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2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSU“ PROJETO A VEZ DO MESTRE EXCLUSÃO SOCIAL DO NEGRO Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação ”Lato Sensu“ em Terapia de Família. Por: Margarida Garcia de Sousa Arruda

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSU“

PROJETO A VEZ DO MESTRE

EXCLUSÃO SOCIAL DO NEGRO

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação ”Lato Sensu“ em Terapia de Família. Por: Margarida Garcia de Sousa Arruda

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade que me concedeu. A minha filha Maria Carolina, de quem recebi confiança e estímulo para perseverar e não desistir. As amigas, Zaida, Sônia e Álida pelo carinho e incentivo. E a todos aqueles que contribuíram na minha vida e nos estudos.

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DEDICATÓRIA

A MESTRA FABIANE MUNIZ COM CARINHO.

Mestre não é aquele que nos ensinou o “Ba Bá”,

mas é aquele que nos mostrou novos caminhos.

Mestre não é aquele que apenas aprovou ou

reprovou, porém aquele que nos ensinou que cair e

levantar faz parte da vida.

Mestre não é aquele que nos cobrou o que nem ele

mesmo sabia, mas é aquele que descobriu conosco aprendeu

novos saberes.

Mestre não é aquele que passou por cima de nossos

sentimentos, mas é aquele que percebeu que nossos

sentimentos são os dele.

Mestre não é aquele que usou da sua autoridade para

se sentir competente, mas é aquele que admitiu que também

é humano e precisa de carinho.

Mestre é aquele que riu conosco, quando tudo parecia

perdido.

Mestre é aquele que ficou mais um pouquinho porque

acreditou que você podia.

Mestre é aquele que participou, quando podia ficar

acomodado.

Mestre é aquele que reaprendeu, para lhe ensinar um

novo aprendizado.

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Mestre é aquele que nasceu para lhe ensinar porque

vive para aprender.

(Glória M.F.Melo)

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RESUMO

A exclusão social do negro é um instrumento

fortíssimo do preconceito racial. É a forma mais

camuflada da escravidão; o negro não deixou de ser

escravo, escravo de um sistema. Talvez esta escravidão

tenha mudado de nome; e o procedimento e os métodos do

“Senhores de Engenho” não são os mesmos: pois agora, o

negro é escravo do poder econômico, da cultura do corpo,

e da cor da pele estabelecida por um sistema capitalista

que dita, a moda, a fala, tudo que este sistema

escravagista estabelece. Os negros ainda hoje são

escravos do preconceito no mercado de trabalho, onde a

chamada “boa aparência”, que muitas vezes, quer dizer: só

aceitamos brancos, e ao chegar um negro, ouve-se a

seguinte resposta: “A vaga já foi preenchida”. Este

preconceito passa pela educação através dos sistemas de

cotas nas universidades, que nada mais é ,do que , como

no dicionário do Aurélio , onde cota quer dizer: porção

determinada ou quinhão ; isto é a cota, é um pedaço do

direito do negro.

Percebe-se que mesmo com a criação de tantas Leis

contra a discriminação racial, o preconceito está no

proceder de cada um, no interior de cada ser humano. Pois

não de nasce racista, sim, aprende-se ter atitudes

racistas; por isso perceber-se que a educação de nossas

crianças se faz necessária, no sentido de ensiná-las a

conviver e respeitar as diferenças.

Objetivo deste trabalho é a conscientização de que o

preconceito racial é o “recurso” maior da exclusão social

do negro. Porque a potencialidade do negro não é

diferente do branco.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................8

CAPÍTULO I..............................................10

EXCLUSÃO SOCIAL.........................................10

CAPÍTULO II.............................................36

RACISMO.................................................36

CAPÍTULO III............................................55

EXCLUSÃO SOCIAL DO NEGRO EM DIVERSOS NÍVEIS.............55

CONCLUSÃO...............................................67

BIBLIOGRAFIA............................................70

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INTRODUÇÃO

Para alguns autores a exclusão social do negro no

Brasil ainda é uma forma maquiada do racismo, em vários

níveis, como na educação onde o negro é visto como “cota

“e não como competência para uma competição em nível de

igualdade, no trabalho, sempre que o negro desejar

notoriedade precisa lançar mão da mídia racista e passar

muitas vezes por embranqueamento, caso contrário ficará

no anonimato, na família, onde ele precisa seguir regras

imposta muitas vezes pela própria família, de que isto ou

aquilo não é para ele , pois as família colocam para seus

próprios filhos “o que o negro deve escolher profissão

voltada para o negro, as demais são especificas do

branco; e se ele tentar não irá conseguir emprego, e no

mesmo mercado de trabalho , existe algumas regras para

não aceitação mesmo no mercado , como a chamada boa

aparência nos classificados. Isto é ,e quando o próprio

negro , resolve embranquecer para ser aceito ou inserido

no contexto do branco, e ser chamado de “mulato”, pois

mulato não é preto e assim ele mesmo faz sua própria

exclusão social.

Percebe-se que população brasileira constitui em sua

grande maioria de negro e mestiço, acima de tudo

excluídos do sistema; sistema este que fortalece o

processo de marginalização, pois sabemos que quanto mais

a margem da sociedade, mais excluídos os negros estarão,

ou mais motivo para justificar esta exclusão social do

negro.

A exclusão social do negro tem mostrado que o negro

será sempre visto como escravo, escravo de sua cor de

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pele; pois a cor da pele fala por si; o que é escuro não

reflete luz, se não reflete luz, não brilha, se não

brilha não existe, não existe no trabalho, na escola, na

família, na sociedade, na vida; portanto não se inclui o

negro só se exclui. Para muitos autores a exclusão social

do negro, nada mais é do que uma outra forma de racismo

ou mesmo o racismo com mudança de nome escraviza da mesma

forma. Deixa o negro escravo não só de um senhor, porém

de toda uma sociedade, onde o chicote da exclusão doe

mais que chicote das senzalas.

Objetivo deste trabalho é conscientização, de que o

preconceito racial é o maior “recurso” da exclusão social

do negro. Já que o negro é tão potencializado quanto

qualquer raça. Isto é, se existe raça negra ou branca, ou

somente a raça humana.

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EXCLUÍDO

Ele desenhou um círculo e impediu minha

entrada - Um herege, um rebelde, uma criatura desprezível. Mas o Amor e eu tivemos habilidade para triunfar; Desenhamos um círculo e o convidamos a entrar.

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CAPÍTULO I EXCLUSÃO SOCIAL

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1.1. O QUE É EXCLUSÃO SOCIAL

A discussão sobre exclusão social apareceu, na

Europa, na esteira do crescimento dos sem-teto e da

pobreza urbana, da falta de perspectiva decorrente de

desemprego de longo prazo, da falta de acesso a empregos

e rendas por parte de minorias étnicas e imigrantes, da

natureza crescentemente precária dos empregos disponíveis

e das dificuldades que os jovens passaram a ter de

ingressar no mercado de trabalho a abordagem da exclusão

social para Gerry Rogers (1995), é uma essência

multidimensional, incluindo não só a falta de acesso a

bens de serviço, mas também à segurança, justiça e á

cidadania. Ou seja, relaciona-se a desigualdade

econômica, política, culturais e étnicas, que são hoje

barreiras mais visíveis. ”Pose-se, estar excluído do

mercado de trabalho, (desemprego de longo prazo); do

trabalho regular (parti-me e precário); do acesso a

moradias decentes a serviços comunitários; e do acesso a

bens de serviço (inclusive público). A exclusão pode vir

de dentro do mercado de trabalho, com sub desemprego e

instáveis, gerando renda baixa e renda instável,

insuficientes para garantir o padrão de vida mínimo,

sustento de suas famílias, como a falta de acesso a

terra, a segurança, direitos humanos e sua própria

cidadania.

O conceito de exclusão social para Hilary Silver

também em 1995, bem como os de pobreza desemprego são uma

resposta à necessidade de lidar com algumas

características sócias -econômicas surgidas recentemente.

Ela enumera, assim mais de vinte categorias de excluídos,

entre eles os sem habilidades, analfabetos, os fora de

escola, os dependentes químicos, os delinqüentes, as

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crianças que sofrem abuso sexual, moral, idoso, negro,

deficiente físicos, visual, mental, surdo / mudo, meia

idade, pouco escolaridade, os fora de padrão de beleza

convencional e outros.

A exclusão social segundo Maria Inês Pedrosa Nahas é

um processo que impossibilita parte da população de

partilhar dos bens e recursos oferecidos pela sociedade,

considerando-se não apenas a carência de bens e serviços

essenciais para a satisfação das necessidades básicas,

como também a falta de acesso à segurança, justiça

cidadania e representação política. O aprofundamento

deste processo, observado em todas as metrópoles

brasileiras, provoca alterações na dinâmica e na

estrutura da cidade “. Há também uma certa dificuldade em

saber com exatidão, o que é exclusão social, entretanto é

possível contar os excluídos? Ainda nesse sentido; é

interessante saber o número de excluídos? Há diversos

critérios para tentar contar os excluídos, por exemplo:

renda per capita, IDH (índice de desenvolvimento humano),

número de desempregados de longa duração entre outro. Ou

seja, do critério pode-se incluir ou excluir milhares de

pessoas, mas é quase sempre a exclusão social as

pesquisas mostram que dita as regras de escolha se

podemos usar a palavra escolha”.

Segundo o olhar de Rogério Roque Amaro, considera-se

exclusão social essencialmente como uma situação de falta

de acesso ás oportunidades oferecidas pela sociedade aos

seus membros desse modo, a exclusão social pode implicar

privação, falta de recursos ou, de uma mais abrangente,

ausência de cidadania se entender a participação plena na

sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza

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e se exprime: ambiental, cultural, econômico e social.

Daí a exclusão social não raramente sendo cumulativa, ou

seja, compreendendo vários deles ou mesmo todos. De outra

forma pode se dizer que a exclusão social se exprime em

suas dimensões principais do quotidiano real dos

indivíduos: do SER, do ESTAR, do FAZER, do CRIAR, do

SABER, e do TER, a exclusão social é, portanto segundo

Rogério, uma situação de não realização de algumas ou de

todas estas dimensões É o não ser, o não estar, o não

fazer, o não criar, o não saber e ou o não ter.

1.2. O INFERNO DOS NEGROS

Segundo Holanda (1997),Nascia um novo Brasil um

Brasil na sua maioria de escravos negros. A escravidão

negra era duplamente lucrativa: ao nível da circulação da

mercadoria humana, permitindo a acumulação por parte da

burguesia traficante, e ao nível da produção. Ao ver

vendido como mercadoria, o africano trazia lucros enormes

para o comerciante, ao trabalhar, o escravo sustentava a

classe dominante metropolitanas interessada no pacto

colonial. A exploração da força de trabalho do escravo

permitia o assalariamento de trabalhadores especializados

e fornecia recursos para a renovação dos meios de

trabalhos e para a continuidade do tráfico. Por sinal,

era o tráfico negreiro a principal fonte de reprodução da

mão-de-obra, já que o crescimento vegetativo da população

negra, nessas condições, era diminuto.

É assim que o negro se integra na sociedade colonial

são as ”peças de ébano“ que enriquecem os traficantes,

são os “fôlegos vivos” que estendem os canaviais dos seus

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senhores, são os ”pretos de ganhos“ dando renda aos que

os alugam.

