unidade 10 - sentença e coisa julgada

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Unidade de Ensino Superior Vale Do Iguaçu Direito Processual Civil I. 5º período. 1 Disciplina: Direito Processual Civil II. Professor: Cainã Domit Vieira. 5º período. Unidade 10 – Sentença e Coisa Julgada. 10.1. Sentença. 10.1.1. Elementos essenciais da sentença. A sentença é a decisão judicial pela qual ocorre a extinção do processo – com ou sem resolução de mérito. De acordo com o artigo 489 do Novo Código de Processo Civil, a sentença possui como elementos essenciais: (I) o relatório, com a menção dos nomes das partes; a identificação do caso, um resumo da petição inicial, da contestação e das principais ocorrências do processo; (II) os fundamentos, com a análise dos fatos e do direito; e o (III) dispositivo, com a resolução das questões submetidas ao juiz pelas partes. 10.1.2. Fundamentação: combate ao solipsismo judicial no Novo Código de Processo Civil. Durante a vigência do Código de Processo Civil de 1973, prevalece o livre convencimento do juiz, sem regras específicas com relação à fundamentação das decisões judiciais, implicando em problema consistente na existência de distintas decisões para casos semelhantes em razão de particularidades de alguns magistrados, que decidem conforme sua consciência, ignorando ou relativizando a legislação, o que consiste no protagonismo/solipsismo judicial. Enfrentando o solipsismo judicial constante em decisões proferidas conforme a consciência, vontade ou liberdade do juiz, carentes de explicações detalhadas, de fundamentação que justifique o dispositivo legal ou a caracterização de determinado instituto jurídico, o artigo 489, § 1º, do Novo Código de Processo Civil impõe seis distintas regras para observância do julgador quando da elaboração de uma decisão judicial. O combate ao solipsismo judicial é tema de diversos artigos do jurista Lenio Luiz Streck na sua coluna semanal na ConJur, o “Senso Incomum”, sendo que com as regras que surgiram com o artigo 489 (que constava no Projeto como artigo 487), §1º, do Novo Código de Processo Civil, e especialmente com a polêmica decorrente da discordância de alguns magistrados com o aludido dispositivo, foram expostas críticas precisar por Streck na ConJur. Para melhor abordagem da fundamentação das decisões judiciais, seguem trechos de artigos de Streck, especialmente para compreensão da questão do protagonismo judicial e da tentativa de superação de tal paradigma com o Novo Código: Depois de minha coluna sobre a ponderação e a indicação de veto do aludido parágrafo segundo do artigo 487 (...) do novo Código de Processo Civil, a polêmica invadiu os lares e bares do país todo. Partidários da ponderação ficaram irritadíssimos. E ficaram preocupados no sentido de que, por alguma razão, também poderia ser vetado o parágrafo anterior (parágrafo 1º), o que, concordo, seria o caos (maior ainda).

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Resumo da unidade 10 de Direito Processual Civil II, do 5º período.

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    Direito Processual Civil I. 5 perodo.

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    Disciplina: Direito Processual Civil II. Professor: Cain Domit Vieira. 5 perodo. Unidade 10 Sentena e Coisa Julgada. 10.1. Sentena. 10.1.1. Elementos essenciais da sentena. A sentena a deciso judicial pela qual ocorre a extino do processo com ou sem resoluo de mrito. De acordo com o artigo 489 do Novo Cdigo de Processo Civil, a sentena possui como elementos essenciais: (I) o relatrio, com a meno dos nomes das partes; a identificao do caso, um resumo da petio inicial, da contestao e das principais ocorrncias do processo; (II) os fundamentos, com a anlise dos fatos e do direito; e o (III) dispositivo, com a resoluo das questes submetidas ao juiz pelas partes. 10.1.2. Fundamentao: combate ao solipsismo judicial no Novo Cdigo de Processo

    Civil. Durante a vigncia do Cdigo de Processo Civil de 1973, prevalece o livre convencimento do juiz, sem regras especficas com relao fundamentao das decises judiciais, implicando em problema consistente na existncia de distintas decises para casos semelhantes em razo de particularidades de alguns magistrados, que decidem conforme sua conscincia, ignorando ou relativizando a legislao, o que consiste no protagonismo/solipsismo judicial. Enfrentando o solipsismo judicial constante em decises proferidas conforme a conscincia, vontade ou liberdade do juiz, carentes de explicaes detalhadas, de fundamentao que justifique o dispositivo legal ou a caracterizao de determinado instituto jurdico, o artigo 489, 1, do Novo Cdigo de Processo Civil impe seis distintas regras para observncia do julgador quando da elaborao de uma deciso judicial. O combate ao solipsismo judicial tema de diversos artigos do jurista Lenio Luiz Streck na sua coluna semanal na ConJur, o Senso Incomum, sendo que com as regras que surgiram com o artigo 489 (que constava no Projeto como artigo 487), 1, do Novo Cdigo de Processo Civil, e especialmente com a polmica decorrente da discordncia de alguns magistrados com o aludido dispositivo, foram expostas crticas precisar por Streck na ConJur. Para melhor abordagem da fundamentao das decises judiciais, seguem trechos de artigos de Streck, especialmente para compreenso da questo do protagonismo judicial e da tentativa de superao de tal paradigma com o Novo Cdigo:

    Depois de minha coluna sobre a ponderao e a indicao de veto do aludido pargrafo segundo do artigo 487 (...) do novo Cdigo de Processo Civil, a polmica invadiu os lares e bares do pas todo. Partidrios da ponderao ficaram irritadssimos. E ficaram preocupados no sentido de que, por alguma razo, tambm poderia ser vetado o pargrafo anterior (pargrafo 1), o que, concordo, seria o caos (maior ainda).

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    Quero deixar claro que minha crtica e foi exclusivamente direcionada ao paragrafo segundo do artigo 487, que trata da ponderao. Meu texto muitssimo claro nesse sentido. Mas, para no deixar dvidas, nem de longe tenho qualquer restrio a qualquer outro item ou pargrafo do aludido artigo 487. Alis, um dos melhores dispositivos do novo CPC o pargrafo primeiro (...) Trata-se de um dispositivo que visa a proporcionar s partes um maior controle acerca das decises judiciais. No mundo todo clama-se por maiores controles nas fundamentaes. A Corte Europeia dos Direitos Humanos considera a fundamentao um direito fundamental. O pargrafo primeiro do artigo 487 o corolrio da democracia. Quem quer democracia e respeito pela Constituio, mormente no que tange ao principio de que todo o poder emana do povo e em seu nome ser exercido e a garantia da fundamentao (artigo 93, inciso IX da CF) princpios que devem ser da estima de qualquer governo, especialmente o governo atual, deve lutar pela preservao do paragrafo primeiro. No fundo, a equao a seguinte: enquanto o pargrafo primeiro apresenta mecanismos de controle das decises que devem ter a simpatia de todos aqueles que sentem na pele o problema do decisionismo, o pargrafo segundo (o da ponderao) coloca-se como anttese, na medida em que relativiza tudo o que o paragrafo primeiro garante. Sem o pargrafo primeiro o CPC desaparece, ficando pior que o atual; sem o pargrafo segundo (o da ponderao), o CPC se fortalece e se coloca de forma coerente com outros mecanismos de controle das decises; mas, sem os dois pargrafos, a no tem nem mais CPC. H que ter muita calma nessa hora. Muita gente aproveitando a fumaa para misturar alhos com bugalhos. E, assim, poder dizer que "todos os gatos so pardos". Eu digo que no: h pardos e no pardos! Fazer Direito no Brasil coisa difcil mesmo. Escrever sobre Direito mais difcil ainda. E ser compreendido tarefa herclea. Quase impossvel.1

    Lenio Streck aborda a questo do livre convecimento do juiz, reforando a necessidade de superao do modelo no qual o magistrado figura como protagonista e decide com base em sua conscincia, por meio de interpretaes e deliberaes distantes do esperado, isto , do previsto em lei, implicando em situaes nas quais o judicirio passa a legislar, lesando a harmonia que deve existir entre os trs poderes constitudos nos termos do artigo 2 da Constituio da Repblica, por meio do ativismo judicial. A aludida abordagem do livre convencimento expressa no seguinte trecho de artigo de Lenio Streck:

    Ao fazermos uma anlise mais detida do NCPC, possvel perceber que as bases fundantes do Projeto, antes aliceradas no vetusto e autoritrio modelo social protagonista podem estar se alterando. No livro O Que Isto Decido Conforme Minha Conscincia?, relato uma srie de decises que simbolizam esse socialismo processual tardio e do solipsismo nsito a esse imaginrio. Agora mesmo no Rio de Janeiro um juiz convocado disse na AC 99.02.30246-7, tendo decidido da mesma forma na AC 606.345, que o juiz no est obrigado a responder todas as alegaes das partes, quando j tenha encontrado o motivo suficiente para fundar a deciso, nem se obriga a ater-se aos fundamentos

    1 http://www.conjur.com.br/2015-jan-09/lenio-streck-nem-todos-gatos-sao-pardos-cpc Acesso em 20 de maro de 2015, s 15:34 horas.

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    indicados por elas e tampouco a responder um a um todos os seus argumentos. Nego os embargos! J em So Paulo, um desembargador disse, recentemente: tenho convico e assim decidi. Nada necessito mais dizer. E digo eu: Isso tem de ter fim. Essa minha batalha. Era isso que eu queria com a retirada do LC (livre convencimento motivado ou no, tanto faz, porque o LCM um engodo a-paradigmtico; de que adianta motivar o consequente se deixo livre o antecedente? Qualquer aluno de filosofia sabe (d)isso e destri o LCM em 5 segundos). No mais pode(re)mos tolerar decises como: No estou obrigado a responder a todas as questes articuladas pelas partes. As razes de meu convencimento so suficientemente claras.. Deciso desse jaez dever receber a pecha de nulidade. Simples, pois. Sob pena de o NCPC fracassar! Habemus CPC, mas temos de romper com o velho modelo (grifo no original) Tenho convico de que um dos pontos centrais a favor do novo CPC o abandono do LC. Simbolicamente isso representa o desejo de mudar. Da perspectiva normativa do princpio que exige a fundamentao das decises, o juiz no tem a opo para se convencer por qualquer motivo, uma espcie de discricionariedade em sentido fraco que seja; ele deve explicitar com base em que razes, que devem ser intersubjetivamente sustentveis, ele decidiu desta e no daquela maneira, conforme bem diz Marcelo Cattoni. Realmente, ser correto e decidir de forma imparcial no uma tarefa fcil. Reconhecer esse fenmeno como fez o juiz Fernando Luiz exige coragem. Exige exerccio prtico, senso de dever, capacidade de se adotar uma atitude reflexiva em relao s prprias pr-compreenses, garantia de comparticipao dos destinatrios da deciso no processo deliberativo, aprendizado institucional e debate pblico. O resto desculpa para se fugir de responsabilidades. Fcil dizer, ironicamente, que vai se mudar do Brasil. Eis o dilema deterrae brasilis: o modelo de Juiz Mauricio e o modelo de Juiz Fernando Luis. Ainda bem que o NCPC escolheu o segundo! H um conjunto de magistrados brasileiros que comunga do que aqui digo (no sentido de que o juiz no deve decidir solipsisticamente). Por todos e em homenagem a estes refiro Alexandre Morais da Rosa, Mauricio Ramires, Adalberto Hommerding, Joo Luis Rocha do Nascimento, Nviton Guedes. Vejo inclusive aqui na ConJur juzes apoiando as teses anti-solipsistas, o que alvissareiro. Ser uma grande batalha implementarmos o NCPC. Numa palavra: o que clamam os advogados de todo o Brasil? (grifo no original) Alvssaras, portanto. Se algum me perguntar por que lutei tanto contra o livre convencimento, respondo com as vozes de milhares de advogados, que so surpreendidos diariamente com os livres convencimentos, livres apreciaes e julgamentos conforme as conscincias. Peo que a comunidade jurdica me apoie e me acompanhe nessa cruzada. No quero nada mais do que os juzes julguem de acordo com o direito (em vrias colunas expliquei o conceito). Tenho pnico quando abro livros ou vejo em acrdos coisas como: entre a lei e minha conscincia, fico com a minha conscincia. Ora, uma democracia se faz aplicando o direito e no a convico pessoal de um conjunto de juzes ou tribunais. Lamento informar isso para quem entender o contrrio. No vejam isso como implicncia minha. Compreendem, agora, porque era necessrio mandar para o exlio epistmico o LC? Compreendem o porqu de minha luta? Compreendem o porqu de meu pnico em face ao protagonismo? Se ainda tm dvidas de minha inteno, perguntem aos advogados. Eles sofrem na carne tudo isso cotidianamente. Numa palavra: no h uma frmula mgica para construir um Judicirio democrtico. No h, repito, pensamento mgico. H, sim, muita luta. Que est s iniciando.2

    2 http://www.conjur.com.br/2015-mar-19/senso-incomum-dilema-dois-juizes-diante-fim-livre-convencimento-ncpc Acesso em 20 maro de 2015, s 14:09 horas.

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    especificamente no artigo 489, 1, que o Novo Cdigo impe ao magistrado exigncias para que uma deciso judicial (interlocutria, sentena ou acrdo) seja motivada. Em tal dispositivo consta que no ser considerada fundamentada a deciso que: I - se limitar indicao, reproduo ou parfrase de ato normativo, sem explicar sua relao com a causa ou a questo decidida; O juiz no deve apenas indicar o dispositivo legal que ampara sua deciso. imprescindvel o desenvolvimento da subsuno dos fatos norma, por meio da demonstrao da ligao entre o ato normativo e o processo em anlise, atentando s peculiaridades do caso concreto para justificar a aplicao da lei que entende como pertinente. II - empregar conceitos jurdicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidncia no caso;

    comum no direito material a existncia de institutos e elementos abstratos aplicveis em determinadas decises judiciais, sendo dever do magistrado, a partir da vigncia do Novo Cdigo, a exposio de justificativa para o entendimento de que caracterizou-se no caso qualquer conceito (instituto ou elemento), com a especificao da razo pela qual teve tal concluso.

    III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra deciso (deve especificar os motivos e a aplicao ao caso); Alguns direitos servem como fundamento para qualquer deciso em virtude de seu contedo genrico, aplicvel a casos diversos. Pela regra do inciso III, do 1 do artigo 489 do Novo Cdigo, o magistrado no deve se limitar a embasar suas decises com fundamentos genricos, sendo imprescindvel explicar as razes pelas quais entende que o dispositivo legal utilizado para fundamentar uma deliberao a ela aplicvel. IV - no enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a concluso adotada pelo julgador (apreciar todos os argumentos das partes, e enfrent-los); Ao longo da petio inicial e da contestao, diversas teses so sustentadas pelas partes, sendo que com o Novo Cdigo ser obrigatrio ao magistrado a apreciao de cada argumento constante no processo, inclusive com a demonstrao dos motivos pelos quais entende que no so as alegaes das partes aplicveis ao processo ou, ainda, que no interferem no teor de sua deciso. V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de smula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta queles fundamentos; Com a tendncia dos Tribunais em editar smulas sobre diversas matrias, h muitos casos em que basta a meno de uma smula para que o magistrado sustente sua deciso nos termos da deliberao do Tribunal que a editou. Contudo, a partir da vigncia do Novo Cdigo, o juiz dever demonstrar os fundamentos constantes no julgado do qual decorre a smula e

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    indicar a adequao do caso analisado ao previsto no entendimento jurisprudencial consolidado pela smula. VI - deixar de seguir enunciado de smula, jurisprudncia ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existncia de distino no caso em julgamento ou a superao do entendimento. Para contrariar o teor de uma smula, o magistrado dever indicar que h entendimento distinto em outro Tribunal ou Turma, ou ainda, que a posio constante na smula contrariada foi superado, de forma a justificar sua deciso em sentido diverso. 10.1.3. Fundamentao da ponderao. O artigo 489, 2, do Novo Cdigo prev o modo que o juiz deve realizar a ponderao no caso de conflito entre duas normas, com a observncia das seguintes questes processuais constando na deciso como fundamentao para o afastamento de uma das normas: (a) exposio do objeto da coliso; (b) justificativa dos critrios utilizados na ponderaes; (c) especificao das razes do afastamento de uma das normas; (d) peculiaridades dos fatos aplicveis deciso. 10.1.4. Dispositivo da sentena. O dispositivo indica a deciso do juiz a respeito dos pedidos iniciais e, se for o caso, da reconveno, sendo que a apreciao do mrito implicar no acolhimento ou rejeio, total ou parcial, de tais pleitos, nos termos do artigo 4903 do Novo Cdigo de Processo Civil. 10.1.5. Princpio da adstrio ou da congruncia no dispositivo da sentena. Ao analisar os pedidos para proferir a sentena, o juiz fica adstrito aos pedidos formulados pelas partes, de forma a seguir o princpio da congruncia ou da adstrio, sendo vedado prolatar deciso de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado, nos termos do artigo 492 do Novo Cdigo. Cndido Rangel Dinamarco destaca que a deciso judicial adstrita aos pedidos formulados em juzo significa no ir alm ou fora deles, nem ficar aqum4. A deliberao que no contempla todos os pleitos pode ser suprida, mas a mesma sorte no segue a deciso que vai alm ou contempla questo fora dos pedidos, quando haver nulidade judicial no que diz respeito ao excedente, isto , quantos aos pontos nos quais no foi possvel o exerccio do contraditrio. Fredie Didier Jnior esclarece, quanto aos limites impostos pelos pedidos realizados pelas partes no processo, que se o magistrado vai alm desses limites, a sua deciso ultra petita; se fica

    3 O artigo 490 do Novo Cdigo de Processo Civil prev que O juiz resolver o mrito acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, os pedidos formulados pelas partes. 4 DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de direito processual civil. 3. ed., vol. 3. So Paulo: Malheiros, 2003, p . 274.

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    fora deles, extra petita; se fica aqum, citra petita.5 Portanto, a incongruncia entre pedido e deciso pode ocorrer nos seguintes casos: (a) na deciso ultra petita, o juiz decide alm do pedido, como na apreciao de pleito de indenizao por danos materiais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reias) com deciso condenando o ru ao pagamento de indenizao em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), isto , em valor acima do postulado. (b) na deciso extra petita, o magistrado no aprecia o pedido ou fundamento, deliberando sobre questo que no foi colocada em juzo, como no exemplo acima, com relao ao pedido de indenizao por danos materiais, o juiz deixa de examinar, condenando o ru ao pagamento de indenizao por danos morais, o que no foi objeto do pedido do autor. Neste particular, importante observar que na deciso extra petita h parte citra petita na medida em que um pleito deixa de ser apreciado; (c) na deciso citra petita ou infra petita, quando o juiz no aprecia todos os pedidos e fundamentos constantes no processo, como no caso em que h pedidos de indenizao por danos materiais e morais, e apenas um deles analisado e decidido. A congruncia deve ser, tambm, subjetiva, isto , com relao s partes do processo, no sendo possvel ao juiz afetar, com sua sentena, pessoa alheia ao processo e situao jurdica debatida em juzo. Se a deciso prejudicar sujeito desvinculado da relao jurdica examinada nos autos, haver a incongruncia subjetiva, sendo possvel a invalidao com relao a tal parte da sentena. 10.1.6. Alterao da sentena pelo juiz. Com a prolao de sentena, o processo voltar ao Cartrio ou Secretaria do juzo no qual tramita, seguindo para registro e publicao da deciso, com a finalidade de divulgao pelo meio cabvel, para a intimao das partes a respeito do julgamento. Aps a publicao da sentena, o juiz apenas poder alter-la: (I) de ofcio ou mediante requerimento de alguma das partes, para corrigir erros materiais ou de clculo; (II) em virtude de embargos de declarao, um recurso que ser estudado na disciplina Direito Processual Civil IV. 10.2. Da coisa julgada 10.2.1. Definio e abrangncia. A coisa julgada caracterizada pela imutabilidade de uma deciso judicial, que deixa de ser discutvel em razo da inexistncia de recursos cabveis e/ou pelo decurso do prazo legal para

    5 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatrio, aes probatrias, deciso, precedente, coisa julgada e antecipao dos efeitos da tutela. vol. 2. 10. ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 360.

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    interposio de recursos, o que implica no trnsito em julgado do julgamento, como dispe o artigo 5026 do Novo Cdigo de Processo Civil. Existem duas distintas espcies de coisa julgada: (a) coisa julgada material, prevista no artigo 502 do Novo Cdigo, que implica na imutabilidade da deciso que extinguiu o processo com resoluo de mrito, no sendo passvel de discusso nem mesmo em outros processo; (b) coisa julgada formal: imutabilidade da deciso apenas no processo em que foi proferida. importante ressaltar que a coisa julgada um direito constitucional fundamental assegurado pelo artigo 5, inciso XXXVI, da Constituio da Repblica, tendo a deciso trnsitada em julgado fora de lei entre as partes, nos moldes do artigo 5037 do Novo Cdigo, e se limitando aos litigantes envolvidos no processo, sem prejuzo a terceiros8, e tornando imutvel apenas o dispositivo9 da deciso judicial, e no os fatos e fundamentos do julgamento, salvo a parte interessada utilizar, no curso do processo, a ao declaratria incidental. 10.2.2. A relativizao da coisa julgada. Em que pese a imutabilidade da coisa julgada funcionar como regra do instituto, existem instrumentos legais de controle, para evitar que prevaleam decises decorrentes de nulidades ou m-f de algum dos sujeitos processuais. Os instrumentos vigentes para controle da coisa julgada e que, por conseguinte, relativizam sua eficcia, so os seguintes: (a) a ao rescisria, que implica num processo autnomo, com prazo decadencial de dois anos, que possui como fundamento alguma das hipteses do artigo 966 do Novo Cdigo, isto , questes decorrentes de nulidades ou injustias graves pela m-f de algum dos sujeitos do processo; (b) a querela nullitatis, fundada em sentena proferida com base em revelia com a indicao, para derrubar a coisa julgada, de de falta ou defeito da citao; (c) a impugnao com base em erro material, consistente em equvoco pelo qual h informao na deciso que no diz respeito ao processo ou contrria ao teor da deliberao do magistrado; (d) a reviso de sentena inconstitucional, decorrente da incompatibilidade da deciso que transitou em julgado com a Constituio da Repblica. Didier Jnior10 aborda a teoria da relativizao atpica da coisa julgada, decorrente da posio de Jos Augusto Delgado, ex-Ministro do Superior Tribunal de Justia, Humberto

    6 De acordo com o artigo 502 do Novo Cdigo, Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutvel e indiscutvel a deciso de mrito no mais sujeita a recurso. 7 Pelo artigo 503 do Novo Cdigo, A deciso que julgar total ou parcialmente o mrito tem fora de lei nos limites da questo principal expressamente decidida. 8 O artigo 506 dispe que A sentena faz coisa julgada s partes entre as quais dada, no prejudicando terceiros. 9 O artigo 504 prev que No fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentena; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentena. 10 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Op. cit., p. 556.

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    Theodoro Jnior e Cndido Rangel Dinamarco, que entendem possvel relativizar a coisa julgada nas ocasies em que a deciso judicial foi injusta ou inconstitucional. Ovdio Baptista da Silva11 aborda a posio de tais doutrinadores em seu artigo Coisa julgada relativa?, tratando num primeiro momento da distino entre a primeira modernidade, em que prevalece a considerao da coisa julgada como algo sagrado, imprescindvel segurana jurdica, e a modernidade lquida, na qual se observa cada vez mais ampla destruio do que fora, na vspera, acolhido com entusiasmo, ponto em que o processualista identifica a situao da coisa julgada no atual contexto do processo civil brasileiro. Levando em conta a ideia dos juristas que defendem a relativizao da coisa julgada em casos abstratos, isto , sem preciso da ocorrncia de situao especficas para a desconstituio da deciso judicial, Ovdio12 identifica o pensamento de Jos Augusto Delgado, precursor da relativizao atpica, no sentido de que a coisa julgada deve ocorrer apenas em casos nos quais prevaleam a verdade, a certeza e a justia. Para criticar o entendimento de Delgado, Ovdio13 esclarece que so imprecisos termos como grave injustia e sria injustia para relativizar a coisa julgada, destacanado que a injustia da deciso jamais poder amparar pleito para afastar o imprio da coisa julgada e que a justia, no sendo um valor absoluto, pode variar, no apenas no tempo, mas entre pessoas ligadas a diferentes crenas polticas, morais e religiosas, numa sociedade democrtica que se vangloria de ser tolerante e pluralista quanto a valores. Ovdio14 questiona: o que seria uma grave injustia, capaz de autorizar que a coisa julgada no fosse observada? e chega concluso quanto teoria relativista de Delgado e grave injustia mencionada por Humberto Theodoro Jnior: aceitando suas premissas, parece-me que nada mais restar do instituto. O Novo Cdigo de Processo Civil traz inovao relevante ao debate: o artigo 489, 1, que impe regras especficas fundamentao, pode estabilizar a coisa julgada na medida em que h exigncia de motivar a sentena de maneira precisa, enfrentando todos os argumentos expostos pelos litigantes e facilitando a tarefa de produo de decises justas em virtude da necessidade de minuciosa explicao da fundamentao utilizada. Da mesma forma, as impugnaes ao trnsito em julgado sero apreciadas e objeto de decises nas quais ser obrigatrio especificar termos abstratos como grave e injustia, em situao que definitivamente contribuir para a estabilidade da coisa julgada.

    Texto de apoio de leitura imprescindvel: Artigo Coisa julgada relativa? de Ovdio Baptista da Silva, que est disponvel no Sistema Integra e no Tonersul (xerox do Ed. Francisco Clve).

    11 SILVA, Ovdio A. Baptista da. Coisa julgada relativa? In.: Relativizao da coisa julgada - enfoque crtico. Fredie Didier Jr. (org.). 2. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2006. 12 Idem. 13 Idem. 14 Idem.

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    Exerccios de fixao. Joo Arthur Mendes ajuiza ao de indenizao por danos morais em face de Maria Teixeira, em virtude de difamao sofrida em rede social na Internet. Comprova o alegado por ata notarial. Na contestao, Maria afirma que no possui cadastro em nenhuma rede social, relatando que o usurio que difamou Joo utilizou indevidamente seu nome e seus dados. Maria apresenta reconveno, postulando indenizao por danos morais em face de Joo porque ele teria cometido injria e difamao na mesma rede social como retaliao pela atitude que presumira como dela. Joo protesta pela expedio de ofcio aludida rede social, com o fim de que seja informada a origem dos acessos do usurio que lhe difamou. Contudo, o juiz indefere tal pleito, afirmando apenas que a rede social no parte no processo e, portanto, no tem obrigao de fornecer informaes. Na sentena, o magistrado omisso quanto reconveno, mas julga improcedente o pedido inicial, sob o argumento de que o autor no atendeu ao nus da prova que lhe cabia. Diante de tal caso, responda as seguintes questes: (01) Qual o argumento jurdico pertinente para Maria fundamentar um recurso contra a sentena? Justifique. (02) As decises proferidas no processo atendem ao artigo 489, 1, do Novo Cdigo de Processo Civil? Justifique. (03) Decorrido o prazo para recurso no caso acima, sendo certificada a coisa julgada, qual a medida cabvel ao advogado de Joo? Na mesma situao, o que poder fazer o advogado de Maria? (04) Qual a contribuio do artigo 489, 1, do Novo Cdigo estabilidade da coisa julgada? (05) Ocorreu no caso acima o denominado solipsismo judicial? Justifique. (06) H no caso acima sria ou grave injustia? Como definir isso? De qual maneira o artigo 489, 1, do Novo Cdigo pode evitar as aludidas situaes? (07) Como as regras de fundamentao do Novo Cdigo podem resolver o problema acima aps o trnsito em julgado? Explique. (08) O fundamento da sentena consistente no no atendimento do nus da prova pelo requerente faz coisa julgada? Justifique.