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0 Uni- ANHANGUERA - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS CURSO DE AGRONOMIA A CULTURA DO NIM PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA GOIÂNIA Maio/2013

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Uni- ANHANGUERA - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS CURSO DE AGRONOMIA

A CULTURA DO NIM

PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA

GOIÂNIA

Maio/2013

1

PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA

A CULTURA DO NIM

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Curso de Agronomia do Centro Universitário

de Goiás, Uni-ANHANGUERA, sob

orientação da Profª Ms. Leandra Regina

Semensato, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Agronomia.

GOIÂNIA

Maio/2013

2

TERMO DE APROVAÇÃO

PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA

A CULTURA DO NIM

Trabalho de conclusão de curso apresentado à banca examinadora como requisito

parcial para obtenção do Título de Bacharel em Agronomia do Centro Universitário de Goiás

- Uni-ANHANGÜERA, defendido e aprovado em 27 de maio de 2013 pela banca

examinadora constituída por:

___________________________________

Prof.ª Ms. Leandra Regina Semensato Orientadora

______________________________________ Prof.ª Dr.ª Sara Lane Sousa Gonçalves

(Membro)

_________________________________ Prof.º Dr. Lino Carlos Borges

(Membro)

3

DEDICATÓRIA

Aos meus familiares e amigos desta longa jornada, que sempre estiveram ao meu lado,

auxiliando e apoiando meus estudos.

Aos meus Mestres, que deram tudo de si para me propiciar sabedoria e conhecimento

profissional na área da Agronomia.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, familiares e amigos que me acompanharam em todos os momentos, sempre

me incentivando e apoiando.

Aos professores, que se dedicaram a me orientar, me entusiasmando e despertando

meu interesse pelos estudos.

5

RESUMO

O Nim (Azadirachta indica A. Juss), é uma árvore originária das regiões tropicais do

continente Asiático, pertencente à família Meliaceae. Por possuir uma ampla gama de

compostos bioativos, há muito tempo vem sendo utilizada não só na medicina e cosmética,

mas também na agricultura como fonte de princípios ativos de efeitos inseticida, tendo como

principal composto a azadiractina. A cultura do nim também pode ser explorada com objetivo

de produção de madeira de excelentes qualidades físico-químicas, tanto para serrarias quanto

para fins energéticos. Devido a sua boa adaptação aos solos e condições climáticas brasileiras,

a árvore de nim pode ser cultivada com sucesso em diversas regiões. O cultivo da árvore nim

no Brasil está em rápido crescimento, e várias empresas já se encontram no mercado

cultivando, extraindo os princípios ativos e comercializando produtos derivados no nim. A

presente revisão bibliográfica tem como objetivo trazer as principais informações sobre as

inúmeras qualidades e potencial de utilização do nim, apontar práticas de cultivo e

fundamentos técnicos de sua cadeia produtiva, fundamentada na análise crítica da literatura

científica.

PALAVRAS-CHAVE: Nim, Neem, Azadirachta indica A. Juss, Silvicultura.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Inflorescência da árvore do nim

Figura 2. Frutos do nim

Figura 3. Mudas produzidas em tubetes e em sacos plásticos

Figura 4. Enxertia de nim em mudas de cinamomo

Figura 5. Rastelamento dos frutos

Figura 6. Eliminação de terra e folhas

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10

2.1 Botânica e Ecologia 10

2.2 Propagação 12

2.2.1 Seleção de mudas e rustificação 14

2.3 Manejo Agronômico 14

2.3.1 Preparo do solo 14

2.3.2 Espaçamento 15

2.3.3 Plantio 15

2.3.4 Tratos culturais 16

2.3.5 Colheita 16

2.4 Propriedades químicas 18

2.5 Características da madeira 19

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 20

REFERÊNCIAS 21

8

1 INTRODUÇÃO

A planta de nome científico Azadirachta indica A. Juss, é uma árvore de múltiplos

usos, nativa nas florestas da Índia, Paquistão, Sri Lanka, Malásia, Indonésia, Tailândia e

Burma (LEALI et al., 2000), é popularmente conhecida por nim (“neem” nos países de língua

inglesa e margosa ou nimba regionalmente). Foi antigamente conhecida como Melia

azadirachta L. e tem sido frequentemente confundida com a Melia azedarach L., que é a

Cereja-chinesa ou o Lilás da Pérsia. O nim é uma árvore da família Meliaceae, a qual também

pertencem o cedro, o cedro-rosa e a árvore nativa do Brasil chamada santa bárbara (SANTOS;

ANDRADE, 2000).

O nim foi introduzido inicialmente no Brasil por meio de sementes originárias das

Filipinas pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, no ano de 1986 com o objetivo de

pesquisar a ação inseticida desta planta (MARTINEZ, 2008).

Suas propriedades há muito tempo são utilizadas não só em medicina e cosmética, mas

também na agricultura, neste último caso como praguicida. Apresenta efeito em mais de 200

espécies de organismos, incluindo ácaros, carrapatos, aranhas, nematóides, fungos, bactérias e

mesmo alguns fitovírus. Os efeitos observados, provavelmente são resultados da presença de

várias substâncias, tais como azadirachtina, nimbina, salannina, nimbidina, kaempferol,

thionemone, quercetina entre outras (BEVILACQUA et al., 2008), sendo que a azadiractina é

considerada o composto mais potente da árvore de Nim. Segundo Vendramim; Castiglioni

(2000), as vantagens do nim em relação a outras plantas inseticidas são a atividade sistêmica,

a eficiência em baixas concentrações, a baixa toxicidade a mamíferos e a menor probabilidade

de desenvolvimento de resistência pela ocorrência de um complexo de princípios ativos.

Por ser uma árvore rústica e robusta, podendo atingir 30 metros de altura, é ideal para

programas de reflorestamento e para recuperação de áreas degradadas, áridas ou costeiras. Em

sistemas agroflorestais, o nim é usado como quebra-ventos, protegendo as culturas da ação

dos ventos e do ressecamento, colaborando para o incremento da produtividade das lavouras,

além do fornecimento constante de matéria orgânica (via folhas que caem no solo) e da

reserva de madeira para o futuro. A madeira apresenta uma coloração avermelhada, dura e

resistente ao apodrecimento, raramente sendo atacada por cupins (NEVES; NOGUEIRA,

1996).

Apesar do nim ser utilizado e estudado em todo o mundo, muitos agricultores

brasileiros, talvez devido a falsas promessas da revolução verde, ainda duvidam de suas

qualidades, propriedades e uso, ou aceitam-nas com moderação, desejando testa-las antes

9

(ARAUJO et al, 2000). Como consequência, o cultivo do nim é alardeado ou realizado com

práticas muito variadas e com base técnica escassa; o aprimoramento das técnicas de cultivo

se faz necessário para se evitar o sub-aproveitamento da espécie e a frustração por parte dos

produtores (CARPANEZZI; NEVES, 2010).

A presente revisão busca trazer as principais informações sobre as inúmeras

qualidades e potencial de utilização do nim, apontar práticas de cultivo e fundamentos

técnicos de sua cadeia produtiva, baseando-se na conjunção de análise crítica da literatura

científica.

10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Botânica e ecologia

O nim (Azadirachta indica A. Juss) é uma árvore de copa frondosa pertencente a

família botânica Meliaceae, a qual também pertencem o cedro, mogno e a santa bárbara. A

árvore pode atingir cerca de 30 metros de altura, apresenta tronco curto, geralmente em linha

reta e moderadamente grosso, de 30 a 80 cm de diâmetro sendo a casca fortemente sulcada.

Segundo Soares et al. (s/d), as flores pequenas e hermafroditas possuem coloração

branca e são aromáticas, estando reunidas em inflorescências densas podendo atingir cerca de

25 cm de comprimento. São bastante procuradas pelas abelhas, que desempenham importante

papel na sua polinização, se não prejudicadas nessa atividade.

Figura 1. Inflorescência da árvore do nim

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

As árvores apresentam folhagem verde do tipo imparipenadas, alternadas, com

aglomeração na extremidade dos ramos simples, com os folíolos de coloração verde-claro em

abundância, exceto em períodos de seca prolongada.

11

O sistema radicular da planta é composto por uma raiz pivotante, sendo sua principal

sustentação, possibilitando a retirada de água e nutrientes de grandes profundidades,

apresentando também raízes laterais auxiliares, e quando sofrem algum tipo de dano

produzem brotações (MOSSINI; KEMMELMEIER, 2005).

O fruto é uma baga ovalada de 1,5 a 2,0 cm de comprimento, quando em sua

maturação completa (máximo conteúdo de matéria seca e acentuada redução no teor de água),

apresenta polpa amarelada e casca branca, contendo óleo marrom no interior da semente. A

árvore começa sua produção de frutos entre o 3º e 5º ano do plantio, podendo variar de 30 a

50 Kg/planta (RODRIGUES, 2011). A produção de frutos ocorre entre julho e setembro,

podendo ocorrer uma segunda florada entre novembro e janeiro.

Figura 2. Frutos do nim

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

Proveniente de regiões de clima tropical o nim desenvolve-se bem em temperaturas

acima de 20ºC, em altitudes acima de 700 metros e com precipitação pluviométrica anual

entre 400 a 800 mm (SOARES et al.,s/d).

12

De acordo com Mossini e Kemmelmeier (2005), apesar de suas propriedades

inseticidas, podem ocorrer ataques de insetos que danificam a planta como percevejos,

cochonilhas e formigas cortadeiras que causam desfolhas. No Brasil, doenças podem acorrer

esporadicamente, não ocasionando danos significativos a cultura para caracteriza-las como

pragas do nim.

2.2 Propagação

O nim é uma planta de fácil propagação, seja sexual ou vegetativa. Podem ser utilizados

como material propagativo tanto as sementes, brotos, rebentos ou até mesmo cultura de

tecidos.

As mudas obtidas a partir do método de estaquia não apresentam bom desenvolvimento

do sistema radicular, tornando a árvore suscetível ao tombamento ocasionado por ventos

fortes (CIOCIOLA; MARTINEZ, 2002).

Se o método de propagação for feito por meio de sementes, estas devem ser plantadas o

mais rápido possível, visto que o poder germinativo, de cerca de 90%, pode ser reduzido a

quase zero em cerca de dois meses. As mudas podem ser produzidas tanto em tubetes cônicos

com 5,1 cm de diâmetro e 13,3 cm de comprimento, quanto em sacos plásticos perfurados de

11 x 20 cm, mantendo-se boa irrigação durante seu desenvolvimento. Após um período de

três meses as mudas, com cerca de 50 cm, podem ser transplantadas para o campo

(MARTINEZ, 2008).

Figura 3. Mudas produzidas em tubetes e em sacos plásticos

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

13

Dependendo das condições climáticas da região, quantidade disponível de sementes e

disponibilidade de mão-de-obra, a produção das mudas podem ser realizadas em canteiros

para posterior repicagem. Se o objetivo é a produção em ampla escala, as mudas devem ser

produzidas preferencialmente em tubetes, pois permitem melhor manuseio e transporte a

longas distâncias.

De acordo com Soares et al. (s/d), a produção de mudas através da utilização de técnicas

de cultura de tecidos, como a micropropagação, não é muito utilizada, porém é considerada

uma promissora alternativa devido a obtenção de grande número de plantas num curto período

de tempo, em um pequeno espaço e com maior garantia fitossanitária.

O método de enxertia pode ser aplicado com sucesso utilizando-se como porta-enxerto o

cinamomo (Melia azedarach), que é nativa do Brasil podendo ser considerada uma espécie

invasora e pertence a mesma família botânica do nim, embora pertença a gêneros diferentes.

A enxertia visa superar problemas de baixa produtividade e produção tardia dos frutos

(LEALIN et al., 2000).

Foi realizado um experimento em 1999 através do método de garfagem em fenda cheia,

com excelentes resultados. Foram retirados ramos de três árvores de nim em diferentes

posições da copa (terço superior, médio e inferior) e enxertados em mudas de Cinamomo. Os

resultados indicaram não haver diferença na taxa de pegamento dos enxertos quando os ramos

cavaleiros foram retirados de diferentes indivíduos ou posição na copa. A percentagem de

sucesso foi de 70% em média geral, demonstrando a viabilidade da enxertia de nim em mudas

de cinamomo (LEALIN et al., 2000).

Figura 4. Enxertia de nim em mudas de cinamomo

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

14

2.2.1 Seleção de mudas e rustificação

A seleção das mudas a serem plantadas é uma atividade determinante para o sucesso

do cultivo do nim. Há casos brasileiros comprovados de plantações de nim que fracassaram

devido ao uso de mudas com má formação do sistema radicular. Esse problema ocorre,

frequentemente, em mudas produzidas em sacos plásticos; tais mudas devem ser descartadas

ou, mediante orientação técnica, serem podadas na copa e na raiz, sendo transformadas em

mudas de toco. Após sofrerem seleção as mudas devem passar pelo processo de rustificação

por ao menos 20 dias. Essa adaptação deve ser feita em local aberto, arejado e com boa

incidência de luz; irrigação e fertilização devem ser restringidas nesta fase. Tal processo

contribuirá para se obter índice baixo de mortalidade de plantas e diminuir o número de

mudas necessárias ao replantio (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

2.3 Manejo agronômico

2.3.1 Preparo do solo

A árvore de nim, apesar de ser considerada rústica, é bastante responsiva a um bom

preparo de solo, já que uma boa formação do sistema radicular proporciona melhor vigor às

plantas, permitindo maiores produtividades.

Segundo Carpanezzi; Neves (2008), o nim deve ser plantado em áreas com solos de

textura leve ou média (até 35 % de argila) e profundos, próprios de relevos plano ou suave

ondulado; solos em relevo que apresentam tendência ao acúmulo de água e com textura muito

argilosa (> 60 % em fração argila) ou compactados devem ser evitados, visto que influenciam

negativamente no crescimento e na taxa de sobrevivência.

As operações de preparo do solo devem ser, sempre que possível, mecanizadas.

Podem ser realizadas por meio de aração e gradagem, como também uma gradagem pesada

seguida de uma gradagem leve, com o objetivo de homogeneizar e desterroar o solo.

(SOARES et al., s/d).

É imprescindível que amostras de solo da camada 0-20 cm sejam coletadas; os

resultados da sua análise orientam as necessidades de calagem e de aplicação de fertilizantes.

A calagem deve ser feita pelo menos 30 a 45 dias antes do plantio. É recomendável o uso de

calcário dolomítico, que fornece ao solo cálcio e magnésio. Quando possível, o calcário deve

ser aplicado metade antes da aração e metade após, incorporado com a gradagem. O cálculo

15

da necessidade de calagem deve ser feito buscando elevar a saturação por bases a 50 % ou

mais (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

2.3.2 Espaçamento

O processo de escolha do espaçamento é muito importante para um bom

estabelecimento da cultura. Pode-se observar na literatura muita divergência sobre qual o

espaçamento ideal, mas os autores, em sua maioria, justificam a adoção de acordo com a

finalidade a que o plantio se destina, como também as características de clima e solo da

região.

De acordo com Neves; Nogueira (1996), deve-se adotar espaçamentos menores, como

2 x 2m ou 3 x 3m para plantios no qual o objetivo é a produção de madeira fina em ciclo

curto. No entanto, quando o produto for destinado para fins industriais, farmacológicos,

produção de inseticidas ou para a produção de sementes, deve-se optar pelo espaçamento 4 x

4m e realizar desbaste alternado das plantas a partir do terceiro ano, quando iniciam o

processo de competição ente plantas, deixando o plantio com espaçamento de 8 x 8 m.

2.3.3 Plantio

Quando o preparo do solo for realizado mecanicamente, pode-se proceder a abertura

dos sulcos com a utilização do sulcador ou até mesmo com o arado de aiveca. Os sulcos

devem ser orientados de acordo com o espaçamento adotado e seguindo a declividade do

terreno em curva de nível. No caso da abertura das covas ser realizado manualmente, estas

devem ser de 40 x 40 x 40 cm, as quais devem receber 3Kg de esterco de gado bem curtido

(SOARES et al., s/d) ou podem ser do tamanho usual na silvicultura lenhosa comercial, em

forma de cubo de 23 cm de lado (12 milímetros cúbicos de solo), apenas com adubação

mineral (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

O sucesso do plantio das mudas está diretamente relacionado à coincidência do início

da estação chuvosa. A muda deve ser colocada no interior da cova ou sulco e coberta com

terra, de forma que o torrão não fique exposto e a parte do caule não seja recoberta. Deve-se

realizar uma pequena compactação do solo em torno da muda, para fornecer maior firmeza à

planta. Ao completar um mês de plantio, deve-se percorrer toda a área para avaliar a

porcentagem de falhas, através de contagem. Caso essa contagem seja superior a 5%,

procede-se o replantio em todas as falhas. Para aumentar a resistência da planta e evitar

16

possíveis quebras ocasionadas por ventos, recomenda-se manter o nim em haste única, com

galhos de forma alternada (SOARES et al., s/d).

2.3.4 Tratos culturais

Desde os primeiros momentos do estabelecimento da cultura no campo, deve-se ter em

mente a necessidade manter a área livre de plantas invasoras e de proceder o combate às

formigas cortadeiras (Acromyrmex ssp.) e saúvas (Atta ssp.), cujos danos são um dos fatores

limitantes do sucesso das plantações de nim, como também de outras culturas frutíferas e

silvícolas.

Outro manejo bastante recomendado é a realização da decepa apical, que consiste em

cortar o tronco principal a 2-3 metros do solo, na tentativa de reduzir a altura da árvore e

aumentar o diâmetro da copa. A decepa apical procura favorecer a produção de frutos em

detrimento da formação de madeira. Ela é feita, comumente, dentro do segundo ou terceiro

ano de vida da plantação. Sua eficácia duradoura depende de que os espaçamentos sejam

suficientemente largos (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

2.3.5 Colheita

No Brasil, a frutificação do nim geralmente ocorre a partir do terceiro ano, podendo

ocorrer duas vezes ao ano (julho – setembro e novembro - janeiro), se as condições de

fertilidade do solo e o clima forem favoráveis, principalmente da temperatura, que deve estar

em torno de 30ºC e baixos índices pluviométricos (SOARES et al., s/d).

Normalmente, os frutos tornam-se aptos para colheita (mudança da cor verde para a

amarela) dentro de 75 dias após a abertura das flores. Em consequência, as árvores

apresentam, ao mesmo tempo, flores e frutos em diferentes estágios de desenvolvimento. Os

frutos maduros permanecem pouco tempo ligados à árvore. Caso não sejam colhidos, os

frutos presentes no chão (pequena amêndoa) não se decompõe com facilidade, permanecendo

íntegra embora murcha (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

As sementes de melhor qualidade são obtidas quando coletadas diretamente das ramas.

Outra forma de coleta pode ser por meio de lonas colocadas sob as árvores para que as

sementes que caiam naturalmente sejam coletadas sem que os frutos entrem em contato com

a umidade do solo, reduzindo assim a possibilidade do aparecimento de fungos (NEVES;

OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2003).

17

As coletas podem ser feitas a cada quinzena, a cada mês ou mais espaçadamente,

dependendo de fatores locais, como disponibilidade de mão-de-obra e a própria marcha da

frutificação. A colheita dos frutos caídos ao solo assemelha-se muito com a feita nos cafezais.

A primeira etapa da colheita propriamente dita consiste no rastelamento, o qual amontoa

frutos, folhas e um pouco de terra ou pedras, fazendo-se necessário o uso de peneira para

separar as sementes das folhas e da terra que estão misturadas. Em seguida, as sementes

devem ser secas em local sombreado e ventilado por dois ou três dias e, então, acondicionadas

em sacos que permitam aeração, mantidos em ambiente fresco e seco (CARPANEZZI;

NEVES, 2008).

Figura 5. Rastelamento dos frutos

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

Figura 6. Eliminação de terra e folhas

Fonte: Centro de produções técnicas (CTP)

18

2.4 Propriedades químicas

Os métodos químicos no controle de pragas tem sido amplamente utilizados na

agricultura e pecuária, porém os efeitos adversos do uso de inseticidas têm provocado o

surgimento de biótipos resistentes, fazendo-se necessário a utilização de dosagens cada vez

maiores para obter resultado satisfatório. Produtos naturais podem ser uma alternativa viável

de controle, minimizando os impactos ao meio ambiente. Neste contexto insere-se a

necessidade da utilização de extratos de plantas que possuam compostos de natureza

inseticida, bem como o estudo de seus componentes ativos. Acredita-se que o emprego de

métodos alternativos de controle pode ser uma ferramenta importante no manejo integrado de

pragas (LIMA; CHAABAN, 2011).

Segundo Santos; Andrade (2000), diversos compostos químicos biologicamente ativos

podem ser extraídos das diferentes partes da árvore do nim, incluindo triterpenóides,

compostos fenólicos, carotenóides, esteróides e cetonas. Através de diferentes processos

podem ser extraídos por volta de 24 compostos com atividades biológicas, porém apenas

quatro desses compostos apresentam alta eficiência como pesticidas, sendo eles: azadiractina,

salanina, melantriol e nimbina.

Dentre esses compostos, o limonóide ou tetranortriterpenóide azadiractina é o mais

estudado e mais potente. Apesar de os compostos bioativos presentes no Nim serem

encontrados em toda a planta, aqueles presentes primeiramente nas sementes e folhas são os

que possuem compostos mais concentrados e acessíveis, facilmente obtidos por meio de

processos de extração em água e solventes orgânicos como hidrocarbonetos, álcoois, cetonas

ou éteres (MOSSINI; KEMMELMEIER, 2005).

De modo geral a azadiractina afeta o desenvolvimento dos insetos de diferentes

modos. Pela sua semelhança com os hormônios da ecdise (processo de troca do esqueleto

externo), ele perturba essa transformação e, em altas concentrações pode impedi-la, causando

a morte da larva ou da pupa. Por essa razão, as formas jovens de insetos são mais fáceis de

controlar. Não causa a morte do inseto imediatamente, dado o seu efeito fisiológico, porém,

além de afetar a ecdise, reduz o consumo de alimento, retarda o desenvolvimento, repele os

adultos e reduz a oviposição nas áreas tratadas. Também tem maior ação por ingestão, de

modo que os insetos mastigadores são mais facilmente afetados (MARTINEZ, 2008).

De acordo com Mossini e Kemmelmeier (2005), os efeitos de produtos à base de Nim

podem também influenciar outros organismos como os nematóides (uma das pragas mais

devastadoras na agricultura), caramujos (especialmente Biomphalaria glabrata, auxiliando no

19

controle da esquistossomose), crustáceos (que prejudicam culturas de arroz por utilizarem as

mesmas fontes de nitrogênio), viroses de plantas e fungos.

2.5 Características da madeira

A madeira do nim, por ser dura e relativamente pesada, pode ser utilizada tanto como

combustível quanto para a fabricação de móveis e construção civil. Por ser também uma

madeira resistente ao ataque de insetos pode ser utilizada como postes de rede elétrica, vigas

para a construção civil e na confecção de carretas, ferramentas e implementos agrícolas

(RODRIGUES,2011).

No Brasil, estudo realizado por Araújo et al. (2000), evidencia que a madeira do nim

indiano apresentou um poder calorífico de 4.088,5 kcal/kg, rendimento em carvão de 38,20

%, e porcentagem de carbono fixo de 81,82 %. Nos valores encontrados para a porcentagem

de lignina 23.52%, porcentagem de materiais voláteis 15.72% e teores de cinzas 2.11%,

caracterizam a madeira de nim como produtora de carvão de boa qualidade para fins

siderúrgicos. O valor de densidade básica encontrado para o nim foi de 0,54 g/cm3, esse valor

pode variar de acordo com a idade do povoamento florestal. Assim, povoamentos mais

maduros produzirão madeiras mais densas e com melhores características para fins

energéticos (RODRIGUES,2011).

Para uma melhor compreensão do potencial madeireiro do nim no Brasil, devemos

observa que as árvores comerciais adultas dificilmente passarão de 40 cm de DAP com casca

e 18 m de altura total; árvores bem conduzidas para madeira de processamento mecânico

terão fustes de até 6 m e os maiores valores de incremento médio anual em volume sólido, em

talhões conduzidos especificamente para finalidade madeireira, alcançam 21 metros cúbicos

por hectare. A potencialidade técnica para processamento mecânico (madeira serrada e

madeira laminada) não foi apreciada ainda no Brasil, embora seja um argumento forte de

muitas empresas dedicadas ao fomento do nim (CARPANEZZI; NEVES, 2008).

20

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, o cultivo da árvore nim está em rápido crescimento, objetivando tanto a

exploração da madeira para fins energéticos e de serraria, como também para a produção de

folhas e frutos, de onde se retira a matéria prima para produtos inseticidas, graças aos já

comprovados efeitos de seus compostos fitoquímicos.

O cultivo e exploração do nim apresentam-se como uma alternativa viável para a

minimização da utilização de produtos químicos sintéticos nocivos ao meio ambiente, como

alternativa de controle na agricultura e pecuária orgânica e também como fonte alternativa de

diversificação na silvicultura lenhosa devido às diversas características e utilizações de sua

madeira.

Várias empresas se encontram no mercado cultivando e extraindo os princípios ativos

e comercializando produtos derivados no nim, no entanto as potencialidades técnica para

exploração de sua madeira não foram apreciada ainda no Brasil.

O nim, em virtude de suas possíveis aplicações, é uma planta extraordinária,

considerada por muitos a árvore da vida. Representa uma alternativa potencial a ser explorada

pelos agricultores, agregando mais qualidade de vida às pessoas que vivem no campo e

constituindo-se em mais uma fonte de renda.

21

REFERÊNCIAS

ABREU, J. H. Praticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura. São Paulo: EMOPI, 1998.

ARAÚJO, L. C. V.; RODRIGUEZ, L. E. C.; PAES. J. B. Características físico-quimicas e energéticas da madeira de nim indiano. Scientia Forestalis, Piracicaba, n.57, 2000.

BEVILACQUA, A.H.V.; SULFREDINE, I.B.; BERNARDI, M.M. Toxicidade de nem, Azadirachta indica A. Juss (Meliaceae), em Artemia sp.: comparação da preparação comercial e do óleo puro. Rev Inst Ciência e Saúde, 2008, p.157-160

CARPANEZZI, A. A.; NEVES, E. J. M. O cultivo do nim para produção de frutos no Brasil. Embrapa Florestas, Colombo, 2008.

CARPANEZZI, A. A.; NEVES, E. J. M. Balanço dos aspectos técnicos do cultivo do nim no Brasil. Embrapa Florestas, Colombo, 2010.

CIOCIOLA JUNIOR, A.L. & MARTINEZ, S.S. Nim: alternativa no controle de pragas e doenças. Belo Horizonte: EPAMIG. Boletim Técnico n.67. 2002.

LEALIN, A.C. et al. Enxertia intergenérica entre neem (Azadirachta indica A. Juss) e Cinamomo (Melia azedarach L.) In: SEXTO CONGRESSO E EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL SOBRE FLORESTAS, 23 a 26 de outubro, Porto Seguro, 2000.

LIMA, C.L.de; CHAABAN, A. Nim (Azadirachta indica A.Juss): uma alternativa para minimizar impactos ambientais. Cacoal, 2011.

MARTINEZ, S. S. O nim – Azadirachta indica – um inseticida natural. IAPAR, Londrina, atualizado em 2008.

MOSSONI, S. A. G.; KEMMELMEIER, C. A árvore nim (Azadirachta indica A. Juss): múltiplos usos. Universidade estadual de Maringá, departamento de Bioquímica, Maringá, 2004.

NEVES, B. P.; NOGUEIRA, J. C. M. Cultivo e utilização do nim indiano (Azadirachta indica A. Juss), Goiânia: EMBRAPA – CNPAF, 1996.

NEVES, B.P.das.; OLIVEIRA, I.P de; NOGUEIRA, J.C.M. Cultivo e utilização do nim indiano. Santo Antonio de Goiás: Embrapa-CNPAF, 2003. (Embrapa-CNPAF. Circular técnica, 62).

22

RODRIGUES, R. M. Comportamento do nim em solos salino-sódico tratado com insumos orgânicos. UFPB – centro de ciências agrárias, Areia, 2011.

SANTOS, L.U.; ANDRADE, C.F.S. Azadirachta indica – A árvore do nim e o controle de piolhos. Depto de zoologia, IB – UNICAMP, março, 2000.

SOARES, F. P. et al. Cultivo e uso do nim (Azadirachta indica A. Juss). Boletim Agropecuário nº 68, Lavras, s/d.

VENDRAMIM, J. D.; CASTIGLIONI, E. Aleloquímicos, resistência de plantas e plantas inseticidas. In: GUEDES, C. et al. (org). Bases e técnicas do manejo de insetos. Santa Maria: UFSM/CCR/DFS, 2000.

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DECLARAÇÃO E AUTORIZAÇÃO

Eu, Paulo Augusto Nicéas Rosa, endereço eletrônico [email protected], declaro, para os devidos fins e sob pena da lei, que o Trabalho de Conclusão de Curso: A Cultura do Nim, é de minha exclusiva autoria.

Autorizo o Centro Universitário de Goiás, Uni- ANHANGUERA a disponibilização do texto

integral deste trabalho na biblioteca (consulta e divulgação pela Internet, estando vedada

apenas a reprodução parcial ou total, sob pena de ressarcimento dos direitos autorais e penas

cominadas na lei.

(Paulo Augusto Nicéas Rosa)

Goiânia (GO), 27 de maio de 2013