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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI DESIGN DIGITAL MA6 DESIGN E POESIA O GUARDADOR DE REBANHOS - XX ALCIONE DE GODOY BRUNO CEZAR AZZOLINI CAMILLO LOUVISE COQUEIRO MARINA QUEIROZ MAIA RAFAEL DE ARAÚJO SILVA RODOLFO ROSSI JULIANI VINÍCIUS NAKAMURA DE BRITO São Paulo 2009/1

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

DESIGN DIGITAL

MA6

DESIGN E POESIA

O GUARDADOR DE REBANHOS - XX

ALCIONE DE GODOY BRUNO CEZAR AZZOLINI CAMILLO LOUVISE COQUEIRO MARINA QUEIROZ MAIA RAFAEL DE ARAÚJO SILVA RODOLFO ROSSI JULIANI VINÍCIUS NAKAMURA DE BRITO

São Paulo 2009/1

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................2

2. APRESENTAÇÃO DO POEMA..............................................................................3

3. O POETA ................................................................................................................4

3.1 Contexto Histórico .................................................................................................4

3.2 Vida e obra ............................................................................................................5

3.3 Heterônimos ..........................................................................................................6

3.4 Alberto Caeiro .......................................................................................................8

4. ANÁLISE DO POEMA..........................................................................................10

5. LINGUAGENS DE HIPERMÍDIA ..........................................................................14

5.1 Não Linearidade ..................................................................................................14

5.2 Interatividade.......................................................................................................15

5.3 Multiplicidade.......................................................................................................15

5.4 Navegabilidade....................................................................................................16

5.5 Conectividade......................................................................................................17

6. RELAÇÕES DA HIPERMÍDIA COM O POEMA...................................................18

7. RECORTE.............................................................................................................20

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................21

9. CONCEITO DE CRIAÇÃO....................................................................................22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................23

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho apresentará a relação entre Literatura Poética e a Hipermídia,

utilizando como base o poema O Guardador de Rebanhos, escrito por Alberto

Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O foco da análise será o fragmento XX,

onde o autor faz uma relação entre o rio Tejo, carregado de significado e histórias, e

o rio de sua aldeia, que é desconhecido e livre. Mesmo possuindo o foco em um

único fragmento, referências de todo o poema serão utilizadas para uma melhor

compreensão da obra.

Será apresentada a relação de alguns aspectos do fragmento com os principais

conceitos da Hipermídia: a não-linearidade, a interatividade, a multiplicidade, a

navegabilidade e a conectividade; e quais as possíveis interligações entre esses

conceitos e o poema analisado.

As comparações entre os dois rios serão o tema principal dessa relação, já que

ambos são apenas rios, mas com significados totalmente diferentes. Com o objetivo

de explorar essa relação, é sugerido que percorramos o caminho inverso às

associações que fazemos com aquilo que vemos, removendo as ligações e assuntos

que existirão a partir do objeto de estudo, para mostrar esse algo por si só.

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2. APRESENTAÇÃO DO POEMA

O Guardador de Rebanhos - XX O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. (CAEIRO, p.13)

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3. O POETA

3.1 Contexto Histórico

De acordo com descrição da autora Maria Luiza Abaurre(2003), Portugal passava

por um período de dificuldade no início do século XX. Com o assassinato do rei

Carlos X, em 1910, deu-se início ao primeiro regime republicano, um período de

grande instabilidade política, além das dificuldades trazidas pela guerra. Havia um

sentimento de saudosismo na população, que se lamentava da situação atual e

exaltavam as glórias do passado.

A República, incapaz de resolver os problemas mais profundos do país, e sem

conseguir equacionar as diferenças existentes entre os próprios republicanos,

acabou por dar lugar à ditadura salazarista1, que durou cerca de cinqüenta anos, até

a Revolução dos Cravos, de caráter socialista, em 1975.

Em 1915, durante um momento de lamentação, nasce a primeira representação do

movimento modernista português, a revista Orpheu, que tinha o objetivo de

transformar a realidade por meio da reflexão crítica sobre as causas da decadência

do país e sua estagnação intelectual, romper com as idéias do passado e

transformar o mundo. Os principais representantes da publicação foram Fernando

Pessoa, Mario de Sá-Carneiro e José de Almada-Negreiro. A revista pretendia ser

trimestral, mas apenas foram publicadas duas edições, em março e junho do ano de

seu lançamento. Um terceiro volume chegou a ser criado, mas não foi lançado por

falta de financiamento. Esses primeiros modernistas ficaram conhecidos por

"geração de Orpheu", exatamente em função da revista.

Os modernistas portugueses tiraram proveito da herança simbolista, sem renegá-la

totalmente. Assim, o saudosismo do poeta Antônio Nobre, que tinha fortes

conotações nacionalistas, ganhou força entre os membros da "geração de Orpheu".

1 Ditadura Salazarista: Regime português formalmente inaugurado em 1928 que durou até a Revolução dos Cravos, em 1974. O regime tinha como Ministro da Fazenda Antonio de Oliveira Salazar, que baseou sua política no modelo de Mussolini e conseguiu satisfazer os burgueses, fazendo crescer seu prestígio nacional.

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Em termos muito genéricos, como aponta Silva Carvalho(online), pode-se dizer que

a estética do primeiro modernismo, em Portugal como noutros países, consiste

essencialmente na presença de três traços que em certas áreas se complexificam e

se sobrepõem: o impessoalismo, que em Pessoa adquire a forma típica da

despersonalização, a atitude anistórica2 do poema auto-referencial, e a forma

espacial ou espacialização do tempo que explica, em Pessoa, a origem da sua

heteronímia.

3.2 Vida e obra

Segundo Crespo(1988), Fernando António Nogueira Pessoa nasceu ao dia 13 de

junho de 1888 no Largo de S. Carlos, em Lisboa. Vale ressaltar, para importância

deste trabalho, que o Largo de S. Carlos ficava situado não muito distante da

corrente do rio Tejo(o rio de que faz referencia no poema foco desta pesquisa), e

próximo também do Teatro de S. Carlos, onde os aristocratas e intelectuais

freqüentavam. Além disso, esta praça, de acordo com Crespo(p. 15, 1988) “é uma

síntese da Lisboa provinciana, se não aldeã – ainda que anos mais tarde o nosso

protagonista lhe chamasse ‘A minha aldeia’”. Os pais de Fernando eram muito

cultos, de acordo com Crespo(1988), o pai publicava, sem assinar, artigos e

crônicas, falava francês e italiano, e a mãe tinha uma cultura extraordinária, além de

falar inglês, francês, alemão, lia o latim e escreveu alguns versos.

Quando Fernando tinha apenas cinco anos, teve de lidar com a perda de seu pai,

que faleceu aos 43 anos. Após isso, em 1896, a mãe dele se casou com o cônsul

português, que os levou pra morar em Durban, na África do Sul, onde iniciou o

contato com a língua e literatura inglesa. Ali ele morou até o ano de 1905.

2 Anistorica: Anistórica (de an+histórica) significa não histórica, alheia à história, contrária à história, anti-histórica.

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De volta a Portugal, em 1906 ele ingressa na faculdade de letras, porém, desiste

logo. Graças ao seu conhecimento da língua inglesa, Pessoa conseguiu um

emprego de tradutor de correspondências estrangeiras, que lhe garantiu sustento

até o final de sua vida. Sustentou um breve caso amoroso com Ophélia Queiroz,

porém, preferiu se dedicar à literatura.

De acordo com Pires:

Entre 1912 e 1915, quando o Modernismo dava seus primeiros passos em Portugal, o poeta era crítico literário das revistas 'Águia' - que fazia a apologia da Renascença Portuguesa - e 'Orpheu' - que congregava o grupo artístico mais importante da época: Alfredo Pedro Guisado, Armando Cortes Rodrigues, Mario de Sá Carneiro, Santa Rita Pintor, José Pacheco e Almada Negreiros, entre outros(2005, online).

Em 1914, Fernando Pessoa da inicio à geração dos heterônimos. Ao longo de sua

vida, publicou alguns livros em seu próprio nome, o primeiro em inglês, Antinous &

35 Sonets, e em 1934, o livro Mensagem, que como diz Santos(2006, online) é “uma

coletânea de poesias que celebram os heróis e profetizam, em atitude de

expectativa ansiosa, a renovada grandeza da Pátria.” Essa foi a ultima obra de

Pessoa em vida, já que ele morreu em 1935, vítima de um problema hepático devido

à grande quantidade de bebidas que ingeria.

3.3 Heterônimos

Em Fernando Pessoa pode-se encontrar um artista plural, multifacetado e com

diferentes visões sobre o mundo, muitas vezes contraditórias. Para conseguir

explorar ao máximo essas diversas opiniões ele utilizou personagens fictícios, que

de uma forma poética existiram realmente, tinham vida própria e características

específicas na hora de se expressar. Portanto não eram apenas pseudônimos do

autor, sendo considerados heterônimos.

A obra pseudônima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor fora da sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu(Tábua Bibliográfica, Presença, nº 17 apud CEIA, online).

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Esses poetas existentes dentro do psicológico de Pessoa possuíam histórias de vida

distintas, assim cada um enxergava a realidade da sua maneira e utilizava

linguagem própria, de acordo com o mundo em que estavam inseridos. Segundo

George Monteiro os heterônimos de Fernando introduziram um novo estilo:

Ele criou primeiro uma poesia em que o drama existiu entre as pessoas por ele criadas — o que elas pensaram e disseram entre si próprias — e qualquer ação para o exterior de que tenham sido capazes, e criou então depois o drama total de discípulos e, onde seja o caso, de amizade entre a sua coterie de poetas imaginários e reais(apud CEIA, online).

Dentre os vários heterônimos criados pelo poeta, três devem ser destacados, Álvaro

de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, pois tiveram uma enorme importância na

literatura portuguesa. Para exemplificar como os poetas se expressavam,

Moíses(1988) fala que “Se Pessoa escreve ‘à beira-mágoa’, Ricardo Reis ‘à beira-

rio’ e Alberto Caeiro fala no rio que corre por sua aldeia, Álvaro de Campos escreve

‘à beira-mar’”.

Ainda segundo Moíses(1988), “Álvaro de Campos é o heterônimo ‘cientista’,

moderno, voltado para o mar, velha obsessão lusíada e velho tema literário”.

Engenheiro naval, formado Glasgow, ele se auto intitulava um poeta futurista. Foi

contemporâneo de Pessoa e dos outros heterônimos.

Já o “Monarquista, latinista, Ricardo Reis está todo voltado para o passado, e o

passado remoto: é o heterônimo neoclássico, mas de um neoclassicismo original,

diverso dos anteriores [...]”, como diz Moíses(1988). Por não ser contra o pensar e

não ter a Natureza como foco, é considerado o anti-Caeiro.

O terceiro dos mais célebres heterônimos de Pessoa é Caeiro. O poeta de “O

Guardador de Rebanhos” merece uma descrição mais detalhada por ser o autor do

poema estudado nesta pesquisa.

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3.4 Alberto Caeiro

O heterônimo mestre de Fernando Pessoa surgiu no dia 8 de março de 1914 e em

seus primeiros momentos de existência já concebeu a maior parte dos quarenta e

nove poemas de “O guardador de rebanhos”. O poeta começa a ser entendido

através de sua biografia:

Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. (...) era de estatura média, e embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. (...) como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó(MOISÉS, p.62, 1988).

O campo onde viveu permeia sua vida, pois a sua busca é a da integração com a

Natureza. Deseja ser puro e natural, a ponto de não precisar pensar, pois sua

vontade é de olhar o que está a sua frente, não de explicar o que se vê. Quer,

portanto, ver plenamente, sem pensar sobre que está vendo, como diz:

Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo.Mas não penso nele Porque pensar é não compreender ... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... (CAEIRO, p. 2)

Apresenta-se então como um poeta que procura o “sentir”: “Eu não tenho filosofia:

tenho sentidos...”(CAEIRO, p. 2), o que na verdade gera um grande conflito. Ele

busca essa visão pura, mas escreve sobre isso, e para escrever é necessário

pensar, que é justamente o que não quer. Seus poemas são a prova de que Caeiro

estava fadado a pensar. A consciência disso aparece nos seguintes versos:

Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. (CAEIRO, p. 1)

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Diferente dos outros heterônimos e do próprio Pessoa, Caeiro não buscava uma

verdade nem chegar a uma conclusão. Todos “Pairam num céu de etéreas

incertezas. Caeiro não”(HIPÓLITO, 2007, p. 3). O que o faz ganhar destaque e se

tornar o mestre.

O Mestre, porque reduziu ao essencial as suas palavras e as suas convicções. Porque como um mestre achou na ausência, no ascetismo, os significados maiores da sua religião pessoal. Pagão sim, mas só pela simples razão de que quem venera muitos deuses não venera deus algum. Era esse homem impossível uma idéia em si mesma, que recusava existir ou conhecer-se(HIPÓLITO, 2007, p. 3).

Não existe a preocupação de rima nos versos de Caeiro, ele escreve de maneira

familiar, o que torna seu texto aparentemente simples, mas como é visto na análise

do poema XX no capítulo seguinte, isto não é necessariamente verdade. Por trás da

sua maneira simplória de se expressar existem diversos fatores, que se traduzem

em várias formas de interpretação dos seus versos.

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4. ANÁLISE DO POEMA

Para melhor entendimento do poema XX, uma observação deve ser considerada a

respeito das “Canções Doentes” citadas por Caeiro no poema XV, que se opunham

à sua forma de ver o mundo.

As quatro canções que seguem Separam-se de tudo o que eu penso, Mentem a tudo o que eu sinto, São do contrário do que eu sou ... [...] Estando doente devo pensar o contrário Do que penso quando estou são. (Senão não estaria doente), (CAEIRO, p.11)

O poema XX não faz parte,

diretamente, dos quatro

citados, mas existe um

documento escrito por Caeiro,

uma das páginas do caderno

em que redigiu o livro, em que

ele risca o número 4 e chega a

cogitar a possibilidade de existir

cinco canções doentes(Figura

1).

Na análise feita por

Hipólito(2007, p. 57), ele diz

que o poema XX funciona como uma transição entre a doença e sanidade de

Caeiro, já que os dois pontos de vista se chocam ao decorrer do poema, mas é sua

visão sã que o encerra. Diante dessa observação pode-se fazer uma analise mais

concreta desse poema híbrido, que segue:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

Figura 1 – Cópia da página 28 do caderno de anotações de Fernando Pessoa. Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal. <Disponível em: http://purl.pt/1000/1/alberto-caeiro/obras/bn-acpc-e-e3/bn-acpc-e-e3_item137/P1.html>.

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Essa estrofe se encaixa como uma canção doente a partir do momento em que

Caeiro analisa a beleza entre os dois rios, contrariando a própria afirmação que faz

no poema II, onde diz que “Pensar é estar doente dos olhos”.

A primeira linha traz uma opinião do senso comum, algo que é adotado como

verdade pelo povo mesmo sem conhecer o fato completamente, já que o rio Tejo é

famoso e apreciado por estar presente nas principais vitórias históricas de Portugal.

A partir da segunda linha é apresentada a idéia contrária, pois o poeta mostra sua

opinião particular, sua crítica sobre o rio, chegando à conclusão de que o Tejo não é

o mais belo porque, simplesmente, não é o rio que corre em sua aldeia. Dando,

portanto, maior importância ao que lhe é familiar, mostrando assim a idéia de que a

beleza está relacionada com os sentimentos agradáveis que as coisas geram, como

cita nos versos do poema XXVI:

A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão. (CAEIRO, p. 16)

- - -

O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus3.

A segunda estrofe justifica o senso comum do inicio, explicando que o Tejo é um rio

por onde passaram grandes navegações e relembra o sentimento saudosista no

momento que cita “a memória das naus”, lembrando as grandes conquistas

portuguesas em solo estrangeiro que se iniciaram no Tejo, como por exemplo, o

descobrimento das terras brasileiras.

- - -

O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem.

3 Naus: responsáveis pelo transporte das grandes quantidades de mercadorias e riquezas. Fonte:http://www.viegasdacosta.hpg.ig.com.br/educacao/caravela.htm,

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E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia.

A terceira estrofe começa mantendo o raciocínio da anterior, mostrando o percurso

do Tejo, que se inicia na Espanha e segue para Portugal, percorrendo os países da

península. É também uma das rotas para o mar, onde se iniciava a jornada das

grandes embarcações em busca de conquistas.

A partir do meio da estrofe, o autor volta a falar sobre o seu rio. No final ele diz “é

mais livre e maior o rio da minha aldeia”, pois ninguém sabe onde começa, onde

termina, nem de onde vem, portanto, o rio pode ser tão grande quanto à imaginação

das pessoas permitir, e por isso é mais livre, não carregando barreiras físicas e

históricas, adquirindo um significado diferente para cada um.

Na quarta estrofe, Caeiro retoma um discurso anterior sobre o rio Tejo, citando os

que navegaram através dele para a América, onde fizeram fortuna e lembrando os

tempos de prosperidade de Portugal, e seguindo o raciocínio de comparação entre

rios, destaca que ninguém nunca pensou no que há além do rio de sua aldeia.

- - -

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Por fim, Caeiro reafirma de forma clara e objetiva sua personalidade de dar valor

apenas as coisas que podem ser vistas e que estão presentes em sua realidade, e

também de não ter de pensar sobre as coisas, revelando que é justamente por isso

que o rio de sua aldeia é tão importante, pois o mesmo está aos seus pés, faz parte

de seu mundo, e é apenas um rio.

Sobre o poema de uma forma geral, podemos analisar da seguinte forma: O autor

sempre frisa a idéia de que o Tejo é conhecido por todos, que sabem para onde ele

vai, de onde ele vem e sua importância. Por isso, de certa forma, o Tejo está fadado

a ser isso, o rio que todos conhecem, assim como o próprio Fernando Pessoa, como

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um poeta já conhecido, as pessoas esperam dele mais do mesmo que ele já

ofereceu. Já o rio da aldeia, que não é conhecido e ninguém sabe ao certo pra onde

vai, de onde vem e nem mesmo seu nome, pode ser de qualquer forma e fluir de

qualquer maneira, ou seja, pode ser o que quiser ser. Nesse ponto, podemos

entender um pouco dos heterônimos, já que Fernando os usa justamente pra

expressar diferentes formas de sua personalidade de forma livre e sem cobranças.

14

5. LINGUAGENS DE HIPERMÍDIA

5.1 Não Linearidade

A não linearidade nos meios de multimídia compreende conteúdos informacionais

organizados por partes independentes que tanto podem ser lidas(ou vistas) do

começo ao fim sem interrupções ou podem, ao longo da navegação, irem se

conectando a outros conteúdos e outras mídias diferentes. Como um texto que, por

exemplo, pode ter uma palavra chave que quando clicada leva o usuário até um

vídeo cujo conteúdo agrega-se ao primeiro.

Em conteúdos não lineares o usuário é quem traça seu próprio caminho através da

navegação que escolhe seguir, sendo assim como afirma Lucia Leão, ”é impossível

prever as escolhas que o usuário irá efetuar, cabendo ao artista ou diagramador do

projeto a função de traçar caminhos permutacionais, criar portas e pontes de

acesso”(p.57, 2001).

A não linearidade funciona como um labirinto com inúmeras saídas, pontos de

chegada ou de partida, o usuário é livre para escolher a informação ou o meio que

melhor lhe convir naquele momento para alcançar o conhecimento desejado, ou até

mesmo, algumas vezes muda totalmente seu foco de pesquisa indo para outras

informações das quais jamais imaginou encontrar, agregando assim mais

conhecimento a seu repertório.

Aarseth(1993 apud LEÃO, 2001) define texto não linear como um objeto de

comunicação verbal que não é apenas uma seqüência fixa de letras e palavras, mas

no qual a ordem de leitura pode diferir de um leitor para o outro.

Nos meio de hipermídia a navegação que é feita por meio de conteúdos não lineares

oferece ao usuário um ambiente de informações mais abrangente e maleável, no

entanto para o web-designer a construção desta informação torna-se mais

trabalhosa e complexa visto que é preciso garantir o mínimo de informação coerente

dentro do assunto abordado.

15

5.2 Interatividade

O conceito de interação existe em diversas áreas do conhecimento, como a física,

sociologia e psicologia social, mas cada área apresenta um significado específico,

como lembra o autor Marco Silva(1998). Na física, o termo refere-se ao

comportamento de partículas cujo movimento é alterado pelo movimento de outras

partículas, enquanto na sociologia e psicologia é conhecido pelo fato de que

nenhuma ação humana ou social existe separada da interação. Na área da

tecnologia, o conceito de interação começou a ser utilizado em meados dos anos 80,

época em que o termo começou a aparecer nos dicionários de informática e vem

sendo citado cada vez mais, principalmente em projetos de hipermídia.

A interatividade se define no momento em que a obra reflete de volta para nós as consequências de nossas ações e decisões. Temos então a possibilidade de entrar em contato com o nosso self que foi processado e transformado pelo contato com a tecnologia interativa(ROKERBY apud LEÃO, 2001).

Na opinião de Lúcia Leão(2001), um projeto de hipermídia só pode ser considerado

uma obra a partir do momento em que acontece a interação do usuário. O projeto

pode ser programado de modo a incluir escolhas aleatórias, fazendo com que cada

leitura seja primeira e única, e tornando a experiência cada vez mais interessante e

realmente interativa, evitando seguir um caminho linear e pré-definido.

5.3 Multiplicidade

Na opinião do escritor italiano Ítalo Calvino(2001), a multiplicidade é uma das seis

virtudes capazes de nortear os gestos de nossa existência. Segundo ele, o mundo

pode ser representado como uma "rede de conexões", um conjunto complexo de

relações. Podemos utilizar como exemplo os novos recursos tecnológicos que

permitem realizar combinações infinitas de imagens e sons em uma tela de

16

computador, sobrepondo diversos tipos de mídia (imagens, textos, sons, etc.) em um

único projeto. Esta arte eletrônica pode estar presente em diversos tipos de mídias e

associadas a outros tipos de modalidades artísticas, como instalações multimídias,

shows musicais e até mesmo peças de teatro, fazendo com que esses artistas sejam

cada vez mais diferenciados e atingindo uma maior parcela de público.

5.4 Navegabilidade

De acordo com os princípios do perito em navegabilidade Steve Krug(2001),

não existe uma forma certa de se criar sites, mas devemos deixar a navegação clara

para o usuário, assegurando que até mesmo pessoas com habilidades e

experiências médias consigam navegar sem problemas pelo site desde a página

inicial, onde deve ser transmitido ao usuário noções do que será encontrado, seja

através do próprio layout, imagens ou textos explicativos.

As páginas de um site devem ser auto-explicativas, intuitivas, deixando

sempre claro quais links e botões são clicáveis, para que o usuário saiba quais são

suas opções fazer suas escolhas instantaneamente, mantendo próximos os itens

pertencentes a uma mesma hierarquia e dividindo suas páginas em áreas bem

definidas, podendo ser facilmente reconhecidas. É importante também manter o

usuário localizado dentro do site, fazendo com que ele sempre saiba em qual seção

se encontra e para onde pode ir, com o menu sempre visível e de fácil acesso,

também diferenciando a página principal das páginas internas, exibindo a

identificação do site na parte superior e criando uma hierarquia visual clara, fazendo

com que quanto mais importante for o item, mais destacado esteja.

17

5.5 Conectividade

Um hipertexto é composto por blocos de informações e vínculos eletrônicos, os links,

que em sua maioria são do tipo direcionais e já são necessariamente programados

previamente.

Lucia Leão (2001) cita os dois principais tipos de links que podemos encontrar em

projetos de hipermídia, os disjuntivos e os conjuntivos. Ao clicar sobre um link

disjuntivo, o usuário é levado para uma outra página ou algum outro ponto já pré-

programado, enquanto um link conjuntivo permite que o usuário continue na página

e acesse a informação desejada por meio de pop-ups ou informações ocultas, que

são acionadas através de cliques ou movimentos do mouse.

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6. RELAÇÕES DA HIPERMÍDIA COM O POEMA

O Poema XX do Guardador de Rebanhos apresenta uma estrutura narrativa de

frases com sentido próprio e idéias diretas, sendo que a maioria carrega em si uma

informação completa, podendo ser lidas de forma intercalada e ainda assim obter

algum sentido, mesmo que este seja totalmente o oposto do que o poema trata. Por

exemplo:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia O rio da minha aldeia não faz pensar em nada O Tejo tem grandes navios A memória das naus Ninguém nunca pensou no que há para além

O Poema ainda tem a característica de repetir o mesmo assunto em algumas partes,

oscilando na dissertação entre um rio e outro. Então, as estrofes sempre começam

com a descrição do rio Tejo e finalizam com o rio de sua aldeia e, sendo assim, é

possível também trocá-las da ordem de leitura, sem que o poema perca seu sentido

original, por ter suas ideais bem conceituadas.

Já ao ler o poema alternando os versos, o leitor corre o risco de se perder no sentido

do poema. Este é o grande desafio do web-designer ao arquitetar as informações de

um site, não deixando o usuário perdido naquilo que lê ou vê. Sendo assim podemos

entender que o poema permite uma leitura não-linear, se for feito por estrofes.

Outro ponto que podemos assemelhar é a multiplicidade. Apesar de sempre se

apresentar no mesmo suporte de um livro, dentro do poema pode-se destacar as

diferentes formas que ele explana seus conceitos. Por exemplo, dentro do tema “rio”,

Caeiro consegue ter duas visões diferentes, a do rio Tejo e a do rio da aldeia e,

dentro dessas visões, consegue brincar com vários sentimentos diferentes para

exemplificar suas idéias. Portanto, ele usa de múltiplos jeitos intelectuais para

justificar sua preferência pelo rio de sua aldeia, da mesma forma que na internet,

pode-se usar de vários suportes (textos, imagens, vídeos) para explicar um mesmo

assunto.

19

A Navegabilidade que se encontra no poema é bem simples. O conteúdo é

apresentado em forma de estrofes bem estruturadas, com começo, meio e fim, de

forma que possam ser entendidas por si só. O conjunto do poema foi definido no

formato linear, a fim de levar o leitor à acompanhar a trajetória entre a doença e a

sanidade de Caeiro de bloco em bloco, sendo que a primeira e a ultima estrofes são

os extremos dessas características.

Quanto à conectividade, podemos notá-la principalmente nas exemplificações do rio

Tejo e como o poeta o define por meio do senso comum. Primeiramente é

apresentada a conexão do rio com as grandes navegações, ou seja, faz uma ligação

de cunho histórico, permite ao leitor a curiosidade de saber mais sobre as naus e o

que significaram. Logo após, ele exemplifica pelo percurso do rio a conexão física

entre Espanha, Portugal e o mar, e a partir da navegação dele, pode-se cair numa

teia maior, o oceano, que poderá ligar eles ao mundo inteiro.

20

7. RECORTE

De acordo com os estudos feitos a partir do poema XX, escrito pelo heterônimo de

Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, percebemos que esta é uma poesia bem singular

dentro da obra do autor. O poeta se mostra como um simplista, uma pessoa que

apenas quer ver e que é influenciado pela natureza. Apesar disso, ele sente a

necessidade de expressar os sentimentos de sua alma, assim criando as canções

doentes, onde perde a consciência de sua personalidade. Na transição de volta a

sua sanidade ele cria o poema XX e retorna a sua maneira original de ver o mundo.

