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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE AUTOR ALINE PEREIRA MAMBREU ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

AUTOR

ALINE PEREIRA MAMBREU

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Aline Pereira Mambreu.

3

Agradeço a Deus em primeiro plano e aos amigos de turma.

4

Dedico ao meu querido amigo Dr. Amaury Azevedo, meu amado marido Ricardo Garcia e minha doce filha Camila Taline, pelo apoio dado para a realização deste trabalho.

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RESUMO

O presente estudo visa demonstrar a garantia da defesa por parte do devedor antes mesmo de iniciar a fase de execução da dívida ou do cumprimento da sentença, nos casos de vícios encontrados no valor atribuído à execução ou no próprio título executivo, com delimitação na lei nº 11.232 de 2005, visando garantir o contraditório e a ampla defesa assegurados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a elaboração do presente trabalho se

deram através de pesquisas bibliográficas, legislação, pesquisas em sites da

Internet e pesquisas de entendimentos jurisprudenciais, relacionado ao assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

CONCEITO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE...................................11

CAPÍTULO II

PROCESSO DE EXECUÇÃO “LATU SENSU”................................................14

2.1 – ORIGENS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO...........................................14

2.2 – PRIVAÇÃO DOS BENS DO DEVEDOR..................................................15

2.3 – CUMPRIMENTO DA SENTENÇA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE....16

2.3.1 – Cumprimento de Sentença por Quantia Certa..................................16

CAPÍTULO III

DEFESA DO DEVEDOR...................................................................................19

3.1 - DEFESA DO DEVEDOR EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E NA

AÇÃO DE EXECUÇÃO......................................................................................19

3.1.1 – Impugnação ao Cumprimento da Sentença.......................................20

3.1.2 – Embargos a Execução na Ação de Execução....................................21

CAPITULO IV

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EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUÇÃO.................................................................... 27

CONCLUSÃO................................................................................................... 36

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................38

INDICE ............................................................................................................. 40

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INTRODUÇÃO

Segundo a Constituição Federal do Brasil - CRFB de 1988, em seu artigo

5º, inciso LV, os litigantes em processo judicial ou administrativo, assim como aos

acusados em geral são assegurados a garantia do contraditório e a ampla defesa.

Nesse sentido necessário se faz questionar, até onde vai o direito ao contraditório

em um processo judicial?

Tratando-se de um processo judicial de natureza civil, uma vez presente

os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código Processual Civil - CPC o juiz

competente despachará, ordenando a citação do réu para tomar ciência da ação,

bem como apresentar sua defesa em tempo determinado, formando-se assim o

processo judicial, com as partes opostas e o juiz. Com o término de todos os atos

processuais, sobrevém a sentença que atribui, via de regra, uma obrigação a uma

delas, tenha tido ela por objeto a obrigação de fazer ou não fazer algo, (artigo 461

do CPC), com a obrigação da entrega de coisa, art. 461 – A do CPC ou mesmo a

obrigação de pagar, art. 466 do CPC.

Transitada em julgado a sentença no processo civil que reconheça a

obrigação de pagar quantia determinada, torna-se aquela referência para

execução de título executivo judicial, passível de cumprimento de sentença,

conforme dispõe o inciso I do art. 475 – N do CPC, assim como tratando-se de

ação de execução de título extrajudicial, onde o próprio título objeto da execução,

por si só é exeqüível, sendo somente necessário artigo de lei que o reconheça

como sendo título extrajudicial.

Com o cumprimento de sentença, nasce uma nova fase processual, onde

o devedor é intimado para que cumpra a prestação devida, sob pena de sofrer

uma intervenção estatal em seu patrimônio, cujo objetivo é a satisfação do direito

do credor.

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Tratando-se de ação de execução, ação autônoma, difere-se da ação de

conhecimento, em que o réu é citado a apresentar a sua defesa, nesta o devedor

executado é intimado para cumprir uma prestação devida.

Caso o devedor, tratando-se de cumprimento de sentença encontre algum

vício na cártula exeqüenda, só poderá se opor uma vez garantido a obrigação.

Nesse mesmo sentido acontece com as ações de execução proposta pela

Fazenda Pública, União, Estado e Município, conforme dispõe o § 1º do art. 475-J

do CPC, ou a exemplo do que determina o §1º do art. 16 da Lei nº 6.830/60 .

Nesse sentido, a lei infraconstitucional permite que o mesmo se insurja

quanto a possíveis vícios apresentados nos títulos exeqüendos. Caso não o faça,

o direito do devedor estará cerceado, o que deixa claro o confronto com a

garantia constitucional da ampla defesa e contraditório, exposta no inciso LV do

art. 5º do CRFB de 1988.

A margem disso, criou o doutrinador, um instituto visando a defesa por

parte do devedor sem que para isso necessite garantir previamente a execução,

cujo instituto, denomina-se em exceção de pré executividade.

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CAPÍTULO I

TÍTULO DO CAPÍTULO

CONCEITO DE EXCEÇÃO DE PRE-EXECUTIVIDADE

Constitui o instituto da exceção de pré-executividade na

possibilidade de apresentação de defesa em processo de execução onde se

ataca o direito de ação de execução, onde se resiste ao direito carregado na

ação, sem que tenha havido constrição judicial.

A exceção de pré-executividade, também conhecida como objeção de

pré-executividade, é um instituto jurídico criado pela doutrina enquanto aplicação

e pela jurisprudência quanto a aceitação deste instrumental que possibilita ao

devedor a defesa tanto no cumprimento de sentença como na ação de execução,

o mais das vezes, sem a necessidade de garantir a suposta divida em juízo, seja

através de penhora ou através de caução.

O objetivo do referido instituto é apontar os vícios contidos nos títulos

executivos judiciais, via simples petitório, tratando-se de cumprimento de

sentença ou nos títulos executivos extrajudiciais, tratando-se de ação de

execução.

Por ser um instituto jurídico criado pela doutrina e jurisprudência, não tem

previsão legal, logo, não há que se falar em prazo expresso para a sua

apresentação.

A exceção de pré-executividade foi abordada pela primeira vez, em 1966,

pelo professor Pontes de Miranda, através de parecer elaborado a partir dos

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problemas relacionados com pedidos de falência em conhecido caso atinente a

Companhia Siderúrgica Mannesman.

O mais importante trabalho monográfico de Pontes de Miranda, o parecer

de nº 95, copilado na coleção Dez Anos de Pareceres, onde, segundo consta, os

pedidos de falência foram indeferidos antes da penhora ou depósito, sob o

fundamento de serem os títulos apresentados falsos.

No entender do Ilustre processualista, a exceção de pré-executividade

tinha a natureza jurídica de exceção. Entretanto há de se observar que todas as

defesas do réu, relacionadas a sua defesa e ligada diretamente ao mérito da

causa, eram afirmadas como exceção na sistemática do Código de Processo Civil

de 1.939, sendo, nesse sentido a compreensão da utilização da expressão pelo

mesmo.

Na época, o eminente professor questionado se nas vinte e quatro horas

para que o devedor pague sob pena de penhora poderia a empresa contra a qual

se movia a ação, sustentar a falsidade do título ou dos títulos, independentemente

do oferecimento de bens à penhora. Verificou-se que sim, pois, segundo o seu

entendimento, "a alegação de inexistência, da invalidade ou da ineficácia da

sentença é alegável antes da expedição do mandado de penhora", pois tal ato só

"era de exigir-se para a oposição de embargos do executado, não para a

oposição das exceções e de preliminares concernentes à falta de eficácia

executiva do título extrajudicial ou da sentença”.

Nesse sentido o processualista deixou claro que a execução possui

requisitos próprios, podendo e devendo ser examinados, seja de ofício ou por

provocação da parte, antes mesmo da agressão junto ao patrimônio do devedor,

não estando à defesa adstrita ao conceito de “embargos de devedor”.

Mera semântica existe atualmente ao afirmar-se que a natureza jurídica da

exceção de pré-executividade é também de objeção na medida em que a exceção

se trata de instrumento privativo de um autor, um réu ou um terceiro interessado,

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nos trazendo a idéia de disponibilidade de direito e que uma vez não oposta em

momento oportuno, ocorrerá o fenômeno da preclusão temporal.

Por outro lado, as matérias de ordem pública seriam argüíveis através da

objeção de pré-executividade, matérias ligadas à validade da relação processual

e ao direito de ação, devendo, ser reconhecidas de ofício pelo juiz ou a qualquer

tempo e em qualquer grau de jurisdição.

Segundo o entendimento do ilustre processualista NELSON NERY JÚNIOR

e ROSA MARIA ANDRADE NERY ambos se referem à objeção de pré-

executividade da seguinte maneira:

“Mesmo sem estar seguro o juízo pode o devedor opor

objeção de pré-executividade, isto é, alegar matérias que o

juiz deveria conhecer de ofício, objetivando a extinção do

processo de execução”

Já, MARCOS VALLS FEU ROSA entende que a expressão "pré-

executividade", está ligada a fase anterior a executividade, em outras palavras, às

matérias aferíveis no momento da decisão que analisa a petição inicial, a qual,

supostamente, conferiria ‘executividade’.

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CAPÍTULO II

TÍTULO DO CAPÍTULO

PROCESSO DE EXECUÇÃO “lato sensu”

2.1 ORIGENS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

No direito romano primitivo, a execução se dava de forma privada, ou

seja, onde apresentavam característica de penalização sobre o próprio

devedor, através de exposição à humilhação, prisão, mutilação e até a

morte. Não havia a distinção do corpo do devedor e do seu patrimônio. O

processo de execução, naquela época, se dava diretamente pela

expropriação através de atos materiais sobre o réu, não havendo, na

época, a citação do mesmo.

Com a evolução dos tempos a execução deixou de recair sobre o

corpo do devedor, permanecendo somente sobre o seu patrimônio,

passando a execução ser somente real, ou seja, a atividade executiva

jurisdicional incidia somente no patrimônio do devedor, e não na pessoa do

devedor.

Nesse sentido, o artigo 591 do Código Processual Civil dispõe que: “o

devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os

seus bens presentes e futuros”.

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A exceção ao caso são os devedores de alimentos e os depositários

infiéis, conforme art. 5º, inc. LXVII da CRFB/1988, logo, o direito moderno

não tolera a prisão civil por dívidas.

2.2- PRIVAÇÃO DOS BENS DO DEVEDOR

Conforme exposto acima, hodiernamente, o processo de execução incide,

geralmente, sobre o patrimônio do devedor, sendo o seu patrimônio a garantia da

satisfação da dívida junto ao credor.

No processo de execução por exemplo, o Estado adentra ao patrimônio do

devedor, a fim de garantir a satisfação da dívida junto ao credor, penhorando

“tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, juros,

custas e honorários advocatícios”.conforme art. 659 do CPC e somente quando a

penhora atingir vários bens será suspensa a arrematação, logo que o produto da

arrematação do bem baste para o pagamento do credor”. (art. 692, parágrafo

único do CPC).

Nesse sentido, o juiz em nome do Estado, deve atuar de forma cautelosa

no tocante aos requisitos executivos processuais. Devendo, somente praticar atos

em que os requisitos autorizadores da execução estejam devidamente presentes.

A própria intromissão do Estado no patrimônio do devedor estando ausente

um dos requisitos legais para a formação do processo executivo, se configura

como prática de violação do devido processo legal, art. 5º, LIV da CRFB/1988.

Desta forma, estando ausente um dos requisitos legais para a formação do

processo executivo, viciada se encontraria toda medida coercitiva praticada junto

ao patrimônio do devedor, sob pena de violação ao principio constitucional.

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2.3 – CUMPRIMENO DE SENTENÇA CONTRA DEVEDOR

SOLVENTE

No processo civil clássico advinda de uma descendência processual

continental européia, existia uma dualidade na prestação jurisdicional através da

distinção do processo de conhecimento e de execução, a fim de ao final buscar-

se a satisfação do direito do credor, mas, somente ao final da execução. A

prestação jurisdicional a luz do direito clássico, sempre se dava de forma

incompleta na medida em revelava-se insuficiente e incompleto o direito subjetivo

do credor através da mera sentença de conhecimento, vez que ainda necessitaria

da satisfação desse direito através de execução forçada, via autônoma.

2.3.1 – Cumprimento de Sentença Por Quantia Certa

No âmbito do Código de Processo Civil, por exemplo, existiam ações

executórias próprias que se aplicavam nas execuções de sentenças. Essas ações

tinham por objetivo forçar a satisfação do direito do credor, sem a necessidade de

acertamento a seu respeito.

Com a entrada em vigor a Lei 11.232/2005, em 23 de junho de 2005, o

sistema executório das sentenças condenatórias envolvendo quantia certa contra

devedor solvente passou por diversas e importantes transformações, tendo o

legislador deixado de lado a dicotomia existente, no processo civil clássico,

cognição e execução.

Ficou estabelecido no novo regime que a satisfação do credor se daria

através da fase de cumprimento de sentença, conforme dispõe o art. 475-I e segs.

do CPC, de forma incidental com o desenvolvimento de atos materiais

executórios, pugnando-se pela manutenção da unidade processual.

Nesse sentido, a fase de cumprimento de sentença foi deslocada para o

livro I do Código Processual Civil, que trata sobre o processo de conhecimento,

17

restando somente a necessidade de instauração de relação processual,

satisfativa, para as execuções fundadas em títulos executivos extrajudiciais e em

algumas situações excepcionais, tais como ação de execução de alimentos e

ação proposta contra a Fazenda Publica, art. 730 do CPC.

Com as mudanças ocorridas, afastou-se de vez, as acepções romanisticas

com a abolição da dualidade na prestação jurisdicional, dando azo ao sistema

instrumental sincrético, em respeito ao princípio da efetividade e brevidade

processual.

Em defesa ao sincretismo processual ALCALÁ ZAMORA, em 1970, que já

combatia o dualismo processual, propugnando pela necessidade de que “a

unidade da relação jurídica e da função processual se estenda ao longo de todo o

procedimento, em vez de romper-se em dado momento”.

A fim de dar início da fase do cumprimento da sentença, preconiza o artigo

475-I do CPC que: “Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os

arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por

execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo”.

Quanto ao sistema de efetivação das sentenças proferidas em sede de

ação de cognição que tenham como objeto obrigação de fazer, não fazer ou dar

(coisa certa ou incerta), por prestigiar o sistema a tutela jurisdicional específica ou

in natura, com a adoção, inclusive, da classificação quinaria das sentenças

(executivas ou mandamentais), as quais sempre dispensaram para a realização

do direito emanado do comando emergencial das mesmas, processo de

execução autônomo, não ocorreu qualquer alteração. Como é sabido, as

sentenças nos casos vertentes possuem efeitos imediatos.

A novidade trazida pela Lei nº 11.232/2005, diz respeito às sentenças

condenatórias que versam sobre as obrigações de pagar quantia certa, cuja

execução passou a se efetivar de forma incidental, na mesma relação processual,

dispensando uma nova instauração de estrutura processual autônoma, ou seja a

forma incidental, se dar de forma complementar e sucessiva a sentença.

18

Com essa reforma, a própria sentença condenatória passou a ter força

executiva de título executivo judicial. Cabendo ao credor através de requerimento,

por simples petição nos autos em que a condenação foi proferida, devendo o

postulante instruir com o demonstrativo do débito atualizado (art 614, II), e, em

determinados casos, também, com o comprovante da ocorrência de termo ou

condição, caso tais elementos tenham sidos previstos na sentença, requer a

intimação do devedor para o pagamento da dívida, sob pena de o não

pagamento, incidir sobre o valor da condenação multa legal, no percentual de

10% do valor da condenação, esculpida no art. 475-J do CPC.

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CAPÍTULO III

TÍTULO DO CAPÍTULO

DEFESA DO DEVEDOR

3.1 – DEFESA DO DEVEDOR EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

E AÇÃO DE EXECUÇÃO

É assegurado constitucionalmente a ampla defesa e o contraditório aos

litigantes em processo judicial ou administrativo, assim como aos acusados,

conforme inciso LV do art. 5ª da CRFB/1988.

Tratando-se do cumprimento de sentença e da ação de execução por

quantia certa contra devedor solvente, em que se visa especificamente o

chamamento do devedor a cumprir a determinação expressa na cártula executiva,

caso o mesmo encontre algum vício na referida carta, pergunta-se: quais os

meios que poderá utilizar para a sua defesa?

Uma vez que não existe mais a ação de execução de sentença civil

condenatória, desaparece também a ação incidental de embargos de devedor.

Nesse sentido, para que cumpra o devido processo legal, precipuamente o

contraditório, encontrá-se previsto no art. 475-J,§1º do CPC, o direito de o

devedor oferecer impugnação, tratando-se de cumprimento de sentença, nos

quinze dias contados da intimação que antecede a penhora e avaliação.

Quanto a ação de execução, seu objetivo é um provimento jurisdicional

satisfativo, tendo o devedor como forma de defesa a apresentação dos embargos

para que seja garantido o seu direito ao contraditório.

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3.1.1 - Impugnação ao Cumprimento da Sentença

Na medida em que a dívida exeqüenda já foi definida através de sentença,

não cabe ao executado reabrir discussão acerca do mérito da causa. A solução

dada ao litígio, através da sentença, torna-se lei entre as partes, não podendo ser

alterada, cumprindo-se o princípio da preclusão pro iudicato (art. 471 do CPC).

Quanto a apresentação da impugnação ao cumprimento de sentença,

cediço que o executado terá o prazo de quinze dias contado da juntada do

mandado de penhora e avaliação aos autos.

Nesse sentido a impugnação somente poderá versar sobre a substância do

débito quanto os vícios formais do processo, conforme redação dada pela lei nº

11.232 de 2005, ao art 475-L do CPC:

Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:

I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à

revelia;

II – inexigibilidade do título;

III – penhora incorreta ou avaliação errônea;

IV – ilegitimidade das partes;

V – excesso de execução;

VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da

obrigação, como pagamento, novação, compensação,

transação ou prescrição, desde que superveniente à

sentença.

§ 1º Para efeito do disposto no inciso II do caput deste

artigo, considera-se também inexigível o título judicial

fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais

pelo Supremo Tribunal Federal ou fundado em aplicação ou

interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo

21

Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição

Federal.

§2º Quando o executado alegar que o exeqüente, em

excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante

da sentença. Cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que

entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa

impugnação.

Fica claro que para que o devedor tenha o direito ao contraditório, no

cumprimento de sentença, necessário se faz a garantia em juízo da cártula

exeqüenda, logo a sua defesa fica adstrita a garantia primeiramente do juízo.

Nesse sentido, como ficará a defesa, através da impugnação, do devedor,

na hipótese de o mesmo não ter bens suficientes para garantir a dívida?

Diante dessa hipótese, o devedor poderá se defender através da ação de

exceção de pré-executividade.

3.1.2 – Embargos a Execução na Ação de Execução

Os embargos, constitui um meio de defesa contra a execução, dirigido ao

próprio juiz da causa.

Além de constituir um meio de defesa, constituem-se uma verdadeira ação

paralela, dentro do mesmo processo, movimentado pelo devedor.

Os embargos a execução na ação de execução tem previsão legal no

artigo 736 do código processual civil e no art 16 da Lei nº 6.830 de 22 de

setembro de 1980.

Quanto aos embargos previsto no art. 736 do CPC, estes opostos no prazo

de 15 dias contados a partir da juntada do mandado de citação aos autos, e a

22

matéria a ser versada, diferentemente da impugnação que somente poderá versar

matérias posteriores a formação do título, nos embargos não há limitação quanto

à amplitude da matéria argüível, conforme art 745 do CPC:

Art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar:

I - nulidade da execução, por não ser executivo o título

apresentado;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de

execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos

casos de título para entrega de coisa certa (art. 621);

V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como

defesa em processo de conhecimento.

§ 1o Nos embargos de retenção por benfeitorias, poderá o

exeqüente requerer a compensação de seu valor com o dos

frutos ou danos considerados devidos pelo executado,

cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores,

nomear perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do

laudo.

§ 2o O exeqüente poderá, a qualquer tempo, ser imitido na

posse da coisa, prestando caução ou depositando o valor

devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação. g/n

Com a reforma trazida pela Lei nº 11.382/2006, os embargos previsto no

art. 736 do CPC, poderão ser opostos independente de penhora, depósito ou

caução, entretanto, não terão efeito suspensivo, nesse sentido a busca por bens

passiveis de penhora continuarão.

Caso seja de interesse do devedor, a obtenção do efeito suspensivo, este

poderá requerer ao juízo, desde que demonstre a necessidade da paralisação da

execução (art. 791,I do CPC), a fim de evitar grave lesão ao seu direito.

23

Ressalta-se que o efeito suspensivo, impede somente a realização dos

atos executivos finais, conforme art. 739-A, §6º do CPC. Em relação a penhora,

depósito e a avaliação essas subsistem, na medida em que são atos

instrumentais da execução, e, que, em tese, servirão para conter os efeitos da

suspensão.

Embora, tenha a ação sido acobertada pelo efeito suspensivo, os atos

finais poderão ser realizados somente nos casos em que exeqüente prestar

caução idônea e suficiente que garanta ao executado contra os riscos de prejuízo

por uma execução indevida.

Os embargos a execução previsto no art 736 do CPC, somente

poderão ser opostos quando a título apresentação a execução estiver previsão no

art. 585 do CPC:

Art. 585 - São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a

debênture e o cheque;

II - a escritura pública ou outro documento público assinado

pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor

e por duas testemunhas; o instrumento de transação

referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública

ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e

caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de

aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais

como taxas e despesas de condomínio

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de

intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos

ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

24

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União,

dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos

Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma

da lei;

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa,

a lei atribuir força executiva.

Quanto aos embargos previsto pela Lei nº 6.830 de 22 de setembro de

1960, Lei de Execução Fiscal – LEF, estes poderão ser opostos nos casos

previsto pelo art. 741 do CPC:

Art. 741 - Na execução contra a Fazenda Pública, os

embargos só poderão versar sobre:

I - falta ou nulidade da citação, se o processo correu à

revelia;

II - inexigibilidade do título;

III - ilegitimidade das partes;

IV - cumulação indevida de execuções;

V - excesso de execução;

VI - qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da

obrigação, como pagamento, novação, compensação,

transação ou prescrição, desde que superveniente à

sentença;

VII - incompetência do juízo da execução, bem como

suspeição ou impedimento do juiz.

Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput

deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial

fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais

pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou

interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo

Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição

Federal.

25

Contudo, para a sua oposição, diferentemente do previsto pelo art. 736 do

CPC, necessário será a garantia do juízo, aplicando-se ao procedimento de

execução contra as Fazendas Públicas, as disposições da Lei nº 6.830 de 1980,

Lei de Execução Fiscal – LEF.

Vale destacar que o título executivo, para as execuções cujo procedimento

é pela lei nº 6.830 de 22 de setembro de 1980, é a Certidão de Dívida Ativa,

entabulada no inciso VII do art 585 do CPC.

O devedor, nos casos previstos pela Lei 6.830 de 1980, terá o prazo de 30

dias, para oferecer embargos, na execução fiscal, contados a partir da intimação

da penhora, ou da data do depósito em dinheiro, ou da juntada de fiança

bancária, ou da garantia.

Os embargos serão autuados em apartados, conforme disposição do art

736 do CPC.

Os embargos, entre outros motivos arrolados em lei, também, podem

basear-se na nulidade do título, na ilegitimidade de parte, na prova de pagamento

já realizado, na prescrição, entre outros.

Apresentados os embargos , dentro do prazo estabelecido, seguirão-se-á a

impugnação da fazenda pública e a designação de audiência de instrução e

julgamento, conforme art. 17 da LEF.

Caso sejam os embargos julgados procedentes, extingue-se o processo,

caso contrário, a sentença proferida conta a União, o Estado ou o Município

sujeitar-se-á ao reexame necessário, devendo ser confirmada pelo tribunal (art

475 do CPC).

Da sentença que julgar os embargos caberá apelação. Contudo, nas ações

cujo valor seja igual ou inferior a 50 ORTN, não caberá apelação, mas embargos

de alçada, também denominado, embargos infringentes, dirigido ao juiz da causa.

(art. 34 da LEF).

26

A reforma trazida pela lei nº 11.382 de 2006, que retirou o pré-requisito

para a apresentação dos embargos, a penhora, caução ou depósito não

acobertou as execuções ficais envolvendo a União, Estado e Município. Para as

execuções fiscais, necessário se faz a observância da Lei 6.830 de 1980, por ser

esta, lei específica.

Diante dessa condição, como ficará o devedor, caso não tenha bens

passíveis de penhora, possibilidade de prestar caução ou garantir a dívida, em se

defender na ação de execução fiscal?

27

CAPÍTULO IV

TÍTULO DO CAPÍTULO

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

A sucinta descrição acima do caminhar do processo civil, tornou-se

necessária, a fim de demonstrar o aparato da previsão legal, entretanto, emerge

da astúcia dos patronos mais ardilosos, a capacidade de exame de como e

quando se utilizarem deste precioso mecanismo de defesa intitulado de Exceção

de Executividade, pré-executividade ou objeção.

Deixando um pouco de lado, a polêmica acerca da terminologia mais

adequada para o já mencionado instituto, o fato e que e incontestável a sua

utilização, embora não estando prevista na legislação processual vigente, a

doutrina e a jurisprudência já a consagraram como mecanismo de oposição a

ação processual executiva, como sendo um meio legitimo a ser utilizado pelo

devedor, independentemente de penhora, garantia ou caução.

Posto dessa maneira, a exceção de pré-executividade vem a ser um dos

instrumento utilizados no processo de execução pelo devedor, através da

provocação do órgão jurisdicional, como o intuito de suspender a ação executiva,

mediante a argüição de uma nulidade processual. Sua utilização, porém, ainda é

causadora de discursas entre os doutrinadores, pelo fato de não possuir uma

previsão legal, todavia vem encontrando respaldo doutrinário e jurisprudencial,

por se entender que, muito embora, caiba ao juiz se manifestar de ofício a

respeito de algum vício ou mácula, logo de início na petição, ou no decorrer do

trâmite processual executivo, é também papel do devedor, por ser o maior

interessado em “barrar” a ação executiva, se pronunciar a respeito da existência

de uma nulidade processual forçando o Magistrado a uma decisão que se não

28

satisfatória para quem se defende, dela sempre caberá recurso de Agravo de

Instrumento.

É importante, delimitar-se o campo da atuação deste instituto, uma

vez que, como já foi referido anteriormente, diferentemente dos embargos, a

exceção de pré-executividade somente poderá ser alegada questões referentes

aos pressupostos processuais, condições da ação ou mais comumente a

presença de nulidade ou defeito no título executivo, portanto, não há o que se

falar em produção de provas, já que as matérias argüíveis não podem estar

ocultas, mas facilmente demonstráveis, caso contrário, seria desnecessária a

existência do instituto dos embargos à execução ou mesmo da Impugnação, que

por sua vez, tendem a ser os meios unânimes considerados pela legislação

processual, doutrina e jurisprudência pelo qual o executado faz sua oposição a

ação executiva.

Bem assim, a interposição da chamada "exceção de pré-executividade",

dispensa a segurança do juízo, podendo ser dirigida em simples petição, e

decidida de plano pelo magistrado de piso ao reconhecer nulidade absoluta e

insanável no processo de execução, declarando a inexistência da prova pré-

constituída do título executivo, que é condição da execução.

A doutrina ao longo dos anos vem se solidificando, recebendo, inclusive,

adesões de grandes nomes na defesa da possibilidade de apresentação de

defesa e embargos do devedor sem constrição judicial. De fato, é

perfeitamente possível e previsível a defesa e argüição de nulidade de execução

por vício fundamental nos próprios autos da execução, ex-vi dos artigos 267, §3º.,

585, II; 586; 618, I; 267, VI; 586, II do CPC.

Senão, vejamos:

Sobre o tema, leciona Theodoro Júnior :

"A nulidade é vício fundamental e, assim, priva o processo

de toda e qualquer eficácia. Sua declaração, no curso da

29

execução, não exige forma ou procedimento especial. A

todo o momento, o Juiz poderá declarar a nulidade do feito

tanto a requerimento da parte como ex offício.

“Não é preciso, portanto, que o devedor se utilize dos

embargos à execução. Poderá argüir a nulidade em simples

petição, nos próprios autos da execução."( JUNIOR, 1990,

p. 202.)

E a essa orientação se somam, dentre outros, Mendonça Lima, que a

propósito, adverte:

"Os incisos I e II, configuram casos de "condições da

execução", em paridade com as "condições da ação". A

infringência de qualquer deles torna o credor parte ilegítima

para mover a ação, porque ele não será titular da prestação

executiva. Pelo sistema do código, o Juiz deverá indeferir o

pedido de execução extingüindo o processo "sem

julgamento do mérito". (art. 267, VI)."( LIMA, p. 659.)

Ainda sobre o assunto, assinala Alcides Mendonça Lima:

"A execução nula é um mal para o devedor, porque o

perturba inutilmente, embora sem vantagem final para o

credor, no momento em que a nulidade for declarada. Se

viciadamente movida, pode prejudicar o devedor, moral e

economicamente, em seus negócios, inclusive sujeitando-o

ao ônus de ter de embargar, se o Juiz, ex-offício, não

houver trancado o processo, indeferindo o pedido." (LIMA,

1974)

Como uma luva, aplica-se ao caso, o ensinamento de Humberto Theodoro

Júnior:

30

"Propor execução sem base no conteúdo do título é o

mesmo que propô-la sem título. A inicial é inepta e deve ser

liminarmente indeferida. Se isso não for feito, o processo

estará nulo."(JUNIOR, 1990, p.200.)

Em nota a esse dispositivo (CPC, 618,I), Theotônio Negrão, apoiado na

jurisprudência, acentua que:

"A nulidade da execução pode ser argüída a todo o tempo;

sua argüição não requer segurança do juízo (v. art. 737,

nota 4), não exige a apresentação de embargos à execução

(RT 511/221, 596/146, JTA 53/37, 95/128, 107/230,

RJTAMG 18/111). Deve ser decretado de ofício (JTA

97/278)".

Comentando o artigo 618, Pontes de Miranda ensina que:

"O título executivo, quer judicial quer extrajudicial, tem de

ser certo (existir e não ser nulo), de ser líquido e de ser

exigível. Se o título executivo, que teria de consistir em

sentença, sentença não é, não se pode propor, com ele,

ação executiva." (MIRANDA, 1976, p. 27)

José da Silva Pacheco é contundente:

"... Entretanto, se a sentença exeqüenda for inexistente ou

viciada de nulidade insanável "ipso jure", claro é que tal

nulidade não só pode ser alegada em embargos, como,

antes disso, em simples defesa, antes do cumprimento do

mandado executivo."(PACHECO, 1975, p. 598)

José Antônio de Castro a respeito professa:

31

"Mesmo se a inicial da execução, merecedora de

indeferimento, foi recebida e prosseguiu, poderá o juiz, de

ofício, decretar a nulidade posteriormente, pois não há

preclusão. A nulidade (art. 618, I a III) prepondera sobre

qualquer instituto jurídico. Em conseqüência, desnecessário

os embargos."(CASTRO, p. 201.)

Anota HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

"Para ter acesso ao processo de execução, não basta a

exibição de um documento que tenha a forma de título

executivo (uma escritura pública, por exemplo). É

indispensável, ainda, que o referido título revele a existência

de um crédito líquido, certo e exigível.(art. 586.)

JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, escreve:

"Toca ao órgão judicial examinar a petição inicial de

execução, em atividade de controle análogo à exercida no

processo de conhecimento. Verificando que ela está

incompleta, ou não se acha acompanhada dos documentos

indispensáveis, determinará que o credor a corrija, no prazo

de dez dias, sob pena de ser indeferida (art. 616). Também

a indeferirá em qualquer das hipóteses do art. 295

aplicáveis ao processo executivo" (.MOREIRA, p.272)

À sua vez, o eminente Desembargador GALENO LACERDA, após proferir

o entendimento de PONTES DE MIRANDA, segundo o qual "pode o executado

opor-se, legitimamente, à executória, com exceções de pré-executividade do

título, exceções prévias, portanto, à penhora, que é medida já executiva", ensina,

com a clareza e precisão que lhe são peculiares, in verbis:

"Esta distinção, aliás, transparece nítida da doutrina, entre

pressupostos processuais, condições da ação e mérito.

32

Como ação que é, a executória há de atender, também, aos

requisitos genéricos que condicionam a legitimidade da

relação processual e aos específicos que lhe são próprios,

entre eles, a liquidez, certeza e exigibilidade do título.

Impõe-se, portanto, distinguir: quando o executado

impugnar esses pressupostos e condições, com

argumentos fundados e idôneos, deverá o Juiz admitir-lhe a

defesa porque logicamente anterior à penhora, sem a

segurança desta. Caso contrário, cairíamos no impasse da

denegação de justiça e no possível triunfo do dolo, da

fraude e da má-fé, com o Juiz a tudo assistindo impotente e

inerme. Ora, o código lhe impõe, no art. 125, III, que previna

ou reprima qualquer ato contrário à dignidade da Justiça, e,

no art. 129, que obste a fraude, como imperativo elementar

da própria autoridade"(GALENO p. 13/14).

Daí porque os renomados Galeno de Lacerda, Pontes de Miranda e Araken

de Assis, sob os nomes de "oposição pré-processual" ou "exceção de pré-

executividade", sempre sustentaram a possibilidade de o executado defender-se

antes da consumação da penhora, limitando o emprego desse mecanismo às

hipóteses de constatação, a olho nu, do requisito de executividade do título

executivo, como por exemplo, título sem assinatura do devedor, dentre outros

casos.

Sem dúvida, tendo em vista que a execução inaugura-se com a agressão

ao patrimônio do executado, devem cercar-se de cautelas tanto o exeqüente, ao

distribuir a sua inicial, quanto o Poder Judiciário, ao admití-la e ordenar a citação

e penhora.

É que a só distribuição de uma execução já emite carga negativa em

desfavor do executado, visto que terá o seu nome lançado no rol de devedores

relapsos.

33

Se se tratar de uma pessoa jurídica, o fato de figurar no pólo passivo de

uma execução, tal reflexo poderá ser ainda maior, podendo inviabilizar até mesmo

a marcha diária das suas atividades.

Portanto, se o pseudo credor pode, a seu crivo, ajuizar uma execução

desfalcada de título líquido e certo, ao suposto devedor deve ser franqueado um

instrumento jurídico adequado que impeça, a tempo e a hora, a continuidade dos

efeitos dessa distribuição, inclusive, através da nulificação até mesmo do

despacho inicial positivo, sem esquecer que até o procedimento penal pode ser

trancado na sua tramitação.

A propósito, o jurista Vicente Greco Filho escreveu memorável monografia

intitulada "Trancamento da ação civil", veiculada na saudosa coluna "Tribunais"

outrora mantida na edição dominical do Jornal O Estado de S. Paulo.

Como "summum jus, summa injuria", é de eqüidade que se apresentando o

devedor munido de quitação evidente se lhe abra ensejo de opor-se à execução

injusta, sem as vicissitudes da penhora, como há decisões para os casos

excepcionais, cuja ementa abaixo comprova:

"EXECUÇÃO – EMBARGOS DO DEVEDOR –

RECONHECIMENTO SEM PRÉVIA SEGURANÇA DO

JUÍZO – HIPÓTESE DE ADMISSIBILIDADE. É de provisão

legal que não serão admissíveis embargos do devedor

antes de seguro o juízo pela penhora, na execução por

quantia certa – art. 737, inc. I, do CPC. Mas, se não há

provas da constrição de bens do devedor por se ter

extraviada a carta precatória com esse objetivo, é de ser

acolhida a prova inconcussa de pagamento, promovida pelo

executado e corroborada por informação da Coletoria

Estadual." (1.º TA de São Paulo, em ADCOAS. Ano 1977,

n.º 32, p. 501.)

34

No mesmo passo é a manifestação preponderante da jurisprudência, ex-vi

das seguintes ementas:

"PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO -

PROCESSO DE EXECUÇÃO - EMBARGOS DO

DEVEDOR - NULIDADE - VÍCIO FUNDAMENTAL -

ARGUIÇÃO NOS PRÓPRIOS AUTOS DA EXECUÇÃO -

CABIMENTO - ARTIGOS 267, $ 3o.; 585, II; 586; 618, I DO

CPC.

I - Não se revestindo o título de liquidez, certeza e

exigibilidade, condições basilares exigidas no processo de

execução, constitui-se em nulidade, como vício

fundamental; podendo a parte argüí-la, independentemente

de embargos do devedor, assim como, pode e cumpre ao

Juiz declarar, de ofício, a inexistência desses pressupostos

formais contemplados na lei processual civil.

II - Recurso conhecido e provido."(Recurso Especial n.º

13.960 - SP, in R. Sup. Trib. Just., Brasília-DF, 26 de

novembro de 1991 (Data do julgamento).

No mesmo sentido e do mesmo Tribunal, verbis:

"PROCESSO CIVIL - EXECUÇÃO - TÍTULO IMPERFEITO -

NULIDADE - DECLARAÇÃO INDEPENDENTEMENTE DA

APRESENTAÇÃO DE EMBARGOS.

A argüição de nulidade da execução com base no art. 618

do estatuto processual civil, não requer a propositura de

ação de embargos a execução, sendo resolvida

incidentalmente. Recurso conhecido e provido."(REsp. n.º

3.079 - MG, Relator Eminente Ministro Cláudio Santos).

35

No julgamento do REsp. 3.264-PR, o STJ entendeu que:

"A nulidade do título em que se embasa a execução pode

ser argüída por simples petição, uma vez que suscetível de

exame, ex offício pelo Juiz."(RT 671/187, Rel. Min. Eduardo

Ribeiro.)

O Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo tem decidido

reiteradamente, verbis:

"Ora, a execução, em qualquer de suas modalidades, além

de submeter-se às normas gerais que regem o processo de

conhecimento, invocáveis subsidiariamente (art. 586), fica

subordinado, igualmente, a regra própria que podem ser

especiais, se somente se referem em particular a uma

delas."

36

CONCLUSÃO

Sob esta ótica de celerização dos processos é que temos de conceber e

aplicar a exceção de pré-executividade. Questões que possam ser conhecidas

de ofício pelo magistrado, e que estejam comprovadas nos autos, podem e

devem ser argüidas através deste meio expedito de impugnação do título ou da

relação processual que evita a inútil e irracional propositura de mais uma

demanda (embargos) que ao final terá por objeto questão que poderia ser

analisada desde já nos próprios autos da execução.

Mas não somente estas questões, atinentes a pressupostos processuais e

condições da ação, podem ser analisadas, mas também aquelas que, sob a

ótica do processo de conhecimento, diriam respeito ao mérito e que se

encontrem provadas de plano, como sejam a decadência, a prescrição e o

pagamento, porque igualmente podem fulminar a execução.

Impende conduzirmos o processo dentro de uma visão instrumentalista,

que sem perder de vista o valor da forma enquanto garantidora de direitos

fundamentais dos litigantes, possa conduzir a resultados mais consentâneos

com as expectativas do jurisdicionados.

É nesta perspectiva que deve ser compreendida a exceção de pré-

executividade, cumprindo-lhe um papel excepcional dentro do processo de

execução, cuja natureza é infensa à cognição exauriente.

Antes de mais nada, os operadores jurídicos devem estar atentos às

projeções concretas dos institutos jurídicos na realidade do processo, e hoje,

sem dúvida, não há racionalidade em se levar adiante relações processuais

fadadas à inutilidade ou se exigir que sejam interpostos embargos para

apurar-se o que está evidente.

37

Tecendo estas considerações, encerro este despretensioso trabalho cujo

objetivo que acredito ter alcançado é o de levar aos que labutam no direito

alguns aportes para reflexão e auxílio na compreensão e discussão do que

possa ser definido como Exceção de Pré-Executividade.

38

BIBLIOGRAFIA

CAHALI, Yussef Said. Código Civil, Código de Processo Civil, código comercial,

legislação civil, processual e empresarial, Constituição Federal. 11ª edição. São

Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2009.

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Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 21ª edição. São Paulo: Editora

Malheiros, 2005.

FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto; FÜHRER, Maximiliano Cláudio Américo

Ernesto. Resumo de Direito Tributário. 20º edição. São Paulo: Editora Malheiros,

2009.

JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 14º edição. Rio

de Janeiro: Editora Forense, 1990.

JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41º edição. Rio

de Janeiro: Editora Forense, 2007, v. II.

LIMA, Alcides Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil, Editora

Forense, 1974, vol. VI - tomo II.

MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Comentários ao Código de Processo

Civil. Editora Forense, Rio de Janeiro, 1976, Tomo X.

PACHECO, José da Silva. Tratado das Execuções, Processo de Execução. São

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Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

39

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PLANALTO. http://www.planalto.gov.br, Link: Consultas/Legislação. Acesso em

21 de julho de 2010

STJ. http://www.stj.gov.br, Link: Consulta/Jurisprudência. Acesso em 23 de julho

de 2010.

UOL. http://jus2.uol.com.br, Link Artigos/Processual. Acesso em 21 de julho de

2010.

40

ÍNDICE

RESUMO............................................................................................................... 5

METODOLOGIA.................................................................................................... 6

SUMÁRIO.............................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

CONCEITO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE......................................11

CAPÍTULO II

PROCESSO DE EXECUÇÃO “LATU SENSU”...................................................14

2.1 – ORIGENS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO..............................................14

2.2 – PRIVAÇÃO DOS BENS DO DEVEDOR......................................................15

2.3 – CUMPRIMENTO DA SENTENÇA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE........16

2.3.1 – Cumprimento de Sentença por Quantia Certa......................................16

CAPÍTULO III

DEFESA DO DEVEDOR......................................................................................19

3.1 - DEFESA DO DEVEDOR EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E NA

AÇÃO DE EXECUÇÃO........................................................................................19

3.1.1 – Impugnação ao Cumprimento da Sentença.........................................20

3.1.2 – Embargos a Execução na Ação de Execução......................................21

CAPITULO IV

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUÇÃO....................................................................... 27

CONCLUSÃO..................................................................................................... 36

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................38

ÍNDICE.................................................................................................................40