uma princesa de marte barsoom - - edgar rice burroughs

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  • DADOS DECOPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizadapela equipe Le Livros e seusdiversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedopara uso parcial em pesquisas eestudos acadmicos, bem como osimples teste da qualidade daobra, com o fim exclusivo de

  • compra futura.

    expressamente proibida etotalmente repudavel a venda,aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo

    Sobre ns:

    O Le Livros e seus parceiros,disponibilizam contedo dedominio publico e propriedadeintelectual de forma totalmentegratuita, por acreditar que oconhecimento e a educaodevem ser acessveis e livres atoda e qualquer pessoa. Voc

  • pode encontrar mais obras emnosso site: LeLivros.Info ou emqualquer um dos sites parceirosapresentados neste link.

    Quando o mundo estiver unidona busca do conhecimento, e

    no mais lutando por dinheiro epoder, ento nossa sociedade

    poder enfim evoluir a um novonvel.

  • Traduo Ricardo Giassetti

  • Para meu filho Jack

  • Prefcio - AO LEITORDESTE TRABALHO

    Ao oferecer a voc o

    estranho manuscrito doCapito Carter em forma delivro, acredito que algumaspoucas palavras relativas aessa marcante personalidadesejam de interesse.

    Minha primeiralembrana do Capito Cartervem de sua estada de alguns

  • meses na casa de meu pai, naVirgnia, imediatamenteantes do comeo da GuerraCivil. Na poca, eu era umacriana de uns cinco anos,mas continuo me lembrandobem do homem alto, atltico,moreno, de rosto brilhante, aquem eu chamava de TioJack.

    Ele parecia estar sempresorrindo, e entrava nasbrincadeiras das crianas coma mesma camaradagemsincera que demonstrava

  • queles passatempos aosquais os homens e mulheresde sua idade se dedicavam.Ou, ento, ele se sentava poruma hora inteira entretendominha velha av comhistrias de sua vida estranhae perigosa inundo afora.Todos o amavam, e nossosescravos praticamenteveneravam o cho no qual elepisava.

    Ele era um esplndidoexemplo de masculinidade,chegando a quase um metro e

  • noventa de altura, de ombroslargos e quadril estreito, como porte de um lutador bemtreinado. Suas feies eramregulares e bem denidas,seu cabelo preto cortadorente, enquanto seus olhoseram de um cinza-ao,reetindo uma personalidadeforte e leal, cheia de fulgor einiciativa. S eus modos eramperfeitos e sua cortesia era amesma de um tpicocavalheiro do sul da mais altaestirpe.

  • S eu estilo ao cavalgar,especialmente na caa raposa, maravilhava eimpressionava, mesmonaquele recanto demagncos cavaleiros. Ouvicom freqncia meu paiadverti-lo quanto a suaousadia desenfreada, mas eleapenas ria e dizia que a quedaque o mataria seria causadapor um cavalo que ainda nohavia nascido. Quando aguerra comeou, ele partiu eno o vi novamente pelos

  • prximos quinze ou dezesseisanos. Quando retornou, foisem aviso, e quei bastantesurpreso ao perceber que eleno havia envelhecido sequerum segundo, que suas feiesno haviam mudado. Quandoestava na companhia deoutros, ele era o mesmocamarada genial e feliz queconhecamos h tempos; masquando cava a ss com seuspensamentos, eu o via sentar-se por horas a o, olhando onada, seu rosto assumindo

  • um ar de espera melanclicae completa desolao. E noite, ele se sentava olhandopara o cu; procurando o qu,eu no sabia at ler estemanuscrito anos depois. Elenos disse que haviaprospectado e minerado noArizona durante uma partedo tempo desde a guerra, eque havia sido bem-sucedidoera evidente dada a quantiailimitada de dinheiro quepossua. Quanto aos detalhesde sua vida durante esses

  • anos, ele era reticente. Naverdade, ele no falava sobreisso, em absoluto.

    Ele cou conosco porcerca de um ano e ento foipara Nova York, onde haviaadquirido um recanto smargens do Hudson. Passei avisit-lo uma vez por anoquando viajava para NovaYork - onde, na poca, meupai e eu comprvamossuprimentos para abastecernossa rede de lojas dedepartamentos no Estado da

  • Virgnia. O Capito Cartertinha uma pequena, mas belacasa em uma escarpadebruada sobre o rio. E emuma das minhas ltimasvisitas, no inverno de 1885,observei que ele estava muitoocupado escrevendo,presumo agora, estemanuscrito.

    Ele me pediu na pocaque, caso algo acontecesse aele, eu me encarregasse deseus bens. D eu-me uma cpiada chave para um

  • compartimento do cofre quecava em seu estdio,dizendo que ali euencontraria seu testamento,alm de algumas instruespessoais s quais me fezprometer obedecer comabsoluto rigor. D epois queme retirei para dormir, pudev-lo de minha janela, em psob o luar e na beira dopenhasco sobre o Hudsoncom os braos para o alto,como que em um apelo.Pensei que estivesse rezando,

  • apesar de nunca terimaginado que ele fosse umhomem religioso, no sentidoestrito da palavra.

    Vrios meses depois deretornar para casa apsminha ltima visita - creioque por volta do dia 1 demaro de 1886 -, recebi umtelegrama dele me pedindoque voltasse imediatamente.Sempre fui seu favorito entrea gerao mais nova dosCarters, ento me apresseiem cumprir seu pedido.

  • D esembarquei napequena estao a cerca deum quilmetro e meio desuas terras na manh de 4 demaro de 1886. E quando pediao cocheiro que me levasseat o Capito Carter, elerespondeu que, caso eu fossealgum amigo do Capito,teria notcias muito ruins adar. O Capito foraencontrado morto pelo vigiade uma propriedade vizinhalogo aps o amanhecerdaquele dia.

  • Por alguma razo suaspalavras no mesurpreenderam, masapressei-me para o local omais rpido possvel parapoder cuidar do corpo e dosservios. Encontrei o vigiaque o havia descoberto juntoa um policial local e a vrioscidados reunidos em seupequeno estdio. O vigiarelatou os poucos detalhesligados ao corpo que,segundo ele, ainda estavaquente quando o achou.

  • Estava deitado, disse ele,estirado na neve, na direoda escarpa, com os braosabertos sobre sua cabea.Quando ele me mostrou olugar, lembrei-me de que erao mesmo ponto onde eu ohavia visto naquelas outrasnoites, com seus braos parao alto, suplicando aos cus.

    No havia marcas deviolncia em seu corpo, e coma ajuda de um mdico local osinvestigadores chegaram concluso de que a causa da

  • morte fora um ataquecardaco. S ozinho no estdio,abri o cofre e retirei ocontedo da gaveta onde elehavia dito que eu encontrariaas minhas instrues. Eram,em parte, realmentepeculiares, mas as segui commxima dedicao at osltimos detalhes.

    Ele me orientava a levarseu corpo para a Virgnia semembalsam-lo, e que fossecolocado em um caixo abertodentro de uma tumba que ele

  • mesmo havia construdopreviamente. A tumba, comoeu saberia posteriormente,era muito bem ventilada. Asinstrues me obrigavam asupervisionar pessoalmenteos servi- os, tal como forapedido, mesmo que em sigilo,se necessrio.

    S ua propriedade foimantida de tal forma que eurecebesse os lucros durantevinte e cinco anos, aps osquais o imvel se tornariameu. S uas prximas

  • instrues eram relacionadasa este manuscrito, que eudeveria manter lacrado e emsegredo, do modo como ohavia encontrado, por onzeanos. E no deveria divulgarseu contedo antes que vintee um anos se passassem desua morte.

    Um detalhe estranhosobre a tumba na qual seucorpo ainda repousa: apesada porta, equipada comuma nica grande fechadurafolheada a ouro, s pode ser

  • aberta de dentro para fora.

    Sinceramente,Edgar Rice Burroughs

  • Captulo 01 - NASCOLINAS DO

    ARIZONA

    S ou um homem muito velho.O quanto, eu no sei. possvel que eu tenha cemanos, talvez mais, mas noposso calcular porque nuncaenvelheci como os outros, ousequer lembro de minhainfncia. Por mais que tenteme lembrar, sempre fui umhomem, um homem de uns

  • trinta anos. Minha aparnciahoje a mesma de quarentaanos atrs, talvez mais;mesmo assim, sinto que noviverei para sempre, quealgum dia morrerei averdadeira morte da qual noh ressurreio. No sei porque eu deveria temer a morte.Eu, que morri duas vezes econtinuo vivo. Mas continuotendo o mesmo medo dealgum que, como voc,nunca morreu antes. E porcausa desse terror pela morte

  • que, acredito, continuo toconvencido de minhamortalidade. Por causa dessaconvico, decidi escrever ahistria dos perodosinteressantes da minha vida emorte. No posso explicar talfenmeno, mas apenasregistrar aqui, com aspalavras de um simplessoldado, a crnica dosestranhos eventos que seabateram sobre mim duranteos dez anos em que meucadver descansou em

  • segredo em uma caverna doArizona.

    Nunca contei esta histriaantes e homem algum develer este manuscrito antes queeu tenha partido para aeternidade. S ei que, demaneira geral, a mentehumana no acreditar noque no pode captar, etambm no pretendo serridicularizado pelo pblico,pelos oradores e pelaimprensa, ser apregoadocomo um grande mentiroso

  • quando no estou dizendonada alm da pura verdadeque algum dia a cinciacomprovar. provvel queas informaes que arrecadeisobre Marte e oconhecimento que transcrevonestas crnicas ajudem emum primeiro entendimentodos mistrios de nossoplaneta parente. Mistriospara voc, no mais paramim.

    Meu nome J ohn Carter,mais conhecido como Capito

  • J ack Carter, da Virgnia. Nonal da Guerra Civil minhasposses somavam muitascentenas de milhares dedlares (confederados) e oposto de capitocomissionado da cavalaria deum exrcito que no maisexistia. Eu era o servo de umEstado que havia evaporadojunto com as esperanas doSul. S em a quem responder,sem dinheiro e com meusmeios de sobrevivncia edefesa perdidos, decidi partir

  • para o sudoeste e tentarrecuperar minhas riquezasbuscando por ouro.

    Passei quase um anoprospectando na companhiade outro ocial confederado,o Capito J ames K. Powell, deRichmond. Tivemos muitasorte quando, no nal doinverno de 1865, aps muitoesforo e privao,localizamos o mais notvelveio de ouro que nem nossossonhos mais deliranteshaviam ousado. Powell,

  • engenheiro de minas porformao, armou quehavamos descoberto mais deum milho de dlares domineral a serem extrados emmeros trs meses. Nossosequipamentos eram torsticos que decidimos queum de ns voltaria civilizao, compraria omaquinrio necessrio eretornaria com um nmerosuciente de homens aptospara trabalhar na mina. PorPowell conhecer melhor a

  • regio e tambm serfamiliarizado com osrequerimentos tcnicos paraminerao, decidimos que eleseria a melhor escolha parafazer a viagem. Concordamosque seria eu a defender nossaposse na remotapossibilidade de umexplorador errante tentartom-la.

    No dia 3 de maro de1866, Powell e eu amarramossuas provises em dois denossos burros e nos

  • despedimos quando montouno cavalo e comeou a descera colina na direo do vale,rumo primeira etapa de suaviagem.

    A manh da partida dePowell estava clara e bela,assim como quase todas asmanhs no Arizona. Eu podiav- lo e a seus animais em suarota montanha abaixo.D urante toda a manh, eu osavistava no topo de algumaencosta ou planalto. Vi Powellpela ltima vez por volta das

  • trs da tarde, quando eleadentrou as sombras dasmontanhas do outro lado dovale. Cerca de meia horadepois, ao olhar casualmentesobre o vale, notei, surpreso,trs pequenos pontos pertodo mesmo lugar onde haviavisto meu amigo e seus doisanimais de carga pela ltimavez. No sou dado a mepreocupar toa, mas quantomais tentava acreditar quetudo estava bem com Powell -que aqueles pontos que vi em

  • sua trilha eram antlopes oucavalos selvagens -, menosconseguia me convencer.

    D esde que entramos noterritrio, no avistamossequer um ndio hostil. E,tambm, nos tornamosextremamente descuidados.Costumvamos ridicularizaras histrias que ouvimossobre os inmeros assaltantesque patrulhavam as trilhas,cobrando seu pedgio naforma de vidas e tortura aqualquer grupo de brancos

  • que aparecesse em seucaminho.

    Eu sabia que Powell estavabem armado e, alm disso,tinha experincia emenfrentar ndios. Mas eutambm havia sobrevivido elutado anos a o entre ossioux no

    Norte e sabia que suaschances seriam pequenascontra um grupo deastuciosos apaches em seuencalo. Finalmente, nopude mais suportar o

  • suspense e, armado commeus dois revlveres Colt euma carabina, ajustei doiscintos de cartuchos sobremim, montei em meu cavaloarreado e desci pela mesmatrilha de Powell.

    Assim que cheguei plancie, incitei meu cavalo ameia-marcha, quando erapraticvel, at que perto docrepsculo encontrei o pontoonde outros rastros sejuntavam aos de Powell. Eramrastros de pneis desferrados,

  • trs deles, e vieram a galope.S egui as pegadasrapidamente at a escuridototal, sendo forado a esperara lua nascente, tempo em quetive a oportunidade deespecular se minhaperseguio era sbia. provvel que eu tenhacogitado perigos impossveiscomo alguma dona de casapreocupada e que, quando eualcanasse Powell, daramosgargalhadas de meusofrimento. Porm, no sou

  • inclinado a sensibilidade.S eguir o chamado do dever,onde quer que me leve,sempre foi uma espcie defetiche durante toda a minhavida, o que deve ser o motivodas honras recebidas pormim por trs repblicas,condecoraes e a amizade deum velho e poderosoimperador e outros tantosreis menores a servio dosquais minha espada semanchou de vermelho muitasvezes.

  • Por volta das nove horas, alua estava sucientementeclara para que euprosseguisse meu caminhosem maiores diculdades emrastrear a trilha a passoslargos e, em alguns pontos, atrote ligeiro. Por volta dameia- noite alcancei o pooonde Powell deveria acampar.Cheguei ao localcautelosamente, mas estavadeserto e sem sinais recentesde acampamento. Fiqueisurpreso ao ver que os rastros

  • dos perseguidores - poisagora sabia que realmente oeram - continuaram seguindoPowell aps uma breveparada no poo. E mantinhama mesma velocidade que adele. Eu estava convencido deque os perseguidores eramapaches e que queriamcapturar Powell vivo peloprazer maquiavlico datortura. Aticei meu cavaloadiante, em galope aindamais perigoso, na esperanade alcan-los antes que os

  • covardes o atacassem. Outrasconjeturas foramsubitamente suspensas pelosom ao longe de dois tiros minha frente. Eu sabia quePowell precisava de mimnaquele derradeiro momentoe, imediatamente, esporeimeu cavalo subindo o maisrpido possvel pela trilhaestreita e difcil montanhaacima.

    Eu havia percorrido cercade um quilmetro e meio oumais sem ouvir outros sons

  • quando a trilha subitamentedesembocou em umapequena clareira perto dotopo do caminho. Eu haviapassado por um desladeiroalto e estreito antes de chegar clareira, e a viso com a qualme deparei encheu meusolhos de confuso e terror.

    A pequena extenso deterra plana estava branca detantas tendas, e haviaprovavelmente cinqentaguerreiros ndios amontoadosem volta de um objeto no

  • centro do acampamento. Suaateno estava to xada noobjeto em questo que sequerme notaram, e eu poderia terfacilmente recuado para assombras do desladeiro eescapado em perfeitasegurana. O fato de essepensamento no ter meocorrido at o dia seguinteanula qualquer direito dereclamar herosmo de minhaparte, coisa que a narraodeste episdio poderia fazercair sobre mim.

  • No acho que eu seja feitodo material que soconstrudos os heris porque,em todas as vezes que meusatos voluntrios mecolocaram face a face com amorte, no me lembro denenhuma em que pensei emoutra alternativa at algumashoras depois. Minha mente evidentemente constituda deforma a me forar aochamado do dever sem queseja preciso um cansativoprocesso mental. Mas, de

  • qualquer maneira, nunca mearrependi por no ter acovardia como opo. S endoassim, eu estava certo de quePowell era o centro daateno, mas se pensei ou agiprimeiro, no sei. No mesmoinstante em que a cena sedesdobrou diante de mim, euj havia sacado meusrevlveres e estavadisparando contra o exrcitode guerreiros inimigos,atirando rpido e gritando aplenos pulmes. Sozinho, eu

  • no poderia ter escolhidomelhor ttica, uma vez que osvermelhos, convencidos pelasurpresa de que nada menosque todo um regimentoestava sobre eles, correramem todas as direes embusca de seus arcos, echas erifles.

