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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ERA UMA VEZ ... A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 4 A 6 ANOS. Por: Regina Fatima de Siqueira Muniz Orientador Prof. Edla Trocoli Niterói 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ERA UMA VEZ ...

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 4 A 6 ANOS.

Por: Regina Fatima de Siqueira Muniz

Orientador

Prof. Edla Trocoli

Niterói

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ERA UMA VEZ ...

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL COM CRIANÇAS DE 4 A 6 ANOS.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Educação

Infantil e Desenvolvimento. Por Regina Fatima de

Siqueira Muniz.

.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por

estar sempre ao meu lado me dando

força e saúde para enfrentar essa difícil

jornada. A minha família que em

momentos que precisei estar ausente

foram compreensivos e me apoiaram,

em especial minha filha que me ajudou

diretamente neste trabalho. À amiga

doutoranda Regina do Vale que teve

participação efetiva na elaboração e

construção deste estudo, sempre com

muita boa vontade, carinho, disposição

e competência. A todos, sem exceção

que de uma forma ou de outra deram

sua preciosa contribuição. Muito

obrigada!

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família

que sempre me apoiou com sua

compreensão e carinho. Às amigas de

turma do curso de Educação Infantil e

Desenvolvimento que através da troca

de experiências, conhecimentos e

materiais, contribuíram na elaboração

deste trabalho. Aos professores que

proporcionaram a aquisição de novos

conhecimentos. A todos que me

incentivaram!

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RESUMO

A contação de histórias tem se perdido ao longo dos tempos. Nas

instituições de ensino nem todos os professores utilizam no cotidiano esta

prática. Neste contexto, a presente pesquisa objetiva evidenciar o valor e

benefícios das histórias no processo de desenvolvimento cognitivo, afetivo e

social das crianças de 4 a 6 anos de idade, mostrando o valor das obras

literárias dirigidas ao público infantil, o encanto dos contos de fadas, sua

influência na formação do sujeito e a brincadeira divertida com as palavras

através da poesia; através de uma análise mais profunda, tem como finalidade

dar subsídios teóricos, a fim de conscientizar os profissionais da Educação

Infantil a utilizarem a contação de histórias diariamente, explorando todas as

possibilidades, estando atentos às necessidades da criança, visando contribuir

para sua formação geral.

Palavras-chave: contação de histórias; educação infantil; contos de fadas; poesia; brincadeiras.

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METODOLOGIA

O presente estudo procura comprovar os benefícios da contação de

histórias para o desenvolvimento integral da criança, por meio de pesquisa

bibliográfica e de práticas vividas em sala de aula.

Para a comprovação desse trabalho foi baseado no estudo das

concepções de Bruno Bettelheim, reconhecido em todo mundo como um dos

maiores psicólogos infantis; Vygotsky; Nelly Novaes Coelho; Lúcia Pimentel

Goés; Sonia Kramer, Ana Teberosky e outros. Constitui também, como fonte

de pesquisa o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e

revistas pedagógicas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................08

I - Educação Infantil: Breve histórico................................................................11

II - Influência da Literatura Infantil na formação do aluno leitor/autor ...............17

2.1 - Conta outra vez! Eu quero ouvir outra vez!.....................................20

III - Literatura antes de tudo prazer...................................................................22

3.1 – O livro como brinquedo..................................................................25

3.2 – O professor contador de histórias..................................................27

IV - Gêneros literários e seus encantos.............................................................31

4.1 – O mundo fascinante dos contos de fadas......................................32

4.2 – Poesia: brincadeira inteligente.......................................................36

4.2.1 – Poesia: jogos e brinquedos musicais...............................41

CONCLUSÃO....................................................................................................44

ANEXO..............................................................................................................46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................50

ÍNDICE...............................................................................................................52

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................53

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INTRODUÇÃO

Ouvindo histórias podemos perceber sentimentos importantes, como:

amor, alegria, tristeza, raiva, irritação, medo, segurança, insegurança, pavor,

tranquilidade, liberdade entre muitas outras sensações.

Para a criança que está em formação, tudo isso é vital pois, a partir daí,

ela poderá estabelecer relações com os seus sentimentos e a sua forma de

pensar e agir, criando o seu próprio inventário moral, elaborando questões que

a angustiam, estabelecendo pontes entre o possível e o imaginário.

A literatura infantil oferece um leque inesgotável de possibilidades para o

desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança. Através da Contação de

Histórias, o livro é oferecido a ela e como um “abre-te-Sésamo”, portais são

abertos para o mundo mágico da imaginação e criatividade, onde a semente

para o gosto da leitura é lançada, aproximando-a do mundo letrado.

Entretanto, muitas vezes, percebemos um distanciamento dessas

vivências cotidianas nas salas de aula e um certo despreparo do principal

agente desse processo que é o professor.

Sabedores da relevância dessa prática, esse projeto visa analisar com

mais profundidade os benefícios da Contação de Histórias na Educação

Infantil. O procedimento utilizado para desenvolver as abordagens teóricas, foi

a pesquisa bibliográfica de autores variados que contribuíram para o

enriquecimento do estudo desenvolvido.

Para tanto, no 1° capítulo foi feito um rápido passeio pela trajetória da

Educação Brasileira, com suas lutas e conquistas, mostrando o avanço da

legislação que têm contemplado de forma significativa a infância. A valorização

da criança sendo reconhecida como ser social, respeitando sua individualidade

e características. Mudanças que levam a análise das atuais ações educativas

levando a novas atitudes.

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O 2° capítulo leva à reflexão sobre a formação do leitor, abordando a

influência da Literatura Infantil para a aquisição da leitura e escrita, numa

dimensão ampla, abrangendo aspectos para que esse processo seja

proficiente, possibilitando à criança o domínio real de práticas de leitura.

Mostrando que antes mesmo de aprender a ler a criança é considerada leitora.

Daí a importância de um contato desde a Educação Infantil, com suportes de

leitura diversificados e lúdicos, destacando a prática de contação de histórias.

O 3° capítulo trata da problemática referente ao uso da Literatura Infantil

prioritariamente como ferramenta didática, mitigando o valor da obra literária,

cerceando as possibilidades e o direito da criança usufruir plenamente de todos

os benefícios e fascínio oferecidos pelo livro com suas histórias, dando a ela

uma visão ofuscada sobre a leitura, prejudicando o seu desenvolvimento, pois

o prazer de ler é o caminho para um aprendizado mais eficaz, apresentando o

livro como brinquedo, que proporciona divertidas aventuras. Em sequência é

feita uma abordagem sobre o papel do professor nesse processo, sua

importância, preparo, conscientização como mediador que realmente faça

diferença.

Continuando, no 4 ° capítulo foi enfocado o mundo mágico dos contos

de fadas e da poesia. Revelando que os contos vão muito além de entreter e

divertir, pois falam ao âmago do coração, descortinando o mundo interior com

suas complexidades e conflitos. Numa abordagem prática, com exemplos de

poesias que trabalham eficientemente com a linguagem da criança de forma

divertida e envolvente.

Este trabalho irá fornecer ao leitor a constatação da importância da

utilização da contação de histórias na Educação Infantil, remetendo ao

profissional da educação a reflexão do seu decisivo papel e de suas ações

educativas nesse universo de encanto, levando-o a construção de um novo

olhar.

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“Ah, como é importante para a formação de qualquer

criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o

início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter

um caminho absolutamente infinito da descoberta e de

compreensão do mundo...” (ABRAMOVICH, 1989, p.16)

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CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO INFANTIL

BREVE HISTÓRICO

Ao longo dos anos a Educação Infantil tem percorrido um caminho de

muitas lutas e incessantes trabalhos em busca da conscientização, valorização

e legitimidade.

Em 1875 no Rio de Janeiro e em 1977 em São Paulo, foram criados os

primeiros jardins de infância de cunho privado, destinados apenas as crianças

de famílias de classe alta, tendo como base pedagógicas concepções de

Friedrich Froebel. (OLIVEIRA, 2002)

Com o crescimento da industrialização, o que provocou maior

participação das mulheres no mercado de trabalho, houve o aumento a procura

do serviço das instituições de atendimento à primeira infância.

O número de creches cresceu realizando atendimento de caráter

assistencialista e acabavam sendo consideradas como depósitos de crianças.

Não era levado em consideração as peculiaridades dos pequeninos. Os

profissionais que ali atuavam não tinham especialização e eram vistos como

cuidadores de crianças.

A partir dos anos 70, a importância da educação na primeira infância é

reconhecida pelas políticas públicas. Os governantes começaram, aos poucos,

a ampliar o atendimento em especial das crianças de 4 a 6 anos de idade

(KRAMER, 1993). No entanto, essa educação não era assegurada pela

legislação educacional.

