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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A ESCOLA COMO INSTÂNCIA DO SABER E DE FORMAÇÃO HUMANA ANTONIO OLINO DE OLIVEIRA Orientadora Profª: Fabiane Muniz da Silva Posse - Go 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A ESCOLA COMO INSTÂNCIA DO SABER E DE

FORMAÇÃO HUMANA

ANTONIO OLINO DE OLIVEIRA

Orientadora

Profª: Fabiane Muniz da Silva

Posse - Go

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A ESCOLA COMO INSTÂNCIA DO SABER E DE

FORMAÇÃO HUMANA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Orientação Educacional

Por:. Antonio Olino de Oliveira.

POSSE – GO

2008

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que segurou a minha mão

nos momentos de dificuldades me

fazendo forte para vencer todos os

desafios e alcançar o caminho do

sucesso. E a todos que de forma

direta ou indireta contribuíram para

que eu chegasse até aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha esposa e aos meus

filhos, que me impulsiona a seguir

em frente com determinação e

coragem para superar os obstáculos

que poderão surgir. A minha

realização pessoal e profissional

ofereço a eles que é um presente

enviado por Deus para trazer mais

alegria e significado à minha vida.

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EPÍGRAFE

Importante na escola não é só estudar, não é só

trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar

ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar

nela! Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar,

crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.

Paulo Freire

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RESUMO

Esse trabalho está sendo desenvolvido com a pretensão de mostrar que

a escola, campo específico de educação, não é um elemento estranho à

sociedade humana, um elemento separado, mas “uma instituição social, um

órgão feliz e vivo”, no conjunto das instituições necessárias à vida, o lugar onde

vivem a crença, a adolescência e a mocidade, de conformidade com os

interesses e as alegrias profundas de sua natureza. Dessa concepção positiva

da escola, como uma instituição social, limitada na sua ação educativa, pela

pluralidade e diversidade das forças que concorrem ao movimento das

sociedades, resulta a necessidade de reorganizá-la, como um organismo

maleável e vivo. Para compreender a função social da escola, é importante

situá-la no mundo moderno, observando os múltiplos papéis exercidos por ela

ao longo do tempo. À primeira vista, verificamos que, mesmo cumprindo a

tarefa básica de possibilitar o acesso ao saber, sua função social apresenta

variações em diferentes momentos da história, expressando diferenças entre

sociedades, países, povos e regiões. Independentemente de suas

modificações no decorrer da história, a escola foi a instituição que a

humanidade criou para socializar o saber sistematizado. Isto significa dizer que

é o lugar onde, por princípio, é veiculado o conhecimento que a sociedade julga

necessário transmitir às novas gerações. Nenhuma outra forma de organização

até hoje foi capaz de substituí-la. Para cumprir seu papel, de contribuir para o

pleno desenvolvimento da pessoa, prepara-la para a cidadania e qualifica-la

para o trabalho, é necessário que suas incumbências sejam exercidas

plenamente. Assim, é preciso ousar construir uma escola onde todos sejam

acolhidos e tenham sucesso.

Palavras-chave: educação, sociedade, escola, interação.

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METODOLOGIA

O emprego da palavra pesquisa, segundo Gatti (2003, p.3) vai desde

uma busca de informações e localização de textos em materiais impressos e

eletrônicos, até o uso de sofisticação metodológica e de teoria de ponta para

abrir caminhos novos no conhecimento existente. Assim, a pesquisa é

bibliográfica quando o pesquisador se utiliza de livros, revistas, documentos,

periódicos, enfim, registros impressos. Todo e qualquer trabalho científico

inicia-se numa pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o

que já se estudou sobre o assunto.

Este estudo é de grande relevância, pois sendo a escola uma instituição

inserida num todo social mais amplo e complexo, hoje, há um consenso sobre

o fato de que a educação é uma tarefa coletiva da sociedade. Isso quer dizer

que, embora seja dirigida por uma equipe de pessoas que nela trabalha, ela

não pode ficar à margem do contexto em que se insere. Assim, faz sentido

aprofundar a relação escola-comunidade.

Na elaboração deste trabalho há a contribuição de vários autores, cujo

estudo se voltam para o mesmo tema. Dentre eles, Paulo Freire que em sua

obra Pedagogia da Autonomia, afirma que o compromisso político e

pedagógico da escola é garantir a aprendizagem que conduza à construção de

uma cidadania engajada com a constituição de uma sociedade ética, bonita,

humanizada, que supere toda forma de opressão, de desumanização.

De acordo com Moraes (2000, p.66), a função da educação vai além da

transmissão de conhecimentos científicos e técnicos. Sua principal finalidade é

preparar o ser humano para viver harmoniosamente na sociedade que o educa.

É necessário ter em mente que sujeito e objetos são organismos vivos, ativos,

abertos, em constante intercâmbio com o meio ambiente, mediante processos

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8interativos indissociáveis e modificadores das relações sujeito-objeto e sujeito-

sujeito, a partir dos quais um modifica o outro, e os sujeitos se modificam entre

si.

Nesse sentido, a escola deve constituir-se em ajuda intencional,

sistemática, planejada e continuada para todos os alunos, diferenciando-se de

outras práticas educativas tais como as que acontecem na família, no trabalho,

no lazer e no convívio social de modo geral. É missão da escola criar

oportunidades para o desenvolvimento de relações interpessoais, cognitivas,

afetivas, éticas e estéticas pelo processo de construção e reconstrução de

conhecimentos. É preciso que todos desenvolvam suas capacidades e

aprendam conteúdos essenciais que lhes sirvam de instrumentos de

compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e

culturais diversificados e cada vez mais amplas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................10

CAPÍTULO I – A função social da escola..........................................................12

CAPÍTULO II – O papel do professor na sociedade atual.................................21

CAPÍTULO III – A contribuição do Orientador Educacional nos princípios de

convivência democrática da escola...................................................................27

CONCLUSÃO....................................................................................................37

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................38

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo analisar o papel do professor na

sociedade atual; refletir sobre o poder da escola na reconstrução da sociedade;

e analisar ainda como o Orientador Educacional pode contribuir nas mudanças

de comportamento da sociedade. Assim, a questão principal deste estudo é

refletir e compreender por que é relevante que a escola desenvolva o duplo

papel de instância do saber e de formação humana na sociedade atual.

A escola, como instância de formação da cidadania, assume sua função

social ao garantir a todos o direito constitucional à educação fundamental. Ao

propiciar o desenvolvimento das competências cognitivas básicas e favorecer

aprendizagens significativas, atua tanto na dimensão pessoal quanto social. Na

escola, concentram-se muitas das expectativas de vivência da cidadania plena

e da construção de uma sociedade mais justa.

