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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A LUDOTERAPIA E O ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI Por: Tânia Mara M enezes Vieira Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A LUDOTERAPIA E O ADOLESCENTE EM CONFLITO

COM A LEI

Por: Tânia Mara Menezes Vieira

Orientador:

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A LUDOTERAPIA E O ADOLESCENTE EM CONFLITO

COM A LEI

Este trabalho atende a complementação didático

pedagógica de metodologia da pesquisa e a

produção e desenvolvimento de monografia para o

curso de pós-graduação em Psicologia Jurídica.

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AGRADECIMENTOS

Às amigas e companheiras de curso

Maria Helena, Nazareth e Sílvia pelos

momentos agradáveis, estendo a

seguinte reflexão:

“Ainda que a figueira não floresça, nem

haja fruto na vida. O produto da oliveira

minta, e os campos não produzam

mantimento as ovelhas sejam

arrebatadas do aprisco, e nos currais

não haja gado, todavia, eu me alegro

no Senhor, exulto no Deus da minha

salvação. O Senhor Deus é a minha

fortaleza, e faz os meus pés como os

da corça, e me faz andar

altaneiramente” (Hc 3.17-19).

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia aos meus filhos,

Rafael Martins Felício Júnior, Víctor César

Rafael Martins Felício, Bruno Rafael

Víctor César Martins Felício, Geraldo

Bruno Rafael Víctor César Martins Felício

meus primeiros alunos na universidade da

vida.

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EPÍGRAFE

“Agora eu era o herói e o meu cavalo só

falava inglês.

A noiva do cowboy era você, além das

outras três.

Eu enfrentava os batalhões, os alemães e

seus canhões.

Guardava o meu bodofere, e ensaiava o

rock para as matinês.

Agora eu era o rei, era um bedel e era

também juiz.

E pela minha lei, a gente era obrigado a

ser feliz...”

Chico Buarque

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RESUMO

Descobrir seus caminhos, testar a si próprios, deixar revelar sua

personalidade, tomar a responsabilidade de seus próprios atos – isto é o que

acontece nos momentos lúdicos, nos jogos, nas brincadeiras.

Abordamos nos primeiros capítulos a importância das brincadeiras, num

enfoque didático, dimensionando a ludoterapia como atividade que pode

oferecer às crianças e aos adolescentes em conflito com a lei uma

oportunidade dos mesmos resolverem seus problemas, aprender a conhecê-

los, aceitá-los como são e amadurecer através das múltiplas experiências.

Refletimos também sobre a história da recreação que teve sua origem

na pré-história.

Ela compreende todas as atividades espontâneas prazerosas e

criadoras e que atendem aos interesses das diversas faixas etárias.

Finalmente, no último capítulo abrangemos a ludoterapia para além do

laser, da diversão, mas também, no tocante à criatividade lúdica no ensino para

prática com textualizado aos objetivos de estímulo à criança e adolescente em

conflito com a lei a desenvolver sua criatividade. Por uma aprendizagem

eficiente.

Contribuímos ainda, com a ilustração de uma seqüência de jogos

dinâmicos que podem auxiliar a implementação das atividades.

Nesse sentido fica evidenciado que o corpo, através das múltiplas

expressões, estimulados no desenvolvimento das capacidades físicas naturais,

através do movimento que o lúdico proporciona, pode fazer falar suas

subjetividades e sua saúde como “uma situação de completo bem-estar físico,

mental, social e espiritual”.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa aqui destacada, privilegiou-se uma

investigação com procedimentos bibliográficos, calcados em autores cuja

abordagem privilegiasse a criança e o adolescente em conflito com a lei

tangenciando uma interseção no tocante à ludoterapia face a esse sujeito.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS (LÚDICO)

PARA AS MÚLTIPLAS HABILIDADES 12

CAPÍTULO II – BRINCAR, UMA ABORDAGEM DIDÁTICA 14

CAPÍTULO III – HISTÓRICO DA RECREAÇÃO 20

CAPÍTULO IV – LUDOTERAPIA E CRIATIVIDADE NO

ENSINO PARA A PRÁTICA 24

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA 31

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho trará uma abordagem sobre a importância da

ludoterapia, jogos, brincadeiras na vida da criança e do adolescente em conflito

com a lei institucionalizados. O que considero importante ou fundamental é

descobrir se o ato infracional cometido pelo infante seria elemento

determinante da subtração de alguns direitos tais como; seus momentos

lúdicos?

No Estatuto da Criança e do Adolescente, os tais são concebidos como

pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção

integral. Atividades como as descritas acima poderão contribuir a que a criança

e o adolescente em conflito com a lei tornem-se capazes de olhar

honestamente para si próprios, se aceitarem e elaborarem um ajustamento

construtivo à difícil realidade em que vivem.