Na década de 80, pesquisadores da área da infância, organizações não

governamentais, comunidades acadêmicas e outros segmentos se mobilizaram

a fim de sensibilizar a sociedade e parlamentares sobre o direito da criança a

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uma educação de qualidade, assim o engajamento desses movimentos

possibilitou na Assembléia Constituinte, a inclusão da creche e da pré-escola

no sistema educativo, assegurado na Constituição brasileira de 1988, o direito

da criança à educação: [...] “O dever do Estado para com a educação será

efetivado mediante a garantia de oferta de creche e pré-escolas às crianças de

zero a seis anos de idade.”

A partir da promulgação desse momento constitucional, as creches e

pré-escolas passaram a ter responsabilidade da educação da primeira infância,

tendo efetivamente de desenvolver um trabalho educacional.

Pouco tempo depois, em 1990, esse mesmo direito é discutido e

ampliado com a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA). A criança brasileira passa a ser reconhecida como um ser social, que

precisa de amparo e proteção.

Com a consolidação das conquistas apresentadas a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDBN – nº 9394, de 20 de dezembro de 1996),

insere a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica. LDBN -

Título V, Capítulo II, inciso II, Artigo 29.

“A educação infantil, primeira etapa da educação básica,

tem como finalidade o desenvolvimento integral da

criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológicos, intelectual e social, complementando a ação

da família e da comunidade.”

O CEE/RJ, através da Deliberação nº 308 de 23 de outubro de 2007,

publicada no D.O. em 06 de janeiro de 2008, no uso de suas competências e

fundamentado na Lei Estadual nº 5.039, de 12 de junho de 2007; na Emenda

Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 200; no Parecer do CFE/CEB nº

6/2005, de 08 de junho de 2005; na Lei nº 11.114, de 01 de maio de 2005; na

Lei nº 11.24, de 06 de fevereiro; na Resolução CNE/CEB nº 03, de 03 de

agosto de 2005; no Parecer CNE/CEB nº 18/2005; na Lei nº 10.172, de 09 de

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janeiro de 2001; na Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996; na Constituição

Federal, “considerou a idade cronológica de 06 (seis) anos completos,para

ingresso no Ensino Fundamental, não é uma medida aleatória, pois acredita

numa ação pedagógica em relação à importância educativa e formativa no

desenvolvimento integral das crianças da Educação Infantil.” (DEL.CEE/RJ

nº308, 23/10/2007). O citado CEE contesta através dessa Deliberação a prática

que vem ocorrendo do encurtamento da Educação Infantil prejudicando o

desenvolvimento integral da criança até os 06 (seis) anos de idade. Esse texto

legislativo educacional destaca ainda:

[...] “que a Educação Infantil, em particular a pré-escola,

trabalha sobre os conceitos espontâneos que são

formados pela criança em sua experiência cotidiana, no

contato com as pessoas de seu meio, de sua cultura, em

confronto com uma situação concreta e que os conceitos

científicos sistematizados não são diretamente acessíveis

à observação ou ação imediata da criança, sendo

adquiridos por meio do ensino, como parte de um sistema

organizado de conhecimentos mediante processos

deliberados de instrução escolar;”

[...] “que o encurtamento da Educação Infantil, que vem

na prática ocorrendo pela tendência a se apressar a

alfabetização e por se pretender que a pré-escola muito

se assemelhe ao Ensino Fundamental, não é procedente,

pois pode, com esse movimento prematuro, comprometer

a criança em seu desenvolvimento;”

No Artigo 2º, Deliberação CEE/RJ nº 308, de 23 de outubro de 2007,

estabelece:

“Todas as crianças que completarem 06 (seis) anos até o

primeiro dia do corrente ano letivo previsto no calendário

de cada escola têm direito à matrícula no primeiro ano do

Ensino Fundamental e têm sua permanência garantida

nessa etapa pelo tempo mínimo de 09 (nove) anos.

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Parágrafo único – Antes dos 06 (seis) anos completos, a

criança deve ser matriculada na educação Infantil.”

Numa tentativa de atenuar o impacto da Deliberação CEE/RJ nº

308/2007, nos sistemas de ensino federal, estadual e municipal, o CFE/CEB,

através da Resolução nº 01 de 14 de janeiro de 2010, no seu Artigo 2º

estabelece: “Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança

deverá ter 6 (seis) anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em

que ocorrer a matrícula.”

Apesar do avanço da legislação em relação ao reconhecimento do

direito à educação da criança de tenra idade, é preciso que as conquistas

formais se tornem ações de fato. Sabemos dos inúmeros desafios para o

atendimento desse direito que precisa ser de qualidade, com profissionais

capacitados, planejamento e ambientes preparados através da socialização e

das brincadeiras, desenvolver suas potencialidades.

De acordo com a Constituição brasileira e com a LDBN (1996) no Título

IV, art. 11, inciso V, as creches e pré-escolas devem estar sob a

responsabilidade das Secretarias Municipais de Educação, onde as políticas

são definidas e as práticas executadas.

Entretanto as políticas públicas tem sido morosas em seus investimentos

e não conseguem se estruturar para fazer frente às mudanças. O governo

municipal alega necessidade de repasse financeiro para atendimento dessa

modalidade, dificultando o processo adiando medidas que efetivamente

beneficiam as crianças.

No entanto, continuamos tendo iniciativas que contemplam a criança

pequena.

Em consonância com a legislação, o Ministério da Educação, publica em

1998 o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil com a

finalidade de contribuir com sugestões de práticas pedagógicas eficientes,

alicerçado ao viés teórico específico da área em discussão, sendo um

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orientador a reflexões de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e

contextos didáticos para professores. Ele representa o avanço na busca de

estruturas a Educação Infantil, com uma proposta que integre o cuidar e o

educar. (RCN, 1998)

Ao analisarmos alguns fatos sobre a trajetória da Educação Infantil no

contexto histórico da educação brasileira, percebemos que lentamente a

educação da primeira infância vai saindo do anonimato e começa a construir

sua identidade e ganhar corpo enquanto modalidade de ensino. O novo olhar

surgido, alicerçados as concepções específicas a primeira infância, provoca

uma profunda reflexão descortinando e reorganizando as práticas educativas

desenvolvidas até a presente data.

Hoje sabemos que a criança participa da construção do seu

conhecimento como sujeito ativo, utilizando esquemas mentais referentes às

etapas do seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.

A educação para crianças deve promover a integração entre aspectos

físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, sociais e morais, respeitando sua

individualidade, considerando a diversidade e pluralidade na qual estão

inseridas. Piaget, Vygotsky, Wallon e outros que continuam sendo referências

básicas para conhecimentos profundos e esclarecedores sobre a ação

educativa infantil.

As práticas na Educação Infantil devem estar pautadas no

reconhecimento do outro, levando em consideração suas diferenças de etnia,

cultura, gênero, idade, religião, classe social... Favorecendo experiências com

o conhecimento científico e com a cultura com brinquedos, músicas, danças,

teatro, cinema, museus, interagindo o VER e o FAZER a luz do contexto

literário. Promovendo assim, formação cultural global incluindo o conhecimento

científico e a arte na vida cotidiana, assegurado o direito de aprender e de

brincar.

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[...] “Esse novo aprendiz é incorporado, ou seja, dotado de

um corpo, percebido em sua globalidade, introduzindo em

uma corrente de mudanças, dotado de uma identidade,

em constante transformação, jamais isolado dos outros,

definido como um ser social em interdependência com os

outros, atos e agente social cuja autonomia é socialmente

construída.” 1

Com a valorização da Educação Infantil acreditamos que muitos

problemas sociais poderão ser minimizados. É importante que o ambiente

escolar seja acolhedor, onde as crianças sejam tratadas sem discriminação

econômica ou racial. Onde os profissionais da educação sejam comprometidos

com a sua missão e com o educando, respeitem a história de vida de cada

criança.

A ludicidade deve estar presente em todas as ações com objetivos

claros e bem definidos. Atividades diversificadas que propiciem a imaginação, a

criativide e a aprendizagem. As músicas, brincadeiras de rodas e em especial o

encontro e encanto com o livro através da LITERATURA INFANTIL.

1 REVISTA PÁTIO. EDUCAÇÃO INFANTIL. ANO VI, nº 18, nov.2008/fev. 2009; p. 16.

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CAPÍTULO II

INFLUÊNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA

FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR/AUTOR

Um dos grandes problemas discutidos na atualidade se refere ao

analfabetismo funcional, terminologia recomendada pela UNESCO, segundo a

qual a pessoa apenas sabe ler e escrever, sem saber fazer uso da leitura e da

escrita no cotidiano ou seja, pessoas que lêem mas não interpretam, e isto tem

sido comum, é um fenômeno contemporâneo.

Há quem considere o ato de decodificar/codificar o único pressuposto

para o desenvolvimento da leitura, é preciso ir além da aquisição do código

escrito, é necessário perceber a função da leitura e da escrita nas práticas

sociais.

Naturalmente vivemos envolvidos num mundo de letras, imagens,

códigos e símbolos. Desde pequenos somos levados a entender esse universo.

Mesmo a criança não sabendo ler, vivencia e familiariza-se com a leitura e o

significado do que circula a sua volta, reconhece algumas siglas e consegue

identificar figuras e nomes de personagem apresentados por meios de

propagandas e de histórias ouvidas e reproduzidas. Cabe a escola ampliar e

organizar esses conhecimentos iniciais. Esse processo encontra terreno fértil

na educação infantil e deve ser estimulado pelo professor através de leitura de

diversos tipos de materiais mediados pela escrita. Livros, bilhetes, revistas,

jornais cartas, rótulos, receitas, etc. São suportes de leitura que permitem

colocar as crianças no papel de “leitoras” propiciando atividades que levem o

grupo a sentir como se faz a utilização da escrita em diferentes circunstâncias,

preparando-as para uma postura crítica diante da vida, sendo um agente

atuante na sociedade.

Emília Ferreiro (apud FARIA, 2007) compara o ato de ler a um instigante

mistério a ser desvendado, porém, a tradição dos procedimentos didáticos, leva

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a repetição de comandos já consagrados, sem uma reflexão de que essas

condições são insuficientes para que se vivencie plenamente a aquisição da

leitura e escrita, não atendendo adequadamente as demandas da atualidade. A

autora afirma:

[...] “As famílias de sílabas e os conjuntos de letras

reduzem o mistério a um simples treinamento e a

palavra se dissolve em fragmentos que destroem o

seu significado. Onde está a magia, o mistério, o

desafio a ser enfrentado? Onde está o objetivo de

conhecimento a ser conquistado?” (Ferreiro, apud

FARIA, 2007, p.67).

Muito se tem que aprender para haver apropriação da escrita, pois esta

não se limita a tornar “visível o que é audível.” Existem várias propriedades do

significante lingüístico, a escrita mantém somente algumas delas, é uma

representação da fala e como tal, não é perfeitamente igual ao objeto

representado, acaba omitindo detalhes que são indispensáveis para fazer com

que “o que foi dito” seja aceito conforme as intenções do falante.

Para Emília Ferreira (apud FARIA, 2007) os leitores precisam ser

“intérpretes”, isto se dá quando as práticas sociais de interpretação

transformam os sinais escritos em objetos linguísticos. Para isso é preciso que

como mediador haja um interpretante, no caso, o professor que introduz o

aluno nesse mundo de magia, onde a leitura em voz alta leva a um grande

espetáculo, na qual o mistério encontra-se escondido atrás dos sinais que

moram nas páginas dos livros. O leitor é um ator que empresta a sua voz e o

seu corpo, dando vida ao texto que não é seu, mas que ele reapresenta.

O interpretante é comparado a um ilusionista que tira da sua cartola

mágica, que é a sua boca, os mais incríveis objetos, que são as palavras e os

transformam em estimulantes e diferentes surpresas.

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A leitura precisa estar presente cotidianamente na Educação Infantil indo

muito além das possibilidades que a escrita nos propões com o favorecimento

de atividades que envolvam os pequeninos nas diversas formas de

conhecimento e reconhecimento do mundo como: a leitura do corpo, das

expressões artísticas, dos objetos pessoais... Oportunizando assim, inúmeras

alternativas de ler o mundo.

Permeando todo processo a roda de contação de histórias deve ser uma

prática do dia-a-dia. Combustível para imaginação, as histórias infantis liberam

o pensamento, facilitando um aprendizado significativo da leitura e escrita.

Quanto mais cedo a criança conviver com histórias orais e escritas,

maiores as chances de gostar de ler. No início ela escuta histórias lidas depois

conhece o livro como um objeto tátil e tenta compreender suas imagens. Antes

de ler o código escrito e de dominar o alfabeto a criança descortina o potencial

do poético, através da vocalidade do adulto contador.

De acordo com Teberosky e Colomer (2003), ao compartilharmos a

leitura de um livro com crianças pequenas, além de se criar uma atividade

prazerosa, importante momento de aprendizagem acontece, elas aprendem

que a linguagem dos livros tem as suas próprias comunicações, e que as

palavras podem criar mundos imaginários. Proporciona também o

desenvolvimento do vocabulário, bem como o reconhecimento da linguagem

escrita nos diversos portadores de texto. A leitura em voz alta leva a interação

entre aluno, professor e texto, a criança entra na história, reproduz respostas

verbais, imita o que foi escutado anteriormente, memoriza a história e assim

vão incorporando traços lingüísticos dos discursos escritos e iniciam o

entendimento das funções e da estrutura da linguagem escrita. É oportuno

lembrar que os Referênciais Curriculares da Educação Infantil (1998), faz o

seguinte destaque sobre esse conteúdo:

“A criança que escuta muitas histórias pode construir um

saber sobre a linguagem.” (p. 143).

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2.1- Conta outra vez! Eu quero ouvir outra vez!

As crianças quando gostam da história pedem para o leitor e intérprete

ler várias vezes a mesma história. Uma das justificativas desse comportamento

está no encanto em que elas ficam ao perceberem o contexto da história, daí

solicitarem a leitura e a releitura da mesma história. Isso significa o quanto

aprecia e reconhece o enredo e detalhes do texto, bem como antecipam a

seqüência e a emoção por ele provocado. Essas evidências mostram que para

a criança que ouve muitas histórias é viabilizada a construção de vários

conhecimentos sobre a linguagem escrita. E aprendem que as situações

registradas permanecem; que se pode voltar a elas e reencontrá-las a qualquer

momento; que as palavras não se perdem; não desaparecem; que a forma de

linguagem escrita é diferente da linguagem oral.

Pesquisas pedagógicas nos mostram que existem correlações positivas

entre a leitura de histórias para crianças em terna idade e o seu rendimento

escolar posterior.

Além das histórias, as poesias, parlendas, trava-línguas, quadrinhas

jogos de palavras, repetidos e memorizados levam ao conhecimento da forma

e os aspectos sonoros da linguagem, como ritmo e rimas. Brincam exatamente

com os campos fonéticos e semânticos da língua.

Utilizando elementos culturais, as crianças interagem, divertem-se e

partilham de uma cultura lúdica transmitida entre as gerações, como também a

segmentação de palavras e a complementação de versos dando novos

sentidos, enfim acabam vivenciando uma análise complexa da língua. Esses

exercícios espontâneos contribuem sobremaneira para o processo de

alfabetização via letramento.

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Com procedimentos conscientes que levem as crianças a conviver,

experimentar e a dominar práticas reais de leitura e escrita, gerações futuras

não mais farão parte da triste estatística daqueles que mecanicamente lêem

sem desfrutar dos benefícios da leitura. O mistério será desvendado, mas esse

será apenas um dos tantos que virão e tornarão a vida uma grande aventura.

A criança que participa do mundo letrado vivenciando movimentos de

leitura e escrita desde a 1ª infância, apresentará com facilidade as habilidades

de compreender e interpretar fatos e diferentes textos reconhecendo a sua

volta o significado desses textos, bem como a função social de cada um,

deverá apresentar um desenvolvimento pleno, linguístico, cognitivo, afetivo e

social, e um enriquecimento na expressão verbal, na organização do seu

pensamento, nas ações de construção do conhecimento, de forma lúdica,

apresentará facilidade em imaginar e abstrair.

“A Leitura e a escrita começa quando a criança fica

fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro

do livro. Pois não são as letras, as sílabas e as palavras

que fascinam. É a história. A aprendizagem da leitura

começa antes da aprendizagem das letras: quando

alguém lê e a criança escuta com prazer. Acho que as

escolas só terão realizado a sua missão se forem capazes

de desenvolver nos alunos o prazer da leitura. O prazer

da leitura é o pressuposto de tudo e mais. Quem gosta de

ler tem nas mãos as chaves do mundo”. (ALVES, 2004)

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CAPÍTULO III

LITERATURA ANTES DE TUDO PRAZER

Somente quando surge uma nova mentalidade a respeito da criança é

que começa o delinear da Literatura Infantil. Antes, as crianças participavam

desde bem pequenas, do mundo adulto e eram levadas a assumir atitudes

como tal. Consideradas “adulto em miniatura” sem características e

necessidades próprias, viviam uma realidade sem diferença entre a vida do

adulto e a vida da criança. (COELHO, 2000)

Não havia livros nem histórias dirigidas a elas, mas com o passar do

tempo, a concepção da infância e da literatura se modifica, surgindo à

necessidade de separar as vivências do adulto das vivências da criança.

