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1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP MÔNICA TRIANI KRIESEL ANÁLISE AMBIENTAL DE ÁREAS ALAGÁVEIS DO PERÍMETRO URBANO DA CIDADE DE AQUIDAUANA MS CAMPO GRANDE MS 2015

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

MÔNICA TRIANI KRIESEL

ANÁLISE AMBIENTAL DE ÁREAS ALAGÁVEIS DO PERÍMETRO URBANO

DA CIDADE DE AQUIDAUANA – MS

CAMPO GRANDE – MS

2015

MÔNICA TRIANI KRIESEL

ANÁLISE AMBIENTAL DE ÁREAS ALAGÁVEIS DO PERÍMETRO URBANO

DA CIDADE DE AQUIDAUANA – MS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Regional da Universidade Anhanguera –

UNIDERP, como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Mauro Henrique Soares da Silva

Profa. Dra. Vera Lúcia Ramos Bononi

CAMPO GRANDE – MS

2015

1

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhaguera-Uniderp

Kriesel, Monica Triani

K93 Análise ambiental de áreas alagáveis do perímetro urbano da cidade de Aquidauana-MS / Mônica Triani Kriesel - Campo Grande, 2015 77 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Anhanguera - Uniderp

2015.

Orientação: Prof. Dr. Mauro Henrique Soares da Silva

1. Meio ambiente. 2.Desenvolvimento regional - Mato Grosso

do Sul. 3. População ribeirinha. 4. Geoprocessamento Título.

CDD 21 ed. 304-2

388.98171

2

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me amar.

Ao meu esposo Macsuel, por estar ao meu lado, me incentivando com palavras

de carinho em todos os momentos de stress, de nervosismo, de raiva, de

tristeza e de desespero com os prazos apertados dos trabalhos acadêmicos.

Por cuidar do meu filho em todas as sextas e sábados que precisei me

ausentar por conta das aulas.

A minha Sogra, por abrir mão de muitos compromissos e cuidar do meu

pequeno para que eu pudesse estudar.

Ao meu pai Luís, pelo incentivo financeiro incondicional para os meus estudos.

A toda minha família que de um jeito ou outro me ajudou para seguir essa

jornada, seja em oração, em palavras de incentivo, ou simplesmente por

entender minha ausência em encontros e festas e, stress quando presente.

Aos colegas do mestrado e doutorado da turma de 2013 pela companhia e

pelos lanchinhos nos sábados à tarde, do chimarrão, e principalmente do nosso

amigo inseparável, o café.

Ao Elias do laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul.

Aos professores que durante esses dois anos, não mediram esforços para

propor sempre a melhor aula, nos ensinando o caminho do fazer científico.

E ao meu orientador Prof. Dr. Mauro Henrique pela paciência, quanta

paciência, pela dedicação que mesmo com os prazos apertados e com os

atrasos nos e-mails desta orientanda, colaborou para a realização de mais um

sonho, ser mestre. Obrigada professor.

5

SUMÁRIO

1. Resumo Geral ............................................................................................ 6

2. General Sumary ......................................................................................... 8

3. Introdução Geral ........................................................................................ 9

4. Revisão de Literatura .............................................................................. 13

5. Referências Bibliográficas ...................................................................... 19

6. Artigos ...................................................................................................... 23

Morfometria de três Bacias Hidrográficas do município de Aquidauana-MS

......................................................................................................................... 23

Resumo ........................................................................................................... 23

Abstract ........................................................................................................... 23

Introdução ....................................................................................................... 24

Material e Métodos ......................................................................................... 26

Resultados e Discussão ................................................................................ 33

Conclusões ..................................................................................................... 49

Artigo II ............................................................................................................ 55

Perfil da população residente em áreas alagáveis no perímetro urbano de

Aquidauana – MS ........................................................................................... 55

Resumo ........................................................................................................... 55

Resultados e discussões............................................................................... 63

Conclusões ..................................................................................................... 73

Referências ..................................................................................................... 74

7. Conclusão Geral ...................................................................................... 76

6

1. Resumo Geral

A cidade de Aquidauana vem sofrendo frequentemente com enchentes e

inundações que tem afetado a sociedade de forma negativa, desta forma é

cada vez mais necessário promover a proteção do meio ambiente buscando

um equilíbrio entre a sociedade, o ambiente e desenvolvimento regional

Sustentável. Assim, buscou-se entender a dinâmica do espaço geográfico e

contribuir para um melhor planejamento de ações no intuito de minimizar

impactos e cuidar da forma com que a população trata o meio ambiente. O

objetivo desse trabalho é realizar uma análise ambiental de três bacias

hidrográficas urbanas de Aquidauana/MS, de modo a compreender sua

susceptividade às enchentes e inundações e identificar os atores sociais que

ocupam as áreas de risco. Por meio de análise morfométrica busca-se

entender a dinâmica física das bacias hidrográficas e com auxílio de entrevistas

semi-estruturadas é traçado o perfil socioeconômico da população residente

em áreas afetadas por inundações e deste modo, identificar meios eficazes no

cuidado com o bem natural e também na situação da população ribeirinha que

sofre frequentes inundações. Constata-se que, com exceção da bacia

hidrográfica do Córrego João Dias, as outras bacias hidrográficas de

Aquidauana são susceptíveis a enchentes e inundações, por possuir áreas de

relevo plano, essas bacias hidrográficas possuem pouca ramificação e, de

acordo com os dados de morfometria as áreas de acúmulo de fluxo de água

estão localizadas dentro do perímetro urbano o que contribui para os

problemas vigentes na cidade de Aquidauana. A bacia hidrográfica do Córrego

João Dias é a mais ramificada e com relevo ondulado, porém em sua foz, o

relevo é plano e fortemente urbanizado causando assim muitos transtornos a

população nos períodos de cheias. A maioria dos habitantes entrevistados têm

idade superior a 40 anos, e residem no local há mais de 15 ano. Entende-se

que habituaram-se à situação de inundações, uma vez que 82,8% já sofreram

com essa situação perdendo seus pertences ou tendo que mudar-se para

abrigos ou casas de parentes. A população que reside em áreas de risco

compreende a necessidade de sair do local, porém, como são famílias de baixa

renda não tem condições financeiras para deixar o local, e 50,53% das

famílias, por possuírem casa própria, não demonstram vontade de sair do local,

7

alegam que, apesar dos problemas existentes, o local é bom, situado próximo

de tudo, como por exemplo, de supermercados, escola e lojas.

Palavras-chave: Meio ambiente, Percepção ambiental. População ribeirinha.

8

2. General Sumary

The city of Aquidauana is suffering often with floods and floods that have

affected the company so negative, so it is increasingly necessary to promote

the protection of the environment seeking a balance between the Company, the

Environment and Sustainable Development Regional. Thus, we sought to

understand the dynamics of geographical space and contribute to a better

planning of actions in order to minimize impacts and care for the way the

population is the environment. The aim of this study is to perform an

environmental review of three urban watershed Aquidauana / MS, in order to

understand their susceptividade ace floods and floods and identify social actors

occupying risk areas. Through morphometric analysis we seek to understand

the physical dynamics of river basins and with the help of semi-structured

interviews is traced the socioeconomic profile of the population living in areas

affected by floods and thus identify effective means in caring for the natural well

and also the situation of the local population that suffers frequent flooding. It

appears that, except for the catchment area of João Dias Creek, the other river

basin Aquidauana are susceptible to floods and floods, have areas of flat relief,

these watersheds have little branching and, according to data from

morphometry the areas of water flow accumulation are located within the city

which contributes to the problems existing in the city of Aquidauana. The

catchment area of João Dias Creek is the most branched and wavy relief, but in

your mouth, the relief is flat and heavily urbanized thus causing many disorders

the population in flood periods. Most respondents inhabitants are older than 40

years, and reside on site for more than 15 years. It is understood that

accustomed to the situation of flooding, since 82.8% had experienced this

situation losing your belongings or having to move to shelters or the homes of

relatives. The local population, understands the need to leave the premises,

however, as are low-income families can not afford to leave the premises, and

50.53% of families, by having own home, do not show willingness to leave the

site, argue that, despite the problems, the location is good, located close to

everything, such as supermarket, school and shops.

Keywords: Environment, Environmental perception. Local population.

9

3. Introdução Geral

A sociedade contemporânea, baseada na preocupação com o meio

ambiente, vivencia nova realidade. Essa preocupação começa a ser

evidenciada no mundo com a Conferência de Estocolmo em 1972. No Brasil,

há indícios desse cuidado, desde a década de 1950, com a União Protetora do

Ambiente Natural (UPAN l), entre outros citados por JACOBI (2003):

“Em 1958 é criada no Rio de Janeiro a Fundação Brasileira

para a Conservação da Natureza (FBCN) com objetivos e

modo de atuação estritamente conservacionistas, que

centrava suas atividades na preservação da fauna e da

flora, com particular ênfase naquelas ameaçadas de

extinção. Na década de 70 a FBCN com a colaboração da

União Mundial para a Conservação – IUCN – e o Fundo

Mundial para Natureza - WWF- começou um programa de

financiamento em colaboração com agências ambientais.”

(JACOBI, 2003, p. 2).

Ao se pensar em ambiente transformando e/ou antropizado, verifica-se a

necessidade de compreendê-lo, de modo a identificar o grau de modificação de

acordo com a interferência na natureza.

De acordo com ROSS (1991, p.14), qualquer interferência na natureza

feita pelo homem, necessita de estudos que levem ao diagnóstico, ou seja, a

um conhecimento do quadro ambiental onde se pretende atuar.

Não há como parar o processo acelerado de crescimento populacional.

Para o homem o que prevalece é o desenvolvimento econômico baseado na

acumulação de capital. A busca por bens supera o cuidado e a preocupação

com o meio ambiente, concebendo na atualidade um grande dilema para a

humanidade: a contradição entre utilizar os recursos naturais e ao mesmo

tempo conservá-los.

Para Aquidauana, Mato Grosso do Sul, a análise ambiental é de suma

importância, pois o município situa-se na mesorregião do Pantanal Sul-mato-

grossense, o que torna aconselhável a identificação do grau de degradação de

seus cursos d’água e os demais elementos que compõem esses sistemas.

10

Entende-se neste trabalho como Análise Ambiental, a definição de

ROSS (1980): "[...] visam atender as relações das sociedades humanas de um

determinado território (espaço físico) com o meio natural, ou seja, com a

natureza deste território. A natureza neste caso é vista como suporte para a

sobrevivência humana".

Essa relação entre o homem e a natureza gera uma série de riscos ao

ser humano, um dos exemplos desses riscos é a população residente em áreas

ribeirinhas, que na maioria das vezes, quando a calha do rio transborda, são

vitimas de transtornos e perdas. Assim, para a população residente nessas

áreas, que seria normal na dinâmica do rio acaba sendo prejudicial ao homem.

Segundo o Manual de Desastres da Defesa Civil elaborado pelo

Ministério da Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil (2007)

nas enchentes, as águas elevam-se de forma paulatina e previsível e que

mantêm a situação de cheia durante um tempo e depois escoam

gradativamente. Já as inundações graduais são cíclicas e nitidamente sazonais

e são intensificadas por variáveis climatológicas de médios e longos prazos e

pouco influenciáveis por variações diárias de tempo e são relacionadas muito

mais com longos períodos de chuva e essas são concentradas.

TUCCI (2005) explica a inundação de áreas ribeirinhas quando destaca

que:

"As inundações ribeirinhas ocorrem principalmente devido

à ocupação do solo do leito maior. Nos períodos de

pequena inundação existe a tendência de ocupar as áreas

de risco e quando ocorrem as maiores inundações os

prejuízos são significativos" (TUCCI, 2005, p. 33).

Percebe-se ser de extrema importância a compreensão da dinâmica das

sub-bacias para o entendimento da dinâmica do rio principal, o Aquidauana,

pois nos últimos anos a população ribeirinha tem sofrido com inundações

frequentes, as quais têm assolado a região nos períodos chuvosos.

A região necessita deste estudo, pela importância de obter de dados que

apontem para soluções futuras e para a minimização dos problemas

decorrentes das inundações.

11

Na cidade, as inundações nos anos de 2010, 2011 e 2013 foram

frequentes, o que tem preocupado os moradores das margens do rio e dos

córregos (Figura 1). Porém esse processo de enchente de bacias e sub-bacias

hidrográficas é natural, onde em períodos chuvosos o rio ou córrego acaba

transbordando e inundando suas margens. O processo de urbanização cresceu

muito tornando-se um problema cada vez mais constante para a cidade.

Figura 1. Reportagens do Rio Aquidauana nas enchentes de 2011 e 2013.

Fonte: http://www.opantaneiro.com.br/

O objetivo deste trabalho foi fazer uma análise ambiental das bacias

hidrográficas urbanas de Aquidauana, MS, de modo a compreender sua

susceptividade a enchentes e inundações bem como identificar os autores

sociais que ocupam as áreas de risco.

Pretende-se, especificamente, diagnosticar os problemas recorrentes

das áreas inundáveis no perímetro urbano do município de Aquidauana no

Mato Grosso do Sul, por meio da análise das sub – bacias hidrográficas; Fazer

12

uma análise morfométrica das sub – bacias urbanas do rio Aquidauana, sendo

elas as dos Córregos João Dias, Guanandy e da Lagoa Cumprida, as quais

apresentaram problemas de enchentes nos últimos anos; Delimitar as áreas

mais susceptíveis a enchentes e inundações; Entender o motivo da população

ocupar áreas impróprias; Identificar e compreender a população residente e

seus motivos de origem e permanência nessas áreas de risco.

A análise das sub-bacias hidrográficas de Aquidauana auxilia o

entendimento de sua dinâmica de enchentes, visualização e compreensão da

influência do crescimento populacional na dinâmica dos cursos d’água

estudados.

O presente trabalho visa também, contribuir de forma científica, com

uma base de dados e análise para minimizar o impacto negativo que a

população vem sofrendo decorrente das enchentes, bem como colaborar, com

o banco de dados sobre o estado atual de uso e ocupação das sub-bacias

estudadas.

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4. Revisão de Literatura

Frente à crise vivenciada pela sociedade atual com relação aos

ambientes naturais, se fazem necessários estudos que possam auxiliar o

cuidado com o meio ambiente e a gestão ambiental adequada por parte dos

órgãos públicos.

Segundo o Senso 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), em 2012 a população brasileira era de 198.360.943 habitantes em um

território de aproximadamente 16.957,783 Km². O clima da região segundo a

classificação de Koppen AW – tropical chuvoso, caracterizado com a presença

de invernos secos e verões chuvosos.

Fatores relacionados ao crescimento populacional, como poluição

doméstica e industrial agravam os problemas ambientais, criando assim um

ambiente. Importante que sejam considerada nesse processo a relação de uso

e ocupação do solo.

"Considerando a importância da inter-relação entre uso e

ocupação do solo e os processos hidrológicos

superficiais, devemos destacar inicialmente que a

abordagem dos problemas precisa considerar a extensão

superficial na qual estas relações se manifestam"

(POMPÊO, 2000, p. 16).

O planejamento para o processo de urbanização é fundamental, mas, o

Brasil não tem considerado alguns aspectos fundamentais, que acabam

trazendo transtornos e custos para a sociedade e o ambiente. Na cidade de

Aquidauana essa realidade não é diferente, visto que sua fundação se deu de

maneira inadequada e sem planejamento, como uma típica cidade ribeirinha,

que viveu seus primeiros momentos em função do transporte fluvial.

Com relação às unidades de planejamento, a bacia hidrográfica tem sido

estabelecida nas ciências ambientais como um conceito funcional:

"As propostas de ordenamento territorial dos perímetros

urbanos devem ser conduzidas com base nos conceitos

funcionais de bacia hidrográfica, pois elas tem sido eleitas

14

como unidades básicas de planejamento, pelo fato de que

a resultante de toda ação antrópica irá refletir na sua

própria área de abrangência" (VALÉRIO FILHO et al.,

2005 apud LOZINSKI, 2010, p.64).

Este processo intenso de urbanização tem afetado os mananciais, pois o

crescimento demográfico é desordenado e acaba deixando o meio ambiente

vulnerável. ARTIGAS et al. (2011, p. 56) citam problemas relacionados com a

qualidade de vida e as modificações significativas na paisagem, expondo a vida

socioambiental que está em risco e vulnerável.

A importância da água como fonte de vida e de todas as atividades

humanas é indiscutível. SANTOS (2006, p. 02) salienta que a água é o bem

mais precioso do patrimônio natural da Terra, classificada como substância

essencial à continuidade da vida, insumo fundamental para quase todas as

atividades humanas e, responsável pelo equilíbrio do meio ambiente. Ela se

encontra em constante movimento, o chamado de Ciclo Hidrológico.

HUNKA (2006, p. 23) define ciclo como o fenômeno de circulação da

água entre a atmosfera e a superfície terrestre. ARAÚJO (2009, p. 09) ressalta

que a bacia hidrográfica é o elemento fundamental de análise no ciclo

hidrológico, principalmente na sua fase terrestre, que engloba a infiltração e o

escoamento superficial.

Dentro desta circulação de água seja em um sistema aberto ou fechado,

constitui-se a bacia hidrográfica:

"Uma bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica,

limitada por divisores topográficos, que recolhe a

precipitação, age como um reservatório de água e

sedimentos, defluindo-os em uma seção fluvial única,

denominada exutório" (PRIOSTE, 2007).

A bacia hidrográfica também constitui um ecossistema essencial para

análise de impacto ambiental:

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"As bacias hidrográficas também constituem

ecossistemas adequados para avaliação dos impactos

causados pela atividade antrópica que podem acarretar

riscos ao equilíbrio e à manutenção da quantidade e a

qualidade da água, uma vez que estas variáveis são

relacionadas com o uso do solo" (FERNANDES e SILVA,

1994; BARUQUI e FERNANDES, 1985 apud ARAÚJO,

2009, p.4).

A bacia hidrográfica deve ser vista como unidade de planejamento pelas

autoridades, conforme ressaltam ZACCHI et al. (2012, p. 151):

"A bacia hidrográfica deve ser considerada uma unidade

de planejamento, pois permite monitorar as atividades

desenvolvidas em seu interior com vistas à preservação

dos recursos naturais, já que favorece o

acompanhamento das alterações naturais introduzidas

pelo homem tangentes ao uso e ocupação do solo".

Como existe essa relação, muito presente, entre bacia hidrográfica, os

impactos ambientais e a ação antrópica, esses três itens colaboram para

analisar os riscos causados ao ambiente, então torna-se importante a análise

das sub – bacias, pois sua foz está no rio principal e com o uso e ocupação

inadequado nos córregos os problemas percorrer toda a bacia.

Com relação ao fluxo de água que entra e sai do exutório, pode-se

classificar uma rede hidrográfica com bacias e sub – bacias, como descreve

PORTO e PORTO (2008):

“A bacia hidrográfica pode ser então considerada um ente

sistêmico, é onde se realizam os balanços de entrada

proveniente da chuva e saída de água através do

exutório, permitindo que sejam delineadas bacias e sub-

bacias, cuja interconexão se dá pelos sistemas hídricos.”

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O Brasil possui 12 regiões hidrográficas em seu território, e Mato Grosso

do Sul é banhado por duas grandes bacias hidrográficas, a do Paraná e do

Paraguai, e ainda dentro desta configuração de bacia sendo o Pantanal

inserido em grande parte no Mato Grosso do Sul, na Bacia do Alto Paraguai,

sendo considerado Patrimônio Nacional pela Constituição do Brasil de 1988 e

Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas pela Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO) desde 2000 (FAVERO et al. 2008 apud ALVES,

et al. 2008).

Em território brasileiro, o Pantanal tem importante papel na dinâmica das

águas de Mato Grosso do Sul, onde se localiza sua maior parte. Neste

contexto, temos a cidade de Aquidauana, com características geomorfológicas

que delimitam seu território em Planalto de Maracaju e Depressão

Aquidauana/Bela Vista.

Aquidauana possui paisagens exuberantes com fauna e flora dinâmicas,

acompanhando as oscilações climático-hidrológicas que ocorrem anualmente

na região como destaca HARRIS et al. (2005, p. 23).

Aquidauana começou a ser povoada no ano de 1892, segundo ROBBA

(1992, p.11), e não havia problemas com relação a enchentes ou inundações,

pois a população se instalava nas partes mais altas da cidade, e outro fator que

contribuía era a pavimentação feita de paralelepípedos, e com o passar do

tempo as áreas mais baixas foram gradativamente sendo povoadas

aumentando assim a vulnerabilidade da região ribeirinha.

ARTIGAS et al. (2012, p. 56) e VALÉRIO (2002, p. 10) relatam um pouco

da história de Aquidauana/MS, que por se tratar de um rio navegável onde

começa o povoamento que, posteriormente, segue pelo interflúvio dos

Córregos João Dias e Guanandy.

Esse processo que vem desde sua formação tem afetado a drenagem

urbana, causando fortes impactos sobre as sub-bacias urbanas, conforme o

alerta de SOUZA e MARTINS (2008, p.1) ao afirmarem que Aquidauana é uma

típica cidade ribeirinha, que viveu seus primeiros momentos em função do

transporte fluvial e que, até hoje, sofre as conseqüências desastrosas

acarretadas em seu regime fluvial.

A cidade possui áreas naturais ainda integradas à paisagem, as quais

sofrem problemas de impactos ambientais e aliado a isso, todas as áreas

17

alagáveis do perímetro urbano estão loteadas.

"A intensificação das ações de transformação no meio

ambiente, através das ações antrópicas, tem levado a

uma rápida decadência dos ambientes, e os impactos

variados tem exigido uma reformulação constante de

métodos e técnicas" (NETO et al., 2006, p. 3).

O processo de ocupação também é destacado por SOUZA e MARTINS

(2008):

"Na cidade de Aquidauana, o processo de urbanização

provocou grandes mudanças nos ambientes naturais e

parcela representativa da vegetação foi suprimida para

dar lugar a construções e, o desmatamento das margens

responde pela erosão e assoreamento do leito, que

amplia a área afetada pelas enchentes. E assim, o

parcelamento do solo a partir das margens do rio

acarretou a modificação da paisagem natural"

(GABRIELLI, 2008a apud SOUZA e MARTINS, 2008, p.

4).

SANTOS (2006, p. 3), descreve que é de responsabilidade municipal,

adotar medidas necessárias para a proteção, a conservação e a otimização

dos recursos ambientais da região, adequando-se à política regional de gestão

dos recursos hídricos, o que não temos relatos que tem acontecido em

Aquidauana.

A distribuição espacial da população é importante de ser analisada.

COELHO (2005) apud SANTOS (2006, p. 3) ressaltam que os problemas

ambientais não atingem todos os espaços urbanos da mesma forma, atingem

muito mais os locais onde são ocupados pelas classes sociais menos

favorecidas, estando associada à desvalorização de espaço. No caso de

Aquidauana não estão associados à desvalorização, mas ao processo histórico

do inicio da ocupação da cidade.

18

Um dos problemas das sub-bacias é a ocupação antrópica, que

prejudica a qualidade das águas por causa da poluição, tendo assim forte

influência na qualidade ambiental e na saúde da população que ali reside; além

disso causa desequilíbrio no sistema fluvial (NETO et al. 2006, p. 3).

Vários problemas são encontrados no interior das sub-bacias além da

má qualidade da água, como destaca GRADELLA et al. (2006, p. 98), a mata

ciliar que está em processo de degradação avançado, problemas de

urbanização devido a falta de planejamento urbano, aliado a um plano diretor

ineficiente para as áreas inundáveis.

19

5. Referências Bibliográficas

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151-160, 2012.

23

6. Artigos

Artigo I

Morfometria de três Bacias Hidrográficas do município de Aquidauana-MS

Mônica Triani Kriesel

Resumo

A cidade de Aquidauana tem passado por muitas modificações nos últimos

anos o que tem afetado de forma negativa o meio ambiente. A cidade cresce

entre duas bacias hidrográficas importantes, a do córrego Guanandy e do

Córrego João Dias, e cada vez mais a população está próxima desses

córregos, não tendo mata ciliar para a proteção dos mesmos, e degradando-os

cada vez mais. O presente trabalho tem como objetivo, fazer a caracterização

morfométrica das bacias supracitadas no intuito de compreender a dinâmica

natural das bacias hidrográficas urbanas do município de Aquidauana. Assim

foram obtidos dados que possibilitaram identificar áreas suscetíveis a

inundações, para isso utilizou-se o software ArcGIS 10.2, o Modelo Digital de

Elevação (MDE),com os dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM),

disponibilizado no banco de dados do laboratório de Geoprocessamento da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Aquidauana-

MS. Conclui-se que as bacias hidrográficas estudadas são vulneráveis a

inundações, tendo sobretudo, nas áreas ocupadas pela urbanização onde o

relevo é plano, canais retilíneos e, tendo uma densidade de drenagem mediana

há favorecimento do acúmulo de água próximo a foz, ou seja, na área urbana.

Palavras-chave: Dinâmica Fluvial. Geoprocessamento. Inundações.

Abstract

The city of Aquidauana has gone through many changes in recent years which

has negatively affected the environment. The city grows between two major

river basins, the Guanandy stream and João Dias Creek, and increasingly the

population is close these streams, having no riparian vegetation for protection

thereof, and degrading them more and more. This work is aimed at making the

morphometric characterization of the above basins in order to understand the

natural dynamics of urban watersheds in the city of Aquidauana. Thus data

24

were obtained that allowed to identify areas susceptible to flooding, for this we

used ArcGIS 10.2 software, the Digital Elevation Model (DEM), with information

Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), available in the laboratory

database geoprocessing the Federal University of Mato Grosso do Sul (UFMS),

Campus Aquidauana-MS. We conclude that the studied watersheds are

vulnerable to flooding, and especially in the areas occupied by urbanization

where the terrain is flat, straight channels and having a median drainage density

there favoring the accumulation of water near the mouth, ie, in the urban area.

Keywords: Dynamic Fluvial. GIS. Floods.

Introdução

Aquidauana tem sua história marcada por uma ocupação desordenada

do espaço, sem planejamento, assim como citam FERNANDES e

ANUNCIAÇÃO (2012, p. 709):

"Com a origem do loteamento na "Zona Ribeirinha" houve

a ocupação desordenada das margens do rio

Aquidauana, conseqüentemente a retirada da mata ciliar e

alterações do processo de escoamento e infiltração das

águas das chuvas, favorecendo deste modo o

assoreamento e desbarrancamento das margens, sendo

assim em situações de índices pluviométricos excessivos

ocorrem inundações" (FERNANDES e ANUNCIAÇÃO,

2012, p. 709).

De acordo com ALCANTARA e ZEILHOFER (2006, p. 19) "a falta de

controle pelo poder público da urbanização e a não ampliação das redes de

drenagens são os principais causadores das grandes inundações urbanas".

Em 2011 a população de Aquidauana sofreu com inundações, as quais

agrediram a sociedade e causou transtornos a população que vive próxima aos

córregos e ao rio. Para entender a dinâmica dos rios que cortam a cidade,

foram escolhidas as bacias hidrográficas por ser considerada uma importante

unidade de planejamento.

25

A bacia hidrográfica com seu manejo adequado permite a promoção da

conservação e a utilização sustentável deste recurso natural assim como

ressaltam FERNANDES E SILVA (1994) e BARUQUI E FERNANDES (1985).

As enchentes são normais na dinâmica natural de uma bacia

hidrográfica, mas, o manejo inadequado e a falta de planejamento estão

deteriorando áreas de encosta, pois a população tem ocupado o planícies

fluviais dos rios e córregos, o que causa consequências desastrosas para as

mesmas, ou seja, as inundações.

Para TONELLO (2005, p.1):a bacia hidrográfica deve ser considerada

unidade quando se deseja sua preservação:

"A bacia hidrográfica deve ser considerada como uma

unidade quando se deseja a preservação dos recursos

hídricos, já que as atividades desenvolvidas no seu

interior têm influência sobre a quantidade e qualidade da

água. Constitui-se na mais adequada unidade de

planejamento para o uso e exploração dos recursos

naturais, pois seus limites são imutáveis dentro do

horizonte de planejamento humano, o que facilita o

acompanhamento das alterações naturais ou introduzidas

pelo homem na área" (TONELLO, 2005, p. 1).

Para análise de bacia hidrográfica foram utilizados dados morfométricos

de muita relevância conforme concluem CASTRO e CARVALHO (2009) apud

ZACCHI et al. (2012, p.153):

"Que as técnicas de analise morfometrica das bacias

hidrográficas são eficientes, visto que elas permitem a

analise da potencialidade e capacidade de escoamento,

propriedades essenciais para a delimitação da

potencialidade hídrica que, por sua vez, contribui para o

planejamento e o manejo dos recursos existentes na

bacia" (CASTRO e CARVALHO (2009) apud ZACCHI et

al., 2012, p.153).

26

Para tanto, realizou-se a análise morfométrica da área de todas as

bacias hidrográficas, antes de emitir opiniões sobre as áreas de risco em que a

população se encontra, para entender a dinâmica das bacias e constatar o grau

de degradação das mesmas.

Nesse contexto de análise morfométrica de bacia hidrográfica, o uso de

técnicas de geoprocessamento tem grande importância, pois se

complementam interdisciplinarmente conforme pontuação de TONELLO (2005,

p. 12):.

"O manejo de bacias hidrográficas, assim como o

Geoprocessamento, é uma ciência interdisciplinar que

tem tido evolução significativa em face dos problemas

crescentes, resultados da ocupação das bacias, do

incremento significativo da utilização da água e do

resultante impacto sobre o meio ambiente.” (TONELLO,

2005, p. 12).

O objetivo deste trabalho é caracterizar fisicamente as bacias

hidrográficas do município de Aquidauana por meio da análise morfométrica

para delimitar quais delas possuem maior suscetibilidade a enchentes e

inundações, ainda identificar as áreas inundáveis em perímetro urbano.

Material e Métodos

O município de Aquidauana está localizado na porção centro-sudoeste

do estado de Mato Grosso do Sul, aproximadamente a 147,663m (RN nº259K)

de altimetria em relação ao nível do mar e está à margem direita do rio

Aquidauana, está inserido dentro da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai.

O clima da região segundo a classificação de Koppen AW – tropical

chuvoso, caracterizado com a presença de invernos secos e verões chuvosos.

FERNANDES (2013, p.15) aponta a drenagem no município

caracterizando as sub-bacias do Rio Aquidauana que têm seu destino o

Pantanal, com geomorfologia e solos que contribuem para que os canais

fluviais dêem uma resposta rápida a eventos extremos, o que repercute nas

cotas dos rios.

27

O mapa da figura 02 demonstra os canais dos córregos de Aquidauana

e o perímetro urbano do município. Conforme o entendimento de FERNANDES

(2013, p.15):.

"Ao adentrar a sede municipal, o rio Aquidauana, que

empresta seu nome ao município na seção transversal do

canal sofre redução e recebe a vazão dos córregos

Guanandy, João Dias e Sangradouro da Lagoa Comprida,

onde todo o volume de água superficial oriundo da

precipitação, que por efeito da gravidade se desloca dos

pontos mais altos da cidade em direção ao rio

Aquidauana onde o fluxo de vazão é convergido em

direção à planície, e as cheias e estiagens imprimem

através do sistema hidrológico significâncias peculiares na

paisagem" (FERNANDES, 2013, p. 15).

28

Figura 2. Área de estudo com a localização das três bacias hidrográficas da cidade de Aquidauana.

29

FERNANDES e ANUNCIAÇÃO (2012, p. 708) relatam que em 1956 as

políticas municipais incentivaram o desmatamento da mata ciliar do rio

Aquidauana para loteamento, acarretando conseqüências sérias para os

córregos também, já que sua urbanização ocorreu em meio a duas bacias

hidrográficas, a do córrego João Dias e do Guanandy, que sofreram com este

processo.

A bacia hidrográfica é uma unidade de planejamento e tendo em vista o

processo de desenvolvimento urbano é preciso analisar como está sendo

administradas as bacias que cortam o município. Segundo NETO et al. (2006,

p.2) o Córrego Guanandy sofreu uma ruptura do funcionamento do ambiente

natural com um excesso de utilização inadequada causando impactos negativo

ao ambiente local.

Assim como a bacia do córrego Guanandy, a bacia do córrego João Dias

e a Lagoa Comprida também sofre com uma ocupação desordenada e infra

estrutura precária, o uso do solo e o desmatamento podem ser atribuídos as

alterações das condições naturais dos cursos d’água (GRADELLA et al., 2006).

A análise morfométrica é um método eficaz de estudo para diagnósticos

de bacias hidrográficas, sendo assim, muitos autores tem usado tal técnica

para estudos desta natureza. Como por exemplo, cita BRISKI (2009) apud

ZACCHI et. al. (2012, p.153):

"Apontaram que estudos a cerca dos aspectos

morfométricos da bacia hidrográfica são de suma

importância atualmente, ao considerar a dinâmica

presente na interligação dos sistemas hidrológicos com o

sistema ambiental e social" (BRISKI, 2009 apud ZACCHI

et al., 2012, p.153).

Para a análise das bacias hidrográficas de Aquidauana foram eleitas 16

classes para o estudo da morfometria, baseada em quatro autores, sendo elas

descritas abaixo:

Área: Segundo os autores, este dado é um elemento básico para o cálculo de

diversos elementos da morfometria, o que o torna essencial. É a área drenada

30

pelo sistema fluvial entre divisores de água, projetadas em plano horizontal

(TEODORO, 2007).

Perímetro: É o comprimento da linha imaginaria ao longo do perímetro do

divisor de água (TEODORO, 2007).

Fator de forma: Largura média do rio e o comprimento do eixo da bacia. O

comprimento é medido da foz ao ponto mais longe da bacia e a largura divide-

se a área pelo eixo. O fator de forma também dá alguma indicação sobre a

tendência a inundações (BORSATO e MARTONI, 2004). (Eq.01)

Sendo: F= Fator de forma; A= Área de drenagem; L= Comprimento do eixo da

bacia.

Coeficiente de compacidade: Relação entre o perímetro da bacia e a

circunferência do circulo da mesma área da bacia. Quanto mais circular for a

bacia, maior será a tendência para enchentes (BORSATO e MARTONI, 2004).

(Eq. 02)

Sendo: Kc= Coeficiente de compacidade; P= perímetro; A= área de drenagem.

Índice de circularidade: Da mesma forma que o coeficiente de compacidade,

o índice de circularidade tende à medida que a forma da bacia está mais

circular este índice tende a aumentar e a medida que a bacia mostra-se mais

alongada então este índice diminui (TONELLO, 2005). (Eq.03)

31

Sendo: IC= índice de circularidade; A= área de drenagem; P= perímetro.

Ordem dos canais: Ordenamento de 1ª, 2ª, 3ª ordem segundo STRAHLER

(1952, p.98).

Relação de bifurcação: Divisão do número de canais de uma dada ordem

pelo número de canais de ordem imediatamente superior (BORSATO e

MARTONI, 2004).

Densidade de drenagem: Divisão entre o comprimento total dos cursos

d’água pela área da bacia. Varia de forma inversa com relação a extensão do

escoamento superficial, pois uma baixa densidade de drenagem significa uma

maior superfície de contribuição fazendo assim que deflúvio demore mais para

atingir o rio (BORSATO e MARTONI, 2004). (Eq.04)

Sendo: Dd= densidade de drenagem; Lt= comprimento total dos cursos d’água;

A= área de drenagem.

Comprimento do curso d’água principal: Distância da foz até a nascente

mais distante da mesma (CHRISTOFOLLETI, 1980).

Índice de sinuosidade: É a relação entre o comprimento do canal principal e a

distância vetorial entre os extremos do canal (TEODORO, 2007). (Eq. 05)

Sendo: Is= índice de sinuosidade; L= comprimento do canal principal; Dv=

distância vetorial do canal principal.

Acúmulo de drenagem: O mapa elaborado com o auxílio do software ArqGIS

10.1 mostra as áreas onde acumula-se água, ou onde o solo está saturado,

32

então é possível visualizar onde a água poderá acumular com os picos de

chuva da região estudada.

Declividade: Trata-se da velocidade do escoamento superficial da bacia. Afeta

o tempo que a água da chuva leva para concentrar-se nos leitos fluviais, assim

os picos de enchentes, a infiltração, entre outros parâmetros dependerá da

rapidez do escoamento. O MDE foi reclassificado conforme intervalos

estabelecidos pela EMBRAPA (1979) apud CARDOSO et. al. (2006, p. 244) e

para a reclassificação utilizou-se a ferramenta Spatial Analyst do software

ArcGIS 10.2, conforme a tabela 01, a seguir (TONELLO, 2005).

Tabela 1. Classificação da declividade

DECLIVIDADE (%) DISCRIMINAÇÃO

0-3 Relevo plano

3-8 Relevo suave ondulado

8-20 Relevo ondulado

20-45 Relevo forte ondulado

45-75 Relevo montanhoso

>75 Relevo forte montanhoso

FONTE: EMBRAPA (1979) apud CARDOSO et. al. 2006, p. 244.

Altitude: Está associada com a precipitação, evaporação e transpiração dos

deflúvios médios. Com grandes diferenças de altitude existe também a

variação na temperatura, que influencia toda a dinâmica de água da bacia e do

seu leito (TEODORO, 2007).

Amplitude altimétrica: É a variação entre a altitude máxima e a mínima.

(TEODORO, 2007).

Segue o quadro 1 com a divisão dos parâmetros morfometricos a serem

analisados para o presente estudo.

33

Quadro 1. Parâmetros Morfométricos

Para o mapeamento da área foi utilizada imagem Shuttle Radar

Topography Mission (SRTM), o Modelo Digital de Elevação (MDE),

disponibilizados no banco de dados do Laboratório de Geoprocessamento da

Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Aquidauana -

MS e o software ArqGIS 10.2, para processamento dos dados e elaboração

dos mapas.

Utilizou-se imagens ópticas de alta resolução do satélite Geoeye de

2013 do Google Earth para realizarmos o levantamento da drenagem, que

posteriormente foram ajustadas no software ArcGIS 10.2.

Os limites das bacias hidrográficas de Aquidauana foram secundários,

utilizando o software ArcGIS 10.2 somente para ajustes.

Resultados e Discussão

Os 16 parâmetros morfométricos selecionados para a análise das bacias

hidrográficas em estudo possibilitaram entende-las quanto ao grau de

susceptibilidade a enchentes e inundações de cada uma delas.

As características geométricas foram de fundamental importância para a

compreensão das bacias, pois são dados necessários para obtenção de outros

parâmetros morfométricos e nos fornecem a sua grandeza. Os índices

morfométricos relacionados à geometria das bacias hidrográficas estudadas

seguem no quadro 02:

34

Quadro 2. Índices morfométricos relacionados à geometria das três bacias

hidrográficas

Características

geométricas

Valor

João Dias Guanandy Lagoa

Comprida

Área de drenagem 115 km2 17 km2 8 km2

Perímetro 70 km 24 km 16 km

Fator de Forma 0, 21 0, 47 0,5

Coeficiente de

Compacidade 1,82 1,63 1,58

Índice de Circularidade 0,29 0,37 0,39

Para WISLER e BRATER (1964) apud MACEDO et. al. (2013, p. 198) as

bacias hidrográficas podem ser caracterizadas por tamanho, sendo que para

bacias hidrográficas com área inferior a 26 km2 são consideradas pequenas, e

para áreas superiores a 26 km2 são grandes. Com relação à área das bacias

estudadas a do Córrego João Dias é uma bacia hidrográfica considerada

grande, tem 115 Km2 aproximadamente. A bacia hidrográfica do Guanandy

com 17 km2 e a bacia hidrográfica da Lagoa Comprida com 8 km2, são

consideradas pequenas.

Segundo VILLELA e MATTOS (1975, p.32), a comparação dos índices

de forma, coeficiente de compacidade e o índice de circularidade fornecem

informações importantes quanto à susceptividade a enchentes, pois a forma da

bacia hidrográfica determina o tempo de concentração de água, ou seja, o

tempo necessário para que a bacia contribua para a saída de precipitação, e

quanto maior o tempo dessa concentração menor será a vazão máxima de

enchente se as mesmas se mantiverem constantes com as outras

características.

Segundo MOURA (2012, p.2) as bacias hidrográficas podem ser

classificadas em três graus de tendência a enchente, pode ser considerada alta

quando o fator de forma for <1.50, moderada quando estiver entre 1.50 – 1.75

e baixa para forma >1.75. Para o coeficiente de compacidade, TONELLO

(2005, p.20) destaca que valores próximos a 1 as bacias hidrográficas tendem

35

a ser mais alongadas, com coeficientes mínimos serão mais circulares, e

quanto mais próximo for o fator de forma e o coeficiente de compacidade mais

propícia a enchentes mais acentuadas.

Para comprovar que as bacias hidrográficas são alongadas ou circulares

temos ainda o índice de circularidade que MOURA (2012, p.2) apresenta como

alta tendência a enchentes índices >0.55, para moderadas índices entre 0.45 –

0.55 e para baixa tendência a enchente índices <0.45.

Então, considerando apenas o fator de forma para a bacia hidrográfica

do Córrego João Dias de 0, 217, para o Córrego Guanandy de 0, 472 e para a

Lagoa Comprida de 0,5, pode-se afirmar que todas as bacias tem alta

tendência a enchentes pois são valores inferiores a 1.50, sendo que a bacia

hidrográfica do Córrego João Dias por ter seu índice menor é a que, dentre as

três está mais susceptível a este evento. Podendo essas características atuar

também sobre alguns processos hidrológicos ou sobre o comportamento

hidrológico da bacia.

Com relação ao coeficiente de compacidade de 1,82 para a primeira

bacia, de 1,63 para a segunda e de 1,58 para a terceira, pode-se afirmar que a

bacia hidrográfica do Córrego João Dias é a mais alongada e que a Lagoa

Comprida é a menos alongada das bacias estudadas, de todos os índices é a

que mais está próxima de 1. Do mesmo modo, o índice de circularidade

também comprova que as bacias hidrográficas são alongadas ao apresentar

valores de 0,29 para a primeira bacia, 0,37 para a segunda e de 0,39 para a

terceira, sendo as três bacias hidrográficas, portanto, possuidoras de índice de

circularidade inferior a 0,45.

Em bacias que apresentam forma circular, são maiores as possibilidades

de chuvas fortes ocorrerem simultaneamente em toda a sua área,

concentrando assim, grande volume de água no tributário principal e causando

rápidas inundações, porém não é o que acontece nas bacias hidrográficas em

estudo. VILLELA e MATOS (1975, p.45) afirmam que bacias que apresentam

formatos alongados, são pouco propensas a enchentes, já que, apresentam

menores concentrações de deflúvio.

Com relação às características de drenagem obtemos os seguintes

dados:

36

Quadro 3. Índices morfometricos relacionados à drenagem das três bacias

hidrográficas

Características de

Drenagem

Valor

João Dias Guanandy Lagoa

Comprida

Ordem dos canais 3ª 2ª 1ª

Relação de Bifurcação 4 2 --------

Densidade de

Drenagem 0,40km/km2 0,47 km/km2 0,62 km/km2

Comprimento do

curso d’água principal 26 km 7 km 5 km

Comprimento do

curso d’água total 47 km 8 km 5 km

Índice de Sinuosidade 1,13 1,16 1,25

A ordem dos canais seguiu a metodologia de STRAHLLER (1957, p. 98),

no qual para cursos d’água sem tributários é adotada a ordem “1”, ou primeira

ordem. Cursos d’água denominados de segunda ordem são aqueles que

recebem somente tributários de primeira ordem, independentemente do

número de tributários. De terceira ordem são aqueles que recebem dois ou

mais tributários de segunda ordem, podendo também receber tributários de

primeira ordem, e assim sucessivamente (SILVA et al., 2004 apud. TONELLO.

2005).

De acordo com a figura 03 é possível visualizar que a bacia hidrográfica

do Córrego João Dias é de 3ª ordem, do Córrego Guanandy é de 2ª ordem e

da Lagoa Comprida de é uma bacia 1ª ordem. A relação e bifurcação é de 4

(quatro) para a primeira bacia, 2 (dois) para a segunda e inexistente para a

terceira. Como se pode observar no mapa da figura 03, onde mostra a rede de

drenagem e a hierarquia fluvial da mesma.

37

Figura 3. Mapa da Rede de Drenagem e ordem dos canais das bacias hidrográficas de Aquidauana. (A) Bacia

Hidrográfica do Córrego João Dias; (B) Bacia Hidrográfica do Córrego Guanandy; (C) Bacia Hidrográfica da Lagoa Comprida.

38

Com relação à bacia hidrográfica do Córrego João Dias é a de maior

área mas, como podemos ver no mapa, pouco ramificada, assim como as

demais bacias hidrográficas estudadas, mesmo se tratando de áreas menores

TONELLO et al. (2006, p. 28), afirmam que para o número de canais abaixo de

quatro é considerado trivial em pequenas bacias, e que, quanto mais elevado o

índice obtido para esse fator, maior será a rede de drenagem de uma bacia.

