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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO NIVALDA GEORGINA SILVA PERCEPÇÃO DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO ACERCA DO ESTRESSE OCUPACIONAL E SEUS FATORES DE RISCO MACEIÓ - AL 2014

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

NIVALDA GEORGINA SILVA

PERCEPÇÃO DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO ACERCA DO ESTRESSE OCUPACIONAL E SEUS FATORES DE

RISCO

MACEIÓ - AL

2014

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NIVALDA GEORGINA SILVA

PERCEPÇÃO DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO ACERCA DO ESTRESSE OCUPACIONAL E SEUS FATORES DE RISCO

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva

MACEIÓ - AL

2014

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NIVALDA GEORGINA SILVA

PERCEPÇÃO DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO ACERCA DO ESTRESSE OCUPACIONAL E SEUS FATORES DE RISCO

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

APROVADO EM ____/____/____

________________________________________________________

PROF MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA

ORIENTADOR

_______________________________________________________

PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

BANCA EXAMINADORA

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DEDICATÓRIA

Dedico a Deus por permitir todas minhas vitórias;

Ao meu pai, Benedito e meu filho Gabriel, que são minhas fontes de inspirações;

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AGRADECIMENTOS

A Deus, à minha família, em especial, às minhas irmãs, Izabel e Creuza, meu irmão

Claudenir que seguram todas as minhas barras na minha ausência, que são meus

portos seguros

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“Eu quero paz, sim, mas somente o suficiente para manter-me equilibrado. O estresse desafia e constrói um novo ser, desde que o foco esteja na solução!”

Carlos Roberto Sabbi

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RESUMO

Neste estudo, em que o tema centraliza-se acerca do estresse e mais especificamente, os fatores que levam ao estresse ocupacional que acometem profissionais, mostra-se que os motoristas de ônibus coletivos estão entre os trabalhadores mais vitimizados pelos problemas causados pelos estímulos estressores. O objetivo geral do estudo foi identificar o estresse em motoristas de transporte coletivo urbano, a partir da percepção desses profissionais sobre este problema. Para atingir este objetivo, o estudo foi realizado mediante a abordagem de profissionais de um Terminal da cidade de São Luís-Ma, quando, entre as questões dirigidas aos motoristas, tiveram aquelas acerca da percepção sobre o tema exposto a partir de informações sobre comportamento, sentimentos, horas de trabalho, estado emocional e outros fatores que podem está relacionados ao estresse. Os resultados da pesquisa não foram conclusivos no sentido de destacar níveis elevados de estresse entre os motoristas. Percebeu-se que existe uma certa tranqüilidade dos participantes em relação tema, que não se encontra, principalmente, entre a maioria, eventos que possam sugerir intervenções no sentido de avaliação da situação de estresse dos mesmos. Não foi encontrada, entre os motoristas, associações agravantes entre seu trabalho e o estresse, embora, se for levar em conta a minoria, onde se enquadra aqueles com carga horária entre 10 e mais de 12 horas diárias, percebeu-se, em algumas respostas, um grau já de exaustão e uma sintomatologia para o estresse, seja na ocorrência de alterações de humor, irritabilidade, seja na sensação de satisfação ao sair do trabalho, como se estivesse se livrando, por algumas horas, de carga pesada em suas vidas. Porém, de uma forma geral, pode-se constatar, no estudo, que os motoristas do Terminal pesquisado parecem ter uma rotina de trabalho relativamente tranqüila, sem apontamentos para eventos graves nas quais o estresse aparece de forma a exigir um acompanhamento profissional adequado e, até mesmo, a necessidade de medicalização ou terapias complementares. Palavras-chave: Estresse; motoristas; rotina de trabalho.

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ABSTRACT

In this study , in which the theme is centered about stress and more specifically , the factors that lead to occupational stress affecting professionals , shows that the collective bus drivers are among the most victimized workers for problems caused by stressful stimuli . The general objective of the study was to identify the drivers of stress in urban transportation , from the perception of professionals on this issue . To achieve this goal , the study was conducted by a professional approach Terminal in São Luis - Ma , when , among the questions addressed to drivers , were those regarding the perception of the subject exposed from information on behavior, feelings , working hours , emotional state and other factors that may are related to stress. The survey results were inconclusive in the sense of highlighting high levels of stress among drivers . It was noticed that there is a certain tranquility of participants regarding theme , which is not primarily between the majority of events that may suggest interventions to evaluate the situation the same stress . Was not found among drivers , aggravating associations between their work and stress , though , if taking into account the minority , which fits those with load between 10 and more than 12 hours , it was noted in some responses , have a degree of exhaustion and symptoms to stress, is the occurrence of mood swings, irritability, is the sense of satisfaction out of the work, as if ridding for a few hours , the heavy burden on their lives . However, in general , it can be observed in the study that drivers Terminal studied seem to have a relatively quiet routine work without notes for events in which major stress appears to require professional monitoring proper and even the need medication or complementary therapies . Keywords : Stress; drivers ; work routine .

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 – Regularidade das Refeições Diárias ..................................................... 31

Gráfico 02 – Hora de sono sufucuebte para o descanso .......................................... 32

Gráfico 03 – Percepção sobre tranquilidade no trabalho .......................................... 33

Gráfico 04 – Momentos dedicados ao lazer .............................................................. 34

Gráfico 05 – Indisposição ao dirigir ........................................................................... 34

Gráfico 06 – Irritabilidade ao dirigir ............................................................................ 35

Gráfico 07 – Fatores que o aborrecem no trabalho ................................................... 36

Gráfico 08 – Comportamento diante do cansaço ou indisposição............................. 37

Gráfico 09 – Carga horária de trabalho ..................................................................... 37

Gráfico 10 – Participação em acidentes de trânsito .................................................. 38

Gráfico 11 – Fatores externos atrapalham sua atenção ............................................ 39

Gráfico 12 – Bom humor fora do trabalho ................................................................. 39

Gráfico 13 – Como se sentem ao sair do trabalho .................................................... 40

Gráfico 14 – Definem-se como pessoas estressadas ............................................... 41

Gráfico 15 – Preocupação com o estresse ............................................................... 42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Perfil dos Participantes .......................................................................... 30

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 14

2.1 O Homem e sua Percepção na Atualidade ..................................................... 14

2.2 Estresse: Aspectos Conceituais ...................................................................... 18

2.3 Estresse Ocupacional ....................................................................................... 21

2.4 O Estresse Ocupacional e os Motoristas de Transporte Coletivo ................ 25

3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 28

3.1 Ética .................................................................................................................... 28

3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 28

3.3 Universo ............................................................................................................. 28

3.4 Sujeitos da Amostra .......................................................................................... 28

3.5 Instrumentos de Coleta de Dados ................................................................... 29

3.6 Plano para Coleta dos Dados .......................................................................... 29

3.7 Plano para a Análise dos Dados ..................................................................... 29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 44

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46

APÊNDICE ................................................................................................................ 49

ANEXO ..................................................................................................................... 51

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1 INTRODUÇÃO

A situação de motoristas de transportes urbanos coletivos, pressupõe-se,

não é acompanhada sempre de muita tranqüilidade, principalmente, quando este

trabalho se desenvolve em capitais, naquelas linhas mais concorridas, em terminais

geralmente lotados de pessoas esperando o momento para pegar o ônibus de volta

à casa, para o trabalho, resolver algum problema etc.

O que se tem daí, sempre numa percepção hipotética, já que ao longo do

estudo é que essas afirmações serão verificadas com maior atenção, é uma

situação na qual os conflitos devem ser comuns, principalmente quando se enfrenta

passageiros impacientes, irritados, trânsito congestionado, a difícil missão de

concorrer com a imprudência de motoristas de outros veículos, em particular, com

motociclistas, quando se faz sempre presente na mídia, os dissabores dessa relação

motociclistas/motoristas.

A profissão de motorista de ônibus coletivo urbano, quando analisada em

relação à saúde ocupacional desses profissionais, apresenta alguns estressores que

parecem já constituírem parte natural desse trabalho e, como resultado disso, o que

seriam apenas situações eventuais de estresse transforma-se em um problema

neurológico sério que determina, também, a predisposição para conseqüências mais

sérias, além do psicológico, de forma a afetar a saúde física, além da incidência de

uso de substâncias para um suposto relaxamento.

O estresse de um modo geral vem sendo consideravelmente estudado

por ter um efeito facilitador no desenvolvimento de muitas doenças, propiciar um

prejuízo para a qualidade de vida e a produtividade do ser humano, o que gera uma

grande busca pelas causas e pelos métodos de redução do stress (LIPP;

TANGANELLI, 2002).

O estresse é um problema sério e vem afetando milhões de pessoas no

mundo inteiro, sendo que o estresse ocupacional apresenta índices cada vez

maiores, e, quando relacionado a condutores de veículos, principalmente, aqueles

que atuam no setor de transporte coletivo urbano, que acabam responsáveis,

também, pela vida de várias pessoas, a questão torna-se ainda mais grave.

Esses foram os pressupostos básicos para a compreensão desse tema

como relevante, já que diz respeito a uma questão séria que pode afetar esses

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motoristas e, conseqüentemente, outras pessoas, dadas as reações adversas diante

de situações estressantes.

O objetivo geral deste estudo é identificar o estresse em motoristas de

transporte coletivo urbano, a partir da percepção desses profissionais sobre este

problema. Para atingir este objetivo, o estudo será realizado mediante a abordagem

de profissionais de um Terminal da cidade de São Luís - Ma, quando, entre as

questões dirigidas aos motoristas, terão aquelas acerca da percepção sobre o tema

exposto a partir de informações sobre comportamento, sentimentos, horas de

trabalho, estado emocional e outros fatores que podem está relacionados ao

estresse.

O trabalho em si, não apresenta as condições de diagnosticar estado de

estresse nesses profissionais, já que daí depende, a avaliação profissional, tratando-

se, portanto, de reunir informações que permitam uma avaliação subjetiva da

situação desses motoristas.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O Homem e sua Percepção na Atualidade

Antes de adentrar especificamente no tema relacionado ao foco central da

pesquisa, é interessante fazer uma reflexão acerca das várias mudanças presentes

na vida moderna que vão produzindo efeitos colaterais na percepção de si, por parte

do indivíduo.

Para isso, é interessante conhece os estudos de Le Breton, que tratou

acerca da produção psicofarmacológica de si, quanto este relaciona as práticas de

correção do corpo com a medicalização da vida cotidiana e com a produção

farmacológica de si (MALYSSE, 2000). Ao se discutir sobre a produção

farmacológica de si na atualidade, estudada pelo antropólogo David Le Breton,

especializado nas questões ligadas à corporalidade humana e autor de mais de dez

ensaios relativos ao corpo (MALYSSE, 2000), busca-se compreender o fenômeno

muito presente na atualidade, que diz respeito aos delineamentos da sociedade

tecnológica, em evolução constante e do sentir-se parte dela por conta do indivíduo,

em uma compreensão não só do que faz surgir a necessidade do uso, mas,

também, de uma análise em torno da configuração capitalista nesta produção.

Assim, de acordo com o teórico:

O corpo humano virou um continente explorado pelos cientistas em busca de benefícios. No tempo dos anatomistas, os pesquisadores somente procuravam nomear cada fragmento do corpo, hoje eles tomam posse dele para melhor gerenciar os seus usos econômicos potenciais. A colonização não é mais espacial, ela investe na corporeidade humana (LE BRETON, 1999, p. 117).

Hoje, vivencia-se os grandes avanços tecnológicos, com o

desenvolvimento da informática, tecnociência, tecnobiologias, biociências e tantas

outras, abrindo possibilidades para que cada vez mais novas descobertas surjam a

serem aplicadas no domínio da saúde humana (MARTINS, 2008).

Com isso, permite-se, também, o surgimento de uma diversidade

infindável de aparelhos, alimentos dietéticos, avanços na área da cirurgia plástica,

publicações em todas as áreas, maior quantidade de serviços diversos que,

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supostamente, facilitam a vida do homem e, a fabricação de medicamentos com

propostas de melhorar, tornar o homem mais ativo, mais forte (MARTINS, 2008).

Propaga-se então, com efeito mercadológico, o corpo belo, saudável, a

juventude eterna e tantas outras promessas e, paralelamente, redefine-se a doença,

valores vão sendo mudados, conceitos como feiura, a velhice são reformulados e

novas formas de viver são apresentadas, com normas e estratégias de controle

conduta.

Tem-se, então, diante de tudo isso, uma vida reinventada dentro de

padrões estéticos, comportamentais, sociais e culturais estabelecidos e a sensação

de inadequação daqueles que não conseguem inserir-se nesses modelos de

homens idealizados.

Pode-se perceber no autor abaixo, ao reproduzir um pensamento de

Focault que:

Em todas as sociedades há pessoas que têm comportamentos diferentes de outras, escapando às regras comumente definidas no trabalho, na família, no discurso etc., e que acabam sendo excluídas de diversas maneiras de um domínio a outro, enquanto seus traços singulares não são assimilados numa conduta conhecida. Ao atribuir-se um nome e um papel às anormalidades, essas pessoas se transformam em membros de uma categoria formalmente reconhecida. Entretanto, com o desenvolvimento do campo terapêutico por meio da medicalização do diagnóstico, aumentou o número dos que possuem essa categorização social, a tal ponto que se tornaram exceção as pessoas que não entram em nenhuma categoria terapêutica. Nesse processo a saúde adquiriu, paralelamente à doença, status clínico: ela se tornou ausência de sintomas clínicos. Ou seja, a boa saúde foi associada aos padrões clínicos da normalidade (MARTINS, 2008, p. 333).

Assim, inserem-se dentro desse padrão clínico de normalidade, aquelas

pessoas que se enquadram nessa medicalização. Assim, como os excluídos

socialmente, buscam uma forma de enquadrar-se, no mundo clínico, a inclusão

acontece por meio da interação medicamentosa.

Outro fenômeno recorrente neste mundo moderno é o aspecto do

insuportável que parece permear a vida, dando novas proporções ao sentir. Talvez

pelas mudanças anteriormente citadas, o não enquadramento nelas, o sofrimento e

a frustração tomando forma, busca-se uma ou mais formas de aplacar os

sentimentos angustiantes, numa era em que males como o estresse parecem ser a

grande tônica. E, a busca de amenizar a tristeza da alma, a ansiedade e de tornar o

mundo suportável ou tornar-se suportável para o mundo trazem os refúgios, estando

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entre estes, os psicofármacos, seja de qual tipo for, o importante é que atinja o

anestesiamento do sentir e que traga a superação das frustrações, mesmo que

ilusória ( MARTINS, 2008).

Tem-se nas autoras abaixo, ainda uma justificativa para a proliferação

cada vez maior que se vê, no uso dessas substâncias:

Recorrer ao uso de substâncias entorpecentes também constitui um modo de evitar o contato direto com a realidade do mundo exterior. Esta não deixa de ser uma medida basicamente auto dependente. O sujeito, apenas com o recurso a uma substância intoxicante, afasta de si os infortúnios que provêm tanto do próprio organismo, como do mundo externo, tornando-se, assim, imune àquilo que pode causar-lhe sofrimento (CANABARRO; ALVES. 2009, p.844).

A instauração da produção farmacológica de si pode ser possibilitada a

partir da medicalização do humor do cotidiano. O que se busca, é modificar o poder

do corpo sobre o mundo, aprimorando capacidades sensoriais, superar o cansaço,

adormecer entre outros.

Mas, diante do que se tem apresentado até este momento, existe algo

que precisa ser destacado, porque se referiu a padronização de novos

comportamentos, a mudanças exigidas ao indivíduo e não se pode esquecer da

relação direta de tudo isso com o regime capitalista vigente.

Primeiro é preciso considerar que ciência e capitalismo não se dissociam,

pois, como explica Carvalho (2011, p. 23), “um saber construído a partir da Filosofia

das Luzes e um sistema social e econômico que substituiu as antigas relações

medievais – são os frutos da Modernidade e constituem uma só identidade”.

Além disso, fica difícil imaginar uma ação e não perceber que ela é

norteada por uma ideologia. A ideologia reinante, na sociedade em que se vive, é o

capitalismo e isso pode ser constatado em diversos campos. A manutenção de sua

existência condiciona-se à obrigatoriedade de se criar necessidades de consumo.

O capitalismo precisa criar necessidades de consumo para garantir a sua existência. Atualmente, quase tudo em nossas vidas é dirigido pela lógica de consumo capitalista. O capitalismo cria necessidades para oferecer produtos para supri-las. Um novo alimento, enriquecido com vitamina X, parece ser tudo o que sempre precisamos para nossas carências nutricionais, embora só tenha chegado no mercado ontem. Se antes vivíamos sem ele, agora se torna um artigo de primeira necessidade, mas somente até o surgimento do alimento enriquecido com vitamina X+ (AVELINO, 2006, p. 02).

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Existe, através do discurso da ciência, uma propagação social quanto aos

problemas habituais da existência humana, geradores de angústia, sofrimento e

outros já citados neste estudo, que é a chamada medicalização da vida, aqui já

também, referenciado como medicalização do humor cotidiano, originada de

disfunções bioquímicas que podem ser corrigidos mediante o diagnóstico e a

prescrição médica adequada. É uma espécie de coisificação da existência humana,

promovida pelas ciências biológicas, que acaba tendo um paralelo com essa mesma

coisificação, porém, cuja promoção se dá pelo sistema capitalista.

Vê-se então, uma sintonia do discurso da ciência com o discurso

capitalista, quando se percebe uma relação unidirecional, e, conseqüentemente,

sintomas contemporâneos vêm à tona, e aí começa a se estabelecer o fenômeno de

idealização quando as pessoas são levadas a crer no tudo é possível” , reforçado

pelo sentimento de onipotência característicos dos discursos dominantes.

Mas, na prática, o sujeito começa a perceber que não é bem assim; não

em um mundo real; entretanto, é preciso acreditar neste “tudo é possível” e aparece

então, a drogadição como meio de realizar esse discurso, quando se ameniza a dor

de existir, que, se for fiel aos discursos capitalista e da ciência, essa dor vai ter um

caráter de decepção e decepções precisam ser aplacadas. Desta forma,

A droga e o vício têm a função de transformar o desejo humano em necessidade corporal, isto é, impossibilitado de administrar as frustrações da existência humana, o drogadito opera no campo da necessidade, pois ali o objeto pode se esgotar, propiciando a impressão de satisfação plena, pelo menos até que um novo ciclo inicie-se, em busca de um novo objeto-droga que permita uma nova satisfação – sempre, é claro, provisória (CARVALHO, 2011, p. 44).

Diante de tudo isso, percebe-se que todo esse relacionamento

sistematizado com as coisas do mundo atinge o relacionamento entre as pessoas e

do indivíduo com ele próprio e uma necessidade, gerada por tudo isso, vai se

criando, então, que é a fuga, as relações vão mudando, ficando cada vez mais

transitórias, o indivíduo sente-se perdido e busca os meios de amenizar as lacunas

que ficam.

E esses acabam sendo, também, fatores geradores de estresse, que

também pode levar à medicalização, havendo, inclusive, casos em que o indivíduo

acaba realizando auto-medicalização, apenas baseado em informações de leigos.

Mas, este é um tema que exige uma abordagem mais específica, não sendo,

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portanto, assunto para este estudo, constando apenas como uma observação

pertinente.

2.2 Estresse: Aspectos Conceituais

O estresse nunca esteve tão presente na vida do ser humano, como nas

últimas décadas, e, muito mais que isso, nunca se falou tanto acerca do estresse,

sendo tema recorrente em discussões, e isso não somente no centro de

especialidades médicas e psicológicas.

Isso porque, principalmente, entre os leigos, o estresse transformou-se

em uma espécie de explicação para diversos fatores, de forma que não é raro ouvir

pessoas pontuando o estresse como sinônimo de mau humor, cansaço, nervosismo,

agitação entre outros, problemas bem associados a rotina sobrecarregada que a

modernidade impõe.

Assim, estresse faz parte do bate papo entre amigos sendo tratado como

algo que está exterior ao indivíduo, ou seja, é sempre relacionado a algo que está

fora, a pressão, a culpa, sendo comumente apontado um fator externo e outra

abordagem entre leigos, diz respeito a discutir seus efeitos, físicos ou psicológicos.

São discussões que relacionam o estresse apenas em seu lago negativo, algo que

obrigatoriamente deve ser superado, que é uma experiência ruim pelas quais as

pessoas não deveriam passar.

Deve-se, no entanto, ressaltar, antes de repassar para a base teórica na

qual se vai ter um aprofundamento maior acerca das definições, que o estresse não

é exclusivamente, uma experiência negativa ou algo que não haja condições de ser

administrado, sendo, na realidade, garantia de sobrevivência para muitas espécies,

já sua função inicial pode ser vital, em alguns casos.

O problema, no entanto, reside, não somente na intensidade com que os

fatores estressantes se apresentam, mas, em quando estes se tornam contínuos,

não permitindo o retorno à calma, isto é, não possibilitando ao indivíduo, voltar ao

estado de equilíbrio anterior.

São esses fatores que tornam o estresse uma patologia, levando a

situações negativas ao desenvolvimento.

McEwen e Lasley (2003) vêem o estresse como a chance de mobilização

do ser em direção ao seu bem estar. Assim:

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A função do estresse não é causar doença. Para ele é possível preservar a saúde em crise, o estresse: É um sistema poderoso, uma resiliência dinâmica que aguça nossa atenção e mobiliza nossos corpos para lidar com situações ameaçadoras, e depois retorna à linha de base, geralmente sem efeitos desfavoráveis. O sistema de reação ao estresse somente começa a causar doença quando ele é descarrilado ou dominado (McEWEN; LASLEY, 2003, p.18).

Tem-se, atualmente, o estresse sendo apresentado como algo

relacionado à modernidade, o que tem gerado a atribuição deste como a “doença do

século”, sendo cada dia mais freqüente, o que tem despertado um maior interesse

em realizar estudos e dar mais atenção ao estresse nos últimos anos,

principalmente, a partir do momento em que passou a ser um fator relacionado a

doenças e desordens emocionais que podem causar vários danos à saúde do

indivíduo e a sua qualidade de vida.

É daí que se explica porque a dominação estresse acaba tendo uma

relação tão direta com sofrimento na percepção dos indivíduos, sendo, ainda, usada

amplamente não apenas em estudos e pesquisas científicas, mas, pela mídia e

entre leigos, na linguagem popular. No que diz respeito ao universo científico, há

uma diversidade de denominações atribuídas ao estresse, relacionadas aos

aspectos biológico, psicológico, social, ambiental etc.

O estresse tem uma intrínseca relação com a capacidade de adaptação e

mudança do ser humano. A partir desse princípio consensual entre muitos

estudiosos, formam-se várias definições para o estresse e quanto a isto, ainda

existem muitas discussões acerca de uma definição precisa.

Para Moal (2007) apud Faro e Pereira (2013) o que se tem observado, é

que parece que se tem configurado uma tarefa neutra, sem significados mais

expressivos, para se chegar a uma definição simples deste fenômeno. Santos

(2010) atribui essa imprecisão nos conceitos, ao fato que, mesmo já tendo sido

estabelecida a aceitação científica do estresse, muitos estudos ainda se dedicam as

suas várias facetas, fazendo com que se prolifere as mais diversas concepções.

Isso não significa, no entanto, ignorar a importância da evolução

conceitual do estresse, a partir das principais contribuições que foram fundamentais

para compreender melhor este fenômeno.

Myers (1999), destacando o fato de apresentarmos diferenças na maneira

como avaliamos as inúmeras situações capazes de acionar a reação de estresse,

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aponta as catástrofes, as mudanças significativas na vida e os problemas do

cotidiano como os fatores estressantes que mais são alvos de pesquisa,

identificando que entre estes fatores, há um aspecto psicológico comum, que é o

sentimento de perda do controle sobre a vida.

Pode-se caracterizar o estresse, de alguma forma, de uma maneira

subjetiva, relativizando-o, já que faz parte da forma como avaliamos e reagimos aos

eventos o sentimento de estresse. Assim, um evento que deixa uma pessoa

estressada não vai necessariamente, sendo o mesmo evento, ter a mesma reação

por outra pessoa. Por exemplo, existem pessoas que encaram situações novas que

precisam ser resolvidas, como um problema terrível, manifestando logo seu

estresse, já outra pode enfrentar a mesma situação como uma forma de crescer e

mostrar que pode superar obstáculos, ou seja, os desafios funcionam para esta

última pessoa, como estímulo.

Algo bem comum em relação ao estresse relacionado ao que se afirma

acima, é a confusão que se pode fazer em torno dos sintomas, sendo bastante

complexo, já que existem os sintomas físicos que se assemelham a patologias, que,

somente após exames laboratoriais, descartados os problemas patológicos é que o

indivíduo acaba descobrindo que o que imaginava ser uma doença física, é

resultado do estresse que acaba atingindo vários aspectos da vida funcional e

emocional.

Daí ser complicado apresentar uma definição precisa para o estresse,

embora, como já se afirmou, existem algumas concepções bem fundamentadas, que

devem ser levadas em conta.

Analisando o estresse sob o ponto de vista fisiológico, Pereira e Zille

(2010, p. 419) apresentam que “o estresse é responsável por provocar nos

indivíduos alterações de modo a preparar o organismo para enfrentar e/ou superar

as fontes de pressão excessivas as quais está submetido”. Os autores ainda

complementam que:

Quando não há um equilíbrio do organismo em relação às pressões psíquicas do meio e a estrutura psíquica do individuo, instala-se um quadro de estresse. O sistema nervoso e o sistema endócrino são de fundamental importância na mediação desse processo, pois realizam a integração e coordenação entre os diversos órgãos e sistemas do corpo humano (PEREIRA; ZILLE, 2010, p. 419-420).

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É importante, também, uma visão do estresse como fenômeno

psicossocial, que acaba incidindo diretamente sobre o funcionamento neurológico e

fisiológico, ou seja, são aqueles casos nos quais o estado de estresse pode afetar a

integridade física e/ou mental da pessoa.

Na literatura, encontra-se, por exemplo, em Samulski (2009), que na

sociedade atual, o homem moderno tem vivido sob a pressão das exigências da vida

cotidiana, expondo-o, cada vez mais, ao aumento de demandas de estresse e tendo

menores possibilidades de recuperação.

Carlotto e Câmara (2007), analisando a conseqüência disso, trazem que

como resultado pode-se ter o desenvolvimento de síndromes como o burnolt, que é

um fenômeno psicossocial que emerge de uma resposta crônica dos estressores

interpessoais que ocorrem em situações principalmente ocupacionais, tema a ser

tratado a seguir, ao discorrer sobre o estresse ocupacional.

2.3 Estresse Ocupacional

Somente na década de 70, do século XX, é que tiveram início os estudos

sobre o estresse ocupacional, dando margem para que, a partir daí, surgissem

novas pesquisas na área, que vêm sendo realizadas até hoje,

Este tipo de estresse tem sido campo de debate, principalmente, pela

Medicina Preventiva e Promoção de Saúde. É um problema que se configura em

casos em que o individuo tem uma percepção de seu ambiente de trabalho como

algo ameaçador, prejudicando seu bem estar físico e emocional, interferindo, ainda,

em suas relações interpessoais.

Sardá Jr et al (2004) analisam sobre as doenças ocupacionais, que estas

trazem custos e danos tanto para as organizações quanto para os trabalhadores,

quando não se tem o desenvolvimento de um ambiente de trabalho adequado, que

conduz ao bem estar.

Para Reinhold (1985), o estresse ocupacional configura-se como um

estado desagradável que é conseqüência de aspectos do trabalho considerados

pelo indivíduo, como danosos à auto estima e ao seu bem estar. Existem ambientes

que acabam favorecendo o contato com fatores estressantes, como o excesso de

atividades, jornadas longa de trabalho, pressões, insegurança em relação ao

emprego, levando ao adoecimento e absenteísmo.

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Segundo Figueroa apud Sardá (2004, p. 38):

Os elementos percebidos na situação de trabalho podem agir como estressores e podem conduzir a reações de tensão e estresse. Se os estressores (por exemplo: ambigüidade de funções, conflito de funções, incerteza com respeito ao futuro no trabalho)persistirem, e se os indivíduos perceberem sua potencialidade de confrontação como insuficiente, então poderão produzir-se reações de estresse psicológicas,físicas e de conduta, e desta maneira, levar eventualmente à doença e ao absenteísmo.

O autor Chiavenato (1999) é um dos que defende a idéia do quanto o

próprio ambiente pode gerar o estresse, e cita os fatores desencadeadores, como o

autoritarismo do chefe, a desconfiança, as pressões e cobranças, o cumprimento do

horário de trabalho, a monotonia e a rotina de certas tarefas, a falta de perspectiva e

de progresso profissional e a insatisfação pessoal como um todo, relacionado por

ele, como os principais provocadores de estresse no trabalho.

Não se pode deixar de ressaltar sempre que o estresse em si, não se

constitui uma doença, ou um distúrbio auto definido por suas características físicas e

psicológicas, tratando-se de um elemento que predispõe ao surgimento de

diferentes formas de adoecimento (TAMAYO, 2004).

Assim, pode-se ver algumas manifestações do estresse por meio de

sintomas, como: dores de cabeça, palpitações, reações alérgicas, dores lombares,

insônia, indigestão, aumento do apetite, suor, gagueira, dificuldades de

concentração, agressividade, irritabilidade, passividade, ansiedade, dificuldade na

tomada de decisões, sensação de fracasso, hiperatividade, medo, depressão, sinais

de cansaço, perturbação, angústia, pigarro, aceleração do batimento cardíaco, perda

de memória, hipertensão (DIAS; SILVA, 2002).

É por esta razão que, em muitos casos, pessoas que estão com um nível

de estresse elevado, acabam, antes, acreditando estarem acometidas por alguma

doença séria, principalmente, quando esses sintomas agem conjuntamente. O que

acontece, no entanto, é que o estresse pode ser considerado como a quebra de

equilíbrio entre o físico e o emocional, sendo que este segundo parece agir sobre o

primeiro de forma a desencadear essa série de sintomas.

É indiscutível o papel do trabalho na vida das pessoas, sendo um dos

fatores determinantes para a construção da identidade do indivíduo e instrumento de

inserção social. Atribui-se, ainda, o trabalho à dignidade, à cidadania, as pessoas

que vivem sob um clima ocupacional, sentem-se úteis, ativas, participantes.

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Mas, sabe-se que com a competitividade do mercado atual exige-se

cada vez mais do trabalhador. Os requisitos estabelecidos pelas empresas são cada

vez mais rigorosos e, existem aqueles explícitos, como também os implícitos, como

é o caso das jornadas extras, algumas vezes, noturnas, fazendo com que o

trabalhador viva cada vez mais em função da empresa que trabalha.

Psicologicamente, não podemos tocar ou visualizar o clima

organizacional, mas podemos perceber a sua presença de uma forma agradável ou

desagradável pelos integrantes da corporação. O clima torna-se agradável quando

os participantes transmitem satisfações pessoais elevando a sua moral, sendo

desfavorável quando encontra obstáculos para obter sua necessidade. O clima e

visto de varias formas, tendo pessoas mais sensíveis que outras, quando sabemos

que umas visualizam como positivas e outras como negativas.

Nesse contexto de mudanças e transformações culturais crescentes, as

atitudes, os vínculos e a noção de responsabilidade e comprometimento do

profissional com a cultura e com o clima organizacional se mostram relevantes para

que essas mudanças aconteçam de forma satisfatória e produtiva, já que qualquer

mudança na organização passa necessariamente pela corresponsabilidade,

comprometimento, envolvimento e integração de indivíduos e grupos.

Gazzotti e Vasques-Menezes (1999) explicam que a fragilidade emocional

se dá na falta dos suportes afetivo e social e o reflexo dessa situação não fica

limitado à vida privada, estendendo-se para o campo das relações de trabalho. O

trabalhador, ao perceber esgotadas as alternativas que lhe permitam compartilhar

suas dificuldades, anseios e preocupações, tem sua tensão emocional aumentada,

o que pode levar ao surgimento da síndrome de burnout e/ou do estresse

ocupacional.

É importante salientar que burnout e estresse ocupacional são

relacionados porém, não significam a mesma coisa. O primeiro resulta de um longo

processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse, sendo que

este último aparece como seu determinante, mas, não são eventos coincidentes

(RABIN et al, 1999). Isso por burnout não se dá somente como resultado do

estresse em si, ( embora este pode ser inevitável em profissões assistenciais)

acordo com Farber apud Roazzi et al (2000), mas, resulta, também, do estresse não

moderado, que não tem possibilidade de solução.

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Embora compartilhem duas características - esgotamento emocional e

escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional se distinguem pelo

fator despersonalização, quando alguns estudos têm mostrado que burnout como

um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional. (ROAZZI et al, 2000).

Todo esse processo relacionado ao estresse ocupacional tem a ver com

vários fatores, entre eles, o processo de gestão, como ele é configurado no

ambiente de trabalho e, sobretudo, o cuidado com a qualidade de vida do

trabalhador.

Foi por meio da promulgação da Constituição da República Federativa do

Brasil, em 1988, que a saúde tornou-se "um direito de todos e um dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas". O texto da Carta Magna

determina que "as ações e serviços de saúde integram um rede regionalizada e

hierarquizada e constituem um sistema único" e que "ao Sistema Único de Saúde

compete executar as ações de saúde do trabalhador".

Pouco tempo depois da promulgação da Constituição Federal, em 1990, a

Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90), em seu artigo 6º, parágrafo 3º,

regulamentou os dispositivos constitucionais sobre Saúde do Trabalhador como,

considerando que deve existir um conjunto de atividades destinado, através das

ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, a promover e proteger a

saúde dos trabalhadores, trazendo norteamentos para a recuperação e reabilitação

da saúde dos trabalhadores expostos aos riscos e agravos advindos das condições

de trabalho.

A insatisfação do trabalhador pode afetar não só a produtividade do

trabalho, mas, traz riscos à saúde, como estresse, angústia, depressão,

principalmente, considerando os aspectos individuais de cada um, suas vivências

fora do trabalho, por exemplo.

Um dos aspectos básicos dessa questão é apresentado por Fiorelli (2000,

p.140), ao apontar que:

A pessoa traz à organização sua „bagagem psicológica‟, conhecimentos, características, preconceitos, experiências anteriores. A visão do mundo que desenvolveu acompanha-a no teatro organizacional, onde representará seus papéis.

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Assim, é preciso olhar a pessoa, o ser humano que está por trás da

função que ocupa. As organizações parecem esquecer o elemento fundamental de

funcionamento, que é o colaborador, o indivíduo que compõe a equipe de trabalho.

Quando se afirma sobre esquecimento, o que se está querendo mostrar é

que o funcionário, como apontou a citação anterior, é um ser que não chega à

empresa como uma página em branco que vai ser preenchida conforme as

necessidades da organização ou do gestor. Ele é uma pessoa que vai chegar à

empresa com seus medos, alegrias, preconceitos, qualidades, defeitos, e,

sobretudo, problemas. E esses devem ser trabalhados, afinal de contas, o que se

deseja, senão, funcionários dedicados, motivados, de bem com a vida, que imprima

valores positivos ao local de trabalho?

É preciso que as organizações tenham um olhar mais atento à qualidade

de vida no trabalho, tendo a promoção desta como estratégia até mesmo para uma

maior produtividade, já que a baixa qualidade de vida do trabalhador acaba gerando

impactos perceptíveis no funcionamento da empresa como um todo, além dos

índices elevados de rotatividade além dos custos altos de assistência médica.

Assim, investir na qualidade de vida dos funcionários é também, investir na

qualidade da própria empresa.

2.4 O Estresse Ocupacional e os Motoristas de Transporte Coletivo

Sabe-se que muitas categorias profissionais vivem expostas a riscos

iminentes no que diz respeito à saúde, os chamados riscos ocupacionais. Entre

essas categorias, tem-se o motorista de transporte coletivo urbano, cujos problemas

de saúde são oriundos, muitas vezes, do excesso de trabalho e da baixa qualidade

de vida, considerando sono, alimentação, poluição, estresse em um tráfego intenso,

pouco contato com o ambiente familiar, enfim, é uma profissão que apresenta uma

sobrecarga muitas vezes, sub-humana.

Existem doenças específicas às quais esta categoria é exposta, como

doenças cardiovasculares, perdas auditivas, doenças musculoesqueléticas,

problemas com o sono, perdas auditivas, refluxo gastroesofágico, estresse e

hipertensão arterial. Entre os males que afetam esses profissionais, originados das

condições de trabalho, os citados acima são os mais recorrentes.

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Em pesquisa sobre vários estudos relacionados ao estresse ocupacional,

a profissão de motorista de ônibus urbano destaca-se entre a mais estressante

(BATTISTON, et al., 2006).

Trata-se de um profissão que enfrenta vários desafios, em um conflito,

como explica Gardell et al, (1982) entre três fontes de pressão que são: conseguir

cumprir os horários das escalas de trabalho, mesmo com todas as dificuldades que

isso exige; dirigir com segurança e, por último, atender bem aos passageiros. E,

como explicam os autores, conseguir êxito em tudo isso e ainda enfrentar o

impotência de saber que tem pouco controle quanto ao ambiente interno.

Kompier (1996), considera complicado priorizar as três demandas sem

deixar nenhuma de lado. O cumprimento das escalas de horário já anula a atenção

que devida a todos os usuários, já que, muitas vezes, vê-se impossibilidade de

esperar alguém que vem correndo para pegar o ônibus ou, se espera, não cumpre a

escala, terá dificuldades de cumprir todos os horários e terá quase nenhum intervalo

para descansar.

O resultado isso, em alguns casos, é outro problema comum, que é

desrespeito às normas de segurança, indo além da velocidade permitida. Kompier

(1996) alerta que não importa a alternativa que o motorista adote, pois, nenhuma

delas será suficiente para resolver a questão das demandas conflitantes. Isso se

transforma, então, numa importante fonte de estresse, pois, por mais que achem

que têm autonomia dentro do seu ônibus, sua posição é extremamente limitada.

Souza (1996) ao discorrer acerca da função de motorista de ônibus, relata

que se trata de uma profissão cuja atuação exige responsabilidade com manobras

complexas, atenção no trabalho de embarque e desembarque de passageiros,

acrescentando ainda, o desafio de conviver com as perturbações por questões

ambientais, como barulho e poluição.

Em sua pesquisa sobre o tema, Souza (1996) constatou que as situações

de maior incômodo estavam relacionadas aos prejuízos financeiros por ter que

assumir despesas por multas de trânsito, peças quebradas do ônibus e consertos

resultantes de acidentes ou colisões com ônibus.

De acordo com constatações feitas por Tavares (2010, p. 36):

Trabalhar como motorista de ônibus urbano implica em estar sujeito a inúmeras fontes de pressão e a condições de trabalho desgastantes e até precárias em alguns casos. Estes fatores geram uma alta carga de trabalho

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mental e física, que predispõe os motoristas a inúmeras conseqüências físicas, psicológicas e sociais como fadiga, estresse, doenças e prejuízos para a vida em família e para a prática de atividades de lazer. Além disso, outras conseqüências do exercício profissional sob condições tão adversas são o aumento do absenteísmo, aposentadorias precoces e risco maior de se envolverem em acidentes de trânsito.

Deve-se ressaltar que os motoristas enfrentam fatores de incômodo que

os deixam irritados, como As perturbações no trânsito, por exemplo, porém, fatores

isolados, que até apresentam características estressoras, não determinam a

presença do estresse.

O que se está querendo afirmar é que não é um estímulo estressor que

vai levar a um estado de estresse, enquanto problema ser cuidado clinicamente, até

porque tudo vai está relacionado com a interpretação dada aos eventos, e isso já foi

até citado, e essa interpretação passa, por exemplo, pela estratégia de

enfrentamento, que caracteriza a forma pelo qual o sujeito reage ao estímulo

estressor, e, nesse aspecto, tem-se a influência de fatores pessoais, situacionais e

recursos disponíveis. Ou seja, existe todo um quadro de vulnerabilidade ou não, que

vai ser responsável pelo estresse como fenômeno preocupante ou como desafio

comum da profissão, isso dependente da característica de cada individuo sob vários

aspectos.

Por esta razão, a pesquisa que será apresentada a seguir, vai enfocar

algumas situações e se poderá perceber, a partir de algumas respostas, que em

situações semelhantes, indivíduos reagem de forma diferente.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Ética

Toda a pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução N° 196/96, do

Conselho Nacional de Saúde (CNS) - Ministério da Saúde (MS), que aborda as

pesquisas envolvendo seres humanos, na qual incorpora, sob a percepção do

indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da Bioética: autonomia,

não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e

deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao

Estado (BRASIL, 1996).

A participação dos entrevistados foi de forma voluntária, quando se procurou

não causar danos, desconfortos ou constrangimentos, levado em conta os princípios

estabelecidos na Resolução citada, no momento da coleta e após esta, respeitados

também os princípios de privacidade e confiabilidade.

3.2 Tipo de Pesquisa

Trata-se de um estudo de caráter descritivo-exploratório com abordagem

qualitativa.

3.3 Universo

Foi usado como universo da pesquisa no Terminal da Integração da Praia

Grande, que é o maior terminal de integração da capital, com 59 linhas. O terminal

fica na capital de São Luís- Ma, que, de acordo com o IBGE, tem hoje, 1.027.429

habitantes, sendo a capital nordestina com o maior crescimento populacional nos

últimos dez anos.

3.4 Sujeitos da Amostra

O estudo teve como população, motoristas de ônibus coletivo urbano, do

Terminal da Integração da Praia Grande, da cidade de São Luís, cuja abordagem foi

realizada no próprio Terminal. A pesquisa foi realizada com uma amostra de 25

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deles, considerando a disponibilidade para participarem e, também, estarem

dispostos a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

3.5 Instrumentos de Coleta de Dados

A pesquisa foi realizada através de um questionário semi estruturado,

contendo perguntas objetivas acerca do tema, tendo sido realizada em dias

alternados, nos meses de junho e julho de 2013.

3.6 Plano para Coleta dos Dados

As informações foram coletadas através da aplicação do questionário,

deixando esclarecido o anonimato do sujeito e o desígnio de desistir de participar da

pesquisa

3.7 Plano para a Análise dos Dados

A análise de dados aconteceu mediante demonstração dos resultados em

tabela e gráficos, com auxilio da planilha EXCEL, sendo feita, ainda, a análise

textual.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o início foram abordados com os 25 participantes, questões relacionadas

ao seu perfil pessoal e profissional, como se pode observar na Tabela 01.

Tabela 01 – Perfil dos Participantes

Características Número

Idade

20 -30 04

31 -40 07

41 – 50 08

51 - 60 03

Mais de 60 03

TOTAL 25

Tempo de atuação na profissão

Entre 01 e 05 anos 07

Entre 06 e 10 anos 06

Entre 11 e 20 anos 03

Entre 21 e 30 anos 06

Mais de 30 anos 09

TOTAL 25

Estado Civil

Casado (ou amasiado) 12

Solteiro 10

Viúvo -

Separado 03

TOTAL 25

Turno de trabalho

Diurno 16

Noturno 06

Depende da escala (ora noturno, ora diurno ) 03

TOTAL 25

Carga horária diária de trabalho

04 horas 03

08 horas 18

10 horas 02

12 horas 02

Mais de 12 horas 01

TOTAL 25

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Verifica-se que os participantes, em sua maioria, têm entre 41 e 50 anos,

seguidos daqueles também em número expressivo, na faixa etária entre 31 e 40

anos. Os participantes em menor número, são aqueles com idade entre 51 e 60

anos e com mais de 60 anos.

Em relação ao tempo de atuação na profissão, a maioria já tem mais de

30 anos neste ofício, sendo, portanto, a maior parte de veteranos; mas, em seguida,

tem-se aqueles com menos tempo de trabalho, entre 01 e 05 anos. Em menor

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número estão aqueles que têm entre 11 e 20 anos de profissão. Quanto ao estado

civil, a maioria em casada, sendo 12, dos 25 participantes, tendo 10 solteiros,

nenhum viúvo e 03 separados. A grande maioria trabalha durante o dia, e poucos,

apenas 03, têm escala flexível, trabalhando ora um turno, ora outro. Em relação à

carga horária de trabalho, a maioria trabalha 08 horas diárias, o restante se divide

entre 04, 10 e 12 horas diárias e apenas um trabalha mais de 12 horas por dia.

Nesta primeira impressão sobre os participantes, observa-se que

apresentam um perfil regular no que se refere à faixa etária, a uma carga horária

que não é sobrecarregada, ao turno de trabalho, levando em consideração as

características da maioria.

Em relação à situação ocupacional dos motoristas, no que se refere ao

seu cotidiano, eles primeiramente foram questionados quanto à regularidade de

suas refeições diárias. O questionamento foi se eles consideram que realizam suas

refeições diárias em horários regulares, obtendo-se os resultados demonstrados no

gráfico 01.

Gráfico 01 – Regularidade das Refeições Diárias

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

As respostas obtidas trazem uma realidade na qual, neste aspecto, a

regularidade das refeições é algo que é possível para a maioria dos participantes

(72%), sendo que 20% afirma que apenas raramente tem condições de fazer suas

refeições diárias de forma regular e 08%, que não tem condições nenhuma.

São dados que corroboram com uma pesquisa realizada em Fortaleza-

CE, com 133 motoristas de ônibus coletivo, onde se traz como resultado que a

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maioria, realizava três refeições diárias, sendo a maior parte em horários regulares

(ROCHA et al, 2009).

Vale, porém, ressaltar que é importante, também, que, não só os horários

das refeições, mas, também, sua qualidade, é que determinam um estado nutricional

adequado, considerando-se que há um grande número de motoristas com excesso

de peso ou até mesmo obesidade mórbida, que não têm tomado os devidos

cuidados, realizando a maior parte de suas alimentações, em lanchonetes, nesses

quiosques muito comuns em terminais de ônibus, geralmente, ingerindo frituras e

outros produtos responsáveis como fatores de risco para uma série de doenças.

Outra questão relevante em relação aos fatores preponderantes para o

estresse, diz respeito às horas de sono, e, assim, foi perguntado aos motoristas se

eles consideram que dormem o tempo necessário para o seu descanso, Gráfico 02.

Gráfico 02 – Hora de sono sufucuebte para o descanso

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís- MA.. 2013.

Entre as condições fisiológicas responsáveis por vaiáveis atividade de

dirigir, é citada por Battiston et al (2006), a qualidade e as horas de sono. No caso

dos participantes da pesquisa, verifica-se que a maioria deles, ou seja, 68%, afirma

que as horas de sono têm sido suficientes para o descanso, enquanto 24% afirmam

que isso só acontece raramente e 08%, que não dorme suficientemente para

descansar.

Esta é uma questão que pode variar a partir da carga de trabalho de cada

um; existem motoristas que se sobrecarregam ou que pegam rotas mais complexas

e movimentadas, aumentando o cansaço e, muitas vezes, tendo pouco tempo supri-

lo, enquanto dorme.

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A questão da tranqüilidade no trabalho é essencial para a qualidade do

mesmo, por isso, foi perguntado aos entrevistados, se eles consideram seu cotidiano

de trabalho tranqüilo. Conforme os resultados, pode-se constatar no gráfico 03 sobre

a percepção dos motoristas em relação a este aspecto:

Gráfico 03 – Percepção sobre tranquilidade no trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

É grande o percentual de motoristas, entre os participantes da pesquisa,

que consideram ter tranqüilidade no trabalho, sendo que 20% deles apontarem que

esta tranqüilidade acontece em momentos raros e 12%, que o seu trabalho não é

tranqüilo.

A tranqüilidade no trabalho é um fator preponderante para a prevenção de

comportamentos agressivos, principalmente, em uma profissão na qual o indivíduo

se depara com um público diverso, situações de trabalho complicadas, trânsito

agitado etc.

As condições penosas refletirão no tratamento rude aos passageiros, na

direção agressiva e na depreciação do trabalho, práticas que diminuem a qualidade

e aumentam o custo deste serviço (SOUSA, 2005). Além disso, afetam a saúde do

motorista, aumentando a predisposição para os riscos ocupacionais.

No gráfico 04 encontram-se os resultados referentes à pergunta aos

participantes, se eles costumam reservar momentos para o lazer, durante suas

horas livres de trabalho:

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Gráfico 04 – Momentos dedicados ao lazer

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Apenas 12% dos participantes afirmam que só raramente dedicam horas

ao lazer e 08% afirma não fazer isso de forma nenhuma, sendo que, a grande

maioria, 80%, mostra que suas horas livres são dedicadas, também, ao lazer.

Vilela (2002) realizou uma pesquisa com 300 motoristas na cidade de

Campo Grande –MS, cuja abordagem foi o estresse que afeita motoristas de ônibus

coletivo urbano. Em seus achados, o autor constatou que entre os sintomas gerais

para o nível de estresse, dessa categoria, estava a dificuldade para o lazer.

A falta de horas para o lazer pode ser ocorrência do fato que, no Brasil,

existe a lógica da sobrevivência, que acaba levando muitos trabalhadores a abrirem

mãos de bens vitais como tempo para si, para família, para o lazer, temendo uma

competitividade cada vez mais injusta e acirrada presente no mercado atual.

Uma das questões preocupantes na rotina do motorista de ônibus

coletivo, é a sua saúde, por esta razão, foi perguntado aos motoristas, se eles já

sentiram algum tipo de indisposição enquanto dirigiam, (Gráfico 05).

Gráfico 05 – Indisposição ao dirigir

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

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Uma das características do estresse, é a indisposição que pode se

caracterizar com tonturas, cansaço extremo, desvio de atenção, dificuldade de

concentração etc. Vê-se nas respostas que enquanto 72% afirmam nunca terem

sentido qualquer indisposição ao dirigir, 24% admitem que isso acontece e 4%, que

ocasionalmente, sente indisposição.

Dirigir é uma atividade desgastante, causa cansaço e sua eficácia está

muito associada a fatores ambientais do local de trabalho e à maneira como os

motoristas desenvolvem estratégias de enfrentamento para administrar estes

fatores. As condições de trabalho e de saúde dos motoristas de transporte coletivo

urbano podem ser tidas como origem de distúrbios orgânicos ou psíquicos que

acometem esses profissionais (BATTISTON et al, 2006).

Foi perguntado, em seguida, aos participantes, se eles costumam

irritarem-se enquanto dirigem e os resultados são demonstrados no gráfico 06.

Gráfico 06 – Irritabilidade ao dirigir

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

A irritabilidade do motorista, que acaba sendo originado de vários fatores

apresenta como um forte fator de predisposição para acidentes, além de que,

provoca uma insatisfação no trabalho que pode desencadear problemas mais sérios.

Hart e Cooper (2001) citam algumas suposições básicas que geralmente

se apresentam em estudos abordando estressores ocupacionais e suas

conseqüências, entre elas, a associação do estresse ocupacional com estados

emocionais desagradáveis e aversivos em relação ao trabalho, na qual se pode

considerar a irritabilidade entre estes estados emocionais.

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A irritabilidade do motorista é, geralmente, ocasionado por aborrecimento

que podem ter diversas causas e, assim, foi solicitado aos participantes que

respondessem sobre os fatores que mais os aborrecem no trabalho (Gráfico 07).

Gráfico 07 – Fatores que o aborrecem no trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Dois fatores mostraram-se preponderantes. Com 48%, os motoristas

citaram aspectos que não constavam das alternativas, como questões familiares,

condições de trabalho, problemas financeiros, cansaço etc. Outro fator que

apareceu em um grande número de respostas (40%), foi o trânsito em geral, ou seja,

congestionamentos, lentidão, outros motoristas irresponsáveis etc. com 8%

aparecem as motocicletas, um grande problema sempre citado pela mídia, que é a

ousadia de muitos motociclistas, em suas manobras e, com 4%, aparecem os

pedestres, quando alguns dos motoristas citaram que o grande problema

principalmente é a transgressão dessas pessoas, que não têm paciência para

esperar a sinalização adequada, que não usam a faixa de pedestre etc.

Não é incomum em uma rotina de trabalho, o indivíduo sentir-se cansado

ou indisposto. Portanto, no gráfico 08, tem-se os resultados de qual é o

comportamento do motorista, neste tipo de situação.

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Gráfico 08 – Comportamento diante do cansaço ou indisposição

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

A maioria dos participantes, 52%, afirma nunca ter passado por esse tipo

de situação; mas, um número considerável, 32% admite que opta por procurar trocar

de turno com algum colega e os que trabalham mesmo cansados ou indispostos e

aqueles que pedem dispensa para ir a um médico, totalizam 8%, cada uma das

respostas.

Os resultados apresentados no gráfico 09, referem-se a carga de

trabalho.

Gráfico 09 – Carga horária de trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

A pesquisa mostra que os participantes, em sua maioria, têm uma carga

de horária normal; 32% afirmam ser regular e apenas 4% afirmam ter uma carga de

trabalha excessiva.

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Os dados apresentados acabam sendo positivos, já que, de acordo com

Kompier (1996), motoristas de ônibus coletivo urbano é uma profissão que

representa trabalhar em uma carga horária que os outros não estão trabalhando ou

vice-versa. Esse profissional depara-se, às vezes, com irregularidade das escalas,

que os incomoda e afeta negativamente a vida em família e o lazer.

A pergunta seguinte foi se algum dos participantes já sofreu algum

acidente de trânsito, obtendo-se os seguintes resultados (Gráfico 10).

Gráfico 10 – Participação em acidentes de trânsito

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Nesta resposta, verifica-se que a grande maioria, 84%, nunca esteve

envolvido em acidente de trânsito, e, apenas 16%, já estiveram envolvidos em algum

tipo de acidente.

Sabe-se que a causa de acidentes de trânsito podem ter inúmeros

fatores, podendo ser provocado pelo próprio condutor do veículo, podendo ser vítima

de algum outro condutor ou qualquer outro fator externo, sendo, portanto,

inconclusivo fazer, no caso desta pesquisa, associação com o estresse.

No gráfico 11 tem-se os resultados, quando perguntado aos participantes

se problemas pessoais (em família ou outra situação adversa) atrapalham sua

concentração enquanto dirigem.

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Gráfico 11 – Fatores externos atrapalham sua atenção

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Como na resposta anterior, a maioria (84%) afirma que fatores externos,

como problemas familiares, situações adversas, não atrapalham a sua concentração

enquanto dirigem, enquanto 16% afirmam sentirem-se atingidos por esses fatores.

Este é um dado fortemente direcionado à associação entre o estresse e

acidentes de trânsito, já que, segundo Oliveira (2003), algumas variáveis indicam

que os acidentes de trânsito estão principalmente associados a fatores situacionais,

entre eles, problemas familiares.

Na pergunta seguinte, quis-se saber dos participantes se eles se

consideram pessoas bem humoradas fora do trabalho. E, os resultados são

apresentados no gráfico 12.

Gráfico 12 – Bom humor fora do trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

A maioria afirma sentir-se bem humorado fora do trabalho e 12%, que

nem sempre, sendo que apenas 4% afirma que não tem bom humor fora do

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trabalho. Esta pergunta tem relação direta com a próxima, que definirá como os

participantes se sentem ao sair do trabalho, ver gráfico 13.

Gráfico 13 – Como se sentem ao sair do trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

O trabalho parece não ser motivo de insatisfação para a maioria dos

participantes (88%); apenas 08% afirmam que a satisfação está apenas em ter o

trabalho, porém, atua nesta profissão por falta de outra opção e 4% se sentem

insatisfeitos, se pudessem não iriam ao trabalho. Vê-se, desta forma, que o bom

humor da maioria dos motoristas, registrado na questão anterior, não implica em

afirmar que é um fenômeno relacionado a está fora do horário de trabalho (como

uma sensação de alívio, por exemplo) já que, pelo menos, para a maioria, o trabalho

tem sido motivo de satisfação.

Martinez e Paraguay (2003) explicam sobre essa dimensão da satisfação

no trabalho, que ela está relacionada a uma atividade laboral que seja interessante e

significativa. Assim, deve ser uma atividade que possa conduzir ao sucesso e

produza um sentimento de realização, dando possibilidade de uso de habilidades e

capacidades, propiciando o crescimento pessoal e profissional, envolva certa

variedade de tarefas, exija responsabilidade. É importante que o ambiente

proporcione ausência de conflito de papéis, uma avaliação positiva do desempenho

no trabalho, harmonia e integração interpessoal, ausência de fadiga física e de

monotonia.

Quando o ambiente de trabalho não tem esses aspectos, quando há

insatisfação, falta de motivação, além de questões externas, encontram-se fortes

tendências para a presença de estresse. Esse é um problema que tem uma

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característica peculiar, que é o fato de algumas pessoas terem a tendência a se

auto-definirem como estressadas, independente de uma avaliação profissional.

No gráfico 14 encontram-se as respostas dos participantes, se eles se

consideram pessoas estressada.

Gráfico 14 – Definem-se como pessoas estressadas

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

Percebe-se que mesmo a maioria (64%) afirmando não definir-se como

uma pessoa estressada, 16% afirmam que depende, às vezes, consideram-se sim e

4% assumem serem pessoas estressadas.

Lazarus (1995) explica que o fato de haver a presença de eventos

estressores em determinado contexto ou situação, não significa afirmar que existe

aí,um fenômeno de estresse, já que os fatores cognitivos têm um papel central no

processo que ocorre entre os estímulos potencialmente estressores e as respostas

do indivíduo a eles.

Independente de considerar-se ou não uma pessoa estressada, como a

ocorrência de situações estressoras é comum na vida dos motoristas de transporte

coletivo urbano, quis-se saber dos participantes se eles consideram o estresse uma

situação preocupante, ou seja, se eles têm algum temor em relação a desenvolver

esse tipo de distúrbio neurológico em suas vidas, por conta da profissão e eles

responderam conforme demonstram os resultados no gráfico 15.

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Gráfico 15 – Preocupação com o estresse

Fonte: Dados da Pesquisa no Terminal da Integração da Praia Grande em São Luís - MA. 2013.

A maioria (48%) diz não ter nenhuma preocupação com o estresse,

porém, 36% afirmam ter essa preocupação e 16% consideram-se imune a isso.

Entre aqueles que não têm preocupação e os que se consideram imunes ao

estresse, tem um problema preocupante, que é a necessidade que se vê de maior

informação acerca do estresse. Claro que a pessoa não pode viver constantemente

numa aflição sobre se o trabalho está ou não os deixando estressados, mas, é

preciso saber que o estresse é algo real, que tanto pode ser impulsionador de

reações de adaptações positivas como pode ser o caminho para uma série de outros

problemas que podem se agravar cada vez mais.

Esta pesquisa é inconclusiva no sentido de destacar níveis elevados de

estresse entre os motoristas. Percebeu-se que existe uma certa tranqüilidade dos

participantes em relação tema, que não se encontra, principalmente, entre a maioria,

eventos que possam sugerir intervenções no sentido de avaliação da situação de

estresse dos mesmos.

Não foi encontrada, entre os motoristas, associações agravantes entre

seu trabalho e o estresse, embora, se for levar em conta a minoria, onde se

enquadra aqueles com carga horária entre 10 e mais de 12 horas diárias, percebeu-

se, em algumas respostas, um grau já de exaustão e uma sintomatologia para o

estresse, seja na ocorrência de alterações de humor, irritabilidade, seja na sensação

de satisfação ao sair do trabalho, como se estivesse se livrando, por algumas horas,

de carga pesada em suas vidas.

Porém, de uma forma geral, pode-se constatar, no estudo, que os

motoristas do Terminal pesquisado parecem ter uma rotina de trabalho relativamente

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tranqüila, sem apontamentos para eventos graves nas quais o estresse aparece de

forma a exigir um acompanhamento profissional adequado e, até mesmo, a

necessidade de medicalização ou terapias complementares.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns distúrbios neurológicos têm sido identificados como males do

século XXI, entre eles, o estresse. O cuidado em sempre buscar investigações que

tratem deste assunto, principalmente no que diz respeito aos riscos ocupacionais, se

faz necessário, evitando, por exemplo, que as pessoas comecem a recorrer a

formas próprias de aliviar suas tensões, como a ingestão de substâncias como

álcool e, até mesmo, a automedicação, a partir de remédios designados para o

tratamento desses distúrbios, porém, cuja prescrição deve vir especificamente de

profissional habilitado para isso.

Um estudo no qual o desenvolvimento se deu tendo como sujeitos da

pesquisa, motoristas que atuam no maior Terminal de transporte coletivo urbano de

São Luís-MA, pode-se concluir que os resultados demonstram que se trata de uma

capital na qual se pode afirmar não haver grandes problemas que tragam riscos

ocupacionais, em particular o estresse, para os seus motoristas, levando em

consideração, a maioria das respostas elencadas durante a pesquisa.

Durante a análise dos resultados, ressalte-se que outras abordagens

seriam necessárias para um estudo mais conclusivo, considerando que motoristas

com uma longa experiência no trabalho talvez necessitassem de investigações mais

aprofundadas nas quais se pudesse contemplar também, condições de trabalho, no

que diz respeito à gestão, ao clima organizacional, questões salariais e outros

fatores que poderiam enriquecer o trabalho desenvolvido.

De qualquer forma, considera-se válida a pesquisa, até mesmo como

estímulo para trabalhos futuros e, principalmente, porque este possibilitou, a partir,

também, de sua fundamentação teórica, compreender mais sobre o estresse e,

principalmente, o estresse ocupacional.

Vive-se em um tempo em que parece haver uma necessidade de

exigência de humanização nos diversos setores da vida e, entre eles, o setor do

trabalho. Mais do que nunca discursos, projetos, seminários apontam para essa

nova tendência mundial, que aponta para um cuidado maior com o outro, e faz com

que as organizações comecem a despertar para esse olhar atento aos seus

colaboradores.

E o estabelecimento de uma relação saudável entre organização e

trabalhador é mais do que pertinente em uma sociedade cuja história vem enraizada

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em discursos de exploração do trabalho e outras injustiças pelas quais passaram e

ainda passam muitos trabalhadores. Por isso, é importante a compreensão de ver

cada trabalhador e trabalhadora como fundamental para o êxito de uma

organização, e, para que este êxito se dê, é preciso trabalhar com pessoas

satisfeitas, motivadas e estimuladas a fazer sempre o melhor.

Quando o ambiente de trabalho é complexo não por conta das relações

estabelecidas nele, mas, até mesmo pelo trabalho mostrar-se desafiador, uma vez

que se lida com pessoas cujos problemas exigem cuidados especiais, é

imprescindível que os profissionais tenham um clima organizacional bom, motivador

e estimulador para a prestação de serviços eficientes. É preciso ter em mente

sempre que a qualidade dos serviços tem relação direta com a qualidade de vida

dos trabalhadores.

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APÊNDICE

QUESTIONÁRIO APLICADO

1 Perfil dos entrevistados

Idade: Atua a quanto tempo nesta profissão: Estado Civil: Turno de trabalho: Horas de trabalho p/dia:

2 Questões acerca do tema pesquisado:

1 Você considera que realiza suas refeições diárias em horários regulares? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Raramente 2 Você costuma dormir o tempo necessário para o seu descanso? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Raramente 3 Você considera seu cotidiano de trabalho tranquilo? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Raramente 4) Você costuma reservar momentos para o lazer? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Raramente 5) Já sentiu algum tipo de indisposição enquanto dirigia? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Algumas vezes 6 Costuma se irritar facilmente no trânsito? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Raramente 7 O que mais o aborrece enquanto desenvolve seu trabalho? a) ( ) Passageiros b) ( ) Motocicletas c) ( ) Trânsito em geral d) ( ) Pedestres e ) ( ) Outro ________________________________________ 8 Quando se sente cansado ou indisposto, você: a) Procurar trocar de turno com algum colega b) Pede dispensa no trabalho para ir a um médico c) Trabalho mesmo cansado ou indisposto d) Nunca passou por situação semelhante 9 Você considera sua carga de trabalho: a) Normal b) Excessiva c) Regular

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10 Você já sofreu algum acidente de trânsito? a) Sim b) Não 11 Problemas pessoais (em família ou outra situação adversa) atrapalham sua concentração enquanto dirige? a) ( ) Sim b) Não 12 Fora do trabalho, você se considera uma pessoa bem humorada? a) Sim b) Não c) Nem sempre 13 Ao sair para o trabalho como você se sente? a) Satisfeito b) Aborrecido, se pudesse não iria. c) Satisfeito por ter trabalho, mas, insatisfeito porque gostaria de ter outra opção. 14 Você se definiria como uma pessoa estressada? a) Sim b) Não c) Depende, às vezes, sim. 15 O estresse é uma situação preocupante para você: a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) Considera-se imune a isso.

Obrigada por sua colaboração!

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ANEXO

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