestibulandos. Da mesma forma, fazer ou não um

vestibular, freqüentar ou não uma faculdade, depende da valorização que isto

tenha dentro do grupo de convívio social. Um pai pedreiro, por exemplo, pode

preferir que o filho vá, desde cedo, trabalhar com ele para aprender seu ofício,

ou sonhar que o filho estude em um curso técnico de edificações.

Finalmente, os determinantes psicológicos. Para escolher uma profissão, é

importante que se leve em consideração o que se gosta ou não, quais as

ambições, aonde se sente melhor, qual é o projeto de vida. Nem sempre é fácil

para o jovem ter clareza destes pontos, nem sempre tem a maturidade

suficiente para escolher baseado em suas preferências, já que ele ainda não se

conhece muito bem. Portanto, é de extrema importância que seja oferecido ao

jovem ou adulto a possibilidade de um processo de auto-conhecimento.

2.3.3.1 – Influências dos pais

"Uma desilusão que nos coloca diante de nossa condição: somos humanos, somos mortais,

somos solitários, somos incompletos. Mas, uma vez aceitas as determinações fundamentais da

condição humana, uma vez rompidos com os domínios da fantasia, se abrem para nós as

possibilidades infinitas do domínio das paixões: nem a onipotência, nem a submissão, mas a conquista

do território humano. O mais vasto território por onde o desejo pode se mover."

Kehl

.

WINNICOTT (1997) ressalta a importância do ambiente e da família, sendo que

em muitas situações há necessidade de intervenção de um profissional devido

às más condições ambientais e que por trás dos comportamentos anti-sociais

estão a carência e a privação. Os adolescentes estão entre a rebeldia e a

dependência e não aceitam falsas soluções. Alerta para o fato da adolescência,

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em nossa sociedade, ser tratada como se fosse um problema, mas é um

processo sadio que levará à vida adulta.

A escolha da profissão envolve fatores pessoais, culturais e sociais, definido

pelo meio sócio-econômico em que o sujeito está envolvido. Leva-se em conta

as aptidões e necessidades de cada um, mas também aspectos do meio, seja

ele restrito, meio familiar, ou mais amplo, como a sociedade em geral.

Atualmente as exigências, no que tange a esta decisão, estão aumentando

assustadoramente.

A família acaba muitas vezes desempenhando um papel de maior expectativa

e, sendo assim é quase impossível que o adolescente não se sinta cobrado. Há

duas situações diferentes entre si e corriqueiras a serem concebidas aqui. Por

um lado são anos de investimento emocional e perspectiva por parte da família.

Quem nunca ouviu falar ou mesmo presenciou o pai dizendo aos amigos qual

seria o futuro profissional do filho recém nascido, como “vai ser jogador de

futebol” ou “médico” ou “dentista”. Nesse sentido, é um fardo que o jovem

carrega e abdicar esta escolha imposta significa frustrar a família,

especialmente quando os próprios pais não tiveram meios propícios para

seguir tal profissão e então projetam seus desejos no filho como se fossem

dele.

Expectativas quanto a sua felicidade, sua saúde e seu futuro profissional. Inúmeros pais

já imaginam para o seu bebê seu futuro como médico, seguindo a profissão do pai ou do

avô. Muitas vezes o jovem escolhe uma profissão para encontrar o seu lugar dentro da

família, para ser mais querido ou aceito. Outras vezes, os pais tentam influenciar para

que os filhos escolham a profissão que queriam para si, mas, por algum motivo, não

puderam fazer ou concluir o curso ou exercer a profissão. A posição do filho na família

interfere no fato de cumprir ou não as expectativas nele depositadas. Geralmente os

mais velhos tendem a cumprir, aos mais novos recai a responsabilidade de fazer o que

os outros não fizeram, o do meio é mais livre de interferências. O filho único,

geralmente carrega sobre si todas as expectativas dos pais. Os jovens nem sempre têm

consciência destas influências, fazendo, assim, uma escolha contaminada.

Outra situação um pouco diferente é a “hierarquia na profissão” se é que se

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pode chamar assim, o filho será o reflexo do pai ou da mãe ou qualquer que

seja a figura aparentemente identificatória na família.

Passa a haver uma cultura familiar, principalmente quando há irmãos que

também seguiram a mesma profissão e assim, seguir um caminho diferente

seria ser diferente e, conseqüentemente, ocorre a fantasia e algumas vezes a

realidade de ser excluído.

Às vezes, os pais tem dificuldade em perceber que seus filhos crescem rumo a

autonomia. O que os pais podem fazer é tentar transmitir suas experiências e

vivências. O momento de escolha de uma profissão por parte de um membro

mexe com toda a família. Os pais revivem e se questionam quanto as escolhas

que fizeram, os filhos mais jovens antecipam preocupações. A dinâmica

familiar e de relacionamento que foi construída por longos anos no momento da

escolha, muitas vezes se desequilibra.

A escolha profissional é um momento da vida do jovem em que ele poderá

resignificar expectativas e construir seu próprios valores que podem ou não

ser coincidentes com os da família. Os pais devem explicitar suas expectativas

e não escondê-las a título de não influenciar, preferencialmente de forma não

autoritária, para que o jovem tenha mais parâmetros para tomar esta

importante decisão. A escolha poderá ou não respeitar as expectativas, mas o

importante é que foi dado ao jovem mais elementos para pensar na sua

decisão.

Por mais difícil que seja, os pais precisam perceber que agora é a vez dos

filhos escolherem seu curso, e sua futura profissão. Isso não impede o diálogo

constante, em que os pais estarão interagindo com as idéias e sentimentos dos

filhos. Os pais costumam ter muitas dúvidas sobre como ajudar seus filhos.

Imaginam, por exemplo, que deveriam se manter afastados para não

influenciar a escolha, entretanto, essa atitude pode fazer com que o jovem se

sinta muito solitário para elaborar seus planos.

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Algumas vezes, os pais sentem que conhecem tão bem seu filho, suas

habilidades e seus limites, que se julgam em condições de saber o que seria

melhor para ele. Este é um engano comum. Os pais, encontram dificuldade em

se livrarem dos preconceitos ou idéias distorcidas sobre as profissões, quando

um filho vem pedir uma opinião ou informação.

A reflexão e a compreensão sobre a influência explícita ou implícita que o

contexto familiar tem no desenvolvimento profissional dos adolescentes e

jovens é importante pois deve-se analisar algumas variáveis do contexto

familiar como: coesão e expressividade, conflito, orientação intelectual/cultural

e recreativa, orientação para o sucesso, ênfase religiosa e organização e

controle.

Pode parecer à primeira vista um beco sem saída, contudo um início para a

saída deste impasse seria o estabelecimento de uma comunicação clara e

franca nas duas vias. É preciso separar as fantasias do adolescente em

relação à sua convivência familiar e o que de fato ocorre ou pode ocorrer.

Também é imprescindível o entendimento da família de que o filho tem

individualidade e identidade própria e que é diferente da sua. É preciso lidar

com a frustração e limites familiar, deixando claro que a criança está se

tornando adulta, e que por isso deve tomar suas próprias decisões com base

nas suas afinidades.

“ ... O que foi dado ao indivíduo como bom e valioso, quer pelos pais, pela Igreja, pelo Estado

ou pelos partidos políticos, tende a ser questionado. Os comportamentos ou modos de vida que se

provaram satisfatórios e plenos de sentido tendem a ser reforçados... Assim o indivíduo passa a viver

cada vez mais segundo um conjunto de normas que têm uma base interna, pessoal... Não são

esculpidas na pedra mas escritas por um coração humano. “ Carl Rogers

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2.4 - Ensino Médio e Vestibular

Quando se chega ao Ensino Médio, mais especificamente no terceiro ano,

além de se preocuparem com as provas e com o vestibular, os adolescentes se

deparam com uma questão ainda mais importante: que profissão deve

escolher. Desde crianças, as pessoas vão sendo influenciadas, mesmo sem

perceber, pela família, pelos amigos, pela televisão, internet, acerca da

profissão que devem seguir quando adultos.

Até a chegada ao Ensino Médio, no entanto, este assunto não é conversado,

trabalhado, com a maioria dos adolescentes, e eles acabam tendo que

escolher sozinhos, muitas vezes sem informações necessárias para uma

escolha adequada.

Por outro lado, existem muitos candidatos a uma vaga na universidade, que se

preocupam muito mais com “passar ou não passar” no vestibular e com os

quatro ou cinco anos de faculdade do que com a escolha e a futura prática da

profissão escolhida.

Em 1998, a então presidente do INEP, Maria Helena Guimarães de Castro, fez

uma análise sobre o Ensino Médio e o acesso ao Ensino Superior. No período

de 1990 a 1997, a matrícula do Ensino Médio cresceu 82%. Nesse período, o

número de matrículas praticamente dobrou: em 1990, havia cerca de 3,5

milhões de alunos matriculados no Ensino Médio, contra 6,4 milhões em 1997.

O número de concluintes também cresceu na mesma proporção: em 1990, o

total foi de 658 mil, contra 1 milhão e 163 mil em 1996. Isto quer dizer que, em

apenas sete anos, o número de concluintes deste nível de Ensino Médio quase

dobrou, aumentando a demanda por vagas no Ensino Superior e, também, em

cursos pós-secundários.

Este movimento de rápida expansão do Ensino Médio se explica, obviamente,

como o resultado da dinâmica sócio-econômica do País, que aponta para um

processo de grande mobilidade educacional. Mas há também fatores intra-

sistêmicos que certamente contribuíram para a expansão do Ensino Médio,

como a melhoria da efetividade do Ensino Fundamental, sobretudo a partir do

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final dos anos 80, quando se observou o significativo crescimento do número

de concluintes da 8ª série.

O aumento acentuado da matrícula do Ensino Médio, nos últimos anos, reflete,

sobretudo as novas necessidades do mercado no contexto das profundas

mudanças no processo de trabalho, sob a mira das pressões estimuladas pelas

inovações tecnológicas e a intensa reestruturação do setor produtivo.

Cabe acrescentar ainda, que, ano após ano, o mercado de trabalho torna-se

mais seletivo, exigindo a formação secundária como escolaridade mínima para

os candidatos a um emprego, independentemente da função a ser exercida, o

que estimula a procura por vagas nas escolas de nível médio.

Nesta época, a presidente do INEP já estava preocupada com a questão: “está

o Ensino Médio cumprindo seus objetivos, formando os cidadãos conscientes

para os desafios da vida e do mercado de trabalho?”.

Esta reflexão, nos dias de hoje, ainda faz-se presente, pois o que se verifica é

o “inchaço” no Ensino Superior e a falta de emprego para o jovem que termina

o Ensino Médio.

O Ensino Médio é visto apenas como uma continuação do Ensino

Fundamental, a escola continua sendo um espaço somente para aprender para

o vestibular. O Ensino Médio, também deveria ser um espaço para se discutir

sobre o trabalho, profissões, ansiedades em relação à escolha profissional,

entre outras coisas. As escolas ainda ampliam a ansiedade dos adolescentes

nos “terceirões” com discussões que giram somente em torno da relação

candidato-vaga, número de pontos do último colocado no vestibular, etc. Há

uma necessidade urgente de uma mudança de procedimentos no Ensino

Médio do Brasil que possibilite um encaminhamento profissional.

Sem este encaminhamento, que deveria ser atribuição do Ensino Médio, os

jovens, que já têm muitas dúvidas, ficam perdidos, principalmente com relação

ao mercado de trabalho. Este, quer profissionais comprometidos com as

organizações nas quais eles irão trabalhar.

O Ensino Médio não prepara para o mercado e, conseqüentemente, acaba não

preparando para uma escolha profissional consciente. Os alunos interessados

na busca de Orientação Profissional recebem de escolas e cursinhos, quando

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muito, palestras que se não confundem, também não são o suficiente para a

orientação que a maioria dos adolescentes necessitam. É certo que as escolas

até indicam centros de Orientação Profissional, ou profissionais que trabalhem

com a questão da escolha profissional, mas, efetivamente, não assumiu o seu

papel de contemplar, em seu currículo, a escolha profissional, durante os três

anos do Ensino Médio. Esta é uma mudança que começa a ocorrer, de forma

esporádica, principalmente, em escolas na região Sul do país.

Segundo João Batista Araújos e Oliveira, Presidente do Instituto Internacional

de Avaliação Sérgio Costa Ribeiro e Consultor da FIEMG – Federação das

Indústrias do Estado de Minas Gerais, o adolescente brasileiro que sonha com

a faculdade enfrenta ainda um outro problema: nossos colégios e cursinhos

seguem obcecados com o “monstro” do vestibular, mas deixam de oferecer aos

alunos uma percepção acurada do que consiste a prática das profissões a que

terão de se candidatar. Nem cuidam de consolidar a imagem de um trabalhador

ativo, que desenvolva a flexibilidade e a multifuncionalidade e esteja aberto a

um processo de contínuo aprendizado.

Outra questão que se apresenta é que observamos, hoje em dia, que os jovens

têm se dedicado mais ao vestibular do que à escolha profissional. A idéia é que

a escolha se resolverá “um dia” e que o conhecimento que o vestibular exige é

grande e cumulativo por isso não se deve perder tempo.

Infelizmente essa concepção explica em parte o grande índice de evasão nos

cursos superiores que fica, no Brasil, por volta de 30% a 40% conforme o

curso, segundo Beatriz Balena Duarte, socióloga e professora na PUCRS.

O problema que se impõe é que o vestibular cobra respostas certas. O que é

um contra-senso com relação à ciência, ao conhecimento e ao saber. É que

saber não é só dar respostas, é também saber fazer perguntas. Os grandes

avanços da ciência só foram possíveis porque as pessoas queriam saber as

coisas, porque os cientistas, os filósofos, perguntavam. Então, quando se faz

um aluno treinar apenas respostas, está-se tirando dele metade da sua

capacidade intelectual, porque ele não é treinado para fazer perguntas e isso é

lamentável no vestibular.

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Há uma outra questão também que o momento do vestibular coloca para o

jovem: o vestibular é uma parte da vida das pessoas, não é toda a vida. Depois

começa a universidade. E encarar que essa escolha, essa tentativa, tem

grandes possibilidades de dar certo, mas também de dar errado. E o jovem tem

que estar preparado para isto. No caso de não dar certo, ele tem que mudar.

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“Aventurar-se causa ansiedade, porém não aventurar-se é perder-se. E aventurar-se

no mais alto sentido é precisamente tomar consciência de si mesmo.”

Sören Kierkegaard

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CAPÍTULO III

Re-definição profissional

3.1 - EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR

De acordo com João Batista Araújos e Oliveira, Presidente do Instituto

Internacional de Avaliação Sérgio Costa Ribeiro e Consultor da FIEMG -

Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, em entrevista a

REVISTA VIRTUAL PAIS E TEENS, 2005: “ ... nos deparamos com números

assustadores de desistências nos cursos universitários. De cada 100

estudantes que entram nas universidades públicas brasileiras praticamente 30

fazem um novo vestibular. Isto nos mostra o quanto que os estudantes estão

despreparados para lidar com a escolha de uma profissão”.

Eduardo Marini, da REVISTA VIRTUAL ISTO É, 2005, aponta que um dos

problemas mais graves do ensino brasileiro é a elevada evasão no nível

superior. Inexperiência, falta de informação e desconhecimento da própria

personalidade levam milhares de jovens a deixar a faculdade todos os anos. “

Em alguns cursos, o abandono chega a 40%. O prejuízo é geral. O aluno que

deixa o curso perdeu tempo e dinheiro. Quem ocupa o lugar poderia estar

estudando há mais tempo. Nos casos em que a vaga é pública, a situação é

ainda pior – no final, o contribuinte paga a conta.”Rudá Ricci, Sociólogo,

Doutorando em Ciências Sociais, Professor da PUCMG, em artigo da REVISTA

VIRTUAL ESPAÇO ACADÊMICO, 2005, afirma que no Brasil, a cada 40 alunos

que ingressam na faculdade, somente 25 se formam. Dos profissionais que

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possuem diploma universitário, 60% praticam uma profissão que não tem

correspondência alguma com a freqüentada.

“ Na verdade, é muito comum escolher, na hora de prestar o vestibular, a

profissão errada.” “ ...esta situação é realmente comum. Principalmente no

mundo em tamanha transformação como o do século XXI. No início do século

XX ser médico, engenheiro ou advogado era sinal de bem estar pessoal e no

século XXI, qualquer profissão pode ser sinônimo de sucesso ou fracasso.

Quais as profissões com a maior visibilidade pública nestes dias? A resposta

está nas profissões ligadas a serviços (consultorias, serviços de comunicação

e informática...) e lazer (esporte, turismo, música, dança...). Mas todos que

trabalham nestes ramos têm sucesso? Obviamente que não.”

Para Priscila do Amaral, psicanalista, terapeuta de Regressão filiada à

sociedade Brasilleira de Psicanálise Integrativa, Mestre em Ciência pela USP,

em entrevista a Revista Virtual Pais e Teens: ...” não é de espantar que

apenas 5 % dos vestibulandos tenham total certeza a respeito da opção

realizada – 129 diferentes cursos são oferecidos hoje pelas 851 faculdades

brasileiras – ou que quase metade dos 500 mil estudantes que todos os anos

chegam à universidade acabe abandonando o curso.”

“É importante notar que outras variáveis contribuem para tal distorção, como o

fato do Brasil exigir cedo demais - entre os 17 e 18 anos - uma definição

profissional por parte dos jovens. Nos EUA, por exemplo, geralmente só após

completar 20 anos é que o estudante necessita estar com seus rumos

profissionais estabelecidos. “

No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,

muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores. Algumas

pesquisas (IBGE, MEC) indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em

um curso superior tem certeza de sua escolha.

Quando questionados sobre como foi realizada essa escolha muitos apontam

como critério: o curso menos concorrido, o curso que a família dizia ser “a cara

deles”, o curso apontado pela mídia como aquele que dá mais dinheiro. Isto

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quando há um critério prévio, pois vários jovens confessam que escolheram “na

sorte”, a caminho ou na fila da inscrição para o vestibular. É como se o

importante fosse passar no vestibular, provando à sociedade, à família e a si

próprio que é capaz, independente do que vai fazer...ou seja, independente do

que vai fazer com sua vida futura, como se esta escolha fosse desvinculada da

vida e de todas as conseqüências a ela interligadas.

A adolescência é conhecida como a fase de crise, de sérias turbulências, o

período de desprendimento dos jovens, onde estes estão preocupados com o

que parecem aos olhos dos outros e como irão harmonizar suas habilidades

com os papéis ocupacionais disponíveis em sua cultura.

Contudo, é nesta fase tão complicada em que a sua própria identidade está

indefinida e todas as escolhas parecem duvidosas que é feita a escolha

profissional, com o peso de ser, a princípio, para toda a vida. E, para piorar,

com o olhos e as esperanças dos pais exercendo zelosa vigilância.

Não é incomum, portanto, que muitos adolescentes não acertem de primeira.

Os números expressam a dificuldade dessa escolha. Segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos estudantes universitários

abandonam o primeiro curso que escolhem. Segundo pesquisa realizada na

USP, em 1998,"70% dos universitários mudam sua opção profissional até o 2o.

ano de faculdade.

Para o administrador público e advogado Luiz Alberto Franco Bueno, diretor

associado da Panelli Motta Cabrera & Associados Consultores Internacional

(PMC/ AMROP), maior empresa de capital nacional de contratação de

executivos do País, a tomada de decisão – principalmente para os jovens – é

sempre marcada por dúvidas. “Muitos balanceiam o desejo de trabalhar em

determinada área com a realidade do mercado”, diz. Mas Franco Bueno

tranqüiliza os mais preocupados. “A escolha de uma profissão ou de uma

carreira nunca é um caminho sem volta. Mesmo que o jovem descubra, depois

de três anos, que o curso que está fazendo não é o que ele quer, dá para

reconsiderar. Mais vale reiniciar um projeto para ser feliz pelo resto da vida do

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que continuar fazendo aquilo que não se gosta. “ (REVISTA VIRTUAL

ESPAÇO ACADÊMICO, 2005)

Além de todas as considerações feitas, até o presente momento, o Censo 2003

(INEP?MEC), deixa claro o alto índice de evasão no nível superior, em quase

todos os cursos, de instituições públicas e privadas, e, conseqüentemente, o

aumento progressivo de vagas ociosas. (ANEXO 1)

3.2 – PROCESSO DE RE – DEFINIÇÃO

PROFISSIONAL

3.2.1 – Os alunos chegam ao Ensino Superior

No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,

muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores.

O que, ao longo deste trabalho, fica claro é que existe um hiato entre o término

do Ensino Médio e o Ensino Superior. Por diversos motivos, os alunos que

iniciam o Ensino Superior, em sua grande parte, o fizeram sem consciência do

que realmente desejavam em termos de profissão, carreira e projeto de vida.

Chegam ao Ensino Superior e, posteriormente, ao mercado de trabalho,

inseguros e/ou insatisfeitos.

Entretanto, o que se espera é que a realização profissional capacitará o

indivíduo como membro ativo e produtivo na sociedade, co-participante na

construção de bens (CALEJON in apud BOCK, 1995). Para tanto, o indivíduo

deverá buscar a satisfação e o reconhecimento em uma profissão ou ocupação

em que se identifique com a sucessão de tarefas e demais exigências, e

principalmente não ter medo de assumir suas escolhas. Entretanto, muitas

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vezes, algumas pessoas se mantém num determinado curso ou profissão por

não terem coragem de assumir que não estão satisfeitas ou por quererem

atender alguma expectativa ou sonho de outra pessoa. O risco de atender o

desejo do outro é o de “ aumentar o número de profissionais frustrados,

insatisfeitos e até mesmo incompetentes no mercado de trabalho.” (SOARES e

LISBOA, 2000)

3.2.2 – A questão da escolha não é definitiva

Bohoslavsky (1996) afirma que "uma escolha madura é uma escolha que

depende da elaboração dos conflitos e não de sua negação. É uma escolha

que se baseia na possibilidade do adolescente passar de um uso defensivo das

identificações a um uso instrumental delas, ao conseguir identificar-se com

seus próprios gostos, interesses, aspirações, etc., e identificar o mundo

exterior, as profissões, as ocupações, etc. Uma escolha madura é uma escolha

que depende da identificação consigo mesmo".

Refletindo sobre a definição de escolha madura, segundo Bohoslavsky, pode-

se compreender que a primeira escolha profissional nem sempre é a definitiva.

Além da prontidão do indivíduo para sua própria identificação, a cada ano que

passa, aprende-se coisas novas, consigo mesmo e com as outras pessoas. É

comum então, que não se tenha certeza absoluta da profissão escolhida,

muitas vezes é preciso experimentar, conhecer melhor, para depois decidir.

Ainda interpretando Bohoslvsky podemos afirmar que as dificuldades na

escolha profissional não constituem problemas exclusivos dos adolescentes

prestes a ingressar na faculdade. Elas apresentam-se com freqüência na vida

de universitários insatisfeitos com a escolha já feita. É comum o

descontentamento a partir do primeiro, segundo e até mesmo terceiro ano de

curso, quando o aluno entra em contato com a realidade da profissão.

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O momento da escolha profissional é de fundamental importância para o

indivíduo, pois sabe-se que o fato de gostarmos do que fazemos é um fator de

peso em nossa motivação para o trabalho, e conseqüentemente, na qualidade

dos resultados de nossa produção.

Uma escolha pouco embasada em aptidões e interesses, visando apenas o

enriquecimento ou o status social que caracteriza determinada carreira pode

ser uma opção muito arriscada.

Não são poucos os casos em que, por inúmeros motivos, o indivíduo opta por

direcionar sua formação para determinada área, e, descontente após algum

tempo, opta por outra. Essa indefinição pode durar anos, até que o jovem

encontre-se profissionalmente. Muitos são os casos de estudantes que tentam

o ingresso em certo curso por anos a fio, e quando conseguem a tão sonhada

vaga, em pouco tempo, a única certeza que têm é de que não se adaptarão à

carreira eleita. Sentimentos de insegurança, incapacidade e frustração são

freqüentes, e caminham junto aos anos perdidos.

Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é

necessariamente definitiva. Novos caminhos vão surgir durante a faculdade, o

mercado de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na

carreira. "A faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma,

um alicerce para a construção da vida profissional", afirma Rubens Gimael,

especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting. “ É comum

encontrar engenheiros trabalhando na área de finanças, arquitetos se

dedicando à área comercial, economistas cuidando de marketing. A mudança

não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios que a

vida vai trazendo.”

A escolha profissional não se restringe a uma determinada altura da vida das

pessoas. Ela vai emergindo sob a forma de problemas que vão aparecendo ao

longo da existência. Longe vai o tempo em que, feita a formação inicial,

preferencialmente antes do ingresso na vida ativa, e adquirida uma

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determinada qualificação profissional, um indivíduo podia projetar, com uma

elevada dose de segurança, uma carreira profissional.

Hoje, mesmo os trabalhadores empregados e qualificados, devem prestar

especial atenção à gestão da sua profissionalidade e da sua própria carreira

profissional, mantendo, dessa forma, um elevado nível de empregabilidade ao

longo da vida ativa. Esta necessidade advém tanto da atual reconfiguração

acelerada das profissões, introdução de novas tecnologias, emergência de

novos perfis profissionais, etc, como fruto da globalização e das

reestruturações de empresas e ou de setores de atividade.

3.2.3 - Re-opção de carreira

Neiva (1995) considera que o processo de escolha profissional implica a

elaboração de uma identidade vocacional-ocupacional, ou seja a definição do

que fazer, como e onde, e também a compreensão do porquê e para quê

dessa decisão. Mas, e depois? Será que depois de entrar no curso, o aluno se

depara com uma realidade não antes cogitada? Era isso que ele desejava no

momento da sua escolha? A re-orientação profissional seria um reflexo dessa

expectativa frustrada?

Enfrentar a realidade do "não era isso que eu queria" é mais um desafio na

vida do jovem. Perceber o momento anterior como experiência de vida e não

como uma frustração é uma tarefa difícil, mas que terá como recompensa a

maturidade na hora de uma segunda escolha.

Um número crescente de trabalhadores vêem-se na contingência de operar

profundas mudanças em suas carreiras, enveredando por profissões

diferentes.

Hoje, ingressar e permanecer no mercado de trabalho, exige lidar,

adequadamente, com as tarefas previsíveis e imprevisíveis relacionadas com o

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desempenho do papel de profissional, ou seja, exige uma crescente

capacidade de adaptabilidade e de flexibilidade perante os desafios e uma

permanente disponibilidade para formação ao longo da vida.

Esta mudança de perspectiva, decorrente da evolução do mercado de trabalho,

mostra-se mais congruente com a atual re-configuração das carreiras

profissionais. Tradicionalmente, entendia-se por carreira profissional a

progressão regular e hierárquica desenvolvida no contexto de uma profissão ou

setor de atividade. (CASTRO E PEGO, 1999/2000)

Esta noção, presente no pressuposto da estabilidade das qualificações e dos

empregos, não se mostra compatível com a atual dinâmica do mundo

profissional. Hoje a noção de carreira não pode ser concebida como a

concretização de um único e grande projeto, mas antes como a concretização

de uma série de pequenos projetos. Desta forma, a carreira se volta para o

sentido pessoal e individual dos investimentos educativos e profissionais, de

aprendizagens, de experiências de trabalho, empregos e períodos de formação

dos indivíduos ao longo da vida. Nesta perspectiva, cada indivíduo constrói e

reconstrói, permanentemente, a sua carreira na medida em que estabelece sua

relação com o mundo.

3.2.4 – Re – definição profissional e

Re – orientação profissional

Em conseqüência da incerteza e da imprevisibilidade que atualmente rodeia o

mercado de trabalho, em que a relação entre formação, profissão e emprego é

cada vez mais precária e incerta, os indivíduos vêem-se confrontados, ao longo

da sua vida, com problemas complexos relacionados com o ingresso e

permanência no mercado de trabalho. Face a este aumento da incerteza em

torno dos profissionais, a Orientação Profissional deve ser encarada como

apoio sistemático à construção de projetos de vida, de modo a que seja dada a

todos, jovens e adultos, a oportunidade de em qualquer altura da suas vidas,

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explorarem e re-direcionarem a sua relação de investimento com o mundo.

Nesta perspectiva, a escolha profissional não se esgota num ato único de

escolha, mas deve ser vista como um processo que se desenrola ao longo da

vida do indivíduo.

A responsabilidade de escolher uma profissão, respeitando e reconhecendo

suas habilidades, interesses e valores é de fundamental importância, visto que

no âmbito do trabalho, são dedicadas muitas vezes mais de oito horas diárias,

ao menos cinco dias semanais, cinqüenta semanas por ano, na tentativa de

atingir alguma expectativa que não condiz com seu próprio desejo. Deve-se

pensar no montante de angústia e perturbações que dificultarão o desempenho

em um trabalho que não se gosta e não se encontra gratificação. (MÜLLER,

1988)

Segundo MÜLLER (1988), a Orientação Vocacional e Profissional (OVP) é um

processo onde o indivíduo, em dúvida quanto a sua escolha profissional,

poderá de forma evolutiva refletir sobre sua problemática, buscando caminhos

para a elaboração, tornando claras as questões a respeito de si mesmo e das

condições educacionais, sociais e de trabalho, delineando assim um projeto de

estudo, trabalho e/ou atividade que tenha relação com esses dois elementos. O

objetivo do trabalho de OVP é o de auxiliar o orientando a desempenhar suas

escolhas, conhecer a realidade do mercado de trabalho e refletir sobre suas

decisões com maior autonomia, levando-o a refletir sobre questões ideológicas

referentes ao valor atribuído aos diversos trabalhos, ao prestígio que

determinada ocupação tenha na sociedade, às preferências e às exigências

familiares.

A re-orientação profissional tem surgido como um fenômeno cada vez mais

freqüente nas práticas de Orientação Profissional. O aluno já freqüenta as

aulas da graduação, às vezes já está até colocado no mercado de trabalho,

mas encontra-se insatisfeito com o curso escolhido.

A re-orientação profissional atende a jovens e adultos que não estejam

satisfeitos com sua escolha acadêmica ou profissional ou estejam em vias de

trancar o curso ou, ainda, necessitem de orientação de carreira.

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Para atingir essa demanda, o processo de re-orientação profissional deve

envolver: a investigação sobre os determinantes da primeira escolha

profissional, refletir sobre e analisar o percurso profissional desenvolvido,

resgatar potenciais deixados de lado na primeira escolha, a construção do perfil

pessoal, a avaliação sobre as dificuldades para redefinir a escolha profissional

ou a trajetória da carreira, as informações sobre profissões e mercado de

trabalho, o contato com profissionais do mercado de trabalho, a redefinição da

escolha ou enfrentamento das dificuldades, traçar a estratégia do projeto

profissional futuro.

O programa de re-orientação profissional tem como objetivo propiciar

condições de reflexão sobre o processo de escolha profissional, relacionando

com a história de vida e com o contexto no qual o indivíduo se insere, evitando

a perda de tempo, de dinheiro e frustrações futuras advindas de escolhas

erradas ao reavaliar a escolha feita anteriormente, visando à re-opção ou

confirmação da atual; buscar soluções para os formandos frustrados com a

profissão escolhida, através do re-direcionamento profissional pela pós-

graduação ou cursos de aperfeiçoamento. Portanto, o resultado de um trabalho

deste tipo não será, necessariamente, a mudança de área, ele é muito mais

abrangente e tem sido de grande importância para aqueles que, independente

da idade, ainda não encontraram a profissão que pudesse lhes proporcionar

realização e motivação para o trabalho.

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3.3 – ENSINO SUPERIOR

“ Nós vos pedimos com insistência: não digam nunca isso é natural. Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável. Que tudo que é considerado

habitual, provoque inquietação. Na regra, descubram o abuso, e sempre que o abuso for encontrado, encontrem o remédio.” Bertolt Brecht

3.3.1 - Breve Histórico

As universidades públicas são as instituições mais antigas, com faculdades que

datam do século XIX, ainda que as primeiras universidades só tenham se

constituído formalmente nos anos 30.

Na década de 30, começaram a surgir também as primeiras instituições

privadas, que aumentaram rapidamente de número. A reforma universitária de

1968, apesar de consagrar na legislação o modelo universitário centrado na

pesquisa e na pós-graduação, foi seguida de uma grande expansão do ensino

privado, sobretudo na forma de instituições isoladas de ensino, expansão que

se reduziu um pouco no período de 1973-1974, para retomar o ritmo depois. A

maior parte das instituições federais, assim como das instituições estaduais

paulistas, data de antes da década de 70. Nos anos 80 houve um pequeno

crescimento de instituições estaduais no resto do País, e, nos últimos cinco

anos, só o setor privado continuou crescendo.

O Estado de São Paulo tem uma tradição de autonomia em relação ao governo

federal que data pelo menos da década de 30, que fez com que ele mantivesse

suas próprias instituições de ensino superior e de pesquisa quando, a partir das

décadas de 40 e 50, foi criado o sistema federal de ensino superior.

A criação de universidades estaduais em outros Estados é mais recente, foi

feita de forma complementar e como compensação à pouca capacidade de

expansão do sistema federal, e sem a preocupação acadêmica que

caracterizou, sobretudo, a USP, as Universidades Estaduais de São Paulo

(Unesp) e de Campinas (Unicamp).

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Até 1998, as instituições mais complexas, do ponto de vista acadêmico, eram:

a USP, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a UFRJ, a

Unicamp, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Unesp e

UFMG.

A LDB, Lei de diretrizes e bases, de 1996, estabeleceu um grau maior de

autonomia das universidades em relação ao MEC, para criar novos cursos e

definir o número de vagas a serem oferecidas cada ano. Esta maior autonomia

levou a um grande movimento das instituições isoladas do setor privado para

conquistar o status universitário, pelo cumprimento dos requisitos mínimos

definidos pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Nas universidades da

Região Centro-Sul, até 1988 tem se concentrado os cursos de pós-graduação,

especialmente os de doutorado e, os cursos de graduação tem se distribuído

de maneira mais proporcional pelas diversas regiões, com a peculiaridade de

que a proporção de estudantes de graduação em instituições privadas é maior

nas regiões mais desenvolvidas, onde a oferta de educação superior pública

não conseguiu acompanhar a demanda.

O Estado de São Paulo é o Estado com as maiores universidades públicas do

País, com a maior concentração de cursos de pós-graduação, e também a

maior proporção de estudantes de graduação em estabelecimentos privados,

82%.

3.3.2 – Censo da Educação Superior de 2003

De acordo com o Censo da Educação Superior de 2003, realizado anualmente

pelo (INEP/MEC), Instituto Nacional e Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira (ANEXO 1), podemos elaborar um panorama do ensino

Superior no País e elencar alguns dados pertinentes a este trabalho.

Participaram do Censo todas as Instituições de Ensino Superior,que, até

outubro de 2003, tinham pelo menos um curso de graduação em

uncionamento, totalizando 1.859 instituições. Destas, 163 são universidades.

Todas as demais não são universidades nos termos da legislação vigente, em

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especial nos termos do Artigo 207 da Constituição, que atribui às universidades

autonomia didática, administrativa e de gestão financeira e patrimonial,

devendo realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma

indissociável. Além das atividades de ensino de graduação, as universidades

devem ter espaço para mestrados e doutorados e para pesquisa e estudos

avançados.

O Brasil tem 81 Centros Universitários, instituições que, nos termos da

legislação vigente, gozam de autonomia didática e administrativa e podem criar

cursos sem autorização prévia do MEC. Os demais tipos de instituições

representam a maior fatia do sistema. São as faculdades isoladas, escolas e

institutos de educação superior e somam 1.403 instituições,

predominantemente privadas.

De acordo com a Tabela 4 ( ANEXO 1) tem havido um crescimento de

expansão acelerada na educação superior no Brasil, com o acréscimo de 22

novas instituições. Esse crescimento foi, quase que exclusivamente, do setor

privado, com 210 novas instituições. No setor público surgiram apenas 12

novas instituições em 2003.

Em relação ao número de instituições por região geográfica, nota-se maior

concentração na região Sudeste com 938 instituições. Em seguida, aparecem

as regiões Sul, com 306, a Nordeste, com 304, o Centro-Oeste, com 210 e a

Norte, com 101 instituições. De acordo com a Tabela 5 (ANEXO 1) há um

predomínio numérico das instituições privadas em todas as regiões do Brasil.

A educação superior brasileira é composta por cursos de graduação, cursos

seqüenciais, de pós-graduação e de extensão, organizados de forma

presencial ou a distância. Os cursos de graduação presenciais continuam em

expansão, com um acréscimo de 2.054 novos cursos, com relação ao ano

anterior. Desses, 411 cursos foram criados em instituições públicas e 1.643

em instituições privadas. O Censo registra 16.453 cursos de graduação

presenciais no país, sendo predominantemente oferecidos, pelo setor privado,

10.791 cursos.

É importante ressaltar a crescente participação dos cursos de graduação

(bacharelados, licenciaturas e tecnólogos) à distância. O crescimento desta

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modalidade foi de 13% no último ano, passando de 46 para 52 cursos e

passando a atender cerca de 50.000 estudantes. (Tabela 12, em ANEXO 1)

No ano de 2003, foram oferecidas 2.002.733 vagas nos diversos processos

seletivos para graduação presencial. No exame vestibular foram

disponibilizadas 1.822.244 vagas, e todos os outros processos seletivos

(avaliação seriada no Ensino Médio, Vestibular, Exame Nacional do Ensino

Médio – ENEM e outros tipos mais específicos de seleção) contribuíram com

180.489 vagas. Fica claro que o vestibular mantém-se como a principal forma

de seleção e acesso à educação superior.

De acordo com o Gráfico 3 (ANEXO 1) fica clara uma crescente defasagem

entre o número de concluintes e o número de alunos matriculados e

ingressantes: enquanto o número de matrículas nos últimos 10 anos

aumentou 134% e o de ingressantes 172,6%, o número de concluintes

aumentou apenas 114,7%. Embora se observe um aumento dos concluintes

ao longo dos anos, fica evidente que esse aumento não acompanha o

crescimento no número de ingressantes e matrículas.

Segundo a Tabela 17 e o Gráfico 6, (ANEXO 1) dos 3.887.022 alunos

matriculados, em 2003, 2.750.652 estavam em instituições privadas,

representando mais de 70% do total de matrículas. Este fato revela que a

educação superior brasileira é majoritariamente privada.

De acordo com a Tabela 23 (ANEXO 1) é possível projetar o crescimento para

os próximos anos e verificar a capacidade do país para atingir a meta

estabelecida pelo Plano Nacional de Educação. Dentre fatores que devem ser

considerado estão: a capacidade de pagamento da população potencial, que

buscará educação superior nos próximos anos, os atuais índices de

inadimplência na educação superior privada, o crescente número de vagas

ociosas, o excesso de oferta em certas áreas do conhecimento e em certas

regiões, e a demanda crescente por educação diferenciada e de boa qualidade.

Em Considerações Finais, os dois primeiros ítens citados no Censo, têm

estreita relação com o presente trabalho. Transcrevendo-os na íntegra:

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1. Pela primeira vez na história, o número de vagas na educação

superior foi maior que o número de concluintes do ensino médio. Mesmo

assim, o número de candidatos à educação superior (4,9 milhões) é

mais do que o dobro do número de vagas, e várias vezes maior que o

número de ingressantes (1,2milhões).

2. O número de vagas ociosas na educação superior cresceu

significativamente no último ano, especialmente no setor privado,

passando este setor a ter aproximadamente 42% de suas vagas

ociosas.

3.3.3 - EDUCAÇÃO

Para Philippe Perrenoud, sociólogo suíço especialista em práticas pedagógicas

e instituições de ensino, competência em educação é a faculdade de mobilizar

um conjunto de recursos cognitivos - como saberes, habilidades e informações

- para encontrar soluções com pertinência e eficácia. "Os seres humanos não

vivem todos as mesmas situações e as competências devem estar adaptadas

ao seu mundo", teoriza Perrenoud, "viver na selva das cidades exige dominar

algumas delas; na floresta virgem outras. Da mesma forma, os pobres têm

problemas diferentes dos ricos para resolver."

Segundo o Relator do Parecer CNE/CEB nº 16/99, entende-se por

competência profissional a capacidade de articular, mobilizar e colocar em

ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho

eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho.O

conhecimento é entendido como o que muitos denominam simplesmente

saber. A habilidade refere-se ao saber fazer relacionado com a prática do

trabalho, transcendendo a mera ação motora. O valor se expressa no saber

ser, na atitude relacionada com o julgamento da pertinência da ação, com a

qualidade do trabalho, a ética do comportamento, a convivência participativa e

solidária e outros atributos humanos, tais como a iniciativa e a criatividade.

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A inserção produtiva dos indivíduos é um dos aspectos mais importantes da

cidadania. O reconhecimento da importância dessa premissa tem aumentado

nos últimos anos, paralelamente à evolução tecnológica.

3.3.4 - Reforma da Educação Superior

Ao longo dos últimos anos tem ocorrido um fenômeno de explosão das

Instituições Superiores de Ensino. Elas, atualmente, tomaram a frente das

Instituições Públicas, não somente em número de Instituições, mas também em

número de matrículas e abertura de novos cursos.(ANEXO 1)

De certa forma, este fenômeno tanto é positivo, pois oferece opções variadas

aos jovens e adultos, como tem se constituído em um problema a ser resolvido.

Inúmeras questões se impõem à reflexão, entre elas, a lucratividade em

detrimento da qualidade e, conseqüentemente, o risco à formação de

profissionais sem as qualificações necessárias tanto para atuarem no mercado,

quanto em sua formação como cidadãos.

Frente a estas questões e inúmeras outras, o Governo Federal decidiu-se por

promover a Reforma do Ensino Superior e, para tanto, através do MEC abriu a

discussão para que todos os setores, inclusive a população em geral, possam

opinar antes de ser encaminhada a proposta Lei Orgânica da Educação

Superior ao Congresso Nacional.(ANEXO 5)

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3.3.5 - Estágio

O ingresso em uma Universidade representa, para a maioria das pessoas, uma

grande mudança de vida, caracterizada pela abertura a um novo caminho

profissional, novas experiências, perspectivas, realização de desejos materiais

e imateriais.

Durante anos há dedicação no estudo em uma determinada área de atuação.

Nas primeiras semanas de aula, o aluno percebe que apenas a dedicação

acadêmica não basta: o mundo profissional exige experiência e para articular a

teoria aprendida em sala com a prática da profissão, torna-se imprescindível a

realização do estágio.

De acordo com a Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, regulamentada pelo

Decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982, considera-se estágio "...as

atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao

estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio,

sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito

público ou privado, sob responsabilidade e coordenação de instituição de

ensino". (CLT, 2000) Logo, o estágio é a oportunidade para que o estudante

tenha um primeiro contato com a realidade da profissão escolhida no momento

do vestibular. O estágio possibilita a confirmação ou não da escolha da

profissão.

Nesse sentido, a busca por um estágio é de grande valia, pois auxilia o

estudante a perceber a realidade do mercado de trabalho, com seus aspectos

positivos e negativos, o que permite desfazer-se de fantasias e ilusões e

analisar se o seu perfil e seus objetivos são compatíveis com a escolha do

curso.

Para Paulo Skaf, Presidente da Fiesp, em entrevista a Revista Agitação (2005),

afirma que “O estágio, paralelamente à educação continuada, é a mais

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eficiente e moderna ferramenta para a capacitação profissional do jovem

brasileiro”.

Segundo Paulo Nathanael Pereira de Souza, Doutor em Educação, o estágio

tem uma natureza educativa e é uma vivência, fora da instituição escolar,

dentro de empresas e organizações para que os alunos entrem em contato

com o trabalho. ´O estágio pode ser considerado, quando muito, uma pré-

condição de empregabilidade ou de empreendedorismo, mas jamais uma forma

de emprego ou de trabalho formal”. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)

Um outro aspecto relacionado ao estágio, uma questão social, é apontado por

Edinho Araújo, prefeito da cidade São José do Rio Preto, SP: “Além de evitar

um possível jovem de rua, o estágio facilita a busca do primeiro emprego e dá

oportunidade de crescimento intelectual”. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)

Ampliando esta visão, impõe-se a questão da inclusão do jovem como um

cidadão atuante e que pode e deve iniciar uma vida ativa, buscando seu

espaço dentro da sociedade através de uma atividade que desenvolva diversas

competências para seu aprimoramento como profissional. Esta é mais uma

possibilidade de encarar o estágio, reflexão proposta na Revista Agitação,

2005.

O estágio é o maior aliado no planejamento de uma carreira, pois além do

aprendizado das atividades profissional técnica, possibilita o exercício da

cidadania, dos relacionamentos interpessoais, a responsabilidade, o

comprometimento com empresas e pessoas, os contatos sociais e a abertura

para futuras propostas, efetivações, crescimento profissional.

Uma solução bem sucedida para melhorar a empregabilidade dos jovens

estudantes foi a criação de programas de estágio nas organizações públicas ou

particulares. Hoje o CIEE, Centro de Integração Empresa Escola mantém, em

todo o Brasil, cerca de 250 mil estagiários do Ensino Médio e Superior nessas

organizações, todos eles recebendo bolsas-auxílio que possibilitam o

pagamento das mensalidades escolares e, em muitos casos, ajudam na

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manutenção dos estudantes e até nas despesas da família. Além disso, mais

de 60% deles são contratados pela CLT, após o término do estágio. (REVISTA

AGITAÇÃO, 2005)

O estágio, sem sombra de dúvidas, é extremamente importante para a

formação profissional do indivíduo por inúmeras questões: estar em contato

com o trabalho, poder colocar as teorias aprendidas em prática, facilitar a

busca do primeiro emprego, inclusão do jovem como cidadão atuante e

possibilitar uma reflexão sobre a escolha profissional. (ANEXO 2)

Sobre um outro aspecto, o estágio pode manter o jovem na vida acadêmica e,

desta forma, evitando a evasão e podendo garantir a conclusão do curso,

inclusive porque a bolsa-auxílio contribui para as despesas gerais com a

formação educacional do jovem. (ANEXO 3)

3.3.6 - Primeiro Emprego

Inúmeros jovens recém formados se encontram angustiados frente ao desafio do

primeiro emprego ou da primeira oportunidade de trabalho. A grande maioria se

diz desnorteada, sem expectativas, frustrada e muitos, inclusive, já sentem

sintomas de depressão. Essa, infelizmente, é a realidade não apenas do Brasil

mas de muitos outros países no mundo. Embora a universidade ainda seja uma

etapa importante na construção de uma carreira, ela encontra-se bastante

distante da realidade do mercado.

Para muitos, ela representa uma segurança, um período que ainda “protege” o

estudante de certas preocupações com dinheiro ou subsistência. É nesse

momento que começa o problema, enquanto o estudante está com essa idéia

equivocada ele fica preso a uma equação muito simplista, onde estudar e,

conseqüentemente, tirar boas notas, faz dele uma pessoa bem sucedida. Já no

mercado de trabalho a equação é bem mais complexa.

Segundo entrevista de Misael Govos de Oliveira, Assessor da Secretaria de

Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego, o Programa

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Primeiro Emprego busca articular um conjunto de políticas, que inclui, além da

subvenção econômica, os processos de qualificação social e profissional de

preparação para o emprego. Portanto, estão em curso uma série de medidas

que mantêm investimentos na qualificação profissional e uma série de esforços

na área da articulação com empresas brasileiras, no campo da responsabilidade

social.. (COLEÇÃO CIEE 74)

O CIEE (Centro de Integração Empresa Escola) vem atuando há quatro décadas

para auxiliar na relação aluno-escola-empresa. Além da atuação em frentes de

estágio, tem incentivado o Programa Trainee desde 1990. Os programas

envolvem profissionais recém-formados que são admitidos em empresas e são

treinados para futuramente assumirem funções gerenciais. (ANEXO 4)

“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de

repente você estará fazendo o impossível”

São Francisco de Assis

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CONCLUSÃO

Atualmente, o Brasil se depara com um cenário político, econômico e social

marcado por vertiginosas mudanças que advêm de um processo que ocorria há

muito tempo no país. Além do processo interno, historicamente marcado por

diversas questões, o país encontra-se afetado pelo movimento que assolou o

mundo todo: a universalização da comunicação, possibilitada pela internet, a

aceleração da capacidade de processamento de informações, a

potencialização da produção e a automação tecnológica.

Todas essas mudanças afetaram, sobremaneira, a educação em todo país e as

relações que delas são conseqüência. Apesar do enfoque deste trabalho estar

voltado para o Ensino Superior, é impossível deixar de analisar o Ensino

Médio, o vestibular, o mercado de trabalho, a escolha profissional, a Orientação

Profissional e o adolescente. Entretanto, um bom ponto de partida para uma

conclusão é o Censo do Ensino Superior, realizado pelo INEP/MEC, em 2003.

Segundo o Censo, constatou-se: um elevado índice de evasão escolar, de

transferência de cursos na graduação e um número, também elevado, de

vagas ociosas. (ANEXOS 1 e 6) Todas estas constatações estão ocorrendo em

Instituições de Ensino Superior Públicos e Privados e, também, em quase

todos os cursos Esses dados, além de comprovados pelo Censo/2003, são

também levantados por diversos profissionais ligados ou não à área de

Educação, conforme citados no CAPÍTULO III, item Evasão no Ensino

Superior.

Pode-se fazer uma análise, tentando buscar os motivos que justificam esta

situação partindo de diversos referenciais. Entretanto, todos eles nos remetem

ao que ocorre, especificamente, com o Ensino Superior, já que ele é o que está

sendo afetado diretamente. Temos duas opções: a primeira, julgar os citados

referenciais como responsáveis pela situação e, a outra, questionar o Ensino

Superior sobre seu papel e quais as estratégias que têm sido postas em ação

para minimizar, reduzir e/ou eliminar o quadro já instalado.

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Analisando a primeira opção:

1 – A adolescência e a escolha profissional

A adolescência abrange determinado período do desenvolvimento que envolve

características próprias e situações específicas. Por outro lado, as diferenças

individuais dos adolescentes devem ser sempre consideradas, uma vez que

cada personalidade caracteriza-se por um conjunto de traços pessoais que

determinam formas diversas de comportamento e de inter-relação com o meio

ambiente.

Os adolescentes sofrem diversas influências vindas do meio e que cooperam

na formação de sua identidade pessoal e profissional. Atualmente, a família

não é o fator único de maior influência, mas ainda tem seu peso. A ela juntam-

se grupos aos quais os adolescentes se associam, a globalização e os meios

de comunicação, em especial, o mundo internáutico e o mercado de trabalho.

O momento que vivemos, atualmente, está voltado para a busca do prazer e do

“ter”. Ser é ter satisfação profissional. A busca pelo conhecimento não tem tido

vez em nossa sociedade capitalista e imediatista. Os jovens escolhem suas

profissões pressionados pelo esquema competitivo do vestibular, com uma

idade entre 17 e 18 anos, por força de nosso Sistema de Ensino. Dentro desta

realidade, suas escolhas são afetadas: escolhem por profissões que dão

status, poder, dinheiro, competitividade, perspectiva de mercado...

Por todas estas considerações elege-se o adolescente e a dificuldade que ele

tem com a escolha profissional como responsável pela situação do Ensino

Superior. Entretanto, não podemos esquecer que a escolha profissional não

pode estar vinculada somente a esta fase da vida; adultos fazem parte da

mesma situação, pois também freqüentam os cursos de graduação. Além

disso, profissionais formados e trabalhando em sua área de atuação

demonstram insatisfação com a escolha. Conclui-se que, a qualquer momento

da vida, o indivíduo pode quere fazer uma re-opção de carreira.

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2 – A Sociedade

Nossa sociedade é incoerente porque necessita mão-de-obra apropriada, sabe

que o desempenho de um papel não produtivo gera muita insatisfação e a

onera; sabe que a desocupação é uma das principais causas de degradação

psicológica, violência e delinqüência, sabe que para muitos jovens custam

uma fortuna para completarem o curso superior e que eles não deverão

exercer a profissão para a qual foram titulados; prolonga demasiadamente o

ingresso do jovem no mercado de trabalho, porque a maioria precisa fazer

cursos de pós-graduação para suprir as deficiências dos currículos de

graduação; mas não toma medidas efetivas para modificar esse quadro.

Num país como o Brasil, a necessidade do mercado de trabalho se volta mais

para a área técnica do que para a especializada, portanto a oferta maior de

empregos neste mercado é para técnicos. Podemos constatar isto nas ofertas

de emprego dos jornais.

Deveria haver uma maior conscientização para a população e orientação das

escolas de ensino fundamental sobre as reais necessidades. Temos poucos

técnicos e muitos especialistas, porém o mercado de trabalho tem mais vagas

para técnicos do que para especialistas.

O caminho mais viável para o adolescente, seria o investimento num ensino

médio profissionalizante, porque além de poder iniciar sua decisão pela

escolha da profissão mais cedo, será um técnico.

Sendo assim, transferimos o problema para a infra-estrutura de ensino e a uma

sociedade incoerente. Entretanto, por esse caminho o país já trilhou, pois o

segundo grau profissionalizante, só foi extinto há, no máximo, sete anos.

Significa dizer que esta também não foi a solução. Além disso, voltamos a

questão que, fazendo o Ensino Médio Profissionalizante não garante que ao

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chegar na graduação ou em qualquer outro momento, não haja necessidade de

uma re-opção de carreira.

3 – Ensino Médio

O Ensino Médio está, claramente, voltado para preparar os adolescentes para

o ingresso no Ensino Superior. Não tem uma preocupação aprofundada com a

questão da escolha profissional. O que tem sido feito é fruto do esforço do SOE

com reuniões semanais, que nem sempre ocorrem, e palestras e informação

profissional. Algumas escolas vêm se propondo a ampliar sua atuação, pois

percebem a defasagem e a necessidade de criar um programa de orientação

profissional durante o Ensino Médio. Apesar dessas iniciativas, vê-se

claramente, a pouca ou reduzida disponibilidade para que o Ensino Médio

consiga resolver a questão a curto prazo. Entretanto, são iniciativas que têm

sua validade e se constituem num início de processo, ainda que precário, de

mudança. Logo, continua-se com a problemática inicial pois os alunos do

Ensino Médio chegam a graduação com dúvidas sobre a escolha. Sem contar

que, aqueles que conseguem fazê-la, ainda podem mudar, ou seja, fazer uma

re-opção de carreira.

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4 - Vestibular

A escolha do curso superior pode representar uma forma de aumentar ou

manter o status e o nível sócio-econômico, fazendo com que a preocupação

em passar no vestibular seja maior do que definir um curso com o qual os

jovens se identificam.

A questão da facilidade para passar nos cursos também é algo bastante

presente e muitos jovens acabam optando por um curso menos concorrido sem

se importar se realmente querem fazê-lo ou não. Frases como “não importa

qual o curso, o importante hoje em dia é ter uma faculdade” são freqüentes e

confundem o jovem, fazendo-o optar por um curso qualquer, e pelo qual não

tem um real interesse.

Muitos alunos saem do Ensino Fundamental (antigo 1º grau) e na esperança

de conseguirem uma vaga numa boa universidade optam pelo Ensino Médio

(antigo 2º grau básico).

Dedicam-se pelo menos 3 anos de estudo, para disputar uma vaga na

faculdade. Terminam o curso sem uma profissão e com uma grande

responsabilidade e "carga emocional" - passar no vestibular. Muitas vezes não

conseguem ter sucesso no vestibular, dependendo do curso escolhido. Sem

contar a dificuldade de muitos, em conseguir trabalho na área que escolheram,

após o término da faculdade. Podemos observar o dilema de muitos recém-

formados e de outros que tem um diploma mas que trabalham em outras áreas.

Por sua vez, tal concurso não avalia a capacidade, nem a vocação do

candidato para a área que escolheu. É apenas uma prova de seleção por

contagem de pontos, que abala o emocional da maioria e bem sabemos que

para obter as informações de nossa mente, ela precisa estar relaxada. Isto

torna o vestibular incongruente.

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Se houver um candidato para trinta vagas e se todos os candidatos "forem

bons", apenas um deles entrará, porque a vaga é somente uma.

É comum a procura de tratamento por terapia para ansiedade, medo, sistema

nervoso abalado, etc devido a essa "pressão" que direta e indiretamente

sofrem. O auto-conceito de incapacidade, que costuma ocorrer em quem não

consegue sucesso nas provas, é comum e afeta muito a auto-estima.

Podemos concluir que o vestibular é um mal que pauta a vida do estudante. No

entanto, mesmo para aqueles que conseguem vencê-lo não há garantias de

que a escolha será para sempre e eles podem optar, ao longo da graduação,

por uma re-opção de carreira.

5 – Mercado de Trabalho

As mudanças radicais que ocorreram no mercado de trabalho com a supressão

de carreiras tradicionais, o surgimento de novas, a mudança nas relações de

trabalho, do perfil de profissional diferenciado que o mercado vem exigindo, o

alto índice de desemprego, sem sombra de dúvida, afetam e confundem

estudantes e profissionais. Entretanto, as mudanças fazem parte do processo

de crescimento de uma sociedade e ela deve se preparar para elas. Desta

forma, fica mais clara ainda, a necessidade de se oportunizar a re-opção de

carreira.

6 – Orientação Profissional

No Brasil a Orientação Profissional tem procurado atender aos jovens de forma

limitada e pouco organizada, ocorrendo através de iniciativas de profissionais da

área de Psicologia e Pedagogia. Existem inúmeras consultorias, atividades

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realizadas pelas Universidades voltadas para a comunidade e as escolas de

Ensino Médio que oferecem palestras sobre as profissões.

A prática tradicional de Orientação Profissional enfatiza a compreensão de

aspectos de natureza psicológica do sujeito através do exaustivo levantamento

de aptidões, características de personalidade, levantamento de potencial

intelectual, levantamento de interesses. a compreensão de aspectos de

natureza psicológica do sujeito.

A informação profissional também é contemplada nos processos de orientação,

mobilizada pelo discurso de autores como Bohoslawsky (1993), que afirmam

ser a informação profissional uma condição essencial para a escolha

responsável. Essa etapa de informação centra-se, de fato, apenas na busca de

informação sobre profissões específicas, tendo como parâmetro a roupagem

tradicional das ocupações.

Entretanto, atualmente, o processo de informação profissional que esteja

sincronizado com o fluxo do mercado deve possibilitar, conforme assinala

Levenfus e Soares (2002), o conhecimento mais aprofundado e atualizado do

que realmente vem ocorrendo no que se refere ao mercado de trabalho no

passado, no presente e no futuro, buscando conhecer as possibilidades reais

de inserção nesse mercado.

Desse modo, o serviço de Orientação Profissional que busque manter-se

socialmente relevante, deve pressupor um redimensionamento que permita

contemplar em sua prática, aspectos sobre realidade do mercado atual, de

modo a facilitar a inserção responsável do indivíduo no mundo do trabalho,

sem violentar o movimento e o ritmo do processo de escolha dos jovens.

Ainda que questionemos as escassas atuações dos profissionais de Orientação

Profissional devemos nos reportar ao CAPÍTULO I, item Informe da ABOP que

demonstra vários aspectos que envolveram a Orientação Profissional e ainda

envolvem, como por exemplo, a falta de credibilidade e de espaço nas

Instituições de Ensino.

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Não podemos esquecer que os estudiosos da Orientação Profissional

assinalam que a escolha que o indivíduo realiza não é para a vida toda,

conforme CAPÍTULO II, item Escolha, o que nos remete à necessidade de

oportunizarmos a re-opção de carreira.

Analisando a segunda opção:

O alto índice de evasão escolar, de transferência de cursos e as vagas ociosas

(ANEXOS 1 e 6), recordando o que já foi exposto nesta conclusão, cabe a

pergunta: Quem são os mais afetados com o fenômeno que está atingindo o

Ensino Superior?

A resposta parece clara: o próprio Ensino Superior, ou seja, as Instituições

Superiores de Ensino públicas e particulares (vagas ociosas) e todos aqueles a

ele envolvidos direta ou indiretamente: os estudantes, os que largam os cursos

e também os que ficam, os professores, o mercado de trabalho, a sociedade e

o país, com a redução de profissionais e pesquisadores potenciais.

A evasão escolar, que gera vagas ociosas pode estar ligada a vários fatores:

dificuldades financeiras, problemas de incompatibilidade de horário com o

trabalho exercido pelo aluno, ou ainda, a insatisfação com a escolha

profissional.

Buscando uma solução para a questão da evasão escolar existem duas

posturas a serem adotadas: uma diz respeito a uma reestruturação interna da

instituição, dependendo de uma conscientização da importância de verificar

junto aos alunos evadidos os motivos que os levaram a tal decisão; a outra

refere-se as instituições assumirem a necessidade real de “abraçar” a questão

da re-opção profissional como uma atividade de sua responsabilidade.

Refletindo.... Quantas escolhas insatisfatórias, e abandonos de curso e

transferências para outras instituições poderiam ser evitadas se a Orientação

Profissional fosse oferecida pela própria Instituição? Vale a pena refletir.....

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“ Cada um é responsável pelo que lhe sucede e tem o poder de decidir o que

quer ser. O que és hoje é o resultado dos teus atos passados. O que serás

amanhã é o resultado dos teus atos de hoje.”

Vivekananda

“ Os homens tropeçam em pedras, não em montanhas, daí podemos concluir

que não existem obstáculos suficientemente grandes para nos fazer desistir.”

Glenn Van Ekeren

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Censo da Educação Superior/2003;

Anexo 2 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Como o estágio contribui para o início da Carreira Profissional”;

Anexo 3 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Parceria pela inclusão do jovem”;

Anexo 4 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Todo mundo quer ter, ou ser talento”;

Anexo 5 >> Folder do Ministério da Educação /2004: “ Reforma da Educação Superior”;

Anexo 6 >> Artigo da revista Linha Direta/2005:” Perspectivas para a expansão do Ensino Superior Privado no Brasil de 2005 a 2010”;

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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ANEXO 3

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ANEXO 4

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ANEXO 5

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ANEXO 6

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Médicas, 1992.

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Introdução á Filosofia. São Paulo: Editora Moderna,1997.

BECKER, Daniel. O que é a adolescência? São Paulo: Brasiliense,

1997.

BOCK, Silvio Duarte. Orientação profissional: a abordagem sócio-

histórica. São Paulo: Cortez, 2002.

BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação vocacional a estratégia clínica.

11ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CASTRO, J. M. e PEGO, A. A carreira já não é o que era. São Paulo:

Cadernos de Consulta Psicológica, 1999/2000.

CORDI, Cassiano ett alli. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 1995.

DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do Futuro – Cidadania hoje e

amanhã. São Paulo: Àtica, 2000.

ERIKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar,

1972.

FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta de orientação profissional.

São Paulo: Cortez, 1997.

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GRINSPUN, Miriam Paula S. Zippin. Supervisão e Orientação

Educacional, perspectivas de integração na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

GIACAGLIA, Lia Renata Angelini e PENTEADO, Wilma Millan Alves.

Educação para a escolha profissional: programas de informação profissional.

São Paulo: Atlas, 1979.

LEMOS, Caioá Geraiges. Adolescência e escolha da profissão. São

Paulo: Vetor, 2001.

LEVENFUS, R. e SOARES, D. H. P. Orientação Vocacional

Ocupacional – Novos achados teóricos, técnicos e instrumentais para a clínica,

a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.

MANSANO, S. R. V. Vida e profissão: cartografando trajetórias. São

Paulo: Summus, 2003.

MÜLLER, M. Orientação Vocacional: contribuições clínicas e

educacionais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

NEIVA, K. M. C. Entendendo a Orientação Profissional. São Paulo:

Paulus, 1995.

NOVAES, Maria Helena. Psicologia Escolar. Rio de Janeiro: Vozes,

1975.

PIMENTA, Selma Garrido. Orientação vocacional e decisão: estudo

crítico da situação no Brasil. São Paulo: Loyola, 1981.

RIFKIN, J. O fim dos Empregos. São Paulo: Makron Books, 1994/1995.

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SOARES, Dulce Helena. A Escolha Profissional do Jovem ao Adulto.

São Paulo: Summus, 2002.

SOUZA, Ronald Pagnoncelli. Nossos adolescentes. Porto Alegre:

Editora da Universidade/ UFRGS, 1996.

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1972.

TIBA, Içami. Ensinar Aprendendo. São Paulo: Gente, 1998.

WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São

Paulo: Martins Fontes, 1997.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO 13

PROFISSIONAL

1.1 –Breve histórico 13

1.1.1- No mundo 16

1.1.2 – No Brasil 18

1.2 – Principais abordagens em Orientação

Profissional 20

1.2.1- Abordagens psicológicas 20

1.2.1.2- Centrada na pessoa ( ou Não – Diretiva ) 21

1.2.1.3- Behaviorista 22

1.2.1.4- Desenvolvimentista 23

1.2.1.5- Psicodinâmica 23

1.2.1.6- Teorias Decisionais 24

1.2.2- Abordagens não psicológicas 25

1.2.2.1- Teoria do Acidente 25

1.2.2.2- Social- Crítica 25

1.2.2.3- Psicossocial 26

1.2.3- Técnicas utilizadas em Orientação Profissional 27

1.3- Orientação Profissional no Brasil 29

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1.3.1- Conceitos de trabalho, alienação, profissão e

ocupação 29

1.3.2- Perfil Profissional 33

1.3.3 – Orientação Profissional no Brasil 34

1.4 – Mercado de Trabalho 40

1.4.1 - Conceitos de Interesse 40

1.4.2 – Globalização 41

1.4.3 – Transformações no Mundo do trabalho 42

1.4.4 – Novos significados do Trabalho 44

1.4.5 – Desemprego 46

1.4.6 – Desemprego no mundo jovem 48

1.4.7 – Profissional do Futuro 49

1.4.8 – Ciência como opção profissional 53

CAPÍTULO II

O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 56

2.1- As características do adolescente 56

2.1.1 – Um resgate histórico 56

2.1.2 – A conceituação da adolescência 57

2.1.3 – Características do adolescente 58

2.1.4 – A crise de identidade 61

2.1.5 – Identidade profissional 65

2.1.6 – Auto-estima 67

2.1.7 – Período de escolha profissional 69

2.2- A ciência explica o “ Aborrescente “ 71

2.2.1- Mudanças 71

2.2.1.1- Físicas 71

2.2.1.2- Afetivas e psíquicas 72

2.2.1.3- Valores pessoais e sociais 73

2.2.2- O cérebro em formação 74

2.2.3 – A influência dos hormônios 76

2.2.4 – Escolha Profissional - Fator de saúde 76

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2.3 – O processo de escolha 78

2.3.1 – As diferentes escolhas 78

2.3.2 – A escolha profissional 79

2.3.3 – Fatores de influência na escolha 82

2.3.1 – Influência dos pais 84

2.4 – Ensino Médio e Vestibular 88

CAPÍTULO III

RE- DEFINIÇÃO PROFISSIONAL 93

3.1 – Evasão no Ensino Superior 93

3.2 – Processo de Re-definição profissional 96

3.2.1 – Os alunos chegam ao Ensino Superior 96

3.2.2 – A questão da esclha não é definitiva 97

3.2.3 – Re – opção de carreira 99

3.2.4 – Re – definição profissional e

Re – orientação profissional 100

3.3 – Ensino Superior 103

3.3.1 – Breve histórico 103

3.3.2 – Censo da Educação Superior de 2003 104

3.3.3 – Educação 107

3.3.4 – Reforma da Educação Superior 108

3.3.5 – Estágio 109

3.3.6 – Primeiro emprego 111

CONCLUSÃO 113

ANEXOS 122

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 129

ÍNDICE 132

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: