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União Ibérica (1580-1640) Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião, morreu na batalha de Alcácer- Quibir, no atual Marrocos, em luta contra os árabes. Com a morte do rei, que não tinha descendentes, o trono de Portugal foi ocupado pelo seu tio- avô, o velho cardeal D. Henrique, que, no entanto, faleceu em 1580, sem herdeiros.

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União Ibérica (1580-1640)

Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, no atual Marrocos, em luta contra os árabes. Com a morte do rei, que não tinha descendentes, o trono de Portugal foi ocupado pelo seu tio-avô, o velho cardeal D. Henrique, que, no entanto, faleceu em 1580, sem herdeiros.

D. Sebastião era representante da Dinastia de Avis, responsável pela centralização monárquica de Portugal em 1385, com d. João I

Ao longo de dois séculos, Portugal se tornaria o maior império do mundo e o primeiro a se expandir ao redor do globo.

União Ibérica (1580-1640)

Com a morte de D. Sebastião, o trono foi ocupado pelo cardeal D. Henrique, seu tio.

D. Henrique tinha 72 anos e não tinha filhos

O Vaticano não liberou D. Henrique do celibato antes de sua morte

Fim da dinastia Avis

Havia 5 candidatos, ao trono, dentre eles o rei Felipe II da Espanha

União Ibérica (1580-1640)

Felipe II, rei da Espanha (1556 - 1598),

descendia, pelo lado materno, em linha

direta, do rei D. Manuel, o Venturoso,

que reinou nos tempos de Cabral.

Felipe II era membro de uma das mais

poderosas dinastias europeias: os

Habsburgos

Por meio da força e compra da nobreza

lusa, Felipe II se impõe em Portugal

União Ibérica (1580-1640)

De 1580 até 1640, o rei da

Espanha passou a ser, ao

mesmo tempo, rei de Portugal,

dando origem ao período

conhecido como “União Ibérica”.

União Ibérica (1580-1640)

CURIOSIDADE: O Brasil foi oferecido de presente à França?

O principal rival de Felipe II na luta pelo reino de Portugal era D. Antônio, neto bastardo de d. Manuel.

Em 1580, quando se tornou clara a vitória de Felipe II, D. Antônio se refugiou no interior do país e depois na França, em busca do apoio da rainha Catarina de Médici, inimiga de Felipe II

Os Açores eram a única ilha que Felipe II não havia conseguido dominar. Lá, D. Antônio enviou uma frota portuguesa e outra armada por Catarina.

Documentos de 1608 revelam que para obter o apoio de Catarina de Médici, D. Antônio teria oferecido a colônia brasileira à França

Em 1582, porém, as tropas de Felipe II venceram os insurgentes e D. Antônio, e a França perdeu outra vez a chance de conquistar o Brasil

União Ibérica (1580-1640)

União Ibérica (1580-1640)

No reinado de Felipe II, a exploração das minas de prata da América

espanhola havia atingido o seu apogeu. Com a entrada da prata do México e

do Peru, a Espanha se transformara, durante o século XVI, na mais poderosa

nação europeia.

Como ficou Portugal durante a

União Ibérica?

Felipe II preferiu adotar uma

política conciliatória com os

portugueses: manteve a

autonomia, as leis, a língua e a

estrutura administrativa

portuguesa

Assegurou grandes vantagens à

alta nobreza que o apoiara desde

o início, como o direito de

transportar escravos da África

para a América

União Ibérica (1580-1640)

União Ibérica (1580-1640)

Relações internacionais

Portugal havia adotado até então uma política internacional muito

prudente, evitando, tanto quanto possível, atritos nessa área, ciente

de sua própria fragilidade. Essa situação foi alterada

completamente com a sua anexação pela Espanha, já que Portugal

herdou, de imediato, todos os numerosos inimigos dos

Habsburgos: França, Inglaterra e Holanda

Do ponto de vista colonial, o mais temível inimigo era a Holanda.

Países Baixos

Países Baixos no século XVI. Os Países

Baixos, incluindo a maioria da Bélgica como

é hoje, Luxemburgo e a Holanda,

pertenceram à Espanha no século XV. O

norte conquistou a independência em 1648.

Os Países Baixos (atuais

Bélgica, Holanda e parte do

norte da França), desde a

segunda metade da Idade

Média, constituíram-se numa

região de grande prosperidade

econômica, cujas manufaturas

têxteis desfrutavam inigualável

reputação internacional.

Formou-se, assim, nos Países

Baixos, uma poderosa

burguesia mercantil, uma

das mais progressistas da

Europa.

Países Baixos

Os Países Baixos eram possessões dos Habsburgos e tinham grande

autonomia no reinado de Carlos V (pai de Felipe II). Suas tradições e interesses

econômicos locais eram respeitados.

Com Felipe II, a situação se alterou. Felipe II era autoritário; nomeou espanhóis

de sua confiança para administrar a região dos Países Baixos, retirando a

autonomia da burguesia e nobreza locais e pôs fim à liberdade religiosa

Felipe II era um rei extremamente católico, fervoroso; já nos Países Baixos o

Protestantismo era a religião aceita pela burguesia. O advento do

protestantismo tinha polarizado o mundo cristão no século XVI, provocando

intermináveis conflitos entre católicos e protestantes

Países Baixos

Os Países Baixos eram protestantes calvinistas.

O que era o calvinismo?

Um movimento religioso que criava uma nova Igreja

e rompia com Roma. Seu fundador foi João Calvino

Os calvinistas defendiam a teoria da predestinação.

Era a ideia de que, segundo Deus, alguns

escolhidos teriam o direito à salvação eterna.

Essa salvação, os sinais de Deus na Terra,

estariam ligados à uma vida próspera, ligada ao

trabalho e ao enriquecimento

A reação nos Países Baixos foi imediata, com a eclosão de revoltas por toda parte.

A fim de reprimi-las, Felipe II enviou tropas espanholas sob o comando do violento duque de Alba. À repressão político-religiosa, somou se o confisco dos bens dos revoltosos, conforme relatou o duque de Alba ao rei:

“Atualmente detenho criminosos riquíssimos e temíveis e os submeto a multas em dinheiro; logo me ocuparei das cidades criminosas. Desse modo às arcas de Vossa Majestade fluirão

somas consideráveis”.

Países Baixos

Países Baixos

Países Baixos reagiram: uma luta anticatólica, antiabsolutista e antiespanhola

Sete províncias do norte formaram a União de Utrecht, em 1581, e não mais

reconheceram a autoridade de Felipe II.

Em sua luta contra a Espanha, a Holanda foi apoiada ativamente pela

Inglaterra. Assim, devido à tenaz resistência holandesa e à ampliação do

conflito, a Espanha aceitou finalmente uma trégua - a trégua dos 12 anos: de

1609 a 1621 –, que foi, na prática, o reconhecimento da independência

da Holanda.

Portugal e Países Baixos

Desde a Idade Média, Portugal mantinha com os Países Baixos relações

comerciais, que se intensificaram na época da expansão marítima.

Os mercadores flamengos eram os principais compradores e distribuidores

dos produtos orientais trazidos por Portugal.

Com a Guerra dos Países Baixos visando sua independência, a

Espanha adotou, em represália medidas restritivas ao comércio com

seus portos, incluindo Portugal. Era uma tentativa de sufocar

economicamente a Holanda e impedir sua independência.

Independência Países Baixos

Para a Holanda, que conquistara a independência, tais medidas tornaram-se permanentes. Porém, uma vez vedado o acesso aos portos portugueses, os mercadores de Amsterdã decidiram atuar diretamente no Índico. As primeiras experiências acabaram fracassando, mas a solução para o comércio direto foi finalmente encontrada com a constituição da Companhia das Índias Orientais (1602), que passou a ter o monopólio do comércio oriental, garantindo desse modo a lucratividade da empresa.

O êxito dessa experiência induziu os holandeses a constituírem, em 1621, exatamente no momento em que expirava a trégua dos 12 anos, a Companhia das Índias Ocidentais, a quem os Estados Gerais (órgão político supremo da Holanda) concederam o monopólio do tráfico de escravos, da navegação e do comércio por 24 anos, na América e na África. A essa nova companhia deve-se creditar a maior façanha dos holandeses: a conquista de quase todo o nordeste açucareiro no Brasil.

Invasões holandesas no Brasil

Bahia: 1624 A primeira tentativa de

conquista holandesa no

Brasil ocorreu em 1624.

O alvo visado era

Salvador, a capital da

colônia, ocupada em 24

horas

O governador local foi

substituído por um

holandês

Invasões holandesas no Brasil Bahia: 1624 Por que Bahia? Porque a Bahia era o centro

administrativo da colônia

Espiões da Espanha no Brasil já sabiam

das intenções da Holanda; ainda assim o

governador-geral Diogo de Mendonça

Furtado não conseguiu convencer a rei a

fortificar a cidade. O bispo D. Marcos

Teixeira havia convencido o rei a construir

uma Sé não um forte

Com uma esquadra de 26 navios, 3 mil

homens e armas de fogo, os holandeses

conseguiram tomar a cidade de Salvador

Invasões holandesas no Brasil

Bahia: 1624

O povo abandonou a cidade para o

interior

O governador geral Mendonça Furtado

foi capturado e enviado à Holanda, junto

com 3900 caixas de açúcar

Colonos se organizaram para a luta

contra a expulsão, que durou cerca de 1

ano.

A luta era contra o “herege” protestante

Invasões holandesas no Brasil

Apesar do fracasso em Salvador, os holandeses foram

amplamente recompensados, em 1628, com a apreensão, nas

Antilhas, de um dos maiores carregamentos de prata americana

para a Espanha.

Os recursos obtidos com esse ato de pirataria serviram para

financiar uma segunda tentativa, desta vez contra Pernambuco.

Invasões holandesas no Brasil

Pernambuco: 1630-1654 Em 1630, com uma esquadra de setenta navios, os holandeses chegaram

a Pernambuco, dominando, sem maiores problemas, Recife e Olinda,

apesar dos preparativos de defesa efetuados por Matias de Albuquerque,

governador de Pernambuco.

Invasões holandesas no Brasil Pernambuco:

1630-1654 Por que Pernambuco?

Porque era a região mais rica da colônia; a maior produtora de cana de açúcar do mundo.

Além de possuir 130 engenhos – que produziam mil toneladas de açúcar por ano -, Pernambuco era uma capitania particular e mal aparelhada em sua defesa; portanto, a ocupação seria relativamente fácil

Invasões holandesas no Brasil

Pernambuco:

1630-1654 Em 1630, com uma armada de

77 navios, 7 mil homens e

artillharia pesada os

holandeses tomaram a cidade.

Desta vez, a ocupação iria

durar mais de 20 anos

Periodização holandeses no Brasil

Em linhas gerais, as invasões holandesas do Brasil podem ser recortadas em dois grandes períodos:

* 1624-1625 - Invasão de Salvador, na Bahia * 1630-1654 - Invasão de Recife e Olinda, em Pernambuco

* 1630-1637 - Fase de resistência ao invasor

* 1637-1644 - Administração de Maurício de Nassau

* 1644-1654 - Insurreição pernambucana

1630-1637 - Fase de resistência ao invasor A resistência, liderada por Matias de Albuquerque,

concentrou-se no Arraial do Bom Jesus, nos arredores de Recife. Através de táticas indígenas de combate (campanha de guerrilhas), confinou o invasor às fortalezas no perímetro urbano de Olinda e seu porto, Recife. As chamadas "companhias de emboscada" eram pequenos grupos de 10 a 40 homens, com alta mobilidade, que atacavam de surpresa os holandeses e se retiravam em velocidade, reagrupando-se para novos combates.

Invasões holandesas no Brasil

Invasões holandesas no Brasil

1637-1644 – Fase de domínio holandês tranquilo com Nassau

Com o tempo, alguns senhores de engenho de cana de açúcar aceitaram a administração holandesa por entenderem que uma injeção de capital e uma administração mais liberal auxiliariam o desenvolvimento dos seus negócios. O seu melhor representante foi Domingos Fernandes Calabar, considerado historiograficamente como um traidor ao apoiar as forças de ocupação e a administração neerlandesa.

Invasões holandesas no Brasil

Pernambuco: 1630-1654 A organização do Brasil holandês. Até 1635 os holandeses estavam

arcando com as despesas militares da conquista. A Nova Holanda, que

então se constituía, era, aos olhos da Companhia das Índias Ocidentais,

um empreendimento comercial de que se esperava extrair altos lucros. Era

preciso, portanto, colocá-la rapidamente em condições de produzir. Para

organizar os seus domínios no Brasil, foi enviado, como governador-geral,

João Maurício de Nassau-Siegen, que aqui permaneceu de 1637 a 1644.

No período em que governou o Brasil-

holandês, entre 1637 a 1644, Nassau

procurou estabelecer uma administração

eficiente e um bom relacionamento com os

senhores de engenho da região.

Desse modo, foram colocados à disposição

dos proprietários de engenho recursos

financeiros, para serem utilizados na compra

de escravos e de maquinário para o fabrico do

açúcar.

Invasões holandesas no Brasil

Maurício de Nassau governou o Brasil

holandês de 1637-1644

Maurício de Nassau era um homem culto;

Estou filosofia, teologia, matemática, música,

ciência de guerra...

Era protestante e havia lutado contra a

Espanha

No Brasil, permitiu a liberdade de culto para

católicos e judeus, tratou bem os nativos e

aumentou a produção do açúcar

Invasões holandesas no Brasil

Maurício de Nassau governou o Brasil

holandês de 1637-1644

Casa de

Maurício de

Nassau em

Pernambuco

Invasões holandesas no Brasil

Durante o governo de Nassau, as vilas de Recife e Olinda passaram por um intenso processo de urbanização e melhoramentos que mudaram completamente a paisagem local. Investidores judeus e europeus circulavam pelas ruas pavimentadas de Olinda e Recife e o porto fervilhava repleto de navios e mercadores de todo o mundo

Nassau trouxe em sua comitiva 46 artistas, cientistas e sábios

Encarregou essas pessoas de catalogar, pintar, estudar a fauna e flora da colônia

Invasões holandesas no Brasil

Invasões holandesas no Brasil

Obra de Frans Post, artista

que viveu no Brasil na

época de Nassau e pintou

mais de 200 quadros

Invasões holandesas no Brasil

Expulsão dos holandeses 1644-1654 - Insurreição pernambucana

Em 1644, Nassau volta à Holanda. Ele teria tido contratempos com a Companhia das Índias, que exigia um aumento da produção

Nassau já havia partido e, para explorar ao máximo a produção do açúcar brasileiro, a Holanda adotou inúmeras medidas impopulares, em especial o aumento dos impostos, o que contrariava os interesses dos proprietários de engenho.

Para os senhores de engenhos livra-se dos holandeses seria também livrar-se das dívidas. As últimas safras tinham sido ruins. Houve inundações, secas, incêndios.

A tolerância dos tempos de Nassau havia sido deixada de lado

Expulsão dos holandeses 1644-1654 - Insurreição pernambucana

Com o fim do domínio espanhol sob Portugal, em 1640; o novo rei português, D. João 4º, decidiu recuperar o Nordeste brasileiro retirando-o do domínio holandês, aproveitando o descontentamento dos senhores de engenho do Nordeste brasileiro diante dos holandeses.

A expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, em Pernambuco, através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada Insurreição Pernambucana, chegou ao fim em 1654, tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio holandês.

Expulsão dos holandeses

Batalha de Guararapes, em 1945

Expulsão dos holandeses

A expulsão dos holandeses do território brasileiro teria um impacto negativo sobre a economia colonial. Durante o período em que estiveram no Nordeste, os holandeses tomaram conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar e conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e organizacionais do empreendimento. Quando foram expulsos do Brasil, dirigiram-se para as Antilhas, ilhas localizadas na região da América Central.