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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O SISTEMA FINANCEIRO E A ECONOMIA BRASILEIRA DURANTE A CRISE DE 2008: A GESTÃO DA CRISE Por: Maira Fernanda Silva Paulo Orientador Prof. Antônio Medina Niterói 2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O SISTEMA FINANCEIRO E A ECONOMIA BRASILEIRA DURANTE

A CRISE DE 2008: A GESTÃO DA CRISE

Por: Maira Fernanda Silva Paulo

Orientador

Prof. Antônio Medina

Niterói

2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O SISTEMA FINANCEIRO E A ECONOMIA BRASILEIRA DURANTE

A CRISE DE 2008: A GESTÃO DA CRISE

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial à obtenção do grau de

Especialista em Gestão Empresarial.

Por: Maira Fernanda Silva Paulo

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AGRADECIMENTOS

À minha Família – João, Delma, Dulce e

Ana Carolina. Aos meus Amigos – Thiago,

Marcelo, Giovanna, Juliana e Maria

Augusta. Ao Professor e Orientador

Antônio Medina.

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DEDICATÓRIA

A minha Família e Amigos.

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RESUMO

A Crise de 2008 causou pânico mundial, transparecendo o medo e a

possibilidade de uma recessão econômica em nível mundial. Os efeitos da crise

foram fortemente sentidos pela maioria das economias, e comparados à Crise de

1929.

A análise da repercussão desta crise no âmbito nacional faz-se então

necessária, de forma que sejam estudadas as medidas e artifícios utilizados pelo

governo brasileiro para administrar a Crise e minimizar seu impacto nos sistema

financeiro.

Para tanto, será proposto o estudo do Sistema Financeiro Nacional e da

gestão da Crise de 2008 e das estratégias utilizadas para tal.

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METODOLOGIA

Para a elucidação dos objetivos propostos, foram utilizadas para a análise

em questão publicações de autores nacionais e internacionais, englobando livros,

revistas, periódicos e material disponível na internet.

A abordagem do tema é de caráter analítico, e está dividida em partes,

conforme asseguir: i) pesquisa bibliográfica e fichamento de temas pertinentes; ii)

busca e análise de dados e indicadores econômicos referentes ao período

analisado; iii) elaboração das compreensões finais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – Crises Econômicas que afetaram o mundo nos séculos XX e XXI 10

CAPÍTULO II – O Sistema Financeiro Nacional 25

CAPÍTULO III – A economia brasileira durante a Crise de 2008: a gestão da Crise 33

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

ÍNDICE 51

FOLHA DE AVALIAÇÃO 53

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INTRODUÇÃO

Atualmente, no mundo globalizado em que vivemos, as mudanças no

cenário mundial têm sido constantes e impressionam tanto pelas alterações

provocadas nas instituições e na dinâmica de intercâmbio mundial, quanto pela

rapidez com que acontecem. A maior abertura da economia, e conseqüente

exposição ao mercado internacional tornam as economias cada vez mais

interdependentes.

No contexto da globalização, as relações e a inter-relação de um país com

o restante do mundo tornam-se inevitáveis em todos os aspectos, inclusive

econômicos e financeiros. Um cenário econômico desfavorável a uma economia

pode ter efeito reativo em uma ou mais economias. Sendo assim, é necessário

zelar por um cenário interno favorável e estável, o mais alheio possível a

suscetibilidades externas.

Com esta Monografia apresentada à AVM Faculdade Integrada como

requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão Empresarial

pretende-se estudar o Sistema Financeiro Nacional e a gestão da Crise de 2008,

identificando as medidas tomadas e estratégias utilizadas pelo Governo brasileiro

para gestão da crise.

O trabalho está estruturado em três capítulos, além da introdução e

conclusão. O primeiro capítulo, “Crises econômicas e financeiras que afetaram o

mundo nos séculos XX e XXI”, contextualiza quatro importantes crises mundiais

ocorridas no século XX de forma a se identificar características semelhantes às da

crise iniciada nos Estados Unidos no final do ano de 2007.

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O capítulo seguinte, “O Sistema Financeiro Nacional”, faz uma introdução

ao o conceito do Sistema Financeiro Nacional, bem como sua estruturação, e

apresenta breve histórico sobre a sua evolução, inclusive em relação ao sistema

financeiro internacional; e aborda, também, a Reforma Bancária de 1964 e a

criação do banco Central do Brasil.

O terceiro capítulo, “A economia brasileira durante a Crise de 2008: a

gestão da crise” agrega o significado de gestão utilizado no trabalho, além de

demonstrar como a crise afetou o Brasil e analisa a gestão da crise feita pelo

governo, demonstrando as medidas e estratégias utilizadas.

Essa investigação contou com a orientação do Professor Antônio Medina,

membro do Corpo Docente do Curso de Gestão Empresarial da AVM Faculdade

Integrada.

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CAPÍTULO I

CRISES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS QUE AFETARAM

O MUNDO NOS SÉCULOS XX E XXI

De forma a elucidar o ocorrido na crise financeira de 2008, será feita breve

introdução de crises antecessoras ocorridas nos séculos XX e XXI, procurando

estabelecer pontos comuns, características semelhantes às da crise em voga. A

saber, serão abordadas nesta Monografia: a Grande Depressão (1929), a Crise do

Petróleo (Anos 70), a Crise Mexicana (1995), a Crise Asiática (1997), e por fim, a

Crise de 2008.

1.1 – A Grande Depressão, 1929

[...] o produto industrial norte-americano cresceu continuamente durante a década de 1920, alcançando níveis sem paralelo em todo o mundo. [...] Essa era de prosperidade e abundância econômica foi subitamente interrompida em 24 de outubro de 1929. Nesse dia, que ficou conhecido como 'a quinta-feira negra', o valor dos títulos negociados na bolsa de Nova York iniciou uma trajetória descendente, abalando profundamente todos os negócios. Os empresários, atemorizados e descrentes, efetuaram cortes drásticos na produção e nos investimentos. A conseqüência disso foi o declínio da renda nacional e o desemprego em massa, o que, por sua vez, minou ainda mais a confiança na economia. Enquanto perdurou esse círculo vicioso, milhares de corporações faliram, milhões de trabalhadores foram para a rua. [...] Cerca de um quarto das pessoas viu-se privado dos meios necessários para garantir a sobrevivência. (SHERMAN & SHERMAN, 1978, p. 164).

A crise econômica desencadeada pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque em

1929 é conhecida como “Grande Depressão”. Persistindo ao longo da década de

30, e por ter sido a mais grave crise enfrentada pelo modelo capitalista e pela

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Democracia Liberal, também é considerada o pior e mais longo período de

recessão econômica do século XX. A crise econômica que atingiu os Estados

Unidos naquele período pôs fim a anos de bonança econômica que vinham sendo

experimentados após a Primeira Guerra Mundial.

Em 1918, após a Primeira Guerra Mundial, a economia norte-americana

encontrava-se em um novo panorama econômico – de prosperidade, estava em

pleno desenvolvimento. Os Estados Unidos passaram a ser o grande credor

mundial, com exportações para todo o mundo, principalmente para a Europa,

então arrasada pela Guerra e em período de sua reconstrução. A prosperidade

era traduzida pela expressão americana “American Way of Life”, o estilo de vida

americano grandioso e promissor.

Durante os anos de 1920, a expansão e esta aparente prosperidade,

invejada pelas demais economias do globo, eram motivo de crença na economia e

na possibilidade de riqueza através do investimento em ações na Bolsa de Nova

Iorque. Até que, em 1929, iniciou o desencadeamento da pior crise econômica

vivenciada pela história capitalista até os dias de hoje.

Com a Europa recuperada da Guerra, as exportações norte-americanas

sofrem grave queda, gerando acúmulo de produção internamente e conseqüentes

aumento de oferta e queda nos preços das mercadorias. Concomitantemente, o

poder aquisitivo da população não acompanhara o mesmo ritmo de crescimento

da indústria, gerando, com isso, drástica diminuição do consumo interno.

A crise de superprodução atingiu todos os setores da economia, inclusive o

mercado de ações. Os preços dos papéis na Bolsa de Nova Iorque, um dos

maiores centros capitalistas da época, despencaram, ocasionando o crash, ou

seja, a quebra da Bolsa, resultando na falência de bancos, indústrias, empresas

rurais e de milhares de cidadãos norte-americanos.

