uni-verso dos contos - perse - publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por...

15

Upload: vuongtram

Post on 07-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir
Page 2: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir
Page 3: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

Uni-verso dos contos

Coleção Pétalas em contos

Dara Ni Menoitanigami

Page 4: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

Editor responsávelZeca Martins

Lilian Nocete MesciaCapaZeca MartinsRevisãoCamila da Silva Bezerra

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2014, São Paulo, SPImpresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que

venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S531u Menoitanigami, Dara NiUni-verso dos contos / Dara Ni Menoitanigami – Águas de São Pedro: Livronovo, 2014.

108 p.; 21 cmISBN 978-85-8068-192-5

1ª edição

1. Literatura – brasileira. 2. Contos - Narrativa. I. Título.

CDD – B869

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores,

responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você.

Page 5: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

Este livro dedico aos dois Eu do Adeus

Page 6: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir
Page 7: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

Índice

Alinhando versos ..................................................................... 9

Capítulo 1: Fases ................................................................... 11

Capítulo 2: Desencontros ...................................................... 27

Capítulo 3: Luz dourada........................................................ 33

Capítulo 4: Tom alaranjado ................................................... 41

Capítulo 5: Nuances .............................................................. 55

Capítulo 6: Nuvens ............................................................... 63

Capítulo 7 : Água da vida ...................................................... 67

Capítulo 8: Luz da Lua .......................................................... 75

Capítulo 9: A descoberta ....................................................... 87

Possíveis conversões ............................................................. 101

Page 8: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir
Page 9: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

9

Alinhando versos

O tempo desvendou o movimento das nuvens no ar, revelan-do a razão de sentimentos obscuros até então, trazendo como presente de um novo ano que iniciava a descoberta da razão de sentimentos que me ligaram a um desconhecido de um passado distante de tempos esquecidos em outras eras.

O que o Desconhecido chamou de diário de bordo bordava uma linha desfiada pelo desalinhavar de uma corda, a qual um dia me vi presa por uma proposta.

O bordar estava chegando ao seu fim ou poderia estar apenas iniciando em cada ponto onde a linha se encontrava para, nova-mente, começar outro ponto. De ponto em ponto, o que parecia só se tornou um caminho pontilhado, que poderia receber o traço de quem quisesse caminhar por ele, unindo cada ponto que esta-va lado a lado, para formar uma linha.

Linha que alinhava um pensamento a outro, refletindo nas re-velações pontuadas do diário, o que emergia por dentro ao sentir as FASES da lua pulsar em meu ser.

Os DESENCONTROS das linhas, ao bordar o diário, le-varam-me a encontrar o que escondia de mim, revelando-se o mistério da LUZ DOURADA ao nascer do dia e do TOM ALA-RANJADO ao pôr do sol.

Esta revelação mostrou que as NUANCES nas dunas, ao

Page 10: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

10

receber o reflexo da luz do dia, despiam-me de todas as barrei-ras que faziam com que escondesse os sentimentos que ainda habitavam em meu sentir.

Ao ser tocada por tal beleza, percebi nas NUVENS a ÁGUA DA VIDA lavar mágoas perdidas em cantos obscuros da minha alma.

Ao findar do dia, sob a LUZ DA LUA, ecoava a melodia ento-ada por um Desconhecido, desalinhavando dois sentidos de uma mesma história.

A mesma história que revelou uma DESCOBERTA a qual não poderia compartilhar com ele, pois seu silêncio vibrava, di-zendo que o ritmo do meu som no espaço não estava em sintonia com o dele para que pudéssemos, naquele ínfimo segundo, dan-çarmos juntos a melodia da música do Universo. Ele parecia não conseguir escutar o que eu queria dele e eu não conseguia aceitar o que ele queria de mim.

A descoberta do que unia os versos de um colar de contos era desalinhavada a cada mensagem que alinhavava uma palavra a outra.

Outro diário que borda linhas recomeça no ponto que o 1º findara, ao dar início à outra história que, por entrelinhas, con-tinuaria contando as façanhas de um desconhecido, através do olhar de uma mulher enfeitiçada por encantos um dia entoados num canto de seu coração.

Page 11: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

11

Capítulo 1: Fases

O ar fresco do alto da serra que soprava num mosteiro me tra-zia uma sensação que se mesclava à egrégora daquela construção de mais de um século de existência. Estava participando de um seminário de capacitação de trabalho e o local fazia com que me sentisse integrada com aquela paisagem e, principalmente, com aquele ambiente de rezas.

As sensações traziam lembranças de um tempo em que vivi uma paz muito grande de espírito, num ambiente parecido com aquele. Tempo em que buscava o sagrado ao ficar horas e horas dedicando-me a rezas.

Após o almoço, sentei-me em uma cadeira muito antiga de madeira e fiquei olhando o horizonte de um colorido verdejante que descansava meus olhos, quando passou por mim um homem de trato humilde que estava ali para defender os interesses de pequenos agricultores. Ao passar, disse que eu deveria sorrir para homenagear a vida com a beleza. Depois como num sentimento incontido de trazer algo do além, ao ver a expressão do meu olhar, gritou de longe para que eu o escutasse: ‘não fique triste, ele vai voltar e vai dizer que te quer’.

Como aquele homem de trato tão simples poderia ter enxer-gado na minha expressão o que passava por meu pensamento: a lembrança de alguém que um dia havia tocado meu sentir e partiu sem dar adeus?

Page 12: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

12

A partir daquele momento, outra história que dizia respeito a um desconhecido e iniciaria por ‘Era uma vez’, começou a desenrolar-se no ar e chegar ao meu pensamento, onde contos eram entrelaçados em uma fina linha dourada.

Fiquei imaginando se aquilo que fora falado por aquele homem rude e de bom coração seria um prenúncio do que poderia, ainda, vir a desenrolar-se na força da reviravolta de acontecimentos passados.

Peguei a estrada de volta para casa já à noite, com o grupo de co-legas que haviam participado do seminário. O micro-ônibus estava com o ar condicionado quebrado, o que me deixava feliz, pois gosta-va de sentir o vento da noite chegar à minha face pela janela aberta.

Lembrava-me de uma viagem que havia feito com meu irmão, em minha juventude, para nos aventurarmos a outras realidades e formas de viver. Íamos de carona com um comboio de quatro cami-nhões de um conhecido do meu pai, da Amazônia para uma cida-de litorânea do nordeste. Viajamos por dois dias sem paradas, entre uma cabine e outra do comboio, escutando histórias de caminho-neiros. Quando estávamos num dos caminhões, o motorista dizia que não deveríamos ir com os outros, pois insinuava que usavam estimulantes para ficarem acordados. Olhava para meu irmão e ele olhava para mim, e sentíamos entre nós certo medo, misturado com uma sensação de fascínio por toda aquela adrenalina ao contato com os perigos de outra realidade.

A primeira noite era de lua cheia e o caminhão ia rompendo seu frescor através do brilho dela. Em um trecho de alguns qui-lômetros, passamos por uma grande plantação de eucaliptos. O aroma, que chegava pela janela do caminhão, preenchia meu ser. Vinha sempre entre a janela e meu irmão, talvez por recomenda-ção do meu pai, pois em outras viagens com a família meu irmão

Page 13: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

13

disputava comigo este lugar. Adorei, pois sempre gostei de sentir da janela o vento que vem do além.

Aquele perfume, ao penetrar dentro de cada um dos meus po-ros e tomar conta de todo meu ser, dava uma sensação indescri-tível, ao mesmo tempo, em que ficávamos fascinados ao ouvir as histórias do velho caminhoneiro, que lembrava muito a feição de um tio muito querido nosso e que havia partido há alguns anos.

Voltava daquela lembrança para o micro-ônibus, vendo a noite clara de outro dia de lua cheia. O brilho dela trazia um sentimento de amor e esperança de que dias melhores chegariam ao meu sentir.

Quando cheguei a minha casa já era tarde. Tomei banho e fui visitar meu irmão, que preparava uma recepção para um amigo que voltava de viagem. Lá encontrei meus filhos, que me aguardavam com minha mãe e irmãs. A esposa e o filho do amigo de meu irmão já estavam lá. Foi uma noite agradável. Ele contou suas experiên-cias em outro país e as novidades que trouxe de outro continente.

Tinha uma sensação de que, se algum dia tivesse oportunida-de, teria coragem de cruzar mares e viver por um tempo em ter-ras distantes com costumes a desvendar. Palpitava em mim uma alma cigana, assim como fora de meu querido pai. Ainda não tinha conseguido criar raízes numa terra e sentir pertencer a ela de corpo e alma para aquietar meu coração e deixar-me envolver por inteira em suas certezas e verdades. Poderia ir para onde fosse necessário para criar e dar o sustento necessário aos meus filhos, sem apego nem resistências, assim como fizera meu pai em vida.

Quando voltei para casa com meus filhos, estava tão cansada que pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir. Aquela noite, dor-mi um sono reparador e acordei me sentindo energizada, com uma

Page 14: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

14

sensação de que queria voltar a escrever. Mas para quem seria, se o Desconhecido havia se ocultado, novamente, na escuridão da noite?

Outra noite chegou e sentei-me em frente à mesa, abaixo da janela do meu quarto, para ler e-mails, pois estava aguardando orientações para dar continuidade a um trabalho, o qual passava madrugadas acordada para escrever o que era óbvio, mas preci-sava ser comprovado por dados de uma pesquisa que cada vez apresentava mais demandas.

Ao sentar-me, senti o frescor da brisa da noite e olhei para o céu. Eis que ela estava lá, grande e linda, a lua, um dia depois de estar na sua cheia. Lembrei-me das palavras do homem que havia me trazido uma mensagem do além.

Aquela sensação fazia com que meu sentir não conseguisse ser contido pela razão e, num ímpeto, não resisti: comecei a escrever uma mensagem para o Desconhecido que parecia não existir mais.

Querido Desconhecido,

Olhei para o céu e entendi o que se passava dentro de mim...

Era ela que fazia aquilo comigo ...

Ela estava lá brilhando e clareando o que havia por perto.

Ela estava dentro de mim ou eu que me sentia dentro dela.

Ela transbordava dentro de mim.

E nas bordas de mim sentia vir a lembrança de ti.

A brisa que soprava o brilho daquela beleza me trazia o que não sabia se ainda queria...

Page 15: Uni-verso dos contos - PerSe - Publique-se · mente, começar outro ponto. ... o que emergia por dentro ao sentir ... pedi pra se arrumarem para deitarem e fui dormir

15

... os pensamentos tocados pelos beijos que foram a ti, agora trazidos a mim.

O que faria com eles, se ocultavam a razão do que ela me fazia sentir?

Agora me sentia vibrar na sua mesma sintonia.

A sintonia do bem querer.

Um querer que não queria me deixar viver sem pensar a razão maior da vida.

O que ela traz na inspiração do sentir.

As palavras vieram de uma forma tão espontânea e suave que fi-quei surpresa com aquele sentimento. Não queria e nem acreditava que ele merecesse minhas mensagens ou meu tempo, mas foi algo além da minha compreensão que me fez enviar aquelas palavras.

Pensei por que havia feito aquilo, se minha razão tinha certeza que ele não responderia, assim como não respondeu tantas outras mensagens. O orgulho que existia em mim brigava com o meu sentir e agora era ele que dizia que eu havia perdido completa-mente a razão. Orgulho e razão estavam aliados contra a emoção.

Mas ele surpreendeu o orgulho e a razão que aqui habitavam, pois respondeu a mensagem com o coração de um desconhecido que se abria, novamente, a mim como um homem de verdade, depois de tanto tempo em silêncio.

O Céu estrelado...

venta forte nas alturas.

Firmamento aberto.