universidade anhembi morumbi · 4 são paulo, agosto 2010 todos os direitos reservados. É proibida...
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Patrícia Veloso de Abreu
MODA E SERTÃO: OS CORANTES NATURAIS DO CERRADO MINEIRO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
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São Paulo, agosto, 2010
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
PATRÍCIA VELOSO DE ABREU
MODA E SERTÃO: OS CORANTES NATURAIS DO CERRADO MINEIRO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design
Orientadora: Profª. Drª. Kathia Castilho Cunha
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São Paulo, agosto 2010
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
PATRÍCIA VELOSO DE ABREU
MODA E SERTÃO: OS CORANTES NATURAIS DO CERRADO MINEIRO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design. Aprovada pela seguinte Banca
Examinadora:
Profª. Dra.Kathia Castilho Cunha
Orientador Mestrado em Design Anhembi Morumbi
Prof. Dr. Maurício de Campos Araújo
Avaliador externo
Escola de Artes, ciências e Humanidades Universidade de São Paulo- EACH/USP
Profª. Dra. Marcia Merlo
Avaliadora interna
Universidade Anhembi Morumbi
Laureate International Universities
Prof. Dr.Jofre Silva
Coordenação do Mestrado em Design
Universidade Anhembi Morumbi
Laureate International Universities
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São Paulo, agosto 2010
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial
do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador.
PATRÍCIA VELOSO DE ABREU
Graduada em Letras (Inglês/Portugues) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e
Graduada em Design de Moda pela Universidade FUMEC, com Curso de Extensão em Design
de Moda pelo IDEP (Barcelona). Atualmente é aluna do Mestrado de Design da Anhembi
Morumbi e está atuando principalmente nos seguintes temas: pesquisa com corantes naturais e
Guimarães Rosa.
FICHA CATALOGRÁFICA
A146m Abreu, Patrícia Veloso de
Moda e sertão : os corantes naturais do cerrado
Mineiro / Patrícia Veloso de Abreu. - 2010.
xxf.: il.; xx cm.
Orientador: Kathia Castilho
Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f.xx-xx.
1. Design. 2. Moda. 3. Literatura. 4. Cerrado
Mineiro. 5. Corantes Naturais. I. Título.
CDD 741.6
5
AGRADECIMENTOS
À professora Kathia Castilho não só pela orientação, mas pelo apoio na realização desse
trabalho.
Aos meus pais pelo eterno apoio.
Ao Emilio pela constante dedicação e suporte emocional.
Ao Alexandre, ao Sr. Oswaldo e á Isabela que me guiaram nesse mundo Roseano e pelos
cerrados de Minas.
Ao Edie, Du e Wanessa pelo suporte no trabalho gráfico e correção.
6
“Pão ou pães, é questão de opiniães ... o sertão está em toda a parte.”
Grande Sertão: Veredas p.09
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RESUMO
O presente estudo visa identificar e experimentar alguns tipos de corantes naturais que
podem ser encontrados no cerrado do norte e nordeste de Minas Gerais, tendo como base
de pesquisa e recorte a obra Sagarana, de João Guimarães Rosa, onde foi possível
identificar vegetações do cerrado mineiro como também elencar as vegetações
“inventadas” pelo autor, que permitiram, então, o exercício criativo no desenvolvimento
de corantes das plantas encontradas no cerrado mineiro. Essa investigação assim
possibilita um estudo do processo criativo envolvendo o desenvolvimento metodológico
que caracteriza e permite refletir parte do que ocorre no processo de criação na moda e
no desenvolvimento de corantes naturais para uma cartela de cores do cerrado mineiro.
Palavras-chave: design; moda; literatura; cerrado mineiro; corantes naturais
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ABSTRACT
The objective of the present study was to identify and experiment some types of natural
dyes which can be found in the shrublands of the northern and northeastern regions of
the state of Minas Gerais. Based on Guimarães Rosa‟s Sagarana as the research starting
point, names of the vegetation of the shrublands were identified and catalogued; other
types of vegetation, created by the author when exercising one of the marked
characteristics of Rosa‟s writing – the use of neologisms – were also listed. The plants
thus grouped were subsequently used to make dyes. This investigation can then allow a
study of the creative process involving the methodological development that
characterizes what can possibly occur in a creative process in fashion design and also
allowing the creation of a table of colors from the shrublands of Minas.
Key words: design; fashion; literature; Minas‟ shrublands; natural dyes
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Lista de Figuras
Parte I
Figura 01 - Instalação Jardim Encantado ................................................................ 15
Figura 02 - Instalação Jardim Encantado ................................................................ 16
Figura 03 - Andalucia ............................................................................................. 16
Parte II
Figura 01 - Guarantã ............................................................................................... 46
Figura 02 - Aroeira ................................................................................................. 47
Figura 03 - Taboca .................................................................................................. 48
Figura 04 - Açucena ................................................................................................ 48
Figura 05 - Pau d‟arco ............................................................................................ 48
Figura 06 - Angico Branco, albízia ......................................................................... 48
Figura 07 - Angico Branco, Cambuí angico ........................................................... 49
Figura 08 - Angico do Cerrado ............................................................................... 49
Figura 09 - Angico Vermelho ................................................................................. 49
Figura 10 - Buriti .................................................................................................... 50
Figura 11 - Bananeira ............................................................................................. 54
Figura 12 - Açucena ................................................................................................ 54
Figura 13 - Carajuru ............................................................................................... 55
Figura 14 - Erva-de-são-joão .................................................................................. 55
Figura 15 - Flor-de-laranjeira ................................................................................. 55
Figura 16 - Gervão .................................................................................................. 60
Figura 17 - Aguapés ................................................................................................ 60
Figura 18 - Melão-de-são-caetano .......................................................................... 60
Figura 19 - Mangueira ............................................................................................ 61
Figura 20 - Vassourinha .......................................................................................... 61
Figura 21 - Pitangueira ........................................................................................... 62
Figura 22 - Açoita-cavalo ....................................................................................... 62
Figura 23 - Açafrão ................................................................................................. 66
Figura 24 - Malva ................................................................................................... 67
Figura 25 - Muruci .................................................................................................. 68
Figura 26 - Guabiroba ............................................................................................. 68
Figura 27 - Vinhático .............................................................................................. 68
Figura 28 - Jequitibá ............................................................................................... 69
Figura 29 - Sete Cascas ........................................................................................... 69
Figura 30 - Angelim ................................................................................................ 69
Figura 31 - Canudos de Pito ................................................................................... 69
Figura 32 - Cagaiteira ............................................................................................. 74
Figura 33 - Capim barba-de-bode ........................................................................... 75
Figura 34 - Jabuticabeira......................................................................................... 75
Figura 35 - Barbatimão ........................................................................................... 76
Figura 36 - Dinheiro-de-penca ................................................................................ 76
Figura 37 - Casca de Aroeira .................................................................................. 84
10
Figura 38 - Casca de aroeira em banho frio ............................................................ 84
Figura 39 - Casca de Aroeira em banho de fervura ................................................ 84
Figura 40 - Casca de Angico................................................................................... 85
Figura 41 - Casca de Angico em banho quente ...................................................... 85
Figura 42 - Casca de Buriti ..................................................................................... 86
Figura 43 - Casca de Buriti em banho frio.............................................................. 86
Figura 44 - Casca de Buriti em banho quente ......................................................... 86
Figura 45 - Citação Guimarães Rosa ...................................................................... 94
Lista de Tabelas
Tabela 01 - Palavras de Guimarães Rosa................................................................ 24
Tabela 02 - Quadro de Processo ............................................................................. 28
Tabela 03 - Tabela de Cultura................................................................................. 39
Tabela 04 - Vegetações no conto O Burrinho Pedrês ............................................. 45
Tabela 05 - Vegetações no conto A Volta do Marido Pródigo ............................... 53
Tabela 06 - Vegetações no conto Sarapalha ........................................................... 59
Tabela 07 - Vegetações no conto Duelo ................................................................. 65
Tabela 08 - Vegetações no conto Minha Gente ...................................................... 73
Tabela 09 - Plantas mencionadas no conto O Burrinho Pedrês .............................. 142
Tabela 10 - Formas de Tingimento ......................................................................... 144
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
PARTE I: LITERATURA E PROCESSO DE CRIAÇÃO NA MODA .......... 23
1.1 Guimarães Rosa: o real e o imaginário ............................................................. 23
1.2 Processo criativo e criatividade ........................................................................ 27
1.3 Processo criativo, design e sustentabilidade ..................................................... 30
PARTE II: CROMIA DO SERTÃO – EXPERIMENTAÇÃO E MÉTODO . 41
2.1 Vegetações de Sagarana ................................................................................... 41
2.2 Laboratório do Sertão ....................................................................................... 140
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 151
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 161
ANEXOS - Diário do Sertão .................................................................................. 101
Anexo 1 - Cordisburgo ........................................................................................... 101
Anexo 2 - Placa Cordisburgo .................................................................................. 102
Anexo 3 - Portal Grande Sertão .............................................................................. 103
Anexo 4 - Portal Grande Sertão .............................................................................. 104
Anexo 5 - Placa do Museu Casa Guimarães Rosa .................................................. 105
Anexo 6 - Museu Casa Guimarães Rosa ................................................................ 106
Anexo 7 - Objetos pessoais ..................................................................................... 107
Anexo 8 - Maquina de escrever .............................................................................. 108
Anexo 9 - Diploma ................................................................................................. 109
Anexo 10 - Fotos de Guimarães Rosa .................................................................... 110
Anexo 11 - Fotos Guimarães Rosa de infância ....................................................... 111
Anexo 12 - Fotos de Família................................................................................... 112
Anexo 13 - Gravatas de Guimarães Rosa ............................................................... 113
Anexo 14 - Quarto de Guimarães Rosa .................................................................. 114
Anexo 15 - Obras de Guimarães Rosa .................................................................... 115
Anexo 16 - Obras de Guimarães Rosa .................................................................... 115
Anexo 17 - Obras do autor ..................................................................................... 116
Anexo 18 - Figuras ................................................................................................. 117
Anexo 19 - Figuras ................................................................................................. 118
Anexo 20 - Xilogravuras......................................................................................... 119
Anexo 21 - Loja do pai de Guimarães Rosa ........................................................... 120
12
Anexo 22 - Objetos da loja do pai do autor ............................................................ 121
Anexo 23 - Objetos da loja do pai do autor ............................................................ 122
Anexo 24 - Cerrado................................................................................................. 123
Anexo 25 - Cerrado................................................................................................. 123
Anexo 26 - Vegetações do Cerrado ........................................................................ 124
Anexo 27 - Cerrado................................................................................................. 125
Anexo 28 - Árvore típica retorcida do cerrado ....................................................... 126
Anexo 29 - Árvore típica retorcida do cerrado ....................................................... 127
Anexo 30 - Araticum .............................................................................................. 128
Anexo 31 - Árvore do Cerrado ............................................................................... 129
Anexo 32 - Exploração de curta duração cerrado com o Sr. Oswaldo ................... 130
Anexo 33 - Exploração do cerrado ......................................................................... 131
Anexo 34 - Exploração do cerrado ......................................................................... 132
Anexo 35 - Aroeira ................................................................................................. 133
Anexo 36 - Casca de Aroeira .................................................................................. 134
Anexo 37 - Casca de Aroeira .................................................................................. 135
Anexo 38 - Exploração do cerrado ......................................................................... 136
Anexo 39 - Flores da cagaita .................................................................................. 137
Anexo 40 - Árvore do cerrado ................................................................................ 138
Anexo 41 - Macaco Pimenta ................................................................................... 139
Anexo 42 - Árvore do Cerrado ............................................................................... 140
Anexo 43 - Vegetação do Cerrado .......................................................................... 141
Anexo 44 - Flores da Cagaita ................................................................................. 142
Anexo 45 - Buriti .................................................................................................... 143
Anexo 46 - Buriti .................................................................................................... 144
Anexo 47 - Grupo de Buritis .................................................................................. 145
Anexo 48 - Vereda próxima aos Buritis ................................................................. 146
Anexo 49 - Barbatimão ........................................................................................... 147
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Introdução
Essa dissertação tem como objetivo desenvolver uma pesquisa que visa
identificar e explorar os tipos de corantes naturais que podem ser encontrados no cerrado
do norte e nordeste de Minas Gerais, tendo como base de pesquisa a obra Sagarana, de
João Guimarães Rosa. Para o desenvolvimento dessa pesquisa, torna-se necessário
entender que muitas substâncias corantes são obtidas de flores, sementes, frutos, cascas,
madeiras, raízes de plantas e de produtos animais. Essas substâncias corantes podem ser
encontradas nas vegetações do cerrado de Minas Gerais e nos “Sertões” de Guimarães
Rosa. Em suas obras, Guimarães Rosa utiliza a linguagem popular e regional
influenciada pela linguagem falada. A invenção de palavras e o desenvolvimento de
vários tipos de construções sintáticas também é muito explorado pelo autor. Desta
forma, pode-se perceber que vários tipos de vegetações pertencem somente ao sertão
criado por Guimarães Rosa. Estas vegetações podem não existir ou ter seus nomes
criados pelo próprio autor, inseridos na ficção literária do mesmo. Sendo assim, a partir
de um estudo mais aprofundado de suas obras, é possível identificar vegetações do
cerrado mineiro, como também, elencar as vegetações inventadas pelo autor. Esse
trabalho tem como um dos objetivos a experimentação. Será realizada, portanto, uma
experiência de criação e uma experimentação de um processo criativo envolvendo a
moda, literatura, vegetações e corantes.
Esse trabalho então será desenvolvido em etapas distintas. Na primeira parte será
feito um estudo da relação da literatura com a criação de moda e design, como, também,
um estudo sobre sustentabilidade, corantes naturais e a sua relação com o cerrado.
Nessa parte será realizado um estudo do processo criativo envolvendo o
desenvolvimento metodológico dessa pesquisa, pensando como ocorre o processo
criativo na moda e no desenvolvimento de corantes naturais para uma cartela de cores de
algumas vegetações encontradas no primeiro conto da obra Sagarana.. Essa cartela de
cores dos corantes poderá ser utilizada para vários fins criativos e artesanais como, por
exemplo: a criação de uma coleção de moda, uma instalação, um manual de tingimento e
outros fins criativos.
Na segunda parte do trabalho será desenvolvido um levantamento de todas as
vegetações encontradas nos cinco primeiros contos da obra. Uma pesquisa de campo no
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cerrado mineiro também será realizada junto com a experimentação dos corantes
naturais para uso artesanal das vegetações encontradas no primeiro conto da obra
Sagarana, O Burrinho Pedrês.