É importante refletir que, principalmente, a escola pública representa a

única esperança de melhoria de condições de vida para grande parte da

população brasileira. A esperança de viver condignamente a cidadania plena

está toda concentrada no efeito da ação da escola. E quantas vezes, a escola,

indiferente a essa aspiração de sua comunidade, frustra essa esperança,

cultivando a repetência sucessiva até eliminar completamente o aluno de suas

salas.

No decorrer dos capítulos veremos que o papel social da escola junto à

comunidade é o de um agente transformador dos problemas e carências

daquele meio, agindo como fonte de informações e instruções para todos os

que desejam uma melhor qualidade de vida. A escola precisa programar

eventos que promovam mudanças e transformações, amparando e

desenvolvendo os membros deste conjunto de forma a exercer seu papel

social.

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Uma educação para a era da globalização pressupõe o alcance de um

novo patamar na história da evolução da humanidade no sentido de corrigir os

inúmeros desequilíbrios existentes, as injustiças e as desigualdades sociais,

com base na compreensão de que estamos numa jornada individual e coletiva,

o que requer desenvolvimento de uma consciência ecológica, relacional,

pluralista, interdisciplinar, sistêmica, que traga maior abertura, uma nova visão

da realidade a ser transformada, baseada na consciência da inter-relação e da

interdependência essenciais que existem entre todos os fenômenos da

natureza. Uma educação que favoreça a busca de diferentes alternativas que

ajudem as pessoas a aprender a viver e a conviver, a criar um mundo de paz,

harmonia, solidariedade, fraternidade e compaixão.

Nesse contexto, a escola da era relacional deverá formar cidadãos que

possam exercer uma presença humanizadora na sua comunidade, que

implique não em competitividade, mas em vivência coletiva, em crescimento

com o outro. Uma escola em que o aluno se sinta participante de uma

comunidade, que ele perceba sua futura profissão.

Portanto, a escola é constituinte e constitutiva da sociedade em que está

inserida. Isso significa que não dá para pensá-la de forma independente da

realidade social. As ações desenvolvidas na escola refletem o momento

histórico que a sociedade está vivendo. Assim, a escola torna-se mais real,

mais atuante, quanto maior for o número de sujeitos sociais participando

ativamente dos seus processos. Ela tem um papel importante na organização

da sociedade, mas também se modifica em função da sociedade.

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CAPITULO I

A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

A escola, ao longo do tempo, tem como função preparar o aluno

para a vida em sociedade. Seu papel primordial é o de educar e ensinar bem à

totalidade dos alunos que a procuram, transmitindo para as novas gerações o

conhecimento acumulado pelas gerações que antecederam. A questão central

passa, então, pela socialização do conhecimento e a forma como ele é

socializado.

Cabe à escola fornecer o conhecimento necessário para que o

indivíduo, tomando consciência da realidade e de sua situação social, possa

escolher os meios mais adequados para agir sobre ela. Dessa forma, a

instituição escolar parte da idéia de que todos os indivíduos devem ter o direito

assegurado da aprendizagem, apesar das diferenças existentes entre eles.

Essas diferenças servirão para impulsionar a busca de práticas educativas que,

pela consciência da diferença, permitam aos indivíduos a consciência da

igualdade essencial entre os homens: direito à justiça social, à liberdade, à

participação política – à cidadania.

A escola, instituição socialmente criada para assegurar

transposição de saberes culturais, científicos e sociais considerados válidos e

universais tem assumido um importante papel dentro dos diferentes contextos

histórico-sociais. Não é por acaso que observamos pessoas da cidade e do

campo, homens e mulheres, pais e mães, independentes da sua condição de

classe social, acreditando na escola como um meio de ascensão e mobilidade

social de seus filhos na sociedade.

As expectativas de uma escola de qualidade social, que inclua

todos os cidadãos e que participe na construção de um futuro melhor para a

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13sociedade, são a única razão e força unificadora de relações entre a escola e a

comunidade. O mundo vem passando por mudanças sociais profundas,

atingindo em cheio a vida familiar, os valores, os costumes, as relações das

pessoas no cotidiano e, consequentemente, a educação escolar. As próprias

expectativas de construção de um mundo melhor no sentido de vida coletiva

humana se mostram diferentes no interior das lutas sociais. Nunca se falou

tanto em inclusão social na escola e, ao mesmo tempo, na má distribuição das

riquezas produzidas e acumuladas socialmente nas mãos de poucos. Também

nunca se refletiu tanto sobre o nefasto modelo econômico globalizado e os

pressupostos neoliberais na educação, nas relações sociais e na vida da

comunidade (RODRIGUES, 1987, p.45).

Nessa perspectiva, a escola deve abrir suas portas, deixar que as

questões sociais nela apareçam e sejam discutidas, assumir seu papel de

instituição integrante da história, transformando e sendo transformada pelos

movimentos mais amplos da sociedade. Precisa ser uma escola concreta, viva

e real, comprometida com os direitos dos que nela trabalham e estudam e com

a luta pela ampliação do direito à educação para todos.

A escola não é uma instituição solta no espaço. Ela tem uma história

que foi e continua sendo construída por aqueles que, em algum momento de

suas vidas, por ela passaram. Muitas vezes, a escola é uma conquista de

determinada comunidade, que lutou para ter espaço de acesso ao

conhecimento para seus filhos. Ter uma escola é um passo importante, mas

não o único. Tão ou mais significativo do que o prédio e as instalações são a

qualidade do trabalho que se realiza no interior da escola (ARROYO, 1986,

p.11).

Para cumprir sua função social, portanto, a escola necessita estar

em ligação permanente com o seu entorno. Caso contrário acabará por se

transformar numa instituição isolada, perdendo o poder de atração sobre

crianças, jovem e suas famílias. É oportuno lembrar que, de todos os grupos de

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14pessoas que freqüentam a escola, a comunidade é a mais perene; alunos,

professores, gestor, funcionários... todos saem, após alguns anos. A

comunidade é a que ali permanece por gerações; por isso, é dela a escola.

1.1 - A influência da escola na transformação da sociedade.

Percebemos que a educação escolar é um dos meios que pode

influenciar na transformação da estrutura da sociedade. Porém, quando mal

utilizada pode contribuir para a manutenção da desigualdade social, através de

uma proposta educativa que apenas transmite conteúdos insignificantes, sem

dar oportunidades dos alunos participarem, tornando-os incapazes de expor

suas questões.