As justas reações contra a violência dessa ordem

opressora eram punidas com torturas variadas: os rebeldes

eram colocados no tronco ou viramundo, pequenos

instrumento de ferro que prendia pés e mãos do escravo,

ou açoitados com o bacalhau, chicote de couro cru, tendo

depois os seus ferimentos salgados. Casos considerados

mais graves eram punidos com a castração, a amputação de

seios, a quebra de dentes a martelo e o emparedamento

vivo. Quem fugia desse inferno era considerado indigno da

graça de Deus.

O negro entra na sociedade brasileira como cultura

dominada, esmagada. E as marcas da escravidão persistem,

no disfarçado preconceito racial, na situação miserável

de muitos. Não se pode pensar em Brasil sem levar em

conta toda essa história.

Ao lado desse poder, os senhores de engenho

inspiravam medo, até em seus familiares. Mesmo tendo as

suas comborças (amantes negras), não se despiam do

autoritarismo que marcavam suas relações com todos,

especialmente com a escravaria. A aproximação sexual

entre senhores e mucamas (escravas domésticas) é sinal de

democracia racial?

1.3. AS CAMPANHAS PARA ABOLIÇÃO

Segundo Buarque (1197), as campanhas a favor da

abolição estenderam-se durante todo o governo de D. Pedro

II, o qual juntamente com sua família, sempre deu apoio

às idéias abolicionistas. Estas já vinham de longe,

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Hipólito da Costa, através do Correio Brasiliense (1809),

José Bonifácio (1825) e vários políticos durante o

período das regências haviam-se batido pela extinção do

tráfico dos escravos e pela abolição da escravatura. A

esses movimentos, ainda isolados e em pequenas escala

dentro do país, vieram juntar-se pressões estrangeiras,

particularmente da Inglaterra.

Do Bill Aberdeem à Lei Áurea, que extinguiu

finalmente, e por completo, a escravidão no Brasil,

decorreram 43 anos. Assim o porque dessa demora é preciso

recordar que a esta dependia da mão-de-obra escrava. Por

essa razão, os grandes proprietários, donos de canaviais,

de engenho e da fazenda de café, através da poderosa

influência que exerciam na política do país, dificultaram

constantemente a aprovação das leis em favor da

libertação dos escravos tornavam assim uma frente unida

de resistência à abolição.

Essa resistência somente começou a quebrar-se quando

no Nordeste, foram introduzidas em alguns engenhos

máquinas modernas para a produção de açúcar, dispensando

em parte as mãos-de-obra escravas, que foi sendo

substituída por mão-de-obra assalariada do lugar; e

também quando, no Sul, nas fazendas de café abertas no

Oeste paulista os proprietários começaram a empregar mão-

de-obra assalariada, principalmente a de imigrante.

Para isso foram criados, decretos e leis que foram

necessários para que a igualdade de direitos fosse

finalmente concedida aos escravos.

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14/10/1850 __ Lei Eusébio de Queiroz. Retornou a lei de

1821 que declarava extinto ao tráfico africano, e

estipulava penas aos infratores.

1854__ Lei que dava poderes mais amplos à Marinha para

perseguir e punir os que traficassem com escravos, a

qualquer distância da costa.

1864__ Decreto que concedia a liberdade a escravos que

estivessem a serviço do governo.

1866__Decreto que concedia liberdade a escravos que

fossem servir no exercito brasileiro, em luta na Guerra

do Paraguai.

Decisão da Ordem dos Beneditinos, concedendo liberdade a

todos os seus escravos nascidos a partir de 3 de maio

desse mesmo ano.

1869__ Lei que proibia a venda de escravos em leilão

público, impedia vender marido e mulher separadamente,

estabelecia um limite de idade para a separação entre

pais e filhos.

28/09/1871__ Lei do Ventre Livre (aprovada graças ao

esforço do Visconde do Rio Branco) que declarava livre os

filhos de mulheres escravas, nascidos no Império a partir

dessa data. Libertava também os escravos de propriedade

da nação e previa certas modalidades de amparo financeiro

e da justiça aos libertos.

1884__ Adiantando-se às decisões do governo algumas

províncias e alguns municípios decretaram a libertação de

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seus escravos: as províncias do Ceará e do Amazonas e os

municípios de Uruguaiana, Viamão, Conceição, Pelotas no

Rio Grande do Sul.

28/09/1885__ Lei Saraiva-Cotegipe, declarando livres

todos os escravos a partir de 65 anos. Por isso, é também

conhecida por Lei dos Sexagenários.

A pressão exercida sobre os políticos forçou-os a

elaborar um projeto que visava a abolir, em definitivo, a

escravidão no Brasil Finalmente, aprovado pela Câmara e

pelo Senado, a 13 de maio de 1888, foi transformado em

lei, nesse mesmo dia, pela Princesa Isabel.

Estava promulgada a Lei Áurea, que extinguia a

escravidão no Brasil, cortando um dos últimos laços do

nosso país com o regime colonial.

“Os Negros brasileiros deram um

novo sentido de libertação ao 13

de maio e declaram essa data como

Dia Nacional de Denúncia contra o

racismo”.

1.4. CLASSE, COR E PRECONCEITO

D. Ribeiro 1995, nossa tipologia das classes

sociais vê na cúpula dois corpos conflitantes, mas

mutuamente complementares. O patronato de empresários,

cujo poder vem da riqueza através da exploração

econômica; e o patriciado, cujo mando decorre do

desempenho de cargos, tal como o general, o deputado, o

bispo, o líder sindical e tantíssimos outros.

Naturalmente, cada patrício enriquecido quer ser patrão e

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cada patrão aspira a glórias de um mandato que lhe dê,

além de riqueza, o poder de determinar o destino alheio.

Nas últimas décadas surgiu e se expandiu um corpo

estranho nessa cúpula. É o estamento gerencial das

empresas estranharias, que passou a constituir o setor

predominante das classes dominantes. Ele emprega os

tecnocratas mais competentes e controla a mídia,

conformando a opinião pública. Ele elege parlamentares e

governantes. Ela manda, enfim com desfaçatez cada vez

mais descabida.

Abaixo dessa cúpula ficam as classes intermediárias,

feitas de pequenos oficiais, profissionais liberais,

policiais, professores, o baixo-clero e similares. Todos

eles propensos a prestar homenagens às classes

dominantes, procurando tirar disso alguma vantagem.

Dentro dessa classe, entre o clero e os raros

intelectuais, é que surgiram mais subversivos em rebeldia

contra a ordem. A insurgência mesmo foi encarnada por

gente de seus estratos mais baixos. Por isso mesmo mais

padres foram enforcados que qualquer outra categoria de

gente.

Seguem-se as classes subalternas, formadas por um

bolsão da aristocracia operária, que têm empregos

estáveis, sobretudo os trabalhadores especializados, e

por outro bolsão que é formado por pequenos

proprietários, arrendatários, gerentes de grandes

propriedades rurais.

Abaixo desses bolsões, formando a linha mais ampla

do losango das classes sociais brasileiras, fica a grande

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massa das classes oprimidas dos chamados marginais,

principalmente NEGROS e MULATOS, moradores de favelas e

periferias da cidade. São os enxadeiros, os bóia-frias,

os empregados na limpeza às empregadas domésticas, as

pequenas prostituas, quase todos analfabetos e incapazes

de organizar-se para reivindicar. Seu desígnio histórico

é entrar no sistema o que sendo impraticável, situa-os na

condição da classe intrinsecamente oprimida, cuja luta

terá de ser a de romper com a estrutura de classes.

Desfazer a sociedade para refazê-la.

Essa estrutura de classes engloba e organiza todo

povo, operando como um sistema autoperpetuante de ordem

social vigente. Seu comando natural são as classes

dominantes. Seus setores mais dinâmicos são as classes

intermédias. Seu núcleo mais combativo, as classes

subalternas. E seus componentes majoritários são as

classes oprimidas, só capazes de explosão catárticas ou

de expressão indireta de sua revolta. Geralmente estão

resignadas com seu destino, apesar da miserabilidade em

que vivem, e por sua incapacidade de organizar-se e

enfrentar os donos do poder.

Os setores intermediários funcionam como um

atenuador ou agravador das tensões sociais e são levados

mais vezes a operar no papel de mantenedores da ordem do

que de ativistas de transformações.

As classes subalternas são formadas pelos que estão

integrados regularmente na vida social, no sistema

produtivo e no corpo de consumidores, geralmente

sindicalizados. Seu pendor é mais para defender o que já

têm e obter mais do que para transformar a sociedade. O

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quarto estrato, formado pelas classes oprimidas, é o dos

excluídos da vida social, que lutam por ingressar no

sistema de produção e pelo acesso ao mercado. Na verdade

é a este último corpo, apesar de sua natureza inorgânica

e cheia de antagonismo, que cabe o papel de renovador da

sociedade como combatente de causa de todos os outros

explorados e oprimidos. Isso porque só tem perspectivas

de integrar a vida social rompendo toda estrutura de

classes. Essa configuração de classes antagônicas, mas

independentes organiza-se, de fato, para fazer oposição

às classes oprimidas, que ontem foram escravos e hoje

subasssalariados em razão do pavor/pânico que infunde a

todos a ameaça de uma insurreição social generalizada.

1.5. DIFERENÇA SOCIAL

D. Ribeiro 1995- tratou essa diferença, como

distância social onde ele diz que, como efeito, no

Brasil, as classes ricas e as pobres se separam umas das

outras por distâncias sociais e culturais quase tão

grandes quanto as que medeiam entre povos distintos. Ao

vigor físico, à longevidade, à beleza dos poucos situados

no ápice como expressão do usufruto da riqueza social se

contrapõe a fraqueza, a enfermidade, o envelhecimento

precoce, a feiúra da imensa maioria, expressão da penúria

em que vivem. Ao traço refinado, à inteligência, enquanto

reflexo da instrução, aos costumes patrícios e

cosmopolitas dos dominadores, corresponde o traço rude, o

saber vulgar, a ignorância e os hábitos arcaicos dos

dominados.

Quando um indivíduo consegue atravessar a barreira

de classe para ingressar no estrato superior e nele

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permanecer, se pode notar em uma ou duas gerações seus

descendentes crescerem em estatura, se embelezarem, se

refinarem, se educarem, acabando por confundir-se com o

patriciado tradicional.

Observando a massa popular de aglomerados

brasileiros, onde predominam um ou outro estrato, se pode

ver como se contrastam gritantemente. A multidão de uma

praia de Copacabana e os moradores de uma favela ou

subúrbio carioca, ou mesmo público um comício de Natal ou

em Campinas, como representações dessas camadas opostas,

se configuram ao observador mais desavisado como

humanidades distintas.

A Estratificação social gerada historicamente tem

também como caraterística a racionalidade restante de sua

montagem como negócio que a uns privilegia e enobrece,

fazendo-os donos da vida, e aos demais subjuga e degrada,

como objeto de enriquecimento alheio. Esse caráter

intencional do empreendimento faz do Brasil, ainda hoje,

menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não

estrutura a população para o preenchimento de suas

condições de sobrevivência e de progresso, mas para

enriquecer uma camada senhorial voltada para tender às

solicitações exógenas.

Essas duas características complementares as

distâncias abismais entre os diferentes estratos e o

caráter intencional do processo formativo, condicionaram

a camada senhorial para encarar o povo como mera força de

trabalho destinada a desgastar-se no esforço produtivo e

sem outros direitos que o de comer enquanto trabalha,

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para refazer suas energias produtivas, e o de reproduzir-

se para repor mão-de-obra gasta.

