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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVALIAÇÃO ESCOLAR “A PROVA FINAL”
Kátia Regina Pereira da Silva Gonzales Felix
Tutor ou Orientador
Prof. Ms. Marco A . Larosa
Rio de Janeiro 2002
II
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVALIAÇÃO ESCOLAR
“A PROVA FINAL”
Apresentação de monografia ao Conjunto
Universitário Cândido Mendes como
condição prévia para a Conclusão do Curso
de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Psicopedagogia.
Por Kátia Regina Pereira da Silva Gonzales
Felix.
III
AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial ao meu marido Marcelo
Augusto e aos meus filhos Marcelo Filho e Paulo
Roberto por compreenderem a minha ausência
durante o curso, também aos mestres Larosa, J.J,
Mary Sue e Carly pela grande motivação e
redescoberta.
IV
DEDICATÓRIA
Dedico esta produção ao meu marido, por
acreditar na minha capacidade e apoiar todos os
meus projetos de vida.
V
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo estimular uma reflexão acerca da
avaliação realizada não tão somente no cotidiano do ser, mas no universo escolar.
Ser avaliado é uma prática realizada constantemente e das mais diversas
maneiras, rotulando, discriminando, excluindo e incluindo alunos. Classificando-os
como meras mercadorias em prateleiras.
A essa prática indiscriminada e descontrolada os alunos permeam e são
alvos fáceis de seus professores, cansados com a árdua tarefa e às vezes
vencidos pela maioria numa rotina da luta pela sobrevivência.
Mesmo assim todo esse processo de avaliação deveria ser visto como um
diagnóstico do aluno, um melhor conhecer para se saber como estimular, como
despertar o interesse pelos conteúdos e como relacioná-los a sua vida e ao seu
contexto social. Não como uma arma controladora de seres em formação.
A prova como única maneira de se conhecer a clientela jamais será uma
fonte confiável, visto que é preciso conhecer o aluno, o seu potencial, as suas
habilidades, a sua vivência e o que ela pode contribuir para o que se vai ensinar e
aprender, o que se vai trocar.
Além disso existem outros meios de saber se o que foi ensinado,
realmente foi ensinado e aprendido, entre eles a verbalização e a produção
escrita, onde o aluno poderá mostrar de uma maneira bem própria aquilo que ele
decodificou e incorporou a sua vida e a sua prática diária, transformando-se em
um cidadão mais consciente.
VI
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a produção deste trabalho foi a
pesquisa bibliográfica e questionário realizados com os alunos da primeira série e
alunos de quinta e sexta séries do Ensino Fundamental, do Instituto Cultural
Cidaco de Almeida, São Gonçalo, RJ, e também alunos do Colégio Municipal
Presidende Castello Branco na mesma cidade.
VII
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO 1 10
A escola como reflexo do contexto social
CAPÍTULO II 15
Avaliação – excluindo na escola e na sociedade
CAPÍTULO III 27
Alternativas para o processo de avaliação
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
BIBLIOGRAFIA CITADA 39
ANEXOS 40
ÍNDICE 41
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
VIII
INTRODUÇÃO
O ato de avaliar está presente em todos os momentos da vida humana. Há
todo momento as pessoas são obrigadas a tomar decisões que, na maioria das
vezes, são definidas a partir de julgamentos provisórios. O ato de avaliar na vida
cotidiana se dá, permanentemente, pela unidade imediata de pensamento e ação.
Nesta unidade a pessoa precisa estar sempre pronta para identificar o que é para
si o “verdadeiro”, o “correto”, opções que vão lhe indicar o melhor caminho a
seguir, o que fazer.
Ao assumir que o ato de avaliar se faz presente em todos os momentos da
vida humana admite-se que ele também está presente em todos os momentos
vividos em sala de aula. O seu dia-a-dia não se separa do cotidiano de cada
indivíduo. O ato de avaliar está sempre presente nos momentos desfrutados em
sala de aula.
Raramente encontra-se um professor que não se preocupe com a
avaliação. Isso porque avaliar, no que se refere a ensino aprendizagem é uma
tarefa cuja importância é comparável à complexidade e dificuldade que lhe são
inerentes. Contudo o uso errôneo da avaliação gera desigualdades em sala de
aula e por sua vez a exclusão escolar que não está apenas dentro da escola, mas
também fora dela. Esta exclusão é consequência do sistema capitalista no qual
estamos inseridos.
Ao refletir sobre isso, há de se observar que a escola forma com o objetivo
de adequar o indivíduo ao sistema. Para os excluídos, o sistema garante um
ensino técnico de subsistência, e às vezes nem este, negando-lhes o acesso ao
ensino científico e de humanidades.
IX
Não se pode afirmar existir crianças menos capazes ou incapazes de
produzir conteúdos. Cada criança tem um ritmo diferenciado de aprendizagem que
deve ser respeitado.
Espera-se que o processo avaliativo seja entendido no seu real significado,
contribuindo para o aprimoramento desse processo, a fim de que a avaliação seja
aplicada de forma mais justa.
Sendo assim, as escolas avaliam sem nenhum embasamento nas
experiências adquiridas pelos alunos, sem conhecer o seu universo, não lhe dão
subsídios para mostrar aquilo que sabem e que pode ser transformado em
conhecimento.
Seus planejamentos são “confeccionados” antes mesmo de se conhecer a
clientela, não se sabe o potencial de cada um, as habilidades que possuem, e
mesmo assim, já estipularam os critérios de avaliação. Que na maioria das vezes
resume-se a um trabalho e uma prova escrita.
A prova que na realidade só serve como elemento repressor nas mãos
daqueles que um dia foram reprimidos, e que por sua vez a utilizam como um
mecanismo de disciplina em sala de aula. Uma maneira de controlar os alunos.
Poderá a prova provar aquilo que o aluno aprendeu ou “apreendeu” ?
Terá ela o direito de selecionar os alunos de uma classe?
Que poder supremo é esse?
X
CAPÍTULO I
A ESCOLA COMO REFLEXO
DO
CONTEXTO SOCIAL
XI
A ESCOLA SOCIAL
Ao analisar a educação no contexto da sociedade capitalista de hoje, não
há dúvidas de que a sua função tem sido predominantemente a de reproduzir e
consagrar desigualdades. Como diz Durkheim, citado por (Brandão, 1997: 76):
“(...) É ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos
como queremos (...) Há, pois, a cada momento, um tipo
regulador de educação do qual não nos podemos separar
sem vivas resistências, e que restringem a velocidade dos
dissidentes”.
É ilusório acreditar que a educação funciona visando a igualdade de todos,
como assim foi desejado por alguns socialistas utópicos. Eles acreditavam que os
interesses individuais deveriam coincidir com os interesses coletivos. Propunham
que a classe trabalhadora deveria produzir sua existência coletivamente e se
apropriar dessa riqueza. Entretanto, é sabido que não foi por esse lado que se
encaminhou a história.
A Revolução Industrial trouxe outras formas de se educar o homem voltado
especificamente para o mundo do trabalho. Antes da Revolução Industrial, o
trabalho era restrito aos limites do corpo humano. Porém, como o trabalho vai se
separando do corpo do homem e se objetivando em máquinas automáticas,
criando uma nova forma de trabalho.
XII
A escola como uma relação humana construída pelos homens, só aparece
porque os próprios homens criaram essa necessidade histórica. Sendo assim, a
escola não é algo que emerge de algumas idéias geniais, mas sim fruto de muitas
transformações no modo de produzir a própria vida humana.
XIII
A partir desse momento tornou-se mais evidente os interesses do processo
educativo. Desta forma, Brandão, (1981: 84) vai dizer que:
“(...) “Das empresas capitalistas”. “Investimento”, “mão de
obra”, “preparação para o trabalho”, “capacidades técnicas
adequadas” (...) são os nomes que denunciam o momento
em que os interesses políticos de emprego de uma força de
trabalho “adequadamente qualificada” misturam a educação
antiga da oficina com a da escola, reduzem o seu
compromisso aristocrata com a pura formação da
personalidade e inscrevem o ato de educar entre as práticas
político-econômicas das “arrancadas” para o
desenvolvimento”.
Arrancadas que, as sociedades capitalistas são de modo
geral estratégias de reorganização da vida social, de acordo
com projetos e interesses de reprodução do capital. De
multiplicação dos ganhos”.
No século XVIII a exclusão tornou-se fato marcante. A escola tornou-se
desigual porque construiu duas trajetórias diferentes numa mesma escola. Uma
escola era destinada para os dominantes e outra para os dominados. E essa foi a
representação de uma classe que defendeu uma nova idéia de sociedade, a
sociedade da liberdade onde a educação não poderia ser vista mais como um fato
isolado e eclesial como propunha o estrato dominante durante a Idade Média.
XIV
Outro momento da história onde se fala na “escola para todos” sob a luta
pela democratização do ensino, resultou no reconhecimento político do direito à
educação para todas as pessoas, através das escolas gratuitas e leigas. E esta foi
uma guerra travada entre liberais e conservadores. Porém, apesar de algumas
idéias de alguns liberais bem intencionados, com relação à educação, ainda assim
permeavam os interesses de novos donos do poder e dos meios de produção.
Impulsionados pela idéia de escola para todos, os filhos dos pobres e dos
agricultores ingressavam nas escolas públicas. A partir desse momento, alguns
educadores perceberam que o ensino público era inadequado. Brandão, (1981:
90) ressalta que:
“Este progressivo ingresso da criança pobre nas salas das
escolas, associados a uma redefinição do ensino escolar em
direção do trabalho produtivo, não fez mais do que trazer
para dentro dos muros do colégio a divisão anterior entre
aprender-na-oficina para o trabalho subalterno e o aprender-
na-escola para o trabalho dominante”.
Não é possível pensar sobre a educação atual se iludindo com as
condições reais da forma como ela se apresenta. Afirmando tal fato, Brandão,
(1981: 92), coloca que:
“Vivemos aqui, hoje, dentro de uma ordem social regida por
um sistema amplo e muito complexo de relações de
produção entre tipos de meios produtores, que se costuma
chamar de modo de produção capitalista. Conscientes deste
contexto, podemos fazer uma análise de como podemos
redimensionar a educação”.
XV
Não se pode continuar compartilhando com esse mecanismo autoritário e
desigual. Diante disso, considera-se que o educador deve ter outra postura diante
de seus alunos. Procurando criar condições para o aluno participar, expor suas
opiniões, criando meios para que o aluno participe ativamente do mundo que o
rodeia, percebendo quem ele é e o que pode vir a ser.
O professor representa para o aluno a principal chave para a libertação
dessa alienação. O docente não pode simplesmente ignorar tal fato. A sua função
é de desafiar o discente para que ele possa participar conscientemente do
cotidiano da nação.
É preciso renovar, dar ênfase a novas idéias, mudar a postura da
pedagogia tradicional, infelizmente enraizada. É essencial não confundir os
sentimentos dos jovens, e sim ajudá-los na preparação para suas vidas.
A educação deve ser vista como uma força de transformação social. Sendo
assim, ela deverá favorecer o aparecimento de um novo tipo de pessoa solidária e
preocupada em superar o individualismo criado pela exploração capitalista, a fim
de criar uma nova sociedade, uma sociedade mais justa e igualitária.
XVI
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO – EXCLUINDO NA ESCOLA E NA
SOCIEDADE
XVII
AVALIAÇÃO
Na escola não há um padrão de bom aluno. Aquele que não se encaixa
neste padrão é excluído. Essa exclusão não nasceu dentro da escola por acaso. A
escola é um reflexo da sociedade, até porque o corpo escolar é parte desta
sociedade.
A globalização está acontecendo, existe uma grande expansão de idéias,
culturas, modos de pensar e de fazer. Assim como o capitalismo, o processo de
globalização também é excludente como afirma assim, “sob vários aspectos, a
globalização confere novos significados ao indivíduo e sociedade, modos de vida
e formas de cultura, etnia e minoria, reforma e revolução, tirania e democracia”
(lanni, 1992: 09).
As revoluções não tiveram a mesma força de sobrevivência do capitalismo.
Segundo lanni, o capitalismo se desenvolveu pelo mundo, se enraizou muito
rapidamente, aparecendo como um “processo civilizatório”. E assim o mundo
inteiro está se tornando capitalista, e este sistema poderá se desenvolver ainda
mais em algumas nações e continentes.
Essa expansão do capitalismo, da sociedade globalizada emergente, vem
coberta de divergências, contradições, antagonismos, perspectivas e
principalmente exclusões. O capital está criando um novo mundo. Dissolve modos
de pensar, agir, viver, trabalhar e os constrói sob seu olhar e tutela. “Antigamente
invadíamos os mercados estrangeiros com mercadorias. Hoje invadimos culturas
inteiras” (Idem : 21).
XVIII
Nossas vidas e nações foram abertas a todos, acabando com as diferentes
barreiras existentes entre povos, culturas, línguas, mercados e outros. O
individualismo nesta sociedade globalizada é uma realidade. A palavra sociedade
perde o seu sentido quando posta no mundo atual. Um mundo em que é
anunciada a quebra de fronteiras, e que atrás dessa grande “festa” dos povos vem
a exclusão.
As pessoas pensam apenas em si mesmas, pois não há outra saída. As
expressões “o mais forte devora o mais fraco”, “é a lei da selva”, nunca foram tão
verdadeiras e atuais como o momento presente. Nesta nova era pode-se constatar
que a escola retrata todos esses abusos da sociedade excluindo, globalizando,
separando e discriminando. Há uma sucessão de erros e acertos dentro da
escola, havendo também na própria sociedade. Na realidade melhor seria dizer
que “a escola está para a sociedade assim como a sociedade está para a escola”.
A escola exclui quando deixa que os alunos mais desinibidos se
sobressaiam classificando-os como fortes e inteligentes e anulando os alunos que
não se encaixam neste padrão, rotulando-os de fracos, preguiçosos ou até mesmo
de burros.
A avaliação entra neste drama, como um golpe mortal. Aterrorizando e
acabando com qualquer chance de fuga ou vitória. Não se pode culpar apenas os
professores, atribuindo-lhes o papel de vilão, pois eles também são vítimas desse
drama. Essa situação se dá, muitas vezes, por não se ter um orientador, alguém
para conscientizar e alertar da necessidade de se desafiarem no seu dia-a-dia.
Os professores estão despreparados e cansados. Nesta selva onde a lei do
mais forte e da sobrevivência impera, a única solução é salvar seus empregos.
XIX
2.1 - AVALIAÇÃO IGUAL A DIAGNÓSTICO
Avaliar significa conhecer o seu aluno. A avaliação é a parte contínua do
processo de aprendizagem com o objetivo de verificar, caso haja alguma, quais
são as dificuldades encontradas pelo aluno visando ajudá-lo a superá-las.
Deve ser concomitante com a construção do conhecimento. Sendo
realizada através de tarefas ao longo do período do aprendizado, ao invés de por
um único teste ao final, fornece uma visão mais realística do aproveitamento do
aluno em função do que lhe foi apresentado. Deve-se sempre ser feita
considerando-se o crescimento do aluno, ou seja, o quanto ele evoluiu a partir do
seu conhecimento inicial. Tem de levar em conta as inteligências multiplas, o
universo cultural e os objetivos do aluno. Deve avaliar as formas de organização
dos conhecimentos do aluno e não apenas a quantidade de informação que o
aluno possui. Este caso encaixa-se perfeitamente na avaliação de redações que
são uma das formas de avaliação oferecidas ao aluno. Deve ser útil a todos os
envolvidos, pois se assim não o for, é melhor que não seja feita. Deve ser
executada em condições favoráveis ao aluno, observando-se sempre as questões
técnicas, administrativas, acadêmicas e sociais. Deve ser conduzida com
instrumentos adequados, sintonizados com a informação que se quer obter, e com
a respectiva fonte, assegurando-se, assim, uma perfeita, clara e objetiva
comunicação entre os envolvidos.
Deve ser justa e deve ser colocada no juízo de valor, respeitando o aluno,
com seus valores políticos, sociais, culturais e éticos. Deve relacionar o conteúdo
novo com o conhecimento anterior e interesses do aluno. O que o aluno já
XX
conhece influi na sua aprendizagem e, portanto, pré-testes e testes devem ser
feitos, para que o aluno possa ser respeitado e atendido nas suas diferenças
individuais. Deve levar sempre em conta que cada aluno difere em suas aptidões
e, portanto, a avaliação deve buscar atender a cada aluno, mesmo que o material
ensinado seja sobre um mesmo assunto.
2.2 - A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR
Na escola, a avaliação é representada por uma nota onde o processo se
torna excludente, pois julga a capacidade do indivíduo através de uma
representação numérica, fixando-se apenas em dados apresentados e não no
contexto geral onde o aluno está inserido. O julgamento através dos dados
específicos, muitas vezes, se torna cruel. Não se pode pensar em avaliar
submetendo-se apenas a uma simples representação quantitativa.
O processo avaliativo está permeado por um contexto muito mais amplo e
significativo. Um contexto que possibilita colocar em prática o que o aluno pode
oferecer em quanto sujeito que vive e que pensa sobre a vida. Todavia, ao invés
da escola apresentar-se como uma chave da liberdade dos processos
manipuladores, ela acata o que já existe como algo pronto, organizado que está
estabelecido e que deve ser espelhado. Dalben, (1997: 133) afirma:
“[ ...] Aprovamos aqueles que na verdade, reproduzem a
escola do jeito que ela já é, que persiste há tantos séculos. A
escola, através da avaliação, mantém-se a si própria,
realimenta seus valores, suas práticas e se fecha ao novo e a
mudanças”.
Porém, não se deve acreditar que a escola é somente um espaço onde os
conteúdos reprodutores de relações dominantes se manifestam. Ela também é um
espaço da apropriação da cultura e da construção de novos conhecimentos.
XXI
Sendo assim, é possível reafirmar o que já foi colocado, Dalben, (1997: 134) diz
que, “precisamos conhecer. Conhecer quem está do outro lado, o que ele traz, o
que ele sabe. Precisamos re-significar o saber escolar”.
Os educandos devem ter cada vez mais consciência do poder que a escola
tem para tentar fazer emergir da população o reconhecimento de que os excluídos
também são produtores do saber, e que podem contribuir muito para a construção
de uma sociedade igualitária.
“Nesse sentido, avaliar não se refere mais a um processo de
julgamento, mas refere-se a um processo de conhecimento,
investigação. Avaliamos para produzir o saber. O saber
sobre o nosso aluno, sobre o processo de aprendizagem,
sobre o processo de ensino. Avaliamos para estabelecer a
relação entre o conhecimento que detemos e o
conhecimento que o outro detém, sobre as possibilidades de
se conhecer mais e criar novas formas para isso” (Idem:
134)
A avaliação deveria ser uma prioridade e o ato de avaliar uma
consequência normal de sua aplicabilidade, onde o avaliar deveria seguir paralelo
ao conhecimento detido, ou melhor, retido pelo aluno. Podendo assim, aproveitar
suas experiências e transformá-las em produções próprias do seu saber, o saber
que cada um carrega consigo.
2.3 - AVALIAÇÃO X AUTORITARISMO
A Educação é mais um dos fatores que tem o poder de mudar a sociedade
e de libertar o homem da dominação que lhe é imposta. Então, por que não
mudar?
XXII
As escolas muitas vezes estão lotadas, os professores desestimulados,
cansados e descontentes com seu salário. Então seria essa a verdadeira razão de
tudo? Na verdade, essa realidade é apenas parte de todo um processo excludente
no qual estamos inseridos.
O autoritarismo em sala de aula manifesta-se também devido ao
descontentamento do professor com a sua prática. Faltam recursos, falta estímulo,
falta reconhecimento profissional, muitas vezes falta preparo para o trabalho.
Torna-se difícil lidar com tantas crianças, cada qual com o seu problema, umas
ansiosas por aprender, outras revoltadas por serem excluídas, outras indiferentes,
outras ainda violentas e outras carentes, como se vivessem num mundo de
fantasias, esquivando-se da realidade. Diante de tudo isso, como num processo
de defesa, o professor muitas vezes adota uma atitude autoritária, como forma de
controle, tornando-se mais fácil lidar com tantas diferenças.
Pensar em interação, analisar teorias pedagógicas que facilitem seu
trabalho, torna-se impossível para o professor. O tempo é o seu maior inimigo.
Para defender o seu sustento é preciso no mínimo que ele trabalhe em mais de
uma, quando não três instituições, o que certamente seria um fator agravante para
o descontentamento.
Por outro lado, há de se pensar que também existem professores pouco
preocupados com a realidade lá fora, empregam seus métodos e vão acelerados
do início ao final do ano, passando por cima de tudo, observando e aproveitando
muito pouco daquilo que foi produzido em sala.
Dessa forma, alguns destes profissionais usam de certa autoridade diante
daqueles que ali estão, por ordem da família ou por desejo de mudar a vida. Usam
a autoridade persuadindo suas criações e inibindo suas produções toda vez que
estas saem fora do seu “script”.
XXIII
Essa é a cruel realidade das instituições de ensino, reflexo de um processo
excludente que degrada a vida profissional dos docentes. Justo eles que deveriam
ser os mais respeitados diante da responsabilidade de sua profissão. Pois, assim
como o médico, que é responsável por salvar vidas, o professor é responsável por
salvar futuros. Todavia, a prática escolar mantém-se dessa forma para garantir o
mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. Ela integra e prepara
seus alunos para manterem a classe dominante em desejáveis níveis de controle
e manipulação. O autoritarismo é o elemento necessário para garantir este
modelo social dominante que também se apresenta para nós através da
avaliação.
2.4 - A PROVA COMO ÚNICA FORMA DE AVALIAÇÃO
Quando se trata de provas, para testar/classificar os alunos, suas respostas
são unânimes: “não queremos, não gostamos”. As entrevistas demonstraram o
descontentamento dos alunos em relação à prova e seu desejo para que fossem
outras as formas de avaliar. Geralmente o aluno estuda antes da prova e depois
não se lembra da maioria dos conteúdos que aprendeu.
O aluno que quer aprender estuda, faz a prova, mas é como se a escola
não o deixasse aprender, pois “obriga” a reproduzir o conteúdo e não contribui
para sua contextualização e nem tampouco o ajuda a relacioná-lo fazendo assim
com que haja a verdadeira apreensão.
Ao aluno, o que realmente acaba interessando é a nota, com isto ele acaba
estudando para “ser promovido”. Procura já de início saber quais os mecanismos
da nota para tentar obtê-la mais facilmente e se enquadra nos padrões de sucesso
de ser um “bom aluno”.
XXIV
Segundo Luckesi, (1994: 23), “as notas são operadas como se nada
tivessem a ver com a aprendizagem”.
Como reduzir conhecimentos transmitidos de meses em uma simples folha
de papel? A prova em si não mostra o quanto o aluno aprendeu. Não mostra se o
aluno tem condições de fazer relações do que ele aprendeu com outras matérias
ou até com a própria vida.
A prova não possibilita ao professor um conhecimento mais individual do
seu aluno. Não permite ao professor “respeitá-lo” de maneira “correta”. Respeitá-lo
no sentido de lembrar que embora esteja lidando com uma turma, essa turma não
é homogênea. A heterogeinidade dos alunos não pode ser negada.
Cada um tem um modo de aprender. Uns mais lentos, outros mais rápidos.
Esse é o ponto chave da questão. Entender de que maneira o aluno construiu o
conhecimento. Analisar como foi esse caminho percorrido por ele, quais as suas
dificuldades, suas vitórias. Compreender o processo.
Esse processo pedagógico deve ser dinâmico, sutil, em permanente
construção. A cultura é seu objetivo fundamental que se traduz em conhecimento
escolar. E a avaliação é a interação entre sujeito/objeto compreendido aos
processos de cognição. Portanto, “a avaliação pode ser entendida como uma ação
pedagógica importando o meio e não o fim”. (Catapan, 1997).
Para esta autora essa pedagogia baseada em números é a pedagogia da
repetência porque não faz o aluno produzir conhecimento. Sem a produção de
conhecimento acontece a reprodução de conhecimento, o aluno é induzido a
decorar para passar de ano.
XXV
A avaliação, já que necessária deve ser feita constantemente, torna-se uma
rotina dentro da sala de aula. Isso não quer dizer provas todos os dias, mas sim
diferentes formas de avaliação. “A avaliação não pode ser vista como um fim em si
mesma, mas sim como mais um recurso que possibilite o aprendizado”. (Haydt,
1998).
Nas entrevistas, as crianças da primeira série afirmaram que gostam de
fazer provas e que não gostariam de ter outro método de avaliação. As crianças
da primeira série gostam de fazer provas porque ainda estão começando a ser
colocadas na fôrma do bolo. Ainda não sentiram o calor massificador e taxativo do
forno onde estão sendo inseridas gradualmente.
Para elas, tudo ainda é festa, é novidade, é paixão. Aprender a ler e a
escrever é uma mágica possibilitada pela fada madrinha, a professora, sem saber
que estão sendo conduzidas pelo velho conhecido caminho de dar mais
importância à nota e não ao conhecimento produzido. Segundo Fleuri, (1994) a
nota, através da prova poderá ser um método coercitivo e chantagista por parte de
quem avalia, e pode revelar a sua postura naquele momento em que estará
avaliando, como a disponibilidade, o humor, o cansaço. Isso tudo é muito diferente
do que o aluno realmente expressou na hora da sua avaliação.
“Os objetivos a serem avaliados (conhecimentos, atitudes,
habilidades) geralmente têm amplitude e complexidade
difíceis de serem captadas através dos meios de avaliação
convencionais”.(Idem: 1994).
A prova como única forma de avaliação, torna-se um instrumento perigoso,
que poda ao extremo a capacidade de apreensão do conhecimento do aluno.
Atrofia seu senso de direção. O aluno ao invés de estudar para o seu
desenvolvimento intelectual, estuda para ser promovido. Isso tudo na base de
ameaças, de exclusões e de alienação.
XXVI
Segundo Edmar Henrique Rabelo (2001: 80-81):
“Precisamos transformar o discurso avaliativo em
mensagem que faça sentido, tanto para quem a emite
quanto para aquele que a recebe. O maior interesse de um
processo de avaliação deveria recair no fato de se tornar
verdadeiramente informador. A avaliação deve tornar-se o
momento e o meio de uma comunicação social clara e
efetiva. “Deve sempre fornecer ao aluno informações que
ele possa compreender e que lhe sejam úteis. Se a nota
fornece uma informação compreensível e útil, por que privá-
lo dessa mesma informação?” (Hadji, 1990:107).
Precisamos encarar que o problema real que enfrentamos
não é o da existência ou não de uma nota: a questão é uma
mudança de paradigmas a respeito dela. É, antes de tudo,
uma questão de mudança de filosofia pedagógica. A simples
mudança de métodos e/ou de técnicas é mudança de
aparências, mas não de essências.
O objetivo primeiro é uma boa aprendizagem. E como é
impossível acabar com o aspecto comparativo de um
processo de avaliação, o problema central não é a nota, mas
sim nossa postura avaliativa. Para que alguém decida para
onde caminhar, é preciso primeiro saber onde se encontra.
Não se pode confundir avaliação com nota e muito menos
permitir que se continue usando o termo nota como
sinônimo de avaliação. Nota é apenas uma forma dentre
muitas de se expressar os resultados de uma avaliação. Não
ter nota pode ser tão arbitrário e autoritário quanto tê-la (...).
XXVII
(...) A questão é que, quando se discute a necessidade de
mudanças no entendimento e na forma como as avaliações
vêm sendo feitas, especialmente a respeito de notas, isto
acaba significando para muitos uma intenção de eliminá-las
da escola, já que confundem avaliar com atribuir notas”.
É preciso refletir sobre o que o autor fala, pois nomear notas em
avaliações é um critério de fácil aplicação, porém não basta dar números e sim
avaliar o que foi produzido, compreendido pelo aluno, aquilo que ele captou e que
poderá ser aplicado à sua vida cotidiana.
É importante ressaltar que a nota é apenas um símbolo em um pedaço de
papel e com ela aquela produção deve ou pelo menos deveria fazer parte de um
contexto. O que deve ser levado em conta é como o aluno entrou naquela série e
como ele está saindo, o que foi transformado nele como indivíduo, como, ser
pensante.
O resultado de uma avaliação não deve ser aquilo que o professor
estabeleceu como sua verdade única, como num roteiro, e sim, a verdade daquele
aluno, já que o que ele aprende na escola só terá um real valor se ele puder
aplicar na sua prática de vida e também se houver algum significado.
O aprendizado só será incorporado ao conhecimento do aluno se neste
houver significado, importância e aplicabilidade, caso isso não aconteça, ele ficará
restrito à um conhecimento relâmpago, aquele apreendido na hora da prova,
depois esquecido.
XXVIII
CAPÍTULO III
ALTERNATIVAS PARA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
XXIX
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Não será trabalhado porcentagem como resultado das entrevistas, porque
seria como se tivesse sido encerrado, taxado, enquadrado conceitos e opiniões a
respeito da avaliação. Já que o objetivo é a transformação do fenômeno gerando
reflexões e não sua simples constatação.
Foram entrevistados alunos de escola pública e particular, alunos do ensino
fundamental com idades entre 7 a 15 anos . (Anexo I). A maioria dos alunos
estudam na véspera da prova. Eles responderam que estudam para aprender,
mas percebe-se que nesta afirmação há um equívoco, pois se estudassem para
aprender estudariam todos os dias e consequentemente se lembrariam de tudo
que estudaram e não apenas de algumas coisas. Isso significa que não estudam
pelo prazer de construir e se apropriar do conhecimento, e sim para tirar nota boa
na prova, para ganhar uma recompensa.
Na questão que diz respeito à lembrança dos conteúdos estudados, a
resposta predominante foi “de alguns”. Mas fazendo uma reflexão dessa questão
em particular, nota-se que há um sentimento de vergonha no aluno em admitir que
não se lembra de nada do que estudou (apenas dois alunos admitiram que não se
lembram).
A maioria vence quando afirma que não gostam de fazer prova. Não acham
a prova a melhor forma de avaliar o aluno e gostariam de ser avaliados de
qualquer outra forma menos pela tão famosa e temida por todos: A PROVA!
XXX
Trazendo a tona outros métodos de avaliar os alunos, certamente não se
ouvirá mais frases do tipo: A avaliação serve para: “ver o que o aluno sabe e para
ver quem vai rodar”, “para o aluno se dar mal”, “o professor saber se o aluno
aprendeu, e é um modo mais fácil de saber se o aluno passou de ano”, “dar
notas”.
Serão ouvidos sorrisos de contentamento pelos cantos das escolas onde
professores e alunos transformando-se em sujeitos de sua história, pensando
conscientemente e criticamente sobre o mundo. A prova tida até então como um
dos únicos instrumentos de registro do desempenho do aluno tornou-se limitada.
Então é preciso algo mais abrangente, instrumentos que venham a refletir a idéia
de avaliação contínua, visando observar o desempenho do aluno promovendo
maior conscientização nos estilos individuais de aprendizagem. Esta seria uma
maneira bastante produtiva de ajudar tanto o professor como o aluno. Um
compromisso selado pelo acordo de um com o outro em busca do conhecimento e
do desenvolvimento pessoal.
Mas infelizmente, esse contentamento parece estar um pouco longe, pois
nesta época do ano ( o encerramento do ano letivo) o que mais se houve são
alunos somando seus pontos para ver se já passaram, outros fazendo contas de
que média deverão ter no último bimestre, professores cansados e doidos para
antecipar as férias sem alunos em recuperação, preparando provas que são
verdadeiros presentes de Natal.
A ansiedade de entrar logo de férias deixa de lado o valor do que se
aprendeu, fica apenas a vontade e a necessidade de passar de série, não importa
sobre quais circunstâncias. É o desespero de ter que aprender, ou melhor, de
decorar um mundo de conteúdos para passar e depois esquecê-lo com uma
facilidade comum.
Segundo explica Luckesi (1990):
XXXI
(...) a atual prática da avaliação escolar não viabiliza um
processo de democratização do ensino. Ao contrário,
possibilita cada vez menos democrático no que se refere
tanto à expansão do ensino quanto à sua qualidade. (...) Em
primeiro lugar, a que partir para perspectiva de uma
avaliação diagnóstica. Com isso, queremos dizer que a
primeira coisa a ser feita, para que a avaliação sirva à
democratização do ensino, é modificar a sua utilização de
classificatória para diagnóstica. (...) Exige que ela seja um
instrumento auxiliar da aprendizagem e não um instrumento
de aprovação ou reprovação dos alunos. Desse príncipio
decorre a articulação de todos os outros elementos da
avaliação, tais como: proposição da avaliação e suas
funções, elaboração e utilização de instrumentos, leitura dos
resultados obtidos, utilização destes dados e assim por
diante. (...) Para que a avaliação funcione para os alunos
como um meio de auto compreensão, importa que ela
tenha, também, o caráter de uma avaliação participativa. (...)
O objetivo da participação é professor e aluno chegarem
juntos a um entendimento da situação de aprendizagem
que, por sua vez, está articulado com o processo de ensino.
Então, não será uma discussão abstrata, mas sim uma
discussão a partir dos resultados efetivos da aprendizagem
manifestados nos instrumentos elaborados e utilizados.
É preciso que todos compreendam a necessidade de diagnosticar como o
que se está ensinando chega aos alunos e entender que para isso o que importa é
como esse aluno é visto. Como disse Luckesi, a avaliação não deve ser
classificatória, não deve ser um instrumento de aprovação ou reprovação, é
preciso que ela seja participativa.
XXXII
O aluno precisa participar de todo esse processo para que compreenda o
que vai aprender e como poderá utilizar esses conhecimentos.
O aluno deve ter clareza desse compromisso, se desprendendo assim cada
vez mais do ato de ser promovido através da nota. Uma boa proposta para avaliar
seria aquele que seguisse alguns objetivos básicos, como:
3.1 - A PRIMEIRA AVALIAÇÃO
Conhecer os seus alunos através de práticas que os façam falar mais sobre
eles. Isso facilitaria a compreensão do professor sobre alguns problemas de
aprendizagem apresentados em sala. Dessa forma, o professor conseguiria
trabalhar com esse(s) aluno(s) de forma diferenciada sem que houvesse a
necessidade de excluí-lo(s) do processo de aprendizagem.
3.2 - AVALIAÇÃO ESCRITA
Proporcionar atividades em sala que envolvam a escrita, buscando
incentivar a criatividade do aluno, e não só isso, buscando também conscientizá-lo
da importância da escrita na prática escolar.
Para que se possa avaliar a aquisição e o aproveitamento de novos
conhecimentos é necessário que se incentive o aluno a escrever, a produzir
textos, a criar uma linha de raciocínio, de síntese. É importante que através do que
ele leu e aprendeu ele consiga produzir e não reproduzir um fato, uma estória.
Através dessa prática pode-se observar vários outros aspectos da
aprendizagem , do conhecimento que ele traz e daquele que ele está adquirindo.
XXXIII
3.3 - AVALIAÇÃO ORAL
Proporcionar atividades em sala que envolvam situações de verbalização.
O objetivo é garantir ao aluno um espaço para que ele possa explicitar as suas
preocupações, curiosidades e dificuldades, buscando estabelecer o exercício da
espontaneidade, da reflexão e do pensamento crítico. Sendo assim, aqueles que
não conseguissem um bom desempenho nas atividades escritas, poderiam se
desenvolver melhor nessa atividade.
Essa proposta deveria ser tão importante quanto qualquer prova que é
aplicada em sala, pois na verbalização o aluno expõe seus sentimentos. É
possível avaliar a sua fala, quanto às normas da língua, a sua capacidade de
síntese, de raciocínio, sem falar da grande possibilidade de um debate a partir do
questionamento ou da conclusão de um aluno no decorrer da aula.
3.4 - AVALIAÇÃO POR QUESTIONAMENTO
O professor deve estabelecer um questionamento constante com o aluno
com relação aos conteúdos apresentados, levantar dúvidas, despertar
curiosidades. Essa atividade teria como finalidade avaliar as relações
estabelecidas pelo aluno acerca do conteúdo. Um exercício de reflexão.
O conteúdo deve ser despertado dentro dele e não empurrado, é
necessário a relação dos conteúdos entre si e dos mesmos com a vida, com o
mundo. A globalização pede essa relação, mas ela só será possível se for
conseguido unir, o que se deseja ensinar com o que já se sabe para compreender
o que acontece no mundo.
O questionamento deve acontecer durante todo o tempo, o aluno deve ser
um indivíduo com a sua curiosidade aguçada para tudo que o cerca, deve
XXXIV
questionar levantar hipóteses, buscar soluções, enfim ser estimulado a ser um
pesquisador.
3.5 - A PROVA COMO AVALIAÇÃO
Eliminar a prática da prova diante da sociedade competitiva em que se vive
hoje não seria a melhor saída. Nesse caso, a prova aparece como mais um meio
de avaliação e não apenas como o único.
A avaliação é necessária e fundamental para a melhoria da Educação.
Entretanto, as escolas não devem continuar agindo como meras máquinas de
etiquetar (com notas de zero a dez).
O professor precisa estar atento ao seu aluno oferecendo retorno em
função de qualquer produção apresentada pelo mesmo, independentemente da
qualidade dessa produção. Avaliar seu comportamento, saber como ele interage
com o grupo, verificar como esse aluno vê o mundo e estabelecer intervenções
quando necessário.
Acompanhar o aluno não é somente avaliar o que ele já alcançou como
conhecimento, mas também o que ele pode vir a alcançar. É preciso ter
consciência de que o sistema de avaliação aplicado em algumas instituições
públicas é falho e que existem outros caminhos que podem modificar essa
situação. Talvez essas considerações ainda não sejam a melhor forma em relação
à prática da avaliação, mas certamente servirão como reflexão para futuros
trabalhos.
O aluno merece ser avaliado de uma forma global, suas habilidades
devem ser levadas em consideração e tudo o que ele produzir precisa de uma
maior atenção. A sua idade, o seu estágio, o seu meio social e o estímulo dado
XXXV
pelo professor precisa ser repensado para que a prática pedagógica não cometa
erros e se perca no seu propósito maior que é formar indivíduos pensantes,
homens de bem, futuros governantes.
A prova só vai provar aquilo que o professor deseja que seja a sua
verdade. Uma prova tanto pode aprovar toda uma classe e nomear o professor
como o melhor, como também pode reprovar a classe inteira e tê-lo como
carrasco. Tudo vai depender de como ela foi elaborada, quais conteúdos e com
qual clareza o enunciado das questões foi realizado.
Assim, a prova como avaliação principal de um bimestre ou de uma
recuperação, é a forma mais dominante e cruel utilizada no processo de avaliação,
anulando todo o potencial de uma clientela que passa despercebida nas salas de
aula. Onde alguns são rotulados a mercê desta “vilã” como inteligentes,
preguiçosos, bagunceiros, dispersos, apáticos, excelentes, entre outros.
A verdadeira aprendizagem consiste na soma de transformações
operadas no aluno, com relação a forma de pensamento, linguagem técnica,
maneira de agir, atitudes, ideais e preferências, face às situações e problemas da
matéria ensinada.
O trabalho do professor será rendoso na medida em que tiver conseguido
que seus alunos alcancem aquisições definitivas quanto à maneira de
compreender e interpretar as situações específicas focalizadas por sua matéria e
resolver inteligentemente seus problemas reais, podendo interpretar seus
símbolos e utilizá-los corretamente na vida real e profissional.
A prova como único instrumento de avaliação não terá a capacidade de
provar o conhecimento que o aluno traz e aquele que ele adquiriu ao longo do
processo, também não poderá ser utilizada como fonte de seleção ou
classificação, visto que existem domínios incorporados ao indivíduo e que estão
XXXVI
além do papel, conhecimentos que não caíram nas questões da prova e que se
julga ser de extrema importância para a realidade de cada um.
Basta pedir que um aluno relate tudo o que aprendeu naquele bimestre
numa folha, será surpreendente observar que quem “estuda” apenas para passar,
ganhar nota, não saberá o que fazer e aquele que compreendeu e incorporou
saberá descrever com muita facilidade todo o conteúdo, alguns, até com grande
poder de síntese, outros com riqueza de exemplos.
Às vezes, os alunos “rotulados” como os mais inteligentes não sejam
exatamente aquilo que esse tipo de avaliação mostra, na grande maioria são
meros “reprodutores de conhecimentos”, o que satisfaz, em alguns casos, na hora
da correção por gabarito.
XXXVII
CONCLUSÃO
A partir do material pesquisado acerca do processo de avaliação é possível
concluir que a avaliação pode ser trabalhada dentro do espaço escolar de outra
forma.
Ensinar e aprender é acima de tudo, o exercício das possibilidades, dos
erros e dos acertos, das dúvidas eternas e das certezas temporárias. Portanto,
avaliar nada mais é do que olhar para trás, recuperar de alguma maneira o que foi
vivido e projetar mudanças, sempre que necessário.
A avaliação quantitativa gera a exclusão, limita a produção do
conhecimento do indivíduo, enquadra-o nos padrões coercitivos da nota. Essa
exclusão é gerada no sistema capitalista. A escola, portanto se torna um reflexo
da sociedade, perpetuando assim a exclusão.
Tudo se torna uma imensa bola de fogo. O conhecimento gira nesta bola
indo para nas mãos apenas de alguns. A exclusão e a lei do mais forte tem o
mesmo poder do fogo, e atinge a maioria das pessoas. Junto com o capitalismo
vem a globalização, junto com a globalização vem a exclusão que, como um
furacão, arrasa tudo que está pela frente.
A globalização com seu antagonismo, faz com que esse fogo gire mais
rápido destruindo chances e ilusões.
XXXVIII
“A globalização não apaga nem as desigualdades nem as
contradições que constituem uma parte importante do tecido
da vida social, nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve
umas e outras, recriando-se em outros níveis, novos
ingredientes”. (Ianni, 1992: 125)
XXXIX
Não se deve questionar o fato de avaliar ou não. A questão é como avaliar.
Não tentar eliminar o fenômeno, mas sim transformá-lo, abordá-lo em perspectiva
dialética. Usar a prova como único método de avaliação induz o aluno à
subordinação. É um método de coação que provoca medo e terror na maioria dos
educandos.
Avaliar o aluno por inteiro seria o mais adequado. Avaliar seus escritos,
suas intervenções verbalizadas na sala de aula, seus erros, sua atenção, seus
êxitos, enfim, sua caminhada. Caminhar junto com ele e também aprender com
ele. “A educação autêntica (...), não se faz de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”,
mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo” (Freire, 1983 : 98).
A escola sendo um espaço de erros e acertos foge muitas vezes do seu
verdadeiro papel que é através dos erros obter os acertos e não através dos erros
obter vergonha, bloqueio e “decoreba”. Talvez com tudo isso não se mude a
sociedade, não se mude a escola, mas certamente alguma coisa estará se
transformando.
Refletir não tão somente quanto aos meios e critérios de avaliação, mas
como ele é empregado e visto pelo educador. Saber aproveitar os erros
analisando as etapas para conseguir compreender o todo e saber como concertar,
é uma tarefa que se tem pela frente.
Mas não se pode desistir de mudar, somente estudando, lendo, refletindo e
discutindo que se poderá mudar a consciência de quem educa e daqueles que
buscam a educação.
XL
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência – O dilema da Educação. 5a
ed.,São Paulo. Edições Loyola, 2001.
BOSSA, Nadia A . A Psicopedagogia no Brasil – Contribuições a partir da
prática. 2a ed., Porto Alegre. Editora Artmed, 2000.
CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem.18a ed.,
Petrópolis. Editora Vozes, 1986.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática
educativa. 17a ed., São Paulo. Paz e Terra, 1996.
TIBA, Içami. Ensinar aprendendo – como superar os desafios do
relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. 9a ed., São
Paulo. Editora Gente, 1998.
XLI
BIBLIOGRAFIA CITADA BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. Coleção Primeiros Passos.
São Paulo. Brasiliense, p. 73-97, 1981.
IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1992. DALBEN, Angela I. B de F. Reprovação/ avaliação/ escola plural. Educação em
revista. Belo Horizonte, nos 20,21,22,23,24 p. 135, dez/ jun. 94-97. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 2 ed. São Paulo.
Cortez, 1994. Prática Docente e avaliação. Rio de Janeiro. ABT, 1990. CATAPAN, Araci H. Avaliação: mito ou cultura escolar. Revista Dois Pontos.