Como diz nos versos finais:

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Encontramos nesse pensamento a grande dificuldade de estar em algum lugar e

apenas estar, de ver e apenas ver, de não pensar em nada, pois para qualquer coisa

que se olhe imediatamente surgem, nem sempre de forma consciente, idéias,

emoções, lembranças, sentimentos, etc. Abordaremos, portanto, a proposição de

Caeiro de se livrar dessas associações que são geradas automaticamente nas

coisas que vemos, para apenas vermos.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o desenvolvimento desta pesquisa, estudamos sobre a vida e obra de

Fernando Pessoa, as influencias de sua vida, a fase que morou na África, e

principalmente, a necessidade da criação de novas pessoas dentro de si para

conseguir expressar toda a sua tensão artística. Dentre os célebres heterônimos

criados por Pessoa, conhecemos mais a fundo a personalidade simplista de Alberto

Caeiro, um homem do campo, que não teve muito estudo, mas que tinha uma

sensibilidade muito forte para ver o mundo. Sua principal filosofia era enxergar as

coisas sem preconceitos, como se fosse tudo a primeira vez, e sempre trazendo

tudo para próximo de si e de seu cotidiano.

Após conhecer o poeta a fundo, enfim conseguimos ter o esclarecimento necessário

para analisar a obra foco deste trabalho, o trecho XX de O Guardador de Rebanhos.

Neste trecho, Caeiro faz uma comparação entre a beleza de dois rios, o rio Tejo e o

rio da aldeia em que ele vive. Durante o poema, Caeiro levanta vários pontos

importantes do rio Tejo, afim de mostrar ao leitor o motivo de ele ser considerado

mais belo pela maioria das pessoas, e ao mesmo tempo, diz que ninguém conhece o

seu rio e por isso ele é mais bonito e mais livre, pois não está preso à nenhum rotulo

ou contexto histórico, sendo o que quiser ser, ou o que querem que seja.

A partir dessa analise, levantamos alguns pontos sobre a hipermídia, que irá nos

auxiliar durante o processo de criação da peça, como a não linearidade,

multiplicidade, navegabilidade, interatividade e conectividade, e comparamos alguns

desses conceitos com a idéia principal do poema, para chegarmos a um recorte do

trabalho, que fará uma releitura da visão de Caeiro sobre outros objetos, e como

estes estão imbuídos de contextos e conceitos.

Por fim, podemos concluir que o Poeta, apesar de ter uma visão mais direta sobre a

vida, age muito com as emoções, pois lhe é muito mais caro algo que está ao seu

alcance, do que almejar algo que ele nem ao menos conhece, e por esse motivo,

não pensa para gostar, simplesmente gosta porque vê, e o que vê lhe agrada e lhe é

suficiente, e é sob este ponto de vista que iremos desenvolver o trabalho.

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9. CONCEITO DE CRIAÇÃO

O projeto consiste na criação de um web-site, utilizando conceitos de hipermídia, e

relacionando-os com a poesia XX, do livro O Guardador de Rebanhos, estudada

nessa pesquisa, dentro do tema Design e Literatura: poéticas hipermidiáticas.

A criação se baseará na retirada das associações que são feitas sobre determinado

objeto ou pessoa. Por exemplo, quando se fala do rio Tejo muitas lembranças e

ligações podem ser feitas, como nos versos seguintes:

O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus.

Ou seja, a partir do ponto inicial, o rio Tejo, muitos assuntos podem surgir e assim o

rio deixa de ser apenas um rio, para se tornar algo carregado de emoções e

pensamentos. A idéia do web-site é percorrer o caminho inverso dessas associações

que fazemos, removendo as ligações e assuntos que existirão a partir de algo, para

mostrar esse algo por si só.

Utilizando-se de navegação não linear e explorando a multiplicidade que a

hipermídia nos oferece como hipertextos, vídeo e áudio, os objetos abordados como

conteúdo do site sofrerão transformações até serem totalmente despidos de todas

as crenças que os rodeiam, até que cheguem apenas a sua forma primitiva e

natural.

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