Para MOURA (2012, p. 2), a densidade de drenagem pode variar seus

índices de < 2.0 para bacias com alta densidade de drenagem, entre 2.0 e 4.0

moderada e > 4.0 baixa, considerando assim que todas as bacias hidrográficas

em estudo tem alta densidade de drenagem e baixa capacidade de infiltração,

fato esse que é comprovado pelo índice de sinuosidade que apresenta valores

próximo a 1 (um), constatando assim canais retilíneos e com esta configuração

de canais a água da chuva escoa mais rapidamente dificultando sua infiltração.

TEODORO (2007, p.151) afirma que esse tipo de canal favorece o transporte

de sedimentos.

Por mais que os índices morfométricos geométricos nos mostrem que as

bacias hidrográficas são alongadas, e com essa configuração não são

propícias a enchentes e inundações, temos as características de drenagem

que demonstram que as mesmas possuem altas densidades de drenagem, e

mesmo as bacias sendo alongadas podem ocorrer enchentes, pois sua

configuração de drenagem possibilita este evento.

Nos parâmetros de relevo as áreas das bacias hidrográficas encontram-

se na borda do Planalto Maracaju - Campo Grande, que é uma área de

transição entre o Planalto Central Brasileiro e a Planície Pantaneira, conforme

FACINCANI et al. (2008, p.178).

Observamos no mapa de declividade que o relevo das bacias

hidrográficas se apresenta segundo a classificação da EMBRAPA (1979) apud

CARDOSO et. al. (2006, p. 244.), de 0-3% um relevo plano, até maior que 75%

onde é forte montanhoso (FIGURA 4).

39

Figura 4. Mapa de Declividade das bacias hidrográficas de Aquidauana. (A) Bacia Hidrográfica do Córrego João Dias; (B)

Bacia Hidrográfica do Córrego Guanandy; (C) Bacia Hidrográfica da Lagoa Comprida;

40

A bacia hidrográfica do Córrego João Dias, em sua maior parte possui

um relevo plano (0-3%) e suavemente ondulado (3-8%), faixas ao norte da

bacia com relevo ondulado e forte ondulado (8-20%;20-45%) além de relevo

forte montanhoso, onde está localizada a Serra de Maracaju, juntamente com a

alta densidade de drenagem (0,40), a forma da bacia (0,21) e o índice de

sinuosidade (1,13,) que revelam canais retilíneos,e sendo a bacia alta nas

nascentes a tendência é que a medida que o canal recebe água, a mesma

escorra rapidamente por conta dos canais serem retos, ou seja não tem

impedimento para a água, e por causa da velocidade ela terá mais dificuldade

de infiltrar causando uma saturação nas áreas baixas da bacia tendendo a

enchentes e inundações mesmo que o índice de circularidade e o coeficiente

de compacidade nos mostrem o contrário.

A bacia hidrográfica do Córrego Guanandy, tem seu relevo plano (0-3%),

suave ondulado (3-8%) e ondulado (>8%), com alta densidade de drenagem

(0,47), forma com alta tendência a enchentes (0,47) e índice de sinuosidade

(1,16) que revela canais retilíneos. O relevo da bacia não é muito elevado nas

nascentes dos canais, porém o processo é o mesmo que ocorre na bacia

hidrográfica do Córrego João Dias. A água quando encontra o canal escorre

para a foz e não tendo nenhum obstáculo no trajeto saturará rapidamente as

áreas mais baixas da bacia que no caso da bacia hidrográfica do Guanandy

não está somente nas proximidades da Foz, mas, também na área central da

bacia onde existe uma bifurcação. Com a água escoando de duas nascentes e

tendo essas se encontrado ocorrerá saturação do lençol freático também

ocasionando assim inundações.

Nesta bacia, assim como na anterior mesmo o índice de circularidade e

o coeficiente de compacidade mostrando-se pouco propensa a enchentes,

todas as demais características, assim como a configuração do relevo fazem

com que a bacia tenha áreas propicias a enchentes e inundações.

A bacia hidrográfica da Lagoa Comprida tem características

morfométricas semelhantes às demais bacias analisadas. O coeficiente de

compacidade (1,58) e o índice de circularidade (0,39) mostram que a bacia é

alongada e com esta configuração não há probabilidade de enchente, porém

sua forma (0,50) mostra que tem alta tendência a enchente, junto com a

declividade da bacia que varia entre plano (0-3%) e suave ondulado (3-8%)

41

pode ser considerada uma bacia com tendência a enchente sim, por ter

características de relevo que favorecem a concentração de água porque é uma

área relativamente plana, causando saturação ao solo e assim com forte

precipitação tende a elevar o nível de sua água causando inundações.

TONELLO (2005, p. 29) afirma que a variação de altitude de uma bacia

é importante pela influência que exerce sobre a precipitação a evaporação e a

transpiração e, conseqüentemente sobre o deflúvio, ou seja, o escoamento

superficial. As mudanças hipsométricas em uma bacia acarretam mudanças na

temperatura média da bacia que terá como conseqüência uma variação na

evapotranspiração e que possivelmente ocorrerá também uma variação na

precipitação anual

A hipsometria das bacias também é demonstrada na figura 05, onde

constata-se que a amplitude altimétrica é de 408m para a bacia do Córrego

João Dias, de 101m para o Córrego Guanandy e de 43m para a Lagoa

Comprida, ou seja, as bacias são planas conforme se aproxima de sua foz,

assim como demonstra o mapa de declividade,juntamente com todos os

índices morfométricos acima citados podemos afirmar que todas as bacias tem

tendência a enchentes e inundações por mais que o coeficiente de

compacidade e o índice de circularidade digam o contrário pois todos os dados

relacionados ao relevo, a altitude e ao acúmulo de água que as condições

físicas das bacias, em sua maioria, tendem a probabilidade de enchentes.

42

Figura 5. Mapa de Hipsometria das bacias hidrográficas de Aquidauana. (A) Bacia Hidrográfica do Córrego João

Dias; (B) Bacia Hidrográfica do Córrego Guanandy; (C) Bacia Hidrográfica da Lagoa Comprida;

43

A bacia hidrográfica do Córrego João Dias, no mapa da figura 05 onde

visualiza-se que existem áreas da bacia que estão em áreas planas, com

altitudes que variam de 136 a 231metros, justamente onde o mapa da figura 06

de acúmulo de fluxo de água mostra que são os locais propícios a tais

acúmulos, ou seja, onde poderá ocorrer enchente e inundação.

A bacia hidrográfica do Córrego Guanandy varia sua altitude de 142 a

182 metros, onde o mapa de acúmulo de fluxo de água mostra tendências a

acúmulo, também com grande probabilidade de enchente e inundação por

serem áreas planas.

A bacia hidrográfica da Lagoa Comprida com altitude de 139 a 156

metros, também muito plana tem seu acúmulo de água nestas áreas

comprovado pelo mapa de acúmulo de fluxo.

44

Figura 6. Mapa de acúmulo de fluxo d’água das bacias hidrográficas de Aquidauana. (A) Bacia Hidrográfica do Córrego

João Dias; (B) Bacia Hidrográfica do Córrego Guanandy; (C) Bacia Hidrográfica da Lagoa Comprida.

45

Após observar os mapas de declividade, hipsometria e acúmulo de fluxo

constatou-se que os dados morfométricos analisados para este estudo estão

de acordo com a realidade destacada nos mesmos, ou seja, estão em

conformidade, pois, quase todos os índices morfométricos indicam que as

bacias hidrográficas de Aquidauana são susceptíveis a enchentes e

inundações.

Conforme analisado no mapa da figura 7 onde mostra as bacias

hidrográficas e o perímetro urbano da cidade de Aquidauana.

Figura 7. Pontos susceptíveis a inundações no período urbano de

Aquidauana.

Fonte: Google Earth.

Observa-se na bacia do córrego João Dias dois pontos com urbanização

onde temos uma grande planície aluvial. O ponto 1 mostra a área mais distante

da foz que tem uma área a margem do córrego desmatada, e pelos índices

morfométricos com uma drenagem pobre, canal retilíneo o que permite a água

escoar mais rapidamente e com o formato alongado dificulta a infiltração. A

figura 08 representa a área que está acumulando água e o mapa hipsométrico

e o de acúmulo de fluxo comprovam a afirmação.

46

O ponto 2 está próximo a foz e possui um canal de primeira ordem que

deságua no canal principal, que é de 3ª ordem, possui as mesmas

características que o ponto 1 (Figura 9), porém com o agravante de ser uma

área mais densamente urbanizada e recebe mais água por conta do tributário,

que segundo os dados morfometricos também é um ponto de alagamento.

Figura 9. Ponto 2: Fotos 3 e 4: área urbanizada, fotos 5 e 6 do canal principal

com aspectos de enchentes na cidade de Aquidauana.

03 04

05 06

47

A bacia hidrográfica da Lagoa Comprida, não possui ramificação, tendo

somente um canal de 1ª ordem e uma área ocupada por população. No ponto

3, (Figura 09) podemos observar margens desmatadas e segundo os dados

morfométricos possui alta tendência a inundações, por ser de relevo plano,

pouca infiltração e com processo de degradação avançado.

Atualmente a área central da bacia hidrográfica, onde a água fica

represada, formou-se um parque, que é considerado uma área de APP (Área

de Preservação Permanente) e está em processo de revitalização, porém os

índices morfométricos mostram que existe possibilidade de inundação.

Figura 10. Área dentro do parque da APP da Lagoa Comprida, urbanizado na

cidade de Aquidauana.

A bacia hidrográfica do Córrego Guanandy, sofre com o mesmo

problema que as outras bacias analisadas, possui as mesmas características

de relevo e também tem alta tendência a enchente. No ponto 4 do mapa,

observa-se uma área onde o processo de loteamento começa a tomar força, ou

seja, praticamente todas as áreas em volta da bacia estão loteadas e muitos

destes lotes estão sendo construídos. Existem neste ponto, algumas

propriedades rurais que tem como modalidade de produção a pecuária

extensiva e quando ocorre fortes chuvas por longos períodos a área fica

alagada tendo que ser retirado os animais da área onde costumeiramente

pastam (Figura 11).

48

Figura 11. Área urbanizada próximo ao canal fluvial na cidade de

Aquidauana.

O ponto 5 está em outra área urbanizada, quase ao centro da bacia,

com área plana como demonstrado no mapa hipsométrico e de declividade,

caracteriza-se segundo seus dados morfométricos como uma área de alta

tendência a inundações, além disso, seu canal neste ponto passa dentro de

uma chácara como mostra a foto abaixo (Figura 12).

Figura 12. Canal do córrego dentro de uma propriedade privada e propício a

inundação na cidade de Aquidauana.

08 09

49

Os pontos 6 e 7 da bacia hidrográfica do Córrego Guanandy estão

próximos a foz que por mais que esteja arborizada são locais totalmente planos

e fortemente antropizado (Figura 13).

Figura 13: Área próxima a foz e fortemente antropizada na cidade de

Aquidauana.

Conclusões

Conclui-se que todas as bacias hidrográficas urbanas analisadas são

susceptíveis a enchentes e inundações. São alongadas, com pouca

ramificação de canais, os quais se apresentam canais retilíneos, característicos

de relevo plano, com uma alta densidade de drenagem e baixa infiltração.

Das três bacias hidrográficas analisadas, a que apresenta tendência de

enchentes é a bacia hidrográfica do Córrego João Dias, pois, tem o menor fator

de forma, possui mais tributários recebendo mais água e tem maior

declividade, o que favorece o escoamento e a saturação do solo nas áreas

mais baixas e planas rapidamente.

12 13

14 15

50

Conforme foram demonstrados nos mapas, as bacias hidrográficas são

alongadas e por serem planas em sua maior extensão tem acúmulo de água a

medida que aproximam-se da foz. O mapa de acúmulo de fluxo representa

bem essa realidade, pois mostra que quanto mais plano o relevo maior o

acúmulo de água, o que é comprovado com os mapas hipsométricos e de

declividade.

Pelos resultados apresentados nota-se que a bacia hidrográfica do

Córrego João Dias é a que mais tem susceptibilidade a enchentes e

inundações seguida pela bacia hidrográfica do Córrego Guanandy, pois são

alongadas, com forte urbanização nas proximidades de sua foz, onde

justamente encontram-se as áreas mais planas do relevo, de acordo com os

dados de declividade e de hipsometria e que segundo o mapa de acúmulo de

fluxo de água é onde teremos as áreas inundadas, causando assim prejuízos a

população residente neste local.

A bacia hidrográfica da Lagoa Comprida é a que menos tem

susceptibilidade a enchentes e inundações, segundo os dados morfométricos

apresentados, por ser a de menor área, consequentemente a menos alongada

e sem canais de fluxo de água de ordem superior a um que alimentam a bacia.

Por mais que os dados de coeficiente de compacidade e de índice de

circularidade de todas as bacias estejam afirmando que elas não são propícias

a enchentes e inundações, somente esses dados não são relevantes para o

estudo da realidade das bacias hidrográficas do município de Aquidauana.

O índice de circularidade e o coeficiente de compacidade nos mostram o

contrário, mas todas as outras características físicas analisadas mostram que

para esta região o relevo pode interferir na dinâmica das águas, sobretudo

relacionada as características de drenagem de cada uma das bacias

hidrográficas, e então para Aquidauana essas bacias podem sofrer processos

de inundações com eventos pluviométricos intensos por ser uma área muito

plana e bem irrigada, ou seja, o solo satura-se rapidamente e com a ajuda da

configuração do relevo enche causando as enchentes e inundações e isso

afeta diretamente a população ribeirinha.

A morfometria para compreender a dinâmica das bacias foi de suma

importância, principalmente na análise de drenagem e de relevo. Foi possível

constatar que para a realidade local estes índices foram indispensáveis. Estes

51

dados, comparados com o aumento da população nas regiões ribeirinhas, têm

agravado os riscos a enchentes e inundações na cidade.

Com as informações obtidas, é possível afirmar que a falta de

planejamento desde a fundação da cidade pode ser a responsável por acentuar

as enchentes nas bacias hidrográficas, causando problemas de inundações na

área urbana, onde existe o acúmulo de água, ou seja, nas áreas que irão

inundar com fortes e continuas precipitações são as mesmas áreas onde a

população está inserida e sofre as consequências.

Essa problemática atinge a população, causando perda principalmente

de bens materiais e sérios danos ao meio ambiente, pois, na medida em que

as áreas de bacias hidrográficas não são respeitadas perde-se também

cobertura vegetal, como matas ciliares, causando erosão, consequentemente

assoreamento destes córregos e principalmente do rio Aquidauana que está

recebendo toda essa carga de sedimento prejudicando assim a dinâmica

natural das águas de planície.

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55

Artigo II

Perfil da população residente em áreas alagáveis no perímetro urbano de

Aquidauana – MS

Mônica Triani Kriesel

Resumo

Aquidauana começa a ser ocupada em 1892, ano de sua fundação. O

processo de expansão urbana, nessa época, é acelerado pelos governantes

que permitiram e incentivaram o loteamento das áreas que margeiam os

córregos João Dias e Guanandy, os quais são os quais apresentam problemas

com inundações nos períodos de extremos climáticos. Analisa-se neste

trabalho os motivos de permanência da população nas áreas de risco, uma vez

que já sofreram algum tipo de dano ou perda, bem como a permanência dessa

população no local e o tipo de ocupação, além de traçar o perfil

socioeconômico dos moradores. Para alcançar esses resultados realizou-se

entrevistas semi-estruturadas com questões abertas e fechadas, foram

realizadas. Constatou-se que a maioria da população entrevistada tem mais de

40 anos, reside no local de risco há mais de 15 anos, já sofreram com

inundações, dos quais, 47% dos entrevistados pensam em mudar-se,

entretanto, relataram não ter condições financeiras para deixarem o local.

Palavras – chave: Entrevista. População. Riscos, Inundação.

Abstract

Aquidauana begins to be occupied in 1892, the year of its foundation. The

process of urban expansion, that time is accelerated by governments that have

allowed and encouraged the allotment of coastal areas between the streams

João Dias and Guanandy, which are those most had problems with flooding

during periods of extreme weather in the region. We analyze in this paper the

reasons for remaining, the population in the areas of risk, as already suffered

some kind of damage or loss, and the permanence of this population on site

and the type of occupation, in addition to showing the socioeconomic profile of

the inhabitants study. To achieve these semi-structured interviews results with

open and closed questions, were conducted. It was found that most of the

interviewed population has more than 40 years, lies in the risk of local for over

56

15 years, has suffered from flooding, of which, 47 of the respondents think of

moving, however, reported no financial conditions to leave the site.

Key - words: Interview. Population. Risks, Flood

Introdução

Com o desenvolvimento urbano, é cada vez maior o número de pessoas

concentradas nas cidades, principalmente após 1970, ano que esse processo

se intensifica no país. Desta forma, verifica-se uma deficiência de planejamento

por parte do poder público no processo de desenvolvimento e expansão das

cidades, as quais crescem sem organização.

“O crescimento desordenado e acelerado das cidades

associado à concentração populacional e suporte de

planejamento frágil, conflitos institucionais e tecnológicos,

tem, no entanto, provocado uma diversidade de

transformações no ambiente urbano. Criam-se, entre

outros aspectos, condições específicas de padrões de uso

do solo que, associadas aos aspectos geoecológicos do

sítio, ao processo de ocupação e transformação da

paisagem urbana e à situação socioeconômica da

população, têm evidenciado impactos negativos no

espaço geográfico.” (JÓIA e ANUNCIAÇÃO, 2013, p. 6)

De acordo com TUCCI (2004) quando se dá atenção a esse crescimento

ele chega somente às pessoas de classe média e alta, mas não para a classe

baixa e periferia das cidades.

“A urbanização é espontânea, o planejamento urbano é

realizado apenas para a parte da cidade ocupada pela

população de média e alta renda, enquanto que para as

áreas de baixa renda e de periferia o processo se dá de

forma irregular ou clandestina.” (TUCCI, 2004, p. 59)

SEABRA e MONTEIRO (1991) quando analisam o processo de

urbanização e o problema ambiental acusam que tais problemas surgem como

57

resultado do processo de formação da própria cidade que atinge o indivíduo e

cria então características marcantes para os problemas sanitários,

habitacionais e sociais.

RODGHER et. al. (2002) ressaltam que o intenso processo de

interferência do ser humano no ecossistema tem agravado os problemas

ambientais que têm impacto direto, tanto no equilíbrio das paisagens e na vida

da população. “O planejamento da ocupação do espaço urbano no Brasil, não

tem considerado aspectos fundamentais, que trazem grandes transtornos e

custos para a sociedade e para o ambiente.” (TUCCI, 1997, p.5)

Segundo TUCCI (2002) os impactos gerados pelas inundações podem

acontecer de duas formas, as inundações ribeirinhas e as inundações por

causa da urbanização.

O autor ressalta que elas podem ocorrer isoladas ou separadamente.

A primeira ocorre de maneira natural, pois o rio sempre possui dois

leitos, o menor onde a água escoa a maior parte do tempo e o maior onde ela

irá inundar nos períodos chuvosos. A segunda é quando a população invade

essa área de leito maior, onde as enchentes aumentam à medida que o solo

fica cada vez mais impermeabilizado, além disso, este processo de

urbanização vem acompanhado de drenagens mal feitas, pontes e aterros o

que causa impactos ambientais, gera inundações e afetam a população.

Segundo CHRISTOFOLETTI (1981) leito menor é bem delimitado e se

encaixa em margens geralmente bem definidas e tem um escoamento

freqüente, já o leito maior periódico ou sazonal é regularmente ocupado pelas

cheias, pelo menos uma vez ao ano (Figura 1).

Figura 1. Os tipos de leitos fluviais. Fonte: Christofoletti, 1981, p. 83

Na justificativa de TUCCI (2002), o processo de urbanização, expansão

irregular das periferias, que tem pouca obediência com as normas dos Planos

58

Diretores das cidades e com normas específicas sobre loteamentos, e ainda, a

ocupação de áreas públicas por população de baixa renda, dificulta o

ordenamento e o controle ambiental.

Esse tipo de atitude gera sérios impactos ao meio ambiente e também a

população causando danos, os quais TUCCI (2002) descreve como perda

materiais e humanas, interrupção das atividades econômicas das áreas

afetadas pela inundação, doenças, e contaminação da água e, infelizmente,

atualmente não temos leis de prevenção para esse tipo de situação.

Hoje as inundações são cada vez mais freqüentes por conta de diversos

fatores como impermeabilização das áreas próximas aos canais de água,

desmoronamentos, assoreamento devido à retirada da mata ciliar.

Ainda, segundo os estudos de TUCCI (2004), a inundação ribeirinha é

normal. Dependendo da localização do curso d’água, sua topografia e as

influências climáticas causadas pelo clima, o excesso de água vindo da jusante

é intenso e o canal não consegue drenar toda a água causando assim

inundação, que com a população ocupando as margens desses rios irá sofrer

as conseqüências.

TUCCI (2004) ainda descreve que os problemas com inundações têm

ficado intensos nos últimos 30 anos e os problemas ficam cada vez maiores à

medida que se tem mais ocupação na várzea, a canalização de rios e córregos

urbanos tem crescido no intuito de acabar com o problema, mas o que

realmente ocorre é a transferência do problema de lugar.

FERNANDES e ANUNCIAÇÃO (2012, p. 708) descrevem que em 1956

incentivados pelo governo, habitantes degradaram a mata ciliar do rio

Aquidauana e dos córregos João Dias, Guanandy e da Lagoa Comprida com a

intenção de ali residirem, sem qualquer planejamento ou estudo de impacto

ambiental.

Em Aquidauana, as características geomorfológicas da cidade com

baixas cotas altimétricas favorecem o parcelamento do solo da margem direita

do rio, além disso, as características climatológicas e topográficas das bacias

hidrográficas que cortam a cidade favorecem inundações, uma vez que,

segundo a classificação de Koppen, possui clima AW-tropical com invernos

secos e verões chuvosos.

59

Ressalta-se que é justamente nesses verões que a população fica

apreensiva por conta do período de cheia do rio, que nos últimos anos tem

inundado a área ribeirinha rapidamente.

O conhecimento sobre o perfil da população que hoje reside às margens

do Rio Aquidauana e entre as duas bacias hidrográficas citadas é essencial

para entender os motivos que estes habitantes permanecem no local, tendo em

vista que já passaram por algum tipo de transtorno com relação às enchentes

do rio Aquidauana e as inundações por ela causadas.

O Córrego João Dias e do Córrego Guanandy, as principais bacias

hidrográficas, assim como o rio Aquidauana, têm sido alvo do processo de

urbanização e a deteriorização do uso do solo tem causado sérios problemas

aos habitantes dessas áreas nos períodos de maior precipitação, inundando

várias residências e causando danos materiais a uma população de baixa

renda.

FERNANDES e ANUNCIAÇÃO (2012) relatam que, no início do século

XXI ocorreram quatro inundações que causaram prejuízos a população, nos

anos de 2001, 2006, 2010 e 2011, sendo a última a de maior magnitude onde o

rio Aquidauana ultrapassou 10 metros.

Com o objetivo de identificar e compreender a população que reside nas

áreas atingidas pelas inundações busca-se neste trabalho conhecer o perfil

socioeconômico dessas famílias, bem como suas acepções sobre a

problemática em questão para que se possa compreender porque elas ainda

residem em locais de risco uma vez que já sofreram algum tipo de dano ou

perda com estes eventos extremos frequentes na cidade.

Materiais e Métodos

O município de Aquidauana localiza-se na região Centro-Oeste, na

porção Oeste do Estado de Mato Grosso do Sul e início da planície pantaneira

sul mato-grossense. Com altitude de aproximadamente 147 metros em relação

ao nível do mar e distante 139 km da capital. A cidade de Aquidauana é

banhado pelo rio Aquidauana, pelos Córregos João Dias e Guanandy, sendo

que o público alvo de interesse desta pesquisa são os habitantes das áreas

ribeirinhas do município que já sofreram com problemas relacionados com

inundações e que ainda moram nas áreas de risco.

60

A bacia hidrográfica do Córrego Guanandy, tem área total de 19,86 Km2

e está inserida dentro da bacia hidrográfica do Rio Aquidauana, tem extensão

de aproximadamente 6,6 km de comprimento, segundo NETO et. al. (2006).

Essa bacia hidrográfica tem sua nascente em perímetro urbano, dentro do

quadrante Noroeste da cidade e sua foz está na margem direita do Rio

Aquidauana, na Ilha dos Pescadores.

Já a bacia hidrográfica do Córrego João Dias está localizada da porção

oeste do município dentro de uma reserva indígena, saindo da reserva passa

por áreas agrícolas e adentra o perímetro urbano no curso baixo do rio, passa

por vários bairros e deságua na margem direita do rio Aquidauana a 700

metros da Ponte Roldão Carlos der Oliveira (ponte velha). Segundo

GRADELLA et. al. (2006) a bacia hidrográfica do Córrego João Dias é de 28

KM de extensão com altitude de 481 metros.

Para a identificação do público alvo desta pesquisa, foi realizado o

levantamento da população que sofreu danos com inundações na área, por

meio da coleta de informações junto a Secretaria Municipal da Defesa Civil e

ao Corpo de Bombeiros do município, priorizando os documentos relacionados

com a inundação ocorrida em 2011.

Para efeito dos estudos, utilizou-se o Relatório de Enchente do Rio

Aquidauana – 2011 feito pela Gerencia de Desenvolvimento Social e Economia

Solidária de Aquidauana, onde estão descritos todos os nomes das famílias

atendidas, assim como endereços das mesmas, materiais e cestas básicas

doados á população em situação de calamidade.

Analisou-se também os relatórios da Coordenadoria Municipal de Defesa

Civil, onde constam as atas de solicitação de ajuda ao município e imagens da

cidade nos perímetros de alagamentos e o atendimento as famílias e ainda os

endereços cadastrados junto a Defesa Civil.

Com o auxilio de um GPS Garmin foi feita a primeira visita a campo,

onde se obteve as coordenadas geográficas das residências descritas no

relatório da Defesa Civil, após registro das coordenadas, em laboratório foi

realizado o mapeamento dos casos de inundações registrados junto à defesa

civil no ano de 2011.

Após o mapeamento decorrente da primeira atividade de campo

identificou-se as famílias que ainda residem no local, as quais foram

61

entrevistadas entre os meses de novembro e dezembro de 2014, com visitas in

loco, conversas informais, além da aplicação de questionário semi-estruturado

destinado ao(s) responsável(is) pela renda familiar.

Segundo MINAYO (2004), é considerado um questionário semi-

estruturado o que combina questões fechadas, ou seja, estruturadas e

questões abertas que possibilitam o entrevistado a discorrer sobre o tema, sem

resposta prefixada pelo pesquisador, consideradas a de maior relevância para

responder aos objetivos desta pesquisa. Foram realizadas 12 visitas a campo,

com o mapa em mãos, para a entrevista das famílias.

A entrevista semiestruturada baseada em SÁ (2007), contou com

questões abertas e fechadas para traçar o perfil socioeconômico da população,

e compreender como elas vêem o local onde moram (Tabela 1).

Tabela 1. Questionário aplicado às famílias Ribeirinhas de Aquidauana, MS

Questões Objetivo

Idade

Caracterização das famílias que moram no

local das inundações;

Sexo

Número de pessoas que residem na casa

Endereço

Grau de escolaridade

Tempo de residência no local

Local de origem

Empregado ou não

Traçar o perfil econômico dos moradores

entrevistados.

Trabalho que exerce

Renda familiar

Tipo de construção

Situação da moradia

Coleta de lixo

Identificar como é o saneamento básico da

região estudada.

Quantas vezes na semana

Rede de água

Rede de esgoto

Esgoto tratado ou não

Teve problemas com inundações

Identificar a percepção ambiental da

população com relação ao problema de

inundação da área.

Quais

Quantas vezes

Pensou em mudar-se

Por que não o fez

62

Para entender o grau de relação dos moradores com o local onde reside,

o primeiro bloco de questões apresenta a caracterização preliminar da

população ribeirinha, como, idade, sexo, endereço, grau de escolaridade,

quanto tempo residem no local e qual o local de origem.

O segundo bloco de entrevista, sobre perfil econômico da população é

de importância relevante para saber se têm ou não condição de sair do local.

Analisa-se qual a profissão exercida pelos entrevistados, o salário que

percebem, a situação das casas, se de alvenaria ou madeira.

O terceiro bloco de perguntas foi sobre a questão sanitária da região

como saneamento básico, de água, rede de esgoto e coleta de lixo de modo a

compreender a situação ambiental local bem como a assistência do poder

público à qualidade de vida dessas populações.

Para finalizar, o último bloco de entrevista questiona os problemas

enfrentados com as enchentes e inundações, se já tiveram algum tipo de

problema decorrente das inundações, quais forma e quantas vezes ocorreram

e, se já pensaram em mudar-se. Para aqueles que apresentaram esse desejo

foi questionado por que ainda continuam naquele local. Esse bloco evidencia

os motivos pelos quais a população entrevistada ainda permanecem no local.

A organização e análise dos dados foram feitas de forma quantitativa e

qualitativa. Assim como ROCHA e ARAUJO (2007), utilizou-se técnicas

quantitativas, como porcentagem com regra de três simples e tabelas e,

qualitativas, com categorias temáticas, onde as falas coletadas foram

interpretadas de acordo com os blocos de questões divididos anteriormente

com relação aos conteúdos estabelecidos.

Desta forma buscou-se obter uma análise sistêmica e objetiva das

entrevistas, assim como BARDIN apud MINAYO (2004) descreve como:

"Conjunto de técnica de análise de comunicação visando

obter, por procedimento sistemático e objetivo de

descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

(quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos a condições de

produção/recepção dessas mensagens" (BARDIN, 1979

apud MINAYO, 2004, p.199).

63

Resultados e discussões

Com base nos documentos disponibilizados pela Defesa Civil de

Aquidauana, a Notificação Preliminar de Desastre, datada em 03/03/2014,

relata que foram 354 pessoas desalojadas, 145 desabrigadas e 899 pessoas

afetadas pela inundação da área ribeirinha. No dia 07/03/2011, o Relatório de

desastre informa que esse número aumenta para 675 pessoas desabrigadas e

9.969 pessoas afetadas pela enchente. No perímetro urbano foram atendidas

182 famílias atingidas pelas inundações desse período.

A atividade de mapeamento das residências e visitas à população

analisada entre a foz do Córrego João Dias e a foz do Córrego Guanandy,

apontou que de todas as 182 famílias atingidas na inundação de 2011,

segundo a Defesa Civil, 89 não foram encontradas. De acordo com os vizinhos,

algumas estavam viajando e outras haviam ido embora, mas, quando

questionados sobre o motivo destes terem mudado de local os vizinhos não

souberam responder, deste modo, entre os meses de novembro e dezembro

de 2014, foram entrevistadas 93 famílias ainda residentes nas áreas afetadas

por inundações (Figura 2).

64

Figura 2: Ponto de realização das entrevistas

LEGENDA

Limite das bacias

hidrográficas

Ponto de aplicação

da entrevista

65

Dentre os entrevistados, responsáveis pela renda familiar, verificou-se

que 78,5% têm mais de 40 anos de idade e 60,2% são do sexo feminino, ou

seja, quando questionados sobre quem era a pessoa responsável pela principal

renda, a maioria delas são mulheres. A figura 3 a seguir, mostra o percentual

de idade dos moradores entrevistados.

Figura 3. Idade dos Moradores Entrevistados

Com relação ao Grau de escolaridade, observou-se 52,6% deles não

tem o ensino fundamental completo, somente 17,2% o possuem, 11% são

analfabetos, 4,3% ensino médio incompleto, 4.3% com o ensino superior

incompleto, 5,3% que possuem ensino médio completo e também o mesmo

número de entrevistados que tem ensino superior completo, conforme mostra o

gráfico 1:

Gráfico 1. Escolaridade dos entrevistados.

66

O grau de escolarização dos entrevistados evidencia insuficiência de

conhecimentos básicos, que influencia na relação dessas famílias com o meio

ambiente no que diz respeito à preservação, pois, as construções são próximas

a margem seja do rio ou dos córregos sem nenhum tipo de mata ciliar para a

preservação da margem. Os próprios moradores retiram as árvores e outras

vegetações e quando questionados porque o fazem, relataram que é sujeira e

não gostam dela no quintal (Figura 4).

Figura 4. Locais próximos aos córregos com construções na cidade de

Aquidauana.

Esse tipo de atitude é caracterizado pela falta de informação que as

famílias têm sobre preservação de mata ciliar, uma vez que a baixa

67

escolaridade, muitas vezes compromete a compreensão sobre a preservação

das margens do rio ou dos córregos, e que esta, por sua vez, pode ajudar na

diminuição dos impactos ambientais negativos da região como as inundações

cada vez mais frequentes e severas, que causam prejuízos irreversíveis ao

ambiente e perdas materiais.

Os representantes do poder público municipal, como a Gerência de

Desenvolvimento Social e Economia Solidária de Aquidauana e também a

Defesa Civil, não realizam nenhum trabalho de conscientização, ou prestação

de informações para a população que reside nas áreas afetadas pelas

inundações, ou seja, somente prestam serviços socorro nos momentos de

decorrência de problemas.

Além da mínima escolaridade dos habitantes da região estudada, o

gráfico 3 demonstra o tempo de residência dessas famílias no local de estudo.

Percebe-se que a maioria deles vivem há mais de 15 anos, cerca de 48,38%,

favorecendo assim, a relação de afetividade com o local

O tempo de permanência de pessoas no mesmo local faz com que ela

crie laços com a região, com os vizinhos, etc., pois o lugar onde vivemos são

os que mais nos marcam na trajetória individual. Esses laços fazem com que

os habitantes não deixem a região, pois tem ali sua identidade fixada.

BUTTIMER (1982) descreve a identidade cultural aliada ao lugar;

"A identidade cultural está intrinsecamente relacionada à

identidade com o lugar. As dimensões culturais,

emocionais, políticas e biológicas permitem ao indivíduo

possuir redes de interações baseadas no lugar. Mesmo

diante das transformações no lugar, para o indivíduo e

para a comunidade, a sensação de que as características

antigas permanecem, reforçam a identidade com o lugar”

(BUTTIMER, 1982, p.20)

68

Gráfico 3. Tempo de Residência dos entrevistados.

O local de origem da maioria das pessoas que residem nas áreas de

risco de inundação é do próprio município, o que indicaria que já conhecem o

histórico de enchentes e inundações no decorrer dos anos, e mesmo

conhecendo essa área continuam a residir nela. Para os que vêm de outras

cidades ou estados que também se observou a campo, como por exemplo, São

Paulo (SP), Campo Mourão (PR), entre outros, podem não conhecer a área e

adquirirem casas, ou até mesmo alugarem residências naquela área, sem

saber dos problemas e prejuízos que poderão enfrentar depois.

Com relação ao perfil econômico dos entrevistados, 49,46% está

empregada em serviços diversos, como recepcionista, agente de saúde,

empresário, pedreiro, pintor e pescadores.

Com relação aos pescadores, foram questionados quanto a pesca ser

sua única renda, e todos afirmaram que sim, vivem somente da pesca. Os

outros 50,54% relataram estar desempregada, sem nenhuma renda. Porém

dos 50,54% que relataram estar desempregados, 42,55% na realidade são

aposentados, ou seja, tem uma renda fixa de pelo menos um salário mínimo, e

um deles tem a pesca como complemento de renda.

Das famílias que residem nas áreas de risco 53% tem como renda

mensal de 1 a 2 salários, ou seja, entre R$ 724,00 e R$ 1448,00 ao mês, 29%

tem renda de apenas 1 salário mínimo, o restante dos entrevistados, 16% tem

renda superior a 2 salários mínimos, o gráfico 4 demonstra a renda da

população entrevistada.

69

Gráfico 4. Renda familiar dos entrevistados.

A renda familiar é um dos maiores motivos da população não deixar o

local. Os entrevistados relataram não ter condições financeiras para adquirirem

residência em outro local e nem para alugar uma casa fora dali.

Segundo FERNANDES e ANUNCIAÇÃO (2012), na inundação de 2011

a gestão pública do município prometeu aos que foram desalojadas 53

habitações em área doada pelo Governo Municipal na Vila Icaraí, uma região

próxima ao rio, porém, até hoje essa garantia não foi cumprida. As moradias

disponibilizadas pelo governo para a população localiza-se no bairro Nova

Aquidauana, a 16 km da área de risco, porém, relatos extra oficiais de pessoas

que residem nas áreas afetadas, afirmam que as casas cedidas não foram

ocupadas pelos ribeirinhos, muitos venderam ou alugaram as casas e voltaram

para a área de risco.

Com relação a moradia, conforme a tabela 1, a maioria das famílias tem

casa de alvenaria (Figura 5) e própria, isso porque já residem no local há muito

tempo, 20,4% mora em casas cedidas ou emprestadas por parentes, essas

fazem parte dos 30% dos entrevistados que tem renda de 1 salário mínimo

apenas e não tem condições de pagar aluguel. As casas quitadas, segundo as

entrevistas são das pessoas que fazem parte dos 52,7% com renda de 1 a 2

salários mínimos.

70

Figura 5: Residência de alvenaria próxima ao canal fluvial na cidade de

Aquidauana.

Figura 6: Relação entre tipo de residência e situação da mesma dos

entrevistados.

Observa-se que, a mesma população que relata inúmeros problemas

enfrentados durante as inundações, 50,53%, não pensa em deixar o local por

vários motivos, como por exemplo, gostar do local, morar a muito tempo na

mesma residência, ser herança familiar ou ter os familiares morando nas

proximidades.

Os 34,4% que relataram ter vontade de deixar o local, não o fazem

principalmente pelas condições financeiras, ou seja, não conseguem vender o

71

imóvel atual justamente por estar um local de problemas recorrentes há anos e,

também por não terem condições de comprar e nem alugar outra moradia

longe desta realidade. Outro argumento usado para não deixarem o local é que

a moradia é própria.

Da população que demonstrou desejo em mudar-se da região problema,

3 deles fizeram inscrições para as casas populares do governo, porém, ainda

não foram contemplados, 2 relataram já ter onde morar em janeiro, visto que as

entrevistas foram em novembro e dezembro.

A tabela 2 revela a situação do saneamento básico do local com relação

a coleta de lixo, rede de água e esgoto.

Tabela 2: Saneamento Básico nas residências dos entrevistados.

Saneamento Sim Não Não Sabe

Coleta de Lixo 100% - -

Rede de Água 98,9% 1,1% -

Rede de Esgoto 73,1% 26,9% -

Esgoto tratado 46,2% 26,9% 26,9%

Das 93 casas visitadas durante o período da pesquisa, constatou-se que

a coleta de lixo é regular. Em 2 casas visitadas, os responsáveis relataram não

ter rede de água e usar água de poço artesiano. A rede de esgoto está

presente em 73,1% das residências, nas demais, segundo os entrevistados, o

esgoto é direto no rio ou nos córregos (Figura 7) e 26,88% deste esgoto que é

encanado não têm tratamento, somente 46,2% é tratado antes de ser lançado

nas águas do rio Aquidauana ou dos córregos aqui estudados.

72

Figura 7: Esgoto a céu aberto direto no Córrego João Dias na cidade de

Aquidauana.

Em conversas informais com pessoas ligadas ao governo e que cuidam

dessa área da cidade, foi relatado que não existe tratamento, são duas

estações de tratamento, mas estão desativadas. Diante dessas afirmações,

não há precisão de que o esgoto é tratado para ser lançado ao rio.

Com relação as inundações, o principal problema da área, 82,79% dos

entrevistados já sofreram perdas, principalmente materiais. Relataram já ter

enfrentado mais de 10 inundações, sempre com perdas, mas mesmo assim

não aceitam morar em outro local. Quatro entrevistados disseram ter

enfrentado mais de 20 inundações, sempre tendo que deixar sua residência e

só retornar dias depois. Os 17,2% dos habitantes que não sofreram com

inundações moram na área a menos de 3 anos e por isso ainda não tem

relatos de perdas, porém, ressaltam que nos períodos chuvosos, quando o rio

sobe muito, a região exala mal cheiro pela poluição da água e muitos insetos

tomam conta do local.

Moradores que já passaram por transtornos ou perdas por causa das

inundações foram questionados sobre o que perderam, 3 deles relataram ter

perdido tudo no ano de 2011 e ter começado a mobiliar a casa novamente com

doações de parentes ou vizinhos. A maioria relatou que perdeu móveis por não

conseguir retirar e nem ergue-los de forma eficaz, dentro da própria residência.

Alguns dos entrevistados disseram ver as inundações como parte de sua

rotina nos meses de precipitação e observou-se que são aqueles que têm anos

73

de residência no mesmo endereço, que tem ensino fundamental incompleto e

renda de 1 ou no máximo 2 salários mínimos, em sua maioria aposentados.

Conclusões

Percebe-se que, a relação de pertencimento que os habitantes dessa

região possuem com o lugar, mesmo com inúmeros problemas, não só com

relação a inundações mas também rede de esgoto e mal cheiro, não permite

que eles compreendam que permanecer no local gera cada vez mais danos,

não somente a eles próprios, mas principalmente ao meio ambiente.

A população ribeirinha que sustenta o pertencimento ao local, estão na

área de risco há muito tempo, em sua maioria são idosos, aposentados, com

residência própria, sem condições financeiras para abandonarem o local de

risco, tendo em vista que as construções em outros locais da cidade, são caras

e o custo de vida é oneroso. Essa relação é uma questão cultural, de

identidade com o lugar. Mesmo que o ambiente se transforme o sentimento

permanece.

Os entrevistados, justificam sua permanência no local por motivos

diversos, dentre eles, herança de família, amor incondicional por conta da

história que viveram e vivem. Contudo a pesquisa mostra que, por falta de

informações, somado ao mínimo grau de escolaridade e abandono do poder

publico, nenhum tipo de programa social que fortaleça elementos de

argumentação para a necessidade de mudanças, principalmente

comportamentais, é desenvolvido para promover o auxilio necessário a essa

população.

Conclui-se que os dados, como a idade dos habitantes, sua formação,

renda, tempo que reside no local colaborou para traças o perfil socioeconômico

da população e compreender qual a relação está sendo preservada com o

meio em que vive.

Desse modo, reforça-se a importância de ações continuadas por parte

do poder público, para estimular mudanças de hábitos e começar a influenciar

no imaginário social e individual dessa população para que possam perceber

que elas são parte dos problemas ocorridos na área ambiental, que não basta

gostar de uma condição, é necessário o devido entendimento para evitar

maiores agravos dos impactos das inundações.

74

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76

7. Conclusão Geral

Através dos procedimentos adotados nesta pesquisa, constatou-se que

todas as bacias hidrográficas de Aquidauana são susceptíveis a enchentes e

inundações. A bacia hidrográfica do Córrego João Dias apresenta maior

probabilidade de enchentes, pois, segundo os dados morfométricos é a mais

alongada, tem a maior rede de drenagem, ou seja, recebe mais água em sua

foz, além de apresentar canais retilíneos e devido a configuração

geomorfológica, a água desce da nascente a foz com mais velocidade por

conta do relevo que se apresentou suave ondulado nas áreas longínquas a foz,

fazendo com que a mesma recebe mais rapidamente a água precipitada

enchendo a calha normal do córrego, inundando assim sua volta, causando

inundações.

A bacia hidrográfica do Córrego Guanandy apresentou também indícios

de enchentes e inundações, de acordo com os dados morfométricos, de relevo

e de drenagem, com acúmulos de água próximos a foz que além de ser uma

área muito plana é fortemente urbanizada.

A bacia hidrográfica da Lagoa Comprida, menos susceptível a enchentes

e inundações, pode também sofrer com este evento, pois, os dados

morfométricos mostram que com fortes eventos extremos ela pode saturar de

água e encher além de sua calha normal vindo a causar danos a população

ribeirinha.

Conclui-se que, a análise morfométrica foi de fundamental importância

para a análise ambiental das bacias hidrográficas. Analisar todos os dados

correlacionados foi de maior importância, evidenciou que algumas classes

como o índice de circularidade e o coeficiente de compacidade não

demonstram tendências a enchentes e inundações, mas, para a configuração

do relevo, da altitude das bacias e principalmente, com a ocupação antrópica

no passar dos anos próximo ao canal fluvial, é possível constatar que todas

são propícias a enchentes e inundações, assim como vem ocorrendo com

freqüência nos últimos anos.

Constatou-se ainda, em relação a população residente nas áreas de

influência das inundações entre as bacias do Córrego Guanandy e João Dias,

que essas estão fixadas nas áreas de riscos há muito tempo, mais de 15 anos.

77

Essa população mantém uma relação de identidade com o local e por

falta de informações e ações continuadas, principalmente do poder público,

não preservam a área, não porque não querem, mas porque a população da

área de risco materializada na maioria dos entrevistados, tem mínima

escolaridade, e isso aliado a falta de informações gera impactos cada vez mais

nocivos ao meio ambiente local.

Com isso, a relação identitária com o local, não querendo ou não

podendo sair dali por condições financeiras aliadas a uma configuração de

bacia hidrográfica propícia a enchente e inundações, a população ribeirinha

sofre de forma mais frequente com inundações. Se o poder público não

elaborar e aplicar medidas de informação e preservação junto a população

ribeirinha o problema certamente não cessará.