“A condição peculiar de pessoa em desenvolvimento coloca aos agentes envolvidos na operacionalização das medidas sócio educativas a missão de proteger, no sentido de garantir o conjunto de direitos e educar oportunizando a inserção do adolescente na vida social. Esse processo se dá a partir de um conjunto de ações que propiciem a educação, profissionalização, saúde, lazer e demais direitos assegurados legalmente”. (VOLPI, 2005, p.14)

A ludoterapia pode ser um instrumento que viabilize o restabelecimento

das relações da criança e do adolescente com o próprio corpo(asseio, higiene,

etc.) das manifestações de afetividade, promover trocas sociais, valorizar o

gênio, reconstruir o direito e a capacidade de uso de objetos pessoais;

reconstruir o direito e a capacidade de palavra, através de jogos e brincadeiras.

Estaremos descrevendo passo a passo alguns jogos dinâmicos.

A questão que estamos propondo está intimamente relacionada à

capacidade de escutar, sentir, estabelecer encontros com os seus pares cujo

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10ato terapêutico pode contribuir à consolidação ou restituição de relações que

produzem subjetividades em sua fala e expressão, independente de qualquer

interpretação psicodinâmica.

A prática ludoterápica é um campo de invenção, de potência, de

vitalização de energias produzido pela sensibilidade, afeto, desejo e vínculos

humanos, uma vez que a ludoterapia possui um caráter de vivências de

relações intersubjetivas do processo educativo e por isso socializador. Nesse

contexto o infante1 em conflito com a lei pode perceber-se como pessoa

conquistando visibilidade na sociedade. Pode vir a perceber o mundo como

tendo um lugar para ele, além do lugar que ele já conhece – lugar de interno.

Posto à margem da sociedade e da rotina de vida e ansiando pela sociedade e

pela vida, pode um infante em conflito com a lei suportar a temporalidade (a

não ser com irritação e violência)?

A participação nos jogos, no lúdico, no lazer, na recreação, pode ser um

momento de vivenciar experiências agradáveis numa situação de interação em

que existe a possibilidade do respeito mútuo, da troca e da cooperação,

contribuindo para que a medida sócio educativa possa ser vivida de maneira

mais humana.

O agente ou aquele que coordena essas experiências dentro desse

regime e que percebe o desenvolvimento de muitas habilidades chama a

atenção à consciência de que as crianças e adolescentes têm ou devem ter da

importância do lúdico no favorecimento da sociabilidade. Além disso essa

conduta psicopedagógica oferece a possibilidade de se resgatar experiências

que não puderam ser vividas em momentos anteriores. Essa dinâmica pode

ajudar orientadores a perceberem os dotes de personalidade que existem em

cada criança?

O que pode ser feito para ajudá-los a se ajudarem?

Há um método de ajudar tais crianças a vencer suas dificuldades e

construir seu ajustamento pessoal? Este método é chamado ludoterapia.

1 Que está na infância. Criança. (Dicionário Buarque de Holanda)

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11Com essas perguntas, busca-se pensar sobre essas e outras questões

relacionadas à importância da ludoterapia, jogos e brincadeiras na vida criança

e do adolescente em conflito com a lei.

A partir da teoria de Winnicott e Vygotsky o trabalho foi desenvolvido no

seguinte formato.

No capítulo I refletir-se-á sobre a importância das brincadeiras para as

múltiplas habilidades.

No capítulo II estaremos abordando sobre o brincar, uma abordagem

didática.

No capítulo III nortearemos a reflexão sobre a história da recreação e no

capítulo IV refletiremos a cerca da ludoterapia e criatividade no ensino para a

prática. Neste último, estarão constantes, subtópicos que se desdobram no

sentido de auxiliar na dilatação das questões.

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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS (LÚDICO) PARA

AS MÚLTIPLAS HABILIDADES

Na infância, a atividade lúdica se confunde com a própria vida.

Brincadeira e saúde tornam-se sinônimos; pela definição da Organização

Mundial de Saúde (OMS) podemos constatar essa veracidade.

“Saúde é uma situação de completo bem-estar físico, mental, social e

espiritual”.

Quando uma criança para de brincar logo asseveramos: “Alguma coisa

está errada. Deve estar doente!”

Para Winnicott a brincadeira é universal e é própria da saúde: o brincar

facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos

relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação.