Começa a haver adequação de textos ‘existentes’ para uma literatura para a

infância, adaptações são feitas nos clássicos, porém, com teor moralizante e

doutrinário. Narrativas das antigas tradições orais são reescritas e

readaptadas.

No Brasil as primeiras produções nacionais da Literatura Infantil

apresentavam intencionalidade pedagógica e funcionalidades sociais baseadas

em tendências européias com realidade bem diferente da nossa, então,

Monteiro Lobato abre caminho para que as inovações iniciem seu processo,

começa a escrever para a infância e aos poucos vai encontrando o seu estilo.

Fluente, objetivo e despojado conquista de imediato o pequeno leitor,

principalmente pelo humor lobatiano uma das grandes novidades de sua

literatura. Norteado pelas raízes locais, aborda questões nacionais e didáticas,

mas com enorme comprometimento com a diversão. No início via o mundo real

e o da fantasia completamente delimitado, com o decorrer do tempo, à medida

que vai escrevendo os limites entre o mundo real e o imaginário vão se

enfraquecendo, até desaparecerem totalmente. (COELHO, 2000)

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Abrindo novos caminhos, rompendo com a tradicional postura

pedagógica conservadora, torna-se referência e como era seu desejo

consegue fazer com que as crianças morem em seus livros, demonstrando

forte sentimento de irradiar através do seu trabalho o imenso prazer pela

leitura.

Goés (2010) ressalta que o ideal da literatura é deleitar, entreter,

instruir educar, sendo que o mais importante é o entretenimento. O prazer deve

envolver tudo o mais, não havendo arte que produza o prazer, a obra não será

literária e, sim, didática.

Torna-se temerário quando o lúdico é suplantado pelo didático,

tornando o livro cansativo, monótono sem atrativo. O aspecto literário precisa

sobrepor ao pedagógico, assim, naturalmente, a literatura estará promovendo o

alongamento do mundo infantil proporcionando aquisições nos aspectos

afetivos, cognitivos e sociais:

“A dimensão lúdica aberta pela literatura permite ao

receptor, criança, jovem ou adulto, a livre reflexão e

posterior ação sobre a realidade e uma atitude

espontânea para entrar e fazer parte do universo criado

pela palavra literária. Nessa perspectiva de liberdade,

importa colocar o quanto á literatura, especificamente a

Literatura para Crianças e Jovens, concorre para a

formação desse ser em desenvolvimento, pelo fascínio e

encantamento de transitar entre a realidade e a fantasia e,

como no jogo, propiciar uma “separação espacial em

relação à vida cotidiana” (GOÉS, 2010, p.71).

Além de Monteiro Lobato, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes

contribuíram fortemente para a renovação da Literatura Infantil Brasileira,

dando valor aos sentimentos da criança, ao imaginário e a beleza poética. Até

hoje continuam sendo ícones de um trabalho produtivo voltado para a criança.

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Atualmente, cresce o número de autores que perceberam o universo

infantil, enxergando a criança como um ser em formação, com suas

peculiaridades e necessidades, deixando para trás o modelo da criança

idealizada pelo adulto, levando em conta o seu espírito de liberdade, aventura

e imaginação próprias da vida infantil, sem deixar que a ficção perca o elo com

o real em troca de um mundo tido como ideal. Textos inovadores,

questionadores que levam os pequenos para o exercício da reflexão, com

abordagens que mostram a realidade atual, abrangendo aspectos sociais,

políticos e econômicos enfocados sob o prisma da fantasia, do mágico e do

lúdico, utilizando situações engraçadas e criativas, que facilitam a formação de

cidadãos conscientes e críticos.

Vários autores brasileiros, além dos já citados, têm alimentado de

maneira saudável e produtiva o imaginário de nossas crianças. Entre eles:

Ziraldo, Sylvia Orthof, Mírna Pinsky, Ana Maria Machado, Maria Clara

Machado, Eva Furnari, Nye Ribeiro, Ruth Rocha e outros. Seus livros divertem,

entretem, cutucam, sacodem e muitas vezes fazem cócegas no leitor.Sem

obrigatoriedade pedagógica as obras desses escritores, informalmente,

acabam alcançando esse alvo e a criança tira proveito muito além do que se

espera.

O ato de ler ou de ouvir, se transforma em um ato de aprendizagem.

Coelho (2009, p.31), apresenta a seguinte citação do autor Soriano,

completando a afirmativa anterior:

“Ela pode não querer ensinar, mas se dirige, apesar de

tudo, a uma idade que é a da aprendizagem e mais

especialmente da aprendizagem linguística. O livro em

questão, por mais simplificado e gratuito que seja,

aparece sempre ao jovem leitor como uma mensagem

codificada que ele deve decodificar se quiser atingir o

prazer (afetivo, estético ou outro) que se deixa entrever e

assimilar ao mesmo tempo as informações concernentes

ao real que estão contidas na obra [...] Se a infância é um

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período de aprendizagem, [...] toda mensagem que se

destina a ela, ao longo desse período, tem

necessariamente uma vocação pedagógica. A literatura

infantil é também ela necessariamente pedagógica, no

sentido amplo do termo, e assim permanece, mesmo no

caso em que ela se define como literatura de puro

entretenimento, pois a mensagem que ela transmite então

é a de que não há mensagem, e que é mais importante o

divertir-se do que preencher falhas (de conhecimento”).

Sabendo utilizar os diversos matizes oferecidos pela Literatura Infantil,

através da contação de histórias, o horizonte da criança será ampliado, janelas

se abrirão para aprendizagens e principalmente para o gosto pela leitura e ela

será contagiada pelo encantamento e pelo desejo de querer cada vez mais.

3.1 – O livro como brinquedo

Sabemos da dimensão que o lúdico tem para a aquisição de saberes, é

algo que acontece espontaneamente como conseqüência de um processo de

ações provocativas e motivadoras. Diretamente ligada ao interesse, não

necessitando de esforço para atuar em diversos campos que favorecem a

cognição infantil, facilitando o aprendizado.

A imaginação é construída pela ação de brincar. Para Vygostsky (1989)

a ação surge das ideias e não dos objetos. As crianças ressignificam objetos,

atribuindo a eles novos significados. Modificam a estrutura trivial do objeto

criando novas relações com as coisas. A brincadeira possibilita a utilização

simbólica dos objetos como signos executando com eles ações

representativas.

O livro atua diretamente no campo das ideias, colocando em ação a

imaginação. Objeto de prazer representa um mosaico de grandes ideias,

levando ao faz-de-conta, dando liberdade ao pensamento criativo. A

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brincadeira do “faz-de-conta” oportuniza a elaboração de forma simbólica da

satisfação de desejos e resolução de conflitos, preenchendo as necessidades

dos pequeninos, não existindo barreiras, sendo tudo possível. Elemento de

apoio à fantasia proporciona experiências que favorecem a compreensão de

atribuições e papeis, levando ao ajustamento do mundo, criando um novo tipo

de atitude em relação ao real.

A brincadeira do faz-de-conta ultrapassa a idéia de diversão e

entretenimento, revelando sua importância no desenvolvimento do

pensamento. As brincadeiras e as histórias desempenham papel fundamental

no desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança, possibilitando

exercício da concentração e o desabrochar de sua capacidade criadora.

O livro precisa ser para criança como um brinquedo divertido que

estimule as mais diversas aventuras. Com essa visão, surge no mercado

editorial uma nova tendência, livros com apelos estéticos apurados que

acionam os sentidos da criança. São apresentados com formatos variados,

materiais diversificados, animados por sons e curiosas texturas, montáveis ou

não, sempre interativos.

No artigo da revista Pátio (2010), é inserido tanto na categoria livro-

brinquedo pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ) quanto na

categoria livro pela Educação Infantil do Programa Nacional Biblioteca da

Escola (PNBE).

