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Autora: Simone Ferreira da Costa Orientadora: Diva Nereida
UMA VISÃO SOBRE A FORMAÇÃO
DO PROFISSONAL DE MÍDIA
E O MERCADO DE TRABALHO
Rio de Janeiro, 01 de outubro de 2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
UMA VISÃO SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL
DE MÍDIA E O MERCADO DE TRABALHO
OBJETIVOS:
Delinear o conteúdo que deve ser ensinado nas
faculdades de publicidade sobre a matéria mídia, de modo
a atender o mercado de trabalho.
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido Joelson pelo incentivo a minha vida
profissional, à Diva Nereida pela orientação na confecção
deste trabalho e a todos que, de algum modo,
contribuíram para que eu conseguisse realizar este
trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia à minha mãe pela formação do
meu caráter e o apoio que me deu quando precisei e à
memória do meu pai pela grande confiança que
depositava em mim. Também à Thainá, minha sobrinha e
afilhada, que se inicia na vida escolar com grande alegria
e entusiasmo. Que seja sempre assim.
Simone Costa
RESUMO
O mídia é o profissional da publicidade responsável por conhecer os veículos
de comunicação e planejar a forma que melhor deve ser colocado o anúncio do
cliente.
Para bem planejar a mídia é necessário se atualizar constantemente, pois a
cada dia surgem novos veículos de comunicação, a rádio que no mês anterior estava
em primeiro lugar agora pode não estar, tem uma revista com o perfil do público do
cliente que fará um especial... enfim, é um bombardeio de informações todos os dias.
A cada planejamento as audiências precisam ser checadas entre outros dados de
pesquisa. Mas a função do profissional de mídia não se resume a isso, muita coisa
acontece neste departamento.
De uns anos para cá esse profissional tem sido valorizado e é uma nova
opção de carreira. Mas as universidades ainda não perceberam essa mudança.
Outro problema encontrado nas faculdades é o fato de se preocuparem mais em
obterem novos alunos do que com o próprio curso.
O começo de um bom curso é a seleção e o acompanhamento do trabalho do
seu corpo docente. Somente o conhecimento não é o suficiente para que o professor
contribua para a formação de seus alunos.
Primeiramente, o ensinante tem que ensinar aprendendo. A atividade docente
aprende-se a cada dia e isso acontece em sala de aula. O professor não pode ser
autoritário nem preconceituoso, pois isso o impedirá de estar aberto aos novos
conhecimentos.
Humildade, autoconfiança, tolerância, coragem, capacidade de decisão,
tensão entre a paciência e impaciência e a comunicação são qualidades que o
docente deve ter.
A Didática está ligada à ciência, à técnica, à filosofia e ao afeto. Um grande erro, é o fato de a didática ser ensinada separadamente das disciplinas profissionalizantes. Houve aí, um rompimento da relação
teoria/prática. Essa didática tem um papel muito pequeno na formação do educador comprometido com um projeto pedagógico, de um executor de um projeto histórico de desenvolvimento de um
povo.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica e uma entrevista com a
profissional de mídia Érica Campbel realizada através de e-mail.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 10
O PROFISSIONAL DE MÍDIA E O MERCADO DE TRABALHO 10
CAPÍTULO II 16
A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR PARA ACONCEPÇÃO
DO SABER 16
CAPÍTULO III 23
QUALIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELO EDUCADOR 23
CAPÍTULO IV 29
DIDÁTICA – PRÁTICA OU TEÓRICA? 29
CAPÍTULO V 35
O CONTEÚDO DA AULA DE MÍDIA 35
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
ÍNDICE 41
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa acadêmica tem por objetivo avaliar como está o
mercado de trabalho para o profissional de mídia, mostrando sua evolução em
termos de reconhecimento, importância e profissionalização nos últimos anos e se
essa evolução acontece paralelamente nas universidades. Os dados que retratam
este mercado de trabalho e o que é transmitido em termos de mídia nas
universidades foram retirados de uma pesquisa realizada por uma estudante para um
concurso de monografia feito pelo Jornal Estado de SP em 2001.
Como o papel da universidade é de grande importância na formação do
profissional em questão, este trabalho mostra o que Paulo Freire, Flavio Gikovate,
Georges Gudsdorf defendem sobre o que é ser educador.
O surgimento de universidades a cada dia com o objetivo do comércio, deixa
de lado o real propósito de uma instituição de ensino: o saber. Em grande parte há
uma falta de preocupação com a qualidade dos professores que contratam, um
descaso com o conteúdo que é ministrado nos curso, há uma falta de ética e
comprometimento para com os alunos por parte das instituições, que influenciam
diretamente na formação de um novo profissional.
Após fazer um retrato sobre o mercado de trabalho e traçar um perfil básico de
um educador, este trabalho propõe o que e como deve ser ensinado em sala de aula
o que diz respeito à mídia.
CAPÍTULO I O Profissional de Mídia e o Mercado de Trabalho
Os principais setores dentro de uma agência de publicidade são:
criação, atendimento e mídia. São eles que planejam as estratégias de comunicação para a campanha de um produto, criam os
anúncios e os colocam em todos os lugares possíveis. O profissional que atua na mídia tem a função de planejar em quais meios de
comunicação a campanha será veiculada. É ele quem irá determinar como o público
alvo vai ser atingido, ou seja, saber onde, quando e por quanto tempo os esforços de
comunicação serão eficazes. Mas tudo isso deve estar dentro da expectativa de
verba do cliente, então, também é preciso ser um bom negociador para que se
consiga os melhores custos da mídia planejada. Depois de tudo autorizado, o mídia
tem que fazer um controle junto aos veículos de comunicação para que tudo seja
realmente veiculado, pois uma falha pode comprometer todo o resultado. Saber
interpretar pesquisas, é fundamental ao profissional de mídia, pois elas são
ferramentas essenciais que ajudam no planejamento de mídia. Através delas pode-
se identificar os meios e veículos mais adequados ao público alvo.
O mídia que é o principal responsável por ter um grande anúncio na fachada
de um prédio, por exemplo. É ele também que coloca o sabão em pó Omo dentro da
novela “Mulheres Apaixonadas” da TV Globo para ser visto por milhares de pessoas
que depois vão aos supermercados comprá-lo com a “certeza” de que ele limpa
melhor. Todas essas ações de mídia custam muito caro e uma das formas de a
agência de publicidade cobrar pelos seus serviços é ganhar um percentual em cima
do que for veiculado, então, quanto mais o seu cliente anunciar, maior será seu
faturamento.
Desde o inicio até hoje, o departamento de mídia já mudou muito. Antes dos
anos 70 as atividades deste setor não eram exercidas por pessoas capacitadas para
isso. Era comum ver o financeiro autorizando a mídia e até mesmo um digitador, o
atendimento intervindo no processo e indicando os meios, os períodos, a freqüência,
a cobertura e outros dados técnicos hoje função exclusiva da mídia. Mas a mudança
ocorreu devido a, principalmente, três fatores: 1) é na mídia que a agência de
publicidade mais fatura; 2) as grandes empresas perceberam que anunciar custa
muito caro, então para fazê-lo é preciso o máximo de segurança possível; 3) a
profissionalização da atividade publicitária.
Rafaela Castilo escreveu, em 2001, uma monografia para o 4º Prêmio de
Mídia Estadão, editada depois pelo Jornal Estado de SP. Com o título “Mídia: Paixão
à primeira vista” a autora traçou o perfil deste profissional e como está o mercado de
trabalho.
Para a realização da monografia Rafaela Castilo utilizou a seguinte
metodologia:
1. Pesquisa qualitativa com 10 entrevistas pessoais com profissionais de
mídia. Os objetivos eram:
• Verificar como ingressaram nesta área
• Como se apaixonaram pela mídia
• Evolução profissional e seu reconhecimento
• Explosão dos meios
• Preocupações e desafios na área
• Procura de estágios para mídia por universitários
2. Pesquisa quantitativa realizada em 20 agências em que todos os
funcionários do departamento de mídia responderam às questões de um
formulário. Os principais objetivos desta pesquisa eram:
• Traçar o perfil profissional dos atuantes em mídia
• Principais dificuldades e desafios
• Tendências da mídia para os próximos anos
3. Pesquisa quantitativa aplicada a estudantes da FAAP e UNIP, ambas
faculdades de Comunicação de São Paulo. Objetivos:
• Identificar o interesse dos estudantes em atuar na área de mídia
• Imagem que os estudantes têm da área em assunto.
Diante dos dados, fatos importantes foram confirmados e até descobertos
sobre essa profissão que apesar dos avanços, ainda luta pelo reconhecimento hoje
em dia.
O papel do mídia, atualmente, é muito mais estratégico e técnico. Sua
atividade é essencial na comunicação. As formas e os meios para anunciar não
param de crescer e a necessidade de conhecer melhor o consumidor é cada vez
maior.
O profissional de mídia também precisa acompanhar as evoluções
tecnológicas, saber interpretar os dados de pesquisas e fazer uma eficiente
segmentação já que a tendência é a individualização do consumidor. A mídia de
massa perdeu sua força, haja vista que não existe mais o consumidor e sim vários
grupos e subgrupos de consumidores. Não basta saber que determinado veículo de
comunicação atinge mulheres, classe A/B com mais de 25 anos. É preciso saber se
o comportamento dessas mulheres coincidem com o perfil do público alvo que é
necessário atingir. Por toda essa complexidade na busca de conhecer o público alvo
e saber como atingi-lo, é que a área de mídia cada vez mais ganha o
reconhecimento dentro do mercado publicitário.
O mídia considera como principal desafio apresentar soluções cada vez mais
criativas aos clientes. Também é fundamental estar bem informado e atualizado, pois
as mudanças no mercado correm com velocidade muito rápida. A pesquisa mostrou
que ainda hoje, uma parcela significativa dos mídias (25%) acha que não tem
reconhecimento profissional, até mesmo por parte do cliente (22%).
A remuneração do profissional dessa área já melhorou muito, mas ainda é
reclamação de 1% dos entrevistados. Mas os grandes profissionais acreditam que
conforme a atividade for crescendo em importância, o salário tende a acompanhar.
Mesmo diante de tantas dificuldades esses profissionais não se acomodaram
e criaram, há trinta anos, o Grupo de Mídia. O objetivo desta entidade é gerar
condições e recursos para a área se desenvolver. Por isso, seminários, cursos e até
festas são realizadas para reciclar, debater problemas da área e unir os profissionais.
Os mídias no Brasil são, sem dúvida, os profissionais mais unidos dentro da
publicidade. A união é tanta que através do Grupo de Mídia, eles viajam juntos para
aprenderem visitando empresas de mídia, associações e centros tecnológicos
americanos, mesmo estando em agências concorrentes. Mas a ética profissional não
deixa de existir nunca.
A união dos mídias é o segundo principal fator que motiva trabalhar na área.
Na questão “o que tem de mais gostoso, mais motivador em trabalhar com mídia?”
os resultados foram:
• 28% responderam que é o planejamento de mídia;
• outros 28% responderam por ser uma área dinâmica/inusitado/não tem
rotinas;
• 18% responderam que é o relacionamento pessoal.
A pesquisa também revelou uma questão preocupante que está relacionada
com o ensino superior: a imagem da área de mídia que os universitários têm. Grande
parte dos entrevistados apontaram algo negativo dessa profissão.
• 70% apostam que não é uma área apaixonante;
• 46% acreditam que os mídias só trabalham com números;
• 44%pensam que é um trabalho que não precisa ser criativo;
• 28% afirmam que o trabalho do mídia não tem nada de estratégico;
• 27% apontam que é a área mais rotineira da agência de publicidade;
• 21% afirmam que é uma área pouco dinâmica;
• 10% acreditam que é uma boa porta de entrada para uma agência, e daí
então tentar oportunidade em outra área.
É óbvio que as faculdades não são as únicas responsáveis por essa imagem
negativa da área de mídia que acaba contribuindo para um certo desmerecimento do
profissional que nela atua. Há uma grande divulgação que a publicidade se resume
nos comerciais mirabolantes, engraçados e muitas vezes até chocantes. Mas a
verdade é que a “indústria da comunicação” é muito mais complexa e que a mídia
tem papel fundamental para um bom resultado. E, se a faculdade é o principal meio
de conhecer a complexidade que é a publicidade, ela tem um papel significativo na
formação do conceito sobre as atividades do mídia. Outra grande questão é quanto a
exigência de diploma para a área de publicidade que não é obrigatória. Encontramos,
então, dois problemas que as faculdades de comunicação e de marketing precisam
resolver: 1) como atrair os vestibulandos se não é necessário o diploma de nível
superior para a profissão em questão? 2) qual o conteúdo que deve ser ensinado no
que se refere à mídia?
CAPÍTULO II A importância do professor para a concepção do saber
O diploma de publicitário não é obrigatório para que se exerça a função.
Alguns anos atrás tentou-se regulamentar a profissão, porém como a maioria não era
formada, conseguiu-se que não fosse aprovada a lei. Todavia, os cursos de
Comunicação Social e de Marketing multiplicam-se a cada ano e, a cada semestre,
milhares de profissionais recém formados são jogados no mercado. O vestibular para
Comunicação Social nas universidades públicas já é, há algum tempo, um dos mais
concorridos ao lado de cursos tradicionais como de odontologia, medicina e
informática. Mas se não é obrigatório o diploma nessa área e a concorrência no
âmbito das faculdades é enorme, o que deve a instituição de ensino oferecer para
seu público alvo? Qual a melhor forma de atrair esses jovens? Mais do que a própria
publicidade, um curso atrai alunos quando seus formandos atuam com êxito no
mercado.
Para que um curso forme um profissional bem preparado é preciso,
basicamente, de dois elementos funcionando bem – o professor e a própria
instituição. A preocupação ao contratar um professor deve ser muito mais do que ter
um grande número de mestres e doutores no seu corpo docente, é preciso saber
reconhecer se eles sabem ensinar aprendendo. A instituição, por sua vez, precisa ter
infra-estrutura, credibilidade, responsabilidade e ser honesta. O educador sabe que a
família também tem um papel importante para o sucesso ou fracasso do aluno, mas
o que será colocado aqui é o que é responsabilidade da instituição.
Segundo Paulo Freire em seu livro “Professora Sim, Tia Não – Cartas a quem
ousa ensinar”, página 27:
“o aprendizado do ensinante ao ensinar não se dá necessariamente através da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica na medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e os diferentes caminhos e veredas que ela o faz percorrer. Alguns desses
caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas, que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade – razão por que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criticidade – o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar, um momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado.”
O professor não pode, dentro e nem fora de sala de aula, achar que seus
conhecimentos superam os de seus alunos, ele tem de estar aberto a aprender e
para isso é preciso humildade. Também defende este ponto de vista Flavio Gikovate
no livro “A Arte de Educar” página 51, quando diz que o ato de ensinar é um
processo de interação entre professor e aluno no qual um sofre influência do outro.
Se o professor avança nessa dinâmica ele percebe que sempre tem muito a evoluir e
a se aprimorar e que a repetição de temas não é tarefa tediosa, pois
“cada nova situação determina uma interação dinâmica original e única”. “(...) não existe a pessoa e o professor; o progresso de um redundará no avanço do outro e vice-versa. Se a meta da vida é o crescimento individual, poucos ofícios criam condições tão favoráveis ao autoconhecimento como daqueles que interagem com grupos de pessoas.”
Se para a formação de um profissional a “ciência de ensinar” é fundamental, é
preciso antes de mais nada, saber o perfil de um bom professor. Como foi dito
anteriormente, na visão de Paulo Freire, o docente no momento em que ensina tem
um momento de aprender mas ele tem de estar aberto a isso. Todavia, isso não quer
dizer que qualquer um pode ensinar.
Para a tarefa docente é primordial estudar. É necessário responsabilidade
ética, política e profissional por parte de quem pretende ensinar, porque assim este
se obriga a se preparar para exercer tal função. Como o professor tem uma
responsabilidade social para com seus alunos ele, ao estudar, deve ter sempre
reflexão crítica.
“(...) o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita.” (Paulo Freire, “Professora Sim, Tia Não”, página 29).
Na visão de Paulo Freire, um grande problema encontrado entre os
profissionais da educação é o fato de muitos terem escolhido essa profissão por falta
de opção e não por vocação. Isso é muito sério. O docente lida com gente, pode ser
criança ou um adulto em formação profissional, e sua participação na vida dessas
pessoas pode causar marcas – boas ou ruins – pelo resto da vida. Pode-se ajudar
como também prejudicar a busca do conhecimento por parte desses alunos.
“Em suma, ainda que não possamos afirmar que o aluno de professor incompetente e irresponsável é necessariamente incapaz e faltoso de responsabilidade ou que aluno de professor competente e sério é automaticamente sério e capaz, devemos assumir com honradez nossa tarefa docente, para o que nossa formação tem que ser levada em conta rigorosamente.” (Paulo Freire, “Professora Sim, Tia Não”, página 48).
A função do professor para que o aprendiz aprenda é tão grande que no livro
“Professores para quê? – Para uma pedagogia da pedagogia” Georges Gudsdorf
afirma que o diálogo é demasiado importante no ato de ensinar-aprender. Se não
fosse, o professor poderia ser substituído por um livro, uma tv, um rádio ou qualquer
outro invento tecnológico e, ao país e às escolas particulares, geraria uma grande
economia no orçamento da educação. Mas a realidade é que isso não funciona. Não
existe método em que se aprende sem esforço. Já existe, sim, o ensino à distância o
qual é transmitido o conhecimento pela internet, mas existe um professor dialogando,
respondendo dúvidas ao aluno que está em algum lugar, conectado à “grande rede”.
Mas a eficácia deste ensino que não tem a presença física do professor, somente há
a virtual, não será analisada aqui.
Para o aluno quando criança, o professor é um ídolo. Ao longo do tempo, ele
tem experiência suficiente que o possibilita classificar em bom ou mau professor.
Mais do que isso, a classe confere status que se impõe e merece respeito. A
classificação é feita passando por todos os graus de submissão e insubmissão e da
tolerância e intolerância. Essa questão é tão importante para o rendimento do aluno
que é espantoso que não se dê a devida importância a isso, seja por parte da
instituição, seja por parte do professor.
“Os resultados serão bem diferentes se se tratar de um professor respeitado ou de um outro que não o é. Os melhores métodos não salvam o professor que não saiba fazer reconhecer sua autoridade; enquanto que os métodos mais arcaicos e grosseiros fazem maravilhas se aplicados por um professor aceito e estimado por seus alunos.” (Georges Gudsdorf no livro “Professores para quê”, página 30). Para o autor, é fundamental obter respeito da turma, pois só assim, se
conseguirá obter resultados positivos.
No confronto da primeira aula, o professor observa a classe e esta o observa.
O professor, que é minoria, precisa logo no primeiro momento afirmar sua presença,
o que não é tarefa fácil, já que o jovem é naturalmente agitado e em grupo essa
turbulência é ainda maior. Então, a boa vontade por parte dos alunos em dar atenção
não se adquire de antemão.
A verdade é que nem todas as pessoas têm temperamento domador, então é
quase impossível para uma pessoa de personalidade mais passiva conseguir a
obediência de uma turma. Será preciso por parte deste professor que não consegue
se impor, um trabalho pessoal muito grande para mudar essa sua realidade.
“É preciso repetir que, se o espaço escolar é o lugar de um confronto, o papel do professor não se reduz à afirmação impessoal. O professor não fala como
um livro, é uma presença concreta, qualitativamente diferente da presença abstrata e ausente que as técnicas audiovisuais, tão em moda hoje em dia, procuram.” (Georges Gudsdorf no livro “Professores para quê”, página 31).
O docente deve mostrar que não tem medo e justificar sua presença como
representante da sabedoria, da cultura e dos valores humanos. O confronto acontece
em todas as séries, porém nas primeiras, a obtenção de autoridade é um processo
natural. Para a criança o professor é um adulto - o que já impõe respeito -, é
novidade em sua vida e tudo que ele fala é verdade, ele sabe sobre tudo, além de
poder aplicar castigo.
Conforme chega a adolescência o senso crítico aumenta e o professor deixa
de ser ídolo, figura onipotente e passa a ser julgado pelo aluno. Agora ele não é mais
conhecedor de tudo.
No ensino superior também muda a relação professor-aluno. Aqui a relação é
entre adultos, em que o aluno tem cultura suficiente para desafiar o docente. Entra
em questão a qualidade profissional de quem leciona. O aluno sabe que se o
professor que o ensina não tem conhecimentos suficientes sobre a profissão em
questão isso o afetará.
“O professor julga o aluno, mas sente-se julgado por ele. Trata-se de um confronto de igual para igual, apesar da persistente defasagem. O professor duvida de sua competência e sente necessidade de encontrar, na aprovação do aluno, o reconhecimento de seu valor e sua justificação. O estudante, por sua vez, no inicio de sua vida, espera do professor os julgamentos decisivos que o fixarão em suas possibilidades e orientarão sua carreira.” (Georges Gudsdorf, “Professores para quê?”, página 39).
Mas, diferentemente de Paulo Freire que recrimina o professor que escolhe
esta profissão por falta de opção ou por uma questão de oportunidade e não por
vocação, Flávio Gikovate no livro “A Arte de Educar” página 50, livro este que não foi
e não pode ser comercializado pois foi editado especialmente para presentear
professores do Brasil e do Japão de instituições conveniadas ao Sistema Positivo de
Ensino, a falta de preparo de um professor no Brasil não é um problema somente
pedagógico, mas também social, cultural e ético.
Gikovate afirma que nem sempre o professor resolve lecionar por vocação e
sim devido às circunstâncias da vida, mas descobre “como pode ser apaixonante
desvendar os mistérios da arte de ensinar”. Ele começa com dificuldade e, aos
poucos, percebe que a tarefa de ensinar é muito complexa, mas recompensadora. O
autor demonstra a admiração que tem pelos professores que se mostram sempre
alegres e otimistas, apesar das dificuldades em exercer a profissão, mas que não
podem ser diferentes já que são pessoas que prestam serviço de grande relevância
a comunidade e muitas vezes o fazem por puro idealismo.
O autor também comenta que a falta de concentração por parte dos alunos e,
por conseqüência, a dificuldade do professor em conseguir prender a atenção dos
mesmos, está relacionada ao hábito de assistir à tv. Isso porque o telespectador tem
uma postura muito passiva, não precisando fazer nenhum esforço para se concentrar
no que está vendo. Ele ainda compara o professor a um “ator que tem uma missão
especial: cativar e impressionar uma platéia jovem nem sempre muito interessada”.
Mas a arte de ensinar assim como é apaixonante pode ser intrigante, já que um
mesmo professor que tem sucesso com uma turma pode fracassar com outra.
CAPÍTULO III
Qualidades a serem desenvolvidas pelo educador
1. A Humildade
Essa característica, como já foi citada, é fundamental ao bom educador, pois
sem ela não é possível ensinar aprendendo. A atividade docente é uma atividade em
constante atualização e grande parte dessa atualização é feita no dia-a-dia, na troca
com os alunos. O educador tem que ser humilde e reconhecer que não é o dono da
verdade e de todo o conhecimento.
2. A Autoconfiança
Uma qualidade que o docente deve desenvolver é a autoconfiança. Porque
um professor que sabe sobre o que está falando e transmite que acredita naquilo que
diz, aumenta suas chances de conseguir a atenção da classe. Existe os charlatões
que tentam convencer que sabem sobre tudo que “ensinam”, mas a farsa é
descoberta ao longo do tempo.
É óbvio que o docente deve ter um grande conhecimento sobre a matéria que
ensina, mas quando acontece de surgir uma pergunta na turma que não sabe
responder, é preciso ser sincero e se comprometer a trazer a resposta na aula
seguinte, pois “por mais que saiba, sempre haverá muito por aprender. Assim o sábio
é sempre um aprendiz”. Isso é natural em uma época em que tudo muda com
velocidade acelerada, como atualmente. O professor deve ser sábio em apreciar
perguntas para qual não tem resposta pois elas os levam à busca do conhecimento
novo.
3. A Tolerância
Para manter o controle e a atenção da turma, muitos atributos é preciso ter.
Um deles é a tolerância. Ser tolerante não é deixar de ser firme, nem ser conivente.
“A Tolerância é a virtude que nos ensina a conviver com o diferente. A aprender com
o diferente, a respeitar o diferente.” (Paulo Freire, “Professora Sim, Tia Não”, página
59). É saber observar e saber encontrar o que existe de útil nos atos espontâneos
dos alunos. A criatividade deve ser respeitada e estimulada, mas deve-se saber
quando trazer de volta a turma ao tema da aula. Essa é uma atitude que se aprende
ao longo do tempo.
Uma dose de espontaneidade e liberdade no trato com os alunos é aceitável
desde que isso contribua a tornarem-se pessoas livres e competentes para refletirem
sobre o tema da aula. Tolerar implica em impor limites e princípios a serem
respeitados. Não se aprende tolerância num clima de irresponsabilidade, nem
tampouco em regime autoritário, de autoridade intensa, ou em um regime silencioso
em que a liberdade não tem limite. Junto com a tolerância tem-se o respeito, a
disciplina e a ética.
Não se pode confundir tolerância com hipocrisia. Esta parece como um favor,
uma forma cortês de aceitar uma presença não muito desejada, de tolerar o
diferente. Não se pode ser tolerante se não for deixado de lado o preconceito, seja
em relação ao sexo, a cor, a classe, ou qualquer outra diferença.
4. A Coragem
Gikovate acredita que a maior virtude de um professor é a coragem. Porque
colocar-se diante de uma turma em que as pessoas não são ainda completamente
educadas, onde sempre existirá aquele que discorda, que é indiciplinado, é uma
missão muito difícil que necessita de coragem.
Mesmo diante de um grupo de pessoas mais velhas, é aflitivo tê-las atentas e
pior quando não estão. A coragem é necessária para agir sabendo que a
responsabilidade do sucesso ou fracasso é, a princípio, do docente, que é ele a
autoridade dentro de sala de aula e por isso é ele que ditará as normas e irá reger o
relacionamento a ser estabelecido. É preciso desde etiqueta à justiça e
solidariedade, valores estes englobados na palavra disciplina.
Quando se tem coragem e disciplina é porque a razão venceu o medo. E ter
medo não significa que deva ter vergonha. O sentimento de medo é sentido por
quase todos e, em última análise, só tem coragem quem um dia teve medo, porque
quem é destemido não necessita de coragem. Sempre quando se expõe a uma
situação de perigo o medo é sentido, pois é parte do instinto de autoconservação, é
um aviso de que se está ameaçado seja física ou moralmente.
O medo quanto à exposição é sentido porque passa-se a correr um perigo que
é o de desagradar, e devido a isso, sofrer represálias que não se tem a noção de
como pode ocorrer porque se trata de um grupo e não se tem como prever reações
grupais.
Poucas são as pessoas que não têm medo de falar em grupo, de colocar sua
opinião, principalmente no inicio de suas atividades sociais. Essas são pessoas
privilegiadas que desde a infância sentem facilidade na sua socialização.
Gikovate cita no livro “A Arte de Educar” que ele mesmo já sentiu medo de
falar em público e que chegava à uma palestra com postura defensiva e isso era
como pedir que a platéia tivesse posição ofensiva. As respostas ofensivas da platéia
era, na verdade, um processo que ele mesmo iniciava.
Após preocupar-se muito com assunto e tendo vontade de mudar, passou a
levantar a hipótese de que determinada platéia não tinha nada contra ele e que só
iriam ter um conceito sobre ele no fim e que isso dependeria dele.
Paulo Freire também fala da virtude de se ter coragem e da relação dela com
o medo. Porque o educador é um político. Quando ele tem a noção de suas opções,
de seus sonhos, que são substantivamente políticos e adjetivamente pedagógicos, e
sabe-se o quanto ainda tem a caminhar pela democracia, o medo aflora.
Sentir medo é natural, porém o que não pode acontecer é deixar que o medo
imobilize. Se o educador está seguro no seu conhecimento, no seu sonho político,
deve-se prosseguir na luta.
É preciso vencer o medo, pois o progresso, qualquer que seja ele, é
necessário a auto-estima. Ter o domínio de si mesmo é em benefício do trabalho.
Todo esse empenho é com o objetivo de despertar nos alunos o interesse pelo tema
que se está transmitindo e os prazeres relacionados com o aprendizado e com o
conhecimento.
5. A Decisão
Paulo Freire afirma que a capacidade de decisão é absolutamente necessária
para o trabalho formador. Decidir é um ato difícil, pois é romper para optar. Não se
pode optar sem ficar contra alguma coisa, ou uma pessoa. Quando se é indeciso
mostra-se insegurança e os educandos entendem como fraqueza moral ou
incompetência profissional e segurança é uma qualidade fundamental a quem está
no governo, além de demandar competência científica, clareza política e integridade
ética. É seguro aquele que tem como fundamentar cientificamente sua ação.
A democracia deve existir por parte do educador, mas não pode ele se anular
nem fugir da responsabilidade de tomar decisões. “O testemunho, enquanto
autoridade de não assumir o seu dever, deixando-se tombar na licenciosidade é
certamente mais funesto do que o de extrapolar os limites de sua autoridade.” (Paulo
Freire, “Professora Sim, Tia Não”, página 60).
6. A Tensão entre a Paciência e a Impaciência
O educador deve precisa desenvolver é a tensão entre a paciência e a
impaciência. A paciência sozinha pode levar o educador a uma a acomodação, ao
imobilismo. Já a impaciência sozinha pode levar ao ativismo cego, à prática em que
não se respeitam as necessárias relações entre a tática e a estratégia. A impaciência
somente, leva à arrogância.
A virtude está em saber viver a permanentemente entre a paciência e
impaciência.
7. A Comunicação
Gikovate cita que Genet ensina como é importante a beleza e forma para o
aprendizado. O conteúdo transmitido pode ser de grande relevância para a turma,
mas quando transmitido de maneira delicada e elaborada com detalhes, além da
própria aparência física do professor estar de forma apresentável, com certeza irá
ser bem melhor assimilado.
Forma e conteúdo são complementares e este sempre é mais facilmente
transmitido quando há uma preocupação e cuidado com a maneira que ele chega ao
receptor final. O emissor, que neste caso é o professor, não deve ter postura
arrogante quando a mensagem não está sendo bem entendida. Ele deve rever a
forma com que está transmitindo para saber em que está falhando. Mas é importante
que a preocupação com a forma não seja maior que a preocupação com o conteúdo.
CAPÍTULO IV
Didática – prática ou teórica?
A didática é um tema ainda muito discutido, pois há duas linhas defendidas – a
didática prática e a didática com bases teóricas. No livro “A Didática em Questão” em
que estão reunidos alguns trabalhos apresentados em um seminário promovido pela
PUC/RJ com apoio do CNPq em 1982, com o objetivo de discutir o ensino e a
pesquisa em didática, Cipriano Carlos Luckesi diz que todo ser humano envolvido em
sua prática histórica transformadora é um educador. Todos são educadores e
educandos, ao mesmo tempo, pois ensinam e são ensinados, numa interação
contínua, em todos os instantes da vida. Neste momento, não é necessário nenhuma
preparação, nenhuma aprendizagem específica para ser educador. Aprende-se com
o meio, com os outros, com as próprias experiências. Adquire-se nesse processo
dialético transformador de cada um, uma gama de conhecimentos e sabedoria que é
trocada nas relações sociais.
Há também o educador profissional que se dedica a atividade com intenção de
criar condições de desenvolvimento de condutas desejáveis, seja do ponto de vista
do indivíduo seja do ponto de vista do grupamento humano. É ele, o profissional da
educação, que passa por um processo formal de aquisição de conhecimentos e
habilidades, através da faculdade para o magistério e outros exercícios afins. Para
isso, realiza-se um processo de aprendizagem estruturadas. No decorrer de alguns
anos estuda-se programas e currículos com o objetivo da habilitação como
profissional a ser aceito para o exercício de atividades sociais estabelecidas.
Tanto o educador “nato” como o educador profissional são seres humanos que
podem ser sujeitos ou objeto da história. O objeto da história sofre a ação do tempo e
dos movimentos sociais sem perceber que pode ser interferidor nesse processo. Não
desempenha o papel de educador, na sua autenticidade.
O sujeito da história, que é o autêntico educador, é um ser humano que
constrói, o projeto histórico de desenvolvimento do povo. É consciente que junto com
outros pode fazer a história. Porém o educador sozinho não faz um modelo social,
mas a educação atua dentro de um modelo social existente ou que possa existir.
Mas ele tem papel fundamental na execução de um projeto histórico voltado para o
ser humano. Assim como outros profissionais contextualizados, é um construtor da
história, mas é preciso que aja conscientemente.
Esse projeto histórico é para o educador um projeto pedagógico, um plano de
ação que manifesta as aspirações e o processo de crescimento e desenvolvimento
de um povo.
A ação pedagógica não poderá ser, de forma alguma, entendida e praticada
como se fosse uma ação neutra. É preciso faze-la com ideologia, pois faz parte de
um projeto histórico. Então, a ação do educador não poderá ser neutra e sim
ideologicamente definida.
O educador não pode exercer suas atividades sem opções teóricas. Seja ela “filosófico-política pela opressão ou pela libertação; uma opção por uma teoria do conhecimento norteadora da prática educacional, pela repetição ou pela criação dos modos de compreender o mundo; uma opção, coerente com as anteriores, pelos fundamentos específicos de sua prática; e, finalmente, uma opção explícita na escolha dos meios de processar a práxis educativa, que não poderá estar em desacordo com as opções anteriores.” (Cipriano Carlos Luckesi, “A Didática em questão”, página 25)
A prática educacional não poderá ser feita de maneira burocrática, pois é uma
ação comprometida ideológica e efetivamente. Agir burocraticamente em educação é
fazer o jogo de decisões alheias.
Para Luckesi, formar o educador é criar condições para que o sujeito se
prepare com ciência, com técnica, com filosofia e com afeto para o tipo de ação que
vai exercer. Além de aprendizagens cognitivas sobre os diversos campos que o
auxiliem no seu desenvolvimento é necessário, principalmente, desenvolvimento de
visão crítica sobre o mundo e sua prática educacional. A preparação e a maturação
do educador se faz no dia-a-dia, portanto, ele nunca estará definitivamente pronto. A
sua constante atualização se fará pela reflexão dos dados de sua prática. Os âmbitos
de conhecimento que lhe servem como base deverão ser formas de ver e
compreender de maneira global o seu objeto de ação e não isoladamente.
Formar o educador não deve ser uma imposição autoritária e sim um modo de
auxiliá-lo a obter uma atitude crítica frente ao mundo que o habilite a trabalhar com
outros seres humanos e desenvolva um verdadeiro processo educativo.
A didática que atualmente está sendo ensinada, é aquela que o educador
deve saber tratar tecnicamente os mecanismos pelos quais o educando possa
adquirir determinados conhecimentos com mais facilidade. A didática passou a ser
voltada para as aprendizagens das formas de conseguir que alguma coisa seja
ensinada ao educando de maneira que ele aprenda rápido e facilmente.
Com a chegada dos modismos tecnológicos e, principalmente após a lei
5.692/71, a metodologia da educação, com a expectativa de resultados rápidos e
precisos, deixou de lado os aspectos filosóficos, políticos e epistemológicos da
educação. O domínio das técnicas de planificação passou a ter grande importância
na prática educacional. Não que o planejamento não tenha importância, mas ele não
é o todo e sim parte dos elementos que constitui o saber do educador.
Um grande erro, é o fato de a didática ser ensinada separadamente das
disciplinas profissionalizantes. Houve aí, um rompimento da relação teoria/prática.
Na prática do planejamento, execução e avaliação do ensino, superior ou médio, ela
é mostrada como se fosse uma ação isolada, quando na verdade, não fazem sentido
sem suporte ideológico e de conteúdo científico. A fundamentação teórica
permanece como uma abstração que não tem ligação com as técnicas de execução.
Essa didática que destrói a relação teoria/prática e que não tem fundamento
ideológico e científico, tem um papel muito pequeno na formação do educador
comprometido com um projeto pedagógico, de um executor de um projeto histórico
de desenvolvimento de um povo.
A didática que está sendo ensinada e praticada acentua o “senso comum
ideológico dominante”, pois não tem a compreensão filosófica do mundo e do
educando e o material didático que passou a ter o papel principal de transmissor de
conteúdos, transmite, implicitamente, ideologias oficiais.
A separação entre a teoria e a prática, ou seja, entre o ”que fazer” e ”como
fazer” criam distorções bastante complexas na prática educacional. Existem os
profissionais que planejam mas não executam nem avaliam, os profissionais que
executam sem ter planejado que não avaliam e profissionais que avaliam sem
planejar e executar. Desta forma, as atividades didático-pedagógicas são produzidas
como se não fizessem parte de um todo orgânico e definido. Essa prática é
interessante aos detentores do poder, já que podem tomar decisões deixando o
“como fazer” aos executores, sem permitir a interferência no “o que fazer”. Sem a
base do “que fazer” no educador, a manipulação dos poderes hegemônicos torna-se
mais fácil.
Quem consegue descobrir o “que fazer”, quem sabe definir um projeto
histórico a ser desenvolvido, saberá descobrir o “como fazer” para atingir seus
objetivos.
”Com imaginação e comprometimento afetivo-ideológico e uma constante meditação sobre sua prática, o educador conseguirá encontrar os meios para atingir os fins. Contudo, o contrário não é verdadeiro da mesma forma, ou seja, que se poderá chegar a algum lugar conhecendo tão-somente os meios. Daí a ansiedade, hoje existente nos meios educacionais, por receitas e mais receitas de “como fazer” a educação, na expectativa de sabendo-se como fazer se chegará a algum resultado.” (Cipriano Carlos Luckesi, “A Didática em questão”, página 30).
Para a didática ter um papel significativo na formação do professor, não
poderá ser somente o ensino de meios e mecanismos pelos quais possa se
desenvolver um processo de ensino-aprendizagem, mas sim ser um elo fundamental
entre as opções filosófico-políticas da educação, os conteúdos profissionalizantes e o
exercício prático da educação.
CAPÍTULO V
O Conteúdo da aula de mídia
A eterna discussão entre o que é mais importante, prática ou teoria, sempre
vai existir. Algumas faculdades de comunicação que optam pela prática são mais
voltadas para preparar seus alunos para atuar no mercado. Toda a parte técnica é
ensinada, procurando colocar seus alunos em contato com as ferramentas da
publicidade com muitos exercícios práticos, mas seus alunos chegam ao mercado
com pouca base teórica. Outras, de perfil filosófico, acreditam que o fundamental é
fazer o aluno pensar na importância da comunicação para o desenvolvimento ou
atraso da sociedade. Levantam discussões sobre o poder da comunicação nos
acontecimentos políticos, sociais e econômicos. Além disso, os estudantes de
publicidade recebem base em marketing voltada para comunicação. Defendem que o
aluno que sabe pensar aprenderá com mais facilidade a prática.
Em uma pequena entrevista feita através de questionário qualitativo, Érica
Campbell, mídia da agência de publicidade DPZ, que se formou na PUC, uma
universidade filosófica, diz que prefere a teoria, o conhecimento geral, pois a prática
só se aprende fazendo. Mas ressalta que a prática deve ser mencionada sim, pois
facilita a decisão pela área de atuação.
Deixando de lado essa questão, o fato é que o conhecimento sobre a
atividade de mídia precisa ser melhor trabalhado nas universidades. Nas aulas desta
matéria, além dos conceitos de pesquisa mais utilizados, dos procedimentos básicos,
para quais objetivos funcionam cada meio de comunicação e de como funciona o
departamento, é fundamental trabalhar a criatividade e a capacidade de negociação.
A aplicação de dinâmicas de grupo e de trabalhos que levem os estudantes a
pesquisar e entrar em contato com um pouco do que envolve a atividade de mídia,
contribuem muito para a divulgação do que é ser mídia, além de incentivar a procura
por essa área.
As aulas de mídia devem preparar o profissional para o dinamismo da área, a
habilidade com os números, mostrar que é preciso saber filtrar e interpretar a gama
de informações que chegam todos os dias através de e-mails, mala diretas e
representantes dos veículos e, principalmente, mostrar sua importância dentro do
processo de comunicação.
O desenvolvimento da verdadeira noção da atividade de mídia e sua
importância, não deve ser feito somente pelos docentes desta cadeira, nem
tampouco somente quando os alunos a estudarem. A universidade deve promover
palestras, seminários e visitas às agências de publicidades e setores de marketing
de algumas empresas com o objetivo de mostrar, desde o primeiro ano, como cada
setor depende de outro, como o bom funcionamento de cada um é fundamental para
o resultado final.
Ensinar mídia não é uma tarefa única e exclusiva do professor desta área,
muito menos, isolada. O aluno ao entrar na sala de aula para aprender esta matéria,
deve ter o embasamento de marketing que lhe dará toda a complexidade de saber
como conhecer o público alvo e qual a melhor forma de se comunicar com ele, pois
publicidade está dentro do marketing e a mídia dentro da publicidade, logo dentro do
marketing também. Sem isso, não será possível fazer, dentro da sala de aula,
conexão com os dados de pesquisa e exercícios de planejamento de mídia.
CONCLUSÃO
A profissão de mídia está ainda em desenvolvimento e em processo de
reconhecimento. Muita coisa já mudou. O mídia que antes era um mero digitador de
autorizações passou a ser um profissional especializado. Apesar de a não obrigação
de diploma, a formação universitária é hoje requisito básico para a contratação deste
profissional. Esse fato é devido à grande oferta de mão de obra e, principalmente,
da importância em estar apresentando ao cliente planejamentos de comunicação e
de mídia com estratégias, táticas e a justificativa de utilização de determinados
veículos.
Quem quer ser mídia tem que estar atento às novidades do mercado, pois,
constantemente, novos tipos de mídias surgem. Além disso, criatividade, habilidade
com os números, capacidade de negociação e interpretação de dados de pesquisa
devem ser desenvolvidos.
As universidades de comunicação e de marketing aumentaram muito nos
últimos anos e a cada dia surgem outras novas. Porém essa busca por “clientes” não
deve ser o objetivo principal e sim a preocupação com o conteúdo dos seus cursos.
Depois da criteriosa seleção do seu corpo docente a instituição deve se
preocupar com o conteúdo de seu curso. No caso da matéria mídia, que apesar do
crescimento desta atividade no mercado publicitário, continua não sendo bem
entendida pelos universitários, precisa ser feito um trabalho desde o inicio do curso
através de palestras, seminários e visitas a empresas da área com o objetivo de
mostrar onde a mídia se enquadra no processo de comunicação de um produto.
O aluno antes de ter essa matéria na universidade precisa ter feito outras que
lhe darão embasamento de marketing, pois a mídia está dentro da publicidade que
está dentro do marketing. Então, como será possível falar do que se trata a atividade
de mídia se o aluno não sabe quem é o consumidor? O conteúdo sobre ela precisa
ser reformulado. Colocar o aluno em contato, desenvolver a criatividade e a
capacidade de negociação é fundamental.
As universidades de comunicação e de marketing concorrem com muitas
outras e precisam ter a visão de que a melhor propaganda é ter bons profissionais
formados por elas atuando no mercado de trabalho e, além disso, enxergar as
mudanças.
O profissional de mídia, hoje em dia, tem um grau de importância bem maior
que no passado sendo uma opção de carreira para os publicitários em formação,
mas isso só é percebido por quem já está trabalhando e não pelos estudantes. Muito
pelo contrário, ainda acham a atividade chata, não apaixonante, sem dinamismo,
sem criatividade, sem papel estratégico. As universidades têm a obrigação de se
atualizarem e levarem as mudanças para as salas de aula.
Com esses cuidados ao se contratar um professor e com essas mudanças
aplicadas nos cursos de formação publicitária, em especial nas cadeiras de mídia,
acredito que serão colocados no mercado profissionais mais preparados para
exercerem a função de mídia e incentivará mais formandos a optarem por essa
carreira. Muitos descobrirão que é uma atividade apaixonante e, hoje,
reconhecidamente importante dentro do mercado publicitário.
BIBLIOGRAFIA
CASTILLO, Rafaela. Mídia: Paixão à Primeira Vista. São Paulo: 4o. Prêmio de Mídia
Estadão, 2001.
FREIRE, Paulo. Professora Sim, Tia Não. 4a. edição. São Paulo: Olho d’Àgua, 1994.
GIKOVATE, Flávio. A Arte de Educar. Curitiba: Nova Didática, 2001.
GUDSDORF, Georges. Professores para quê? – Para uma Pedagogia da
Pedagogia. Título original Pourquoi dês professeurs?. Paris: 1963. 1a. edição
brasilieira: Martins Fontes, 1987.
MORAIS, Regis (org.). Sala de Aula: Que espaço é esse? Campinas, SP: Papirus,
1995.
WERNECK, Hamilton. Se Você Finge que Ensina, Eu finjo que aprendo. 14a. edição.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.
ÌNDICE
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 10
O PROFISSIONAL DE MÍDIA E O MERCADO DE TRABALHO 10
CAPÍTULO II 16
A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR PARA ACONCEPÇÃO
DO SABER 16
CAPÍTULO III 23
QUALIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS PELO EDUCADOR 23
1 – A Humildade 24
2 – A Autoconfiança 24
3 – A Tolerância 24
4 – A Coragem 25
5 – A Decisão 27
6 – A Tensão entre a Paciência e a Impaciência 28
7 – A Comunicação 28
CAPÍTULO IV 29
DIDÁTICA – PRÁTICA OU TEÓRICA? 29
CAPÍTULO V 35
O CONTEÚDO DA AULA DE MÍDIA 35
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
ÍNDICE 41