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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO Por: Lidiane Alves de Lima Orientador Profª. Ana Cláudia Morrissy Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO

Por: Lidiane Alves de Lima

Orientador

Profª. Ana Cláudia Morrissy

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Finanças e Gestão

Corporativa.

Por: Lidiane Alves de Lima

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AGRADECIMENTOS

Aos amigos e professores pelo

crescimento que tivemos juntos.

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DEDICATÓRIA

A minha mãe, com amor e gratidão .

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RESUMO

Este trabalho dedica-se a uma breve explanação sobre os crimes que

ameaçam a saúde e bom funcionamento do mercado financeiro. Milhões em

Reais e divisas estrangeiras são incorporados ao sistema financeiro de forma

aparentemente legal e cabe ao profissional do mercado financeiro reconhecer

as operações mais comuns em crimes de lavagem de dinheiro, atentar-se a

elas e comunicar aos órgãos competentes.

No primeiro capítulo iremos falar sobre a estrutura do sistema financeiro

descrevendo as funções de cada instituição que dele faz parte.. Instituições

estas que são diariamente visadas para a burla de seus sistemas e

incorporação de capital proveniente do crime.

No segundo capítulo falaremos sobre um dos participantes do crime

contra o sistema financeiro que é o gestor de instituição financeira. Este pode

cooperar com o crime caso venha a gerir a instituição financeira de forma

fraudulenta escamoteando operações ilícitas ou ainda pode ser severamente

punido caso assuma uma gestão de alto risco na custódia do capital de

terceiros. Trataremos da diferenciação entre gestão fraudulenta e temerária.

Por último, mas não menos importante, falaremos do crime mais

comum contra o sistema financeiro que é a lavagem de dinheiro.

Abordaremos brevemente a história da origem do termo em inglês,

diretamente ligada ao primeiro caso preocupante da circulação no mercado

financeiro de grande montante de capital originado pelo tráfico, naquele

momento ainda de bebida alcóolica que pertencia ao famoso Al Capone.

Falaremos também sobre as três fases do processo da lavagem e, finalmente

comentaremos a recente mudança na Lei que rege o assunto. Uma revolução

que veio facilitar a investigação e condenação dos envolvidos em crimes de

colarinho branco.

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METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho descritivo baseado na leitura de livros e sites

oficiais do Banco Central, Receita Federal, Senado Federal entre outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Sistema Financeiro Nacional 11

CAPÍTULO II - Crimes Contra o Sistema Financeiro:

Gestão fraudulenta e gestão temerária 21

CAPÍTULO III – Lavagem de Dinheiro 26

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34

BIBLIOGRAFIA CITADA 35

ÍNDICE 36

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INTRODUÇÃO

O objeto deste trabalho é analisar os crimes mais comuns contra o

sistema financeiro, pois os profissionais do mercado financeiro devem estar

alertas quanto a transações aparentemente lucrativas mas que podem ser

advindas de origem ilícita.

Temos que estar atentos em nosso trabalho diário pois a convivência

com cobrança de metas e expectativas de lucro pode muitas vezes nos tirar a

noção de que possamos estar colaborando com algum crime de lavagem de

dinheiro ou ainda gerindo de maneira temerária pondo em risco a liquidez da

instituição financeira para qual trabalhamos.

As mudanças na Lei 9613/98 retiraram grandes barreiras à

condenação dos investigados por crimes de lavagem de dinheiro, o que

demonstra que o Brasil está no caminho certo no combate aos crimes contra o

sistema financeiro.

Nossa responsabilidade como profissionais da área aumenta a partir

deste momento, já que cumprimos um papel importante no combate à lavagem

de dinheiro intermediando informações bancárias relevantes junto aos órgãos

públicos competentes.

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CAPÍTULO I

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Antes de mais nada, iremos abordar conceitos sobre o Sistema

Financeiro Nacional, o sistema contra o qual são cometidos os crimes que

serão estudados neste trabalho.

O Sistema Financeiro Nacional é o conjunto de instituições e

instrumentos financeiros que tornam possíveis a transferência de recursos dos

poupadores para os tomadores, além de criar condições para que títulos e

valores mobiliários possuam liquidez no mercado.

As instituições financeiras podem ser monetárias ou não

monetárias. As monetárias são aquelas que são capazes de criar moeda

escritural. Recebem depósitos à vista e criam moeda através do repasse de

parte do saldo depositado em forma de empréstimos. São os bancos

comerciais os bancos múltiplos com carteira comercial e cooperativas de

crédito.

As instituições financeiras não monetárias são aquelas que não são

capazes de criar moeda escritural, portanto, não recebem depósitos à vista.

São bancos de investimento, bancos de desenvolvimento, financeiras,

sociedades de arrendamento mercantil e associações de poupança e

empréstimos.

1.1 – Estrutura do sistema financeiro nacional

1.1.1.Conselho Monetário Nacional

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O Conselho Monetário Nacional foi instituído pela lei 4595/64 e é o

órgão responsável pelos direcionamentos gerais pertinentes ao bom

funcionamento do SFN.

Fazem parte do CMN o Ministro da Fazenda ( presidente do

conselho), o Ministro do Planejamento , Orçamento e Gestão e o presidente do

Banco Central do Brasil.

Entre suas funções, cabe ao CMN adaptar a quantidade dos meios

de pagamento às reais necessidades da economia, zelar pela solvência e

liquidez das instituições financeiras e principalmente coordenar as políticas

monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa.

Junto ao CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito

( COMOC), composta pelo presidente do Bacen na qualidade de coordenador,

pelo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Secretário

executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, pelo Secretário

executivo do Ministério da Fazenda, pelo Secretário de Política Econômica do

Ministério da Fazenda e por quatro diretores do Bacen indicados por seu

presidente.

Está revisto também junto ao CMN, o funcionamento de comissões

consultivas de normas e organização do sistema financeiro, de mercado de

valores mobiliários e de futuros, de crédito rural, de crédito industrial, de

crédito habitacional e para saneamento de infraestrutura urbana , de

endividamento público e de política monetária e cambial. Os seus membros

reúnem-se uma vez por mês para deliberarem sobre assuntos relacionados

com as competências do CMN.

1.1.2. Banco Central do Brasil

O Banco Central do Brasil é uma autarquia vinculada ao Ministério

da Fazenda que também foi criada pela Lei 4595/64. Funciona como o banco

dos bancos.

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É o principal executor as orientações do CMN e responsável por

garantir o poder de compra da moeda nacional tendo como objetivos:

Por ter patrimônio próprio, apesar de ser um órgão vinculado ao

Ministério da Fazenda, os resultados do trabalho do Banco Central são

incluídos no seu patrimônio. Sua central é na capital do país (Brasília), mas

tem “filiais” ou representações em Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza,

Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Apesar de não

estar em todas as capitais brasileiras, o Banco Central é acessível a todos os

brasileiros, por meio de seu site, na internet.

São várias as funções do BACEN, algumas bem conhecidas, como

a responsabilidade de emitir e produzir papel-moeda e moeda metálica,

levando sempre em consideração os limites dados pelo Conselho Monetário

Nacional e também realizar operações tipicamente bancárias ( como

empréstimos, redescontos às instituições financeiras bancárias).Outras

funções que cabem ao Banco Central são as de: ser depositário das reservas

oficiais de ouro e capital estrangeiro, receber os recolhimentos compulsórios e

depósitos voluntários das instituições financeiras. Também são funções do

Banco Central executar compras e venda de títulos públicos e federais de

forma a facilitar a política monetária adotada pelo governo, fiscalizar as outras

instituições financeiras e aplicar, se necessário, penalidades às mesmas.

1.1.3.. Instituições monetárias

1.1.3.1 Bancos múltiplos

Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou

públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas

instituições financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de

investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento

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mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Essas operações estão

sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições

singulares correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento

somente poderá ser operada por banco público. O banco múltiplo deve ser

constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas,

obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma

de sociedade anônima. As instituições com carteira comercial podem captar

depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a expressão

"Banco" (Resolução CMN 2.099, de 1994).

1.1.3.2 Bancos comerciais

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou

públicas que têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos

necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a indústria,

as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral.

A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica

do banco comercial, o qual pode também captar depósitos a prazo. Deve ser

constituído sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social

deve constar a expressão "Banco" (Resolução CMN 2.099, de 1994).

Os bancos comerciais são classificados como instituições

monetárias por terem o poder de criação de moeda escritural. Sucintamente,

os bancos comerciais são intermediários financeiros que tem como objetivo

captar recursos e distribuí-los de forma seletiva criando moeda através de seu

efeito multiplicador.

Principais operações dos bancos comerciais:

Ativas

1- desconto de títulos;

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2- crédito rural;

3- empréstimo em conta corrente;

4- repasse de recursos;

5- crédito pessoal;

6- operações de câmbio;

Passivas

7- depósitos à vista

8- depósitos à prazo

9- recursos do Bacen ( redesconto, repasse);

10-recursos de instituições financeiras oficiais e do exterior;

11-operações de câmbio.

1.1.3.3 Banco do Brasil

O Banco do Brasil -Sociedade Anônima de economia mista –

exercia até 1986 uma função típica de autoridade monetária, quando perdeu a

conta movimento por decisão do CMN. Essa conta colocava o Banco do Brasil

na posição privilegiada de banco corresponsável pela emissão de moeda.

Atualmente é um conglomerado ajustado à estrutura de banco

múltiplo, embora que ainda opere, em muitos casos, como agente financeiro

do Governo Federal. È o principal executor da política oficial de crédito rural.

Suas principais funções como parceiro principal do governo federal,

já que este é o maior acionista , são:

1- administrar a Câmara de compensação de cheques e outros

papéis ( executante);

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2- efetuar os pagamentos e suprimentos necessários à execução do

Orçamento Geral da União;

3- a aquisição e o financiamento dos estoques de produção

exportável;

4- agenciamento dos pagamentos e recebimentos fora do país;

5- a operação dos fundos de investimento setorial como pesca e

reflorestamento;

6- captação de depósitos de poupança direcionados ao crédito rural;

7- a realização, por conta própria, de operações de compra e venda

de moeda estrangeira e, por conta do Bacen nas condições

estabelecidas pelo CMN.

8- Recebimento, a crédito do Tesouro Nacional, das importâncias

provenientes da arrecadação de tributos ou rendas federais;

9- Como principal executor de serviços bancários de interesse

do Governo Federal, inclusive de suas autarquias, receber em depósito,

com exclusividade, as disponibilidades de quaisquer entidades federais,

compreendendo repartições de todos os ministérios civis e militares,

instituições de previdência e outras autarquias, comissões, departamentos,

entidades em regime especial de administração e quaisquer pessoas físicas

responsáveis por adiantamentos.

1.1.3.4. Caixa Econômica Federal

A Caixa Econômica Federal, criada em 1.861, está regulada pelo

Decreto-Lei 759, de 12 de agosto de 1969, como empresa pública

vinculada ao Ministério da Fazenda. Trata-se de instituição assemelhada

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aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista, realizar

operações ativas e efetuar prestação de serviços. Uma característica

distintiva da Caixa é que ela prioriza a concessão de empréstimos e

financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social,

saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte. Pode operar

com crédito direto ao consumidor, financiando bens de consumo duráveis,

emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, bem como

tem o monopólio do empréstimo sob penhor de bens pessoais e sob

consignação e tem o monopólio da venda de bilhetes de loteria federal.

Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos os

recursos oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),

integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o

Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Mais informações poderão ser

encontradas no endereço: www.caixa.gov.br

1.1.3.5. Cooperativas de Crédito

As cooperativas de crédito se dividem em: singulares, que

prestam serviços financeiros de captação e de crédito apenas aos

respectivos associados, podendo receber repasses de outras instituições

financeiras e realizar aplicações no mercado financeiro; centrais, que

prestam serviços às singulares filiadas, e são também responsáveis

auxiliares por sua supervisão; e confederações de cooperativas centrais,

que prestam serviços a centrais e suas filiadas. Observam, além da

legislação e normas gerais aplicáveis ao sistema financeiro: a Lei

Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, que institui o Sistema

Nacional de Crédito Cooperativo; a Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de

1971, que institui o regime jurídico das sociedades cooperativas; e a

Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010, que disciplina sua constituição

e funcionamento. As regras prudenciais são mais estritas para as

cooperativas cujo quadro social é mais heterogêneo, como as cooperativas

de livre admissão.

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1.1.4. Demais instituições financeiras

1.1.4.1. Agências de fomento

As agências de fomento têm como objeto social a concessão de

financiamento de capital fixo e de giro associado a projetos na Unidade da

Federação onde tenham sede. Devem ser constituídas sob a forma de

sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle de Unidade da

Federação, sendo que cada Unidade só pode constituir uma agência. Tais

entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar recursos

junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no Banco

Central, contratar depósitos interfinanceiros na qualidade de depositante ou de

depositária e nem ter participação societária em outras instituições financeiras.

De sua denominação social deve constar a expressão "Agência de Fomento"

acrescida da indicação da Unidade da Federação Controladora. É vedada a

sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante do Sistema

Financeiro Nacional. As agências de fomento devem constituir e manter,

permanentemente, fundo de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor

de suas obrigações, a ser integralmente aplicado em títulos públicos federais.

(Resolução CMN 2.828, de 2001).

1.1.4.2 Associações de poupança e empréstimo

As associações de poupança e empréstimo são constituídas sob

a forma de sociedade civil, sendo de propriedade comum de seus

associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao

mercado imobiliário e ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). As

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operações passivas são constituídas de emissão de letras e cédulas

hipotecárias, depósitos de cadernetas de poupança, depósitos

interfinanceiros e empréstimos externos. Os depositantes dessas entidades

são considerados acionistas da associação e, por isso, não recebem

rendimentos, mas dividendos. Os recursos dos depositantes são, assim,

classificados no patrimônio líquido da associação e não no passivo exigível

(Resolução CMN 52, de 1967).

1..1.4.3. Bancos de câmbio

Os bancos de câmbio são instituições financeiras autorizadas a

realizar, sem restrições, operações de câmbio e operações de crédito

vinculadas às de câmbio, como financiamentos à exportação e importação

e adiantamentos sobre contratos de câmbio, e ainda a receber depósitos

em contas sem remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio

eletrônico pelo titular, cujos recursos sejam destinados à realização das

operações acima citadas. Na denominação dessas instituições deve

constar a expressão "Banco de Câmbio" (Res. CMN 3.426, de 2006).

1.1.4.5. Bancos de desenvolvimento

Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras

controladas pelos governos estaduais, e têm como objetivo precípuo

proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários

ao financiamento, a médio e a longo prazos, de programas e projetos que

visem a promover o desenvolvimento econômico e social do respectivo

Estado. As operações passivas são depósitos a prazo, empréstimos

externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas

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pignoratícias de debêntures e de Títulos de Desenvolvimento Econômico.

As operações ativas são empréstimos e financiamentos, dirigidos

prioritariamente ao setor privado. Devem ser constituídos sob a forma de

sociedade anônima, com sede na capital do Estado que detiver seu

controle acionário, devendo adotar, obrigatória e privativamente, em sua

denominação social, a expressão "Banco de Desenvolvimento", seguida do

nome do Estado em que tenha sede (Resolução CMN 394, de 1976.

1.1.4.6. Bancos de investimento

Os bancos de investimento são instituições financeiras privadas

especializadas em operações de participação societária de caráter

temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento de

capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Devem

ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e adotar,

obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão "Banco de

Investimento". Não possuem contas correntes e captam recursos via

depósitos a prazo, repasses de recursos externos, internos e venda de

cotas de fundos de investimento por eles administrados. As principais

operações ativas são financiamento de capital de giro e capital fixo,

subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos

interfinanceiros e repasses de empréstimos externos (Resolução CMN

2.624, de 1999).

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1.1.4.7. Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES), criado em 1952 como autarquia federal, foi enquadrado como

uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado

e patrimônio próprio, pela Lei 5.662, de 21 de junho de 1971. O BNDES é

um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para

o desenvolvimento do país. Suas linhas de apoio contemplam

financiamentos de longo prazo e custos competitivos, para o

desenvolvimento de projetos de investimentos e para a comercialização de

máquinas e equipamentos novos, fabricados no país, bem como para o

incremento das exportações brasileiras. Contribui, também, para o

fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e

desenvolvimento do mercado de capitais. A BNDESPAR, subsidiária

integral, investe em empresas nacionais através da subscrição de ações e

debêntures conversíveis. O BNDES considera ser de fundamental

importância, na execução de sua política de apoio, a observância de

princípios ético-ambientais e assume o compromisso com os princípios do

desenvolvimento sustentável. As linhas de apoio financeiro e os programas

do BNDES atendem às necessidades de investimentos das empresas de

qualquer porte e setor, estabelecidas no país. A parceria com instituições

financeiras, com agências estabelecidas em todo o país, permite a

disseminação do crédito, possibilitando um maior acesso aos recursos do

BNDES

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Capítulo II

Crimes contra o sistema financeiro: gestão

fraudulenta e gestão temerária

:

O bem jurídico tutelado pela Lei 7.492/86 é o sistema financeiro

nacional. Em relação ao delito do artigo 4º , tenta-se coibir a perpetração de

fraudes nas atividades de gestão das instituições financeiras, buscando a

proteção, um perfeito desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais.

Este é um assunto intrínseco à lavagem de dinheiro, visto que a

mesma depende de uma forte intenção de acobertar um crime.

Apesar de o assunto ser simples, existe grande dúvida quanto à

diferenciação entre a gestão fraudulenta ( art 4º da Lei 7.492/86) e a gestão

temerária ( art 4º, parágrafo único) em instituição financeira.

Art 4º

Gerir fraudulentamente instituição financeira: Pena- reclusão de 3 ( três ) a 12 ( doze) anos e multa. Parágrafo único: Se a gestão é temerária: Pena- reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos e multa. (1)

2.1. Precedente Legislativo Para compreendermos melhor a diferença entre os termos, devemos examinar o Art 3º, inciso IX da Lei nº 1.521/51 ( Crimes contra a economia popular), in verbis:

Art 3º. São também crimes desta natureza : IX- gerir fraudulentamente ou temerariamente bancos ou estabelecimentos bancários, ou de capitalização, sociedades de seguros, pecúlios, ou pensões vitalícias, sociedades para empréstimos ou financiamento de

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construções e de venda de imóveis a prestações , com ou sem sorteio ou preferência por meio de pontos ou cotas; caixas econômicas; caixas mútuas, de beneficência, socorros ou empréstimos, caixas de pecúlio, pensão e aposentadoria; caixas construtoras; cooperativas, sociedades de economia coletiva, levando-as a falência ou insolvência ou não cumprindo quaisquer das cláusulas contratuais com prejuízo dos interessados. (2)

A mera conduta, caso não gerasse prejuízos não era suficiente para

caracterizar o crime, pois este era tipicamente de dano concreto. Neste caso, a

gestão fraudulenta aconteceria apenas em situações em que ficaria

caracterizada a conduta típica, quais sejam, toda vez que as cláusulas

contratuais não fossem cumpridas e que isso causasse prejuízos aos

interessados, ou toda vez que a gestão levasse à falência ou insolvência da

instituição.

Naquele momento não houve preocupação do legislador em separar

conceitualmente os comportamentos: fosse gestão fraudulenta ou temerária, a

pena era idêntica.

2.2. Sobre a intenção do agente

O princípio da subjetividade da conduta está entre as maiores

conquistas do direito penal brasileiro e dele decorrem duas assertivas:

a) Ninguém pode ser condenado sem prévio cometimento

consciente de ato comissivo ou omissivo penalmente reprovável;

e

b) A responsabilidade deve ser individualizada e depurada para fins

de comparação com o tipo penal.

Existe grande discussão sobre a natureza da responsabilidade

penal adotada na Lei dos Crimes de Colarinho Branco – se subjetiva ou

objetiva, isto é, se depende de prova de dolo ou má-fé ou simplesmente o nexo

causal.

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No entanto, é opinião comum que o legislador penal pátrio, no que tange

à apreciação da prática criminosa

acata e louva, por tradição, a teoria finalista sobre a conduta. Assevera Júlio

Fabrini MIRABETE:

“...como todo comportamento do homem tem uma finalidade, a conduta é uma atividade final humana e não um comportamento simplesmente causal. Como ela é um fazer (ou não fazer) voluntário, implica necessariamente uma finalidade. Não se concebe vontade de nada ou para nada, e sim dirigida a um fim. A conduta realiza-se mediante a manifestação da vontade dirigida a um fim.” (1998, pp. 98/99)

Ora, relativamente aos crimes previstos no art. 4º da Lei do

Colarinho Branco, não poderia ser diferente: também naqueles casos será

necessário, para a imputação de responsabilidade e mesmo para a

caracterização do tipo, que a intenção do acusado seja devidamente

verificada, dentro dos estreitos limites componentes do dolo direto ou do dolo

eventual, sendo ainda certo que, intrinsecamente no Direito Penal Brasileiro,

vige o princípio geral de que a modalidade culposa só é punível em havendo

expressa previsão legal.

Ressaltemos que, quando o art. 25 da Lei nº 7.492/86 frisa a

responsabilidade penal sobre os administradores, controladores e gerentes da

Instituição Financeira, naturalmente o faz sob mera intenção indicativa, sem o

condão de afastar a necessária perquirição dos poderes estatutários do

acusado para o conhecimento e a perpetração do ato criminoso - e ainda

assim, frise-se, será condição imprescindível para o decreto condenatório a

comprovação da efetiva autoria do crime financeiro.

2.3. Aspectos conceituais e distintivos

A gestão fraudulenta em Instituição Financeira pode ser tida como o

recurso a qualquer tipo de ardil, sutileza ou astúcia hábil a dissimular o real

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objetivo de um ato ou negócio, com o que se busca ludibriar as autoridades

monetárias ou mesmo aqueles que mantêm relação jurídica com o agente

criminoso (correntistas, poupadores, investidores, etc.)

Observe-se, assim, que a gestão fraudulenta traz mais que um

excesso de risco. O tipo exige um dolo específico, ou seja, uma vontade

consciente do agente em praticar ato que dará aparência de legalidade a

negócio ou situação jurídica que, em sua natureza, é ilegal. Aqui o conceito de

fraude, pois, é mais abrangente que o do Código Civil Brasileiro, uma vez que

ocorre na própria dissimulação de objetivos, no tangenciamento de normas e

na deliberada ludibriação de outrem.

Por isso que a gestão fraudulenta é sempre um crime que serve

para ocultar outro crime, ou um ilícito administrativo. Ressalte-se que não se

trata de crime-meio, não integra e nem é absorvido pelo crime final, como o

seria, por exemplo, a lesão corporal causada à vítima de homicídio.

A gestão temerária traduz-se pela impetuosidade com que são

conduzidos os negócios, o que aumenta o risco de que as atividades

empresariais terminem por causar prejuízos a terceiros, ou por malversar o

dinheiro empregado na sociedade infratora.

A princípio, entendemos que o risco é algo absolutamente normal, e

até necessário dentro de uma gestão ativa de Instituição Financeira. O jogo de

mercado e a natureza dos produtos exigem desenvoltura e perspicácia, como

numa aposta em que se pode, legitimamente, ganhar ou perder. O que deve

ser observado, todavia, é que as Instituições Financeiras, em sua maioria, não

trabalham com dinheiro próprio, mas com o dinheiro dos correntistas e

investidores, entregues em fidúcia.

Isso significa que não se pode punir por gestão temerária, por

exemplo, os administradores de um banco que sofrera perdas irreversíveis por

causa de um investimento de alto risco, desde que a intenção fosse apenas

angariar lucros na operação, e não tripudiar com o dinheiro alheio. A situação

se inverte, todavia, caso fique comprovada a inobservância aos requisitos

básicos supra referidos, hipótese na qual se aceitara, implícita e

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temerariamente, que o fracasso da empreitada levasse à perigosa situação de

insolvência.

Finalmente, o crime de gestão temerária, nos moldes atuais,

também é de mera conduta, podendo ou não vir a se concretizar o efetivo

prejuízo, bastando, para o enquadramento penal, a efetiva manutenção da

Instituição Financeira em “corda circense”, o que sobremaneira repugna à

relevantíssima solidez sistêmica. Importante destacar que, na gestão

temerária, o agente não tenciona ocultar ou alcançar tangencialmente um

negócio ilícito.

Na gestão temerária, o administrador de instituição financeira é um

especulador irresponsável que assume riscos que colocam em cheque a

solvência, estabilidade e ainda a imagem da instituição financeira, não

havendo intenção de acobertar transações ilícitas.

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Capítulo III

Crimes contra o sistema financeiro:

Lavagem de Dinheiro

3.1. Conceituação

A lavagem de dinheiro é a atividade fim do crime organizado,

através dela, criminosos transformam dinheiro de origem ilegal em dinheiro

aparentemente lícito evitando qualquer comprometimento dos ativos com sua

origem criminosa.

É a lavagem de dinheiro que possibilita a validação dos recursos

obtidos de maneira ilícita e, como consequência, viabiliza e garante a

sobrevivência de grande parte da criminalidade, motivo pelo qual esse

fenômeno deve ser estudado, conhecido pela sociedade e efetivamente

combatido. A dissimulação é, portanto, a base para toda operação de lavagem

que envolva dinheiro proveniente de um crime antecedente.

Nas duas últimas décadas, a lavagem de dinheiro e os crimes

correlatos – entre os quais, narcotráfico, corrupção, sequestro e terrorismo –

tornaram-se delitos cujo impacto não pode mais ser medido em escala local.

Se antes essa prática estava restrita a determinadas regiões, seus efeitos

perniciosos hoje se espalham para além das fronteiras nacionais

desestabilizando sistemas financeiros e comprometendo atividades

econômicas.

Tendo em vista a natureza ilegal da lavagem de dinheiro, torna-se

dura tarefa estimar o volume de fundos lavados que circulam

internacionalmente. Por essa razão, o tema tornou-se objeto central de

discussões em todo o mundo. Poucas pessoas param para pensar sobre a

gravidade do problema, principalmente porque a lavagem de dinheiro parece

algo distante de nossa realidade.

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Entretanto, assim como todo tipo de crime organizado, o tema

merece reflexão se considerarmos que o controle da lavagem também

depende da sociedade.

Conceitualmente, a lavagem de dinheiro merece séria consideração

sob dois principais aspectos. Primeiro, permite a traficantes, contrabandistas

de armas, terroristas ou funcionários corruptos - entre outros - continuarem

com suas atividades criminosas, facilitando seu acesso aos lucros ilícitos. Além

disso, o crime de lavagem de dinheiro mancha as instituições financeiras e, se

não controlado, pode minar a confiança pública em sua integridade. Numa

época de rápido avanço tecnológico e globalização, a lavagem de dinheiro

pode comprometer a estabilidade financeira dos países. Vigilância constante é

necessário por parte de reguladores, bancos, centros financeiros e outras

instituições vulneráveis para evitar que o problema se intensifique.

Quanto à origem do termo ,a expressão “Lavagem de Dinheiro” , em

inglês “Money Laundering” teria surgido nos anos 20 quando o famoso Al

Capone adentrou nos ramos de lavanderias de roupas para explicar a imensa

fortuna obtida com seus negócios ilegais.

3.2. Base Legal

No dia 20 de dezembro de , do ano de 1988, após uma reunião da

Organização das Nações Unidas ( ONU), na Áustria, foi criada a Convenção de

Viena sobre o tráfico de entorpecentes e substâncias psicotrópicas. Naquela

época, o crime de lavagem de dinheiro estava inicialmente ligado ao tráfico de

drogas somente. E em março de 1988, dando continuidade a compromissos

assumidos nessa convenção, o Brasil aprovou a Lei nº 9613 que apresenta um

avanço no tratamento da questão, pois tipifica o crime de lavagem de dinheiro.

Também institui medidas que conferem maior responsabilidade a

intermediários econômicos e financeiros e cria, no âmbito do Ministério da

Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)

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A principal tarefa do COAF é promover um esforço conjunto por

parte dos vários órgãos governamentais do Brasil que cuidam da

implementação de políticas nacionais voltadas para o combate à lavagem de

dinheiro, evitando que setores da economia continuem sendo utilizados nessas

operações ilícitas.

Finalidades do COAF

1) Coordenar e propor mecanismos de cooperação e troca de

informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à

ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores;

2) Receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de

atividades ilícitas previstas na legislação;

3) Disciplinar e aplicar penas administrativas, sem prejuízo da

competência de outros órgãos ou entidades;

4) Comunicar às autoridades competentes para a instauração dos

procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de fundados

indícios da prática de ilícitos.

3.3. Fases do processo de lavagem

3.3.1. Colocação

Esta é a fase inicial do processo. O crime organizado usa muito

dinheiro em espécie, o que torna sua movimentação perigosa. É preciso

transformá-lo em dinheiro “politicamente correto” depositando-o em conta

bancária.

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A primeira necessidade do lavador é remover o dinheiro de seu local

de aquisição para disfarçar e diminuir o perigo de que as autoridades venham

a perceber a atividade que o gerou, depois transformar esse dinheiro em

outras formas como traveller cheques , títulos ao portador, saldo em conta

corrente, bens de alto valor incluindo obras de arte.

O objetivo final desta etapa é fazer com que o dinheiro em espécie

seja transformado em outra forma de valor. As instituições citadas no primeiro

capítulo deste trabalho são as mais visadas nesta fase do processo. Concluída

a fase da colocação desse dinheiro no mercado, ele já está pronto para a

próxima fase, que é a ocultação.

3.3.2. Ocultação

Esta etapa do processo consiste em dificultar o rastreamento

contábil do dinheiro sujo. O objetivo é quebrar a cadeia de evidências ante a

possibilidade da realização de investigações sobre a origem do dinheiro. Os

criminosos buscam movimentá-lo de forma eletrônica. Na maioria das vezes o

dinheiro é enviado a paraísos fiscais através de transferências eletrônicas,

operações de câmbio com natureza cambial forjada.

Exemplo disso é um suposto pagamento antecipado de importação.

É uma operação cambial que não exige documentos comprobatórios da

operação além de uma proforma invoice, isto é, um mero orçamento. Como os

sistemas do Banco Central e da Receita Federal não são mais interligados no

processo de comércio exterior, passados cento e oitenta dias do envio do

dinheiro, não há como a Receita Federal ou o Banco Central exigirem a

nacionalização da mercadoria cabendo à instituição financeira que realizou a

operação realizar tal controle manualmente e fazer a cobrança da licença de

importação ao suposto importador passados cento e oitenta dias após a

assinatura do contrato de câmbio, o que pode não ocorrer por mera falha

humana.

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Outro exemplo disso é a transferência cambial entre pessoas físicas

com a natureza de “manutenção de pessoas físicas”. É uma natureza cambial

frágil pois segundo o regulamento de mercado de câmbio do Banco Central, a

mesma não possui valores limitados, podendo um correntista enviar ou receber

por exemplo U$ 50.000,00 em um contrato de câmbio de manutenção de

pessoa física.

Mais um exemplo típico é a transferência de valores para contas

fantasmas em paraísos fiscais que geralmente retornam na forma de

investimento direto externo, isto é, a mesma pessoa que enviou o dinheiro para

uma conta de empresa de faixada no exterior, pode retorná-lo investindo como

sócio de uma determinada empresa no Brasil na qual ele mesmo figure como

procurador, já que na empresa de faixada ele não é obrigado a revelar seu

nome pois este sigilo é protegido por lei, o lavador torna-se sócio da empresa

brasileira e procurador de si próprio. Esta operação é chamada de “Operação

triangular”.

3.3.3. Integração

Esta é a fase final do processo e frequentemente interligada à fase

anterior. É neste momento em que o dinheiro retorna ao sistema econômico

definitivamente com aparência de vir de uma fonte lícita e é assimilado com

todos os outros ativos existentes no sistema. Nessa fase, torna-se muito difícil

distinguir ou perceber a origem ilegal do dinheiro.

Em uma operação triangular, por exemplo, a reintegração é o

momento em que é executada uma operação de câmbio financeiro com

entrada de divisas no país em que o próprio lavador figura como procurador do

sócio estrangeiro que figura-se em sigilo ou é um “laranja”.

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3.4. Mudanças na Lei 9613/98

Em nove de Julho de 2012 foi aprovada a Lei 12683 que altera a

Lei 9613/88. As principais mudanças estão logo na revogação do primeiro

artigo que tipifica os crimes antecedentes que caracterizam a Lavagem de

Dinheiro, dentre eles estavam o terrorismo, trafico de entorpecentes, extorsão

mediante sequestro e crimes contra a administração pública brasileira e

estrangeira.

Tais especificações dificultavam a caracterização do crime de

lavagem de dinheiro visto que para a abertura desse processo era necessário

a comprovação de seu crime antecedente, o que tornava a investigação muito

difícil visto que além de comprovar que o dinheiro incorporado no mercado

financeiro possuía origem ilícita, a justiça ainda teria que ter provas dos crimes

que originaram o capital acobertado nas transações financeiras.

Com a mudança, a legislação brasileira passaria da chamada

segunda geração ( rol fechado de crimes antecedentes) para a terceira

geração ( rol aberto de crimes), adotada por vários países desenvolvidos.

Outro avanço é que o judiciário pode acolher a denúncia por lavagem de

dinheiro mesmo sem condenação pelo crime antecedente, o que pode ocorrer

nos casos de prescrição ou de insuficiência de provas. A nova lei também

permite delação premiada a qualquer tempo.

O novo texto também autoriza o judiciário a fazer confisco prévio

dos bens dos envolvidos no crime e leva-los a leilão com agilidade. A intenção

é evitar que automóveis, barcos, aviões e imóveis fiquem parados por muito

tempo à espera da liberação judicial para venda e, enquanto isso haja

depreciação de seus valores. Os recursos arrecadados nos leilões serão

destinados a uma conta vinculada. No caso de absolvição, retornam para os

réus e, em caso de condenação, vão para o Erário.

Outra inovação é a possibilidade de apreensão dos bens em nome

de terceiros, conhecidos como “laranjas”. Antes a legislação previa a

apreensão, no curso do inquérito ou da ação penal, apenas para os bens ou

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valores em nome do acusado de lavagem de dinheiro. Com a atualização da

lei, podem ser apreendidos também os bens que os criminosos registrarem em

nome de terceiros.

A partir deste momento, o profissional do mercado financeiro deve

estar atento, principalmente o gerente de banco, responsável por repassar

informações sobre movimentações suspeitas ao COAF, levando em

consideração que agora, qualquer transação financeira que possa ter origem

de atividade ilícita já está enquadrada como crime de lavagem de dinheiro e

não mais somente os crimes ligados ao tráfico de drogas e contra a

administração pública.

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CONCLUSÃO

Verificamos ao longo do trabalho quão amplo e pulverizado é o

sistema financeiro e como ele é visado e utilizado para fins de lavagem de

dinheiro bem como a gestão fraudulenta e a temerária também estão ligadas

aos crimes de lavagem visto que a lavagem ocorre por omissão do gestor de

instituição financeira ou, muitas vezes por sua própria vontade quando

participa efetivamente da atividade criminosa.

A lavagem de dinheiro é o processo que apoia o financiamento de

atividades criminosas cabendo ao profissional de instituição financeira

trabalhar com conduta ilibável e reconhecer seu papel neste cenário, que é a

identificação das operações sujas e devida comunicação aos órgãos

competentes.

Com a recente alteração da Lei 9613/98 através da Lei 12683/12 o

processo de condenação por crime de lavagem de dinheiro ficará mais simples

pois agora a lei abrange como crime antecedente todo tipo de atividade ilegal.

Tal alteração representa mais um motivo de atenção aos

profissionais da área de finanças que devem cumprir seu papel de “due

dilligence”, isto é, devem investigar e conhecer bem seus clientes a fim de não

se verem envolvidos em uma operação fraudulenta no mercado financeiro,

pois com a mudança da lei, qualquer capital inserido no sistema financeiro que

tenha origem ilícita é alvo de investigação pelo Conselho de Controle de

Atividades Financeiras ( COAF).

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal- Parte Geral.13ªed. São

Paulo: Atlas, 1998.

MANTECCA, Paschoal. Crimes Contra a Economia Popular e sua Repressão,

São Paulo: Saraiva, 1985.

MAIA, Rodolfo Tigre. Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional. São

Paulo: Malheiros,1996.

Congresso Nacional. Lei 9613. Brasíla-DF, 1998.

Congresso Nacional. Lei 12683. Brasília-DF,2012.

www.academico.direito-rio.fgv.br. Acesso em 20 julho 2012.

www.conpedi.org.br. Acesso em 20 julho 2012.

www.crimesdocolarinhobranco.adv.br. Acesso em 19 julho 2012.

www.12.senado.gov.br. Acesso em 19 julho 2012.

www. coaf.fazenda.gov.br. Acesso em 18 julho 2012.

www.bcb.gov.br. Acesso em 18 julho 2012.

www.ambito-juridico.com.br. Acesso em 18 julho 2012

www4.planalto.gov.br/legislação. Acesso em 15 julho 2012.

www.fraudes.org.br. Acesso em 15 julho 2012.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – Congresso Nacional. Lei 7492. Brasília-DF, 1986.

2 – Congresso Nacional. Lei 1521. Brasília- DF, 1951.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

1.1 – Sistema Financeiro Nacional 9

1.1.2 – Banco Central do Brasil 10

1.1.3 – Instituições monetárias 11

1.1.4 – Demais Instituições Financeiras 16

CAPÍTULO II

2. – Crimes Contra o Sistema Financeiro:

gestão fraudulenta e gestão temerária 20

2.1- Precedente legislativo 20

2.2- Sobre a intenção do agente 21

2.3- Aspectos conceituais e distintivos 22

CAPÍTULO III

3. – Crimes Contra o Sistema Financeiro:

Lavagem de Dinheiro. 25

3.1- Conceituação 25

3.2- Base Legal 26

3.3- Fases do Processo de Lavagem 27

3.4- Mudanças na Lei 9613/98 30

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CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33

BIBLIOGRAFIA CITADA 34

CONCLUSÃO 48

ANEXOS 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

BIBLIOGRAFIA CITADA 54

ÍNDICE 55