As brincadeiras facilitam o crescimento corporal, de força e resistência

física, de coordenação percepto motora. Propiciam ainda a socialização pelo

exercício de vários papéis sociais(com as suas normas de conduta) e pela

formação de lealdades sociais (com os seus aspectos morais). Contribuem

para a vida afetiva, pela satisfação encontrada na atividade voluntária e pelo

alívio de tensões que permitem um clima de aprovação, bem como pelos

sentimentos estéticos que despertam. Encorajam o desenvolvimento intelectual

por meio do exercício da atenção e da imaginação (o faz-de-conta) e também

pelo uso progressivo de processos mentais mais complexos (como

comparação e discriminação) e pelo estímulo à imaginação favorecem o

domínio de habilidades de comunicação, nas suas várias formas (oral, postural,

gestual, gráfica, artística etc), facilitando a auto-expressão.

Ajudam a descoberta do “eu” e do outro(social e cultural) contribuindo

para a difícil construção da identidade pessoal.

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“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação... Certas condições se fazem necessárias, se é que se quiser alcançar sucesso nessa busca. Essas condições estão associadas àquilo que é geralmente chamado de criatividade. É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (WINNICOTT, 1975, p.79).

O que importa é que, através das técnicas ludoterápicas possam

descobrir-se na sua identidade e nos seus valores e nos grupos aconteçam

formas mais humanas e construtivas de convivência. “O “eu” e o “tu” reclamam,

como exigência fundamental do homem, a síntese do nós” (ANDREOLA, 2001,

p.12).

O clima de participação, cooperação e responsabilidade são

fundamentais as técnicas devem estar em função deste clima e sem ele viram

agitação e dispersão. Às crianças e aos adolescentes em conflito com a lei

pode ser oferecido através dos jogos, da dinâmica lúdica a experiência da

mudança no relacionamento, na forma de comando, na liderança, na

comunicação, na auto imagem, na descoberta de si, etc...

As atividades lúdicas também podem oportunizar o infante, sujeito de

direitos, a canalizar o impulso competitivo para atividades construtivas e

integradoras: um “ganhar” de uma parte e um “perder” da outra que significam

avanço, ganho, crescimento de todas as partes como um todo; a educar o

impulso competitivo para a solidariedade e a cooperação; a tornar concretos os

conteúdos abstratos de temas e disciplinas a estudar, inserindo-os no contexto

dos interesses e da vida dos participantes.

“... a participação do outro na Constituição do sujeito com o mundo só é possível, através da mediação de um outro sujeito: o caminho do objeto para a criança e da criança para o objeto passa por outras pessoas” (VYGOTSKY, apud WERNER, 2001, p.77).

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CAPÍTULO II

BRINCAR, UMA ABORDAGEM DIDÁTICA

O ato de brincar está ligado a movimento. Vida é movimento. A ação

educativa quer seja motora, afetiva, social ou cognitiva, se utiliza do

movimento. A educação física por exemplo pode ser um valioso auxiliar no

processo educacional por desenvolver, facilitar e reforçar a aprendizagem

escolar. A ludoterapia através dos movimentos de correr, arremessar, pular faz

interface com esta disciplina e com outras. Neste tocante a coletânea sobre

legislação pertinente à Educação Física curricular e ao Desporto Escolar-

Coordenação de Educação Física – SEE – RJ, preconiza: deverá ser orientada

no sentido de oportunizar aos alunos o conhecimento e a experimentação de

todos os movimentos naturais(andar, saltar, correr, lançar...) em diferentes

situações e de forma lúdica, de modo a favorecer e consolidar o domínio

primário do corpo e a relação deste com o ambiente e com os companheiros.

Uma das finalidades da nossa Lei de Ensino é o “desenvolvimento das

potencialidades do educando” e a criança e o adolescente em conflito com a lei

que cumprem medida sócio-educativa concebidos como pessoas em

desenvolvimento, na sua condição de sujeitos de direitos, ainda que implicados

em situação de privação de liberdade precisam que os agentes envolvidos

nesta relação norteiem suas ações com atividades que levem esses indivíduos

concomitantemente a explicitar as suas virtualidades e a encontrar-se com a

realidade para nela atuar de maneira consciente e responsável, a fim de serem

atendidas as necessidades e aspirações pessoais e sociais. Dimensões como

a da saúde física e emocional, conflitos inerentes à condição de pessoa em

desenvolvimento e aspectos estruturais da personalidade precisam ser

considerados nesse drama do crescimento em grupo ou fora dele.

“...através de ludoterapia e terapia de grupo bem orientadas, jovens deformados e desajustados tornam-se capazes de olhar honestamente para si próprios, de se aceitarem e de

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15elaborarem um ajustamento construtivo à difícil realidade da qual vivem. Mostra como bonecas, fantoches, mamadeiras de brinquedo, revólveres, massa de modelagem, tinta e água podem tornar-se participantes ativos nesse drama do crescimento” (AXLINE, 1980, p.12).

Pode parecer que atividades com preponderância de jogos e recreação

não contribua para o vencimento de obstáculos que abrangem os processos

formativos, mas o histórico da recreação que tem sua origem na pré-história

traduz o contrário.

“A recreação teve a sua origem na pré-história quando o homem primitivo se divertia festejando o início da temporada de caça, ou a habitação de uma nova caverna. Essa manifestação da vida humana se transformou em danças primitivas de caráter de adoração, rituais fúnebres, invocação dos deuses, com o aspecto recreativo de alegria e vencimento de um obstáculo. As atividades sociais dos adultos representados pelos jogos coletivos de culto religioso, foram divulgadas de geração em geração pelas crianças em forma de brincadeiras.” (GUERRA, 1984, P. 11).

A abrangência dos processos formativos que se desenvolvem na vida

familiar, na convivência humana, nas instituições de ensino etc... auxiliados

pela ludoterapia, jogos, não implicado num passatempo estéril, pode servir

para atender aos interesses individuais, às necessidades biopsicossociais e

lúdicas da criança, de acordo com suas possibilidades nas faixas etárias.

“Num primeiro momento a criança participa de jogos simples(motores, sensoriais) para, à medida que se desenvolve física e psiquicamente, aceitar o processo de ajustamento ao meio – grupos de dois, cinco ou mais elementos – que lhe permite participar de jogos mais complexos”. (JOHANN, 1983, apud SOUZA,1996, p.7).

Souza, em seu Módulo Único, recreando e aprendendo, lançado pela

Fundação Brasileira de Educação – FUBRAE faz citação de algumas

características cognitivas, afetivas e sociais que poderão ser explorados em

diversos procedimentos: movimentos naturais (são atividades que tem por

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16finalidade principal a educação das necessidades primárias de movimentos da

criança; andar, saltar, correr, galopar, arremessar, rolar, lançar, saltitar, etc. e

os jogos).

Souza, cita a avaliação dessas características. Características da

criança de 7 a 11 anos:

a) Características de 7 a 8 anos.

Características Físicas

- Coordenação entre a vista e a mão ainda é incompleta, porém de

franco desenvolvimento.

- Grande necessidade de movimento.

- Os grandes ossos se endurecem.

- As vértebras e os ligamentos vertebrais são relativamente maleáveis.

- Musculatura mais desenvolvida.

- Cansa-se com facilidade.

Características Cognitivas

A interiorização das percepções e os movimentos se produzem em

forma de imagens representativas e de experiências.

A idade dos 7 anos marca um ponto decisivo no desenvolvimento

mental, se inicia a etapa do pensamento operatório, porém não se

desliga dos dados concretos e a manipulação de objetos sobre os

quais deve raciocinar para obter uma resposta. Há um maior

desenvolvimento da memória, capacidade para compreender e formar

conceitos, compreender as relações entre eles.

Consegue uma imagem mais realista do mundo porque tem uma

capacidade de percepção analítica e de maior observação.

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17Reconhece as posições direita – esquerda; a frente – atrás do objeto

em relação a si mesmo e reconhece as posições direita e esquerda das

pessoas.

Características afetivas / sociais

Repete os jogos nos quais consegue êxito.

Possui grande sentido de imitação e é curioso acerca do mundo que o

rodeia.

Os jogos de dramatização alcançam seu máximo desenvolvimento.

Deseja atuar por si mesmo e não aceita facilmente conformar-se.

Ambiciona responsabilidades escolares, porém teme não poder realizá-

las porque se sente inseguro.

Melhora suas relações com o mundo, porém se dá conta da distância

que o separa do adulto.

Seus interesses se concentram no presente: aceita as coisas imediatas

e não se interesse tanto pelas explicações e razões.

Os jogos coletivos com predomínio motor ocupam um lugar relevante.

Estes jogos lhe levam à compreensão de uma norma aceita por todos,

reconhecimento importante do seu desenvolvimento social.

b) Características de 9 a 11 anos

Características Físicas:

À medida que avançam neste período se observa um grande

crescimento físico que continua até a adolescência.

Existe um maior crescimento do tecido muscular.

Evidencia-se um aumento de resistência força e velocidade.

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18Os hábitos posturais variam.

A coordenação é boa.

O tempo de reação melhora.

Manifesta-se gradualmente o antagonismo entre meninos e meninas.

As atividades violentas e rudes são preferidas por ambos, sendo que

no final do período 10 para 11 anos as meninas mostram-se mais

graciosas e melindrosas.