Nem podia ser de outro modo no caso de patronato que

se formou lidando com escravos, tidos como coisas e

manipulados com objetivos puramente pecuniários,

procurando tirar de cada peça o maior proveito possível.

Quando ao escravo sucede o parceiro, depois o assalariado

agrícola, as relações continuam impregnadas dos menores

valores, que se exprimem na desumanização das relações de

trabalho.

Em conseqüência, nas vilas próximas às favelas, se

concentra uma população detriária de velhos desgastados

no trabalho e de crianças entregue as seus avós. O grosso

da população em idade ativa passa a vida fora, sobre os

caminhões de bóia-frias ou como empregados domésticos,

subempregos e prostituição.

Nas metrópoles, essa situação se agrava e, também,

se abranda. Nas camadas mais pobres se podem distinguir

famílias se esforçando para ascender e outras tantas

soterradas cada vez mais na pobreza, na delinqüência e na

marginalidade.

As classes sociais brasileiras não podem ser

representadas por um triângulo, com um nível superior, um

núcleo e uma base. Elas configuram um losango, com um

ápice finíssimo, de pouquíssimas pessoas, e um pescoço,

que se vai alargando daqueles que se integram no sistema

econômico como trabalhadores regulares e como

consumidores. Tudo isso como um funil invertido, em que a

maior parte da população, marginalizada da economia e da

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sociedade, que não consegue empregos regulares nem ganhar

o salário mínimo.

1.6. CLASSE E RAÇA

D. Ribeiro-1995 Para ele a distância social mais

espantosa do Brasil é a que separa e opõe os pobres dos

ricos. A ela se soma, porém, a discriminação que pesa

sobre negros, mulatos e índios, sobretudo os primeiros.

Entretanto, a rebeldia negra é muito menor e menos

agressiva do que deveria ser. Não foi assim no passado.

As lutas mais longas e mais cruentas que se travaram no

Brasil foram à resistência indígena secular e a luta dos

negros contra a escravidão, que deram os séculos do

escravismo. Tendo início quando começou o tráfico, só se

encerrou com a abolição.

Sua forma era principalmente a da fuga, para a

resistência e para a reconstituição de sua vida em

liberdade nas comunidades solidárias dos quilombos, que

se multiplicaram aos milhares. Eram formações

protobrasileiras, porque o quilombola era um negro já

aculturado, sabendo sobreviver na natureza brasileira, e,

também, porque lhe seria impossível reconstituir as

formas devidas da África. Seu drama era a situação

paradoxal de quem pode ganhar mil batalhas sem vencer a

guerra, mas não pode perder nenhuma. Isso foi o que

sucedeu com todos os quilombos, inclusive com o principal

deles, Palmares, que resistiu por mais de um século, mas

afinal caiu, arrasado, e teve o seu povo vendido, aos

lotes, para o sul e para o Caribe.

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Entretanto, a luta mais árdua do negro africano e

de seus descendentes brasileiros foi, ainda é a conquista

de um lugar e de um papel de participante legítimo na

sociedade nacional. Nela se viu incorporado a força.

Ajudou a construí-la e, nesse esforço, se desfez, mas, ao

fim, só nela sabia viver, em razão de sua total

desafricanização. A primeira tarefa cultural do negro

brasileiro foi a de aprender a falar o português que

ouvia nos berros do capataz. Teve de falá-lo para

comunicar-se com seus companheiros de desterro, oriundo

de diferentes povos. Fazendo-o, se reumanizou, começando

a sair da condição de bem semovente, mero animal ou força

energética para o trabalho. Conseguindo miraculosamente

dominar a nova língua, não só a refez, emprestando

singularidade ao português do brasil, mas também

possibilitou sua difusão por todo o território, uma vez

que nas outras áreas se falava principalmente a língua

dos índios, o tupi-guarani.

Calculo que o Brasil, no seu ”fazimento“, gastou

cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a

principal força de trabalho de tudo o que se produziu

aqui e de tudo que aqui se edificou. Ao fim do período

colonial, constituía uma das maiores massas negras do

mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história,

foi à causa principal da queda do Império e da

proclamação da República. Mas as classes dominantes

reestruturaram eficazmente seu sistema de recrutamento da

força de trabalho, substituindo a mão-de-obra escrava por

imigrantes importados da Europa, cuja população se

tornara excedente e exportável a baixo preço.

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O negro, condicionado culturalmente a poupar sua

força de trabalho para não ser levado à morte pelo

chicote do capataz, contrastava vivamente como força de

trabalho com o colono vindo da Europa, já adaptado ao

regime salarial e predisposto a esforçar-se ao máximo

para conquistar ele próprio, um palmo de terra em que

pudesse prosperar, livre de exploração dos fazendeiros.

O negro, sentindo-se aliviado da brutalidade que o

mantinha trabalhando no eito, sob a mais dura repressão,

inclusive as punições preventivas, que não castigavam

culpas ou preguiças, mas só visavam dissuadir o negro de

fugir, só queria a liberdade. Em conseqüência, os ex-

escravos abandonam as fazendas em que labutavam, ganham

as estradas à procura de terrenos baldios em que pudessem

acampar, para viverem livres como se estivessem nos

quilombos, plantando milho e mandioca para comer. Caíram,

então, em tal condição de miserabilidade que a população

negra reduziu-se substancialmente. Menos pela supressão

da importação anual de novas massas de escravos para

repor o estoque, porque essas já vinham diminuindo há

décadas. Muito mais pela terrível miséria a que foram

atirados. Não podiam estar em lugar algum, porque cada

vez que acampavam, os fazendeiros vizinhos se organizavam

e convocavam forças policiais para expulsá-los, uma vez

que toda a terra estava possuída e, saindo de uma

fazenda, se caía fatalmente em outra.

As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de

filhos e netos dos antigos senhores de escravos, guardam,

diante do negro, a mesma atitude de desprezo vil. Para

seus pais, o negro escravo, o forro bem como o mulato

eram mera força energética, como um saco de carvão, que

desgastado era substituído facilmente por outro que se

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comprava. Para seus descendentes, o negro livre, o mulato

e o branco pobre são também o que há de mais reles, pela

preguiça, pela ignorância, pela criminalidade inatas e

inelutáveis. Todos eles são tidos consensualmente como

culpados de suas próprias desgraças, explicadas como

características da raça e não como resultados da

escravidão e da opressão. Essa visão deformada é

assimilada também pêlos mulatos e até pêlos negros que

conseguem ascender socialmente, o quais se somam ao

contingente branco para discriminar o negro-massa.

A nação brasileira, comandada por gente dessa

mentalidade, nunca fez nada pela massa negra que a

construíra. Negou-lhe posse de qualquer pedaço de terra

para viver e cultivar, de escolas em que pudesse educar

seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes

deu, sobejamente, discriminação e repressão.

Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades,

onde encontrava um ambiente de convivência social menos

hostil. Constituíram, originalmente, os chamados bairros

africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas

vêm se multiplicando, como a solução que o pobre encontra

para morar e conviver. Sempre debaixo da permanente

ameaça de serem erradicados e expulsos.

O negro rural translado às favelas, tem de aprender

os modos de vida da cidade, onde não pode plantar.

Afortunadamente, encontram negros de antiga extração

nelas instalados, que já haviam construído uma cultura

própria, na qual se expressavam com alto grau de

criatividade. Uma cultura feita de retalhos do que o

africano guardara no peito nos longos anos de escravidão,

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como sentimentos musicais, ritmos, sabores e

religiosidade.

A partir dessas precárias bases, o negro urbano veio

a ser o que há de mais vigoroso e belo na cultura popular

brasileira.

Com base nela é que se estrutura o nosso Carnaval, o

culto a Iemanjá, a capoeira e inumeráveis manifestações

culturais. Mas o negro aproveita cada oportunidade que

lhe é dada para expressar o seu valor. Isso ocorre em

todos os campos em que não se exige escolaridade. É o

caso da música popular, do futebol e de numerosas formas

menos visível de competição e de expressão. O negro vem a

ser , por isso, apesar de todas as vicissitudes que

enfrenta, o componente mais criativo da cultura

brasileira e aquele que junto com os índios, mais

singulariza o nosso povo.

O enorme continente negro e mulato e, talvez, o mais

brasileiro dos componentes de nosso povo. O é porque,

desafricanzado na mó da escravidão, não sendo índio

nativo nem branco reinol, só podia encontrar sua

identidade como brasileiro. Vale dizer, como um povo

novo, feito de gente vindo de toda parte, em pleno e

alegre processo de fusão. Assim é que os negros não se

aglutinam como uma massa disputante de autonomia ética,

mas como gente intrinsecamente integrada no mesmo povo

brasileiro.

O mulato, participando biológica e socialmente do

mundo branco, pode acercar-se melhor de sua cultua

erudita e nos deu algumas das figuras mais dignas e

cultas que tivemos nas letras, nas artes e na política.

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Entre eles, o artista Aleijadinho; o escritor Machado de

Assis; o jurista Rui Barbosa; o compositor José Maurício;

o poeta Cruz e Sousa; o tributo Luis Gama; como

políticos; os irmãos Mangabeira e Nelson Carneiro; e

intelectuais como Abdias do Nascimento e Guerreiro Ramos;

Teve, também, por sua vivacidade e pela extraordinária

beleza de muitos deles, sobretudo das mulatas,

resultantes do vigor híbrido, maiores chances de ascensão

social, ainda que só progredisse na medida em que negava

sua negritude. Posto entre os dois mundos conflitantes, o

do negro, que ele rechaça, e o do branco, que o rejeita,

o mulato se humaniza no drama de ser dois, que é o de ser

ninguém.

Nos últimos anos, por efeito do sucesso do negro

americano, que foi tido pêlos brasileiros como uma

vitória da raça, mas principalmente pela ascensão de uma

parcela da população de cor, através da educação e da

ampliação das oportunidades de emprego, o negro

brasileiro vem tomando coragem de assumir orgulhosamente

sua condição de negro.

O mesmo ocorreu e a muito mulatos que saltaram para

o lado negro de sua dupla natureza. Essa passagem. De

fato, era muito difícil, em razão da imensa massa negra,

afundada na miséria mais atroz, com que não podia se

confundir. Massa que compõe a imagem popular do negro,

cuja condição é absolutamente indesejável, porque sobre

ela recai, com toda dureza, o pauperismo, as

enfermidades, a criminalidade e a violência.

Isso ocorre numa sociedade doentia, de consciência

deformada, em que o negro é considerado como culpado de

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sua penúria. Nessas circunstâncias, seu sofrimento não

desperta nenhuma solidariedade e muito menos a

indignação. Em conseqüência, o destino dessa parcela

majoritária da população não é objeto de nenhuma forma

específica de ajuda para que saia da miséria e da

ignorância.

Prevalece, em todo o Brasil, uma expectativa

assimilacionista, que leva os brasileiros a supor o

desejar que os negros desapareçam pela branquização

progressiva. Ocorre efetivamente, uma morenização dos

brasileiros, mas ela se faz tanto pela branquização dos

pretos, como pela negrização dos brancos. Desse modo,

devemos configurar no futuro uma população morena em que

cada família, por imperativo genético, terá por vezes,

ocasionalmente, uma negrinha retinta ou um branquinho

desbotado.

É verdade que com os maiores índices de fertilidade

dos pretos, em razão de sua pobreza e da conduta que

corresponde a ela, os negros iriam imprimir mais

fortemente sua marca na população brasileira. Não é

impossível que lá pelos meados do próximo século, num

brasil de 300 milhões, haja uma nítida preponderância de

pretos e mulatos.

A característica distinta do racismo brasileiro é

que ele não incide sobre a origem racial das pessoas, mas

sobre a cor de sua pele. Nessa escala, negro é o negro

retinto, o mulato já é o pardo e como tal meio branco, e

se a pele é um pouco mais clara, já passa a incorporar a

comunidade branca. Acresce que aqui se registra, também,

uma branquização puramente social ou cultural. É o caso

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dos negros que ascendendo socialmente, com êxito notório,

passam a integrar grupos de convivência dos brancos, a

casar-se entre ele se, afinal, a serem tidos como

brancos.

A definição brasileira de negro não pode

corresponder a um artista ou a um profissional exitoso.

Exemplifica essa situação o diálogo de um artista negro,

o pintor Santa Rosa, com um jovem, também negro, que

lutava para ascender na carreira diplomática, queixando-

se das imensas barreiras que dificultavam a ascensão das

pessoas de cor. O pintor disse, muito comovido:

”Compreendo perfeitamente o seu caso, meu caro. Eu também

já fui negro“.

Já no século passado, um estrangeiro, estranhando

ver um mulato no alto posto de capitão-mor, ouviu a

seguinte explicação ”Sim, ele foi mestiço, mas como

capitão-mor não pode deixar de ser branco“ (Koster 1942

L:480).

A forma peculiar do racismo brasileiro decorre de

uma situação em que a mestiçagem não é punida, mas

louvada. Com efeito, as uniões inter-raciais, aqui, nunca

foram tidas como crime nem pecado. Provavelmente porque o

povoamento do Brasil não se deu por famílias européias já

formadas, cujas mulheres brancas combatessem todo o

intercurso com mulheres de cor.

Nós surgimos, efetivamente, do cruzamento de uns

poucos brancos com multidões de mulheres índias e negras.

Essa situação não chega a configurar uma democracia

racial, como quis Gilberto Freyre e muita gente mais,

tamanha é a carga de opressão, preconceito e

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discriminação antinegro que ela encerra. Não o é também,

obviamente, porque a própria expectativa de que o negro

desapareça pela mestiçagem é um racismo.

Mas o certo é que contrasta muito, e contrasta para

melhor, com as formas de preconceito propriamente racial

que conduzem ao apartheid. É preciso reconhecer,

entretanto, que o apartheid tem conteúdos de tolerância

que aqui se ignoram. Quem afasta o alterno e o põe à

distância maior possível, admite que ele conserve, lá

longe, sua identidade, continuando a ser ele mesmo. Em

conseqüência, induz à profunda solidariedade interna do

grupo discriminado, o que capacita a lutar claramente por

seus direitos sem admitir paternalismo. Nas conjunturas

assimilacionistas, ao contrário, se dilui a negritude

numa vasta escala de gradações, que quebra a

solidariedade, reduz a combatividade, insinuando a idéia

de que a ordem social é uma ordem natural, senão sagrada.

O aspecto mais perverso do racismo assimilacionista

é que ele dá de si uma imagem de maior sociabilidade,

quando. De fato, desarma o negro para lutar contra a

pobreza que lhe é impossível, e dissimula as condições de

terrível violência a que é submetido. É de assinalar,

porém, que a ideologia assimilacionista da chamada

democracia racial afeta principalmente os intelectuais

negros. Conduzindo-os a campanhas de conscientização do

negro para a conciliação social e para o combate ao ódio

e ao ressentimento do negro. Seu ilusório é criar

condições de convivência em que o negro possa aproveita

as linhas de capilaridade social para ascender, através

da adoção explícita das formas de conduta e de etiqueta

dos brancos bem-sucedidos.

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Cada negro de talento extraordinário realiza sua

própria carreira, como a de Pelé, a de Pixinguinha ou a

de Grande Otelo e inumeráveis outros esportistas e

artistas, sem encontrar uma linguagem apropriada para a

luta anti-racista. O assimilacionismo, como se vê, cria

uma atmosfera de fluidez nas relações inter-raciais, mas

dissuade o negro para sua luta específica, sem

compreender que a vitória só é alcançável pela revolução

social.

A Revolução Cubana veio demonstrar que os negros

estão muito mais preparados do que se pode supor para

ascender socialmente. Com efeito, alguns anos de

escolaridade francamente aberta e de estímulo á auto-

superação aumentaram, rapidamente, o contingente de

negros que alçaram após postos mais altos do governo, da

sociedade e da cultura cubanas. Simultaneamente, toda a

parcela negra da população, liberada da discriminação e

do racismo, confraternizou com os outros componentes da

sociedade, aprofundando assinalavelmente o grau de

solidariedade.

Tudo isso demonstra, claramente, que a democracia

racial é possível, mas só é praticável conjuntamente com

a democracia social. Ou bem há democracia para todos, ou

não há democracia para ninguém, porque á opressão do

negro condenado á dignidade de lutador da liberdade,

corresponde o opróbrio do branco posto no papel de

opressor dentro de sua própria sociedade.

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1.7. BRANCOS VERSUS NEGROS

O censo de 1950 permite algumas comparações

significativas entre as condições de vida e de trabalho

de negros e branco na população brasileira ativa.

Considerando, por exemplo, o grupo patronal em conjunto,

verifica-se que as possibilidades de um negro chegar a

integrá-lo são enormemente menores, já que de cada mil

brancos ativos maiores de dez anos, 23 são empregadores,

contra apenas quatro pretos donos de empresas por cada

mil empregados.

Comparando a posição ocupacional dos 4 milhões de

pretos maiores de dez anos de idade com o milhão de

estrangeiros registrado pelo menos censo, verifica-se

que, enquanto os primeiros contribuem com apenas 20 mil

empregadores, os últimos detém 86 mil propriedades. É

visível que esses estrangeiros, vindo ao Brasil nas

últimas décadas como imigrantes, encontraram condições de

ascensão social muito mais rápida que o conjunto da

população existente, porém enormemente mais intensa que o

grupo negro.

Segundo os dados do mesmo censo, no conjunto das

ocupações de alto padrão havia um empregador preto para

cada 25 não pretos; e um preto para cada cinqüenta

profissionais liberais. Coerentemente, nas categorias

profissionais mais humildes, se encontra um preto para

cada sete operários fabris de outras cores e, o que é

muito expressivo, um preto para cada quatro outros

lavradores e eito.

Examinando a carreira do negro no Brasil se verifica

que, introduzindo como escravo, ele foi desde o primeiro

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momento chamado à execução das tarefas mais duras, como

mão-de-obra fundamental de todos os setores produtivos.

Tratado como besta de carga exaurida no trabalho, na

qualidade de mero investimento destinado a produzir o

máximo de lucros, enfrentava precaríssimas condições de

sobrevivência. Ascendendo à condição de trabalhador

livre, antes ou depois da abolição, o negro se via

jungido a novas formas de exploração que, embora melhores

que a escravidão, só lhe permitiam integrar-se na

sociedade no mundo cultural, que se tornaram seus, na

condição de um sub-proletariado compelido ao exercício de

seu antigo papel, que continuava sendo principalmente e

de animal de serviço.

Enquanto escravo poderia algum proprietário

previdente ponderar, talvez, que resultaria mais

econômico manter suas ”peças“ nutridas para tirar delas,

a longo termo, maior proveito. Ocorreria, mesmo, que um

negro desgastado no eito tivesse oportunidade de

envelhecer num canto da propriedade, vivendo do produto

de sua própria roça, devotado as tarefas mais leves

requeridas pela fazenda. Liberto, porém, já não sendo de

ninguém, se encontrava só e hostilizado, contando apenas

com sua força de trabalho, num mundo em que a terra e

tudo o mais continuava apropriada. Tinha de sujeitar-se,

assim, a uma exploração que não era maior que dantes,

porque isso seria impraticável, mas era agora

absolutamente desinteressada do seu destino. Nessas

condições, o negro forro, que alcançara de algum modo

certo vigor físico, poderia, só por isso, sendo mais

apreciado como trabalhador, fixar-se nalguma fazenda, ali

podendo viver e reproduzir. O débil, o enfermo, o

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precocemente envelhecido no trabalho, era simplesmente

enxotado como coisa imprestável.

Depois da primeira lei abolicionista, a Lei do

Ventre Livre, que liberta o filho da negra escrava, nas

áreas de maior concentração da escravaria, os fazendeiros

mandavam abandonar, nas estradas e nas vilas próximas, as

crias de suas negras que, já não sendo coisas suas, não

se sentiam mais na obrigação de alimentar. Nos anos

seguintes à Lei do Ventre Livre (1871), fundaram-se nas

vilas e cidades do estado de são Paulo dezenas de asilos

para acolher essas crianças, atiradas fora pêlos

fazendeiros. Após a abolição, à saída dos negros de

trabalho que não mais queriam servir aos antigos

senhores, seguiu-se à expulsão dos negros velhos e

enfermos das fazendas. Numerosos grupos de negros

concentraram-se, então, à entrada das vilas e cidades,

nas condições mais precárias. Para escapar a essa

liberdade famélica é que começaram a se deixar aliciar

para o trabalho sob as condições ditadas pelo latifúndio.

Nessas condições é que se deve procurar a explicação

da gritante discrepância entre a expansão do contigente

branco e do negro no desenvolvimento da população

brasileira, permitindo ao primeiro crescer, nos últimos

séculos, na proporção de um para nove, ao outro, apenas

de um para dois e meio, reduzindo seu montante tanto

percentualmente como em números absolutos.

Para F. Fernandes 1964- as taxas de analfabetismo,

de criminalidade e de mortalidade dos negros são por isso

mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade

brasileira em cumprir, na prática, seu ideal professado

de uma democracia racial que integrasse o negro na

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condição de cidadão indiferenciado dos demais. Para ele

enquanto não alcançarmos esses objetivos, não teremos uma

democracia racial e tampouco uma democracia. Por um

paradoxo da história, o negro converteu-se, em nossa era,

na pedra de toque da nossa capacidade de forjar nos

tópicos esses suportes da civilização moderna.

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CAPÍTULO II RACISMO

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2.1. O RACISMO NO BRASIL ATUAL

Segundo Silva, 1987, porque disfarçado, o racismo

ainda é a forma mais clara de discriminação na sociedade

brasileira, apesar de não admitir o brasileiro seu

preconceito. “A emoção das pessoas, o sentimento inferior

delas é que é racista. Quando racionalizam, elas não se

reconhecem assim, não identifica, em suas atitudes

componentes de discriminação”, analisa Alcione Araújo,

escritor e dramaturgo. O brasileiro tem dificuldades em

assumir devido ao processo de convivência cordial que

distorce o conflito. Devido a isto, por esta dissimulado,

hipócrita, é difícil de ser combatido.

A discriminação racial está espalhada pelo Brasil.

Escola, Mídia, Mercado de trabalho, família e a própria

sociedade apresentam um modelo branco de valorização. O

acesso aos espaços políticos, aos bens sociais, á

produção do pensamento, a riqueza, tem sido determinado

pela lógica escravocrata, o espaço negro é reduzido. O

negro é discriminado e não é reconhecido em suas

atividades. Entretanto, nas narrativas de humilhações e

dificuldades entram em choque com o fato concreto que é a

presença e importância fundamental dos negros e seus

descendentes na cultura e nas artes brasileiras. Grandes

nomes como o do escultor aleijadinho, do autor Machado do

Assis, do Jurista Rui Barbosa, todos os mulatos, devem

ser lembrados como engrandecedores de nossa sociedade.

O preconceito está sempre queimando e maltratando

alguém. Note-se na atitude de Pio Guerra ao desqualificar

a então Senadora Benedita da Silva, na comparação com o

mito norte –americano Marilyn Monroe, na grosseria da

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composição Veja os Cabelos Dela, de Tiririca, perdoada

como gracinha inocente, ou em pesquisas informais, como a

realizada entre vinte e oito pessoas de pigmentação

clara, residentes num mesmo prédio da Zona Norte carioca:

ninguém admitiu o racismo, apesar do uso de expressões

clássicas do tipo: “bom crioulo”, “negro de alma branca”,

“é negro, mas é educado”, ”fulano de tal tem cabelo

duro”.

A discriminação dá-se de duas formas: direta ou

indireta. Diz –se discriminação direta a adoção de regras

gerais que estabelecem distinções através de proibições.

É o preconceito expressado de maneira clara como, por

exemplo, a proibição ou o tratamento desigual a um

indivíduo ou grupo que poderia ter os mesmos diretos e o

são negados.

A discriminação indireta está internamente

relacionada com situações aparentemente neutras, mas que

criam desigualdades em relação a outrem. Está última

maneira de preconceito é mais comum no Brasil.

Segundo a escritora Alcione Araújo “é espantoso a

naturalidade com que as pessoas, principalmente artistas

famosos, manifestam seus preconceitos. Essas pessoas

parecem não perceber o que estão fazendo e como

colaboram para a internalização do preconceito, já que a

suas falas são tidas como verdades, repelidas nas

novelas, multiplicadas pela mídia”.

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“Apartheid palavra que vem da

língua holandesa e significa

“separação”. Com este mesmo nome

ficou conhecido o pior regime

racista dos tempos modernos, que

durante 48 anos feriu a dignidade

humana dos negros na África do

sul.”

2.2. DISCRIMINAÇÃO RACIAL E PRECONCEITO

Segundo Teixeira, 2003, parece que difundido sistema

de classificação racial que opera no Brasil, como foi

mostrado, embora bastante amplo e rico em categorias e

possibilidades de identificação, guarda um certo campo de

possibilidades que por navegar entre o clareamento e o

escurecimento do indivíduo, acaba por ampliar também,

junto com ele, a gama de possibilidades para a prática de

discriminação racial. É como se o tão falado jeitinho

brasileiro (cf. Barbosa, 1992) tivesse sua versão dentro

de um sistema de classificação racial, no Brasil, que

identifica pessoas com base em características físicas,

sobretudo de cor de pele, revelando um jeitinho

brasileiro de discriminar.

“Acho que o negro no Brasil,

ele é muito discriminado, com

jeitinho, em quase todos os

lugares”.

Aluna de Ciências Sociais.

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Integram esse jeitinho brasileiro de discriminar os

diferentes graus de rejeição ao negro, que podem ir desde

a “relativa”aproximação social, estabelecida nos momentos

de lazer, o estreitamento de laços de amizade por ex.,

até o completo afastamento representado pelas proibições

de famílias brancas ao casamento com negros. Dentro desse

campo, onde existem possibilidades de mesmo indivíduo

clarear ou escurecer, tanto por autoclassificação como

por classificação de terceiros - como ficou demonstrado -

as discriminações podem ou não ocorrer, em qualquer meio

onde ele se encontre, no público ou no privado, nas

relações íntimas ou profissionais, nas situações mais

“previsíveis” ou mesmo naquelas mais ”inesperadas”. É

como diz um entrevistado, o preconceito racial no Brasil

pode “tanto não ser tão ruim quanto poderia ser, quanto

ser, volta e meia, cheio de eventos graves em relação aos

negros”. Faz parte desse jeitinho de discriminar ambas as

possibilidades. Aquela que discrimina, ao nível

ideológico, valorizando a mistura, a indiversidade de

raças a cultura negra vista enquanto cultura brasileira,

discriminando no sentido de diferenciar tanto quanto

aquela que discrimina para excluir, buscando os elementos

que inferiorizam aquele que é o “alvo” do ato

discriminatório.

Mesmo quando o negro está numa situação de fato e

incontestavelmente superior, ele, ainda assim, pode

pecerber-se alvo de preconceito. Descreve-se, a seguir,

um caso bastante insólito, na intenção de ilustrar os

limites a que pode chegar o racismo, mesmo no Brasil -

berço da tão difundida ideologia da “democracia racial”,

e numa cidade tão “moderna” e “cosmopolita” como o Rio de

Janeiro, se visto em relação ao resto do país. Nesse

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exemplo, uma paciente internada num hospital, totalmente

incapacitada, ,sofrendo profundamente, parece encontrar

um elo, que poderia ser caracterizado macabro, entre a

sua dor e a suposta dor que atribui ao ser negro do

profissional que ali se encontra em seu auxílio.

2.3. O RACIALISMO

Segundo G.A. dos Santos, (2002) em todos os tempos

esta cor esteve revestida de valores negativos nas

línguas indo-européias. É desta maneira que em sânscrito,

o branco simboliza a classe dos brâmanes, a mais elevada

da sociedade. Em grego, o negro sugere uma mácula tanto

moral quanto física; ele trai, igualmente, os homens de

intenções sinistras. Os romanos não somaram a este

vocábulo nenhum significado novo: para eles, o negro é

signo de morte e de corrupção enquanto o branco

representa a vida e a pureza. Os homens da Igreja, á

procuram de chaves e símbolos que revelassem os sentidos

ocultos da natureza, fizeram o negro a representação do

pecado e da maldição divina.

Como se percebe, mesmo antes da elaboração da

noção de raça como algo que diferenciasse grupos de

sujeitos no mundo, a cor negra já possuía características

negativas.

A busca da compreensão da origem desta oposição

branco/negro e da própria diversidade humana atravessou

séculos. As questões levantadas pêlos iluministas

expandiram-se se tornaram ainda mais complexas.

Para Todorov (1989), os filósofos das luzes os

primeiros a desenvolver teorias racialistas (entenda-se

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aqui o estudo das raças humanas). Segundo ele a, doutrina

racialistas possui um numero coerente de proposições, que

podem ser resumidas em:

1. A existência das raças: consiste na afirmação da

existência de grupos humanos cujos membros possuem

características físicas comuns;

2. A continuidade entre o físico e o moral: a raça não é

apenas definida fisicamente; o racialista postula uma

continuidade entre o físico e o moral, ou seja, a divisão

do mundo em raças corresponde a uma divisão por culturas.

Das diferenças físicas decorrem diferenças mentais que

são transmitidas hereditariamente.

Nesta linha encontram-se os pensadores que atribuem

diferenças culturas aos fatores físicos, estabelecidos

uma ordem causal entre eles.

3 A ação do grupo sobre o indivíduo: o comportamento do

indivíduo depende do grupo sociocultural (ou étnico)

ao qual pertence.

4. Hierarquia única de valores: o racialista usa uma

hierarquia única de valores para elaborar juízos

universais pêlos quais qualifica uma raça cimo superior

ou inferior a outra. Para Todorov, esta escala de valores

é, na maioria das vezes, a origem do etnocentrismo.

5. Política fundada sobre o saber: autor diz que as

proposições de 1 a 4 apresentam-se como uma descrição do

mundo, como constatação de fato. A Quinta é uma conclusão

elaborada a partir das anteriores – uma proposição

doutrinal que estabelece que uma política deve ser

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engajada, colocando o mundo em harmonia com a descrição

precedente.

“Você sabia que palavra ”raça”,

antigamente, era usada só em relação

aos animais? E que a palavra “etnia”

foi criada para ser usada no lugar de

raça quando se tratar de seres

humanos?”

2.4. O RACISMO E A RAÇA BRASILEIRA

... E os negros foram abolidos.

O alastramento das teorias racistas aprimoradas no

século XIX é inimaginável. Se durante a escravidão os

negros já eram desprezados por serem considerados

inferiores, após a Abolição esse despreza só aumentou.

Ora, se não eram inferiores, por que não progrediam como

os imigrantes que chegaram aqui com tão pouco e logo

tinham alcançado algum avanço? Somando-se um mito após o

outro, inferioridade, vagabundagem, incompetência, foi-se

esboçado o perfil do homem negro como anticidadão, como

marginal. Essa visão racista -que buscava afastar negros

e brancos para que não houvesse misturas, para que não

houvesse maior enegrecimento dos países - operava em

várias esferas:

1) Provar a todos a maneira sutil a inferioridade dos

negros e a superioridade dos brancos; 2) Atestar que o Brasil nunca houve barreiras raciais,

todos eram tratados igualmente (estratégia contra possíveis revoltas);

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3) Gerar um sentimento de repulsa do branco pelo negro e de resignação do negro diante de sua própria inferioridade.

Essa estratégia não seria eficiente se não houvesse

um grande contigente de imigrantes que se misturasse aos

nacionais para embranquecer o sangue e a raça brasileira

e também não funcionaria sem que o negro perdesse

qualquer atrativo por sua própria raça, de modo a desejar

a miscigenação. Uma idéia, aparentemente, em contradição

com a exposta anterior, mas que evidencias o desejo de

eliminar de uma forma ou de outra a presença negra nos

país.

Além de alienar o negro de sua própria história,

apregoando o seu caráter passivo e desinteressado, o

movimento abolicionista visava a infundir uma imagem

invertida do mundo aos negros para que eles tomassem como

parâmetro a conduta dos homens brancos, não se opondo á

forma de “integração” que lhes era oferecida.

Dessa forma, o movimento abolicionista funcionou

como um grande estandarte dos interesses dos cidadãos

brancos que pretendiam, de maneira racional e planejada,

adequar o negro a um lugar que não gerasse incômodos á

ordem emergente.

Decorre disso a despreocupação de Nabuco com a

questão social ao discutir a abolição. O Estado

determinaria o Status, a posição de cada indivíduo ou

grupo na sociedade e, como nenhuma nação se faz apenas

com proprietários e capitalistas, seria preciso garantir,

desde sempre, a existência de mão-de-obra, produtora e

uma leva de trabalhadores totalmente despossuídos que

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estivessem disponíveis para realizar qualquer tipo se

trabalho.

Sidney Challhoud, que trata da passagem do

escravismo á República, considera que os pobres e

miseráveis (ex-escravos) passaram a ser tratados não

apenas como desclassificados sociais(inúteis) mas também

como uma ameaça. Segundo ele, nesse período, os

parlamentares engendraram a idéia de que os pobres são

sinônimos de classe perigosa.

Ao parlamentares reconhecem abertamente,

portanto, que se deseja reprimir os miseráveis. Passam a

utilizar, então o conceito de “Classes perigosas”,

avidamente apreendidas nos compêndios europeus da época

(...) Os legisladores brasileiros utilizaram o termo

“classes perigosa” como sinônimo de “classes pobres”, e

isto significa dizer que o fato de ser pobre torna o

indivíduo automaticamente perigoso á sociedade. Os pobres

apresentam maior tendência á ociosidade, são cheios de

vícios, menos moralizados e podem facilmente “rolar até o

abismo do crime”.

Nem é preciso dizer que o Estado, na República do

Brasil, já nasce totalmente intrincado com os interesses

das elites e marcados pela produção de excluídos.

Obviamente, os negros não eram marionetes dos

políticos e intelectuais, quer através das fugas ou

assassinatos dos senhores ou feitores eram constantes

provas de rebeldia e de luta contra a escravidão.

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Célia Marinho de Azevedo nos avisa da constância

desses crimes ou revoltas organizadas que assolavam a

província de São Paulo( e todo o país) na virada das

décadas de 1860 e 1870:

Individualmente ou em pequenos grupos, de forma premeditada ou não, eles se revoltavam e matavam, e ao invés de simplesmente fugir, como era costumeiro - internando-se em quilombo nas Matas ou mesmo em agrupamentos de leprosos á beira das estradas -, começam a se apresentar espontaneamente á polícia, como, se julgassem de seu direito matar quem os oprimia . (1987)

Contudo, foram essas ilusões que possibilitaram que

o processo abolicionista assumisse a face que assumiu. Por

um lado, os abolicionistas, como já foi apontado,

pretendiam uma abolição sem, a participação do povo negro

para que pudessem estabelecer, a seu bel-prazer, o seu

lugar na República que se formava. Por outro lado, não

seria muito mais vantajoso os negros organizar outras

formas de luta e reação formando Estados (como os diversos

quilombos que foram) do que se inserir num processo que

desde seu início tinha como objetivo excluí-lo? Os negros

que lutavam pela liberdade sabiam disso. A abolição nunca

foi sinônimo de ganho para a população negra. Também não

representava um ganho nem mesmo para aqueles que,

realmente, eram alheios à liberdade dos escravos e

aderiram á ilusões cujos altos custos até hoje recaem

sobre seus descendentes.

Célia Marinho de Azevedo adverte-nos para o fato de

que os primeiros emancipacionistas, preocupados com a

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presença dos negros, apregoavam o ódio natural entre as

raças e a necessidade de uma emancipação imediata para que

nos livrássemos do mal gerado por eles. Para isso, caberia

educar, domesticar o negro e não faltaram propostas como

as de José Bonifácio que, apesar de considerar o africano

detentor de pouca capacidade mental, não recusa a hipótese

de utilizá-lo como colono livre para o povoamento e

processo nacional. Já Maciel da Costa, diante da inimizade

entre brancos e negros, perguntava-se o que fazer com uma

raça que, apesar de receber bons trabalhos, era tão

hostil. Outros, como Cezar Burlamarque, defendiam a

devolução dos negros á África devido ao iminente perigo

que eles representavam para a raça branca.

O medo da desagregação total da nação brasileira

quer pela miscigenação com uma raça inferior quer pela

simples destruição da raça branca por mãos negras ocupava

a mente desses primeiros emancipacionistas. Já na geração

seguinte, a dos abolicionistas, observa-se uma mudança

estratégica: ao invés de cultivar o ódio entre as raças, o

medo e a revolta, apregoou-se a igualdade, a harmonia, a

paz. É desta forma que Joaquim Nabuco apresenta o Brasil

em sua O abolicionista.

2.5. O DESEJO DO BRANQUEAMENTO

G.A.dos Santos entende que para o negro não ser

excluído: Acredito que as frases “Como já dissemos e

repetimos, as dificuldades atuais provém do escravo, mau

trabalhador que não pode se desenvolver; e por isso somos

abolicionistas”, conclua o caráter abolicionista de Couty

e o porquê de, ao redor de sua teoria, circularem

conceitos racistas que, difundidos na sociedade

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brasileira, terão conseqüências desastrosas até nossos

dias.

Tanto Couty quanto Gobineau e muitos outros

encontraram no Brasil um solo fértil para a comprovação

das teorias biológicas de então. Era aqui o melhor local

para se comprovar que a raça negra era inferior, pois o

Brasil ainda não havia alcançado sua independência

econômica.

Vimos que, de fato, o país encontrava-se numa

situação difícil, sendo um dos últimos países a manter o

regime escravista. Havia o problema do como ingressar

tardiamente na era industrial sem destruir a economia

nacional baseada no trabalho agrícola e nas grandes

propriedades.

Se a questão fosse assim colocada, as alternativas

viáveis seriam destruir os latifúndios e os vícios ligados

a eles, revogar o trabalho escravo e propiciar a

arregimentação dos ex-escravos como trabalhadores livres.

Mas, como podemos verificar, principalmente no discurso de

Couty, as noções de progresso e desenvolvimento não se

dissociavam das noções de progresso e desenvolvimento não

se dissociavam das noções de seleção étnica. As

dificuldades dos países diante da herança colonial não

foram encaradas, mas camufladas. Não havia a preocupação

com a mudança das formas de produção econômica, mas com a

modificação dos antigos produtores.

Essa maneira de encarar o problema social, político

e econômico impregnou-se de tal forma no pensamento da

época que era quase impossível encontrar indivíduos que

não compartilhassem dela.

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O anseio de uma onda branca (imigrantes) para

combater a presença negra explicitava-se nos discursos da

Assembléia, nos texto de jornais, nas obras literárias e

“filosóficas”.

Não é de se estranhar à forma distorcida como André

Rebouças, abolicionista, via a questão social do negro.

Nascido na Bahia no ano de 1838, Rebouças era mestiço

de negro e branco. Tentando vorazmente, aprender sobre a

cultura de sua época, põe-se a devorar informações e

experiências que lhe possibilitassem ingressar mais

facilmente no mundo que a sua condição de negro e pobre

previamente excluíra. Mas, ao participar da política do

Império, aliou-se aos inimigos dos negros, aqueles que o

encaravam (ou os negros de modo geral) como inferior.

Desta forma, Rebouças alcançou as boas graças do imperador

Pedro II e pôde, pêlos cargos obtidos e uma maior

facilidade de circulação no meio cultural, aprimorar sua

formação na Europa.

Tornou-se, assim, um perfeito cavalheiro de sua

época, bem dotado e capaz de transitar entre a elite

branca.

Mas o que chama a atenção na história desse pensador

é que, como negro, tendo a possibilidade de participar

diretamente da transformação da mentalidade racista que

circulava nos meios brancos, ao contrário, identificou-se

a ela e afastaram-se de todos os valores que pudessem

identificá-lo como descendente de africanos. Tratou o

problema da escravidão como algo que só lhe dizia

respeito por questão de princípios ou de opção. Assim nos

demonstrou Leo Sptzer em seu artigo sobre André Rebouças:

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Em seus primeiros diários, usava, habitualmente, dos termos ”o negro” e ö preto”, referendo-se também com indiferença quando tratava das classes baixas afro-brasileiras, o que talvez refletisse, por essa época de sua vida, um desejo de distanciar-se da ralé, tanto racial quando socialmente.

Entretanto, sendo negro, Rebouças também era

perseguido e discriminado e sua inteligência e capacidade

de trabalho não atenuavam, como ele poderia desejar, esse

fator. Mas a amizade de alguns homens ilustre da época,

como o Visconde de Taunay e como o próprio imperador, fez

com que ele pudesse ter acesso às rodas sociais e a

alguns bons postos profissionais.

Vários fatores levaram Rebouças a se engajar,

paulatinamente, na luta abolicionista e, após essa e o

término do Império, a se identificar como cidadão negro.

O caso Rebouças torna-se importante para nós, na

medida em que explicita a dificuldade de resistência à

ideologia racista fundamentada nos valores científicos e

filosóficos que cobriam o país.

Contudo, seria simples demais considerar André

Rebouças um mero alienado. Seria ele um negro que

desconheceria suas origem, negaria o estado social dos

demais negros e se afastaria deles? Teria sucumbido,

integralmente, à persuasão da ideologia racista?

A leitura de Leo Spitzer nos conduz a dizer sim a

todas essas perguntas. Contudo, a complexidade da questão

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racial no Brasil nos obriga a dizer um sim com algumas

ressalvas. Por quê?

Afirmar que Rebouças foi um negro que simplesmente

negou sua negritude sucumbindo à ideologia é dizer pouco.

Certamente, como todos os cidadãos negros/ou

mestiços da época, que fizeram dos salões brancos ou

lugar de preferencia, André Rebouças foi discriminado.

Pensemos que as opções de que ele dispunha, assim como

tantos outros negros livres ou libertos da virada do

século, era tentar não ser negro como condição sine qua

nou para ser considerado homem e pensante ou assumir-se

negro, bradando contra os preconceitos e ser,

imediatamente, barrado entre a intelectualidade

tupiniquim. Ora, vimos que os estereótipos afirmavam a

incapacidade intelectual dos negros e Rebouças,

intelectual, não queria pertencer aos círculos dos “não-

pensantes”. Assim, das duas uma: ou se era inteligente,

refinado e superior, portanto não se era negro; ou sendo

negro, automaticamente não se poderia ser refinado,

inteligente e superior. Rebouças fez primeira “opção”.

Seu distanciamento da população negra, aliando-se

contra ela, coloca-o no vácuo que torna impossível para

ele ser totalmente aceito quer entre os brancos (afinal,

não era branco), quer entre negros, dos quais se mantinha

afastado. Este vácuo, certamente incômodo, possibilitou

sua existência (que Spizer definiu como entre dois

mundos).

A “opção” de Rebouças foi por trafegar entre os

estereótipos tentando aderir ora a um ora outro, fugir

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ora um ora outro com estratégia de sobrevivência; optou

por tentar vagar entre os preconceitos. Obviamente, isto

não é agradável, é o espaço daquele que não tem lugar,

referências ou repouso; é o inferno daquele que se nega

para se afirmar.

Mas se, por um lado, o inferno pessoal de Rebouças

lembrava-o de sua condição de negro, por outro, o

movimento de pensadores que, como Couty, apregoava o

paraíso racial existente no Brasil crescia. Célia Marinho

de Azevedo aponta;

Além de assegurar a possibilidade desde já do embranquecimento da população brasileira, a imagem da ausência de preconceitos raciais permitia também a despesas da continuidade da escravidão ainda por algum tempo, até que correntes massivas de imigrantes começassem a se dirigir ao Brasil.

Como já vimos, esta é, no fundo, a tese de Louis

Couty que, sendo francês, talvez não conhecesse de forma

adequada à realidade nacional e todo processo de sua

formação. Mas não a conhecia Rebouças, que também

compartilhou do desejo da imigração de uma raça mais

inteligente e ativa para melhorar a nossa, tão pobre?

Não conhecia Nabuco que compartilhou durante um bom

tempo da tese do paraíso racial brasileiro?

A escravidão (diz Nabuco), por felicidade nossa não azedou nunca a alma do escravo contra o senhor, falando coletivamente, nem criou entre as duas raças o ódio recíproco que existe naturalmente entre opressores e oprimidos. Por

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esse motivo o contato entre elas foi sempre isento de asperezas fora da escravidão, e o homem de cor todas as avenidas abertas diante de si.

Não restam dúvidas de que as teorias científicas

raciais estavam por trás desse entusiasmo imigrantista e da

crença numa igualdade que só pode ser admitida tendo-se por

base uma noção de justiça que apregoa dar a cada um o lhe é

de direito segundo sua capacidade biológica.

2.6. PRETO NO BRANCO

Dobra o número de casamentos inter-raciais e os pesquisadores comemoram a redução do racismo no Brasil.

Uma notícia para ser comemorada: o racismo está

diminuindo no Brasil. Pelo menos é o que indicam os

números do Censo 2000, que levantou dados sobre

casamentos e o perfil das famílias brasileiras. Cresceu u

número de casais de cores de peles diferentes e na última

década, segundo o IBGE. Houve redução das uniões entre

pessoas da mesma cor. O índice de união entre brancos e

negros passou de 1,3% para 2,6%. Em 2000 79% dos chefes

de família de cor tinham cônjuges da mesma cor, contra

84% em 1991.

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A atriz Taís Araújo forma com seu noivo Márcio

Feitosa nem casal preto no branco, engrossando a última

estatística do Censo.

O amor é maior, tudo fica banal perto dele. Meu

namorado é branco e nunca sofri qualquer tipo de

preconceito por parte de seus parentes. A família dele é

ótima e me adora. É acolhedora, carinhosa e aberta. Minha

sogra me trata bem e faz tudo para mim-conta Taís que,

apesar disso, não acha que o racismo tenha diminuído.- O

racismo continua como sempre foi. O preconceito é velado.

Quem é racista hoje vai se sempre.A atriz filha de uma

pedagoga negra e um economista branco já sofreu na pele

dor do preconceito:

No colégio de classe média que eu freqüentava,

vinham me perguntar se era a filha da empregada...

Na pesquisa o número de brancos e pardos que

declarou seu preconceito contra negros passou de 12% para

4% e o preconceito manifesto indiretamente caiu de 87%-

1995 para 74% em 2003. Os negros que confessaram

preconceito contra brancos passaram de 13% em 1995 para

3% em 2003. Apesar disso, 90% dos entrevistados acham que

há racismo no Brasil e 74% manifestam algum nível de

preconceito numa escala mais rigorosa (este índice era de

87% {em 1995}. Há uma redução importante no preconceito

assumido. Mas a percepção da maioria do entrevistados é

de que o preconceito de brancos contra negros diminuiu de

intensidade e de que o preconceito de negros contra

brancos tornou-se mais intenso (ainda que numericamente

inferior ao de brancos contra negros). A percepção do

preconceito ainda é muito elevada e é maior de brancos

contra negros(que oscilou de 86% para 87% enquanto a de

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negros contra brancos passou de 58 para 62 %). Há

percepção crescente do preconceito de negros contra

brancos. É difícil dizer se os índices refletem mudanças

real de atitude ou se as pessoas estão fazendo um

discurso mais politicamente correto. Provavelmente , as

duas hipóteses são verdadeiras e positivas- diz o

sociólogo o Gustavo Venturi- coordenador do NOP/FPA.

JORNAL DA FAMÍLIA- O GLOBO – 11/01/2004

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CAPÍTULO III

EXCLUSÃO DO NEGRO EM DIVERSOS NÍVEIS

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3.1 NA EDUCAÇÃO

... O Negro na confluência da educação e da

literatura.

Ensinar exige

risco, aceitação do novo e

rejeição a qualquer forma de

discriminação. Paulo Freire.

Segundo I. de Oliveira (2003),observou, que a escola

de um modo geral, não estabelecia um diálogo com as

diferentes produções literárias, frutos de hibridação

cultural de nosso país, e, dessa forma, a presença do

negro nos livros didáticos e literários é bem diluída, ou

então ele se faz notar pêlos estereótipos e

preconceitos.

Também o acervo das bibliotecas escolares, na

maioria das vezes, não possui uma bibliografia específica

sobre o assunto, o que dificulta cada vez mais o trabalho

dos professores e alunos interessados.

Outro problema encontrado é que os Cursos de

Formação de professores, ao contrário do que se diz, com

exceções é claro, não preparam os formandos para a vida,

para diversidade de saberes, para o confronto com as

nuances culturais, étnicas e sociais.

Educar sem discriminar tem sido uma tarefa árdua,

pois muitos preconceitos e estereótipos ainda estão muito

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enraizados nos indivíduos, em decorrência de alienantes

modelos culturais que lhes são impostos. Daí a

necessidade de o professor fazer da experiência e da

prática cotidiana o campo de sua reflexão teórica,

construindo pontes entre dizer e o fazer. E é neste campo

de ação que precisamos garantir a vez e a voz dos

“marginalizados” da cultura dominantes, aprendendo a

compreender a diferença, a diversidade de usos, costumes

e linguagens como fator de construtivo acréscimo.

Portanto, de inclusão e não exclusão e distanciamento no

intercâmbio ensino-aprendizagem. Se a escola se pretende

democrática não deve homogeneizar os saberes e crenças e

impor seu padrão sem tentar perceber nuances culturais e

étnicas.

Por isso, precisamos desde o início envolver a

criança, o adolescente, o jovem, oferecendo-lhes

condições para que eles amadureçam conscientes de sua

identidade e saibam questionar para que eles amadureçam

conscientes de sua identidade e saibam questionar e

reivindicar seus direitos de cidadãos brasileiros, em que

todos devem ser iguais perante a lei, independentes da

cor da pele.

E, no momento, com a divulgação das políticas de

ação afirmativa e com o estabelecimento de cotas para

negros no ensino universitários, urge esclarecer os

profissionais de ensino e toda comunidade escolar,

efetivando um trabalho de conscientização da negritude,

do ser negro, de sua cultura, de seus direitos e de sua

participação na educação, na cultura, na sociedade e nos

destinos do país, de forma justa e democrática.

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...Negros nas universidades.

Segundo Poli Teixeira (2003) , Os estudos apontavam

para o fato de que tanto o mercado de trabalho quanto a

escola seriam lugares onde um sistema de discriminação

racial estaria sendo atualizado no interior da estrutura

social, apesar de todo progresso social e econômico do

Brasil nos anos 70, com o desenvolvimento do sistema de

classes e a emergência de uma grande classe média,

deixando aos negros e seus descendentes pouca margem de

acesso aos bons empregos, aos melhores salários e,

conseqüentemente, aos melhores níveis de instrução. Os

dados particularmente referentes á educação mostravam que

os negros repetiam mais as primeiras séries de ensino,

evadiam mais da escola que os brancos para ingressar mais

cedo no mercado de trabalho, por conseguinte, em

condições mais precárias, funcionando o segundo grau de

instrução como uma barreira quase “intransponível” para

essa camada da população menos de um por cento dos negros

conseguia a “façanha” de entrar para a universidade.

Dada essa conjuntura, a grande maioria dos trabalhos

na área da educação, foi em torno do ensino básico, já

que a grande parte dos negros aí ficava retida. Muitas

pesquisas foram realizadas para tentar compreender

questões como repetências, evasão escolar, a relação

professor-aluno e o preconceito racial, operando tanto na

sala de aula quanto nos textos de livros didáticos. Essa

discussão do sistema de ensino como seletivo e de

exclusão é pertinente para outras categorias sociais como

os pobres, onde se sabe, estaria majoritariamente

representada a população de origem negra. O que se

pretende demonstrar nesses estudos, ao que parece, é que

a escola estaria sendo um lugar que reproduziria ambas as

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desigualdades a de classe ou de origem social e a de raça

ou origem étnica.

I.Oliveira (2003), 0bservou que em 1990, começaram a

surgir propostas de implantação de medidas compensatórias

que têm sido motivo de intensa discussão e muita

polêmica. Numa fase preliminar esta implantação se

formaliza oficialmente com a instalação no Ministério da

Justiça do Grupo de trabalho interministerial para a

Valorização da População Negra, parte do Programa

Nacional de Direito Humanos, em l995. Este GT era

integrado por representantes do movimento negro.

À medida que o debate chega a média, têm-se

esclarecimentos vigoroso como o de Silva(2000), que

questiona a confusão que a imprensa, e o próprio governo,

faz, tornando sinônimo ação afirmativa e sistema de

cotas, como se fosse esta a única alternativa possível.

Ao mesmo tempo, mostra que pode haver medidas

compensatórias simples de cotas ser aplicado nas

universidades públicas, já existe exclusão em massa de

negros destas instituições de ensino por conta de uma

forma de seleção que iguala os desiguais.

Tendo sido criado no início dos anos 1990, o GTI

(Grupo de trabalho interministerial) propunha

estabelecer políticas compensatórias para dar á

população negra o direito de competir em igualdade de

condições historicamente a ela negada. O Ministro da

Educação buscava, em 2001, financiamento de 10 milhões

de dólares, no Banco Interamericano de Desenvolvimento,

para criar em 2002 cursos de pré-vestibulares para

preparar melhor os negros para universidade. O Ministro

acredita que esta iniciativa é mais eficaz do que a de

cotas. E critica, em declaração ao jornal O Globo, a

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proposta de política de cotas levadas pela delegação

brasileira à Conferência de Durbam. Para ele, só criação

de cursinhos de pré-vestibulares representa uma ação de

discriminação positiva, que leva ao equilíbrio o acesso

à universidade. Hoje, estes cursos se multiplicam por

todo o Estado, mas, na região do Grande Rio que

compreende as cidades e município do entorno da cidade

do Rio de Janeiro, é onde há maior concentração. Chegam

a cem e já conseguiram, desde 1993, fazer entrar para

Universidade mais 15 mil alunos negros e brancos

carente.

3.2.NO TRABALHO

Tratando especificamente do mercado de trabalho,

inúmeras são as atitudes racistas que acabam dificultando

a inserção do negro em áreas que exigem maior

especialização. A exigência de “boa aparência”, o assédio

á mulher, a ocupação de cargos inferiores, a remuneração

diferenciada do negro em relação ao banco nos mesmos

cargos, a violência física (que chega a ocorrer em alguns

casos) são exemplos do problema.

“O processo de alijamento e exclusão sofrida pêlos

afro-brasileiros te, sido, ao longo do tempo, a função

perversa de constituir um exército de reserva de mão-de-

obra barata à disposição de um empresariado ávido de

lucros e totalmente divorciado de sua responsabilidade

social”. Discriminado e marginalizado, a imagem do nego

perante a sociedade é de desqualificação, incapaz,

impondo-se-lhe a restrição no mercado de trabalho. Em

posição aquém da merecida, sofre com maior intensidade a

situação sócio-econômica intensa do desemprego, marcado

pelo estigma de ser preto ou pardo.

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Na sociedade capitalista, em sobressaem as

desigualdades sociais, a reprodução dessa situação impede

a mobilidade social do negro, percebendo este rendimento

de trabalho inferiores aos percebidos pelo banco,

associado a trabalhos menos qualificados, ocupando

principalmente posições menores em setores de menor

Status social. Através do preconceito, mão-de-obra negra

é direcionada para trabalhos domésticos e pesados. A sua

cor é fator determinante, sobrepondo-se à sua competência

ou formação.

No processo seletivo, a escolaridade é outro fator

determinante a se associar ao desemprego do negro. A ele

são oferecidos cargos que não exigem qualificação, sendo

a presença do branco superior à negro em posições que

requerem especialização; a participação do negro é maior

nos setores da construção civil e serviços domésticos.

Explica-se isto pela baixa capacitação dos afros-

brasileiros, que enfrentam imensa dificuldade para

ingressa e permanecer no meio educacional, tudo devido á

sua baixa condição social, que o obriga a ingressar mais

cedo no mercado de trabalho, comprometendo seu rendimento

escolar. Obviamente que a baixa condição sócio-econômica

em que vive grande parte dos negros é a base de

reprodução desta mesma situação, mas sem dúvida alguma o

atributo cor torna ainda mais difícil romper este limite

de vida marginal do negro. Não obstante, a formação

profissional não é suficiente para abrandar as

desigualdades uma vez que entre um negro e um branco de

igual nível intelectual, aquele receberá salário inferior

ao deste, ocupando ambos a mesma posição. Pesquisa

(Racismo no Brasil)As dificuldades do Negro no Mercado de

Trabalho- (28/05/2001)- (s/a).

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3.3. NA FAMÍLIA

Saavedra/Sacavino (2003)- Historicamente, no

Brasil, são as famílias e principalmente as mulheres

negras, os sujeitos sociais que foram e continuam a ser

os principais atingidos por condutas discriminatórias e,

assim, forçados a continuar lutando pelo reconhecimento

de seus direitos e sua cidadania plena. No depoimento de

uma professora negra onde ela diz o seguinte: “a gente

tem dificuldade até de assumir a nossa própria realidade.