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Esse período de recessão econômica causou altas taxas de desemprego,

quedas drásticas do produto interno bruto, bem como quedas drásticas na

produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de

atividade econômica, desestabilizando assim a economia norte-americana e a de

vários outros países que haviam aderido capitalismo, devido à interdependência

desse sistema.

Atrelada às crises econômica e financeira, está uma crise de

superprodução, pois, apesar da queda dos preços, não havia demanda para

grande parte do mercado agrícola e industrial. Em conseqüência lógica, houve a

falência de várias empresas, ocasionando a elevação do índice de desemprego, e

com isso provocando uma redução do poder de compra e da procura, criando-se

um círculo vicioso.

A solução para a crise norte-americana veio em 1933, após a eleição de

Franklin Roosevelt1, com a elaboração de um plano que propunha mudar a política

de intervenção americana – o New Deal. Este plano tinha o objetivo de controlar a

inflação e evitar a formação de estoques. A partir de agora, o Estado agora não

mais permitiria a estratégia do “laissez-faire”2 e passaria a intervir fortemente na

economia, controlando os preços e as produções agrícola e industrial. Nesse

período houve um forte investimento em grandes obras públicas de infra-estrutura

(energia elétrica, ferrovias, estradas, aeroportos, etc.), o que permitiu a criação de

milhares de empregos, conforme representado no gráfico abaixo. Esse programa

foi bem-sucedido e, gradativamente, os Estados Unidos conseguiram retomar seu

crescimento econômico.

1 Franklin Delano Roosevelt, democrata, considerado um dos maiores estadistas dos Estados Unidos, assumiu a presidência dos EUA pela primeira vez em 1933, no auge da Grande Depressão. Implantou o New Deal, conjunto de medidas econômicas que aumentaram o papel do Estado na economia e que auxiliou na recuperação econômica norte-americana. 2 A expressão "laissez-faire" representa um princípio defendido pelos economistas mais liberais, que defende que o Estado deve interferir o menos possível na atividade econômica e deixar que os mecanismos de mercado funcionem livremente.

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Gráfico 1 - Desemprego nos Estados Unidos (1929-1942)

Fonte: Atlas de História Geral

A Crise de 1929 também afetou o Brasil, uma vez que os Estados Unidos

eram os maiores compradores da produção cafeeira nacional; todas as partes

envolvidas na cadeia produtiva do café foram afetadas, desde o trabalhador rural

aos comerciantes e banqueiros. Com a forte queda da demanda pelos Estados

Unidos, a oferta de café no mercado nacional aumentou em escala considerável,

desencadeando a queda nos preços desta commodity3, que na época

representava cerca de 70% do total das exportações brasileiras.

Com o intuito de que não houvesse excessiva desvalorização, o governo

brasileiro comprou e queimou toneladas de café, diminuindo assim a oferta e

permitindo conseqüente manutenção do preço no mercado interno. Esta

manipulação do preço era ilusória, pois a economia cafeeira perdia forças desde

antes da Crise.

3 Commodity é um termo proveniente da íngua inglesa que significa mercadoria. É utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária, ou com pequeno grau de industrialização, que possuem cotação e possibilidade de negociação globais.

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Sobre certo aspecto, a desvalorização do café foi positiva para a economia

brasileira no sentido de induzir o governo do presidente Getúlio Vargas4 a adotar

medidas que buscassem o equilíbrio da balança comercial. Até então, o Brasil

exportava produtos primários e importava produtos manufaturados. A estratégia

do governo para enfrentar a crise estava baseada na substituição das

importações, através do estímulo ao desenvolvimento das indústrias locais e da

intervenção do Estado na economia.

De acordo com o economista Celso Furtado5 (1920-2004), embora a

economia cafeeira estivesse em decadência, dela advinham os recursos

necessários à impulsão para a industrialização brasileira, além de favorecer a

criação de um mercado interno para os produtores nacionais. Esta política

econômica também foi favorecida por fatores externos, como a criação do New

Deal e das idéias Keynesianas6 de atuação do Estado no estímulo às atividades

econômicas.

1.2 – As Crises do Petróleo

A história do petróleo inicia-se a meio do século XIX, com o invento da primeira perfuradora de rochas em 1849. Dois anos mais tarde é criada a primeira companhia petrolífera, a Pennsylvania Rock Oil7, e ainda na década de 50 é descoberto o método de destilação do petróleo em gasolina e outros derivados e é realizada a primeira perfuração de petróleo em níveis comerciais. (ClubeInvest, 2003).

4 Getúlio Vargas tornou-se presidente do Brasil em 1930, após comandar a Revolução de 30 que depôs o então presidente Washington Luís. Ocupou a Presidência nos períodos de 1930-1945 e 1951-1954, adotando uma política nacionalista, de forte centralização política. 5 Celso Furtado, economista e ex-ministro brasileiro, autor de Formação Econômica do Brasil (2007). 6 As Teorias de John Maynard Keynes, mais conhecidas como Teorias Keynesianas, foram muito

influentes na reformulação da política de livre mercado; propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária em função das forças do mercado. 7 A empresa Pennsylvania Rock Oil fora incorporada por E.B. Bowditch e E.L. Drake, que posteriormente formaram a Seneca Oil Company of Connecticut.

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A descoberta do óleo chamado petróleo, dos estudos que possibilitaram o

seu refinamento e, conseqüentemente, a diversificação na sua utilização que

ocasionaram o surgimento de uma sociedade desenvolvida com forte consumo

dos mais diversos bens produzidos a partir dessa matéria prima.

O petróleo se transformou em assunto político e a energia passou a integrar

a política pública, uma vez que o setor energético foi o mais desenvolvido a partir

de tal prática. Os poços eram explorados e produziam barris a plena capacidade

uma vez que a demanda mundial solicitava isso. Para exemplificar o grau de

dependência dos países pela matéria prima, os Estados Unidos importavam um

terço do que necessitavam para consumo interno.

As nações produtoras expressivas na época se organizaram e fundaram a

OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo8, com o intuito de

coordenar e unificar as políticas petrolíferas, que até então eram descentralizadas,

e transformá-las em ações benéficas que viessem a respeitar tanto os interesses

individuais quanto coletivos dos países integrantes.

De certa maneira, pela influência que o produto exercia sob as demais

nações, a OPEP passou a ser o principal grupo a nível mundial que suas ações

determinavam o curso dos acontecimentos econômicos dos países do ocidente.

Após a Segunda Guerra Mundial e até o início dos Anos 70, o crescimento

da economia capitalista vinha sendo longo e contínuo. A criação do Sistema

Bretton Woods9, no Pós Guerra em 1944, estabelecera as regras, instituições e

8 A saber: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kwait (Oriente Médio) e Venezuela (América do Sul). 9 Acordo assinado em julho de 1944, por representantes de 44 países do mundo então em guerra, em Bretton Woods, New Hampshire - EUA, com o intuito de se definir uma Nova Ordem Econômica Mundial. Segundo o acordo, as moedas dos países membros passariam a estar ligadas ao dólar variando numa estreita banda de +/- 1%, e a moeda norte-americana estaria ligada ao Ouro a US$ 35. Assim, o dólar passou a ser a moeda forte do sistema financeiro mundial e os países membros utilizavam-na para financiar os seus desequilíbrios comerciais, minimizando custos de detenção de diversas moedas estrangeiras. Durante 20 anos o Sistema Bretton Woods

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procedimentos, para as relações comerciais e financeiras entre os países mais

industrializados do mundo, com a missão de regular a política econômica

internacional. Esse sistema funcionou dentro dos padrões até o ano de 1971,

quando o então presidente dos EUA Richard Nixon10 abandonou o sistema

padrão-ouro.

A pressão sobre desvalorização do dólar manteve-se, entretanto mesmo

após a abertura dos mercados cambiais ao câmbio flutuante – cujo valor era

determinado diariamente. Criou-se um problema até então não existente e que

tinha efeito sobre a mais importante matéria-prima a nível mundial: o petróleo.

A Crise do Petróleo da década de 1970 está dividida em duas grandes

crises: a primeira aconteceu em meio a disputas palestinas e israelenses; a

segunda, quando da deposição do ditador iraniano Xá Reza Pahlevi.

No primeiro momento, em 1973, os Estados Unidos, por auxiliarem Israel

na Guerra dos Seis Dias11, sofreram o bloqueio da importação do produto por

parte dos produtores então organizados através da Organização dos Países

Produtores de Petróleo.

[...] A II Guerra Mundial desorganizou a indústria do carvão, que era a principal fonte energética antes do petróleo. Como os Estados Unidos não tinham mais condições de atender sozinhos às crescentes demandas por petróleo da Europa e Japão, por ocasião do boom econômico do pós-guerra, quando estes países estavam reconstruindo suas economias, o Oriente Médio passou então constituir uma solução para esta escassez relativa.12

funcionou como previsto, porém na segunda metade da década de 1960 começaram a surgir problemas derivados da degradação das finanças norte-americanas e, em agosto de 1971, foi anunciado o fim do Acordo e da convertibilidade do dólar em ouro. 10 Richard Nixon fora presidente dos Estados Unidos no período de 1969 a 1974. 11 É conhecida por A Guerra dos Seis Dias a guerra que confrontou Israel e os seguintes países árabes: Egito, Jordânia e Síria, com o apoio do Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Sudão e Argélia, ocorrida após a disputa pelo controle do Canal de Suez, na qual Israel incorporou territórios palestinos e determinou as fronteiras hoje existentes. 12 O Brasil e o choque do petróleo (1974-1979). Disponível em: <http://pt.oboulo.com/o-brasil-e-o-choque-do-petroleo-1974-1979-29730.html>. Acesso em: 31 Março 2012.

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A matéria prima petróleo que antes da crise era comercializada em torno de

US$ 4 o barril e controlado pelos Estados Unidos da América chegou a valer

aproximadamente US$ 40 (em 1974) e US$ 80 (em 1979) a mesma quantidade

agora regido pela OPEP. Com isso, as taxas de crescimento antes em

exponencial positivo caíram substancialmente, provocando recessão em muitos

países ao redor do mundo.

A primeira crise do petróleo que ocorreu em 1973, acabando com o

chamado “milagre econômico brasileiro” que ocorria desde 1967, período de

grande desenvolvimento nacional propiciado pelo enorme volume de entrada de

capital estrangeiro no país. À época, o Brasil estava na transição entre os

governos do pelo general Emílio Garrastazu Médici – que utilizou investimentos

externos para financiar o crescimento do PIB brasileiro, gerando uma dívida

externa muito elevada em relação aos padrões que o país suportava – e do

general Ernesto Geisel, que lidou com o legado da crise do petróleo e

conseqüente recessão mundial.

No segundo momento, em 1979, com a saída do Xá Reza Pahlevi do poder

do Irã em conseqüência da revolução Islâmica liderada pelo Aiatolá Kohmeini,

houve paralisação da produção de petróleo iraniana, elevando o preço médio do

barril em nível mundial.

Gráfico 2: Preço médio anual do petróleo

Fonte: Federal Reserve

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1.3 – A Crise Mexicana

As últimas semanas foram marcadas pelos desdobramentos da crise mexicana. Os principais efeitos no Brasil foram sentidos nas bolsas de valores, cujos índices despencaram frente à saída de recursos de investidores externos e resgate de investidores internos. O câmbio pouco se moveu e os juros que se esperava que caíssem foram mantidos estáveis dada a conjuntura externa incerta. (GARCIA, 1995).

A Crise Mexicana prenunciou o fim de uma fase de sucesso do

neoliberalismo. O México fora o primeiro país emergente a passar por profunda

crise financeira na década de 1990. Provocada basicamente por déficits em conta

corrente no balanço de pagamentos, crescimento inexpressivo do produto interno

bruto e volume de reservas internacionais baixo. A crise gerou desconfiança em

todos os mercados financeiros dos países em desenvolvimento e ficou mais

conhecida como “efeito tequila”, em referência à tradicional bebida nacional

mexicana.

O então Presidente, Ernesto Zedillo13, juntamente com sua equipe,

desenvolveu plano de emergência para conter a crise que assolava o país. Entre o

conjunto de medidas acertadas entre governo, trabalhadores e empresários,

estavam: ajuste fiscal, ampla abertura comercial, descompensação financeira e

livre movimentos de capitais, privatização das empresas estatais e

desregulamentação e eliminação de subsídios e incentivos.

A mudança da paridade de um dólar para 3,46 pesos (registrada antes da desvalorização de 15%, em 19 de dezembro) até atingir mais de seis pesos por dólar em poucos dias resultou na perda de US$ 10 bilhões para os investidores estrangeiros e mexicanos. Daí ocorreu a espetacular fuga de capitais noticiada pela imprensa. As reservas cambiais mexicanas, que atingiam no início de 1994 mais de US$ 25 bilhões, chegaram a somar no final de dezembro

13 Ernesto Zedillo ganhou as primeiras eleições democráticas do México moderno, governado entre 1994 e 2000.

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menos de US$ 6 bilhões, impedindo assim a desvalorização do peso até acumular perdas superiores a 60%. (DIEESE, 2002).

Somadas às medidas anteriormente citadas, o Presidente mexicano buscou

ajuda em organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional – FMI

– e com os governos dos EUA, Canadá e Japão. Essa ajuda é considerada como

a maior de caráter financeiro concedida a um só país desde o Plano Marshall,

após a II Guerra Mundial, ainda segundo análise do DIEESE.

A crise revelou intensa dependência de financiamento externo à qual o país

de submetia, assim como as desvantagens em termos de prazos, volatilidade,

natureza e destinação dos seus recursos nacionais. Apenas com a ajuda dos

Estados Unidos e do FMI o país conseguiu recuperar-se daquela que foi

considerada por economistas a primeira crise em um mercado financeiro mundial

livre e globalizado.

1.4 – A Crise Asiática

Contrastando com o período de crescimento rápido e econômico pelo qual

a região da Ásia vinha se desenvolvendo, a Crise Asiática, também conhecida

como a Crise dos Tigres Asiáticos em referência a como os países que compõem

a região são conhecidos no cenário mundial, não se restringiu a apenas uma área

do país, diferentemente do ocorrido no México, por exemplo.

Originária na Tailândia em meados do ano de 1997, a então crise

desencadeada na Ásia iniciou quando os investidores estrangeiros identificaram

tanto o enorme déficit na conta corrente do país quanto o veloz aumento da sua

dívida externa, o que resultou em uma fuga em massa de capital da região.

Bancos comerciais e de investimentos da região asiática buscavam maior

rentabilidade em produtos considerados de baixo risco. A combinação de baixas

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taxas de juros, crescimento mundial acentuado e liquidez em abundancia

resultaram em freio ao contínuo desenvolvimento asiático.

Henrique Altemani Oliveira, em seu trabalho intitulado “A Crise Asiática e a

China”14 identifica quatro pontos centrais para descrever o cenário: 1) O excessivo

investimento externo, identificando a região asiática como atrativa para

investimentos; 2) Inadequada supervisão financeira, com regras bancárias

obsoletas; 3) Excessiva confiança no mercado, apoiada por um conjunto de

agências internacionais, banqueiros e investidores; e 4) Política, revelação de

limitações na estrutura política da região.

A crise acarretou em perda de reservas, repentina fuga de capital

estrangeiro e um aumento de juros internos na região. As medidas adotadas pelo

governo foram, entre outras, o bloqueio da oferta de dinheiro, condenando o país

à estagnação. As suas conseqüências foram mais intensas nos países

classificados como emergentes, como o Brasil, por exemplo.

A situação na Ásia só começa a se resolver com a grande operação de

apoio do FMI, que, com uma ampla ajuda de bancos internacionais, ajuda os

países afetados a se reerguerem.

Em pronunciamento em 12 de novembro de 1997, o então Ministro da

Fazenda Pedro Malan15 analisa as conseqüências da recessão, estagnação e

deflação asiática para o território brasileiro quando questionado por que o Brasil foi

afetado por um clima geral de desconfiança:

À luz do novo contexto internacional em crise, os déficits em conta corrente e fiscal do Brasil passaram a ser vistos como extremamente elevados. [...] Do mesmo modo, existe a percepção de que o déficit em conta corrente brasileiro é elevado face a outros países que não sofreram desvalorização de suas moedas. A combinação dessa percepção com outros fatores (instabilidade

14 Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/textos/oliveiracriseasiatica.pdf>. Acesso em: 25 Mar 2012. 15 Pedro Malan foi Ministro da Fazenda no Governo de Fernando Henrique Cardoso, no período de 1995-2002.

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na Bolsa de São Paulo, uma das maiores entre os mercados emergentes, oscilações no mercado de Bradies16 brasileiros no exterior, boatos sobre dificuldades que certas instituições financeiras brasileiras estariam enfrentando, a visão de que as reformas não progridem no Brasil) levou a uma concentração maior de atenção no Brasil e gerou dúvidas quanto à preservação da política cambial do Governo brasileiro. (MALAN, 1997).

Ainda na mesma entrevista, Malan também anuncia os dados positivos do

Brasil na perspectiva de balanço de pagamento no período (1997), como o

crescimento das exportações brasileiras e diminuição do déficit acumulado,

contrariando previsões pessimistas feitas por muitos analistas internos e externos

no início daquele ano.

1.5 – A Crise de 2008

[...] O sistema financeiro internacional está cambaleando. Apesar das injeções financeiras e diminuição de juros, não se conseguiu acalmar os mercados. Os EUA estão vivendo realmente uma crise bancária. Esta foi iniciada devido à descontrolada concessão de créditos hipotecários [...] Os mercados mostraram mais uma vez que a economia é determinada por ciclos e que o crescimento não é infinito. (BBC apud Deutsche Welle, 2008).

Como todo ciclo econômico, nas últimas décadas, a economia norte-

americana vinha exaltando sua confiança nas políticas macroeconômicas. No

cenário econômico, todos os setores estavam prosperando, havia uma espécie de

empolgação contagiante; não existia o sentimento de preocupação com uma

iminente crise.

16 Bradies são títulos que foram emitidos a partir de 1994 por países emergentes na renegociação de suas respectivas dívidas externas.

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22

Para o Brasil – excluindo-se o choque de 2008 – trata-se do ciclo mais

longo de investimentos nos últimos 30 anos, segundo Ernani Torres17, ex

economista-chefe do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social –

BNDES. Toda essa euforia seria fortemente abalada pela Crise naquele ano.

A crise econômica e financeira de 2008 – com início nos Estados Unidos

em março de 2007, também ficou conhecida como a crise do subprime18,

modalidade de empréstimos de segunda linha naquele país. A princípio, foi

considerada como uma crise no mercado imobiliário norte-americano, e mais tarde

transformou-se em uma crise em nível mundial nos mercados de ações, de

câmbio e de crédito.

Depois da Grande Depressão ocorrida no ano de 1930, a Crise de 2008

tem sido considerada pela maioria dos economistas a mais grave crise financeira

já acontecida. É assim vista por ter acometido a principal economia da atualidade,

os Estados Unidos da América – EUA, e tomado proporções mundiais, mais uma

vez. Analistas indicam que essa crise poderia ter sido evitada se os ensinamentos

deixados pelas crises antecessoras, de menor porte, não tivessem sido ignorados

– “[...] os riscos crescentes de crise no sistema financeiro na economia como um

tudo foram ignorados ou descartados.” (KRUGMAM, 2009, p. 172).

Essa crise financeira global desperta interesses por ser reconhecidamente

a mais intensa e relevante crise desde a Grande Depressão, já que se achava que

os problemas dos ciclos econômicos, a alternância irregular entre recessões e

expansões, característicos no modelo capitalista, haviam sido resolvidos pela

política macroeconômica moderna.

17 O economista Ernani Torres foi superintendente da área de pesquisa e acompanhamento econômico do BNDES no ano de 2009. 18 Todo empréstimo deve ser classificado quanto ao risco inerente ao tomador do dinheiro e sua capacidade de honrar com os débitos. Subprimes são empréstimos avaliados como de risco maior de entrar em inadimplência por serem concedidos a pessoas que não conseguem comprovar capacidade de pagamento, têm histórico de inadimplência ou não são pontuais, entre outros motivos.

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[...] ninguém estava preparado seja para a eclosão, poucos anos depois, de nova crise na Ásia, no estilo tequila, seja para a ineficácia de nova operação de controle, também no estilo tequila. Estávamos ainda menos preparados para a crise global que irrompeu em 2007. (KRUGMAN, 2009, p. 56).

Paul Krugman19, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2008, afirma

que o mundo como um todo, até os próprios economistas, em função da grande

entusiasmo no crescimento econômico que se vinha vivenciando, deixou de lado

os erros aprendidos com as crises anteriores, de certa forma permitindo o

acontecimento de uma nova crise com proporções como a ocorrida em 1930.

Embora a crise tenha atingido fortemente os Estados Unidos e a Europa em

2008, no Brasil, as suas conseqüências foram tardias e pouco sentidas em

comparação aos demais países. No terceiro trimestre de 2008, o PIB crescera

6,8% além das projeções iniciais. De acordo com o presidente do Banco Central

Henrique Meirelles20, o país entrou na crise munido de recursos da ordem de US$

205 bilhões em reservas internacionais, sem os quais as medidas adotadas não

teriam efeito.

A retração no Brasil deu-se após a quebra do banco Lehman Brothers, que

provocou uma paralisação gradativa do sistema financeiro mundial e reduziu

drasticamente a concessão de financiamentos por parte de bancos estrangeiros.

Como 19% da oferta de crédito eram provenientes do exterior, desencadeou-se

uma restrição de crédito em cadeia, gerando crise de liquidez e retração

econômica puxada pelo setor industrial. A estratégia do Banco Central foi agir

sobre as causas: “[...] liberou os compulsórios retidos pelos bancos e ofereceu

linhas de crédito em dólares para compensar a falta momentânea de dinheiro

19 Paul Krugman, além de ganhador do Prêmio Nobel de Economia no ano de 2008, é professor de Economia e Relações Internacionais na Universidade de Princeton. Também se destaca como autor ou editor de vinte livros e de mais de duzentos trabalhos em periódicos profissionais. 20 Henrique de Campos Meirelles foi presidente do Banco Central do Brasil, desde o início do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003 até 01/01/2011.

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externo. [...] Contribui também a atuação dos bancos públicos, ampliando os

empréstimos.”, disse Meirelles sobre o diagnóstico e a ação do país perante a

crise.

A estratégia foi bem sucedida e o crédito logo voltou a fluir no país; a crise

permaneceu muito restrita e não causou aumento no nível de desemprego. A

posição brasileira diante a crise fora considerada no exterior como sendo

privilegiada.

Um ano após o colapso do banco de investimentos Lehman Brothers, o

presidente do Banco Central dos Estados Unidos – Federal Reserv (Fed) – Ben

Bernanke, declarou que a recessão enfrentada pelo país provavelmente estava

acabada, mas que ainda assim a economia norte-americana permaneceria frágil

por algum tempo, com provável influência na geração de empregos. Vale ressaltar

que, em função da crise, o índice de desemprego atingiu o mais elevado nível em

26 anos, chegando a uma taxa de 9,7%.

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CAPÍTULO II

O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O Sistema Financeiro Brasileiro pode ser entendido como o conjunto de instrumentos, mecanismos e instituições que asseguram a canalização da poupança para o investimento, ou seja, dos setores que possuem recursos financeiros superavitários para os desejam ou necessitam de recursos (deficitários). (CVM, 2010).

2.1 – O desenvolvimento do Sistema Financeiro Nacional

O primeiro banco brasileiro – O Banco do Brasil – foi fundado no ano de

1808, por Dom João VI. No entanto, será abordado um período mais recente,

representado por marcante período de desenvolvimento da economia brasileira.

Economicamente, até os anos de 1930, o Brasil era um país agrário e

exportador, cuja matriz estava baseada no cultivo cafeeiro. Com a Crise de 1930,

esse modelo econômico sofre ruptura, comprometendo a capacidade de

importação de praticamente toda a América Latina, inclusive a do Brasil. Essa

situação acaba fazendo com que o modelo de desenvolvimento brasileiro se

voltasse “para dentro do próprio país”, estimulando a produção interna, até então

praticamente inexistente, prática conhecida como substituição de importações.

Para que esse modelo de substituição de importações fosse bem sucedido,

o Governo buscou adotar medidas que neutralizassem os efeitos da crise mundial,

criando medidas de controle e de restrição às importações e elevação das taxas

de câmbio, além de se comprometer a adquirir os excedentes e o estoque da

produção cafeeira interna. Tais medidas fizeram com que a renda dos brasileiros

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deixasse de ser quase que exclusivamente proveniente do café e passasse a ser

mais diversificada.

A prática da substituição de importações vai favorecer a expansão e o

desenvolvimento da economia interna, de forma que haja diminuição da

dependência excessiva das exportações de produtos primários provocada pelo

desenvolvimento da indústria nacional.

A partir da década de 1950, verifica-se a necessidade de crescimento

calcado em infraestrutura e novos investimentos. Essa demanda fora respondida

com a criação do Plano de Metas a partir de 1956, que priorizava cinco setores

elencados como prioritários à época: transportes, energia, indústria de base,

alimentação e educação. Em paralelo, a intensificação do fluxo migratório

proveniente do campo em direção às cidades fez com que a demanda por

investimentos em urbanização fosse mais forte.

O forte processo de urbanização então deflagrado acabou por refletir no

setor terciário, ampliando a capacidade de mão de obra e a quantidade de

serviços ofertados, e fazendo com que o comércio também se desenvolvesse para

atender à nova população urbana.

A partir deste novo cenário econômico brasileiro, completamente

transformado e não mais dependente da plantação cafeeira e das exportações

primárias, fazia-se necessário também o desenvolvimento do mercado de

intermediação financeira, até então bastante incipiente.

Mesmo apesar de a economia brasileira experimentar profundas mudanças,

o Sistema Financeiro Nacional ainda possuía estrutura simples, que não

acompanhava o ritmo de desenvolvimento do país. Até então, o Sistema

Financeiro era basicamente um sistema bancário monetário, baseado apenas em

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bancos comerciais privados e oficiais, caixas econômicas e cooperativas de

crédito. Opções de financiamentos de médio e longo prazo, tão necessárias ao

desenvolvimento econômico e industrial, eram praticamente inexistentes.

Essa limitação do Sistema Financeiro Nacional, que dificultava a própria

capacidade de financiamento do poder público e impedia um maior crescimento do

país, precisava ser revista. A expansão econômica não era acompanhada da

internacionalização dessa atividade; havia um forte controle estatal no sentido de

dificultar a entrada de bancos estrangeiros, já que era definido como um setor

nacional estratégico. Desde então, o sistema financeiro brasileiro sofreu várias

reformas, de forma que houvesse um estreitamento do Brasil com o Sistema

Financeiro Internacional.

2.2 – A Reforma Bancária de 1964 e a Criação do Banco Central

do Brasil

Em 1964, através da Lei no 4595 de 31/12/1964, foi criado o Banco Central

do Brasil, que passaria a funcionar a partir de abril do ano seguinte. A Lei no 4595

promoveria uma importante reforma no sistema bancário brasileiro, criando a

figura do banco central propriamente. Antes da reforma, o papel de banco central

fora exercido por um banco comercial – o Banco do Brasil – até 1945, e pela

Superintendência da Moeda e do Crédito – a SUMOC – cuja direção era realizada

por um Conselho ligado ao Ministério da Fazenda.

De acordo com Barbosa (1993) e Almeida (1998, p. 31), até então, a

SUMOC era responsável pela formulação da política monetária, porém o controle

da execução era dividido entre vários órgãos: a) Banco do Brasil, através de suas

carteiras de Redesconto (CARED) e de Câmbio e Comércio Exterior (CACEX); b)

Caixa de Mobilização Bancária (CAMOB), administrada por diretor da CARED; e

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Caixa de Amortização, do Ministério da Fazenda, que emitia moeda quando da

solicitação da CARED ou da CAMOB, depois da devida autorização da SUMOC.

Ainda nesse período, O Banco do Brasil exercia funções tanto de banco

central, através de sua carteira de redescontos, quanto de banco do governo,

através de sua carteira de crédito geral.

A partir da Reforma Institucional de 1964/65, no contexto da necessidade

de uma reforma monetária e financeira, o Sistema Financeiro Nacional sofrerá

profundas mudanças, com a criação do Conselho Monetário Nacional – CMN – e

do Banco Central do Brasil – BCB. Com essa reforma bancária, fica

regulamentado o mercado de capitais e cria-se o Banco Nacional da Habitação –

BNH – que fará a gestão do Sistema Brasileiro de Pagamentos – SBPE.

Através da criação destas instituições, o governo busca incrementar o saldo

da poupança, criando assim mecanismos de adequação de financiamentos a

atividades econômicas, permitindo maior controle monetário e garantindo a

remuneração dos ativos e aproximação do sistema financeiro internacional.

Essa aproximação foi consolidada com a institucionalização da Resolução

no 63 em 1967, que permitia que os agentes financeiros instalados no país

pudessem contratar empréstimos no exterior e repassá-los internamente. Essa

ponte entre os sistemas doméstico e mundial propiciou a especialização financeira

e a ampliação da internacionalização do sistema financeiro brasileiro, sem perder

o controle nacional sobre as instituições que compunham o sistema interno. A

dinâmica do capital produtivo do Brasil vai ser essencial à internacionalização

financeira e à inserção do país na economia mundial.

A projeção internacional dos bancos brasileiros dar-se-á na década de 70,

quando o capital estrangeiro passa a ter maior participação no sistema financeiro

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nacional e os bancos brasileiros se projetam no mercado externo. A busca por

novos mercados está relacionada aos ciclos de desenvolvimento econômico

nacionais e, também, da dinâmica mundial. Num primeiro momento, até 1978, “a

expansão dos bancos brasileiros foi um eixo de sustentação do crescimento

econômico internacionalizado” (BAER, 1986, p. 57). A partir de 1979, a captação

de recursos externos torna-se o principal eixo do processo de projeção

internacional das instituições bancárias brasileiras.

Desde então, pode-se verificar a importância da relação entre os sistemas

financeiros para a economia. As rápidas mudanças no cenário mundial têm

provocado profundas alterações nas instituições e na dinâmica de intercâmbio

mundial. A abertura da economia ganhou força e a maior exposição ao mercado

internacional pode ser verificada pela ampliação de exportações e da

intensificação dos fluxos de comércio e capitais.

No tocante aos sistemas financeiros, a interconexão acelerou os ajustes

mútuos, tornando as instituições financeiras mais suscetíveis às regras

internacionais; acordos internacionais estabelecem padrões internacionais de

adequação de capital vêm exercendo grande influência sobre os bancos e

mercados.

De acordo com Sanchez (1999, p. 17),

A globalização resultou numa explosão no volume dos fluxos de capital internacional, [...] Como resultado, as transações financeiras internacionais têm crescido a um ritmo muito mais rápido que o do próprio comércio mundial.

Neste contexto de globalização e grande competição entre organizações, a

internacionalização das empresas é importante para assegurar e expandir

mercados de bens e serviços. Além disso, os benefícios da internacionalização

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não se restringem às empresas, mas ao país como um todo em função do

aumento das exportações, geração de divisas e acesso a novas tecnologias.

A partir deste cenário, pode-se perceber que há uma forte correlação entre

as economias nacional e internacional e políticas interna e externa. Nos dias de

hoje, não é possível dissociar tais práticas, assim como não se pode afirmar que

um país é tão forte econômica e politicamente que esteja blindado ou não seja

suscetível a fatores externos.

Atualmente, o Sistema Financeiro Nacional brasileiro é dividido em dois

Subsistemas: Subsistema de Supervisão21 e Subsistema de Operação22. O

primeiro subsistema tem como função editar normas que definam parâmetros para

a transferência de recurso dos poupadores aos tomadores e controlar o

funcionamento das instituições e entidades que efetuem atividades de

intermediação financeira. Tem em sua composição: o Conselho Monetário

Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o Instituto

de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil RE) e as Instituições Especiais (Banco do

Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal).

O segundo subsistema tem como função operacionalizar a transferência de

recursos do poupador para o tomador, de acordo com as regras estabelecidas

pelas entidades integrantes do Subsistema de Supervisão.

É neste último subsistema – de Operação – que se encontram as

Instituições Financeiras Bancárias ou Monetárias, compostas pelos bancos

comerciais, caixas econômicas, cooperativas de crédito, bancos cooperativos e

bancos múltiplos com carteira comercial, o Sistema Brasileiro de Poupança e

21 Para maiores informações, visitar www.portaldoinvestidor.gov.br. 22 Para maiores informações, visitar www.portaldoinvestidor.gov.br.

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Empréstimos (SBPE) e instituições não financeiras e auxiliares. Toda a atuação

das instituições integrantes deste subsistema tem como característica principal a

relação de subordinação ao estabelecido pelo CMN e pelo BCB, que integram o

Subsistema de Supervisão.

2.2.1 – Características do Banco Central do Brasil

Conforme visto anteriormente, o Banco Central do Brasil foi criado pela Lei

no 4.595 de 31 de dezembro de 1964. É uma autarquia federal vinculada ao

Ministério da Fazenda, com atuação em todo o território nacional, cuja missão é

“assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro

sólido e eficiente.”.23

O Regimento Interno do BCB define em seu Título I, Art. 2º:

O Banco Central tem por finalidade a formulação, a execução, oacompanhamento e o controle das políticas monetária, cambial, de crédito e derelações financeiras com o exterior; a organização, disciplina e fiscalização doSistema Financeiro Nacional; a gestão do Sistema de Pagamentos Brasileiro e dos serviços do meio circulante.

Dentre as competências privativas ao Banco Central, destacamos24:

a) Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e da

solidez do Sistema Financeiro Nacional;

b) Formular a política monetária mediante utilização de títulos do Tesouro

Nacional;

c) Fixar a taxa de referência para as operações compromissadas de um

dia, conhecida como taxa SELIC; 23 Disponível em www.bcb.gov.br. 24 Disponível em www.bcb.gov.br.

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d) Controlar as operações de crédito das instituições que compõe o

Sistema Financeiro Nacional;

e) Formular, executar e acompanhar a política cambial e de relações

financeiras com o exterior;

f) Fiscalizar os bancos comerciais;

g) Emitir papel-moeda;

h) Executar os serviços do meio circulante para atender a demanda de

dinheiro necessário às atividades econômicas;

i) Adequar o volume dos meios de pagamento à real capacidade da

economia;

j) Manter o nível de preços (inflação) sobre controle;

k) Manter sobre controle a expansão da moeda e do crédito e a taxa de

juros;

l) Executar o sistema de metas para a inflação;

m) Divulgar as decisões do Conselho Monetário Nacional;

n) Manter ativos de ouro e de moedas estrangeiras para atuação nos

mercados de câmbio, objetivando a manutenção da paridade da moeda

nacional;

o) Regular o mercado de câmbio;

p) Administrar as reservas internacionais brasileiras;

q) Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras nacionais.

A partir destas atribuições e características, considera-se o Banco

Central como “o banco dos bancos”.

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CAPÍTULO III

A ECONOMIA BRASILEIRA DURANTE A CRISE DE 2008: A

GESTÃO DA CRISE

O significado de Gestão está intrinsecamente ligado à ciência da

Administração. Podemos entender gestão como gerenciamento, administração,

seja de uma empresa ou uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou

administrada. O objetivo da gestão é de crescimento, através do esforço humano

organizado, com objetivos específicos. A prática da gestão está associada à

capacidade de mobilizar recursos, traçar planos, programar o trabalho e estimular

esforços, sendo “fundamental para a realização dos propósitos do homem, seja a

missão de acabar com a fome e a miséria, comandar uma indústria, produzir um

musical ou organizar uma ação social”25.

A aproximação com a Administração também possibilita uma interligação

do conceito de Gestão com a Administração Pública, abrangendo mandatos

políticos e a própria administração de um país. Para o presente estudo, o termo

“gestão” será utilizado para demonstrar o modo como foi administrada a Crise de

2008 pelos representantes do povo brasileiro, as medidas e providências de cunho

político e econômico tomadas durante a Crise, os artifícios utilizados naquele

período.

25 A inovação em gestão, em Gestão 2.0. Disponível em: <http://www.modelosdegestao.com/>. Acesso em 04 Ago 2012.

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3.1 – Como a Crise de 2008 afetou o Brasil

“Estou muito confiante quanto à crise americana. Se ela chegar aqui. Lá (nos Estados Unidos) ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar.” (Presidente Luís Inácio Lula da Silva, 2008).26

Nos anos que antecederam a Crise de 2008, o mundo assistiu muitas crises

internacionais, e que abalaram a economia brasileira, entre elas a Crise Mexicana

e 1995, a Crise Asiática em 1997 e a Crise Russa em 1998. Naquele tempo, o

Brasil praticava o regime de câmbio fixo, o déficit público era bastante elevado e a

dívida pública extremamente dolarizada. Não havia um crescimento sustentável e

tais condições provocavam fortes paradas de ingresso de capitais no país.

Em todos os episódios aqui relatados, a intervenção do Banco Central na

economia fazia-se necessária. Havia severa necessidade de elevação da taxa real

de juros, de forma a evitar a fuga maciça de capitais e, conseqüentemente, a

instauração de uma crise cambial. Como tentativa, elevou-se a taxa Selic27, em

termos reais, de 25,9% em 1995 para 38,6% em 1997. Mesmo assim, o

desempenho do crescimento econômico era pífio e, em 1998, tal prática não mais

seria suficiente para evitar a crise cambial. O Brasil fora então obrigado a rever

sua política econômica, aderindo ao regime de câmbio flutuante. A partir desta

situação, ficava claro que o país era bastante vulnerável ao contágio de crises

externas.

26 Entrevista concedida em 04/10/2008, na cidade de São Bernardo do Campo/SP, após participar de carreata ao lado de candidato a prefeito daquela cidade. 27 A taxa Selic é um instrumento primário de política monetária do Copom – Comitê de Política Monetária. É a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo de um dia útil (overnight), lastreados por títulos públicos registrados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). O Copom estabelece a meta para a taxa Selic, e cabe à mesa de operações do mercado aberto do Banco Central manter a taxa Selic diária próxima à meta. Ela foi criada em 1979 para tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos.

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A crise deflagrada em 2008 só encontrava precedentes na Crise de 1929, e

a sua repercussão econômica seria tão severa quanto àquela ocorrida na quebra

da Bolsa de Nova Iorque. Assim como no Crash, a crise no sistema bancário dos

Estados Unidos provocou quedas generalizadas nas bolsas de todo o mundo,

além de gerar muitas dúvidas sobre a economia global. Entretanto, diferentemente

das experiências com as crises que se sucederam, o impacto sobre a economia

brasileira seria relevante, porém limitado.

Existem dois principais canais através dos quais a economia brasileira é

afetada em 2008: o do encolhimento dos fluxos de capitais – de quem o país

depende para manter os déficits nas contas correntes necessários à manutenção

da taxa de crescimento elevada – e o dos preços internacionais das commodities

– determinante da velocidade de elevação das exportações. Quando se expõe

esses canais, são verificados impactos nos créditos, na Bolsa, na cotação do

dólar, no comércio exterior, nas exportações e na economia real, no crescimento

do país.

A falta de crédito é uma das principais vias de contágio da crise

internacional. Naquele momento havia menos dinheiro circulando no mercado e,

como medida de cautela, os bancos em todo o mundo restringiram seus

empréstimos, além de passarem a cobrar um preço mais alto – juros mais

elevados que os já praticados – por seus empréstimos. A escassez de crédito

mundial, fez com que a maioria dos bancos brasileiros captasse recursos no

exterior a taxas mais altas, contribuindo para o impacto nas taxas de juros

cobradas aos brasileiros. A queda na oferta de crédito afetaria pessoas físicas e a

capacidade de investimento das empresas nacionais, e também afetou o

planejamento de investimentos no Brasil por parte de empresas estrangeiras.

O impacto na Bolsa brasileira – a BOVESPA – foi verificado nas sucessivas

quedas de seu índice, que acumulou perdas em torno de 25% nos três primeiros

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trimestres daquele ano. As perdas só não foram maiores dado o limitado tamanho

da bolsa brasileira, que, embora possua grande volume de dinheiro negociado,

possuía quantitativamente menos de um quarto de empresas se comparado à

Bolsa de Nova Iorque, além de concentrar quase 40% dos negócios em grandes

empresas como a Vale e a Petrobras.

Em relação ao dólar, a moeda americana voltou a se valorizar após

recordes de quedas experimentados no mês de julho daquele ano. A sua

valorização era benéfica aos exportadores, tornando-os mais competitivos no

comércio internacional. Ao mesmo tempo, a alta trazia reflexos para o controle da

inflação.

No campo do comércio exterior, o Brasil vinha de uma seqüência de cinco

anos de grandes superávits comerciais e crescente aumento dos valores vendidos

no exterior. De acordo com o Banco Central, as exportações brasileiras em 2003

totalizaram US$ 73 bilhões; em 2007, esse total crescera para US$ 160 bilhões.

Destaca-se também o superávit recorde de mais de US$ 46 bilhões no ano de

2006. É consenso que parte do aumento verificado é proveniente da alta de

preços dos produtos brasileiros no mercado externa, não devendo ser creditado

apenas à venda de mais produtos. Com a queda do crescimento mundial, o

comércio internacional regrediu, assim como as exportações brasileiras.

No tocante às exportações, o impacto não foi o mais forte pelo fato de que

o setor exportador correspondia a aproximados 14% do PIB brasileiro. Além disso,

o comércio com diferentes países e uma pauta de exportação diversificada, com

produtos manufaturados correspondendo a mais de 50% das vendas, contribuíram

para que a exposição deste canal fosse de menor relevância. Nesse caso, os

principais afetados seriam as empresas exportadoras.

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O crescimento econômico do país vinha se mantendo num ritmo anual de

7% no terceiro semestre de 2008. Com a quebra do banco Lehman Brothers, que

provocou uma paralisação gradativa do sistema financeiro mundial o crescimento

caiu para uma taxa anual de 2% já no primeiro semestre de 2009. O mercado de

trabalho também foi afetado de forma significativa, com corte de 700 mil empregos

formais nos dois últimos meses do ano, o que representou uma perda 3,6 vezes

maior do que nos mesmos meses do ano anterior.

3.2 – A gestão da Crise

A crise financeira e econômica global desencadeada em 2008 se

aprofundou no segundo semestre daquele ano e seus efeitos foram sentidos em

praticamente todos os países ou regiões do globo. As primeiras indicações eram

de que o Brasil responderia de maneira positiva àquele choque e à recessão para

a qual o mundo se encaminhava.

Apesar do cenário anteriormente descrito parecer assustador ao primeiro

contato, a avaliação feita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em

seu relatório “Brasil: Uma estratégia inovadora alavancada pela renda”, lançado

em março de 2011, traz outra perspectiva – a de uma crise diferente, conforme

demonstram os gráficos abaixo. Trata-se de uma visão otimista, de certa forma, da

economia brasileira durante o período da crise.

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Gráfico 2: PIB 2009 – variação em relação a 2008

Fonte: Revista Veja – Edição 2130

De acordo com o gráfico acima, o PIB brasileiro no ano de 2009 sofreu uma

pequena redução quando comparado ao mesmo período de 2008, involuindo 1,8%

no primeiro semestre. Os Estados Unidos, país onde a crise se iniciou, o Japão e

as economias da chamada Zona do Euro foram severamente afetados, chegando

a uma queda de 8,8% em relação ao ano anterior. Ficou demonstrado que

economias até então consideradas fortes eram suscetíveis a novas crises e não

estavam economicamente blindadas a fatores externos.

A gestão da crise estava calcada em diagnosticar corretamente o que

ocorria nos cenários externo e interno, avaliando os impactos que ocorreriam na

economia brasileira, e agindo de forma a eliminar os focos de contágio da crise no

país de forma que os efeitos sensibilizassem o mínimo possível nossa economia.

De acordo com o ex presidente do Banco Central Henrique Meirelles, “aqui a crise

chegou tarde e foi embora cedo”. Ele completa que a situação brasileira perante a

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crise só foi favorável em função de avanços obtidos nos últimos 15 anos e em

razão da atuação eficaz do governo.

Após a crise de 1999 na Rússia, o governo brasileiro procurou fortalecer

seus fundamentos macroeconômicos e permaneceu aprimorando seu sistema de

proteção social. O desenvolvimento brasileiro dependia de um regime

macroeconômico que garantisse um ambiente propício à poupança e

investimentos de longo prazo; eram necessárias taxa de juros e inflação baixas e

previsíveis.

Esses objetivos só seriam alcançados pelo governo através da utilização de

dois instrumentos: política monetária, de competência do Banco Central, e política

fiscal, de competência do Ministério da Fazenda. Para execução da política fiscal,

o Brasil possui a Lei de Responsabilidade Fiscal, sua estrutura jurídica e

institucional. Para a execução da política monetária, fazia-se necessário dar

autonomia ao Banco Central, buscando a estabilidade monetária.

A partir desta autonomia, a condução da política monetária brasileira

tornou-se mais eficiente. A combinação do regime de metas para a inflação e do

cambio flutuante, atrelados a uma contínua política de geração de resultados

primários e redução da dívida pública proporcionou a consolidação da estabilidade

macroeconômica experimentada nos anos anteriores à crise.

De acordo com Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central do

Brasil, essa combinação possibilitou que o país avançasse em outras áreas,

permitindo a criação de “condições para um processo de inclusão social e

financeira sem precedentes”. Um aumento significativo da oferta de serviços,

inclusive financeiros, aliado à estabilidade macroeconômica e à ampliação do

emprego e da renda permitiram a expansão sustentável do crédito no país.

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Tombini também destaca que durantes os últimos anos foi observado um

processo contínuo de aperfeiçoamento de nossa regulação prudencial, da

regulamentação bancária e um fortalecimento da supervisão das instituições

financeiras. Tais fatores teriam sido de suma importância para que o Brasil

pudesse perpassar aquela crise financeira e econômica.

Mário Mesquita e Mario Torós consideram:

Nesse contexto, o BC tomou medidas visando promover alívio da constrição de liquidez e manteve as decisões de política monetária voltadas para seu objetivo macroeconômico, qual seja o de promover a convergência da inflação para a trajetória de metas. Note-se, inicialmente, que tal postura seguiu o princípio da separação, isto é, a segmentação entre política monetária e gestão de liquidez, que é conceito bem estabelecido no arcabouço operacional dos bancos centrais. (...) Assim sendo, o BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) adotaram uma série de medidas de gestão de liquidez em resposta à natureza cambiante dos problemas no sistema. (2010)

O principal efeito da crise que contagiou a economia brasileira foi

intensamente sentido no mercado de crédito doméstico, que, a partir de setembro

de 2008 começou a sofrer uma retração. Os bancos praticamente cortaram o

crédito para empresas e pessoas físicas, em virtude das incertezas do momento

quanto à honra de dívidas de clientes e das próprias instituições financeiras de

menor porte.

É neste momento que o Governo passa a interferir diretamente na

economia e responde a este efeito com um conjunto de iniciativas para restaurar a

liquidez econômica, que englobavam instrumentos de política monetária creditícia

e cambial. O Banco Central ficou a cargo da execução de várias das iniciativas, de

forma a cumprir as diretrizes governamentais imediatas de solucionar a questão

da liquidez econômica.

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Dentre as medidas adotadas pelo BCB, destacam-se:

a) Prorrogação do prazo para implementação do aumento do percentual

dos depósitos compulsórios das empresas de leasing em setembro/08,

ficando para janeiro e março de 2009;

b) Redução do percentual de recolhimento compulsório sobre depósitos à

vista e a prazo e de exigibilidades adicionais que incidem sobre

depósitos à vista, a prazo e poupança, entre setembro e dezembro/08,

aumentando a disponibilidade de recursos para empréstimos nas

instituições financeiras;

c) Mudança na regra dos recolhimentos compulsórios dos depósitos a

prazo, com o aumento do percentual de recursos passíveis de utilização

pelos bancos para a compra de carteiras de crédito de outros bancos,

estimulando grandes bancos a comprarem carteiras de outros de

pequeno e médio portes, em outubro/08;

d) Criação de uma linha de assistência à liquidez, que permitia que o BCB

adquirisse carteiras de crédito de instituições financeiras, permitindo que

o Banco Central pudesse ajudar àquelas instituições que enfrentassem

problemas de liquidez;

e) Autorização ao Banco do Brasil e à CAIXA para aquisição, de forma

direta ou indiretamente, de participação societária em empresas

públicas ou privadas ligadas ao Sistema Financeiro, reforçando a idéia

de instrumentos de viabilidade das políticas governamentais que os dois

bancos citados exercem, em outubro/08;

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f) Instituição do Recibo de Depósito Bancário – RDB – com a garantia

especial do Fundo Garantidor de Crédito – FGC – como tentativa de

estimular os empréstimos no sistema interbancário ou a compra de

carteiras de créditos por parte dos grandes bancos, o que,

posteriormente, auxiliará no retorno da liquidez interbancária, em

março/09.

g) Sob comando da diretoria do Banco Central, o Copom – Comitê de

Política Monetária – diante da ameaça de recessão, inicia uma série de

cortes da taxa de juros Selic em suas reuniões, saindo de 13,75% em

dezembro de 2008 para o patamar de 8,75% em setembro de 2009;

h) Garantia da manutenção do estoque de reservas internacionais através

de leilões de dólares à vista com o compromisso de posterior recompra

pelo próprio BCB;

i) Venda de dólares no mercado à vista no período de outubro/08 a

fevereiro/09, de forma a conter a cotação da moeda em relação ao Real;

j) Disponibilização de linhas de financiamento para exportações a partir

das reservas internacionais, além de linhas de crédito em dólar para

financiamento da dívida externa de empresas nacionais;

k) Redução do Imposto sobre Operações Financeiras – IOF – que incidiam

sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e sobre transações

cambiais ligadas à entrada e saída de empréstimos no exterior,

chegando a 0,0% em março/08.

Aliadas às medidas adotadas na política monetária, o Governo instituiu

como medida da política de crédito e financeira a utilização de seus três principais

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bancos públicos federais BB, CAIXA e BNDES28 como agentes viabilizadores de

suas políticas para expansão do crédito. Ao contrário dos bancos privados, o

crédito nestas instituições foi extremamente estimulado, sendo fundamental à

manutenção da oferta de crédito à população e às corporações.

Para dar impulsão à atividade econômica, o Governo também criou um

pacote de estímulo fiscal, a o custo de 1,2% do PIB do país em 2008,

aproximados US$ 20,6 bilhões, valor esse considerado pequeno quando

comparado aos estímulos oferecidos pelas demais economias – no mesmo

período, a China oferecera pouco mais de 12% de seu PIB em 2008 em estímulos

fiscais.

O pacote de estímulos aprovado pelo governo era composto por: i)

aumento dos gastos governamentais em infraestrutura, através da ampliação do

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)29 e da criação do Programa

Minha Casa, Minha Vida30, melhorando a perspectiva de crescimento a longo

prazo; ii) redução de impostos, incluindo redução do Imposto de Renda sobre

Pessoa Física favorecendo a classe média, redução do IOF para operações de

crédito direto ao consumidor e redução temporária do Imposto sobre Produtos

Industrializados; iii) subsídios à Agricultura, através da redução de empréstimos ao

setor, e ao BNDES, através da capitalização do banco; iv) transferências aos

Municípios, incluindo transferências orçamentárias extraordinárias aos governos

28 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 29 O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo Governo Brasileiro em janeiro de 2007, é um programa governamental com três objetivos principais: aumentar o investimento do governo em infraestrutura, estimular o investimento privado e remover os principais obstáculos ao crescimento econômico (burocracia, normas inadequadas e regulação). 30 O “Minha Casa, Minha Vida”, anunciado pelo governo em março de 2009, é um programa de habitação formulado para subsidiar construções habitacionais de baixa renda. Em geral, o Programa acontece em parceria com estados, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos.

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locais; v) proteção social, através da expansão do Bolsa Família31 e da

prorrogação do Seguro Desemprego em mais dois meses para trabalhadores cujo

setor de atividade econômica foi afetado de forma mais grave pela recessão.

Além de todas as medidas anteriormente citadas, foram utilizadas políticas

direcionadas aos setores que mais foram afetados pela crise, dentre as quais se

destacam: i) acesso ao crédito e benefícios fiscais para as pequenas e médias

empresas, que correspondem a cerca de 98% das empresas nacionais e

respondem por 22% do PIB nacional; ii) ampliação da oferta de linhas de crédito

para o setor da construção civil, tanto para as empresas quanto para as famílias;

iniciativas de fomento ao crédito rural para a Agricultura; iii) oferta de novas linhas

de crédito para a Indústria.

Todas as medidas supra elencadas tomadas para a gestão da crise

ajudaram a possibilitar a manutenção e a geração de novos empregos, além de

estimular a produção industrial. Registra-se também como a elaboração de

políticas adequadas fora essencial à gestão da crise econômica e financeira que

sensibilizou o mundo no biênio 2008-2009, principalmente.

31 Programa de transferência condicional de renda que busca reduzir a pobreza e a fome e melhorar o desenvolvimento social por meio de uma transferência direta de renda a famílias pobres e extremamente pobres.

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CONCLUSÃO

O presente estudo buscou analisar as medidas tomadas pelo Governo

brasileiro para gerir a crise econômica e financeira iniciada no ano de 2008 nos

Estados Unidos e que, posteriormente, contagiaria diversas economias e regiões

do globo.

A bibliografia consultada e as pesquisas realizadas demonstram que a crise

em voga equipara-se apenas à Crise de 1929, conhecida como o Crash da bolsa

de Nova Iorque, que atingiu praticamente todas as economias existentes à época.

Contudo, apesar da intensidade em que ocorrera nos Estados Unidos e em países

participantes da União Européia, a crise teve conseqüências mais brandas no

Brasil.

Mesmo com histórico de grande sensibilidade às crises ocorridas no

cenário internacional, o país vinha procurando se fortalecer no pós crise de 1999,

buscando consolidar suas políticas macroeconômicas e aprimorar seu sistema de

proteção social, medidas estas que acabaram ampliando a capacidade de

resistência a futuros choques externos. Pode-se destacar também o cenário

econômico favorável no momento inicial da crise.

A administração dos fatores críticos e a condução da crise foram

extremamente importantes. Ainda que criticado por ter agido supostamente de

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forma tardia, verificou-se que a gestão da crise fora bem feita, a partir de um

correto diagnóstico dos focos de contágio no país e de escolhas sábias que os

neutralizassem ao máximo.

O estudo não se trata de alusão a um ou outro partido político, ou mesmo a

um governante específico, mas sim do reconhecimento da boa gestão empregada

pelo Governo brasileiro em um momento de crise e recessão econômica mundial.

As estratégias adotadas pelo Brasil para mitigar os efeitos da Crise de 2008

colocaram em evidência a solidez da economia e do Sistema Financeiro Nacional,

transpondo pré conceitos existentes em relação ao potencial do país.

Atualmente, o Brasil se encontra na posição de credor internacional,

posição esta bem diferente de alguns anos atrás, e que permite projetar o país no

cenário internacional de uma forma mais imponente e desafiadora. A gestão da

crise demonstrou ser possível enfrentar ameaças e fatores externos de maneira

efetiva e rápida, com crescimento econômico sustentado. E, felizmente, a

“marolinha” não deu para esquiar.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

CRISES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS QUE

AFETARAM O MUNDO NOS SÉCULOS XX E XXI 10

1.1 – A Grande Depressão, 1929 10

1.2 – As Crises do Petróleo 14

1.3 – A Crise Mexicana 18

1.4 – A Crise Asiática 19

1.5 – A Crise de 2008 21

1.2.1 - Fator psicológico 15

1.2.2 - Estímulo e Resposta 17

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CAPÍTULO II

O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 25

2.1 – O desenvolvimento do Sistema Financeiro Nacional 25

2.2 – A Reforma Bancária de 1964 e a Criação do Banco

Central 27

2.2.1 – Características do Banco Central do Brasil 31

CAPÍTULO III

A ECONOMIA BRASIELRIA DURANTE A CRISE DE 2008:

A GESTÃO DA CRISE 33

3.1 – Como a Crise de 2008 afetou o Brasil 34

3.2 – A gestão da crise 37

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

ÍNDICE 51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO