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A PRESERVAÇÃO DAS ABELHAS NATIVAS COMO INSTRUMENTO PARA UNIFICAÇÃO DE AÇÕES EFETIVAS DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS PARA O SEMI-ÁRIDO NORDESTINO Alexandre Jorge P. Moura - Meliponicultor da APIME Introdução O recorte da discussão deste artigo será o Semi-Árido Brasileiro, o bioma Caatinga. Terá como objetivo apresentar a proteção das abelhas nativas como uma das possibilidades de se transformar em um instrumento efetivo para conservação sócio-ambiental dessa região. Visa relatar um processo de discussão e apresentação de propostas de conservação am- biental a partir dos argumentos legais, dos estudos existentes e de trâmites em fóruns e ambientes de debates específicos. Pretende-se mostrar como os meliponicultores, pesquisadores e a socieda- de civil, organizados podem interferir positivamente para a conservação do Bioma Caatinga, por meio de for- mulações de propostas, dis- cussões e da execução de ações cuja “bandeira” seja a conservação dos meliponí- neos. E por fim, defender a tese de como a proteção de uma espécie vegetal da caa- tinga (Umburana de Cambão) pode efetivamente colaborar na conservação das abelhas nativas desse bioma. Será dada ênfase a proposta de tornar a árvore Umburana de Cambão imune ao corte e o seu reconheci- mento como “espécie chave” para a proteção das abelhas nativas no Semi-Árido. Então, é necessário contextualizar, subsidiar de informações e de dados, além de historiar alguns momentos e situações para uma melhor compre- ensão da abordagem em questão. Legislação Brasileira, Convenções Internacionais e a Conservação das Abelhas A legislação ambiental brasileira é reconhecida como uma das mais avançadas do mundo, fato que pode ser justificado, em razão da proporcionalidade da rica biodiversidade existente nos diversos biomas do país. Pode também refletir o nível e o avanço das discussões ambientais promovidas pela sociedade brasileira, a civil e a governamental, e da parti- cipação do Governo e de en- tidades não-governamentais em fóruns de discussões sobre o assunto, como nas Convenções Internacionais da ONU. Mas, mesmo com esta situação legal, muitos avan- ços ainda serão necessários para o aprimoramento destes instrumentos e de outros me- canismos para uma efetiva proteção ambiental. Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente lançou mais uma edição do “Livro Vermelho das Espécies Ame- açadas de Extinção”. A pu- blicação é uma contribuição técnica científica de centenas de especialistas. Estão lista- das aproximadamente 600 espécies animais, quantida- de cerca de três vezes mais que a edição de 1989 (219 espécies). Ainda nessa publica- ção, encontram-se relaciona- das três espécies de abelhas: Melipona capixaba, Exoma- lopsis (Phanomalopsis) atlan- tica, Xylocopa (Diaxylocopa) truxali Mesmo desejando-se o contrário, não será surpresa que, numa futura edição do referido livro, a lista de es- pécies ameaçadas venha a aumentar. Observa-se que um grande número das recomen- dações que o livro traz para conservação das espécies cita a necessidade de prote- ção integral de áreas naturais, com a criação de Unidades de Conservação. Analisando-se a evolu- ção da legislação ambiental e o incremento do número de espécies ameaçadas a cada ano, pode-se concluir que há necessidade de aprimo- ramentos das leis, voltados para torná-las instrumentos efetivos de proteção am- biental. A identificação de pro- blemas, existentes ou pre- vistos, a discussão sobre eles, a sensibilização sobre as temáticas, a análise de dados, de informações e dos estudos são etapas neces- sárias para elaboração de novas normas legais, sejam para regrar, coibir ou tornar políticas públicas. Mas, não podemos esquecer da neces- sidade destes avanços serem apropriados pela população como um todo e passarem a fazer parte do dia a dia da sociedade. Todas essas etapas geralmente exigem tempo, tempo este que urge para a proteção de alguns biomas, de ecossistemas e de algu- mas espécies. ARTIGO

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tos, a substância conseguiu propiciar a inibição do tumor em até 87% (www.colegiosa-ofrancisco.com.br)

No Ministerio do Meio Ambiente, o pau-brasil consta da lista oficial da flora brasi-leira em perigo de extinção desde 1992.

Referências bibliográficasBorges, LA; Sobrinho,

MS e Lopes, AV. 2009 Pheno-logy, pollination and breeding system of the threatened tree Caesalpinia echinata Lam (Fabaceae) and a review of studies on the reproductive biology in the genus. Flora 204(2): 111-130

Camarotti-de-Lima, MF e Madeira-da-Silva, MC. 2003 Abelhas Visitantes de Cae-salpinia echinata Lam e Pel-thoforum dubium (Spreng.) Taub. (Leguminosae: Cae-salpinioideae) no Campus da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-P

Martins, O. 2008. Pau-brasil, a árvore nacional. Jornal Governo do Estado do Pernambuco

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Resende, CM; Corrêa, VFS; Costa, AVM e Castro, BCS. 2004 Constituíntes Químicos Voláteis das flores e folhas do pau-brasil (Cae-salpinia echinata Lam). Quim. Nova, 27 (3): 414-416

www.colegiosaofran-cisco.com.br acessado em 06/02/2009

www.revistapesqui-sa.fapesp.br acessado em 06/02/2009

www.sescsp.org.br acessado em 14/9/2008

www.sbq.org.br aces-sado em 05/02/2009

www.ufrpe.br acessa-do em 06/02/2009

A PRESERVAÇÃO DAS ABELHAS NATIVAS COMO INSTRUMENTO PARA UNIFICAÇÃO DE AÇÕES

EFETIVAS DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS PARA O SEMI-ÁRIDO

NORDESTINOAlexandre Jorge P. Moura - Meliponicultor da APIME

Introdução O recorte da discussão deste artigo será o Semi-Árido

Brasileiro, o bioma Caatinga. Terá como objetivo apresentar a proteção das abelhas nativas como uma das possibilidades de se transformar em um instrumento efetivo para conservação sócio-ambiental dessa região. Visa relatar um processo de discussão e apresentação de propostas de conservação am-biental a partir dos argumentos legais, dos estudos existentes e de trâmites em fóruns e ambientes de debates específicos.

Pretende-se mostrar como os meliponicultores, pesquisadores e a socieda-de civil, organizados podem interferir positivamente para a conservação do Bioma Caatinga, por meio de for-mulações de propostas, dis-cussões e da execução de ações cuja “bandeira” seja a conservação dos meliponí-neos. E por fim, defender a tese de como a proteção de uma espécie vegetal da caa-tinga (Umburana de Cambão) pode efetivamente colaborar na conservação das abelhas nativas desse bioma.

Será dada ênfase a proposta de tornar a árvore Umburana de Cambão imune ao corte e o seu reconheci-mento como “espécie chave” para a proteção das abelhas nativas no Semi-Árido. Então, é necessário contextualizar, subsidiar de informações e de dados, além de historiar alguns momentos e situações para uma melhor compre-ensão da abordagem em questão.

Legislação Brasileira, Convenções Internacionais e a Conservação das Abelhas

A legislação ambiental brasileira é reconhecida como uma das mais avançadas do mundo, fato que pode ser justificado, em razão da proporcionalidade da rica biodiversidade existente nos diversos biomas do país. Pode também refletir o nível e o avanço das discussões ambientais promovidas pela sociedade brasileira, a civil e a governamental, e da parti-cipação do Governo e de en-tidades não-governamentais em fóruns de discussões sobre o assunto, como nas Convenções Internacionais da ONU.

Mas, mesmo com esta situação legal, muitos avan-ços ainda serão necessários para o aprimoramento destes instrumentos e de outros me-canismos para uma efetiva proteção ambiental.

Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente lançou mais uma edição do “Livro Vermelho das Espécies Ame-açadas de Extinção”. A pu-blicação é uma contribuição técnica científica de centenas de especialistas. Estão lista-das aproximadamente 600

espécies animais, quantida-de cerca de três vezes mais que a edição de 1989 (219 espécies).

Ainda nessa publica-ção, encontram-se relaciona-das três espécies de abelhas: Melipona capixaba, Exoma-lopsis (Phanomalopsis) atlan-tica, Xylocopa (Diaxylocopa) truxali

Mesmo desejando-se o contrário, não será surpresa que, numa futura edição do referido livro, a lista de es-pécies ameaçadas venha a aumentar.

Observa-se que um grande número das recomen-dações que o livro traz para conservação das espécies cita a necessidade de prote-ção integral de áreas naturais, com a criação de Unidades de Conservação.

Analisando-se a evolu-ção da legislação ambiental e o incremento do número de espécies ameaçadas a cada ano, pode-se concluir que há necessidade de aprimo-ramentos das leis, voltados para torná-las instrumentos efetivos de proteção am-biental.

A identificação de pro-blemas, existentes ou pre-vistos, a discussão sobre eles, a sensibilização sobre as temáticas, a análise de dados, de informações e dos estudos são etapas neces-sárias para elaboração de novas normas legais, sejam para regrar, coibir ou tornar políticas públicas. Mas, não podemos esquecer da neces-sidade destes avanços serem apropriados pela população como um todo e passarem a fazer parte do dia a dia da sociedade.

Todas essas etapas geralmente exigem tempo, tempo este que urge para a proteção de alguns biomas, de ecossistemas e de algu-mas espécies.

ARTIGO

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A Constituição Brasi-leira tem um Capítulo sobre Meio Ambiente o qual exigiu a elaboração de legislações específicas, obedecendo-se a hierarquia das leis, em todos os âmbitos: federal, estadual e municipal.

O país possui institu-ídas Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Educação Ambiental, de Recursos Hí-dricos, além da Agenda 21 Nacional. E ainda é signatá-rio de Convenções Ambien-tais Internacionais da ONU. Possuímos ainda, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA que formula ins-truções normativas em forma de Resoluções.

Ainda podemos citar as Leis de Crimes Ambientais e do Sistema Nacional de Uni-dades de Conservação como instrumentos potenciais para a preservação das abelhas, a

primeira no sentido combater o comércio ilegal de espécies, a destruição de seus ninhos de seus habitats, e seus am-bientes de nidificação. Já a segunda, como forma de criar áreas protegidas para conser-vação de meliponíneos.

As Convenções Internacionais da ONU

O Brasil é signatário da Convenção sobre a Di-versidade Biológica e da Convenção de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca.

A Convenção sobre a Diversidade Biológica es-tabelece como objetivo “a conservação e utilização sus-tentável da diversidade bioló-gica” e vai além. Ela abrange, também, o “acesso aos recur-sos genéticos, objetivando a repartição justa e equitativa dos benefícios gerados pelo

seu uso, incluindo a biotec-nologia” (MMA 2000).

A partir dessa Conven-ção surge no país, a Iniciativa Brasileira de Polinizadores.

As Iniciativas de Poli-nizadores são caracterizadas por ações de diferentes toma-dores de decisões que ativam e desenvolvem partes de um programa de desenvolvimen-to delineado pela Iniciativa In-ternacional de Polinizadores, aprovado pela Convenção da Diversidade Biológica (CBD) em sua COP5, em Nairóbi, 2000. Os participantes são geralmente encorajados para desenvolver estas atividades pelo ponto focal do programa no país ou pelas lideranças de pesquisa, assim como resultado da conscientiza-ção a respeito do papel dos polinizadores na realização dos serviços ambientais da polinização. A Iniciativa Bra-

sileira de Polinizadores (BPI) é desenvolvida por vários componentes da sociedade civil que desenvolvem as bases das atividades para permitirem o uso sustentado e a conservação dos polini-zadores e da polinização.(A linha do tempo da Iniciativa Brasileira dos Polinizadores - Vera L. Imperatriz

Fonseca, Denise de Alves, Antonio M. Saraiva, Marina C. P. P. Landeiro & Braulio F. S. Dias).

Foi através de Porta-ria, de 2004, envolvendo o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento e o do Desenvolvi-mento Agrário que se instituiu o Comitê de Assessoramen-to visando estabelecimento da Iniciativa Brasileira de Polinizadores:

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Portaria Interministerial MMA/MCT/MAPA/MDA Nº 218, de 20.08.2004, Institui Comitê de Assessoramento, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, com a fina-lidade de propor medidas e coordenar ações que vi-sem estabelecer a Iniciativa Brasileira de Polinizadores decorrente da Iniciativa In-ternacional para Conserva-ção e Uso Sustentável dos Polinizadores-IPI e do Projeto Internacional "Conservação e Manejo de Polinizadores para a Agricultura Sustentável através de uma Abordagem Ecossistêmica" sob coorde-nação da Organização das Nações Unidas para Alimen-tação e Agricultura- FAO.

Considerando a impor-tância dos serviços ambien-tais promovidos pelos poli-nizadores reconhecida pela Convenção da Diversidade Biológica, e as decisões que instituíram a Iniciativa Inter-nacional para Conservação e Uso Sustentável dos Po-linizadores-IPI, Decisão V/5 COP - Diversidade Biológica Agrícola: Revisão da fase I do programa de trabalho e ado-ção de um programa de tra-balho pluri anual e a Decisão VI/6 COP - Diversidade Bioló-gica Agrícola da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica; Considerando a necessidade de implementar um plano de ação que promova a conser-vação e o uso sustentável de polinizadores na agricultura e nos ecossistemas associa-dos, resolvem:

Art. 1º Instituir Comi-tê de Assessoramento, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de propor medidas e coordenar ações que visem estabele-cer a Iniciativa Brasileira de Polinizadores decorrente da Iniciativa Internacional para

Conservação e Uso Susten-tável dos Polinizadores - IPI e do Projeto Internacional Conservação e Manejo de Polinizadores para a Agri-cultura Sustentável através de uma Abordagem Ecos-sistêmica" sob coordenação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura- FAO.

Já a Convenção de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca traz como definição:

“Desertificação”: en-tende-se a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas, resultantes de vários fato-res, incluindo as variações climáticas e as actividades humanas.

“Combate à deser-tificação”: entendem-se as atividades que fazem parte do aproveitamento integrado da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas com vistas ao seu de-senvolvimento sustentável, e a prevenção e/ou redução da degradação das terras; a reabilitação de terras par-cialmente degradadas, e; a recuperação de terras de-gradadas.

“Mitigação dos efeitos da seca”: entendem-se as atividades relacionadas com a previsão da seca e dirigidas à redução da vulnerabilidade da sociedade e dos s i s -temas naturais àquele fenô-meno, no que se refere ao combate à desertificação.

E tem como objetivo:“Essa Convenção tem

por objetivo o combate à de-sertificação e a mitigação dos efeitos da seca nos países afetados por seca grave e/ou desertificação, particular-mente em África, através da adoção de medidas eficazes em todos os níveis, apoiadas

em acordos de cooperação internacional e de parceria, no quadro de uma abordagem integrada, coerente com a Agenda 21, que tenta em vis-ta contribuir para se atingir o desenvolvimento sustentável nas zonas afetadas. (Art. 2º da Convenção)

A consecução deste ob-jetivo exigirá a aplicação, nas zonas afetadas, de estratégias integradas de longo prazo que se centrem simultaneamente, no aumento de produtividade da terra e na reabilitação, conservação e gestão susten-tada dos recursos em terra e hídricos, tendo em vista me-lhorar as condições de vida, particularmente ao nível das comunidades locais.”

Em seu Anexo III - IM-PLEMENTAÇÃO REGIONAL PARA A AMÉRICA LATINA

no Art. 4º - Conteúdo dos programas de ação nacionais, diz que: “podem os países escolherem definirem) áreas temáticas ao desenvolver a sua estratégia de combate à desertificação e/ou mitigação dos efeitos da seca, entre elas a “conservação e a utilização sustentada da diversidade biológica, de conformidade com as disposições da Con-venção sobre a Diversidade Biológica”.

As abelhas nativas como integrantes da biodi-versidade, torna-se evidente a importância de sua con-servação. E destas, na con-servação da biodiversidade vegetal, alcançada quando da polinização realizada por elas, a qual possibilita ainda o “aumento da produtividade da terra”.

Exemplar de Umburna de Cambão – Commiphora leptophloeos em época de estiagem. Região do Seridó- RN. Foto: Alexandre Moura

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Entendendo assim, as abelhas nativas passam a ser potencial instrumento na efetivação da Convenção da Biodiversidade e da Conven-ção de Combate à Desertifi-cação, pois, ao se ter ações voltadas para a conservação dos meliponíneos, atende-se a alguns objetivos das duas Convenções.

Mas, mesmo tendo-se como base esses “marcos legais” e arranjos institucio-nais existentes, muito pouco se alcançou em termos de instrumentos específicos e diretamente voltados para preservação das abelhas na-tivas. Cito alguns relevantes:

1. Em 2004, foi aprova-da a Resolução do CONAMA Nº 346/2004 voltada para disciplinar a utilização das abelhas silvestres nativas, bem como a implantação de meliponários.

2.Em 2004, Portaria Interministerial MMA/MCT/MAPA/MDA Nº 218, de 20.08.2004, Institui Comitê de Assessoramento, visando o estabelecimento da Iniciativa Brasileira de Polinizadores.

3. Em, 2005, na II Con-ferência Nacional de Meio Am-

biente, a APIME, apresentou proposta por ela formulada que tornou-se deliberação, fazendo parte do Documento Final desta Conferência e passou a ser recomendação de formulação de Política Publica.

Ao pensar em contri-buir com a ampliação e apli-cação desses instrumentos voltados para conservação dos meliponíneos, a APIME analisou vários aspectos das situações existentes e formulou uma proposição de Resolução ou Instrução Normativa, com o propósito de conservar os meliponí-neos e principalmente os seus locais de nidificação numa abrangência regional (Semi-Árido).

Foi quando surgiu a proposta de proteger a Um-burana de Cambão – Com-miphora leptophloes, contra o corte. Medida avaliada como eficaz na conserva-ção das abelhas nativas no Semi-Árido Nordestino, pois protegendo-se a árvore, pro-tege-se as atuais colônias e os futuros locais para novas nidificações.

A diversidade das abelhas no Brasil e sua importância ambiental

O Brasil é possuidor de rica biodiversidade e nela estão incluídas as abelhas nativas, espécies solitárias e sociais. São mais de 300 espécies de meliponíneos identificados no mundo e aproximadamente 200 espé-cies no Brasil, que exercem fundamental papel na poli-nização de centenas de es-pécies nos diversos biomas. Polinização esta, que garante qualidade vegetacional de diversos ecossistemas, em razão da melhoria e aumen-to da quantidade de frutos e sementes, garantindo direta ou indiretamente, a perpetu-ação da vegetação e essa, por sua vez, a condição de alimentação, abrigo e locais de nidificação de abelhas e outros animais..

Recentemente, no Brasil, houve a constatação científica de dispersão de sementes, realizada por abelhas em um processo co-nhecido como melitocoria. As espécies brasileiras estudas foram: Melipona seminigra

merrillae Cockerell e Melipo-na compressipes manaosen-sis Schwarz.

Atualmente, no mun-do, existe um alinhamento de esforços e de propósitos voltados para a preservação e conservação ambiental, buscando o desenvolvimento sustentável e a proteção da biodiversidade.

O desmatamento, o uso de agrotóxicos e a ação de meleiros são conhecidos vilões da degradação am-biental e em especial para as abelhas nativas.

Em referência ao des-matamento, precisamos per-ceber que para as abelhas nativas tem vários signifi-cados negativos: é a elimi-nação do recurso floral (ali-mentação), a destruição de locais para nidificação e o extermínio das colônias que estavam abrigadas nas árvo-res cortadas. Enquanto para algumas espécies animais é possível fugir do local onde há destruição da vegetação, no caso das abelhas nativas significa sua eliminação, o extermínio da colônia.

Outra ameaça é a mer-cantilização da ecologia, ou

Cortiço de abelha uruçu-mirim, recém tirado do “mato” e levado para meliponário. Município Riacho das Almas – PE. Foto: Alexandre Moura

Detalhe da entrada do ninho da colônia de uruçu-mirim, Melipona subnitida. Estado de Pernambuco. Foto: Alexandre Moura

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seja, a “necessidade” de dar um valor econômico ou justificativa de lucro para as atividades que envolvam a conservação ambiental.

Nas questões relacio-nadas com meio ambiente, não se deve mensurar ape-nas valores considerando o aspecto monetário, necessita-se de contabilizar, por exem-plo, os serviços ambientais e outros retornos diretos e indiretos para a sociedade, inclusive os sócio-culturais.

A conservação das abelhas nativas no

bioma Caatinga

A CaatingaA Caatinga (ou as caa-

tingas para alguns, em razão de sua diversidade fitofisionô-mica) é um bioma exclusiva-mente brasileiro, o principal da região Nordeste.

Ocupa 844.453 Km2, o que representa 11% do país. É a área brasileira com o menor número de estudos científicos, mas, mesmo as-sim, os dados mais atuais indicam uma grande riqueza de ambientes e espécies, com 932 tipos de plantas, 148 de mamíferos e 510 de aves, sendo muitas delas exclusi-vas do bioma (MMA, 2008).

No livro Ecologia e Conservação da Caatinga (Silva, R. A. et al. 2003) descreve-se para o bioma Caatinga as seguintes carac-terística:

A temperatura média anual é de 24 a 26º e a pre-cipitação varia entre 250 a e 1000 mm/ano (Andrade-Lima 1981). Os domínios geomor-fológicos da caatinga corres-pondem aos terrenos da por-ção cristalina e da bacia sedi-mentar. Essas unidades são caracterizadas por apresenta-rem solos rasos, argilosos e rochosos (cristalino) e solos profundos e arenosos (sedi-mentar) (Sampaio 1995). Tais variações, somadas ao clima e ao relevo, fazem com que a Caatinga englobe um número elevado de formações e tipos vegetacionais (Egler 1951, Ferri 1980, Andrade-Lima 1981) Veloso et al (1992) classificaram a Caatinga em savana estépica com subfor-mações de acordo com as ca-racterísticas do componente arbóreo. Esta classificação é baseada não apenas na sua variedade fisionômica, mas principalmente em sua dupla estacionalidade: um período seco bem marcado e outro de chuvas torrenciais.

A Caatinga é um dos

setores menos estudados do Brasil e, por isso, sua diversidade biológica tem sido subestimada (Silva & Dinnouti 1999). Segundo Tabarelli et al. (2000), 41,1% da Caatinga ainda não foi amostrada e 80% da área está subamostrada, sendo as áreas menos perturbadas àquelas com menores esfor-ços de coleta. Mesmo assim, atualmente são conhecidas 932 espécies de plantas (380 endêmicas); 148 espécies de mamíferos (10 endêmicas); 348 espécies de aves (15 espécies e 45 subespécies endêmicas) e entre os anfí-bios e répteis, 15% também são endêmicos (MMA 2002). De modo geral, a porção sedimentar é mais rica que o cristalino (Rodal 1992, Lemos 1999); as maiores altitudes também apresentam maiores riquezas (Lyra 1984) e os solos mais férteis (de origem sedimentar), além de apre-sentarem maiores riquezas, apresentam maior número de indivíduos por espécie (Andrade-Lima 1981, Rodal 1992).

A Caatinga, o Semi-Árido e a Desertificação

A área de abrangência do Bioma Caatinga e as Áre-as Susceptíveis à Desertifica-ção se sobrepõem. Segundo o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação - PAN-Brasil do Ministério do Meio Ambiente, “é notório que a desertificação está intima-mente relacionada à perda de Biodiversidade”. Ao mes-mo tempo, 29,8 % da Área Susceptível à Desertificação - ASD esta enquadrada como área prioritária para conser-vação da biodiversidade.

A Imburana de Cambão e sua importância para

as abelhas nativas e a conservação do bioma

Caatinga.A Imburana ou umbura-

na de cambão, Commophora leptophloes é uma planta per-tencente à família das Bursa-ceas. Tem ampla distribuição no Semi-Árido nordestino, no bioma Caatinga.

Muitas abelhas nativas dependem de ocos em árvo-res para fazer seus ninhos. É característica da Umburana possuir geralmente cavidades (ocos) em seu tronco, razão pela qual constata-se ser uma das árvores mais procuradas pelos meliponíneos para ni-dificarem, fato este compro-vado em diversos trabalhos científicos.

Sabe-se que o esta-belecimento da colônia de meliponíneo em um destes ocos é definitivo, ou seja, esta não mais se não desloca deste local.

Algumas citações:Martins et. al. (2001)

observaram a nidificação de sete espécies de abelhas sem ferrão em 12 espécies vege-tais, em áreas de caatinga do Rio Grande do Norte. Mais de 75% dos ninhos foram obser-vados nos ocos existentes em duas espécies de árvo-res: catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.) e imburana [Commiphora leptophloeos (Mart.)].

Nos municípios de Mi-lagres e Iaçu, Estado da Bahia, Castro (2001) registrou a ocorrência de 12 espécies de abelhas sem ferrão, entre elas M. asilvai, sendo a umbu-rana-de-cambão (Commipho-ra leptophloes) e a baraúna (Schinopsis brasiliensis), as espécies vegetais mais utili-zadas como substrato para nidificação.

No trabalho, NOTAS

Interior de um ninho de Melipona subnitida em um tronco da Umburana de Cambão. Foto: Auri Ferreira.

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SOBRE A BIONOMIA DE Me-lipona mandacaia (APIDAE: MELIPONINA) de Rogério Marcos de Oliveira Alves ; Bruno de Almeida Souza ; Carlos Alfredo Lopes de Car-valho registram:

Todas as 15 colônias de M. mandacaia estavam instaladas em umburana-de-cambão, Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillett. Esta espécie da família Bur-seraceae caracteriza-se por ser uma árvore de porte baixo, apresentar madeira leve (densidade de -3 0,43 g cm ), textura média, fácil de trabalhar, média resistência e suscetível ao apodrecimento interior, sendo abundante nas áreas calcáreas do Rio São Francisco (Lorenzi, 2000). Seu tronco é liso, de colora-ção avermelhada, com casca que solta facilmente (desca-mação). É denominada pelos caboclos de “pau de abelha”, pois é utilizada por diversas espécies para nidificação. Devido à facilidade de formar cavidades é também utilizada para confecção de cortiços e caixas para alojar enxames de melíponas.

Castro e Silva (2000) observaram que C. lepto-phloeos abrigou 43,5% dos ninhos de meliponíneos na caatinga baiana.

Martins et al. (2000) e Marinho et al. (2002), consi-deraram essa árvore como o principal substrato de ni-dificação utilizado por esse grupo de abelhas no Estado da Paraíba, o que demonstra a importância dessa espécie vegetal na conservação dos ninhos de diversas espécies de abelhas nas zonas semi-áridas do Nordeste brasileiro.

No trabalho ESPÉCIES ARBÓREAS UTILIZADAS PARA NIDIFICAÇÃO POR ABELHAS SEM FERRÃO NA CAATINGA (SERIDÓ, PB;

JOÃO CÂMARA, RN) dos pesquisadores Celso Feitosa Martins, Marilda Cortopassi-Laurino, Dirk Koedam & Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca, temos:

Os ninhos das espé-cies de abelhas (a maioria endêmicas, Zanella 2000) foram observados em 12 es-pécies de árvores (Tabela 1). Entre estas, duas espécies apresentaram mais de 75.0% dos ninhos: Caesalpinia pyra-midalis (nome popular “Ca-tingueira”, Caesalpiniaceae, 41,9% dos ninhos) e Commi-phora leptophloeos (“Imbura-na”, Burseraceae, 33,9%).

As sete espécies de abelhas foram observadas nidificando em C. pyramidalis. A maioria dos ninhos em tron-cos foi de Melipona subnitida, (N = 130), dos quais 50,0% foram observados em troncos de C. leptophloeos e 22,3% em C. pyramidalis. Melipona asilvai nidificou principalmen-te em C. pyramidalis (92,3% dos ninhos, N = 39).

Também as Umbura-nas de Cambão podem abri-gar outros animais. São as cavidades maiores do tronco que podem tornar-se abrigo e local de reprodução de outros animais como cuícas, timbus entre outros.

Nas umburanas, cupin-zeiros também se estabele-cem e estes passam a inte-grar uma relação de mutua-lismo, com os psitacídeos do sertão (periquitos ou bicos curvos) que escavam seus ninhos dentro dos cupinzeiros e estes, depois de abandona-dos por estas aves, as cavi-dades podem, e geralmente são ocupados por ninhos de abelhas Partamona.

No trabalho, Ecologia de nidificação de abelhas do gênero Partamona (Hyme-noptera: Apidae) na caatinga, Milagres, Bahia, as pesquisa-

doras Lílian Santos Barreto & Marina Siqueira de Castro visaram analisar a riqueza, a abundância, os sítios de nidificação, o padrão d e distribuição espacial, a den-sidade dos sítios potenciais disponíveis e dos sítios ni-dificados pelas espécies de abelhas sem ferrão do gênero Partamona e dos termiteiros (cupinzeiros) arbóreos nidi-ficados pelas abelhas, em uma área restrita de caatinga arbórea, em Milagres, Bahia, Brasil e tiveram os seguintes resultados:

As espécies de abe-lhas do gênero Partamona têm como estratégia de ni-dificação na caatinga utilizar cavidades pré-existentes que consistem em ocos abertos em termiteiros arbóreos pelo periquito jandaia (Aratinga cactorum), para reprodução. Após o nascimento dos filho-tes, o oco é abandonado e em seguida uma colônia de abelhas do gênero Partamo-na constrói ali o seu ninho, ocupando-o e isolando-o com geoprópolis, sendo freqüente a ocupação destes ocos por outros inquilinos.

Duas espécies ocorre-ram em simpatria, Partamona rustica (94,1%) e Partamona

cupira (5,9%), ambas nidifi-cando em termiteiros arbó-reos da espécie Constricto-termes cyphergaster. Outras três espécies de termiteiros arbóreos ocorreram na área (Nasutitermes corniger, Na-sutitermes macrocephalus e Microcerotermes sp.). Os térmitas arbóreos nidificaram principalmente na umburana (Commiphora leptophloeos).

Uma história de luta para proteção das abelhas nativas da

CaatingaAs abelhas, a caatinga,

a conservação da flora, do solo e da fauna, a deser-tificação, a Convenção da biodiversidade, do Combate à Desertificação, a sustentabili-dade sócio-ambiental são te-mas todos inter-relacionados e podem estar em um mesmo patamar de discussões.

Q u e s t i o n a m e n t o s como: o que fazer para criar instrumentos e ter ações efeti-vas que passem a contemplar esse “todo”, mas com foco nas abelhas nativas? E como uma Associação pode encon-trar os meios para atingir seus objetivos, em dimensão re-gional, sem necessariamente depender de recursos finan-

Queimadas no Semi-Árido para fazer lavouras ou pastos. Eliminam toda vegetação nativa. . Foto: Alexandre Moura

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ceiros para tal fim? Tiveram como resposta: fazer política, política ambiental, política interinstitucional, influenciar nas políticas públicas.

Foi a partir dessa con-clusão, que a APIME idealizou uma proposta voltada para a conservação das abelhas na-tivas do bioma Caatinga.

Foram pensadas estra-tégicas e táticas para o enca-minhamento e a legitimação de uma proposta para vir a ser assumida pelo Governo. A legitimação do processo precisou passar por discus-sões em diversos fóruns de debates.

A APIME integra o movimento ambientalista em Pernambuco e partici-pa do Fórum de Entidades Ambientalistas do Estado e compõe o Conselho Estadual de Meio Ambiente. Em 2005,

participou das várias etapas da Conferência Estadual de Meio Ambiente, culminando na sua participação como entidade delegada na Con-ferência Nacional de Meio Ambiente, em Brasília-DF.

Durante esse proces-so, ainda na Conferência Regional de Meio Ambiente, no estado de Pernambuco, a APIME apresentou algumas propostas para defesa das abelhas nativas, tendo sido aprovada tanto na plenária estadual como depois, na II Conferência Nacional de Meio Ambiente, uma das mais importantes contribuições para o início da proteção das abelhas nativas.

A proposta passou a compor o Documento “De-liberações da II Conferência Nacional de Meio Ambiente” com o seguinte teor:

“Promover o reconhe-cimento legal das abelhas nativas como insetos de in-teresse social e ambiental, em razão de serem eficientes polinizadores, mantenedores da vegetação nativa, e que fazem parte da cultura regio-nal do semi-árido.” (1-BIODI-VERSIDADE E FLORESTAS, 1.4 – Agrobiodiversidade, de Competência do Ministério do Meio Ambiente - Item 11).

A importância disto é o fato das Conferências Nacio-nais de Meio Ambiente serem instâncias para formulação de políticas públicas e toma-das de decisões no âmbito federal com repercussão nos entes federativos (estados e municípios).

Em 2006, após uma reunião com seus sócios, a APIME levou para o II Con-gresso Brasileiro de Melipo-nicultura - Aracaju-SE, uma proposta de proteção da Um-burana de Cambão visando a conservação das abelhas nativas.

No Congresso, a pro-posta apresentada ao grupo de discussão sobre melipo-níneos foi rapidamente aceita por todos, passando então, naquele momento, a referida proposta a circular em todo o Congresso agora em forma de moção (abaixo assinado). Foram coletadas mais de 400 (quatrocentas assinaturas) de apoio. Dizia o seguinte:

MOÇÃO DE APOIO A PROPOSTA DE PROTEÇÃO DA ESPéCIE VEGETAL UMBURANA DE CAMBÃO PELA IMPORTÂNCIA PARA PRESERVAÇÃO DOS NI-NHOS DE ABELHAS INDÍ-GENAS DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO.

Nós abaixo assinados, participantes do XVI Congresso Brasileiro de Apicultores e II Congresso Brasileiro de

Meliponicultores apoiamos a PROPOSTA, elaborada pela APIME – Associação Per-nambucana de Apicultores e Meliponicultores, apresenta-da neste Congresso e a ser encaminhada ao Ministério do Meio Ambiente , IBAMA e ao Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, de tornar a espécie vegetal UMBURANA DE CAMBÃO, Commiphora leptophloeo, IMUNE AO CORTE, em toda área de sua dispersão natural, cuja distribuição ge-ográfica abrange o Semi-Árido do Nordeste Brasileiro, em razão da importância da mesma, NA PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DAS ABE-LHAS NATIVAS, haja vista, esta ser a espécie vegetal com MAIOR NÚMERO DE OCORRÊNCIAS DE NINHOS DE DIVERSOS MELIPONÍ-NEOS na região.

Percebendo esse po-tencial democrático e de legitimidade foi articulado e deliberado pelo Grupo de Discussão sobre Melipo-nicultura, no Congresso, a apresentação de uma outra moção, que ao final do even-to, foi lida na Plenária Final e recebida pelo Presidente da Confederação Brasileira de Apicultura – CBA.

II Congresso Brasileiro de Meliponicultura - Aracaju – Sergipe, 2006

Na reunião dos meli-ponicultores intitulada “Pa-norama da Meliponicultura Brasileira” foram discutidas aspirações dos meliponicul-tores para futuras reuniões. Nos próximos Congressos pretendemos:• Deliberar mais;• Estabelecer prioridades

de ação;• Estabelecer roteiros e dife-

rentes apoios aos progra-mas de extensão;

• Aprofundar em temas relacionados;

Este tronco de uma velha umburana representa bem os processos de degradação que esta espécie vegetal passa. Nela foi retirado inicialmente ninhos de abelhas nativas, depois na cavidade aberta se alojou uma colônia de abelha Apis, que também foi retirada, em seguida foi colocado fogo na área onde estava. Por estar oca não foi utilizada no artesanato e como era relativamente “grossa” não serviu para fazer carvão. Foto: Alexandre Moura

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• Ampliar os espaços para meliponicultura;

• Reforçar a integração entre meliponicultores, meliponi-cultores e pesquisadores, meliponicultores e apiculto-res, pesquisadores e todos nós.

A primeira moção apre-sentada neste 2º Congresso Brasileiro de Meliponicultura foi relacionada a preservação da árvore Umburana de Cam-bão, Comiphora. leptoplhoes, que abriga ninhos de várias abelhas sem ferrão da caatin-ga, entre elas destacando- se as espécies endêmicas Meli-pona subnitida e a Melipona mandacaia.

Como exemplo do que ocorreu com a preservação e impedimento de corte do pequi, Caryocar brasiliense, que abriga ninhos de Melipo-na quadrifasciata no Cerrado, trabalhamos para preservar a Umburana de Cambão. Um abaixo assinado com mais de quatrocentas assinaturas é apresentado em anexo.

A APIME entende que os Congressos Brasileiros de Apicultura e Meliponicultura por reunirem centenas de apicultores e meliponicultores de todo o país, tornam-se Fóruns com legitimidade para lançar, discutir e aprovar propostas e moções a serem destinadas às mais diversas instituições. Assim, conforme deliberado no Congresso, a APIME, ainda em 2006, enviou ao Ministério do Meio Ambiente e para o Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA a referida proposta de proteção da umburana.

O Ministério do Meio Ambiente dando prossegui-mento aos trâmites, pautou a discussão sobre a referida proposta, na 5ª reunião do Grupo de Trabalho (GT) Ca-atinga, realizada em Fortale-za-CE, nos dias 29 e 30 de

agosto de 2006.A APIME acompanhou

e participou dessa reunião enviando um representante para apresentar e defender a referida proposta.

Naquela ocasião, para nossa surpresa, encontrava-se na reunião um grupo de aproximadamente catorze artesãos vindos da região de Juazeiro-CE, os quais traba-lhavam na confecção de pe-ças de artesanato utilizando a madeira de umburana de cambão.

Estavam lá, custeados, não sabemos por quem, com a finalidade de pressionar os presentes para a não apro-vação da proposta de pro-teção da Umburana. O mais surpreendente foi a notícia divulgada em jornal de gran-de circulação , o Diário do Nordeste, de Fortaleza-CE, no dia 30 de agosto de 2006, onde na primeira capa estava a seguinte “chamada”: “Arte Ameaçada: Uso da Umbura-na por artesãos de Juazeiro (CE) está ameaçado por pres-são de ambientalistas”.

Nas discussões do re-ferido GT, muitas foram as resistências à proposta de proteção da umburana. Mas, recebemos apoio represen-tante da Articulação do Semi-Árido(ASA) da ASPAN e de alguns técnicos do Ministério do Meio Ambiente. Na finali-zação das discussões ficou de se analisar propostas de como manejar as umburanas dentro de planos de manejo da caatinga para fins ener-géticos, de corte seletivo de partes da planta (galhos) para destinação de uso da madeira no artesanato, mas não de supressão da planta. Ainda a possibilidade de uma mora-tória no corte das umburanas de cambão e um fornecimen-to, com custo subsidiado, de madeira certificada da

Amazônia para fornecimento aos artesãos que utilizam a umburana durante o referido período de moratória.

Atualmente, é neces-sário que todas as institui-ções, de ensino, de pesquisa, associações,e meliponiculto-res individuais e a Confedera-ção Brasileira de Apicultores acompanhem esse processo junto ao Ministério do Meio Ambiente - na Secretaria de Biodiversidade e Florestas – SBF e no CONAMA para o prosseguimento dos trâmites finais para a efetivação da proposta de proteção da um-burana de cambão.

A APIME acredita no sucesso deste processo, em benefício das abelhas nativas da região do Semi-Árido Nor-destino e tal iniciativa servirá como referencial para prote-ção de espécies vegetais e de abelhas de outras regiões do país.

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Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 - Dispõe

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LOCAIS DE NIDIFICAÇÃO DAS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO

(HYMENOPTERA, APIDAE, MELIPONINAE) DO PARQUE

MUNICIPAL DO BACABA, NOVA XAVANTINA – MT.

Sidnei Mateus1, Uender C. Rodrigues Pereira2, Helena S. R, Cabette2, Ronaldo Zucchi11Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, Departamento de Biologia, e-mail: [email protected] do Estado de Mato Grosso, Campus Universitário de Nova Xavantina, Departamento de Ciências Biológicas.

RESUMO Os ninhos de abelhas sem ferrão foram amostrados no

Parque Municipal do Bacaba, localizado no Campus Universi-tário da UNEMAT (Universidade do Estado do Mato Grosso), município de Nova Xavantina, Estado de Mato Grosso. A ve-getação local é composta por cerrado com as fitofisionomias de cerradão, vereda e mata de galeria. Neste estudo foram selecionadas uma área urbanizada (13,7 ha) e uma com vegetação natural, cerrado e cerradão (26,3 ha). O objetivo do trabalho foi de obter informações dos substratos utilizados pelas abelhas para a construção de seus ninhos. A área foi percorrida e acompanhada de outubro de 2003 a setembro de 2004. Foram localizados 145 ninhos de 20 espécies de melipo-níneos distribuídos em 12 gêneros: Celetrigona, Frieseomelitta, Lestrimelitta, Oxytrigona, Partamona, Plebeia, Scaptotrigona, Scaura, Tetragona, Tetragonisca, Trigona e Trigonisca. As abe-lhas construíram seus ninhos em 17 espécies vegetais, mas também foram encontrados ninhos em termiteiros arbóreos e terrestres, alicerces, paredes, postes de madeira, canos de aterramento da rede elétrica, ninhos subterrâneos e ninhos aéreos e expostos. Apesar da ação antrópica nas áreas de estudos, constatou-se alta diversidade e abundância de ninhos de meliponíneos, provavelmente pela disponibilidade de nichos e recursos alimentares.

INTRODUÇÃO As abelhas sem ferrão

(Meliponinae) têm ocorrên-cias restritas a áreas tropicais e subtropicais do planeta (MICHENER 1974) e são representadas por algumas centenas de espécies e distri-buídas em aproximadamente 60 gêneros existentes. Apro-ximadamente 75% destas espécies vivem na região Ne-otropical (MICHENER 2000; ROUBIK 2006). Com exceção de algumas espécies do gênero Trigona que coletam exclusivamente proteína ani-

mal, as abelhas são conside-radas os polinizadores mais efetivos por utilizarem uma dieta alimentar basicamente composta por produtos florais (MATEUS & NOLL 2004). O papel ecológico das abelhas é fundamental na manuten-ção da biodiversidade de espécies vegetais. Durante suas visitas às flores, ocorre a transferência do pólen de uma flor para outra, promovendo a polinização cruzada (SAN-TOS 2002). No Brasil estas abelhas são encontradas em todos os ecossistemas, são

eficientes na polinização de plantas nativas colaborando de forma efetiva na produção de frutos e sementes (MA-TEUS 1998). Dependendo do ecossistema, estas abelhas são responsáveis por 40 a 90% da polinização das plan-tas nativas. As restantes, 60 a 10%, são polinizadas pelas abelhas solitárias, borboletas, coleópteros, morcegos, aves, alguns mamíferos, água, vento, e, recentemente, pelas abelhas africanizadas (KERR et al., 1996).

Os meliponíneos du-rante um longo período de evolução foram gradualmente ocupando nichos ecológicos existentes em seu ambiente. Os ninhos são construídos em ocos de árvores vivas, de árvores secas, postes de cerca, frestas em parede de alvenaria, alicerces e dentro de ninhos de outros insetos sociais como vespas, formi-gas e cupins. Algumas espé-cies constroem ninhos aéreos e expostos e outras fazem ninhos subterrâneos ocupan-do cavidades preexistentes no solo. As colônias são pe-renes podendo viver vários anos em um mesmo local (MATEUS & ZUCCHI 2008). Ainda são pouco conhecidas as espécies de meliponíneos existentes nos diferentes ecossistemas, devido aos escassos estudos realizados. Assim, este estudo vem con-tribuir para o conhecimento das espécies de abelhas nativas sem ferrão e seus substratos de nidificação no Estado do Mato Grosso, onde, até o presente momen-to, não houve nenhum estudo de levantamento de ninhos de abelhas sem ferrão.

MATERIAL E MÉTODOSO levantamento dos

ninhos foi realizado de no-vembro de 2003 a outubro de

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