umbanda- pontos cantados e memÓrias da escravidÃo

28
1 UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA RENATA POLIM UMBANDA- PONTOS RISCADOS E CANTADOS: MEMÓRIAS, NEGROS E INDIOS. SÃO PAULO 2014

Upload: emerson-mathias

Post on 18-Jul-2015

371 views

Category:

Education


19 download

TRANSCRIPT

Page 1: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

1

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

RENATA POLIM

UMBANDA- PONTOS RISCADOS E CANTADOS: MEMÓRIAS, NEGROS E

INDIOS.

SÃO PAULO 2014

Page 2: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

2

RENATA DOS SANTOS POLIM

UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA

ESCRAVIDÃO.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA

OBTENÇÃO DE DIPLOMA DE LICENCIATURA

EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE NOVE DE

JULHO CAMPUS MEMORIAL DA AMÉRICA

LATINA.SOB A ORTIENTAÇÃO DO PROFESSOR:

LÚCIO DE MENEZES.

SÃO PAULO 2014

Page 3: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

3

Resumo

Os pontos de Umbanda não nascem de uma simples “inspiração” composta pela literária ou pela

poética, são essenciais no "Ritual da Lei de Umbanda”. Dentro do mundo das religiões e crenças,

são encontrados diversos cânticos sagrados, salmos, mantras e hinos. Na Umbanda, são os pontos.

Os pontos cantados na Umbanda não são apenas para alegrar ou animar os presentes através da

música. Segundo a doutrina das religiões afro Brasileiras, são capazes de resgatar as entidades

espirituais, e mover a natureza. Acredita se que as correntes magnéticas são formadas através dos

atabaques, que geralmente são tocados por homens, os (Ogans)¹.Segundo a crença dos religiosos

dessa matriz, a magia e vibração desse som é capaz de concentrar e preparar o médium para uma

incorporação. Acredita se também, que os pontos cantados e riscados são capazes de resgatar

aquilo que foi vivido pelos escravos durante a escravidão através das letras e recuperar a raiz

histórica da vida de negros trazidos do continente Africano para o Brasil, e não somente o negro,

mas também o índio, e suas raizes. Por trás de muitas metáforas e eufemismos existem narrativas

do que foi a vida de um negro durante a escravidão ². A maioria dos pontos emitem mensagens de

dor e sofrimento, porem resultam que apesar de tudo, agora, a missão dessas “entidades “ é a de

ajudar seja negro , miscigenado ou branco, segundo os praticantes da Umbanda .

As religiões afro-brasileiras se baseiam em sistemas religiosos primevos, por isso possuem um caráter

extremamente absorvente. Todas as etapas da vida estão rodeadas de várias características religiosas, sendo

que estas permanecem constantes na vida dos crentes, que devem permanecer profundamente conscientes de

sua relação com os poderes sobrenaturais. Deles se pode dizer que vive religiosamente, comem

religiosamente e morrem religiosamente. É por esse motivo que é tão fácil serem religiões sincréticas.³

Palavras chaves: Umbanda, negro, religiosidade, afro Brasileiro.

¹ Definição Disponível em: Jornal "A Tarde", de Salvador (http://www.atarde.com.br/mundoafro/?p=4259) Acesso em: Jan/2014

² PEREIRA, Linconly Jesus Alencar (http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/3316)da Religião. Mestrando em Ciência da Religião (ambos pela

PUC/SP) PPGEB - Dissertações defendidas na UFC Acesso em: jan/2014.

³. Verger, Pierre. Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns. São Paulo: Edusp, 2000. Especialista em Ciência da Religião. Mestrando em Ciência da

Religião (ambos pela PUC/SP) PPGEB - Dissertações defendidas na UFC Acesso em: jan/2014

Page 4: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

4

Introdução

Ao falar em religião o imaginário das pessoas é aguçado, muitas vezes levando ao pré-conceito,

principalmente no que diz respeito às religiões afro brasileiras. Vale lembrar que cada religião tem

a sua história de formação e características que variam de localidades, etnias etc. De todas as

religiões afro-brasileiras, a Umbanda é a que mais se aproxima de doutrinas Espíritas Brasileiras e

do sincretismo católico.

A mistura de fundamentos e preceitos religiosos no Brasil tem origem a quatro vertentes: Católico,

espírita, religião afro negro e a religião indígena (Pajelança).

O Objetivo é rememorar informações sobre um passado colonial do Brasil, através da história da

Umbanda e do imaginário de seus praticantes, para isso a metodologia utilizada é a analise de

pontos riscados e cantados em terreiros, alguns destes pontos foram sincronizados em músicas

brasileiras como veremos em alguns exemplos ao desenvolver o artigo.

Nas doutrina afro-brasileira da religião, são utilizados esses versos, aqui destacados e musicais

denominados de "Pontos Cantados". No âmbito geral, são poemas que caracterizam o mitológico

para rememorar o imaginário dos praticantes com heróis (assim denominado por eles), reis,

representações humanas em geral e fundamentos de sua religião.

Aqui também destacaremos as representações sociais não somente do negro, mas também do índio

e imigrante nordestino, que muito são citados nos pontos da Umbanda.

Em diversas praticas das músicas brasileiras que aqui serão abordadas poderemos encontrar a

hibridação de pontos cantados e riscados da Umbanda através do Samba e MPB, que resgatam

memórias da cultura religiosa afro brasileira, o objetivo ao abordar as músicas do gênero é poder

sincronizar com os pontos , uma possível Influência centro-africana.

Ao desenvolver o projeto, não foi possível localizar muitos materiais que abordassem o assunto, ai

está a importância em destacar o papel fundamental do imaginário presente nos ponto dentro da

Page 5: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

5

Umbanda, para a formação cultural brasileira, as principais características presentes e as relações

sociais. Portanto o artigo produzido justifica-se exatamente pela necessidade de resgatar uma

pesquisa cientifica no âmbito da produção cultural da questão religioso afro brasileiro. A partir dos

aspectos principais já citados estão presentes também o da música (pontos) para o “controle” das

entidades místicas, a variar por santos católicos e Orixás, espíritos indígenas (caboclos), espíritos

de ciganos, boiadeiros, baianos, escravos (Pretos Velhos e Pretas Velhas) etc.(MOREIRA 2008).

Page 6: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

6

Por dentro da Umbanda

Antes de iniciarmos as analises dos pontos cantados na Umbanda, levantarei alguns pontos

importantes da doutrina, para que possamos entender a representação das entidades e suas linhas

nos pontos que serão estudados.

http://www.centroespiritaurubatan.com.br/estudos/sete-linhas-de-umbanda.html Acesso em: jan/2014

Exus: OS Exus Sãos guardiões, soldados dos Caboclos e Preto velhos, a ponte entre os homens e

os Orixás, lutador contra o mau, sempre de frente, sem medo, entidades destemidas segundo a

doutrina Umbandista. (Jodelete 2001)

Page 7: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

7

PRETOS VELHOS

Iniciaremos analisando alguns pontos cantados de Pretos Velhos, na Umbanda.

SAUDAÇAO AOS PRETOS VELHOS - ECOOU UM CANTO FORTE NA

SENZALA

Ecoou um canto forte na senzala (2x)

Negro canta, negro dança

Liberdade fez valer

Não existe sofrimento, não existe mais chibata

Só existe esperança para um novo amanhecer.

Povo negro, povo forte

Trabalhavam pro senhor

E sofriam as maldades praticadas pelo feitor

O sangue, o suor, e a lágrima

Derrubavam só pra vida

Pois sabiam que o sofrimento os preparavam para nova vida.

Ecoou um canto forte na senzala...

Dos tambores de Angola e de Minas

Caminhavam mandou Cambinda

São os velhinhos da Umbanda

Esqueceram de toda a senzala

Do cativeiro a crueldade

Pois voltaram para essa terra para fazer caridade.

Page 8: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

8

http://www.centroespiritaurubatan.com.br/estudos/sete-linhas-de-umbanda.html Acesso em: jan/2014

[Esqueceu de toda a senzala

Do cativeiro a crueldade

Pois voltaram para essa terra

Pra praticar a caridade]

Pretos velhos, preta velha, vovo ou vovó na Umbanda representam os negros escravos de idade já

avançada, segundo a Umbanda são guias que vem a terra sob a forma de velhos escravos Africanos

Que apesar dos maus tratos, da vida dura, e trabalhos forçados nos cativeiros, conseguiram atingir

idade avançada. Antes mesmo de trabalhar na Umbanda Brasileira, esses pretos velhos

representavam grande importância na cultura religiosa de Angola. São conhecedores de ervas e

“mandingas”. Eram dedicados a cuidar “espiritualmente” e fisicamente de seus irmãos nos

cativeiros. Muitas vezes quando a medicina do homem branco, os senhores, falhavam eram

chamados também a casa grande. Em análise sobre os presentes temas nos cânticos, (Moreira

2008) afirma que é de prática nos Pontos Cantados e riscados de Pretos Velhos, encontradas

Page 9: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

9

temáticas relativas à vida destes escravos. Com padrões que possam expressar as crenças místicas

trazidas pelos africanos para a cultura Brasileirae claro , as representações sociais .

“Antigamente preto apanhava, branco olhava e ria

Hoje preto velho vem, branco senta no banco e chora”

Preto velho, portanto representam pessoas que vivenciaram o cativeiro até uma etapa mais

avançada de suas vidas, no Brasil do século XIX, e também os negros escravos de idade avançada

de Angola.

Os Pretos Velhos, são Os espíritos da humildade, sabedoria, experiência e paciência. Segundo os

praticantes da Umbanda os pontos de preto velhos , assim como os pontos de orixás servem para

iniciar a presença das entidades, o dá força durante os trabalhos espirituais, que atraves da crenças

desses praticantes é uma força capaz de envolver todos os presentes, com uma classe de

sacerdotes denominados Ogans (ALMEIDA & SOUZA 2012). O ponto que irei citar a seguir

presenciei sua entoação no templo de MÃE JUREMA, um terreiro localizado em São Paulo, qual

me aceitou e deu espaço para que eu possa acompanhar esses pontos.

Ponto de preto velho:

Saudação dos Pretos Velhos quando iniciada uma gira :

Bate tambor

lá na Angola, bate tambor

Bate tambor

Page 10: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

10

lá na Angola, bate tambor...

Bate tambor, Pai Joaquim...

Bate tambor, Maria Conga...

Bate tambor, Pai Mané...

Eu andava perambulando,

sem ter nada p'ra comer

Fui pedir as Santas Almas

Para vir me socorrer

Foi as Almas que me ajudou

Foi as almas que me ajudou

Meu Divino Espírito Santo

Glória Deus, Nosso Senhor

Nessa casa

tem quatro cantos

Cada canto tem um santo

Pai e filho, Espírito Santo

Nessa casa tem 4 cantos...

Quem vem, que vem lá de tão longe?

São os pretos velhos que vem trabalhar

Quem vem, que vem lá de tão longe?

São os pretos velhos que vem trabalhar

Ô da-me forças pelo amor de Deus, meu pai

Ô da-me forças pros trabalhos teus

Zum zum zum

Olha só Jesus quem é

Eu rezo para santas almas

Inimigo cai

Page 11: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

11

Eu fico de pé

O preto por ser preto

Não merece ingratidão

O preto fica branco

Na outra encarnação

No tempo da escravidão

Como o senhor me batia

Eu chamava por Nossa Senhora, Meu Deus! Como as pancadas doíam

Tira o cipó do caminho,

oi criança

Deixa a vovó atravessar

Tira o cipó do caminho,

oi criança

Deixa a vovó atravessar

A bênção Vovô

Quando precisar lhe chamo

A bênção Vovô

Quando precisar lhe chamo

Zambi lhe trouxe, Zambi vai lhe levar

Agradeço a toalha de renda de chita de pai Oxalá

Vovô já vai, já vai pra Aruanda...

Abença meu pai, proteção pra nossa banda.

Page 12: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

12

Nesta narrativa encontramos a suplica de um escravo, que diante do sofrimento e da dor foi trazido

de "Angola" para o trabalho escravo, rememorando o sofrimento dos navios negreiro, a

precariedade, dor e o sofrimento.

[Quem vem, que vem lá de tão longe?

São os pretos velhos que vem trabalhar

Quem vem, que vem lá de tão longe?

São os pretos velhos que vem trabalhar

Ô da-me forças pelo amor de Deus, meu pai

Ô da-me forças pros trabalhos teus ]

Na mesma narrativa o jogo de palavras e suas metáforas que representam em alguns trechos

diretamento o que diz respeito a dor das chibatas , torturas e também chama atenção ao tentar

expressar que após a morte todos são iguais:

[O preto por ser preto

Não merece ingratidão

O preto fica branco

Na outra encarnação

No tempo da escravidão

Como o senhor me batia

Eu chamava por Nossa Senhora, Meu Deus!

Como as pancadas doíam.]

Page 13: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

13

VOVÓ MARIA CONGA

Todo dia era dia de choro e de muita dor.

Mesmo assim uma escrava chegava de bom humor.

Quem chorava começava a sorrir,

quem caia ficava de pé.

Ela era a esperança, o amor e a fé.

Na partida de um mundo pro outro seu povo sentiu,

e a aquela tão sua alegria não mais existiu.

Ela disse que iria voltar , precisando pode me chamar,

pra Aruanda atabaque pode tocar (repica e começa a tocar em samba cabula)

Conga, vó Maria Conga

estou chamando por você

Conga, vó Maria Conga

tive saudade de você

preta-velha feiticeira rainha do caterêrê

preta-velha mirongueira rainha do caterêrê.

Aqui as mulheres tem um papel de grande importância como curandeiras no período colonial , e

nos traz a memória de escravas já senhoras de idade, quais eram solicitadas para curar com suas

mirongas¹ seu patrões e família .

¹ "Mironga" vem do quimbundo milonga, plural de mulonga, mistério, segredo

Page 14: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

14

PONTOS DE UMBANDA HIBRIDADOS EM MÚSICAS BRASILEIRAS

1

Os pontos de “Pretos velhos” também são encontrados em músicas brasileiras .Na musica caipira

“Preto Velho” de Tião Carreiro e Pardinho¹ ,remete a um ponto cantado.Através de pesquisa nota

se que é uma musica bastante conhecida no mundo da cultura sertaneja : Tião Carreiro e Pardinho:

Preto Velho!

Foi composta por Jesus Belmiro, um dos mais respeitados compositores do universo sertanejo.

A música conta a história de um escravo que ao ficar velho é dispensado pelo seu patrão:

Preto Velho

Jesus Belmiro, Lourival dos Santos e Tião Carreiro

Perguntei ao preto velho

Porque chora meu herói?

Preto velho respondeu

É meu coração que dói

Eu já fui bom candeeiro, fui carreiro e fui peão

Já derrubei muito mato, e já lavrei muito chão

Com carinho carreguei

Os filhos do meu patrão

Em troca do que eu fiz, só recebi ingratidão

Perguntei ao preto velho

Porque chora meu herói?

Preto velho respondeu

É meu coração que dói

¹ Produzida em 1982, “Preto velho”, com Tião Carreiro e Lourival dos Santos, gravada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho, no LP “Navalha na

carne”, da gravadora Continental.

Page 15: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

15

Sempre chamei de senhor

Quem me tratou a chicote

Livrei o patrão de cobra

Na hora de dar o bote

Eu sempre fui a madeira

E o patrão foi o serrote

Sofri mais do que boi velho

Com a canga no cangote

Perguntei ao preto velho

Porque chora meu herói?

Preto velho respondeu

É meu coração que dói

Da terra tirei o ouro

Meu patrão fez seu anel

Mas agora estou velho

E o meu patrão mais cruel

Me está me mandando embora

Vou viver de déu em déu

O que me resta é esperar

A recompensa do céu ¹

¹ Produzida em 1982, “Preto velho”, com Tião Carreiro e Lourival dos Santos, gravada pela dupla Tião Carreiro e Pardinho, no LP “Navalha na

carne”, da gravadora Continental.

Page 16: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

16

Em meio a todas as expressões já referentes ao escravo e patrão do período colonial, na

representação do preto velho, esse ponto entoado em musica Sertajena, também resgata as

denominações nordestinas, como seguem alguns exemplos:

candeeiro: Pessoa que anda à frente do carro de bois, guiando-o.

carreiro: É aquele que conduz o carro de boi; guieiro. Aparece na música, de Rolando Boldrin.

Também significa: “No período colonial e após a independência do Brasil, eram os trabalhadores

“livres”, que, junto aos feitores, antigos escravos alforriados, desempenhavam funções remuneradas de

trabalho árduo e pesado, como nas lavouras, principalmente no desmatamento afim de abrir espaço para

plantio de café. “[VIOTTI, Emília. Da Senzala à Colônia. São Paulo: UNESP. PP.:73].

peão: Responsável por manejar o gado. canga: também conhecida como Parelha, é a peça de

madeira que prende os bois ao carro. déu: andar à procura de alguma coisa, de casa em casa, de

porta em porta.

No dia 13 de Maio também é comemorado o dia do Preto Velho, da Umbanda. E por tratar-se do

133º dia do ano é considerado pelas ordens místicas como sendo uma PROPORÇÃO AUREA do

ano! ¹

¹ Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira Disponivel em : http://www.dicionariompb.com.br/ Acesso : Fev/2014

Page 17: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

17

SAUDAÇAO AOS PRETOS VELHOS - ECOOU UM CANTO FORTE NA SENZALA

Ecoou um canto forte na senzala (2x)

Negro canta, negro dança

Liberdade fez valer

Não existe sofrimento, não existe mais chibata

Só existe esperança para um novo amanhecer.

Povo negro, povo forte

Trabalhavam pro senhor

E sofriam as maldades praticadas pelo feitor

O sangue, o suor, e a lágrima

Derrubavam só pra vida

Pois sabiam que o sofrimento os preparavam para nova vida.

Ecoou um canto forte na senzala...

Dos tambores de Angola e de Minas

Caminhavam mandou Cambinda

São os velhinhos da Umbanda

Que encaminham nossas vidas

Esqueceram de toda a senzala

Do cativeiro a crueldade

Pois voltaram para essa terra

Pra praticar a caridade

Ecoou um canto forte na senzala...

Nos temas da produção dessas poesias e versos ritualísticos é unido a questão musical e à dança,

para uma constante atualização nas narrativas do imaginário de praticantes (Elisabete Nascimento

2008)

Page 18: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

18

Caboclos na Umbanda

Espíritos indígenas

A palavra cabocla vem do tupi kareuóka, que significa da cor de cobre; acobreado.

Os caboclos na umbanda assumem a forma de "índios", prestando uma homenagem a esse povo

que foi massacrado pelos colonizadores. São caçadores EM SUA MAIORIA e tem profundo

conhecimento das ervas e seus princípios ativos, e muitas vezes, suas receitas produzem curas

inesperadas( segundo preceitos da Umbanda).¹

¹ Revista Orixás, Candomblé e Umbanda – Ano I – Nº 02[http://teaoumbanda.spaceblog.com.br/r18424/religiao/] acesso : 11 Mar

2014

Page 19: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

19

A História da Umbanda Segundo ZÉLIO DE MORAES acredita se que foi a partir da

“incorporação” da entidade de um caboclo em um centro de mesa espírita, qual segundo os

praticantes da religião se apresentou como Caboclo das sete encruzilhadas.

PONTO CANTADO DO CABOCLO SETE ENCRUZILHADAS

UM ÍNDIO CABOCLO GUERREIRO

UM JEZUÍTA QUE ZAMBI ENVIOU

COM SUA FORÇA E SABEDORIA

ABRAÇOU A UMBANDA COM O SEU AMOR

NO DIA 15 DE NOVEMBRO

ZÉLIO DE MORAES TEVE A INCORPORAÇÃO

FOI EM 1908 NO BAIRRO DE NEVES

UMA REVOLUÇÃO

HOUVE MUITA DISCÓRDIA

NO CENTRO DE MESA COM A REVELAÇÃO

QUANDO ELE DISSE, EU VIM CUMPRIR A MISSÃO

VOU FINCAR A BANDEIRA DA NOSSA NAÇÃO

VITÓRIA MEU PAI, VITÓRIA

DE UM ÍNDIO GUERREIRO UM DESBRAVADOR

CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

QUE PLANTOU A SEMENTE QUE SE ALASTROU

¹ Acredita se que foi o fundador da doutrina Umbandista.

Page 20: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

20

UMBANDA É AMOR, FRATERNIDADE

UMBANDA É BONDADE

É DETERMINAÇÃO

É LUTAR EM PROL DA CARIDADE PARA OS NOSSOS GUIAS

DA-NOS EVOLUÇÃO

SÃO GLÓRIAS MEU PAI, SÃO GLÓRIAS

SÃO GLÓRIAS PARA HOMENAGEAR

CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

NESTE SOLO SAGRADO DE PAI OXALÁ

“ VITÓRIA MEU PAI, VITÓRIA

DE UM ÍNDIO GUERREIRO UM DESBRAVADOR

CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

QUE PLANTOU A SEMENTE QUE SE ALASTROU”

Neste ponto podemos analisar que acredita se que foi a partir daí que nasceu a Umbanda e se

espalhou pelo Brasil como religião Brasileira de matriz Afro.

Page 21: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

21

Uma breve descrição da História de um dos caboclos da umbanda: ” Caboclo das Sete

Encruzilhadas”, Segundo : Henrique Landi

“No tempo do Brasil Colônia, mais precisamente no Estado do Rio de Janeiro, em uma localidade

às margens do Rio Paraíba do Sul, chamada hoje de Barra do Piraí.Precisamente neste local,

aonde o rio atingia uma grande largura e o seu leito tomava um aspecto sinuoso, existia uma

fazenda de diversas culturas, entre as quais e em maior escala a do café e da cana-de-açúcar.”

“Tal propriedade era administrada por uma família portuguesa,que ao contrário de outras

existentes nas proximidades, não exigia o braço escravo. Os negros que lá trabalhavam recebiam

além da casa e alimentação uma remuneração em moeda, por isso era a propriedade mais

próspera do local, graças à forma de administração adotada por seus proprietários.”

“Próximo dali, vivia uma tribo de índios da Nação Tupi-Guarani com os quais os fazendeiros

mantinham um excelente relacionamento.”

“O Chefe da tribo era moço e possuía uma razoável cultura pois fora alfabetizado na Capital,

apaixonou-se por uma das filhas do fazendeiro, que correspondeu ao seu afeto vindo a casar-se

com ele, contrariando os costumes de ambas as comunidades.”

“Após a união ela engravidou, tendo que viajar à Capital do Rio de Janeiro para tratamento

médico, demorou-se algum tempo e ao regressar recebeu a horrível noticia de que um grupo de

índios estranhos na localidade, de surpresa, tentaram invadir a fazenda para saqueá-la, os

fazendeiros pediram socorro e os guerreiros Tupi-Gurany vieram, mas não puderam impedir que

os pais da moça e seus irmãos fossem mortos.”

“Na batalha, o chefe Tupi-Guarany, seu marido, ficou gravemente ferido, vindo também a falecer

em conseqüência.”

Page 22: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

22

“Ao todo, sete pessoas foram assassinadas pela tribo invasora. E todos foram sepultados em uma

ilha situada no Rio Paraíba do Sul, dentro da fazenda. E a moça grávida,única remanescente da

família de fazendeiros, ia todas as tardes rezar na ilha, junto às sete cruzes que demarcavam os

locais onde seus pais, irmãos e esposo foram sepultados.”

“Porém, em uma dessas tardes em que rezava junto ao túmulo do esposo, sentiu-se em trabalho de

parto e ali mesmo deu à luz a um menino, seu filho com o chefe Tupi-Guarany,cujo corpo estava

naquele local sepultado.”

“O menino cresceu cercado do imenso carinho de sua mãe e recebeu ensinamento proveniente de

duas culturas: a cristã adotada por sua mãe e a outra orientada pelo Pagé da tribo de seu pai.

Estudou na Capital do Estado e posteriormente na Côrte, recebendo instrução superior de Direito.

“Como advogado teve intensa atividade profissional em defesa de escravos nos Tribunais do Rio

de Janeiro, que eram acusados de crimes pelos senhores de Engenho. Na qualidade de chefe de

sua comunidade indígena,disfarçadamente, invadia as fazendas de regime escravo, libertando os

cativos e colocando-os em local seguro.”

Henrique Landi (neto) do G.E.E.H.L.Jr da T.E.F.F ¹

¹ Nasceu na Cidade de Campinas, Estado de São Paulo, em 01 de novembro de 1905, filho de HENRIQUE LANDI e MARIA AUGUSTA LANDI,

formou-se na Escola Superior de Mecânica e Eletricidade (São Paulo), em Engenheiro Mecânico-Eletricista. A família transferiu-se, logo após ter

colado grau, para a Cidade do Rio de Janeiro e HENRIQUE LANDI JÚNIOR, foi trabalhar na Fundição Luporini, onde ficou por cerca de um

ano, e logo em seguida ingressou na Firma Manufatura Nacional de Procelanas, logo adquirida por Klabin Irmãos & Cia (Fabricação de

Azulejos), onde trabalhou até o seu desencarne.Iniciou no Espiritismo no Centro Espírita Caminheiros da Verdade, localizado à Rua Atalaia, hoje

Comdor. João Carneiro de Almeida (seu antigo presidente), em Todos os Santos, quase ao tempo de sua fundação e com o rito kardecista, só

posteriormente esta Instituição adotou a Umbanda. Em seguida transferiu-se para a Tenda Fé pela Razão, localizada à época à Rua Adolpho

Bergamini, no Engenho de Dentro, que tinha como mentor espiritual o Caboclo das Sete Encruzilhadas e onde se praticava a Umbanda, rito com o

qual tinha afinidade. Com o afastamento do presidente vitalício da casa para tratamento de saúde, assumiu durante alguns anos a presidência. Com

o retorno de seu antigo presidente, deixou o cargo e com um grupo de trabalhadores que o acompanhou fundou a TENDA ESPÍRITA

FRATERNIDADE DA LUZ, tendo como mentor espiritual o Caboclo das Sete Encruzilhadas. T.E.F.L - C.N.P.J - 10.753.106/0001-10

Copyright © 1948 - 2014 <="" a="">. Site Oficial da T.E.F.L - Casa do Caboclo das Sete Encruzilhadas - Todos os Direitos Reservados. Acesso em

: mar/2014

Page 23: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

23

(...) se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa

deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem

e, assim,cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos

humildes,simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos encarnados e

desencarnados. E se querem saber meu nome que seja Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque

não haverá caminhos fechados para mim¹

¹ GUIMARÃES, Lucília e GARCIA, Éder Longas (Revisado por Mestre THASHAMARA). Um pouco da

História de Zélio de Moraes. Disponível em <http:// www.nativa.etc.br>. Acesso Mar/2014

Page 24: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

24

PONTOS DE UMBANDA HIBRIDADOS EM MÚSICAS BRASILEIRAS 2

Assim como os pontos de preto velho, os de Caboclos também são representados em músicas

Brasileiras na MPB existem diversos . Acredita se que na MPB e o SAMBA São os gêneros que

mais abordam pontos riscados de Umbanda Hibridados em suas entonações (SANDRONI 2001)

Linha De Caboclo

Maria Bethânia

Já chegou a hora

Quem lá no mato mora

É que vai agora

Se apresentar

No chão do terreiro

A flecha do seu Flecheiro

Foi que primeiro

Zuniu no ar

Vi Seu Aimoré

Seu Coral, vi Seu Guiné,

Ví Seu Jaguaré,

Seu Araranguá,

Tupaíba eu vi,

Seu Tupã, vi Seu Tupi,

Seu Tupiraci,

Seu Tupinambá.

Vi Seu Pedra-Preta se anunciar,

Page 25: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

25

Seu Rompe-Mato,

Seu Sete-Flechas,

Vi Seu Ventania me assoviar

Seu Vence-Demandas eu vi dançar

Benzeu meu patuá.

Vi Seu Pena-Branca rodopiar,

Seu Mata-Virgem,

Seu Sete-Estrelas,

Vi Seu Vira-Mundo me abençoar

Vi toda a falange do Jurema

Dentro do meu gongá.

Seu Ubirajara

Trouxe Seu Jupiara

E Seu Jupiara

Pra confirmar

Linha de Caboclo,

Diz Seu Arranca-Toco,

Um é irmão do outro

Quem vem lá.

Com berloque e joia

Vi Seu Arariboia

Com Seu Jiboia

Beirando o mar,

Com cocar, borduna,

Chegou Seu Grajaúna,

Que Baraúna

Mandou chamar.

Page 26: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

26

Vi Seu Pedra-Branca se aproximar,

Seu Folha-Verde,

Seu Serra-Negra,

Seu Sete-Pedreiras eu vi rolar

Seu Cachoeirinha ouvi cantar

Seu Gira-Sol girar.

Vi Seu Boiadeiro me cavalgar,

Seu Treme-Terra,

Seu Tira-Teima,

Seu Ogum-das-Matas me alumiar

Vi toda a nação se manifestar

Dentro do meu gongá.

No ponto citado, é trabalhado processos utilizados dentro de um terreiro, e acredita se que a

memória de índios e caboclos . E seus feitos místicos, como curandeiros e guerreiros .

Page 27: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

27

COSIDERAÇÕES FINAIS:

Existem diversos Pontos para diversos modelos sociais desde marinheiros ,Boiadeiros,

"malandros" etc. O que nos leva a crer que os Pontos Cantados e riscados da Umbanda tendem a

memorar inúmeros modelos sociais, porem não existem muitos arquivos voltados ao estudo

cientifico na exatidão da analise de pontos usados pelos praticantes. Em consideração, assim

como a história das classes excluídas , a cultura é um caminho para conhecer essas diversidades, e

as religiões afros Brasileiras, são raízes de nossa história, resgatam nosso passado e origem

miscigenada, que deve ser estudada mais afundo, para entender a própria história e seus recortes.

Fonte :

Os pontos que foram analisados nesta pesquisa são encontrados em : [

http://lituca.files.wordpress.com/2010/12/umbanda_-_livro_de_pontos.pdf] Durante Jan a Mai 2014

BIBLIOGRAFIA E REFERENCIAS :

ALMEIDA, André & SOUZA Ana. Ogans: Músicos de Religiões Afro-Brasileiras. Identidades e

Representações de Poder. In Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia (EMAC/UFG) & IV

Encontro de Musicologia Histórica (UFRJ). 2012. Disponível em PDF:

http://www.emac.ufg.br/uploads/269/original_anais_do_2_simposio_musicologia_4_encontro.pd

f Acesso em jan/fev/mar/2014

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In JODELET, Denise (org),

As representações sociais, Rio de Janeiro: EdUerj, 2001. ARTIGO EM PDF

http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1081&class=02 Acesso em jan fev mar 2014

NASCIMENTO, Elisabete. Da escravidão aos orikis em sala de aula: Mito e música sacra de

matriz africana na Poética Candombeira. Xi Congresso Internacional da ABRALIC. USP-São

Paulo. 2008. Disponível em PDF:

http://www.emac.ufg.br/uploads/269/original_anais_do_2_simposio_musicologia_4_encontro.pd

f Acesso em jan/fev/mar/2014

Page 28: UMBANDA- PONTOS CANTADOS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO

28

MOREIRA Carina. Metáforas da Memória e da Resistência: uma análise dos pontos cantados

na Umbanda. In Anais do XI Congresso Internacional da ABRALIC. USP. 2007. Banco de teses

da Usp .

ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro: Umbanda, integração de uma religião

numa sociedade de classes. . Editora Vozes, 1978 - 205 páginas.

SANDRONI, Carlos. Feitiço Decente: transformações do samba no Rio de Janeiro,

1917-1933. Jorge Zahar Editor Ltda. 2001.

SLENES, Robert W. Eu venho de muito longe, venho cavando: jogueiros cumba na senzala

centro-africana”. In LARA, Silvia Hunold e PACHECO, Custavo (org.). Memória do Jongo: as

gravações históricas de Stanley J. Stein Vassouras, 1949. Rio de Janeiro: Folha Seca;

Campinas-SP: CECULT, 2007.

VERGER, Pierre. Uma rainha africana mãe-de-santo em São Luís. Revista USP, São Paulo, n.6,

jun.jul.ago., p.151-158, 1990.

VIOTTI, Emília. Da Senzala à Colônia. São Paulo: UNESP.

AMARAL, Kelly Pereira. As construções da identidade religiosa da umbanda através

das perspectivas sociológicas e antropológicas. 2002. Disponível em:

<www.rj.anpuh.org/Anais/2002/Comunicacoes/Amaral%20Kelly%20Pereira.doc>.

Acesso em: 11 Mai. 2014.