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1 INTERNATIONAL BIOCENTRIC FUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO - BIODANZA NO MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS - por ELIZABETH BAPTISTA DA COSTA FONSÊCA Trabalho elaborado Visando à titulação como Facilitador de Biodanza junto à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro Petrópolis 2000

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Page 1: UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO - BIODANZA NO MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS | Por Elizabeth Baptista da Costa Fonsêca

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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FUNDATION

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO

DO RIO DE JANEIRO

CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES

UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO

- BIODANZA NO MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS -

por

ELIZABETH BAPTISTA DA COSTA FONSÊCA

Trabalho elaborado Visando à

titulação como Facilitador de

Biodanza junto à Associação

Escola de Biodanza Rolando

Toro do Rio de Janeiro

Petrópolis

2000

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AGRADECIMENTOS

A ROLANDO TORO, pela genialidade de ter criado o Sistema

Biodanza.

A LOIS RIMOLI DE FARIA DORIA, pela semente lançada com o

Projeto de Vivências na Natureza – que “floresceu” - e pela

dedicada, competente e carinhosa orientação a esta monografia.

A MARIA ADELA CREMONA IRIGOYEN, pela generosidade,

dedicação, acolhida e estímulo ao nosso crescimento.

A DORLI SIGNOR, pelos primeiros passos na Biodanza.

A MIRTHA SCHININI, pela palavra exata repleta de sabedoria.

A FRANCISCO BARROS GOULART, com quem compartilhei a

facilitação desta Proposta em seu início.

A SRA. MARIA DE LOURDES PARREIRA HORTA e à equipe

do Museu Imperial de Petrópolis, pelo apoio ao nosso trabalho.

A SEBASTIANA REGINA WILBERT, pela amizade, carinho e

incentivo.

A RAQUEL MOLTER e ADRIANO FONSÊCA pela ajuda com a

digitação e impressão.

A TODOS QUE PARTICIPAM dos encontros no Museu Imperial

de Petrópolis, aos que nos auxiliam na divulgação e tornam UMA

PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO uma celebração da

vida.

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Com muito carinho:

Aos meus pais,

Carminha e Mozart (in memorian)

Aos belos frutos da minha vida,

Marcelo, Adriano e Fabiana.

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Como os primeiros tímidos raios de

sol surgindo ao amanhecer,

as pessoas vão chegando e

ao unirem as mãos na grande roda,

a luminosidade se faz plena,

se espalha por toda a natureza.

(Elizabeth – Fev./2000)

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UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO

BIODANZA NO MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS

1. INTRODUÇÃO

2. CONCEITOS NORTEADORES DO TRABALHO

2.1- Definição de Biodanza

2.2- Princípio Biocêntrico

2.3- Princípios Básicos

2.4- Vivência

3. HISTÓRICO

4. UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO – BIODANZA NO MUSEU

IMPERIAL

4.1- Objetivos

4.2- Justificativa

4.3- Exigências da Instituição

4.4- O Projeto “O Museu é Nosso”

4.5- O Espaço

4.6- Recursos para a viabilização do trabalho

4.6.1 - Divulgação

4.6.2 - Recursos Materiais

4.6.3 - Recursos Humanos

5. METODOLOGIA

5.1 - Elaboração das Sessões

5.2 - Público Alvo

5.3 - O Primeiro Encontro

5.4 - A Continuidade do Trabalho

5.5 - O Grupo

5.6 - Linhas de Vivência: Exercícios utilizados ou não utilizados

5.7 - Músicas

6. DEPOIMENTOS

7. CONCLUSÃO

8. BIBLIOGRAFIA

9. NOTAS

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10. APÊNDICES

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1. INTRODUÇÃO:

É com satisfação que compartilhamos o relato de gratificantes experiências que

estamos vivenciando com nosso trabalho, no Pátio do Museu Imperial de Petrópolis.

Local de grande beleza e tranqüilidade, cercado por uma natureza exuberante.

“Uma Proposta Aberta em Espaço Aberto” surge em 1995, do desejo de

aprofundarmos e extendermos nosso campo de atuação como facilitadores.

A escolha de um espaço aberto, ou seja, sem os limites das quatro paredes de

uma sala, nos possibilita não só o contato com os elementos da natureza, numa

revinculação, ampliando a vivência de conexão e valorização da vida; como também, dá

oportunidade aos visitantes do Museu, de se familiarizarem com o trabalho,

independente do fato de participarem ativamente da sessão.

A proposta é aberta para que um maior número de pessoas possam participar

independente de idade, do sexo, da situação econômica ou social, de vivência ou não em

Biodanza e do fato de serem visitantes ou moradores.

Basta chegar e unir suas mãos às dos outros participantes.

A sessão aberta é, em parte, construída no momento em que está acontecendo,

à medida que o grupo toma corpo e suas características são definidas, sem deixar de ter

como alvo os objetivos propostos.

Cuidamos para que as vivências sejam harmonizadoras, o continente e a

integração afetiva do grupo se mantenha, levando as pessoas a confiarem e sentirem a

importância do Sistema Rolando Toro no resgate da alegria de viver, da espontaneidade

da “criança-livre”, do encontro com o semelhante.

É um trabalho que persiste há mais de quatro anos e que demonstra a cada

encontro estar mais vivo.

Podemos deduzir que as pessoas apesar dos costumes sócio-culturais da

cidade, estão buscando vínculos e confiam na seriedade do trabalho aberto da Biodanza.

A trajetória da nossa monografia se inicia com as definições e conceitos

utilizados em Biodanza, que fundamentam sua teoria e prática.

Em seguida, em algumas pinceladas, revivemos o nosso processo com o

Sistema e o desembocar na vinculação com a natureza.

Narramos as providências para a implantação da proposta e os recursos

necessários.

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Na quinta sessão registramos posturas metodológicas que adotamos para

atingir nossos objetivos, que além da conexão e celebração da vida em vivências em

espaço aberto em contato com elementos da natureza, passam pela ação social da

Biodanza, pela conscientização ecológica e pela divulgação do movimento Biodanza.

Na conclusão fazemos uma reflexão sobre “construir” a sessão a partir da

composição do grupo e avaliamos o trabalho.

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2 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DO TRABALHO

Nesta sessão, acham-se relacionados alguns princípios que serviram de base

conceitual para Proposta Aberta em Espaço Aberto

2.1 - DEFINICAO DE BIODANZA:

Em 1979, Rolando em linguagem poética, assim definiu Biodanza:

“A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida, ou

talvez do desespero, do desejo de renascer de nossos gestos despedaçados, de nossa

vazia e estéril estrutura de repressão. Poderíamos dizer com certeza: da nostalgia do

amor. Mais que uma ciência, é uma poética do encontro humano, uma nova

sensibilidade frente à existência. “ (1)

Atualmente, como uma definição acadêmica:

“Biodanza é um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e

reaprendizagem das funções originais de vida, baseada em vivências induzidas pela

dança, o canto e situações de encontro em grupo”.(2)

- Integração Afetiva é restabelecer a unidade perdida entre o homem e a

natureza; entre percepção, motricidade, afetividade e funções viscerais. O núcleo

integrador é a afetividade que influe sobre os centros reguladores límbico –

hipotalâmicos.

- Renovação Orgânica é o estabelecimento da harmonia homeostática, induzida

principalmente mediante estados especiais de transe que ativam processos de reparação

celular e regulação global das funções biológicas, diminuindo os fatores de

desorganização e “stress”.

- Reaprendizagem das Funções Originais de Vida consiste na retroalimentação

do comportamento e do estilo de vida, com os instintos básicos (programação genética).

Os instintos têm por objeto conservar a vida e permitir sua continuidade e evolução. O

desenvolvimento dos potenciais genéticos se realiza mediante o bombardeio de

estímulos, que chamamos de ecofatores positivos sobre cinco grandes conjuntos de

potenciais: vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. O

desenvolvimento dos potenciais genéticos dentro de um contexto ecológico, reativa a

capacidade de amor, alegria, coragem de viver.

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2.2 PRINCÍPIO BIOCÊNTRICO

A estrutura operatória do Sistema Biodanza está fundamentada em sete

paradigmas, perfeitamente inter-relacionados. Constituem pontos de partida capazes de

revelar aspectos novos e desconhecidos dentro do trabalho e dar-lhe coerência.

O primeiro e com certeza o mais abrangente é o Princípio Biocêntrico.

Segundo Rolando Toro, Princípio Biocêntrico consiste em “um estilo de sentir

e de pensar que tem, como ponto de partida e como referência existencial a VIDA e a

compreensão dos sistemas viventes. Inspira-se nas leis universais que conservam os

sistemas viventes e fazem possível sua evolução.”(3)

De acordo com este princípio: “tudo quanto existe no Universo, sejam

elementos, astros, plantas ou animais, incluindo o homem são componentes de um

sistema vivente maior.”

O Universo existe porque existe a vida e não o contrário. O Universo é

organizado em função da vida: as relações de transformação matéria – energia são graus

de integração da vida. A evolução do Universo é na realidade a evolução da vida.

“Os parâmetros de nosso estilo de vida são parâmetros da vida cósmica”.

Ainda afirma Toro: “isto quer dizer que nossos movimentos, nossa dança, se organizam

como expressões de vida e não como meios para alcançar fins antropológicos, sociais

ou politico – econômicos. Nossos movimentos são gerados no sentido nutridor do

processo evolutivo para criar mais vida dentro da vida. “(4)

O Princípio Biocêntrico restabelece a noção de Sacralidade da Vida.

A seguir , vamos examinar os outros seis paradigmas:

2º - Princípio Neguentrópico de Amor e Iluminação: “O sistema vivente

humano é capaz de auto-regulação, autonomia e também de auto-evolução. O ser

humano é capaz de conduzir seu próprio processo evolutivo, para novas formas de

otimização e grandeza, através do amor e de atos de iluminação nele gerados, com a

possibilidade de elevação da qualidade de vida até atingir seu máximo esplendor e

plenitude.”(5)

3º - Expansão da Existência a partir do Potencial Genético: “Biodanza parte

da observação do „embrião-sistema‟ e de seus múltiplos canais de expressão”. (6)

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Os potenciais genéticos já vêm altamente diferenciados ao nascer do indivíduo

e se expressam através da existência quando encontram as condições necessárias

(cofatores e ecofatores). Assim, a Biodanza estimula especificamente a expressão desses

potenciais genéticos que são destinados a conservar o sistema vivente.

4º - Processo Biológico Auto-Induzido: “o sistema vivente humano pode

induzir processos de altíssima diferenciação mediante a produção de estados de

regressão / refundição / renovação.” (7)

Os exercícios de Biodança podem proporcionar

processos de auto-regulação, reforçando a homeostase e o processo de diferenciação

evolutiva.

5º - Pulsação da identidade: a identidade tem uma gênese biológica, vai desde

a identidade celular (imunológica) até outras formas de identidade psíquica e

comportamental (sexual, criativa, seletiva, etc...). Ela está submetida a movimentos

centrípetos e centrífugos (sístole e diástole) que caracterizam sua natureza pulsante que

oscila entre a vivência de ser o centro de percepção do mundo, diminuindo os estados de

regressão e fusão com o universo, e o retorno à plenitude originária. De acordo com este

paradigma, a identidade não é cultural e se manifesta no encontro com o outro.

6º - Permeabilidade da Identidade: a identidade é permeável à música e à

presença do outro, ou seja, sua expressão pode ser influenciada por situações de

encontro e pelo estímulo musical. Biodanza trabalha, por esta razão, com a unidade

“música – movimento – vivência”.

7º - O ponto de partida auto-regulador é a vivência: a vivência, percepção

intensa de estar vivo aqui e agora, é capaz de estremecer harmonicamente o sistema

vivente humano e se constitui no ponto de partida da Biodanza. A conscientização, que

ocorre em função da vivência, consiste no registro e na denotação dos novos estados de

integração, regulação e otimização.

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2.3 - PRINCÍPIOS BÁSICOS

Em sua aplicação, o modelo Biodanza obedece também a princípios gerais e

específicos, os quais garantem a coerência do Sistema e o alcance dos resultados

planejados.

A seguir, abordaremos somente alguns desses princípios, que garantem a

operatividade da Proposta Aberta em Espaço Aberto:

1 - PROGRESSIVIDADE:

Na estruturação de cada sessão, graduamos a intensidade e a duração dos

exercícios de acordo com o perfil do grupo, de forma que se produza um processo de

mudança evolutiva até a saúde.

Não há competição e cada um evolui de acordo com seus padrões interiores de

crescimento.

2 - RECIPROCIDADE:

Este princípio garante a informação em “feedback” entre os participantes sobre

os níveis de contato e aproximação, nos exercícios de comunicação em grupo.

Por outro lado, assegura um relacionamento verdadeiro e amoroso, evitando a

estereotipia e os jogos neuróticos.

3 - AUTO-REGULAÇÃO:

Em nosso trabalho respeitamos severamente os mecanismos naturais de regulação dos

participantes, incentivando a auto-regulação do movimento.

Biodanza não violenta as funções de respiração, de circulação, térmica, de

atividade – fadiga, sono – vigília, alimentação, etc...

4 - RECULTURAÇÃO

A Biodanza reforça, através da vivência, a mudança do estilo de vida, de um

estilo de adoecer para um estilo de viver.

5 - TRANSCENDÊNCIA:

Promovendo, na Natureza, a vinculação saudável do indivíduo com ele mesmo, com o

outro e com a totalidade. Biodanza é fundamentalmente ecológica, resgatando o acesso

à consciência cósmica.

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2.4 - VIVÊNCIA

Um dos princípios estruturais do Sistema Biodanza é a PRIORIDADE DA

VIVÊNCIA.

O conceito de vivência – “instante vivido, pleno de sentido” – foi proposto pôr

Dilthey, possuindo a palpitante e comovedora qualidade do vivido aqui e agora.

Segundo Carlos Garcia: “A vivência é antes de tudo uma conseqüência, o resultado

alquímico do encontro do ser humano com o mundo, com outro ser humano, com a

natureza, com os objetos ou com o insondável infinito. Encontro que somente pode

realizar-se no ser humano por ser o único ser que pode significá-lo e posteriormente

evocá-lo. O ser humano que é um ser no mundo, é antes de tudo um ser vivêncial” (8)

O projeto existencial, como instrumento da evolução do ser humano, tem a

vivência como fonte propulsora e não a consciência. A Vivência possibilita o “sentir a

vida”, não de uma forma abstrata, mas em toda a sua complexidade, com todas as suas

características emocionais e orgânicas; permitindo ao indivíduo a manifestação da

Identidade e o alcance de níveis cada vez mais elevados de integração – consigo, com o

outro e com a totalidade. A vivência organiza e regula não só o organismo, mas a

própria existência.

A Emoção e a Vivência constituem o principio regulador das funções

neurovegetativas, ativando-as ou moderando-as

A Biodanza possui uma estrutura unitária: Música – Movimento – Vivência.

A eficácia de um exercício de Biodanza enraíza-se na profunda integração

entre a música, o movimento e a vivência. Esses três fatores constituem um sistema

integrado, um conjunto “organizado”, em que cada uma das partes é inseparável da

função totalizadora. Se mudamos um dos elementos da estrutura, mudamos a totalidade.

A música, não censurada pela consciência, é o instrumento de mediação entre a

emoção e o movimento corporal.

Ela deflagra a emoção e esta o movimento, tendo como resultante a vivência. A

vivência, por sua vez, atuará sobre os aspectos cognitivos e viscerais.

A dança é um modo de ser – no – mundo, a expressão da unidade orgânica do

homem com o universo. Ativa o núcleo central da Identidade: a comovedora sensação

visceral de estar vivo e a percepção da unidade de nosso corpo com as vivências e

emoções. A partir dessa sensação visceral, se reatualizam as primeiras noções do corpo

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e sua percepção como fonte de prazer. Ao mesmo tempo, se acentua a noção de ser

diferente e único, ao entrar em contato com outras pessoas.

A auto-estima e a consciência de si mesmo se elevam em níveis até então

desconhecidos – reforçando todos os circuitos da Identidade saudável.

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3. HISTÓRICO:

Conheci a Biodanza em janeiro de 1988, em uma aula aberta do facilitador

Dorli Signor, a convite de amigos.

Época difícil e importante da minha vida, em que separada, com três filhos

menores, lecionava Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, em duas escolas da rede

pública estadual; participava do movimento revindicatório e político-sindical dos

professores.

Momento de busca de novos caminhos, de auto descobertas, de entender

melhor o mundo, ... de me sentir mais feliz.

Tempos em que Rolando Toro residia em Petrópolis e a Escola de Biodanza do

RJ realizava aqui, em nossa cidade, suas maratonas. Convivíamos com Rolando, nos

reunindo em sua casa para um café e para altos “bate-papos” que me ajudavam a

acreditar mais e mais na vida.

Dorli desenvolvia o trabalho de Biodanza em Argila e através dela tive a

oportunidade de me trabalhar e descobrir minha expressão criativa.

Em maio de 1992, iniciei a formação na Escola de Biodanza do RJ.

Essa era a minha aspiração desde a 1ª sessão, na qual vislumbrei uma nova

forma de me trabalhar e fiquei imaginando o quanto era gratificante ser facilitador de

Biodanza, compartilhar com o outro um processo de integração, através de estímulo

positivo, de conexão com a vida, da saúde, da alegria de viver, da expressão dos

potenciais, do grupo acolhedor, ...

Nesse mesmo ano, começamos, um grupo de petropolitanos, a participar das

vivências de Biodanza na Natureza – no Parque Lage facilitadas por Lois Doria

Werneck e Margarete de Souza Coelho, desde dezembro de 1991.

Um corajoso trabalho de vanguarda, que abriu cominhos para muitos outros.

Até hoje ele é realizado com muita dedicação.

O que mais me impressionava era como a Natureza me facilitava a

desaceleração, a intimidade comigo mesma, a abertura ao encontro com o outro, a

harmonização, a vinculação com o TODO. Regressava à minha cidade me sentindo em

paz, em grande alegria, participante da vida.

Ainda no 1º semestre de 1992, Dorli, com incentivo de seu grupo regular e com

o apoio da direção do Museu Imperial iniciou o trabalho na natureza e realizou seis

encontros de Biodanza no 2º domingo do mês, com o objetivo de divulgar e ampliar o

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movimento em Petrópolis e de proporcionar vivências integradoras abertas à

comunidade e aos visitantes do Museu. Significava um grande avanço o fato dos

trabalhos serem feitos em espaço aberto nos jardins do Museu, contando com dois tipos

de participantes, as pessoas que vivenciavam e as que circulavam observando (e

algumas chegando a se engajar ao trabalho).

Dorli voltou para sua cidade, Sta Maria – RS, em 1993.

Em 1995, já tendo terminado, na Esc. do Rio de Janeiro, a Docência em

Biodanza e compartilhando a facilitação de um Grupo Regular com Francisco Barros

Goulart, desde 1994, sentimos necessidade de ampliar nosso campo de atuação.

A participação nos Encontros do Parque Lage, do Museu Imperial e da ECO 92

– apesar de distintos, nos tinha dado a oportunidade de vivenciar a força harmonizadora

do contato com a natureza e a certeza da importância desses trabalhos. Resolvemos

então, desenvolver uma proposta e apresentá-la à direção do Museu Imperial de

Petrópolis.

Em dezembro de 1996, Chico mudou-se para Vila Velha, Espírito Santo e

passei a facilitar sozinha o trabalho.

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4. UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO – BIODANZA NO MUSEU

IMPERIAL DE PETRÓPOLIS

4.1 - OBJETIVOS

Ao resolvermos ampliar nossa facilitação na cidade de Petrópolis, escolhemos

um trabalho na natureza, em consonância com nosso desejo de oferecer às pessoas e a

nós mesmos a oportunidade de desenvolver e intensificar as vivências de conexão e

valorização da vida. É ao ar livre, entre os elementos da “mãe-natureza”, sendo

acariciados pelos raios de sol, pelo vento...; tocados no olhar pela exuberância da

vegetação, das flores, do céu azul...; tocados no olfato por tantos odores, que a

comovedora sensação de estar vivo nos abarca em profundidade.

Tem sido nosso propósito:

Desenvolver e intensificar, em contato com os elementos da natureza, as

vivências de conexão e celebração da vida.

Realizar um trabalho progressivo e gradual de vinculação do ser humano à

sua espécie, à natureza em seu conjunto e ao próprio Universo, atuando a partir do

Princípio Biocêntrico, numa atitude de preservação ecológica.

Contribuir para a transformação de atitudes anti-vida em pró-vida,

fortalecendo os vínculos afetivos e atitudes de colaboração, características de uma

sociedade cooperativa; respeitando a individualidade, os limites e o potencial de cada

elemento do grupo.

Divulgar e ampliar o Movimento Biodanza, considerando que o Museu

Imperial é um local público e aberto, tornando possível atender a uma clientela

diversificada em termos de faixa etária, nível sócio-cultural e procedência.

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4.2 - JUSTIFICATIVA

Como vimos na sessão 2.2, Rolando parte da valorização da vida. O Universo

organizado em função dela.

Portanto, nossos movimentos devem ser expressões de vida e “não como meios

para alcançar fins antropológicos, sociais ou político-econômicos” (1)

.

Vincular-se de centro a centro com o princípio de vida, é experimentar “a

vinculação cosmobiológica, a familiaridade com as pedras, com os pássaros, com o sol,

com o mar. E como conseqüência, a pessoa fará parte da “Resistência Ecológica”,

atuando para ter rios claros e não poluídos, a flora e fauna respeitadas. “É um pedagogo,

um amante, um artista”. (2)

Realizando o trabalho ao ar livre fica mais patente a vivência do Universo

organizado em função da vida. “Tudo quanto existe no Universo..., incluindo o homem

são componentes de um sistema vivente maior. O Universo existe porque existe a vida e

não o contrário.” (3)

Encontramos em James Lovelock semelhança com o que diz Rolando sobre

“sistema vivente maior”. O cientista inglês em “As Eras de Gaia”, falando da

experiência de vermos a Terra do espaço pelos olhos de um astronauta: “... temos a

impressão pessoal de um planeta vivo de verdade, onde as coisas vivas, o ar, os oceanos

e as rochas, todas se reúnem em um ser, que é Gaia”.(4)

E sobre a poluição, o efeito

estufa, a devastação das matas, a extinção de espécies, ele encara a Terra como um

sistema de vida coerente, auto-regulado e automutante, uma espécie de imenso

organismo vivo. “A vida e gaia são praticamente imortais...”, “... enquanto

continuarmos a alterar o ambiente global contra as preferências dela, estaremos

estimulando a nossa substituição por uma espécie conveniente para o ambiente”; e

continua: “... o melhor para a vida – embora não necessariamente o melhor para nós.” E

conclui: “Nós é que devemos agir pessoalmente de maneira construtiva”. (5)

Sabemos que o despertar da consciência cósmica e o restabelecimento dos

circuitos ecológicos com o universo são concomitantes com o despertar da consciência

coletiva que buscamos em nossos encontros.

A Biodanza nos diz que “o sistema vivente humano é capaz de auto-regulação,

autonomia e também auto-evolução” (6)

, e a via de acesso a esses estados de

aperfeiçoamento é o AMOR. Através dos potenciais de criatividade e capacidade

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autopoética, podemos alcançar novos níveis de otimização e grandeza, ou seja, reverter

o processo de entropia (tendência do universo a diminuir, à degradação) e induzir

processo de neguentropia (a vida tende à organização e à complexidade crescente, à

evolução). (7)

A atitude amorosa, no sentido mais amplo, aparece no compromisso com a

vida. É amá-la e preservá-la.

Para Humberto Maturana, biólogo, “a emoção fundamental que faz possível a

história da hominização é o AMOR”. Fala do ponto de vista da biologia, não da moral

ou da religião. “O amor é o fundamento do social, sem aceitação do outro na

convivência não existe o fenômeno social... mas para aceitar e respeitar o outro é

necessário primeiro se aceitar.” (8)

Refletimos que ao proporcionarmos o trabalho na natureza, com o compartilhar

a alegria e a espontaneidade da “criança livre”,; através de vivências que florescem do

mais íntimo, facilitávamos para a pessoa entrar em contato com seu auto-valor,

reformular sua auto-imagem, encontrar-se verdadeiramente com sua auto-estima.

A partir desse reencontro consigo mesmo, através do outro, seu revelador

cósmico, será possível resgatar os gestos de amizade, colaboração, de compaixão, de

cuidar tanto de si, do outro, quanto da natureza.

Da profunda conexão consigo mesmo, em intimidade, do respeito à sua chama

interior, o ser humano se expande para o outro e ainda mais, se funde com a totalidade,

onde a vida se renova e se retroalimenta.

A força de ação do Sistema Biodanza está na ativação dos núcleos de

vinculação do ser humano para operar transformações profundas, aquelas que têm

significado na preservação da vida e da espécie. Segundo Toro, todas as chamadas

modificações sociais de fundo, baseadas em luta política, são mudanças externas.

“Biodanza propõe a transformação social a partir da mudança interna. Não parte de uma

ideologia, porém da transformação dos homens que farão as mudanças. Preparamo-nos

para a celebração da comunidade humana. Sem uma sincera preocupação pelo

semelhante, as pessoas trocam uma neurose por outra.” (9)

A nossa problemática social está em modificar nosso esquema de vida agonista

(em que predomina a tensão e o medo) e transformá-lo progressivamente no estilo

hedonista, ou pelo menos, introduzir sempre elementos desse estilo na nossa sociedade,

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de modo a diminuir a tensão inter-humana, através do contato, da carícia e de prover

continente ao semelhante.

A transformação social acontece por ativação hipotalâmica de vivências de

contato e de afetividade e, por outra parte, pelo desmanchar de tabus sexuais, políticos,

religiosos e psiquiátricos.

Uma pequena mudança que seja influencia a estrutura da realidade em que

vivemos.

Não podemos esquecer do chamado “Efeito Borboleta” – “dependência

sensível das condições iniciais”. Metaforicamente, um movimento tão ínfimo como o

rufar das asas de uma borboleta poderia interferir no “padrão meteorológico causando

verdadeiro tufão”. Pregogine se refere a esta visão: “a menor variação em qualquer

lugar do planeta tem como conseqüências efeitos consideráveis”. (10)

Acreditamos que, com nosso trabalho, estaríamos contribuindo direta ou

indiretamente para o que a prática social em Biodanza propõe: interferir no processo

entrópico de nossa sociedade atual mesmo que seja num pequeno grupo; revinculação

com a natureza; mudança de estrutura afetiva da sociedade através da demolição de

tabus.

O “social” engloba todas as pessoas, independente da faixa etária, econômica,

cultural, religiosa ou política, como é costume “classificá-las”.

O Museu Imperial é um local público e aberto, tornando possível atender uma

clientela diversificada: crianças, adultos, idosos, adolescentes, deficientes físicos e

mentais, residentes na cidade ou visitantes; o que caracteriza a heterogeneidade social

autêntica.

Mais um de nossos objetivos era a divulgação e expansão do movimento

Biodanza, na medida que o sistema era pouco conhecido, talvez pela falta de maior

divulgação pela mídia e pelo pequeno número de facilitadores. Além disso, algumas

pessoas apresentavam resistência ou mesmo rejeição a trabalhos que envolvem contato

corporal. Outro fator importante era a não existência de qualquer grupo aberto de

Biodanza que oferecesse trabalho gratuito em Petrópolis.

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4.3 - EXIGÊNCIAS DA INSTITUIÇÃO

Entramos em contato com a Diretora, Sra. Maria de Lourdes Parreira Horta

que, conhecedora do nosso trabalho e do anteriormente desenvolvido, nos pediu que

oficializássemos um requerimento (em anexo)

“... solicitamos a inclusão do referido Sistema no Projeto „O Museu é nosso‟.”

Ela autorizou a introdução das Vivências no Pátio do Jardim do Museu

Imperial. Assim a Biodanza foi inserida nas atividades da programação oficial, no

Projeto “O MUSEU É NOSSO”. A partir de 27 de agosto de 1995 passou a ser realizada

uma Vivência Aberta, sempre no último domingo do mês, às 10 horas.

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4.4 - O PROJETO “O MUSEU É NOSSO”

Como já citei anteriormente, nossa proposta foi inserida na programação oficial

“O Museu é Nosso” e passo a narrá-lo.

O Projeto “O Museu é Nosso” tem como objetivo diversificar e divulgar as

atividades culturais do Museu Imperial e a atrair a participação dos moradores da

cidade.

Assim desde abril de 1992, no último domingo de cada mês, o ingresso para

visitação ao acervo histórico é franqueado, mediante comprovação, aos moradores da

cidade. Além disso, todos os visitantes têm acesso a uma programação variada ao ar

livre: Vivência de Biodanza, apresentações da Banda Marcial Escocesa Wolney Aguiar;

de Grupos de Danças Folclóricas Alemãs, de Capoeira, do Tai-chi-chuan,

eventualmente de peças teatrais e outras atividades.

Uma diferença marcante distingue nossa proposta: enquanto as outras

atividades são eventos culturais para serem assistidos, a Biodanza é aberta, para ser

vivenciada, abarcando todas as pessoas independente de idade e sexo.

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4.5 - O ESPAÇO:

O Museu Imperial acha-se instalado no antigo Palácio Imperial de Petrópolis,

edifício neoclássico, morada predileta de D. Pedro II. Projeto do Major de Engenheiros

Julio Frederico Koeler, sua construção foi iniciada em 1845 e levou dezenove anos. O

prédio situado à rua da Imperatriz, 220, Centro da cidade, é rodeado por uma vegetação

harmoniosa, jardins, gramados, alamedas floridas, concentração de inúmeras e cuidadas

árvores centenárias, constituindo o Parque do Museu. São seus habitantes uma

variedade de pássaros, esquilos, borboletas. É freqüente estarmos sentados na roda

inicial e pombos e bem-te-vis virem se alimentar a centímetros de nós.

O Museu Imperial é um órgão federal vinculado ao Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Ministério da Cultural. Procurado não só

para visitação, pela importância de seu acervo histórico, como também para desfrute da

harmoniosa natureza, pelas pessoas que fazem caminhadas, crianças e suas mães,

artistas que reproduzem seus diferentes ângulos, idosos que descansam em seus bancos,

leitores...

Além do Palácio, há outros prédios: o anexo denominado Sala das Viaturas,

por ser local de exposição de veículos do século XIX e sua extensão – a Plataforma

Contemporânea para cursos e exposições; a Biblioteca e o Arquivo Histórico – um dos

principais do país; a Concha Acústica – um moderno auditório; o prédio da

Administração; o “Petit Palais” – acolhedora casa de chá e cantina.

Os primeiros encontros foram realizados à frente do prédio principal, mas em

decorrência do calor, nos deslocamos para a lateral direita, sob a sombra aconchegante

de uma das árvores e em cada sessão vamos nos adaptando à trajetória do sol.

O local dos encontros é muito amplo, de passagem para os diferentes recantos;

solo de concreto, visualizado assim que se sobe pela rampa do portão lateral. Sem

problemas, em grande harmonia, o compartilhamos com as crianças de patins,

velocípedes ou bicicletas; mães com carrinhos de bebês, os que se sentam para tomar

sol, os que caminham...

Se de um lado, gostaríamos de ter um local com mais privacidade e solo de

terra, de outro, consideramos de grande importância a convivência do grupo de

Biodanza com transeuntes, observadores...

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Petrópolis é uma cidade serrana, de clima frio que propicia o recolhimento.

Relativamente pequena, com freqüência as pessoas se conhecem. Sua cultura mantêm

traços da tradição alemã. As pessoas são mais reservadas em suas manifestações

afetivas e expressivas, cultivam a privacidade.

Portanto, as condições do local das sessões, com passantes conhecidos ou não,

constituem uma excelente oportunidade de vivenciar a liberdade de ser, de se expressar,

de se expandir, de se abrir para o encontro com o outro.

Nessas condições de trabalho, as pessoas podem ficar inibidas pela

possibilidade do surgimento de críticas ou pelo temor do ridículo. Essas características

exigem do facilitador o cuidado, o continente, a proteção do grupo, não provocando

situações de exposição que possam inibir ou culpabilizar os participantes.

Durante muito tempo, professores de Biodanza consideraram a intimidade do

espaço de trabalho imprescindível para efetuar a vivência. Tivemos a coragem de

enfrentar esse desafio de trabalharmos em local aberto, depois dos trabalhos

desenvolvidos pela Escola de Biodanza do RJ durante a ECO 92. Esse evento estimulou

para levar a Biodanza a lugares abertos: nas ruas, praças, no Circo Voador do Rio, ao

Parque Lage, aos postos de Saúde e Hospitais de Idosos.

Pude observar, pela minha participação tanto primeiro vivenciando, quanto

depois atuando como facilitadora estagiária nesses trabalhos, que nesses locais públicos

abertos, a observação de transeuntes e a curiosidade dos funcionários das instituições

não impediam as pessoas de vivenciar com profundidade conectados com suas emoções

e sem serem perturbados pelo que acontecia ao seu redor.

Concluímos que mantendo o continente e a integração afetiva do grupo e sendo

cuidadosos na programação, na profundidade, na progressividade dos exercícios, os

participantes passaram a efetuar suas vivências dentro das possibilidades do entorno,

fazendo a conquista de sua privacidade, uma verdadeira conquista de consciência de si e

de auto-estima, numa relação sem hostilidade nem confronto com o meio de que

dispõem.

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4.6 - RECURSOS PARA A VIABILIZAÇÃO DO TRABALHO

São três os pontos básicos sem os quais o encontro não ocorreria: divulgação,

recursos materiais e recursos humanos.

4.6.1 - Divulgação

Para divulgar os Encontros de Biodanza ao público, contamos com o apoio:

do próprio Museu Imperial, através da publicação oficial e mensal das

atividades desenvolvidas. O Departamento de Comunicação envia para diferentes

entidades petropolitanas e órgãos de divulgação como jornais, rádios e a TV Serra Mar;

da TV Serra Mar que já fez chamadas em seu noticiário cultural da região;

os Jornais publicam em sua Agenda Cultural nosso encontro. Principalmente a

da Tribuna de Petrópolis de Márcio Salerno, que vincula nossa chamada ao menos três

vezes por semana;

de cartazes estruturados por nós, afixados em lojas, colégios...

de entrevistas publicadas em jornais: Tribuna de Petrópolis, Gazeta de

Petrópolis, Diário e Notícia da Hora.

de convites ao telefone para pessoas conhecidas e interessadas;

de correspondências e ligações telefônicas para as pessoas que participaram e

deixaram em nosso livro de presenças seus dados.

de folhetos. No dia da Vivência, chegamos um pouco mais cedo e depois que o

equipamento de som está montado e a música tocando, uma pessoa fica tomando conta

e saímos cumprimentando, nos apresentando, oferecendo um folheto e convidando as

pessoas que caminham ou estão sentadas nos bancos das aléias do jardim a participarem

conosco. Este “arrebanhamento” tem tido ótimos resultados. Inclusive em junho de 97,

toda uma excursão de professores de inglês de um curso do Rio de Janeiro aceitou nosso

convite e se integrou à proposta.

4.6.2 - Recursos Materiais

O Museu Imperial nos ofereceu caixas de som possantes para usarmos na

aparelhagem portátil que utilizávamos no Grupo Regular. Ao verificarmos que o som

saía distorcido, resolvemos não adiar mais e adquirir um Aiwa para 3 CDs, 2 decks,

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microfone com excelente potência, que se faz ouvir desde o portão principal. Ele é

transportado na caixa original que serve de “mesa” facilitando sua utilização.

O transporte do material é feito através de taxi e assumimos todas as despesas,

pois não temos patrocínio financeiro. No início do trabalho (até o 10º Encontro) quando

éramos dois facilitadores, Francisco o fazia em seu bugre e auxiliava na montagem.

A energia elétrica vem da Sala das Viaturas através de extensões feitas por nós

mesmos, mas já utilizamos, durante um tempo, as do Museu. Os guardas passam o fio

pela janela que posteriormente é fechada. Para tal operação, durante muitos meses, foi

necessário que a pessoa responsável pelo Projeto deixasse na Sala da Guarda a

autorização por escrito. Hoje, como já somos conhecidos, eles mesmos vão buscar a

chave.

Desde o 1º Encontro, fazemos uso de um caderno para registro das presenças

dos participantes. Nele são anotados nomes, endereços e telefones.

Costumamos levar um plástico grande e alguns sacos menores para protegerem

o equipamento em caso de chuva repentina.

4.6.3 - Recursos Humanos

Para que a proposta se realize, temos contado com o nosso esforço pessoal, a

boa vontade da maioria dos guardas e ao final da vivência, com a ajuda de alguns

participantes: Fátima Araújo se responsabiliza pelo caderno de assinaturas; Pedro Ivo

Cipriano, Dionéia Melo e Denise Ribeiro pela desmontagem do equipamento e carregá-

lo para o taxi.

Já observamos que a presença de pessoas que fazem ou fizeram Biodanza dá

um suporte aos participantes novatos.

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5. METODOLOGIA

5.1 - ELABORAÇÃO DAS SESSÕES

Segundo a Metodologia “estruturar uma sessão de Biodanza é uma atividade

delicada e complexa que requer do facilitador a percepção dos grandes objetivos do

sistema: Integração, movimento-amor, elevação da saúde física, emocional, social e

ecológica. Mudança do esquema de vida estressante para o esquema de harmonia”. (1)

A Proposta Aberta de Biodanza em Espaço Aberto – Museu Imperial – têm

características bem peculiares:

- os encontros são abertos ao público em geral, em local aberto;

- nunca sabemos ao certo quantas e quais pessoas participarão da proposta –

assim não é possível ter uma leitura prévia do movimento para a elaboração

da sessão;

- o grupo heterogêneo é normalmente constituído por crianças com suas

mães ou avós, adolescentes, adultos e idosos, que já participaram de grupos

regulares ou que ao passarem pelos jardins são atraídos pela música-

movimento;

- durante o transcurso da sessão há pessoas assistindo e transitando pelo local

e às vezes veículos são estacionados bem próximos à nossa roda.

Estes fatores nos levaram a elaborar todas as sessões para iniciantes com uma

média de dez exercícios para alcançar os participantes.

A sessão é elaborada obedecendo à curva:

A ativação (simpático-adrenérgica) é bem acentuada, com vivências que

propiciem a dissolução progressiva das resistências e o alcance da integração corporal e

grupal, a confiança e a entrega. A regressão (parassimpático – colinérgica) é suave.

Podemos observar que o aprofundamento acontece em decorrência do encadeamento

das vivências de sensibilização e em função do grau de entrega de cada pessoa.

De qualquer forma, essas variações ocorrem sempre dentro de uma

organicidade. Cuidamos da auto-regulação (sempre reforçamos lembrando as pessoas

nas consignas), respeitando os automatismos viscerais, a promoção da integração do

esquema corporal (os exercícios segmentares ajudam a pessoa a perceber e incorporar

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os segmentos, deixando a força vital fluir); obedecendo ao princípio da progressividade

quer na ativação, quer na regressão; favorecendo a homeostase.

O trabalho é desenvolvido uma vez por mês, no último domingo, desde que

não chova, e portanto, não é possível haver progressividade em relação à seqüência dos

outros encontros, mesmo com um núcleo básico, sempre presente. Para atender aos

freqüentadores assíduos, procuramos na intimidade verbal e nas consignas fazer alguma

ponte com as sessões anteriores.

A estrutura básica da sessão corresponde a:

- Apresentação do trabalho

- Ativação

- Integração do Grupo

- Integração do Esquema Corporal

- Regressão

- Ativação

- Encerramento

Na Apresentação do trabalho, desenvolvida nos primeiros vinte minutos, após a

Roda inicial, apresentamos informações esclarecedoras sobre a Teoria da Biodanza, da

Proposta Aberta no M.I. e abrimos espaço para o Relato de Vivências. Com a

Apresentação do Trabalho, visamos a desculpabilização racional/intelectual e a

introdução de conceitos básicos do Sistema: Princípio Biocêntrico, expansão dos

potenciais genéticos, vinculação como fonte de saúde, linhas de vivência, ...

As informações esclarecedoras constituem suporte para as vivências e veículo

da reculturação. Estimulam os participantes a refletir sobre valores e condutas pró e

anti-vida.

Em decorrência da confiança e amizade que se desenvolveu entre os que

compõem a matriz grupal têm ocorrido Relatos de Vivências muito sinceros.

Os temas abordados nas sessões estão ligados ao movimento existencial,

acompanhando o movimento da Natureza: o início ou o término de uma estação do ano,

de elementos como o sol, a luminosidade da estação, etc ..., ou a fatos sociais como

datas comemorativas: A Chegada dos Colonos Alemães, Dia do Trabalho, Natal, Festas

Juninas, Semana do Meio Ambiente (Ex.: A pulsação da vida; A preservação; As

mudanças; O cuidado; Os ciclos vitais, O renascimento, O dar e receber).

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Uma vez escolhido o tema, definimos os objetivos gerais, comuns a todos os

encontros (vínculo consigo mesmo, com o outro e com o Universo) e os específicos,

relacionados aos “exercícios – chave” que aprofundam o tema proposto.

As consignas, que serão utilizadas no trabalho, vão surgindo à medida que são

definidos os objetivos. Temos a preocupação de utilizar uma linguagem simples,

evitando termos muito técnicos, mas com a abordagem filosófico-poética ligada à

Natureza e aos fatos do cotidiano.

Como o rumo do trabalho vai depender do número de pessoas participantes

ou/e da predominância de idosos, de adultos ou de crianças, ao estruturarmos a sessão,

sempre consideramos a flexibilidade que deverá haver no sentido de fazer as alterações

necessárias para se atingir os objetivos propostos. Assim, no momento do planejamento,

pensamos nas variações possíveis tanto na utilização das músicas e consignas, quanto

até mesmo de exercícios. Estas características fazem de nossa proposta uma construção

aberta, um trabalho que em parte se constrói no momento em que está sendo.

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5.2 - PÚBLICO ALVO

O público alvo é constituído em sua maioria de mulheres (oitenta por cento),

numa faixa de trinta a quarenta anos, porém participam também muitas senhoras da 3ª

idade, jovens e crianças. Os homens são em média 3 a 4 por sessão. Há famílias que

com uma certa freqüência participam.

Normalmente, as senhoras mais idosas e as crianças apreciam dançar ao centro

da roda. Algumas chegam a repetir a já celebre frase: “Se meu marido souber!!!”

Já escutamos também afirmações à cerca da liberdade, do prazer de dançar em

um espaço famoso de uma certa pompa e cerimônia e que até então parecia distante e

frio, agora espaço de criação e expressão da criança livre.

A maioria das participantes reside no município de Petrópolis.

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5.3 - O PRIMEIRO ENCONTRO:

O primeiro encontro, em 27 de agosto de 1995, contou com a participação de

cerca de 30 pessoas. Algumas pessoas de grupos regulares, outras amigas nossas, mas a

maioria, pela primeira vez, trazidas pela propaganda e ainda aqueles que se engajaram

no momento, entre elas visitantes de outros estados, atraídas pela música – movimento –

emoção, ao ver o grupo em vivência.

Como já citamos na sessão 3 e 4.6.2, este trabalho foi compartilhado até o X

Encontro com Francisco Barros Goulart, o Chico. Partilhamos todas as etapas, desde as

de divulgação, a elaboração das vivências, até a facilitação. Neste I Encontro Chico

ficou com a primeira parte da sessão, eu com a segunda e nela o Exercício-Chave.

Além da divulgação oficial do Museu Imperial, fizemos cartazes e folhetos

impressos afixados em lojas comerciais, murais de escolas e do Centro de Cultural.

Foram feitos convites: diretamente aos nossos alunos nas escolas onde lecionamos; pelo

telefone aos amigos e pessoas que já conheciam o trabalho através de outros

facilitadores.

Algumas pessoas que sempre nos incentivaram também fizeram propaganda.

Inicialmente, reunimos as pessoas numa roda sentados no chão, nos

apresentamos e cada um fez o mesmo.

Explicamos o objetivo desta sessão aberta e respondemos perguntas sobre a

teoria da Biodanza, dos próximos encontros, do trabalho a ser desenvolvido.

O tema foi: “O dar e receber: compartilhando a alegria de viver”

Para não haver constrangimento entre as pessoas sem vivência do Sistema, em

decorrência também do local, tivemos cuidado ainda maior na escolha dos exercícios a

serem propostos.

Trabalhamos a Integração Motora através de Caminhares Ritmicos, tanto

individuais, quanto em duplas e grupos; Segmentares e Fluidez.

A alegria, o lúdico – para despertar a criança livre, a confiança, realizando a

integração do grupo – com brincadeira de “estátua” e danças com trocas rápidas.

O Exercício-chave “Dar e Receber a Flor” – com flores naturais, levadas por

nós, variadas em espécie, colorido, formato e tamanho nos permitiu a Integração

Afetiva do Grupo.

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Utilizamos flores naturais neste exercício, pois, ficou mais fácil, com elas nas

mãos, em virtude de sua concretude, alcançar o objetivo proposto – o Encontro,

oferecendo / trocando flores. Pessoas que até então nunca se tinham visto, fizeram o

movimento de caminhar afetivamente em direção ao outro.

A preparação para os encontros foi feita através da sensibilização do olhar -

conexão com a beleza, as cores, riqueza de detalhes e diferenças; do tato – sentir a

textura; do olfato – sentir o aroma.

Algumas pessoas se comoveram no momento do encontro com o outro e

mesmo sem ter sido sugerido, se abraçaram ao trocarem as flores.

Determinar previamente que o encontro se selará com um abraço, induz a uma

atitude estereotipada e, em alguns casos, forçada. Quando o abraço surge em forma

espontânea, é desfrutado plenamente por ambos.

Um fato interessante foi que duas senhoras, visitantes em uma excursão,

passando no local no momento da consigna, rapidamente entraram na roda e apanharam

uma rosa. Quando sugerimos que cada um fosse fazendo encontros significativos e

oferecendo sua flor, elas fizeram um “ah!...” de decepção ,mas se dirigiram a outras

pessoas. E ao final vieram comovidas nos contar o ocorrido dizendo que haviam

recebido tanto afeto, olhares carinhosos, muito mais que as rosas com as quais tanto

queriam ficar.

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5.4 - CONTINUIDADE DO TRABALHO

O trabalho tem se mantido nestes mais de quatro anos, com uma freqüência

muito variada, mas somente deixou de ser realizado em decorrência do mau tempo e

nunca por falta de clientela.

Em razão de compromissos com a Escola de Biodanza do R.J. e/ou

Cooperativa de Facilitadores tivemos que antecipar para o penúltimo domingo 4 a 5

encontros. Mesmo tendo avisado no mês anterior ou através de telefonemas aos que são

assíduos e não estavam presentes, isto fez com que algumas pessoas se confundissem e

não comparecessem ou fossem na data habitual.

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5.5 - O GRUPO

OBSERVADORES

VISITANTES E

FREQUENTADORES COM

MATRIZ

CERTA CONSTÂNCIA

FREQUENTADORES OCASIONAIS

Biodanza possui uma estrutura grupal. O grupo é uma matriz de renascimento

onde cada participante encontra proteção, acolhida afetiva e permissão para as

mudanças que necessita fazer,

O ser humano é relacional, gregário.

Hoje sabemos que não existe a possibilidade de uma evolução solitária. O

presença do semelhante modifica a resposta da pessoa nos níveis orgânico, emocional,

psicológico e existencial.

“Nossa identidade se revela na presença do outro.” (R.T)

Ao observarmos o gráfico do Grupo da Proposta Aberta no Museu Imperial,

podemos notar:

- Há uma MATRIZ constituída por cerca de 7 a 9 pessoas que participam com

regularidade, desde o primeiro encontro em 1995. São pessoas que não podem, por

questões de trabalho e/ou de estudo, participar de um Grupo Regular semanal. São, na

maioria, mulheres (80%).

Abertos ao encontro, recebem com afeto e dão continente às pessoas que

chegam para a sessão, facilitando o entrosamento.

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Criaram laços de amizade e noticiam atividades culturais de interesse comum e

muitas vezes, combinam para irem juntos a concertos, caminhadas, cursos,... Um dos

rapazes, estudante de pintura e desenho, leva sua produção mensal para mostrar aos

demais.

Com grande freqüência, vamos almoçar juntos depois da aula.

Algumas vezes, aproveitamos também para recepcionar visitantes de grupos

regulares de outras cidades, levando-os aos recantos turísticos de Petrópolis, após o

almoço.

- Em seguida, no 2º círculo, há um grupo que freqüenta com certa constância

e que já é conhecido dos assíduos. São moradores da cidade, que eventualmente,

priorizam o convívio com a família, passeios, etc ...

- Há no 3º círculo, aqueles que freqüentam ocasionalmente ou como

visitantes. Facilitadores de Biodanza – colegas de formação: Lêda Marisa Costa

Carvalho (de Niterói) e Alcenir Moreira (Rio) e integrantes de seus grupos;

frequentadores do projeto desenvolvido no Parque Lage, bem como participantes de

outros grupos, têm vindo e aproveitam a oportunidade para na parte da tarde desfrutar

dos recantos da cidade ou de suas tradicionais festas: Bauernfest, Luzes do Natal.

Cerca de 30 pessoas, professores, alunos e familiares de um Curso de Inglês,

do Rio de Janeiro, em visita à cidade, aceitaram o convite e se juntaram ao grupo. A

princípio pareceu-nos que o engajamento era uma brincadeira de um grupo festivo. Mas,

realmente foram conquistados e somente umas quatro crianças deixaram a roda, o que é

natural, uma vez que conseguem se concentrar por um curto período.

Os turistas vão chegando e fazendo fila para a compra de ingresso. E de lá

ficam observando. Acontece de abandonarem a fila e virem para a roda. Certa ocasião,

um grupo de uns oito rapazes adolescentes foram atraídos pela música alegre e a

vivência da “sombra”.

Tivemos a participação de turistas, tanto estrangeiros quanto de outros estados

nacionais que já haviam vivenciado e/ou conhecido o Sistema Biodanza em sua cidade.

No XXXIII Encontro, já estávamos na vivência da “estátua”, quando um grupo

de uns 40 jovens, alunos de uma escola pública do Rio, subiram pela rampa e logo

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entraram na proposta, chamando, com sua dança, a atenção de todos que estavam na

redondeza. No mesmo clima que chegaram, continuaram caminhando – dançando, em

direção à porta lateral para a visita guiada ao acervo do M.I.

Girava a Roda de Ativação, da Seqüência Final – “Estão voltando as flores”

com Emílio Santiago – quando vieram de lá cantando e dançando no clima do grupo em

vivência. Integraram-se à Roda, festejando com todos ao final com grande

entrosamento, como participantes habituais.

Foi a realização do que nos propomos: um trabalho aberto, que se constrói em

local aberto, no qual as pessoas têm a liberdade de entrar – sair, se sentirem felizes,

encontrarem pessoas e a elas mesmas, se sentirem participantes da vida.

- Compondo o grupo, no 4º círculo, temos os Observadores:

Pessoas que passeiam, caminham, tomam conta das crianças ou vão pegar sol

no parque e são atraídas pela música e pela dança.

A maioria, mulheres que apesar do convite não se dispõem a participar do

trabalho por inibição, defesa, não permissão, falta de coragem,... mas permanecem,

normalmente, sentadas assistindo, se espelhando nas vivências.

Há o caso de um rapaz, vendedor ambulante de picolé, que comparece,

seguidamente aos encontros, mas “somente para apreciar...”, como diz.

Estas pessoas expostas à música e à emoção continuam, neste momento,

reproduzindo uma dissociação da cultura - a não integração entre pensar, sentir e agir.

Temos observado que algumas pessoas que vivenciaram sua emoção ao

olharem, ou como pensam alguns – com a vivência “do outro” – muitas vezes retornam

em outros encontros para participar.

São assistentes e grande admiradores, os funcionários da entidade de plantão

neste dia. Eles se postam próximos à roda ou na janela.

Tem-se tornado habitual o fato de funcionários e várias outras pessoas que

apenas assistem ou passam caminhando, nos virem cumprimentar pela iniciativa ou para

saberem mais sobre Biodanza, ou ainda o nome de determinada música.

Assim como há pessoas que só se dão o direito de “assistir” ao trabalho, há

outras que só se permitem vivenciar Biodanza no Museu Imperial, enquanto um terceiro

grupo só se sente bem no grupo regular, não se encorajando a ir ao local aberto ou

quando o fazem permanecem como observadores.

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5.6 - LINHAS DE VIVÊNCIA:

EXERCÍCIOS UTILIZADOS OU NÃO UTILIZADOS

Rolando Toro agrupou as Vivências, para fins de operacionalização do Modelo

Teórico de Biodanza, em cinco linhas ou canais por onde flue o potencial genético, a

real essência do ser, ou seja, a verdadeira realidade interior. São elas: a vitalidade, a

sexualidade, a criatividade, a afetividade e a transcendência.

As Linhas de Vivência são produtoras de cofatores e nesse sentido, uma

seleção de exercícios e situações de grupo pode provocar a expressão de potenciais

genéticos específicos, que se encontram reprimidos por valores impostos pela cultura.

Em nossa “Proposta Aberta em Espaço Aberto”, as linhas de vivência são

trabalhadas de forma especial, em decorrência das características do espaço e da

clientela.

Passaremos a estabelecer relações entre as Linhas de Vivência, os instintos e os

fatores que inibem seu desenvolvimento. Faremos referência aos aspectos enfatizados

em nossas sessões e relacionaremos os exercícios utilizados e os não utilizados

LINHAS DE VITALIDADE:

A vitalidade é o ímpeto vital, a energia e a capacidade junto à espécie. Através

dela se manifestam os instintos de conservação, nutrição, saciedade, fome, sede, luta,

fuga, ação, repouso, autonomia.

Ao elaborarmos o trabalho, pretendemos despertar as emoções ligadas a esses

instintos – a alegria, o ímpeto e o entusiasmo, desbloqueando progressivamente as

tensões, resgatando através do lúdico a criança livre, sua espontaneidade, possibilitando

a descontração, a aproximação entre os participantes, a integração afetiva, a vinculação,

assim, dissolvendo, paulatinamente, o mandato cultural “Não te movas”.

Antes de listarmos os exercícios referentes a esta linha, gostariámos de citar os

de Preparação e Regulação Corporal que levam ao resgate da auto-percepção

corporal, assim como à integração afetivo-motora consigo mesmo e com o outro. Por

outro lado, conduzem a uma ativação progressiva do organismo e/ou a uma integração

corporal necessárias para a realização dos exercícios subseqüentes.

Utilizamos em nossas sessões:

a) Roda Inicial de Integração

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b) Caminhar Sinérgico

c) Caminhar Livre

d) Caminhar Rápido no Grupo

e) Coordenação Rítmica em par

f) Sincronização em par (Rítmica e Melódica)

g) Variações Rítmicas

h) Exercícios Segmentares (pescoço, ombros e quadris)

i) Integração dos três centros

j) Exercícios de Fluidez I

k) Fluidez em Deslocamento

l) Deslocamento Rítmico com Saltos

m) Respiração Dançante

n) Eutonia (de dedos e mãos)

o) Liberação do Movimento

p) Dança de Extensão Máxima

Obs: Alguns destes exercícios estão na lista de Vitalidade.

Após Vivências de grande vitalidade, recomendamos o caminhar livre, com o

objetivo de desaceleração e auto-regulação, percebendo a normalização da respiração e

do ritmo cardíaco para então pararem de caminhar.

LINHA DE VITALIDADE

Exercícios utilizados:

a) Roda de Alegria

b) Caminhar a 2, a 3, em Grupo

c) Caminhar com Determinação

d) Caminhar em Grupo com Encontros Rápidos

e) Dança com Fluidez

f) Roda de Ativação Progressiva

g) Roda de Celebração

h) Roda de Fluidez

i) Jogo de Vitalidade (palmas, encontro de partes do corpo, seguir o mestre)

j) Jogos a três (cenas de Cotidiano)

k) Dança Euforizante leve

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l) Dança de Alegria e Vinculação

m) Dança de Deslocamento e Saltos (Valsa)

n) Giro a Dois (= Corrupio)

o) Trenzinho Lúdico

Exercícios da Linha de Criatividade associados à Vitalidade:

p) Roda das Transformações

q) Dança Yang

r) Dança Yin

s) Dança do Ar

t) Dança da Terra

Exercícios evitados:

- exercícios que possam levar à hiperatividade ou mesmo à histeria coletiva

- exercícios com muita vitalidade que possam causar acidentes (ex.: roda

vertiginosa)

- exercícios que requeiram deitar no chão

- exercícios de liberação de tensão com ritmo progressivo

- exercícios que possam levar ao transe rítmico.

LINHA DE SEXUALIDADE:

a sexualidade é a vinculação com a espécie. Está relacionada com o instinto

sexual, de sedução e de exibição. Suas emoções são de desejo e de prazer.

O objetivo geral desta linha é despertar o desejo - a vivência do corpo como

fonte de prazer - e desenvolver a intimidade consigo mesmo e com o outro,

estimulando o contato e a carícia. Nossa necessidade de contato é inata e todos os

nossos sentidos participam desta busca.

Em nossa proposta no Museu Imperial a Linha da Sexualidade é a menos

enfatizada, uma vez que temos muito cuidado para não constranger as pessoas e de

outro lado, o contato físico entre elas é muito leve. Inclusive, sentimos presentes e fortes

os mandatos culturais: “não toques”, “não te deixes tocar”, “não te toques” e “não

sintas”.

Trabalhamos, através dos sentidos, via de sensibilização, a desculpabilização e

a permissão para sentir prazer, de uma forma geral, resgatando o desfrutar no contato e

intimidade com a Natureza: calor do sol, o toque do vento, a música das folhas, o

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perfume das flores, o canto dos pássaros,... Incentivamos o desfrute dos prazeres

cotidianos - caminhar, beber, comer, criar, brincar, descansar, ... Propomos exercícios

em que possam experimentar o movimento, tanto o de mais expansão quanto o mais

lento, como fonte de prazer corporal - o prazer de estar vivo.

Temos utilizado os seguintes exercícios:

a) Caminhar a dois tomados pela cintura

b) Segmentar de pélvis

c) Encontro de mãos

d) Forró

e) Danças latinas (salsa, merengue)

f) Auto reconhecimento da face.

Exercícios evitados:

- exercícios que proporcionem maior contato físico com o outro (ex.:

Brincadeira de tocar em partes do corpo, Trenzinho com liberação de Pélvis, Roda de

Movimentação Pélvica)

- exercícios de acariciamento

- exercícios que estimulem a sedução.

LINHA DE CRIATIVIDADE:

A criatividade é a expressão junto à espécie.

Por esse canal flue o instinto exploratório proporcionando renovação, inovação

e curiosidade.

Enfatizamos bastante a linha de Criatividade em nosso trabalho. Através das

Danças criativas e expressivas possibilitar a liberdade da expressão do ser autêntico e o

resgate do impulso criativo para estabelecer novas e variadas relações com o mundo,

para inovar a própria existência.

Para o desenvolvimento desta linha fazemos uso de exercícios de suas quatro

etapas: Expressão Primal, Integração Yin-Yang, Comunicação Expressiva e Elaboração

Criativa.

A Expressão Primal é aquela em que “o indivíduo realiza suas primeiras

manifestações expressivas, que foram bloqueadas durante a infância”. (2)

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São desta etapa os exercícios lúdicos, as brincadeiras que permitem a liberação

dos movimentos e da expressão expontânea, proporcionando a descontração, a alegria, o

riso, a autenticidade,... tão característicos da “criança livre”.

Exercícios utilizados:

a) Conduzir o movimento do outro / deixar-se conduzir pelo outro

(“Marionete”)

b) Reproduzir o movimento do outro (“Espelho”)

c) Seguir o movimento do (s)

outro (s)

por trás (em pares ou trenzinho com

liberação de movimentos)

d) Variação de padrões rítmicos

e) Caminhar Criativo: Ritmo lento alternando-se com ritmo rápido

f) Caminhar sobre elementos da Natureza

g) Caminhar sem medo do Ridículo

h) Roda das Transformações

i) Dançar a dois com trocas rápidas

j) Dançar criativamente e parar na posição quando da suspensão da Música

(“estátua”).

Na Integração Yin-Yang, são propostas vivências para despertar a integração

harmônica das duas polaridades energéticas que não são opostas, mas complementares.

a) Fluidez em três movimentos

b) Danças Yin-Yang (Ex.: Valsa).

Na terceira etapa, Comunicação Expressiva, são empregados exercícios que

auxiliem a busca de uma linguagem pessoal na comunicação com os semelhantes.

Assim, utilizamos:

a) Posições geratrizes de Cod. I (Ex.: Intimidade, dar, receber, trabalho)

b) Sincronização em par

c) Dar e receber a flor

d) Batismo de Luz

A última etapa, Elaboração Criativa, visa a uma autêntica e plena expressão

criativa, indo até a elaboração de obras de arte. Apesar de mais complexa, tem sido

proposta e os resultados nos surpreenderam.

a) Dança do Trabalho

b) Dança da Terra

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c) Dança do Ar

d) Dança da Garça

e) Dança da Semente

f) Dançar a “sua” árvore

g) Dançar em Conexão com o sol e oferecer a Energia Vital ao outro

h) Escultura Viva ou Móvel

i) Danças Criativas Livres

j) Expressão em Argila

LINHA DA AFETIVIDADE:

A afetividade é a comunicação e a comunhão com a espécie. Ligada aos

instintos gregário e de solidariedade intraespécie, propõe-se a despertar e desenvolver

através das vivências as emoções de ternura, amor, maternidade, carinho e

solidariedade.

Em nossa proposta enfatizamos bastante esta linha, uma vez que,

biologicamente, somos dependentes do amor para crescermos, nos tornarmos humanos.

As situações de encontro e os rituais de vínculo propostos, atuam sobre os

participantes, despertando potenciais afetivos de fraternidade, solidariedade e

cooperação, numa vivência de comunhão com o espécie humana e com a Natureza –

refletindo o Princípio Biocêntrico – na autêntica celebração da vida. Para atingir este

ponto citado, procuramos desenvolver através da sensibilização dos participantes (e não

através de Contato físico) a auto-estima, o cuidado consigo mesmo, a auto-regulação, a

auto-percepção, expandindo estes sentimentos na relação com o outro e com a Natureza.

As vivências propostas são:

a) Reconhecimento do outro

b) Auto Acariciamento de mãos, de peito

c) Compressão e Descompressão das Mãos

d) Dança de Conexão com o Afeto e Ampliação ao Universo

e) Roda de Embalar

f) Jogos de mãos diante dos olhos (“leque chinês” ou “abanico”)

g) Encontro de Mãos e Olhares

h) Roda de Integração Afetiva

i) Mandala de Preservação da Vida

j) Encontros com abraços

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k) Eutonia de Dedos e Mãos

l) Espelhar a Dança Sensível do Companheiro

m) Movimento Sensível de Braços

n) Caminhar a dois com Entrega e Confiança (olhos fechados)

o) Grupo de Aquietamento

p) Caminhar Mostrando e Reverenciando o Companheiro

Exercícios não utilizados:

- Exercícios que envolvam maior contato físico entre as pessoas (Ex.: Dar e

Receber Colo, Acariciamentos, Segmentares Compartilhados, Movimento Sensível de

Braços em par, Despertar da Flor, Ninho )

- Exercícios que possam trazer constrangimento (Ex.; Canto do Nome, Eutonia

de Pés, Dançar para o outro).

LINHA DE TRANSCENDÊNCIA:

A transcendência é a fusão com a espécie, com a natureza, com o universo,

despertando os sentimentos de plenitude, beatitude, júbilo e gozo supremo.

O mandato de obstrução “não desfrutes” é marcante em nosso cotidiano e nos

cercamos de obrigações que temos de desempenhar.

Com os exercícios desta linha objetivamos despertar e desenvolver a

intimidade de cada um consigo mesmo (íntase) e com a totalidade (êxtase).

Tomamos a afirmação de Rolando Toro como ponto de partida: “O sentimento

de íntima vinculação com a natureza e com o próximo, é uma experiência maravilhosa

que se tem raras vezes na vida. Experimentá-la ao menos uma vez permite iniciar uma

mudança na atitude frente a si mesmo e frente aos demais. O saber com “certeza” que

não somos seres isolados, mas que participamos do movimento unificador do cosmo,

basta para deslocar nossa escala de valores. Porém, este saber, com certeza, não é um

saber intelectual; é um saber comovedor e transcendente.” (3)

Nos Jardins do Museu Imperial encontramos um dos elementos essenciais para

a Transcendência - o contato com a Natureza.

Incluímos nas vivências momentos em que os participantes possam entrar em

profunda conexão consigo mesmos, e em um processo, identificar-se com as múltiplas

criaturas do Universo e com a Unidade Cósmica. Há assim, uma pulsação oscilante das

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forças centrípeta e centrífuga da energia cósmica de indivíduo, culminando com a

Iluminação, onde se recebe e se emite energia.

Para facilitar o acesso a estas vivências, empregamos exercícios de

sensibilização, que ampliem a percepção (quando a percepção muda, muda a vivência e

tudo muda), que trabalhem a desaceleração, a redução do estado de vigília (olhos semi-

cerrados ou cerrados), a dissolução progressiva das tensões, a entrega, a receptividade,

buscando vivências de harmonia e unidade.

O abraço quando surge naturalmente, é expressão real do encontro de fusão de

duas fontes de energias, de duas individualidades transcendentes.

Temos a preocupação de não sugerir que as pessoas se encontrem com um

abraço, deixamos que aconteça naturalmente pelo desejo. Isto se justifica para que não

haja constrangimento entre as pessoas, ou seja lido como uma obrigação a ser cumprida.

Exercícios propostos:

a) Caminhar em Câmara lenta

b) Segmentar de pescoço com vivência de entrega e abandono

c) Segmentar de ombros com vivência de liberdade

d) Dança Livre de Fluidez

e) Roda de Embalar

f) Batismo de Luz

g) Posições Geratrizes: Intimidade, Conexão com o Infinito

h) Dança da Garça

i) Dança da Semente

j) Danças de Conexão com a Natureza

k) Danças de Expansão: da intimidade ao Universo

l) Roda Ritualística

Vivências não propostas:

- exercícios de transe profundo

- exercícios de coro.

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5.7 - MÚSICAS

A música, a mais universal das linguagens, mobiliza crianças e adultos de

qualquer época e região, nos permitindo comunicar o incomunicável..

Em Biodanza, ela é o elemento principal para a indução de vivências , pois há

uma correspondência entre estruturas musicais e estruturas emocionais. Assim, a música

deflagra a emoção que aliada ao movimento são propulsores internos da vivência.

Rolando Toro afirma que a eficiência de um exercício de Biodanza reside na

profunda integração entre a música, o movimento e a vivência.

A importância na escolha e/ou na utilização da música nas sessões se

evidencia, quando realizamos o mesmo exercício com músicas diferentes e o resultado é

o aparecimento de vivências distintas.

A música como recurso metodológico do Sistema Biodanza é, criteriosamente,

estudada e analisada na sua semântica, no seu conteúdo emocional; em seguida, são

agrupadas pelos padrões emocionais de maior relevância, para cada tipo de vivência.

Em nossa Proposta Aberta em Espaço Aberto, o cuidado com a escolha da

música se faz ainda maior, pois, a clientela é bastante heterogênea – adultos, crianças e

idosos, e, somente, na Roda Inicial temos o perfil do grupo participante. Assim, como já

foi relatado na sessão 5.1, levamos diferentes opções musicais adequadas à mesma

vivência para atender à necessidade do momento, sem deixar de atingir os objetivos

propostos.

Podemos citar como exemplo, a brincadeira da “sombra” – numa sessão em

que havia maior número de pessoas da terceira idade, lançamos mão de “Maxwell‟s

Silver Hammer” dos Beatles, em vez da planejada anteriormente “Hooked on Dixie” F1,

que é mais rápida e poderia cansá-las.

Dentro dos elementos da música, existe o RITMO (repetição de sons) o qual

está relacionado com a complexidade organizativa, com a formação neurológica das

células e que proporciona a vinculação com a natureza, com a totalidade; a MELODIA

(seqüência de sons) ligada a sentimentos, estimulando o vínculo, o encontro, a

comunhão; e a HARMONIA (variação de sons) relacionada com a consciência e com a

maturação neurológica, despertando a conexão consigo mesmo.

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É como afirma Toro: “Ritmo é o nosso coração, nosso caminhar, nossa

respiração. Estamos palpitando no pulmão do Universo. Dançamos no corpo divino,

avançamos pelos passos de Deus.

Nossos pés e nosso coração são rítmicos. Nossas mãos são melódicas, assim

como nosso pescoço e nosso sorriso. Mas, a harmonia há que buscá-la no fundo dos

olhos, no encontro dos olhares, donde se estabelece o circuito inicial, o circuito da vida.

Somos um puro instrumento de vinculação: o ritmo nos une ao Universo, à nossa

genitalidade, a tudo que é origem; a melodia elabora nossa comunidade amorosa e a

harmonia nos brinda a intimidade e a transcendência.” (4)

As pessoas, de um modo geral, têm muita dificuldade com o ritmo – da música,

da própria vida, do Universo.

Para que a pessoa que chega pela primeira vez sinta-se mobilizada, capaz de

participar da roda, do caminhar, da dança, ... é necessário que as músicas sejam simples

(não apresentem características de complexidade) e orgânicas; tragam alegria,

entusiasmo (não hiperativas), expansão; que recuperem a motivação do movimento; que

resgatem ritmos básicos, facilitando a harmonização dos ritmos internos: metabólicos,

cardíacos, respiratórios, etc..., possibilitando a integração e a saúde dos participantes.

Na parte mais ativa, utilizamos músicas populares brasileiras (mas não

populescas), que as pessoas possam cantar suas letras.

Para Roda Inicial, entre muitas podemos citar: “A de Ó” M. Nascimento,

“Balança Pema” e outras de Marisa Monte; “Toda Menina Baiana” e outras de G.Gil;

“Boas Vindas” Caetano Veloso.

Para Caminhar Livre: “Palco” G. Gil; “Beleza Rara” Banda Eva; “Hello

Goodbye” Beatles; “Don‟t get around much anymore” Jazz Collection.

Para Caminhar Sinergético: Dixieland - as do catálogo.

Para o Lúdico: músicas de Elba Ramalho, Chico Cesar, Johnny Maddox,

Suppertramp, Jazz Collection.

Em relação aos Exercícios de Fluidez, procuramos evitar músicas com alto teor

regressivo, uma vez que buscamos com eles, a harmonização e a preparação para

vivências posteriores. Muitas vezes a nossa escolha recai sobre algumas músicas de

Zamfir, como “Bilitz”. Estas interpretações em flauta auxiliam na integração com os

elementos da natureza: o vento, os pássaros, as árvores, e por seu conteúdo melódico

levam à sensibilização e à conexão com o semelhante.

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Acreditamos que o que nós seres humanos necessitamos com mais urgência

neste momento é desenvolver o potencial afetivo tanto em nível individual quanto

coletivo, uma vez que as relações afetivas estão em profunda crise. Dentro do princípio

de progressividade e reciprocidade, utilizamos entre outras: “Magie d‟Amour” J. P.

Posit.; “Imagine” J. Lennon; “What a Wonderful World”Louis Armstrong; “Coisa mais

Linda” Caetano.

Há composições com grande poder desencadeador de vivências, não só nos

participantes do trabalho como também nos observadores. Pessoas deixam seus lugares

e vêm se integrar ao grupo, ou ao menos nos procuram para perguntar o nome da

música e o interprete.

Podemos citar:

“The Tao of Love” e “Abraham‟s Theme”, Vangelis

“Menousis” Irene Papas

“Andança” Beth Carvalho

“O que é, o que é? “Gonzaguinha

“Valsas” Strauss

“Cio da Terra” Milton

Ao trabalharmos a Conexão com a Terra evitamos as que tenham uma

progressão rítmica acentuada que possam levar ao transe.

A proposta de Dançar ou Fluir com os sons da natureza ou com a musica interior tem

sensibilizado algumas pessoas às lágrimas.

Buscamos encerrar a nossa proposta com músicas alegres, com sutis

mensagens relativas à ecologia, a dias melhores, à amizade, .... Uma vez que as pessoas

já estão ativadas, costumam cantar, celebrando o encontro, a dança da vida.

É necessário aspirarmos muito mais que o bem-estar, a alegria, o prazer, a

elevação da qualidade de vida – merecemos a FELICIDADE.

Almejarmos a felicidade pessoal e a felicidade dos outros.

Podemos, com a Biodanza, “transformar o sentido sacrificial da vida, numa

nova ordem estética, epifânica e amorosa.” (5)

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6. DEPOIMENTOS

Os depoimentos a seguir, enviados através de correspondência, escritos logo

após o término das vivências, ou por nós anotados foram agrupados de acordo com a

constituição do grupo apresentada na sessão 5.5. Assim, temos relatos de pessoas

componentes de:

- Matriz

- Freqüentadores com certa constância

- Visitantes e freqüentadores ocasionais

- Observadores

- Matriz:

Meu encontro com a Biodanza foi por acaso. Eu estava caminhando no Museu

e resolvei fazer a aula. A princípio sem conhecer o significado, mas me senti muito bem

integrada com a natureza, com a música, me faz muito bem, me ajuda a viver meu dia a

dia. Faz com que me sinta parte da natureza, da música e da vida. Agora entendo que a

Vida, a Natureza e a Música estão ligadas entre si, ora lenta, ora alegre, ora triste.

(Laíde – 57 anos)

* * *

A Biodanza nos faz sentir mais integrados com todos os seres da natureza e

mais equilibrados emocionalmente.

Quando participo da Biodanza me sinto bem mais leve e satisfeita.

(Dionéia E. S. de Melo – 33 anos)

* * *

Cheguei, vi, fiquei e gostei.

Para mim a Biodanza foi como um presente. Eu não conhecia, mas através dela

pude conhecer um pouco mais de mim.

É difícil falar sobre o que sinto, mas é muito bom sentir. Sentir e poder

perceber a liberdade de emoções e a cada emoção, a descoberta de um potencial, muitas

vezes oculto. É ver além do horizonte.

(Fátima – 52 anos)

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Biodanza é sentimento, arte

vida mais amor, liame com a natureza, pessoas.

Me faz sentir dançarino.

Observando as estrelas acho tudo inteligível,

apreciar o sol, cantar com a chuva,

gracejar junto a terra.

Biodanza é criação a cada instante o traço

firme com figuras circulares,

expressão, carinho e amor. 08/08/98

(Pedro Ivo Cipriano Inocêncio – 18 anos)

- Freqüentadores com certa constância:

A Biodanza ao ar livre (Museu Imperial) me dá duplo prazer: um é a sensação

de estar em conexão com a natureza – sol, vento, pássaros cantando, voando, árvores e

folhagens bailando comigo nesse vai e vem do mundo. Outra é a sensação de saber que

estou sendo visto por pessoas de passagem ou paradas, observando com curiosidade e

até mesmo com admiração, sinto-me um pouco constrangido, mas gosto...

(Brandino Cabral – 68 anos)

* * *

A Biodanza no Museu é muito agradável porque é uma aula aberta em contato

com a natureza, com pessoas diferentes. É uma aula que me sensibiliza muito e acho

que este é um dos objetivos da Biodanza.

(Sueli – 45 anos)

* * *

O cenário não poderia ser mais encantador, os jardins do Museu Imperial num

dia de sol, com suas magníficas palmeiras como antenas captadoras de uma energia que

inunda o local, de beleza e harmonia. A música faz tudo parecer ainda mais mágico.

É neste ambiente que se desenrola essa deliciosa vivência facilitada por uma

pessoa especialíssima que está em perfeita sintonia com todo esse quadro. Os

convidados chegam e tudo é uma grande surpresa. São jovens e idosos, homens e

mulheres, crianças e adolescentes, todos querem usufruir desse momento dominical que

irá com certeza garantir um dia de muita alegria e paz.

Dançando e se conhecendo, vivenciando emoções várias, passo esse tempo

como se estivesse fora do tempo. Grata sou por tudo. É assim a Biodanza aos domingos

no Museu Imperial de Petrópolis.

(Vânia Hillen)

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- Visitantes ou Freqüentadores Ocasionais:

Faço Grupo Regular no Rio, vou aos Encontros do Parque Lage, já fiz

Maratonas.

Biodanza na natureza, o rendimento é 100% maior. O espaço do ar livre é bem

melhor, porém sem tanta gente olhando é mais conveniente.

(Tânia – Rio - 35 anos)

* * *

A princípio fiquei constrangido, mas com o fluir da emoção fiquei à vontade.

Ao final me senti integrado e alegre. Acredito ser a Biodanza uma forma de melhorar

nossa qualidade de vida.

(Eduardo Ribeiro de Almeida – Rio - 35 anos)

* * *

Era o que eu precisava, cheguei deprimida, estou assim tem vários dias. Quem

me trouxe foi a Neuza que é agente de saúde. Me senti à vontade. Você me deu um

presente quando falou: mergulhar lá dentro de você, não para ficar lá, mas sim para com

mais vida se comunicar com os outros, e a natureza.

(Eugênia Braz Alves – 55 anos)

* * *

Eu voltei hoje e trouxe minhas duas irmãs menores. Eu disse para elas vir

porque eu gostei da outra vez. Naquela “coisa” de caminhar de olhos fechados com

outra pessoa, eu escutei passarinhos, senti o sol quente, o chão “tava” grosso. Não tive

medo não. Até de noite eu “tava” feliz, assim calma. Eu gosto de dançar.

(Bruna – 9 anos)

- Observadores:

Quando cheguei próximo ao local em que havia música, vi pessoas jovens

juntas, conversando e depois dançando. Já havia lido no jornal sobre o grupo de

Biodanza, mas confesso que não tive coragem de me chegar à vocês. Não foi bem

timidez, mas estava acompanhada de meu marido, não quis deixá-lo sozinho.

Só de olhar me fez muito bem, pessoas unidas, rindo, se tocando, olhando o

céu, se olhando, lindo.

Vou voltar.

(Marília Eiras Gerhardt – 58 anos)

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Já fiquei assistindo duas vezes. Achei lindo, até chorei. Acho que deve ser

gostoso, deve acalmar, faz ficar mais alegre. Todo mundo parece feliz. Eu não tenho

coragem, tenho vergonha, medo de pagar “mico”. É bom para os outros.

(Maria Lúcia – 53 anos)

* * *

Gostei muito de ficar assistindo. É alegre, a pessoa vive a vida. A música tira

as pessoas da depressão da idade (eu tenho depressão, toco violino e melhoro). Vejo que

as pessoas que fazem a aula, ficam mais à vontade. Dá vontade de particpar, mas eu

estou de guarda.

(Pedro Paulo Campos – Guarda do Museu - 54 anos)

* * *

É uma coisa diferente. Se fosse num outro lugar que não o lugar do meu

trabalho eu ia fazer. Aqui o pessoal ia ficar chateando depois. Olhando a aula é

descontração, alegria.

(Luis Carlos – Guarda do Museu - 27 anos)

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7. CONCLUSÃO:

Ao concluir esta monografia, queremos registrar algumas avaliações sobre

UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO, e para tanto, utilizaremos os

objetivos propostos na sessão 4.1, assinalados nos tópicos relacionados abaixo:

- Conexão e celebração da vida em espaço aberto

- Ação Social da Biodanza

- Divulgação do Movimento Biodanza

- Construir e “ser construído”.

Em relação à proposta de conexão e celebração da vida em espaço aberto,

temos podido observar, através dos depoimentos dos participantes e de sua expressão

corporal ao término de cada sessão que:

- Os participantes se sentem ao final energizados, alegres, leves, em conexão

com a natureza.

Cabe-nos ainda assinalar que a presença dos “observadores” não tem

prejudicado a vivência dos participantes, uma vez que cuidamos da integração afetiva

do grupo e do continente para gerar confiança e entrega.

Em relação ao depoimento das pessoas, algumas declararam dificuldades no

início da sessão, com a possibilidade de estarem sendo observadas pelos passantes,

sentindo uma certa timidez que aos poucos, com o fluir da emoção, foi se dissipando.

Somente um participante declara sua dificuldade em se “concentrar na aula com tanta

gente em volta”.

O contato direto com elementos da natureza (sol, vento, canto dos pássaros,

flores, etc...) é, além do cuidado com a escolha de músicas e exercícios, um grande

facilitador da integração e sensibilização dos participantes, como pudemos observar em

vários relatos.

A ação social da Biodanza se manifesta em vários níveis neste trabalho aberto:

Contribuição para transformação de atitudes anti-vida em atitudes pró-vida.

Uma pessoa confidenciou no relato verbal que sua timidez era tamanha que no

início ficava de longe, sentada, vendo as vivências, depois conseguiu participar de uma

sessão e agora estava feliz por poder confiar e contar ao grupo a sua mudança.

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Outra destacou que há muitos anos, ela e uma senhora também participantes se

conhecem, fazem caminhadas diariamente, são vizinhas. Quando ao final de uma

vivência, trocaram emocionadas um abraço, descobriram, surpresas, que nunca até então

haviam expressado algum gesto afetivo.

Como manifestação de quebra de tabus, senhoras idosas que apesar de

declararem que o marido não pode saber, participam da aula e dançam no centro da

roda.

Consideramos que nosso objetivo foi alcançado em relação a ação social. Uma

vez que nosso trabalho conta com a participação de pessoas de idades, situação

financeira, cultural e social diferentes irmanadas pela mesma emoção de “pertencer” ao

todo.

Ao final de cada encontro, presenciamos a alegria das pessoas, algumas se

despedindo com abraços fraternos, combinando voltar no próximo mês.

Em relação á divulgação do Movimento Biodanza temos a considerar que:

Nosso trabalho em espaço aberto já é conhecido por um número razoável de

pessoas, inclusive de outras cidades.

Já recebemos pessoas por indicação de outras, que em visita vivenciaram o

nosso encontro mensal.

Observamos que a atitude crítica, indiferente ou até mesmo zombeteria de

algumas pessoas do nosso convívio quase cotidiano no trabalho ou em situações sociais,

tem se modificado para a de respeito ou compreensão da importância da Biodanza,

depois que “assistiram” ou ao menos viram a proposta e sua seriedade, quando passaram

pelo pátio do Museu Imperial caminhando.

Em relação ao preconceito contra o Sistema Rolando Toro, temos constatado

que diminuiu bastante. A curiosidade ainda motiva algumas pessoas. Elas vêm ver o

trabalho e declaram: “ó, vim só para ver”.

Precisamos de uma divulgação mais maciça e também um patrocinador. Após

nossa titulação, estes serão os pontos que objetivaremos.

Como já citamos na sessão de Metodologia, os nossos encontros abertos são

construídos junto com os participantes a partir da chegada deles, ou seja, da definição

do perfil do grupo, e sua predominância: crianças, adultos, idosos.

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É uma construção no momento em que o trabalho está sendo, sem, entretanto,

se caracterizar, conforme diria mestre Carlos Garcia, como facilitação “silvestre” – ou

seja – sem planejamento, sem saber onde chegar.

A corrente de pensamento que é atualmente designada de “Construtivismo”

parece estar em sincronia com o que vivemos nesta proposta:

O Construtivismo, entretanto, desenvolve uma teoria de conhecimento segundo

a qual este já não se refere a uma realidade ontológica “externa” senão ao ordenamento

e organização de um mundo constituído por nossas experiências. Concorda com Piaget:

“a inteligência organiza o mundo organizando-se a si mesma”. (1)

Enquanto filósofos, educadores e pensadores apresentam uma teoria ligada ao

“conhecimento”, à “inteligência”, nosso trabalho se constrói vivencialmente,

despertando a “inteligência das células” (inconsciente vital) que reflete a característica

da própria vida, que se constrói sendo, que se constrói vivendo.

Assim, o facilitador ao mediar a vivência de outros está sendo ele mesmo

construído neste processo. A construção nos abre oportunidades e caminhos novos.

Um dos maiores desafios a transcender foi o da ansiedade diante da não

possibilidade de saber antecipadamente a constituição do grupo. Hoje em dia, com

nossa experiência, isto quase não ocorre.

Durante estes anos, muito temos caminhado em nossa tarefa de autopoiese.

Buscamos compartilhar com alegria, amor e prazer a vivência de conexão e celebração

da vida e também transcender nossos limites, sentindo a unicidade com nossos

semelhantes e a natureza.

Os olhos se encontram, se dizem coisas que até então ninguém imaginava.

Ouvimos com a pele a música que todo o corpo dança. Sentimos com a língua o calor

dos raios do sol. E dançamos... Dançamos com o outro, com a natureza... a grande

dança cósmica de plenitude solidária e AMOR.

A roda continua girando... e assim o nosso trabalho, as nossas vivências, que

esperamos, possam motivar ou auxiliar outros trabalhos similares.

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8. BIBLIOGRAFIA

GARCIA, Carlos. Biodanza el Arte de Danzar la Vida. Dezembro, 1998.

GÓIS, Cezar Wagner de Lima. Inventário de Exercícios de Biodanza - Sistema Rolando

Toro. Fortaleza, 1983.

GÓIS, Cezar Wagner de Lima. Vivência: Caminho à Identidade. Fortaleza, Editora

Viver, 1995.

LEMOS, Sanclair. A Vivência de Transcendência. Porto Alegre, Cadernos de Biodanza,

E.G.B., 1996.

LOVELOCK, James. As Eras de Gaia: a biografia da nossa Terra viva. Rio de Janeiro,

Editora Campos, 1991.

MATURANA, Humberto. Emociones y Lenguaje en Educacion y Politica. Santiago-

Chile, Coleccion – Hachette/Comunicacion, Sexta Edicion, 1992.

MATURANA, Humberto & VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento: as

bases biológicas do entendimento humano. São Paulo, Editorial Psy II, 1995.

MOURA, Maria Betania de & TEXEIRA, Maria Suely Antunes. Introdução a uma

Sistematização das Consignas em Biodança. Trabalho elaborado visando à titulação

como facilitador de Biodança junto à ALAB. Dezembro, 1990.

RIBAS, Angela. Biodança: uma porta para a vida. São Paulo, Editora Gente, 1995.

SANTOS, Maria Lúcia Pessoa. Metodologia em Biodanza: primeiros passos, Belo

Horizonte, 1996.

TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. I a IV. Fortaleza, Editora

ALAB, 1991.

TORO, Rolando. Fundamentos Biológicos de Biodanza. Curso de Formacion de

Didactas – Modulo 3.

TROTTE, Francico. Fundamentos Básicos em Biodança; Sistema Rolando Toro, Rio de

Janeiro, 2983.

VASCONCELLOS, Vera M. R. de & VALSINER, Jaan. Perspectiva Co-construtivista

na Psicologia e na Educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995.

WERNECK, Lois Doria & COELHO, Margarete de Souza. Projeto Vivências de

Biodança na Natureza. Trabalho elaborado visando à titulação como facilitador de

Biodança junto à ALAB. Rio de Janeiro, 1994.

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9. NOTAS

SEÇÃO 2

(1) TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Vol. I, p. 2.

(2) TORO, Rolando. Fundamentos Biológicos de Biodanza. Curso de Formacion de

Didactas, p. 5

(3) TORO, Rolando. Teoria da Biodança: Coletânea de textos. Vol. I, p. 34.

(4) idem p. 35

(5) idem p.10

(6) idem p.10

(7) idem p. 11

(8) GARCIA, Carlos. Biodanza El Arte de Danzar La Vida, p. 47

SEÇÃO 4

(1) TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Vol. I, p. 35

(2) Idem p. 33

(3) Idem p. 34

(4) LOVELOCK, James. As Eras de Gaia: A biografia da nossa terra viva, p. 16.

(5) Idem p. 206 e 221

(6) TORO, op. cit, p. 10

(7) LOVELOCK, op cit, p. 21

(8) MATURANA, Humberto. Emociones Lenguaje en Educacion y Politica, p. 22 e 28

(9) TORO, op. cit, p. 105 e 106.

(10) WERNECK, Lois Doria & Coelho, Margarete de Souza. Projeto Vivências de

Biodança na Natureza, p. 18.

SEÇÃO 5

(1) TORO, Rolando. Teoria da Biodança: coletânea de textos. Vol. III, p. 608

(2) Idem, Vol. II, p. 401

(3) Idem, Vol. II, p. 440

(4) Idem, Vol. III, p. 459

(9) TORO, Rolando. Fundamentos Biológicos de Biodanza. Curso de Formacion de

Didactas, p. 15

CONCLUSÃO

(1) Em apostila sobre:

GLASERFELD, Ernst Von. A Realidade Inventada: Introdução ao Construtivismo

Radical.

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FOTOS

CAPA: Sincronização Rítmica a dois

PÁGINA 1:

1 Roda para Apresentação do Trabalho

2 Dança Alegre em Grupo de Três

3 Dar e Receber a Flor

PÁGINA 2:

1 Exercício de Fluidez

2 Dança a dois de Fluidez com a Esfera

3 Estátua Viva

PÁGINA 3:

1 Encontros de Despedida

2 Roda de Embalar

3 Roda de Celebração

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 07

2. CONCEITOS NORTEADORES DO TRABALHO ................................ 09

2.1- Definição de Biodanza ......................................................................... 09

2.2- Princípio Biocêntrico ........................................................................... 10

2.3- Princípios Básicos ................................................................................ 12

2.4- Vivência ............................................................................................... 13

3. HISTÓRICO ................................................................................................ 15

4. UMA PROPOSTA ABERTA EM ESPAÇO ABERTO – BIODANZA

NO MUSEU IMPERIAL ................................................................................... 17

4.1- Objetivos .............................................................................................. 17

4.2- Justificativa .......................................................................................... 18

4.3 - Exigências da Instituição ..................................................................... 21

4.4 - O Projeto “O Museu é Nosso” ............................................................. 22

4.5 - O Espaço .............................................................................................. 23

4.6 - Recursos para a viabilização do trabalho ............................................. 25

4.6.1 - Divulgação ............................................................................... 25

4.6.2 - Recursos Materiais .................................................................. 25

4.6.3 - Recursos Humanos .................................................................. 26

5. METODOLOGIA ....................................................................................... 27

5.1 - Elaboração das Sessões ........................................................................ 27

5.2 - Público Alvo ......................................................................................... 30

5.3 - O Primeiro Encontro ............................................................................ 31

5.4 - A Continuidade do Trabalho ................................................................ 33

5.5 - O Grupo ............................................................................................... 34

5.6 - Linhas de Vivência: Exercícios utilizados ou não utilizados ............... 37

5.7 - Músicas ................................................................................................ 45

6. DEPOIMENTOS ......................................................................................... 48

7. CONCLUSÃO .............................................................................................. 52

8. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 55

9. NOTAS ......................................................................................................... 56

10. APÊNDICES ................................................................................................

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