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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN/SP DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” E PESQUISA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI SILVANA LUCIA DE ANDRADE DOS SANTOS ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRÁFICO DE DROGAS SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN/SPDIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONALADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

SILVANA LUCIA DE ANDRADE DOS SANTOS

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRÁFICO DE DROGAS

SÃO PAULO2013

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN/SPDIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONALADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

SILVANA LUCIA DE ANDRADE DOS SANTOS

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRÁFICO DE DROGAS

Dissertação apresentada à banca examinadora do Curso de Pós-Graduação “Stricto Sensu” e Pesquisa do Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN/SP, para fins de obtenção do título de Mestre em Políticas e Práticas com Adolescentes em Conflito com a Lei, sob a orientação da Profa. Dra. Neusa Francisca de Jesus.

SÃO PAULO2013

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FOLHA DE APROVAÇÃO

SANTOS, Silvana Lucia de Andrade dos.

Adolescente em conflito com a lei e a aplicação das medidas socioeducativas pela prática do ato infracional equiparado ao tráfico de drogas.

Dissertação apresentada à banca examinadora do Curso de Pós-Graduação “Stricto Sensu” e Pesquisa do Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN/SP, para fins de obtenção do título de Mestre em Políticas e Práticas com Adolescentes em Conflito com a Lei, sob a orientação da Profa. Dra. Neusa Francisca de Jesus.

Aprovada em 21/03/2014

BANCA EXAMINADORA

Prof.(a) Dr.(a) Neusa Francisca de Jesus

Instituição: UNIAN - SP Assinatura: ______________

Prof.(a) Dr.(a) João Clemente de Souza Neto

Instituição: MACKENZIE - SP Assinatura: ______________

Prof.(a) Dr.(a) Isa Maria Ferreira da Rosa Guará

Instituição: UNIAN - SP Assinatura: ______________

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DEDICATÓRIA

Às pessoas que mais amo nesta vida; à minha mãe Maria Lucia de Andrade “in

memorian”, que sempre acreditou em mim incansavelmente e com sua simplicidade

e amor sempre me incentivou nos momentos difíceis. Ao meu pai, Sebastião

Caetano de Andrade “in memorian”, que com sua simplicidade me ensinou os

valores da vida, ter paciência, caráter e respeito pelo ser humano. Aos meus irmãos

Matusalém, Cleusa, Sueli “in memorian” e Shirley “in memorian”, pelo amor fraterno.

Se não fosse por eles não teria chegado até aqui.

Ao meu filho Leonardo, com amor, admiração e gratidão, presença e incansável

apoio ao longo do período de elaboração deste trabalho.

Ao meu filho Mário de Andrade, pela alegria constante.

À minha filha Veruska e ao meu esposo Agostinho, pelo carinho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, por ter derramado sua chuva de bençãos sobre mim, dando-me força e sabedoria para que contemplasse, com sucesso, mais uma etapa de minha caminhada.

Ao meu filho Leonardo, pelo incansável apoio na realização deste trabalho.

À minha orientadora Profa. Dra. Neusa Francisca de Jesus, pela atenção e apoio durante o processo de definição e orientação deste trabalho dissertatório. Que através da sua competência e capacidade, possibilitou-me a entender o universo científico.

Ao Prof. Dr. Paulo Artur Malvasi, que com seu carinho e atenção me recebeu.

À Profa. Dra. Isa Maria Ferreira da Rosa Guará e ao Prof. Ms. Cláudio Hortêncio Costa, pelo carinho e contribuições valiosas durante o exame de qualificação.

À Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito Ana Paula Schleiffer Livreri, da 2ª Vara Judicial da Comarca de Mairiporã - SP, que autorizou o levantamento de dados. À Senhora Simone Correia da Costa, coordenadora do Centro de Referência Especialização de Assistência Social, do município de Mairiporã – SP, pela atenção que sempre me recebeu.

À Universidade Anhanguera de São Paulo, pela oportunidade de realização deste curso de mestrado, meus sinceros agradecimentos.

Às queridas funcionárias Penha, Débora e Janaína, que sempre me acolheram com muito carinho.

Aos amigos e colegas maravilhosos, que conheci ao longo deste curso, dividindo momentos de aprendizagem.

A todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

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“Deus é a lei e o legislador do universo.”

Albert Einstein

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SANTOS, Silvana Lucia de Andrade dos. Adolescente em conflito com a lei e a aplicação das medidas socioeducativas pela prática do ato infracional equiparado ao tráfico de drogas. 2013. Dissertação de Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei, Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2013.

RESUMO

Este estudo tem como objetivo identificar e analisar o modo como o sistema de justiça vem atuando na aplicação das medidas socioeducativas pela prática do ato infracional equiparado ao tráfico de drogas. O estudo se apoia em elementos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, relacionados às medidas socioeducativas e analisa os procedimentos impositivos de punições, fora dos critérios arrolados no artigo 122, da lei nº 8.069/90 – ECA. Partiu-se do pressuposto de que o sistema de justiça ao adotar esses procedimentos o faz com base na lei n.º 11.343/2006. Desta forma, investiga a diferenciação da aplicação dessa lei supramencionada para os atos criminais dos adultos e dos adolescentes. Aborda-se ainda no presente, o SINASE, considerado um sistema que organiza e orienta a execução das medidas socioeducativas, aplicadas aos adolescentes autores de atos infracionais (SEDH, 2013). Optou-se por um estudo qualitativo, valendo-se da pesquisa documental e para a coleta de dados foi utilizado um formulário para a recolha dos seguintes dados: nome - iniciais, idade, sexo, cútis, número de processo, ato infracional praticado, data do ato infracional, comarca, quantidade de drogas apreendidas (no intuito de identificar de que modo os órgãos de repressão e o sistema de justiça caracterizam a prática de tráfico de drogas) e a medida socioeducativa aplicada ao caso. Complementa ainda a pesquisa, o levantamento de dados secundários sobre o envolvimento dos adolescentes com o trafico no Estado de São Paulo. Tomou a presente pesquisa, o cuidado em distinguir os adolescentes das adolescentes, bem como as suas respectivas faixas etárias e demais dados. Dados estes, dos adolescentes autores de atos infracionais, equiparado ao tráfico de drogas, vinculado ao CREAS do município de Mairiporã - SP, por autorização expressa da Juíza de Direito da Comarca de Mairiporã, no período de 2010 a 2012. Considera-se que a imposição de cumprimento das medidas socioeducativas, sobretudo as que privam a liberdade vem sendo aplicadas em desconformidade com a previsão legal. As inquietações derivadas da constante exposição dos problemas relacionados aos adolescentes, vinculados ao tráfico de drogas nos meios de comunicação e uma relativa frustração pública com os efeitos da lei na contenção de tais problemas, formam esse cenário favorável ao debate.

Palavras-chave: Adolescente em conflito com a lei. Medida socioeducativa de privação de liberdade. Tráfico de drogas. Estatuto da Criança e do Adolescente.

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SANTOS, Silvana Lucia de Andrade dos. Adolescents in conflict with the law and the application of educational measures by practice of offense equated to drug trafficking. 2013. Dissertation Master of Professional Teenager in Conflict with the Law, Anhanguera University of São Paulo, São Paulo, 2013.

ABSTRACT

This study aims to identify and examine how the justice system has been operating in the implementation of educational measures by practice of offense equated to drug trafficking. The study relies on elements contained in the Statute of Children and Adolescents, related to socio-educational measures and analyzes the impositions of punishment procedures, outside the criteria listed under the article 122 of law n.º 8.069/90. This started from the assumption that the justice system to adopt these procedures is based on the law n.º 11.343/2006. Thus, the differentiation investigates the application of the above mentioned criminal acts for adults and adolescents law. Addresses are still present, the SINASE considered a system that organizes and guides the implementation of educational measures, applied to adolescents who have committed crimes (SEDH 2013). Name - Initials, age, sex, skin, case number, offense committed, date name: we opted for a qualitative study, drawing on documentary research and data collection for a form to collect the following data was used of offense, county, amount of drugs seized (in order to identify how the enforcement agencies and the justice system characterize the practice of drug trafficking) and socio-educational measures applied to the case. It also complements the survey, the secondary survey on adolescents involvement with the traffic in São Paulo data. Took this research, careful in distinguishing teens from teens as well as their respective age groups and other data. These data, the authors of offenses teens, equated to drug trafficking, linked to the city of CREAS Mairiporã - SP, by express permission of the Judge in the District of Mairiporã in the period 2010-2012. It is considered that the imposition of compliance with educational measures, especially those that deprive freedom is being applied in violation of the legal provisions. Derived concerns the constant exposure of the problems related to adolescents, linked to drug trafficking in the media and on public frustration with the effects of the law in curbing such problems form this favorable scenario to discussion.

Keywords: Adolescents in conflict with the law. Socio measure of deprivation of liberty. Drug Trafficking. Statute of Children and Adolescents.

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SANTOS, Silvana Lucia de Andrade dos. Adolescentes en conflicto con la ley y la aplicación de las medidas educativas mediante la práctica del delito equiparado con el tráfico de drogas. 2013. Disertación de Maestría Profesional Adolescente en Conflicto con la Ley, Anhanguera Universidad de São Paulo, São Paulo, 2013.

RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo identificar y examinar cómo el sistema de justicia ha estado operando en la aplicación de medidas educativas mediante la práctica del delito equiparado con el narcotráfico. El estudio se basa en los elementos contenidos en el Estatuto del Niño y del Adolescente, en relación a las medidas socio-educativas y analiza las imposiciones de procedimientos de castigo, fuera de los criterios establecidos en el artículo 122 de la ley n.º 8.069/90. Esto comenzó a partir de la suposición de que el sistema de justicia a adoptar estos procedimientos se basa en la ley n.º 11.343/2006. Por lo tanto, la diferenciación se investiga la aplicación de los actos criminales antes mencionados para adultos y adolescentes ley. Direcciones continúan presentes, la SINASE considerado un sistema que organiza y orienta la aplicación de medidas educativas aplicadas a los adolescentes que han cometido delitos (SEDH 2013). Se utilizó optamos por un estudio cualitativo, basado en la investigación documental y un formulario de recogida de datos para recopilar los datos siguientes: iniciales, la edad, el sexo, la piel, número de caso, infracción cometida, nombre fecha - del delito, el condado, la cantidad de drogas incautadas (con el fin de identificar cómo las agencias de aplicación y el sistema de justicia se caracteriza por la práctica del tráfico de drogas) y las medidas socio-educativas aplicadas al caso. También complementa la encuesta, la evaluación secundaria en la participación de los adolescentes con el tráfico de datos de São Paulo. Tomó esta investigación, el cuidado en distinguir a los adolescentes de los adolescentes, así como sus respectivos grupos de edad y otros datos. Estos datos, los autores de los delitos de los adolescentes, equiparado con el narcotráfico, vinculados a la ciudad de CREAS Mairiporã - SP, con la autorización expresa del juez en el Distrito de Mairiporã en el período 2010-2012. Se considera que la imposición de cumplimiento de las medidas educativas, especialmente aquellas que privan a la libertad se está aplicando en violación de las disposiciones legales. Preocupaciones derivadas de la exposición constante de los problemas relacionados con adolescentes, relacionados con el tráfico de drogas en los medios y en la frustración del público con los efectos de la ley en la reducción de este tipo de problemas forman este escenario favorable a la discusión.

Palabras clave: Adolescentes en conflicto con la ley. Medida socioeducativa de privación de libertad. Narcotráfico. Estatuto del Niño y del Adolescente.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

DEPEN - Departamento Penitenciário Nacional

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

LA - Liberdade Assistida

OIT - Organização Internacional do Trabalho

ONU – Organização das Nações Unidas

PIA – Plano Individual de Atendimento

PNB - Produto Nacional Bruto

PSC - Prestação de serviços à comunidade

SEDH - Secretaria dos Direitos Humanos

SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

STF - Supremo Tribunal Federal

STJ - Superior Tribunal de Justiça

SUS – Sistema Único de Saúde

TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição da faixa etária.........................................................................79

Gráfico 2: Distribuição dos sexos................................................................................81

Gráfico 3: Distribuição da cútis....................................................................................82

Gráfico 4: Distribuição dos anos de realização dos atos infracionais.........................84

Gráfico 5: Distribuição das drogas apreendidas.........................................................85

Gráfico 6: Distribuição da aplicação das medidas socioeducativa.............................86

Gráfico 7: Distribuição do concurso de pessoas.........................................................87

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................14

2. CAPÍTULO 1 - PERCURSO METODOLÓGICO....................................................19

3. CAPÍTULO 2 - SÍNTESE HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO INFANTO - JUVENIL

NO BRASIL.................................................................................................................21

2.1. Ordenações Filipinas.....................................................................................21

2.2. Código Penal de 1.830 – Período Imperial..................................................23

2.3. Código Penal dos Estados Unidos do Brasil..............................................26

2.4. Código de Menores de 1.927 – Código de Mello Mattos............................27

2.5. Código Penal de 1.940...................................................................................29

2.6. Código de Menores de 1.979........................................................................30

2.7. Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988.........................32

2.8. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.............................................34

2.9. Atos infracionais e as medidas socioeducativas.......................................38

2.9.1. Atos infracionais........................................................................................38

2.9.2. Medidas Socioeducativas.........................................................................41

2.9.2.1. Da advertência..................................................................................44

2.9.2.2. Da obrigação de reparar o dano.......................................................45

2.9.2.3. Prestação de serviços à comunidade – PSC...................................46

2.9.2.4. Liberdade assistida - LA....................................................................47

2.9.2.5. Inserção em regime de semiliberdade..............................................48

2.9.2.6. Internação em estabelecimento educacional...................................49

2.9.2.7. Qualquer uma das previstas no art. 101, I a IX (ECA).....................50

2.10. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE................53

2.10.1. Lei n.º 12.594/12.....................................................................................55

4. CAPÍTULO 3 - O TRÁFICO DE DROGAS NO CONTEXTO INTERNACIONAL E

NO CENÁRIO NACIONAL.........................................................................................61

3.1. O contexto internacional do tráfico de drogas...........................................61

3.2. O tráfico de drogas no Brasil e as rotas internacionais............................64

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3.3. A inserção dos adolescentes no tráfico de drogas no Brasil...................69

3.4. A lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 – Lei de Drogas.........................73

5. CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES..................................................79

4.1. Dados iniciais dos entrevistados.................................................................79

4.2 Envolvimento dos adolescentes autores de atos infracionais no tráfico

de drogas...............................................................................................................91

4.3 Aplicação da medida socioeducativa de internação por ato infracional

equiparado ao tráfico de drogas e o artigo 122 do ECA...................................93

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................101

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................104

ANEXOS....................................................................................................................114

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1. INTRODUÇÃO

Adolescentes autores de atos infracionais equiparados ao tráfico de drogas,

foi a opção de tema para a presente pesquisa. o presente estudo é relevante na

área socioeducativa, porém pouco abordado no Estado de São Paulo e até mesmo

no país. Seminários, simpósios, congressos, etc., têm sido realizados na abordagem

do tema, para discussões e debates, tentando trazer pesquisadores da área,

soluções dos graves problemas que vem enfrentando as Unidades Socioeducativa

de Internação.

As pesquisas empíricas têm apresentado diversos elementos que compõem o

universo do tráfico de drogas envolvendo adolescentes e crianças. As explicações

para esse envolvimento vão desde a caracterização do território onde as armas e os

grupos criminais estão muito próximos e, afirmam que o ingresso do adolescente no

tráfico de droga é uma das passagens, uma das experiências, uma das

possibilidades (RAMOS, 2005).

Outro argumento apontado pelo autor, mas que representa grande parte das

pesquisas, expressa que a maior incidência de crimes cometidos pelos adolescentes

tem ligação com o uso ou tráfico de drogas, que também estimula outras práticas

delituosas, como o roubo e furto.

Para ele, esse aumento de adolescentes envolvidos com o uso e tráfico de

drogas acontece por questões sociológicas, acesso fácil e a fragilização da estrutura

familiar. Além disso, a falta de um sistema de educação adequado, acesso à cultura,

esporte e lazer restritos, e a distribuição de renda está nas mãos de poucos, esses

são alguns dos motivos que levam os jovens a partirem para o tráfico.

As pesquisas mostram características importantes do fenômeno da

participação de crianças e adolescentes no tráfico de drogas. A capacidade de

adquirir bens de consumo é um fator muito relevante para o ingresso do jovem

nesse universo. A importância que só cresce com o passar do tempo, já que ele vai

acumulando responsabilidades e acostumando-se com o acesso a padrões de

consumo abundantes O dinheiro também é apresentado como um importante

instrumento para garantir a liberdade, no caso de uma eventual prisão.

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Outras pesquisas mostram preocupação com o número crescente de

adolescentes sentenciados em função desta atividade e fornecem dados bastante

preocupantes. Em entrevista concedida ao Jornal da Cidade, em outubro de 2012, a

Presidenta da Fundação Casa afirmou que “cada vez mais os jovens estão

envolvidos em delitos e o tráfico de drogas é o crime com maior incidência,

representando 40% das internações de adolescentes na Fundação Casa. Em 2006,

a maior parte dos infratores (52%) era detida por roubos”.

É este o recorte do nosso estudo. Realizar uma análise dos parâmetros e

paradigmas que orientam as decisões judiciárias com relação às medidas aplicadas

ao adolescente por ato infracional análogo ao crime por tráfico de drogas.

A nossa hipótese é a de que a forma e os argumentos que são utilizados

quando das sentenças aplicadas ao adolescente por este crime, mostra claramente

a necessidade e possibilidade de mudanças na legislação vigente (lei n. 11.343/06),

de forma a construir uma proposta de regulamentação jurídica do tipo penal do

tráfico de drogas, capaz de reduzir as iniquidades porventura detectadas no atual

modelo brasileiro. Pensar, se for o caso, em propostas de alterações legislativas

pontuais da Lei de Drogas, naquilo que se refere às sentenças aplicadas ao

adolescente.

Pergunta-se: a criação de legislações como a Lei nº. 11.343, de 23 de agosto

de 2006 que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas -

SISNAD, é um contributo para o enfrentamento ou término do recrutamento de

crianças e adolescentes pelo tráfico de drogas? Qual o papel do sistema

socioeducativo nesse contexto social?

Esta pesquisa é de grande relevância na aplicabilidade das medidas

socioeducativa, quando envolvem adolescentes autores de atos infracionais análogo

ao tráfico de drogas. Podendo o adolescente, através do seu histórico familiar ser

melhor avaliado, na hora da aplicação da medida, pelo sistema de justiça com um

olhar mais “humano”. Certo dizer que, a aplicação da medida socioeducativa tem um

foco de ressocialização do adolescente em conflito com a lei, uma vez que ele é o

futuro do nosso país, bem como implantar a paz na sociedade.

Considera-se ainda ser um tema original, pois muitas pessoas conhecem o

lado da criminalidade e querem muito que isso acabe, e não conhecem o lado do

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cumprimento da medida socioeducativa de internação que nos casos de delitos,

como o tráfico de drogas, não surtem os efeitos desejados (CALIL, 2012).

Acredita-se, que esta pesquisa poderá colaborar bastante com as ideias e

experiências da profissão desta advogada, autora deste estudo, tendo em vista a

sua atuação na defesa dos adolescentes em conflito com a lei e suas famílias.

A Lei nº 8.069, promulgada em 13 de julho de 1990, dispondo sobre o

Estatuto da Criança e do Adolescente e dando outras providências, se contrapõe de

maneira histórica a um passado de exclusão social, abordado pela Doutrina da

Proteção Integral. Criou-se o ECA, com o intuito de expressar os direitos do público

infanto - juvenil brasileiro, afirmando os valores das crianças e dos adolescentes

como sujeitos de direitos, o real respeito à condição de pessoas em

desenvolvimento, trazendo os valores da infância e da juventude como os

portadores de continuidade da vida de um povo, reconhecendo ainda as situações

de vulnerabilidade aos quais estão, tornando-os merecedores da proteção integral

da família, Estado e sociedade; devendo as atuações serem através das políticas

públicas e sociais na defesa dos direitos.

O presente trabalho traz algumas considerações da lei n.º 11.343/2006, bem

como a aplicação das medidas socioeducativa de internação, aos adolescentes

autores de atos infracionais, comparados ao tráfico de drogas (artigo 33 a 39 da lei

n.º 11.343/2006).

Aborda-se no presente, os aspectos históricos de maior relevância, no direito

e na defesa das crianças e dos adolescentes, além de trazer ao tema, as diversas

medidas socioeducativas aplicadas pelo ECA, bem como, alguns posicionamentos

jurídicos acerca do assunto.

Trata-se este trabalho de pesquisa documental e de cunho bibliográfico,

realizado em teses, dissertações e artigos científicos publicados nas bases de

pesquisa nacionais, tais como: Scielo, Banco de Teses e Dissertações da CAPES, e

em outros sites de pesquisa, como: Âmbito Jurídico, Jus Navegandi, JurisWay,

Conteúdo Jurídico, Secretaria de Direitos Humanos – SDH, dentre outros.

A pesquisa documental consistiu em levantamento de dados realizado em

prontuários na 2ª Vara Judicial da Comarca de Mairiporã – SP, no período de

outubro a dezembro de 2013, com apoio de um instrumental.

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O presente documento encontra-se estruturado em cinco capítulos. O capítulo

1 aborda o percurso metodológico, trazendo a pesquisa, um levantamento de dados

quantitativos e qualitativos, cuja coleta foi realizada nos prontuários de adolescentes

que praticaram atos infracionais equiparados ao tráfico de drogas, vinculados ao

CREAS e a 2ª Vara Judicial da Comarca de Mairiporã – SP. Tomou a presente

pesquisa, o cuidado em distinguir os adolescentes das adolescentes, bem como as

suas respectivas faixas etárias, cútis, ato infracional cometido, o peso da porção

apreendida com os mesmos, bem como, as medidas socioeducativas aplicadas aos

casos.

O capítulo 2 trás a síntese história da legislação infanto – juvenil, começando

a abordagem dizendo das ordenações filipinas. Pois durante o primeiro período

colonial do Brasil, não havia qualquer tipo de instituição pública que atendesse a ora

denominada “infância desvalida”. Neste particular nosso ordenamento jurídico era

órfão (SILVA, C., 2004). Em seguida, se passou a abordar sobre o Código Penal de

1830, o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, o Código de Menores de 1927

– conhecido também como o Código de Mello Matos, o Código de 1940, o Código de

1979, até chegar na promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988. Abordou-se ainda no capítulo 2, o Estatuto da Criança e do Adolescente, os

atos infracionais, as medidas socioeducativas e o SINASE.

O capítulo 3 apresenta o tráfico de drogas no contexto internacional e no

cenário nacional, em que o narcotráfico é produzido em escala global, desde o

cultivo em países subdesenvolvidos até seu consumo, principalmente nos países

ocidentais, nos quais o produto final atinge um alto valor no mercado negro

(WIKIPÉDIA, 2013). Aborda-se também sobre o tráfico de drogas no Brasil e as

rotas internacionais, bem como, a inserção dos adolescentes no tráfico de drogas no

Brasil. Bem como, a lei n.º 11.343/2006 - conhecida como a Lei de Drogas, sem

dúvida, o seu objetivo é diferenciar o traficante do mero usuário. Com

distanciamento entre ambos, atenua a conduta dos usuários e dependentes, e

agrava a situação penal dos traficantes e dos agentes responsáveis pela

disseminação das drogas, aumentando o mínimo da pena privativa de liberdade

para os respectivos crimes (ROSA, 2013).

O capítulo 4 cuida dos resultados e discussões. Apresenta-se neste capítulo,

os resultados obtidos no levantamento de 40 processos, na 2ª Vara Judicial da

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Comarca de Mairiporã – SP, bem como analisa e discute os resultados através de

gráficos, discorre a respeito do envolvimento dos adolescentes autores de atos

infracionais no tráfico de drogas, bem como sobre a aplicação da medida

socioeducativa de internação por ato infracional, equiparado ao tráfico de drogas e o

artigo 122 do ECA.

E por fim nas considerações finais, pôde-se observar que as autoridades

judiciárias, tem o desejo de “limpar” a sociedade afastando o problema – o

adolescente em conflito com a lei é considerado o problema. O que não terá fim,

com o recrutamento deste público infanto – juvenil, frente ao trabalho do tráfico de

drogas, propiciando mais e mais oportunidades de trabalho a estes – aviõezinhos.

Não pairam dúvidas de que embora seja grave e lamentável a inserção do

adolescente no tráfico de drogas, não é a internação, a medida socioeducativa que

acabará com tal prática, tão pouco alcançará a ressocialização/reeducação tão

esperada, mesmo porque, a medida socioeducativa de internação deve ser aplicada

caso haja reiteração de ato infracional.

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2. CAPÍTULO 1 - PERCURSO METODOLÓGICO

A metodologia deste trabalho dissertatório é qualitativa.

Trata-se de uma pesquisa documental, em que o levantamento de dados foi

realizado com o apoio de um instrumental – tabela, onde foram identificados os

seguintes dados: número do processo, município – comarca, nome (iniciais), idade,

sexo, cútis, ato infracional praticado, data do ato infracional, quantidade de drogas

apreendidas e as medidas socioeducativas aplicadas aos casos. Dados estes, dos

adolescentes autores de atos infracionais equiparados ao tráfico de drogas, no

município de Mairiporã - interior do Estado de São Paulo, que obedeceu ao período

de 2010 à 2012.

A primeira tentativa de levantamento dos dados, foi no CREAS do município

de Guarulhos – interior do Estado de São Paulo, porém esta tentativa restou

infrutífera, uma vez que esta mestranda não tinha a carta de autorização emitida por

esta instituição de ensino, Universidade Anhanguera de São Paulo – UNIAN.

A segunda tentativa de levantamento dos dados foi realizada em setembro de

2013, no CREAS do município de Mairiporã – interior do Estado de São Paulo, esta

tentativa restou frutífera, com a apresentação da carta de referência, encaminhada à

coordenadora Simone Correia da Costa.

Porém o que foi colocado à disposição desta mestranda pelo referido CREAS,

foram processos antes o período de 2010, o que não eram viáveis para o presente

estudo. Pela coordenadora Simone Correia da Costa foi dito que, os processos do

período de 2010 à 2012 estavam em tramite no fórum, a qual pediu que o

levantamento fosse realizado na 2ª Vara Judicial da Comarca de Mairiporã – SP.

Esta mestranda, com a carta de apresentação emitida em novembro de 2013,

pela UNIAN-SP e assinada pela professora Dra. Neusa Francisca de Jesus –

orientadora deste trabalho, encaminhada à Excelentíssima Senhora Doutora Juíza

de Direito Ana Paula Schleiffer Livreri, teve deferido o seu pedido, e assim procedeu

com o levantamento dos dados, através de um instrumental – tabela, pesquisa esta

que durou aproximadamente 30 dias.

Para contemplar o objetivo acima, optou-se pela utilização combinada de

diferentes fontes de informações quantitativas e qualitativas. Se de um lado, os

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dados quantitativos fornecem um retrato das ocorrências de tráfico de drogas em

termos das circunstâncias dos fatos, perfil dos adolescentes e resposta judicial ao

delito, fundamental para identificar um padrão na aplicação da lei n.º 11.343/06 e no

uso da medida socioeducativa, de outro lado, os dados qualitativos expressam uma

realidade da relação adolescente - tráfico de drogas e o sistema de justiça,

imprescindível para compreender os motivos e conflitos existentes na aplicação dos

referidos institutos legais. O diálogo entre essas duas etapas, perceptível no

decorrer das análises, contribuiu para problematizar os temas em debate a partir de

diferentes ângulos, assim como para a elaboração das considerações finais.

Na 2ª Vara Judicial de Mairiporã – SP, foram selecionados pelos próprios

funcionários do cartório, com a autorização expressa da juíza, aqueles processos

que obedeciam ao período de 2010 à 2012, num total de 40 volumes de processos,

estes foram colocados à disposição desta mestranda.

O período de coleta de dados ocorreu de outubro a dezembro de 2013 e para

tal foram realizadas sucessivas visitas na referida Vara Judicial. Com o apoio de um

instrumental, que consistia numa tabela de 10 colunas contendo as seguintes

informações e nesta ordem: processo, comarca, nome (iniciais), idade, sexo, cútis,

ato infracional, data do ato infracional, quantidade de droga apreendida e a medida

socioeducativa aplicada ao caso, foi possível obter o presente levantamento

quantitativo.

Desse modo, após a organização e sistematização dos dados, dividiu-se a

descrição das análises em duas etapas de forma articulada: a 1ª quantitativa, repre-

sentada pela coleta e sistematização dos dados individuais dos adolescentes, fla-

grante e processo e a 2ª qualitativa, representada pela sistematização da situação

emblemática e paradoxal das sentenças

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3. CAPÍTULO 2 - SÍNTESE HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO INFANTO - JUVENIL

NO BRASIL

Preliminarmente, necessário fazer uma síntese histórica da legislação infanto-

juvenil no Brasil, com o objetivo de proporcionar maior compreensão e

ambientalização da pesquisa. A presente análise é com foco na questão infanto-

juvenil, de forma cronológica.

Registros históricos apontam que, até o século XVIII, não havia, no Brasil,

legislações especificas acerca de crianças e adolescentes (FERREIRA, 2012).

Não encontramos registros históricos, até o século XVIII, que apontassem para uma distinção normativa entre a punição aplicada aos adultos e às crianças, e adolescentes. Ao que tudo indica, as crianças e adolescentes envolvidos em práticas delituosas estavam sujeitas às mesmas regras que os adultos, ante a inexistência de regulação especial, e aplicação da justiça criminal a adultos e crianças, indistintamente, abria a possibilidade de imposição de qualquer das penas, a qualquer delinquente (Ministério Público do Espírito Santo, 2007:536 apud FERREIRA, 2012).

2.1. Ordenações Filipinas

De acordo com as Ordenações Filipinas 1, a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos, eximindo-se o menor da pena de morte e concedendo-lhe redução da pena. Entre dezessete e vinte e um anos, havia um sistema de "jovem adulto", o qual poderia até mesmo ser condenado à morte, ou, dependendo de certas circunstâncias, ter sua pena diminuída. A imputabilidade penal plena ficava para os maiores de vinte e um anos, a quem se cominava, inclusive, a pena de morte para certos delitos. (SOARES, 2003).

Durante o primeiro período colonial do Brasil, não havia qualquer tipo de

instituição pública que atendesse a ora denominada “infância desvalida”. Neste

particular nosso ordenamento jurídico era órfão (SILVA, C., 2004).

Ocorreu, então, que no início do século XIX a Europa assistia a política de expansão Napoleônica. Eis então que em 1.806, Napoleão Bonaparte e o exército francês invadiram Portugal. Isso implicou num reflexo direto no cotidiano brasileiro, uma vez que a família real portuguesa e cerca de trinta mil súbitos embarcaram para o Brasil, transferindo a coroa para o Brasil, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro. Estabelecida a coroa no Brasil, um dos primeiros ato governamentais de Dom João VI, foi decretar

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que a partir de então entraria em vigência no Brasil as Ordenações Filipinas. Tratava-se de Lei de caráter geral que regulava a vida social dos portugueses. No que tange ao direito penal haviam dispositivos que também se referiam às crianças e adolescentes (SILVA, C., 2004).

Segundo SOARES1 (2003), antes do ano de 1830, ano em que foi publicado o

primeiro Código Penal no Brasil, crianças e adolescentes eram seriamente punidos,

não se levando em conta as diferenças entre os adultos, embora o fato de que a

menoridade era uma atenuante à pena, desde os primórdios do direito romano.

A adolescência confundia-se com a infância, que terminava em torno dos sete

anos de idade, quando iniciava, sem transição, a idade adulta (SOARES, 2003).

Na Idade Média, nos tempos modernos, por mais tempo ainda nas classes populares, as crianças confundiam-se com os adultos, assim que se considera que eram capazes de passar sem a ajuda da mãe ou da ama, poucos anos após um desmame tardio, por volta dos sete anos de idade (SOARES, 2003).

Conforme as ordenações a imputabilidade penal tinha início aos sete anos de

idade, havendo uma espécie de subdivisão em várias faixas etárias, com critérios

próprios para cada faixa (SILVA, C., 2004).

O livro V, título 135 das Ordenações Filipinas, definia as fixas etárias e suas

respectivas penas, senão vejamos:

TITULO CXXXVQuando os menores serão punidos por delictos que fizeremQuando algum homem, ou mulher, que passar de vinte annos, cometter, qualquer delicto, dar-se-lhe-ha a pena total, que lhe seria dada, se de vinte e cinco annos passas. E se fôr de idade de dezasete annos até vinte, ficará em arbitrio dos Julgadores dar-lhe a pena total, ou diminuir-lha.E em este caso olhará o Julgador o modo, com que o delicto foi commettido, e as circumstancias delle, e a pessòa do menor; e se o achar em tanta malicia, que lhe pareça que merece total pena, dar-lhe-ha, posto-que seja de morte natural.E parecendo-lhe que a não merece, poder-lha-ha diminuir, segundo a qualidade ou simpleza, com que achar, que o delicto foi comettido.E quando o delinquente fôr menor de dezasete annos cumpridos, postoque o delicto mereça morte natural, em nenhum caso lhe será dada, mas ficará em arbitrio do Julgador dar-lhe outra menor pena.E não sendo o delicto tal, em que caïba pena de morte natural, se guardará a disposição do Direito Commum.2

1 Janine Borges Soares é Promotora de Justiça do Rio Grande do Sul.2 Disponível em: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1311.htm. Acessado em 05/11/2013 ás

13h33min.

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No que tange aos dispositivos das Ordenações Filipinas, nota-se com clareza

a imputabilidade plena imposta pelas ordenações, só se aplicavam aos indivíduos

maiores de 25 anos de idade.

Denota-se que a lei fica um pouco vaga em certa faixa etária , qual seja, entre

os 20 e 25 anos, não havendo o texto dispositivo que esclareça quais critérios

poderiam ser aplicados pelos juízes em indivíduos desta faixa etária (SILVA, C.,

2004).

Quanto ao indivíduo com idade abaixo dos 17 anos, independente do delito

por ele praticado, em hipótese alguma, seria aplicado-lhe pena de morte.

É o que diz, SILVA, C.,3 (2004):

Apesar das diferenças de tratamento aqui apontadas, não era o que se via na prática. Os critérios de aplicações de pena à época dos fatos eram bem mais severos do que hoje se vê, e na maioria das vezes se aplicavam penalidades severas, não havendo grande diferenciação entre a pena aplicada a uma criança ou a um adulto (SILVA, C., 2004).

Certo em dizer que as Ordenações Filipinas tiveram a sua vigência no Brasil,

na esfera penal, até o ano de 1.830. Mesmo após a independência do Brasil de

Portugal, continuou a sua vigência no país por mais oito anos, isto é, até que em

1.830 fosse aprovado pelo legislativo Imperial o Código Penal de 1.830 (SILVA, C.,

2004).

2.2. Código Penal de 1.830 – Período Imperial

Com a Proclamação da Independência do Brasil, na data de 7 de setembro de

1.822, sob a óptica dos ordenamentos jurídicos, ainda havia a necessidade de impor

as regras de convivência a pacificação na sociedade daquela época. O primeiro

passo dado foi em 1.824, com a outorgamento de um texto constitucional, qual seja,

a Constituição do Império.

É o que diz, GARCIA4 (2011):

3 Clóvis Ribeiro da Silva é bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio de Toledo”.

4 Daniel Melo Garcia é advogado; Membro associado do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito.

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Em sete de setembro de 1822 ocorreu a Proclamação da Independência do Brasil. Todavia, somente em 25 de março de 1824 é que será outorgada a Constituição do Império. Por imperativo constitucional, é idealizada a primeira codificação em matéria criminal do país, o qual somente teve existência jurídica em 16 de dezembro de 1830, sendo denominado de o Código Criminal do Império do Brasil (GARCIA, 2011).

Seis anos após a outorgação da primeira carta magna, veio também ao

ordenamento, a legislação penal, através do Código Penal de 1.830. Neste diploma

legal, obteve-se a atenção especial do legislador na questão dos menores de idade

(SILVA, C., 2004).

Art. 10. Tambem não se julgarão criminosos:

1º Os menores de quatorze annos.

(…)

Art. 13. Se se provar que os menores de quatorze annos, que tiverem commettido crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos ás casas de correção, pelo tempo que ao Juiz parecer, com tanto que o recolhimento não exceda á idade de dezasete annos.

(…)

Fonte: Lei de 16 e dezembro de 1.8305

Assim, entendeu o legislador imperial que menores de 14 anos deveriam ser

relativamente inimputáveis. Consoante se vê no trecho do dispositivo, se ficasse

demonstrado que os menores de 14 anos tivessem discernimento, não ficariam

impunes e deveriam ser recolhidos às casa de correção (SILVA, C., 2004).

Diz, PACHI (1998:178) apud FERREIRA (2012):

O Código Criminal do Império, promulgado em 1.830, faz referência à menoridade ao declinar que os menores de 14 anos, não seriam julgados criminosos, não podendo assim, serem submetidos a sanções criminais (PACHI, 1998:178 apud FERREIRA, 2012).

Com o advento do Código Criminal de 1.830, o qual fora amplamente

influenciado pela codificação penal francesa de 1.810, passou-se a adotar o

“Sistema de Discernimento”. Assim, caso o jovem apresentasse discernimento,

embora ainda não contasse com 14 anos, havia uma restrição à reprimenda, pois

5 Lei de 16 de dezembro de 1.830. Manda Executar o Código Criminal.

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não poderia o mesmo ficar preso por um elastério temporal superior aos seus 17

anos (GARCIA, 2011).

O Código do Império declarava não criminoso o menor de 14 anos (artigo 10),

dizendo, entretanto, no artigo 13 que se ele tivesse obrado com discernimento, podia

ser recolhido à casa de correção, até os 17 anos (NORONHA apud GRACIA, 2011).

O Código fixou a imputabilidade penal plena aos 14 anos de idade,

estabelecendo, ainda, um sistema biopsicológico para a punição de crianças entre 7

e 14 anos. Entre 7 e 14 anos, os menores que agissem com discernimento poderiam

ser considerados relativamente imputáveis, sendo passíveis de recolhimento às

casas de correção, pelo tempo que o juiz entendesse conveniente, contanto que o

recolhimento não excedesse a idade de 17 anos (SOARES, 2003).

Havia, ainda, no Código Criminal do Império uma restrição à atividade punitiva

estatal caso o jovem infrator ainda não gozasse de 21 anos completo, que era a

vedação à imposição da pena das galés6 (GARCIA, 2011).

Considerando-se a época em questão, é, de certa maneira, surpreendente a

preocupação com o recolhimento de menores em estabelecimentos especias que

visassem a sua correção. Isso porque não estava ainda, em voga a discussão sobre

a importância da educação estar em prevalência sobre a punição, o que só viria a

acontecer no final do século XIX (SOARES, 2003).

Houve ainda neste período, mas precisamente a partir da segunda metade do

século XIX, grande preocupação com as altas taxas de mortalidade infantil. Ganha

força no país a chamada “Medicina Higienista”. Tal política se preocupava com as

altíssimas taxas de mortalidade infantil, que tinha como principais vilões as doenças

infecciosas da época, além da pobreza, que contribuía para a proliferação destas

doenças (SILVA, C., 2004).

Pela medicina higienista, passa a intervir o Estado no dia a dia das famílias

pobres, através dos médicos

Para FOUCALT apud SOARES (2003):

6 A pena das galés era na qual os condenados cumpriam a pena de trabalhos forçados. O Código Criminal de 1.830 adotou-a, determinado, no artigo 44, os réus a andarem com calceta no pé e corrente de ferro, juntos ou separados, e a empregarem-se nos trabalhos públicos da província onde ocorrera o delito, à disposição do governo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gal%C3%A9s_(pena). Acessado em 05/11/2013 às 17h04min.

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O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política. A medicina é uma estratégia bio-política (FOUCALT apud SOARES, 2003).

Observa-se com estes fatos, que desde o nascimento da soberania no Brasil,

já ficava evidente que a criança deveria ser alvo de proteção especial, e lhe devia

ser dispensado tratamento diferenciado (SILVA C., 2004).

2.3. Código Penal dos Estados Unidos do Brasil

Após a data de 15 de novembro de 1.889 – Proclamação da República,

ocorreu na data de 24 de fevereiro de 1.891, a promulgação do Código Penal dos

Estados Unidos do Brasil, instituído pelo Decreto n.º 847, de 11 de outubro de 1.890.

No Código Penal de 1.890, a imputabilidade penal plena, com caráter

objetivo, permaneceu fixada para os 14 anos de idade. Irresponsável penalmente

seria o menor com idade até os 9 anos. Quanto ao menor de 14 anos e maior de 9

anos, era adotado ainda o critério biopsicológico, fundado na ideia do discernimento,

estabelecendo-se que ele se submeteria à avaliação do magistrado (SOARES,

2003).

Segundo GARCIA (2011), o Código Penal Republicano de 1.890 adotou uma

sistemática um pouco diversa, pois determinava a inimputabilidade absoluta aos

menores de 9 anos completos; aumentou, portanto, o marco anteriormente adotado.

Para os maiores de 9 e menores de 15, procedia-se a uma análise acerca do

discernimento para que fosse afirmada, ou não, a responsabilidade criminal.

Vejamos:

Art. 27. Não são criminosos:

§ 1º Os menores de 9 annos completos;§ 2º Os maiores de 9 e menores de 14, que obrarem sem discernimento;

(…)

Fonte: Decreto n.º 847 – de 11 de outubro de 1.890

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Conforme ARAÚJO apud SOARES (2003):

O código penal no art. 27 §§ 1º e 2º estabelece a plena irresponsabilidade do menor de 9 anos, idade que constitui uma presumpção juris et de jure da falta de intenção criminosa (art. 24). Depois no § 2º estabelece a presumpção juris tantum, admitindo prova em contrário, para os maiores de 9 anos e menores de 14, que obrarem sem discernimento. O sistema do código se completa em relação à idade com a disposição do art. 42 § 11 que declara como circunstância atenuante "ser o delinquente menor de 21 anos"; e com a do art. 65 que dispõe que "quando o delinquente for maior de 14 e menor de 17 anos, o juiz lhe aplicará as penas da cumplicidade (ARAÚJO apud SOARES, 2003).

O Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, estabeleceu, que não seriam

criminosos os menores de 9 anos completos e os maiores de 9 e menores de 14 que

agiam sem o completo discernimento (VERONESE apud FERREIRA, 2012).

2.4. Código de Menores de 1.927 – Código de Mello Mattos

Entre 1.921 e 1.927, importantes inovações legislativas foram introduzidas na

ordem jurídica internacional e também na brasileira. No século XX, o movimento

internacional pelos direitos da criança inaugurou a reivindicação do reconhecimento

da sua condição distinta do adulto (SOARES, 2003).

O primeiro Código de Menores surgiu em 1.927, também conhecido como

“Código de “Mello Mattos” (FERREIRA, 2012). Em seu texto, nota-se que não há

diferenciação entre os “menores delinquentes” e os “menores abandonados”, dando

a entender que estes certamente se tornarão aqueles. Foi a primeira lei que

desvinculou os “menores” das normas de direito criminal, além de inaugurar a ideia

de assistência do Estado (PACHI, 1998:178 apud FERREIRA, 2012).

Em virtude das discussões ocorridas por todo o mundo acerca dos direitos da criança e do adolescente, e da constatação de que nossa legislação atinente à criança e ao adolescente deveria ser alterada para se enquadrar às novas aspirações, surge, então, o Código de Menores “Mello Matos” que vigeu no Brasil a partir do ano de 1.927 (SILVA C., 2004).

Nesta feita, passou-se a adotar um parâmetro objetivo. Essa lei representa

um reflexo de um movimento mundial em favor do tratamento diferenciado do menor,

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não mais o considerando em mesmo nível e patamar que o adulto, devendo, assim,

por derradeira, consequência lógica, ser submetido a um tratamento diverso e

especializado (GARCIA, 2011).

É o que diz o artigo 1º, do Decreto n.º 17.943-A, de 12 de outubro de 1.927,

senão vajamos:

Art. 1º O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistencia e protecção contidas neste Codigo (DECRETO 17.943-A/1927).

Ensina SOARES (2003) apud SARAIVA (2003:31), que paralelamente se veio

construindo a doutrina do “Direito do Menor”, fundada no binômio

carência/delinquência. Se não mais se confundiam criança com adulto, desta nova

concepção se resulta outro mal: a consequente criminalização da pobreza.

Para contextualizar os entendimentos acerca dos menores naquela ápoca,

vale referir as afirmações de NETTO (1941), contemporâneas ao Código de

Menores (SOARES, 2003):

O Código de Menores, muito sabiamente considera no artigo 68, como agindo sempre sem discernimento, e, consequentemente, irresponsável, o menor de 14 anos de idade. De fato, é matéria que não sofre contestação, a falta de capacidade de imputação de menor dessa idade. Até os 14 anos, o indivíduo não tem o pleno desenvolvimento psíquico para que se possa responsabilizá-lo pelos delitos que cometer. A capacidade de imputação, escreve REGIS (Précis de Psychiatrie), donde decorre a responsabilidade penal, é, como dizem KRAFFT-EBING e REMOND, o estado em que se encontra o indivíduo que é capaz de escolher entre a execução e a não execução de um ato qualificado criminoso e a de tomar uma resolução em um ou outro sentido (NETTO, 1941 apud SOARES, 2003).

O Código de Menores reflete um profundo teor protecionista e a intenção de

controle total das crianças e jovens, consagrando a aliança entre a Justiça e

Assistência, constituindo ovo mecanismo de intervenção sobre a população pobre

(SOARES, 2003).

É o que diz SILVA C., (2004):

O Código Mello de Mattos foi um avanço na legislação, pois pela primeira vez o assunto foi tratado em legislação própria, com especificidade que a muito se esperava. Neste pisar denota-se que o Código de Menores passou a refletir profundo teor de proteção, e manifesta a intenção de controle total

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do Estado aos jovens, ficando definitivamente marcada uma aliança entre a Justiça e a Assistência Social ficando constituído um novo método de controle e desenvolvimento da população mais pobre, uma vez que a grande maioria dos casos incidia nesta camada da sociedade (SILVA C., 2004).

Ainda na vigência do Código de Menores, um novo texto constitucional veio

ao ordenamento jurídico daquela época. Tratava-se da Constituição Federal de

19347, inaugurando o Estado Novo e considerando a luta pelos direitos humanos.

Em relação ao direito do menor, tal carta faz com que a questão perca espaço

(SILVA, C., 2004).

2.5. Código Penal de 1.940

Instituído pelo Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1.940, surgiu o

Código Penal de 1.940, fixando a imputabilidade penal aos 18 anos de idade e

adotando somente critérios biológicos.

A inimputabilidade dos menores de 18 anos demonstra uma evolução

normativa que atingiria sua plenitude no século XX, quando o Estatuto da Criança e

do Adolescente – ECA, disciplinaria o tratamento da criança e do adolescente. Na

época deste Código Penal, porém, já fervilhavam no mundo pensamentos sobre a

condição do menor como diferente do adulto (SOARES, 2003).

A ideia da irresponsabilidade absoluta do menor preconizada pelo código Mello de Mattos em 1.927 é simplesmente ratificada pelo código penal de 1.940. É questão de política criminal vigente na época, originarias da chamada “Doutrina da Situação Irregular”. Por tal doutrina os menores de 18 anos são tratados como “imaturos”, e devem estar sujeitos à pedagogia corretiva da legislação especial. Todavia a crítica que se fazia era que ainda mantinha de forma igualitária o tratamento dispensado ao menor infrator e ao menor abandonado (SILVA C., 2004).

Neste diapasão, continua SOARES (2003):

7 A Constituição Brasileira de 1934, promulgada em 16 de julho pela Assembleia Nacional Constituinte, foi redigida "para organizar um regime democrático, que assegure à Nação, a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico", segundo o próprio preâmbulo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1934. Acessado em 09/11/2013 às 11h23min.

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A ideia de irresponsabilidade absoluta do menor resulta da cultura tutelar da época, oriunda na Doutrina da Situação Irregular, referida inclusive na Exposição de Motivos do Código Penal. A exposição de motivos do Código Penal de 1940 estabelece que os menores de 18 anos de idade, chamados de imaturos, estarão sujeitos apenas à pedagogia corretiva da legislação especial que, por sua vez, mantinha como objeto de sua atuação, de forma totalmente igualitária, os delinquentes e os abandonados. Nesta época, os menores abandonados e delinquentes, e também as crianças pobres, eram invariavelmente submetidas à internação, único recurso disponível. Além disto, a apreensão de menores nas ruas era prática corrente. A necessidade de revisão do Código de Menores, que vinha sendo debatida há muitos anos, tornou-se imperiosa com a Promulgação do novo Código Penal de 1940, no qual estendeu-se a idade da responsabilidade penal para 18 anos (SOARES, 2003).

Assim, termina de consolidar a ideia de não mais ser possível atribuir penas

“stricto sensu” ao menor que praticasse um ato infracional. Basta, pois, não ter 18

nos completos para não estar sujeito às disposições presentes no Código Penal.

Não havia, diferentemente das legislações pretéritas, a devida preocupação com o

discernimento do menor, tutelando-se o indivíduo independentemente da idade

psicológica que apresentasse, meramente fundamentado na faixa etária (GARCIA,

2011).

2.6. Código de Menores de 1.979

Após estudos e pesquisas sobre o direito aplicável às crianças e aos

adolescentes, chega ao ordenamento jurídico a lei n.º 6.697, de 10 de outubro de

1979, instituindo o Código de Menores.

Neste novo Código, fica definitivamente consagrado a “Doutrina da Situação

Familiar”. O principal alvo desta doutrina eram as crianças e os jovens considerados

em situação irregular. Assim eram considerados as crianças e os jovens menores de

18 anos, quer abandonados por suas famílias, quer envolvidos em delitos (SILVA C.,

2004).

São os dizeres de SOARES (2003), vejamos:

Neste momento histórico, vários foram os estudos e projetos relacionados à criação do novo Código de Menores. O problema dos menores abandonados e da delinquência juvenil seguia sendo um grande desafio, e embora fosse uma questão reconhecidamente de cunho social, permanecia a ideia de que cabia ao setor jurídico resolvê-la. (...) Com o golpe militar, o

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processo de reforma do Código de Menores foi interrompido, cessando as discussões que estavam em andamento. A questão do menor foi elevada à categoria de problema de segurança nacional, prevalecendo o implemento de medidas repressivas que visavam cercear os passos dos menores e suas condutas "antissociais". (...) Nos anos 70 os debates sobre a necessidade de criação do Novo Código de Menores tomam nova força. (...) Em 1968 e em 1970 realizaram-se, respectivamente, na Cidade de Brasília e na Cidade de Guanabara, o III e o IV Encontro Nacional de Juízes de Menores, ocasiões em que foram organizados os princípios que irão nortear os direitos dos menores. Das discussões realizadas resultará clara a disposição dos magistrados de não abrir mão do espaço de atuação que lhes havia sido conferido ao longo da história, no trato da questão do menor. (...) Finalmente, a Lei n° 6.697, de 10 de outubro de 1979 estabelece o novo Código de Menores 29, consagrando a Doutrina da Situação Irregular, mediante o caráter tutelar da legislação e a ideia de criminalização da pobreza. Seus destinatários foram as crianças e os jovens considerados em situação irregular, caracterizados como objeto potencial de intervenção do sistema de justiça, os Juizados de Menores, que não fazia qualquer distinção entre menor abandonado e delinquente, pois na condição de menores em situação irregular enquadravam-se tanto os infratores quanto os menores abandonados (SOARES, 2003).

Por tal Código, passam a ser previstos os tipos abertos. Dessa forma os

menores passam a ser classificados em categorias distintas, tais como: “menores

em situação de risco”, ou ainda, “menores em circunstâncias especialmente difíceis”,

dentre outras (SILVA C., 2004).

Na esfera penal, o adolescente autor de ato infracional deveria ser

encaminhado para a autoridade competente. Pois uma vez que, o adolescente

infrator menor de 18 e maior de 14 anos de idade estaria sujeito para “pagar” pelos

atos que tenha praticado. Era facultado ao magistrado, aplicar uma das medidas

previstas no Código. Insta em dizer que, as medidas previstas naquele dispositivo

legal era a assistência, de proteção ou de vigilância.

Diz o artigo 2º da lei n.º 6.697/79, sobre a chamada “situação irregular”:

Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor:

I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;

Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável;

III - em perigo moral, devido a:a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes;

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b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;

IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;

V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária;

VI - autor de infração penal.

(…)

Fonte: Lei n.º 6.697, de 10 outubro de 1979.

Segundo SILVA C., (2004):

Quando da vigência do Código de Menores observou-se que a maioria dos internos eram encaminhados ao sistema de FEBEM. Era absurdo mas nas mesmas unidades eram colocados todos os menores considerados em “situação irregular”. Assim que fosse criança vítima de violência doméstica, que abandonado, quer infrator, passariam a viver em um mesmo ambiente. Grandes críticas surgem neste particular, uma vez que fica evidente que o tratamento a ser dispensado a cada uma das categorias dispostas no artigo 2º do Código de Menores deve ser totalmente distinto. Tanto isso é verdade que estudos feitos na época indicam que cerca de 80% dos internos não haviam praticado delito algum (SILVA C., 2004).

2.7. Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988

Formada em 1987, a Assembleia Nacional Constituinte, presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, membro do PMDB, era composta por 559 congressistas e durou 18 meses. Em 5 de outubro de 1988, foi então promulgada a Constituição Brasileira que, marcada por avanços na área social, introduz um novo modelo de gestão das políticas sociais - que conta com a participação ativa das comunidades através dos conselhos deliberativos e consultivos. Na Assembleia Constituinte organizou-se um grupo de trabalho comprometido com o tema da criança e do adolescente, cujo resultado concretizou-se no artigo 227, que introduz conteúdo e enfoque próprios da Doutrina de Proteção Integral da Organização das Nações Unidas, trazendo os avanços da normativa internacional para a população infanto-juvenil brasileira. Este artigo garantia às crianças e adolescentes os direitos fundamentais de sobrevivência, desenvolvimento pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, ou seja, através de dispositivos legais diferenciados, contra negligência, maus-tratos, violência, exploração, crueldade e opressão. (LORENZI, 2007).

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LORENZI8 (2007) diz na década de 80, permitiu que a abertura democrática

se tornasse uma realidade. Isto se materializou com a promulgação, em 1988, da

Constituição Federal, considerada a “Constituição Cidadã”.

Segundo FERRERIA (2012), no início da década de 1.980, com o nascimento

de movimentos populares e das primeiras organizações não-governamentais,

começam a surgir denúncias sobre a forma de tratamento às crianças e aos

adolescentes no Brasil.

Em 1978, ano Internacional da Criança, o Fundo das Nações Unidas para a

Infância (UNICEF), voltou os seus olhos à situação da infância e juventude nos

países em desenvolvimento e o Brasil começou a repensar sua política para esse

segmento (VERONESE, 1997:16 apud FERREIRA, 2012).

A nova Constituição Federal de 1988 – CF/88 aderiu integralmente à

“Doutrina da Proteção Integral”, expressando-a em seu artigo 227. A imputabilidade

penal foi mantida em 18 anos de idade (SILVA, G., 2010).

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Afirma SOARES (2004):

A nova Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, antecipando-se à Convenção das Nações Unidas de Direito da Criança, aderiu integralmente à Doutrina da Proteção Integral, expressando-a especialmente em seu artigo 227, sendo que a imputabilidade penal foi, através do art. 228, mantida em 18 anos de idade (SOARES, 2004).

Desde então, cabe ao Estado promover programas de assistência integral à

criança e ao adolescente. A norma constitucional representou uma revolução na

setorialização das políticas públicas destinadas ao atendimento às necessidades da

criança e adolescentes (PACHI, 1998:181 apud FERREIRA, 2012).

8 Gisella Werneck Lorenzi é psicóloga e uma das coordenadoras do Portal Pró-Menino (www.promenino.org.br).

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Acerca de todo o desenvolvimento dos ordenamentos jurídicos, assim como

sobre as novas disposições constitucionais, assim leciona BULOS (2001) apud

SILVA, C., (2004), senão vejamos:

Em nosso ordenamento jurídico, o capítulo VII é bastante inovador, porque reúne preceitos que refletem as transformações sociais vividas nos últimos decênios. Claro que as constituições pregressas não podiam prever o que o Texto de 1.988 previu, porque, no passado, os problemas eram diferentes, os costumes eram outros, o modus vivendi se exteriorizava de forma totalmente distinta da atual... Nessa contextura, o constituinte não olvidou os contornos modernos da mutável concepção de família. A problemática da marginalização infantil, outrora situada à margem do processo de integração social, também foi destacada. O mesmo se diga quanto às questões relacionadas à adolescência, marcantes nesse final de milênio, sobretudo diante da violência e da exploração sexual dos jovens (BULOS, 2001 apud SILVA, C., 2004).

O Brasil foi o primeiro país a adequar sua legislação às normas da

Convenção, incorporando-as em seu texto constitucional. Posteriormente, foi

promulgado no Brasil o ECA, que nos moldes da Constituição Federal, consagrou a

doutrina da Proteção Integral (SOARES, 2004).

2.8. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Difícil uma pessoa dizer, que nunca viu uma criança na rua colhendo papelão

e catando latinhas, limpando para-brisas de veículos nos semáforos das grandes

cidades, vendendo doces, vivendo no “mundo do crime”9 ou na prostituição.

Episódios como estes fazem parte da rotina do cidadão, não sendo algo novo.

Mas sim, algo preocupante e de responsabilidade da sociedade, da família e do

Poder Público, devendo assegurar a aplicabilidade dos direitos da criança e do

adolescente expostos à situações de extrema vulnerabilidade, é o que diz o artigo 4º

do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, senão vejamos:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,

9 Mundo do Crime – Termo utilizado por Gabriel de Santis Feltran “in” Governo que produz crime, crime que produz governo: o dispositivo de gestão do homicídio em São Paulo (1992 – 2011).

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à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 2013)

O ECA veio regulamentar e garantir a imposição à família, à sociedade e ao

Estado assegurar o direito da criança e do adolescente, bem como disciplinar os

mecanismos para efetivação e garantia desses interesses inerentes ao menor

(NUNES, 2009).

Indaga-se:

Quais os motivos que levam o adolescente a descumprir a lei?

Seria a situação do núcleo familiar em que ele está inserido? Teria a

sociedade uma parcela de culpa nisso? Seria porque o adolescente cresceu e se

desenvolveu sem a presença dos pais? Diante destes motivos ensejadores para a

rebeldia e a delinquência, como obter um rígido controle que proteja a criança e o

adolescente?

Não bastando o legislador, criar e fazer com que o ECA seja reconhecido,

mas devendo buscar a efetiva concretização no dia a dia dos adolescentes e das

crianças.

Estabelece a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente10, que a criança e o adolescente são prioridades absolutas, conforme

inserido na CF/88, no seu artigo 227.

Neste sentido, NUNES11 diz que no Brasil, o ECA surgiu em 1990, e é

considerado por muitos uma lei-revolução no momento em que rompe com o

conservadorismo injusto e inadequado do “menor”. Pois, até 1989 vigorava o

“Código de Menores”, onde a criança e o adolescente eram objetos de direito,

diferente de hoje, que são pessoas sujeitos de direitos e deveres.

E ainda diz:

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, veio regulamentar, garantir e inovar através de um mandamento constitucional o qual impõem à família, à sociedade e ao Estado “assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade o direito à vida”. Sendo

10 A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, é um tratado que visa a proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo, aprovada pela Resolução 44/25 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%A3o_Internacional_sobre_os_Direitos_da_Crian%C3%A7a. Acessado em 24/09/2013 às 14h13min.

11 Denise Silva Nunes é advogada. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria.

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a inclusão da família, sociedade, além do Estado, uma das inovações consideradas positivas no Estatuto, na promoção dos direitos da criança e do adolescente. O objetivo maior do Estatuto da Criança e do Adolescente é proteger a criança e o adolescente de toda e qualquer forma de abuso, bem como garantir que todos os direitos estabelecidos na Constituição lhes sejam assistidos. Além de disciplinar os mecanismos os quais devem ser utilizados para que a família, a sociedade e o Estado garantam todos os direitos inerentes ao menor (NUNES, 2009).

Neste diapasão são os dizeres de VIEGAS12 & RABELO13 (2011) no sentido

de que, crianças e adolescentes brasileiros, sem distinção de raça, cor ou classe

social, passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e deveres,

considerados como pessoas em desenvolvimentos a quem se deve prioridade

absoluta ao Estado.

O ECA considera como criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze

anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze de dezoito anos de

idade (artigo 2º).

Considerando que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que

trata esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades

e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, espiritual, e

social, em condições de liberdade e de dignidade (artigo 3º).

Sendo dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder

Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à

vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, e à convivência familiar e comunitária (artigo 4º).

Além de proteger a criança e o adolescente, de qualquer negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei

qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (artigo 5º).

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de

sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência

familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes (VIEGAS e col. 2011).

12 Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas é advogada. Mestre em Direito Privado pela PUC-Minas. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Gama Filho.

13 César Leandro de Almeida Rabelo é advogado. Mestre em Direito Público pela FUMEC. Especialista em Docência no Ensino Superior pela PUC-Minas.

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Notório dizer o tamanho da responsabilidade dos pais no desenvolvimento

dos filhos, no núcleo familiar em si, tendo como objetivo manter a estabilidade

emocional, social e econômica.

A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são fatores que interferem diretamente no desenvolvimento das crianças e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente inseridos na entidade familiar. Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e comercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. (VIEGAS e col., 2011)

Para CALIL14 (2012), o ECA é um importante instrumento, utilizado na defesa

e materialização de direitos. As garantias legais desse grupo, bem como os direitos

trabalhistas, garantias sociais e os direitos fundamentais de acesso à educação aos

serviços de saúde, são elencados no referido Estatuto sob a concepção da proteção

integral.

FRASSETO15 (2012), posiciona-se da seguinte forma:

Deste modo, não obstante a nova legislação reconhecer crianças e adolescentes como sujeitos de direitos - titulares das mesmas garantias outorgadas aos adultos e não incompatíveis com a idade (art. 3ºdo ECA) -, um sem número de decisões e práticas diárias contrariam, nos casos concretos, este comando. De outro lado, mesmo tendo o ECA reconhecido o caráter coercitivo, sancionatório, da medida socioeducativa, uma invasão do Estado na esfera de autonomia do adolescente autor de conduta descrita em lei penal, muitos operadores ainda, no dia a dia, continuam a tomá-la como um direito do jovem, algo em seu exclusivo favor instituído, destinado a protegê-lo do mal e de si mesmo, a tutelá-lo. Ainda que dentre as sanções previstas para adolescentes a privação de liberdade seja a menos recomendada por lei e os centros de internação sejam em sua maioria prisões com outro nome na porta de entrada, neles ingressam, diariamente, jovens recomendados, por sentença, a lá ficarem para crescer como cidadãos, para aprenderem a se comportar em sociedade e tornarem-se “indivíduos úteis” (FRASSETO, 2012).

Levando-se em conta, que todos tem a obrigação de zelar pela dignidade da

criança e do adolescente, protegendo-os de qualquer tratamento desumano,

14 Thaísa Cristine Marques Calil é advogada, formada pela Faculdade Vianna Junior.15 Flávio Américo Fraseto é procurador do Estado de São Paulo de assistência judiciária, na função

de Defensor Público, ora em exercício junto a Vara da Infância Juventude do Foro Regional de Santo Amaro - SP. Docente do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei, da Universidade Anhanguera de São Paulo.

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degradante, violento e que os coloque em situação vexatórias, havendo ainda,

suspeita de maus-tratos, deverão obrigatoriamente comunicar ao Conselho Tutelar,

para tomar as devidas providências.

2.9. Atos infracionais e as medidas socioeducativas

2.9.1. Atos infracionais

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal (ECA).

Definido foi o ato infracional, no artigo 103 do ECA.

De forma clara e objetiva o legislador conceituou ato infracional como a

conduta que, se fosse praticada por imputáveis, estaria tipificada como crime ou

contravenção penal (FERREIRA, 2012).

Segundo o artigo 103 do ECA, o ato infracional é a conduta da criança e do

adolescente que pode ser descrita como crime ou contravenção penal. Se o infrator

for pessoa com mais de 18 anos de idade, o termo adota é crime, delito ou

contravenção penal (AQUINO, 2012).

Impõe-se, estabelecer, juridicamente, à luz dos preceitos do ECA – a distinção

entre as expressões “criança” e “adolescente”, para didaticamente, identificar as

pessoas que estão sujeitas às medidas socioeducativas e aquelas que não são

(BANDEIRA, 2006).

Nota-se que o próprio ECA, encarregou-se de configurar os inimputáveis, bem

como tratou da responsabilidade infantojuvenil do ato infracional, a partir dos 12

anos de idade:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (ECA).

Nesse diapasão, pode-se afirmar que a criança não esta sujeita à imposição

de qualquer medida socioeducativa, em face de sua condição peculiar de ser em

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formação, sem aptidão suficiente para entender o caráter ilícito do ato infracional

praticado ou de se determinar de acordo com tal entendimento (BANDEIRA, 2006).

Neste sentido, diz FERREIRA (2012):

Tal garantia representa um avanço relevante, uma vez que a lei anteriormente vigente (lei n.º 6.697 – Código de Menores), permitia que o Poder Judiciário equiparasse adolescentes infratores aos com “desvio de conduta”, admitindo que estes também tivessem contra si aplicada a medida de internação, que (…) é medida equiparada ao regime prisional fechado para imputáveis (FERREIRA, 2012).

Numa linha de raciocínio, e segundo AQUINO (2012) apud a Revista Jurídica

Consulex (2005), ato infracional é qualificado da seguinte forma:

O ato infracional é o ato condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública, aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes. Só há ato infracional se àquela conduta corresponder a uma hipótese legal que determine sanções ao seu autor. No caso de ato infracional cometido por criança (até 12 anos), aplicam-se as medidas de proteção. Nesse caso, o órgão responsável pelo atendimento é o Conselho Tutelar. Já o ato infracional cometido por adolescente deve ser apurado pela Delegacia da Criança e do Adolescente a quem cabe encaminhar o caso ao Promotor de Justiça que poderá aplicar uma das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90 (doravante ECA) - Revista Jurídica Consulex, n° 193, p. 40, 31 de Janeiro/2005 – (AQUINO, 2012).

O promotor de Justiça Murillo José Digiácomo, reconhecido militante na área

da infância e juventude, destaca a importância de se utilizar a expressão “ato

infracional” e não “crime”, quando se referir a criança ou adolescente, pois entende

que o uso adequado da expressão favorece e destaca o “caráter extrapenal da

matéria” (FERREIRA, 2012).

Toda conduta que a lei (penal) tipifica como crime ou contravenção, se praticada por criança ou adolescente é tecnicamente denominada “ato infracional”. Importante destacar que esta terminologia própria não se trata de mero “eufemismo”, mas sim deve ser encarada como uma norma especial do Direito da Criança e do Adolescente, que com esta designação diferenciada procura enaltecer o caráter extrapenal da matéria, assim como do atendimento a ser prestado em especial ao adolescente em conflito com a lei (DIGIÁCOMO, 2010:146-147 apud FERREIRA, 2012).

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NETO16 (2009), na definição dos atos infracionais se manifesta da seguinte

maneira:

De se anotar também que a resposta à prática de ilicitudes por parte de crianças e adolescentes deve sempre estar informada por um princípio básico: o de respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, cuja conduta revela imaturidade biopsicológica. Nesse rumo e em se tratando de adolescentes autores de ato infracional ou antissocial, as medidas - judiciais ou administrativas - carecem atender a um conteúdo educativo, capaz de auxiliar o jovem a superar os conflitos próprios da chamada crise da adolescência, singularmente marcada pelo insurgimento contra os padrões sociais estabelecidos e, em assim sendo, determinante das transgressões aos comandos legais. As denominadas "infrações em razão de sua condição" (cuja incidência será tanto maior se, além das dificuldades de ordem psicológica, comparecerem também as provenientes da falta ou carência de recursos materiais, isto é, da miséria ou da pobreza) reclamam a intervenção no sentido da orientação, assistência e reabilitação, buscando-se alcançar o inerente potencial dirigido à sociabilidade e cidadania (NETO, 2009).

No caso do artigo 103 do ECA, embora a prática do ato descrita como

criminosa, o fato de não existir a culpa, em razão da imputabilidade penal, a qual

somente se inicia ao 18 anos de idade, não será aplicada a pena às crianças e aos

adolescentes, mas apenas medidas socioeducativas (AQUINO, 2012).

Quanto ao tempo em que o ato é praticado, o ECA e o Código Penal adotam

o mesmo princípio, o da atividade. Vale dizer, considera-se praticado o crime e/ou

ato infracional no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o

resultado. Portanto, ainda que o adolescente complete 18 anos de idade no dia

seguinte à prática do ato infracional, sua conduta será apurada com base no ECA

(LIBERATI, 2010:112 apud FERREIRA, 2012).

Segundo o professor Luiz Flávio Gomes, já não existe a menor dúvida, como

se percebe, que o inimputável no Brasil pode praticar crime ou contravenção,

observando a data do fato, conforme o artigo 4º do Código Penal. O que se modifica

é o nome: legalmente tal infração chama-se ato infracional (AQUINO, 2012).

Assim, a lei estabelece que não há qualquer impropriedade técnica em

atribuir-se a criança a prática de atos infracionais, contudo, ela só poderão ser

submetidas as medidas específicas e proteção. Podendo as medidas serem

aplicadas de modo que se adéqua as necessidades pedagógicas da criança ou

adolescente (DIGIÁCOMO, 2010:139 apud FERREIRA, 2012).

16 Olympio de Sá Sotto Maior Neto é procurador de Justiça no Estado do Paraná.

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É o que afirma AQUINO, (2012):

Assim, a criança (pessoa até 12 anos incompletos), se praticar algum ato infracional, será encaminhada ao Conselho Tutelar e estará sujeita às medidas de proteção previstas no art. 101; o adolescente (entre 12 de 18 anos), ao praticar ato infracional, estará sujeito a processo contraditório, com ampla defesa. Após o devido processo legal, receberá ou não uma “sanção”, denominada medida socioeducativa, prevista no art. 112, do ECA. Cabe aplicação de medidas socioeducativas ao adolescente que complete 18 anos se à data do fato era menor de 18 anos (AQUINO, 2012).

Acerca do tema, manifesta-se MOUSNIER (1991) apud AQUINO (2012), no

seguinte sentido:

(…) andou bem a lei estatista em não estender à criança infratora, menor de 12 anos, as medidas mais severas previstas nos incisos II à IV do artigo 112. Quanto à medida de advertência, porém, o legislador melhor agiria se a tivesse prescrito também para a criança infratora (MOUSNIER, 1991:106 apud FERREIRA, 2012).

Ou seja, seria mais severa a aplicação da medida de advertência às crianças

do que para os adolescentes, e diante disso, o ECA deveria ter admitido tal

responsabilidade, porém não o fez.

Nesse sentido, respeitando, dentre outros princípios gerais do direito, o do

devido processo legal, é perfeitamente cabível a aplicação de sanções à menores de

18 anos de idade que pratiquem crime ou contravenção penal, no caso denominado

de ato infracional, desde que esta aplicação decorra da apreciação judicial e de

competência exclusiva do juiz, lembrando sempre que, tais medidas, não possuem

natureza de pena e sim de medida socioeducativa (AQUINO, 2012).

2.9.2. Medidas Socioeducativas

Diversas são as medidas que podem ser concedidas e aplicadas ao

adolescente, de 12 a 18 anos de idade, que cometem ato infracional (crime ou

contravenção penal), sendo todas elas originadas por intermédio do que apregoa a

proteção integral e as leis de atendimento à infância e juventude (CAVALCANTE,

2008).

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Diz o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT, que as

medidas socioeducativas são medidas aplicáveis aos adolescentes autores de atos

infracionais e estão previstas no artigo 112 do ECA. Apesar de configurarem

resposta à prática de um delito, apresentam um caráter predominantemente

educativo e não punitivo.

As medidas socioeducativas estão prescritas no artigo 112 do ECA, num rol

taxativo:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI (ECA).

As medidas socioeducativas constituem na resposta estatal, aplicada pela

autoridade judiciária, ao adolescente que cometeu ato infracional. Embora possuam

aspectos sancionatórios e coercitivos, não se trata de penas ou castigos, mas de

oportunidades de inserção em processos educativos (não obstante, compulsórios)

que, se bem-sucedidos, resultarão na construção ou reconstrução de projetos de

vida desatrelados da prática de atos infracionais e, simultaneamente, na inclusão

social plena (AQUINO, 2012).

As medidas socioeducativas encontram como destinatário o adolescente

infrator que, dependendo da gravidade do ato infracional ou sua reiteração, poderá

receber a medida de maior ou menor intensidade. Vale destacar que somente a

autoridade judiciária é competente para sua aplicação (MILANO, 1996:121-122 apud

FERREIRA, 2012).

Os meios socioeducativos são formas de responsabilização aplicáveis ao

adolescente infrator. Para a imposição destas medidas, é imprescindível que se leve

em consideração a idade do jovem à data do delito praticado, sendo meios que

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podem ser concedidos isolados ou cumulativamente, podendo ser substituídos a

qualquer tempo. Tais regimes devem realizar-se em conjunto com políticas públicas,

respeitando os direitos da infância e juventude e sua condição de cidadão

(CAVALCANTE, 2008).

São os valiosos dizeres de RAMIDOFF, 2005:78) apud FERREIRA (2012),

senão vejamos:

Para além da dimensão externa de toda e qualquer medida socioeducativa, o que se encontra como sendo o próprio núcleo irredutível que lhe caracteriza a qualidade específica de proteção – e já não é ou pode ser caracterizada por sua natureza sancionatória, como querem alguns – são, precisamente, as suas razões mais profundas pelas quais originou e sustenta, quais sejam os valores humanos, senão, fundamentais à constituição de qualquer pessoa humana que não só crianças e adolescentes. Contudo, não se pode olvidar que as medidas socioeducativa são destinada justamente àquelas pessoas humanas que se encontram numa fase peculiar de suas vidas – a adolescência – cuja situação circunstancial é marcada pela temporalidade e pela condição particularmente especial de desenvolvimento da personalidade (RAMIDOFF, 2005:78 apud FERREIRA, 2012).

Segundo CAVALCANTE17 (2008), o sistema socioeducativo visa ao resgate, à

reintegração do adolescente infrator à sociedade, mediante procedimentos

pedagógicos que desenvolvam a sua capacidade intelectual, profissional e o seu

retorno ao convívio familiar.

Nesse sentido, é correto afirmar o que já se encontra pacificado na doutrina e

jurisprudência: as medidas socioeducativas não são penas a serem aplicadas aos

adolescentes, estão fundamentadas na socioeducação, na recuperação do

adolescente em conflito com a lei, sujeito que conquistou, com a Constituição

Federal de 1988 e o ECA, o direito de ser tratado com dignidade, respeito e,

principalmente, de obter oportunidades oferecidas pelo Estado, antes que ele atinja

a maioridade e então, seja inserido no sistema criminal, onde (aí sim) o viés é

sancionatório (FERREIRA, 2012).

Após a comprovação da autoria e materialidade da prática do ato infracional –

assegurados o contraditório e a ampla defesa – as medidas socioeducativas sempre

devem ser aplicadas levando-se em consideração as características do ato

infracional cometido, as peculiaridades do adolescente que o cometeu e suas

17 Patrícia Marques Cavalcante é advogada.

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necessidades pedagógicas, dando-se preferência àquelas medidas que visem ao

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (AQUINO, 2012).

2.9.2.1. Da advertência

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada (ECA).

Diz LIBERATI apud FERREIRA (2012):

(…) a medida de advertência é recomendada, via de regra, para os adolescentes que não têm histórico criminal e para os atos infracionais considerados leves, quanto à sua natureza e consequência (LIBERATI apud FERREIRA, 2012).

Segundo a Pastoral do Menor (2010), a advertência é uma repreensão verbal

feita pelo juiz e poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e

indícios suficientes da autoria.

São os dizeres de CAVALCANTE, 2008:

Consiste em uma coerção admoestatória, executada pelo promotor de justiça ou pelo juiz. Dirige-se ao adolescente que cometeu ato infracional de pouca gravidade e pela primeira vez. O procedimento deverá ser reduzido a termo e assinado, como alega o art. 115, do ECA. Esta admoestação implica ao juiz ou ao promotor de justiça na leitura da conduta praticada, na censura e na explicação da ilegalidade do ato infracional cometido pelo adolescente, estando presentes os seus pais ou responsáveis, e ao infrator, na promessa de que o evento delituoso não se realizará de novo. O art. 114, § único, do ECA, afirma que a imposição da advertência pressupõe a prova da materialidade e de suficientes indícios da autoria do ato praticado pelo adolescente. Tal medida poderá ser aplicada na fase extrajudicial, por ocasião da remissão (forma de exclusão do processo), imposta pelo promotor de justiça, homologada pelo juiz, ou na fase judicial, empregada pelo juiz, durante o curso de investigação da conduta infracional, ou depois da sentença (CAVALCANTE, 2008).

A advertência é a única das medidas socioeducativas que deve ser executada

diretamente pela autoridade judiciária. O magistrado deve estar presente à audiência

admonitória, assim como o promotor de justiça e os pais ou responsável pelo

adolescente, devendo ser este alertado das consequências da eventual reiteração

na prática de atos infracionais (DIGIÁCOMO, 2010:161 apud FERREIRA, 2012).

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AQUINO (2012) diz que o propósito da advertência é evidente, qual seja, o de

alertar o adolescente e seus genitores ou responsáveis para os riscos do

envolvimento no ato infracional.

2.9.2.2. Da obrigação de reparar o dano

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima (ECA).

A obrigação de reparar o dano, é uma medida que visa à restituição da coisa,

ao ressarcimento do dano sofrido pela vítima e/ou à compensação do prejuízo desta

pelo adolescente infrator (CAVALCANTE, 2008).

Para a Pastoral do Menor (2010), se o ato infracional tratar de danos ao

patrimônio, o juiz pode determinar que o adolescente devolva a coisa, indenize ou

compense, por outra forma, o prejuízo à vítima.

Diz AQUINO (2012):

Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade judiciária poderá aplicar a medida prevista no art. 116 do ECA, determinando que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou por outra forma compense o prejuízo da vítima. Ocorrendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra mais adequada, isto se dá para evitar que não sejam os pais do adolescente os verdadeiros responsáveis pelo seu cumprimento, pois em caso contrário como aponta os Profs. Eduardo Roberto de Alcântra Del-Campo e Thales César de Oliveira, “a reprimenda acabaria fugindo da pessoa do infrator, perdendo seu caráter educativo” (AQUINO, 2012).

O douto representante do Ministério Público catarinense sustenta também

que a medida em comento pode ser aplicada na fase pré-processual, pelo próprio

Parquet conjugada com o benefício da remissão (CURY, 2005:394 apud FERREIRA,

2012).

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2.9.2.3. Prestação de serviços à comunidade – PSC

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais (ECA).

Realização de tarefas gratuitas e de interesse comunitário por parte do

adolescente em conflito com a lei, durante período máximo de seis meses e oito

horas semanais (TJDFT).

O prazo de tais medidas deve ser proporcional à gravidade do ato praticado,

podendo ser aplicadas em qualquer dia da semana, não devendo prejudicar a

frequência a escola ou a jornada normal de trabalho (AQUINO, 2012).

São os dizeres de CAVALCANTE (2008):

Esta medida possibilita o retorno do adolescente infrator ao convívio com a comunidade, por meio de tarefas, ou serviços, que serão prestados pelo jovem, em locais como escolas, hospitais e entidades assistenciais, possibilitando, assim, o desenvolvimento de trabalhos voluntários, de cunho social e humanitário, sendo atividades escolhidas de acordo com a condição do jovem. Uma das formas de reinserção do adolescente à sociedade, permitindo sua participação ativa em prol da organização comunitária (CAVALCANTE, 2008).

Neste sentido, manifesta-se a Pastoral do Menor (2010):

Consiste na realização de tarefas gratuitas, em instituições assistenciais, hospitais, escolas ou outros estabelecimentos, bem como em programas comunitários ou governamentais (art.117 do ECA). As tarefas devem ser atribuídas de acordo com a aptidão do adolescente, compreendendo, no máximo, oito horas semanais, não podendo prejudicar a frequência à escola e/ou a jornada de trabalho. O cumprimento dessa medida não deve exceder seis meses (PASTORAL DO MENOR, 2010).

Sua fiscalização deve ser operada pela comunidade beneficiada e pelos

educadores sociais que, em conjunto, poderão proporcionar ao adolescente infrator

uma modalidade de cumprimento da medida em meio aberto. O trabalho deve ser

gratuito e refletir em ônus para o adolescente, que sentirá as exigências da

retribuição sem se corromper, e não uma relação meramente empregatícia

(LIBERATI, 2010:129 apud FERREIRA, 2012).

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2.9.2.4. Liberdade assistida - LA

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente (ECA).

Deve ser aplicada sempre que for a medida mais adequada para

acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. É uma forma de o adolescente ser

responsabilizado pelo delito que cometeu sem necessitar do afastamento do lar, da

escola e do trabalho. Durante o cumprimento da medida, o adolescente fica sob a

supervisão de um orientador (PASTORAL DO MENOR, 2010).

O TJDFT define a liberdade assistida – LA, como um acompanhamento,

auxílio e orientação do adolescente em conflito com a lei por equipes

multidisciplinares, por período mínimo de seis meses, objetivando oferecer

atendimento nas diversas áreas de políticas públicas, como saúde, educação,

cultura, esporte, lazer e profissionalização, com vistas à sua promoção social e de

sua família, bem como inserção no mercado de trabalho.

Da análise cuidadosa desse dispositivo, depreende-se que a liberdade

assistida é medida socioeducativa que pressupõe o acompanhamento de um

profissional especializado, chamado pelo ECA de “orientador” (DIGIÁCOMO,

2010:162 apud FERREIRA, 2012).

O caráter pedagógico ainda predispõe a viabilização da inserção do jovem no

convívio familiar comunitário, o seu desenvolvimento escolar e a sua integração

profissional (CAVALCANTE, 2008)

Nesta linha de raciocínio, CAVALCANTE (2008) continua dizendo:

(...) a liberdade assistida é fixada por, pelo menos, seis meses, podendo o prazo ser alargado, sendo possível a sua substituição ou a sua revogação. Tais características estão configuradas no § 2º, do art. 118, do ECA: “A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.” A realização da medida depende do apoio do município que pode fornecer uma estrutura de programas a serem desenvolvidos, em lugares próximos ao adolescente, inserindo-o em sua comunidade, juntamente com a supervisão do juiz no que tange à operacionalização do regime (CAVALCANTE, 2008).

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A ideia desta medida é manter o infrator no seio familiar de forma que fique

integrado na sociedade e com apoio de seus entes queridos e sobre a supervisão da

autoridade judiciária, a quem cabe determinar o cumprimento e cessação da medida

- artigo 118, § 2º e 181, § 1º do ECA (AQUINO, 2012).

Por todo o exposto, não á dúvida de que a liberdade assistida também se

apresenta como interesse, na solução aos casos de adolescente envolvidos com o

tráfico de drogas (FERREIRA, 2012).

2.9.2.5. Inserção em regime de semiliberdade

Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial (ECA).

A semiliberdade possui caráter punitivo, já que, para o cumprimento da

medida, há a necessidade do internamento do adolescente em uma unidade

especializada, limitando, em parte, o direito de ir e vir do infrator (CAVALCANTE,

2008).

Diz BARROS (2012) apud FERREIRA (2012):

É uma medida socioeducativa que priva, em parte a liberdade do adolescente. De fato, assemelha-se ao regime semiaberto de cumprimento de pena de maiores capazes. O adolescente trabalha e estuda durante o dia e, no período noturno, fica recolhido em entidade especializada (BARROS, 2012:166 apud FERREIRA, 2012).

Ou seja, possibilita ao adolescente a realização de atividades externas,

independente da autorização judicial. É normalmente aplicada como transição do

meio aberto, uma forma de progressão de regime que beneficia aqueles que já se

encontram privados de liberdade e que ganham direito a uma medida mais

favorável. Neste regime é obrigatória a escolarização e a profissionalização

conforme artigo 120 do ECA (PASTORAL DO MENOR, 2010).

Neste sentido diz AQUINO (2012):

É admissível como início ou como forma de progressão para o meio aberto. Comporta o exercício de atividades externas, independentemente de

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autorização judicial. É obrigatória a escolarização e a profissionalização. Não comporta prazo determinado, devendo ser aplicadas as disposições a respeito da internação, no que couber. Deverá ser revista a cada 6 meses (art. 121, § 2º, subsidiariamente). Com o fito de preservar os vínculos familiares e sociais, o ECA inovou ao permitir a sua aplicação desde o início do atendimento, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial (arts. 112, inciso V, e 120, §§1º e 2º do ECA). Sendo obrigatória a escolarização e a profissionalização, não comportando prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação (AQUINO, 2012).

Manifesta-se o TJDFT dizendo que a semiliberdade é a vinculação do

adolescente às unidades especializadas, com restrição da sua liberdade,

possibilitada a realização de atividades externas, sendo obrigatórias a escolarização

e a profissionalização. O adolescente poderá permanecer com a família aos finais de

semana, desde que autorizado pela coordenação da Unidade de Semiliberdade.

2.9.2.6. Internação em estabelecimento educacional

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (ECA).

A internação em estabelecimento educacional constitui uma medida privativa

de liberdade, e deve ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes. Está

sujeita ao princípio da brevidade e excepcionalidade, levando-se em consideração a

condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Em nenhuma hipótese o prazo

máximo para internação excederá 3 anos. Quando atingido esse limite, o

adolescente pode ser liberado ou colocado em regime de semiliberdade ou liberdade

assistida (PASTORAL DO MENOR, 2010).

A medida de internação coaduna com a ideia de retirar o adolescente infrator

do convívio com a sociedade. Em contrapartida, a internação, também possui o

condão pedagógico, visando à reinserção do jovem infrator ao meio familiar e

comunitário, bem como o seu aprimoramento profissional e intelectivo

(CAVALCANTE, 2008).

AQUINO (2012), cita que o ECA, visando garantir os direitos do adolescente,

contudo, condicionou-a a três princípios básicos:

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1. Onde o adolescente deve ser privado de sua liberdade o menor tempo possível. Por isso, a medida comporta prazo máximo de 3 anos, com avaliação a cada 6 meses. Atingido o limite de 3 anos o adolescente será colocado em liberdade, e, dependendo do caso, sujeitar-se à medida de semiliberdade ou liberdade assistida. Ocorrerá nas seguintes hipóteses: ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça; reincidência em infrações graves (punidas com reclusão) e descumprimento reiterado e injustificável de outra medida imposta (máximo de 3 meses). Nesse caso é obrigatório a observância do princípio do contraditório. Aos 21 anos a liberdade é compulsória.

2. De acordo com o Princípio da Excepcionalidade pois deve ser usado em último recurso (art. 122, § 2º do ECA), apenas quando a gravidade do ato infracional cometido e a ausência de estrutura do adolescente indicar que a possibilidade de reincidência em meio livre é muito grande. A internação somente deve ser admitida em casos excepcionais, quando baldados todos os esforços à reeducação do adolescente, mediante outras medidas socioeducativas (TJSP – C. Esp. Ap. 22.716-o – Rel. Yussef Cahali – j. 2-3-95).

3. O terceiro princípio é apontado pelos Profs. Eduardo Roberto de Alcântra Del-Campo e Thales César de Oliveira acerca do “respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento em razão do agudo processo de transformação física e psíquica por que passa o ser humano na adolescência e que reclama atenção redobrada das entidades de atendimento para que possa ocorrer uma efetiva ressocialização” (AQUINO, 2012).

Diz o TJDFT, que a medida socioeducativa privativa da liberdade, adotada

pela autoridade judiciária quando o ato infracional praticado pelo adolescente se

enquadrar nas situações previstas no art. 122, incisos I, II e III, do ECA. A internação

está sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição

peculiar de pessoa em desenvolvimento. A internação pode ocorrer em caráter

provisório ou estrito.

A internação deve ser imposta, ou por consequência do cometimento de atos

infracionais, de grave ameaça ou violência, ou pela reincidência, destes tipos de

crimes, ou ainda pelo descumprimento de outra medida, e, nesse caso, o prazo é

menor, de três meses. (CAVALCANTE, 2008).

2.9.2.7. Qualquer uma das previstas no art. 101, I a IX (ECA)

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

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II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

A nomenclatura de "medidas de proteção" é emblemática na determinação da

natureza destas medidas. A legislação menorista está embasada na doutrina da

proteção integral, que reconhece na criança e no adolescente indivíduos portadores

de necessidades peculiares, não se olvidando a sua condição de pessoas que se

encontram em fase de desenvolvimento psíquico e físico, condição que os coloca

em posição de merecedores de especial atenção por parte do Estado, da sociedade

e dos pais ou responsáveis (MEZZOMO, 2004).

As crianças também podem ser autoras de ilícitos penais. Todavia, não serão

processadas ou submetidas a qualquer espécie de sanção. Quando um ato de

natureza penal ou contravencional é executado por um indivíduo que ainda não

tenha alcançado a idade de doze anos, sobre ele poderá recair uma das medidas de

proteção previstas no ECA (SOARES, C.)

Diz o artigo 98 que, as medidas de proteção à criança e ao adolescente são

aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no ECA, forem ameaçado ou

violados.

A orientação, apoio e acompanhamento temporários, de um modo geral, são

solicitados pelos próprios responsáveis, declarando-se estes interessados em uma

ajuda suplementar, posto que, sozinhos, não se julgam capazes de disciplinar e

orientar o filho (MOUSNIER, 2010).

Há de se considerar que o abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável

como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando

privação de liberdade (ZAINAGHI, 2002)

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Nesse sentido, continua ZAINAGHI (2002)18:

O encaminhamento aos pais ou responsável é uma medida adequada àquelas hipóteses nas quais não ocorre maior gravidade. Um bom exemplo seria o caso de uma fuga da criança ou do adolescente, ou em casos de omissão de terceiros em relação a deveres inerentes à guarda. A orientação apoio e acompanhamento temporários, que poderão ser realizada pelo Conselho Tutelar ou por serviço de assistência social, ou, ainda, por serviços especializados do próprio Poder Judiciário, onde existam tem aplicação em casos onde não há uma causa que possa ser incluída dentre as hipóteses de tratamento médico-psicológico, e onde não exista omissão imputável aos pais ou responsável a justificar a aplicação das medidas dos incisos VII ou VIII, por exemplo. (...) A evasão caracteriza-se pela completa marginalização da criança ou adolescente do sistema de ensino. Normalmente está relacionada ao trabalho infantil e à omissão dos pais. A infrequência escolar diz respeito às faltas injustificadas e reiteradas à escola. Comumente a evasão escolar é constatada por serviços de assistência social estatais ou pelo Conselho Tutelar, neste último caso por atuação própria ou por denúncia. Estes órgãos, dentro de suas competências e capacidades constituem a linha de frente na resolução do problema, buscando conscientizar os pais ou responsável ou mesmo o próprio adolescente ou criança da importância da educação. Boa parte dos casos é assim resolvida. Já nos casos de infrequência, além da atuação dos órgãos acima referidos, também há atuação dos próprios agentes de ensino, que costumeiramente também buscam a resolução simplificada e imediata do problema através do diálogo e conscientização (…) A inclusão em programas sociais e de auxílio que melhor se coaduna àquelas situações, muito comuns, em que violações dos direitos das crianças e adolescentes resultam de situação econômico-financeiras de dificuldade. Trata-se de medida de suma importância, especialmente naqueles casos relacionados à desnutrição, notadamente quando atingem crianças de tenra idade e que se contam aos milhares em nossa sociedade (ZAINAGHI, 2002).

O Conselho Tutelar, órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, previsto

no diploma e ainda inexistente no território nacional, terá atribuição para aplicar as

medidas específicas de proteção as crianças e aos adolescentes carentes e as

crianças infratoras - artigo 136, I, cumulado com o artigo 98 e respectivos incisos, e

o artigo 105, do ECA (MOUSNIER, 2010).

Há de se considerar que o abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável

como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando

privação de liberdade (ZAINAGHI, 2002).

Tais medidas possuem natureza pedagógica, que buscam atingir o

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (FRANCO e col., 2002:396

apud SOARES C.).

18 Maria Cristina Zainaghi é advogada e doutora em Direitos Difusos e Coletivos, pela PUC-SP.

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Fica demonstrado que o legislador tem a preocupação em tocar tanto a

criança quanto sua família, porque se a criança cometeu um ato infracional, é

porque a base familiar não está bem, ou seja, não estão conseguindo sustentar a

criança dentro da sociedade, com uma relação social comum (CASSANDRE,

2008)19.

2.10. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE

No ano de 2004, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH, o

Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA e com

apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, sistematizaram e

apresentaram a proposta do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo –

SINASE, um documento que visa promover uma ação educativa no atendimento ao

adolescente que cumpre medida socioeducativa, sejam aquelas em meio aberto ou

as restritivas de liberdade (VERONESE e col. 2009).

O SINASE é a política pública que organiza e orienta a execução das

medidas socioeducativas, aplicadas aos adolescentes autores e atos infracionais

(SEDH, 2013).

A elaboração do SINASE visou fortalecer o ECA, determinando diretrizes

claras e específicas para a execução das medidas socioeducativas por parte das

instituições e profissionais que atuam nesta área. Dessa forma, evitaria

interpretações equivocadas de artigos do ECA, que por muitas vezes trazem

informações poucas precisas sobre a operacionalização dessas medidas

(ROTONDANO, 2011).

Diz a SEDH junto ao CONANDA (2006), que o SINASE, se orienta pelas

normas nacionais (Constituição Federal e ECA) e internacionais das quais o Brasil é

signatário (Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, Sistema Global e

Sistema Interamericano dos Direitos Humanos: Regras Mínimas das Nações Unidas

para Administração da Justiça Juvenil – Regras de Beijing – Regras Mínimas das

Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade).

19 Andressa Crisitna Chiroza Cassandre é advogada.

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A mudança de paradigma e a consolidação do ECA, ampliaram o

compromisso e a responsabilidade do Estado e Sociedade Civil por soluções

eficientes, eficazes e efetivas para o sistema socioeducativo e asseguram aos

adolescentes que infracionaram oportunidade de desenvolvimento a uma autentica

experiência de reconstrução de seu projeto de vida (SEDH, 2006).

Neste diapasão, são os dizeres de VERONESE20 e col. (2009):

A proposta da responsabilização estatutária mediante a inserção de práticas pedagógicas em detrimento das punitivas – violadoras dos direitos humanos dos adolescentes – é um grande desafio proposto aos operadores do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente. É possível fazer com que esse ideal de responsabilização não se constitua em letra morta? Como fazer cumprir essa nova proposta pedagógica? Qual caminho seguir? Como permitir que os adolescentes envolvidos com ato infracional não tenham condutas reiteradas? Essas e outras indagações são basilares para quem trabalha com um tema tão complexo e tão carregado das mais variadas violências (VERONESE e col., 2009).

O SINASE enquanto sistema integrado busca articular em todo o território

nacional os Governos Estaduais e Municipais, o Sistema de Justiça, as políticas

setoriais básicas (assistência social, saúde, educação, cultura, etc.), para assegurar

efetividade e eficácia na execução das medidas socioeducativas de meio aberto, de

privação e restrição de liberdade, aplicadas ao adolescente que infracionou (SEDH,

2013).

E continua VERONESE e col. (2009):

O SINASE, portanto, é um instrumento composto por um “[...] conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa” (CONANDA, 2006: 23). Deve ser compreendido como uma política social de inclusão do adolescente autor de ato infracional. O SINASE é um documento que visa promover uma ação educativa no atendimento ao adolescente, seja em meio aberto ou em casos de restrição de liberdade. Mas há que se ressaltar que esse instrumento jurídico-político dá preferência às medidas executadas em meio aberto, porque compreende que as medidas restritivas de liberdade, como a semiliberdade e a internação devem ser aplicadas em último caso, levando sempre em consideração os princípios da brevidade e da excepcionalidade (VERONESE e col., 2009).

20 Josiane Rose Petry Veronese, é pesquisadora no Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente, da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Segundo os dizeres ROTONDANO21 (2011):

O SINASE é um documento que visa promover uma ação educativa no atendimento ao adolescente, seja em meio aberto ou em casos de restrição de liberdade. Mas há que se ressaltar que esse instrumento jurídico-político dá preferência às medidas executadas em meio aberto, porque compreende que as medidas restritivas de liberdade, como a semiliberdade e a internação devem ser aplicadas em último caso, levando sempre em consideração os princípios da brevidade e da excepcionalidade (ROTONDANO, 2011).

E continua COSTA apud ROTONDANO (2011):

O SINASE vem normatizar o que já está disposto no ECA, que é um atendimento baseado nos direitos humanos para os adolescentes autores de ato infracional. Ele preconiza a necessidade de se priorizar as medidas em meio aberto (Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida), obviamente, respeitando a gravidade do ato cometido pelo adolescente. Com o SINASE, foram laçadas as diretrizes para no reordenamento arquitetônico e pedagógico, necessários para a adequada ressocialização dos adolescentes em cumprimento de medida (COSTA apud ROTONDANO, 2011).

O SINASE é um instrumento jurídico-político que complemente o ECA em

matéria de ato infracional e medidas socioeducativas. É um documento que impões

obrigações e a co-responsabilidade da família, da sociedade e do estado para a

efetivação dos direitos fundamentais dos adolescentes autores de ato infracional. E

ao Estado, principalmente, cabe a função de investir em políticas sociais que

facilitem a concretização desse importante instrumento normativo (VERONESE e

col., 2009).

2.10.1. Lei n.º 12.594/12

Na data de 20 de abril de 2012, entre completamente em vigor o SINASE,

instituído pela lei n.º 12.594/12, regulamentando a execução das medidas

socioeducativas destinadas aos adolescentes que pratique ato infracional, alterando

alguns dispositivos do ECA.

21 Ricardo Oliveira Rotondano é advogado.

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O conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que se destinam a

regulamentação do cumprimento de medidas socioeducativas destinadas ao

adolescente a quem se atribui a prática da ação conflitante com a lei, então,

entendido por SINASE, passa a se constituir no marco regulatório do atendimento

sociopedagógico (RAMIDOFF, 2013).

RAMIDOFF22 (2013) diz que, as figuras legislativas especificas na

Constituição Federal acerca de direitos individuais e de garantias fundamentais

destinadas à proteção integral da criança e do adolescente, assim como o ECA, em

conjunto, agora, com a lei n.º 12.594/12, constituem-se nas “Leis de Regência” no

âmbito do cumprimento das medidas socioeducativas.

Segue o posicionamento do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS

(2013):

O modo como a grande mídia vem tratando tais temas, associados à questão do aumento da violência, reforça visão preconceituosa e repressiva que atinge adolescentes e jovens brasileiros/as, especialmente pobres e negros/as, mascarando a ausência de direitos e, desse modo, justificando o endurecimento da lei. Não vamos concordar com mecanismos que alimentam o ciclo da violência; precisamos de políticas e recursos efetivos para assegurar direitos (CFESS, 2013).

Nesse sentido, manifestou-se o Poder Judiciário do Estado do Acre (2012) da:

Já está em vigor, desde o último mês de abril, a Lei 12.594/12 , que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). A norma estabelece novos parâmetros para a política de atendimento a adolescentes em conflito com a lei no País, regulamentando a execução de medidas socioeducativas, que hoje variam de estado para estado, dependendo do entendimento dos tribunais. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a falta de padrão na execução de processos constitui um problema recorrente nas varas da infância e da juventude do Brasil. Com a criação do SINASE, os procedimentos agora serão os mesmos em todo o País, uma vez que o Sistema define a competência de cada ente federativo quanto às políticas públicas voltadas ao atendimento socioeducativo, cabendo à União apoiar com recursos financeiros a execução de programas e serviços. (...) O SINASE estabelece que as execuções que envolvam a internação de menores devem ser individualizadas. Por isso,

22 Mário Luiz Ramidoff, é Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (2007). Promotor de Justiça do TJPA.

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em uma ação envolvendo vários menores em um mesmo ato infracional, por exemplo, todos podem continuar a ser julgados no mesmo processo, mas as execuções, a partir de agora, devem ser individuais. A norma esclarece e uniformiza entendimentos e procedimentos judiciais e estabelece que medidas mais rigorosas, como a internação, devem absorver todas outras medidas aplicadas anteriormente - por exemplo, se um adolescente cumpria uma medida de semiliberdade e foi sentenciado a uma internação, com o cumprimento da internação não há mais que se falar em cumprimento das medidas anteriores. Esse, aliás, era um ponto sobre o qual pairavam dúvidas, sendo que em alguns estados brasileiros, dependendo do entendimento dos tribunais, menores em situação de conflito com a lei precisavam cumprir medidas anteriores, mais brandas, após período de internação. O SINASE estabelece ainda regras para a construção de novos centros de internação e para a atuação dos profissionais que trabalham com os menores infratores, inclusive com relação ao tratamento dispensado aos internos: jovens com dependência química, por exemplo, devem receber tratamento nas próprias unidades, onde também devem ter garantidos acesso a educação de qualidade e capacitação profissional. Outra inovação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo é que, caso seja comprovadamente casado ou conviva em união estável, o interno também terá garantido o direito a visitas íntimas, que só serão permitidas mediante uma autorização do juiz responsável pelo acompanhamento da sentença. Mais que punir, pretende-se trabalhar o adolescente para que não volte a cometer nenhum ato infracional e tenha condições de seguir seu caminho melhor orientado e conscientizado dos seus direitos e deveres como cidadão, concluiu Louise Santana (PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ACRE, 2012).

CINTRA (2012)23 diz que, de acordo com SINASE, a internação absolve a

medida aplicada anteriormente. Então, se o jovem antes cumpria uma medida de

semiliberdade ou em meio aberto e foi sentenciado a cumprir uma medida de

internação, não se pode mais falar em dar inicio ao cumprimento ou continuar a

cumprir aquelas medidas impostas anteriormente ao início da internação.

Com a promulgação da lei n.º 12.594/12, nos casos em que há vários

adolescentes envolvidos em um ato infracional, todos serão julgados em um mesmo

processo. A execução da medida, no entanto, terá de ser separada. O processo de

23 Reinaldo Cintra é Juiz Auxiliar do CNJ.

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execução terá que tramitar em autos diferentes do processo de conhecimento (CNJ,

2012).

O SINASE é coordenado pela União e integrado pelos sistemas estaduais,

distritais e municipais, responsáveis pela implementação dos seus respectivos

programas de atendimento a adolescente ao qual seja aplicada medida

socioeducativa, com liberdade de organização e funcionamento, respeitados os

termos da referida lei (LEMOS e col., 2012).

O Plano Individual de Atendimento – PIA, é expressamente determinado no

artigo 52 da lei, determinando as medidas socioeducativas de prestação de serviços

à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e de internação, senão vejamos:

Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação, dependerá de Plano Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente.

Fonte: Lei n.º 12.594, de 18 de janeiro de 2012.

A atenção integral à saúde do adolescente em cumprimento de medida

socioeducativa, também foi contemplada por esta legislação, harmonizando-se

assim, às normas de referência destinadas aos profissionais, do Sistema Único de

Saúde – SUS e do SINASE, enquanto providências destinadas à proteção integral –

inclusive, sofrimento mental e associadas – álcool e drogas (RAMIDOFF, 2013).

LEMOS e col.24 (2012), diz que o SINASE se rege pelos seguintes princípios:

A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:

1. legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto; excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;

2. prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; proporcionalidade em relação à ofensa cometida; brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei nº 8.069/1990 (ECA);

24 Luciano Braga Lemos, é professor Mestre em Direito, Justiça e Cidadania (2002), pela Universidade Gama Filho.

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3. individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente; mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida; não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status e;

4. fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo (LEMOS e col., 2012).

A consolidação dos direitos atinentes à infância e juventude trilhou no Brasil,

um árduo caminho, fruto de mobilização da sociedade civil, durante o processo de

elaboração e promulgação da Constituição Federal, culminando com a aprovação do

ECA (LEMOS e col., 2012).

Segue dizendo LEMOS e col. (2012).

O ECA abandonou a doutrina da situação irregular e adotou a teoria da proteção integral, garantidora da prioridade absoluta das crianças e adolescentes no âmbito do Estado, da família e da sociedade, tornando-se assim um instrumento essencial para a cidadania, figurando como referência internacional de respeitabilidade dos direitos humanos relacionados às crianças e aos adolescentes, embora não tenha tratado, de forma satisfatória, das questões atinentes à aplicação das medidas socioeducativas, traçando, somente, diretrizes genéricas acerca da matéria, o que provocava a disparidade na execução das medidas socioeducativas pelos diversos órgãos dos entes federados, ficando a efetividade das medidas de proteção a mercê de cada componente da federação e de seu grau de responsabilidade com os direitos ligados ao adolescente (LEMOS e col. 2012).

Ademais, observa-se que inúmeros acréscimos e modificações legislativas

foram estabelecidos no ECA, acerca das medidas socioeducativas, fiscalização de

entidades procedimentos judiciais, bem como sobre doações ao Fundo dos Direitos

da Criança e do Adolescente – artigos 260 ao 260-L do ECA (RAMIDOFF, 2013).

A lei n.º 12.954/2012, de 18 de janeiro de 2012 tem como objetivo superar

essa lacuna normativa, por intermédio da instituição do SINASE, coordenado pela

União, com a participação dos Estados, Distrito Federal e Municípios (LEMOS e col.,

2012).

A finalidade do SINASE é estabelecer um conjunto ordenado de princípios,

bem como, critérios e regras a serem observados na apuração do ato infracional

cometido pela adolescente em conflito com a lei, assim quando da execução das

medidas socioeducativas aplicada ao caso.

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São os dizeres de RAMIDOFF (2013):

É preciso avançar hermeneuticamente na direção do asseguramento dos direitos individuais e das garantias fundamentais através de interpretações integrativas com as outras “Leis de Regência”, com o intuito de que se torne interdito todo tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor ao Adolescente que se encontre em cumprimento de medida socioeducativa (RAMIDOFF, 2013).

A referida lei, tem o escopo de uniformizar o atendimento socioeducativo, com

o fito de produzir resultados positivos na ressocialização do adolescente autor de ato

infracional, de certa forma contribuindo para os baixos níveis de criminalidade,

representando um melhor acolhimento ao adolescente infrator, de acordo com as

bases ideológicas da chamada “Proteção Integral”, expostos na CF/88 e no ECA.

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4. CAPÍTULO 3 - O TRÁFICO DE DROGAS NO CONTEXTO INTERNACIONAL E

NO CENÁRIO NACIONAL

3.1. O contexto internacional do tráfico de drogas

Narcotráfico ou tráfico de drogas é o tráfico de substâncias ilícitas,

entorpecentes (WIKIPÉDIA, 2013).

A indústria do narcotráfico movimenta entre 750 bilhões de dólares a US$ 1

trilhão de dólares. Seus lucros são muito superiores aos granjeados no conjunto de

três setores, quais sejam: indústria automobilística, petrolífera e eletroeletrônicos.

Isto é permitido pela grande diferença de preço da matéria prima (folha de coca) que

é vendida a US$ 2,5 por kg na Bolívia ou na Colômbia, depois é transformada em

cocaína passa a valer US$ 3.000 na Colômbia, chegando em São Paulo a US$

10.000 e alcançando o preço estratosférico de US$ 40.000 dólares no mercado

norte-americano e US$ 100.000 no Japão. O mesmo se pode dizer da heroína e da

maconha. É o negócio mais rentável do mundo: alcança lucros de mais de 3.000% e

o custo de produção alcança somente 0,5% e o de distribuição 3% do valor do

produto. Em 1992, os lucros com tráfico de drogas estavam em torno de 300 bilhões

de dólares, quase 6 vezes o lucro alcançado pelas indústrias petrolífera,

automobilística e de equipamentos eletroeletrônicos juntas (POTIGUAR).

O tráfico internacional de drogas, em alta escala, começou a expandir-se a

partir da década de 1970, tendo tido o seu ápice na década de 1980. Esse

desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica mundial. O

narcotráfico determina as economias dos países produtores de coca, cujos principais

produtos de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços (ainda que a

maior parte dos lucros não fique nesses países) e, ao mesmo tempo, favorece

principalmente o sistema financeiro mundial. O dinheiro oriundo da droga

corresponde à lógica do sistema financeiro, que é eminentemente especulativo. Este

necessita, cada vez mais, de capital "livre" para girar, e o tráfico de drogas promove

o "aparecimento mágico" desse capital que se acumula muito rápido e se move

velozmente (WIKIPÉDIA, 2013).

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É o que afirma COGGIOLA (2006)25, senão vejamos:

O tráfico internacional de drogas cresceu espetacularmente durante os anos 80, até atingir, atualmente, uma cifra anual superior a US$ 500 bilhões. Esta cifra supera os proventos do comércio internacional de petróleo; o narcotráfico é o segundo item do comércio mundial, só sendo superado pelo tráfico de armamento. Estes são índices objetivos da decomposição das relações de produção imperantes: o mercado mundial, expressão mais elevada da produção capitalista, está dominado, primeiro, por um comércio da destruição e, segundo, por um tráfico declaradamente ilegal. Na base do fenômeno encontra-se a explosão do consumo e a popularização da droga, especialmente nos países capitalistas desenvolvidos, que é outro sintoma da decomposição. O tráfico de drogas foi sempre um negócio capitalista, por ser organizado como uma empresa, estimulada pelo lucro. Na medida em que a sua mercadoria é a autodestruição da pessoa, o consumo expressa a desmoralização de setores inteiros da sociedade. Os setores mais afetados são precisamente os mais golpeados pela falta de perspectivas: a juventude condenada ao desemprego crônico e à falta de esperanças e, no outro exemplo, os filhos das classes abastadas que sentem a decomposição social e moral. O primeiro episódio de consumo massivo de drogas aconteceu durante a mais impopular das guerras protagonizada pela "sociedade opulenta": a Guerra do Vietnã. Durante o período dos conflitos, 40% dos soldados norte-americanos consumiam heroína e 80% maconha. Apenas 8% deles continuaram a consumir drogas uma vez de volta, "em casa" (…) O tráfico internacional de drogas, em alta escala, começou a desenvolver-se a partir de meados da década de 1970, tendo tido o seu boom na década de 1980. Esse desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica mundial. O narcotráfico determina as economias dos países produtores de coca, cujos principais produtos de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços (ainda que a maior parte dos lucros não fique nesses países) e, ao mesmo tempo, favorece principalmente o sistema financeiro mundial. O dinheiro oriundo da droga corresponde à lógica do sistema financeiro, que é eminentemente especulativo. Este necessita, cada vez mais, de capital "livre" para girar, e o tráfico de drogas promove o "aparecimento mágico" desse capital que se acumula muito rápido e se move velozmente. Atualmente, o narcotráfico é um dos negócios mais lucrativos do mundo. Sua rentabilidade se aproxima dos 3.000%. Os custos de produção somam 0,5% e os de transporte gastos com a distribuição (incluindo subornos) 3% em relação ao preço final de venda. De acordo com dados recentes, o quilo de cocaína custa US$ 2.000 na Colômbia, US$ 25.000 nos EUA e US$ 40.000 na Europa. (...) No Peru e na Bolívia, parte da produção de coca é legal e destina-se ao consumo tradicional (mastigação das folhas para combater os efeitos da altitude), à indústria (chás e medicamentos) e à exportação (o Peru exporta 700 toneladas de folhas de coca por ano para a Coca-cola). O Peru é o maior produtor mundial de coca. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 100 mil camponeses peruanos cultivam 300 mil hectares de coca. Apenas 5% dessa produção é utilizada para fins legais. Com o resto, o tráfico abastece 60% do mercado mundial. Esses camponeses são massacrados, alternadamente, pela guerrilha, pela máfia e pelas tropas de repressão ao tráfico. (COGGIOLA, 2006).

As máfias, a partir do final dos anos 80, se globalizam, buscando uma

25 Osvaldo Coggiola é historiador, professor doutor do Departamento de História da Universidade de São Paulo e autor de diversos livros sobre história econômica.

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associação estreita entre as grandes gangues em nível mundial. Os cartéis

colombianos, que alimentam todos os outros cartéis desse ramo e faturam por volta

de US$ 200 bilhões anuais, as máfias orientais, que dominavam a produção de

papoula (matéria prima da heroína e do ópio, no Triângulo Dourado formado por

Birmânia, Tailândia e Laos), as máfias italianas com suas irmãs americanas, a

Yakuzá japonesa, as máfias chinesas, assim como as máfias africanas e as novas,

porém fortes, máfias russas, todas se relacionam (POTIGUAR).

Para se ter uma ideia da pressão que o narcotráfico exerce sobre as

economias dos países atrasados, um exemplo basta. Em 28 de setembro de 1989,

foi feita em Los Angeles a maior apreensão de cocaína já realizada: 21,4 toneladas,

cujo preço de venda ao público atingiria US$ 6 bilhões, uma cifra superior ao

Produto Nacional Bruto - PNB de 100 Estados soberanos. A grande transformação

das economias mono produtoras em narco produtoras (e o grande salto do consumo

nos EUA e na Europa) se produziu durante os anos 80, quando os preços das

matérias-primas despencaram no mercado mundial: açúcar (-64%), café (-30%),

algodão (-32%), trigo (-17%). A crise econômica mundial exerceu uma pressão

formidável em favor da narco reciclagem das economias agrárias, o que redundou

num aumento excepcional da oferta de narcóticos nos países industriais e no mundo

todo. Apenas nos últimos anos, o tráfico mundial cresceu 400%. As apreensões de

carregamentos se multiplicaram por noventa nos últimos quinze anos, ainda assim

afetando apenas entre 10 e 20% do comércio mundial (COGGIOLA, 2006).

O narcotráfico é produzido em escala global, desde o cultivo em países

subdesenvolvidos até seu consumo, principalmente nos países ocidentais, nos quais

o produto final atinge um alto valor no mercado negro. Certo dizer que o tráfico de

drogas, surge da ilegalidade das drogas e a mesma ilegalidade acarreta importantes

consequências sociais: crime, violência, corrupção, marginalidade, além de taxas

maiores de intoxicação por produtos químicos adulterantes dos entorpecentes, etc.

As penas oriundas da repressão às drogas são mais danosos que os efeitos das

drogas em si. Vários países possuem experiências bem-sucedidas no âmbito da

descriminalização/legalização de drogas leves. Cada vez mais países adotam

posturas liberais para driblar os danos causados pela ilegalidade das drogas

(WIKIPÉDIA, 2013).

O surgimento do crack foi apenas mais uma demonstração de que o mercado

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de drogas é dinâmico e capaz de se recriar para fugir da repressão dos governos.

Indicadores demonstram que o negócio da droga subsiste e se reforça, mesmo com

os investimentos feitos para extingui-lo (SENADO, 2011).

Em muitos países, inclusive no Brasil, existem movimentos sociais pró-

legalização da cannabis sativa, uma substância declarada ilícita pelas leis do país. A

Marcha da Maconha é um exemplo disso, pessoas de vários lugares do país vão

para as ruas gritar, buzinar, mostrar cartazes e ensinar a respeito da maconha,

mostrando o lado do usuário de drogas (WIKIPÉDIA, 2013).

Entre 1998 e 2009, o mercado de drogas cresceu. A produção mundial de

ópio subiu quase 80%. Já o mercado de cocaína não diminuiu, mesmo considerando

a redução do consumo nos Estados Unidos, já que foi compensado pelo aumento da

demanda na Europa. O número de usuários de drogas ilícitas vem aumentando

desde os anos 90 – o que aumenta o mercado de drogas -. Esse número,

percentualmente, alcançou certa estabilidade (SENADO, 2011).

3.2. O tráfico de drogas no Brasil e as rotas internacionais

Nas fraldas do bebê, várias pedras de crack. Bonecas de porcelana cheias de papelotes de cocaína. Com o estudante de medicina, cinquenta comprimidos de ecstasy. Imagens de Nossa Senhora Aparecida recheadas de cocaína. Drogas num fundo falso de uma falsa bíblia. Vestido de padre, um jovem arriscou embarcar num avião com quatro quilos de cocaína sob a batina. Num caminhão, brinquedinhos de papai-noel para crianças pobres com cocaína dentro. Noutro, 300 quilos de maconha escondidos sob um carregamento de arroz (SOUZA, 2013).

Certo dizer, que ações como estas acontecem por todo o país. Atacado ou

varejo, traficantes tentam a todo custo, levar os seus produtos aos consumidores.

Pois as drogas, sempre tiveram uma boa saída.

No Brasil, a lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 instituiu o SISNAD,

prescrevendo medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social

de usuários e dependentes de drogas, estabelece normas para repressão à

produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, definindo crimes e dando

outras providências (WIKIPÉDIA, 2013).

Dados do Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN, de 1995 a 2010,

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apontam que a população carcerária triplicou, contando, hoje, com cerca de 500 mil

detentos. Vale ressaltar que, no decorrer desse período, o perfil do encarcerado

mudou: há pouco mais de 15 anos atrás, os crimes que levavam a maioria para trás

das grades eram de ordem patrimonial, como é o caso do furto ou do roubo;

atualmente, mais de um quinto dos presos é oriundo do tráfico de drogas, número

que vêm crescendo (HASHIMOTO, 2013).

Como num passe de mágica, aqueles que eram pobres se tornaram ricos e

poderosos. A rotina do tráfico de drogas tornou-se comum ao longo dos anos. Mais e

mais pessoas foram atraídas pelos benefícios associados a ele, como dinheiro,

poder e reconhecimento. Hoje, a insegurança e o medo fazem com que as pessoas

ligadas ao tráfico praticamente não saiam da favela. Elas sabem que o caminho do

comércio ilegal de drogas geralmente leva à prisão ou à morte (SOUL BRASILEIRO,

2013).

Muitos criminalistas acreditam que a prisão é um meio ultrapassado no

combate ao narcotráfico, que, na maioria dos casos, o encarceramento apenas

contribui para a “profissionalização” do crime (HASHIMOTO, 2013).

Nesse sentido, continua HASHIMOTO (2013), senão vejamos:

(...) E a discussão acerca do elevado índice de prisões pelo tráfico voltou a ter destaque com a recente posição defendida por Pedro Abramovay, em entrevista à imprensa: ele propôs uma alteração legal que permitisse a aplicação de penas alternativas (restritivas de direitos) a pequenos traficantes. São considerados pequenos traficantes, na prática, aqueles que são flagrados pela polícia com pouca quantidade de droga, a qual pretendem ceder, gratuitamente ou não, a terceiros. Nestas hipóteses, se o agente for primário, contar com bons antecedentes, e não se dedicar a atividades delituosas nem integrar organização criminosa, há a possibilidade de diminuição de pena, prevista em lei. (...) Com a redação da Lei de drogas, que substituiu a Lei n. 6.368/76, a diferenciação entre usuários e grandes traficantes foi aprofundada: usuários primários e com bons antecedentes criminais podem, a partir de então, responder pelo crime de tráfico com penas alternativas, enquanto aqueles que, supostamente, vivem do lucro do comércio de DROGAS tiveram a pena agravada para até 20 anos de prisão. Se por um lado se reconheceu a distinção entre mero usuário e traficante, por outro se deixou a lacuna de como classificar em uma ou outra categoria. Augusto de Arruda Botelho, vice-presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), ressalta a dificuldade de se fixar, na legislação, parâmetros que delimitem claramente quem é o pequeno e quem é o grande traficante a partir, exclusivamente, de tabelas de quantidade de drogas. Teoricamente, é mais “fácil” decidir analisando-se cada caso concreto: um garoto que fuma cigarros de maconha no final de semana não pode ter o mesmo tratamento que aquele que coordena o tráfico internacional. Desse modo, ficou a cargo dos juízes decidir enquadrar um réu em um dos casos. O problema é que grande parte dos magistrados

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adota uma posição inquisitorial e a maioria dos réus é condenada, como demonstram os números do DEPEN. Segundo Thiago Gomes Anastácio, também associado ao IDDD, em processos desse tipo “o magistrado usa a lentidão da Justiça para punir o acusado. Ele manda o réu pra prisão por dois ou três meses só que, lá na frente, a instância superior reconhece a cláusula de não-encarceramento. Ou seja, alguém que não deveria ficar preso, acaba preso”. (...) Para certa parcela da sociedade, o agravamento das penas cria uma expectativa de redução e controle da criminalidade, contudo, na realidade, a adoção desse tipo de política criminal não tem se mostrado eficaz (HASHIMOTO, 2013).

O Brasil apresenta rotas de diferentes tipos de tráficos, mais notadamente, o

tráfico de drogas. Segundo relatório publicado pela ONU em 2010, realizado pela

Junta Internacional de Entorpecentes, o Brasil é considerado a principal rota do

tráfico de drogas no mundo (REBOUÇAS, 2011).

Domésticas, destinadas ao transporte de drogas consumida pelos brasileiros,

e as rotas internacionais, nas quais o Brasil funciona como corredor. Neste último

caso, a droga simplesmente passa pelo país, tendo como destino final os Estados

Unidos e a Europa (WIKIPÉDIA, 2013).

O Brasil está na rota principal do tráfico de drogas para os países da África

Ocidental, por intermédio, principalmente, da ação de grupos organizados liderados

por africanos. A conclusão está no relatório Crime Organizado Transnacional na

África Ocidental, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e

Crimes – UNODC, vinculado à ONU. Pelo documento, o tráfico de cocaína é a

atividade mais lucrativa (GIRALDI, 2013).

Nesse sentido, colaciona-se reportagem cedida por Defesa.Net (2013):

TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS USA ÁREA COMO ROTA. PONTA PORÃ (MS) Como o Assentamento Itamarati está localizado a menos de mil metros da fronteira com o Paraguai e a poucos quilômetros dos maiores produtores de maconha e cocaína do mundo, a área se transformou num entreposto da droga. Traficantes vem adquirindo lotes no interior do assentamento, utilizado como rota de transporte da droga paraguaia e boliviana que entra no Brasil pela fronteira seca de 700 km com o Mato Grosso do Sul. Os traficantes cortam as esburacadas e pouco conhecidas estradas vicinais para levar aos grandes centros não apenas drogas, mas pesado armamento e cigarros. A Força Nacional chegou a instalar uma base no interior do assentamento, mas uma ação do Ministério Público Federal, que questionou a legalidade da ocupação militar, provocou a retirada dos soldados, aumentando ainda mais o clima de insegurança no coração do programa de reforma agrária. A polícia descobriu no ano passado a existência de dois laboratórios de cocaína dentro da Itamarati, levando ao desencadeamento da "Operação Copo Sujo", com centenas de policiais e presença da Força Nacional. Atualmente, 18 moradores do assentamento estão presos por tráfico de drogas. O delegado Jorge André

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Santos Figueiredo, da Polícia Federal, tem informações de que muita gente transporta a droga até de bicicleta, ou dentro de sacos, no chamado tráfico formiguinha. - A fronteira brasileira é de 16 mil km, dos quais 700 km de fronteira seca no Mato Grosso do Sul, inclusive Ponta Porã e no assentamento Itamarati. Como os traficantes colombianos, bolivianos e peruanos temem a lei do abate de seus aviões, estão levando a droga para o Paraguai, e de lá entrando com facilidade no Brasil. O assentamento é uma dessas rotas - garante o juiz Odilon Oliveira, que comanda a vara contra crimes financeiros e lavagem de dinheiro no estado. Desafio é geração de renda - O superintendente do INCRA em Mato Grosso do Sul, Celso Cestari, admite problemas no Assentamento Itamarati e diz que o maior desafio ainda é o de melhorar a renda dos assentados. Confirma a existência de ilegalidades no local, mas diz que está trabalhando para retomar as atividades do órgão, paralisadas por causa da corrupção que dominou a administração anterior. Essa retomada, inclui a reabertura do escritório do Incra no interior do assentamento de Ponta Porã, um dos maiores do Brasil. Reconhece que houve erros na seleção dos assentados, nem sempre dispostos a ter a atividade agrícola como meio de vida, mas garante que o projeto vai dar certo e que em breve começará a titular as terras, desatando o nó da falta de financiamentos na rede bancária.- Vamos fazer a reorganização social da produção no local. Estamos reunindo os movimentos sociais para discutir como retomaremos os projetos da reforma agrária. Temos que dar a mão a palmatória quanto à falta de financiamentos para os assentados. Muitos venderam os lotes, mas fizemos um levantamento nesse assentamento e verificamos que 80% das famílias permanecem com seus lotes regularmente - disse Cestari, para quem menos de 15% comercializaram ilegalmente os lotes obtidos para a reforma agrária. Sobre o tráfico, diz: - O problema é que o assentamento virou uma grande cidade. Atualmente tem mais gente lá do que muitas cidades brasileiras. O órgão afirma que, só no assentamento, investiu R$ 192,8 milhões para financiar as moradias. O Pronaf já distribuiu R$ 47,7 milhões em crédito (DEFESA.NET, 2013).

A principal dificuldade para controle do contrabando de drogas no Brasil,

decorre da extensão de suas fronteiras terrestres (16 mil quilômetros). Mas, além

disso, segundo a Polícia Federal, grande parte das drogas também chegam pelo

mar. A maior parte da cocaína vem da Colômbia, e boa parte da maconha vem do

Paraguai. O Brasil também produz maconha, sobretudo no chamado "Polígono da

Maconha", no semiárido nordestino, mas em quantidade insuficiente para o

atendimento à demanda interna. No caso da rota Brasil-Suriname, brasileiros trocam

armas por drogas, no Suriname. Por ali ingressa boa parte dos armamentos

produzidos na Europa, a exemplo do fuzil russo AK-47, e na Ásia, especialmente

metralhadoras antiaéreas (WIKIPÉDIA, 2013).

REBOUÇAS (2011), afirma que o Brasil tem recebido drogas provindas da

Bolívia, Colômbia e Peru, o contrabando vem por meio de embarcações nos rios

entre fronteiras e aviões. Além da cocaína, tem aumentado a distribuição do crack

no Brasil, gerando problemas em relação ao tratamento dos dependentes químicos

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e combate ao contrabando de drogas pesadas para a comercialização ilegal no

Brasil e exterior.

É o que diz CALGARO (2011):

Na última década, o Brasil se consolidou como rota de passagem do tráfico internacional de cocaína com destino à Europa. Os Estados Unidos, maiores consumidores mundiais da droga, viram a oferta no seu território minguar com a repressão aos cartéis mexicanos – de 267 toneladas em 1998 caiu para 165 toneladas em 2009. Na Europa, as remessas quase dobraram no período – de 63 toneladas em 1998 para 124 toneladas em 2009 – e o Brasil virou ponto de escala. A análise faz parte do Relatório Mundial sobre Drogas divulgado nesta quinta-feira (23) pela ONU (...) A cocaína, vinda da região dos países andinos, entre eles Colômbia, Bolívia e Peru, segue do Brasil para a África e de lá aporta em terras europeias. Em 2009, o Brasil foi líder no continente americano em número de apreensões da droga que iria para consumo europeu. Foram 206 casos em 2009 (totalizando 1,5 tonelada), ante 25 em 2005 (339 kg). Em quantidade, o país ficou atrás apenas da Venezuela (6,6 toneladas) e do Equador (2,5 toneladas) (...) No total, a cocaína apreendida no Brasil – incluindo a usada para consumo interno – triplicou num período de cinco anos: passou de 8 toneladas em 2004 para 24 toneladas em 2009. A apreensão de maconha, por outro lado, caiu de 187 toneladas em 2008 para 131 toneladas em 2009. A de heroína totalizou 17 kg em 2009, um aumento acima de 10% em relação a 2008. O relatório não traz muitos detalhes sobre as apreensões de crack no país, mas informa que, em 2008, o Brasil apreendeu a maior quantidade no continente americano naquele ano: 374 kg (CALGARO, 2011).

O Brasil busca combater as rotas de tráfico por meio de programas

específicos, como o plano de ação integrado. Além do tráfico de drogas no Brasil,

outro tipo de tráfico preocupante é o de pessoas (REBOUÇAS, 2011).

Além de homicídios e suicídios, envolvendo adolescentes e jovens, os atos de

violência têm como causa o assombroso consumo de drogas e do narcotráfico; os

formatos atuais de dominação e controle territorial que disputam com o Estado, a

legitimidade no uso da violência ou resultantes do tráfico, de milícias, ou nas áreas

de biopirataria, ou nos municípios de fronteira na rota do tráfico, do contrabando de

armas e produtos etc. Exemplos esses que se aproximam do contexto vivenciado na

região de fronteira: Brasil – Paraguai – Argentina (WAISELFISZ, 2011 apud

PRIOTTO, 2013).

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3.3. A inserção dos adolescentes no tráfico de drogas no Brasil

Nas periferias, os jovens moradores das “quebradas”, se socializam em

contato com o comércio de drogas realizado por vizinhos, amigos e parentes. O

tráfico de drogas, parte da economia global, chega aos territórios como um

importante componente da economia local (MALVASI, 2012)26.

O tráfico de drogas no Rio está ligado diretamente às três maiores facções criminosas da cidade: Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. Tudo indica que o tráfico começou mesmo no Rio nos anos 1980, quando alguns moradores de favela passaram a vender cocaína. Como num passe de mágica, aqueles que eram pobres se tornaram ricos e poderosos. A rotina do tráfico de drogas tornou-se comum ao longo dos anos. Mais e mais pessoas foram atraídas pelos benefícios associados a ele, como dinheiro, poder e reconhecimento. Hoje, a insegurança e o medo fazem com que as pessoas ligadas ao tráfico praticamente não saiam da favela. Elas sabem que o caminho do comércio ilegal de drogas geralmente leva à prisão ou à morte. A vida no tráfico é um ciclo vicioso. A falta de oportunidade, somada à chance de ganhar dinheiro, resulta muitas vezes na entrada em uma facção criminosa. A atração começa já na infância, quando as crianças ficam seduzidas pelas motos, dinheiro e pelas namoradas dos traficantes. Muitas crianças entram no mundo do tráfico sem nem mesmo notar. Envolvem-se com pessoas ligadas ao crime, levam recados dentro das favelas e acabam virando o que os traficantes chamam de “aviõezinhos”. É o primeiro posto na hierarquia do tráfico. Uma vez dentro do ciclo do tráfico, fica difícil sair. O tráfico de drogas gera uma dependência parecida com a do uso de drogas. O poder, o reconhecimento, as informações privilegiadas, a hierarquia, as regras e o medo da morte são características difíceis de deixar. Muitas crianças crescem nesse meio até se tornarem adolescentes. Em qualquer classe social a adolescência é uma fase complicada. É uma época de construção de identidade, quando se começa a aprender quem se é. Para um adolescente de classe baixa, que vive em uma sociedade racista e elitista, tudo fica mais difícil. Ele se sente ignorado, invisível e muitas vezes rejeitado. O tráfico acaba preenchendo essa lacuna. Valoriza esses jovens, coloca-os num grupo onde são notados e respeitados. O adolescente se torna protagonista, produz reações nas pessoas, se torna alguém visível. Para muitos, a entrada no mundo do tráfico é uma tentativa desesperada de construir uma identidade. Esses jovens convivem com a realidade do tráfico e aprendem as regras dentro deste sistema. Depois de “aviõezinhos”, crescem e assumem novas posições, viram “fogueteiros”. Ficam no alto da favela e disparam fogos quando avistam a polícia, são olheiros para o tráfico. O próximo passo é trabalhar dentro da boca de fumo (lugar onde a droga é vendida) e virar ajudante do gerente. Assim, eles vivenciam o dia a dia do tráfico, ganham bastante dinheiro e começam a ser respeitados dentro do grupo. Quando o chefe da boca é morto, um desses meninos assume a venda das drogas e fica completamente envolvido no tráfico. Mas muitos não chegam a ser gerente de boca, pois antes disso morrem em confrontos com a polícia ou com facções rivais. Se eles conseguem escapar dos tiroteios, algumas

26 Paulo Artur Malvasi é doutor em Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo. Docente do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei, da Universidade Anhanguera de São Paulo.

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vezes acabam mortos em disputas dentro da própria quadrilha. A rede de hierarquia é muito respeitada dentro do tráfico. São regras feitas dentro da rotina, que não precisam ser escritas para serem obedecidas. O dono do ponto é o grande chefe e controla toda uma rede de “funcionários”, cada um com suas responsabilidades. Todos sabem que as regras precisam ser cumpridas, para não gerar consequências como expulsões ou execuções.. (SOUL BRASILEIRO, 2013).

O envolvimento de adolescentes como trabalhadores no tráfico de drogas

ilícitas têm aumentado nas últimas décadas, no Brasil, e quiçá no mundo, tornando-

os vítimas e igualmente autores de ações violentas relacionadas a essa atividade

(SILVA N. e col. 2011).

A problemática decorrente do tráfico de droga implica na ameaça e agressão

aos direitos fundamentais, especialmente quando do envolvimento de crianças e

adolescentes, que são as grandes vítimas, estejam elas lançadas diretamente ou

não às ações do tráfico (PORTO e col., 2008).

Em nosso país, a violência é um fenômeno que se manifesta tanto na cidade

como no campo, entre jovens e não jovens sem distinção de cor, raça, sexo, credo,

condições social e econômica. Isso em parte está relacionado a desordem social e

falta de estrutura que dê a todos condições dignas de vida. Outro fator relevante que

deve ser considerado na promoção da violência está a relacionado ao tráfico de

drogas e entorpecentes que parece atingir parcela significativa de jovens, e vem

ganhando proporções alarmantes e alcançando todas as camadas sociais

(KAWAMOTO, 2010).

O comércio varejista de drogas é dinâmico, fluido e fragmentado. O modelo

de gestão financeira dos negócios esta centrado na busca de maior lucratividade, e

um dos mecanismos adotados foi a flexibilização do trabalho dos jovens vendedores

– um modelo contemporâneo de gestão, que acompanha a tendência de tornar

maleável o trabalhador comum à gestão das empresas na contemporaneidade

(SENNETT, 2008 apud MALVASI, 2012).

Para os adolescentes a violência está relacionada, em especial, ao tráfico de

drogas. Ainda que disputas entre grupos rivais e entre os próprios traficantes

ofereçam riscos à segurança das pessoas do bairro, os adolescentes relacionam a

violência mais à figura do usuário, que, muitas vezes sob o efeito de drogas,

cometem crimes, como roubos, assaltos e mesmo homicídios. Desse modo, na

percepção dos adolescentes, o traficante pode ser considerado um criminoso menos

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perigoso, na medida em que, segundo eles supõem, não necessariamente rouba ou

mata de modo explícito, sendo o comércio ilegal que pratica um delito “menor”

(WATARI, 2006).

É o que diz PORTO e col. (2008), que diante de um cenário cada vez mais

violento, o enfrentamento das consequências e das ameaças a que estão expostas

às crianças e adolescentes no concernente ao tráfico de drogas, se faz urgente. Em

razão da sua peculiar condição de ser em desenvolvimento, crianças e adolescentes

ficam mais expostos à nocividade decorrente deste tipo de ação e requerem uma

maior atenção. A convivência desde a mais tenra idade com traficantes, os embates

com os policiais, o uso de armas, o comércio e a utilização de drogas, entre outros,

afetam a sua formação e a sua integridade.

FEFFERMANN (2006) apud SILVA, N. e col. (2011), diz que na escuta de

jovens inseridos no ramo de tráfico de drogas, pode-se concluir que eles –

adolescentes autores de atos infracionais análogos ao tráfico de drogas, buscavam

proteção no mundo do crime e viviam numa espécie de “inclusão”,degradante na

sociedade consumista, a qual os estigmatizavam e lhes fabricavam uma identidade

de “marginal”.

Por sua vez, em sua pesquisa WATARI (2006)27, diz que a violência que os

adolescentes descrevem é relacionada com a criminalidade urbana, aos assaltos,

homicídios e ao tráfico de drogas. Há a percepção de que os bairros nos quais

moram tendem a ser mais afetados por esses problemas, devido a ineficácia do

Estado em oferece segurança e equipamentos urbanos adequados, como saúde,

educação, transporte e áreas de lazer à população pobre. Além do risco concreto

que a violência representa, ela pode contaminar as identidades dos sujeitos e dos

demais moradores do bairro, na medida em que todas as pessoas que compartilham

esse espaço estão sujeitas à ser identificadas da mesma forma, como criminosas ou

ociosas.

Para HUGUET (2005)28, a entrada de jovens para o tráfico de drogas vem

então, cada vez mais, passando a ser assunto de competência e necessária atenção

também da saúde pública. A crescente participação de crianças, adolescentes e

jovens no crime organizado, em especial no tráfico de drogas em grandes

27 Felipe Watari é mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo.28 Claudio Ribeiro Huguet é doutor em Saúde Pública, pela FIOCRUZ

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metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, tem sido viabilizada por muitas

estatísticas que têm demonstrado a gravidade do problema da mortalidade infanto

juvenil, ligada a homicídios por armas de fogo, especialmente ente os mais pobres.

Muitas crianças e adolescentes convivem cotidianamente, no mundo

criminoso do tráfico de drogas e uma grande parcela destas atua diretamente no

tráfico, pois já tem uma função determinada no local onde habita. Daí para tornar-se

um usuário terá que ultrapassar uma linha muito tênue, colocando-se numa situação

mais gravosa ainda (PORTO e col., 2008).

BARCELLO (2003) apud HUGUET (2005), em sua investigação jornalística

sobre o tráfico de drogas no morro Dona Marta – Estado do Rio de Janeiro, relatou

que muitos jovens não apenas eram fascinados pelas figuras dos bandidos

conhecidos, como “Cabeludo”, imitando seus modos de vestir, de usar o cabelo,

como também chegavam a aguardar durante anos a possibilidade de trabalharem

mais efetivamente no tráfico de drogas.

Em matéria publicada pelo repórter Vladimir Platonow na data de 27 de março

de 2013 às 22h16min, no “site” Agência Brasil – Empresa Brasil de Comunicação,

diz que o envolvimento com tráfico de drogas eleva o número de crianças e

adolescentes apreendidas no Rio de Janeiro, vejamos a matéria:

Rio de Janeiro – O crescente envolvimento com o tráfico de drogas é um dos fatores que provocaram um aumento expressivo no número de apreensões de crianças e adolescentes no estado do Rio. Em 2010, foram apreendidos 2.806 jovens em conflito com a lei, valor que passou para 3.466 em 2011, um crescimento de 23,5% em apenas um ano. O dado consta do Dossiê Criança e Adolescente, lançado hoje (27) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão ligado à Secretaria de Estado de Segurança Pública. Do total de jovens apreendidos em 2011, 39,9% foram por envolvimento com drogas, sendo que 82,5% deles por tráfico. O segundo motivo foi o roubo, com 18,6% do total, e o furto, correspondente a 12% dos registros. A major Claudia Moraes, uma das coordenadoras do levantamento, disse que o aumento das prisões também está associado à estratégia do tráfico de usar crianças e adolescentes por causa de legislação penal mais branda. “O fato do adolescente ter um tipo de legislação diferenciada em termos judiciais favorece que criminosos usem isso a seu favor. Até no caso de um roubo, a arma normalmente está em poder de um adolescente. É possível, sim, que haja utilização desse jovem pelos traficantes. É muito triste pensar que uma lei feita para atender a condição especial da criança e do adolescente acabe sendo utilizada de outras formas”, disse a major, que coordenou o trabalho juntamente com o sociólogo Renato Dirk. O levantamento do ISP também traçou um perfil dos menores apreendidos. Segundo os dados, 78% são pardos ou negros, 71% têm entre 16 e 17 anos e 91,8% são do sexo masculino. Quanto aos locais de moradia, 35,3% são da capital, 18,6% da Baixada Fluminense, 11% da

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Grande Niterói e 22% do interior do estado. Na capital, 41% são da zona norte, 26,7% da zona oeste, 17,5% do centro e 9,8% da zona sul. O dossiê mostra ainda que o número de jovens na condição de vítima é muito maior do que na de infratores. Do total pesquisado, 88,5% foram identificados como vítimas de crimes e 11,5% como estando em conflito com a lei. Os quatro delitos que mais vitimizaram os menores foram lesões corporais dolosas, ameaças, lesões corporais culposas e estupros. Desde o início da série histórica analisada, a partir de 2005, foram vítimas de homicídios dolosos 1.447 jovens até 17 anos completos. Em 2010, foram 191 assassinatos, número que subiu para 189 em 2011.29

Dentro de tal contexto, nota-se a despersonalização e dissolução das

crianças e dos adolescentes como sujeito de direitos. Em outros termos, verifica-se

que o ingresso deses infantes no tráfico significa a tentativa dos mesmos de se

incluírem na sociedade de consumo. Note-se que independente da origem ou classe

econômica dos infantes, esses têm as mesmas necessidades humanas e básicas,

isto é, alimento, moradia e o reconhecimento que pode se caracterizar pelo desejo

de possuir, por exemplo, um tênis de marca, de tal maneira que se sinta

pertencendo ao grupo social (PORTO, 2008).

Frisa-se que dinheiro, mulheres e respeito, são vistos como elementos

instigadores e mobilizadores para a entrada do adolescente no tráfico de drogas

(ASSIS, 1999 apud JESUS)30.

3.4. A lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 – Lei de Drogas

A lei n.º 11.343/06 conhecida como a “Lei de Drogas”, foi publicada na data de

23 de agosto de 2006, entrando em vigência após 45 dias, ou seja, em 8 de outubro

do respectivo ano.

Antes da sua vigência, em relação aos antecedentes legislativos podemos

analisar que, a questão das drogas inicialmente era tratada (desde 1940) pelo

próprio Código Penal, no artigo 267 em diante continham os crimes contra a saúde

pública, incluindo a questão das drogas (GONÇALVES, 2011).

29 PLATONOW, Vladimir. Envolvimento com tráfico eleva número de crianças e adolescentes apreendidas no Rio. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-03-27/envolvimento-com-trafico-eleva-numero-de-criancas-e-adolescentes-apreendidas-no-rio. Acessado em 01/03/2014 às 19h31min.

30 Neusa Francisca de Jesus é mestre e doutora em Serviço Social, pela PUC-SP. Docente do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei, da Universidade Anhanguera de São Paulo.

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Na década de 70, precisamente em 1976, surgiu uma lei extravagante que

passou a abordar melhor sobre o tema. Instituída pela lei n.º 6.368, de 21 de outubro

de 1976, dispondo sobre as medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e

uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física

ou psíquica, e dando outras providências. Porém os procedimentos previstos nesta

lei foram considerados defasados.

No ano de 2002, surgiu a lei n.º 10.409/02 como o objetivo de revogar a lei n.º

6.368/76, porém a mesma foi revogada na sua totalidade pelo ex-presidente da

República, daquela época.

São os dizeres de ROSA31 (2013):

A legislação passada, Lei 6.368/1976, já não acompanhava mais os avanços da criminalidade moderna. Em 2002 surgiu a Lei 10.409/2002, esta, no entanto, tinha o intuito de renovar o ordenamento jurídico, mas não foi bem aceita e acabou por sofrer muitos vetos da Presidência, por considerar trechos que afrontavam a Constituição e o interesse público. A partir daí iniciou-se a tramitação do projeto que hoje é a nova Lei de Drogas, esta surgiu revogando as duas anteriores (ROSA, 2013).

Por um período, foi necessário que os operadores do direito se baseassem

pelos crimes previstos na lei n.º 6.368/76, com os procedimentos previstos na lei n.º

10.409/02, pois estavam mais adequados. A lei n.º 11.343.06, revogou as leis

anteriores, e agora todo tema é tratado por ela (GONÇALVES, 2011).

Com o surgimento da Lei de Drogas, a 11.343 de 23 de agosto de 2006, veio

de forma mais madura tratar a questão do tráfico e o uso de drogas, fazendo uma

interpretação mais condizente com os atuais moldes sociais nos quais os indivíduos

se inserem, vez que a dinamicidade presente nas questões sociais, necessita o

sempre gradativo adequar legal (PEREIRA, 2008).

É o que diz FREITAS32 (2003):

Ao entrar em vigor em fevereiro de 2002, com quase metade dos dispositivos vetados, a Lei n.º 10.409/02 sofreu repúdio dos operadores do direito, porque nasceu capenga nos pontos fundamentais, somente com capítulos referentes aos aspectos procedimentais, porquanto vetado o capítulo III que tratava do direito material – crimes e penas (FREITAS, 2003).

31 Rodrigo Silveira da Rosa é advogado criminalista.32 Jayme Walmer de Freitas é juiz de direito.

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Um dos objetivos principais da lei n.º 11.343/06 é, sem dúvida, diferenciar o

traficante do mero usuário. Com distanciamento entre ambos, atenua a conduta dos

usuários e dependentes, e agrava a situação penal dos traficantes e dos agentes

responsáveis pela disseminação das drogas, aumentando o mínimo da pena

privativa de liberdade para os respectivos crimes (ROSA, 2013).

É o que preceitua o artigo 28, § 2º da lei n.º 11.343/06:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

(…)

§ 2º - Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

MACHADO33 (2010), arremata sobre o assunto, vejamos:

A Lei 11.343/2006, conhecida por “nova lei de drogas”, substitui no ordenamento jurídico brasileiro a Lei 6.368/76 e, entre outras alterações, trouxe mudanças significativas com relação ao tratamento dado ao usuário e ao traficante de drogas. (MACHADO, 2010).

A lei n.º 11.343/06, define de forma genérica o termo “droga” da seguinte

maneira: para fins desta lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os

produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou

relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União

(art. 1, § único).

Neste aspecto, diz SILVA C. D., (2013)34:

Uma das novidades da lei é que o objeto material dos tipos penais passa a ser a droga, assim entendida como as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (art. 1º, parágrafo único). Até que a União atualize a terminologia da lista mencionada, serão consideradas como drogas as substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1.998 (art. 66). (SILVA C. D., 2013).

33 Nara Borgo Cypriano Machado é advogada criminalista. Mestre em Direito pela UNIFLU.34 César Dário Mariano da Silva, 8º Promotor de Justiça do II Tribunal do Júri / SP.

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Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor

à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,

ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem

autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, são as

condutas do crime de tráfico de droga tipificado no artigo 33, da lei n.º 11.343/06.

O artigo 33, “caput”, e § 1º cuida do tráfico de drogas e das condutas

equiparadas. A redação do “caput” é praticamente igual à do artigo 12, “caput”, da lei

antiga – lei n.º 6.368/76, mas a pena foi sensivelmente aumentada para o mínimo de

cinco anos e o máximo de quinze anos de reclusão, e pagamento de 500 a 1.500

dias-multa (SILVA C. D., 2013).

A nova Lei de Drogas, como vem sendo chamada, surgiu em meio a uma

crise social, reforçada sempre que possível pela mídia, na qual a população

brasileira se vê refém de organizações criminosas, que envolvem e dominam desde

os morros em todo território nacional, assim como várias empresas e os três

poderes da União, em esquema de lavagem de dinheiro, comércio ilegal de armas e

o próprio tráfico de drogas (ARAÚJO, 2007).

A Lei 11.343/06, mais conhecida como "Nova Lei de Drogas" surge num momento em que a violência das grandes cidades é assunto em voga. O crescente índice de criminalidade instaurado no país e, aparentemente sem previsão para regredir, alarma todos aqueles que, de certa forma, são obrigados a conviver, diariamente, com as mazelas da sociedade. O povo brasileiro vem enfrentando uma crise oriunda dos seus próprios erros, seja quando vota, quando corrompe, quando é corrompido ou, ainda, quando se posiciona de forma indiferente às desigualdades presentes em nosso país. (ARAÚJO, 2007).

Baseando-se nos dizeres de SALLA35 e col. podemos concluir que a lei n.º

11.343/06, tem sido objeto de debates, controvérsias e propostas de alteração. As

inquietações derivadas da constante exposição dos problemas relacionados aos

usuários e traficantes de drogas, nos meios de comunicação e uma relativa

frustração pública com os efeitos da lei na contenção de tais problemas, formam

esse cenário favorável ao debate.

Salo de Carvalho (2014)36 levanta problemas relacionados à aplicação desta

lei, ao analisar o controle penal brasileiro sobre as drogas ilícita. O autor aponta as

35 Fernando Salla é pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV – USP). Docente do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei, da Universidade Anhanguera de São Paulo.

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incoerências na aplicação da lei e a irracionalidade no tratamento das drogas lícitas

e ilícitas. Para ele, “A lei 13.343/06, que baliza as diretrizes para a repressão às

drogas ilícitas no Brasil, acaba, na prática, gerando a punição de usuários de

maconha como se fossem traficantes”. (CARVALHO, 2014)37

O autor assevera, referindo-se aos artigos 28 e 33 da lei 13.343/06: “temos na

nossa lei de drogas os dois extremos de todo o complexo jurídico-penal brasileiro.

Temos a resposta penal mais branda possível e o regime jurídico mais grave de

todos, com possibilidades processuais totalmente díspares”. Neste sentido, afirma

que a referida lei vem provocando dois grandes danos: os danos das drogas e os

danos das políticas de proibição das drogas, que hoje chega até ser maior que das

drogas, pelo seu caráter totalmente punitivista.

No caso dos adolescentes, estas distorções se explicitam de forma mais

problemática. Pois é presente no imaginário social a ideia de que há uma relação

intrínseca entre crime e drogas. Este imaginário incide sobre os diversos setores da

sociedade e das instituições que atuam junto aos adolescentes. Deste modo,

qualquer sinal de desvio de comportamento se faz imediata alusão ao uso de

drogas. Agrega-se a isto, a grande dificuldade desses setores, em diferenciar o uso,

da dependência química. A droga é encarada como causa unívoca e inequívoca da

transgressão.

Embora saibamos que possa ocorrer que um adolescente cometa um crime e

ao mesmo tempo tenha feito uso de drogas, estas não podem ser tratadas como a

questão central na vida desse indivíduo. E o que é mais grave: se o adolescente que

cometeu crime estava sob efeito de drogas, logo, todo adolescente envolvido com

droga corre o risco de cometer crime.

Nesta linha de raciocínio localiza-se um paradoxo: ao sustentar que a

essência está no objeto (drogas) e que é o objeto que comanda a ponto de ser o

autor de atos criminosos, então, não pode haver responsabilização por crimes. Se o

sujeito não é responsável, não terá do que responder. (RASSIAL, 1997).

Além disso, o uso de drogas necessita ser a analisado dentro de um contexto

mais amplo. E a dependência deve ser vista dentro de um quadro de grande

complexidade no qual vivem os adolescentes no cenário mundial. No caso do Brasil,

36 Professor Salo de Carvalho é doutor em Direito e autor da obra “A política criminal de drogas no Brasil”.

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é perfeitamente notório o quadro de vulnerabilidade social, em que vivem milhares

de adolescentes, sobretudo os das classes populares, que inclui entre tantas outras

questões: a ausência de oportunidades, o não reconhecimento desses sujeitos como

pessoa e o momento de construção de identidades que se dá num processo de

socialização que assume características perversas, de grande apelo ao

consumismo, de discriminação (de origem, classe, entre outras).

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5. CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Dados iniciais dos entrevistados

Procedeu-se com a coleta de 40 processos, na 2ª Vara Judicial da Comarca

de Mairiporã – interior do Estado de São Paulo, em que se teve o cuidado, de na

coleta obedecer ao período de 2010 à 2012.

Teve-se o apoio de um instrumental – tabela, onde foram identificados os

seguintes dados: número do processo, município – comarca, nome (iniciais), idade,

sexo, cútis, ato infracional praticado, data do ato infracional, quantidade de drogas

apreendida e a medida socioeducativa aplicada ao caso.

Do instrumental, levantou-se 49 adolescentes autores de atos infracionais,

análogos ao tráfico de drogas. Esta pesquisa tem como base os 49 adolescentes

autores de atos infracionais, análogo ao tráfico de drogas. Os processos analisados

entre os anos de 2010 à 2012, revelaram que a idade entre estes adolescentes,

variou dos 13 aos 17 anos de idade, considerando-se que 4% dos adolescentes

possuíam 13 anos, 4% possuíam 14 anos, 10% possuíam 15 anos, 45% possuíam

16 anos, 35% dos adolescentes possuíam 17 anos de idade e apenas 2% não teve

a sua idade informada, como ilustre o gráfico a seguir.

4%4%

10%

45%

35%

2%

13 anos

14 anos

15 anos

16 anos

17 anos

Idade não informada

Gráfico 1: Distribuição da faixa etária

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80

Segundo FILHO e col. (2013), as atividades urbanas informais realizadas por

crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos de idade, inclusive ilícitas, como o tráfico

de drogas, são consideradas formas degradantes de trabalho infantil.

A idade média de ingresso dos adolescentes no tráfico de drogas caiu de 15 e

16 anos no início dos anos de 1990, para 12 e 13 anos depois, segundo a

Organização Internacional do Trabalho (FILHO e col. 2013).

Afirma FILHO e col. (2013), que o tráfico de drogas exige muita disciplina e

responsabilidade com limites e regras claras, cujo descumprimento gera severas

punições, inclusive a morte. A criminalidade que envolve o tráfico de drogas, tornam

crianças e adolescentes mais atrativos para tal prática, por responderem com penas

mais brandas.

PORTO & REIS (2008) dizem que, diante de um cenário cada vez mais

violento, o enfrentamento das consequências e das ameaças a que estão expostas

às crianças e adolescentes no concernente ao tráfico de drogas, se faz urgente. Em

razão da sua peculiar condição de ser em desenvolvimento, crianças e adolescentes

ficam mais expostos à nocividade decorrente deste tipo de ação e requerem maior

atenção. A convivência desde a mais tenra idade com traficantes, os embates com

policiais, o uso de armas, o comércio e a utilização de drogas, entre outros, afetam a

sua formação e a sua integridade.

FILHO e col. (2013) afirmam que, o principal motivo para a redução da idade

média das crianças e adolescentes envolvidas no tráfico de drogas, tem uma causa

econômica: o baixo custo das crianças e adolescentes no caso de apreensão ou

extorsão pela polícia, quando comparado ao custo de se tentar liberar um adulto ou

mesmo de substituí-lo, ou apoiar financeiramente a família no tempo em que ele

permanecer na prisão.

A partir da visualização do gráfico que se apresenta a seguir, nota-se que do

total de adolescentes que compuseram o levantamento, 92% eram do sexo

masculino e 8% do sexo feminino. Assim, 45 adolescentes pertenciam ao sexo

masculino e 4 adolescentes do sexo feminino.

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81

Segundo GODINHO (2009) quanto ao gênero, mais de 90% dos adolescentes

que cumprem medida de internação, são do sexo masculino.

A grande preocupação ante esse cenário de mudanças é a evidência de que

grupos de jovens, sobretudo do sexo masculino, estão cada vez mais agindo como

vítimas e autores de atos infracionais (PRIULI e col., 2006).

MISSE (1999), VELHO (1989) e ZALUAR (2004), apontam que as histórias do

tráfico de drogas são predominantemente protagonizadas pela figura masculina,

cabendo à figura feminina um papel secundário. A participação de adolescentes do

sexo feminino nessa rede ilícita é frequentemente destacada, seja pelo fato de

manterem relacionamentos afetivos com adolescentes do tráfico ou por prestarem

determinados serviços e/ou favores.

MEIRELLES & RUZANY (2009), realizaram um estudo parte de uma análise

qualitativa com ênfase na história oral de vida tópica, envolvendo 30 adolescentes

com idades entre 17 e 25 anos de 07 favelas da cidade do Rio de Janeiro,

constatando-se que desde cedo esses adolescentes incorporaram uma relação de

gênero perversa, determinada pela cultura do crime organizado.

As autoras prosseguem nos seus estudos afirmando que, a masculinidade

desses adolescentes está diretamente vinculada à sua posição na hierarquia do

tráfico, ou seja, a função em que ele ocupa determina as possibilidades de ganhos

financeiros, armamento e o tipo de mulher (MEIRELLES & RUZANY, 2009).

92%

8%

Masculino

Feminino

Gráfico 2: Distribuição dos sexos

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ASSIS & CONSTATINO (2001) apud VERAS e col. (2012:86), apontam um

aumento significativo nas taxas de atos infracionais cometidos por adolescentes do

sexo feminino, porém relatam que tal crescimento vem sempre a reboque da

delinquência juvenil masculina.

As consequências decorrentes do uso de drogas entre os adolescentes são

semelhantes para ambos os gêneros. Meninas e meninos apresentam queda no

rendimento escolar, abandono escolar, expulsão da escola e envolvimento em

atividades ilegais - roubo e tráfico de drogas, sem diferença entre os gêneros

De cútis branca eram 07 adolescentes, de cútis parda 05 adolescentes, de cútis

negra 01 adolescente e de cútis não identificada 36 adolescentes. Da análise dos

processos, ficou prejudicado a não identificação da cútis dos adolescentes,

representado pelo percentual de 73%. Adolescentes de cútis branca eram 14%, de

cútis parda 10%, e de cútis negra apenas 2%.

Esta estatística vai em direção à pesquisa realizada por MULLER e col.

(2009), em que a maioria dos participantes era de cútis branca (60%), os demais

eram negros (20%) e pardos (20%). Tal dado contraria as estatísticas nacionais e

grande parte da literatura, visto que estas atestam que a cor negra é um fator de

risco (ASSIS & CONSTANTINO, 2005 apud MULLER e col., 2009).

Segundo SILVA (2003:17) apud FRANCISCO (2012), as pessoas que estão

14%

2%

10%

73%

Branca

Negra

Parda

Cútis não identificada

Gráfico 3: Distribuição da cútis

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na condição de pobreza e/ou negros são os mais presentes nos sistemas de

medidas socioeducativas. Isso não porque o ato infracional é um traço do caráter do

favelado, do pobre ou de negros, mas porque esses indivíduos são desfavorecidos,

de alguma forma, nos processos sociais e judiciais. Dito de outra forma: há uma

desigualdade de acesso aos direitos garantidos pela lei.

É o que afirma SILVA E. R. & GUERESI (2003):

Pelo simples fato de não corresponderem ao padrão estético da sociedade brasileira, os adolescentes negros apresentam mais dificuldades de integração social, enfrentando inúmeros obstáculos, alguns intransponíveis para obtenção de reconhecimento social, tão caro ao adolescente. Nesse sentido, os jovens negros tornam-se mais vulneráveis ao delito: o cometimento de ato infracional é o que resta como forma de obter reconhecimento de uma sociedade que os ignora (SILVA E.R. & GUERESI, 2003:21).

SILVA J. (s/a, s/d) coordenador-geral do Observatório de Favelas do Rio de

Janeiro, citou em seus estudos sobre a violência nas comunidades e nas ruas, o

antropólogo inglês Luke Dowdney em seu livro Crianças do Tráfico – Um Estudo de

Casos de Crianças em Violência Armada Organizada no Rio de Janeiro (2003) ,

enfatizando a mentalidade dominante da polícia, centrada na ideia de que o

adolescente negro, morador de bairros periféricos é culpado até provar a sua

inocência.

Da quantidade de adolescentes que cometeram ato infracional análogo ao

tráfico de drogas, disposto no artigo 33 da lei n.º 11.343/06, foram 49. O

levantamento indica que, 16 adolescentes cometeram ato infracional, análogo ao

tráfico de drogas no ano de 2010, 15 adolescentes no ano de 2011 e 18

adolescentes no ano de 2012.

Ainda da análise dos processos, constatou-se que dos 49 adolescentes

pesquisados, todos cometeram atos infracionais análogos ao tráfico de drogas. O

número de adolescentes varia nos anos de 2010, 2011 e 2012. Sendo que em 2010,

constatou-se a prática de atos infracionais em 33% dos adolescentes, em 2011 a

prática em 31% e no ano de 2012, a prática do ato infracional em 37% dos

adolescentes envolvidos neste levantamento.

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84

Maconha, cocaína e crack, foram os tipos de drogas apreendidas com os

adolescentes. Sendo somente a maconha apreendida 4% dos adolescentes, a

cocaína 18% dos adolescentes e o crack 8% dos adolescentes. A maconha

acompanhada de cocaína e o crack foram as drogas apreendidas 29% dos

adolescentes, a maconha acompanhada de cocaína em 10%, a maconha

acompanhada de crack 4% e a cocaína acompanhada de crack com 27% dos

adolescentes autores de atos infracionais, análogo ao tráfico de drogas.

33%

31%

37%

2010

2011

2012

Gráfico 4: Distribuição dos anos de realização dos atos infracionais

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Com relação às medidas socioeducativas aplicadas a esses casos, a

pesquisa revela: a) somente a internação, b) a internação com tratamento

psicológico e psiquiátrico, c) somente a LA, d) a LA com tratamento psicológico e

psiquiátrico, e) a LA cumulada com PSC e f) somente a PSC.

Acerca das medidas socioeducativa, levantou-se na pesquisa que 55% dos

adolescentes envolvidos foram encaminhados para cumprir medida de internação,

2% neste caso representado por 01 adolescente cumpriu a medida de internação

com tratamento psicológico e psiquiátrico para si mesmo, 2% também neste caso

envolvendo 01 adolescente, foi encaminhado para a internação, mas com

tratamento psicológico e psiquiátrico para a sua genitora, 16% dos adolescentes

cumpriram LA, 12% dos adolescentes cumpriram LA com tratamento psicológico e

psiquiátrico pra si mesmos, 10% dos adolescentes cumpriram LA cumulada com

PSC e somente 2%, neste caso também representado por 01 adolescente, foi

sentenciado com PSC.

4%

18%

8%

29%

10%

4%

27%Maconha

Cocaína

Crack

Maconha, cocaína e crack

Maconha e cocaína

Maconha e crack

Caocaína e crack

Gráfico 5: Distribuição das drogas apreendidas

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Fundamenta-se sobre o presente levantamento, que 55% dos adolescentes

foram encaminhados para cumprirem medidas socioeducativa de internação,

contrariando o disposto no artigo 122 do ECA e a súmula n.º 492 do STJ. O ministro

Fernandes, relator de um dos habeas corpus que serviram de precedentes para a

súmula, observou que a internação só pode ocorrer, de acordo com o ECA, quando

o ato infracional for praticado com violência ou grave ameaça; quando houver

reiteração criminosa ou descumprimento repetido de medida disciplinar anterior. Se

esses fatos não ocorrem, a internação é ilegal.38

Em outra decisão anterior, o relator ministro Marco Aurélio Bellizze, assinalou

que a internação é medida excepcional, por implicar na privação da liberdade do

adolescente. Ainda segundo a decisão, o magistrado deve procurar uma medida

socioeducativa menos onerosa para o direito de liberdade.39

A ministra Laurita Vaz, relatora de outra decisão em caso semelhante, afirmou

que a internação de menor por prazo indeterminado apenas pela prática de ato

38 IG SÃO PAULO. STJ orienta que menores apreendidos em situação de tráfico não sejam internados. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-08-21/stj-orienta-que-menores-apreendidos-em-situacao-de-trafico-nao-sejam-internados.html. Acessado em 07/06/2014 às 01h00min.

39 Idem.

55%

2% 2%

16%

12%

10%2%

Internação

Internação c/ trat. psico.

Internação c/ trat. psico. p/ genitora

LA

LA c/ trat. psicol.

LA c/ PSC

PSC

Gráfico 6: Distribuição da aplicação das medidas socioeducativa

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análogo ao tráfico não é previsto no ECA. Ela lembrou que a internação de menor

não fundamentada suficientemente é ilegal.40

Já o ministro Gilson Dipp determinou em seu voto em outro caso que a Quinta

Turma tem entendido que a medida extrema de internação só está autorizada nas

hipóteses previstas taxativamente na lei. Ele apontou que o tráfico de drogas é uma

conduta com alto grau de reprovação, mas é desprovida de violência ou grave

ameaça. O magistrado também destacou que não se admite a aplicação de medida

mais gravosa com amparo na gravidade genérica do ato infracional ou na natureza

hedionda do crime de tráfico de drogas.41

De acordo com o levantamento, todos os adolescentes foram presos em

flagrante delito, sem grave ameaça ou violência. Nenhum dos adolescentes ao ser

pego, portava armas de fogo.

Da pesquisa constatou-se que 27% dos adolescentes agiram em concurso

de pessoas, ou seja, não agiram sozinhos.

A pena de qualquer dos crimes tipificados nos artigos 33 a 37 da lei n.º

11.343/06, será aumentada de um sexto a dois terços, sempre que o agente

40 Idem.41 Idem.

73%

27%

Agiram sozinhos

Não agiram sozinhos

Gráfico 7: Distribuição do concurso de pessoas

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envolver ou visar criança ou adolescente “na” ou “com a” prática do crime,

respectivamente.

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

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Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

Segundo MARCÃO (2007), envolver criança ou adolescente tem o sentido de

atuar conjuntamente, utilizar ou contar com a participação. É hipótese em que o

agente atua em concurso eventual com criança ou adolescente, aliás, prática

recorrente no ambiente do tráfico, notadamente em razão da menor capacidade de

discernimento e resistência moral daqueles, a proporcionar maiores facilidades na

cooptação, e da condição de inimputabilidade a que os mesmos personagens-alvo

estão submetidos.

Visar atingir criança ou adolescente é ter como objetivo, meta final, destinar a

droga a tais inimputáveis, que gozam de especial e justificada proteção jurídica, face

a sua particular condição biológica, psíquica, moral e de caráter, ainda em fase

inicial de formação (MARCÃO, 2007).

MARCÃO (2007) afirma ainda que, o agente pode visar atingir criança ou

adolescente, destinando a droga para consumo ou para que os mesmos pratiquem o

comércio espúrio em próprio nome, por conta e risco (fora dos limites do concurso

de agentes). É preciso analisar com cautela cada uma das hipóteses típicas

expostas à causa de aumento de pena, conforme os artigos 33 a 37 desta Lei.

Dados analisados de outras pesquisas explicitam o avanço do índice do

número de adolescentes que cumprem medidas de internação no Estado de São

Paulo, por tráfico de drogas. Em estudos comparados a este levantamento, o jornal

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Estadão (SP) datado em 21 de setembro de 2012, matéria publicada por Bruno Paes

Manso e Rodrigo Bulgarelli, afirmaram que dentre os 9.039 adolescentes que

cumpriam medidas socioeducativas de internação ou de semiliberdade nas 141

unidades da Fundação Casa no Estado de São Paulo, 3.700 foram acusados por

tráfico de drogas.

Afirmou ainda o jornal, que o percentual é maior nos municípios no interior do

Estado de São Paulo, onde 72% dos adolescentes estão internados por

envolvimento com o tráfico. Em alguns municípios, como Araçatuba, Franca e São

Carlos, esse índice chega a 90%. Uma das causas é o rigor de juízes,

especialmente do interior, que internam adolescentes envolvidos com o tráfico

mesmo que eles não tenham antecedentes criminais, contrariando o ECA.

Certo dizer que a súmula n.º 492 do STJ não está sendo aplicada, que diz: o

ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente

à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente – ou seja, nada

impede que os juízes continuem internando os adolescentes que cometem atos

infracionais análogo ao tráfico de drogas. Porém as decisões, no entanto, terão de

ser muito bem justificadas e embasadas, uma vez que poderão ser modificadas

quando os processos chegarem ao STJ.

Nessa linha comparativa, segundo o levantamento realizado pelo 26º

Batalhão da Polícia Militar de Petrópolis - Rio de Janeiro, desde 01 de janeiro de

2014, 19 adolescentes foram presos em operação de combate à venda de

entorpecentes. O levantamento realizado pela Vara da Infância, da Juventude e do

Idoso da Comarca de Petrópolis – RJ, em janeiro de 2014, 22 dos 63 processos

referentes à adolescentes, ou seja, 34,92% estavam ligados ao artigo 33 (tráfico de

drogas), 35 (associação ao tráfico de drogas) e 28 (porte e uso de drogas), da lei n.º

11.343/06.

Em relação ao tráfico de drogas, 15 processos trataram sobre a prática do ato

infracional cometido por adolescentes, 06 processos trataram sobre o porte e uso de

drogas e apenas 01 processo tratou sobre a associação do adolescente no tráfico.

Apesar disso, as meninas têm menos problemas com a polícia (GIUSTI, s/a, s/d).

Acerca dos tipos de drogas apreendidas pelos adolescentes no presente

levantamento, deve-se levar em consideração os dizeres do delegado-titular da

Delegacia de Investigações do município de Jau – interior do Estado de São Paulo,

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Edmilson Bataier (2011) afirmando que: “é normal que, em quilos a maconha seja a

droga mais apreendida. Não porque é mais traficada, mas porque ela é vendida em

porções maiores, o que contabiliza o peso. O usuário de crack precisa de porções

muito pequenas para obter o efeito. É raro encontrarmos traficantes com grandes

quantidades de crack”.

4.2 Envolvimento dos adolescentes autores de atos infracionais no tráfico de

drogas

Desde a década de 70, há uma associação entre o ato infracional e a

condição de pobreza, sobretudo, nas instituições responsáveis pelo atendimento aos

adolescentes em conflito com a lei. Não é, contudo, exclusivamente dos pobres o

envolvimento com práticas delituosas, pois há dados muito claros de delitos

cometidos por pessoas de classe média e alta (GONÇALVES, 2002; SILVA,

2003:12-17 apud FRANCISCO, 2012).

O que se percebe, portanto, é que pode estar ocorrendo discriminações

sociais e raciais em detrimento da igualdade de todos perante a lei, como estabelece

a legislação nacional (ADORNO, 1993; SILVA, 2003:16 apud FRANCISCO, 2012).

Estudos sobre delinquência juvenil assinalam isso claramente. Meninos de áreas de classe média não sofrem um processo legal que vá tão longe quando são presos como garotos das favelas. É mesmo provável que um menino da classe média, quando apanhado pela polícia, seja levado ao posto policial; é menos provável que, quando levado ao posto policial, ele seja fichado; e é extremamente improvável que seja indiciado e julgado. (BECKER, 1999:63 apud FRANCISCO, 2012).

O adolescente, sobretudo aquele que fica nas ruas e a vivencia, tem que lidar

com a violência e a criminalidade no seu cotidiano, provavelmente ficará muito mais

vulnerável às práticas dos atos infracionais, visto que no “mundo do crime”, ele

encontrará determinados sujeitos que dariam aquilo que ele quer: poder,

reconhecimento, identidade, mulheres, dinheiro, produtos da moda, etc (SILVA, 2003

apud FRANCISCO, 2012).

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Segundo ZALUAR (1994) apud FRANCISCO42 (2012), é clara a complexidade

do envolvimento da criança e do adolescente nas práticas de atos infracionais, pois

não são todos que cometem delitos por causa de dinheiro ou bens materiais.

Por outro lado, após uma visão panorâmica da representação demográfica da

população jovem, focalizam-se temas associados ao trabalho – tipo de inserção no

mercado, segundo o grau de formalidade desse, e uso do dinheiro e obstáculos

percebidos para conseguir um emprego; às atividades de lazer; às diversas formas

de discriminação experimentadas por jovens, em especial provenientes do grupo

social de referência (CASTRO e col. 2002).

Há que se considerar neste particular, a trajetória de jovens de camadas

pobres envolvidos com a rede de atividades ilícitas e com o tráfico de drogas, se

colocando como um relevante problema social (GUILHON e col.).

É a posição de MOREIRA43 (2000), no sentido que antes de pensar em

somente “punir”, interessa à sociedade: reagir ao apelo fácil da repressão; entender

porque apesar do elevadíssimo risco um número cada vez maior de jovens estão

envolvendo-se com o tráfico de drogas; compreender as causas, motivações e

relações sociais, históricas, econômicas e políticas que levaram os traficantes a

atingir os municípios do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, tamanho poder;

desvendar a relação entre a queda da qualidade de vida da população e esta

ascensão; desmitificar a concepção de mundo que mimetiza violência em

delinquência, incorporando ao tema discussões sobre a violência estrutural e sua

relação com o tráfico de drogas; desenvolver políticas de atenção integral às

crianças e adolescentes, prevenindo sua inserção no tráfico de drogas e descobrir

como reinserir os já envolvidos.

Os jovens, a modo dos pais, enfatizam a importância do trabalho como forma

de ocupação do tempo e da mente, o que os impediriam de pensar em cometer

qualquer infração. Afirmando-se que, se houvesse emprego, muitos jovens não

estariam inseridos em atividades ilícitas (CASTRO e col., 2002).

Para CARNEIRO (2008), não se pode deixar de reconhecer que o número de

adolescentes envolvidos com alguma espécie de “delito” não é desprezível, mas é

inferior ao da população adulta que comete atos criminosos.

42 Júlio César Francisco é integrante do grupo de pesquisa Teorias e Fundamentos da Educação (GPTeFE), articulado ao Programa de Mestrado em Educação da UFSCar – Sorocaba.

43 Marcelo Rasga Moreira é Mestre em Saúde Pública, pela FIOCRUZ.

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4.3 Aplicação da medida socioeducativa de internação por ato infracional

equiparado ao tráfico de drogas e o artigo 122 do ECA

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;

II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Fonte: Estatuto da Criança e do Adolescente

A internação é a resposta concebida pelo ECA a uma maior periculosidade do

adolescente, verificada, em cada caso concreto, pela grave ameaça ou violência a

pessoa cometida por este. Estas circunstâncias do ato infracional fazem com que a

reação estatal seja mais severa, e demande uma maior atenção do poder público

para os labores de ressocialização do jovem infrator. Ademais, acarreta obrigações

irremediáveis para o Estado, entre outras, de uma idônea gestão dos centros de

internamento e um eficaz planejamento da execução da sentença socioeducativa

privativa de liberdade (ANDRADE, 2001).

A medida socioeducativa, em nenhuma hipótese, pode ser considerada como

uma punição. Ela tem caráter pedagógico e ressocializador e não punitivo. A

natureza jurídica educativo - pedagógica das medidas socioeducativa é ressalvada

pela confirmação normativa do artigo 104 do ECA e da própria determinação

constitucional assecuratória fundamental (CALIL, 2012).

A expressão “poderá” prevista no “caput” do artigo 122 do ECA, somada ao

disposto no parágrafo segundo, evidencia que a autoridade judiciária deve evitar a

aplicação da medida de internação ainda que haja, no caso concreto, o

enquadramento a uma das hipóteses legais, pois a simples gravidade do ato

infracional praticado, não se constitui em motivo que, por si só, determina a

aplicação de medidas privativas de liberdade (DIGIÁCOMO, 2010:78 apud

FERREIRA, 2012).

É o afirma CURY (2002) apud FERREIRA (2012), vejamos:

(…) o aspecto mais importante do artigo 122, se encontra no § 2º, que,

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literalmente, “inverte o ônus da prova”, obrigando a autoridade judicial a demonstrar que não existe outra medida mais adequada que a internação. A expressão “em hipótese alguma”, deve ser entendida no sentido de que, mesmo nas hipóteses nos incisos I e II do artigo 122, a privação de liberdade deve ser evitada, existindo, antes dela, outras medidas de caráter mais adequado (CURY, 2002 apud FERREIRA, 2012).

Caso haja violação da aplicação do artigo 122 do ECA, deve o ato ser

anulado. De acordo com as transcrições das seguintes jurisprudências dos Egrégios

Tribunais de Justiça do país, senão vejamos:

RECURSO DE APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE TRÁFICO DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES. ART. 33 DA LEI 11.343/2006. FRAGILIDADE DE PROVAS. INOCORRÊNCIA. CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE. DEPOIMENTO DE AUTORIDADE POLICIAL. VALIDADE. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. DECISÃO BASEADA APENAS NA GRAVIDADE DO ATO INFRACIONAL. IMPOSSIBILIDADE. AUSENTES AS HIPÓTESES DO ARTIGO 122 DO ECA. 1. O depoimento de autoridade policial, aliado aos demais elementos constantes nos autos, constitui prova hábil para se verificar que a autoria do ato infracional está plenamente comprovada e recai sobre o adolescente, que praticava a mercancia de entorpecentes em via pública. 2. Afigura-se exacerbada a medida socioeducativa de internação aplicada apenas com base na gravidade do ato infracional, principalmente porque as hipóteses do art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente não estão presentes, nem o estudo social revela a imperiosidade dessa medida. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-PR - APL: 5740103 PR 0574010-3, Relator: Noeval de Quadros, Data de Julgamento: 11/02/2010, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 340).

APELAÇÃO CRIMINAL - ATO INFRACIONAL - MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO INADEQUADA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - MEDIDA EXCEPCIONAL QUE SÓ SE JUSTIFICA QUANDO PREVISTAS NO ARTIGO 122 DO ECA - COMINAÇÃO DISSONANTE COM A SITUAÇÃO DO MENOR - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARA REFORMAR A SENTENÇA NO TOCANTE À MEDIDA IMPOSTA - DECISÃO UNÂNIME. A teor do disposto no art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é possível a aplicação de medida sócio-educativa de internação, quando se tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência e quando se verifica a reiteração no cometimento de outras infrações. - Situação inverificada nos autos. (TJ-SE - APR: 2006308704 SE, Relator: DESA. CÉLIA PINHEIRO SILVA MENEZES, Data de Julgamento: 12/06/2007, CÂMARA CRIMINAL).

APELAÇÃO. ECA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A TRÁFICO DE ENTORPECENTES. REPRESENTAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. DECISÃO QUE APLICOU MEDIDA SÓCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA ÀS PREVISÕES DO ARTIGO 122 DA LEI 8.069/90. MEDIDA DE CARÁTER EXCEPCIONAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES QUE, POR SI SÓ, NÃO PODE SER CONSIDERADO GRAVE CONTRA PESSOA. INOCORRÊNCIA DE REITERAÇÃO DELITIVA EM ATOS INFRACIONAIS GRAVES. ADOLESCENTE QUE POSSUI OUTRAS DUAS REPRESENTAÇÕES POR ATO INFRACIONAL (POSSE E TRÁFICO DE DROGAS). INEXISTÊNCIA DE

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DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIAL ANTERIORMENTE APLICADA. REFORMA DO DECISUM. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA. RECURSO PROVIDO. O art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, cujo rol é taxativo, é expresso ao dispor que a medida socioeducativa de internação só pode ser aplicada quando (a) o ato infracional for cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; (b) houver reiteração no cometimento de infrações graves; ou (c) descumprimento reiterado e injustificável de medida antes imposta. (TJ-PR - APL: 7520329 PR 0752032-9, Relator: José Mauricio Pinto de Almeida, Data de Julgamento: 02/06/2011, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 650).

RECURSO DE APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33"CAPUT"DA LEI Nº 11.343/2006). RECURSO QUE PEDE O ABRANDAMENTO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA APLICADA. HIPÓTESE QUE NÃO SE AMOLDA ÀS PREVISÕES DO ARTIGO 122 DA LEI 8.069/90. PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO PARA POSSE DE SUBSTÂNCIA ENTORPERCENTE PARA USO PRÓPRIO. IMPROCEDÊNCIA. REFORMA DA SENTENÇA. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A internação é medida excepcional e só admitida nas hipóteses taxativas do artigo 122 do ECA. 2. Não justifica a internação a gravidade do ato praticado equiparado ao delito de tráfico de entorpecentes se não foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, não se subsumindo ao disposto no inciso I do artigo 122 do ECA.(TJ-PR - APL: 6341122 PR 0634112-2, Relator: Carlos Augusto A de Mello, Data de Julgamento: 28/01/2010, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 330).

É necessário ao aplicador da lei, a observância dos requisitos ensejadores da

aplicação da medida com privação de liberdade. Sendo assim, deve o tipo penal ser

identificado com a presença de grave ameaça ou violência à pessoa para a

possibilidade de ser decretada a medida socioeducativa de internação ou de

semiliberdade (CALIL, 2012).

A violência ou grave ameaça devem integrar o tipo penal, enquanto elementar

(SARAIVA, 2008 apud CALIL, 2012).

Certo dizer que, a medida socioeducativa de internação deverá ser cumprida

na Fundação Casa – antiga FEBEM, unidade designada para atender adolescentes

com alto grau de envolvimento com a ilicitude, numa última tentativa do Estado de

recuperá-los. Importante frisar que a medida é extrema e excepcional (FERREIRA,

2012).

(…) tem seu parâmetro na legislação penal correspondente ao regime fechado, que é equiparado aos condenados considerados perigosos e que tenham praticado crimes punidos com pena de reclusão superior a oito anos (CP, artigo 33, § 2º, “a”). Ao especificar o referido regime, o Código Penal determina que a execução da pena imposta, será em estabelecimento de

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segurança máxima ou média (CP, artigo 33, § 1º, “a”). Portanto, conclui-se que a internação, como medida socioeducativa de privação de liberdade, deve ser cumprida em estabelecimento que adote o regime fechado (LIBERATI, 2010:135 apud FERREIRA, 2012).

Segundo CUNHA44 (2006), a medida socioeducativa de internação é a medida

com piores condições de produzir resultados positivos. Com efeito, a partir da

segregação e da inexistência de projeto de vida, os adolescentes internados acabam

ainda mais distanciados da possibilidade de desenvolvimento físico, psíquico e

social sadio.

O problema que decorre dessa concentração das medidas em meio fechado,

é justamente o estigma que esse jovem passa a ter depois que ingressa no sistema

socioeducativo. A proposta do ECA era justamento inverter a lógica do

“encarceramento”, enfatizando novas possibilidades a esse adolescente e não a

prisionização, que acaba o marcando como um “criminoso” (ALMEIDA e org., 2010).

A imposição do adolescente de medida socioeducativa de internação em caso

de tráfico, enquanto conduta isolada, viola preceito expresso da norma e atenta

contra as liberdades individuais nos termos do permissivo legal em vigor. Essa

alternativa far-se-á somente possível mediante alteração legislativa. O ECA veda

esta impossibilidade (SARAIVA, 2008:176 apud CALIL, 2012).

No cenário do ato infracional equiparado ao tráfico de drogas, não há que se

falar em violência ou grave ameaça, embora seja um crime hediondo, não contendo

em suas elementares essas características. Em relação à violência à pessoa, pode-

se dizer ser uma atitude do ser humano, que causará danos a outrem e com relação

à grave ameaça, pode-se extrair a ideia de uma promessa de causar um mal sério e

verossímil (CALIL, 2012).

Para BARROS (2012:174-175) apud podendo deixar de apontar a ausência

de base legal para a privação da liberdade de adolescentes que tenham praticado

ato infracional equiparado ao crime de tráfico de drogas, a não ser pela via da

reiteração (artigo 122, II do ECA), uma vez que a conduta em questão, por si só, não

se adéqua as hipóteses taxativamente previstas.

Vale mencionar que não se trata de uma aplicação automática, pois, como já

mencionado, ainda que o caso concreto trate de uma das hipóteses legais de

cabimento, o magistrado deve, sempre que possível, evitar a privação de liberdade 44 Elisa Maria Jorge da Cunha é Mestre em Educação, Cultura e Sociedade, pela UFMS.

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do adolescente, dando preferência às medidas em meio aberto (FERREIRA, 2012).

Segue jurisprudências que diz respeito dos atos infracionais equiparados ao

tráfico de drogas, não configurando violência ou grave ameaça à pessoa:

0003017-25.2012.8.19.0000 - HABEAS CORPUS 1ª Ementa. DES. SIRO DARLAN DE OLIVEIRA - Julgamento: 28/02/2012 - SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL EMENTA: HABEAS CORPUS. ECA. ADOLESCENTE INFRATOR. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO TIPIFICADO NO ARTIGO 33 DA LEI 11.343/03. RECLAMA O IMPETRANTE A CONCESSÃO DA ORDEM, PARA CASSAR A DECISÃO QUE APLICOU A MEDIDA DE INTERNAÇÃO AO ADOLESCENTE, PUGNANDO QUE O ADOLESCENTE AGUARDE EM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA MAIS BRANDA ATÉ QUE OUTRA DECISÃO SEJA PROFERIDA, SOB O ARGUMENTO DE QUE A MEDIDA DE INTERNAÇÃO APLICADA NA SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO PELA PRÁTICA DE FATO ANÁLOGO AO TIPO DESCRITO NO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06 NÃO TEM AMPARO LEGAL, JÁ QUE O ADOLESCENTE NÃO SE ENQUADRA NAS HIPÓTESES DO ART. 122 DO ECA. PRIMEIRA PASSAGEM DO ADOLESCENTE. RAZÃO ASSISTE À DEFESA QUANTO À INAPLICABILIDADE DA MEDIDA SÓCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE E DA PROTEÇÃO INTEGRAL. A INTERNAÇÃO, MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EXTREMA ESTÁ AUTORIZADA NAS HIPÓTESES TAXATIVAMENTE ELENCADAS NO ART. 122 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, QUE DISPÕE IN VERBIS: "ART. 122. A MEDIDA DE INTERNAÇÃO SÓ PODERÁ SER APLICADA QUANDO: I – TRATAR-SE DE ATO INFRACIONAL COMETIDO MEDIANTE GRAVE AMEAÇA OU VIOLÊNCIA À PESSOA; II- POR REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE OUTRAS INFRAÇÕES GRAVES; III - POR DESCUMPRIMENTO REITERADO E INJUSTIFICÁVEL DA MEDIDA ANTERIORMENTE IMPOSTA. § 1º O PRAZO DE INTERNAÇÃO NA HIPÓTESE DO INCISO III DESTE ARTIGO NÃO PODERÁ SER SUPERIOR A TRÊS MESES. § 2º EM NENHUMA HIPÓTESE SERÁ APLICADA A INTERNAÇÃO, HAVENDO OUTRA MEDIDA ADEQUADA." TRATA-SE DE DISPOSITIVO NUMERUS CLAUSUS, CUJA INTERPRETAÇÃO DEVE SER RESTRITIVA. ORA, NO CASO CONCRETO O ATO INFRACIONAL EM ANÁLISE NÃO FOI COMETIDO MEDIANTE GRAVE AMEAÇA OU VIOLÊNCIA À PESSOA, NÃO SE FEZ PRESENTE REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE INFRAÇÕES GRAVES OU DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DE MSE ANTERIORMENTE APLICADA. SABE-SE QUE O ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRAFICO POR SI SÓ NÃO AUTORIZA A APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO QUANDO AUSENTE A VIOLÊNCIA OU A GRAVE AMEAÇA, QUE NÃO É A HIPÓTESE DOS AUTOS. PRECEDENTES DESTA CÔRTE E DO E. STJ., POR TAIS RAZÕES ENTENDO ESTAR CONFIGURADO O CONSTRANGIMENTO ILEGAL NA HIPÓTESE DOS AUTOS, RAZÃO PELA QUAL SE IMPÕEM CONHECER DO PRESENTE HABEAS CORPUS, PARA NO MÉRITO CONCEDER A ORDEM PARA DECLARAR A ILEGALIDADE DO CUMPRIMENTO DA MEDIDA SÓCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO POR AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL, DECRETANDO-SE A NULIDADE DA R. SENTENÇA, DEVENDO O ADOLESCENTE AGUARDAR EM SEMILIBERDADE, ATÉ QUE OUTRA DECISÃO SEJA PROFERIDA.

0006052-13.2011.8.19.0037 - APELAÇÃO 1ª Ementa. DES. PAULO RANGEL - Julgamento: 14/02/2012 - TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

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APELAÇÃO. ECA. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. INTERNAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. IMPÕE-SE A APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA EM SUBSTITUIÇÃO À INTERNAÇÃO. Autoria e materialidade do tráfico de drogas comprovadas. Absolvição por insuficiência de provas. Improcedência. Prova pujante, depoimentos consistentes e harmônicos prestados pelos policiais responsáveis pela apreensão e condução da menor, restando a versão ofertada pela Apelante inconsistente e fantasiosa. Medida socioeducativa de internação. Reforma indiscutível. Art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Respeito ao princípio da legalidade estrita. É claro o inciso I, do art. 122, do ECA, ao limitar a sua aplicação em caso de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa. Taxatividade. Regra restritiva de direito que deve ser interpretada restritivamente segundo princípio comezinho de hermenêutica. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. A gravidade da infração, ainda que equiparada a crime hediondo, não é motivo para a imposição da medida de internação. CONHEÇO DO RECURSO E DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, para negar a pretensão absolutória por insuficiência de provas, impondo-se à Apelante medida socioeducativa de semiliberdade em substituição à internação.

0008202-74.2010.8.19.0045 - APELAÇÃO 1ª Ementa. DES. ANTONIO CARLOS AMADO - Julgamento: 27/09/2011 - SEXTA CÂMARA CRIMINAL APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. Recurso. Efeito devolutivo e suspensivo. Nos processos da Infância e da Juventude, o recurso deve ser recebido somente no efeito devolutivo, sendo-lhe conferido efeito suspensivo excepcionalmente, em caso de possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação (artigo 198, inciso VI, do ECA), o que não ocorre no caso em tela. Recurso defensivo postulando a improcedência da representação por ausência de provas ou, alternativamente aplicação de outra medida socioeducativa, por ser incabível a internação. Improcedência da Representação. Incabimento. Depoimentos dos policiais harmônicos, coerentes e concisos, capazes de robustecer prova acusatória. Depoimentos das demais testemunhas imprecisos e frágeis. Representado que fugiu correndo, juntamente com o comprador, assim que avistou os policiais, sendo encontrada em sua residência sacos vazios de sacolés e próximo à janela de sua residência, do lado de fora, duas pedras de crack. Internação. A gravidade do ato infracional equiparado ao tráfico de entorpecente, por si só, não autoriza a aplicação da medida socioeducativa de internação. Primariedade. Não há qualquer indicação de aplicação anterior de medida socioeducativa, inexistindo, portanto, reiteração no cometimento de outras infrações graves ou descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. Ressalte-se que a reiteração capaz de ensejar a incidência da medida socioeducativa de internação, a teor do inciso II do art. 122 do ECA, só ocorre quando praticados, no mínimo, três atos infracionais graves. Precedentes do STF e do STJ. Recurso provido parcialmente para aplicar ao adolescente a medida socioeducativa de semiliberdade. Unânime.

0039672-98.2010.8.19.0021 - APELAÇÃO 1ª Ementa. DES. ANTONIO CARLOS AMADO - Julgamento: 02/08/2011 - SEXTA CÂMARA CRIMINAL. TRAFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. DESCABIMENTO PRIMARIEDADE. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDA DE SEMILIBERDADE. APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AOS CRIMES DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E

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COLABORAÇÃO COM O TRÁFICO. MEDIDA SÓCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. Recurso defensivo postulando a aplicação da medida de semiliberdade. Cabimento. A gravidade do ato infracional equiparado ao tráfico de entorpecente, por si só, não autoriza a aplicação da medida socioeducativa de internação elencada no art. 122 do ECA. Primariedade. Não há qualquer indicação de aplicação anterior de medida socioeducativa, inexistindo, portanto, reiteração no cometimento de outras infrações graves ou descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. Ressalte-se que a reiteração capaz de ensejar a incidência da medida socioeducativa de internação, a teor do inciso II do art. 122 do ECA, só ocorre quando praticados, no mínimo, três atos infracionais graves. Precedentes do STF e do STJ. Recurso provido para aplicar aos adolescentes a medida socioeducativa de semiliberdade. Unânime. Ementário: 24/2011 - N. 13 – 16/11/2011. Precedente Citados: STF HC 93900/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 10/03/2009. STJ HC10570/SP, Rel. Min. Gilcon Dipp, julgado em18/11/1999 e HC 134534/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 13/08/2009.

0026063-77.2011.8.19.0000 - HABEAS CORPUS 1ª Ementa. DES. SUIMEI MEIRA CAVALIERI - Julgamento: 26/07/2011 - TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL. Habeas Corpus. Estatuto da Criança e do Adolescente. Ato infracional análogo ao crime de tráfico de entorpecentes. Aplicação de medida socioeducativa de internação. Adolescente primário. Impossibilidade face ao entendimento predominante das Cortes Superiores, reconhecendo a enumeração taxativa do artigo 122, da Lei nº 8.069/90. Ausência de grave ameaça ou violência à pessoa, de reiteração no cometimento de infrações graves, bem como de descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta. Constrangimento ilegal evidenciado. Concessão parcial da ordem.

Diversos julgados nesse sentido podem ser citados. Cabe salientar que há

diferença entre reincidência e reiteração, sendo aquela a realização de novo ato

infracional após o trânsito em julgado da decisão anterior. Com relação à reiteração

pode-se extrair a ideia de suposição de prática de pelo menos três condutas (CALIL,

2012).

De acordo com o entendimento sumulado pelo STF – Supremo Tribunal

Federal, a opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui

motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido,

segundo a pena aplicada (Súmula n.º 718 do STF).

A cultura de internação faz com que pouco se discuta e menos se pense

sobre a necessidade ou não dessa medida. É lamentável que adolescentes sejam

segregados sem um processo eficaz de recuperação, o que fatalmente culminará na

reincidência, até atingirem a maioridade e caírem no falido sistema carcerário

(SOARES, J. J., 1998:244 apud FERREIRA, 2012).

O STJ – Superior Tribunal de Justiça, registrou a súmula n.º 492 dispondo que

o ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz

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obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do

adolescente.

Segundo CALIL (2012):

A medida socioeducativa de internação deve ser aplicada somente em caso excepcionais, ou seja, como última alternativa, não devendo ser aplicada nos casos de cometimento de atos infracionais análogos ao que preceituam os artigos 33 e 35 do Código Penal Brasileiro (...) Para muitos, o não cabimento da medida socioeducativa de Internação para adolescentes que cometeram ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, significa uma verdadeira impunidade. Tais pensamentos são infundados visto que primeiramente não há punição para adolescentes que cometem atos infracionais e sim responsabilização e tal responsabilização não precisa ser somente aplicada via medida de internação. Existem outras medidas mais cabíveis e principalmente verificar a necessidade de direcionamento de políticas públicas voltadas para a classe social que mais se envolve no tráfico de drogas, que é a classe baixa (CALIL, 2012).

Diante do exposto, resta dizer que a decisão de privar a liberdade de

adolescentes envolvidos com o tráfico de entorpecentes não é, nem de longe, a

solução do problema, que antes de ser legal é social, além de ser de uma

impropriedade técnica que salta os olhos da hermenêutica jurídica. Concluindo-se

pois, que é equivocada a relativização das hipóteses legalmente para a medida de

internação (FERREIRA, 2012).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de toda exposição, constatou-se que os direitos da criança e do

adolescente começaram a ser respeitados com a promulgação do ECA, dispondo

sobre a atenção integral. Certo dizer, que os direitos deste público infanto – juvenil,

foram conquistados no decorrer dos anos através do Código de Menores de 1927 e

o posterior Código de Menores de 1979, bem como, com o surgimento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, garantindo a este público

normas constitucionais.

Infelizmente a teoria se diferencia na prática, as crianças e os adolescentes

tiveram tem os seus direitos e deveres garantidos no ordenamento jurídico, porém

nossos tribunais têm seguido um caminho contrário na aplicação das medidas

socioeducativas.

Tratando-se a internação de uma medida extrema e excepcional, sendo

somente aplicada nas hipóteses previstas do artigo 122 do ECA – grave ameaça ou

violência a pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações graves e por

descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta, nota-se

que as autoridades judiciárias devem evitar a sua aplicação, quando não prevista

essas hipóteses legais para internação, devendo buscar uma medida mais branda e

adequada ao caso.

Extrai-se das jurisprudências colacionadas ao trabalho, que o tráfico de

drogas, não possui a violência ou grave ameaça à pessoa, sendo, portanto,

juridicamente impossível a aplicação da medida socioeducativa de internação, a não

ser se houver reiteração.

Ainda assim, assevera Juarez Cirino dos Santos (2001:13) que:

O reconhecimento da ação criminógena (...) exige redefinição do conceito de reincidência criminal, levando em conta os efeitos deformadores da prisão (e do processo de criminalização) sobre o condenado: se os efeitos criminógenos da prisão são reconhecidos, então a ineficácia da prevenção especial reduz a execução penal ao terror retributivo. E a questão é esta: se a pena criminal não tem eficácia preventiva - mas ao contrário, possui eficácia invertida pela ação criminógena exercida - então a reincidência criminal não pode ser considerada circunstância agravante.

Observa-se pelas autoridades judiciárias, o desejo de “limpar” a sociedade

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afastando o problema – o adolescente em conflito com a lei é considerado o

problema. Ao não atacar as verdadeiras causas da existência do tráfico, o problema

dos adolescentes e sua vinculação a este mercado ilícito não terá fim. O

recrutamento deste público infanto – juvenil continuará, frente ao trabalho do tráfico

de drogas, propiciando mais e mais oportunidades de trabalho a estes –

aviõezinhos.

Além disso, afirma BARATTA (2002:23):

O Direito Penal tende a privilegiar os interesses das classes dominantes, e a imunizar do processo de criminalização comportamentos socialmente danosos típicos dos indivíduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente à existência de acumulação capitalista, e tende a dirigir o processo de criminalização, principalmente, para formas de desvios típicos das classes subalternas (BARATTA, 2002:23).

Certo dizer, que o Poder Judiciário deveria conhecer melhor os problemas,

que estes adolescentes vem enfrentando, debatendo com a sociedade como

encontrar saídas/soluções, em vez de simplesmente não atender as normas

jurídicas, fazendo com que os adolescentes voltem às ruas para continuar

delinquindo até atingirem a maioridade, e ser postos num sistema carcerário falido.

A iniciativa das autoridades judiciárias de internar um adolescente, que não

esteja enquadrado nas hipóteses previstas no artigo 122 do ECA, provoca a

superlotação nas unidades de internação – Fundação Casa, e convenhamos, uma

unidade com superlotação faz com que os recursos sejam escassos,

impossibilitando a educação dos adolescentes autores de atos infracionais.

Por isso, parte da literatura diz, quando um indivíduo é exposto em prisões

saem piores do que entraram.

Sanções privativas de liberdade do adolescente têm eficácia invertida, produzindo estigmatização, prisionalização e maior criminalidade, e estão em contradição com o conhecimento científico e com o princípio constitucional de dignidade da pessoa humana (SANTOS, 2001:12).

No decorrer do trabalho, vimos que existem outras medidas socioeducativas

mais brandas – advertência, LA, PSC e a semiliberdade, e que bem executadas,

podem trazer resultados satisfatórios na recuperação daqueles adolescentes. Seria

interessante ainda, que as autoridades judiciárias aplicassem a medida imposta no

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artigo 101, inciso VI, do ECA, incluindo o adolescente em programa oficial ou

comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos.

Insta em dizer que, não pairam dúvidas de que embora seja grave e

lamentável a inserção do adolescente no tráfico de drogas, não é internação, a

medida socioeducativa que acabará com tal prática, tão pouco alcançará a

ressocialização/reeducação tão esperada, mesmo porque, como dito anteriormente,

a medida socioeducativa de internação deve ser aplicada caso haja reiteração de

ato infracional.

Conclui-se, portanto, que a aplicação da medida socioeducativa de

internação, aos adolescentes autores de atos infracionais, por um lado é ilegal se

não houver a reiteração, por outro lado é paliativo – diminuição do problema, e

muitas das vezes cruel, não tendo o condão de resolver o problema, tão pouco

diminuir o tráfico de drogas.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Maria da Graça Blaya e org. A violência da sociedade contemporânea. 2010. Disponível em: http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/violencia.pdf. Acessado em 09/03/2014 às 16h25min.

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ANEXOS

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