As escolas se tornaram instituições tão centrais e naturais em nossa

sociedade que nem imaginamos como viver sem elas. Essa “naturalização” da

escola, porém, nos leva a pensar nela de maneira abstrata. Porém, a escola

está integrada nos movimentos mais gerais da sociedade. Mesmo cercada de

muros, particular ou pública, religiosa ou laica, rural ou urbana, a escola dialoga

o tempo todo com os acontecimentos políticos, sociais e econômicos da

localidade e do país. A escola é, portanto, um espaço vivo, de profunda

socialização, no qual atuam pessoas concretas, com histórias diversas e com

culturas variadas.

A escola deve abrir suas portas, deixar que as questões sociais

apareçam e sejam discutidas, assumir seu papel de instituição integrante da

história, transformando e sendo transformada pelos movimentos mais amplos

da sociedade. Precisa ser uma escola concreta, viva e real, comprometida com

os direitos dos que nela trabalham e estudam. (LUCKESI, 1994, p.9)

A escola foi criada com a função de transmitir àqueles que mais tarde

iriam exercer seu papel na sociedade, como cidadãos, as experiências e os

conhecimentos acumulados pela humanidade. Os antropólogos registram sua

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15existência em todas as sociedades, desde a simples forma de se passarem às

experiências dos mais velhos aos mais jovens à sua institucionalização

enquanto instância do saber e de formação humana. A escola deve possibilitar

aos alunos vivenciar experiências educativas que lhes possibilitem o

desenvolvimento intelectual e o relacionamento interpessoal para o

fortalecimento das competências necessárias à vida adulta. (SOARES, 1985,

p.47)

A escola é um espaço social instituído nas diferenças, onde deveriam

ser ensinados conteúdos que viabilizassem respostas às necessidades práticas

da vida e onde, principalmente, se buscasse uma formação humana plena. Sob

este ponto de vista Perrenoud (2000, p. 14) defende que o preparo para a vida

não propõe situações sob medida, nem se pode prever as dificuldades como

acontece no contexto da escola. Assim, esta formação comporta variadas

dimensões, entre elas a ética, a política, a social, enfim, tudo o que tem a ver

com o desenvolvimento material e espiritual do individuo e da sociedade.

No momento histórico em que a sociedade brasileira se encontra em

crise, devido aos altos índices de desemprego e à falta de oportunidades no

âmbito profissional, a escola precisa assumir, de fato, a sua função social,

garantindo a todos o acesso ao saber, e oferecer uma formação adequada e

compatível aos novos tempos.

A integração da escola com a comunidade é um fator crítico de sucesso

para o processo educacional, mas de grande dificuldade de implantação por

causa da cultura de nossa sociedade, onde predominam o individualismo e a

falta de participação das pessoas na resolução dos problemas que envolvem a

coletividade. Este é um desafio para a escola e para a comunidade em que

aquela está inserida.

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16Convém lembrar que a educação ocorre dentro e fora de

estabelecimento de ensino. Ela pode ocorrer na família, igreja etc., A família,

por exemplo, é o primeiro elemento social que influi na educação, sem a família

a criança não tem condições de subsistir. Essa necessidade não é apenas para

sobrevivência física, mas também psicológica, intelectual, moral e espiritual.

Por isso é de extrema importância o entrosamento dos pais com a escola e

com a comunidade, por isso a escola deve ser o ambiente em que pais e

professores promovam a educação juntamente.

A educação, a sociedade e a escola estão interligadas. Sendo assim,

para Oliveira (1993. p. 53): “Educar é, pois, ajustar os educandos aos padrões

culturais vigentes. Ajustar os educandos a esses padrões significa torná-los

capazes de se integrar na sociedade de um modo adequado. A educação é,

pois, usada como método de influenciar o comportamento humano, de modo

que este se enquadre nos padrões vigentes de interação e organização sociais.

É um processo social que deve ser aberto, democrático, para preparar ou

equipar as pessoas ou grupos para a mudança social, isto é, para o

aperfeiçoamento progressivo do homem e a construção de um mundo melhor.

De acordo com O’ Sullivan (2004, p.32) para entrar na discussão de uma

visão transformadora da educação, é necessário ter muito claro que ela

envolverá grande diversidade de elementos e de movimentos da educação

contemporânea. Vivemos em um período da história extremamente turbulento,

uma época em que há violentos processos de mudanças que nos desafiam em

todos os planos imagináveis. Nossa responsabilidade é a de estar totalmente

envolvido por esta transformação e ter influência na direção que ela vai tomar.

Temos a enorme responsabilidade de cuidar de nosso planeta e lembrar que

todos os empreendimentos educacionais devem ser julgados de acordo com a

magnitude desta tarefa. Trata-se de um desafio para todas as áreas da

educação. É nossa obrigação educar para sobreviver, para criticar e para criar.

Diante de uma sociedade injusta, onde o poder econômico e social

prevalece para uma minoria, e torna a classe subalterna cada vez mais

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17alienada e marginalizada, com pouca possibilidade de ascensão. O papel da

escola deve ser um meio de conscientização dessa desigualdade, visualizando,

de forma crítica, todos os acontecimentos e discutindo a saída para uma

mudança no contexto social.

Assim, a escola tem por função preparar e elevar o indivíduo ao

domínio de instrumentos culturais, intelectuais, profissionais e políticos. Isso

torna sua responsabilidade pesada e importante. Assim dimensionada a tarefa

da escola, evidencia-se a expectativa que sobre ela recai no contexto da

sociedade.

1.2 - A escola como instância de formação humana.

Segundo Sacristán (2001, p. 102) o papel da escola é muito mais amplo

do que só passar conteúdos, ou seja, transmitir conhecimentos. Ela deve

relacionar esses conteúdos com a vida do educando, trazer fatos reais,

promover debates analisando as causas e as conseqüências desses fatos,

levando os alunos a uma reflexão sobre seu passado, relacionando-o com o

seu presente e futuro, tornando-os conscientes das questões sociais em que

estão inseridos para juntos buscarem soluções possíveis e pertinentes de se

concretizar.

Portanto, a função social da escola ultrapassa a troca do conhecimento

sistemático em sala de aula. A escola é também um importante espaço de

convivência humana-lugar de socialização, de encontros e descobertas. Esse

papel implica ainda a formação de pessoas que tenham valores morais e

princípios éticos, que saibam respeitar e preservar o meio ambiente, que

consigam se expressar e expor suas idéias e pontos de vista com clareza, que

possam conhecer o que prejudica e o que beneficia sua vida e a de toda

comunidade, como um todo harmonioso.

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18A educação é um fenômeno social e como tal, é também parte

integrante das relações sociais, econômicas, culturais e políticas de

determinada sociedade. Cada tendência tem sua influência e seu modo atuante

dentro da escola que reflete na sociedade. Não há sociedade sem Prática

Educativa nem Prática Educativa sem sociedade. “A educação consiste na

socialização das novas gerações. A socialização visa a constituir em cada um

de nós um ser social.” (OLIVEIRA, 1993. p. 23).