Belo Horizonte, n. 34 p. 33-8, set/ out.. 1997. HAYDT, Regina C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São
Paulo. Ática, 1988. FLEURI, reinaldo Matias. Educar para quê? 7ed. São Paulo. Cortez, 1994. RABELO, Edmar henrique. Avaliação- Novos Tempos Novas Práticas. 5ed. Rio
de Janeiro. Vozes, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo. Paz e Terra, 1970.
XLII
Anexos
XLIII
ÍNDICE AGRADECIMENTO III DEDICATÓRIA IV RESUMO V METODOLOGIA VI SUMÁRIO VII INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A ESCOLA COMO REFLEXO DO CONTEXTO SOCIAL 10 CAPÍTULO II AVALIAÇÃ0-EXCLUINDO NA ESCOLA E NA SOCIEDADE 15 2.1. AVALIAÇÃO IGUAL A DIAGNÓSTICO 18 2.2. A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 19 2.3. AVALIAÇÃO X AUTORITARISMO 20 2.4. A PROVA COMO ÚNICA FORMA DE AVALIAÇÃO 22 CAPÍTULO III ALTERNATIVAS PARA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO 27 3.1. A PRIMEIRA AVALIAÇÃO 31 3.2. AVALIAÇÃO ESCRITA 31 3.3. AVALIAÇÃO ORAL 32 3.4. A PROVA COMO AVALIAÇÃO 33 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
XLIV
BIBLIOGRAFIA CITADA 39 ANEXOS 40
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Título da monografia:
__________________________________________________________________
____________________________________________________________
Data da entrega: _________________________________________________
Avaliado por: _________________________ Grau ______________________
Rio de Janeiro ______ de ________________ de 2002.
Coordenador do curso.
XLV
INTRODUÇÃO
O ato de avaliar está presente em todos os momentos da vida humana. Há
todo momento as pessoas são obrigadas a tomar decisões que, na maioria das
vezes, são definidas a partir de julgamentos provisórios. O ato de avaliar na vida
cotidiana se dá, permanentemente, pela unidade imediata de pensamento e ação.
Nesta unidade a pessoa precisa estar sempre pronta para identificar o que é para
si o “verdadeiro”, o “correto”, opções que vão lhe indicar o melhor caminho a
seguir, o que fazer.
Ao assumir que o ato de avaliar se faz presente em todos os momentos da
vida humana admite-se que ele também está presente em todos os momentos
vividos em sala de aula. O seu dia-a-dia não se separa do cotidiano de cada
indivíduo. O ato de avaliar está sempre presente nos momentos desfrutados em
sala de aula.
Raramente encontra-se um professor que não se preocupe com a
avaliação. Isso porque avaliar, no que se refere a ensino aprendizagem é uma
tarefa cuja importância é comparável à complexidade e dificuldade que lhe são
inerentes. Contudo o uso errôneo da avaliação gera desigualdades em sala de
aula e por sua vez a exclusão escolar que não está apenas dentro da escola, mas
também fora dela. Esta exclusão é consequência do sistema capitalista no qual
estamos inseridos.
Ao refletir sobre isso, há de se observar que a escola forma com o objetivo
de adequar o indivíduo ao sistema. Para os excluídos, o sistema garante um
ensino técnico de subsistência, e às vezes nem este, negando-lhes o acesso ao
ensino científico e de humanidades.
XLVI
Não se pode afirmar existir crianças menos capazes ou incapazes de
produzir conteúdos. Cada criança tem um ritmo diferenciado de aprendizagem que
deve ser respeitado.
Espera-se que o processo avaliativo seja entendido no seu real significado,
contribuindo para o aprimoramento desse processo, a fim de que a avaliação seja
aplicada de forma mais justa.
Sendo assim, as escolas avaliam sem nenhum embasamento nas
experiências adquiridas pelos alunos, sem conhecer o seu universo, não lhe dão
subsídios para mostrar aquilo que sabem e que pode ser transformado em
conhecimento.
Seus planejamentos são “confeccionados” antes mesmo de se conhecer a
clientela, não se sabe o potencial de cada um, as habilidades que possuem, e
mesmo assim, já estipularam os critérios de avaliação. Que na maioria das vezes
resume-se a um trabalho e uma prova escrita.
A prova que na realidade só serve como elemento repressor nas mãos
daqueles que um dia foram reprimidos, e que por sua vez a utilizam como um
mecanismo de disciplina em sala de aula. Uma maneira de controlar os alunos.
Poderá a prova provar aquilo que o aluno aprendeu ou “apreendeu” ?
Terá ela o direito de selecionar os alunos de uma classe?
Que poder supremo é esse?
XLVII
CAPÍTULO I
A ESCOLA COMO REFLEXO
DO
CONTEXTO SOCIAL
XLVIII
A ESCOLA SOCIAL
Ao analisar a educação no contexto da sociedade capitalista de hoje, não
há dúvidas de que a sua função tem sido predominantemente a de reproduzir e
consagrar desigualdades. Como diz Durkheim, citado por (Brandão, 1997: 76):
“(...) É ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos
como queremos (...) Há, pois, a cada momento, um tipo
regulador de educação do qual não nos podemos separar
sem vivas resistências, e que restringem a velocidade dos
dissidentes”.
É ilusório acreditar que a educação funciona visando a igualdade de todos,
como assim foi desejado por alguns socialistas utópicos. Eles acreditavam que os
interesses individuais deveriam coincidir com os interesses coletivos. Propunham
que a classe trabalhadora deveria produzir sua existência coletivamente e se
apropriar dessa riqueza. Entretanto, é sabido que não foi por esse lado que se
encaminhou a história.
A Revolução Industrial trouxe outras formas de se educar o homem voltado
especificamente para o mundo do trabalho. Antes da Revolução Industrial, o
trabalho era restrito aos limites do corpo humano. Porém, como o trabalho vai se
separando do corpo do homem e se objetivando em máquinas automáticas,
criando uma nova forma de trabalho.
XLIX
A escola como uma relação humana construída pelos homens, só aparece
porque os próprios homens criaram essa necessidade histórica. Sendo assim, a
escola não é algo que emerge de algumas idéias geniais, mas sim fruto de muitas
transformações no modo de produzir a própria vida humana.
L
A partir desse momento tornou-se mais evidente os interesses do processo
educativo. Desta forma, Brandão, (1981: 84) vai dizer que:
“(...) “Das empresas capitalistas”. “Investimento”, “mão de
obra”, “preparação para o trabalho”, “capacidades técnicas
adequadas” (...) são os nomes que denunciam o momento
em que os interesses políticos de emprego de uma força de
trabalho “adequadamente qualificada” misturam a educação
antiga da oficina com a da escola, reduzem o seu
compromisso aristocrata com a pura formação da
personalidade e inscrevem o ato de educar entre as práticas
político-econômicas das “arrancadas” para o
desenvolvimento”.
Arrancadas que, as sociedades capitalistas são de modo
geral estratégias de reorganização da vida social, de acordo
com projetos e interesses de reprodução do capital. De
multiplicação dos ganhos”.
No século XVIII a exclusão tornou-se fato marcante. A escola tornou-se
desigual porque construiu duas trajetórias diferentes numa mesma escola. Uma
escola era destinada para os dominantes e outra para os dominados. E essa foi a
representação de uma classe que defendeu uma nova idéia de sociedade, a
sociedade da liberdade onde a educação não poderia ser vista mais como um fato
isolado e eclesial como propunha o estrato dominante durante a Idade Média.
LI
Outro momento da história onde se fala na “escola para todos” sob a luta
pela democratização do ensino, resultou no reconhecimento político do direito à
educação para todas as pessoas, através das escolas gratuitas e leigas. E esta foi
uma guerra travada entre liberais e conservadores. Porém, apesar de algumas
idéias de alguns liberais bem intencionados, com relação à educação, ainda assim
permeavam os interesses de novos donos do poder e dos meios de produção.
Impulsionados pela idéia de escola para todos, os filhos dos pobres e dos
agricultores ingressavam nas escolas públicas. A partir desse momento, alguns
educadores perceberam que o ensino público era inadequado. Brandão, (1981:
90) ressalta que:
“Este progressivo ingresso da criança pobre nas salas das
escolas, associados a uma redefinição do ensino escolar em
direção do trabalho produtivo, não fez mais do que trazer
para dentro dos muros do colégio a divisão anterior entre
aprender-na-oficina para o trabalho subalterno e o aprender-
na-escola para o trabalho dominante”.
Não é possível pensar sobre a educação atual se iludindo com as
condições reais da forma como ela se apresenta. Afirmando tal fato, Brandão,
(1981: 92), coloca que:
“Vivemos aqui, hoje, dentro de uma ordem social regida por
um sistema amplo e muito complexo de relações de
produção entre tipos de meios produtores, que se costuma
chamar de modo de produção capitalista. Conscientes deste
contexto, podemos fazer uma análise de como podemos
redimensionar a educação”.
LII
Não se pode continuar compartilhando com esse mecanismo autoritário e
desigual. Diante disso, considera-se que o educador deve ter outra postura diante
de seus alunos. Procurando criar condições para o aluno participar, expor suas
opiniões, criando meios para que o aluno participe ativamente do mundo que o
rodeia, percebendo quem ele é e o que pode vir a ser.
O professor representa para o aluno a principal chave para a libertação
dessa alienação. O docente não pode simplesmente ignorar tal fato. A sua função
é de desafiar o discente para que ele possa participar conscientemente do
cotidiano da nação.
É preciso renovar, dar ênfase a novas idéias, mudar a postura da
pedagogia tradicional, infelizmente enraizada. É essencial não confundir os
sentimentos dos jovens, e sim ajudá-los na preparação para suas vidas.
A educação deve ser vista como uma força de transformação social. Sendo
assim, ela deverá favorecer o aparecimento de um novo tipo de pessoa solidária e
preocupada em superar o individualismo criado pela exploração capitalista, a fim
de criar uma nova sociedade, uma sociedade mais justa e igualitária.
LIII
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO – EXCLUINDO NA ESCOLA E NA
SOCIEDADE
LIV
AVALIAÇÃO
Na escola não há um padrão de bom aluno. Aquele que não se encaixa
neste padrão é excluído. Essa exclusão não nasceu dentro da escola por acaso. A
escola é um reflexo da sociedade, até porque o corpo escolar é parte desta
sociedade.
A globalização está acontecendo, existe uma grande expansão de idéias,
culturas, modos de pensar e de fazer. Assim como o capitalismo, o processo de
globalização também é excludente como afirma assim, “sob vários aspectos, a
globalização confere novos significados ao indivíduo e sociedade, modos de vida
e formas de cultura, etnia e minoria, reforma e revolução, tirania e democracia”
(lanni, 1992: 09).
As revoluções não tiveram a mesma força de sobrevivência do capitalismo.
Segundo lanni, o capitalismo se desenvolveu pelo mundo, se enraizou muito
rapidamente, aparecendo como um “processo civilizatório”. E assim o mundo
inteiro está se tornando capitalista, e este sistema poderá se desenvolver ainda
mais em algumas nações e continentes.
