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8.1 INTRODUÇÃO O objetivo da unidade 8 é discutir o patrimônio cultural e seus significados historicamente datados. Nesse sentido, diferentemente do patrimônio individual, de âmbito privado, pode ser mencionado o conceito de patrimônio coletivo, que postula tratar-se de uma decisão coletiva sobre o que se deve preservar e o que não deve ser preservado numa nação, o que integra a noção de pertencimento à coletividade e pode gerar intensos conflitos numa determinada sociedade. É destacada, num segundo momento, a apreensão das práticas da cultura brasileira, no que tange à materialidade e imaterialidade do patrimônio coletivo. Na unidade 8, serão discutidos os seguintes assuntos: » Patrimônio Cultural: Usos e Significados; » Patrimônio Brasileiro: Cultura Material e Imaterial. AULA 8 Patrimônio Cultural Brasileiro Autor: Prof. Dr. Marcelo Flório

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8.1 INTRODUÇÃO

O objetivo da unidade 8 é discutir o patrimônio cultural e seus significados historicamente datados. Nesse sentido, diferentemente do patrimônio individual, de âmbito privado, pode ser mencionado o conceito de patrimônio coletivo, que postula tratar-se de uma decisão coletiva sobre o que se deve preservar e o que não deve ser preservado numa nação, o que integra a noção de pertencimento

à coletividade e pode gerar intensos conflitos numa determinada sociedade. É destacada, num segundo momento, a apreensão das práticas da cultura brasileira, no que tange à materialidade e imaterialidade do patrimônio coletivo.

Na unidade 8, serão discutidos os seguintes assuntos:

» Patrimônio Cultural: Usos e Significados;

» Patrimônio Brasileiro: Cultura Material e Imaterial.

AULA 8Patrimônio Cultural Brasileiro

Autor: Prof. Dr. Marcelo Flório

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Ao final da unidade, espera-se que você seja capaz de:

» Refletir sobre os conceitos de patrimônio cultural, seus usos e significados historicamente datados;

» Compreender o patrimônio brasileiro a partir do binômio: cultura material e cultura imaterial.

8.1 PATRIMÔNIO CULTURAL: USOS E SIGNIFICADOSA palavra patrimônio faz referência a diversos usos no cotidiano vivido. O termo patrimônio pode integrar a dimensão privada e a dimensão coletiva. Do ponto de vista do âmbito privado, podem ser mencionados os bens que são transmitidos para um determinado indivíduo, do ponto de vista material e imaterial: os bens materiais (por exemplo: terras, casas e objetos diversos) e os bens imateriais (o “saber fazer” – a cultura imaterial, como por exemplo: receitas de um bolo, as ideias advindas da ciência e as crenças religiosas escolhidas por cada pessoa). O patrimônio individual é, também, definido quando cada indivíduo escolhe “guardar” consigo bens materiais e/ou imateriais com base em sua própria história de vida (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 109).

Diferentemente do patrimônio individual, de âmbito privado, pode ser mencionado o conceito de patrimônio coletivo, constituído no espaço e âmbito coletivo, que postula tratar-se de uma decisão coletiva sobre o que se deve preservar e o que não deve ser preservado numa nação, o que integra a noção de pertencimento à coletividade e pode gerar intensos conflitos numa determinada sociedade (idem, 2012, p. 109).

A palavra patrimônio é de origem latina: patrimonium. O termo patrimonium era definido pelos antigos romanos, há milênios, como: “direito à herança”. Nessa vertente, tudo o que era de pertencimento paterno, ou seja, a herança paterna era uma propriedade a ser herdada (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 9-10). O termo é originado a partir de uma concepção jurídica e faz referência ao que é transmitido por gerações e está relacionado ao universo privado, aos valores aristocráticos e, portanto, aos valores do patriarcado (idem, 2006, p. 9-10).

Portanto, para a elite patriarcal romana, a palavra patrimônio integrava a noção de herança, que era atribuída aos pais de famílias nobres (a herança via paternidade – a sociedade herdava a herança via patriarcado – o chefe da família). De acordo com Funari e Pelegrini (ibidem, 2006, p.9), sob a propriedade do homem aristocrata estavam: a mulher, os filhos, escravos, bens móveis e imóveis e animais, o que significa dizer que “tudo era patrimonium, tudo o que podia ser legado por testamento, sem excetuar, portanto as pessoas”.

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A Palavra Patrimônio: Dimensão Individual e Coletiva

A palavra patrimônio faz referência a diversos usos no cotidiano vivido. O termo patrimônio pode integrar a dimensão privada e a dimensão coletiva. Do ponto de vista do âmbito privado, podem ser mencionados os bens que são transmitidos para um determinado indivíduo, do ponto de vista material e imaterial: os bens materiais (por exemplo: terras, casas e objetos diversos) e os bens imateriais (o “saber fazer” – a cultura imaterial, como por exemplo: receitas de um bolo, as ideias ad-vindas da ciência e as crenças religiosas escolhidas por cada pessoa). O patrimônio individual é, também, definido quando cada indivíduo escolhe “guardar” consigo bens materiais e/ou imateriais com base em sua própria história de vida (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 109).Diferentemente do patrimônio individual, de âmbito privado, pode ser mencionado o conceito de patrimônio coletivo, constituído no espaço e âmbito coletivo, que postula tratar-se de uma decisão coletiva sobre o que se deve preservar e o que não deve ser preservado numa nação, o que integra a noção de pertencimento à coletividade e pode gerar intensos conflitos numa determinada sociedade.

Referência Bibliográfica:GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012, p. 109.

A característica de patrimônio aristocrático manteve-se, também, no período da Idade Média, acrescida da dimensão religiosa, que era representada pelos patrimônios monumentais da Igreja Católica. Nessa época, então, foi acrescentada à noção de patrimônio, os valores simbólicos e coletivos relacionados aos sentimentos religiosos compartilhados pelo culto aos santos e às relíquias dos objetos e das catedrais (ibidem, 2006, p. 9-10).

Já no período do Renascimento (os valores do antropocentrismo – o homem no centro do universo) foi realizada uma crítica aos valores religiosos atribuídos pela Igreja Católica (os valores do teocentrismo – o deus cristão no centro do universo) ao termo patrimônio da Idade Média (ibidem, 2006, p. 10):

Os homens de então lutaram pelos valores humanos, em substituição ao domínio da religião, e combateram o teocentrismo que prevalecera por longos séculos. Em sua batalha intelectual, mas também prática e política, buscaram inspiração na Antiguidade grega e romana e condenaram seus imediatos antecessores, que teriam vivido um período de trevas, que chamaram de Idade Média, entre a Antiguidade e o Renascimento da glória dos antigos. Idade das Trevas era um termo que exemplificava o tom da reação ao domínio das crenças e da nova valorização da cultura antiga.

No entanto, apesar das críticas aos valores da sociedade medieval, embasada no teocentrismo, é importante observar que no período renascentista a noção de patrimônio, associada à característica aristocrática, ainda era mantida e reforçada. Nesse período, os renascentistas colecionavam objetos e vestígios da Antiguidade. Então, inicia-se um processo de catalogação de objetos antigos, tais como moedas, vasos de cerâmica, estátuas em mármore e metal (ibidem, 2006, p. 10).

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À época da Revolução Francesa, em fins do século XVIII, a noção de patrimônio foi alterada significativamente e esteve atrelada à noção de que o Estado deveria proteger os bens da nobreza, do período do antigo regime. A intenção era a construção de uma referência da França como identidade do povo e de nacionalidade. O conceito de patrimônio contempla, a partir desse momento na França, a noção de que as obras artísticas e os grandes monumentos devem ser preservados, extrapolando a noção de patrimônio como valor privado ou religioso, de modo instituir a noção de bens materiais de uma nação como um todo (ibidem, 2006, p. 12-14).

Nessa dimensão, a nova noção de patrimônio passa a ser fundamental para a constituição de uma cultura nacional e, para tanto, foi preciso que os bens materiais (tais como esculturas, monumentos e objetos do cotidiano vivido da elite) fossem concebidos como representativos do patrimônio de um povo. Então, para a consolidação de uma cultura nacional era necessária que a nação preservasse seus mais importantes bens materiais:

A Revolução Francesa destruiu os fundamentos do antigo regime (monarquia), unificando territórios e demarcando um Estado Nacional, cuja primeira tarefa foi inventar os cidadãos. Esse Estado foi constituído a partir de um conjunto de cidadãos que compartilhavam uma língua e uma cultura, um território e uma origem. A invenção da cultura nacional não podia prescindir de bases materiais (estátuas, edificações ou objetos de uso cotidiano), daí a consolidação da ideia de um patrimônio não mais de âmbito privado ou religioso, mas de todo um povo, com uma língua, origem e território comuns.

É, portanto, a partir da Revolução Francesa e da criação dos Estados Nacionais, que surge a noção de patrimônio nacional e que persiste até os tempos atuais. Segundo Funari e Pelegrini (2006, p. 14), surge o termo patrimônio nacional como referência pertencente a todo um povo, que tem uma origem e territórios comuns. Durante a Revolução Francesa, em pleno momento histórico de transformações econômico-político-culturais na sociedade europeia, é criada uma comissão que estava encarregada de preservar os monumentos da nação. Porém, a legislação que protegeria o patrimônio nacional francês é de tempos posteriores, a lei de 1887 e, que foi reforçada por uma legislação elaborada no início do século XX, em 1906. Essa legislação tinha como objetivo delimitar os direitos da propriedade privada e os direitos da propriedade da nação (ibidem, 2006, p. 15).

No pós-Segunda Guerra Mundial, com a ampliação da noção de cultura - que contou com a contribuição de áreas como a História, Antropologia e Sociologia, que se colocaram contra as concepções racistas resultantes de movimentos totalitários, como o nazismo e fascismo - surgiram debates que objetivaram repensar o conceito de patrimônio. Nesse contexto histórico foi criada a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura): “A criação da UNESCO é importante nesse contexto, por colocar em relação diferentes culturas, traçar planos e propor investigações sobre o patrimônio que contemplam a diversidade cultural” (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 127).

Nessa época, também foi importante a atuação do antropólogo Claude Lévi-Strauss, pois foi um intelectual de vital importância para o debate sobre cultura ao definir o patrimônio cultural a ser preservado como: “o conjunto das realizações humanas tangíveis (materiais) e intangíveis (imateriais), para além da história da arte de cada país” (idem, 2012, p. 127).

Os debates realizados pelos países orientais também são fundamentais para a ampliação da noção de cultura e de patrimônio estabelecida pela UNESCO na atualidade (ibidem, 2012, p. 127):

Para os povos orientais, objetos não são vistos como depositários da tradição cultural. Mais importante é preservar o saber que produz os objetos, permitindo a vivência da tradição no presente. Por esse motivo, o Japão, por muitos anos, não se sentia contemplado pelos critérios da UNESCO para ter seus bens inscritos como Patrimônio Mundial. Um exemplo é o Santuário D´ise, o templo da deusa

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Amaterasu, ancestral mítica da casa imperial, que é reconstruído de forma idêntica em madeira de cipreste do Japão a cada vinte anos, desde o século VII. A lógica de sua preservação não é o bem físico, mas os modos de fazer e a permanência dos rituais da tradição.

Nessa acepção, o patrimônio cultural é definido como tudo o que expressa o cotidiano vivido de homens e mulheres dos mais diversos territórios geográficos e culturais do planeta. O conceito de patrimônio cultural faz referência à noção de que cultura, de acordo com Funari e Pinsky (2001, p. 8), é: “é tudo aquilo que constitui um bem apropriado pelo homem, com suas características únicas e particulares”. Diante dessa vertente, o termo patrimônio compreende a materialidade e a imaterialidade da cultura:

“(...) a solenidade atribuída ao termo patrimônio sugere que dele façam parte apenas os grandes edifícios ou as grandes obras de arte, mas o patrimônio cultural abrange tudo que constitui parte do engenho humano (...). Dessa forma, podemos e devemos ampliar muito a nossa compreensão do conceito, com todas as implicações decorrentes das epistemológicas às práticas”.

De acordo com a historiadora Rodrigues (2001, p. 16-17), a noção de patrimônio cultural envolve o patrimônio ambiental, de modo a conceber o meio ambiente como produto da ação humana, ou seja, da cultura. Nessa perspectiva, a autora compreende que o patrimônio cultural valoriza a memória das sociedades, a cultura de pessoas anônimas, a partir do entendimento de que o passado e seu conhecimento servem, também, para que o homem perceba, lembre e amplie sua noção de pertencimento a uma determinada cultura. Desse modo, considera que os bens do patrimônio cultural são testemunhos da vida humana:

(...) são testemunhos de experiências vividas, coletivas ou individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver uma percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido do grupo e compõem a identidade coletiva.

O Patrimônio Cultural Segundo o Antropólogo Claude Lévi-Strauss no Contexto do Pós-Segunda Guerra Mundial

No pós-Segunda Guerra Mundial, com a ampliação da noção de cultura - que contou com a contribuição de áreas como a História, Antropolo-gia e Sociologia, que se colocaram contra as concepções racistas que resultaram em movimentos totalitários, como o nazismo e fascismo - surgiram debates que objetivaram repensar o conceito de patrimônio. Nesse contexto histórico foi criada a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Nesse momento, o antropólogo Claude Lévi-Strauss foi um intelectual importante para o debate ao definir o patrimônio cultural a ser preservado “como o conjunto das realizações humanas tangíveis (materiais) e intangíveis (imateriais), para além da história da arte de cada país”.

Referência Bibliográfica:GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012, p. 127

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Portanto, as noções de meio ambiente e cultura são alteradas. Então, nesse viés analítico, a noção de patrimônio cultural consiste em preservar como patrimônio, por exemplo, não apenas as fantasias de carnaval (patrimônio material), mas também as melodias, ritmos e os modos de sambar (patrimônio imaterial). A noção de patrimônio cultural compreende que uma paisagem não é apenas um conjunto de árvores, mas uma apropriação realizada pela cultura humana. Então, ao ser valorizada a noção de diversidade é, ao mesmo tempo, valorizada a noção de patrimônio cultural imaterial (RODRIGUES, 2001, 18-19).

A partir da Convenção Geral da UNESCO, em 1972, foram reconhecidos e atribuídos novos valores ao termo patrimônio, que passaram a valorizar a diversidade de territórios e culturas considerados como patrimônios da humanidade. A referida Conferência Geral aprovou, em 16 de novembro de 1972, a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, considerando o patrimônio do ponto de vista cultural e natural e sua preocupação é, desde então, proteger as “formas pelas quais o homem interage com a natureza e, ao mesmo tempo, a necessidade fundamental de preservar o equilíbrio entre ambos” (UNESCO, 2013).

A Noção de Patrimônio Cultural: Valoriza a Memória das Sociedades e são Testemunhos das Experiências Vividas

De acordo com a historiadora Rodrigues, a noção de patrimônio cultural envolve o patrimônio ambiental, de modo a conceber o meio ambiente como produto da ação humana, ou seja, da cultura. Nessa perspectiva, a autora compreende que o patrimônio cultural valoriza a memória das sociedades, a partir do entendimento de que o passado e seu conhecimento servem, também, para que o homem perceba, lembre e amplie sua noção de pertencimento a uma determinada cul-tura. Desse modo, considera que os bens do patrimônio cultural sejam testemunhos da vida humana:“(...) são testemunhos de experiências vividas, coletivas ou indivi-dualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver uma percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido do grupo e compõem a identidade coletiva”.

Referência Bibliográfica:RODRIGUES, M. Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turis-mo. In: FUNARI, P. P.; PINSKY, J (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2001, p. 13-24.

As disposições da Convenção da UNESCO (2013) partem do pressuposto de que o patrimônio mundial pode compreender todos os povos do mundo, sem que haja prejuízo de soberania ou de propriedades privadas:

Os países reconhecem que os sítios localizados em seu território nacional e inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, sem prejuízo da soberania ou da propriedade nacionais, constituem um patrimônio universal “com cuja proteção a comunidade internacional inteira tem o dever de cooperar”.

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Convenção Geral da Unesco de 1972.

A partir da Convenção Geral da UNESCO, em 1972, foram reconhe-cidos e atribuídos novos valores ao termo patrimônio, que passaram a valorizar a diversidade de territórios e culturas considerados como patrimônios da humanidade. A referida Conferência Geral aprovou, em 16 de novembro de 1972, a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, considerando o patrimônio do ponto de vista cultural e natural e sua preocupação é proteger as “formas pelas quais o homem interage com a natureza e, ao mesmo tempo, a neces-sidade fundamental de preservar o equilíbrio entre ambos”.

Fonte Bibliográfica:UNESCO. REPRESENTAÇÃO DA UNESCO NO BRASIL. Fonte: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/. Acesso em: 11 jun. 2013.

Para que uma determinada nação tenha seus bens culturais e naturais incluídos na lista de Patrimônio Mundial, é necessário que o próprio país recomende à inclusão de um determinado bem na lista. Segundo a UNESCO, há indicações e solicitações a serem compreendidas para que determinados bens culturais e naturais sejam incluídos nessa lista, como também preconiza, que ao assinar a Convenção, “cada país se compromete a conservar não somente os bens do Patrimônio Mundial localizados em seu território como também a proteger o próprio patrimônio nacional” (UNESCO, 2013):

“Os bens culturais devem:

i. representar uma obra-prima do gênio criativo humano, ou

ii. ser a manifestação de um intercâmbio considerável de valores humanos durante um determinado período ou em uma área cultural específica, no desenvolvimento da arquitetura, das artes monumentais, de planejamento urbano ou de paisagismo, ou

iii. aportar um testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização ainda viva ou que tenha desaparecido, ou

iv. ser um exemplo excepcional de um tipo de edifício ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou de paisagem que ilustre uma ou várias etapas significativas da história da humanidade, ou

v. constituir um exemplo excepcional de habitat ou estabelecimento humano tradicional ou do uso da terra, que seja representativo de uma cultura ou de culturas, especialmente as que tenham se tornado vulneráveis por efeitos de mudanças irreversíveis, ou

vi. estar associados diretamente ou tangivelmente a acontecimentos ou tradições vivas, com idéias ou crenças, ou com obras artísticas ou literárias de significado universal excepcional (o Comitê considera que este critério não deve justificar a inscrição na Lista, salvo em circunstâncias excepcionais e na aplicação conjunta com outros critérios culturais ou naturais).

É igualmente importante o critério da autenticidade do sítio e a forma pela qual ele esteja protegido e administrado.

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Os bens naturais devem:

i. ser exemplos excepcionais representativos dos diferentes períodos da história da Terra, incluindo o registro da evolução, dos processos geológicos significativos em curso, do desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos e fisiográficos significativos, ou

ii. ser exemplos excepcionais que representem processos ecológicos e biológicos significativos para a evolução e o desenvolvimento de ecossistemas terrestres, costeiros, marítimos e de água doce e de comunidades de plantas e animais, ou

iii. conter fenômenos naturais extraordinários ou áreas de uma beleza natural e uma importância estética excepcionais, ou

iv. conter os habitats naturais mais importantes e mais representativos para a conservação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles que abrigam espécies ameaçadas que possuam um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação.

Após a inclusão na Lista de Patrimônio da Humanidade, caso um determinado patrimônio mundial apresente riscos de degradação, a UNESCO (2013) após ser comunicada, irá considerar se é um problema grave e se o sítio (o termo “sítio” faz referência à localização do patrimônio cultural) será incluído na Lista de “Patrimônio Mundial em Perigo”:

A conservação do Patrimônio Mundial é um processo contínuo. Incluir um sítio na Lista serve de pouco se posteriormente o sítio se degrada ou se algum projeto de desenvolvimento destrói as qualidades que inicialmente o tornaram apto a ser incluído na relação dos bens do Patrimônio Mundial.

Na prática, os países tomam essa responsabilidade muito seriamente. Pessoas, organizações não-governamentais e outros grupos comunicam ao Comitê do Patrimônio Mundial possíveis perigos para os sítios. Se o alerta se justifica e o problema é suficientemente grave, o sitio será incluído na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo.

8.2 PATRIMÔNIO BRASILEIRO: CULTURAL MATERIAL E IMATERIALCom base em um projeto do intelectual modernista Mário de Andrade, o presidente Getúlio Vargas assinou o decreto-lei n. 25, criando o SHPAN (Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que foi o primeiro órgão federal dedicado à preservação de conjuntos de bens móveis e imóveis, do ponto de vista arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico de fatos memoráveis da História do Brasil (RODRIGUES, 2001, p. 20).

Com base nesses dados, o reconhecimento de um patrimônio histórico se faria pela lei do Tombamento, que implicaria que o tombamento é o ato de preservação pública de um bem material em um dos quatro livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico, histórico, belas-artes das artes aplicadas. A legislação sobre o tombamento faz referência às obras culturais imóveis e móveis até os dias de hoje: “Envolve obras culturais imóveis (núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais) e obras culturais móveis (coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos)” (GIL; ALMEIDA, 2012, p.124).

Sobre a importância da lei do tombamento, Rodrigues afirma que um bem tombado não significa a perda da propriedade, porém a responsabilidade pela conservação e preservação é do proprietário (2001, p. 20):

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O tombamento, principal instrumento jurídico até hoje implantado para impedir a destruição de bens culturais, não implica a perda da propriedade do bem; a responsabilidade de sua conservação continua sendo do proprietário que é proibido de demoli-lo, de descaracterizá-lo ou, quando se trata de um objeto de arte, de retirá-lo dos limites do território nacional, sem prévia aprovação do órgão competente.

A atuação do SPHAN atendia as orientações do documento internacional da Carta de Atenas - A Carta foi um manifesto urbanístico que resultou do IV Congresso Internacional Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em Atenas, em 1933 - que privilegiava a proteção de monumentos de “valor excepcional” para a cultura do país. De acordo com Lemos, a referida Carta, dentre outras recomendações, apontava a importância da prática da restauração do patrimônio histórico e cultural, que pode deixar as marcas das adaptações do tempo presente quando necessárias (2004, p. 78):

A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Ela visa a conservar e a revelar o valor estético e histórico do monumento. Apoia-se no respeito à substância da coisa antiga ou sobre documentos autênticos e deverá deter-se onde começa a conjuntura. Além disso, todo trabalho complementar, verificado indispensável, deverá se destacar da composição arquitetônica e levará a marca do nosso tempo.

A Lei do Tombamento Histórico no Brasil

O reconhecimento de um patrimônio histórico e cultural material se realiza pela lei do Tombamento, que implicaria que o tombamento é o ato de preservação pública de um bem material em um dos quatro livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico, histórico, belas-artes das artes aplicadas. A legislação sobre o tombamento faz referência às obras culturais imóveis e móveis até os dias de hoje: “Envolve obras culturais imóveis (núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais) e obras culturais móveis (coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos)” (GIL; ALMEIDA, 2012, p.124).Sobre a importância da lei do tombamento, Rodrigues afirma que um bem tombado não significa a perda da propriedade, porém a responsa-bilidade pela conservação e preservação é do proprietário (2001, p. 20):“O tombamento, principal instrumento jurídico até hoje implantado para impedir a destruição de bens culturais, não implica a perda da propriedade do bem; a responsabilidade de sua conservação continua sendo do proprietário que é proibido de demoli-lo, de descaracterizá-lo ou, quando se trata de um objeto de arte, de retirá-lo dos limites do território nacional, sem prévia aprovação do órgão competente”.

Referências Bibliográficas: GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012.RODRIGUES, M. Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turis-mo. In: FUNARI, P. P.; PINSKY, J (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2001, p. 13-24.

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Com relação à categoria Patrimônio da Humanidade, a UNESCO reconhece determinados centros históricos brasileiros como patrimônios mundiais. Dentre eles, podem ser citados os seguintes patrimônios: Outro Preto, em 1980; Olinda, em 1982; Salvador, em 1985; São Luís, em 1997; Diamantina, em 1999; o Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1991, a Costa do Descobrimento, em 1999; o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em 1985, O Plano Piloto de Brasília, em 1987 e Reserva de Mata Atlântica de São Paulo e Paraná, em 1999 (RODRIGUES, 2001, p. 23).

É importante observar que em 1970, o órgão federal SPHAN passou a ser denominado de IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O referido Instituto é regido pelo artigo 216 da atual Constituição e abarca em seu conceito a noção de que todas as formas de expressão da cultura brasileira devem ser preservadas e conservadas (IPHAN, 2013):

A criação da Instituição obedece a um princípio normativo, atualmente contemplado pelo artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil, que define patrimônio cultural a partir de suas formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

A partir da publicação do decreto n. 3.551 do ano de 2000, passou a existir no Brasil, uma legislação específica sobre o patrimônio imaterial brasileiro, de modo a instituir na prática o registro do patrimônio intangível e cria, nesse sentido, os Livros de Registro. Com este decreto, são valorizados os bens imateriais da cultura brasileira de diversos grupos, principalmente de tradição oral. São eles (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 126):

1) SABERES

São os conhecimentos e modos de fazer, que estão enraizados no dia-a-dia das comunidades;

2) FORMAS DE EXPRESSÃO

Fazem referências às manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas.

3) CELEBRAÇÕES

Integram os rituais e festividades que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade e de outras práticas da vida social;

4) LUGARES

São os lugares que concentram e reproduzem as práticas culturais das coletividades: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços que tenham esse propósito.

O decreto 3.551/2000 atende às especificações da UNESCO, que define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” Nessa linha de raciocínio, o patrimônio passa a se referir não somente às construções físicas e concretas, mas inclui, também, à proteção das criações que atestam a história de uma determinada sociedade no tempo (idem, 2012, p. 126).

Dentre os bens computados como patrimônios imateriais da cultura brasileira, podem ser citados e exemplificados os seguintes bens e seus respectivos registros no IPHAN (2013):

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1) Ofício das Paneleiras de Goiabeiras

Foi o primeiro bem intangível registrado no país, após o decreto do ano 2000. A prática cultural é realizada em Vitória, no Espírito Santo, e integra o Livro de Registro dos Saberes:

O saber envolvido na fabricação artesanal de panelas de barro foi registrado como Patrimônio Imaterial (...), em 2002. O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo emprega técnicas tradicionais e matérias-primas do meio natural. A panela de barro, fruto de um conjunto de saberes, constitui suporte indispensável para o preparo da típica moqueca capixaba.

2) Ofício das Baianas de Acarajé

É um bem imaterial realizado na cidade de Salvador, na Bahia, e integra, tal como o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, o Livro de Registro dos Saberes, em 2005:

Este bem cultural de natureza imaterial (...), consiste em uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas na cidade de Salvador (...).

3) A Roda de Capoeira

O bem imaterial integra o Livro de Registros Formas de Expressão, em 2008 e faz parte da herança cultural africana no país:

A Roda é um elemento estruturante da capoeira – espaço e tempo, onde se expressam, simultaneamente, o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e os rituais dessa herança africana, recriados no Brasil.

4) Círio de Nossa Senhora de Nazaré

O Círio de Nazaré ocorre em Belém do Pará e passou a integrar o Livro de Registros das Celebrações, em 2004:

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é uma celebração religiosa (...). Os festejos, que envolvem vários rituais de devoção religiosa e expressões culturais, e reúnem devotos, turistas e curiosos de todas as partes do Brasil e de países estrangeiros, constituem um momento anual de reencontro e devoção

5) A Cachoeira de Iauaretê – Lugar Sagrado dos povos indígenas dos Rios Uapê e Papuri.

A Cachoeira de Iauretê integra o Livro de Registros dos Lugares, realizada em 2006, e faz referência aos lugares simbólicos habitados pelos povos indígenas e faz menção à presença da matriz indígena na cultura brasileira:

A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça, corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uapés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação linguística Tukano Oriental, Aruaque e Maku (...).

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Patrimônio Cultural Imaterial (Intangível) Brasileiro

A partir da publicação do decreto n. 3.551 do ano de 2000, passou a existir no Brasil, uma legislação específica sobre o patrimônio imaterial brasileiro, de modo a instituir na prática o registro do patrimônio intan-gível e cria, nesse sentido, os Livros de Registro. Com este decreto, são valorizados os bens imateriais da cultura brasileira, de diversos grupos, principalmente de tradição oral. São eles:

SaberesSão os conhecimentos e modos de fazer, que estão enraizados no dia--a-dia das comunidades;

FORMAS DE EXPRESSÃOFazem referências às manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas.

CelebraçõesIntegram os rituais e festividades que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade e de outras práticas da vida social;

LugaresSão os lugares que concentram e reproduzem as práticas culturais das coletividades: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços que tenham esse propósito.

Referência Bibliográfica:GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012, p. 126.

O Decreto 3.551/2000: Especificações da UNESCO

O decreto 3.551/2000 atende às especificações da UNESCO, que define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comuni-dades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” Nessa linha de raciocínio, o patrimônio passa a se referir não somente às construções físicas e concretas, mas inclui, também, à proteção das criações que atestam a história de uma determinada sociedade no tempo.

Referência Bibliográfica:GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012, p. 126.

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Links de Vídeos do Youtube

Patrimônio Brasileiro Cultural Material e ImaterialLink: http://www.youtube.com/watch?v=X6QWNyM6IHUPatrimônio da HumanidadeLink: http://www.youtube.com/watch?v=NdzJhFrQpwk

Patrimônio Histórico e Artístico Link: http://www.youtube.com/watch?v=Caq03oe2PJM

Pelourinho de Salvador: Patrimônio da HumanidadeLink: http://www.youtube.com/watch?v=I72aa4FGHUo

SÍNTESEDiscutiu-se num primeiro momento que, diferentemente do patrimônio individual, de âmbito privado, pode ser mencionado o conceito de patrimônio coletivo, constituído no espaço e âmbito coletivo, que postula tratar-se de uma decisão coletiva sobre o que se deve preservar e o que não deve ser preservado numa nação, o que integra a noção de pertencimento à coletividade e pode gerar intensos conflitos numa determinada sociedade (idem, 2012, p. 109).

Apesar das críticas aos valores da sociedade medieval, embasada no teocentrismo, é importante observar que no período renascentista a noção de patrimônio, associada à característica aristocrática, ainda era mantida e reforçada. Nesse período, os renascentistas colecionavam objetos e vestígios da Antiguidade. Então, inicia-se um processo de catalogação de objetos antigos, tais como moedas, vasos de cerâmica, estátuas em mármore e metal (ibidem, 2006, p. 10).

À época da Revolução Francesa, em fins do século XVIII, a noção de patrimônio foi alterada significativamente e esteve atrelada à noção de que o Estado deveria proteger os bens da nobreza, do período do antigo regime. A intenção era a construção de uma referência da França como identidade do povo e de nacionalidade. O conceito de patrimônio contempla, a partir desse momento na França, a noção de que as obras artísticas e os grandes monumentos devem ser preservados, extrapolando a noção de patrimônio como valor privado ou religioso, de modo instituir a noção de bens materiais de uma nação como um todo (ibidem, 2006, p. 12-14).

Foi discutido que, no pós-Segunda Guerra Mundial, com a ampliação da noção de cultura - que contou com a contribuição de áreas como a História, Antropologia e Sociologia, que se colocaram contra as concepções racistas resultantes de movimentos totalitários, como o nazismo e fascismo - surgiram debates que objetivaram repensar o conceito de patrimônio. Nesse contexto histórico foi criada a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura): “A criação da UNESCO é importante nesse contexto, por colocar em relação diferentes culturas, traçar planos e propor investigações sobre o patrimônio que contemplam a diversidade cultural” (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 127).

A partir da Convenção Geral da UNESCO, em 1972, foram reconhecidos e atribuídos novos valores ao termo patrimônio, que passaram a valorizar a diversidade de territórios e culturas considerados como patrimônios da humanidade. A referida Conferência Geral aprovou, em 16 de novembro de 1972, a

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Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, considerando o patrimônio do ponto de vista cultural e natural e sua preocupação é, desde então, proteger as “formas pelas quais o homem interage com a natureza e, ao mesmo tempo, a necessidade fundamental de preservar o equilíbrio entre ambos” (UNESCO, 2013).

É importante observar que em 1970, o órgão federal SPHAN passou a ser denominado de IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O referido Instituto é regido pelo artigo 216 da atual Constituição e abarca em seu conceito a noção de que todas as formas de expressão da cultura brasileira devem ser preservadas e conservadas (IPHAN, 2013).

Por fim, discutiu-se na unidade, que, a partir da publicação do decreto n. 3.551 do ano de 2000, passou a existir no Brasil, também, uma legislação específica sobre o patrimônio imaterial brasileiro, de modo a instituir na prática o registro do patrimônio intangível e cria, nesse sentido, os Livros de Registro.

Com este decreto, são valorizados os bens imateriais da cultura brasileira de diversos grupos, principalmente de tradição oral. São eles (GIL; ALMEIDA, 2012, p. 126):

1) SABERES

São os conhecimentos e modos de fazer, que estão enraizados no dia-a-dia das comunidades;

2) FORMAS DE EXPRESSÃO

Fazem referências às manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas.

3) CELEBRAÇÕES

Integram os rituais e festividades que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade e de outras práticas da vida social;

4) LUGARES

São os lugares que concentram e reproduzem as práticas culturais das coletividades: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços que tenham esse propósito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABREU, R.; CHAGAS, M. (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

FUNARI, P. P.; PELEGRINI, S. C. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

FUNARI, P. P.; PINSKY, J. Introdução. In: FUNARI, P. P.; PINSKY, J (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2001, p. 7-11.

GIL, C. Z. de V.; ALMEIDA, D. B. A docência em História: reflexões e propostas para ações. Erechim: Edelbra, 2012.

IPHAN. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Cultura Material. Fonte: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 11 jun. 20013.

IPHAN. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Cultura Imaterial. Fonte: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 11 jun. 2013.

LEMOS, C. A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004.

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RODRIGUES, M. Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turismo. In: FUNARI, P. P.; PINSKY, J (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2001, p. 13-24.

UNESCO. REPRESENTAÇÃO DA UNESCO NO BRASIL. Fonte: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/. Acesso em: 11 jun. 2013.