Tem que falar: eu sou negra, eu moro longe. Eu consegui

estudar em universidade pública. Se não fosse pública, eu

não faria nenhuma. E, enfim, a gente tem que remar contra

a maré tem sim. No Brasil, ser negro é remar contra a

maré”.

Os autores assinalaram dois tipos de fatores que

favorecem a discriminação na sociedade e conseqüentemente

na família brasileira são eles: são fatores de ordem

estrutural e pessoal, intimamente relacionados.

De ordem estrutural, foram mencionados os seguintes:

concentração na distribuição de renda que amplia a

desigualdade aumenta nível e número de pobres, reforça o

isolamento dos diferentes grupos sociais, provocando cada

vez mais discriminação: o confinamento a certos espaços

públicos, como por exemplo, a rua, com a colocação de

guaritas e segurança particular: e as privatizações,

assim como o crescente desemprego estrutural. Outros

fatores de ordem mais pessoal, mas com incidência na

dimensão social e familiar, a seguir enumerados: o fato

de as pessoas aceitarem as situações de discriminação e

acreditarem que nada pode ser feito; a passividade

cidadã, que se mostra na atitude de a pessoa não lutar

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por seus direitos, o descrédito do cidadão pela cor da

pele.

Segundo Teixeira (2003), em muitos casos, o tipo de

preconceito que vem rapidamente á tona, sendo o mais

citado, ou mais sentido, é o “negro contra o próprio

negro”, por ser na opinião daquele negro que conseguiu

subir um pouco mais na escala social e chegar na

universidade é um desses sinais mais ofensivo que o

preconceito do branco. Porque este preconceito, ele já

estaria mais habituado a sentir e enfrentar. Nesse

sentido, a discriminação vinda por parte do branco pode

ser “compreendida” e vista até mesmo como “natural”,

enquanto a discriminação por parte de outro negro seria

intolerável, porque, se por um lado, ela significaria a

desunião dos negros revelando a impossibilidade de vê-los

a todos enquanto grupo, por outro, denunciaria a condição

de “inferioridade” e ignorância “em que vive a maioria,

diz outros negros, que preferem ”invejar” aqueles que

ascenderam a tê-los como exemplo a se seguido e lutar

para chegar às mesmas condições.

O preconceito hoje, já começa na família. A própria

segregação social somos nós, da mesma cor, que fazemos.

Veja o relato do estudante enfermagem: “ A minha esposa,

por sinal, diz assim: Não, não vai não porque é só pra

branco. Ela mesma é que tem complexo, entendeu? Quer

dizer, ela faz questão de jogar eles (os filhos) pra

baixo e eles querem ficar pra cima. Então fica aquele

círculo vicioso e não tem jeito “.

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A mulher negra na estrutura familiar.

O modelo de família patriarcal, onde a soberania do

homem, pai, passa inclusive por escolher o parceiro para

a mulher, não foi igualmente usado nas senzalas, ainda

que como escrava, a negra, como qualquer outra “peça”,

atendesse às vontades do senhor de escravo. Nas senzalas,

o número reduzido de escravas mulheres, permitia a elas a

escolha de seus ou seus parceiros, ainda que

proporcionando inconvenientes que não trataremos aqui.

Sônia Maria Giocomini, em seu livro Mulher e

Escrava, descreve que “Era o senhor que decidia sobre a

possibilidade e qualidade da relação entre homem e mulher

escrava, sobre se haveria ou não vida familiar, se

casados ou concubinados seriam ou não separados, se

conviveriam com os filhos e onde, como e em que condições

morariam”.

Essas condições deixam claro que o modelo da

estrutura familiar branca não foi o mesmo das possíveis

famílias negras durante a escravidão.

No entanto, pensar a família e sua estrutura nos

dias atuais é perceber claramente inúmeros traços da

família padrão, onde a família, a escola, a igreja e a

sociedade, em geral, desde cedo, dirigem a educação da

mulher para que essa seja submissas, inseguras, dóceis,

para que seja boas filha, boa esposa e boa mãe. Feito

isso, a mulher terá cumprido seu papel, ocupando o seu

mundo doméstico, o seu mundo de solidão, principalmente a

mulher negra casada com homem branco, que na maioria das

vezes as vê como objeto de prazer sexual, não dando a

esta mulher espaço social; pois a negra deverá permanecer

em casa como um objeto de uso pessoal só no recinto do

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lar, não podendo ser exibida, pois se trata de mulher

negra. O racismo e o preconceito de cor para a população

negra no Brasil, para alguns autores originam-se no

cativeiro a que essa população foi submetida. A herança

desses cativeiros atravessa nossos dias e nossas famílias

negras com padrões e normas de umas sociedades brancas,

cheias de tabus e de preconceitos, onde cada um

desempenha um papel submetido a modelos construídos por

essa sociedade.

Para o autor ser mulher negra no Brasil, contribui

para o racismo familiar , pois ao ser discriminada esta

mulher procurará embranquecer sua constituição familiar,

casando-se com um homem branco para que haja uma maior

possibilidade de filhos brancos e apresentar marido

branco é como ela fosse uma extensão desta brancura;

sendo assim, espera ser vista como branca e respeitada

por sociedade preconceituosa e racista, isto na realidade

é uma auto exclusão do negro.

3.4. AS LEIS CONTRA O RACISMO NO BRASIL

1- Lei Afonso Arinos-03 de Julho de 1951- reconhece a discriminação em relação ao negro, é primeiro exemplo

efetivo.

2- A Constituição de 1988, ao contrário de todos as

outras anteriores, amplia as garantias dos cidadãos e

oferece ao negro um tratamento específico ao reconhecer a

situação discriminatória em que vive.

3- A Lei Caó -05 de janeiro de 1989- que define os

crimes resultantes de preconceitos de raça ou de

cor.

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4- Vem aí o Estatuto racial (Estatuto do negro)

Está sobre a mesa do presidente Lula para ser

assinado e enviado ao Congresso nas próximas semanas o

projeto do Estatuto da Igualdade Racial, que institui

políticas de ação afirmativa no serviço público e altera

o Código Penal para assegurar numa punição mais dura para

os crimes de racismo. Além de estabelecer cotas para

contratação nos órgãos públicos, o texto elaborado por um

grupo sob coordenação da Secretaria Especial de Promoção

da Igualdade racial (SEPPIR)- prevê que atos racistas

passarão a ser passível de punição por ação penal

pública, ajuizada pelo Ministério Público e sem prazo

para prescrição. Hoje, embora o racismo seja considerado

crime pela Constituição, o prazo é de. E raramente o

ofensor vai parar na cadeia, pois a ação apenas seis

meses está no âmbito do direito privado e só pode ser de

iniciativa do ofendido. Jornal O Globo –(caderno O País)-

21/03/2004.

DATAS IMPORTANTES

21 de Março – Dia Internacional de luta Contra Discriminação Racial.

13 de Maio – Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo

20 de novembro- Dia Nacional da Consciência Negra

10 de Dezembro- Dia Internacional dos Direitos Humanos

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CONCLUSÃO

Alguns autores acham que a exclusão social do negro

no Brasil, ainda é uma forma maquiada do racismo, em

vários níveis, na educação, trabalho e famílias. A

exclusão social apareceu na Europa na esteira do

crescimento do número dos menos favorecidos. O negro

entra na sociedade brasileira como cultura dominada,

esmagada. E as marcas da escravidão persistem, no

desfaçado preconceito racial na situação miserável de

mitos. Não se pode pensar no Brasil sem levar em conta a

história do negro e a escravidão.

Para isso foram criados, decretos e leis que foram

necessários para que a igualdade de direitos fosse

finalmente concedida aos escravos. O racismo ainda é uma

forma clara de discriminação na sociedade brasileira,

apesar de não admitir o brasileiro seu preconceito. “A

emoção das pessoas, o sentimento inferior delas é que é

racista. Quando racionalizam, elas não se reconhecem

assim, não identifica, em suas atitudes componentes de

discriminação”. A discriminação racial está espalhada

pelo Brasil. Escola, Mídia, Mercado de trabalho, família

e a própria sociedade apresentam um modelo branco de

valorização. O alastramento das teorias racistas

aprimoradas no século XIX é inimaginável. Se durante a

escravidão os negros já eram desprezados por serem

considerados inferiores, após a Abolição, esse desprezo

só aumentou. A exclusão social do negro na educação

iniciou-se no ensino fundamental e na literatura, as

bibliotecas escolares não possuí bibliografia específica

sobre o assunto, o que dificulta cada vez mais o trabalho

dos professores e alunos interessados, assim como os

cursos de formação de professores não são preparados para

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diversidade de saberes, para o confronto com as nuances

culturas, étnicas de sociais. Educar sem discriminar tem

sido uma tarefa árdua. Muitas pesquisas foram realizadas

para tentar compreender questões como repetência, evasão

escolar, a relação professor –aluno e o preconceito

racial, operando tanto na sala de aula quanto nos textos

de livros didáticos. No mercado de trabalho a exclusão

social do negro é o processo de alijamento e exclusão

sofrida pelos afro-brasileiros, ter sido.Ao longo de

tempo, a função perversa de constituir um exército de

reserva de mão-de-obra barata á disposição de um

empresário ávido de lucros e totalmente divorciado de sua

responsabilidade social“. A mulher negra no Brasil

contribui para o racismo familiar, ao casar com um homem

branco para embranquecer sua família e fazer deste

casamento branco uma extensão de sua cor de pele; isto na

realidade é uma auto exclusão do negro. As leis contra o

racismo no Brasil, estão surgindo para evitar ou

minimizar a exclusão social do negro”.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO..........................................................................................................8

CAPÍTULO I.............................................................................................................11

EXCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................11

1.1. O QUE É EXCLUSÃO SOCIAL......................................................................12

1.2. O INFERNO DOS NEGROS...........................................................................14

1.3. AS CAMPANHAS PARA ABOLIÇÃO..........................................................15

1.4. CLASSE, COR E PRECONCEITO.................................................................18

1.5. DIFERENÇA SOCIAL.....................................................................................21

1.6. CLASSE E RAÇA..............................................................................................24

1.7. BRANCO VERSOS NEGROS.........................................................................33

CAPÍTULO II...........................................................................................................38

RACISMO.................................................................................................................38

2.1. O RACISMO NO BRASIL ATUAL................................................................39

2.2. DISCRIMINAÇÃO RACIAL E PRECONCEITO........................................41

2.2. O RACIALISMO..............................................................................................43

2.3. O RACISMO E A RAÇA BRASILEIRA.......................................................45

2.4. O DESEJO DE BRANQUEAMENTO...........................................................49

2.5. PRETO NO BRANCO.....................................................................................55

CAPÍTULO 3............................................................................................................58

EXCLUSÃO SOCIAL DO NEGRO EM DIVERSOS NÍVEIS...........................58

3.1. NA EDUCAÇÃO................................................................................................59

3.2. NO TRABALHO................................................................................................63

3.3. NA FAMÍLIA.....................................................................................................65

3.3. AS LEIS CONTRA O RACISMO /EXCLUSÃO SOCIAL.......................... 68

CONCLUSÃO...........................................................................................................70

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................72

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Atividades Culturais

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO ”LATO SENSU“

Título: A EXCLUSÃO SOCIAL DO NEGRO

Autor: Margarida Garcia de Sousa Arruda

Data de entrega:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

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Conceito final: