universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · neste capítulo é detalhado o método que foi...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Estruturação do planejamento estratégico
Por: Thiago Ribeiro Ferreira Ramos
Orientador
Prof. Ana Paula Pereira da Gama A. Ribeiro
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Estruturação do planejamento Estratégico
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Gestão
Empresarial
Por: . Thiago Ribeiro F. Ramos
3
AGRADECIMENTOS
....aos amigos e
familiares,companheiros de todos os
momentos.
4
DEDICATÓRIA
.....dedica-se ao pai, mãe, amigo, cônjuge,
familiar, .......
5
Resumo
Concebido como ferramenta derivada da estratégia militar,desenvolvido na Segunda Guerra Mundial, o planejamento estratégico no contexto empresarial pressupõe um intenso conhecimento do organismo da empresa e das influências por ela recebida das mudanças do ambiente no aspectos políticos,econômicos , sociais e tecnológicos, visando mantê-la sempre em condições de competição com a concorrência.
É fundamental para a própria sobrevivência da empresa que o planejamento estratégico seja executado de uma forma lógica e estudada. A empresa deve ter uma visão clara, coerente e instigante das suas metas e objetivos, não apenas em função do mercado e do produto, mas também em função do aspecto financeiro. A ausência destas metas e objetivos fará com que a empresa fique a deriva e ,consequentemente, não tenha sucesso.
O planejamento estratégico poderia ser definido como um processo de gestão que apresenta, de maneira integrada, o aspecto futuro das decisões institucionais, a partir da formulação da filosofia, da instituição, sua missão, sua orientação, seus objetivos, suas metas, seus programas e as estratégias a serem utilizadas para assegurar sua implementação. É a identificação de fatores competitivos de mercado e potencial interno, para atingir metas e planos de ação que resultem em vantagem competitiva, com base na análise sistemática de mudanças ambientais prevista para um determinado período.
Portanto, o planejamento estratégico não deve ser considerado apenas como uma afirmação das aspirações de uma empresa, pois inclui também o que deve ser feito para transformar essas aspirações em realidade.
No atual ritmo de mudanças ambientais, nenhuma empresa pode considerar-se imune às ameaças do ambiente, tais como a obsolescência do produto ou a saturação do mercado. Por essa razão, todas as empresas devem fazer revisões periódicas de suas estratégias de produto-mercado e outras atividades dentro de um processo contínuo de identificação das ameaças e oportunidades externas.
Palavras-Chave: Planejamento,Estratégico, transformação.
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METODOLOGIA
Neste capítulo é detalhado o método que foi empregado para a pesquisa
de campo deste estudo.
De acordo com Stephen (1969, p. 14) existem nove tipos de métodos de
pesquisa possíveis:
• Histórico: a proposta deste método é reconstruir o passado objetiva e
acuradamente, tendo em vista a sustentação de uma hipótese.
• Descritivo: método que consiste na descrição detalhada de uma
situação ou de uma área de interesse.
• Desenvolvimentista: investiga os modelos em seqüência de
crescimento e/ou mudança em função do tempo.
• Estudo de caso no campo: estuda intensivamente o presente e as
relações com o ambiente de uma unidade social, tal como um
indivíduo, um grupo, uma instituição, ou uma comunidade.
• Correlacional: pesquisa a extensão das variações de um fator por
influência dos outros, verificando a sua correlação.
• Ex post facto: investiga a possível causa e efeito de um
relacionamento, pela observação de fatos já ocorridos.
• Experimental: pela exposição de um ou mais grupos experimentais a
um tratamento, verifica o seu efeito, comparando os grupos
experimentais a um grupo de controle não exposto ao tratamento.
• Quase-experimental: em pesquisas nas quais não é possível
estabelecer um grupo de controle, ou as variáveis relevantes são de
difícil manipulação, pode-se desenvolver um modelo que se
aproxime da verdadeira pesquisa experimental, apesar de sua
limitação.
• Ação: para desenvolver novas habilidades, novas abordagens,
resolver problemas com aplicação em salas de aula, pode-se
7 pesquisar através de uma ação, ou seja, acompanhar o
desenvolvimento de um experimento e ir aprendendo com esse
experimento, direcionando-o à medida que acontece.
Dos nove métodos de pesquisa conceituados por esse autor, para o
desenvolvimento deste trabalho mostra-se mais adequado o descritivo e o
desenvolvimentista, pois são analisadas e investigados os modelos em
sequência de crescimento e/ou mudança em função do tempo e consiste na
descrição detalhada de uma situação ou de uma área de interesse.
Yin (1994, p. 13) expõe que o método descritivo é a estratégia preferida
quando as questões "como" ou "por quê" são colocadas, quando o investigador
tem pouco controle sobre eventos, e quando o foco repousa em um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto de vida real.
As unidades de análise deste estudo são os projetos de implantação do
planejamento estratégico das Organizações, estruturado de maneira formal ou
informalmente, iniciado num período anterior à pesquisa de aproximadamente
um ano, para que se possa fazer sua análise na sua plenitude.
Foram aplicados dois formulários, o primeiro com o objetivo da entrevista
em profundidade, analisando as origens do projeto, se advindo de uma ameaça
ou oportunidade ambiental, se resultado de um planejamento estruturado ou
não e o nível de participação na sua elaboração. Para avaliação das respostas
foi utilizado o método proposto por Martins (1999, pp. 53-54) sobre análise de
conteúdo. O autor afirma que o método pode ser aplicado virtualmente a
qualquer forma de comunicação, e sugere algumas utilizações como: descrever
tendências; comparar mensagens; auditar conteúdos de comunicações e
compará-los com padrões, ou determinados objetivos; construir e aplicar
padrões de comunicação; medir a clareza das mensagens; descobrir estilos de
comunicações; identificar intenções, características, e apelos de
comunicadores; desvendar as ideologias dos dispositivos legais. O autor
sugere três etapas do processo de análise: pré-análise: coleta e organização
do material a ser analisado; descrição analítica: estudo aprofundado do
8 material, orientado pelas hipóteses e referencial teórico; interpretação
referencial: com os quadros de referência os conteúdos manifesto e latente são
revelados em função dos propósitos do estudo.
Com o segundo questionário, fechado, procurou-se avaliar os projetos
em curso com respostas ordinais obtidas com apoio de uma escala de Likert,
de seis níveis, variando a incidência ou freqüência de respostas de 0 a S.
Embora com uma abordagem numérica para facilitar comparações, o estudo
continuou sendo exploratório e qualitativo dado o caráter ordinal das respostas,
e o pequeno volume da amostra insuficiente para tratamentos estatísticos.
Variável
Independente
Variáveis
Dependentes
Variáveis
intervenientes:
• A empresa fez Análise do
Ambiente Organizacional no
planejamento e durante a
implantação do projeto
estratégico?
• A análise ambiental
foi feita de modo
estruturado ou não?
• Ambiente mostrou-
se estável durante a
execução do
projeto?
• Projeto teve que ser
adaptado?
• Projeto trouxe novas
oportunidades?
Fonte: Chiavenato, 2003
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Sumário
Introdução 10
Capítulo 1 - 1.1 Planejamento estratégico e administração estratégica 14
Capítulo 2 - 2.1 Administração estratégica 23
Capítulo 3 – 3.1 Planejamento estratégico Situacional 38
Conclusão 49
Bibliografia Consultada 51
Índice 52
10
Introdução
No processo de tomada de decisão os gestores necessitam de
informações fidedignas e conhecimento da realidade externa e interna da
organização; Só assim terão a possibilidade de se comunicarem de forma
eficaz com os diversos participantes do sistema organizacional. Os processos
de comunicação e decisão só serão eficazes se as funções de planejar e
avaliar estiverem devidamente alinhadas por meio da permanente mediação do
sistema gerencial,que se valerá da função execução no sentido de dirigir e
coordenar as ações. A conseqüência imediata desse alinhamento é o pleno
funcionamento do sistema gerencial, que exige o envolvimento de gestores e
gerenciados em ações articuladas, dando sentido a uma eficaz avaliação das
atividades planejadas nos níveis organizacional e institucional.
Neste sentido, observa-se que entre a formulação das ações e a
implantação do Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, existe as
necessidades dos ajustes referentes ao período anterior. É o momento de
buscar o necessário alinhamento em relação a Avaliação institucional- AVI para
evitar a criação de um hiato entre as funções planejar e avaliar, o que
certamente prejudica os esforços desenvolvidos por meio da função de
execução. Essa é uma constatação de caráter geral. Entretanto se
aprofundarmos a análise , podemos identificar tantos outros esforços
desconectados, menos pela falta de visão e mais pela ausência de ações
articuladas entre as unidades gerencias das organizações, donde se conclui
que falta uma metodologia que conduza as funções de gestão(dirigir e
coordenar) a tornar efetivas as ações de execução(o fazer acontecer), criando
um ambiente que transforme”unidade gerencial isolada” em um sistema
gerencial.
As organizações vêm se modernizando rapidamente em função da
crescente competição, criada pelos avanços tecnológicos, por regras ou
facilidades proporcionadas pelas mudanças do mercado, muitas delas reflexo
11do continuo processo de globalização, no esforço de melhorar os serviços
apresentados ao mercado nacional e internacional. Em função dessa
velocidade nas mudanças o ambiente organizacional está seguindo o mesmo
ritmo se tornando mais dinâmico e competitivo, requerendo assim constantes
adequações de estratégia, exigindo que as organizações tenham cada vez
mais apurada sua análise e interpretação de seu mercado, o que é
apresentado neste estudo voltado aos projetos estratégicos de atuação no
mercado.
Decisões relativas à abertura de novas instalações, de diversificação de
atividades, de desenvolvimento ou lançamento de novos produtos ou serviços,
de aquisição de novas máquinas ou de terceirização de produção, de
desmembramento em múltiplas organizações, e internacionalização são
decisões geradoras de projetos estratégicos. Confirma esta idéia, ao afirmar
que:
“Se observarmos empresas empreendedoras e realizadoras, encontraremos sempre projetos em andamento, e mesmo que ainda não estejam implantado, empresas que possuem projetos valem mais do que as que não possuem. E também, se soubéssemos quais são os projetos de uma empresa, saberemos qual é a sua estratégia.”(GAJ, 2002,p. 189)
Por outro lado, trata da adaptação e da flexibilidade nos planejamentos
estratégicos diante das mudanças do ambiente afirmado:
“Em um ambiente de mudança a habilidade para adaptar e evoluir é critica para a sobrevivência (...) a chave para a reposta flexível é mudar a estratégia se as condições o requerem. Além disso se as estratégias não são mudadas, o sistema de planejamento irá produzir uma rigidez organizacional ao invés da desejada habilidade de enfrentar a mudança com flexibilidade. A revisão anual da estratégia, os encontros de planejamento semestrais, e o entendimento geral da estratégia, devem ser mudados, se necessário, para contribuir com a flexibilidade estratégica.”(LORANGE,1982, p. 181)
O professor Djalma Rebouças de Oliveira, em estudos da FEA/USP,
primeiro trimestre de 2001 (processos e projetos estratégicos), cita que:
“Está pesquisa trás como contribuição, subsídios para as organizações , implantar seus projetos de caráter estratégicos, de forma a facilitar a
12implantação das mudanças no dia a dia organizacional, aumentando sua eficácia, sua flexibilidade e capacidade de adaptação as estratégias elaboradas.”
Conforme visto anteriormente, as organizações não são criadas a esmo.
Elas existem para realizar alguma coisa. Todas as organizações tem algo a
cumprir, o que se resume na incumbência que se tem quando coloca-se a
proposta de formar uma organização, isso representa a razão da existência da
empresa.Toda organização deve ter um foco, afim de direcionar seus esforços
para conquista do objetivo elaborado, aglutinando sempre os esforços de seus
membros, para o desenvolvimento da empresa.
O planejamento estratégico é um processo gerencial contínuo e
sistemático, que diz respeito a formulação de objetivos para a seleção de
programas de ação e para sua execução, levando em conta as condições
internas e externas à empresa e sua evolução esperada.no decorrer deste
processo,é realizada uma análise sistemática dos pontos fortes e fracos da
empresa, e das oportunidades do meio ambiente com intuito de estabelecer os
objetivos ,as estratégias, assim como ações que possibilitem um aumento da
competitividade. Também considera premissas básicas que a empresa deve
respeitar para que todo processo tenha coerência e sustentação.Este processo
permite fixar as grandes orientações para que as empresas possam modificar,
melhorar ou fortalecer a sua posição face a concorrência. É uma ferramenta de
apoio à gestão com vista ao desenvolvimento futuro da empresa, especificando
a forma e os timings de execução. Para que o planejamento estratégico de
sucesso seja uma realidade na empresa, será necessário cumprir
determinados pressupostos:
· Todos deverão estar envolvidos e ser detentores de uma visão global do
planejamento estratégico.
· Todos deverão estar motivados e entender o seu papel no planejamento
estratégico.
· Cada um deverá entender o seu papel no planejamento estratégico
· Todos deverão entender os conceitos envolvidos no planejamento estratégico
13
Delimitação
Podemos delimitar o planejamento estratégico como ferramenta para
alcançar melhores resultados.
Justificativa
O tema em si vem demonstrar que esse estudo se faz necessário,
devido a falta de direcionamento e de experiência de alguns departamentos e
gestores e da competitividade do mercado.
Problemática
Como aumentar a competitividade nas organizações através da
estruturação do planejamento estratégico?
Hipótese
Com a capacitação dos gestores nas organizações, tendo assim um
melhor rendimento com os seus colaboradores, aumentando a motivação e
melhorando o clima organizacional, tornando a empresa cada vez mais
competitiva.
Objetivos
O propósito central deste projeto é mostrar que através da estruturação
do planejamento estratégico nas organizações, aumentando a qualidade dos
gestores, aumenta –se a competitividade das organizações, conseqüentemente
conquistando novos clientes.
14
Capítulo 1 - 1.1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA
Esta sessão trata das questões conceituais mais de fundo da pesquisa
relativas ao planejamento estratégico, administração estratégica, padrões de
decisão e tipos de estratégia.
1.1.1. Competitividade nas organizações
Num cenário em que a competição se faz entre gigantes, a integração
de forças entre fornecedores e clientes numa comunidade de negócios é
estratégia segura para fortalecer-se no mercado. O resultado é certo e a
lucratividade, garantida.
Na nova economia, uma empresa só conseguirá ser competitiva se
conseguir se integrar perfeitamente à sua cadeia de suprimentos e oferecer
aos seus consumidores aquele algo mais que a faz mais competitiva entre seus
concorrentes. Conforme afirma Porter (1990, p.111), “uma empresa diferencia-
se da concorrência se puder ser singular em alguma coisa valiosa para os
compradores”.
Na concepção de Cruz (1997), as empresas brasileiras ainda não se
aperceberam desse segundo desafio, mas já começam a perceber que é inútil
ter o melhor processo de produção, sem ter o domínio sobre o que se produz,
ou como se produz. Enquanto que Qualidade Total e ISO 9000 são termos
usuais da empresa brasileira, desenvolvimento, ciência e tecnologia são ainda
termos estranhos ao dia-a-dia da empresa.
Ser competitivo, portanto, é ter maior produtividade entre todos os seus
concorrentes. É a competitividade que garante a sobrevivência das empresas.
Garantir a sobrevivência de uma empresa é cultivar uma equipe que saiba
montar e operar um sistema que seja capaz de projetar e oferecer um produto
15ou serviço com aquele algo mais que conquiste a preferência do consumidor a
um custo inferior ao do concorrente.
Segundo Porter (1990), para se obter e sustentar uma vantagem
competitiva na atualidade depende da compreensão não só da cadeia de
valores de uma empresa, mas também do modo como a empresa se enquadra
no sistema.
Para sustentar essa competitividade, toda empresa é uma reunião de
atividades que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e
sustentar seu produto. Para isso, necessita executar atividades estratégicas,
colocando no mercado um produto mais barato ou melhor do que os
concorrentes.
A transformação tecnológica é, por sua vez, um dos principais fatores
que as empresas devem promover para continuarem com vantagem
competitiva. A importância dada à ciência e à tecnologia pode ser avaliada,
afirma Cruz (1997), pela importância que um país desenvolvido dá a esse
setor. Essa importância é retratada na capacidade de construir parques
industriais e de serviços fortemente competitivos e eficientes, que geram PIB e
um controlado desenvolvimento social e econômico para seus cidadãos.
Outros fatores que determinam a competitividade podem ser assim
classificados, conforme mostra a Figura 1, a seguir:
Dimensão Empresarial São fatores que determinam:
Condicionantes
Relação de custo e preço
Qualidade
Dimensão Estrutural São fatores que determinam:
Características de mercado
Tecnologia
Escala de produção
16Concorrência
Dimensão Sistêmica É a que determina fatores condicionantes para a sustentabilidade competitiva.
Figura 1: Fatores de competitividade
Fonte: Cruz, 1997
Portanto, para que uma empresa competitiva sobreviva, há a
necessidade de se enfrentar a competição, hoje, mais acirrada que em outras
épocas. A competição não se manifesta só na figura dos outros participantes
na luta pela fatia do mercado, mas a competição, em determinado setor, é algo
que se encontra arraigado na economia e algumas forças competitivas se dão
bem, apesar dos concorrentes nele estabelecidos.
Porter (1999, p.29), afirma que “todos os setores têm uma estrutura
subjacente ou um conjunto de características econômicas e técnicas
fundamentais que dão origem às forças competitivas”. Isto quer dizer, que cada
empresa monta sua estratégia competitiva de acordo com seus objetivos, sua
estrutura e características próprias para enfrentar a concorrência que advém de
várias frentes, ou seja: ameaça de novos entrantes, ameaça de serviços ou
produtos substitutos, as manobras dos atuais concorrentes, do poder de
negociação dos fornecedores e do poder de negociação dos clientes.
Outro fator importante que também proporciona vantagem competitiva
está relacionado com a informação. Embora ainda exista uma certa dificuldade
das empresas trabalharem com este segmento, percebem, no entanto, que
seus rivais estão se utilizando cada vez mais da informação para desenvolver
vantagem competitiva, reconhecendo então, a necessidade de se envolverem
diretamente o mais rápido na gestão dessa nova tecnologia.
17
1.1.2. Planejamento Estratégico
Importado da arte militar, o termo estratégia assumiu uma conotação
diferente na administração que, na gestão administrativa, significa um conjunto
de regras para orientar o comportamento de uma decisão. A análise e a
determinação de estratégias envolvem todos os níveis organizacionais, tanto
em se tratando das estratégias competitivas, como da administração
estratégica, das estratégias organizacionais, funcionais e de negócios. No
processo de formulação de uma estratégia estão envolvidos a análise, o
planejamento e a seleção das melhores estratégias para possibilitar o alcance
dos objetivos propostos.
Conforme destacam Certo e Peter (1993, p.114), “as estratégias
organizacionais são formuladas pela alta administração e projetadas para
alcançar os objetivos globais da empresa”. Nesse sentido, as estratégias
devem ser avaliadas, selecionadas e desenvolvidas para que sejam definidas
as linhas de negócios, de produtos ou de serviços, que constituirão assim, o
leque de negócios da empresa. Definidas as linhas, permite-se que a
organização atue de forma diferente em cada produto ou segmento tendo em
vista o objetivo da empresa.
Salientam ainda os mesmos autores que as estratégias podem ser
divididas em quatro grandes grupos:
• Estratégia de Concentração é aquela na qual a empresa se concentra
em uma única linha de negócios. É usada pelas empresas para
obterem vantagem competitiva com conhecimento especializado e
eficiente em um determinado setor. Esse conhecimento especializado
proporciona para a empresa uma significativa vantagem competitiva,
tendo em vista que todos os recursos da mesma estão concentrados
em um único foco proporcionando produtividade e eficiência. O risco,
em adotar esta estratégia, é de que a empresa pode ser eliminada do
mercado, caso este tenha um comportamento de agressividade
desencadeado pelos grandes competidores.
18• Estratégia de Estabilidade é aquela em que a organização concentra
sua atividade em uma linha de negócio existente tentando mantê-la. É
utilizada pelas organizações de grande porte. Qualquer movimento de
expansão seria muito dispendioso não trazendo os resultados
desejáveis em termos de lucratividade.
• Estratégia de Crescimento tem como escopo três fatores: o lucro, as
vendas e a participação no mercado podendo ser obtida através da
integração vertical, integração horizontal, a diversificação e fusões. Na
integração vertical, a empresa cresce adquirindo outras empresas,
visando obter um maior controle sobre determinada linha de produtos,
tendo em vista o aumento do volume de vendas e do lucro. Na
integração horizontal, há o crescimento quando ela adquire empresas
concorrentes, aumentando, destarte, seu porte, suas vendas, seu
lucro e sua participação no mercado.
O ponto de partida para a determinação da melhor estratégia está
condicionado à análise das condições de mercado e a fatores internos à
organização. A formulação das estratégias passará, primeiramente, pela
análise de estratégias gerais quando então se discutirão os demais fatores
estratégicos de uma organização.
Tavares (1991, p. 7) lembra que o princípio dos anos 60 trouxe
significativas modificações à concepção anterior de planejamento. Citando
Ackofl (1980) afirma que se iniciou neste período a prática do planejamento de
longo prazo, que se baseava na crença de que "o futuro pode ser melhorado
por uma intervenção ativa no presente". Para tanto era necessário estimar o
futuro a partir da projeção de indicadores atuais e passados. E, de fato, isso
era possível, principalmente porque a economia americana caracterizava-se
pela relativa estabilidade no crescimento e na manutenção de indicadores
econômicos por um razoável período de tempo. Desses indicadores poderiam
ser derivados três tipos deprevisões: uma projeção referência para indicar o
que pode acontecer a uma organização se nada de novo for feito; uma
19projeção desejável para indicar onde a organização poderia chegar se todas as
suas aspirações fossem cumpridas e uma projeção planejada para descrever
onde a organização deverá chegar efetivamente para atingir suas aspirações.
Uma das funções do planejamento seria a de preencher a lacuna existente
entre a projeção de referência e a projeção desejável.
Continuando, Tavares (1991, p. 8-9) afirma que numa segunda fase
surge um dos instrumentos de análise do mercado: a matriz de orientação
direcional, que considerava duas variáveis, a capacidade competitiva e a
atratividade de mercado. A atratividade de mercado é determinada pela
seleção de critérios que permitem avaliar o grau em que ela ocorre, tais como
tamanho do mercado, poder de compra, situação competitiva, tecnologia
requerida. Já a capacidade competitiva seria medida pela participação no
mercado, pelo volume e crescimento de vendas, e pelo retorno, além de outros
indicadores. Esse tipo de análise tende a ser estática como uma fotografia,
uma vez que indica apenas um momento da dinâmica da organização e de seu
mercado.
Tavares (1991, p.10) conclui dizendo que a década de 70 correspondeu
à fase do planejamento estratégico. O Boston Consulting Group1 com outras
empresas de consultoria teriam escrito essa história. Essa fase foi marcada por
um conjunto de conceitos de simples significação, mas nem sempre de fácil
implementação. Deles, três se destacavam: as Unidades Estratégicas de
Negócios (UEN's), a curva de experiência; e a matriz de crescimento e de
participação no mercado.
Ackoff (1980, p.2) considera que o planejamento é algo que fazemos
antes de agir; isto é, tomada antecipada de decisões. É um processo de decidir
o quê fazer, e como fazê-lo, antes que se requeira uma ação. Continuando, o
planejamento é um processo que se destina a produzir um ou mais estados
futuros planejados e que não deverão ocorrer, a menos que alguma coisa seja
feita. O planejamento, portanto, preocupa-se tanto em evitar ações incorretas
quanto em reduzir a freqüência dos fracassos ao se explorar a oportunidade. 1 Boston Consulting Group – Grupo de Consultoria de Boston. Explanação sobre planejamento estratégico e adequação de mercado.
20A estratégia empresarial é um processo organizacional, de várias
maneiras inseparável da estrutura, do comportamento e da cultura da
companhia na qual ela é realizada. Não obstante, podemos extrair desse
processo dois aspectos importantes, inter-relacionados na vida real, mas
separáveis para efeito de análise. O primeiro poderá chamar-se de formulação
e o segundo, de implementação.
As principais sub-atividades da formulação de estratégia como atividade
lógica incluem a identificação de oportunidades e ameaças no ambiente da
empresa, adicionando-se alguma estimativa ou risco às alternativas
discerníveis. Antes de ser feita uma escolha, os pontos fortes e fracos devem
ser avaliados juntamente com os recursos disponíveis. Sua capacidade atual
ou potencial para tirar proveito de necessidades de mercado percebidas ou de
lidar com riscos paralelos deve ser estimada da maneira mais objetiva possível.
As alternativas estratégicas que resultam de oportunidades equivalentes e
capacidades empresariais em um nível aceitável de risco é o que podemos
chamar de estratégia econômica.
Em outra abordagem interessante, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000,
pp. 13-15), dividem o pensamento sobre a formulação de estratégias em dez
escolas e para cada qual apresenta modelos básicos de planejamento
estratégico, premissas, crítica, avaliação do contexto e da contribuição da
escola no cenário do pensamento estratégico. Com uma bibliografia de
aproximadamente 400 títulos, os autores classificaram as principais idéias do
planejamento estratégico em dez escolas divididas em três grupos:
a) grupo das escolas prescritivas
• escola do design - formulação de estratégia como um processo de
concepção.
• escola do planejamento - formulação de estratégia como um processo
formal.
• escola do posicionamento - formulação de estratégia como um
processo analítico.
21b) grupo das escolas descritivas
• escola empreendedora - formulação de estratégia como um processo
de visionário.
• escola cognitiva - formulação de estratégia como um processo
mental.
• escola de aprendizado - formulação de estratégia como um processo
emergente.
• escola do poder - formulação de estratégia como um processo de
negociação.
• escola cultural - formulação de estratégia como um processo coletivo.
• escola ambiental - formulação de estratégia como um processo
reativo.
c) grupo das escolas integrativas
• escola de configuração - formulação de estratégia como um processo
de transformação.
Os grupos foram criados para separar as escolas de natureza distinta.
As escolas prescritivas são mais preocupadas em como as estratégias devem
ser formuladas, menos preocupadas de como as estratégias são formuladas. A
escola de design, a mais influente dentre as escolas, entende a formulação de
estratégias como um processo de desenho informal, um processo de
concepção. As estratégias brotam, são concebidas após uma análise dos
pontos fortes e fracos da organização, e avaliação das oportunidades e
ameaças do ambiente. As escolas descritivas são mais preocupadas com a
descrição do processo de formulação das estratégias, consideram os aspectos
específicos do processo. A escola de aprendizado dentre as escolas descritivas
é a de maior contribuição em publicações, entende a formulação das
estratégias como um processo emergente. Dada a complexidade do ambiente,
22as estratégias devem emergir à medida que a organização se adapta e
aprende com a situação atual. Por fim, o grupo das escolas integrativas, é
composto, atualmente, por apenas uma escola. A escola de configuração,
isolada por integrar os conceitos das escolas antecessoras, entende a
formulação das estratégias como um processo de transformação da
organização através das configurações que a organização assume ao longo do
tempo.
Além das estratégias competitivas gerais, cada setor ou área funcional
de uma empresa pode formular as suas estratégias, denominadas de
estratégias funcionais, que devem estar de acordo e acopladas às estratégias
gerais da empresa, descrevendo as tarefas específicas que devem ser
executadas na implementação da estratégia geral da empresa para alcançar
determinado objetivo.
A produtividade constitui um fator fundamental para a diminuição dos
custos. A empresa que opera com a utilização plena de sua capacidade pode
diminuir desperdício, repassando aos consumidores produtos com menores
preços que seus concorrentes.
Esses fatores, segundo Certo e Peter (1993, p.142), “podem significar a
diferença entre o fracasso e o sucesso de ações estratégicas voltadas ao
desenvolvimento da empresa e à continuidade de crescimento e
desenvolvimento da organização”.
23
Capítulo 2 - 2.1. Administração Estratégica
Gaj (1993, p. 22-23) suscita que num breve histórico do desenvolvimento
dos conceitos estratégicos já na década de 50 haviam sido feitos os primeiros
trabalhos de administração estratégica. Aos primeiros desses haviam sido
dados nomes como formulação estratégica, estratégia corporativa, e estratégia
empresarial. Ao processo utilizado para formular a estratégia deu-se o nome de
planejamento estratégico. Posteriormente, na década de 70, percebeu-se que
era necessário acrescentar àquele enfoque uma dimensão de aspecto interno,
a qual se denominou capacitação; esta deveria possuir uma certa coerência
com a estratégia que seria adotada para a adequação ambiental. Ainda
discorrendo sobre o assunto, o autor afirma que no início da década de 80
novas obras especializadas na cultura organizacional, na tecnologia, e no
concorrente trouxeram contribuições especializadas ao estudo estratégico.
Segundo Kenneth R. Andrews (apud Mintzberg & Quinn (2001, pp.58-
59), estratégia empresarial é o padrão de decisões em uma empresa que
determina e revela seus objetivos, propósitos, ou metas, e produz as principais
políticas e planos para obtenção dessas metas e define a escala de negócios
que a empresa deve se envolver, o tipo de organização econômica e humana
que pretende ser e a natureza de contribuição econômica e não econômica que
pretende proporcionar a seus acionistas, funcionários e comunidades.
Como a implementação deficiente pode tornar uma decisão estratégica
sólida sem efeito ou uma escolha bem-sucedida discutível, é tão importante
examinar os processos de implementação, como avaliar as vantagens de
alternativas estratégicas disponíveis. A implementação da estratégia é
composta de uma série de subatividades basicamente administrativas. Se o
propósito for determinado, então os recursos de uma empresa podem ser
mobilizados para acompanhá-lo.
Uma estrutura organizacional apropriada para o desempenho eficiente
das tarefas exigidas precisa se tornar eficiente pelos sistemas de informação e
relacionamentos que permitam a coordenação de atividades subdivididas. Os
24processos organizacionais de medição de desempenho, de remuneração e de
desenvolvimento gerencial todos entrelaçados em sistemas de incentivos e
controles precisam ser dirigidos para o tipo de comportamento exigido pelo
propósito organizacional. O papel da liderança pessoal é importante e, às
vezes, decisivo na implementação da estratégia. A figura 2 sintetiza estes
comentários.
|Fonte: Cruz, 1997
Fischmann & Almeida (1993, p. 26) aprofundam o tema e apresentam esse
assunto de uma maneira evolutiva conforme apresentado no quadro a seguir.
Quadro 1 – Comparativo das Técnicas de Planejamento
Tipo Subtipo Aplicação
Sobrevivência
(predominância e ameaças e pontos
Redução de custos Usados em períodos de recessão
Desinvestimento Linhas de produtos que se tornam desinteressantes para a
25fracos) empresa
Liquidação do negócio Aplica-se só em última instância
Manutenção
(predominância de pontos fortes e ameaças)
Estabilidade Quando espera encontrar dificuldade e prefere então tomar atitudes defensivas
Nicho Manutenção do estágio de equilíbrio
Especialização Conquistar ou manter liderança do mercado através da concentração de esforços numa única ou poucas atividades
Crescimento
(predominância de pontos fracos e oportunidades)
Inovação Procura por produtos inéditos ou milagrosos antecipando-se a concorrência
Internacionalização Adequado para empresas de maior porte, processo interessante, porém lento e arriscado.
Joint venture Normalmente associação de duas empresas, uma com tecnologia e outra com capital.
Expansão Processo deve ser bem planejado. Evitar expansão que coincidam com outras empresas
Desenvolvimento De mercado Quando procura maiores vendas, pode-se ser geográfica ou atuação
26
(predominância de oportunidades e pontos fortes)
em outros segmentos.
Produtos ou serviços Variação de qualidade ou de novas características dos produtos.
Financeiro Junção de duas empresas, uma forte financeiramente a outra ambientalmente, criando nova empresa.
Capacidade Junção de uma forte em tecnologia a outra forte em oportunidades ambientes.
Estabilidade Associação onde duas empresas procuram tornar suas evoluções uniformes, principalmente quanto ao aspecto mercadológico.
Diversificação horizontal Compra ou associação com empresas similares.
Diversificação vertical Passa a produzir novo produto que está entre seu mercado de matéria primas e consumidor final.
Diversificação concêntrica
Diversificação de linhas de produtos, com o aproveitamento da mesma tecnologia ou força de vendas.
Diversificação conglomerativa
Diversificação de negócios sem aproveitamento da
27mesma tecnologia ou forças de vendas.
Diversificação interna Diversificação gerada basicamente por fatores internos.
Diversificação mista Combinação de tipos anteriores.
Fonte: Chiavenato, 2003
A finalidade das estratégias é estabelecer quais serão os caminhos, os
cursos, os programas de ação que devem ser seguidos para serem alcançados
os objetivos e desafios estabelecidos. O conceito básico de estratégia está
relacionado à ligação da empresa e seu ambiente. Numa empresa, a estratégia
está relacionada à arte de utilizar adequadamente os recursos físicos,
financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas e a
maximização das oportunidades. Ansoff ainda afirma que a avaliação do
caminho a seguir de uma empresa deve ser feita através do confronto entre
pontos fortes, fracos e neutros da empresa, de um lado, e das suas
oportunidades e ameaças perante o seu ambiente, de outro lado.
Dessa avaliação devem resultar a missão, os propósitos e a postura
estratégica, que é o ponto de partida para traçar o caminho voltado aos futuros
objetivos e desafios, escolhidos entre as opções estratégicas que a empresa
deve identificar como preferenciais ou as mais adequadas em determinado
momento. Sejam quais forem os objetivos e desafios obedecidos as empresas
formulam dispositivos para seu alcance. Ansoff, agora citando Katz & Kant,
afirma que os dispositivos podem ser:
• Políticos. procedimentos que orientam a empresa nos seus
relacionamentos internos e com o seu ambiente.
• Técnico-econômicos. são empregados na transformação dos
insumos em produtos ou serviços.
Outros dispositivos:
28• Organizacionais. baseado na estruturação das atividades internas,
através da estrutura organizacional, bem como na elaboração de
normas, rotinas e procedimentos.
• Tecnológicos. baseado na evolução tecnológica ambiental, bem
como nas tecnologias mais adequadas para as operações da
empresa.
2.1.2 Modelo de Planejamento Estratégico Proposto
Neste tópico abordam-se dois aspectos constituintes do modelo
proposto. Inicialmente o processo de formulação do plano e, na seqüência,
seus principais conteúdos. Finalizando apresentam-se comentários sobre o
processo de implementação.
O processo de formulação do Plano Estratégico
Para a condução do processo de elaboração do plano estratégico faz-se
necessário o envolvimento direto dos principais executivos da organização –
seus diretores e, se for o caso, seus gerentes, que são os participantes do que
chamamos Grupo de Planejamento Estratégico (GPE) – no processo de
planejamento estratégico.
As atividades desenvolvidas neste processo são as seguintes:
- tomada de posição dos professores-consultores com o propósito de
familiarizá-los com a empresa/organização e mapear as suas principais
necessidades (projetos prioritários, questões estratégicas, efeitos sobre a
performance da empresa, por exemplo) para os anos subseqüentes ao
planejamento estratégico. O horizonte de tempo do plano depende das
peculiaridades da indústria e da organização e de eventuais necessidades
específicas (urgência de determinadas decisões, por exemplo).
- seminários coordenados pelos professores-consultores com as áreas
funcionais da empresa, incluindo as chefias e seus principais colaboradores,
29para obtenção dos inputs das áreas na elaboração do plano; estes seminários
têm o propósito de oportunizar a participação e o envolvimento dos chefes e
das lideranças no processo de planejamento por reconhecer a essencialidade
de uma participação, mesmo que indireta, destes colaboradores para o êxito da
implementação do plano estratégico.
- convites a convidados externos (fornecedores e clientes, por exemplo)
à empresa com a finalidade de construção, com uma visão externa, do
planejamento de cenário para o planejamento estratégico; essa atividade
contribui, também, como subsídio aos participantes do GPE para a elaboração
do plano estratégico da empresa/organização.
- reuniões do GPE para a elaboração do plano estratégico.
- processo de implementação.
Os conteúdos do Modelo
Nosso modelo de plano estratégico compreende basicamente três
grandes momentos que ocorrem seqüencialmente. Há o momento filosófico,
que define o negócio da empresa, caracteriza a sua ideologia e os seus valores
centrais com a missão e os princípios, e adiciona a dimensão de longo prazo
com a intenção estratégica. Depois, o momento analítico que dá sustentação a
todo o conjunto de decisões estratégicas subseqüentes, englobando o cenário
de trabalho, a análise SWOT e a definição das questões estratégicas. E,
finalizando, o momento das decisões e das ações que é a etapa mais concreta
e culminante do plano estratégico, pois define o conjunto de decisões e ações
estratégicas da empresa.
Nestes momentos, percebe-se claramente que o ponto de partida é um
estado ou uma situação genérica, às vezes um tanto abstrata, que finaliza com
uma dimensão de concretude evidente. Assim sendo, no início há uma
lateralidade e abrangência que, ao longo do desenvolvimento do plano
estratégico, cedem lugar a um foco cada vez mais concentrado nas principais
questões estratégicas da organização.
30A metáfora que utilizamos para o plano estratégico é a de um funil, onde
a definição do negócio constitui a boca ou entrada do funil. E, à medida em que
avança a formulação do plano, mais se estreita o foco das discussões até que
se chega à saída do funil, ou seja, a cada ação emanada do plano.
Cada um destes três grandes momentos será apresentado e discutido
na seqüência.
Momento Filosófico
O momento filosófico inicia com a definição do negócio. Abell e
Hammond (1980) já enfatizavam a sua importância quando afirmavam que a
definição do negócio é o primeiro passo do planejamento estratégico, pois,
além de ser um processo marcadamente criativo, é capaz de afetar todo o
desenvolvimento das demais decisões estratégicas do plano estratégico.
A definição do negócio representa a explicitação do âmbito da atuação
da organização. Há duas maneiras de compreender-se a definição do negócio.
A primeira, com uma ótica de mercados atendidos/servidos e a segunda com
uma perspectiva centrada nos produtos e serviços ofertados (Abell e
Hammond, 1980). Philip Kotler (1980) denominou a primeira como uma
definição de negócios centrada nos benefícios ofertados ao cliente e a segunda
uma definição de negócio míope em uma alusão às proposições de Levitt
(1960). A primeira das duas abordagens para a definição de negócio é sempre
a preferida, pois, além de muito mais desafiadora, é algo que efetivamente abre
o horizonte para descortinar novas oportunidades de expansão da empresa.
A missão, outro elemento do momento filosófico, representa o papel
desempenhado pela organização em seu negócio. A missão oferece uma certa
tangibilidade à definição do negócio à medida que procura explicitar o que
somos e/ou fazemos, como desempenharemos o papel (uma indicação da
estratégia, da organização e do eventual posicionamento) e para quem (os
beneficiários da missão). A missão deve ser singular, exclusiva, de modo que
cada participante da organização sinta-se engajado nos propósitos essenciais
31da missão. Essas orientações são consentâneas com a profunda revisão
teórica realizada por Bart e Baetz (1998).
Os princípios, por alguns denominados também credos ou valores, são
orientadores para o processo decisório e para o comportamento da
organização no cumprimento de sua missão. Os princípios, isoladamente, não
fazem sentido. Sua vinculação com a missão é indispensável, pois juntos
podem ser denominados de a Constituição da organização.
O último elemento do momento filosófico é a intenção estratégica que
deve representar um desafio, para os próximos 10 anos, que esteja muito além
dos recursos e capacidades atuais da empresa. O conceito de intenção
estratégica foi proposto por Hamel e Prahalad (1989, p. 64), quando afirmaram
que “empresas que chegaram à liderança global nos últimos 20 anos,
invariavelmente, começaram com ambições desproporcionadas aos seus
recursos e capacidades. Mas elas criaram, em todos os níveis da organização,
uma obsessão por vencer e sustentaram esta obsessão por 10, 20 anos na
busca da liderança global. A esta obsessão damos o nome de Intenção
Estratégica”. Uma alternativa à intenção estratégica poderia ter sido, em um
certo momento, a utilização da visão propugnada por Collins e Porras (1996).
Para esses autores a visão tem dois elementos: uma ideologia central e um
futuro ainda não imaginado. Entretanto, preferimos continuar utilizando nossa
proposição original para o momento filosófico, pois o que está contido na visão
já está contemplado no modelo, uma vez que a ideologia propugnada está
claramente expressa na missão e nos princípios e a visão de futuro, com
propósitos claramente identificados, ainda que quase utópicos, na intenção
estratégica.
Momento Analítico
O momento analítico é uma atividade essencial do plano estratégico,
pois deve dar sustentação a todo o conjunto de decisões estratégicas
subseqüentes. Ele inclui:
- o planejamento de cenários;
32 - a análise SWOT, com oportunidades, ameaças, pontos fortes e pontos
fracos;
- a Matriz da SWOT, que sintetiza o extenso material produzido na
análise SWOT e aponta as principais questões estratégicas e as prioridades
para as ações.
O planejamento de cenários representa um entendimento adotado pela
empresa sobre algumas variáveis externas que constituem o seu cenário de
negócios. Nesta etapa, a organização precisa coletar materiais, efetuar
análises e promover entendimentos sobre os elementos externos que podem
afetar o desenvolvimento de suas atividades. De fato, trata-se de um
planejamento de cenários de longo prazo, relacionando variáveis de análise
externa e entendendo seus efeitos combinados, ao invés de, simplesmente,
fazer previsões sobre o futuro. O cenário de trabalho constitui-se em
ferramental essencial para uma adequada análise do ambiente, que integra a
SWOT, abaixo comentada.
A análise SWOT (do original inglês: Strengths – pontos fortes;
Weaknesses – pontos fracos; Opportunities – oportunidades; e Threats –
ameaças), proposta originalmente por Andrews em 1971 é a combinação da
análise do ambiente (externa) e da análise interna. No entendimento dos
diferentes componentes da SWOT e seus respectivos conceitos, procuramos
enfatizar dois níveis de impacto e conseqüente avaliação: a dimensão
competitiva e as questões de natureza interna, como objetivos e rentabilidade.
Assim, temos os seguintes conceitos:
Oportunidade é uma situação externa que dá à empresa a possibilidade
de facilitar o atingimento dos objetivos ou de melhorar sua posição competitiva
e/ou sua rentabilidade.
Ameaça é uma situação externa que coloca a empresa diante de
dificuldades para o atingimento dos objetivos ou de perda de mercado e/ou
redução de rentabilidade.
33 Ponto Forte é uma característica interna ou um ativo que dá à empresa
uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes ou uma facilidade para o
atingimento dos objetivos (que podem incluir rentabilidade).
Ponto Fraco uma característica interna ou uma limitação em um ativo
que coloca a empresa em situação de desvantagem em relação com seus
concorrentes ou de dificuldade para o atingimento dos objetivos (que podem
incluir rentabilidade).
A Matriz da SWOT, originalmente proposta por Piercy (1992), procura
sintetizar o extenso material produzido na análise SWOT e deduz as principais
questões estratégicas e as prioridades para as ações.
Por meio da Matriz da SWOT, procura-se aproveitar as oportunidades,
precaver-se das ameaças, capitalizar nos pontos fortes e corrigir os pontos
fracos, pela combinação adequada desses componentes. Assim sendo, as
alternativas derivadas da matriz da SWOT podem ser:
Pontos fortes combinados com oportunidades para o aproveitamento
das capacidades.
Pontos fracos combinados com oportunidades buscando a minimização
das limitações.
Pontos fracos combinados com ameaças para a conversão das
desvantagens.
Essas alternativas são denominadas questões estratégicas, que são
temas que devem merecer especial atenção para garantir o sucesso
competitivo da empresa no futuro.
Se a análise SWOT for adequadamente desenvolvida e a Matriz da
SWOT identificar precisamente as diferentes possibilidades de combinações
entre os elementos da SWOT, tem-se um conjunto de questões estratégicas
que conduzem às possíveis estratégias e ações que incluem: Projetos (ou
Planos de Ação ou Planos Táticos) e Decisões.
34Momento das Decisões e das Ações
O Momento das Decisões e das Ações define o conjunto de decisões e
ações estratégicas da empresa. Ele inclui:
- encaminhamento das questões estratégicas por meio de decisões
advindas do GPE e de Projetos (ou Planos de Ação ou Planos Táticos) do
plano estratégico;
- o núcleo de objetivos estratégicos;
- o princípio da estratégia.
Decisões advindas do plano estratégico são aquelas situações em que
uma questão estratégica é resolvida e/ou encaminhada por uma decisão.
Assim sendo, não precisa de um plano de ação para ser resolvida e/ou
encaminhada.
Projetos do P.E. são aquelas situações em que uma questão
estratégica, para ser resolvida e/ou encaminhada, precisa de um plano de ação
específico.
E o Núcleo de Objetivos Estratégicos constitui o conjunto de objetivos
relacionados ao plano estratégico. Compreendem, genericamente, um D.R.E.
resumido em suas 4 a 5 principais rubricas e outros objetivos peculiares ao
negócio, à semelhança de modelos de gestão por indicadores, como o
balanced scorecard (Kaplan e Norton, 1992).
Com o propósito de disseminar o âmago da estratégia para toda a
organização, Gadiesh e Gilbert (2001) propuseram o Princípio da Estratégia
que é uma frase inesquecível e desencadeadora de ações que destila a
estratégia da empresa na sua essência, comunicando-a para toda a
organização. Trata-se de um grande esforço de síntese ao final de todo o
processo de elaboração do plano estratégico para consolidar a estratégia da
organização tal como expressa em seu plano.
35Implementação do Planejamento Estratégico
Afora o método e sua condução, há dois condicionantes que são
verdadeiros passaportes para implementações bem-sucedidas do
planejamento estratégico: o engajamento dos recursos humanos (por meio de
procedimentos simples, rápidos e eficazes, sem pseudo-democracias internas)
e o processo de revisão do plano estratégico.
O engajamento dos recursos humanos deve conquistar o
comprometimento, desde as gerências e chefias que não participam do GPE
até as lideranças informais dos diversos níveis da estrutura organizacional.
Este comprometimento, iniciado nos já citados seminários com estes públicos,
necessariamente, decorre do compartilhamento das noções de rumo da
empresa e do papel de cada um nesta caminhada, sempre em função do seu
nível na organização.
O processo de revisão do plano estratégico, por sua vez, ajuda a
empresa a dominar o processo de implementação, monitorando a sua evolução
e fazendo a “prestação de contas” de cada executivo sobre o seu papel e
responsabilidade no planejamento estratégico. Já o timing da revisão é definido
em função do histórico de planejamento estratégico da empresa. No caso de
um planejamento estratégico que esteja sendo realizado pela primeira vez ou
sendo “ressuscitado”, há a necessidade de reuniões trimestrais de revisão, pelo
menos no primeiro ano após a sua formulação. Se o planejamento estratégico
já se tornou um hábito na empresa e funciona bem, basta uma revisão
semestral.
Nunca é demais reforçar que o processo de revisão do plano estratégico
cumpre dois objetivos cruciais: a) manter o plano sempre atualizado,
combatendo eventuais engessamentos e ajustando a empresa a uma realidade
que sempre muda, e cada vez com mais intensidade; e b) aculturar, sempre
mais, a organização ao planejamento estratégico, tornando essa tecnologia
gerencial mais um saudável hábito de gestão na empresa. O planejamento
estratégico (não exclusivamente o documento ou plano, mas o processo
36inteiro) passa a ser o grande companheiro das decisões e a referência
essencial nas discussões estratégicas.
Níveis de Planejamento Estratégico
Fazer planejamento estratégico compreende, inicialmente, dominar seus
dois níveis fundamentais: (a) em corporações (ou grupos empresariais) ou (b)
em empresas isoladamente (ou unidades de negócio em uma corporação). A
primeira aplicação denomina-se planejamento estratégico corporativo, e a
segunda, planejamento estratégico de negócio. Mas a essência do
planejamento estratégico compreende, também, captar os benefícios do
espírito do tempo. Esta tecnologia, hoje com quase quarenta anos de
aplicação, incorporou o ensinamento de que, além de dominar o método
(formulação), se fixa a necessidade de fazer o plano funcionar
(implementação). O modelo apresentado no item anterior compreende o
planejamento estratégico de negócio.
A formulação do planejamento estratégico corporativo, por sua vez,
consiste de: missão corporativa, princípios (credos, valores) corporativos,
intenção estratégica corporativa, competências centrais da corporação,
planejamento de cenários, análise do ambiente externo, análise interna,
decisões estratégicas corporativas, objetivos estratégicos corporativos e planos
de ação estratégica. Mais importante do que conhecer o método e suas etapas
é extrair do plano estratégico corporativo:
- uma orientação filosófica para todas as empresas ou unidades de
negócio da corporação;
- objetivos estimulantes e desafiadores para toda a corporação;
- planejamento de cenários de longo prazo, relacionando variáveis de
análise externa e entendendo seus efeitos combinados para todas as
empresas ou unidades de negócio da corporação;
37- decisões estratégicas de natureza essencialmente corporativa, tais
como diversificar ou concentrar no core business, investir ou desinvestir
nas empresas ou unidades de negócio.
38
Capítulo 3 – 3.1. Planejamento Estratégico Situacional
(PES)
o O PES, embora seja influenciado pelo trabalho de outros autores
como Ackoff (1974) e Mason & Mitroff (1981), tem em Carlos Matus
seu grande mentor intelectual e maior entusiasta. Ministro de
Planejamento do Presidente Allende, no Chile, Matus, a partir da
queda desse governo, passou a se dedicar à compreensão do que
deu errado naquela gestão. É o criador da Fundação Altadir, na
Venezuela, que tem por objeto a pesquisa, o desenvolvimento e o uso
de ciências e técnicas de governo. É, em função disso, um defensor
intransigente da necessidade de que dirigentes políticos, estejam eles
em posições de governo, partidos, sindicatos, organizações (públicas
ou privadas) etc., ampliem sua capacidade de governo utilizando por
instrumento de trabalho todo um conjunto de conhecimentos que
denomina planejamento moderno e que tem por produto principal o
PES (Matus, 1997b; Huertas, 1996).
• O PES apresenta três características principais. A primeira é o
subjetivismo, que tem por objetivo identificar e analisar uma situação
problemática, centra-se nos indivíduos envolvidos (atores), em suas
percepções e pontos de vista, pressupondo, portanto, que se cada
indivíduo tem suas próprias características, sua interpretação de
determinada situação vai depender de seus conhecimentos,
experiências, crenças, posição no jogo social etc. Como as ações, por
sua vez, surgem do significado dado a cada situação, e este varia de
um indivíduo para outro, também a maneira de agir varia. Assim, o
PES preconiza que não se pode planejar como se o planejador fosse
o único ator, ignorando os demais envolvidos ou predizendo seus
comportamentos. É necessário, portanto, diferenciar as explicações
dos diferentes autores, sem ignorar nenhuma, para que se possa agir
de modo eficaz (Matus, 1997b).
39• É em função dessa perspectiva que Matus (Huertas, 1996) argumenta que
a realidade não pode ser explicada por uma simples descrição (diagnóstico),
mas pelas diferentes interpretações dadas pelos atores envolvidos (apreciação
situacional). Por conseguinte, o termo situacional vem do conceito de
"situação", que é a chave para entender os outros atores e suas interpretações
da realidade, permitindo uma ação mais eficaz no jogo social. Ressalta ainda
que, nessa perspectiva (Matus, 1998), o conceito de situação exige determinar
quem está explicando a realidade, uma vez que esta pode ser explicada de
formas distintas, pois os diferentes atores participam do jogo social com
diferentes propósitos.
• A segunda característica do PES é a elaboração de planos-proposta a partir
de problemas, entendidos como obstáculos criados em razão da diferença
entre a realidade atual do jogo social e as aspirações de um ator de acordo
com seu mundo subjetivo. Em outras palavras, tem-se um problema quando o
ator (planejador) encontra-se insatisfeito com determinada situação e ao
mesmo tempo a considera evitável (Huertas, 1996).
• Como terceira característica, o PES assume que o futuro é incerto, não
sendo possível predizê-lo. Assim, não se prende a uma visão determinista do
mundo, no sentido de predizer (adivinhar) o futuro e buscar alcançá-lo, mas
busca enumerar possibilidades e preparar os atores para enfrentá-las. Como
pondera Matus (Huertas, 1996), o PES é, na verdade, uma ferramenta de
liberdade, pois, ao não se basear na capacidade de predição, mas na de
previsão, se constitui em um cálculo que precede e preside a ação para criar o
futuro, dependendo, portanto, das possibilidades de os atores serem capazes
de imaginar e descobrir e da qualidade dos planos desenvolvidos. É, nesse
sentido, uma aposta de caráter genuinamente estratégico, e não sobre o
destino (ou o futuro), pois, à medida que se planeja, se influe no futuro.
• Observa-se, então, que o PES, ao considerar a subjetividade e a incerteza
sobre o futuro, realmente aumenta a complexidade com que é tratada a
situação problemática sob análise, mas toda a riqueza de detalhes e diferentes
40perspectivas trazidas para determinada questão são vistas como elementos-
chave para lidar com a mesma de maneira satisfatória (Matus, 1997b).
• Para tal, o PES pode ser subdividido em quatro momentos mostrados, na
Figura 1: o explicativo, que busca justificar os porquês da situação atual; o
normativo, no qual se estabelece o que se deseja fazer; o estratégico, que
analisa a viabilidade das operações planejadas; e o tático-operacional, que
cuida da implementação das operações no dia-a-dia.
•
• •
• Enquanto os três primeiros são momentos de acúmulo de conhecimentos
pelo ator planejador, o quarto momento é o da ação propriamente dita.
Saliente-se ainda que, embora enumerados, os momentos não devem ser
vistos como consecutivos, pois, se a realidade é mutável, o plano também é,
devendo o planejamento ser visto como "diário", o que significa estar
constantemente trabalhando nos quatro momentos ao mesmo tempo.
41• Uma tentativa de síntese desses momentos leva ao seguinte. No momento
explicativo, o PES volta-se para a compreensão do mundo real por meio da
apreciação situacional, tendo por objetivo procurar explicar a realidade,
identificando os problemas declarados pelo ator para o qual se está
planejando. Trabalha-se aqui com a categoria de macroproblema, na medida
em que os problemas declarados, em geral, não são isolados, mas um
conjunto que coexiste e interage. É essa categoria, sintetizando os problemas
parciais, que possibilita a análise conjunta.
• Identificado o macroproblema, mediante a enumeração e seleção dos
problemas parciais relevantes, utiliza-se o conceito de vetor de descrição do
problema (VDP = (d1, d2, ...)). Para explicar um problema é indispensável
definir seu conteúdo, uma vez que este não pode ser explicado por seu
"nome". Assim, o VDP é constituído de descritores (di), o suficiente para dar
precisão ao problema, que descrevem e enumeram de forma precisa os fatos
que demonstram a existência do mesmo. Deve-se atentar para o fato de que
nenhum descritor deve se referir a causas ou conseqüências de outro descritor
(Matus, 1997b).
• Estabelecido o VDP do problema, enumeram-se suas conseqüências e a
análise volta-se para as causas. Nessa análise dois tipos de classificação são
utilizados, um que considera o tipo de causa e outro que é relativo ao grau de
controle do planejador sobre as causas. Em relação às causas, tem-se que
diferenciar quais são fluxos, acumulações e regras. Os fluxos são definidos
como as causas imediatas do VDP (jogadas, ações, realizações etc.,
diretamente relacionadas aos descritores do problema), as acumulações são
as diferentes capacidades ou incapacidades que produzem os fluxos (poder,
influência política, condição financeira, capacidade e incapacidade de produção
etc.) e as regras são o que vai dar legitimidade às causas e às acumulações no
jogo social (regulamentos, leis, estímulos, proibições etc.) (Huertas, 1996).
• Quanto aos graus de controle do planejador sobre as causas, o PES
trabalha identificando três zonas de governabilidade: sob ou fora do controle do
42planejador e fora do jogo social, considerando que, quando estas se encontram
fora do jogo social, encontram-se também fora do controle do planejador.
• Todo esse conjunto de informações declarado pelo ator para o qual se está
planejando é reunido no denominado fluxograma situacional, que é uma
representação gráfica da visão desse ator sobre a situação sob análise e que
permite relacionar as causas entre si e com os descritores, por meio de
conexões causais. A Figura 2 apresenta este fluxograma de forma
esquemática, devendo-se salientar que este, além de conter todas as relações
entre os problemas (problemas/causas), permite a distinção entre seus tipos e
os tipos de governabilidade do planejador sobre os mesmos.
• Construído o fluxograma, o próximo passo é identificar os nós-críticos –
causas sobre as quais o ator planejador tem condições de atuar com eficácia e
que têm influência direta sobre o VDP do problema – e construir uma versão
simplificada do fluxograma situacional (árvore do problema), em que só
43aparecem as relações causais entre os nós-críticos. A forma de ataque a essas
causas, no entanto, é definida no momento seguinte do PES, o normativo.
• O objetivo do segundo momento "... é produzir as respostas de ação em um
contexto de incertezas e surpresas" (Huertas, 1996). Deste modo, para lidar
com as surpresas, imaginadas como possíveis pelo planejador, são elaborados
planos de contingência.
• Já para lidar com as incertezas, trabalha-se com cenários que podem ser
de três tipos: teto, que traz as melhores condições sobre o futuro que o
planejador consegue vislumbrar; piso, que traz as piores condições; e centro,
que é o mais provável na visão do planejador.
• Para cada cenário constrói-se um plano a fim de atacar cada nó crítico
identificado no primeiro momento. Esses planos são constituídos de operações
definidas por Matus como uma "... unidade básica de ação que um ator realiza
para mudar a realidade" (Huertas, 1996). Essas operações se apresentam no
plano subdivididas em ações, e estas, em subações, todas acompanhadas de
responsáveis, prazos e indicadores de resultados e de execução, o que vai
permitir a aferição dos resultados alcançados pela operação em seu todo.
• É nesse momento também que a questão dos recursos necessários para
realização das operações é considerada, recursos estes que não se referem
apenas a bens materiais e monetários, mas também à influência política, a
certas habilidades, a conhecimentos pessoais etc. São considerados recursos
tudo que seja indispensável à implementação da operação e que tenha de ser
analisado quanto a sua disponibilidade (Matus, 1996).
• No momento estratégico, analisa-se a viabilidade política do plano, ou se
procura construir sua viabilidade, uma vez que nem todas as operações são
viáveis na situação inicial. Portanto, o objetivo aqui é propor estratégias para
tratar inicialmente as operações não viáveis "... como um processo de
produção política em parte cooperativa e em parte conflitiva" (Huertas, 1996).
Esse processo se inicia com a construção da matriz de motivações que fornece
a posição dos diferentes atores em relação às operações (favorável,
desfavorável ou indiferente). Passa então para a avaliação dos recursos
44necessários à realização de cada operação e para a análise de governabilidade
dos atores em relação a esses recursos. Se após esse processo de análise, a
operação não se mostrar viável, o passo seguinte é a construção de sua
viabilidade por intermédio de estratégias capazes de mudar a realidade da
situação sob análise.
• Esse, sem dúvida, é o momento de maior complexidade do PES,
requerendo quantidade muito grande de informações para a realização de
todas as análises previstas. Ainda aqui é analisada a seqüência no tempo das
operações, ações e subações, pois essa ordenação pode alterar
significativamente o plano, levando-o até mesmo à inviabilidade (Matus,
1997a).
• O último momento é o tático-operacional e se refere à implementação das
ações tendo por referência o plano: "tem a finalidade de criar um processo
contínuo, sem ruptura entre os três momentos e a ação diária" (Huertas, 1996).
Tem-se aqui, como mencionado, a necessidade constante de recalcular o
plano, aprimorando-o diante das circunstâncias que surgem com sua
implementação. Para esse momento o PES dispõe de ferramentas muito
interessantes (Matus, 1997a), como os três balanços (de Gestão Política,
Macroeconômico e de Intercâmbio de Problemas Específicos) que compõem o
denominado Balanço Global de Governo e possibilitam o acompanhamento
tecnopolítico da implementação do plano. Sua discussão, no entanto, fugiria ao
escopo deste trabalho.
• Embora a apresentação tenha sido bastante sucinta, é evidente o grau de
desenvolvimento dessa metodologia. É inquestionável, como o próprio Matus
(1997b) pondera, que o PES é hoje um corpo teórico-metodológico-prático
muito sólido, sistemático e rigoroso. Não só seu trabalho é rigoroso, mas
também suas críticas a outras metodologias de planejamento, em particular
àquelas que denomina planejamento tradicional e planejamento estratégico
corporativo.
• Para esse autor, o planejamento tradicional, que tem origem no
determinismo positivista, se baseia no cálculo da predição, constituindo-se
45basicamente em técnicas de projeções econômicas, as quais, quando
utilizadas no planejamento do desenvolvimento econômico e social, ao
ignorarem todos os atores do processo social, à exceção do governante, têm
caráter autoritário e tecnocrático. Já o planejamento estratégico corporativo,
que se volta para empresas e corporações privadas, embora até faça uso do
pensamento estratégico, considerando adversários e competidores, e com isso
desvalorizando um pouco o cálculo da predição, continua muito influenciado
pelo planejamento tradicional: "... 80% do planejamento estratégico corporativo
é determinista e emprega inadequadamente a palavra estratégia" (Huertas,
1996).
• Essas críticas, é claro, têm de ser necessariamente relativizadas, pois não
fazem justiça à riqueza e à multiplicidade das metodologias atualmente
existentes (Rieg, 1999; Pessoa, 2001); chegam até mesmo a ser
caricaturescas, na medida em que, por exemplo, se referem a, no máximo, três
das dez escolas de formação de estratégias de Mintzberg et al. (2000). Não
obstante, há que se reconhecer a vasta herança intelectual deixada por ele,
tanto em termos de reflexões acerca do pensamento estratégico e de sua
utilidade no jogo social como em termos da criação e do uso de técnicas para a
formulação e a avaliação de estratégias. Reconhece-se, além disso, o fato de
essa herança intelectual ainda merecer maior atenção acadêmica.
• Por outro lado, também é importante ressaltar que todo o rigor e a
sistematização pressupostos pelo PES e as informações e o conhecimento
necessários acerca da situação e dos atores envolvidos chegam a colocar em
dúvida sua aplicação na totalidade. Embora seja inquestionável a importância
das informações que a metodologia solicita para a criação e a análise de um
plano, também o é a dificuldade para obtê-las. Mesmo que possível, o tempo
necessário para obtê-las e processá-las certamente seria incompatível com as
agendas e, provavelmente, a motivação dos dirigentes envolvidos. Não
obstante, a próxima seção deixa evidente que a utilização, mesmo que parcial,
do PES já traz resultados muito interessantes.
46Um último ponto a ser ressaltado é a necessidade de relativizar as
colocações de Matus (Hertas, 1996), no sentido de identificar o PES como o
método e a teoria do Planejamento Estratégico Público; embora seu principal
uso venha sendo a problemática pública ou, ainda, o jogo político, econômico e
social, nada impede sua utilização em situações em que o mercado faça parte
do jogo; ou seja, sua utilização no planejamento de empresas, sejam elas
públicas ou privadas. E, inversamente, nada impede que as metodologias
denominadas por Matus de corporativas sejam utilizadas em contextos públicos
3.1.2 RESISTÊNCIAS A MUDANÇAS
As transformações que estão acontecendo na atualidade não são
entendidas apenas como tendências isoladas, mas sim alterações radicais nas
formas de organizar e gerir a produção de bens e serviços, guiadas pela
globalização dos mercados, pelas novas tecnologias, por uma reorganização
estrutural e conceitual das atividades e das relações de trabalho. Esses
aspectos parecem ter como fontes principais, conforme ressalta Monteiro
(1999), novos processos de comunicação que transformam informação em
conhecimento, especialmente apoiado nos avanços das tecnologias ligadas à
microeletrônica.
A esse respeito, Monteiro (1999) distingue os conceitos de mudança e
inovação, dizendo que, no nível organizacional, as inovações costumam ser
configuradas pela adoção de uma nova idéia ou de novas práticas
empresariais.
Sendo assim, as alterações caracterizam-se por algo totalmente inédito,
tanto na estrutura, na tecnologia, nos sistemas técnico-administrativos quanto
nas lideranças, no comportamento das pessoas e nos produtos e serviços
prestados. A mudança pressupõe a caracterização de um processo
interdependente. Tais mudanças costumam ser entendidas e estudadas de
47várias maneiras e tipos, como uma resposta às pressões do âmbito interno e
ambiental.
No entanto, o que se vê são sérias resistências a mudanças, as pessoas
resistem a serem mudadas, o que é perfeitamente normal. Ninguém muda por
livre e espontânea vontade, sem angústia nem ansiedade, rumo ao
desconhecido. A simples mudança traz sempre consigo a incerteza, e a
incerteza é a mãe do medo.
Toda mudança é um processo ou é uma seqüência de eventos
interrelacionados por uma relação de casualidade ou finalidade, segundo
afirmam Silveira Júnior e Vivaqua (1999). Dessa forma, o tempo e velocidade
estão presentes na mudança. Se a mudança se dá de forma lenta, passa a ser
uma evolução; enquanto que uma mudança rápida é caracterizada como
revolução.
Quando se começa a implementação de um plano, originado de um
planejamento estratégico no qual se prevê mudanças estruturais e na forma de
gestão, certamente a maior barreira nesse processo é mudar a visão das
pessoas em relação ao que elas vêm praticando há tempo, no que se constitui
em resistência a mudanças.
Muitas vezes, a mudança não se processa apenas no plano de
processos ou estrutural, mas exige como contrapartida a mudança na cultura
das organizações determinando mudanças de comportamentos e atitudes das
pessoas que fazem parte dessas organizações, às vezes, exigindo até
sacrifícios dos colaboradores.
Quando se fala em mudanças nas organizações, percebe-se que o
maior foco de transformação está relacionado às atitudes dos gerentes, os
quais normalmente apresentam maior resistência em função de status, poder,
perda de prestígio, ou outros. Desta forma, deles é que deve se originar
qualquer mudança de comportamento em termos organizacionais. Com isso,
as ações organizacionais passam pela reeducação dos profissionais, pela
conscientização e pela mudança cultural, diminuindo a resistência das
pessoas.
48O grau de resistência à mudança é menor quando se trata da forma de
se atingir o objetivo e maior quando tende à mudança de objetivo. Conforme
destaca Jacomassi (2000), pelo menos três fatos dão origem à resistência às
mudanças nas organizações sociais: a inércia, o medo e o interesse no status
quo.
Bauer (1998) acrescenta que no meio de toda essa turbulência, as
empresas devem buscar meios para tornarem-se capazes e tirar proveito dela
para evoluir. Toda essa complexidade aponta um inovador caminho: o da auto-
organização. A empresa competitiva do futuro será dotada de meios para sua
permanente evolução juntamente com seu meio-ambiente – a partir das
pessoas. São as pessoas que agindo na empresa-equipe, podem abraçar a
mudança enquanto destino, enquanto sentido de vida para a organização.
O autor ressalta ainda que ao invés de impor a mudança às pessoas e
encontrar resistências, a administração do futuro, adotando nova fórmula de
gestão administrativa, procurará facilitar as condições para que as pessoas
possam encontrar, juntas, os caminhos da mudança sem traumas.
Para tanto, segundo Drucker (1999), cada organização deve buscar a sua nova
forma de gerenciamento para enfrentar esses novos desafios, sem a qual
estará fadada ao insucesso.
49
Conclusão
A formulação de estratégias é um processo de criação empreendedor e
imaginativo para decidir ações em relação ao futuro, a partir do diagnóstico de
oportunidades e ameaças do ambiente externo, da avaliação das forças e
fraquezas do ambiente interno da organização e da determinação dos
recursos necessários/ disponíveis,(financeiros, pessoais ou materiais),além de
que há se focar esforço, ganhar eficiência operacional e simultaneamente
manter e adaptar a atualidade à dinâmica do ambiente externo.
Na implementação da estratégia, busca- se atingir os resultados com
base nos seguintes componentes básicos: estrutura e relacionamento
organizacional ( divisão dos trabalhos, coordenação e ferramental de TI),
processos e comportamentos organizacionais( medidas, motivação, sistemas
de controle e capacitação), liderança de topo( patrocínio para o processo) que
determina o propósito de todo o processo,os recursos( pessoal, estrutura ,
processos, finanças) devem ser ajustados entre si e o engajamento de toda a
organização.
A fase preparatória para implementação do planejamento requer, como
visto, várias medidas estruturais, alicerces sólidos que propiciarão a segurança
do processo e a tranquilidade no desenvolvimento e implemetação dos
programas de ações almejadas,visando um melhor posicionamento futuro da
organização pelo desenvolvimento de vantagens competitivas perante o
mercado.
O planejamento estratégico é uma adoção administrativa que almeja
resultados de longo prazo, embora que, medidas operacionais e táticas devem
redundar em ganhos de curto e médio prazos, principalmente aquelas que
desenvolvam novas competências para a organização:
1-Inteligência competitiva
2-Aprendizagem organizacional
503-Equipe multidisciplinar
4-comunicação interna (endomarketing)
5-metodologia de projetos
São as cinco premissas básicas que estruturarão a organização para
implantação e implementação do planejamento estratégico.
51
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BARROS, A.J.P., LEHFELD, N.A.S . Fundamentos de metodologia. São
Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1986.
_____________. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. Petrópolis: Vozes,
1990.
CERTO, Samuel C.; PETER, J. Paul. Administração Estratégica: planejamento e
implantação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993.
CHIAVENATO, Idalberto e SAPIRO, Arão. Planejamento Estratégico. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
COOPER, D.R., SCHINDLER, P.S. Business Research Methods. 7. ed. New
York: McGraw-Hill Irwin, 2001.
CROTTY, Michael. The foundations of social research: meaning and
perspective in the research process. London: Sage Publications, 1998.
CRUZ, Carlos H. de Brito. Uma chance de competitividade. Jornal Folha de
São Paulo, São Paulo, 05 out. 1997, Caderno MAIS, p. 5-14.
DRUCKER, Peter. Desafios gerenciais para o século XXI. São Paulo:
Pioneira, 1999.
KOTLER, Philip. Administração de Marketing: análise, planejamento,
implementação e controle. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
PORTER, Michael. Competição: estratégias competitivas essenciais. 4. ed.
Rio de Janeiro:Campus, 1999.
52
ÍNDICE
Folha de Rosto 2
Agradecimentos 3
Dedicatória 4
Resumo 5
Metodologia 6
Sumário 9
Introdução 10
Capítulo 1 - 1.1 Planejamento Estratégico e Administração estratégica 14
1.1.1 Competitividade nas organizações 14
1.1.2 Planejamento Estratégico 17
Capítulo 2 – 2.1 Administração Estratégica 23
2.1.2 Modelo de planejamento estratégico proposto 28
Capítulo 3 – 3.1 Planejamento estratégico Situacional 38
3.1.2 Resistência à Mudanças 46
Conclusão 49
Bibliografia Consultada 51
Índice 52
53
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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