Características Cognitivas

Alcançam maior perfeição nos mecanismos do pensamento antes

alcançados.

É capaz de abstrações a partir de situações concretas; conhecer

atuando e vendo atuar. O progresso no raciocínio lógico-concreto

coincide com uma linguagem cada vez mais apta para a compreensão

e discussão deixa de confundir realidade concreta e fantasia; não

obstante gosta de exercitar sua imaginação no jogo mental “como se”.

Tem capacidade de manter a atenção por um tempo prolongado.

Características Afetivas / Sociais

Nesta etapa se manifesta um forte sentido de rivalidade e desejo de

reconhecimento.

Aumenta a atitude de independência aliada ao desejo de ajudar e de

sentimentos generosos.

Necessitam de autoridade, regulamentos e leis.

Então sempre em competição, quer seja física ou mental.

Interessam-se por todos os problemas da atualidade.

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19Dialogam, discutem, criam polêmica sobre eles.

Observam-se características de equilíbrio, segurança e domínio, no

entanto, ainda sofrerá explosões brutais e curiosas, flutuações entre

comportamento infantil e adulto.

Julgam, do seu ponto de vista a conduta dos maiores.

Apresentam capacidade para:

- Manterem-se em grupo com conduta solidária, ligados por um

mesmo fim;

- Organizam responsavelmente atividades grupais;

- Assumem atitudes de respeito frente a seus companheiros, regras

do jogo e decisões do árbitro;

- Compartilham experiências de vida comunitária.

Longe de esgotar as múltiplas subjetividades da criança e do

adolescente esta breve contribuição de Souza mostra-nos que os jogos e o

lúdico são para as crianças um procedimento fundamental, pois é para elas

uma atividade gratuita, desafiante, motivante e de múltiplas soluções levando à

participação ativa e à tomada de decisões.

Parece que, quer sejam brincadeiras assistemáticas(que surgem

espontaneamente das crianças ou sistematizadas(direcionadas para um fim) o

fim último é contribuir para a educação integral da criança, por meio da prática

de atividades físicas racionais e variadas, de acordo com suas necessidades

biopsicofisiológicas. “...embora as brincadeiras organizadas, orientadas para

um determinado fim sejam importantes, as brincadeiras livres também o são.”

(SOUZA, 1996, p.8).

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CAPÍTULO III

HISTÓRICO DA RECREAÇÃO

De acordo com a autora do livro Recreação e Lazer, publicado no ano

1984, Marlene Guerra, o movimento de recreação sistematizada iniciou na

Alemanha em 1774, com a fundação do Philantropinum por J.B.Basedow,

anteriormente professor de uma escola de nobres na Dinamarca, onde ficará

impressionado com a concepção de ensino em que as atividades intelectuais

ficavam lado a lado com as atividades físicas praticados na época: equitação,

lutas, corridas, esgrima.

O método de ensino dinamarquês, mais a leitura de Emílio de Jean

Jacques Rousseau influenciaram sobremaneira Basedow para a fundação do

Philantropinum.

O currículo dessas instituição consistia de cinco horas de matérias

teóricas, duas horas de trabalhos manuais e três de recreação, incluindo a esta

última a esgrima, a equitação, as lutas, a caça, a pesca, excursões e danças.

A concepção basedowiana de ensino ameno e recreativo previa a

preponderância dos jogos para os primeiros anos escolares e a preparação

física e mental para as classes maiores.

Simon, seu colaborador foi o primeiro a imaginar e agrupar os exercícios

de acordo com a faixa etária dos alunos.

Os discípulos de Basedow foram: Cristiano Salzmann, Guths Muths, F.

Ludwig John e Adolf Spiess, na Alemanha; Pestalozzi e Felleberg, na Suíça;

Machtegal na Dinamarca e Ling na Suécia.

A contribuição de Froebel foi com a criação dos jardins de infância (ou

parques de recreio) onde as crianças brincavam na terra. Nos jogos, a

utilização de material variado, valoriza a recreação na Alemanha.

Nos Estados Unidos, o movimento iniciou em Boston, com a criação de

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21jardins de areia para as crianças pequenas se recrearem com o correr do

tempo, as atividades ali praticadas não ofereciam condições de atender os

frequentadores de 12 a 15 anos, que acompanhavam os irmãos menores.

Novas diversões deveriam ser criadas e locais maiores para que os jogos e a

ginástica fossem praticados.

Os parques infantis foram transferidos para os prédios escolares,

denominados de Playgrounds ou pátios de recreio. O primeiro com os mais

variados equipamentos e instalações, áreas de jogos, aparelhos de ginástica e

caixa de areia, foi o Hull House de Chicago. Os playgrounds, passaram a ser

convividos por adultos e crianças e as atividades as mais variadas. Nos bairros

de Chicago, foram criados parques recreativos, onde o atletismo e a ginástica

eram praticados alguns meses do ano. E para atender às pessoas de todas as

idades foram adquiridos Centros Recreativos com seus playgrounds em

funcionamentos durante todo o ano. Os outros eram casas campestres, com

salas de reuniões, teatro, clubes, bibliotecas e refeitórios. Para a recreação

interna havia os ginásios de ambos os sexos, com banheiros e vestiário com

armários. Para as atividades externas funcionavam os playgrounds infantis com

balanços, gangorra, escorregador, caixa de areia, quadra de jogos, campo de

esportes e piscina. E, para orientar as atividades, havia líderes especialmente

treinados.

Foi criado um órgão responsável pela recreação, o Playground

Association of América, hoje mundialmente conhecida por National Recreation

Association.

O valor da recreação aumentava, e com ela a necessidade de incluir

programações que satisfizessem ao público jovem e adulto. Por isso o termo

playground teria que mudar para “Recreação”, definindo um conceito mais

amplo de brincadeiras para as crianças e outras atividades para os adultos.

No Brasil, a criação de praças públicas iniciou no Rio Grande do Sul,

sendo o seu fundador o Prof. Frederico Guilherme Gaelzer. No “Alto da Bronze”

(Praça Gen. Osório), foram improvisadas as mais rudimentares aparelhagens.

Pneus velhos, amarrados às árvores, constituíam um excelente meio de

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22recreação para a garotada.

Apareceram as praças de Educação Física, sob a orientação de

instrutores, pois não havia professores especializados. Estas praças estavam

subordinadas ao antigo Departamento de praças e jardins, atualmente o

Serviço de Recreação Pública, tendo como primeiro chefe o Prof. Gaelzer. Aos

poucos surgiram novas praças, parques e mais tarde os Centros Comunitários

Municipais.

O Prefeito Telmo Thompson Flores, juntamente com o Secretário

Municipal de Educação e Cultura Prof. Frederico Lamacchi Filho, deram novo

cunho à recreação, com a implantação do “Projeto RECOM” (Recreação-

Educação-Comunicação). Porto Alegre é a pioneira de projeto dessa natureza,

que tem o objetivo de levar às vilas e bairros da Capital a cultura, o

aproveitamento sadio das horas de lazer e a integração do homem na sua

comunidade.

O RECOM funcionava como uma Tenda de Cultura e um Carrossel de

Cultura, ambos desmontáveis e de fácil transporte. A Tenda é uma casa de

espetáculos, feita de lona plástica. Comporta uma lotação de 250 pessoas

sentadas e serve para a projeção cinematográfica e teatro. A Tenda passou a

oferecer outras programações diárias tais como:

- Atividades de biblioteca com leitura e interpretação.

- Atividades dramáticas com jogos dramáticos e teatrais.

- Atividades em artes plásticas, pintura e desenho.

Com o mesmo objetivo da Tenda, foi criado o Carrossel de Cultura

destinado a espetáculos ao ar livre. É um palco giratório com duas faces: uma

serve de cenário enquanto a outra é preparada para o ato seguinte. O material

técnico é constituído de três amplificadores, tapedec, seis planos sonoros e

quarenta refletores.

Enfim, o destaque está para a Alemanha, que introduziu nas escolas a

recreação (o lúdico) e criou os parques infantis. Os Estados Unidos que

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23revolucionou a recreação pública com os playgrounds totalmente equipados. E

o pioneirismo do Rio Grande do Sul na implantação do “projeto RECOM” com a

recreação móvel.

Dessa narrativa histórica o que se depreende é que, quer seja na

perspectiva internacional ou nacional, o sentido dos movimentos era a inter-

ação, inter-câmbio, “diálogo”, “comunicação” (Freire). Nesse sentido ao se

propiciar um ambiente em que um indivíduo possa proceder esta troca sob

melhores condições vem ao encontro do sentido primeiro da ludoterapia.

“... descrita como uma oportunidade que se oferece à criança de poder crescer sob melhores condições. Sendo o brinquedo seu meio natural de auto-expressão lhe é dada a oportunidade de, brincando, expandir seus sentimentos acumulados de tensão, frustração, insegurança, agressividade, medo, espanto e confusão.Libertando-se de desses sentimentos através do brinquedo, ela se conscientiza deles, esclarece-os, enfrenta-os, aprende a controlá-los, ou os esquece. Quando ela atinge uma certa estabilidade emocional, percebe sua capacidade para se realizar como um indivíduo, pensar por si mesma, tomar suas próprias decisões, tornar-se psicologicamente mais madura e, assim sendo, tornar-se pessoa” (AXLINE, 1980, p.21).

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CAPÍTULO IV

LUDOTERAPIA E CRIATIVIDADE NO ENSINO PARA A

PRÁTICA

Aprendizagem e desenvolvimento humano constituem os assuntos

fundamentais da Psicologia Educacional, a qual auxilia o profissional técnico

em sua função educativa.

Não se trata de oferecer receitas prontas. O profissional lida com

indivíduos concretos, cada qual com sua história singular. A busca do

conhecimento da realidade vivenciada pelos sujeitos pode nortear caminhos

que promovam uma aprendizagem eficiente e criativa. A ludoterapia pode ser

um instrumento eficaz na promoção da aprendizagem da criança e do

adolescente em conflito com a lei.

E o que é Aprendizagem?

Aprendemos durante toda a vida, nas mais diversas situações. O

conceito de aprendizagem apresenta variações em suas definições.

“Aprendizagem é a progressiva mudança do comportamento que está ligada, de um lado, a sucessivas apresentações de uma situação e, de outro, a repetidos esforços dos indivíduos para enfrentá-la de maneira eficiente.” (McCONNELL apud PILETTI, 1984, p. 32).

De acordo com um outro autor, Gagné, aprendizagem pode se

entendida sobre outro enfoque.

“A aprendizagem é uma modificação na disposição ou na capacidade do homem, modificação essa que pode ser anulada e que não pode ser simplesmente atribuída ao processo de crescimento.” (PILETTI, 1984, p. 32).

Dentre as definições elencadas podemos perceber que alguns

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25vocábulos tais como “mudança”, “modificação” encerram o termo, pois que:

Aprendizagem é mudança de comportamento. Quando repetimos

comportamentos já realizados anteriormente, não estamos aprendendo. Só há

aprendizagem na medida em que houver uma mudança no comportamento.

O mais importante é que o material a ser apreendido tenha significado

pessoal para o indivíduo.

“O material sem sentido exige dez vezes mais esforço para ser aprendido do que o material com sentido e é esquecido muito mais depressa” (PILETTI, 1984, p. 58).

Daí, depreende o entendimento de que o material lúdico, as atividades

que envolvem jogos, brincadeiras necessitarem de contextualização dos seus

objetivos.

4.1. Para além da Passividade - Por uma Aprendizagem Criativa

A promoção da educação, seja familiar, institucional, etc. deve favorecer

a criatividade do indivíduo, banindo o conformismo, a passividade e a imitação

e a repetição do que os outros fazem. O orientador, dinamizador ou facilitador

frente a relação com a criança e o adolescente em conflito com a lei pode ou

deve apresentar sugestões para estimular a criatividade.

Mas, o que é Criatividade?

No Dicionário Prático da Língua Portuguesa encontramos o vocábulo

Criatividade derivado do verbo Criar que significa:

Dar existência a; Dar origem a; Imaginar; Nascer.

Pelas definições vemos que um comportamento criativo, funda o novo.

Para Piletti a primeira característica da criatividade, e talvez a mais

importante é a novidade.

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“Uma idéia, um objetivo, um comportamento são criativos na medida em que são novos. Essa novidade pode referir-se tanto à pessoa que cria, quanto ao conhecimento existente naquele momento” (PILETTI, 1984, p. 105).

Como estimular o indivíduo a desenvolver sua criatividade?

Parece que, promovendo a originalidade, a apreciação do novo, a

inventividade, a curiosidade e a pesquisa viabilize o estímulo ao exercício das

idéias mesmo as mais fantasiosas.

4.2. Por uma Aprendizagem Eficiente

Dentre muitos aspectos da aprendizagem, o de contribuir para a

realização pessoal pode ser o principal motivo para a busca de uma

aprendizagem eficiente.

E o que significa, aprendizagem eficiente?

Piletti assim define: “Significa aprender melhor, em menos tempo, e

esquecer mais devagar ou mesmo nunca esquecer”. (PILETTI, 1984, p. 132).

Existem inúmeros fatores que contribuem para aumentar o rendimento

da aprendizagem, dentre os quais destacamos a prontidão para aprender e o

ensino para a prática.

4.2.1 – Prontidão para Aprender

Para exposição deste tópico urge abordar sobre a maturação do

organismo que envolvem aspectos como alimentação, motivação entre outros.

A prontidão compreende fatores básicos: a maturação orgânica, grau de

motivação etc...

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27A maturação compreende aspectos de natureza física, ligados ao

desenvolvimento do organismo. Não adianta querer ensinar alguma coisa à

criança antes da hora: cada criança tem sua própria hora para aprender a

andar, a falar, a ler, etc... O melhor momento para iniciar uma aprendizagem

ocorre quando a criança atinge o nível de maturação apropriado. Isto é válido

também na ludoterapia, em consonância com as faixas etárias e jogos

compatíveis com essa maturação.

Para Piaget, o desenvolvimento é o processo de equilibração constante,

através da construção de estruturas variáveis, visando à adaptação do

indivíduo ao mundo exterior, por meio da assimilação e da acomodação. Os

principais períodos do Desenvolvimento mental são:

a) Período sensório-motor (0-2 anos);

b) Período pré-operacional (2-7 anos);

c) Período das operações concretas (7-12 anos);

d) Período das operações formais (depois dos 12 anos).

Alguns jogos podem contribuir para a socialização, de acordo com

Souza, obedecendo aos estágios de desenvolvimento operacionais do

indivíduo. Exemplos de jogos:

o Troca de Lado

- Dois grupos, um de frente para o outro.

- Ao sinal é feita a troca dos grupos. O grupo vencedor será

aquele que alcançar primeiro o lado oposto, sentando

imediatamente.

Variações:

- A posição de saída: grupo, de costas, deitado.

- O modo de locomoção: pular num ou em dois pés, caranguejo,

coelhinho, dois a dois.

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28o Troca de Lugar

- Formar um círculo. No centro fica um pegador. Cada aluno

recebe um número.

- O professor chama dois números e os alunos deverão trocar de

lugar. Durante a troca o pegador tenta pegá-los. Se conseguir

pegar um dos dois, haverá troca entre o pegador e o pegado.

A motivação também concorre para uma aprendizagem eficiente. Se não

quer aprender, não adianta estar amadurecido e ter experiências anteriores

favoráveis: a motivação é básica na aprendizagem.

4.2.2 – Ensino para a prática

Quais as perspectivas de um indivíduo que estudou engenharia civil sem

nunca ter feito cálculos? E as de quem estudou bioquímica sem jamais ter

entrado em um laboratório?

Este aspecto se refere à utilidade da aprendizagem. Quando o que se

aprende tem uma utilidade prática aprende-se mais depressa e, enquanto a

aprendizagem for utilizada, não será esquecida.

Sawrey e Telford sugerem alguns procedimentos práticos no sentido de

dar maior significação a aprendizagem:

- Incentivo à formulação de exemplos concretos das regras e

princípios gerais.

- Ressalto às razões da aprendizagem, mostrando sua utilidade etc...

Na verdade, a aprendizagem que depende de reforços ou recompensas

externos é sempre menos eficiente. A motivação mais eficiente para a

aprendizagem é a que vem de dentro do indivíduo, de seu desejo espontâneo

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29de aprender, de sua curiosidade natural, de seu impulso para o crescimento.

A maior parte dos assuntos de Psicologia Educacional é abordada no

sentido de procurar promover a mudança da atividade escolar, institucional,

etc... com vistas ao desenvolvimento espontâneo e integral do aluno, o que,

certamente, estimulará sua participação na transformação da sociedade.

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CONCLUSÃO

Pensar criança e adolescente, e não importa que as mesmas estejam

em conflito com a lei ou não, faz reviver em nossas memórias de infância, a

brincadeira do “faz-de-conta” em que nos transportávamos de um mundo

mágico, vivendo histórias fantásticas; um simples pedaço de pano, vira cabelo

de boneca; um cabo de vassoura, vira espada ou cetro e um farrapo, o manto

de um rei. Porque brincar é coisa séria, o corpo deste trabalho se movimenta

em direção a enfocar a importância das brincadeiras – ludoterapia para a

criança e adolescente em conflito com a lei no que concerne a valorizar o

lúdico em benefício da saúde física, mental e espiritual desses indivíduos.

Toda narrativa quer numa abordagem didática, recreativa, quer numa

abordagem do ensino para a prática das relações ludoterápicas dos envolvidos,

aponta a que toda contextualização dos objetivos tenha sentido para o infante.

Nessa abordagem a ludoterapia, jogos ou brincadeiras podem atender

as necessidades e interesses rumo ao aprimoramento das forças físicas,

morais, cívicas, psíquicas e sociais desse sujeito.

O brincar que conduz aos relacionamentos grupais pode ser uma forma

de comunicação consigo mesmo e com os outros.

O natural de uma criança em conflito com a lei ou não é brincar. Este é o

cerne de toda reflexão.

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BIBLIOGRAFIA

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Futuro. 21ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Cortez, 2005.

WERNER, Jairo. Saúde & Educação. Rio de Janeiro: Gryphus, 2001.

WINNICOTT, D.W. O Brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.