Essa expansão do capitalismo, da sociedade globalizada emergente, vem
coberta de divergências, contradições, antagonismos, perspectivas e
principalmente exclusões. O capital está criando um novo mundo. Dissolve modos
de pensar, agir, viver, trabalhar e os constrói sob seu olhar e tutela. “Antigamente
invadíamos os mercados estrangeiros com mercadorias. Hoje invadimos culturas
inteiras” (Idem : 21).
LV
Nossas vidas e nações foram abertas a todos, acabando com as diferentes
barreiras existentes entre povos, culturas, línguas, mercados e outros. O
individualismo nesta sociedade globalizada é uma realidade. A palavra sociedade
perde o seu sentido quando posta no mundo atual. Um mundo em que é
anunciada a quebra de fronteiras, e que atrás dessa grande “festa” dos povos vem
a exclusão.
As pessoas pensam apenas em si mesmas, pois não há outra saída. As
expressões “o mais forte devora o mais fraco”, “é a lei da selva”, nunca foram tão
verdadeiras e atuais como o momento presente. Nesta nova era pode-se constatar
que a escola retrata todos esses abusos da sociedade excluindo, globalizando,
separando e discriminando. Há uma sucessão de erros e acertos dentro da
escola, havendo também na própria sociedade. Na realidade melhor seria dizer
que “a escola está para a sociedade assim como a sociedade está para a escola”.
A escola exclui quando deixa que os alunos mais desinibidos se
sobressaiam classificando-os como fortes e inteligentes e anulando os alunos que
não se encaixam neste padrão, rotulando-os de fracos, preguiçosos ou até mesmo
de burros.
A avaliação entra neste drama, como um golpe mortal. Aterrorizando e
acabando com qualquer chance de fuga ou vitória. Não se pode culpar apenas os
professores, atribuindo-lhes o papel de vilão, pois eles também são vítimas desse
drama. Essa situação se dá, muitas vezes, por não se ter um orientador, alguém
para conscientizar e alertar da necessidade de se desafiarem no seu dia-a-dia.
Os professores estão despreparados e cansados. Nesta selva onde a lei do
mais forte e da sobrevivência impera, a única solução é salvar seus empregos.
LVI
2.1 - AVALIAÇÃO IGUAL A DIAGNÓSTICO
Avaliar significa conhecer o seu aluno. A avaliação é a parte contínua do
processo de aprendizagem com o objetivo de verificar, caso haja alguma, quais
são as dificuldades encontradas pelo aluno visando ajudá-lo a superá-las.
Deve ser concomitante com a construção do conhecimento. Sendo
realizada através de tarefas ao longo do período do aprendizado, ao invés de por
um único teste ao final, fornece uma visão mais realística do aproveitamento do
aluno em função do que lhe foi apresentado. Deve-se sempre ser feita
considerando-se o crescimento do aluno, ou seja, o quanto ele evoluiu a partir do
seu conhecimento inicial. Tem de levar em conta as inteligências multiplas, o
universo cultural e os objetivos do aluno. Deve avaliar as formas de organização
dos conhecimentos do aluno e não apenas a quantidade de informação que o
aluno possui. Este caso encaixa-se perfeitamente na avaliação de redações que
são uma das formas de avaliação oferecidas ao aluno. Deve ser útil a todos os
envolvidos, pois se assim não o for, é melhor que não seja feita. Deve ser
executada em condições favoráveis ao aluno, observando-se sempre as questões
técnicas, administrativas, acadêmicas e sociais. Deve ser conduzida com
instrumentos adequados, sintonizados com a informação que se quer obter, e com
a respectiva fonte, assegurando-se, assim, uma perfeita, clara e objetiva
comunicação entre os envolvidos.
Deve ser justa e deve ser colocada no juízo de valor, respeitando o aluno,
com seus valores políticos, sociais, culturais e éticos. Deve relacionar o conteúdo
novo com o conhecimento anterior e interesses do aluno. O que o aluno já
LVII
conhece influi na sua aprendizagem e, portanto, pré-testes e testes devem ser
feitos, para que o aluno possa ser respeitado e atendido nas suas diferenças
individuais. Deve levar sempre em conta que cada aluno difere em suas aptidões
e, portanto, a avaliação deve buscar atender a cada aluno, mesmo que o material
ensinado seja sobre um mesmo assunto.
2.2 - A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR
Na escola, a avaliação é representada por uma nota onde o processo se
torna excludente, pois julga a capacidade do indivíduo através de uma
representação numérica, fixando-se apenas em dados apresentados e não no
contexto geral onde o aluno está inserido. O julgamento através dos dados
específicos, muitas vezes, se torna cruel. Não se pode pensar em avaliar
submetendo-se apenas a uma simples representação quantitativa.
O processo avaliativo está permeado por um contexto muito mais amplo e
significativo. Um contexto que possibilita colocar em prática o que o aluno pode
oferecer em quanto sujeito que vive e que pensa sobre a vida. Todavia, ao invés
da escola apresentar-se como uma chave da liberdade dos processos
manipuladores, ela acata o que já existe como algo pronto, organizado que está
estabelecido e que deve ser espelhado. Dalben, (1997: 133) afirma:
“[ ...] Aprovamos aqueles que na verdade, reproduzem a
escola do jeito que ela já é, que persiste há tantos séculos. A
escola, através da avaliação, mantém-se a si própria,
realimenta seus valores, suas práticas e se fecha ao novo e a
mudanças”.
Porém, não se deve acreditar que a escola é somente um espaço onde os
conteúdos reprodutores de relações dominantes se manifestam. Ela também é um
espaço da apropriação da cultura e da construção de novos conhecimentos.
LVIII
Sendo assim, é possível reafirmar o que já foi colocado, Dalben, (1997: 134) diz
que, “precisamos conhecer. Conhecer quem está do outro lado, o que ele traz, o
que ele sabe. Precisamos re-significar o saber escolar”.
Os educandos devem ter cada vez mais consciência do poder que a escola
tem para tentar fazer emergir da população o reconhecimento de que os excluídos
também são produtores do saber, e que podem contribuir muito para a construção
de uma sociedade igualitária.
“Nesse sentido, avaliar não se refere mais a um processo de
julgamento, mas refere-se a um processo de conhecimento,
investigação. Avaliamos para produzir o saber. O saber
sobre o nosso aluno, sobre o processo de aprendizagem,
sobre o processo de ensino. Avaliamos para estabelecer a
relação entre o conhecimento que detemos e o
conhecimento que o outro detém, sobre as possibilidades de
se conhecer mais e criar novas formas para isso” (Idem:
134)
A avaliação deveria ser uma prioridade e o ato de avaliar uma
consequência normal de sua aplicabilidade, onde o avaliar deveria seguir paralelo
ao conhecimento detido, ou melhor, retido pelo aluno. Podendo assim, aproveitar
suas experiências e transformá-las em produções próprias do seu saber, o saber
que cada um carrega consigo.
2.3 - AVALIAÇÃO X AUTORITARISMO
A Educação é mais um dos fatores que tem o poder de mudar a sociedade
e de libertar o homem da dominação que lhe é imposta. Então, por que não
mudar?
LIX
As escolas muitas vezes estão lotadas, os professores desestimulados,
cansados e descontentes com seu salário. Então seria essa a verdadeira razão de
tudo? Na verdade, essa realidade é apenas parte de todo um processo excludente
no qual estamos inseridos.
O autoritarismo em sala de aula manifesta-se também devido ao
descontentamento do professor com a sua prática. Faltam recursos, falta estímulo,
falta reconhecimento profissional, muitas vezes falta preparo para o trabalho.
Torna-se difícil lidar com tantas crianças, cada qual com o seu problema, umas
ansiosas por aprender, outras revoltadas por serem excluídas, outras indiferentes,
outras ainda violentas e outras carentes, como se vivessem num mundo de
fantasias, esquivando-se da realidade. Diante de tudo isso, como num processo
de defesa, o professor muitas vezes adota uma atitude autoritária, como forma de
controle, tornando-se mais fácil lidar com tantas diferenças.
Pensar em interação, analisar teorias pedagógicas que facilitem seu
trabalho, torna-se impossível para o professor. O tempo é o seu maior inimigo.
Para defender o seu sustento é preciso no mínimo que ele trabalhe em mais de
uma, quando não três instituições, o que certamente seria um fator agravante para
o descontentamento.
Por outro lado, há de se pensar que também existem professores pouco
preocupados com a realidade lá fora, empregam seus métodos e vão acelerados
do início ao final do ano, passando por cima de tudo, observando e aproveitando
muito pouco daquilo que foi produzido em sala.
Dessa forma, alguns destes profissionais usam de certa autoridade diante
daqueles que ali estão, por ordem da família ou por desejo de mudar a vida. Usam
a autoridade persuadindo suas criações e inibindo suas produções toda vez que
estas saem fora do seu “script”.
LX
Essa é a cruel realidade das instituições de ensino, reflexo de um processo
excludente que degrada a vida profissional dos docentes. Justo eles que deveriam
ser os mais respeitados diante da responsabilidade de sua profissão. Pois, assim
como o médico, que é responsável por salvar vidas, o professor é responsável por
salvar futuros. Todavia, a prática escolar mantém-se dessa forma para garantir o
mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. Ela integra e prepara
seus alunos para manterem a classe dominante em desejáveis níveis de controle
e manipulação. O autoritarismo é o elemento necessário para garantir este
modelo social dominante que também se apresenta para nós através da
avaliação.
2.4 - A PROVA COMO ÚNICA FORMA DE AVALIAÇÃO
Quando se trata de provas, para testar/classificar os alunos, suas respostas
são unânimes: “não queremos, não gostamos”. As entrevistas demonstraram o
descontentamento dos alunos em relação à prova e seu desejo para que fossem
outras as formas de avaliar. Geralmente o aluno estuda antes da prova e depois
não se lembra da maioria dos conteúdos que aprendeu.
O aluno que quer aprender estuda, faz a prova, mas é como se a escola
não o deixasse aprender, pois “obriga” a reproduzir o conteúdo e não contribui
para sua contextualização e nem tampouco o ajuda a relacioná-lo fazendo assim
com que haja a verdadeira apreensão.
Ao aluno, o que realmente acaba interessando é a nota, com isto ele acaba
estudando para “ser promovido”. Procura já de início saber quais os mecanismos
da nota para tentar obtê-la mais facilmente e se enquadra nos padrões de sucesso
de ser um “bom aluno”.
LXI
Segundo Luckesi, (1994: 23), “as notas são operadas como se nada
tivessem a ver com a aprendizagem”.
Como reduzir conhecimentos transmitidos de meses em uma simples folha
de papel? A prova em si não mostra o quanto o aluno aprendeu. Não mostra se o
aluno tem condições de fazer relações do que ele aprendeu com outras matérias
ou até com a própria vida.
A prova não possibilita ao professor um conhecimento mais individual do
seu aluno. Não permite ao professor “respeitá-lo” de maneira “correta”. Respeitá-lo
no sentido de lembrar que embora esteja lidando com uma turma, essa turma não
é homogênea. A heterogeinidade dos alunos não pode ser negada.
Cada um tem um modo de aprender. Uns mais lentos, outros mais rápidos.
Esse é o ponto chave da questão. Entender de que maneira o aluno construiu o
conhecimento. Analisar como foi esse caminho percorrido por ele, quais as suas
dificuldades, suas vitórias. Compreender o processo.
Esse processo pedagógico deve ser dinâmico, sutil, em permanente
construção. A cultura é seu objetivo fundamental que se traduz em conhecimento
escolar. E a avaliação é a interação entre sujeito/objeto compreendido aos
processos de cognição. Portanto, “a avaliação pode ser entendida como uma ação
pedagógica importando o meio e não o fim”. (Catapan, 1997).
Para esta autora essa pedagogia baseada em números é a pedagogia da
repetência porque não faz o aluno produzir conhecimento. Sem a produção de
conhecimento acontece a reprodução de conhecimento, o aluno é induzido a
decorar para passar de ano.
LXII
A avaliação, já que necessária deve ser feita constantemente, torna-se uma
rotina dentro da sala de aula. Isso não quer dizer provas todos os dias, mas sim
diferentes formas de avaliação. “A avaliação não pode ser vista como um fim em si
mesma, mas sim como mais um recurso que possibilite o aprendizado”. (Haydt,
1998).
Nas entrevistas, as crianças da primeira série afirmaram que gostam de
fazer provas e que não gostariam de ter outro método de avaliação. As crianças
da primeira série gostam de fazer provas porque ainda estão começando a ser
colocadas na fôrma do bolo. Ainda não sentiram o calor massificador e taxativo do
forno onde estão sendo inseridas gradualmente.
Para elas, tudo ainda é festa, é novidade, é paixão. Aprender a ler e a
escrever é uma mágica possibilitada pela fada madrinha, a professora, sem saber
que estão sendo conduzidas pelo velho conhecido caminho de dar mais
importância à nota e não ao conhecimento produzido. Segundo Fleuri, (1994) a
nota, através da prova poderá ser um método coercitivo e chantagista por parte de
quem avalia, e pode revelar a sua postura naquele momento em que estará
avaliando, como a disponibilidade, o humor, o cansaço. Isso tudo é muito diferente
do que o aluno realmente expressou na hora da sua avaliação.
“Os objetivos a serem avaliados (conhecimentos, atitudes,
habilidades) geralmente têm amplitude e complexidade
difíceis de serem captadas através dos meios de avaliação
convencionais”.(Idem: 1994).
A prova como única forma de avaliação, torna-se um instrumento perigoso,
que poda ao extremo a capacidade de apreensão do conhecimento do aluno.
Atrofia seu senso de direção. O aluno ao invés de estudar para o seu
desenvolvimento intelectual, estuda para ser promovido. Isso tudo na base de
ameaças, de exclusões e de alienação.
LXIII
Segundo Edmar Henrique Rabelo (2001: 80-81):
“Precisamos transformar o discurso avaliativo em
mensagem que faça sentido, tanto para quem a emite
quanto para aquele que a recebe. O maior interesse de um
processo de avaliação deveria recair no fato de se tornar
verdadeiramente informador. A avaliação deve tornar-se o
momento e o meio de uma comunicação social clara e
efetiva. “Deve sempre fornecer ao aluno informações que
ele possa compreender e que lhe sejam úteis. Se a nota
fornece uma informação compreensível e útil, por que privá-
lo dessa mesma informação?” (Hadji, 1990:107).
Precisamos encarar que o problema real que enfrentamos
não é o da existência ou não de uma nota: a questão é uma
mudança de paradigmas a respeito dela. É, antes de tudo,
uma questão de mudança de filosofia pedagógica. A simples
mudança de métodos e/ou de técnicas é mudança de
aparências, mas não de essências.
O objetivo primeiro é uma boa aprendizagem. E como é
impossível acabar com o aspecto comparativo de um
processo de avaliação, o problema central não é a nota, mas
sim nossa postura avaliativa. Para que alguém decida para
onde caminhar, é preciso primeiro saber onde se encontra.
Não se pode confundir avaliação com nota e muito menos
permitir que se continue usando o termo nota como
sinônimo de avaliação. Nota é apenas uma forma dentre
muitas de se expressar os resultados de uma avaliação. Não
ter nota pode ser tão arbitrário e autoritário quanto tê-la (...).
LXIV
(...) A questão é que, quando se discute a necessidade de
mudanças no entendimento e na forma como as avaliações
vêm sendo feitas, especialmente a respeito de notas, isto
acaba significando para muitos uma intenção de eliminá-las
da escola, já que confundem avaliar com atribuir notas”.
É preciso refletir sobre o que o autor fala, pois nomear notas em
avaliações é um critério de fácil aplicação, porém não basta dar números e sim
avaliar o que foi produzido, compreendido pelo aluno, aquilo que ele captou e que
poderá ser aplicado à sua vida cotidiana.
É importante ressaltar que a nota é apenas um símbolo em um pedaço de
papel e com ela aquela produção deve ou pelo menos deveria fazer parte de um
contexto. O que deve ser levado em conta é como o aluno entrou naquela série e
como ele está saindo, o que foi transformado nele como indivíduo, como, ser
pensante.
O resultado de uma avaliação não deve ser aquilo que o professor
estabeleceu como sua verdade única, como num roteiro, e sim, a verdade daquele
aluno, já que o que ele aprende na escola só terá um real valor se ele puder
aplicar na sua prática de vida e também se houver algum significado.
O aprendizado só será incorporado ao conhecimento do aluno se neste
houver significado, importância e aplicabilidade, caso isso não aconteça, ele ficará
restrito à um conhecimento relâmpago, aquele apreendido na hora da prova,
depois esquecido.
LXV
CAPÍTULO III
ALTERNATIVAS PARA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
LXVI
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Não será trabalhado porcentagem como resultado das entrevistas, porque
seria como se tivesse sido encerrado, taxado, enquadrado conceitos e opiniões a
respeito da avaliação. Já que o objetivo é a transformação do fenômeno gerando
reflexões e não sua simples constatação.
Foram entrevistados alunos de escola pública e particular, alunos do ensino
fundamental com idades entre 7 a 15 anos . (Anexo I). A maioria dos alunos
estudam na véspera da prova. Eles responderam que estudam para aprender,
mas percebe-se que nesta afirmação há um equívoco, pois se estudassem para
aprender estudariam todos os dias e consequentemente se lembrariam de tudo
que estudaram e não apenas de algumas coisas. Isso significa que não estudam
pelo prazer de construir e se apropriar do conhecimento, e sim para tirar nota boa
na prova, para ganhar uma recompensa.
Na questão que diz respeito à lembrança dos conteúdos estudados, a
resposta predominante foi “de alguns”. Mas fazendo uma reflexão dessa questão
em particular, nota-se que há um sentimento de vergonha no aluno em admitir que
não se lembra de nada do que estudou (apenas dois alunos admitiram que não se
lembram).
A maioria vence quando afirma que não gostam de fazer prova. Não acham
a prova a melhor forma de avaliar o aluno e gostariam de ser avaliados de
qualquer outra forma menos pela tão famosa e temida por todos: A PROVA!
LXVII
Trazendo a tona outros métodos de avaliar os alunos, certamente não se
ouvirá mais frases do tipo: A avaliação serve para: “ver o que o aluno sabe e para
ver quem vai rodar”, “para o aluno se dar mal”, “o professor saber se o aluno
aprendeu, e é um modo mais fácil de saber se o aluno passou de ano”, “dar
notas”.
Serão ouvidos sorrisos de contentamento pelos cantos das escolas onde
professores e alunos transformando-se em sujeitos de sua história, pensando
conscientemente e criticamente sobre o mundo. A prova tida até então como um
dos únicos instrumentos de registro do desempenho do aluno tornou-se limitada.
Então é preciso algo mais abrangente, instrumentos que venham a refletir a idéia
de avaliação contínua, visando observar o desempenho do aluno promovendo
maior conscientização nos estilos individuais de aprendizagem. Esta seria uma
maneira bastante produtiva de ajudar tanto o professor como o aluno. Um
compromisso selado pelo acordo de um com o outro em busca do conhecimento e
do desenvolvimento pessoal.
Mas infelizmente, esse contentamento parece estar um pouco longe, pois
nesta época do ano ( o encerramento do ano letivo) o que mais se houve são
alunos somando seus pontos para ver se já passaram, outros fazendo contas de
que média deverão ter no último bimestre, professores cansados e doidos para
antecipar as férias sem alunos em recuperação, preparando provas que são
verdadeiros presentes de Natal.
A ansiedade de entrar logo de férias deixa de lado o valor do que se
aprendeu, fica apenas a vontade e a necessidade de passar de série, não importa
sobre quais circunstâncias. É o desespero de ter que aprender, ou melhor, de
decorar um mundo de conteúdos para passar e depois esquecê-lo com uma
facilidade comum.
Segundo explica Luckesi (1990):
LXVIII
(...) a atual prática da avaliação escolar não viabiliza um
processo de democratização do ensino. Ao contrário,
possibilita cada vez menos democrático no que se refere
tanto à expansão do ensino quanto à sua qualidade. (...) Em
primeiro lugar, a que partir para perspectiva de uma
avaliação diagnóstica. Com isso, queremos dizer que a
primeira coisa a ser feita, para que a avaliação sirva à
democratização do ensino, é modificar a sua utilização de
classificatória para diagnóstica. (...) Exige que ela seja um
instrumento auxiliar da aprendizagem e não um instrumento
de aprovação ou reprovação dos alunos. Desse príncipio
decorre a articulação de todos os outros elementos da
avaliação, tais como: proposição da avaliação e suas
funções, elaboração e utilização de instrumentos, leitura dos
resultados obtidos, utilização destes dados e assim por
diante. (...) Para que a avaliação funcione para os alunos
como um meio de auto compreensão, importa que ela
tenha, também, o caráter de uma avaliação participativa. (...)
O objetivo da participação é professor e aluno chegarem
juntos a um entendimento da situação de aprendizagem
que, por sua vez, está articulado com o processo de ensino.
Então, não será uma discussão abstrata, mas sim uma
discussão a partir dos resultados efetivos da aprendizagem
manifestados nos instrumentos elaborados e utilizados.
É preciso que todos compreendam a necessidade de diagnosticar como o
que se está ensinando chega aos alunos e entender que para isso o que importa é
como esse aluno é visto. Como disse Luckesi, a avaliação não deve ser
classificatória, não deve ser um instrumento de aprovação ou reprovação, é
preciso que ela seja participativa.
LXIX
O aluno precisa participar de todo esse processo para que compreenda o
que vai aprender e como poderá utilizar esses conhecimentos.
O aluno deve ter clareza desse compromisso, se desprendendo assim cada
vez mais do ato de ser promovido através da nota. Uma boa proposta para avaliar
seria aquele que seguisse alguns objetivos básicos, como:
3.1 - A PRIMEIRA AVALIAÇÃO
Conhecer os seus alunos através de práticas que os façam falar mais sobre
eles. Isso facilitaria a compreensão do professor sobre alguns problemas de
aprendizagem apresentados em sala. Dessa forma, o professor conseguiria
trabalhar com esse(s) aluno(s) de forma diferenciada sem que houvesse a
necessidade de excluí-lo(s) do processo de aprendizagem.
3.2 - AVALIAÇÃO ESCRITA
Proporcionar atividades em sala que envolvam a escrita, buscando
incentivar a criatividade do aluno, e não só isso, buscando também conscientizá-lo
da importância da escrita na prática escolar.
Para que se possa avaliar a aquisição e o aproveitamento de novos
conhecimentos é necessário que se incentive o aluno a escrever, a produzir
textos, a criar uma linha de raciocínio, de síntese. É importante que através do que
ele leu e aprendeu ele consiga produzir e não reproduzir um fato, uma estória.
Através dessa prática pode-se observar vários outros aspectos da
aprendizagem , do conhecimento que ele traz e daquele que ele está adquirindo.
LXX
3.3 - AVALIAÇÃO ORAL
Proporcionar atividades em sala que envolvam situações de verbalização.
O objetivo é garantir ao aluno um espaço para que ele possa explicitar as suas
preocupações, curiosidades e dificuldades, buscando estabelecer o exercício da
espontaneidade, da reflexão e do pensamento crítico. Sendo assim, aqueles que
não conseguissem um bom desempenho nas atividades escritas, poderiam se
desenvolver melhor nessa atividade.
Essa proposta deveria ser tão importante quanto qualquer prova que é
aplicada em sala, pois na verbalização o aluno expõe seus sentimentos. É
possível avaliar a sua fala, quanto às normas da língua, a sua capacidade de
síntese, de raciocínio, sem falar da grande possibilidade de um debate a partir do
questionamento ou da conclusão de um aluno no decorrer da aula.
3.4 - AVALIAÇÃO POR QUESTIONAMENTO
O professor deve estabelecer um questionamento constante com o aluno
com relação aos conteúdos apresentados, levantar dúvidas, despertar
curiosidades. Essa atividade teria como finalidade avaliar as relações
estabelecidas pelo aluno acerca do conteúdo. Um exercício de reflexão.
O conteúdo deve ser despertado dentro dele e não empurrado, é
necessário a relação dos conteúdos entre si e dos mesmos com a vida, com o
mundo. A globalização pede essa relação, mas ela só será possível se for
conseguido unir, o que se deseja ensinar com o que já se sabe para compreender
o que acontece no mundo.
O questionamento deve acontecer durante todo o tempo, o aluno deve ser
um indivíduo com a sua curiosidade aguçada para tudo que o cerca, deve
LXXI
questionar levantar hipóteses, buscar soluções, enfim ser estimulado a ser um
pesquisador.
3.5 - A PROVA COMO AVALIAÇÃO
Eliminar a prática da prova diante da sociedade competitiva em que se vive
hoje não seria a melhor saída. Nesse caso, a prova aparece como mais um meio
de avaliação e não apenas como o único.
A avaliação é necessária e fundamental para a melhoria da Educação.
Entretanto, as escolas não devem continuar agindo como meras máquinas de
etiquetar (com notas de zero a dez).
O professor precisa estar atento ao seu aluno oferecendo retorno em
função de qualquer produção apresentada pelo mesmo, independentemente da
qualidade dessa produção. Avaliar seu comportamento, saber como ele interage
com o grupo, verificar como esse aluno vê o mundo e estabelecer intervenções
quando necessário.
Acompanhar o aluno não é somente avaliar o que ele já alcançou como
conhecimento, mas também o que ele pode vir a alcançar. É preciso ter
consciência de que o sistema de avaliação aplicado em algumas instituições
públicas é falho e que existem outros caminhos que podem modificar essa
situação. Talvez essas considerações ainda não sejam a melhor forma em relação
à prática da avaliação, mas certamente servirão como reflexão para futuros
trabalhos.
O aluno merece ser avaliado de uma forma global, suas habilidades
devem ser levadas em consideração e tudo o que ele produzir precisa de uma
maior atenção. A sua idade, o seu estágio, o seu meio social e o estímulo dado
LXXII
pelo professor precisa ser repensado para que a prática pedagógica não cometa
erros e se perca no seu propósito maior que é formar indivíduos pensantes,
homens de bem, futuros governantes.
A prova só vai provar aquilo que o professor deseja que seja a sua
verdade. Uma prova tanto pode aprovar toda uma classe e nomear o professor
como o melhor, como também pode reprovar a classe inteira e tê-lo como
carrasco. Tudo vai depender de como ela foi elaborada, quais conteúdos e com
qual clareza o enunciado das questões foi realizado.
Assim, a prova como avaliação principal de um bimestre ou de uma
recuperação, é a forma mais dominante e cruel utilizada no processo de avaliação,
anulando todo o potencial de uma clientela que passa despercebida nas salas de
aula. Onde alguns são rotulados a mercê desta “vilã” como inteligentes,
preguiçosos, bagunceiros, dispersos, apáticos, excelentes, entre outros.
A verdadeira aprendizagem consiste na soma de transformações
operadas no aluno, com relação a forma de pensamento, linguagem técnica,
maneira de agir, atitudes, ideais e preferências, face às situações e problemas da
matéria ensinada.
O trabalho do professor será rendoso na medida em que tiver conseguido
que seus alunos alcancem aquisições definitivas quanto à maneira de
compreender e interpretar as situações específicas focalizadas por sua matéria e
resolver inteligentemente seus problemas reais, podendo interpretar seus
símbolos e utilizá-los corretamente na vida real e profissional.
A prova como único instrumento de avaliação não terá a capacidade de
provar o conhecimento que o aluno traz e aquele que ele adquiriu ao longo do
processo, também não poderá ser utilizada como fonte de seleção ou
classificação, visto que existem domínios incorporados ao indivíduo e que estão
LXXIII
além do papel, conhecimentos que não caíram nas questões da prova e que se
julga ser de extrema importância para a realidade de cada um.
Basta pedir que um aluno relate tudo o que aprendeu naquele bimestre
numa folha, será surpreendente observar que quem “estuda” apenas para passar,
ganhar nota, não saberá o que fazer e aquele que compreendeu e incorporou
saberá descrever com muita facilidade todo o conteúdo, alguns, até com grande
poder de síntese, outros com riqueza de exemplos.
Às vezes, os alunos “rotulados” como os mais inteligentes não sejam
exatamente aquilo que esse tipo de avaliação mostra, na grande maioria são
meros “reprodutores de conhecimentos”, o que satisfaz, em alguns casos, na hora
da correção por gabarito.
LXXIV
CONCLUSÃO
A partir do material pesquisado acerca do processo de avaliação é possível
concluir que a avaliação pode ser trabalhada dentro do espaço escolar de outra
forma.
Ensinar e aprender é acima de tudo, o exercício das possibilidades, dos
erros e dos acertos, das dúvidas eternas e das certezas temporárias. Portanto,
avaliar nada mais é do que olhar para trás, recuperar de alguma maneira o que foi
vivido e projetar mudanças, sempre que necessário.
A avaliação quantitativa gera a exclusão, limita a produção do
conhecimento do indivíduo, enquadra-o nos padrões coercitivos da nota. Essa
exclusão é gerada no sistema capitalista. A escola, portanto se torna um reflexo
da sociedade, perpetuando assim a exclusão.
Tudo se torna uma imensa bola de fogo. O conhecimento gira nesta bola
indo para nas mãos apenas de alguns. A exclusão e a lei do mais forte tem o
mesmo poder do fogo, e atinge a maioria das pessoas. Junto com o capitalismo
vem a globalização, junto com a globalização vem a exclusão que, como um
furacão, arrasa tudo que está pela frente.
A globalização com seu antagonismo, faz com que esse fogo gire mais
rápido destruindo chances e ilusões.
LXXV
“A globalização não apaga nem as desigualdades nem as
contradições que constituem uma parte importante do tecido
da vida social, nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve
umas e outras, recriando-se em outros níveis, novos
ingredientes”. (Ianni, 1992: 125)
LXXVI
Não se deve questionar o fato de avaliar ou não. A questão é como avaliar.
Não tentar eliminar o fenômeno, mas sim transformá-lo, abordá-lo em perspectiva
dialética. Usar a prova como único método de avaliação induz o aluno à
subordinação. É um método de coação que provoca medo e terror na maioria dos
educandos.
Avaliar o aluno por inteiro seria o mais adequado. Avaliar seus escritos,
suas intervenções verbalizadas na sala de aula, seus erros, sua atenção, seus
êxitos, enfim, sua caminhada. Caminhar junto com ele e também aprender com
ele. “A educação autêntica (...), não se faz de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”,
mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo” (Freire, 1983 : 98).
A escola sendo um espaço de erros e acertos foge muitas vezes do seu
verdadeiro papel que é através dos erros obter os acertos e não através dos erros
obter vergonha, bloqueio e “decoreba”. Talvez com tudo isso não se mude a
sociedade, não se mude a escola, mas certamente alguma coisa estará se
transformando.
Refletir não tão somente quanto aos meios e critérios de avaliação, mas
como ele é empregado e visto pelo educador. Saber aproveitar os erros
analisando as etapas para conseguir compreender o todo e saber como concertar,
é uma tarefa que se tem pela frente.
Mas não se pode desistir de mudar, somente estudando, lendo, refletindo e
discutindo que se poderá mudar a consciência de quem educa e daqueles que
buscam a educação.
LXXVII
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência – O dilema da Educação. 5a
ed.,São Paulo. Edições Loyola, 2001.
BOSSA, Nadia A . A Psicopedagogia no Brasil – Contribuições a partir da
prática. 2a ed., Porto Alegre. Editora Artmed, 2000.
CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem.18a ed.,
Petrópolis. Editora Vozes, 1986.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática
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TIBA, Içami. Ensinar aprendendo – como superar os desafios do
relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. 9a ed., São
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LXXVIII
BIBLIOGRAFIA CITADA BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. Coleção Primeiros Passos.
São Paulo. Brasiliense, p. 73-97, 1981.
IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1992. DALBEN, Angela I. B de F. Reprovação/ avaliação/ escola plural. Educação em
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Cortez, 1994. Prática Docente e avaliação. Rio de Janeiro. ABT, 1990. CATAPAN, Araci H. Avaliação: mito ou cultura escolar. Revista Dois Pontos.
Belo Horizonte, n. 34 p. 33-8, set/ out.. 1997. HAYDT, Regina C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São
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LXXIX
Anexos
LXXX
ÍNDICE AGRADECIMENTO III DEDICATÓRIA IV RESUMO V METODOLOGIA VI SUMÁRIO VII INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A ESCOLA COMO REFLEXO DO CONTEXTO SOCIAL 10 CAPÍTULO II AVALIAÇÃ0-EXCLUINDO NA ESCOLA E NA SOCIEDADE 15 2.1. AVALIAÇÃO IGUAL A DIAGNÓSTICO 18 2.2. A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR 19 2.3. AVALIAÇÃO X AUTORITARISMO 20 2.4. A PROVA COMO ÚNICA FORMA DE AVALIAÇÃO 22 CAPÍTULO III ALTERNATIVAS PARA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO 27 3.1. A PRIMEIRA AVALIAÇÃO 31 3.2. AVALIAÇÃO ESCRITA 31 3.3. AVALIAÇÃO ORAL 32 3.4. A PROVA COMO AVALIAÇÃO 33 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
LXXXI
BIBLIOGRAFIA CITADA 39 ANEXOS 40
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
LXXXII
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Título da monografia:
__________________________________________________________________
____________________________________________________________
Data da entrega: _________________________________________________
Avaliado por: _________________________ Grau ______________________
Rio de Janeiro ______ de ________________ de 2002.
Coordenador do curso.