Nesse sentido, a educação tem um papel fundamental de conhecer o ser

humano em toda sua dimensão e suas possibilidades, entendendo-o a partir do

contexto social no qual está inserido. E, a partir disso, ajuda-lo a encontrar os

melhores caminhos para obter uma vida sadia e prazerosa, mostrando que são

capazes de serem livres numa sociedade que os aliena e explora

inconscientemente.

A educação em primeiro lugar tem o objetivo de formar cidadãos,

assim como o trabalho tem o grande propósito de dar ao homem uma vida

digna. Portanto, a partir destas duas afirmativas, os educadores podem concluir

a importância que terá o planejamento para a mudança da realidade, ou seja,

de buscar que a educação efetivamente se transforme o homem em cidadão e

que um dia o trabalho possa permitir frutos para que todos tenham a dignidade

que o mesmo deveria propiciar.

A escola forma para a vida e para a vivência plena da cidadania. Essa é

uma sentença constantemente pronunciada por educadores. Nela está

embutida a idéia da formação para os valores, como o respeito, a

solidariedade, a responsabilidade, a honestidade, etc. Nela está também o

conceito de atitudes, isto é da predisposição do sujeito para atuar de certa

maneira.

De acordo com Demo (1995, p. 53), a escola assume um caráter democratizador

à medida que proporciona, não apenas o acesso, mas a apropriação do conhecimento e

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19da tecnologia. O caráter transformador da escola é determinado pelo grau de

consciência e instrumentalização cientifica, técnica, crítica e criativa que seus alunos

venham a alcançar. A escola colabora para a transformação social na medida em que

fomenta as capacidades intelectuais, as atitudes e o comportamento crítico em relação à

sociedade em que está inserida. O papel de mediador é exercido pela escola através do

domínio do código cientifico e de suas linguagens que permitem ao cidadão não apenas

interpretar a realidade, mas interagir com ela de forma consciente, crítica e produtiva.

É na escola que as crianças se apropriam do código cultural

socialmente aceito, instrumentalizando-se para a compreensão mais clara das

relações que se dão na sociedade, construindo sua consciência histórico-

política, imprescindível à luta contra a dominação. A escola, hoje, prepara não

só o futuro aluno trabalhador, mas também o aluno-trabalhador, uma vez que

há o ingresso precoce no mercado de trabalho, através do mercado informal.

Este fato nos leva a refletir sobre as mudanças necessárias a serem feitas para

a escola que queremos: repensar seu currículo, suas metodologias, seus

horários, sua proposta pedagógica, enfim, sua organização. Não é mais

possível lidarmos com a idéia de um aluno abstrato, mas com um aluno

concreto, referência de um mundo onde a informação e a tecnologia caminham

aceleradamente ao seu encontro.

Enfim, a escola de qualidade proporciona aos alunos atividades não

restritas apenas às aprendizagens cognitivas, mas também e na mesma

proporção, enseja momentos que propiciam formar pessoas dentro do enfoque

de uma sociedade humanista, solidária e que trata todos os seus com

igualdade, independentemente das diferenças individuais. Isso se consegue

criando atividades que aproximam as pessoas, favorecendo o conhecimento

interpessoal e a aceitação das diferenças. Uma escola de qualidade

desenvolve objetivos relacionados à formação de cidadãos solidários, éticos e

dignos, encarando tais metas como tão importantes quanto às relacionadas ao

conhecimento acadêmico. Uma escola de qualidade é inclusiva; quer dizer, não

desiste de nenhum de seus alunos. Todos têm oportunidades de aprender,

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20mesmo os que apresentam dificuldades: sejam elas físicas, intelectuais,

emocionais ou culturais. Quer dizer, não discrimina os menos dotados,

procurando sempre descobrir o quanto cada um tem de possibilidade de

crescimento e assegurando-lhe o crescimento possível. E finalmente a escola

de qualidade, ensina seus alunos a serem críticos, conscientes, ligados nos

problemas da sociedade e dos indivíduos, capacitando-os a discutir e propor

soluções, engajando-os na luta por uma sociedade mais justa e digna.

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CAPITULO II

O PAPEL DO PROFESSOR NA SOCIEDADE ATUAL

A sala de aula é o espaço no qual professores e alunos se encontram e interagem em torno do conhecimento. Essa interação, que

constitui a dinâmica da sala de aula, é em grande parte decorrente da forma

como o professor vê o processo de ensino-aprendizagem. A idéia que se tinha

no passado, de alunos como pessoas relativamente fáceis de serem moldadas

e dirigidas a partir do exterior, não existe mais. Foi substituída pelo

entendimento de que, ao contrário, eles selecionam determinados aspectos do

meio físico e social, os assimilam e processam, conferindo-lhes significados.

Com isso, a concepção de aprendizagem muda radicalmente.

Se antes a aprendizagem era vista como produto quase exclusivo

do comportamento do professor e da metodologia de ensino adotada, agora as

contribuições dos próprios alunos são ressaltadas: seus conhecimentos,

capacidades e habilidades prévias; sua percepção da escola e do professor;

suas expectativas e atitudes diante do ensino. Pouco a pouco, os alunos vão

se apropriando dos ensinamentos da escola, à luz do que já conhecem.

Para Rios (2001, p. 78) o educador não é apenas aquele que transmite

um tipo de saber para seus alunos, aos quais se atribui um estado de

ignorância absoluta. O papel do educador é muito mais amplo, ultrapassando

mesmo a mera transmissão de conhecimentos. É certo que transmitir

conhecimentos é um componente da tarefa educacional, mas não a define

integralmente nem a limita. O educador deve levar o aluno a compreender e

organizar sua experiência de vida, para que ele possa desenvolver a

capacidade de criticar a realidade onde vive. O educador deve trabalhar no

sentido de formar um cidadão consciente, crítico e participativo.

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22Pela autoridade de que está investido, o professor exerce uma grande

influência sobre seus alunos. Por ele passa muito mais do que a informação: a

partir de sua atitude e de sua postura dentro da sala de aula, os alunos

aprendem todo um código de ética. Mais que isso, ele precisa ter em mente

que o significado atribuído por ele aos comportamentos dos alunos tem

importância fundamental na construção da sua auto-imagem: seu olhar pode

alimentar a esperança de sucesso, reafirmando a competência e a adequação,

ou condenar ao fracasso, congelando em seu aluno uma auto-imagem de

incompetente.

Ser educador é, acima de tudo, ter um papel social importantíssimo, o de

formar cidadãos capazes de viver em mundo turbulento como o nosso que

saiba encontrar caminhos mais viáveis, respeitando a si mesmos e aos outros.

Ser educador é desafiar os alunos com conhecimentos que lhes servirão para a

vida e para o mundo, possibilitando a integração dos conteúdos, para se ter

uma visão global. É incentivar, mostrando que todos são capazes e não

discriminar por isso, ou por aquilo, justificando o fracasso escolar. Ser

educador é buscar meios de oferecer uma educação com mais valor,

interessante, significativa e prazerosa.

2.1 - Interação professor-aluno.

O trabalho do educador não consiste em resolver problemas e tomar

decisões sozinho. Ele desempenha o papel de estimulador, propiciando

condições para os alunos se tornarem responsáveis pela sua própria

aprendizagem, incentivando-os a imaginar soluções, explorar possibilidades,

levantar hipóteses, justificar seu raciocínio e validar suas próprias conclusões.

Nessa perspectiva, o professor passa a ter uma nova proposição

metodológica de trabalho, pois se torna o articulador e o orquestrador do

processo pedagógico. Atua em parceria com os alunos, propõe atendimento

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23diferenciado, torna a escola um espaço aberto para a criação, provoca

situações desafiadoras, instiga o aluno a buscar e a investigar novos caminhos.

É importante ressaltar que os professores precisam estar conscientes de

seu papel de formadores e, por este motivo, é tão importante que se coloquem

como estimuladores do processo de ensino-aprendizagem que ocorre na

escola. È obrigação da escola, em uma visão transformadora da educação,

preparar da melhor maneira o cidadão do futuro, para que aja com ética,

respeitando a si mesmo, os outros e o meio em que vivem.

Na interação professor-aluno, supõe-se que o primeiro ajude o segundo

na tarefa de aprender, propiciando-lhe pensar com autonomia. Para aprender,

o aluno precisa contar com alguém sensível para percebê-lo nos diferentes

momentos do processo educativo e para responde-lhe de forma a ajudá-lo a

evoluir nesse processo, construindo novos conhecimentos, habilidades e

significados.

A relação entre professor e alunos é determinante para o êxito de uma

aula. Veiga (1996, p. 95) afirma que “a relação pedagógica deve ser permeada

pela intenção consciente, clara e objetiva por parte daqueles que a vivenciam,

no caso, professor e aluno”. Assim, a relação entre professor e alunos requer

do docente experiência e maturidade, afinal, é sua responsabilidade definir as

normas e os limites necessários para uma convivência saudável.

O sucesso desse relacionamento, não se pode esquecer, vai depender,

em parte, do posicionamento do professor em face do seu conceito de

educação. O mundo moderno está continuamente em mudança, por isso o

único homem que se educa é aquele que aprendeu a aprender, que aprendeu

como se adaptar e mudar, que se conscientizou de não haver conhecimento

seguro, ou seja, nenhum processo de busca do conhecimento oferece a

certeza do encontro da verdade absoluta. Dessa forma, a atitude do professor,

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24enquanto estimulador e instigador da curiosidade do aluno exercerá papel

relevante no processo de ensino-aprendizagem.

A influência do professor, positiva ou negativa, na sala de aula, atinge de

forma acentuada, a aprendizagem dos alunos. É comum alunos que vão mal

em uma disciplina melhorarem, sensivelmente, na troca de professor,

demonstrando dedicação e interesse no estudo da mesma. Isso significa que o

comportamento do professor em relação aos alunos é de fundamental

importância para que ocorra a aprendizagem.

Há professores que não se interessam pelo que acontece no íntimo de

seus alunos, não se preocupam nem com seu amor, nem com seu ódio,

procuram viver somente para si, buscando a satisfação pessoal de, ao final da

jornada letiva, ter cumprido o programa de trabalho. No sentido inverso, o

professor interessado no que acontece com seus alunos é lúcido e sabe, de

início que essa relação é apenas um momento na vida de cada uma daquelas

pessoas, que precisa ser vivenciado com profundidade, mas terminado o ano

letivo, outros trabalharão com eles.

Segundo Freire (1997, p. 78) o educador já não é o que apenas educa,

mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao

ser educado, também educa. Ambos, assim se tornam sujeitos do processo em

que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem. O

professor, há tempos deixou de ser o detentor da verdade, o centralizador da

informação. Na nova maneira de ensinar, o educador é o intermediador do

individuo com o meio ambiente, ou seja, um mediador do conhecimento.

O papel do professor não é de transmitir conhecimentos, mas o de

disponibilizar domínios de conhecimentos, mas o de disponibilizar domínios de

conhecimento de modo expressivamente complexo e, ao mesmo tempo, um

ambiente que garante a liberdade e a pluralidade das expressões individuais e

coletivas (SANTOS, 1997, p. 7).

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25

Assim, é necessário que o professor reflita sobre o seu papel de

educador e agir de modo a promover mudanças. Estas começam a ocorrer

pela sala de aula e pela metodologia utilizada, pois o professor é aquele que

indica o caminho ao aluno.

2.2 - A nobilitante tarefa de educar.

A educação consiste em conduzir a pessoa para seu pleno

desenvolvimento como ser, em preparar o individuo para a vida adulta, visando

à sua realização futura. É tarefa do educador levar o educando de seu estado

de inexperiência para uma posição que o habilite a resolver problemas e a

viver adequadamente. Toda educação por isso, está voltada para o futuro, para

as eventualidades que cada um precisa enfrentar.

É tão importante, por isso, o trabalho do professor, para resgatar o papel

da escola, como elemento imprescindível nessa sociedade do conhecimento,

onde a aprendizagem é crucial. Porém, o exercício do professor também é

contribuir para formar alunos que se emancipem e ocupem seu lugar na

história, participando do processo democrático, escolhendo seus dirigentes de

forma consciente e criando, assim, uma sociedade mais justa e igualitária.

A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade,

mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e

experiências culturais que os tornem aptos a atuar no meio social, e

transformá-lo. Para tanto, é necessário que o educador seja o elo entre o aluno

e a sociedade. “Não há sociedade sem prática educativa, nem prática

educativa sem sociedade.” (LIBANEO, 2003. p.24).

O docente deve estar preparado para enfrentar mudanças na sociedade

atual através da sua prática reflexiva, e interagir nela. O professor, visto como

agente de transformação da sociedade, faz a mediação entre o aluno e o

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26contexto social. Além de ter o compromisso reflexivo, ele também deve ter o

compromisso ético-político das relações sociais de poder. O professor não é o

único agente da educação. O professor não é o único agente da educação.

Embora o professor, profissional reflexivo, não seja o único agente da

educação, ele desempenha e continuará a desempenhar um papel muito

importante na educação das futuras gerações.

Todo mundo espera que a escola faça diferença na vida de seus alunos.

Isso quer dizer que queremos que todo estudante saia da escola diferente de

como nela entrou: que saiba mais sobre si e sobre o meio físico e social; que

pense a respeito da realidade a sua volta; e que consiga discernir, no ambiente

em que vive o justo do inaceitável, agindo de maneira coerente e conseqüente.

Esse é o motivo pelo qual se procura uma escola que promova o

desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral de seus alunos.

Não podemos perder de vista a principal função da escola: ajudar os

alunos a construir conhecimentos, formas de pensar e sentir mais elaboradas,

assim como valores sociais. Isso implica um movimento de relações recíprocas

entre o aluno e o universo a ser conhecido.

O ambiente escolar deve ser organizado de tal forma que os alunos

possam se sentir mais valorizados e capazes de obter sucesso nos estudos. E

que, ao estabelecerem laços afetivos com a escola e com os professores, eles

possam aprender pela vivência da curiosidade, pelo desejo de ver, fazer,

indagar e construir. Tudo isso sem negar sua condição social, muitas vezes

cruel, nem aceitá-la como imutável. É fundamental criar para o aluno, e com o

aluno, uma escola que apresente um ambiente inovador, transformado e

participativo, onde o aluno seja reconhecido como sujeito capaz de propor e

inovar.

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CAPITULO III

A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL NOS PRINCÍPIOS DE CONVIVÊNCIA

DEMOCRÁTICA DA ESCOLA

O objetivo fundamental que deve guiar as reformas educacionais é

estabelecer uma escola para a democracia, ou seja, uma escola que exista em

uma sociedade democrática e que contribua para melhorá-la e aperfeiçoa-la.

Para tanto, ela tem de dar particular atenção a fomentar a autonomia dos

alunos, o que deve estar associado ao empenho em eliminar todas as formas

de intolerância e de exclusão dos outros, isto é, deve ajudar a combater o

racismo, o ódio em relação aos imigrantes e desfavorecidos, a exclusão

religiosa, as atitudes machistas ou excludentes baseadas no sexo.

O orientador educacional tem um papel de grande relevância na

educação, já que, por meio deste, torna-se possível observar, globalmente a

própria escola e os problemas educacionais que dela advém. Cabe lembrar

que a orientação educacional é tão somente uma dimensão, um meio e não um

fim em si mesma. Seu objetivo primeiro é a efetiva aprendizagem dos alunos,

de maneira que, no dia-a-dia que vivenciam na escola, desenvolvam as

competências exigidas pela atual sociedade, como: pensar crítica e

criativamente, ponderar sobre as informações que recebem e não apenas

aceita-las como verdades últimas, expressar idéias de forma clara e objetiva,

enfim, ser capaz de transformar em conhecimento as informações recebidas.

A tarefa de educar não está restrita ao espaço da sala de aula, mas na

escola como um todo: o modo como a mesma é organizada e como funciona,

as atividades que promove, a maneira como as pessoas nela se relacionam, os

hábitos e atitudes de todos os que estão envolvidos neste contexto são

observados, atentamente, pelos alunos. Frente a este desafio, ganha

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28importância o orientador educacional e sua atuação responsável por esta

tarefa.

Não basta reunir escola e comunidade por meio de conselhos ou

colegiados escolares. A escola precisa visar a realização das pessoas e, para

tanto, deverá preocupar-se também com a transformação da comunidade.

Torna-se necessário pensar nas formas de participação que busquem o

encontro das pessoas pelo dialogo e o debate, nos quais estas discutem,

decidem e assumem suas realidades comuns. Acredita-se que esta prática

conduz a um crescimento pessoal e comunitário, talvez até mesmo a uma

formação em serviço da comunidade, tornando possível uma educação escolar

mais humana e participativa. É nesse contexto que o orientador educacional

representa um importante e decisório papel na condução do planejamento

participativo.

A participação da comunidade na gestão é decisiva para que a

qualidade do ensino seja assegurada, é um dos elementos do processo

organizacional escolar, é um meio de alcançar melhor e mais

democraticamente os objetivos da escola, que se centram na qualidade dos

processos de ensino e aprendizagem. (LIBANEO, 2003, p.81).

Nesse contexto a educação é vista como direito e dever da família e do

Estado, distribuindo as responsabilidades, oportunizando a inserção da

comunidade nos processos decisórios das unidades escolares, por meio da

participação em conselhos e colegiados escolares equivalentes. Embora as

políticas educacionais no Brasil tenham promovido mudanças bastante

significativas, em caráter normativo legal, observa-se, ainda, que nas

instituições de ensino, as relações interpessoais apresentam-se fragmentadas:

os membros da comunidade escolar não estão conscientes de suas

verdadeiras funções, a organização e o funcionamento das escolas não têm

conseguido atender às necessidades reais dos alunos, vindo intervir na

qualidade do ensino. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

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29“As normas de funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem a

atuação das pessoas na escola são determinantes da qualidade do ensino,

interferindo de maneira significativa na formação dos alunos”.

3.1 - Uma escola para a democratização.

A escola é onde o “nós” aflora e deve ser cultivado. É um lugar onde nos

construímos individual e coletivamente como cidadãos deste mundo. O

aprender a conviver com o outro e respeitar o seu direito é um princípio básico

da convivência democrática. Isso significa que todos podem ouvir e ser

ouvidos. Se essa aprendizagem começa bem na escola, prosseguirá ao longo

da vida. Muito mais importante do que falar sobre a convivência democrática é

vivê-la.

O orientador educacional precisa estar envolvido na ação de formar a

escola para a democracia, uma escola que esteja longe de qualquer forma de

doutrinamento. É preciso fomentar nos alunos sua capacidade de participação

na vida social em um sistema democrático, ou seja, em um sistema em que

existe igualdade de direitos e de deveres para todos, independentemente de

sua posição social ou de suas crenças.

A escola, na verdade, por suas características, pode ser um lugar

privilegiado de exercício da democracia como valor e como processo. Depois

da família, é a instituição na qual se inicia a socialização entre as pessoas.

Nela, pelo convívio, crianças e jovens aprendem limites que permitem situar o

seu direito individual em relação ao direito do outro.

Uma escola democrática é uma instituição que se propõe instruir e

formar alunos por meio da participação, juntamente, com professores, no

transcorrer das tarefas de trabalho e convivência docente. Uma escola

democrática pretende que os alunos sejam protagonistas da própria educação

e que o façam participando ou tomando parte direta em todos aqueles aspectos

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · 8 interativos indissociáveis e modificadores das relações sujeito-objeto e sujeito-sujeito, a partir dos quais um

30do processo formativo possíveis de deixar em suas mãos. Uma escola

democrática é, sobretudo, uma instituição que facilita em níveis acessíveis a

participação do aluno, esperando que adquira autonomia e a responsabilidade

que permitem incrementar paulatinamente a amplitude de sua participação na

comunidade.

A escola é uma instituição de trabalho, de convivência e de vida.

Portanto, na medida em que é um espaço de vida, recai sobre ela a

necessidade de organizar os acontecimentos que fazem parte da vida das

pessoas e da coletividade. Nesse sentido, não dá para imaginar uma escola

que não seja a ressonância das celebrações próprias da comunidade, que não

acolha os momentos de festa dos seus alunos, que não se envolva em

campanhas reivindicativas e solidárias ou que não organiza momentos de

jogos, esporte e competição. Uma escola democrática é uma escola permeável

à sensibilidade dos seus cidadãos e às necessidades dos seus usuários.

(ZABALA, 1998, p.106)

A escola deve promover uma educação universal, que provoque nos

estudantes de todos os níveis e de todas as idades a motivação para aprender

e a disciplina do aprendizado permanente. A escola precisa ser aberta,

acessível a todos, aos que são altamente educados e aos que, por qualquer

razão não tiveram acesso a uma educação avançada anteriormente. É preciso

articular o saber da escola com o da comunidade num relacionamento que

deve promover o desenvolvimento pleno do aluno como pessoa, cidadão,

trabalhador etc. Isso requer convívio democrático, para que haja troca

incessante de experiências entre todos os envolvidos nesse processo, dentro e

fora da escola.

Portanto, na formação da pessoa para o convívio social ou na educação

do cidadão, é essencial que, no relacionamento democrático, alunos,

professores, funcionários e pais exercitem seus direitos e deveres e que a

escola seja uma experiência criativa de conviver socialmente, formadora de

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31cidadão, para além do que se ensina na sala de aula, ou seja, no exercício dos

direitos e dos deveres no dia-a dia.

Hoje, preparar culturalmente os indivíduos significa possibilitar-lhes a

compreensão da visão de mundo presente na sociedade, para que possam

agir, aderindo, transformando e participando da mudança dessa sociedade.

Sem essa compreensão, torna-se inviável a participação efetiva do indivíduo

nessa produção cultural. É esta função da educação escolar que estava clara

para os primeiros formuladores de uma proposta educacional. A preparação

para o trabalho e para o exercício de uma determinada profissão são tarefas

que a escola passa a exercer, enquanto lócus de preparação do indivíduo para

a vida social. Ela não pode ser considerada a função principal, fundamental e

única da educação.

3.2 - A importância das relações interpessoais na escola.

“Escola é... o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios,

salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente,

gente que trabalha gente que estuda gente que se alegra, se conhece, se

estima. O diretor é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada

funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor, na medida em que cada

ser se comporta como colega, como amigo. Nada de ilha cercada de gente por

todos os lados. Nada de ser como tijolo que forma parede indiferente, frio, só.

Importantemente na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade,

é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar nela. Ora, é

lógico... em uma assim vai ser fácil estudar, crescer, fazer amigos, educar e ser

feliz.” (FREIRE 1997, p. 23).

Nesse contexto, a escola não é apenas um espaço de produção e

divulgação de saber, mas também, um espaço de troca de intercâmbio de

relações, isto é, de aprendizagem social. Embora a face relacional da escola

seja um tanto esquecida, quando refletimos sobre o que seja a mesma, não há

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · 8 interativos indissociáveis e modificadores das relações sujeito-objeto e sujeito-sujeito, a partir dos quais um

32como priorizar um lado em relação ao outro. A valorização das relações

interpessoais e de um clima emocional positivo, em termos de respeito e

liberdade, são tão fundamentais quanto os conteúdos trabalhados em sala de

aula, para desenvolvimento do educando.

A escola é o lugar de aprender a interpretar o mundo para poder

transformá-lo, a partir do domínio das categorias de método e de conteúdo que

inspirem e que se transformem em práticas de emancipação humana em uma

sociedade cada vez mais mediada pelo conhecimento. O lugar de desenvolver

competências, que por sua vez mobilizam conhecimentos, mas que com eles

não se confundem, é a prática social e produtiva.

De acordo com Oliveira (1993, p. 41) a escola tem por função preparar e

elevar o indivíduo ao domínio de instrumentos culturais, intelectuais,

profissionais e políticos. Isso torna sua responsabilidade pesada e importante.

Assim dimensionada a tarefa da escola, evidencia-se a expectativa que sobre

ela recai no contexto da sociedade. Essa expectativa se diferencia pelos

interesses que se cruzam na sociedade de classes, no universo social que

cerca a escola.

Assim, a escola é ao mesmo tempo instituição constituinte da sociedade

e constitutiva desta, ou seja, é neste movimento de diferentes personagens

históricos nas decisões da escola que ela vai se tornando mais real mais

concreto aos olhos da comunidade; e, similarmente, vai tecendo normas de

conduta, princípios e valores que incidirão sobre as práticas comunitárias e

sociais que vão ocorrer além dos muros das escolas, através dos indivíduos

que lá vão sendo formados. É por isso que o fortalecimento dos conselhos

escolares é uma ação eminentemente política e de gestão escolar.

A escola deve, em qualquer momento do processo pedagógico, ter

clareza de seu papel. Há um alvo a ser alcançado: a universalização e

socialização do saber, das ciências, das letras, das artes, da política e da

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33técnica. Mas há um ponto de partida que não pode ser olvidado: as

experiências de vida e a realidade percebida por aqueles a quem ela deve

educar. O objetivo deve ser o de elevar o nível de compreensão dessa

realidade por parte do educando, que deve ultrapassar a percepção do senso

comum em direção a formulações mais elaboradas e organizadas. Esse é o

trajeto que a escola deve percorrer. É necessário preparar o educador para

trabalhar com alunos de classes sociais diferenciadas, e prepara-los para

incorporar no processo educativo a experiência de vida e de conhecimento que

qualquer aluno traz para a escola. É necessário que os educadores saibam

identificar essa experiência de vida, a capacidade de fala dos seus alunos, a

capacidade que cada um revela ao discorrer sobre suas vivências, e incorporar

a realidade vivida, possibilitando ao aluno progredir no conhecimento a partir

do reconhecimento de sua própria realidade.

Segundo Tardif (2002, p. 51), para que a escola cumpra sua função de

facilitar o acesso ao conhecimento e promover o desenvolvimento de seus

alunos, é preciso que todos estejam de acordo sobre a maneira como se

desenvolve o processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, deve-se identificar

o papel ativo do sujeito na apropriação e na construção de seu próprio saber,

posicionando-se contra formas de ensino ditas tradicionais, nas quais cabe aos

estudantes apenas receber do professor o conhecimento em uma versão

considerada pronta. Ao adotar uma nova postura diante do ensino, é

necessário conhecer os pressupostos básicos de construção de conhecimentos

na escola, bem como os fatores que facilitam a aprendizagem daqueles que a

freqüentam.

Portanto, é dever da escola desenvolver o sentido da individualidade e

da identidade do aluno, o que se faz por meio da participação no processo

social, na assimilação cultural e no desenvolvimento de valores e atitudes.

É preciso ampliar o conhecimento nas diferentes áreas, tendo em vista a

relação com o outro, as questões políticas mais amplas, a saúde coletiva, o

meio ambiente, etc.

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Assim, o convívio democrático na escola é um processo desafiador, que

se constrói a cada dia, envolve toda a comunidade escolar e suas relações

com o ambiente externo. Ele não depende de ações isoladas, radicais, que

uma vez executadas arrancam o mal para sempre. A construção do convívio

democrático está entranhada em todas as ações da escola.

Enfim, a escola é uma instituição de trabalho, de convivência e de vida.

Portanto, na medida em que é um espaço de vida, recai sobre ela a

necessidade de organizar os acontecimentos que fazem parte da vida das

pessoas e da coletividade. Nesse sentido, não dá para imaginar uma escola

que não seja a ressonância das celebrações próprias da comunidade, que não

acolha os momentos de festa dos seus alunos, que não se envolva em

campanhas reivindicativas e solidárias ou que não organiza momentos de

jogos, esporte e competição. Uma escola democrática é uma escola permeável

à sensibilidade dos seus cidadãos e às necessidades dos seus usuários.

3.3 - Uma violência sutilmente disfarçada.

Ao chegar à escola pública, muitas crianças já são vencedoras de várias

batalhas: em primeiro lugar, venceram a batalha contra a desnutrição, a

desidratação, as verminoses; depois, conseguiram resistir à tentação da rua,

que seduz com a ilusão de liberdade; e, principalmente, elas estão apostando

na escola, nessa primeira rodada da injusta competição entre a escola e o

trabalho infantil.

Por tudo isso, ao adentrar aos portões de uma escola o aluno deveria

ser recebido como herói. Mas não é o que costuma acontecer. Ele ainda vai ter

de enfrentar a violência da própria escola, muitas vezes sutilmente disfarçada,

para preservar sua imagem da demolição sistemática engendrada pelo

preconceito de colegas e professores. Apelidos maldosos e brincadeiras

embaraçosas são exemplos de situações humilhantes que levam muitos alunos

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35menos adaptados a se sentir como forasteiros rejeitados. Essas atitudes

marcam alguns alunos com o estigma do fracasso e muitas vezes selam seu

destino de excluídos.

A expectativa do professor sobre o sucesso ou o fracasso do aluno é

decisiva: aqueles em cujo sucesso o professor acredita tendem realmente a ter

resultados melhores. O problema é que, na maioria dos casos, as expectativas

do professor se baseiam em indicadores falsos e preconceituosos, como a

aparência física da criança, o grau de asseio de suas roupas, sua capacidade

de concentração ou de expressão. Mesmo sem se dar conta, o professor atua

muitas vezes como aliado dos alunos mais fortes e integrados, tornando-se

agente do processo de exclusão dos menos favorecidos.

Os profissionais da educação não são responsáveis pelas situações de

injustiça social, mas em suas mãos talvez estejam às armas mais poderosas

para defender os alunos e transforma-los de vítimas em agentes de mudança.

O orientador educacional deve trabalhar nesse sentido, pois, a escola é,

muitas vezes, a única esperança de reversão das expectativas. Pelo menos

dentro de seus muros, o aluno tem o direito de ser tratado com justiça e

equidade, independentemente da sua capacidade de concentração, da cor de

sua pele ou da qualidade de suas roupas. Talvez seja o único modelo de

convivência digna que a vida lhe possa oferecer.

O professor precisa ter consciência de que essa relação se constrói no

cotidiano, em cada atitude que assume em sala de aula. Um primeiro passo

para mudar o quadro dessa violência sub-reptícia é ter clareza de suas opções

e das implicações que elas geram. Para superar os próprios preconceitos é

preciso conhecê-los. Esse é o momento crucial para instilar a tolerância ou a

intolerância, o preconceito ou a solidariedade.

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36Para que o processo educacional seja bem sucedido, a relação entre

professor e alunos deve ser pautada pelo respeito mútuo, pela confiança dos

alunos no saber do mestre e pela esperança do professor no futuro de seus

alunos.

Não podemos extinguir a violência, mas devemos controlá-la. E a escola

tem aí um papel fundamental a desempenhar, dando às crianças e aos jovens

oportunidades para o auto-desenvolvimento, para o exercício ativo da

cidadania e da democracia, traçando junto com a comunidade caminhos que

transformem a educação no fio condutor da paz.

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CONCLUSÃO

Para termos uma sociedade estruturada e capaz de construir um país

em condições de gerar empregos e dignidade social é necessário que esta

estrutura se faça em bases sólidas e precisas, não permitindo nenhuma evasão

em conhecimentos no limiar de sua formação. Compreendemos então, a

importância do professor na construção de uma nação, onde esta categoria de

profissionais carregam em sua responsabilidade muito mais que uma profissão

e o mero cumprimento de seus deveres mensais, são os educadores

responsáveis por toda a estrutura de uma nação determinando o futuro e o

presente de cada criança, jovem ou adulto, dando-lhes interesse e ensinando-

lhes os valores do conhecimento para que estes mudem suas vidas e a vida de

cada pessoa que fizer parte deste ciclo social e toda nação.

A educação é um fenômeno social e como tal, é também parte

integrante das relações sociais, econômicas, culturais e políticas de

determinada sociedade. Cada tendência tem sua influência e seu modo atuante

dentro da escola que reflete na sociedade. Não há sociedade sem prática

educativa nem prática educativa sem sociedade. A educação consiste na

socialização das novas gerações. A socialização visa a constituir em cada um

de nós um ser social.

Conclui-se que a função principal da escola é a formação integral dos

alunos nos aspectos de atitudes, conhecimentos e habilidades, objetivando a

sua integração na sociedade. Ela é uma peça fundamental na engrenagem da

sociedade, pois têm o poder de desenvolver um trabalho que facilite a

formação de cidadãos pensantes, críticos e participativos para atuar na

transformação tão necessária para sua melhoria de vida. Assim, é de

fundamental importância que o orientador educacional esteja envolvido nesse

processo de construção de escolas igualitárias, democráticas e justas.

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