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4ª Jornada de Educação em Sensoriamento Remoto no Âmbito do Mercosul – 11 a 13 de agosto de 2004 – São Leopoldo, RS, Brasil UMA PROPOSTA DE UTILIZAÇÃO DE CARTAS IMAGENS NO ENSINO MÉDIO DE GEOGRAFIA PARA APLICAÇÃO NO MONITORAMENTO DO USO DO SOLO Tema do trabalho: Sensoriamento Remoto no Ensino Fundamental e Médio Marcelo de Oliveira Latuf * Sócrates Campos Bandeira ** Universidade Federal de Juiz de Fora Departamento de Geociências Campus Universitário, s/n.º - Bairro Martelos - ICHL/DGEO - 36100-000 [email protected]* e [email protected]** ABSTRACT This study realises an approach about the use of remote sensing and digital cartography by images maps for high school geography’s students. For that was used Landsat images TM 5 and ETM 7+, respectively, 1990 and 2002. These images were elaborated at regions where the land use was much modified, with the objective to verify differences in the landscape. This paper has the objective to transmit a way of images maps utilization, above all, integrate modern techniques of capture and orbital images manipulation with the perception of land use change. 1. INTRODUÇÃO O levantamento do uso da terra ou uso do solo de uma determinada região é de interesse fundamental para a compreensão dos padrões de organização do espaço. Desse modo, existe a necessidade de atualização constante dos registros de uso do solo, para que suas tendências possam ser analisadas, quantificadas e espacializadas. Neste contexto, o sensoriamento remoto constitui-se numa técnica de grande utilidade, pois permite, em curto espaço de tempo, a obtenção de uma grande quantidade de informações a respeito de registros de uso da terra. A expressão “uso do solo” pode ser entendida como sendo a forma pela qual o espaço está sendo ocupado pelo homem. O levantamento do uso do solo é de grande importância, na medida em que os efeitos do uso desordenado causam deteriorização no ambiente. Geralmente, os processos de erosões intensas, inundações, assoreamentos de reservatórios e cursos d’água são conseqüências imediatas do mau uso deste solo. As técnicas de sensoriamento remoto e cartografia digital a cada dia vem sendo mais utilizadas por diversos setores da sociedade, como pode-se citar: institutos de pesquisas, universidades, empresas públicas e privadas dentre outras. Estas técnicas trazem consigo novas concepções e desafios, sendo que um destes, é com relação à desmistificação e transmissão dos benefícios da mesma para alunos do ensino médio. Devido a este fato, aliado, sobretudo, com a “nova era da informatização”, onde crianças e jovens são cada vez mais inseridos ao mundo digital precocemente, nós, enquanto professores e profissionais temos o dever de transmitir e propagar esta poderosa ferramenta aos nossos alunos, para que os mesmos, possam compreender melhor processos relativos às formas de paisagem e organização territorial. Neste trabalho procurou ater-se às principais questões relativas à aplicação da técnica de sensoriamento remoto no âmbito escolar, para que haja o despertar de uma nova visão no ensino de Cartografia para o Ensino Médio de Geografia, não apenas a visão estática, mas sim trazendo o aluno à possibilidade de atualização de cartas. Foi então elaborado um roteiro metodológico para aplicação da proposta de utilização de cartas imagens para alunos de Ensino Médio. Este roteiro contempla por objetivos: disseminar as aplicações cartográficas, utilização de novas tecnologias, trabalho de campo e observação da paisagem e suas mudanças. O professor ainda poderá aguçar a curiosidade dos alunos através de perguntas como: Houve mudanças entre as cartas analisadas? Quais foram? Quais os impactos ao

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4ª Jornada de Educação em Sensoriamento Remoto no Âmbito do Mercosul – 11 a 13 de agosto de 2004 – São Leopoldo, RS, Brasil

UMA PROPOSTA DE UTILIZAÇÃO DE CARTAS IMAGENS NO ENSINO MÉDIO DE GEOGRAFIA PARA APLICAÇÃO NO MONITORAMENTO DO

USO DO SOLO

Tema do trabalho: Sensoriamento Remoto no Ensino Fundamental e Médio

Marcelo de Oliveira Latuf*

Sócrates Campos Bandeira**

Universidade Federal de Juiz de Fora Departamento de Geociências

Campus Universitário, s/n.º - Bairro Martelos - ICHL/DGEO - 36100-000 [email protected]* e [email protected]**

ABSTRACT

This study realises an approach about the use of remote sensing and digital cartography by images maps for high school geography’s students. For that was used Landsat images TM 5 and ETM 7+, respectively, 1990 and 2002. These images were elaborated at regions where the land use was much modified, with the objective to verify differences in the landscape. This paper has the objective to transmit a way of images maps utilization, above all, integrate modern techniques of capture and orbital images manipulation with the perception of land use change. 1. INTRODUÇÃO

O levantamento do uso da terra ou uso do solo de uma determinada região é de interesse fundamental para a compreensão dos padrões de organização do espaço.

Desse modo, existe a necessidade de atualização constante dos registros de uso do solo, para que suas tendências possam ser analisadas, quantificadas e espacializadas. Neste contexto, o sensoriamento remoto constitui-se numa técnica de grande utilidade, pois permite, em curto espaço de tempo, a obtenção de uma grande quantidade de informações a respeito de registros de uso da terra.

A expressão “uso do solo” pode ser entendida como sendo a forma pela qual o espaço está sendo ocupado pelo homem. O levantamento do uso do solo é de grande importância, na medida em que os efeitos do uso desordenado causam deteriorização no ambiente. Geralmente, os processos de erosões intensas, inundações, assoreamentos de reservatórios e cursos d’água são conseqüências imediatas do mau uso deste solo.

As técnicas de sensoriamento remoto e cartografia digital a cada dia vem sendo mais utilizadas por diversos setores da sociedade, como pode-se citar: institutos de pesquisas, universidades, empresas públicas e privadas dentre outras.

Estas técnicas trazem consigo novas concepções e desafios, sendo que um destes, é com relação à desmistificação e transmissão dos benefícios da mesma para alunos do ensino médio.

Devido a este fato, aliado, sobretudo, com a “nova era da informatização”, onde crianças e jovens são cada vez mais inseridos ao mundo digital precocemente, nós, enquanto professores e profissionais temos o dever de transmitir e propagar esta poderosa ferramenta aos nossos alunos, para que os mesmos, possam compreender melhor processos relativos às formas de paisagem e organização territorial.

Neste trabalho procurou ater-se às principais questões relativas à aplicação da técnica de sensoriamento remoto no âmbito escolar, para que haja o despertar de uma nova visão no ensino de Cartografia para o Ensino Médio de Geografia, não apenas a visão estática, mas sim trazendo o aluno à possibilidade de atualização de cartas.

Foi então elaborado um roteiro metodológico para aplicação da proposta de utilização de cartas imagens para alunos de Ensino Médio. Este roteiro contempla por objetivos: disseminar as aplicações cartográficas, utilização de novas tecnologias, trabalho de campo e observação da paisagem e suas mudanças.

O professor ainda poderá aguçar a curiosidade dos alunos através de perguntas como: Houve mudanças entre as cartas analisadas? Quais foram? Quais os impactos ao

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meio ambiente oriundos destas mudanças? Através destes questionamentos o professor conduzirá os alunos a uma reflexão sobre os processos atuantes na organização territorial anterior e atual.

Neste momento, torna-se necessário à checagem e levantamento de dados em campo, para que os alunos possam abstrair e assimilar as mudanças ocorridas no uso do solo, seja este urbano ou rural, ajudando assim, à assimilação do conteúdo e fazendo com que haja uma aplicabilidade a aprender cartografia. Vale ressaltar que, neste trabalho foram utilizados dados dos sensores LandSat TM 5 e LandSat ETM 7 +, respectivamente de 1990 e 2002.

2. OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivo a aplicação da técnica de sensoriamento remoto no âmbito escolar, mais especificamente no ensino médio na disciplina de Geografia, com a função de apresentar e desmistificar o uso imagens orbitais para monitoramento do uso do solo. 2.1. Objetivos específicos - Proporcionar o contato dos alunos com novas

tecnologias; - Estimular o uso de cartas imagens para o

entendimento do uso do solo; - Aguçar a curiosidade dos alunos para com a

elaboração e manipulação das cartas imagens tanto em laboratório, quanto em campo;

- Proporcionar idas a campo para reavaliar os dados obtidos na interpretação das imagens.

3. METODOLOGIA

Inicialmente foram selecionadas as cenas que iriam fazer parte da confecção das cartas imagens. As mesmas, foram gentilmente fornecidas pela Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e datam do ano de 1990 e 2002, respectivamente, dos satélites LandSat TM 5 e ETM 7 +, órbita/ponto 217/75.

Para este trabalho foi adotado o Sistema de Informação Geográfica (SIG) SPRING 4.0, desenvolvido pelo INPE, caracterizando-se por um software elaborado com tecnologia brasileira e de fácil aquisição e manipulação.

Vale ressaltar que o presente estudo passa-se no município de Juiz de Fora e região, sendo assim, a escolha das áreas a serem trabalhadas levou-se em conta o rápido acesso dos alunos com segurança. Procurou-se neste momento, selecionar áreas com bastante diferenciação do uso do solo no período anteriormente citado. As áreas selecionadas foram:

- A Represa de Chapéu D’Uvas; - O Aeroporto Regional de Goianá/MG;

- A Zona Norte do município de Juiz de Fora. Para a interpretação dos diferentes tipos de usos do solo e seus eventuais impactos, sejam estes, positivos e/ou negativos, foi elaborado um roteiro metodológico com o objetivo de auxiliar e/ou “nortear” o Professor na condução da atividade.

Este roteiro possui por objetivo agregar a manipulação de cartas imagens com visitas a campo, afim de dinamizar o entendimento cartográfico e sócio-ambiental dos alunos. 4. RESULTADOS

Como dito anteriormente, este roteiro procura evidenciar os passos da construção do aprendizado do aluno aos professores, para que os mesmos, possam ter um maior controle sobre a atividade.

O roteiro metodológico (fig. 1) deve ser utilizado para aguçar a curiosidade dos alunos, pois propõem aos mesmos a observância de mudanças no uso do solo, quais foram estas mudanças, quais os impactos trazidos por elas e quais são as correlações destas mudanças com a organização do território, seja nas esferas ambiental, social e/ou econômica. Para este trabalho iremos abordar apenas a área da Represa de Chapéu D’Uvas como exemplo.

Fig. 1 - Roteiro metodológico

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Fig. 3 - Carta Imagem (2002)

Fig. 2 - Carta Imagem (1990)

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Após serem observadas as figuras 2 e 3, seguir os seguintes passos:

Utilização da Carta Imagem da Represa de Chapéu D’Uvas:

- Houve mudanças entre as cartas analisadas? - Quais foram? - Quais os impactos ao meio ambiente

oriundos destas mudanças? Com relação aos impactos na área observada, o professor poderá conduzir seus alunos a refletirem sobre os seguintes temas:

Impactos positivos Impactos negativos

Regularização da vazão do rio Paraibuna

Mudança no ecossistema hídrico da região (lótico para lêntico)

Criação de um reservatório com o potencial para abastecimento público

Mudança das sedes distritais com a formação do reservatório

Interpretação Interpretação • Controle a enchentes;

• Aumento da oferta de água para abastecimento.

• Migração de peixes (piracema), problemas com eutrofização e assoreamento;

• Onde se encontra a população que residia em áreas onde atualmente é ocupada pelo lago? E com relação à Terra: indenização aos proprietários, produtividade etc.

Para que o trabalho de análise das cartas imagens fique completo é necessário que os alunos extrapolem o limite da pesquisa literária e ponha “a mão na massa”, ou seja, deixem a sala de aula e levante dados na própria área, fixando através da observação de campo, as informações fornecidas em sala, auxiliando deste modo, a assimilação do conteúdo.

Para isso este trabalho de campo o aluno deverá estar munido de bússola, carta imagem, prancheta, questionário previamente elaborado, caneta dentre outros objetos pessoais.

A visita a campo divide-se em duas etapas, a primeira para a coleta de dados na própria barragem de Chapéu

D’Uvas em uma das unidades da CESAMA (Companhia de Saneamento Municipal) e a segunda, nos recentes vilarejos ao redor do lago.

A coleta de dados na unidade da CESAMA deverá seguir as etapas abaixo:

- Diagnosticar a área inundada (Km2) e a área do lago (Km2);

- Vazão da represa (m3/s) e quando a barragem foi fechada;

- Profundidade máxima e média (m); - Como a CESAMA “enxerga” a barragem

para outros usos futuros? Quais são estes usos? Já para a coleta de dados nos vilarejos de Nova Dores do Paraibuna e Nova Colônia São Firmino, deverá seguir as etapas abaixo:

- Verificar se os moradores gostaram da mudança para a nova área;

- Quais foram os benefícios e os malefícios desta mudança?

- Quanto a acessibilidade aos vilarejos, ficou melhor?

- A CESAMA fornece algum tipo de assistência à comunidade como, por exemplo, Educação Ambiental?

5. CONCLUSÕES Este trabalho contempla a utilização de cartas imagens e algumas de suas aplicabilidades voltadas para a educação de jovens cursando o ensino médio, mais especificamente na disciplina de Geografia.

As cartas imagens aplicadas à educação não são fatos inéditos, vários pesquisadores como MACHADO (2203), SAUSEN (1998) e FLORENZANO (2002) já relatam seus benefícios ao ensino.

Mas esta utilização traz consigo novas concepções e desafios às escolas e professores a buscarem novas formas de ensino, principalmente na adequação de salas e equipamentos, além do investimento na formação e treinamento dos professores.

Neste trabalho foi proposto a utilização de cartas imagens em associação a pesquisas de campo, aliado a um roteiro metodológico, onde procura dinamizar o ensino de cartografia juntamente com a interpretação dos usos do solo e seus impactos, fazendo com que conseqüentemente haja a aprendizagem através do contato com a realidade fora da sala de aula.

O roteiro apresentado neste trabalho deverá ser testado e atualizado, para que os alunos possam aprimorar e transmitir a sua visão sobre a espacialidade de determinados fenômenos sejam estes ambientais, sociais ou econômicos.

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6. BIBLIOGRAFIA

CALLAI, H. C. A. A Geografia no Ensino Médio. São Paulo: AGB, p. 56-89, 1999. CASTELLANI, R. A Utilização de Filmes no Ensino da Geografia no 1º ano do Ensino Médio. Juiz de Fora: UFJF, 2002. (Monografia de Licenciatura) FLORENZANO, T. G. Imagens de Satélites para Estudos Ambientais. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. GRANELL-PÉREZ, M. D. Trabalhar Geografia com as Cartas Topográficas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2001. INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. SPRING 4.0. Site http://www.dpi.inpe.br. MACHADO, C. B. A Geografia na Sala de Aula: Informática, Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informações Geográficas - Recursos Didáticos para o Estudo do Espaço Geográfico. São José dos Campos: INPE, 2003. MARTINELLI, M. Curso de Cartografia Temática. Campinas: Papirus, 1994. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1999. NOVO, E. M. L. M. Sensoriamento Remoto Princípios e Aplicações. São José dos Campos: Edgard Blücher, 2ª Edição, 1988. OLIVEIRA, L. Estudo Metodológico e Cognitivo do Mapa. Resumo da Tese de livre docência. São Paulo: IGEO/USP, 1978. PEREIRA, D. Paisagens, Lugares e Espaços: A Geografia no Ensino Básico. São Paulo: AGB, 2003, p. 09-21. ROCHA, C. H. B. Geoprocessamento Tecnologia Transdisciplinar. Juiz de Fora: do Autor, 2000. ROSA, R. Introdução ao Sensoriamento Remoto. Uberlândia: Ed. UFU, 1990. SANTOS, C. A Cartografia Temática no Ensino Médio de Geografia. São Paulo: AGB, 2003, p. 65-90. SAUSEN, T. M; Escada JR; J.B. Capitais Brasileiras. CD-ROM Projeto EducaSereII, INPE. SELPER, São Paulo: Melhoramentos, 1998. 7. AGRADECIMENTOS À pesquisadora Íris de Marcelhas e Souza (DSR/INPE), que incentivou a execução deste trabalho.