universidade cÂndido mendes “neoliberalismo e … andre valente bittencourt.pdf · ciente do...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicos
“NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO”
por
Otávio André Valente Bittencourt
Professor Orientador: Diva Nereida M. M. Maranhão
Rio de Janeiro - RJ Janeiro de 2003
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicos
“NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO”
Monografia apresentada a UCAM como requisito parcial para aprovação no Curso de: Administração Escolar Por: Otávio André Valente Bittencourt Professor Orientador: Diva Nereida M. M. Maranhão
Rio de Janeiro - RJ Janeiro de 2003
“(...) certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
-Garrafa, prato, facão
Era ela quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxada, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação !
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão”
“(...) E foi assim que o
operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia SIM
Começou a dizer NÃO”
Vinícius de Moraes
SUMÁRIO
Introdução ___________________________________ 3
I. Neoliberalismo ________________________ 5
II. Neoliberalismo e Educação no Brasil ___ 9
III. Educação, Neoliberalismo e Trabalho ___ 10
IV. Neoliberalismo, Educação e Cidadania __ 14
V. A Educação e os novos Paradigmas ______ 16
VI. Professor no Contexto Neoliberal ______ 19
VII. Avaliação Escolar no Neoliberalismo ___ 23
VIII. Neoliberalismo e Autonomia Escolar ____ 28
Conclusão ____________________________________ 32
Bibliografia _________________________________ 36
Introdução
Educação, instrumento de transformação. Durante
longos anos está foi uma verdade absoluta, contudo o
mundo moderno e neoliberal vem modificando esta verdade.
A história humana está repleta de exemplos onde a
educação exerceu uma função capital, seja ela utilizada
como instrumento de transformação, libertação ou como
meio de dominação.
Ciente do poder de ação da educação, a burguesia
neoliberal tem se antecipado e aclamado a educação como
herança a ser deixada aos seus filhos. Por outro lado,
esta mesmo burguesia procura aumentar seu domínio sobre
este campo eliminando a participação do Estado e vem
ditando novos paradigmas para a educação, condizentes com
as suas necessidades.
Partindo deste ponto de vista, observamos que a
educação, de forma lenta e gradual, tem passado por um
processo de transformação que a tem afastado de nossa
afirmação inicial, educação instrumento de transformação.
Os avanços tecnológicos, a quantidade e
velocidade de informações ao nosso alcance deve ser
utilizado para uma melhor qualidade na educação e não
para declarar a sua falência.
O presente momento, em específico no Brasil, é de
mudança, é de contato com o novo, portanto, para não
perdermos de vista o caráter rela da educação devemos
indagar:
• Por que educar?
• Quem educar?
• Como educar?
• Transferir conhecimento ou construir conhecimento?
• Que tipo de cidadão queremos ter no futuro?
• Qual o papel do professor neste processo?
• Quais são as críticas neoliberais a escola?
• Que mudanças na estrutura escolar os neoliberais
pretendem implementar? Quais são suas conseqüências?
A resposta a estes questionamentos é um dos
objetivos deste trabalho que pretende analisar a educação
no mundo neoliberal.
I. Neoliberalismo
Capitalismo doutrina político econômica e social
que tem por base a exploração do homem pelo homem, passou
a consolidar-se após o século XVIII com o advento da
Revolução Industrial. Desde então passou por diversas
fases e inúmeras crises, dentre as quais destaco a crise
de 1929, que só no Estados Unidos provocou a falência de
85 mil empresas, 4 mil bancos fecharam e aproximadamente
12 milhões de desempregados.
Dentro da doutrina capitalista é possível seguir
duas linhas básicas, a Keynesiana e a Liberal.
A escola liberal, na qual nos deteremos, tem seus
primórdios no século XVIII com Adam Shmith e defende um
capitalismo livre da interferência do Estado, para os
liberais a economia possui leis próprias e os mecanismos
de oferta e procura são suficientes para regular os
preços e a própria economia.
Após a Segunda Guerra Mundial uma nova onda
liberal ganhou força na Europa e nos Estados Unidos, sob
o nome de Neoliberalismo.
Segundo Anderson (1995) é possível observar que
em 1944 o político Frederich Hayek publicou o livro “O
caminho da servidão” no qual criticava o Estado
intervencionista e defendia a economia liberal, baseada
na não intervenção do Estado na economia e na liberdade
política e individual.
Entre as décadas de 50 e 60, auge do capitalismo,
Hayek procurou disseminar as suas idéias através de
reuniões organizadas pela Sociedade de Mont Pe’lerin, uma
espécie de maçonaria neoliberal. Realizadas a cada dois
anos, estas reuniões contaram com a participação de
Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Luidwig Von
Mises, Walter Eupken, Michael Polaneji, Salvador de
Madariaga, entre oputros adversários do Keynesianismo.
Na década de 1970 as idéias neoliberais ganharam
força, tal fato deve-se a recessão enfrentada pela
capitalismo neste período.
Neste período, quando as taxas de crescimento
baixaram e a inflação subiu demasiadamente, os gastos com
o social foram postos de lado em nome de uma estabilidade
monetária que deveria ser alcançada pelos governos.
Lentamente ao longo de uma década as reformas
neoliberais forma sendo realizadas, gerando desigualdade,
desemprego, falência dos sindicatos e diminuição dos
impostos para as empresas.
A Inglaterra de Thatcher, em 1979, foi o primeiro
país a adotar o modelo neoliberal, em 1980 foi a vez dos
Estados Unidos com Reagan. Na Europa, com exceção feita à
Suécia e Áustria, todos os demais países vivenciaram uma
onda de direitização.
Durante todo o período conhecido como Guerra
Fria, o Neoliberalismo encontrou campo hábil para
consolidar-se. No decorrer desta fase o pacote de medidas
mais ambicioso e sistemático de medidas neoliberais foi
adotada pela Inglaterra, que sob a liderança de Tatcher,
baixou impostos aos rendimentos altos, elevou taxas de
juros, realizou privatizações e acima de tudo gerou
desemprego e criou uma legislação anti-sindical.
No caso Norte-americano, notamos um
descompromisso com a nova política neoliberal e sua
disciplina no campo orçamentário. Mergulhados numa
competição militar com a antiga União Soviética, os
Estados Unidos alcançaram um enorme déficit orçamentário,
diferindo por completo da austeridade econômica adotada
na Europa, que mantinha-se fiel ao orçamento e às
reformas fiscais.
A Europa, entretanto, dividia-se entre dois
modelos econômicos-políticos divergentes entre si:
enquanto o norte voltava-se para um sistema de extrema
direita, o sul encontrava-se governado por líderes de
esquerda, como Miterraned(França), González (Espanha),
Soares (Portugal), Crasei (Itália) e Papandreou (Grécia).
Embora os governos do sul buscassem uma política
de deflação e redistribuição de renda, além da luta pelo
pleno emprego e proteção social, entre os anos de 1982 e
1983, pressões sofridas pelo contexto internacional os
forçou a implementar reformas semelhantes ao modelo
neoliberal. Desta forma o modelo neoliberal consolidava-
se em meio a questionamentos que surgiram pondo em dúvida
a eficácia do novo modelo econômico.
No que tange a realidade Latino-americana, o
primeiro país a aderir ao modelo neoliberal foi o Chile
que, sob a liderança do ditador Pinochet e seguindo os
moldes econômicos dos Estados Unidos, viveu sob forte
ditadura militar a implantação de tal modelo num ambiente
de repulsa a democracia, fato que bem adequa-se à
ideologia neoliberal.
No tocante a realidade brasileira as primeiras
medidas de cunho neoliberal foram adotadas por Collor e
consolidadas por Fernando Henrique Cardoso. Em doses
homeopáticas a Neoliberalismo foi aos poucos
consolidando-se no Brasil com uma característica
singular, enquanto nos países da América-Latina o
Neoliberalismo foi implantado por governos ditatoriais,
no Brasil tal modelo foi implantado sob um regime dito
democrático.
Ao analisar o caso brasileiro Frigotto afirma:
(...) No caso brasileiro, na conjuntura dos anos 80, com a vigência dos novos movimentos sociais, com um sindicalismo combativo e com a presença significativa de partidos de esquerda, conseguiu-se promulgar, em 1989, uma constituição que assegurava direitos sociais, além dos direitos políticos. Entretanto, imediatamente após a sua promulgação, teve início o processo de Revisão Constitucional e o Governo Federal começou a governar por medidas provisórias revogando sobretudo os direitos sociais em nome da queda do Muro de Berlim, da Globalização e reestruturação produtiva.”(Frigotto, 1996, p. 82-83) Para finalizar esta parte do presente trabalho,
ressalto que o neoliberalismo, ora suscitante analisado,
surgiu como solução para a crise do capitalismo, contudo
sua eficácia deve ser atentamente discutida, pois como
vimos o Neoliberalismo dificulta ainda mais os governos
constituídos de exercerem o controle dos destinos de seus
Estados e acentua as desigualdades sociais.
II. Neoliberalismo e Educação no Brasil
Tudo é relativo, este dito, que secularizou-se no
campo das ciências, tem se mostrado freqüente em nossos
dias.
Com a crise do capitalismo da segunda metade do
século XX, e consequentemente da crise dos modelos
Taylorista e Fordista de produção, vemos surgir um
processo de reestruturação que nos impõe novos paradigmas
em todos os campos de nossas vidas, em especial no campo
da educação onde rompemos com paradigmas que se
consolidaram ao longo de anos.
No discurso neoliberal a educação deixa de ser
parte do campo social e político do Estado para ingressar
no mercado e funcionar à sua semelhança sem nenhum
compromisso com o aspecto social.
Nota-se que todas as estruturas sócio-econômicas
são alteradas para atender ao processo da modernização
liberal. Contudo tais mudanças visam atender apenas aos
interesses de uma minoria, dona do poder aquisitivo,
desejosa de construir um novo modelo educacional que não
as ameace.
III. Educação, Neoliberalismo e Trabalho
Historicamente a educação sempre serviu aos
interesses da burguesia. Sua função sempre foi a de
adestrar o trabalhador com o objetivo de utilizá-lo na
produção Taylorista baseada na simples execução do
trabalho manual sem exigir muito raciocínio, apenas
treinamento.
Entretanto o avanço tecnológico gerou a
necessidade de uma mão – de – obra mais qualificada, esta
necessidade forçou a burguesia, empresários, a buscar
através de órgãos específicos como a FIESP e a CNI, a
participarem de forma mais ativa na área educacional.
A partir de então a educação assumiu papel
estratégico, pois além de preparar o trabalhador
adequadamente para a profissão, deveria prepará-lo para a
nova realidade.
Na concepção de Silva:
“(...) é importante também utilizar a educação como veículo de transmissão das idéias que proclamam as excelências do livre mercado e da livre iniciativa. Há um esforço de alteração do currículo não apenas com o objetivo de dirigi-lo a uma preparação estreita para o local de trabalho mas também com o objetivo de preparar os estudantes para aceitar os postulados do credo neoliberal.”(Silva, 1995, p. 2) Percebemos então, que a educação no contexto do
mundo neoliberal é fundamental, pois ajuda a disseminar e
consolidar os fundamentos ideológicos neoliberais e
consequentemente torna-se instrumento de alienação
humana, impedindo, inclusive, possíveis convulsões
sociais, pois nunca formará um senso comum contra o
Neoliberalismo.
Cabe, neste momento, pararmos para analisar o
função, ou melhor, qual era a função do Estado na
educação.
Sempre coube ao Estado, principalmente os ditos
democráticos, que é sua função fornecer educação de
qualidade e gratuita aos seus cidadãos, e mais, a
educação fornecida deveria corresponder não só ao
conhecimento científico, mas deve abranger a formação
moral e cívica dos cidadãos, ajudando-o a no futuro
exercer sua plena cidadania.
Ciente desta histórica função do Estado no campo
educacional, o modelo neoliberal cuidou de construir um
discurso que ao longo do tempo vem tirando do Estado a
função de educar.
Mediante este objetivo, o Neoliberalismo iniciou
seu ataque objetivando justamente os pontos fracos do
sistema de ensino, tais como: evasão escolar; repetência;
má qualidade do ensino; desmotivação dos professores,
etc, sempre culpando o Estado por tais problemas.
Com esta retórica de incompetência do estado como
gestor, o Neoliberalismo vem retirando a educação do
Estado para suas mãos(particular), mudando por completo a
grade curricular sem levar em consideração os interesses
e o bem – estar da população. Gradativamente a educação
deixa de ser um direito universal para ser mais um
produto do mercado.
Devemos atentar, que neste processo o novo ensino
oferecido pela iniciativa privada não vê o homem como o
centro do processo de ensino e sim como uma engrenagem
desenvolvida para atender as empresas.
A educação, então, torna-se um órgão setorial
empresarial, sua terceirização é inevitável, o Estado
deixa de interferir no direito de escolha que os
“consumidores” devem realizar no mercado escolar. A
terceirização escolar, seja ela feita por empresas ou
instituições de caridade, trará a evidência de que o
ensino deverá ser produzido de maneira rápida, com um
certo controle de eficiência e produtividade. O
pensamento humano será facilmente manipulado para que
atenda ao “mercado escolar”.
A respeito destas transformações Frigotto afirma:
“(....) A sociedade e os trabalhadores, através de suas organizações políticas e sindicais, devem ter informações claras, por exemplo, sobre o tipo de formação que se efetiva em instituições educativas da Fundação Bradesco, Banco do Brasil, ou em programas educativos da Rede Globo. Quem define a filosofia destes programas? Qual o custo? De onde são tirados os recursos? Quem presta conta a quem? Quem é atendido e quantos?” (Frigotto, 1995, p. 85) Tais questionamentos são pertinentes pois a
legislação atual permite as empresas que prestam tais
serviços a descontarem vultuosas quantias do imposto de
renda, e ao mesmo tempo disseminar um tipo de educação
condizente com seus interesses.
As mudanças que ocorrem no campo educacional são
interessantes ao Estado, pois consegue reduzir gastos,
contudo é possível observar que o Estado ainda é
necessário para custear parte dos investimentos privados
na educação, pois esta tarefa exige uma grande soma de
recursos.
Ao final do processo que descrevemos, encontramos
um Estado que financia uma educação que não atende aos
reais interesses da grande parte dos cidadãos.
A educação transforma-se assim numa instância
capacitadora de recursos humanos, dando ao indivíduo
conhecimento que se relacionam com atividades
empresariais, formando assim uma mão-de-obra alienada mas
que cumpre o papel de manter a competitividade das
empresas e formar uma ampla reserva de mão-de-obra,
formar o cidadão consciente e sociabilizado ficam fora
desta nova visão, assim como a busca do bem estar da
coletividade. O “darwinismo social” consolida-se.
IV. Neoliberalismo, Educação e Cidadania
É possível perceber ao longo do presente
trabalho, que a mudança de paradigma na educação leva a
uma mudança de “aluno-cidadão” para “aluno-cunsumidor”.
“No decorrer desta transformação nota-se que o Neoliberalismo também cuidou de fornecer uma nova compreensão para o termo cidadania, que passa a ser compreendida como “uma revalorização da ação do indivíduo enquanto proprietário, enquanto indivíduo que luta por conquistar (comprar) propriedades, mercadorias, de diversas índoles, sendo a educação uma delas.”(Cunha, 1996, p. 86)
A grande contradição que é possível perceber no
cenário nacional está no fato do Estado, que permite e
contribui com a livre ação do Neoliberalismo, através do
MEC ter elaborado uma política nacional para a
educação(PCNs) que conceitua cidadania como:
“um conjunto de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia, atitudes de participação, solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças e discriminações respeitando o outro e exigindo para si respeito.”( Cunha, 1996, p. 63)
Ora, tal conceito não condiz com a percepção de
cidadania pelos neoliberais e propicia a construção de
uma falsa cidadania, além de a uma possível ineficiência
pública no âmbito escolar, que tende cada vez mais a
regredir cedendo espaço ao novo modelo sobrevindo pelo
Neoliberalismo, que ao invés de pregar igualdade tem nela
um de seus pilares. Para Gentil:
“(...) Na retórica Neoliberal e conservadora, isto(a desigualdade) não tem nenhuma conotação negativa. Pelo contrário, é tal desigualdade que leva - supostamente – os indivíduos a melhorar, a se esforçarem e a competir; em suma; é a pré – condição para o exercício do princípio do mérito....”( Gentil, 1995 a)
Tais discrepância entre teoria e prática permite
ao novo modelo neutralizar, justificar e legitimar a
sociedade hierarquicamente dividida, cujo apartheid
V. A Educação e os novos Paradigmas
O mundo Neoliberal com certeza tem imposto uma
série de transformações em todos os campos da vida
humana, mas é na educação onde eles são sentidos de forma
mais intensa.
O avanço tecnológico, a enxurrada de informação
que cai sobre nós a todos os instantes, força, de forma
incondicional, a uma mudança de paradigma na educação, de
forma que esta possa acompanhar e influenciar o processo
de transformação social em andamento.
Há três características no processo de
transformação social: a tecnologia, a ciência e o
conhecimento. Esses três fatores são hoje centrais para o
desenvolvimento e para processo o produtivo. Essa
transformação afeta as relações de produção e todos os
outras formas e concepções ligadas ao trabalho.
Há uma necessidade de pensar a Educação que
responda às necessidades da vida moderna, uma educação
voltada para a realização pessoal e também o trabalho. O
desafio da educação é a formação de habilidades
cognitivas no indivíduo, desenvolvendo características
que lhe dêem a capacidade de lidar com os novos códigos.
A Educação não pode se limitar mais apenas à
alfabetização de uma camada privilegiada. Ela deve
permitir a decodificação da informação escrita que é
importante para o desenvolvimento do homem enquanto
participante ativo de uma sociedade.
Vai surgindo um novo perfil de homem :
“O homem moderno, da revolução da informação, não é o que sabe, mas o que está sabendo - isto é, quem está continuamente renovando e reformulando o seu saber”(Maranhão, 1994, p.5)
O homem moderno está sempre aprendendo, a
“crescer” não pára nunca; e ele têm características que
permite esse desenvolvimento, têm condições de acompanhar
as transformações sociais sem traumas.
A tecnologia e a informática muito podem fazer em
tenros metodológicos de ensino. A Informática aplicada à
Educação oferece muitos recursos à aprendizagem de
conteúdos, como também modifica a própria estrutura da
escola. O aluno é incentivado a descobrir, o saber é
construído.
“São inumeráveis os setores que enfatizam o valor da aprendizagem pela descoberta, porque saber adquire maior significado sua flexibilidade em corrigir os desacertos reforça a construção de novas estruturas para a aprendizagem autogestiva” (MARANHÃO, 1994).
O computador, a informática em geral, não
subestima a importância do professor dentro da sala de
aula. Estas são ferramentas que torna a ação do professor
e o aprendizado do aluno muito mais agradável.
Pensar em uma educação transformadora é pensar
também numa nova concepção de currículo. Um currículo
voltado para atender às reais necessidades do aluno, e
disciplinas que desenvolvam as habilidades cognitivas.
A formação de um indivíduo crítico é um desafio
educacional. Torna-se importante selecionar a informação
relevante. Hoje o acessa à informação chega a todo
momento, por TV, rádio, jornal, revistas, etc. O domínio
do conhecimento, de saber tomar decisões, é importante
para o exercício da cidadania.
VI. Professor no Contexto Neoliberal
Ao pensar nas novas tecnologias educacionais há
que se pensar também na formação do professor. Que tipo
de profissional queremos para o futuro?
A questão da formação do professor é ponto básico
para o ensino de qualidade. As várias tendências que
surgiram no Brasil durante o século XX, formaram
professores com particularidades diversas.
A teoria do Capital Humano trazia como proposta
mudança sociais a partir da educação. A falta de escola
acabava por ser a principal responsável pela miséria do
povo. A solução para acabar com a miséria era educar o
povo. Esta visão ingênua tirava a obrigação da política
econômica do país como fator primordial da realidade
social.
Segundo Santos (1995), na década de 80 o projetos
político-pedagógicos dos educadores tinham influencia
marxista, e suas propostas educacionais visavam à análise
das relações de classe no capitalismo; o fim dessas
diferenças sociais só seria alcançada com o socialismo. O
profissional seria um “intelectual orgânico”.
“Esse profissional se constituiria em uma liderança, articulando seu campo de conhecimento com a dimensão política de seu trabalho. A formação do professor deveria, então, estar centrada na formação desse intelectual consciente de seu papel histórico e comprometido com os interesses da classe trabalhadora.” (SANTOS, 1995, p.17).
Este tipo de análise educacional, voltada ao
estudo marxista, vai cedendo lugar a outros referenciais.
A análise voltada a questões da estrutura social, lugar à
valorização de aspectos “microssociais”.
Há uma preocupação maior em relação às
características sociais deste professor. Busca-se uma
iteração entre a realidade do professor e sua formação
profissional, embora não tenha perdido as influências
marxistas, que ainda são base fundamental para o processo
político.
Santos argumenta que o desempenho do professor
depende de sua própria experiência ao longo da vida
estudantil. O seu desempenho como professor é dependente
de todos os modelos internalizados durante processo de
educação. Este futuro professor já chega, segundo,
Santos, no curso de formação de professor com imagens
prontas sobre o papel da Educação, da escola e do
professor.
Este futuro profissional da Educação, trazendo
para sala de aula sua própria formação educacional, vai
perceber uma nova visão da escola, do currículo. Através
de sua própria experiência ele terá uma autocompreensão
do seu processo de formação. Segundo Santos:
“O que se busca nesse tipo de trabalho é o desenvolvimento de um profissional reflexivo, capaz de pensar sobre suas ações, durante e após realizá-las.” (SANTOS, 1995,p.20). Esta formação visando ao desenvolvimento de
análise crítica no profissional da Educação servirá
também para ele entender melhor os processos de mudanças
sociais.
O professor tem função de instrumentalizar seus
alunos com o conhecimento através da prática social. O
conhecimento e a liberdade são fatores essenciais para o
ato moral consciente.
“Para ser verdadeiramente livre, uma ação implica em que se conheça aquilo que se faz” (MONDIN, 1980, p.94)
O professor desatualizado acaba por atuar de
forma a manter o “status quo”.
Não tem compromisso político-social com a
sociedade.
A trimendicionalidade implica em preparar o
educador para ter três características básicas: conteúdo,
habilidades didáticas e competência política. O conteúdo
é a parte que diz respeito à transmissão e produção de
conhecimentos, na qual está implícito a questão da
informação e do conhecimento. As habilidades didáticas
implicam na atuação metodológica e didática do
conhecimento. A competência política refere-se à atuação
política do profissional nas relações sociais. O que não
significa a defesa de um determinado partido político,
mas na atuação consciente da formação do cidadão.
Um dos grandes problemas para o desenvolvimento
científico, e aí podemos citar o Iluminismo, é a questão
da ignorância “ao novo”, ao que está surgindo no campo da
ciência e tecnologia. No Iluminismo as armas contra a '
ignorância eram: o conhecimento; a ciência e a educação
(Marcondes- Zaia Brandão).
A reflexão quanto ás questões da tecnologia e da
ciência, de forma racional, deixando de lado as crenças e
preconceitos é o ponto de partida para entender o novo
processo de conhecimento e de informação. Um dos
paradigmas é aceitar as mudanças.
VII. Avaliação Escolar no Neoliberalismo
Dentro do processo de transformação imposto pelo
neoliberalismo a educação, temos a que esta passa a ser
subordinada às necessidades do mercado, que passa a
estabelecer o rumo das políticas educacionais e critérios
para avaliar a pertinência das propostas de reforma
escolar. Como o sistema de mercado é amplamente empregado
na educação, os critérios de avaliação devem estar a ele
submetidos. Partindo deste princípio temos a elaboração
de um novo sistema de ensino.
Para saber se a faculdade é boa ou ruim, criou-se
um instrumento de avaliação sob o intuito de melhorar a
qualidade do ensino. Em consonância a essa proposta, tem-
se a Qualidade total na educação. Utilizando-se de Silva:
“(...) a qualidade em educação é vista a partir de uma óptica econômica, pragmática, gerencial e administrativa. Aqui, uma concepção, também inevitavelmente política, é claro, apresenta-se sob a aparência de uma visão meramente técnica. A GQT, é de fato, uma tecnologia, mas uma tecnologia moral, no sentido de Michel Foucault, isto é, um dispositivo de governo e autogoverno, de controle e autocontrole, de regulação e auto-regulação. Como uma tecnologia moral a GQT encarna relações sociais particulares corporifica relações específicas de poder. Como tal, a GQT está longe de ser uma técnica inocente e neutra.” (Silva, 1996, p. 170)
A qualidade total surge no contexto educacional
avaliando-o por meio de um sistema de classificação das
escolas. O sistema escolar deve, então, traçar
estratégias de maneira que, dentro da diversidade das
demandas de consumo por educação, este seja competitivo
para que cada um conquiste para si suas oportunidades de
trabalho. O sistema escolar deve ser, portanto, flexível
já que irá reagir de acordo com os estímulos do mercado
educacional. A competição deve caracterizar a lógica
interna da instituição escolar, regulando as práticas e
as relações cotidianas da escola. Curiosamente quando há:
“... a falta de qualidade (como a não disponibilidade de qualquer propriedade) não é um assunto do Estado, e sim dos mecanismos de correção que funcionam “naturalmente” em todo mercado, simplesmente porque o mercado é, ele mesmo, um mecanismo autocorretivo (...) A qualidade da educação como “prioridade”, pode constituir-se em algo desejável e conquistável pelos indivíduos empreendedores. Ela se conquista no mercado e se define por condição de não-direito.” ( Gentil, 1995a, p.247)
Detectar se as regras do mercado e da grande
empresa capitalista domesticam a educação é papel dos
provões, ou seja, um sistema nacional de avaliação dos
sistemas educacionais.
Sob o véu da livre escolha, a intervenção junto
às escolas, voltada para o conhecimento das mais
promissoras, esconde algo nada descentralizado que é
justamente a aplicação de uma prova nacional, elaborada
pelos órgãos Estaduais.
Cheia de paradigmas, a GQT que padroniza e
normaliza, toda a estrutura educacional, exclui e
discrimina seus integrantes, aponta menos qualidade ao
invés de mais qualidade. Num outro viés, os processos de
participação, escolha e voz tão amplamente difundidos e
defendidos num contexto neoliberal acabam sendo na
prática, limitados, visto que o “consumidor” escolhe
aquilo que o novo sistema lhe coloca, ou seja, dentre a s
opções que este oferece é que se pode escolher.
Compartilho com Silva ( 1995) a idéia de que a
verdadeira escolha que resta ao indivíduo fazer é a
rejeição da própria idéia da qualidade total (até mesmo
por que essa qualidade já existe para a minoria da
população que paga por educação, enquanto que, para a
maioria, ela torna-se inócua posto que o ponto central
reside na distribuição da riqueza e dos recursos), ao
qual estabeleceria uma rejeição a toda uma nova estrutura
neoliberal educacional.
Infelizmente, constata-se que o que vem guiando a
política educacional é a aplicação de testes (e,
novamente, cabe aqui mais uma controvérsia, pois a
cultura da prova e dos testes deveria fazer parte do
passado: o professor, de acordo com os PCNs, avalia seu
aluno quotidianamente durante o processo de ensino -
aprendizagem. Esse aluno não estaria despreparado,
amplamente falando, para enfrentar uma prova?).
Com a publicação dos rendimentos dos alunos por
escola para efeito de orientação dos “consumidores” da
mercadoria educacional, caímos numa progressiva
implantação de um modelo marcadamente mercadológico.
Teoricamente, e no meu entender, a avaliação do
sistema educacional tem valia: creio que qualquer oficio
mereça uma avaliação (seja ela externa ou interna ao
processo, ou ainda auto-avaliativa) afim de que falhas
sejam detectadas e providências sejam tomadas para saná-
las, melhorando sempre mais o trabalho. Entretanto, da
forma como essa avaliação é encarada na prática é onde
reside minha crítica.
A essência teórica dos provões e do SAEB é de
extrema validez, já reconhece e se valoriza escolas que
vêm se esmerando em oferecer uma educação de qualidade.
Porém, no âmago desta questão habitam as antimonias, que
fazem cair por terra o que de bom traz essa proposta. O
que temo, na verdade, é o escalonamento e classificação
dessas instituições, de modo a comprometer seus nomes e
também os de seu corpo discente, taxando-os com a
classificação independente do desempenho que este último
obtivera ao longo dos anos que lá esteve.
O escalonamento pode tornar-se injusto já que não
reflete, necessariamente, a qualidade individual do
profissional e nem da Universidade (neste caso, restrito
aos provões), pois várias condições adversas podem entrar
em cena, como: os alunos podem estar com problemas no dia
da avaliação, comprometendo o seu rendimento; o assunto
da prova pode ter sido melhor explanado e enfocado em uma
determinada universidade, o que não implica
prioritariamente que esta seja melhor, pois outro assunto
pode ser que não tenha sido dada a mesma ênfase e caso
estivesse sendo alvo de avaliação poderia modificar o
resultado da prova e seu conceito, etc. Apenas uma
avaliação no ano não serve de parâmetro para avaliar
ninguém, bem sabemos disso, pois as avaliações que são
feitas dos alunos são diárias, algo bem diferente do
provão, e ainda assim, pedagogicamente falando, sabe-se
que essa não é a forma ideal de se avaliar já que alguns
fatores podem ser desprezados em detrimento de outros que
mereceriam melhor observação, o provão representa uma
influência nítida do Neoliberalismo na política
educacional brasileira, e diante do que até aqui foi
exposto, percebe-se que merece uma revisão de modo a
tentar aproveitar o que há de bom e eliminar o que há de
ruim (e percebe-se nitidamente que tem muita coisa a ser
revisada e eliminada).
VIII. Neoliberalismo e Autonomia Escolar.
Como última contradição viabilizada pelo sistema
neoliberal, gostaria de elucidar os paradoxos inerentes á
tão divulgada autonomia escolar.
Tocante a autonomia, largamente difundida pelos
credos neoliberais, a participação e a escolha se vêem,
outra vez, delimitadas por uma visão particular de
pedagogia, sociedade e educação. Ora, se a escola possui
autonomia para gerir-se e elaborar seu próprio projeto
politico-pedagógico, a partir do momento que se encontra
na obrigação de prestar contas ao Estado do rendimento do
grupo discente (mais uma controvérsia), onde encontra-se
sua autonomia?
Na prática, evidencia-se uma autonomia
administrativa onde os diretores, juntamente com o
conselho escolar, farão a gestão dos recursos da forma
que mais lhes foi apropriada. A autonomia pedagógica,
contudo, existe tão somente no discurso, na dimensão
teórica.
A título ilustrativo, citar-se-á uma contradição
existente no sistema escolar da esfera municipal: existem
atualmente nos municípios turmas compostas por alunos que
cuja idade já foi ultrapassada para estar cursando o
Ensino Fundamental, a idade adequada com a qual o Estado
(ainda) se compromete em garantir escolaridade.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB), sancionada por nosso atual presidente
Fernando Henrique Cardoso em 1996 - LDB n° 9394 / 96 -
encontra-se no Art. 24, Parágrafo 5, “a possibilidade de
aceleração de estudos para alunos com atraso escolar.”
(BRASIL. MEC, 1996, p. 38). A grande falácia à autonomia
pedagógica encontra terreno, para citar apenas um
exemplo, neste caso das Turmas de Aceleração. Contrária à
própria lei, ao MEC e aos PCNs no que tange a necessária
adequação do que será lecionado aos interesses peculiares
do grupo com o qual se trabalha, os professores dessas
turmas são obrigados a utilizar uma cartilha “importada”
de Porto Alegre que traz em seu bojo conhecimentos
incompatíveis à realidade onde serão usados, dada à
grande diversidade cultural de cada região brasileira.
Caso o professor se oponha a massificar seu aluno
com conhecimentos estanques daquilo que conhece e
predileta, semanalmente vê-se obrigado a apresentar seu
plano de aula com as atividades e conteúdos
detalhadamente descritos a um supervisor, que pese à
palavra inserida num local onde supõe-se autonomia, que a
tudo questiona e opõe-se (mesmo que para o grupo, aquilo
que foge à cartilha importada esteja sendo mais atrativo
e eficaz).
Questiona-se onde, através de um único relato,
estaria a autonomia tão divulgada por nossos governos?
Indaga-se, ainda, onde estaria a autonomia da escola e o
respeito ao projeto político-pedagógico que elabora, ao
menos teoricamente, em participação com alunos e demais
intervenientes do processo educativo? Verdadeiramente
ocorre mais centralização, controle externo e regulação
do que respeito à autonomia, participação, etc.
A autonomia escolar só acontece verdadeiramente,
como já dito anteriormente, quando tange a esfera
administrativa. Neste sentido, os diretores são
escolhidos pela comunidade e têm autonomia para utilizar
os recursos repassados pela prefeituras da forma que
melhor convir à comunidade escolar e que atenda às
necessidades do projeto político-pedagógico.
A direção escolar deve, contudo, prestar contas
do dinheiro que está sendo utilizado, não só ao município
(órgão que repassa a verba), bem como à comunidade (grupo
de pessoas à quem se dirige o dinheiro).
Ao que para alguns pode significar uma negação
também da autonomia na esfera administrativa, isto é, o
prestar contas aos cofres públicos e à comunidade local,
particularmente discordo pois, a quem se destina o
dinheiro beneficiando-se com o mesmo, deve estar à par
das decisões tomadas por aquele que elegeu de forma que
possa opinar e dar sugestões para que, em conjunto,
atinjam uma verdadeira qualidade - num sentido não
reconceituado pelos neoliberais - Escolar.
Para sintetizar as questões aqui travadas sobre
toda uma problemática que enquanto atos do processo
educativo nus vimos a enfrentar, farei minhas as palavras
de Silva:
“A GQT, assim como outras estratégias de reestruturação educacional neoliberal (escolha, sistema de bônus, etc), assinala uma inflexão importante no processo da legitimação através da expansão ilimitada dos serviços sociais e educacionais e de uma retórica de equalização das oportunidades no ponto de partida é deslocado em favor de uma legitimação centrada no exercício da escolha por um suposto consumidor soberano. Trata-se de uma mudança astuciosa. Ao mesmo tempo que mantém sua legitimidade afinal, trata-se de um sistema onde se pratica liberdade de escolha e onde há participação - as novas formas de legitimação permitem deslocar o ônus do possível fracasso de serviços sociais para aqueles indivíduos e grupos que os utilizam. O sistema não apenas permite a escolha e a participação; ele as incentiva. Se o indivíduo se dá mal é por sua exclusiva culpa, por ter escolhido mal. Trata-se de um sistema de legitimação que, ao inverter a direção da pressão (não contra o estado capitalista em si, mas contra aqueles indivíduos e grupos que o sobrecarregam), atua através da culpabilização da vítimas. Nada poderia ser mais perfeito. Não se pode deixar de reconhecer que se trata de um esquema engenhoso para resolver a crise de legitimação do Estado capitalista, causada por uma crescente disparidade entre orçamentos e gastos sociais.” (Silva, 1996, p. 186).
Conclusão
Ao dispormos de maiores detalhas acerca do
surgimento e implantação do Neoliberalismo nos países do
mundo, podemos perceber que a cura para os males advindos
de keynesianismo e Estados intervencionistas teve seus
obstáculos a enfrentar, não tendo sido coroado de êxito
logo de imediato.
Embora não podendo desqualificar e nem desmerecer
as conquistas que obtivera, não sei se seria uma visão
romântica acreditar que esse processo poderia ser
revertido ou se enxergarmos isso desta forma porque já
teríamos internalizados as novas idéias de padrão
neoliberais.
Tudo o que é novo está sujeito à críticas mesmo
quando tem seu alto valor. Bem sabemos que o
Neoliberalismo ainda não é um processo aplicado, em
efetivo, em nenhum país do mundo, embora também não seja
um processo novo, como podemos constatar na primeira
seção desta dissertação.
No decorrer de todo o trabalho mantive uma visão
prioritariamente pessimista a cerca do Neoliberalismo.
Esforcei-me em detectar suas falhas e contradições. Não é
impossível que discorridos alguns anos, venha pegar neste
trabalho e achá-lo radical e julgar-me precipitada por
antecipar algo que ainda nem bem acontecia na realidade
de nosso pais; aliás como fizera nosso próprio ex-
presidente da República Fernando Henrique Cardoso que,
após assumir o governo, solicitou que todos
desconsiderassem o que havia escrito em seus trabalhos.
Ao ter-me “embrenhado” num tipo de leitura
especulativa sobre os riscos neoliberais para a educação
humanitária, trouxe-me repúdio ao processo em questão e
por isso oponho-me fervorosamente.
Àquilo que profissionalmente identifico-me, a
escola, se a entendermos sob uma visão mais analítica,
veremos que ficará desacreditada pela população pois,
mesmo preparando para o mercado, chegará a hora em que
este, saturado, não oferecerá emprego (talvez nem
subemprego) para as pessoas exercerem sua força de
trabalho nem mesmo terão condições de Ihe servir, ao
menos, como consumidores. Ainda que o Estado não seja
mais o culpado pelo índice de pessoas desescolarizadas e
que a própria escola não sirva mais aos interesses
dominantes e não leve mais a culpa pela evasão escolar,
ainda que a responsabilidade pelo fracasso, após tantas
“exportações”, recaia sobre o discurso do mérito
individual, chegará um momento de nossa história que a
escola, e agora não tão somente os professores, será de
todo desvalorizada.
Algo que não podemos perder de vista é que se as
reformas neoliberais implantam-se também através da
educação, é porque é na escola que reside o grande
“locus” da experiência especificamente humana e que por
isso é alvo a ser silenciado. Pode-se observar,
inclusive, a padronização do currículo que fora realizado
verticalmente; formulado a nível nacional; que desprezou
os valores e habilidades que os professores construíram
durante anos e que a eles Ihes foram passados
empacotados.
A educação, num sentido não revalorizado e
reconceituado pelos neoliberais, é reconhecida por estes
como uma forma de intervenção no mundo. Por isso fazer o
seu calar, imobilizá-la para, então, ocultar as verdades.
Por isso o sucateamento das escolas públicas: elas
atingem a massa mesmo com todos os contra-tempos que,
infelizmente, sabemos que existem.
As reformas educacionais provindas do
Neoliberalismo não significam maior qualidade como assim
explanam: qualidade já há na educação, caso contrário não
disponibilizariam-se de tantos esforços e recursos para
viabilizarem suas reformas contraditórias para silenciá-
la.
Daí a crítica permanentemente à malvadez
neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua
recusa inexorável ao sonho e à utopia.
Ao que pesem as coisas boas advindas com o
Neoliberalismo, como por exemplo uma formação pluralista
(que humanisticamente falando amplia o capital cultural
do indivíduo e mercadologicamente falando rompe de vez
com o modo de produção taylorista-fordista, já que
implica na minimização da divisão do trabalho).
Não podemos ser extremistas ao ponto de tudo
negar sem reconhecer, mesmo que pouco, o que de bom
trazem as propostas Contudo, com minha vida restrita e
limitada vivência literária, nunca li nada a respeito de
nenhum processo hegemônico que tenha triunfado.
Tendo consciência de que o Neoliberalismo vem
empenhando-se em despolitizar a educação, resignificando-
lhe como mercadoria de forma a garantir o triunfo de suas
estratégias mercantilizantes quebrando com a lógica do
senso comum para redefinir outros princípios. Assim, é
imprescindível mantermos sempre em nossas mentes,
sobretudo na nossa enquanto educadores que somos, bem
como divulgá-las em nossas salas de aulas conscientizando
nossos alunos, de que em primeiro lugar vem as pessoas e
não a produção.
Bibliografia:
ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In: GENTIL,
Pablo; Sader, Emir (orgs.) PÓS-NEOLIBERALISMO: AS
POLÍTICAS SOCIAIS E O ESTADO DEMOCRÁTICO. São Paulo, SP:
Paz e terra, 1995, p. 9 – 23
ARRUDA, Marcos. A nova ordem global: crise ética e da
racionalidade. Revista Mutações Sociais, (S.L.), ed.
Cedac, n. 11, p 28-33, abril/junho, 1995
ARRUDA, Marcos. A nova ordem global: ética e
racionalidade. Revista Mutações Sociais, (S.L.) ed.
Koininia, Nov/Dez. 1995.
DE VINCENZI, L.J.B.; Educação como capital humano – Uma
análise crítica, Rio de Janeiro, Estab, Gráficos Brosói
S.A. 1993.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia , São Paulo, Paz e
Terra, 1997.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Neoliberalismo, qualidade total e
educação (S.L.), p 53-61, 1995
GENTIL, P.; SILVA, T.T.(org) Nacionalismo, qualidade
total e educação (S.L.)- Visões críticas, Rio de Janeiro,
Vozes, 1995.
GENTIL, Pablo (org) Pedagogia da exclusão: crítica ao
neoliberalismo em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
GENTIL, Pablo, SILVA, Tomaz Tadeu da(org) Escola S.A.
Quem ganha e quem perde no mercado educacional
neoliberal, Brasílo, DF: CNTE, 1996.
LBD 9394/96, sancionada pelo Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso, em 20 de Dezembro de 1996 e
publicada no DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO (DOU), EM 23 DE
DEZEMBRO DE 1996
MELLO, G. Namo de; Cidadania e competitividade: desafios
educacionais do terceiro milênio, São Paulo, Cortez,
1994.
MONDIN, B. Introdução a Filosofia, São Paulo, Paulinas,
1980.
SILVA, Luiz Heron da, Azevedo, José Clóvis de. PAIXÃO DE
APRENDER, Petrópolis: Vozes, 1995