[...] Eles provocam ações ao entreter, comover, cativar,

divertir, surpreender. Autênticos sensoriais, convidativos,

revêem o lugar superficial e corrido do passar de páginas

pela viagem da exploração de um suporte sinalizador de

deleite e aproximação espontânea. [...] Sua principal

função é a apreciação da leitura como evolução dirigida

ao discurso, levando o leitor à ação não repetitiva nem

restrita, porém interpretada pelos usos experimentais de

um manuseio direto. Isso proporciona um tremendo ganho

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na percepção e na cognição, graças à acessibilidade que

nasce da criança que busca no livro um brinquedo

divertido, inventivo, original, e um tempo de fruição não

impositivo, enxergando no livro um objeto cada vez mais

natural, inserido no dia a dia tal como outros materiais

disponíveis no currículo escolar.2

Esses suportes de leitura estão “desinvestidos da autoridade do texto

didático”. Manuseáveis e brincáveis são folheados descompromissadamente

possibilitando a descoberta de registros e sensações, desmitificando desde

bem cedo, a leitura. Partindo do “brincar para o aprender”, geram aproximação

natural com o livro, tirando a criança do distanciamento e da obrigatoriedade de

ler, despertando e favorecendo, a formação de leitores de pouca idade;

preparando a criança para a chegada da literatura, com seus clássicos,

recantos, poesias, adivinhações, folclore, lendas, mitos, fábulas, cantigas,

quadras e desafios. A leitura se tornará assim, uma gostosa brincadeira. 3

3.2 – O professor contador de histórias

A contação de histórias não deve fazer parte esporadicamente na rotina

da educação infantil, bem utilizada, poderá ser a mola propulsora para o

desenvolvimento da criança, criando naturalmente oportunidades de

aprendizagem de forma ampla e abrangente. A roda de leitura estabelece

linhas muito mais positivas na ação educativa. Cabe ao professor, aproveitar

este importante instrumento.

Com a prática da “Hora do Conto”, todos saem ganhando, tanto alunos,

que são instigados a imaginar e criar, como o professor que vivência esta

maravilhosa experiência e constata o quanto é gratificante sentir a alegria e o

entusiasmo dos pequenos ao ouvir histórias contadas ou lidas.

2 REVISTA PÁTIO. EDUCAÇÃO INFANTIL. ANO VI, nº 24, jul/set. 2010; pp 13 e 14. 3 REVISTA PÁTIO - Idem.

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É importante acreditar que cada professor tem dentro de si um “contador

de histórias” apenas precisa encontrá-lo, despertá-lo e aprimorá-lo.

Lembrando-se sempre da necessidade de uma formação em contínua

progressão de excelência, e que assim como outras práticas a contação de

histórias deve ser encarada com seriedade e comprometimento. O preparo do

professor o levará ao domínio e segurança, expandindo suas ações,

aprimorando sua interpretação do texto, mas antes de tudo é preciso ser um

leitor e cultivar esse hábito.

Segundo Goés (2010) a leitura é a melhor ginástica e o maior exercício

para mente, aguça a inteligência refletindo no pensamento lógico o seu sentido

prático, apurando o poder de observação e percepção do fundamental.

O narrador é um agente que tem como função atuar e conduzir a

narração, ele pertence ao texto, fora deste, não existe. É responsável pela

dinâmica que concretiza a narrativa, dando vida aos personagens (COELHO,

2000) interpretando com destreza vária e diferentes papeis.

Para contar uma história é preciso vivê-la, conhecer bem o enredo

familiarizar-se com os personagens e o vocabulário; dar as pausas necessárias

na leitura; modular a voz, sussurrar quando preciso; criar intervalos, dando

tempo para o imaginário da criança construir seu cenário. Assim ela fará parte

da trama e conseguirá visualizar seus monstros, voar no tapete, subir no

foguete, pisar na lua, dando asas à imaginação. É interessante criar um clima

de envolvimento e de encanto, motivando a atenção e a curiosidade.

(ABRAMOVICH, 1989)

As crianças podem participar imitando animais, meios de transportes,

barulho de chuva, vento, tomando parte direta na história. Para efetivar todo

esse processo, o professor deverá conhecer bem os seus alunos, seus

interesses e seu contexto social.

Diferentes recursos poderão ser usados para enriquecer as histórias

como: fantoche, teatrinho de vara, blocão, dedoches etc. Porém o recurso mais

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importante é o próprio professor, que levará os alunos a viajarem na história,

integralmente envolvido e envolvendo sua platéia.

Previamente o livro deve ser bem lido, até se ter total domínio do

enredo, assim poderá ser incorporado gestos, ritmos, posturas corporais,

vozes, ruídos que enriquecerão a narrativa, transmitindo a mensagem que vai

além do livro e que transcende a palavra impressa. É preciso gostar da história,

ser seduzido por ela, para poder seduzir. (LISBOA, 2010)

De acordo com Goés (2010, p.48) “o livro só cumpre o ciclo completo do

seu destino quando cada leitor o torna seu, o assimila, o objetiva e vive as

sugestões que ele provoca.” Ler ou contar história é uma arte que deve ser

desenvolvida com dedicação e estudo, visando contagiar os ouvintes com o

próprio envolvimento na história. O educador deve tirar o máximo proveito das

emoções contidas na história, valorizando a atividade de leitura como forma de

lazer ativo de crescimento pessoal, aliado a construção e a apropriação

cultural.

Após a leitura de histórias, muitos professores preocupam-se

demasiadamente em aplicar alguma atividade relacionada à narrativa e

mecanicamente recorrem a qualquer uma. O Referencial Curricular Nacional

(2001) em sua orientação nos diz que não é sempre necessário que haja

atividade subsequente, pois a prática de leitura tem em si mesmo grande valor,

mostrando assim, a magnitude e importância dessa prática. Atividades

posteriores poderão ser realizadas quando fizerem sentidos ou parte de um

projeto de forma contextualizada e de acordo com o interesse das crianças.

Percebemos o cuidado para que não se tenha uma idéia distorcida do ato de

ler, relacionando a leitura a tarefas escolares.

Muitas vezes, os pequeninos manifestam o desejo de encenarem a

história contada, é importante ter à disposição apetrechos que incrementem

esse momento, a meninada aprecia muitas atividades desse tipo. Não é raro

também, vermos a criança com o livro na mão recontando a história lida,

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imitando o professor com seus gestos e trejeitos. Esse hábito deve ser

incentivado, deixando que o aluno reconstrua o texto à sua maneira.

Cabe ao professor aproveitar o momento, promovendo situações em que

as crianças compreendam a relação entre o que se fala o texto escrito e a

imagem, fortalecendo a compreensão e eficácia do livro, sendo ponte para

descoberta do prazer de ler.

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CAPÍTULO VI

GÊNEROS LITERÁRIOS E SEUS ENCANTOS

Era uma vez um mundo colorido onde as crianças viviam contentes.

Diariamente corriam alegres em busca de letrinhas, que estavam espalhadas

entre as árvores, atrás das pedras, nas asas da borboleta, no bico do

passarinho em toda a parte. A medida que conseguiam pegar o maior número

de letras, formavam palavrinhas e construíam lindas frases.

Numa gostosa brincadeira tinham o desafio de formar o maior número

de frases, pois desta forma, tornariam o mundo mais bonito e interessante.

Depois juntavam tudo, colocavam dentro de um enorme caldeirão e criavam

magníficas poesias e histórias. Magicamente participavam delas, podendo ser

tudo que quisessem. Ao chegar a noite, dormiam um sono gostoso, velado por

uma linda fada que os fazia ter sonhos maravilhosos. No dia seguinte,

acordavam cedinho e iam correndo em busca de mais letrinhas, mais

palavrinhas e tornavam tudo novo, a brincadeira sempre recomeçava. As

crianças cresceram e se transformaram em grandes leitores, adultos

conscientes e bem mais inteligentes. E foram felizes para sempre.

Essa historinha quer retratar como o mundo das letras pode ser

fascinante para as crianças. Os contos de fada e a poesia conseguem essa

façanha de forma lúdica e instigante.

Os contos de fadas com seus enredos eletrizantes além de envolverem

com seu encantamento, despertam sentimentos, levando ao mundo interior,

ajudando a resolver conflitos.

A poesia brinca com as palavras, num jogo rítmico e simétrico da

linguagem conseguindo estimular a imaginação e a criatividade trazendo em

sua bagagem cirandas, sonetos, cantigas de roda, parlendas, provérbios, etc.

Numa brincadeira sem igual.

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4.1 – O mundo fascinante dos contos de fadas

Os contos de fadas encantam crianças e adultos até os dias de hoje. As

versões das histórias são aperfeiçoadas pelo aparato tecnológico e transitam

até mesmo nos cinemas seduzindo a todos, mas sua essência continua a

mesma.

Além de envolver o leitor com seus enredos fantásticos e mirabolantes,

conseguem profundamente agir no labirinto do subconsciente onde estão

guardados medos, angustias, insegurança, raiva, ciúme, culpa ... É pueril

pensar que o interior da criança é tranqüilo, sem conflitos, em perfeita

harmonia, já que não enfrenta as responsabilidades e problemas dos adultos.

Na concepção de Bettelheim (2007) todos nós precisamos encontrar um

significado para existência e que esse, é um processo que se desenvolve

lentamente. Considera também que ajudar a criança a encontrar significado na

vida é a tarefa mais importante e a mais difícil. Achar esse significado é

imprenscindível para o autoconhecimento e entendimento do outro.

Assim haverá um preparo para enfrentar as adversidades da vida,

desenvolvendo recursos internos de maneira que as emoções e a imaginação

se ajudem mutuamente, promovendo a satisfação consigo mesmo e com o que

está fazendo.

Os contos de fadas propiciam este encontro com o “eu”, indo muito além

de entreter e encantar, permitindo acesso a um significado e àquilo que é

significativo.

Bettelheim (2007, p.11) afirma:

“Para que uma história realmente prenda a atenção da

criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade.

Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a

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imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a

tornar clara suas emoções; estar em harmonia com suas

ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas

dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os

problemas que a perturbam. Resumindo, deve relacionar-

se simultaneamente com todos os aspectos de sua

personalidade ̶ e isso sem nunca menosprezar a

seriedade de suas dificuldades mas, ao contrário, dando-

lhe total crédito e, a um só tempo, promovendo a

confiança da criança em si mesma e em seu futuro.”

A criança muitas vezes se sente desconcertada com o turbilhão de

sentimentos que experimenta no cotidiano em situações corriqueiras, como por

exemplo, quando a mãe briga por ter feito algo errado, chama atenção, critica

ou nega algo, ela poderá se transformar na cruel madrasta da Cinderela,

embora na maioria das vezes seja bondosa e protetora.

“Assim, o conto de fadas sugere como a criança pode

lidar com os sentimentos contraditórios que, de outro

modo, a esmagariam nesse estágio em que a habilidade

para integrar emoções contraditórias está apenas

começando. A fantasia da madrasta má não só conserva

intacta a mãe boa, como também impede os sentimentos

de culpa em relação aos pensamentos e desejos coléricos

a seu respeito ̶ uma culpa que interferiria seriamente na

boa relação com a mãe.” (BETTELHEIM, 2007, p.100)

Muitos sentimentos se personificam em personagens das histórias

dando forma e corpo. Monstros obscuros que residem no inconsciente: medo

de ficar sozinho, de escuro, da morte, etc. Quando esses monstros são

valentemente destruídos, acontece o livramento daquilo que trazia angustia. A

criança pode transferir os seus conflitos para o personagem que tenha se

identificado, promovendo escape e consolo.

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“O fracasso em experimentar recuperação e consolo é

assaz verdadeiro na realidade, mas isso dificilmente

encoraja a criança a enfrentar a vida com a firmeza que

lhe permitirá aceitar que atravessar provações severas

pode levar a viver num plano mais elevado. O consolo é o

maior serviço que o conto de fadas pode prestar à

criança: a confiança em que, apesar de todas as

tribulações que tem de sofrer (com a ameaça de deserção

dos pais em “João e Maria”; o ciúme por parte dos pais

em “Branca de Neve” e das irmãs em “Cinderela”; a raiva

devoradora do gigante em “João e o Pé de Feijão”; a

vileza dos poderes do mal em “A Bela Adormecida”), não

só ela terá sucesso, como as forças do mal serão extintas

e nunca mais ameaçarão sua paz de espírito.”

(BETTELHEIM, 2007, p.207)

Constatamos que sob a forma literária dos contos de fadas, problemas

básicos da vida podem ser abordados e resolvidos. Carências como em “A

Menina dos Fósforos”; identidade “O Patinho Feio”, enfocando as diferenças;

desobediência “Chapeuzinho Vermelho”; dificuldade em ser criança “O

Pequeno Polegar”.

Os contos de fadas partem sempre de um problema pautado na

realidade que traz um desiquilíbrio, começa com o herói passando por imensas

provações; o desenrolar é a busca de soluções sob o prisma da fantasia, o

herói vai à luta, passando por inimagináveis aventuras, sendo ajudado por

alguém ou seres mágicos; o retorno ao equilíbrio acontece no final da narrativa,

quando há uma volta ao real; no término do conto, o herói vence todas as

dificuldades, encontra a sua identidade e tem um final feliz.

Fazendo relação com as histórias, será confortante para a criança que

esteja passando por algum conflito ,saber que não está sozinha e assim como

o herói conseguiu vencer, ela também conseguirá e será feliz.

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O simbolismo presente nos personagens e nas tramas, age no

inconsciente das crianças, dando diretrizes, ajudando a resolver seus conflitos

internos tão comuns nesse período em que estão em formação.

“Os contos de fadas, de seu começo mundano e simples,

se lança em acontecimentos fantásticos. Mas, por

maiores que sejam os desvios ̶ à diferença da mente

inculta da criança ou de um sonho ̶ , o processo da

história não se perde. Tendo levado a criança numa

viagem a um mundo fabuloso, no final o conto a devolve à

realidade, de modo bastante tranquilizadora. Isso lhe

ensina o que mais necessita saber nesse estágio de seu

desenvolvimento: que não é prejudicial permitir que a

fantasia nos domine temporariamente, desde que não

permaneçamos permanentemente presos a ela. No final

da história, o herói retorna à realidade, uma realidade

feliz, mas destituída de magia. Assim como despertamos

renovados de nossos sonhos, mais aptos a enfrentar as

tarefas da realidade, também a história de fadas termina

com o herói voltando ou sendo trazido de volta ao mundo

real, muito mais apto a exercer controle sobre a vida.”

(BETTELHEIM, 2007, p.207)

Os contos de fada oferecem aos pequenos, aventuras maravilhosas e

inusitadas; “Branca de Neve”; “Cinderela”; “Rapunzel”; “A Bela e a Fera”; “A

Bela Adormecida”; “Os Três Porquinhos”; “O Soldadinho de Chumbo”; “Simbad,

o Marujo”; “O Patinho Feio”; “João e Maria”; “Chapeuzinho Vermelho”;

“Cachinhos Dourados e os Três Ursos”; “João e o Pé de Feijão” e outros.

Esses contos nos remetem a nossa infância e nos fazem sentir uma

agradável sensação. Nos lembramos das coloridas ilustrações, ávidos que a

folha virasse para sabermos a novidade de que viria depois.

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Cada história era uma nova emoção povoadas de fadas, princesas,

castelos, bruxas, etc. Não sabíamos o quanto teria influência em nossas vidas,

e o quanto era importante. Hoje conscientes podemos usá-los com nossos

alunos de forma mais intensa e constante, tendo cuidado para que a magia

nunca se perca.

4.2 – Poesia: brincadeira inteligente

Quantas brincadeiras deliciosas podemos ter com as palavras! A poesia

nos proporciona essas possibilidades com toda a ludicidade verbal, sonora,

rítmica, musical, engraçada ... Expressas através de brincadeiras inteligentes

com as palavras que fazem ver coisas comuns de forma diferente e descobrir

algo desconhecido.

Remexendo as palavras e extraindo delas o maior número de

significados possíveis, fazendo trocadilhos; repetindo fonemas; escrevendo

palavras, de trás para frente, de frente para trás; rimando; ritmando;

cadenciando; musicalizando.

A poesia provoca sensações, retrata sonhos, exprime saudade, amor,

ternura, raiva, mas sempre de forma bem humorada e criativa de acordo com

a competência e sensibilidade do autor.

“A rima, o ritmo, o jogo de sons e palavras constroem

imagens que alimentam o ser sensível e reabrem os

canais sensoriais com que ele apreende e compreende o

mundo. A poesia marca uma volta ao encantamento de

ser gente e de viver e recoloca o ser humano no leito

musical no qual foi gerado para perceber os momentos e

as imagens poéticas e sonoras do próprio corpo, da

natureza e do seu semelhante: os olhos, o sorriso, as

mãos, o canto dos pássaros, os batimentos do coração,

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as luzes do dia e da noite, o balanço das ondas do mar, o

farfalhar das folhas das árvores ao vento, o murmúrio da

água. Brincar com a musicalidade das palavras na poesia

possibilita ao ser humano retomar a linguagem em seu

estado natural, expressar e sentir o que já existe dentro

de cada um.” (GOÉS, 2010, p.246)

A poesia intensifica o sentido das palavras, dando maior significado aos

seres e aos objetos, ligando o imaginário com o vivido, o sonho e a realidade, o

bem com o mal; valorizando as pequenas coisas, despertando para o inusitado,

percebendo as nuanças da vida. Exatamente como expressou o poeta

Oswaldo de Andrade:

“Aprendi com meu filho de dez anos

Que a poesia é a descoberta

Das coisas que nunca vi.”

(ABRAMOVICH, 1989, p. 95)

Para chamar atenção dos pequeninos é preciso que a poesia fale do

universo infantil, enfocando vivências, sentimentos, sensações, emoções,

brinquedos, animais, objetos e principalmente brincadeira divertida com as

palavras com muito ritmo e rimas. Temos autores que conseguem fazer isso

com maestria entre eles: Elias José, Cecília Meireles, Manuel Bandeira,

Roseana Murray, Ricardo Azevedo, Sidônio Muralha, Vinícius de Moraes, José

Paulo Paes, Mário Quintana, Sylvia Orthof entre outros.

“A criança tem alma poética e é profundamente criadora.

Ela recebe, pois, como um sedento bebe água, os versos

do poeta que encontram ressonância especial e perfeita

em seus pequenos corações e nas suas almas não

conspurcadas. Por isso mesmo deve chegar a ela a

poesia elevada, bela, verdadeira obra de arte. Que seja

capaz de provocar emoções autênticas, criando um

sentido elevado de justiça, beleza e sentimentos nobres.

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Que crie uma emoção duradoura, um prazer estético,

enfim que a sensibilize, transmitindo uma sensação de

encantamento.” (GOÉS, 2010, p.244)

José Paulo Paes vai sem rodeios ao encontro da criança quando

escreve o poema “Convite” do seu livro Poemas para Brincar, de 1990:

Convite

Poesia/ é brincar com palavras/ como se brinca/ com bola, papagaio,

pião.

Só que/ bola, papagaio, pião/ de tanto brincar/ se gastam.

As palavras não:/ quanto mais se brinca/ com elas/ mais novas ficam.

Como a água do rio/ que é água sempre nova.

Como cada dia/ que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

Para Zilberman (2005, p.129) o escritor sabiamente estabelece conexão

entre brincar e escrever, destacando o ângulo lúdico presente em todo o

poema. Bola, papagaio e peão fazem parte do mundo infantil, mostrando que a

diversão e os jogos são mais apreciados em textos dirigidos e orientados em

consonância com a vida da criança. O autor ainda brinca através da repetição

das consoantes bilabiais oclusivas – B e P – de brincar, bola, papagaio e peão,

valorizando o lado lúdico da linguagem. Assim a poesia vai desvendando o

segredo das palavras.

Nelly Novaes Coelho (2000) afirma que os animais sempre despertam o

interesse dos pequeninos, principalmente quando colocados em situações

cômicas, fora do comum, visando puramente o entretenimento e prazer, num

brincar “a sério”.

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Ao ver uma velha coroca

fritando um filé de minhoca,

o Zé Minhocão

falou pro irmão

“Não achas melhor ir pra toca?”

(Tatiana Belinky,1987)

A Arca de Noé (1971) de Vinícus de Moraes marcou época e seus

poemas que foram musicados por grandes compositores, continuam sendo um

dos mais preferidos pela criançada. O livro é uma coletânea de poemas que

retrata com humor a vida simples dos animais. Um dos mais conhecidos é “O

Pato”:

O Pato

Lá vem o Pato/ Pata aqui, pata acolá/ Lá vem o Pato/ Para ver o que é

que há. // O Pato pateta/ Pintou o caneco/ Surrou a galinha/ Bateu no

marreco/ Pulou no poleiro/ No pé do cavalo/ Levou um coice/ Criou um

galo/ Comeu um pedaço/ De jenipapo/ Ficou engasgado/ Com dor no

papo/ Caiu no poço/ Quebrou a tigela/ Tantas fez o moço/ Que foi pra

panela.

Nesse poema o autor brinca com as palavras, sons e ritmo, mostrando

com muito humor as trapalhadas do pato, disputando correlações entre os sons

e outras invenções. Por integrar poesia e música, a canção remete com mais

facilidade ao conteúdo da letra levando à reflexão.

A seguir, relato do projeto desenvolvido com o livro “A Arca de Noé”.

A turma já conhecia algumas músicas como “A Casa” e “O Pato”, mas

mão sabiam de quem era a autoria. Conversamos sobre Vinícius de Moraes,

falamos um pouco sobre suas obras e vida mostrando várias fotos dele.

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Resolvemos trabalhar a poesia que deu nome ao livro, contamos a

história bíblica que serviu de inspiração ao escritor. Como o poema é bem

extenso, utilizamos um blocão e exploramos por alguns dias cada estrofe do

mesmo. O conhecimento da história facilitou a compreensão do poema.

Preparamos uma sala somente para contação de histórias. Os

personagens animais em tamanho grande, forma confeccionados em EVA e

enfeitaram os quatro cantos da sala, ao lado escrevemos pedacinhos dos

poemas referentes a cada um deles envolvidos com notas musicais.

Um painel com um lindo arco-íris enfeitava uma das paredes e mais à

frente uma arca feita de madeira, onde da janela desfilavam diferentes bichos

que iam aparecendo conforme o desenrolar da música, era o “teatrinho de

vara” realizado de forma bem criativa.

Ao final do poema, quando foi feita referência sobre a noite e o céu

iluminado, as luzes foram apagadas e do alto resplandeceu o brilho das

estrelas representado por material fosforecente em vários pontos do teto. As

crianças extasiadas, deitadas no chão, apreciavam aquele céu maravilhoso

criado para aquele momento e dali não queriam sair mais e pediam para repetir

tudo que foi vivenciado.

No dia seguinte, uma mãe ligou para a escola perguntando o nome do

teatro que as crianças tinham ido, pois o filho de apenas 3 anos não parava de

contar entusiasmado tudo que tinha acontecido. (o trabalho foi realizado com

várias turmas de diferentes faixas etárias) Os pequeninos tiveram visão geral

do autor e suas criações.

Nas semanas subsequentes outros poemas foram explorados como: O

Relógio; A Borboleta; A Porta; O Ar (vento) esse poema fala sobre o pum, é

isso mesmo, o pum (gases) que tem odor nada agradável; O Pintinho; A Pulga

e A Foca.

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Realizamos encenações, recontos, danças, confecção de bichinhos e

desenhos. Foram momentos mágicos e a criançada já se referia ao autor com

grande intimidade.

Sabemos que nas mentes daqueles alunos para sempre ficarão

impressos marcas que não se apagarão. Com esse projeto pudemos

enriquecer o cotidiano infantil de forma lúdica e atraente, com a inserção de um

banco de imagens culturais que ficaram guardadas e no momento certo serão

utilizadas.

4.2.1 – Poesia: jogos e brinquedos musicais

A linguagem é uma ferramenta de ação no mundo. Com a palavra

podemos brincar, rir, cantar, expressar sentimentos e nos comunicarmos. É na

palavra que as ideias são elaboradas e comunicadas.As crianças devem ser

estimuladas a falar, expressando suas vivências e pensamentos.

Temos em nosso folclore algumas manifestações orais da nossa cultura

como as lendas, acalantos, versos, canções de roda, adivinhas, quadrinhas,

parlendas, mnemônicas e trava-línguas que brincam com os campos fonéticos

e semânticos da língua, servindo como exercício divertido de aperfeiçoamento

da linguagem.

Encontramos nesses elementos culturais um jogo sonoro que diverte e

fomenta desafios. Além de tudo, permite experimentar ritmos, segmentar

palavras, reconhecer sons semelhantes, completar versos, realizando uma

análise complexa da língua, proporcionando aquisição de uma percepção

fonológica que será necessária para leitura e escrita. (CORSINO, 2009)

Nos Referenciais Curriculares (2001, p.71) esses elementos culturais

são considerados como jogos e brinquedos musicais. Envolvendo o gesto, o

movimento, o canto, o ritmo e a música esses jogos e brincadeiras

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estabelecem contato consigo próprio e com o outro e trabalham com as

estruturas e formas musicais que se apresentam em cada canção e em cada

brinquedo, com jogo de palavras, principal fator que atrai as crianças para a

poesia.

Os acalantos são contados para adormecer e tranqüilizar bebês e

crianças pequenas; os brincos são brincadeiras rítmico-musicais que entretêm

e animam as crianças. Existem muitas variantes que são usadas pelo país,

como:

“Serra, serra, serrador, serra o papo do vovô.”

“Seu vizinhos, seu mindinho, pai de todos, fura bolo, mata piolho.”

O caráter lúdico das parlendas incentiva a correspondência entre som e

os sinais escrito.

“Hoje é domingo; / Pé de cachimbo; / Cachimbo é de barro; / Bate no

jarro; / O jarro é de ouro; / Bate no touro; / O touro é valente; / Chifra a

gente; / A gente é fraco; / Cai no buraco; / Buraco é fundo; / Acabou-se o

mundo.”

Trava-línguas são parlendas que formam versos ou frases de difícil

articulação, levando ao tropeço da língua, provocando risadas divertidas.

“O rato roeu a roupa do rei de Roma.”

“Pinga a pia dentro do prato, pia o pinto e mia o gato.”

As mnemônicas são destinadas a fixar ou ensinar algo como números

ou nomes.

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“Um, dois; / Feijão com arroz; / Três, quatro; / Feijão no prato; / Cinco,

seis; / Feijão inglês; / Sete, oito; / Comer biscoito; / Nove, dez; / Comer

pastéis.”

As rondas ou brincadeiras de roda integram poesia, música e dança.

A linguagem poética alcança as crianças quando mexe com a

sensibilidade, a curiosidade e as sensações, principalmente quando expressa

situações do seu interesse.

O jogo poético segundo Nelly Novaes Coelho (2000, p.222) estimula “o

olhar da descoberta”, atuando sobre todos os sentidos da criança, aprimorando

a intuição para o que está além das aparências, levando-a a descobrir a

realidade que a cerca, tendo consciência de si mesma e do meio, ensinando-a

a se comunicar e se relacionar com os outros.

Para a autora, atividades como canto e música aliados ao ritmo e rimas,

estimulam a sensibilidade perceptiva. As cantigas de roda, de ninar, ciranda,

parlendas e outros, são atividades excelentes para introdução ao texto poético.

Alegres e envolventes, contendo elementos essenciais que agradam e

preparam o leitor “não iniciado”, para o gosto pela poesia.

Diariamente, estas atividades deverão permear a Educação Infantil,

tendo o professor como mediador, promovendo o encontro da criança com a

poesia.

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CONCLUSÃO

Este trabalho buscou explicitar para os educadores o papel da contação

de histórias na formação e no despertar do futuro leitor, já que, vivemos num

mundo em constante mudanças onde a tecnologia vem ocupando espaço cada

vez maior na vida das pessoas. Nos lares já não se tem mais tempo para

conversar, trocar ideias, dialogar. Os aparatos tecnológicos são

importantíssimos, mas não devem ser primazia e nem interferir nas nossas

relações. Com isso, algumas práticas vão deixando de fazer parte do cotidiano

e nos levam a nostalgia de relembrar o tempo em que nossos avós, pais,

irmãos nos contavam histórias que nos faziam sonhar, indo a lugares distantes

e inusitados.

É preciso recuperar essa prática milenar que leva o indivíduo a pensar,

imaginar, sentir, ocasionando maior aproximação entre as pessoas. Este

trabalho monográfico vai de encontro a esse caminho que pode resgatar o elo

perdido.

A escola ainda é o lugar onde ações e estratégias podem ser idealizadas

e realizadas de forma a cultivar hábitos salutares que farão diferença nas suas

escolhas. De imediato os resultados não serão vistos nem sentidos, pois trata-

se de um processo de construção, mas com certeza ele acontece, e a certeza

vem da convicção e segurança daquilo que se quer alcançar, da relevância que

tem.

Através dos argumentos expostos neste estudo que utilizou a pesquisa

bibliográfica e por meio de citações de autores renomados que enriqueceram e

contribuíram na formação de novas idéias sobre o assunto concluímos que a

escola é o espaço onde a prática de contar histórias deve ser resgatado,

estimulando a criança desde a mais tenra idade o gosto e o hábito pela leitura,

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devendo fazer parte do cotidiano da Educação Infantil, pois essa prática atua

no desenvolvimento integral da criança, envolvendo o aspecto afetivo, cognitivo

e social, de forma atraente e lúdica.

Ouvir histórias permite a criança exercitar, através da imaginação

soluções para problemas concretos da vida, provocando novos sentimentos,

aperfeiçoando outros, transformando atitudes, permitindo mergulho dentro de si

mesma. Além de fornecer cultura, informação, enriquecimento do vocabulário,

promovendo movimentos de letramento.

O professor precisa estar consciente dos benefícios da contação de

história e sentir os seus encantos. É maravilhoso ver os rostinhos atentos, os

olhinhos brilhando, as diversas expressões faciais quando a criança ouve a

narrativa, sendo um prazer para quem ouve e para quem conta, o educador

precisa vivenciar essas emoções, a fim de realizar um trabalho mais produtivo

e criativo, sem se preocupar com o conteúdo que vai transmitir, pois as

histórias tem em si mesmas o seu valor.

Ao final desta reflexão, constatamos que através da contação de

histórias, naturalmente, cria-se oportunidade de aprendizagem adequada ao

desenvolvimento infantil, instrumentalizando a criança para a construção do

conhecimento, levando-a a exercitar a abstração, facilitando o desenvolvimento

do pensamento, formando seres criativos, críticos e aptos para tomar decisões.

Ouvir e contar histórias também é desfrutar de momentos onde professor e

aluno compartilham do mesmo prazer.

Que a sala de aula seja transformada num magnífico castelo, cheio de

princesas, príncipes, bruxinhas, sapinhos; onde a magia transforme cada dia

num lindo conto de fadas.

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ANEXO

Índice do anexo

Figura 1 – O autor..............................................................................................47

Figura 2 – Personagem da poesia “O Pato”......................................................47

Figura 3 – A arca...............................................................................................48

Figura 4 – Poesia do relógio..............................................................................48

Figura 5 – Personagem da poesia “O Leão”......................................................49

Figura 6 – Personagens das poesias: “O Elefantinho”, “A cachorrinha” e “As

Borboletas”.........................................................................................................49

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ANEXO

Aqui são apresentadas algumas fotos do trabalho do livro A Arca de Noé

de Vinícius de Moraes.

Figura 1 – O autor.

Figura 2 – Personagem da poesia “O Pato”.

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Figura 3 – A arca.

Figura 4 – Poesia do relógio.

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Figura 5 – Personagem da poesia “O Leão”.

Figura 6 – Personagens das poesias: “O Elefantinho”, “A cachorrinha” e “As

Borboletas”

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:

Editora Scipione, 1989.

ALVES, Rubem. Gaiolas ou asas – A arte do vôo ou a busca da alegria de

aprender. Porto: Edições Asas, 2004.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 21ª edição. São

Paulo: Paz e Terra, 2007.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7ª edição.

São Paulo: Moderna, 2000.

BRASIL, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – FUNDEB- Brasília-DF.

BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF, Senado, 1988.

BRASIL, Referencial Curricular para a Educação Infantil/ Ministério da

Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/

SEF, 2001.

CORSINO, Pátricia (org.). Educação Infantil – Cotidiano e políticas. Campinas:

Autores Associados, 2009.

FARIA, Ana Lucia Goulart de (org.). O coletivo infantil em creche e pré-escola:

fazeres e saberes. São Paulo: Cortez, 2007.

GOÉS, Lúcia Pimentel. Introdução à Literatura para crianças e jovens. São

Paulo: Paulinas, 2010

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KRAMER, Sonia (org.). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular

para a Educação Infantil. 5ª edição. São Paulo: Editora ática, 1993.

LISBOA, Marcia. Para contar histórias: teoria e prática: narrativa, dramatização,

música e projetos. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

MORAES, Vinícius de. A arca de Noé: poemas infantis. 2ª edição. São Paulo:

Companhia de Letras, 1991.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São

Paulo: Cortez, 2002.

REVISTA PÁTIO. EDUCAÇÃO INFANTIL. ANO VI, nº 18, nov2008/fev. 2009.

REVISTA PÁTIO. EDUCAÇÃO INFANTIL. ANO VI, nº 24, jul/set. 2010.

TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e escrever: uma

proposta construtiva. Porto Alegre: Artemed, 2003.

VYGOTSKY, L. 1989. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura brasileira. Rio de Janeiro:

Objetiva, 2005.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ...........................................................................................02

AGRADECIMENTO ...........................................................................................03

DEDICATÓRIA..................................................................................................04

RESUMO...........................................................................................................05

METODOLOGIA................................................................................................06

SUMÁRIO..........................................................................................................07

INTRODUÇÃO...................................................................................................08

I - Educação Infantil: Breve histórico................................................................11

II - Influência da Literatura Infantil na formação do aluno leitor/autor ...............17

2.1 - Conta outra vez! Eu quero ouvir outra vez!.....................................20

III - Literatura antes de tudo prazer...................................................................22

3.1 – O livro como brinquedo..................................................................25

3.2 – O professor contador de histórias..................................................27

IV - Gêneros literários e seus encantos.............................................................31

4.1 – O mundo fascinante dos contos de fadas......................................32

4.2 – Poesia: brincadeira inteligente.......................................................36

4.2.1 – Poesia: jogos e brinquedos musicais...............................41

CONCLUSÃO....................................................................................................44

ANEXO..............................................................................................................46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................50

ÍNDICE...............................................................................................................52

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................53

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Pós Graduação Latu Sensu

Instituto A vez do Mestre

Título da Monografia: Era uma vez... A Importância da Contação de

Histórias na Educação Infantil com crianças de 4 a 6 anos.

Autor: Regina Fatima de Siqueira Muniz

Data da entrega: 29 de janeiro de 2011.

Avaliado por: Edla Trocoli

Conceito: