unep, rick collins, topham...

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94 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Há muito se reconhece a natureza singular dos ecossistemas das florestas. Eles desempenham pa- péis múltiplos nos níveis global e local: prestam ser- viços ambientais à natureza em geral e aos seres hu- manos em particular e são fontes de produtos econo- micamente valiosos (ver box). A Conferência de Esto- colmo de 1972 reconheceu que as florestas são o maior, mais complexo e mais durável de todos os ecossis- temas e enfatizou a necessidade de políticas racio- nais de uso da terra e das florestas, de um monito- ramento contínuo do estado das florestas no mundo e da introdução de um planejamento de gestão flores- tal. Recomendou-se aos países: fortalecer as pesquisas básicas e aplicadas para um melhor planejamento e gestão florestais, com ênfase nas funções ambientais das florestas; e modernizar os conceitos de gestão florestal por meio da inclusão de múltiplas funções e da refle- xão sobre o custo e os benefícios das comodida- des oferecidas pelas florestas. Panorama mundial A Conferência também pediu: a cooperação de órgãos das Nações Unidas para satisfazer as necessidades de conhecimentos novos que incorporassem valores ambientais ao uso das terras e à gestão florestal em âmbito na- cional; e uma vigilância contínua da cobertura florestal do mundo por intermédio do estabelecimento de um sistema adequado de monitoramento nos países. Bens e serviços florestais Madeira industrial, lenha, produtos florestais não-madeireiros como fibras, alimentos e remédios Geração de solos, conservação da água e do solo, purificação da água e do ar, reciclagem de nutrientes, manutenção da diversidade biológica (habitats, espécies e recursos genéticos), mitigação das mudanças climáticas, seqüestro de carbono Emprego e renda, recreação, proteção do patrimônio natural e cultural Fontes: UNDP, UNEP, World BaI, 2000; FAO, 2001a Florestas UNEP, Rick Collins, Topham Picturepoint

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Page 1: UNEP, Rick Collins, Topham Picturepointvampira.ourinhos.unesp.br:8080/cediap/material/o_estado... · 2011. 12. 20. · Mais de um terço da biomassa lenhosa de superfície se encontra

94 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Há muito se reconhece a natureza singular dosecossistemas das florestas. Eles desempenham pa-péis múltiplos nos níveis global e local: prestam ser-viços ambientais à natureza em geral e aos seres hu-manos em particular e são fontes de produtos econo-micamente valiosos (ver box). A Conferência de Esto-colmo de 1972 reconheceu que as florestas são o maior,mais complexo e mais durável de todos os ecossis-temas e enfatizou a necessidade de políticas racio-nais de uso da terra e das florestas, de um monito-ramento contínuo do estado das florestas no mundoe da introdução de um planejamento de gestão flores-tal. Recomendou-se aos países:

fortalecer as pesquisas básicas e aplicadas paraum melhor planejamento e gestão florestais, comênfase nas funções ambientais das florestas; emodernizar os conceitos de gestão florestal pormeio da inclusão de múltiplas funções e da refle-xão sobre o custo e os benefícios das comodida-des oferecidas pelas florestas.

Panorama mundial A Conferência também pediu:

a cooperação de órgãos das Nações Unidas parasatisfazer as necessidades de conhecimentosnovos que incorporassem valores ambientais aouso das terras e à gestão florestal em âmbito na-cional; euma vigilância contínua da cobertura florestal domundo por intermédio do estabelecimento de umsistema adequado de monitoramento nos países.

Bens e serviços florestais

Madeira industrial, lenha, produtos florestaisnão-madeireiros como fibras, alimentos eremédiosGeração de solos, conservação da água e dosolo, purificação da água e do ar, reciclagemde nutrientes, manutenção da diversidadebiológica (habitats, espécies e recursosgenéticos), mitigação das mudançasclimáticas, seqüestro de carbonoEmprego e renda, recreação, proteção dopatrimônio natural e cultural

Fontes: UNDP, UNEP, World BaI, 2000; FAO, 2001a

Florestas

UN

EP, R

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s, Topham

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95FLORESTAS

Hoje, as recomendações da Conferência de Es-tocolmo em relação às florestas continuam sendoválidas, mas não são cumpridas em vários sentidos,por causa dos interesses conflitantes entre a gestãoflorestal com vistas à conservação ambiental e a ges-tão voltada ao desenvolvimento econômico.

O desmatamento ocorrido nos últimos trintaanos tem dado continuidade a um antigo processo.Na época da Conferência de Estocolmo, uma grandeparte da cobertura florestal do mundo já havia sidoderrubada. Historicamente, a perda de florestas estáestreitamente ligada à expansão demográfica e à con-versão de áreas florestais para outros usos. Algumasdas maiores causas da degradação florestal acarreta-da por seres humanos são a extração excessiva demadeira para fins industriais, de lenha e de outrosprodutos florestais, e o excesso de pastagem. As cau-sas subjacentes incluem a pobreza, o crescimentopopulacional, os mercados e o comércio de produtosflorestais, além das políticas macroeconômicas. Asflorestas são também suscetíveis a fatores naturais,como pragas de insetos, doenças, incêndios e fenô-menos climáticos extremos.

Uma série de avaliações sobre as alteraçõesna cobertura florestal foi realizada nos últimos trintaanos (incluindo FAO e UNEP, 1982; FAO, 1995; FAO,1997; FAO, 2001b; UNEP, 2001 e WRI, 1997). Emboraessas avaliações difiram em suas definições sobrecobertura florestal, metodologia e resultados especí-ficos, fazendo com que comparações detalhadas nãosejam confiáveis, todas reforçam uma visão geral dediminuição de áreas florestais e degradação contínuados ecossistemas florestais.

A Avaliação dos Recursos de Florestas Tro-picais de 1980, realizada pela FAO e pelo PNUMA,

foi a primeira avaliação abrangente sobre as florestastropicais. O ritmo do desmatamento tropical foi calcu-lado em 11,3 milhões de hectares por ano (FAO eUNEP, 1982), justificando os temores da Conferênciade Estocolmo sobre o ritmo alarmante de perda flo-restal no mundo. Desde então, a área florestal de pa-íses desenvolvidos se estabilizou e tem crescido umpouco de maneira geral, mas o desmatamento conti-nuou em países em desenvolvimento (FAO-ECE, 2000;FAO, 2001b; FAO, 2001a).

A Avaliação dos Recursos Florestais Mundi-ais 2000 da FAO (FAO, 2001b), que usou pela primei-ra vez uma definição comum de florestas como áreasde ao menos 0,5 hectare com uma cobertura de copasde árvores superior a 10%, concluiu que:

A área total coberta por florestas é de aproxima-damente 3 bilhões e 866 milhões de hectares, oque corresponde a quase um terço da área deterra do mundo. Noventa e cinco por cento dessa

Cobertura florestal 2000

As florestas cobriamcerca de 3 bilhões e866 milhões dehectares do planetano ano 2000 – umpouco menos que umterço da área totalde terra.

Nota: o verde escurorepresenta florestasfechadas, onde mais de40% da floresta é cober-ta por árvores com maisde 5 metros de altura; overde médio representaflorestas abertas (10% a40% de cobertura) efragmentadas; o verdeclaro representa outrostipos de floresta, bosquesde arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001b

Mudanças nas áreas cobertas por florestas entre 1990 e 2000 por região

África

Ásia e Pacífico

Europa

América Latinae Caribe

América do Norte

Ásia Ocidental

Mundo

área totalde superfície

(milhões de ha)

2.963,3

3.463,2

2.359,4

2.017,8

1.838,0

372,4

13.014,1

área total deflorestas 1990

(milhões de ha)

702,5

734,0

1.042,0

1.011,0

466,7

3,6

3.960,0

área total deflorestas 2000

(milhões de ha)

649,9

726,3

1.051,3

964,4

470,1

3,7

3.866,1

% de terras comcobertura

florestal 2000

21,9

21,0

44,6

47,8

25,6

1,0

29,7

mudanças entre1999 e 2000

(milhões de ha)

-52,6

-7,7

9,3

-46,7

3,9

0,0

-93,9

% demudanças

anuais

-0,7

-0,1

0,1

-0,5

0,1

0,0

-0,24

Fonte: dados compilados de FAO, 2001b Nota: os resultados podem apresentar diferenças porque os números foram arredondados

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96 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

expansão do cultivoitinerante para áreasde floresta intocada

intensificação daagricultura em áreasde cultivo itinerante

conversão de florestasem áreas de agriculturapermanente depequena escala

conversão de florestasem áreas de agriculturapermanente delarga escala

ganhos em áreasflorestais e coberturade copas

outros

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0Africa América

LatinaÁsia pan-tropicalÁ

área florestal é composta por florestas naturais, e5% são florestas plantadas; 17% se encontramna África, 19% na região da Ásia e do Pacífico,27% na Europa, 12% na América do Norte e 25%na região da América Latina e Caribe (ver tabelana página 91). Cerca de 47% das florestas domundo são tropicais, 9% subtropicais, 11% tem-peradas e 33% boreais.A perda líquida de área florestal no mundo du-rante a década de 1990 foi estimada em 94 mi-lhões de hectares (o equivalente a 2,4% do totalde florestas). Essa estimativa corresponde ao efei-to combinado de um ritmo de desmatamento de14,6 milhões de hectares por ano e um ritmo decrescimento florestal de 5,2 milhões de hectarespor ano. O desmatamento de florestas tropicaiscorresponde a quase 1% por ano.A área de plantações florestais cresceu em média3,1 milhões de hectares por ano durante a décadade 1990. Metade desse aumento se deve aoflorestamento em terras anteriormente de uso não-florestal, ao passo que a outra metade resultouda conversão de florestas naturais. As florestas naturais do mundo continuaram aser convertidas para outros usos da terra a umritmo muito acelerado. Durante a década de 1990,a perda total de florestas naturais (desmatamentomais conversão de florestas naturais em planta-ções florestais) foi de 16,1 milhões de hectarespor ano, dos quais 15,2 milhões de hectares seencontravam nos trópicos.

Na década de 1990, quase 70% das áreas des-matadas foram transformadas em áreas agrícolas,nas quais predominavam sistemas permanentesem vez de itinerantes. Na América Latina, a maiorparte das conversões ocorreu em larga escala,enquanto na África predominaram os empreendi-mentos agrícolas em pequena escala. As mudan-ças na Ásia foram mais bem distribuídas entre aagricultura de pequeno e grande porte e áreas decultivo itinerante.

Um estudo recente usando dados globais desatélite mais abrangentes e consistentes estimou quea extensão das florestas naturais fechadas (onde acobertura das copas é superior a 40%) restantes nomundo em 1995 era de 2 bilhões e 870 milhões dehectares, cerca de 21,4% da superfície de terras domundo (UNEP, 2001). Cerca de 81% dessas florestasestão concentradas em apenas 15 países, classifica-dos aqui em ordem decrescente: Federação Russa,Canadá, Brasil, Estados Unidos, República Democrá-tica do Congo, China, Indonésia, México, Peru, Co-lômbia, Bolívia, Venezuela, Índia, Austrália e PapuaNova Guiné. Os três primeiros países possuem cercade 49% das florestas fechadas restantes. Mais de 25%das florestas fechadas estão situadas em áreas mon-tanhosas (ver box na página 71).

O fornecimento e a produção de madeira continuam aser o foco da maior parte dos inventários florestais.Mais de um terço da biomassa lenhosa de superfíciese encontra na América do Sul, com 27% só no Brasil.Estimativas da FAO (2000) mostram que a produçãototal mundial de madeira roliça chegou a 3 bilhões e335 milhões de metros cúbicos em 1999. Um poucomais do que a metade disso corresponde à lenha, cer-ca de 90% da qual foi produzida e consumida em pa-íses em desenvolvimento. Por outro lado, a produçãoindustrial de madeira roliça, que chegou a 1 bilhão e550 milhões de metros cúbicos em 1999, foi predomi-nante em países desenvolvidos, que juntos foram res-ponsáveis por 79% da produção mundial total. Emgeral, a produção industrial de madeira roliça foi rela-tivamente uniforme durante a década de 1990, o querepresentou uma mudança significativa do rápido cres-cimento ocorrido antes de 1990.

Os métodos de exploração comercial da ma-deira são em geral destrutivos e contribuem direta ouindiretamente para o desmatamento. Na África Oci-dental, estimou-se que, para se obter um metro cúbi-

Causas das alterações em áreas florestais(porcentagem total) por região

Produtos florestais

Na década de 1990,quase 70% das

áreas desmatadasforam transfor-

madas em terrasagrícolas. Na

América Latina,a maior parte dasconversões foi delarga escala, en-quanto na África

predominaram osempreendimentos

agrícolas depequena escala.

Notas: “pan-tropical”diz respeito às amos-tras de dados proveni-

entes de imagens desatélite das áreas

tropicais; as regiõesnão correspondem

exatamente às regiões GEO.

Fonte: FAO, 2001b

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97FLORESTAS

co de madeira, cerca de dois metros cúbicos de árvo-res em pé são destruídos (Serageldine, 1990). A extra-ção madeireira é especialmente danosa em encostasíngremes, ou em ecossistemas sensíveis como flores-tas de transição e mangues (ver box ao lado). Mesmoquando certas espécies são escolhidas, espécies não-selecionadas também podem sofrer danos. A derru-bada de florestas tem um impacto mais grave nas po-pulações locais, que perdem fontes vitais de alimen-to, combustível, materiais de construção, remédios eáreas para a pastagem de gado. Ela também expõe ossolos e espécies que vivem na sombra, ao vento, à luzdo sol, à evaporação e à erosão, acelerando a sedi-mentação em barragens, rios e em zonas costeiras,além de causar enchentes graves.

Há uma tendência mundial a maior dependên-cia de plantações como fonte de madeira industrial. Ogrande número de plantações florestais no mundo érecente: metade delas tem menos de 15 anos. A Ásialiderou o estabelecimento de plantações no mundo;em 2000, cerca de 62% de todas as plantações flores-tais localizavam-se nessa região. Outros progressossignificativos incluem o aumento dos investimentosdo setor privado em plantações nos países em desen-volvimento, maiores investimentos estrangeiros nasplantações e a expansão de esquemas de comer-cialização em que comunidades ou pequenos propri-etários rurais produzem árvores para vender a empre-sas privadas (FAO, 2001b). As plantações florestaisgeralmente contêm apenas uma ou algumas espécies,o que as torna biologicamente menos diversas e maissuscetíveis a doenças e a outras perturbações do queas florestas naturais.

As indústrias florestais continuam a se adap-tar às mudanças em termos de matéria-prima, como oaumento na oferta de madeira proveniente de planta-ções e uma maior variedade de espécies. Recente-mente surgiram métodos inovadores que permitemum melhor aproveitamento da oferta disponível, as-sim como dos resíduos e refugos. Essas inovaçõesincluem compensados LVL, madeira laminada coladae produtos baseados em fibra de madeira. Além dis-so, tecnologias modernas que reduzem os impactosambientais por meio do controle da poluição e deoutros meios hoje, estão disponíveis às indústrias deprocessamento de madeira (FAO, 2001a).

Vários países impuseram proibições à explo-ração de madeira, seja para conservar seus recursosflorestais ou como resposta a calamidades naturaisdevastadoras (como deslizamentos de terra e inunda-ções) atribuídas, justa ou injustamente, à excessivaextração madeireira com fins comerciais. Os efeitos

da proibição à extração madeireira variam muito deacordo com o tipo de política empregada, os produ-tos afetados, as condições de mercado, etc. Em algu-mas situações, tais proibições podem transferir a pres-são da exploração de uma região para outra, afetarcomunidades que dependem da floresta, aumentar oureduzir as oportunidades de emprego e causar pertur-bações em mercados (FAO, 2001a). Também há ummaior interesse na certificação florestal, que pode ofe-recer incentivos de mercado para um melhor manejoflorestal (ver box na próxima página).

As tendências do comércio de produtos flo-restais mostram que uma proporção cada vez maiordos produtos madeireiros se destina à exportação,que se verifica um aumento do processamento damadeira em nível nacional antes da exportação, que

Onde a floresta encontra o mar

Revoada de pássaros em uma florestade mangue em Orissa, na Índia

Fonte: UNEP, Van Gruissen,Topham Picturepoint

As florestas de mangueprosperam em zonas inter-tidais das costas tropicais esubtropicais da África, da Ásiae das Américas. Elas cobremcerca de 25% dos litoraistropicais. As florestas demangue estão entre ossistemas biologicamente maisdiversos e produtivos domundo. Elas fornecemalimentos e abrigo a váriasespécies e nutrientes ao meioambiente marinho. Os man-gues também servem dezonas de reprodução parapeixes e crustáceos e sãoáreas fundamentais denidificação e migração paracentenas de espécies de pássaros (ver foto). Em Belize, por exemplo,foram registradas mais de 500 espécies de pássaros em áreas demangue. Essas áreas também ajudam a proteger os litorais da erosão,de danos causados por tempestades e da ação das ondas e protegem osrecifes de coral e leitos de plantas marinhas da sedimentação daninha.Além disso, as florestas de mangue fornecem madeira e lenha àscomunidades locais.

Os mangues estão ameaçados por atividades como a extraçãoexcessiva, o desvio de água doce, a poluição, enchentes prolongadas eoscilações no nível do mar. As indústrias de carvão e de madeira, oturismo e outros desenvolvimentos costeiros estão destruindo asflorestas de mangue. A rápida expansão da indústria de aqüicultura decamarão oferece a maior ameaça: até 50% da destruição demanguezais se deve à derrubada para instalação de fazendas decamarão.

A Tailândia perdeu mais da metade das suas florestas demangue desde 1960. Nas Filipinas, as áreas de mangue diminuíram decerca de 448 mil hectares na década de 1920 para apenas 110 milhectares em 1990. No Equador, a região do Muisne perdeu quase 90%dos seus mangues. No mundo, é provável que se tenha perdido cerca demetade das florestas de mangue.

Fontes: Quarto, 2002; UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 2000

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98 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Sobre Florestas (IFF). Os impactos do comércio so-bre algumas espécies de árvores comerciais estãosendo examinados por um grupo de trabalho da Con-venção sobre o Comércio Internacional das Espéci-es da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção(CITES) (FAO, 2001a).

As negociações recentes do Protocolo de Quioto àConvenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-dança do Clima (UNFCCC) consagraram uma aten-ção considerável às florestas no contexto das mu-danças climáticas (IISD, 2001a e 2001b). As flores-tas influenciam e são influenciadas pelas mudançasclimáticas: elas desempenham um papel importanteno ciclo global do carbono, e seu manejo ou suadestruição podem afetar de forma significativa ocurso do aquecimento global no século XXI.

As florestas contêm um pouco mais da meta-de do carbono armazenado na vegetação terrestre ena matéria orgânica do solo. As florestas boreaiscontam com 26% do total de estoques terrestres decarbono, enquanto as florestas tropicais e tempera-das contêm 20% e 7%, respectivamente (Dixon eoutros, 1994). Embora haja uma incerteza considerá-vel sobre as estimativas em relação às emissões decarbono causadas pelo desmatamento, a remoçãoda biomassa florestal contribui em muito para asemissões líquidas de dióxido de carbono para a at-mosfera. Durante as décadas de 1980 e 1990, as emis-sões foram estimadas em algo entre 1,6 e 1,7gigatoneladas (109 toneladas) de carbono por ano(Watson e outros, 2000). Se as mudanças climáticasprevistas se materializarem, é provável que os im-pactos sobre as florestas sejam profundos e de lon-ga duração e que variem de região para região, afe-tando tanto a distribuição quanto a composição dasflorestas (IPCC, 2001a; FAO, 2001a).

O Protocolo de Quioto pode ter um impactoprofundo sobre o setor florestal. Partes da UNFCCCrecentemente chegaram a um acordo sobre regras emodalidades para o cálculo do carbono seqüestra-do por florestas. Isso pode abrir caminho para quepaíses desenvolvidos invistam em projetos deflorestamento e reflorestamento em países em de-senvolvimento, em troca de unidades de redução deemissões de carbono, sob os termos do Mecanismode Desenvolvimento Limpo, reduzindo assim o cus-to de implementação do Protocolo (IPCC, 2001b).

há um comércio mais intenso entre países em desen-volvimento (especialmente na Ásia) e que vem ocor-rendo a liberalização do comércio em âmbito mundi-al. Ao mesmo tempo, alguns países têm introduzidorestrições às exportações com vistas a lidar com pro-blemas internos referentes ao meio ambiente e aomercado. Questões de comércio florestal e meio am-biente estão sendo consideradas pelo Comitê sobreComércio e Meio Ambiente da Organização Mundi-al do Comércio e pelo Fórum Intergovernamental

As florestas e as mudanças climáticas

Certificação florestal

A certificação florestal foi intensamente promovida pela sociedade civilna última década. Ela foi o resultado da desilusão pública com o fracassodos governos e de órgãos intergovernamentais na melhoria da gestãoflorestal ou no combate eficaz ao desmatamento e do fato de a indústriaflorestal não informar sobre a origem dos seus produtos.

A certificação florestal é um instrumento voluntário, com baseno mercado, que permite aos consumidores identificar produtosflorestais que respondem a altos padrões ambientais. Ao se concentrarna qualidade do manejo florestal em vez de na qualidade dos produtosflorestais, a certificação contribui para a crescente tendência de sedefinir padrões de produção e de processamento para o desempenhosocial e ambiental na gestão dos recursos.

Existem três instrumentos principais de certificação emfuncionamento:

a acreditação outorgada pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC)um sistema internacional que exige dos produtores o cumprimentode um conjunto global de Princípios e Padrões para uma boa gestãoflorestal e fornece um selo FSC para usar no rótulo dos produtos;certificação concedida pelo Sistema de Gestão Ambiental (SGA),dentro da série ISO 14.000 da Organização Internacional paraPadronização; eesquemas nacionais de certificação, alguns dos quais tambémincorporam elementos das iniciativas do FSC e da ISO.

Ao final do ano 2000, cerca de 2% das florestas mundiais haviarecebido certificado de gestão florestal sustentável. Aproximadamente92% dessas florestas estão localizadas no Canadá, na Finlândia, naAlemanha, na Noruega, na Polônia, na Suécia e nos Estados Unidos. Aomesmo tempo, apenas quatro países com florestas tropicais úmidas(Bolívia, Brasil, Guatemala e México) possuíam mais de 100 mil hectaresde florestas certificadas, com um total combinado de 1,8 milhão dehectares. Um número cada vez maior de grandes cadeias de lojas devarejo do tipo “faça-você-mesmo” na Europa e nos Estados Unidos ealgumas das maiores construtoras dos Estados Unidos anunciaram quepassariam a favorecer produtos madeireiros certificados no futuro.Também vem aumentando o número de grupos de compradores que secomprometeram a comercializar apenas produtos de origem certificada.

Muitos milhões de hectares a mais estão em processo decertificação, embora o conceito ainda seja objeto de discussõesacaloradas em vários países. Os países produtores e grupos decomerciantes tendem a considerar a certificação restritiva, ao passo quepaíses consumidores com um grande número de grupos ambientalistasenfatizam seus potenciais benefícios. Embora ainda haja poucasevidências sobre os impactos da certificação em âmbito local e demercado, é evidente a contribuição desse procedimento voluntário paraa formulação de políticas. O estabelecimento do sistema proporcionouum fórum para que grupos de interesse discutissem questões maisabrangentes de política florestal e também conseguiu tirar o poder dedecisão das mãos de minorias com interesses velados.

Fontes: FAO, 2001b e 2001b; Mayers e Bass, 1999

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99FLORESTAS

As florestas são essenciais para a manutenção dadiversidade biológica. Estima-se que as florestas na-turais abriguem metade de toda a diversidade bioló-gica do mundo e, assim, elas contam com uma diver-sidade de espécies e endemismo maior do que qual-quer outro tipo de ecossistema. As florestas tropicaissão particularmente ricas (CIFOR e outros, 1998). Afragmentação florestal exacerba os impactos do des-matamento e da degradação florestal sobre a biodi-versidade, já que impede as rotas migratórias e facili-ta o acesso de seres humanos para uma maior explo-ração e a entrada de espécies invasoras (UNDP, UNEP,World Bank e WR, 2000). As florestas primárias rema-nescentes precisam ser identificadas, mapeadas, con-servadas e restauradas. Nos trópicos, onde a maiorparte das florestas remanescentes é de origem natu-ral, iniciativas de conservação associadas à restaura-ção florestal e ao desenvolvimento de comunidadeslocais que vivem nas florestas ou próximas a elaspodem ser bem-sucedidas em atingir a meta de con-servação da diversidade biológica, apesar da pres-são imposta pelo aumento da população.

O estabelecimento de áreas florestais protegi-das é uma das chaves para a proteção da diversidadebiológica mundial. Estima-se que 12% das florestasdo mundo tenham sido declaradas áreas protegidas

(como definido pelas Categorias I a VI da UICN). AsAméricas contam com a maior proporção de florestasna condição de áreas protegidas, correspondendo acerca de 20%. No entanto, o que realmente conta é aeficácia da gestão florestal. Em muitas partes do mun-do, há uma forte tendência à instituição de “parquesde papel”, cuja existência é em grande parte teórica eque não se reflete em reservas de conservação reais,que sejam substanciais e duráveis (Vancly e outros,2001). Além disso, as áreas que efetivamente existemestão sob crescente pressão de outros usos da terra.

O esgotamento da fauna e flora silvestres dafloresta como resultado da exploração comercial e dacomercialização de carne de animais silvestres é moti-vo de crescente preocupação. Essa situação atingiudimensões de crise em algumas partes da África tro-pical, onde várias espécies de primatas e antílopes,entre outras, estão ameaçadas (FAO, 2001a). Esse di-fícil problema está sendo tratado por vários gruposde interesse, em âmbito local ou nacional, e pela CI-TES, em âmbito internacional.

Em 1997 e 1998, houve incêndios em grandes áreasflorestais do mundo inteiro em conseqüência de in-tensas secas relacionadas ao El Niño. Outra série de

Floresta e biodiversidade

Os incêndiosflorestais naAustrália, no Brasil,na Etiópia, naIndonésia (foto àesquerda), no lestedo Mediterrâneo, noMéxico e no oestedos Estados Unidosgeraram preocupa-ções em relação aqueimadas,serviram decatalisadores depolíticas de respostaem âmbito nacionale promoveraminiciativas voltadasà prevenção e àsupressão deincêndios.

Fonte: UNEP, PaulusSuwito, TophamPicturepoint

Danos florestais

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100 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

incêndios graves ocorreram em 1999 e 2000. Os in-cêndios florestais ocorridos nos últimos cinco anosna Austrália, no Brasil, na Etiópia, na Indonésia, noleste do Mediterrâneo, no México e no oeste dos Es-tados Unidos sensibilizaram a opinião pública, gera-ram preocupações em relação a queimadas, serviramde catalisadores de políticas de resposta em âmbitonacional e promoveram iniciativas regionais e inter-nacionais voltadas à prevenção, identificação, alertaantecipado e supressão de incêndios. A relação entreos incêndios e as políticas e práticas de uso da terrasão hoje mais bem compreendidas (FAO, 2001a).

Eventos climáticos extremos representam ou-tra ameaça. As tempestades que atingiram a Europaem dezembro de 1999 causaram enormes danos àsflorestas e as árvores fora das florestas. O dano totalna Europa representou seis meses de corte normal naregião, e, em alguns países, o equivalente à produçãode vários anos foi derrubado. Para reduzir o riscopotencial de danos causados por tempestades nofuturo, vários países propuseram mudanças na formade gestão florestal, como, por exemplo, um maior usoda regeneração natural (FAO, 2001a).

Os sistemas de gestão florestal têm evoluído rapida-mente, assim como os respectivos papéis e respon-sabilidades dos governos, do setor privado, de co-munidades nativas e da sociedade civil. O conceitode gestão florestal sustentável e os esforços paraobtê-la continuaram a ganhar impulso em todo o mun-do durante a última década. Abordagens maisabrangentes à gestão florestal, como a gestão inte-grada de ecossistemas e paisagens, têm sido maisamplamente aceitas e estão sendo postas em prática.Essas abordagens reconhecem a natureza dinâmicados sistemas ecológicos e sociais, bem como a im-portância de uma gestão de fácil adaptação e de pro-cessos colaborativos de tomada de decisões. No ano2000, 149 países estavam envolvidos em nove inicia-tivas internacionais para o desenvolvimento e aimplementação de critérios e indicadores para a ges-tão florestal sustentável, cobrindo quase 85% dasflorestas mundiais. Ao menos 6% da área total defloresta em países em desenvolvimento está cobertapor um plano de gestão florestal formal, aprovado emâmbito nacional, com duração mínima de cinco anos.Cerca de 89% das florestas em nações industrializa-das são administradas de acordo com planos de ges-tão formais ou informais. Um levantamento da FAOenvolvendo 145 países revelou que 96% desses paí-

Gestão florestal

ses possuíam programas florestais nacionais em dife-rentes etapas de desenvolvimento. Programas flores-tais modelo e de demonstração são muito usados parademonstrar como funciona na prática a gestão flores-tal sustentável (FAO, 2001a).

O envolvimento de comunidades locais nagestão florestal conjunta é hoje uma característicaimportante dos programas e políticas florestais naci-onais em todo o mundo. Diante da insuficiência derecursos financeiros e humanos, os governos de pa-íses em desenvolvimento têm se voltado cada vezmais para as comunidades locais em busca de assis-tência na proteção e gestão de florestas de proprie-dade do Estado. Em alguns desses esquemas de ges-tão, a comunidade entra com o trabalho e a proteçãoe recebe em troca o acesso a áreas anteriormente res-tritas. Embora muitos programas de gestão com basenas comunidades sejam bem-sucedidos, esses siste-mas ainda estão em evolução (FAO, 2001a).

Também há uma crescente conscientizaçãosobre a extensão das atividades florestais ilegais,como as práticas corruptas, e sobre os enormes cus-tos financeiros, ambientais e sociais que elas acar-retam. A corrupção, considerada um assunto tabuaté pouco tempo atrás, é hoje discutida abertamenteem grandes fóruns internacionais e tem sido comba-tida de forma ativa por governos, ONGs, pelo setorprivado e por organizações internacionais. O com-bate ao crime e à corrupção inclui o fortalecimentode sistemas de monitoramento e de cumprimento dalei, maior transparência no processo de tomada dedecisões, leis mais simples e punições mais severas(FAO, 2001a).

Em âmbito internacional, duas grandes inicia-tivas internacionais seguiram-se à publicação da Ava-liação dos Recursos de Florestas Tropicais de 1980.A primeira foi o estabelecimento da Organização In-ternacional de Madeiras Tropicais (ITTO) em 1983,sob a égide da UNCTAD, com o objetivo de reunir ospaíses produtores e os consumidores de madeira tro-pical. A ITTO trabalha com projetos e conta com co-mitês permanentes sobre reflorestamento, indústriase mercados. Embora não fosse essa a intenção origi-nal, a ITTO se tornou uma importante plataforma paraquestões relativas à gestão florestal sustentável(ITTO, 2000).

A segunda iniciativa foi o Plano de Ação deSilvicultura Tropical (TFAP – Tropical ForestryAction Plan). Lançado em 1985 como uma iniciativaconjunta da FAO, do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD), do Banco Mundiale do World Resources Institute (WRI), o TFAP con-

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101FLORESTAS

tava com quatro áreas prioritárias de ação: silvicultu-ra no uso da terra; lenha e energia; conservação deecossistemas de floresta tropical; e instituições. Aofinal de 1990, o TFAP foi alvo de críticas pesadas pelamaneira como era administrado. Por volta de 1995, oTFAP passou por uma renovação, tornando-se mais“direcionado aos países” e centrado no fortalecimentoda capacidade de planejamento dos governos, e re-cebeu o nome de Programa Nacional de Ação Flores-tal (Sargent, 1990; Persson, 2000).

As avaliações dos recursos florestais realiza-das em 1980 e em 1990 forneceram importantes infor-mações de base para o processo da Conferência dasNações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvi-mento (a CNUMAD, ou Rio-92). As descobertas fei-tas em relação ao desmatamento (15,3 milhões de hec-tares por ano durante o período de 1980 a 1990) e afalta de capacidade por parte dos países de avaliar osrecursos florestais foram úteis para a elaboração derecomendações de capacitação nacional na Agenda21. Os princípios gerais que regem a gestão florestalsustentável, formulados durante a Rio-92 nos Princí-pios Florestais e no Capítulo 11 da Agenda 21, foramaperfeiçoados durante os últimos dez anos. Três dasconvenções internacionais acordadas durante a Rio-92, a já citada UNFCCC, a Convenção sobre Diversi-dade Biológica e a Convenção das Nações Unidas deCombate à Desertificação, também têm um peso im-portante no futuro das florestas (FAO, 2001a).

A elaboração de uma visão comum sobre agestão, a conservação e o desenvolvimento susten-tável de todos os tipos de florestas foi facilitada peloPainel Intergovernamental de Florestas (IPF) (1995-1997) e pelo Fórum Intergovernamental Sobre Flores-tas (IFF) (1997-2000), ambos sob os auspícios da Co-missão das Nações Unidas de Desenvolvimento Sus-tentável (UNCSD). O processo IPF/IFF resultou noacordo de quase 300 propostas de ação e na criação,em outubro de 2000, do Fórum das Nações Unidas

sobre Florestas (UNFF), um órgão intergovernamentalpermanente de alto nível com membros em todo omundo. Para apoiar o UNFF e melhorar a coordena-ção de políticas e a cooperação internacional, a Par-ceria Colaborativa das Florestas (CPF) foi formadapor 11 organizações internacionais relacionadas a flo-restas, tanto internas como externas ao sistema dasNações Unidas. Os principais instrumentosoperacionais do UNFF são o seu programa plurianualde trabalho e o plano de ação para a implementaçãodas propostas de ação do IPF/IFF. Embora seja pos-sível que os debates do UNFF estimulem políticasnacionais e debates e promovam ações por parte deorganizações participantes da CPF, a primeira sessãodo UNFF, realizada em junho de 2001, não conseguiuestabelecer um mandato claro nem definir responsa-bilidades para a implementação de propostas paraação (IISD, 2001c).

Um importante desafio internacional, tantopara o Hemisfério Norte quanto para o Sul, é assegu-rar a sustentabilidade dos bens e serviços florestaise da diversidade biológica de todos os tipos de flo-resta. O reconhecimento da importância dos ecos-sistemas florestais e das ameaças a sua integridadepela Conferência de Estocolmo representou um pas-so importante. No entanto, o trabalho subseqüentenão deteve a perda de florestas valiosas. As avalia-ções mostram que há um processo contínuo de de-gradação florestal e desmatamento. As ações concer-tadas necessárias para controlar e reverter essas ten-dências, e a abordagem ao problema da pobreza tãofreqüentemente associado a comunidades que depen-dem dos recursos florestais, já são há muito espera-das. Lidar de forma bem-sucedida com as florestascomo uma questão assimilada pela agenda internaci-onal dependerá em muito da habilidade da comunida-de internacional de mobilizar apoio político, financei-ro, científico e técnico para a gestão florestal susten-tável, especialmente em países em desenvolvimento.

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103FLORESTAS

Estima-se que a cobertura florestal da África abranjauma área de 650 milhões de hectares, compreenden-do 17% das florestas do mundo (FAO, 2001a). Osprincipais tipos de florestas são as florestas tropicaissecas na região do Sahel e na África Oriental e Meri-dional, florestas tropicais úmidas na África Ocidentale Central, floresta subtropical e formações arbustivasno Norte da África e na extremidade sul do continen-te, e mangues nas zonas costeiras. Essas florestaspossuem várias zonas críticas internacionais debiodiversidade (Mittermeier e outros, 2000). Apenas1% das florestas da África foram plantadas.

As florestas africanas fornecem muitos bense serviços. Um estudo realizado em Madagascar esti-mou o valor dos produtos florestais dos vilarejos lo-cais em US$ 200 mil pelo período de dez anos (Kremene outros, 2000). Em Gana, estima-se que entre 16% e20% do fornecimento de alimentos para a populaçãolocal provenha de produtos florestais e que sejamutilizadas até 150 espécies de animais e plantas. Afloresta tropical do estado de Cross River, na Nigéria,abriga mais de 700 espécies de plantas e animais, ecerca de 430 delas são usadas como produtos flores-tais não-madeireiros (ODA, 1994).

A maior preocupação diz respeito aodesmatamento, tanto para a obtenção de madeira co-mercial como para abrir espaço para a agricultura, eele representa uma grande perda de riqueza econômi-ca natural para o continente. A remoção seletiva devegetação (durante a extração madeireira e coleta delenha) contribui para a perda da qualidade florestal e

Florestas: África

Aproximadamente 22% da superfície da África ainda está coberta porflorestas, mas no período de 1999 a 2000, a África perdeu mais de 50milhões de hectares, a uma taxa média anual de 0,7%.

Nota: o verde escuro representa florestas fechadas, onde mais de 40% da florestaé coberta por árvores com mais de 5 metros de altura; o verde médio representaflorestas abertas (10% a 40% de cobertura) e fragmentadas; o verde claro representaoutros tipos de floresta, bosques de arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001b

Extensão florestal: África

da biodiversidade. A exploração excessiva de recur-sos florestais não-madeireiros, como plantas medici-nais, agrava o problema. Também há uma preocupa-ção de que o comércio de carne de animais silvestres,

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104 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

muito comum na África Central e Ocidental, estejacolocando em perigo vários mamíferos que residemnas florestas. As pressões sobre as florestas e ma-tas são exacerbadas pela construção de rodovias deacesso por empresas de silvicultura e de extraçãomineral, o que, ao abrir áreas de floresta fechada,torna os recursos mais acessíveis e o seu comérciomais lucrativo.

Estima-se que a taxa anual de alterações da área to-tal de floresta (terras com no mínimo 10% de cober-tura florestal e 0,5 hectare de área) no período de1990 a 2000 para a África inteira tenha sido de -0,74%.Isso equivale à perda de mais de 5 milhões de hecta-res de floresta por ano, uma área correspondentemais ou menos à área do Togo, e representa a maiortaxa de qualquer região. Os países com as taxas maisaltas de desmatamento são Burundi (9%), Comoros(4,3%), Ruanda (3,9%) e Nigéria (3,7%). Em termos

de área desmatada entre 1990 e 2000, o Sudão enca-beça a lista, com 9,6 milhões de hectares, seguidopela Zâmbia (8,5 milhões de hectares), a RepúblicaDemocrática do Congo (5,3 milhões de hectares), aNigéria (4,0 milhões de hectares) e o Zimbábue (3,2milhões de hectares). Apenas sete países aumenta-ram suas áreas florestais durante o mesmo período(FAO, 2001a).

As estratégias de desenvolvimento econô-mico e a negligência na implementação dos regula-mentos de proteção florestal são as principais pres-sões sobre os recursos florestais. Governos de paí-ses na África Central e Ocidental deram concessõesa empresas privadas para a extração madeireira deespécies selecionadas. A madeira é em grande parteexportada para a obtenção de divisas estrangeiras.Em países como Angola, República Democrática doCongo e Serra Leoa, a instabilidade política e guer-ras contribuíram mais ainda para o desmatamento. Aderrubada de florestas implica em impactos econô-micos negativos porque há uma perda de oportuni-dades futuras de exportação, de receita gerada comturismo e de opções de desenvolvimento farmacêu-tico. Segundo estimativas conservadoras, o custoanual do desmatamento em Uganda situa-se entreUS$ 3 milhões e US$ 6 milhões (NEMA, 2000).

Políticas fracas e ineficazes contribuíram paraa derrubada de florestas. Na África Oriental, porexemplo, os departamentos de manejo florestal tive-ram pouca prioridade durante toda a década de 1980,o que resultou em políticas, leis e regulamentos degestão florestal fracos e ultrapassados. Na ÁfricaMeridional, as políticas e leis de manejo florestal,em sua maioria, foram estabelecidas na década de1970 e logo se tornaram obsoletas, contando commultas de baixo valor e não-impeditivas, emitidaspor falta de cumprimento dessas leis. As falhas naspolíticas aplicadas na África Ocidental incluem fal-ta de atenção ao desenvolvimento de fontes alter-nativas de energia, financiamento inadequado a de-partamentos de manejo florestal, falta de apoio parainvestimentos privados no reflorestamento e mane-jo florestal sustentáveis e conceitos ultrapassadossobre a conservação florestal e a participação dacomunidade. No entanto, houve um aumento daconscientização em relação a questões de manejoflorestal em função de pressões internacionais, ser-viços de extensão e atividades de ONGs. Váriospaíses hoje têm corrigido essas falhas institu-cionais, e as políticas florestais estão sendo revis-tas, revisadas ou reformuladas. As comunidades

Derrubada de florestas

Invasões agrícolas em Uganda e no Quênia

No Parque Nacional do Monte Elgon, na fronteira do Quênia comUganda, invasões agrícolas ocorridas nas décadas de 1970 e 1980deixaram descobertos mais de 25 mil hectares de floresta virgem. NoParque Nacional de Kibale, em Uganda, invasores derrubaram mais de10 mil hectares de floresta. Na Reserva Florestal de Mabira, a SociedadeCooperativa de Agricultores de Kanani entrou na floresta em 1975. Aadministração do distrito considerou que se tratava de um projeto deauto-ajuda e não de uma invasão e concedeu autorizações de cultivopara 115 dos seus membros. As autorizações especificavam quenenhuma outra área de floresta poderia ser derrubada, que espécies deárvore de madeira valiosa deveriam ser preservadas e que nenhumaconstrução poderia ser feita na área. Os regulamentos não foramcumpridos, e, em 1981, mais de 1.800 pessoas haviam se instalado nolocal e causado a degradação de mais de 7.200 hectares da reserva.

No Quênia, toda a floresta nativa da Reserva Florestal deImenti, localizada nas encostas do Monte Quênia, foi ilegalmenteconvertida em áreas cultiváveis entre 1995 e 2000. As políticasflorestais obviamente falharam em seu objetivo de oferecer proteçãoadequada, já que em 1932 a área havia sido designada como reservaflorestal, onde atividades de derrubada não eram permitidas. Asimagens de Landsat abaixo mostram a perda de área florestal (emvermelho); cada imagem tem cerca de 20 quilômetros de extensão.

1995 2000

Fontes: NEMA, 2000; KWS, 1999; Landsat TM, 17 de março de 1995,Landsat ETM, 5 de fevereiro de 2000

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105FLORESTAS

tiveram maior envolvimento na elaboração de políti-cas e na implementação de estratégias de gestãoflorestal. Também foram desenvolvidas iniciativasde cooperação internacional na África Central e Me-ridional (FAO, 2001b).

A derrubada de florestas com fins agrícolasteve um papel significativo no desmatamento. NoNorte da África, houve uma perda de 13% da co-bertura florestal entre 1972 e 1992. Na Nigéria, esti-ma-se que o desmatamento de matas ciliares esavanas para o desenvolvimento agrícola tenhaatingido mais de 470 mil hectares por ano durante operíodo de 1978 a 1996 (DoF Nigeria, 1996). Na Áfri-ca como um todo, 60% das florestas tropicais der-rubadas entre 1990 e 2000 foram convertidas empequenas propriedades de agricultura permanente(FAO, 2001a).

Alguns programas de reflorestamento emgrande escala foram implementados, mas a maioriadeles estabeleceu monoculturas que não possuem adiversidade biológica das florestas naturais que elassubstituem. Apesar de alguns dos países mais ári-dos terem conseguido aumentar o tamanho de suasflorestas, os programas de reflorestamento não ti-veram muito sucesso na redução das taxas de desma-tamento, especialmente em florestas tropicais úmi-das (ADB, 2000; FAO, 2001a).

Outra resposta foi a designação de flores-tas como áreas protegidas. Cerca de 11,7% das flo-restas africanas estão na categoria de área protegi-da (FAO, 2001a). Apesar do estabelecimento de áre-as protegidas ter aumentado a disponibilidade e aqualidade das informações sobre os recursos flo-restais, essas áreas só atingirão seus objetivos seas medidas de proteção forem aplicadas (ver box napágina ao lado).

O manejo florestal com fins comerciais evo-luiu para uma filosofia mais sustentável. O ecossis-tema de floresta tem se tornado o foco do manejo, emlugar da extração de madeira, e os recursos florestaisnão-madeireiros estão sendo igualmente considera-dos. Na África Meridional, há uma compreensão cadavez maior a respeito da importância do comércio deprodutos florestais provenientes de florestas admi-nistradas de forma sustentável, e uma pequena pro-porção de florestas na Namíbia, na África do Sul e noZimbábue foi certificada pelo Conselho de ManejoFlorestal (FSC) (FAO, 2001a).

Esquemas de gestão florestal com base nascomunidades também estão sendo implantados, combenefícios consideráveis para a renda da comunida-

de e a conservação florestal. Na África Oriental, es-quemas de agrosilvicultura estão sendo introduzi-dos com a finalidade de conciliar a necessidade deprodução agrícola e a de extração de produtos flo-restais em pequenas propriedades rurais. No Quênia,o florestamento e o reflorestamento em escala do-méstica e comercial têm possibilitado abastecer apopulação de lenha, madeira roliça, madeira serrada,painéis e polpa e papel.

A coleta de madeira para lenha e a produção de car-vão contribuem de forma significativa para a degra-dação de florestas e áreas arborizadas, como assavanas. Em vários países da África Central e Orien-tal, o uso da lenha atende a mais de 80% das neces-sidades domésticas de energia (FAO, 2001a). NaÁfrica subsaariana, os combustíveis tradicionaisforam a fonte de 63,5% do uso total de energia em1997 (World Bank, 1999). O uso de madeira comocombustível na África Oriental chega a 1-2 kg/pes-soa/dia, e em Madagascar e Comoros a coleta demadeira para combustível é a maior causa de derru-bada florestal (UNEP, 1999). A coleta de madeira ge-ralmente altera a composição de espécies de flores-tas ou matas. Além disso, nutrientes são removidosdo ecossistema, e os animais podem ser privados deabrigo e material para seus ninhos (DEA&T, 1999).Na Zâmbia, derrubam-se cerca de 430 quilômetrosquadrados de matas anualmente para produzir maisde 100 mil toneladas de carvão (Chenje, 2000). Issogera cerca de US$ 30 milhões, e é a única renda paracerca de 60 mil pessoas (Kalumiana, 1998). A eletrifi-cação rural tem sido promovida em alguns países,mas a população rural carente com freqüência nãotem como arcar com as tarifas ou com os custos dosaparelhos elétricos (Chenje, 2000).

A comercialização de produtos artesanais,como cestos, também tem causado o desaparecimen-to de algumas espécies de plantas. As principaisfontes de materiais para tecelagem em Botsuana, emMoçambique, na Namíbia, na África do Sul e noZimbábue são a fibra de folhas de palmeiras e a tintamarrom proveniente da casca da árvore Berchemia.Em Botsuana, as árvores da espécie Berchemia, tra-dicionalmente conservadas, estão se tornando rapi-damente escassas (SADC, IUCN & SARDC, 2000).A tatamaca, o ébano e o baobá foram quase extintosdas ilhas do Oceano Índico Ocidental devido à ex-ploração excessiva (UNEP, 1999).

Perda da qualidade florestal

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107FLORESTAS

Florestas: Ásia e Pacífico

A região da Ásia e Pacífico conta com 18,8% das flo-restas mundiais. Na região, o noroeste do Pacífico e oLeste Asiático possuem a maior área florestal (29,3%do total regional), aos quais se seguem o SudesteAsiático (29,1%), Austrália e Nova Zelândia (22,3%),Sul da Ásia (11,7%), Pacífico Sul (4,8%) e Ásia Cen-tral (2,7%). A disponibilidade média de área florestalper capita na região no ano 2000 foi de 0,2 hectare,menos de um terço da média mundial de 0,65 hectarepor pessoa (FAO, 2001a).

O desmatamento e a degradação florestal são ques-tões críticas que ameaçam a biodiversidade, a estabi-lidade dos ecossistemas e a disponibilidade a longoprazo dos produtos florestais e privam a base de re-cursos naturais que sustenta várias economias naci-onais (UNESCAP e ADB, 2000). As causas subja-centes do desmatamento na região são a pressãodemográfica, uma grande dependência de lenha, ma-deira e outros produtos e a conversão de florestas emáreas com fins agrícolas, urbanos e industriais. O ex-cesso de pastagem e a agricultura itinerante tambémsão responsáveis pelo desmatamento e pela degra-dação ambiental. Além disso, à medida que as flores-tas sofreram degradação, os incêndios, as pragas, asdoenças e os desastres naturais passaram a acarretardanos maiores. A construção de esquemas de irriga-ção, barragens e represas e a extração mineral são

Aproximadamente 21% da superfície da Ásia e do Pacífico ainda está cobertapor florestas, e o processo de desmatamento também continua nessasregiões, embora apresente uma escala relativamente baixa, com uma médiaanual de 0,1%.

Nota: o verde escuro representa florestas fechadas, onde mais de 40% da florestaé coberta por árvores com mais de 5 metros de altura; o verde médio representaflorestas abertas (10% a 40% de cobertura) e fragmentadas; o verde claro representaoutros tipos de floresta, bosques de arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001a

Extensão florestal: Ásia e Pacífico

causas adicionais do desmatamento (ADB, 2000a), eos conflitos armados também causaram danos em al-guns países (UNESCAP e ADB, 2000).

Degradação florestal e desmatamento

Mudanças nas áreas cobertas por florestas 1990-2000 por sub-região: Ásia e Pacífico

Austrália e NovaZelândia

Ásia Central

Noroeste do Pacíficoe Leste Asiático

Sul da Ásia

Sudeste Asiático

Pacífico Sul

Ásia e Pacífico

área totalde superfície

(milhões de ha)

795,0

391,6

1.147,8

640,3

434,5

53,9

3.463,2

área total deflorestas 1990

(milhões de ha)

164,9

16,6

195,2

86,3

234,7

36,4

734,0

área total deflorestas 2000

(milhões de ha)

162,5

19,3

212,7

85,3

211,4

35,1

726,3

% de terras comcobertura florestal

2000

20,4

4,9

18,5

13,3

48,7

65,2

21,0

mudanças entre1999 e 2000

(milhões de ha)

-2,4

2,7

17,4

-1,0

-23,3

-1,2

-7,7

% demudanças anuais

-0,1

1,6

0,9

-0,1

-1,0

-0,4

-0,1

Fonte: dados compilados de FAO, 2001b :Nota os resultados podem apresentar diferenças porque os números foram arredondados

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108 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

A última Avaliação dos Recursos FlorestaisMundiais (FAO, 2001a) mostrou que as taxas dedesmatamento anual na região foram maiores no Su-deste Asiático, onde alcançaram 1% (o equivalente a2,3 milhões de hectares por ano), ao passo que o No-roeste do Pacífico e o Leste Asiático tiveram um au-mento de 1,85 milhão de hectares por ano, em funçãoprincipalmente do florestamento na China.

Mais de 40% (e a maior diversidade) dos man-gues do mundo crescem ao longo das costas do Sulda Ásia e do Sudeste Asiático. Outros 10% crescemno Pacífico. As florestas de mangue fornecem vári-os benefícios às pessoas e ao meio ambiente, maselas têm desaparecido a um ritmo alarmante nessaregião. Mais de 60% (cerca de 11 milhões de hecta-res) dos mangues da Ásia já foram convertidos emáreas de aqüicultura, e muitos outros foram desma-tados para dar lugar ao cultivo de arroz ou para odesenvolvimento urbano e industrial. Os manguesrestantes são explorados com vistas à obtençãode madeira, lenha, tanino e produtos alimentícios(UNESCAP e ADB, 2000).

Vários países dependem muito da madeira para suasnecessidades energéticas nacionais, e cerca de trêsquartos da produção total de madeira roliça se desti-nam a esse uso (UNESCAP e ADB, 2000). A contri-buição da lenha no consumo total de energia variamuito, de menos de 5% a mais de 85%. No Nepal, porexemplo, a lenha atende a 70% da demanda total de

energia (Bhatta e Shrestha, 1996). Em locais onde acoleta de lenha depende principalmente de florestasnaturais, isso pode contribuir de forma significativapara a degradação e o esgotamento florestal. A extra-ção excessiva em áreas íngremes é um grande motivode preocupação porque pode impossibilitar as fun-ções de proteção exercidas pelas florestas sobre asbacias hidrográficas e o fluxo de rios (UNESCAP eADB, 2000).

Os incêndios são um fenômeno importante erecorrente em vários ecossistemas florestais. Na re-gião da Ásia e Pacífico, a gravidade das queimadasfoi intensificada pelas secas e pela derrubada de ár-vores. Como resultado, os incêndios florestais setornaram a principal causa de desmatamento em vá-rios países, especialmente no Leste e no Sudeste daÁsia. Os incêndios ocorridos na Indonésia em 1996e 1997 são o melhor exemplo conhecido, mas incên-dios florestais graves também ocorreram na Austrá-lia, China e Mongólia nos últimos anos. Como res-posta, vários países instituíram sistemas de detecçãoe monitoramento de incêndios, e a Associação dasNações do Sudeste Asiático (ASEAN) estabeleceuum centro de manejo de incêndios florestais naTailândia, com finalidade de capacitação e pesqui-sas (FAO, 2001a).

A extração madeireira com fins comerciais éresponsável por grande parte da degradação flores-tal nos países das ilhas do Pacífico. Embora proporci-onem uma renda considerável para alguns países,operações em grande escala têm causado a degrada-ção de grandes áreas das ilhas, afetando a biodiver-sidade, alterando o equilíbrio hidroquímico e reduzin-do a disponibilidade de alimentos. A Nova Zelândia ea Austrália também perderam grandes áreas de vege-tação e de floresta nativa. A floresta nativa cobriaquase 70% da área terrestre da Nova Zelândia antesda chegada dos europeus no início do século XIX;hoje ela cobre apenas 16% (MFE New Zealand, 1997).Nas décadas de 1970 e 1980, o governo da Nova Zelân-dia concedeu subsídios para a derrubada de florestascom fins de produção agrícola e silvicultura exótica,o que, associado a um valor artificialmente baixo dasárvores em pé, incentivou a superexploração das flo-restas. A remoção subseqüente desses subsídios re-sultou na reversão de algumas áreas de pastagem emáreas de escrube e floresta.

Os efeitos negativos da degradação e da derrubadade florestas foram amplamente reconhecidos, e vári-

A extração madeireira comercial, como a praticada em Mianmar, é uma causa importante dodesmatamento em partes da região da Ásia e Pacífico.

Fonte: UNEP, Aye Myint Than, Topham Picture Point

Causas da degradação florestal

Políticas de resposta

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109FLORESTAS

os governos implementaram leis de manejo florestale programas que visam a conservação e o flores-tamento. Alguns países têm optado também por con-trolar a derrubada de florestas localizadas fora dasáreas de conservação e proteção. Dez milhões dehectares contam atualmente com proibições à extra-ção madeireira, mas o sucesso dessas proibições foiparcial. Em países como o Camboja, a Indonésia e aTailândia, a implementação foi inadequada, ao pas-so que as proibições na Nova Zelândia e no SriLanka, que trocaram extração por fontes alternati-vas, se revelaram eficazes (FAO, 2001b). A Tailândiae a Malásia adotaram políticas de proibição total dequeimadas. Alguns países introduziram instrumen-tos econômicos para a conservação dos recursosflorestais. A China, por exemplo, usa licenças e taxasde florestamento para fortalecer o cultivo, a prote-ção e a gestão de florestas. Na República Democrá-tica do Laos, as cotas de extração madeireira sãoemitidas e distribuídas às províncias como cotasprovinciais (ADB, 2000b). O melhor exemplo de com-promisso do governo com a proteção das florestasé dado pelo Butão onde, em 1995, se estabeleceu aobrigação do país em manter ao menos 60% da suaárea total de terra coberta por florestas.

A região contém 60% das plantações de flo-restas do mundo. Apesar de as plantações geralmen-te servirem como um substituto pobre para as flores-tas naturais em termos de manutenção da biodiver-sidade, elas podem complementar e substituir o for-necimento de madeira e outros produtos oferecidospor florestas naturais, reduzindo assim a pressão so-bre elas e o seu esgotamento. As plantações tambémdesempenham vários dos serviços ambientais pres-tados pelas florestas naturais, como o seqüestro decarbono, a proteção das bacias hidrográficas e a res-tauração de terras, e fornecem renda e emprego. Mui-tos governos vêm aumentando as plantações comvistas a obter esses benefícios (ver box).

A participação da comunidade local na gestãodas florestas tem crescido desde o final da década de1970. No Nepal, foram criados, em 1974, regulamentosque previam a transferência de certas áreas florestais agrupos de usuários das florestas, os quais protegem,administram e usam a área florestal, compartilham osbenefícios entre os usuários e possuem direitos exclu-sivos sobre a renda gerada pela floresta (ADB, 2000a).Trinta e seis por cento dos investimentos totais nosetor florestal do Nepal são destinados ao manejo flo-restal comunitário. Na Índia, a gestão florestal conjun-ta foi estabelecida em 1990, e cerca de 45 mil comunida-des de vilarejos em 21 estados estão envolvidas na

gestão de mais de 11 milhões de hectares de florestasdegradadas (MoEF, 1999). A comunidade fornece o tra-balho necessário para melhorar as áreas degradadas eprotege a floresta enquanto ela se regenera. Com otempo, o Estado ganha uma floresta revitalizada e arenda proveniente da venda de seus produtos. A co-munidade recebe uma parte da renda obtida com a ven-da da madeira, além do direito de coletar produtos flo-restais não-madeireiros (FAO, 2001b).

No Vietnã, mais de 500 mil hectares de flores-tas nacionais com recursos abundantes foram entre-gues a comunidades locais, povos nativos na suamaioria, ao passo que, nas Filipinas, um sistema deáreas protegidas integradas busca proteger abiodiversidade e envolver as comunidades como gru-pos de interesse na gestão das florestas.

Os países das ilhas do Pacífico também en-fatizaram o estabelecimento de áreas de conservaçãocom base na comunidade, mas alguns deles ainda care-cem de uma legislação formal ou de programasinstitucionalizados que proíbam a derrubada de árvorese florestas fora das áreas protegidas. Para alguns des-ses países, onde o sistema consuetudinário de gestãoflorestal ainda é muito usado, existem práticas tradicio-nais que protegem as áreas da derrubada florestal.

A Austrália e a Nova Zelândia se comprome-teram com a gestão florestal sustentável. Esses com-promissos foram formalizados pela Declaração dePolítica Florestal Nacional da Austrália de 1992 e pelaLei de Gestão de Recursos da Nova Zelândia de 1991.Em ambos os países, o corte de árvores e a derrubadade matas geralmente requerem avaliação e aprovaçãoformais. Na Nova Zelândia, mais de 99% da extraçãoanual de madeira roliça em 1997 proveio de planta-ções, e várias florestas receberam certificação do Con-selho de Manejo Florestal (FSC) (FAO, 2001a).

Plantações florestais: Ásia e Pacífico

O governo da China deu início a programas de florestamento nadécada de 1970. A cobertura florestal aumentou de 13,9% em 1993para 17,5% em 2000. Em 2001, a área florestada total na China haviachegado a 46,7 milhões de hectares.

Vários países têm planos ambiciosos para o futuro:o Vietnã estabeleceu a meta de criar 5 milhões de hectares deáreas florestais adicionais nos próximas dez anos;o Plano de Manejo Florestal das Filipinas estabeleceu a meta de2,5 milhões de hectares a serem plantados entre 1990 e 2015;a China planeja plantar 9,7 milhões de hectares entre 1996 e2010; ea Austrália visa triplicar a sua área de plantação para 3 milhões dehectares até 2020.

Fontes: Chan e outros, 2001; FAO, 2001a; UNESCAP e ADB, 2000

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110 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

ADB (2000a). Asian Environment Outlook 2001, SecondDiscussion Draft. Manila, Asian Development Bank

ADB (2000b). Environments in Transition: Cambodia,Lao PDR, Thailand, Vietnam. Manila, Asian DevelopmentBank

Bhatta, G.R. and Shrestha, D.L. (1996). An overview ofwoodfuel supply and management status in Nepal. WoodEnergy News, 11, 1, 7-8

Chan, L., Jian, W., Jijian, Y., Chen, J., Yong, F. and Zhiha,Z. (2001). China: Timber Trade and Protection of ForestryResources. Paper presented at the 5th meeting of theSecond Phase of the China Council Working Group onTrade and Environment (CCICED), August 2001

FAO (2001a). Global Forest Resources Assessment2000. FAO Forestry Paper 140. Rome, Food andAgriculture Organization http://www.fao.org/forestry/fo/fra/ [Geo-2-396]

FAO (2001b). State of the World’s Forests 2001. Rome,Food and Agriculture Organization

MoEF India (1999). National Forestry Action Programme– India: Vol.1: Status of Forestry in India. New Delhi,Government of India

MFE New Zealand (1997). The State of New Zealand’sEnvironment 1997. Wellington, Ministry for theEnvironment of New Zealand

UNESCAP and ADB (2000). State of the Environment inAsia and Pacific 2000. Economic and Social Commissionfor Asia and the Pacific and Asian Development Bank.New York, United Nations http://www.unescap.org/enrd/environ/soe.htm [Geo-2-266]

Referências: Capítulo 2, florestas, Ásia e Pacífico

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111FLORESTAS

A área de floresta da Europa, com 1 bilhão e 51 mi-lhões de hectares, constitui 27% da área total deflorestas do mundo e cobre 45% da paisagem euro-péia. A cobertura florestal varia de 0,3% na Islândiaa 72% na Finlândia (FAO, 2001a). Uma grande varie-dade de tipos de floresta boreal, temperada esubtropical está representada, assim como a tundrae formações de altitude. Desde a década de 1970, oflorestamento aumentou gradualmente a área flores-tal: entre 1990 e 2000, houve uma expansão florestalde quase 9,3 milhões de hectares (FAO, 2001a). Noentanto, as florestas primárias e florestas de espéci-es nativas de árvores têm diminuído. Práticas flores-tais que se sustentam em plantações de monoculturase populações de espécies exóticas de idade homo-gênea não contribuíram para a manutenção da di-versidade biológica.

A área de florestas na Europa aumentou mais de 9 milhões de hectares, ou aproximadamente 1%, durante o período de 1990 a 2000.

Nota: o verde escuro representa florestas fechadas, onde mais de 40% da floresta é coberta por árvores com mais de 5 metros de altura; o verde médio representa florestas abertas (10% a 40% decobertura) e fragmentadas; o verde claro representa outros tipos de floresta, bosques de arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001a

Extensão florestal: Europa

Alguns países, especialmente aqueles comuma cobertura florestal extensa (Finlândia, França,Alemanha e Suécia), consideram as suas florestas emum contexto integrado, com suas paisagens ebiodiversidade. Na teoria, isso significa uma aborda-gem mais ampla e responsável às práticas florestais.Outros países, especialmente aqueles com pouca co-bertura florestal (por exemplo, a Irlanda e a Espanha),estão mais interessados em um rápido crescimentoflorestal com fins comerciais ou para a proteção desuas bacias hidrográficas. A gestão florestal susten-tável ainda é um desafio para vários países europeus.

Nos países bálticos e na parte ocidental da antigaUnião Soviética, a maior parte do desmatamento comoresultado de derrubadas ocorreu na primeira metadedo século XX. Após a Segunda Guerra Mundial, fo-

Perda de florestas naturais edegradação florestal

Florestas: Europa

Mudanças nas áreas cobertas por florestas 1990-2000 por sub-região: Europa

Europa Central

Leste Europeu

Europa Ocidental

Europa

área totalde superfície

(milhões de ha)

209,3

1.789,3

360,8

2.359,4

área total deflorestas 1990

(milhões de ha)

48,9

870,7

122,4

1.042,0

área total deflorestas 2000

(milhões de ha)

50,3

875,1

125,9

1.051,3

% de terras comcobertura

florestal 2000

24,0

48,9

34,9

44,6

mudanças entre1999 e 2000

(milhões de ha)

1,3

4,4

3,6

9,3

% demudanças anuais

0,3

0,0

0,4

0,1

Fonte: dados compilados de FAO, 2001b :Nota os resultados podem apresentar diferenças porque os números foram arredondados

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112 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

ram realizados extensos programas de reflorestamen-to em conjunto com a extração madeireira industrial.Na Federação Russa, houve um grande declínio naextração de produtos florestais nos últimos anos, umacontecimento ligado ao declínio geral das ativida-des industriais em toda a antiga União Soviética. Nofinal da década de 1990, as remoções totais alcança-ram apenas entre um quarto e um terço dos volumesextraídos nas décadas de 1970 e 1980 (FAO, 2001a).

Áreas consideráveis de floresta foram nacio-nalizadas tanto na antiga União Soviética, a partir de1918, como nos países da Europa Central e do LesteEuropeu, na década de 1950, e foram estabelecidascategorias protegidas de floresta (OECD e World Bank,1993). Com o aumento da pobreza nesses países e aperda das formas de subsistência tradicionais da erado comunismo, as áreas protegidas e florestas noCentro-Leste Europeu hoje sofrem pressões proveni-entes do corte ilegal de árvores, o que, em algunslugares, levou algumas espécies raras ao limite daextinção. A tendência crescente à privatização veri-ficada em muitos países desde 1990 também tem re-duzido a área protegida de florestas (EEA, 1995), em-bora grandes áreas florestais na República de Komi ena bacia do lago Baikal tenham sido recentemente de-signadas como sítios de patrimônio mundial pelaUnesco, interrompendo de forma eficaz grandes ope-rações de extração madeireira que vinham sendo pla-nejadas (RFSCEP, 2000).

A poluição industrial causou uma degradaçãoflorestal significativa. Grandes faixas de floresta noCentro-Leste Europeu ainda sofrem as conseqüênci-as prolongadas da acidificação, embora as emissõesde SO

2 e as “chuvas ácidas” tenham se reduzido (ver

a seção “Atmosfera”) e a situação de deterioraçãopareça ter se estabilizado (EEA, 1997; UNECE e EC,

2000). Na Federação Russa, as florestas degradadassão encontradas ao redor de centros industriais naregião dos Urais, na Península de Kola e na Sibéria,com mais de 500 mil hectares danificados só na regiãosiberiana de Norilsk (Mnatsikanian, 1992). O desastrenuclear de Chernobyl afetou cerca de 1 milhão dehectares de florestas na Federação Russa, assim comograndes áreas na Bielo-Rússia e na Ucrânia. Essasflorestas estão fora de uso e de acesso público portodo o futuro previsível (FAO, 2001a).

Em meados da década de 1990, grandes áreasflorestais foram perdidas na Federação Russa poroutras causas além da extração madeireira. Os inse-tos foram responsáveis por 46% dos danos, os in-cêndios florestais por 33% e o clima desfavorável por16% (MoNP Russian Federation, 1996). O futuro dos850 milhões de hectares de florestas temperadas eboreais da Federação Russa (22% do total de áreasflorestais do mundo, correspondendo a uma área maiordo que a de qualquer outro país) é importante não sópara o país como para a região inteira, por causa doseu papel como sumidouro de carbono (ver “RegiõesPolares”, página 125). Todas as florestas da Federa-ção Russa pertencem ao Estado e estão divididas emtrês grupos para fins de gestão (ver box).

A derrubada de florestas para a abertura deterras agrícolas, a formação de terraços para o plantioe a criação de pomares de fruta tiveram conseqüênci-as negativas sobre o meio ambiente e a biodiversidadena região sudeste da Europa, especialmente na Albâ-nia, Bósnia e Herzegovina e Macedônia. Os ecossis-temas florestais, particularmente aqueles próximos aassentamentos rurais, sofreram uma degradação sig-nificativa devido à exploração excessiva de madeirapara lenha e ao excesso de pastoreio (REC, 2000). Agrave crise de energia ocorrida em meados da déca-da de 1990 na Armênia e na Geórgia também acarre-tou a extração madeireira ilegal em grande escala parao aquecimento doméstico e para o cozimento de ali-mentos (Radvadnyi e Beroutchachvili, 1999). As flo-restas afetadas foram as de carvalho e de outras po-pulações florestais caracterizadas por uma grandediversidade biológica em comparação com outrostipos de floresta. A derrubada de arbustos costeirose florestas também criou problemas, especialmentepara pássaros, que usam esses habitats para nidifi-cação (REC, 2000).

Em torno do Mediterrâneo, as florestas têmsido degradadas há séculos por causa do excesso depastagem e da remoção de madeira, e hoje restampoucas áreas florestais em estado natural (FAO,2001a). Os incêndios são um dos maiores inimigos

Administrando as florestas mais extensas do mundo:o patrimônio florestal na Federação Russa

Grupo 1Florestas protegidas

21% da área totalde floresta

Regimes de corterigorosos

aumentando

Grupo 2Florestas usadaspara fins múltiplos

6% da área total defloresta

Extração restrita àquantiacorrespondente aocrescimento anual

aumentando

Grupo 3Florestas usadas parafins comerciais

73% da área total defloresta

Corte raso permitido

diminuindo

Mudanças na proporção de área florestal 1966-88:

Fonte: FAO, 2001a

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113FLORESTAS

das áreas de floresta do Mediterrâneo devido às con-dições climáticas (ar seco e ventos fortes) e àcombustibilidade da cobertura verde; estima-se queem média 500 mil hectares sejam queimados a cadaano. Os incêndios florestais são quase sempre causa-dos por humanos: em áreas tradicionais de pastoreio,“queimadas de áreas de pastagem” ainda são freqüen-tes, especialmente em áreas de escrube, ao passo queem outras áreas a maior parte dos incêndios se deve ànegligência mais do que à intenção deliberada. O nú-mero de incêndios aumenta rapidamente em anos se-cos, especialmente em áreas turísticas.

O manejo florestal sustentável era praticado na Euro-pa Central no século XIX, e a cultura de uso susten-tável sobreviveu até os dias de hoje em algumas par-tes da região, especialmente na Eslovênia. Em váriaspartes da Europa Central e Ocidental, no entanto, asmonoculturas, especialmente as formadas por espé-cies de coníferas de crescimento rápido de valor co-mercial, substituíram espécies nativas de árvoreslatifoliadas, mas essas monoculturas não têm capaci-dade para sustentar uma alta biodiversidade e sãomais vulneráveis à acidificação.

Todos os países da região estão empreenden-do esforços para reduzir a produção de madeira a par-tir de florestas naturais e para aumentar a diversidadebiológica e outros serviços ambientais e funções deproteção, administrando-as de forma mais sustentá-vel. Para apoiar esses esforços, uma estrutura decertificação florestal pan-européia, conhecida comoPEFC (Pan-European Forest Certification), forneceum mecanismo voluntário de certificação florestal edispõe sobre um reconhecimento mútuo dos diferen-tes sistemas nacionais europeus e esquemas não-europeus. Foram estabelecidos órgãos gestores na-cionais da PEFC em 15 países europeus (FAO, 2001b).

Outra solução para o problema do desma-tamento é a imposição de multas e outros instrumen-tos econômicos sobre o corte, legal ou ilegal. NaCroácia, República Checa, Hungria, Lituânia e Polônia,a renda destinada a atividades de reflorestamento eproteção florestal é proveniente de multas ou impos-tos sobre a extração de madeira. Na Romênia, no en-tanto, a abolição, em 1995, de restrições auto-impos-tas às exportações de madeira, associada ao aumentodos preços da madeira serrada, levaram ambientalistasa temer um aumento da derrubada ilegal e da explora-ção excessiva (REC, 2000).

Esforços empreendidos para a gestãoflorestal sustentável

Além de empreender ações em âmbito nacio-nal, os países europeus fazem parte de esforçoscolaborativos internacionais que direta ou indireta-mente lidam com questões relacionadas a florestas.Vários acordos internacionais de amplo espectro quecobrem a proteção de espécies, como a CDB, a CITESe a Convenção de RAMSAR, também protegem indi-retamente as florestas. Uma diretriz do Conselho daComunidade Européia sobre a conservação dehabitats naturais da fauna e flora silvestres (a Diretrizde Habitats, ou 92/43/EC) entrou em vigor em junhode 1994. No entanto, duas das suas condições, a suaincorporação à legislação nacional e a apresentaçãode listas nacionais de sítios candidatos à inclusão narede Natura 2000, não foram cumpridas por todos osEstados membros.

Desde 1990 foram realizadas três conferên-cias ministeriais sobre a proteção das florestas naEuropa, conhecidas pela sigla MCPFE (MinisterialConferences on the Protection of Forests in Europe).Durante a segunda (Helsinque, 1993), acordou-se umadefinição comum sobre a gestão florestal sustentável(ver box). Durante a terceira (Lisboa, 1998), houveuma ênfase especial nos aspectos socioeconômicosda gestão florestal sustentável. Foram adotadas re-soluções relativas a populações, florestas e manejoflorestal, a critérios pan-europeus (ver box) e a indi-cadores e diretrizes operacionais para a gestão flo-restal sustentável (MCPFE Liaison Unit, 2000). Asresoluções estão sendo incorporadas a um programageral de trabalho (FAO, 2001a).

Critérios pan-europeus para a gestãoflorestal sustentável

“Entende-se por gestão sustentável a administração e o uso dasflorestas e áreas florestais de uma forma e a um ritmo que semantenham a sua biodiversidade, produtividade, capacidade deregeneração, vitalidade e seu potencial de cumprir, tanto hoje quantono futuro, funções ecológicas, econômicas e sociais relevantes, emâmbito local, nacional e global, e sem causar danos a outrosecossistemas” (Resolução H1, 2 reunião, Conferência Ministerial sobrea Proteção das Florestas na Europa MCPFE).

Critérios para a gestão florestal sustentável adotados pelaMCPFE em 1998:

manutenção e melhoria adequada dos recursos florestais e da suacontribuição para os ciclos globais de carbono;manutenção da saúde e da vitalidade do ecossistema florestal;manutenção e incentivo das funções produtivas das florestas(madeireiras ou não-madeireiras);manutenção, conservação e melhoria adequada da diversidadebiológica em ecossistemas florestais;manutenção e melhoria adequada das funções de proteção nagestão florestal (principalmente solo e água); emanutenção de outras funções e condições socioeconômicas.

a

Fonte: MCPFE Liaison Unit, 2000

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114 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

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Referências: Capítulo 2, florestas, Europa

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115FLORESTAS

Floresta: América Latina e Caribe

As florestas desempenham várias funções socioeco-nômicas importantes nos países latino-americanose caribenhos, tais como abastecer a indústria madei-reira com produtos para consumo interno e exporta-ção, prover as comunidades locais de produtos flo-restais não-madeireiros essenciais e oferecer às co-munidades indígenas que vivem nas florestas opor-tunidades de manter suas formas tradicionais de sus-tento. Também fornecem bens e serviços ambientais,ao atuarem como escudos naturais contra desas-tres, assegurarem a proteção de bacias hidrográficas,a preservação da biodiversidade e a prevenção à e-rosão do solo e servirem com sumidouro para o dió-xido de carbono.

A América Latina e o Caribe constituem umadas regiões florestais mais importantes, com quaseum quarto da cobertura florestal do mundo (FAO,2001a). A região possui 834 milhões de hectares deflorestas tropicais e 130 milhões de hectares de ou-tras florestas, temperadas e secas, costeiras e de alti-tude, que cobrem 48% da área total de terra (FAO,2001a). Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, México,Peru e Venezuela contêm 56% do total regional (FAO,2001a). As florestas da região possuem mais de 160bilhões de metros cúbicos de madeira, um terço dototal mundial. A Guatemala e o Panamá estão entre ospaíses do mundo com maior volume de árvores em pépor hectare (FAO, 2001a).

A bacia amazônica possui a floresta tropicalúmida mais extensa do mundo. Ela inclui ao menos 20tipos diferentes de floresta tropical, e é consideradao ecossistema mais rico do mundo em termos debiodiversidade (FAO, 2001a).

A taxa de desmatamento é uma das maiores domundo, com uma média anual de 0,48% (variando de1,2% na América Central a 0,4% na América do Sul e

um ganho líquido de 0,3% no Caribe). Dos 418 mi-lhões de hectares de floresta natural perdidos em todoo mundo nos últimos trinta anos, 190 milhões de hec-tares se encontravam na América Latina (FAO, 2001a).A área total de floresta na região se reduziu em cercade 46,7 milhões de hectares entre 1990 e 2000.

Os principais problemas são o desmatamento e a de-gradação do ecossistema florestal, incluindo fragmen-tação e perda de biodiversidade. Eles são causadospela conversão de áreas florestais em terras destina-das a outros usos e pelo uso não-sustentável dasflorestas. Os incêndios, sempre uma força natural aatingir os ecossistemas florestais, também se torna-ram um grande problema (ver box na próxima página).

Extensão florestal: América Latina eCaribe

A região da AméricaLatina e Caribe, amais densamentecoberta por florestas,perdeu aproximada-mente 47 milhões dehectares durante operíodo de 1990 a2000, quantidadesuperada apenaspela África.

Nota: o verde escurorepresenta florestasfechadas, onde mais de40% da floresta écoberta por árvores commais de 5 metros dealtura; o verde médiorepresenta florestasabertas (10% a 40% decobertura) e fragmen-tadas; o verde clarorepresenta outros tiposde floresta, bosques dearbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001a

Causas do desmatamento e da degradaçãoflorestal

Mudanças nas áreas cobertas por florestas 1990-2000 por sub-região: América Latina e Caribe

Caribe

América Central

América do Sul

América Latina eCaribe

área totalde superfície

(milhões de ha)

22,9

241,9

1.752,9

2.017,8

área total deflorestas 1990

(milhões de ha)

5,6

82,7

922,7

1.011,0

área total deflorestas 2000

(milhões de ha)

5,7

73,0

885,6

964,4

% de terras comcobertura florestal

2000

25,0

30,2

50,5

47,8

mudanças entre1999 e 2000

(milhões de ha)

0,1

-9,7

-37,1

-46,7

% demudanças anuais

0,3

-1,2

-0,4

-0,5

Fonte: dados compilados de FAO, 2001b : os resultados podem apresentar diferenças porque os números foram arredondadosNota

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116 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

A expansão da fronteira agrícola tem sido umadas principais causas do desmatamento (FAO, 2001a).Os agricultores comerciais derrubaram grandes áreasflorestais para a produção destinada à exportação: desoja no Brasil, na Bolívia e no Paraguai, de café noBrasil, e de banana na América Central, na Colômbia,no Equador e no Caribe (Contreras-Hermosilla, 2000).Pequenos agricultores também provocam odesmatamento ao empregar práticas de roça e queimacom o objetivo de estender suas terras agrícolas paraas áreas florestais.

As leis que regem a posse da terra são partedo problema. Na Amazônia e na América Central, ascomunidades locais são proprietárias de proporçõesconsideráveis da floresta, enquanto na Argentina, noChile e no Uruguai, praticamente todas as áreas deflorestas são propriedades privadas. Em outros luga-res, o Estado é um grande proprietário de florestas.Quando os direitos legais de propriedade sobre asterras não são claros, as pessoas tendem a derrubar econstruir em certas áreas com o propósito dereivindicá-las. A cobertura florestal também é removi-da para manter acesso às áreas quando comunidadesque vivem nas florestas temem que estas sejam de-claradas áreas protegidas e que seus direitos deutilizá-las venham a ser restringidos. Isso ocorreu naCosta Rica quando o governo quis expandir seu sis-tema de áreas protegidas (Contreras-Hermosilla, 2000).

O desmatamento foi agravado em alguns paí-ses devido a políticas destinadas a aumentar o cres-cimento econômico. Os subsídios também contribu-

em para o desmatamento. Por exemplo, os subsídiosconcedidos para a melhoria da produtividade de ter-ras agrícolas existentes deveriam aliviar a pressãosobre a necessidade de mais terras e conseqüente-mente reduzir a pressão para a derrubada de mais flo-restas. No entanto, incentivos agrícolas podem re-sultar em um aumento da posse de terras e em méto-dos de produção mais mecanizados e capital-intensi-vos que deslocam trabalhadores agrícolas. Trabalha-dores desempregados migraram para florestas naAmazônia, no Cerrado brasileiro, em Santa Cruz, Bolí-via, e em partes do Paraguai, causando um aumentoda derrubada florestal (Contreras-Hermosilla, 2000).A expansão pecuária e a agricultura mecanizada sãoresponsáveis por uma perda maior da cobertura flo-restal do que a produção de madeira, que está con-centrada em relativamente poucos países.

A exploração da madeira também pode causaro desmatamento, ao abrir áreas anteriormenteflorestadas para a agricultura de pequeno porte. Alémdisso, a extração madeireira seletiva pode eliminarcertas espécies de árvores, alterando a composiçãoflorestal. A construção de estradas também contribuipara a perda de cobertura florestal; cada quilômetrode estrada aberta em área florestal pode causar a re-moção de entre 400 e 2 mil hectares de florestas. Noestado brasileiro do Pará, o desmatamento causadopela construção de estradas aumentou de 0,6% para17,3% da área estadual durante o período de 1972 a1985 (Contreras-Hermosilla, 2000). No Equador, noPeru e na Venezuela, grandes empresas de extraçãomineral e garimpeiros abrem extensas áreas de flores-ta (MineWatch, 1997; Miranda e outros, 1998). Alémdisso, fenômenos biológicos, como a proliferação depragas, causam danos irreversíveis a algumas flores-tas (Monge-Nájera, 1997).

Os impactos do desmatamento, da degradação flo-restal e dos incêndios representam uma perda per-manente da capacidade potencial dos recursos flo-restais em gerar benefícios econômicos (CDEA,1992). Esses impactos são mais graves em algunspaíses do que em outros. A maioria dos paísescaribenhos esgotou seus recursos florestais de talforma que agora eles são obrigados a importar pro-dutos florestais, criando uma necessidade adicionalde divisas estrangeiras. Em países com recursos flo-restais extensos, como o Brasil, o desmatamento teveum impacto geral menor, embora no nível local o im-pacto possa ser considerável.

Incêndios florestais na América Latina e no Caribe

As queimadas são um instrumento tradicional de uso da terra para abrirnovas áreas para a agricultura e para facilitar a caça. As queimadas semcontrole são hoje um motivo de grande preocupação: os incêndiosflorestais podem destruir até 50% da biomassa florestal de superfície,com efeitos graves sobre a fauna do ecossistema florestal (UNEP, 2000).

As florestas ficaram especialmente vulneráveis aos incêndiosdurante o período de 1997 a 1999, por causa das secas estacionaisassociadas ao El Niño e da redução da qualidade das florestas. NaAmérica Central, mais de 2,5 milhões de hectares pegaram fogo em1998, e as maiores perdas ocorreram em Honduras, na Guatemala, noMéxico e na Nicarágua (Cochrane, no prelo). Só no México, houve 14.445ocorrências de incêndio (FAO, 2001a). No mesmo ano, incêndios degrande proporção também afetaram vários países da América do Sul.

Os custos sociais e econômicos dos incêndios são altos, quandose contabilizam os custos médicos, o fechamento de aeroportos, perdasde madeira e a erosão. Os danos causados pelos incêndios de 1998 naAmérica Latina foram estimados em aproximadamente US$ 10 a 15bilhões. O primeiro Seminário Sul-Americano sobre o Controle deIncêndios Florestais foi realizado no Brasil em 1998, e os formuladoresde políticas estão começando a se dar conta de que as respostasemergenciais devem ser associadas a melhores práticas do uso da terra.No México, por exemplo, os ministérios responsáveis pelas pastas deagricultura e manejo florestal têm colaborado desde 1998 na redução daameaça de incêndio florestais com fins agrícolas (FAO, 2001a).

Impactos da alteração florestal

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117FLORESTAS

Vários países adotaram recentemente novos regula-mentos florestais. A Bolívia, por exemplo, adotou umanova lei de manejo florestal em 1996 (Lei 1.700), quedisponibiliza as florestas de propriedade do Estado aempresas privadas por meio de concessões, desde queas populações locais e indígenas estejam envolvidas(Tomaselli, 2000). A extensão de áreas florestais sobproteção também tem aumentado: de menos de 10% daárea total de floresta na América do Sul tropical em1990, passou para mais de 14% em 2000 (FAO, 2001a).

Instrumentos com base no mercado, como acertificação florestal, também podem contribuir paraa gestão florestal sustentável. A Bolívia, o Brasil, aGuatemala e o México possuem atualmente 1,8 mi-lhão de hectares de florestas certificadas pelo Conse-lho de Manejo Florestal (ver página 94), o que excedeem muito a área de florestas tropicais úmidas certifi-cadas em qualquer outra parte do mundo (FAO, 2001a).O café cultivado à sombra é outro exemplo de situa-ções em que tais instrumentos têm o potencial deproteger recursos ambientais e responder a preocu-pações locais (ver box).

A área de plantações de florestas aumentou decerca de 7,7 milhões de hectares em 1990 para aproxi-madamente 11,7 milhões de hectares em 2000. Essasplantações, compostas em sua grande maioria de es-pécies de Pinus e de Eucalyptus, estão concentradasno Cone Sul e no Brasil, no Peru e na Venezuela (FAO,2001a). Políticas regionais referentes a plantações flo-restais estão direcionadas principalmente à recupera-ção de terras degradadas. Em alguns países, certasáreas de plantação florestal tiveram um papel funda-mental na melhoria da cobertura florestal e na obten-ção de grandes quantias de divisas estrangeiras. Emoutras áreas, as plantações oferecem uma alternativaeconômica a outras formas de uso da terra (como agri-cultura) e assim ajudam a reduzir o desmatamento. Noentanto, as florestas plantadas possuem uma biodi-

versidade consideravelmente menor do que as flores-tas nativas (Cavelier e Santos, 1999).

A maioria dos governos recebe apoio interna-cional para formular políticas ambientais, fortalecer ins-tituições e estabelecer estruturas e mecanismos paramelhorar o monitoramento e a avaliação. Os progra-mas e projetos que contam com o apoio internacionalestão ligados, em sua maioria, a preocupações glo-bais, tais como a conservação da biodiversidade emudanças climáticas. Exemplos de tais iniciativas in-cluem o Projeto Piloto para a Proteção das FlorestasTropicais do Brasil (PPG-7), o Projeto BOLFOR na Bo-lívia (FMT, 2002) e o Centro Internacional Iwokrama naGuiana. Existem organizações internacionais ativas naregião, e os esforços para lidar com os problemas pormeio de colaboração regional estão ganhando terreno.O Conselho Centro-americano para Florestas e ÁreasProtegidas (CCAB-AP) presta assessoria em relação apolíticas e estratégias para o uso sustentável dos re-cursos florestais e a conservação da biodiversidade, eo Tratado de Cooperação Amazônica, firmado por oitopaíses sul-americanos, promove a colaboração em ati-vidades realizadas na Bacia Amazônica (FAO, 2001b).

Melhoria das políticas e regulamentosflorestais

Cavelier, J. and Santos, C. (1999). Efecto de plantacionesabandonadas de especies exóticas y nativas sobre laregeneración natural de un bosque montano en Colombia.Revista de Biología Tropical 47, 4, 775-784

CDEA (1992). Amazonia Without Myths. Commissionon Development and Environment for Amazonia.Washington DC, Inter-American Development Bank andUnited Nations Development Programme

Cochrane, M. (in press). Spreading like Wildfire: TropicalForest Fires in Latin America and the Caribbean –Prevention, Assessment and Early Warning. Mexico City,United Nations Environment Programme

Contreras-Hermosilla, A. (2000). The Underlying Causesof Forest Decline. Occasional Paper No. 30. Jakarta,Center for International Forestry Research

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Miranda, M., Blanco-Uribe, A., Hernández, L., Ochoa,J. and Yerena, E. (1998). All That Glitters is Not Gold.Balancing Conservation and Development in Venezuela’sFrontier Forests. Washington DC, World ResourcesInstitute

Monge-Nájera, J. (1997). Moluscos de ImportanciaAgrícola y Sanitaria en el Trópico: la ExperienciaCostarricense. San José, Universidad de Costa Rica

Tomaselli, I. (2000). Investing in the Future: The PrivateSector and Sustainable Forest Management – SouthAmerica Perspective. Paper prepared for the InternationalWorkshop of Experts on Financing Sustainable ForestManagement, 22-25 January 2001, Oslo, Norway

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Referências: Capítulo 2, florestas, América Latina e Caribe

Café cultivado à sombra - colocando o mercadoa serviço do desenvolvimento sustentável

Quando os consumidores norte-americanos pagam um bônus pelo cafécultivado à sombra, incentivos podem ser criados para que osagricultores mexicanos mantenham a biodiversidade da terra em quetradicionalmente cultivam café à sombra da cobertura florestalexistente. Ao confiar em obstáculos e predadores naturais inatos paraproteger suas colheitas de pragas e na fertilidade natural do solo paranutrir as plantas, eles evitam o uso dispendioso e geralmente daninho defertilizantes e pesticidas. Seus diversos sistemas agrícolas podemcontinuar a fornecer habitat a aves canoras migratórias, insetos e outrasespécies da fauna que de outra forma poderiam estar ameaçadas pelaconversão das florestas em grandes plantações de café cultivado ao sol,ao mesmo tempo em que preservam os valores culturais, as formas desubsistência e a integridade de pequenas comunidades. Ao se avaliar ovalor de mercado do café cultivado à sombra, ficam drasticamenteenfraquecidos os argumentos econômicos que justificam a derrubada deflorestas, e aumentam os incentivos para a sua conservação e o seu usosustentável (Vaughan, Carpentier e Patterson, 2001).

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118 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

As florestas cobrem cerca de 26% da superfície daAmérica do Norte e representam mais de 12% dasflorestas mundiais. A América do Norte possui maisde um terço das florestas boreais do mundo, assimcom uma grande variedade de outros tipos de flores-tas. Aproximadamente 96% são florestas naturais. De-pois da Federação Russa e do Brasil, o Canadá pos-sui a maior extensão florestal do mundo, com 244,6milhões de hectares. Os Estados Unidos ocupam oquarto lugar entre os países com maior extensão flo-restal, com 226 milhões de hectares (FAO, 2001). Aárea florestal do Canadá permaneceu estável durantea última década, mas a dos Estados Unidos cresceuquase 3,9 milhões de hectares, o que equivale a apro-ximadamente 1,7%.

As estimativas mostram que a América doNorte hoje produz por ano 255,5 milhões de metroscúbicos de madeira a mais do que a quantidade extra-ída (UNECE e FAO, 2000). A região é responsável porcerca de 40% da produção e do consumo mundiais deprodutos industriais de madeira (Mathews eHammond, 1999).

A área de florestas plantadas também tem au-mentado nos dois países. No Canadá, a área regene-rada por meio de plantação aumentou de um poucomenos de 100 mil hectares em 1975 para quase 400 milhectares em 1997 (REGEN, 2002), enquanto os Esta-dos Unidos possuem cerca de 21 milhões de hectaresde plantações, ou aproximadamente 4,5% da sua baseflorestal (UNECE e FAO, 2000).

No Canadá, 94% das florestas são de proprie-dade pública, sendo as províncias responsáveis por71% das áreas florestais (NRC, 2000). Já nos EstadosUnidos, cerca de 60% das florestas são de proprieda-de privada, 35% são de propriedade pública e estão

Florestas: América do Norte

sob a administração do governo federal, e os 50 esta-dos possuem e administram 5% (FAO, 2001).

No passado, uma floresta era considerada saudávelse estivesse livre de doenças e crescessevigorosamente (NRC, 1999). Nos últimos vinte anos,no entanto, a sustentabilidade a longo prazo doecossistema florestal se tornou a principal medida parase avaliar a saúde florestal (UNECE e FAO, 2000).Uma floresta pode ser considerada saudável quandomantém sua biodiversidade e sua capacidade de re-cuperação, fornece habitat à fauna e flora silvestre,presta serviços ecológicos, conserva seu apelo esté-tico e mantém uma oferta sustentável de recursosmadeireiros e não-madeireiros (NRC, 1999). Em váriasáreas, as florestas têm sofrido fragmentação, empo-brecimento biológico e enfraquecimento ou estressecada vez maiores (Bryant, Nielsen e Tangley, 1997).

A intervenção humana e a demanda por ma-deira e papel são as principais causas de modificaçãoflorestal. Práticas inadequadas de extração, a intro-dução de espécies exóticas e a supressão de pertur-bações naturais criaram grandes paisagens florestaiscom distribuição e estrutura etária não-naturais, o queaumentou a vulnerabilidade das florestas a secas,ventos, insetos, doenças e incêndios (USDA, 1997).

A poluição atmosférica é cada vez mais reco-nhecida como um dos fatores que contribuem para adegradação florestal (Bright, 1999), tendo desempe-nhado um papel importante na grande extinção deflorestas de abetos e pinheiros no sul dos Apalaches,

incremento anual

extrações anuais

Canadá Estados Unidos

800

600

400

200

0

Incrementos e extrações de madeira(milhões m3/ano): América do Norte

A América do Norteatualmente planta

cerca de 255milhões de m3 de

árvores a mais doque extrai.

Fonte:UNECE e FAO, 2000

Extensão florestal: América do Norte

As florestas cobrem cerca de 26% da América do Norte, e sua área continuaa aumentar, embora o mesmo não ocorra com a qualidade das florestas.

Nota: o verde escuro representa florestas fechadas, onde mais de 40% da florestaé coberta por árvores com mais de 5 metros de altura; o verde médio representaflorestas abertas (10% a 40% de cobertura) e fragmentadas; o verde claro representaoutros tipos de floresta, bosques de arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001

Saúde das florestas

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119FLORESTAS

Califórnia Oregon Washington Total

60

50

40

30

20

10

0

1933-45 1992

Declínio das florestas primárias(percentual total)

uma região que tem sido o foco de preocupação doServiço Florestal dos Estados Unidos (USDA, 1997;Mattoon, 1998). Apesar dos regulamentos sobre po-luição terem resultado na redução das chuvas ácidasno nordeste do país, há evidências de que o cresci-mento reduzido de algumas espécies de árvores estáligado aos efeitos a longo prazo da precipitação ácida(Driscoll e outros, 2001).

Uma questão emergente na manutenção dasaúde florestal é o impacto potencial das mudançasclimáticas e a relação entre elas e outras influênciasdanosas (NRC, 1999). É pouco provável que as flo-restas da América do Norte, especialmente seusecossistemas de árvores latifoliadas, que parecem teruma grande capacidade de absorver carbono, mante-nham suas características de absorção em um estadoinsalubre (Bright, 1999). À medida que as práticas degestão florestal valorizam mais as características não-madeireiras, que áreas florestais estão protegidas daextração madeireira e que a habilidade de absorção decarbono das florestas enfraquecidas são questiona-das, torna-se cada vez mais importante reduzir o con-sumo norte-americano de produtos madeireiros e decombustíveis fósseis.

As florestas primárias, caracterizadas por populaçõesde árvores grandes e antigas, uma composição dis-tinta de espécies, uma cobertura de copas em váriosníveis e uma grande concentração de matéria orgâni-ca (Lund, 2000), possuem muitas características posi-tivas. Elas são uma fonte de madeira de grande valor,possuem grandes volumes de carbono, abrigam umaenorme diversidade biológica, fornecem habitat paravárias espécies, regulam regimes hidrológicos, prote-gem solos e conservam nutrientes, além de terem umconsiderável valor estético e recreativo (Marchak,Aycock e Herbert, 1999). O interesse em florestas pri-márias é suscitado, em grande parte, pelas poderosasimagens de riqueza de biodiversidade e estabilidadeeterna que elas projetam. Os visitantes com freqüên-cia experimentam um tipo de espiritualidade e grande-za nessas florestas que são muito valorizadas.

Existiam florestas primárias em todos osecossistemas norte-americanos, embora hoje seja di-fícil determinar sua exata extensão. Ainda existempopulações e florestas primárias remanescentes, es-pecialmente na região noroeste do Pacífico e ao lon-go da costa do Pacífico até a Califórnia. As florestasprimárias clássicas dessa região possuem sequóias,cedros, Pseudotsuga menziesii, cicutas e abetos. A

região provavelmente ainda contém cerca de metadedas florestas tropicais temperadas costeiras não ex-ploradas que restam no mundo, a maior parte da qualna província canadense de British Columbia.

A maioria das perdas de florestas primárias emrelevos suaves e orientais da América do Norte ocorreupor causa da conversão de terras para fins agrícolas epara o desenvolvimento urbano. No oeste (ver gráfico)

Clayoquot Sound

Clayoquot Sound, uma extensão de mil quilômetros quadrados na Ilhade Vancouver, tornou-se o foco de um debate de grande atençãopública sobre a extração de madeira de árvores primárias. O debateteve início em 1984, quando ambientalistas e membros da PrimeiraNação Nuu-chah-nulth realizaram protestos contra o corte raso,bloqueando as estradas de acesso, entre outras táticas. Durante operíodo de 1989 a 1993, forças-tarefa governamentais tentaramresolver o conflito, e grandes áreas de floresta tropical temperadaforam colocadas sob proteção (MSRM, 2002). Com o argumento de quea extração madeireira ainda era permitida em 70% da região, osprotestos continuaram e conseguiram atrair atenção nacional einternacional sobre a questão.

Em 1995, depois de se reconhecer que a tribo Nuu-chah-nulth não havia sido consultada de forma apropriada, foram iniciadasnegociações públicas com os povos da Primeira Nação.Recomendações foram formuladas e adotadas pelo governo daprovíncia (maio de 1998). Também se estabeleceu uma floresta-modelo de 4 mil quilômetros quadrados.

Subseqüentemente, houve progresso na resolução dosconflitos restantes. Uma das maiores empresas de produtos florestaisdo Canadá anunciou que encerraria gradualmente suas atividades decorte raso na província de British Columbia e que desenvolveria umanova estratégia centrada na conservação de árvores primárias(MacMillan, 1998). Firmou-se um acordo entre as Primeiras Nações eambientalistas para proteger a maior parte da costa oeste deClayoquot Sound e promover o desenvolvimento econômico por meioda extração madeireira de pequeno porte, de produtos florestais não-madeireiros e do ecoturismo. Com a designação de Clayoquot Soundcomo uma reserva de bioesfera pela UNESCO, em janeiro de 2000, aindústria, ambientalistas, governos e as Primeiras Naçõesestabeleceram uma nova forma de administração, baseada naresponsabilidade compartilhada do ecossistema (ENS, 1999;Clayoquot Biosphere Trust, 2000).

Florestas primárias

As florestasprimárias vêmdiminuindorapidamentedesde meadosdo século XX.

Fonte: H. John HeinzIII Center, 2001

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120 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

e nas regiões montanhosas, a perda se deu em conse-qüência da extração de madeira e da conversão empopulações mais jovens de crescimento mais rápido,associadas a eventos catastróficos, como a erupçãodo Monte St Helens e os incêndios no Parque Nacio-nal de Yellowstone (Harmon, 1993; H. John Heinz IIICenter, 2001).

A redução das florestas primárias foi em gran-de parte impulsionada por uma crescente demandamundial por madeira e pelos altos preços da décadade 1970 (Mathews e Hammond, 1999). Nos últimosanos, houve uma diminuição nas perdas por extraçãode madeira, em função das crescentes preocupaçõesambientais, incluindo o desejo de preservar florestasnaturais e evitar maiores destruições de habitats crí-ticos de vida silvestre e da diversidade biológica.

Alguns ainda consideram as florestas nacio-nais como essenciais para o fornecimento de madeiraindustrial no Canadá. O país extrai cerca de 175 mi-lhões metros cúbicos de madeira por ano (NRC, 2000),que obtém a partir de aproximadamente 1 milhão dehectares, ou 0,5% da base de florestas comerciais danação. Há muito poucas florestas plantadas que al-cançaram a maturidade, razão pela qual a extraçãomadeireira continua a ser desenvolvida em área defloresta natural primária.

A mudança em direção a uma abordagemecossistêmica da gestão das florestas primárias daAmérica do Norte reflete o poder combinado do co-nhecimento científico, da ação de grupos voluntári-os, da conscientização pública, de pressões de mer-cado sobre a indústria e de respostas governamen-tais (ver box na página anterior).

O compromisso do Canadá com o manejo florestalsustentável reflete-se na sua Estratégia Florestal Na-cional 1998-2003, no conjunto de critérios e indicado-res de gestão florestal sustentável do Conselho Ca-nadense de Ministros Florestais e na pesquisa reali-zada pelo Serviço Florestal Canadense (NRC, 2000).O serviço florestal dos Estados Unidos também in-corporou o conceito de manejo florestal sustentávele, em 1999, começou a desenvolver critérios e indica-dores para a gestão sustentável (UN, 1997).

Várias iniciativas por parte de estados e pro-víncias também expressam uma mudança em direçãoà gestão sustentável de ecossistemas. Principalmen-te em resposta à pressão pública, a gestão florestalnos últimos vinte anos incorporou uma nova ênfasena manutenção do habitat de vida silvestre, na prote-ção de solos e na retenção das características daspaisagens naturais. Grandes extensões de florestasda América do Norte, inclusive primárias, foram de-signadas como áreas protegidas. O Canadá protegeucerca de 32 milhões de hectares (13%) das suas áreasflorestais, e 67 milhões de hectares (30%) de florestasnos Estados Unidos estão sob algum tipo de prote-ção (University of Waterloo, 1998; FAO, 2001).

Os mercados de exportação exigem cada vezmais que os produtos madeireiros sejam certificadoscomo provenientes de florestas que estão submeti-das a boa gestão, no que se conta com o envolvimentode muitos governos e empresas (Travers, 2000). Em2002, mais de 3 milhões de hectares de florestas daAmérica do Norte já haviam sido certificadas peloConselho de Manejo Florestal (FSC, 2002).

Políticas de resposta

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122 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Florestas: Ásia Ocidental

As florestas e matas da Ásia Ocidental ocupam ape-nas 3,66 milhões de hectares, ou 1% da superfícieterrestre da região, o que equivale a menos de 0,1%da área total de floresta no mundo (FAO, 2001a). Amaior parte da cobertura florestal (62%) se encontrana Península Arábica, e o restante está espalhadopelas montanhas e colinas do norte do Iraque, daJordânia, do Líbano, da Síria e dos Territórios Palesti-nos Ocupados. As melhores populações de florestasfechadas podem ser encontradas nas terras altas pró-ximas ao Mediterrâneo. Ao longo da costa da Penín-sula Arábica, crescem florestas de mangue. Os recur-sos florestais são de propriedade do Estado e admi-nistrados de forma centralizada (FAO, 1997).

As florestas e matas da região geralmente sãocompostas de espécies de crescimento lento, baixaqualidade e baixo valor econômico (Nahal, 1985; FAO,1997). Condições climáticas severas limitam o poten-cial do manejo florestal e restringem a regeneração, jáque as florestas sofreram degradação (Abido, 2000a).No sistema sem irrigação artificial, a produtividademédia da floresta varia de 0,02 a 0,5 m3/ha/ano, embo-ra atinja 2,9 m3/ha/ano nas florestas naturais de Pinusbrutia no norte da Síria (Nahal, 1985; GORS, 1991).Em contraste, a produtividade de plantações irrigadasde eucalipto pode exceder 17 m3/ha/ano (Abido,2000b). Todavia, as florestas têm um papel vital naproteção dos recursos hídricos e de solo da região,especialmente em terrenos montanhosos e íngremese em áreas propensas à desertificação. Elas tambémoferecem proteção contra tempestades de areia e es-tabilizam dunas e margens de rios (FAO, 1997).

Todos os países da região dependem dasimportações para satisfazer a maior parte das suasnecessidades referentes a produtos madeireiros. Ovalor total das importações de produtos madeirei-ros quase quadruplicou entre 1972 e 1996, passan-

do de US$ 131 milhões para mais de US$ 500 mi-lhões (FAOSTAT, 1998), enquanto as exportaçõesde produtos florestais entre 1996 e 1998 correspon-deram a US$ 36,6 milhões (UNDP, UNEP, WorldBank e WRI; 2000).

As florestas e matas da região têm uma longa históriade degradação e superexploração. As áreas monta-nhosas da costa do Mediterrâneo no Líbano e naSíria sofreram, ao longo do tempo, extensas derruba-das de áreas florestais para a construção de assenta-mentos humanos e para atividades agrícolas(Thirgood, 1981). A pastagem tradicional de ovelhase cabras ainda é praticada em ecossistemas florestais

Extensão florestal: Ásia Ocidental

A Ásia Ocidental, a região menos florestada, tem apenas 0,1% do totalflorestas do mundo, e somente 1% de sua superfície é coberta por florestas.

Nota: o verde escuro representa florestas fechadas, onde mais de 40% da florestaé coberta por árvores com mais de 5 metros de altura; o verde médio representaflorestas abertas (10% a 40% de cobertura) e fragmentadas; o verde claro representaoutros tipos de floresta, bosques de arbustos e matas.

Fonte: FAO, 2001a

Degradação e superexploração

Mudanças nas áreas cobertas por florestas 1990-2000 por sub-região: Ásia Ocidental

Península Arábica

Mashreq

Ásia Ocidental

área totalde superfície

(milhões de ha)

300.323

72.069

372.392

área total deflorestas 1990

(milhões de ha)

2.292

1.383

3.675

área total deflorestas 2000

(milhões de ha)

2.281

1.382

3.663

% de terras comcobertura florestal

2000

0,8

1,9

1,0

mudanças entre1999 e 2000

(milhões de ha)

-11

-1

-12

% demudanças

anuais

-0,05

-0,01

-0,03

Fonte: dados compilados de FAO, 2001b : os resultados podem apresentar diferenças porque os números foram arredondadosNota

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123FLORESTAS

de Juniperus excelsa na cordilheira do Antilíbano enas estepes sírias, onde ainda sobrevivem vestígiosde árvores da espécie Pistacia atlantica (Nahal, 1995;Abido, 2000a).

Nos últimos trinta anos, áreas de floresta na-tural foram fragmentadas e isoladas, transforman-do-se em um mosaico composto de campos agríco-las, no caso da Síria, e de assentamentos urbanos,tanto no Líbano quanto na Síria (World Bank eUNDP, 1998; GORS, 1991; Government of Lebanon,1995). É difícil fornecer uma estimativa precisa donível de degradação florestal na região nos últimostrinta anos em função da imprecisão das estimativasanteriores e dos problemas referentes à comparaçãoentre dados levantados por diferentes países queusaram métodos distintos de cálculo. No entanto,os dados disponíveis indicam que houve uma redu-ção de 44% na cobertura florestal da região no perí-odo entre 1972 e 2000.

No Líbano, houve uma perda de até 60% deflorestas entre 1972 e 1994 (Government of Lebanon,1995), ao passo que a pequena área de floresta dosTerritórios Palestinos Ocupados teve uma reduçãode 50% durante as décadas de 1980 e 1990 (PalestinianAuthority, 1999; FAOSTAT, 1998). No entanto, a áreatotal de floresta da Ásia Ocidental permaneceu maisou menos estável nos últimos dez anos (ver tabela napágina anterior). Ocorreram mudanças significativasapenas no Iêmen, onde a área florestal sofreu umaredução de 17%, e nos Emirados Árabes Unidos, ondeas florestas plantadas aumentaram a área total de flo-resta em 32% (FAO, 2001a).

Vários países possuem uma alta proporção deflorestas plantadas (100% no Kuwait, em Omã e noCatar, 97,8% nos Emirados Árabes Unidos e aproxi-madamente 50% tanto na Jordânia quanto na Síria)(FAO, 2001b). Os programas de florestamento aumen-taram a área florestal da Jordânia em 20% durante asdécadas de 1980 e 1990 (FAOSTAT, 1998).

Entre os fatores externos que afetam as flores-tas de forma significativa estão o crescimentopopulacional, a urbanização, o desenvolvimento eco-nômico (incluindo o turismo) e conflitos (no Iraque,no Líbano e na Síria, por exemplo). Os incêndios e oexcesso de pastagem e de exploração de produtosmadeireiros contribuíram localmente para a degrada-ção florestal (FAO, 1997). A pobreza e políticas flores-tais inadequadas são fatores fundamentais que con-tribuem para a deterioração de florestas e de matasnos países do Mashreq e no Iêmen. Até pouco tempoatrás, uma demarcação irregular de terras públicas eprivadas em algumas florestas e áreas protegidas e

ao redor delas levava a disputas e conflitos em rela-ção à posse das terras, dando a oportunidade a algu-mas pessoas de aumentar suas propriedades priva-das à custa de florestas públicas.

As comunidades rurais, especialmente em áre-as montanhosas, dependem muito dos recursos flo-restais para o fornecimento de madeira, lenha, carvãoe produtos florestais não-madeireiros, exercendo for-te pressão sobre os limitados recursos disponíveis.Estima-se que 57% das famílias do Iêmen dependamdos recursos florestais para atender às suas neces-sidades domésticas de combustível. O consumomédio de 0,5 m3 por pessoa ao ano excede em muitoo crescimento médio anual das florestas do país(Government of Yemen, 2000). O Iraque, a Jordânia,o Líbano, a Arábia Saudita e a Síria também usamuma proporção significativa da sua produção demadeira para combustível de uso doméstico (FAO,2001a). O corte e a coleta excessivos de madeira fize-ram com que os ecossistemas florestais frágeis setornassem propensos à erosão do solo e à deserti-ficação (World Bank e UNDP, 1998; Government ofLebanon, 1995; Government of Yemen, 2000). No en-tanto, o rápido processo de urbanização e industriali-zação na Ásia Ocidental tem acarretado uma migra-ção rural sazonal e permanente para áreas urbanas(FAO, 1997), tendência que deverá reduzir a pressãosobre florestas em áreas rurais, em termos de coletade lenha e pastagens.

A área média destruída a cada ano por incên-dios florestais duplicou em algumas partes da baciado Mediterrâneo desde a década de 1970 (Alexandrian,

Sangue de dragão(Dracaena draco),árvore que cresce emregiões áridas doIêmen. Mais dametade da populaçãodo país depende derecursos escassos delenha para cozinhar.

Fonte: UNEP, MohamedMoslih Sanabani, TophamPicturepoint

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124 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002

Esnault e Calabri, 1999) e aumentou em quase 40% naJordânia nas décadas de 1980 e de 1990, em compara-ção com a década de 1970 (Government of Jordan,1997). No Líbano, perderam-se cerca de 550 hectaresde área florestal por ano no período de 1961 a 1997devido a uma variedade de causas, tais como incên-dios, derrubadas e invasões urbanas. Na Síria, 8 milhectares de florestas foram convertidos em outrosusos da terra por meio de queimadas entre 1985 e1993, e outros 2.440 hectares de florestas foram con-vertidos em áreas agrícolas durante o mesmo perío-do. Desde a década de 1970, mais de 20 mil hectaresde florestas costeiras foram queimados no noroesteda Síria, resultando na erosão do solo de até 20 tone-ladas/ha/ano em encostas íngremes (World Bank eUNDP, 1998).

Tradicionalmente, as florestas e matas sempre foramconsideradas como uma fonte de madeira, lenha eáreas de pastagem. As políticas florestais eram for-muladas para proteger esses recursos, e os departa-mentos de silvicultura na região atuavam comoguardiões dos recursos. Desde 1992, houve na maio-ria dos países demarcação das florestas, revisão dosregulamentos florestais e incorporação das ativida-des florestais a estratégias nacionais de desenvolvi-mento dos países. Essas políticas incluem novos con-ceitos, tais como a gestão integrada dos recursos flo-

restais e o reconhecimento dos valores socioeconô-micos desses recursos. No entanto, algumas políticasainda estão mal definidas, carecem de objetivosmensuráveis e não estão coordenadas com políticasde uso da terra (FAO, 1997). O mais importante, porém,é que ainda é lenta a tendência à descentralização, quefacilitaria a participação pública em processos de to-mada de decisão, e que as políticas se mostramineficientes por falta de apoio financeiro. Novas inicia-tivas internacionais estão começando a abordar as re-lações entre as comunidades rurais e os recursos flo-restais, mas os resultados ainda não estão disponí-veis; a adoção de modelos de manejo florestal comuni-tário ainda está em um estágio inicial (FAO, 1997).

Os governos da Ásia Ocidental só recente-mente reconheceram a importância ecológica das flo-restas (FAO, 1997). Verifica-se atualmente uma ten-dência à conservação da diversidade biológica e aodesenvolvimento da indústria do ecoturismo na re-gião – como na Jordânia, no Líbano, em Omã e naArábia Saudita, por exemplo. Alguns países estabe-leceram reservas florestais, mas essas iniciativas fo-ram motivadas politicamente, com pouco envolvi-mento de grupos de interesse e sem o apoio das co-munidades locais.

Com a finalidade de obter a gestão florestalsustentável, são necessários esforços adicionaispara mobilizar recursos e envolver as comunidadeslocais, as ONGs e outros grupos de interesse nagestão florestal.

Obstáculos à gestão florestal sustentável

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125FLORESTAS

O sistema de florestas boreais do norte circunda oglobo através da Rússia, Escandinávia e Américado Norte, cobrindo aproximadamente 13,8 milhõesde quilômetros quadrados (UNECE e FAO, 2000). Éum dos dois maiores ecossistemas terrestres domundo, sendo o outro a tundra, uma vasta planíciesem árvores situada ao norte da floresta boreal eque se estende até o Oceano Ártico. As florestasboreais são um recurso importante para os paísesárticos e serão tratadas aqui como uma entidadeúnica, embora se estendam para muito além da sub-região do ártico (ver ilustração).

Ao contrário da redução generalizada da co-bertura de floresta tropical, a cobertura de florestaboreal aumentou em mais de 560 mil hectares desde1990 devido ao reflorestamento, ao florestamentoe a melhorias nas práticas de gestão florestal, mui-to embora relatem-se cortes rasos maciços e práti-cas florestais insustentáveis na Federação Russa(FAO, 2001a; Hansen, Hansson e Norris, 1996). Asprincipais árvores boreais são espécies coníferasde abetos, pinheiros e lariços. Algumas espéciessão decíduas e incluem vidoeiros, amieiros, salguei-ros, bordos e carvalhos. Uma grande parte das flo-restas boreais do Canadá, do Alasca e da Federa-ção Russa permanece relativamente não perturba-da por atividades humanas (FAO, 2001a; FFS, 1998),mas a longa história de atividades de exploraçãoflorestal na Escandinávia praticamente acabou coma floresta primária (CAFF, 2001).

A floresta boreal é importante para a base de recur-sos globais e para economias nacionais e mundial.O processamento de madeira tem sido uma ativida-de econômica fundamental para os países nórdi-cos desde a industrialização e uma importante fon-te de exportações para a Finlândia e a Suécia(Hansen, Hansson e Norris, 1996), ao passo que aFederação Russa é um dos maiores exportadoresde madeira roliça do mundo. Desde 1990, a produ-ção tem sido estável ou vem aumentando em to-dos os países com florestas boreais, exceto na Fe-deração Russa, onde se experimentou uma graveredução. Por exemplo, a produção de madeira roli-ça caiu de 227,9 milhões de metros cúbicos em1992 para 115,6 milhões de metros cúbicos em 1998,como reflexo dos problemas econômicos, sociais

Florestas: as Regiões Polares Limite das florestas do Ártico

A floresta boreal ocorre apenas na parte sul do limite marcado pela linhaverde-escura. A região ártica, como definida pelo Programa deMonitoramento e Avaliação do Ártico (AMAP), está limitada pela linhalaranja.

Fonte: GRID Arendal, 2000

Valores e usos da floresta boreal

e de infra-estrutura associados à transição econô-mica (FAO, 2001a).

Entre outros usos e produtos das florestasboreais, cabe mencionar: recreação, caça, criaçãode renas, forragem, produtos vegetais comestíveis(nozes, frutas silvestres, cogumelos, melaço debordo), plantas medicinais, árvores de Natal e de-corações florais silvestres (FAO, 2001a). As flores-tas também fornecem um importante habitat para afauna e flora silvestres. As funções ambientais dasflorestas boreais incluem estabilizar os frágeis so-los do norte, filtrar poluentes e funcionar como umsumidouro de carbono e um indicador das mudan-ças climáticas.

As principais ameaças às florestas boreais do nor-te incluem a fragmentação (ver box na página se-guinte), os incêndios florestais e os surtos de in-setos. Besouros escolitídeos causaram a morte deuma porção significativa das florestas de abetosno Alasca, e a ocorrência decenal da mariposa daespécie Epirrita autumnata na região daFennoscandia causou um desfolhamento em gran-de escala (CAFF, 2001). Insetos podem fazer comque madeira seca e morta fique mais suscetível aosincêndios, cuja ocorrência já tem aumentado comoresultado de um aumento de temperatura e de uma

Degradação e perda florestal

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diminuição da precipitação. Os impactos dos sur-tos de insetos e dos incêndios podem ser graves.No Canadá, por exemplo, 6,3 milhões de hectaresforam afetados por desfolhamento causado por in-

setos, e 0,6 milhão de hectares foram queimadosno ano 2000 (Natural Resources Canada, 2001).

Alguns dos países do Ártico possuem legislaçõesantigas dedicadas aos problemas associados à de-gradação florestal. A Finlândia implementou a Leide Proteção a Zonas Florestais em 1922, para evitara erosão e proteger regiões vulneráveis das suasflorestas do norte, e a Lei de Proteção à Naturezada Suécia, de 1909, resultou no estabelecimento decerca de 800 reservas florestais da coroa. As leismais recentes, relativas à Floresta de Faias (1974) eàs Florestas Decíduas (1993), regulamentam de ma-neira rigorosa a gestão dessas reservas. A Federa-ção Russa adotou o Código Florestal Russo em1997, que estabelece 35 parques nacionais em áre-as florestais com o total de 6,9 milhões de hectares(All-Russian Research and Information Centre,1997). Um relatório de 1999 do Senado canadenserecomendou a divisão das florestas boreais em trêscategorias com a finalidade de atender às deman-das que competem por recursos econômicos, sa-tisfazendo as necessidades das comunidades lo-cais e preservando a biodiversidade (ver box napágina 112). Dessa forma, 20% dessas florestas se-riam administradas para a produção de madeira, até20% seriam protegidas, e o restante seria reserva-do para usos múltiplos (FAO, 2001a). Apesar dasáreas protegidas do Ártico terem aumentado, amaioria das florestas ainda não foi incluída nessasáreas (Lysenko, Henry e Pagnan, 2000; CAFF, 1994).

Atividades de reflorestamento e floresta-mento têm ocorrido em todos os países com flores-tas boreais, embora muitas das espécies usadaspara o reflorestamento não sejam nativas à área.Na Islândia, por exemplo, onde práticas não-sus-tentáveis de corte e de pastoreio levaram as flores-tas nativas à exaustão, o replantio é conduzido comespécies como Pinus contorta, Picea sitchensis ePicea glauca, Larix sibirica e PopIulus (FAO,2001b). As novas diretrizes de gestão florestal emvários países da região da Fennoscandia requeremuma regeneração mais natural e a aplicação da ges-tão florestal em termos de paisagem (CAFF, 2001).No entanto, a regeneração que favorece o plantiode árvores coníferas em detrimento de espécieslatifoliadas alterou a composição das espécies deárvores em algumas florestas do Ártico, o que re-sultou na redução da população de várias espé-

Políticas e práticas de gestão florestal

Fragmentação florestal no Ártico

A fragmentação, que impede o funcionamento dos ecossistemas eresulta na perda de importantes habitats de vida silvestre, e a invasão deterras são sérias ameaças às florestas boreais do Ártico, incluindo asregiões florestais da Federação Russa (FFS 1998, Lysenko, Henry ePagnan, 2000). Na Escandinávia, houve uma tendência longa deconversão de áreas florestais em outros tipos de uso, especialmentepara fins agrícolas, e a abertura de sulcos na terra aumentou a lixiviaçãodos nutrientes e o escoamento superficial dos solos. Por sua vez, issocausou o assoreamento de rios e lagos, diminuindo sua produtividadecomo áreas de reprodução de peixes (CAFF, 2001).

As zonas costeiras de Finnmark, na Noruega, são importantespara o parto e para a alimentação, durante o verão, das populações derenas semidomesticadas dos povos autóctones Saami. O mapa abaixoilustra a fragmentação gradual dessas áreas como resultado daexpansão da malha viária. Instalações hidrelétricas, linhas detransmissão, áreas militares de testes com bombas e turísticostambém causaram impactos adicionais (UNEP, 2001).

resorts

Expansão da malha rodoviária na Finnmark,norte da Noruega, 1940-2000

1940 1950

1960 1970

1980 1990

2000

muito altoaltobaixomuito baixoárea em estado

Impacto(Redução da faunae flora silvestres)

natural

Fonte: UNEP, 2001

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cies invertebradas que habitam árvores decíduas(CAFF, 2001).

Tradicionalmente, os regimes de manejo deincêndios florestais extinguiam os incêndios, o queresultou na diminuição de espécies que dependemdo fogo e também em um aumento da disponibili-dade de materiais combustíveis e, conseqüentemen-te, na probabilidade de ocorrerem incêndios cadavez mais violentos. Os incêndios hoje estão sendocada vez mais vistos como um instrumento de ges-tão, já que se reconhece o problema da exclusãototal do fogo (FAO, 2001a).

Entre o extremo norte da floresta boreal, onde asárvores se regeneram de forma rápida, e a região detundra desprovida de árvores, existe uma zona detransição dinâmica conhecida como ”floresta-tundra”. Essa zona pode se estender por uns pou-cos quilômetros na América do Norte a mais de 200quilômetros na Europa (Stonehouse, 1989). É umaárea naturalmente fragmentada, formada por peda-ços de cobertura florestal relativamente densa pon-tuada por áreas de líquen e urze, assim como áreasde ocorrência esparsa de árvores. Essa zona su-porta mais espécies do que a floresta boreal e atundra, porque contém espécies de ambos os sis-temas (CAFF, 2001). As árvores da zona de flores-ta-tundra geralmente são malformadas e subdesen-volvidas, e a sua regeneração é lenta. Tradicional-mente, isso tornou a exploração comercial dessamadeira pouco prática, mas o sistema forneceumadeira para combustível e construções para aspopulações nativas por séculos (CAFF, 2001). Àmedida que a pressão sobre os recursos aumentar,entretanto, a zona de tundra-floresta pode vir a setornar uma fonte maior de produtos básicos. Defato, as operações madeireiras na região da Fennos-candia e no noroeste da Rússia chegaram perto dazona de floresta-tundra nas décadas de 1960 e de1990 (CAFF, 2001).

No inverno, a zona de floresta-tundra forne-ce um habitat importante para algumas populações

A frágil zona de floresta-tundra

de caribu norte-americano e para a rena européia,por sua vez apoiando as atividades tradicionais decriação de rena de populações nativas como osSaami, na Escandinávia. A zona também dá suportepara a criação de ovelhas, pesca e coleta de produ-tos não-madeireiros. As funções físicas mais im-portantes da tundra são estabilizar e proteger nu-trientes e solos frágeis, evitar a erosão, conservaros recursos hídricos e a capacidade da bacia hidro-gráfica, filtrar poluentes, funcionar como um indi-cador de mudanças climáticas e, junto com a flores-ta boreal, servir como um depósito de carbono (verbox acima).

Florestas do Ártico e mudançasclimáticas

Qualquer alteração significativa na área deflorestas boreais pode ter um efeito considerávelsobre o nível de CO na atmosfera. Com 26% dosestoques totais de carbono, as florestas boreaiscontêm mais carbono do que qualquer outroecossistema terrestre 323 gigatoneladas (Gt, 10toneladas) na Federação Russa, 223 Gt noCanadá e 13 Gt no Alasca (Dixon e outros,1994).

Por outro lado, calcula-se que, com asmudanças climáticas, a temperatura aumentarámais nas florestas boreais do que qualquer emoutro tipo de floresta. O aquecimento, que deveser maior no inverno do que no verão, segundoestimativas, deslocará as zonas climáticas emdireção ao norte a um ritmo de 5 quilômetros porano. As florestas boreais avançarão em direção aonorte, ao passo que suas bordas meridionaisdesaparecerão ou serão substituídas por espéciestemperadas. Durante o verão, os solos serão maissecos, e os incêndios e as secas serão maisfreqüentes. A perda de espécies locais pode sersignificativa, embora se acredite que poucasespécies se extingam (UNEP-WCMC, 2002).

Os modelos usados para prevermudanças a longo prazo na distribuição davegetação não mostraram de forma conclusiva sea área total das florestas boreais irá sofrerexpansão ou redução. No entanto, um dosmodelos mais abrangentes de previsão dasmudanças climáticas indica que, até 2100, aexpansão das florestas em direção ao nortereduzirá a área de tundra em cerca de 50%(White, Cannell e Friend, 2000).

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Com vistas a descentralizar a população bra-sileira e desenvolver novas regiões, o governobrasileiro terminou em 1960 a construção da ro-dovia Cuiabá–Porto Velho (BR-364), que atra-vessa o estado de Rondônia. A rodovia possibi-litou o acesso a áreas de floresta tropical ante-riormente ocupadas por populações indígenas.

Dois fatores principais aumentaram a incidência de imigraçãopara o estado. Em primeiro lugar, em dezembro de 1980, o BancoMundial decidiu investir na pavimentação da rodovia Cuiabá–Porto Velho, o que facilitou as viagens. Em segundo lugar, a situ-ação de penúria econômica na região próxima à costa sul do paísincentivou a migração para uma área onde os imigrantes espe-ravam adquirir novas terras. As imagens de 1975 e de 1986 mos-tram áreas consideráveis de assentamento em Ariquemes, cidadepróxima à estrada. O desenho predominante de “espinha de pei-xe” da paisagem é resultado de operações de extração madeireira,que dão acesso a novas terras. Os principais usos da terra são apecuária e cultivos anuais. Cultivos perenes mais sustentáveis,como o café, o cacau e a borracha, ocupam menos de 10% dasterras agrícolas.

Apesar das invasões, atualmente existem programasque tentam preservar a terra para funções de uso múltiplo, ofe-recendo uma gama de produtos que geram renda para agri-cultores, o que deve acabar resultando em um impacto menorsobre a floresta tropical úmida.

NOSSO MEIO AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO: Rondônia, Brasil

Dados Landsat: USGS/EROSCompilação de dados: UNEP GRID Sioux Falls

1975 1986

1999