Podemos nos perguntar: por que a escolha de João Guimarães Rosa? Ou por que
trabalhar com corantes naturais e do cerrado mineiro? Ou, mais especificamente ainda,
por que a obra Sagarana? E por que fazer toda essa junção entre moda, design,
literatura, cerrado e Guimarães Rosa?
A proposta deste estudo aqui proposto surgiu após a realização de um trabalho de
conclusão de curso de graduação de Design de Moda, em que o objetivo foi criar uma
instalação cujas peças foram desenvolvidas utilizando materiais expressivos (a utilização
de diversos tipos de materiais para a criação de uma forma artística), o filtro de papel, e
a aplicação de corantes naturais nesses materiais. As peças expostas receberam a
aplicação de corantes naturais extraídos de raízes, sementes, frutas e temperos. Dentre os
vegetais, foram usados a beterraba, a jabuticaba, o açafrão, o urucum e o café. (v. fig.1,
fig.2, fig.3)
Figura 1: Instalação- Jardim
Fonte: Instalação montada pela autora.
15
Figura 02: Jardim Encantado Fonte: Instalação elaborada pela autora.
Figura 03: Andalucia
Fonte: Instalação montada pela autora.
16
Para o desenvolvimento desse projeto, foi elaborada uma pesquisa com vários
corantes naturais além dos corantes mencionados anteriormente. Observamos então que
muitos dos corantes pesquisados foram encontrados no cerrado mineiro. Ao concluir o
projeto, tornou-se possível verificar o quanto o cerrado mineiro é rico em vegetações e
substâncias corantes e o quanto isso poderia ser significativo para o desenvolvimento em
projetos para o desenvolvimento em projetos para o Design de Moda.
Resolvi, portanto, unir o curso de Letras (meu primeiro curso de graduação) com
o Design de Moda, buscando um autor da Literatura Brasileira que representasse esse
cerrado mineiro no qual gostaria de me aprofundar. Escolhi João Guimarães Rosa e sua
obra Sagarana, mais especificamente os primeiros seis contos, para o estudo e
verificação das vegetações. Trata-se de uma das obras do autor que mais possui e elenca
diferentes tipos de vegetação.
Sagarana (1984) é a estréia literária de João Guimarães Rosa. De fato, a
estudiosa Mary L. Daniel considera “significante o título do primeiro volume de contos
do autor.” (DANIEL, 1968:70). O autor filtrou o que havia de melhor no texto,
utilizando em seu peculiar processo de invenção de palavras, o hibridismo (que consiste
na formação de palavras pela junção de radicais de línguas diferentes). Para Galvão,
O título do livro é composto da seguinte forma: ”saga”, radical de origem
germânica, quer dizer “conto heróico”; e “rana”, em língua indígena, que
significa “espécie de”. (GALVÃO, 2006:161)
Esse jogo de palavras realizado logo no título do livro fez com que me
interessasse pela obra completa, pois buscava um livro que, além de trazer diferentes
tipos de vegetações para minha pesquisa, pudesse também trazer nomes de vegetações
inventadas pelo autor e que pertencessem somente a essa famosa e lúdica saga de Rosa.
Sagarana, portanto, apresenta um forte regionalismo e a fusão entre o real e o
mágico. O folclórico, o pitoresco e o documental cedem lugar a uma maneira nova de
representação da cultura. A obra, portanto, representa um conjunto de sagas - histórias
épicas, folclóricas, de amor, mistério e aventura - universaliza o sertão, mistura o
popular e o erudito.
Entre as experiências vividas pelo autor estão as viagens pelo sertão brasileiro,
principalmente o mineiro, acompanhadas pelos seus cadernos de anotações. Neles,
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Guimarães Rosa registrava palavras e expressões do povo brasileiro que, mais tarde,
transformaria em metáforas poéticas.
Para Baggio (2005) em seu livro Um abreviado do Grande Sertão: veredas, não
se pode explicar a linguagem de Guimarães Rosa simplesmente recorrendo à gramática
normativa. Para a sua compreensão, é necessário um estudo aprofundado, sincrônico e
diacrônico, não só da língua portuguesa mas também de outros idiomas que
contribuíram para a língua falada no Brasil. Em Diálogo com Guimarães Rosa (2006
p.20), Rosa dá alguns esclarecimentos sobre a língua que usa em sua obra: “Cada língua
guarda em si uma verdade interior que não pode ser traduzida”. A respeito da
musicalidade de sua linguagem, que se reflete nas constantes aliterações e onomatopéias,
Baggio diz:
Sou precisamente um escritor que cultiva a idéia antiga, porém sempre
moderna, de que o som e sentido de uma palavra pertencem um ao outro. Vão
juntos. A música da língua deve expressar o que a lógica da língua obriga a
crer. Cada palavra é, segundo sua essência, um poema. (BAGGIO, 2005:62)
O trabalho pretende, desta forma, estabelecer uma inter-relação entre moda,
literatura e design ao juntar esses três universos na grande saga roseana. O trabalho irá,
portanto, desenvolver um estudo empírico do processo criativo e metodológico da
criação desses corantes naturais testando e apresentando resultados artesanais. Para
Fornasier (2008) o desenvolvimento de projetos é um conjunto de atividades teóricas e
práticas que tem como objetivo a criação de produtos ou serviços para suprir
necessidades humanas, ou seja, um projeto de design. Em design, denomina-se
desenvolvimento de projetos, sendo esta atividade realizada por meio das etapas de
metodologia projetual, aplicando algumas das diferentes técnicas de criatividade. Será,
portanto, realizado inicialmente um levantamento das vegetações encontradas nos cinco
primeiros contos da obra e depois será desenvolvido um laboratório de tingimento
artesanal somente do primeiro conto, O Burrinho Pedrês, e faremos a apresentação dos
resultados obtidos. Uma futura pesquisa em outro momento poderá ser realizada com os
outros contos da obra, porém nesse momento, somente o primeiro conto será estudado
visto que já nos oferece a possibilidade de verificarmos a viabilidade ou não da idéia e
do processo criativo nos apontando problemas, soluções e possibilidades.
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Ao investigar as vegetações mencionadas ao longo da obra de Rosa, é possível
verificar o quanto o cerrado mineiro é rico em vegetações e substâncias corantes e o
quanto da importância para o design de moda contemporâneo que pensa a
sustentabilidade ou que busca novas alternativas frente a ecologia. . A preocupação com
o meio ambiente é um fator que preocupa o setor têxtil e os criadores de moda.
No Brasil, existem várias matérias-primas ainda não conhecidas para o
tingimento natural e o estudo para o desenvolvimento de fibras naturais voltado ao setor
têxtil. O cerrado mineiro possui uma grande variedade de vegetações e substâncias
corantes que podem auxiliar no processo de crescimento e desenvolvimento de pesquisas
com corantes naturais. Como coloca Neide Schulte (2006), uma estudiosa sobre o
assunto:
Considerar os impactos ambientais em todas as etapas do desenvolvimento de
um produto deve ser inerente a cada projeto para novos produtos, da origem
ao descarte pelo consumidor. Ou seja, todos são responsáveis pelos problemas
ambientais: o consumidor, a indústria e os designers. (SCHULTE, 2006:12)
Podemos pensar que o uso indevido de alguns corantes naturais, pode de certa
forma, até prejudicar o meio ambiente, pois, alguns termos podem ser pensados em
relação a esse tema como: desmatamento ou desperdício e uso indevido de água para o
desenvolvimento das vegetações. Por outro lado, podemos dizer que o uso indevido de
corantes sintéticos é um problema e que o uso dessas substâncias pode causar a poluição
de rios com produtos altamente tóxicos e prejudiciais ao meio ambiente. Podendo dizer
que isso é um fator que precisa da atenção de vários setores, desde o designer (criador), a
indústria (fabricante) e os consumidores. Porém qual seria o corante melhor para o meio
ambiente: o sintético ou o artesanal?
Para Fernando Almeida (2007), engenheiro que faz parte do Conselho Diretor do
Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, todos no mundo
dependem da natureza e dos serviços providos pelos ecossistemas para terem condições
a uma vida decente, saudável e segura.
Almeida (2007) afirma que, nas últimas décadas, os seres humanos causaram
alterações sem precedentes nos ecossistemas para atender a crescente demanda de
alimentos, água, fibras e energia. Essas alterações ajudaram a melhorar a vida de bilhões
de pessoas, mas, ao mesmo tempo, enfraqueceram a capacidade de a natureza prover
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outros serviços fundamentais, como purificação do ar e da água, a proteção contra
catástrofes naturais e os remédios naturais. Dentre os problemas mais sérios
identificados por esta avaliação, estão as condições drásticas de vários tipos de peixes; a
alta vulnerabilidade de dois bilhões de pessoas vivendo em regiões secas, a perda de
serviços providos pelo ecossistema, como o acesso à água e a crescente ameaça aos
ecossistemas devido a mudanças climáticas e poluição de seus elementos.
O autor ainda comenta que as atividades humanas levaram o planeta à beira de
uma maciça extinção de varias espécies, ameaçando, ainda mais, nosso bem-estar. As
pressões sobre os ecossistemas aumentarão em escala global nas próximas décadas se as
atitudes e ações humanas não mudarem. Medidas de preservação de recursos naturais
teriam mais chances de sucesso se tomadas sob a responsabilidade das comunidades, que
compartilhariam de seus benefícios. A tecnologia e conhecimento que dispomos hoje
podem reduzir consideravelmente o impacto humano nos ecossistemas, mas sua
utilização em todo o seu potencial permanecerá reduzida enquanto os serviços
oferecidos pelos ecossistemas continuarem a ser percebidos como “gratuitos” e
ilimitados, e não receberem seu devido valor. Os esforços coordenados de todos os
setores governamentais, empresariais e institucionais serão necessários para uma melhor
proteção do capital natural. A produtividade dos ecossistemas depende de escolhas
corretas no tocante e políticas de investimento, comércio, subsídios, impostos e
regulamentação.
Tendo em vista essa preocupação com o meio ambiente e suas futuras
consequências, é importante entender a importância dessa pesquisa de corantes naturais
e artesanais e os corantes sintéticos para a moda, design e o setor têxtil, pois, ao estudar
nessa pesquisa qual corante é de fato melhor para o meio ambiente estamos
desenvolvendo uma pesquisa que pode, futuramente, ser de grande auxilio e
preservação para o meio ambiente.
Como fundamentação teórica foram utilizados alguns livros como: Corantes
naturais da Flora Brasileira, Ferreira (1998), que apresenta os motivos para a utilização
de plantas no tingimento de fibras têxteis naturais. Relata a história dos corantes naturais
no mundo e em seguida mostra os elementos necessários para tingir, destacando, além
das plantas, os equipamentos utilizados, a água, o fogo, as fibras e os mordentes. O autor
traz, também, informações adicionais sobre as formas de misturar as cores e receitas que
mostram processos de tingimentos mais simples.
20
As obras Grande Serão: Veredas (1956) e Sagarana (1946) são as que mais
revelam os tipos diferenciados de vegetações. Nelas, estão presentes, também, os termos
coloquiais típicos do sertão, junto ao emprego de palavras que já não são mais usadas. A
linguagem de Guimarães Rosa reconstrói um cenário mítico do sertão. A imagem do
sertão é, na verdade, a imagem do mundo, como é representado em Grande Sertão:
Veredas . O sertanejo não é simplesmente o ser humano rústico que povoa essa grande
região do Brasil. Seu conceito é mais ampliado e representa a vida de qualquer outro
homem vivendo em qualquer outra região.
Nos livros Florestas anãs do sertão - o cerrado na história de Minas Gerais e
Sertão, lugar desertado – o cerrado na cultura de Minas Gerais, o antropólogo e
biólogo Ricardo Ribeiro (2005) utiliza estes volumes para a investigação das ligações
entre a sociedade do sertão mineiro e o seu ambiente natural, o cerrado. No primeiro
volume, a história ambiental dessa região de Minas, que se estende pelo Triângulo, Alto
de Paranaíba, Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Alto do Jequitinhonha, é resgatada,
apontando as origens do patrimônio cultural sertanejo. No segundo volume, utilizando as
ferramentas da etnoecologia, o patrimônio cultural sertanejo é examinado por meio de
uma pesquisa de campo.
A obra de Nilce Martins (2001), O Léxico de Guimarães Rosa, fornece ao leitor
uma idéia da extensão e da complexidade do léxico do escritor, detectando o que
pertence ao patrimônio dicionarizado da língua e o que é produto de invenção e de
experimentação da linguagem.
O livro Design de Moda: olhares diversos (2008), escrito por 28 profissionais
atuantes em design de moda, apresenta um extenso panorama ao lançar olhares sobre o
design de moda, marcando a transição entre o estilismo e o projeto de design, com
aplicação dos mais recentes conhecimentos científicos e tecnológicos.
A obra de Fernando Almeida (2007), Os Desafios da Sustentabilidade, apresenta
caminhos para enfrentar a tragédia socioambiental que ameaça a continuidade dos
empreendimentos humanos, de nossa organização social, e, no limite, até da própria
espécie humana. Analisa o papel dos indivíduos e organizações no setor privado, no
governo e nas organizações da sociedade civil, com ênfase, nas empresas. Formulado em
três partes, discute onde estamos, para onde vamos e como implementar as mudanças no
rumo da sustentabilidade.
21
Os resultados obtidos assim como as reflexões de todo o processo de
desenvolvimento desse trabalho aparecerão no corpus da dissertação.
22
“A cor é o toque, o olho, o martelo que faz vibrar a alma, o instrumento de mil cordas”
Kandinsky (1969)
23
PARTE I - Literatura e processo de criação na moda
1.1 Guimarães Rosa: o real e o imaginário
Ao trabalhamos com uma pesquisa dos corantes naturais encontrados na obra de
Rosa, estamos dando início ao um processo criativo que busca na Literatura Brasileira
como também no Design, fontes de referência para o desenvolvimento de um projeto de
moda. Torna-se importante, em princípio, entender um pouco sobre Guimarães Rosa e
sua linguagem antes de uma análise mais aprofundada dessa pesquisa.
No Caderno de Literatura Brasileira (2006) Guimarães Rosa é mencionado
como um dos maiores escritores da literatura brasileira. Contemporâneo de romancistas
como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Clarice Lispector, de poetas como Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Rosa pode ser considerado o resumo e o ápice
de seu tempo. O mundo do autor contém o local e o universal, o arcaico e o mítico, o
documental e o metafísico, vazados em uma linguagem que recria as palavras e desliza
sobre uma geografia simbólica.
Publicado pela primeira vez em 1946, Sagarana constitui-se como a obra-prima
introdutória da mágica prosa literária atingida por Guimarães Rosa. São nove contos que
descrevem o universo da linguagem regional do escritor e recriam, na ficção, a vida de
personagens do interior de Minas Gerais.
Em suas obras, Rosa utiliza a linguagem popular e regional influenciada pela
linguagem falada. A invenção de palavras e o desenvolvimento de vários tipos de
construções sintáticas são muito explorados pelo autor. Alguns outros aspectos fazem
parte da literatura bem arquitetada de Guimarães Rosa, como o uso de metáforas,
símiles, aliterações, dentre outros. Para Marco Aurelio Baggio (2005), um estudioso das
obras de Rosa, o sertão assume uma dimensão maior do que o espaço físico e geográfico
em que se situa. Com todas as suas características, o sertão passa a ser um lugar místico
universal, que permite uma série de interpretações.
24
João Guimarães Rosa foi um grande inventor de palavras. Com seu vasto
conhecimento de línguas, ele se permitiu criar palavras que recuperassem o impacto do
sentido original, radical, do termo, acrescentando-lhe uma qualidade peculiar.
Segundo Baggio (2005) Augusto de Campos, em um Lance de Dês do Grande
Sertão, demonstra-nos que, seguindo uma tradição literária que remonta a Rabelais,
passando por Lewis Carol, Mallarmé e Joyce, criadores de palavras portemanteaux
(porta-casacos), Rosa utilizou, por centenas de vezes, o recurso da palavra porta
palavras. Com sua sensibilidade de poeta, Guimarães Rosa sempre procurou inocular em
sua prosa a poeticidade da forma, à medida que esta acarreta uma sensação mágica do
texto, transmitindo ao inconsciente vibrações afetivas etéreas e fazendo cócegas na
dimensão cognitiva do leitor. Campos (1959) anotou apenas:
Tabela 1
Palavras de Guimarães Rosa
turbulindo turba + turbilhão + bulindo
nenhão nenhum + não
sonoite só + sono + noite
fechabrir fechar + abrir
Fonte: Baggio (2005)
Desta forma, torna-se admirável a habilidade de Rosa em aproximar o
significante de duas ou mais palavras para formar uma nova, cujo significado é de
extrema riqueza semântica. Alguns desses neologismos só podem ser entendidos dentro
do contexto da narrativa, tal a variedade semântica que a palavra pode assumir. Falar em
Guimarães Rosa para Baggio (2005) significa falar em neologismo, ou, ao se falar em
neologismo, lembra-se de imediato de Guimarães Rosa. Ninguém como ele criou tantos
neologismos na língua portuguesa. A simples menção ao nome do autor já implica uma
série de expectativas: neologismo, metáfora, sertão, saber popular, saber esotérico,
hermético, misticismo, sabedoria greco-romana, escolástica, filosófica ocidental e até
oriental.
25
Baggio (2005) também explica que neologismos são palavras novas, necessárias
para designar descobrimentos científicos, tecnológicos, novas realidades do mundo das
ciências econômicas, dos negócios, dos relacionamentos humanos. Um neologismo
diferencia-se do arcaísmo, que é o emprego de palavras, expressões ou construções em
desuso, revitalizadas para efeito estilístico. Os neologismos constituem um dos aspectos
mais significativos do trabalho linguístico de Guimarães Rosa. Representam acréscimos
relevantes e inusitados da expressividade da língua portuguesa. Rosa pega uma palavra,
sopra suas cinzas e reacende o seu sentido etimológico.
Mary L. Daniel considera “significante o título do primeiro volume de contos do
autor.” (DANIEL, 1968:70). A criação lexical dá o tom do teor dos enredos dos nove
contos, que se conjugam para a formação de uma grande saga, uma grande aventura de
reconhecimento, como já mencionamos. Nesta obra, já no início podemos imaginar a
mistura de significados nessa grande saga e, principalmente, a junção e criação de várias
outras palavras no decorrer da obra.
Sagarana tanto é repleto de palavras criadas pelo autor, como também possui
termos originais de um referente palpável, o sertão mineiro. O fictício e o imaginário
participam do espaço e da referência ditada pelo autor. Para se entender melhor essa
questão de referente, o filósofo Iser (1996), em O fictício e o imaginário, perspectivas de
uma antropologia literária sugere uma conciliação entre o referente (real) e o fictício.
Para ele, o real está para o mundo extratextual, para a exposição de fatos prévios ao texto
e, consequentemente, age como seu campo de referência. O real aqui apresentado refere-
se à multiplicidade dos discursos e aos acessos variados que cada autor escolhe para
abordá-los. Já o fictício consiste ato intencional, que endossa o caráter da mentira, do
não-real do texto. (ISER, 1996, p.13-33).
Desta forma, o referente espacial, ou seja, a realidade, o mundo extratextual (o
sertão mineiro), interage com o mundo imaginário e ficcional da narrativa, não perdendo
a sua postura referencial e envolvendo, desta forma, o leitor em um ambiente real e
reconhecido mas que, ao mesmo tempo, é inventado pelo autor. Rosa, portanto, atesta a
ficcionalidade de sua obra, mas de maneira nenhuma estabelece total desprendimento da
realidade. O imaginário, quase mítico, tramita no espaço referente, por isso, aproxima-se
do leitor. O referente é chamado a participar do mundo literário, sendo como um
cenário de ficção e participando como registro da realidade.
26
As descrições de espaços em Sagarana é repleto em detalhes, principalmente de
vegetações e relevo. A narrativa impressiona pela precisão de algumas localidades. Os
contos evidenciam a morfologia das paisagens, refinadas e muito bem retratadas pelo
escritor. O teor ficcional da obra de Rosa, no entanto, obriga-nos a questionar aspectos
tão marcantes da realidade. Nada impede que as localidades sejam frutos de uma
composição ficcional, elaboradas dentro de um sistema referente. Sendo assim, pode-se
perceber que vários cenários, relevos e vegetações citados na obra pertencem não
somente ao mundo real e referente (o cerrado ou o sertão), mas que muitos outros
cenários e vegetações fazem parte somente do mundo fictício de Rosa. Lugares e
vegetações essas que participam naturalmente da narrativa do autor .
Ao analisarmos dois exemplos de vegetações presentes em Sagarana, como erva-
cabrita e carajuru, torna-se claro, após uma pesquisa mais detalhada em dicionários de
plantas e árvores brasileiras, que se tratam de plantas que realmente pertencem ao
cerrado mineiro. Por outro lado, ingassu e cuspideiras são vegetações criadas pelo autor,
convidando o imaginário e o fictício a partilharem do referente espacial:
As taças amarelas de erva-cabrita,os fones róseos de carajuru, as câmpulas
brancas do cipó-de-batatas, a cuspideira com campainhas roxas de cinco
badalos, o os funis azulados da flor-de-são-joão. (ROSA, 1984 p.105)
Um outro exemplo seria:
Lalino depõe o violão e vai apanhar uma melancia. Tira o paletó, lava o rosto.
Come. Faz travesseiro com o paletó dobrado, e deita-se no capim, à sombra
do ingassu. (ROSA, 1984 p.105)
Quando se volta para Grande Sertão: Veredas, Alan Viggiano (1974), autor de
uma pesquisa sobre o itinerário de Riobaldo, expõe que Rosa não inventara sequer um
nome em toda a toponímia utilizada naquela saga. Seu estudo confirma elevada
percentagem de nomes de rios, lagos, córregos, veredas, vilas, povoados, cidades que
existem no norte de Minas, sudeste de Goiás e sudoeste da Bahia, utilizados por Rosa na
narrativa vivida por Riobaldo. Tamanha precisão, de acordo com o pesquisador, não
poderia se expressar somente pelo imaginário; implica, até, um estudo in loco.
27
Este empirismo confirma a precisão nas descrições espaciais de Rosa e a sua
preocupação em se aproximar do referente espacial que explorara. Dá-se, então, a
afirmação de que o livro Grande Sertão: Veredas é um estudo espacial calcado em uma
realidade muito específica. Cada canto da morfologia da terra é lembrado, assim como
outros aspectos regionais.
Desta forma, podemos perceber que Rosa cria não só um mundo fictício como
também procura, ao mesmo tempo, inserir fatos, localidades e elementos pertencentes à
realidade, tornando, dessa maneira, a narrativa mais verossímil. As vegetações utilizadas
pelo autor também são, em muitos casos, reais. Porém, outras já participam de um
mundo imaginário do autor.
Sendo assim, podemos dizer que ao trabalhamos com uma pesquisa dos corantes
naturais encontrados na obra de Rosa para o desenvolvimento de uma cartela de cores do
cerrado, estamos dando início ao um processo criativo que utiliza desse sertão tanto real
quanto fictício para o desenvolvimento de um futuro projeto de moda.
1.2 Processo criativo e criatividade
A criatividade pode ser um potencial inerente ao homem, e a realização desse
potencial uma de suas necessidades. As potencialidades e os processos criativos não se
restringem, porém, à arte. Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do
fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude
emocional e intelectual inexistente nos outros campos de atividade humana. Não nos
parece correta essa visão de criatividade. O criar só pode ser visto num sentido global,
como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam.
(OSTROWER, 1977)
Para Fayga Ostrower (1977), em seu livro Criatividade e Processo de Criação, a
natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. O indivíduo se desenvolve
em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os
próprios valores de vida. No indivíduo confrontam-se dois pólos de uma mesma relação:
a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que
28
será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura.
Assim, uma das idéias básicas da autora é considerar os processos criativos na
interligação dos dois níveis de existência humana: o nível individual e o nível cultural.
Outra idéia proposta pela a autora é a de que criar corresponde a um formar, um dar
forma a alguma coisa. Sejam quais forem os modos e os meios, ao se criar algo, sempre
se o ordena e se o configura. Em qualquer tipo de realização são envolvidos princípios
de forma, no sentido amplo em que aqui é compreendida a forma, isto é, como uma
estruturação, não restrita à imagem visual. Partindo dessa concepção, é importante
fundamentar a idéia dos processos criativos utilizando noções teóricas sobre a estrutura
da forma.
Sendo assim, quando se pensa em processo criativo no design de moda é
importante entender que existe todo um processo metodológico para essa criação ou
“forma”. Um processo que envolve cultura, métodos científicos, pesquisa, processo
cognitivo e entre outros. Para Ostrower (1977) a condição para que ocorra o processo
criativo é a existência de conhecimento, já que implica em combinar elementos
anteriormente não relacionados para produzir uma idéia.
Para Cleuza Fornasier (2008) em seu texto, O ensino da disciplina de
desenvolvimento de projetos como sistema de gestão de conhecimento, no livro Design
de moda olhares diversos, o importante é demonstrar que o processo de desenvolvimento
de produto em design de moda é um sistema de gestão de conhecimento. Em design,
denomina-se desenvolvimento de projetos, sendo esta atividade realizada por meio das
etapas de metodologia projetual, aplicando alguma das diferentes técnicas de
criatividade. Sendo assim criou-se uma representação do processo de desenvolvimento
de projeto que une os processos em questão, sendo esses: o de cognição (Processo
cognitivo), de criação (Processo criativo), de metodologia projetual (método projetual) e
o de metodologia de pesquisa (método científico).
29
Tabela 2
Quadro de Processos
Fonte: Fornasier (2008)
Desta forma, quando pensamos em moda e em desenvolver uma coleção de
roupas utilizando os corantes naturais encontrados no cerrado mineiro e mais
especificamente, os corantes das vegetações encontradas na obra Sagarana, de João
Guimarães Rosa, temos vários pontos de referência e áreas diferentes de estudo, como
design e literatura, que possibilitam leituras criativas desse trabalho. Ou seja, existe uma
mistura de conhecimento de várias áreas, ou melhor, um estudo multidisciplinar que
possibilita vários caminhos para esse processo criativo. O estudo dessas vegetações
encontradas na obra de Rosa pode torna-se uma coleção de moda, uma instalação, um
livro sobre corantes ou até um manual de tingimento, ou seja, existem variedades para o
desenvolvimento final desse trabalho. E o que é importante saber é que para elaboração
de qualquer um desses fins existiu um processo criativo que transitou em várias áreas de
conhecimento, memórias coletivas e individuais, motivações e iluminações.
No texto de Cleuza Fornasier (2008) foi pensado um estudo sobre as etapas do
processo criativo proposta por Gomes (2001) em seu livro, Criatividade, projeto,
desenho de produto. O autor nesse livro sugeriu uma divisão das etapas do processo
criativo. Processo que podem ser aplicados no desenvolvimento de uma criação de
moda. São elas:
Identificação: é a etapa mais complexa e determinante do trabalho, já que define o
entendimento do contexto que gera as necessidades e objetivos do projeto e se escreve o
que realmente está sendo buscado e como vai ser feito o projeto.
Preparação: é a procura de dados, informações e conceitos que possam contribuir tanto
no processo como no projeto, aparentemente não relacionados a ele. Pode-se dividir em
análise denotativa (que são feitas em diferentes locais não científicos) e análise
Processo Cognitivo
Processo Criativo
Método Projetual
Método Científico
30
conotativa( a realização de pesquisa nos meios científicos). Nesta fase todos os sentidos
devem estar alerta, pois a emoção e a intuição são determinantes, o que significa que i
inconsciente atua nesta fase acumulando informações que ainda escapam do âmbito da
consciência.
Incubação: é a fase em que se precisa descansar para deixar o inconsciente fazer o
trabalho de associações de idéias
Esquentação: é a fase na qual é acionada a habilidade para se experimentar, em forma
de desenhos ou outra mais adequada, a situação visualizando possíveis soluções.
Iluminação: é a fase que termina a angustia, quando a imaginação das idéias e sua
visualização permitem entender como resolver o problema, analisando forma, função,
estética e técnica das possibilidades desenvolvidas. O termino desta fase ocorre com a
seleção da idéia que mais se aproxima dos requisitos desejados
Elaboração: é a fase de realizar o projeto de forma que a técnica escolhida seja ideal
para demonstrar o produto ou processo.
Verificação: é a fase na qual se analisa os requisitos ds objetivos e do problema de
forma critica e consciente, não esquecendo de verificar o grau de inovação do projeto
realizado.
Podemos então utilizar dessa pesquisa apontada por Gomes (2001) e inseri-la em
um processo criativo de moda. A união entre as etapas dos processos ilustradas na
Tabela 2 realmente seguem a lógica para a realização de um projeto, de forma que a
visualização do sistema facilita o entendimento do designer de moda.
1.3 Processo criativo, design e sustentabilidade
O desenvolvimento de produtos de moda sob a ótica das metodologias do design
ainda é pouco explorado pelos gestores empresariais e até pelas escolas de design. Para
Sanches (2008), uma estudiosa de moda, no livro Design de Moda: olhares diversos,
31
projetos de design não se restringem ao aspecto estético-formal de um produto, como é
entendido pelo senso comum; seu cerne está na abrangência do processo projetual, o
qual envolve uma visão panorâmica e multidisciplinar.
Podemos dizer, ao pesquisar as vegetações presentes em Sagarana visando ao
desenvolvimento desses corantes para uma cartela de cores do cerrado mineiro, que
estamos trabalhando de forma multidisciplinar, selecionando varias áreas e visões para a
realização do produto final. Nesse sentido, Niemeyer, citada por Sanches (2008), diz que
as metodologias desta atividade se aplicam ao
(...) equacionamento simultâneo de fatores sociais, antropológicos e
econômicos, na concepção de elementos e sistemas materiais necessários à
vida, ao bem-estar e à cultura do homem. (NIEMEYER, 1998, p.25)
Ainda de acordo com Sanches (2008), as reflexões sobre uma sistematização do
processo criativo não terão o propósito de indicar um modelo rígido de procedimentos,
como uma receita de fazer produtos de moda, mas poderão auxiliar na construção de um
pensamento organizado de aplicação do potencial criativo. Neste sentido, as ações
envolvidas em cada etapa do desenvolvimento serão analisadas com o intuito de indicar
ferramentas ou diretrizes que possam ajudar na estimulação do processo criativo
individual/ coletivo, na capacidade de síntese e no direcionamento de critérios para a
decisão do projeto. (PIRES, 2008, p.291)
Dessa forma, deve-se ter em mente que o termo desenvolvimento de produto no
campo do design considera o trajeto de todo o planejamento, da concepção até o descarte
desse objeto.
Quando falamos da pesquisa de corantes naturais na obra de Guimarães Rosa,
estamos pensando no projeto como um todo. Tanto na questão multidisciplinar que
busca referências na literatura e moda, com questões de sustentabilidade que se
preocupam não só com o produto final dessa criação, como também com o impacto que
desempenha no meio ambiente depois de descartado, ou seja, o projeto visa a uma
analise de todo o ciclo de vida do produto. Para Cardoso (2004):
O design vem exercendo um papel discreto mas ativo ao longo desse processo
de surgimento e ressurgimento do ambientalismo. O assunto entrou cedo para
a pauta de discussões das organizações profissionais de designers: já em 1969,
o ICSID aconselhou os designers a darem prioridade à qualidade de vida
32
sobre a quantidade de produção. Pelo seu envolvimento estreito com o
processo produto industrial, os designers têm demonstrado um nível elevado
de consciência com relação a questões ecológicas, e as soluções adotadas pela
categoria refletem uma boa disposição para acompanhar as rápidas mudanças
de pensamento em uma área que exige uma constante abertura para o novo e
muita flexibilidade em termos de metodologia de projeto. (CARDOSO, 2004:
54)
O desenvolvimento de corantes naturais torna-se, portanto, um projeto de design
que prioriza a qualidade de vida e protege o meio ambiente. Para Cardoso (2004):
se é verdade que as ameaças ambientais mais graves advêm do consumo
indiscriminado de matérias-primas e do acúmulo de matérias não degradáveis
descartados como lixo, então o aperfeiçoamento de sistemas de reciclagem e
de reaproveitamento deve se tornar um prioridade para o design em nível
industrial. (CARDOSO, 2004, p.61)
Sendo assim, corantes naturais podem ser de extrema importância para a
industria têxtil. Os corantes naturais, segundo Ferreira (1998), são extraídos da natureza,
ou seja, de plantas, flores, árvores, rochas, raízes e até certos insetos, no intuito de não só
representar o universo das cores, mas, também, com objetivo de não causar danos ao
meio ambiente. Os corantes naturais podem ser reintroduzidos em comunidades rurais
como uma alternativa econômica que se integra às técnicas tradicionais de produção
artesanal e que, ao mesmo tempo, melhora significativamente a qualidade dos produtos.
Outro aspecto importante a ser considerado está na ausência de toxidez deste tipo de
corante que possibilita uma melhor qualidade de vida ao artesão e faz com que o produto
artesanal se integre à preservação do meio ambiente.
Já os corantes sintéticos causam muitos danos ao meio ambiente. Os corantes
químicos e sintéticos, por sua origem e propriedades, são substâncias densas e tóxicas,
obtidas a partir de derivados de petróleo e do carvão mineral por um processo altamente
poluente. Estes corantes foram criados na Alemanha, durante a Revolução Industrial,
sendo sintetizados a partir das mesmas matérias-primas usadas para a produção de
explosivos como, por exemplo, os compostos orgânicos ricos em nitrogênio, como a
nitroglicerina ou o TNT (trinitrotolueno). (FERREIRA, 1998)
O autor ainda afirma que, durante a I e II Guerras Mundiais, as indústrias de
corantes químicos faliram, pois toda a matéria-prima era utilizada na fabricação de
explosivos com fins bélicos, levando a população a consumir tecidos em um único tom
33
de cinza, já que não havia como tingi-los com outras cores. O uso indevido destes
corantes químicos fez com que o homem se distancie cada vez mais de sua origem de
luz. Este processo contribuiu para o rompimento deste saber sobre a origem das cores e
da compreensão do seu profundo significado.
Já a origem solar dos corantes vegetais dá às suas cores uma relação direta com a
luz. Podemos chamá-las de cores da luz, em oposição aos corantes químicos. O uso de
corantes vegetais na produção de produtos artesanais com certeza requer um processo
mais elaborado do que simplesmente comprar um tubo de anilina química na loja mais
próxima. Este uso puramente comercial dos corantes químicos anula a autenticidade de
um ofício capaz de integrar o homem à natureza, registrando, assim, sua trajetória pelo
mundo. (FERREIRA, 1998). O corante natural tem, portanto, uma história e acompanha
o homem desde 3000 a.C.
Para Ferreira (1998), tingir com corantes vegetais é relativamente simples, mas
fixar as cores exige um profundo domínio de alguns princípios químicos, físicos,
matemáticos e botânicos. Procurar e coletar ervas, retirar líquens, rochas, cercas e
árvores, reciclar resíduos do beneficiamento de madeiras são atividades lúdicas ligadas a
um processo criativo.
Analisando o contexto atual da arte têxtil, podemos fazer algumas observações
sobre sua evolução, no que diz respeito ao uso das cores. A introdução das anilinas
(corantes sintéticos) causou grandes transformações na produção artesanal, criando,
inclusive, um comércio próprio e introduzindo um tipo de atividade econômica até então
desconhecida. O comércio destes corantes e as leis de oferta e procura romperam com
princípios básicos do processo artesanal. Houve uma desagregação dos valores culturais
que fundamentavam a função utilitária e ritual dos artefatos. Isto implicou também uma
transformação radical da relação entre o produtor, o objeto de sua produção e os laços
estabelecidos entre o produto e o consumidor. A facilidade de obtenção acelerou
significativamente o uso de corantes sintéticos, sem jamais alterar para a toxidez destes
produtos químicos e a consequente contaminação do meio ambiente, a curto, médio e
longo prazos.
A transformação ocorrida no campo vem desenraizando profundamente a
população rural, só restando vestígios do domínio das técnicas de tingimento com
plantas em algumas comunidades rurais muito distantes, onde a dificuldade de acesso e a
miséria não permitiam, e não permitem até hoje, a entrada de vendedores de anilinas.
34
É Ferreira (1998) quem afirma que, embora o uso de corantes químicos tenha se
intensificado, a tinturaria natural, um conhecimento técnico ancestral dos povos das
zonas rurais mais antigas do nosso continente, ainda se conserva entre as pessoas que
dedicam seus esforços a trabalhar junto à terra, a criar peças tingidas a mão e tingidas
com plantas.
Segundo Ferreira (1998), o manejo das matérias-primas utilizadas na produção
artesanal a partir de recursos naturais deve ser o objetivo do chamado desenvolvimento
auto-sustentável, pois não há reflexão moderna e consistente sobre a questão ambiental
que possa deixar de lado a sobrevivência do homem, sua adaptação e convivência com a
Terra. Para o autor, suprir as necessidades locais sem causar danos ao meio ambiente é
uma atividade viável, que garante a sobrevivência material e simbólica do homem.
Miriam Levinbook (2008) diz, em seu artigo Design de superfície têxtil, no livro
Design de Moda: olhares diversos, sobre a importância de se preservar o meio ambiente.
Para ela, a proteção ambiental exige cada vez mais das empresas uma atenção aos seus
processos de produção, visto que o próprio consumidor tratará de buscar produtos menos
agressivos ao ambiente ou ecologicamente corretos. Além disso, a legislação tende a
fiscalizar as atividades de produção de bens e serviços no intuito de forçar uma atitude
menos agressiva e mais responsável por parte das empresas.(LEVINBOOK, 2008)
Dentro deste panorama, Levinbook (2008) propõe que a indústria têxtil tem
lançado mão de experiências e análises para minimizar os efeitos poluentes de seus
produtos, como análises do ciclo de vida (ACV) dos produtos, proposta por Bastos
(2003) ou a conscientização das empresas por meio do sistema de gestão ambiental
(SGA), conforme Lúcido (2003).
Para Lúcido (2003), professor e engenheiro químico especializado em
Engenharia Sanitária e Ambiental, em seu texto A educação ambiental na área têxtil,
o setor têxtil envolve atividades industriais bastante complexas, com
especificidades em relação a parâmetros de controle de qualidade e ambientais
muito diversos. (LÚCIDO, 2003, p.18-19)
Assim, Levinbook (2008) sugere que todos os elos da cadeia produtiva têxtil,
partindo das matérias-primas (fibras naturais e sintéticas) e seguindo para os processos
de fiação, tecelagem e malharia, acabamentos, tinturaria e estamparia até a confecção,
35
incluindo as áreas de lavanderia e passadoria, devem ficar atentos à forma pela qual
beneficiam seus produtos.
Além disso, Levinbook (2008) levanta a questão de um consumidor mais
preocupado e exigente em relação a produtos ecologicamente corretos, e de uma
indústria que começa a se organizar no sentido de atender à demanda da sociedade por
produtos menos invasivos ao meio ambiente. Deve-se pensar também de que forma o
designer de superfícies têxteis pode contribuir com as questões que envolvem a
preservação ambiental. A autora ainda cita Neide Schulte, uma estudiosa sobre o
assunto.
Considerar os impactos ambientais em todas as etapas do desenvolvimento de
um produto deve ser inerente a cada projeto para novos produtos, da origem
ao descarte pelo consumidor. Ou seja, todos são responsáveis pelos problemas
ambientais: o consumidor, a indústria e os designers. (SCHULTE, 2006, p.02)
Levinbook (2008) também relata que o ano de 2009 foi declarado oficialmente
pela FAO, órgão das Nações Unidas que é responsável pelos assuntos ligados à
agricultura e à alimentação, como o Ano Mundial das Fibras Naturais. Que ajuda,
segundo Rocha (2007), a estimular o uso das mesmas diretamente ao consumidor final.
Tal afirmação esclarece que o designer deve acompanhar as tendências para obter
informações que possam permitir que eles desenvolvam produtos que sejam positivos
para o meio ambientes.
Um dos projetos relacionados à sustentabilidade é o e-fabrics, que foi incubado
pela marca de moda Osklen entre 2005 e 2006. O label e-fabrics é concebido a tecidos e
matérias de origem sustentável em função da medição do seu nível de conformidade a
cinco critérios: sustentabilidade da matéria-prima utilizada; impacto do processo
produtivo no meio ambiente natural; resgate e preservação da diversidade e tradições
culturais; fomento às relações éticas com comunidades e colaboradores; e design e
atributos comercias. (LEVINBOOK, 2008, p.385)
Desta forma, torna-se importante ressaltar que todas as possíveis substâncias
corantes encontradas no cerrado mineiro podem se encaixar em um projeto relacionado à
sustentabilidade como o projeto citado acima e que o designer precisa, desde a etapa de
pesquisa ao produto final, se preocupar com o meio ambiente e que atitudes como essa
podem fazer a diferença para gerações futuras.
36
A questão do meio ambiente e da sustentabilidade é um tema bastante debatido
nos últimos anos. As graves alterações climáticas, as crises no fornecimento de água
devido à falta de chuva, tudo isso nos leva a pensar que se nada for feito estamos em um
caminho sem volta.
Almeida (2007) afirma que, nas últimas décadas, os seres humanos causaram
alterações sem precedentes nos ecossistemas para atender a crescente demanda de
alimentos, água, fibras e energia. Essas alterações ajudaram a melhorar a vida de bilhões
de pessoas, mas, ao mesmo tempo, enfraqueceram a capacidade de a natureza prover
outros serviços fundamentais, como purificação do ar e da água, proteção contra
catástrofes naturais e remédios naturais. Entre os problemas mais sérios identificados por
esta avaliação, estão: as condições drásticas de vários tipos de peixes; a alta
vulnerabilidade de dois bilhões de pessoas vivendo em regiões secas até a perda de
serviços providos pelo ecossistemas, como o acesso à água; e a crescente ameaça aos
ecossistemas de mudanças climáticas e poluição de seus nutrientes.
Almeida (2007) comenta que as atividades humanas levaram o planeta à beira de
uma maciça extinção de varias espécies, ameaçando, ainda mais, nosso bem-estar. As
pressões sobre os ecossistemas aumentarão em escala global nas próximas décadas se as
atitudes e ações humanas não mudarem. Medidas de preservação de recursos naturais
teriam mais chances de sucesso se tomadas sob a responsabilidade das comunidades, que
compartilhariam de seus benefícios. A tecnologia e o conhecimento que dispomos hoje
podem reduzir consideravelmente o impacto humano nos ecossistemas, mas sua
utilização em todo o seu potencial permanecerá reduzida enquanto os serviços
oferecidos pelos ecossistemas continuarem a ser percebidos como “gratuitos” e
ilimitados, e não receberem seu devido valor. Os esforços coordenados de todos os
setores governamentais, empresariais e institucionais serão necessários para uma melhor
proteção do capital natural. A produtividade dos ecossistemas depende de escolhas
corretas no tocante e políticas de investimento, comércio, subsídios, impostos e
regulamentação.
Muitos cientistas, pesquisadores, membros de organizações não-governamentais
se unem em todo o mundo para pensar em uma possível solução para esse problema ou
que pelo menos que seja encontrado um ponto de equilíbrio. Uma conclusão para o
problema é de que políticas que visem à conservação do meio ambiente e a
37
sustentabilidade de projetos econômicos de qualquer natureza devem sempre ser a
principal meta.
Todos os cidadãos, juntamente com as ações governamentais, devem ser
instruídos para os possíveis danos e perigos das pequenas intervenções realizadas no dia-
a-dia. Os cidadãos devem aderir a práticas que garantam a sustentabilidade de todos os
seus atos e ações. Desta forma, várias ações podem ser feitas no intuito de promover a
sustentabilidade como: destinar corretamente os resíduos domésticos, a proteção dos
mananciais que se encontrem em áreas urbanas e a prática de medidas simples que
estabeleçam a cultura da sustentabilidade em cada família. (NUNES, 2008)
Assim, reduzindo-se os desperdícios, os despejos de esgoto doméstico nos rios e
as demais práticas ambientais irresponsáveis; os danos causados ao meio ambiente serão
drasticamente minimizados e a sustentabilidade dos assentamentos humanos e atividades
econômicas de qual quer natureza estará assegurada. Estimular o plantio de árvores, a
reciclagem de lixo, a coleta seletiva, o aproveitamento de partes normalmente
descartadas dos alimentos como cascas, folhas e talos; assim como o desenvolvimento
de cursos, palestras e estudos que informem e orientem todos os cidadãos para a
importância da participação e do engajamento nesses projetos e nessas soluções simples
para fomentar a sustentabilidade e a conservação do meio ambiente. O mais importante
de tudo é educar e fazer com que o cidadão comum entenda que tudo o que ele faz ou
fará gerará um impacto no meio ambiente que o cerca. E que só com práticas e ações que
visem à sustentabilidade dessas práticas estará garantindo uma vida melhor e mais
satisfatória para ela mesma, e para as gerações futuras. (NUNES, 2008)
A moda pode, portanto, colaborar com esse tipo de trabalho, realizando pesquisas
de produtos que podem ser saudáveis para o meio ambiente, como o uso de substâncias
corantes naturais, fibras naturais e até conceitos naturais, ajudando, desta forma, o
homem a perceber a importância da sustentabilidade e a consciência para um mundo
melhor. Muitos podem até questionar se realmente a produção de corantes naturais em
grande escala pode prejudicar o meio ambiente pela a questão de tratamento com água e
o próprio uso inadequado de uma grande quantidade de vegetações. Porém sabemos que
esse tipo de trabalho artesanal com corantes e fibras naturais já vem sendo usado a anos
e os produtores que trabalham nesse segmento geralmente fazem a reposição dessas
plantas com outras plantações como também trabalham com reciclagem de água e outros
produtos para que de maneira nenhuma esse processo possa interferir ou prejudicar o
38
bom funcionamento do o meio ambiente. Algumas plantas do cerrado que podem ser
utilizadas para o desenvolvimento de corantes naturais, também podem ser vegetações
que necessitam de pouca ou nenhuma água para sobreviverem. Outro fator que seria
importante destacar é que as plantações não precisam necessariamente serem desmatadas
para a produção de corantes naturais, as vegetações podem ser podadas ou a pode-se
fazer uma coleta das folhas, caules e cascas que naturalmente caem no chão .
Segundo Oleriano e Dias (2007) em seu texto, A dinâmica da água em
microbacias hidrográficas reflorestadas com eucalipto, a importância da água no
contexto geopolítico atual faz dela elemento de pesquisas no intuito de conservar a sua
qualidade e melhorar as condições de uso e aproveitamento da mesma em um
determinado sistema. A água é um recurso vital para qualquer atividade que o homem
realize. Por isso mesmo, atualmente, organismos nacionais e internacionais apontam a
poluição e a escassez das águas como o maior problema ambiental que a humanidade irá
enfrentar neste século.
A água na verdade não se perde no sistema. Ela é sempre renovada através do
chamado ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico consiste no intercâmbio das águas dos
rios, lagos e oceanos, envolvendo ainda a atmosfera e o solo.
Para Oleriano e Dias (2007) atualmente temos o conceito de Bacia Hidrográfica
como unidade de planejamento estratégico. A gestão por bacias hidrográficas é um
modelo onde a administração ultrapassa fronteiras políticas, possibilitando a otimização
dos usos múltiplos, promovendo técnicas inovadoras capazes de manter um meio
sustentável.
Segundo os autores a quantidade de florestas plantadas principalmente com
espécies exóticas tem crescido a cada dia, o que vem preocupando alguns setores da
sociedade. As espécies do gênero eucalipto possuem um crescimento muito rápido em
relação às espécies nativas, e isto faz com que a sua demanda por água seja bem grande,
embora a eficiência no aproveitamento da mesma seja melhor. Assim como qualquer
espécie vegetal, o eucalipto utiliza água para satisfazer suas demandas fisiológicas,
promovendo assim o seu crescimento. Em florestas plantadas, ocorre uma divergência
quanto ao benefício geral que as árvores do reflorestamento proporcionam à sociedade.
Alguns segmentos da sociedade acreditam que as plantações florestais prejudicam a
micro bacia hidrográfica e degradam a paisagem como um todo, principalmente no que
tange às características hidrológicas originais. Esta questão deve ser alvo de intensas
39
pesquisas, no intuito de solucionar este problema. Basicamente o efeito visível do
consumo de água é comum em qualquer tipo de plantação, seja florestal ou não, em
níveis variados, dependendo da espécie plantada.
Sendo assim, alguns segmentos da sociedade criticam as culturas de eucalipto
(que é uma árvore que também pode ser utilizada como corante natural) e outras
vegetações por causa da sua grande demanda por água em seu ciclo de cultura. Porém, é
importante ressaltar que plantações de cana-de-açúcar e café não costumam receber
críticas da opinião pública. De acordo com a tabela abaixo observamos que não existe
muita diferença entre a cultura de eucalipto e as demais apresentadas em relação ao
consumo de água. O eucalipto inclusive consome menos água do que uma cultura de
cana-de-açúcar.
Tabela 3
Tabela de Cultura
Cultura Consumo de água(mm)
Cana-de-açúcar 100-2000
Café 800-1200
Citrus 600-1200
Milho 400-800
Feijão 300-600
Eucalipto 800-1200
Obs: 1 mm(milímetros) corresponde a 1 litro por metro quadrado
Fonte: CALDER, et al, 1992 e LIMA, W. De P., 1992
Desta forma, após analisáramos os dados acima e depois um estudo mais
aprofundado dos corantes naturais e os sintéticos e as preocupações em relação a
utilização desses produtos para o meio ambiente, podemos perceber que os corantes
naturais para uso artesanal podem ser saudáveis para o planeta se forem utilizados de
forma correta e respeitando sempre o meio ambiente e que os corantes sintéticos são
extremamente poluentes mesmo sendo usados com cautela e que cada vez mais seja
exigido das empresas uma atenção aos seus processos de produção, visto que o próprio
consumidor tratará de buscar produtos menos agressivos ao ambiente ou ecologicamente
corretos.
40
“O senhor vê: o remôo do vento nas palmas dos buritis todos, quando é ameaço de
tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde”
Grande Sertão: Veredas p. 220
41
Parte II Cromia do Sertão
2.1 Vegetações de Sagarana
Em Sagarana, constata-se a grande relevância da vegetação, em geral,
do cerrado mineiro. Entremeadas com as descrições da vegetação, estão
as cores da terra, as cores do sertão, as cores roseanas. Essas plantas,
frutas e vegetações que são utilizadas na narrativa de Rosa formam uma
cartela de cores do cerrado e uma cartela de cores do cerrado segundo
Guimarães Rosa, pois algumas vegetações realmente existem no cerrado
e outras são criadas pelo autor. Foram escolhidos os cinco primeiros
contos de Sagarana para um levantamento e estudo das vegetações. São
eles: O Burrinho Pedrês, A Volta do Marido Pródigo, Sarapalha, Duelo e
Minha Gente. Esses cinco contos, após uma pesquisa e leitura da obra,
são os que mais contêm diversos tipos de vegetações. Foi, portanto,
após uma leitura dos contos, elencados os nomes das vegetações na
ordem que foram encontradas nesses cinco primeiros contos. Abaixo
segue uma tabela com uma lista de vegetações encontradas nos contos
selecionados. São elencadas as que pertencem ao cerrado mineiro e
as que pertencem ao sertão de Rosa (imaginário). As vegetações que
realmente existem no cerrado são descritas em forma de um glossário e
com imagens, segundo Lorenzi (2002) em seu o livro Árvores Brasileiras.
Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil.
o burrinho pedrês
45
O Burrinho Pedrês é uma história sugerida por um acontecimento
real, passado no interior de Minas Gerais, envolvendo um grupo
de vaqueiros. É a história da condução de uma boiada em dia de
fortes chuvas, em algum ponto do sertão, sob a tensão de uma
maquinação ameaçadora de ciúme e crime. O foco da narrativa está
centrado em um burrinho pedrês, que é testemunha de um trágico
acidente. Em contraponto com a intriga que se desenvolve entre
os boiadeiros, há episódios relacionados com o ciclo mítico do boi,
onipresente na vida sertaneja. Pairando sobre tudo e todos, destaca-
se a figura sábia e “humana” do burrinho pedrês, que aparece pouco
na ação mas, como citado, domina o universo da narrativa.
o burrinho pedrês
VegetaçõeS CerradoSertão de roSa
Guarantã X
Aroeira X
Taboca X
Jereba urucuiana X
Açucena X
Pau-d’arco X
Pé-duro mofino X
Angico X
Buruti X
Saras X
Tabela 4 - Vegetações mencionadas no conto O Burrinho Pedrês
Fonte: Elaborada pela autora.
1
46
ao analisar o primeiro conto, o Burrinho Pedrês, podemos
perceber várias vegetações descritas pelo autor como: vigas de
guarantã, esteios de aroeira, moitas de taboca, jereba urucuiana,
açucena, pau-d’arco, pé-duro mofino, angico, buruti, e moita de
saras. após uma pesquisa dessas vegetações, podemos dizer
que muitas delas realmente existem segundo o livro Árvores
brasileiras, manual de identificação e cultivo de plantas, de Harri
Lorenzi (2002).
Guarantã, por exemplo, é também é conhecido popularmente como
pau-duro, goiabeira e guarataia, e possui coloração amarelada,
superfície lustrosa e lisa ao tato. É um vegetal muito utilizado na
construção civil em vigas, caibros e assoalhos; em obras externas,
como dormentes, postes e mourões, na confecção de cabos de
ferramentas e tonéis. A aroeira, por sua vez, é um arbusto com
caule tortuoso e casca pardo-vermelho-escura. Suas flores verde-
amareladas, pequenas, pubescentes são dispostas em panículas.
Figura 01 - Guarantã - Fonte: Harri Lorenzi
47
A Aroeira também é conhecida
como urundeúva ou aroeira-do-
sertão ocorre desde o Ceará até
o estado do Pará e Mato Grosso
do Sul. Sua madeira é pesada
de grande resisitencia mecânica
e praticamente imputrescível. A
árvore, pela sua beleza é indicada
para arborização em geral.
Figura 02 - Aroeira - Fonte: Harri Lorenzi
48
A Taboca é o nome popular
(oriundo do tupi) do bambu
Guadua Weberbaueri. Tal bambu
é nativo do Brasil, podendo ser
encontrado facilmente em todo o
território nacional.
A Açucena possui flores cônicas,
grandes, belíssimas e de
coloração normalmente branca,
rosa ou vermelha. Sua folhagem
é também bastante ornamental.
Dependendo do híbrido, as folhas
podem desaparecer durante o
inverno. Na maioria das vezes
seus bulbos são plantados em
vasos, porém podemos formar
maciços e bordaduras como se
faz com as tulipas.
O Pau d’arco, mais conhecido
como ipê branco, é uma árvore
decídua, de floração exuberante,
nativa do cerrado e pantanal
brasileiros. Ele apresenta
tronco reto, com cerca de 40 a
50 centímetros de diâmetro e
casca fissurada. Apresenta porte
pequeno a médio, alcançando de
7 a 16 metros de altura quando
adulta. A copa é piramidal, com
folhas compostas, trifoliadas
e de cor verde-azulada. A
floração geralmente ocorre no
final do inverno ou primavera,
entre os meses de agosto e
outubro, enquanto a árvore está
completamente despida de suas
folhas.
Denominam-se de angicos as
várias espécies de leguminosas-
mimosoídeas de folhas miúdas,
frutos alongados do tipo vagem
ou legume (não confundir com
legumes da alimentação), com
sementes redondas e achatadas.
Assim, temos o angico-rajado
(Parapiptadenia rigida), o
angico-branco (Anadenanthera
colubrina), o angico-do-
cerrado (Anadenanthera
falcata), o angico-vermelho
(Anadenanthera macrocarpa),
dentre outras espécies próximas.
Normalmente, são árvores de
médio a grande porte, comuns
em capoeiras ou na colonização
de áreas abertas. No inverno,
perde totalmente as folhas.
Figura 3 - TabocaFonte: www.jardineiro.net
Figura 5 - Pau d’arcoFonte: www.jardineiro.net
Figura 6 Angico Branco, albíziaFonte: Harri Lorenzi
Figura 4 AçucenaFonte: www. Jardineiro.net
49
Figura 7 - Angico Branco , Cambuí-angico Fonte: Harri Lorenzi
Figura 8 - Angico-do-cerradoFonte: Harri Lorenz
Figura 9 - Angico- vermelhoFonte: Harri Lorenzi
50
O buriti, outra árvore muito encontrada no cerrado, é uma palmeira
solitária. É um fruto coberto por escamas córneas, de cor castanho-
avermelhada e lustrosa. A maturação dos frutos verifica-se
principalmente nos meses de dezembro a julho. Sua presença é tão
característica que emprestou seu nome a várias cidades, palácios,
parques, ruas, etc.
Pode-se dizer, também, que árvores como angico, buriti e aroeira
podem ser facilmente detectadas em pesquisas de campo no
cerrado mineiro. as outras espécies já são uma pouco mais
difíceis de serem encontradas. Podemos também dizer que
outras vegetações como: jereba, pé-duro mofino, moitas de
saras, provavelmente são vegetações criadas pelo autor no
intuito de trazerem mais realidade ao mundo fictício de rosa.
Figura 10 - BuritiFonte: Harri Lorenzi
a volta do marido pródigo
53
Em A volta do Marido Pródigo, o autor descreve um ladino que vende
a mulher para dedicar-se a aventuras na cidade grande, mas depois se
arrepende, volta para sua região e, malandramente, reconquista sua
posição e sua mulher.
Em A Volta do Marido Pródigo, outras vegetações também podem ser
encontradas: bananeiras, erva cabrita, carajuru, cipó-de-batatas, flor-de-
são-joão, ingassu, flor-de-laranjeira.
2a volta do marido pródigo
VegetaçõeS CerradoSertão de roSa
Bananeiras X
Erva-cabrita X
Carajuru X
erva-de-são-joão X
Ingussu X
Flor-de-laranjeira X
Fonte: Elaborada pela autora.
Tabela 5- Vegetações mencionadas no conto A Volta do Marido Pródigo
54
A bananeira é cultivada em
quase todo o Brasil, por isso
somos o 2º maior produtor. No
panorama nacional destacam-
se Bahia e São Paulo como os
maiores produtores, com cerca
de 23% da produção brasileira.
A população brasileira consome
mais de 40 kg por habitante de
banana. É uma planta tropical
muito rústica e produtiva, não
tolera temperaturas muito baixas.
Propaga-se vegetativamente,
por meio de brotações de gemas
laterais do rizoma, podendo
ser compradas ou retiradas de
pomares comerciais.
A erva cabrita é uma trepadeira que, apesar de ser perene, pode ser
utilizada como planta anual. É rústica e apresenta caule volúvel de
crescimento rápido. Suas flores são amarelas, com o centro preto,
muito ornamentais, porém, há variedades de flores de coloração
branca, rósea, vermelha, creme e laranja, e uma variedade de flores
completamente amarelas.
Figura 11 - BananeiraFonte: www.jardineiro.net
Figura 12 - Açucena - Fonte: www.jardineiro.net
55
A carajuru é uma planta florífera,
herbácea e rizomatosa, bastante
difundida como flor-de-corte.
Ela apresenta raízes carnosas
e fibrosas, às vezes tuberosas,
como as raízes das dálias. Os
caules são eretos, ramificados
na base, em geral com 20 a
25 cm de altura. As folhas
surgem no topo dos ramos,
são oblongas a elípticas e têm
um comportamento muito raro
em botânica: elas fazem uma
ressupinação, isto é, são torcidas
na base e, o que parece ser a
página superior da folha é, na
verdade, a face inferior.
A erva-de-são-joão já passou
por um intenso melhoramento
genético, que lhe conferiu
muitos cultivares. Sua folhagem
pode variar, na textura, no
porte e no tamanho. As flores,
que na verdade são brácteas
(folhas modificadas), podem
ser de coloração vermelha,
rosa, amarela ou branca, e
variam quanto à forma e textura
de acordo com o cultivar.
Outra flor que também é
encontrada é a flor-de-
laranjeira, que simboliza a
pureza. Ela é branca, pequena
e perfumadíssima, atraindo
abelhas melíferas em profusão.
O mel de flores de laranjeira é
um dos mais valorizados no
mercado. Delas também se
extraem essências amplamente
utilizadas na culinária,
principalmente a árabe, e na
indústria de perfumes. Os
frutos são esféricos, de casca
alaranjada, com pericarpo
branco, ricos em pectina. A
polpa é aquosa, de coloração
entre o amarelo claro e o
vermelho.
Figura 13 - CarajuruFonte: www.jardineiro.net
Figura 14 - Erva-de-são-joãowww.jardineiro.net
Figura 15 - Flor-de-laranjeiraFonte: www.jardineiro.net
sarapalha
59
Sarapalha, o terceiro conto de Sagarana, é de linha trágica, o que
contrasta com o conto A volta do marido pródigo. Mostra não só
um mundo em ruínas, ainda com os efeitos da Malária, como a
infidelidade feminina com o conceito de honra do sertanejo. São
dois mundos em ruínas: a população vitimada pela malária e o primo
Ribeiro sucumbido pela mulher infiel.
No conto Sarapalha, as seguintes vegetações citadas são
encontradas no cerrado: gervão, aguapés, melão-de-são-caetano,
mangueira, vassourinha, pitangueira e açoita-cavalo.
3sarapalha
VegetaçõeS CerradoSertão de roSa
Mururê X
Gervão X
Aguapés X
Taiobeiras X
Melão-de-são-caetano X
Erva-de-anum X
Mangueira X
Vassourinha X
Pitangueiras X
Açoita-cavalo X
Fonte: Elaborada pela autora.
Tabela 6- Vegetações mencionadas no conto Sarapalha
60
O gervão é uma planta
encontrada em quase todos os
estados do Brasil. Seu porte
é herbáceo e pode atingir até
0,80 m de altura. Em certa fase
de seu ciclo e dependendo do
local em que nasce, seu caule
e ramos se tornam arroxeados.
As inflorescências desenvolvem-
se em forma de espiga com
flores violetas, lilases ou azuis.
Em 1929, já constava como
planta medicinal na farmacopeia
brasileira.
O aguapés é uma planta aquática
conhecida como “vegetal-água”:
95% da planta corresponde a
água. Esta planta possui raízes
longas, com até um metro,
rizomas, estolões, pecíolos,
folhas e inflorescências. A parte
que fica fora d’água pode atingir
uma altura que varia desde
alguns centímetros até um
1metro.O melão-de-são-caetano é um cipó herbáceo da família das
curcubitáceas, muito comum nas cercas vivas dos terrenos
abandonados ou margeando as casas de roça do interior.
Recebe também os nomes de erva-de-lavadeira, melãozinho,
fruta-de-negro, erva-de-são-vicente e fruta-de-cobra. Dá frutos
cor de ouro com espinhos moles na superfície que, quando
maduros, se abrem espontaneamente em três partes, mostrando
no interior as sementes avermelhadas, comestíveis, muito
concorridas pelos passarinhos e por crianças, que as chamam
de boizinhos. Seu nome científico é Momordica charantia.
Figura 16 - Gervão Fonte: www.jardineiro.net
Figura 17 - AguapésFonte: www.jardineiro.net
Figura 18 - Melão-de-são-caetano - Fonte: www.jardineiro.net
Figura 19 - Mangueira - Fonte: www.jardineiro.net
A mangueira é uma planta tropical, que se desenvolve bem
em condições de clima subtropical. Originária do Sul da Ásia,
a mangueira dispersou-se por todos os continentes, sendo
cultivada, atualmente, em todos os países de clima tropical e
subtropical.
A vassourinha é uma planta herbácea, de reconhecido valor
medicinal, originária das Américas. Apresenta folhas simples
em forma de losango, ou oval-lanceoladas, com bordos
serrilhados. Seus ramos vão lignificando com o tempo, motivo
pelo qual também é considerada um sub-arbusto. As flores
são amarelas, com cinco pétalas, com o centro avermelhado.
Figura 20 - VassourinhaFonte: www.phitoherb.com
62
A pitangueira é uma árvore nativa da
brasileira nativa da Mata Atlântica
brasileira, onde é encontrada na floresta
estacional semidecidual do planalto e
nas restingas, desde Minas Gerais até o
Rio Grande do Sul em regiões de clima
subtropical.
Açoita-cavalo é uma árvore nativa de 15
a 25 m de altura, frequente em formações
arbóreas, na submata dos pinhais,
matas de galerias e capoeiras. Apresenta
folhas simples, em que a face superior
possui uma cor verde escuro brilhante
e a inferior esbranquiçada, com três
nervuras muito típicas. A folhagem, pelas
suas características, confere um valor
ornamental.
Figura 21 - PitangueiraFonte: Harri Lorenzi
Figura 22 - Açoita-cavalo
Fonte: Harri Lorenzi
duelo
65
O conto Duelo pode ser lido como uma alegoria da fatalidade, de
inexorabilidade do destino humano. Enquanto os homens se perdem
na busca de seus objetivos, de um fim, algo superior dispõe o
contrário, o imprevisto.
Tabela 7- Vegetações mencionadas no conto Duelo
Fonte: Elaborada pela autora.
4duelo
VegetaçõeS CerradoSertão de roSa
Açafrão X
Capim-chatinho X
Moitas de taquari X
Buriti-da-estrada X
Malva X
Muruci X
Guabiroba X
Vinhático X
Jequitibá X
Sete-cascas X
Flores de unha-de-gato X
Angelim X
Canudos-de-pito X
Itapirucus X
66
No conto Duelo, as seguinte vegetações podem ser encontradas no
cerrado mineiro. São elas: açafrão, capim-chatinho, malva, muruci,
guabiroba, vinhático, jequitibá, sete-cascas, barba-de-pau, angelim, e
canudos-de-pito.
O açafrão é natural das Índias Orientais e do centro da Europa. É
um arbusto de quase um metro de altura, com folhas arroxeadas e
compridas; a flor e seus tegumentos são amarelos, purpurinos, e
avermelhados. Quando seco, tem grande consumo na Europa para
a tinturaria; desprende de seus órgãos uma tinta amarela e um óleo
volátil.
Figura 23 - Açafrão - Fonte: www.jardineiro.net
67
A malva é cultivada como planta
ornamental pela beleza das suas
flores. É uma planta pertencente
à família das malváceas,
originária da Europa, que pode
atingir até cerca de 1 metro de
altura. Popularmente, recebe
vários nomes, como malva-de-
botica, malva-maior ou malva-
selvagem. É uma planta usada
em fitoterapia e apreciada como
hortaliça desde o século VIII a.C.
Suas folhas são mais usadas na
medicina popular, entretanto,
as flores da malva constam das
farmacopeias da Itália, França,
Alemanha e da Suíça.
Figura 24 - Malva - Fonte: www.jardineiro.net
68
O muruci é uma árvore de porte
mediano, flores amarelas em
inflorescências terminais. Tem
frutos pequenos, arredondados,
imaturos verdes e maduros
amarelos, utilizados na
preparação de sucos e sorvetes.
A guabiroba é uma planta nativa
do Brasil. Além da variedade
de cerrado, dissemina-se
também a variedade arbórea que
alcança vários metros de altura,
produzindo frutos com sabor
e aparência da variedade de
campo, porém, quando maduros,
apresentam a cor amarela.
O vinhático é encontrado
nas matas, e é facilmente
reconhecido pelo seu tronco,
soltando cascas. Trata-se
de espécie muito procurada
comercialmente pela qualidade
da madeira.
Figura 25 - MuruciFonte: Harri Lorenzi
Figura 26 - GuabirobaFonte: Harri Lorenzi
Figura 27 - VinháticoFonte: Harri Lorenzi
69
Jequitibás são árvores nativas
da Mata Atlântica brasileira e
existentes apenas na região
sudeste e em alguns estados
vizinhos. Suas folhas apresentam
tons avermelhados na primavera
e suas flores são claras ou
vermelhas. Em tupi-guarani
significa gigante da floresta.
Sete-cascas é a árvore mais
comum no nordeste de Minas,
e tem seu nome derivado do
aspecto do seu tronco, com
cascas soltas. Sua floração
inicia em setembro e persiste até
outubro.
O angelim é uma espécie
vegetal da flora sul-americana.
É provavelmente a árvore mais
alta da Amazônia, de onde é
natural. Ela é usada para fazer
dormentes, postes e vigas.
Tem frutos grandes e flores em
pequenas espigas.
Figura 28 - JequitibáFonte: Harri Lorenzi
Figura 29 - Sete cascasFonte: Harri Lorenzi
Figura 30 - AngelimFonte: Harri Lorenzi
Canudos-de-pito é uma
árvore de crescimento
rápido, que atinge um porte
de 3 metros de altura, para
2 metros de diâmetro da
copa arredondada. As folhas
são pequenas e caducas. A
floração decorre entre janeiro
a junho e origina flores de
cor amarela. A frutificação é
do tipo vagem e decorre de
junho a agosto.
Figura 31 - Canudos-de-pito - Fonte: www.jardineiro.net
minha gente
73
5É um conto que fala mais do apego à vida, fauna, flora e costumes
de Minas Gerais que de uma história plana com princípios, meio e
fim. Os casos que se entrelaçam para compor a trama narrativa são
meros pretextos para dar corpo a um sentimento de integração e
encantamento com a terra natal. O lirismo dos temas do amor e da
solidão transparece em Minha gente.
minha gente
VegetaçõeS CerradoSertão de roSa
Cagaiteira X
Capim barba-de-bode X
Catinga-de-bode X
Tapame X
Rosa-dos-ventos X
Angico X
Araticum X
Jabuticabeira X
Barbatinão X
Dinheiro-em-penca X
Beiçinho-de-sinhá X
Carara X
Clorínea X
Tabela 8 - Vegetações mencionadas no conto Minha Gente
Fonte: Elaborada pela autora.
74
No conto Minha Gente foram encontradas as seguintes vegetações
que existem no cerrado: cagaiteira, capim barba-de-bode,
jabuticabeira, barbatimão, goiabeira, jurujuba, e dinheiro-em-penca.
As cagaiteiras podem atingir mais de 10 m de altura, embora a
grande maioria apresente porte entre 4 m e 8 m; as folhas são
caducas e seu tronco é muito sulcado, com forte presença de cortiça.
Apresenta queda de folhas velhas, brotações novas, florescimento
e frutificação em plena estação seca, mostrando grande adaptação
em ambientes de solos pobres em nutrientes, com elevada acidez,
presença de alumínio tóxico e com grande déficit hídrico em alguns
meses do ano.
Figura 32 - Cagaiteira - Fonte: Harri Lorenzi
75
Capim barba-de-bode é uma erva anual de distribuição pantropical.
Tal espécie vegeta em terrenos turfosos ou estéreis. Também é
conhecida simplesmente pelo nome de barba-de-bode.
A jabuticabeira é espontânea em grande parte do Brasil.
Frutifera de origem sul-americana (brasileira), é encontrada
com mais frequência em Minas Gerais, Espírito Santo, Rio
de Janeiro, São Paulo e Paraná, mas pode também ser
encontrada em outras regiões do país, como na Bahia ou
em Pernambuco, Paraíba, Ceará, Pará, Goiás, Mato Grosso,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Árvore de porte médio,
piramidal, podendo chegar até 9m de altura, dependendo da
espécie. Folhas opostas, lanceoladas, vermelhas quando novas
e, posteriormente, verdes. É conhecida há mais de 400 anos
também na Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu nome é de
origem indígena, e vem de “jabuti” e “caba” (lugar onde), por
ser comum a existência deste animal nas proximidades das
jabuticabeiras, alimentando-se dos frutinhos no chão.Figura 34 - JabuticabeiraFonte: Harri Lorenzi
Figura 33 - Capim barba-de-bode - Fonte :www.overmundo.com.br
76
O barbatimão é uma árvore
originária do cerrado brasileiro,
predominante no norte e
nordeste do Brasil. Seu nome é
derivado de um termo indígena
que significa “árvore que aperta”.
Suas propriedades adstringentes
devem-se a compostos químicos
chamados de tanino.
Dinheiro-em-penca é uma
planta herbácea e rasteira, de
pequeno porte, alcançando
apenas 5 a 10 cm de altura. Ela
apresenta folhagem densa e
muito ornamental, formada por
caule ramificado, filamentoso
e comprido, de coloração
arroxeada e numerosas folhas
cerosas, delicadas, pequenas
e verde-arroxeadas, com a
parte inferior roxa. As flores do
dinheiro-em-penca são brancas e
pequenas, de pouca importância
ornamental.
Figura 35 - BarbatimãoFonte: Harri Lorenzi
Figura 36 - Dinheiro-em-pencaFonte: www.jardimdeflores.com.br
78
Laboratório do Sertão
79
Organizar o laboratório e o exercício prático do tingimento nos coloca frente a organização de
todos os nossos dados e etapas de pesquisa e produção deste trabalho para o real desenvolvi-
mento e experimentação das cores do sertão de Rosa e trazendo essas cores para o processo
criativo da moda que associa nesta proposta a relação entre : moda e literatura. Após realizar o
levantamento das vegetações presentes nos cinco primeiros contos da obra Sagarana, e uma
visita de pesquisa no cerrado mineiro será apresentado neste sub-capítulo como se deu a experi-
mentação e quais os resultados obtidos à partir de um laboratório de tingimento artesanal e todo
o processo metodológico desenvolvido com apoio bibliográfico e também experiência empírica
(tentativa e erro) para a realização e desenvolvimento dos corantes das vegetações encontradas
somente no primeiro conto da obra Sagarana, o Burrinho Pedrês testando sua viabilidade efetiva
no processo de tingimento de têxteis. Outros estudos poderão ser realizado futuramente para
os outros quatro contos, ou ainda considera-se, no que tange o cerrado mineiro como possível
fonte de inspiração, a inteira obra de Guimarães Rosa, porém, neste momento, resolveu-se agora
estudar apenas o primeiro conto da obra, essencialmente por dois motivos: pela dificuldade de
encontrar as vegetações tanto no cerrado mineiro frente a inaptidão e desconhecimento prévio
necessário como em feiras e mercados e o outro motivo seria por necessitar de mais tempo
para coletar algumas vegetações que só nascem em determinadas épocas do ano. Acreditamos,
também, que como laboratório, essa primeira experiência realizada com essas vegetações do
primeiro conto, pode nos dar uma amostragem do processo, apontar as dificuldades encontradas
e nos oferecer a possibilidade de verificarmos a se a idéia é factível do ponto de vista criativo/
estético, por meio dos resultados obtidos, uma vez que cada corante reage de determinado modo
e nos oferece resultados diferentes. Será que o processo de tingimento que relaciona todos os
elementos relacionados nesta pesquisa; moda literatura e mais especificamente tingimento têxtil
e Guimarães Rosa resultará em cores interessantes para desenvolvimento de coleções ou peças
que se insiram no mercado da moda contemporânea e seus respectivos valores associados ao
artesanal? Esta era a questão que percorreu todas as fases de desenvolvimento deste trabalho e
que ao poder então iniciar o processo prático, laboratorial, ansiava pelos resultados do processo.
Para a realização desse laboratório foi utilizado como referência para os processos de tingimento
o livro de Ferreira (1998), Corantes Naturais da Flora Brasileira: Guia prático de tingimento com
plantas. Nesse livro o autor apresenta vários motivos para a utilização de plantas no tingimento
de fibras têxteis naturais. Relata a história dos corantes naturais no mundo e em seguida mostra
elementos necessários para tingir, destacando, além de plantas, os equipamentos utilizados, a
água, o fogo, as fibras e os mordentes. O autor trás, também, informações adicionais sobre as
formas de misturar as cores e receitas que mostram processos de tingimento simples e artesanal.
Segundo Ferreira (1998), para a realização de tingimento artesanal é necessário seguir alguns
passos:
80
É importante definir quais as plantas que serão utilizadas. O processo de tingimento se inicia com a coleta de folhas,
frutos, flores, sementes, liquens, cascas e raízes.
No caso desse laboratório foram realizados tingimentos somente com a casca das plantas pois foram mais fáceis de
serem encontradas na época da pesquisa no cerrado mineiro e também em mercados. A casca pode ser considerada,
também, a parte da vegetação que produz maior pigmentação. As cascas de buriti e aroeira foram recolhidas no cer-
rado e a casca de angico foi encontrada no mercado central da cidade de Belo Horizonte.
No conto, O Burrinho Pedrês, foram elencados sete tipos de vegetações existentes no cerrado mineiro, porém, somente
três foram encontradas nessa época do ano : a aroeira, o anigico e o buriti. As cascas de buriti e aroeira foram recol-
hidas no cerrado durante a exploração em Codisburgo já a casca de angico foi encontrada no mercado municipal da
cidade de Belo Horizonte. As cascas de aroeira, angico e buriti também são muito utilizadas para fins medicinais por
isso podem ser facilmente encontradas em mercados e feiras.
Plantas1. Plantas
Plantas foram encontradas no cerrado ou no mercado?
Parte da eXtraÇÃo da Planta
SIM NÃO CASCA
Guaratã X
Aroeira X X
Taboca X
Açucena X
Pau d’Arco X
Angico X X
Buriti X X
Tabela 9 - Plantas mencionadas no conto: O Burrinho Pedreiro
81
Equipamen-Para Ferreira (1998) alguns equipamentos que podem ser
utilizados e que facilitam o tingimento artesanal:
Panela de alunínio, esmaltada de inox ou vidro
Colheres e facas
Jarra com a capacidade de 1 litro
Tábua de madeira
Luvas
Balde
Normalmente seria utilizado, também, um termômetro para
a medição de temperatura. Porém o grau de fervura é sem-
pre o mesmo, mudando de em algumas cidades. Por exem-
plo, em Belo Horizonte o nível de fervura de 99º C. Portanto
o que foi medido nesse laboratório foi o tempo de fervura.,
ou seja, o corante produzido permaneceu quantos minutos
ou horas em fervura.
2. Equipamentos
82
EquipamentosSegundo o autor, existem dois tipos de tingimento: a frio e a quente. No primeiro o banho é preparado em temperatura
ambiente. Nesse processo o tecido deve permanecer de molho de um dia para o outro e retirado para o sol na manhã
seguinte. Já no tingimento com água quente, o material deve permanecer durante algumas horas na fervura.
Nesse laboratório foram utilizados os dois métodos.
3. Tipos de Tingimento
Parte da Planta casca
tingimento frio
resultadotingimento Quente
resultado
Aroeira Xnão resultou em cor
X SIM
Angico Xnão resultou em cor
X SIM
Buriti Xnão resultou em cor
X SIM
Tabela 10 - Formas de Tingimento
83
Equipamentos CorantesPara o desenvolvimento dos corantes foi necessário a re-
alização de um teste de tingimento onde foi-se ajustando
quantidades e medidas de ingredientes necessários para
obtenção de resultados. Nas tentativas realizadas com o
objetivo de termos um mesmo padrão de conduta, pen-
sado aqui em termos de estabelecimento de critérios me-
todológicos que permitissem comparação e uniformização
de dados e, frente aos resultados obtidos em pré testes,
foi possível estabelecer que, o parâmetro experimental,
40gramas para um litro de água seria então suficiente para
tingir um quadrado de 5cm por 5cm de uma amostra de
tecido 100% algodão. Sendo assim, todos os testes realiza-
dos abaixo formam realizados com o mesmo peso, número
e quantidade de ingredientes e o mesmo tempo de molho e
fervura para que os resultados obtidos pudessem ser com-
parados e avaliados no final do processo.
4. Preparo dos Corantes
84
AroeiraAroeira
Neste procedimento 40 gramas de cascas da árvore
Aroeira, foram adicionadas em um panela com um litro
de água, com temperatura ambiente. O tecido foi depois
adicionado e permaneceu de molho por 1 dia.
Figura 37 - Casca da AroeiraFonte: Elaborado pela autora
Figura 38 - Casca da Aroeira em banho frioFonte: Elaborado pela autora
Resultado: não resultou em cor
Teste a frio com casca Teste a quente com cascaNeste procedimento 40 gramas de cascas da árvore,
aroeira, foram adicionadas em uma panela com um litro
de água e foi fervida por 1 hora.. O tecido foi depois adi-
cionado e permaneceu de molho por 1 dia.
Figura 39 - Casca da Aroeira em banho de fervuraFonte: Elaborado pela autora
Resultado: marrom claro
85
AngicoAngico
Neste procedimento 40 gramas de cascas da árvore, An-
gico, foram adicionadas em uma panela com um litro de
água, com temperatura ambiente. O tecido foi depois adi-
cionado e permaneceu de molho por 1 dia.
Figura 40 - Casca de Angico - Fonte: Elaborado pela autora
Resultado: não resultou em cor
Teste a frio com casca Teste a quente com cascaNeste procedimento 40 gramas de cascas da árvore, An-
gico, foram adicionadas em uma panela com um litro de
água e foi fervida por 1 hora. O tecido foi depois adicio-
nado e permaneceu de molho por 1 dia.
Figura 41 - Casca da Anjico em banho quenteFonte: Elaborado pela autora
Resultado: um tom claro de rosa
86
BuritiBuriti
Neste procedimento 40 gramas de cascas da árvore, fo-
ram adicionadas em uma panela com um litro de água,
com temperatura ambiente. O tecido foi depois adicionado
e permaneceu de molho por 1 dia.
Figura 42 - Casca do Buriti - Fonte: Elaborado pela autora
Resultado: não resultou em cor
Teste a frio com casca Teste a quente com cascaNeste procedimento 40 gramas de cascas da árvore fo-
ram adicionadas em uma panela com um litro de água
e foi fervida por 1 hora. O tecido foi depois adicionado e
permaneceu de molho por 1 dia.
Resultado: um tom claro de rosa
Figura 43 - Casca do Buriti em banho frioFonte: Elaborado pela autora
Figura 44 - Casca do Buriti em banho quenteFonte: Elaborado pela autora
87
Cartela de coresCartela
88
VerificaçãoVerificação
Pudemos verificar após a realização desse laboratório que
os testes de tingimento com a casca das plantas e o tingi-
mento pelo processo de fervura, costumam dar mais col-
oração. As cores obtidas nesse laboratório apresentaram
colorações claras, terrosas e rosadas. Seria importante res-
saltar que os resultados desse laboratório de tingimento po-
dem variar se diferentes valores e quantidades de plantas
ou de água forem utilizados. É extremamente importante,
também, seguir um único valor de ingredientes, como, por
exemplo, 40 gramas de planta para um litro de água, para
um determinado tamanho de tecido, para que o laboratório
possa seguir corretamente um processo metodológico
e desta forma, obter resultados coerentes, podendo-se
desta forma também, comparar os resultados obtidos e
propor diferenciações à partir de possíveis escolhas cria-
tivas. Outro fator importante que precisa ser mencionado
é a dificuldade de se conseguir algumas plantas. Buscar
as plantas no cerrado pode ser, de fato, um trabalho muito
interessante pois podemos ainda encontrar espécies ainda
não exploradas, porém, pode ser difícil encontrar as que
realmente estamos buscando e por isso pode levar mais
tempo para a pesquisa que deste modo exige interesses ou
parcerias distintas e diferenciadas.
Acreditamos que esta proposta de laboratório de tingimento
pode ser uma ferramenta importante que incite possibili-
dades metodológicas/criativas para o tingimento artesanal,
e pode ser visto também como um guia prático que mostra
uma possibilidade de desenvolvimento diferenciada para
pessoas envolvidas na área de moda e design na produção
bem como na educação e experimentação de processos
e desenvolvimento teórico/criativo. Ressaltando a relação
de como uma obra literária pode ser explorada na moda e
como os cerrado mineiro possui diversas vegetações que
pode fazer parte do mundo da moda e do design.
Considerações Finais
89
VerificaçãoConsiderações FinaisConsiderações FinaisPor tratar-se de um trabalho bastante prático, artesanal e de experimentação
de corantes naturais do cerrado mineiro através de um laboratório de tingi-
mento e uma pesquisa das vegetações encontradas nos primeiros cinco con-
tos da obra Sagarana, de João Guimarães Rosa, importantes questões foram
tocadas ao longo deste trabalho que evidencia uma jornada de estudos, in-
vestigação e profundas reflexões assim, cabem aqui algumas considerações.
Este trabalho teve como interesse a literatura brasileira e mais especifica-
mente a obra de Guimarães Rosa e teve início então com a leitura de algu-
mas obras do autor, especialmente Sagarana que nos interessou desde o iní-
cio pois desde então já possibilitava recortes que auxiliariam à continuidade
na proposta e objetivo desta pesquisa. Após a leitura de algumas obras e
estudo sobre a importância do autor no cenário da literatura brasileira, delimi-
tamos a escolha na obra Sagarane e fizemos o levantamento das vegetações
dos nove contos da obra onde foi possível verificar muitas vegetações que
de fato existiam e outras que pertenciam somente ao imaginário de Rosa.
Partindo deste primeiro levantamento escolhemos os cinco primeiros con-
tos para aprofundamento de estudo e pesquisa bibliográfica e também de
campo visto que se permanecêssemos com todos os contos do livro teríamos
uma amostragem muito ampla já que foram encontradas mais de cento e
cinqüenta tipos de vegetações, e trabalhar com todas as vegetações nessa
pesquisa, seria sim muito interessante, porém, não haveria tempo suficiente
para a experimentação dos corantes de todas elas e nem era objetivo uma
amostragem ampla quantitativamente mas sim a experimentação de resulta-
dos possíveis e usos factíveis destes processos e junto a este tipo de veg-
etação. Assim optamos pelo recorte que objetivava e selecionava para estudo
os cinco primeiros contos da obra e apenas para o primeiro conto, O Burrinho
Pedrês, foi realizado o laboratório de tingimento. Essa selação e sucessivos
recortes pelos quais passou esta pesquisa facilitou seu desenvolvimento já
que além de servir como um modelo a ser seguido para o próximas ativi-
dades laboratoriais que pretendo desenvolver em atividades pessoais como
designer de moda, nos permitiu verificar a viabilidade da idéia de construção
de um percursos conceitual de desenvolvimento criativo (a relação moda/
literatura/Guimarães Rosa) e o desenvolvimento de laboratório de pesquisa e
uso de vegetação do cerrado para obtenção de cores no desenvolvimento de
possibilidades artesanais, diferenciadas no processo de obtenção de cores.
90
Cabe lembrar que na busca de uma coerência prática metodológica no desen-
volvimento do percurso criativo que impunha o objetivo de desenvolvimento desta
pesquisa, existiram muitas dificuldades, típicas do processo criativo que muitas
vezes se impõem estabelecendo ou exigindo novos percursos ou recortes. As-
sim, na prática, a busca dessas vegetações mencionadas nos contos estudados
o resultado efetivamente é que várias vegetações não foram ou ainda não pud-
eram ser encontradas no cerrado ou em mercados e feiras livres o que dificultou
bastante a realização mais ampla de testes com outras plantas que pudessem
quem sabe ampliar nossos resultados e tons obtidos nos processos de tingimento
e que assim nos permitisse também incluir no procedimento prático os demais
contos da obra.
Assim, após a verificação e o estudo dessas vegetações encontrada, realizamos
um estudo sobre o real e o imaginário na obra de Guimarães Rosa,. Foi pos-
sível perceber que muito do que o autor cita em sua obras de fato existe e que
Guimarães Rosa além de um excelente escritor e criador de palavras é também
um grande pesquisador pois era claro em suas obras, elementos que realmente
faziam parte daquele determinado espaço. Cabe nesse momento ressaltar a im-
portância da relação da literatura brasileira com o design de moda mostrando
como essa relação pode permitir a junção desses dois mundos e assim estabelec-
er a elaboração de um estudo do processo criativo envolvendo o desenvolvimento
metodológico de base que estrutura todo o desenvolvimento dessa pesquisa.
Para fundamentação desta dissertação e dão contexto que a escolha de desen-
volvimento conceitual criativo determinava desenvolvemos uma pesquisa sobre
corantes naturais e sintéticos bem como sobre sustentabilidade e processo cria-
tivo. Depois de ter entendido melhor o que realmente são os corantes naturais, os
processos de tingimentos artesanais e todo o procedimento metodológico desse
desenvolvimento, tornou-se claro a importância que os corantes naturais podem
ter no que diz respeito à sustentabilidade. Nosso cerrado é riquíssimo de veg-
etações que podem possivelmente ser utilizados possíveis corantes. O cerrado é
um tipo de vegetação que compõe a fitogeografia brasileira, já ocupou 25% do
território brasileiro, fato que lhe dá a condição de segunda maior cobertura veg-
etal do país, superada somente pela Floresta Amazônica. O cerrado abrange os
estados da região Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito
Federal), além do sul do Pará e Maranhão, interior do Tocantins, oeste da Bahia
e Minas Gerais e norte de São Paulo. Ele também é classificado em subsistemas
de campo, de cerrado, de cerradão, de matas, de matas ciliares e de veredas e
ambientes alagadiços (FREITAS, 2009).
Considerações Finais
91
Considerações FinaisConsiderações Finais
A questão da sustentabilidade na moda é um setor que cresce muito e ganha
amplo interesse. As indústrias estão cada vez mais investindo em pesquisas
que valorizem e se preocupam com esse tema. A roupa deixou de ser um
simples acessório, ela transmite valores importantes e, junto desses valores,
a consciência de um mundo melhor e mais responsável. Assim, os corantes
naturais estão ganhando cada vez mais valor no setor da moda e merecem
portanto nossa atenção e investigação. A moda artesanal, que se preocupa
com o meio ambiente, desde a escolha da fibra do tecido ao produto final,
está sendo muito desejada por designers e empresas que acreditam nesse
tipo de trabalho e desejam com novas pesquisas e procedimentos ajudar
o planeta. Caldas (2004) diz que o designer deve de fato acompanhar as
tendências dos movimentos sócio-culturais para obter informações que lhe
permitam projetar produtos, criando possibilidades que se adéqüem a esta
realidade, hoje fundamental no processo criativo, de proteção ambiental.
Desta forma, o design e a moda, duas importantes áreas do conhecimento
que atuam no desenvolvimento de produtos para a moda se articulam para
o desenvolvimento de produtos que representam essa preocupação com o
meio ambiente. No estudo que fizemos sobre as questões que dizem respeito
aos corantes naturais e sintéticos ficou claro que os corantes sintéticos são
muito tóxicos e exigem atenção e cuidados na sua utilização que polui dema-
siadamente o meio ambiente e de outro lado, os corantes naturais, quando
utilizados, necessitam ser utilizado sempre respeitando o meio ambiente e de
forma consciente, pensando na preservação de espécies, da água e evitando
desmatamentos e preservação do solo. Assim, verificou-se que a utilização
de corantes seja ela artificial ou natural em seus diferentes processos indus-
trial ou artesanal exigem respectivamente cuidados e atenções diferenciadas.
92
Sendo assim, elaboramos uma espécie de tabelas com imagens das vege-
tações encontradas e apontamos todas aquelas inventadas nos cinco primei-
ros contos da obra. As vegetações foram elencadas na ordem que apreciam
nos contos. Futuramente, como uma continuação de trabalho, outros contos
da obra poderão ser estudados e outros corantes poderão também ser desen-
volvidos.
Após as questões advindas das reflexões originárias do estudo bibliográfico,
organizamos um diário que documentária o processo a ser realizado no então
chamado “laboratório do sertão” que por nós, foi desenvolvidos. Para o recon-
hecimento da vegetação e validação de uma das etapas do processo criativo
bem como contextualização do referencial teórico e conceitual do trabalho,
fizemos uma pesquisa de campo em Cordisburgo, que acrescentou muitas
informações valiosas para o trabalho, como a história, memórias, referências
e inspirações de Guimarães Rosa. Esse trabalho de campo foi fundamental
para entender melhor qual era a realidade das memórias vividas pelo autor
para escrever Sagarana e envolver-me como designer no referencial con-
textual do conceito criativo que almejávamos para nosso percurso. Em um
restaurante em Cordisburgo estava pintado em uma parede uma citação do
autor que dizia: “Comecei a escrever motivado pela saudade do interior de
Minas; lembranças de Cordisburgo que me fizeram escrever Sagarana.”
Considerações Finais
93
O laboratório de tingimento causou então muita ansiedade muito suspense,
satisfações e algumas decepções que me parecem também muito pertinente
ao processo criativo. Com a dificuldade de encontrar algumas vegetações no
cerrado e nos mercados ou feiras da cidade sobraram poucas opções para
testes e a vontade de obter resultados positivos e numericamente amplos era
muito grande. Três das sete vegetações escolhidas do primeiro conto resul-
taram em cor. As outras quatro vegetações, infelizmente, não foram encon-
tradas para a realização do laboratório. Tudo que realizamos nos laboratórios
que executamos deverá ter continuidade futura. O processo de criação e o
método utilizado foi de grande valia e aprendizado o que nos faz reconhecer a
viabilidade deste fazer quando organizado de forma metodologicamente que
garante coerência e possibilidade de desenvolvimento processual artesanal
e não apenas experimentações desprovidas de intenção de aproveitamento
prático criativo para desenvolvimento de produtos de moda. Nossa organi-
zação no entanto não impede de serem desenvolvidos outros processos e
métodos diferentes para tingimento.
Finalizando aqui esse trabalho, pode-se ressaltar mais uma vez o quanto esse
estudo foi uma experiência de grande valor e como permanece o desejo em
continuar explorando e estudando não apenas cerrados de Minas bem como
e as obras de Guimarães Rosa, um autor por quem tenho absoluta admiração.
Deixo aqui uma citação de Rosa para Rosa onde ele diz “A mundo é mágico.
As pessoas não morrem, elas ficam encantadas.” Para mim ele ficou encan-
tado ...
Considerações FinaisConsiderações Finais
94
Figura 45 - Citação de Guimarães Rosa
95
FIM
“O céu vem abaixando. Narrei ao senhor.No que narrei, o senhor até ache mais do que eu, a minha verdade.Fim que foi. Aqui a estória se acabou. Aqui, a estória acabada. Aqui a estória acaba.”
96
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99
AnexoAnexo
100
e laboratório do sertãoDiário
101
Cordisburgo é uma cidade pequena do interior de Minas Gerais,
cercada de montanhas, vegetações e fazendas de gado, nas
imediações da gruta de Maquiné. Foi nessa cidade natal de
Guimarães Rosa, cujo nome significa cidade do coração, onde
foi realizado o trabalho de pesquisa de campo no cerrado, em
busca de algumas vegetações do cerrado e de um pouco da
história de vida e de inspirações do autor. Esta aproximação
e envolvimento com o lugar, extremamente importante para o
reconhecimento das plantes em seu próprio meio ambiente,
contou com o auxilio de, Isabela Albertini (Fotos) e Sr. José
Oswaldo, mais conhecido como “Brasinha” (guia do cerrado).
Anexo 1 - Cordisburgo
102
Anexo 2 - Placa de Cordisburgo
103
Anexo 3 - Portal Grande Sertão
104
Foi realmente uma experiência única envolver com
os elementos da pesquisa longe dos manuais e
livros, mas pensá-los e reconhecê-los no próprio
cerrado, sendo possível verificar e até mesmo
sentir de perto a história, referências e inspirações
do autor. A cidade respira Guimarães Rosa e os
habitantes conhecem cada história, cada conto e
cada momento vivido pelo autor. Vivem cercados
por memórias e contos. Cada bar, cada loja ou
restaurante carregam consigo, uma memória.
Anexo 4 - Portal Grande Sertão
Chegando à cidade já encontramos o Portal
Grande Sertão, na praça Miguilim, perto do Museu
Casa Guimarães Rosa (MCGR), com sete figuras
em bronze, em tamanho natural, que retratam
o autor de Sagarana e seis vaqueiros, a cavalo,
acompanhados de um cachorro, feitas pelo artista
plástico Léo Santana. Os vaqueiros à cavalo,
próximos ao autor já mostra o gosto pelas andanças
e exploração da região que o próprio Guimarães
Rosa costumeiramente realizava para melhor
conhecimento da região e desenvolvimento de suas
histórias e contos.
105
Visitamos a casa e museu de Guimarães Rosa. A visita foi importante para conhecer um pouco mais da
vida pessoal do autor. Ali soube que desde menino, muito pequeno, ele brincava de imaginar intermináveis
estórias, verdadeiros romances. Adorava geografia; era sua matéria preferida, colocando as personagens
e cenas nas mais variadas cidades e países. Escrever mesmo ele só começou em 1929, com alguns
contos que não eram de muita importância. Interessava-se mais, na época, por Medicina. Lá foi possível
encontrar objetos pessoais, matérias do autor como sua maquina de escrever, diversas fotos, livros e
também de conhecer os ambientes que dividiam e estruturavam a sua casa.
Anexo 5 - Placa do Museu Casa Guimarães Rosa
106
Anexo 6 - Museu Casa Guimarães Rosa
107
Anexo 7` - Objetos Pessoais
108
Anexo 8 - Máquina de Escrever
109
Anexo 9 - Diploma
110
Anexo 10 - Fotos de Guimarrães Rosa
111
Anexo 11 - Fotos de Guimarrães Rosa na infância
112
Anexo 12 - Fotos de Família
113
Anexo 13 - Gravata do Guimarrães Rosa
114
Anexo 14 - Quarto de Guimarrães Rosa
115
Anexo 15 - Obras de Guimarães Rosa
Anexo 16 - Obras de Guimarães Rosa
116
Anexo 17 - Obras do Autor
117
Anexo 18 - Figuras
118
Anexo 19 - Figuras
119
Anexo 20 - Xilogravuras
120
Anexo 21 - Loja do pai de Guimarães Rosa
121
Anexo 22 - Objetos da loja do pai do autor
122
Anexo 23 - Objetos da loja do pai do autor
123
Caminhando no cerrado foi, no entanto, possível
localizar algumas espécies estudadas anteriormente
quando fizemos o levantamento das vegetações feito
no sub-capitulo anterior, como, também acabamos
encontrando espécies únicas. O cerrado possui
uma infinidade de vegetações e nos pareceu muito
instigantes a serem exploradas. A cada passo era
feita uma nova descoberta, realmente foi uma etapa
da pesquisa que nos fascinou.
No entanto buscávamos, principalmente reconhecer
e identificar as vegetações encontradas no primeiro
conto de Sagarana; O Burrinho Pedrês. Eram elas:
guarantã, aroeira, taboca, açucena, pau-d’arco,
angico e buruti.
PERCURSO EXPLORATÓRIO DE CURTA DURAÇÃO NO CERRADOApós a visita na cidade nosso destino era justamente
o cerrado. Foram horas de caminhada árdua, o sol
muito intenso, clima totalmente seco e as veredas
eram verdadeiros oásis do sertão. Buscamos
identificar várias espécies que interessavam
diretamente à nossa pesquisa, porém entendemos
que trata-se de um trabalho bastante difícil, pois
não tínhamos muito repertorio que nos permitisse
o reconhecimento das plantas. Sr. Oswaldo, o
Brasinha, entendia muito do cerrado e das histórias
de Guimarães Rosa, que viveu em Cordisburgo toda
sua vida. Para que esta busca e reconhecimento das
vegetações e plantas mencionadas por Guimarães
Rosa em suas obras, para que este trabalho tivesse
um melhor aproveitamento, futuramente ou em
qualquer outra pesquisa, é imprescindível a presença
de um botânico que sem dúvida pode avaliar melhor
as espécies de vegetações.Anexo 24 - Cerrado
Anexo 25 - Cerrado
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Com a ilustre ajuda do Sr. Oswaldo que entendia muito de cerrado e de algumas vegetações, foi possível encontrarmos
apenas duas delas: a aroeira e o buriti. Coletamos, portanto, somente a casca dessas duas árvores. A aroeira não
tinha nem folhas e nem flores nesta época do ano e o buriti, que se parece muito com um coqueiro, era muito alto e
portanto as folhas de difícil senão impossível acesso naquele momento. Como sabemos, o autor estudado admirava
muito os buritis. Era uma árvore muito comentada não só em Sagarana com em várias outras obras de Guimarães
Rosa como Noites do Sertão e o Grande Sertão Veredas. Para chegarmos perto dos buritis tivemos que percorrer
um longo percurso cerrado à dentro. Os buritis ficam localizados perto de veredas e sempre em grupos. Sendo
assim, foi possível após um longo percurso de exploração, conhecermos não só a cidade natal do autor e algumas
vegetações daquela região, como também verificar que Guimarães Rosa, era de fato, um estudioso de todas elas.
Foi impressionante perceber como o autor tinha amplo conhecimento de todo aquele cerrado que o cercava e como
isso tudo se manifestava e se presentificava em suas obras com tanto valor.
Anexo 26 - Vegetação do cerrado
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Anexo 27 - Cerrado
A seguir, estão algumas fotos de todo esse percurso e exploração no cerrado:
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Anexo 28 - Árvore típica retorcida do cerrado
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Anexo 29 - Árvore típica retorcida do cerrado
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Anexo 30 - Araticum
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Anexo 31 - Árvore do cerrado
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Anexo 32 - Exploração de curta duração do cerrado com o Sr. Oswaldo
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Anexo 33 - Exploração de curta duração do cerrado com o Sr. Oswaldo
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Anexo 34 - Exploração de curta duração do cerrado com o Sr. Oswaldo
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Anexo 35 - Aroeira
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Anexo 36 - Casca da Aroeira
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Anexo 37 - Casca da Aroeira
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Anexo 38 - Exploração de curta duraçãodo cerrado
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Anexo 39 - Flores de Cagaita
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Anexo 40 - Árvore do cerrado
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Anexo 41 - Macaco Pimenta
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Anexo 42 - Árvore do cerrado
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Anexo 43 - Vegetação do cerrado
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Anexo 44 - Flores de Cagaita
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Anexo 45 - Buriti
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Anexo 46 - Buriti
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Anexo 47 - Grupo de Buritis
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Anexo 48 - Vereda próxima aos Buritis
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Anexo 49 - Barbatimão