    A sensao que essa fugadesabalada me apresentou foide apreenso e raiva. S ob osraios claros do luar doArizona, jazia Powell, seucorpo crispado pelas echas

  • hostis dos ndios. Eu estavacompletamente convencidode que ele j estava morto,mas mesmo assim salvariaseu corpo da mutilao pelasmos dos apaches to rpidoquanto o salvaria de umamorte certa. Cavalguei paraperto dele e desci da sela.Segurando-o pelo cinturo decartuchos, coloquei-o nascostas de minha debilitadamontaria. Um breve olharpara trs me convenceu deque retornar pelo mesmo

  • caminho por onde tinhavindo seria mais perigoso doque continuar atravs doplat. Ento, esporando meupobre animal, acelerei nadireo da abertura dapassagem que eu conseguiadistinguir do outro lado daplancie.

    A essa altura os ndios jhaviam descoberto que euestava sozinho e fuiperseguido por imprecaes,echas e tiros de ries. Comoapenas imprecaes so

  • fceis de se mirar sob a luz dalua, e em razo de estaremirritados com o modo sbitocom que cheguei e de eu serum alvo em movimento,consegui me salvar de vriosprojteis mortais inimigos atalcanar as sombras dos picosao redor antes que meusperseguidores pudessem seorganizar. Meu animalcavalgava praticamente semser guiado porque eu sabiaque, provavelmente, eu tinhamenos noo da localizao

  • da trilha para a passagem doque ele. Assim, ocorreu queele adentrou um desladeiroque levava ao topo dasmontanhas e no passagempela qual eu ansiava me levarao vale e segurana. provvel, porm, que eu devaminha vida a este fato e smarcantes experincias eaventuras que recaram sobremim pelos prximos dezanos. O primeiro aviso de queeu estava na trilha errada veioquando ouvi os gritos dos

  • perseguidores selvagensrapidamente se tornandomais e mais distantes do meulado esquerdo.

    Eu sabia que eles haviampassado pela esquerda daformao de rochas pontudasna beira do plat, direita daqual meu cavalo havia noscarregado, a mim e o corpo dePowell.

    I nterrompi meu avanoem um pequeno promontrioplano com vista para a trilhaabaixo e esquerda, e vi o

  • grupo de selvagensperseguidores desaparecendoem uma rea prxima ao picovizinho.

    Eu sabia que os ndioslogo descobririam queestavam na trilha errada eque a busca por mim seriaretomada na direo corretaassim que localizassemminhas pegadas.

    Eu havia percorridoapenas uma pequenadistncia quando o quepareceu ser uma excelente

  • trilha abriu-se perto da facede um alto penhasco. A trilhaera plana, bastante ampla eseguia para cima na direoem que eu desejava seguir. Openhasco erguia-se porcentenas de metros minhadireita e, minha esquerda,havia uma queda similar equase perpendicular para ofundo de uma ravina rochosa.

    S egui por essa trilha portalvez uns cem metrosquando uma curva acentuadapara a direita levou-me at a

  • boca de uma grande caverna.A abertura tinhaaproximadamente um metroe vinte de altura e cerca deoutro metro de largura. Aliacabava a trilha. J era manhe, com a costumeira ausnciade alvorada - umasurpreendente caractersticado Arizona o dia haviasurgido quase sem aviso.

    Desmontei, estendi Powellno cho, mas um exame maisdetalhado no revelou amenor centelha de vida. Verti

  • gua de meu cantil por entreseus lbios mortos, banheisua face e esfreguei suasmos, tentei reanim- loincessantemente por quaseuma hora, mesmo sabendoque ele j estava morto.

    Eu tinha muito apreo porPowell, que era um homemcompleto em todos osaspectos, um renadocavalheiro sulista, um amigoleal e verdadeiro, e foi comum sentimento do maisprofundo pesar que

  • nalmente desisti de minhasgrosseiras tentativas deressuscit-lo. D eixando ocorpo de Powell depositadona borda, rastejei para ointerior da caverna para umreconhecimento do terreno.

    Encontrei uma grandecmara com possivelmentetrinta metros de dimetro edez ou doze metros de altura,um piso liso e bastantedesgastado, e muitas outrasevidncias de que a cavernahavia, em algum perodo

  • remoto, sido habitada. Ofundo da caverna estava toperdido na densa escuridoque no pude distinguir sehavia aberturas para outrosaposentos ou no.

    Enquanto continuava meuexame, comecei a ser tomadopor uma agradvelsonolncia, a qual atribu fadiga de minha longa erdua cavalgada e excitaoda luta e da perseguio.S enti-me relativamenteseguro em minha posio

  • atual, j que sabia que umhomem s seria capaz dedefender a trilha para acaverna contra todo umexrcito.

    Logo quei to sonolentoque quase no pude resistirao forte desejo de me jogarno cho da caverna paradescansar por algunsmomentos, mas eu sabia queesta no era uma opo, jque signicaria a morte certanas mos de meus amigos depele vermelha, que poderiam

  • atacar a qualquer momento.Com esforo, comecei a medirigir para a abertura dacaverna apenas paracambalear, como queembriagado, contra umaparede lateral, e da deslizarde bruos para o cho.

  • Captulo 02 - A FUGADA MORTE

    Uma sensao de deliciosalanguidez se abateu sobremim, meus msculosrelaxaram e estava a ponto deme entregar ao desejo dedormir quando o som decavalos se aproximandochegou aos meus ouvidos.Tentei me erguer, mas queihorrorizado em descobrir quemeus msculos se recusavam

  • a responder aos meuscomandos. Eu continuavacompletamente desperto,mas incapaz de mover ummsculo sequer, como setivesse me transformado empedra. Foi ento, pelaprimeira vez, que notei umleve vapor preenchendo acaverna. Era extremamentetnue e s podia ser notadocontra a abertura que levava luz do dia. Tambm chegous minhas narinas um odorligeiramente acre, e pude

  • apenas supor que eu haviasido abatido por algum gsvenenoso. Mas, comomantinha a conscincia eainda assim estavaincapacitado de me mover,era algo que no conseguiacompreender.

    Eu havia me deitadovoltado para a abertura dacaverna, de onde podia verum pequeno trecho da trilhaque se encontrava entre acaverna e a curva dopenhasco ao redor do qual a

  • trilha passava. O barulho decavalos se aproximando haviacessado e julguei que osndios estivessem rastejandofurtivamente em minhadireo ao longo da pequenasalincia que levava minhatumba em vida. Lembro-mede ter desejado queacabassem comigorapidamente, j que no tinhanenhum apreo especial pelaidia das incontveis coisasque poderiam fazer comigocaso lhes aprouvesse. No

  • precisei esperar muito atque um som furtivo meinformasse de suaproximidade e, em seguida,um rosto encoberto por umchapu e com listras pintadasesticou-se cuidadosamenteprximo da borda dopenhasco. E olhos selvagensencontraram os meus. Tinhacerteza de que ele podia mever na mortia luz da caverna,uma vez que toda a luz do solnascente projetava-se sobremim pela abertura. O ndio,

  • em vez de se aproximar,simplesmente parou eencarou-me. S eus olhossaltando das rbitas e seuqueixo cado. E ento outrorosto selvagem apareceu, eum terceiro e um quarto e umquinto, erguendo seuspescoos sobre os ombrosdos companheiros que noousavam ultrapassar aestreita fenda. Cada rostoconstitua uma imagem deassombro e medo, mas porqual razo no pude atinar,

  • nem vim a descobrir antesque se passassem dez anos.Era aparente que havia maisguerreiros por trs dos queme observavam, j que osprimeiros transmitiampalavras sussurrantes para osque se encontravam para trs.

    D e repente, um lamentobaixo, porm distinto, foiemitido nas profundezas dacaverna atrs de mim.Quando os ndios o ouviram,viraram-se e correramaterrorizados, assolados pelo

  • pnico. To furiosos foramseus esforos em escapar doser invisvel atrs de mim queum dos guerreiros foiimpetuosamentearremessado do penhascopara as rochas abaixo. S eusgritos desesperados ecoarampelo desladeiro por umcurto perodo de tempo, emais uma vez tudo cou emsilncio.

    O som que os haviaaterrorizado no se repetiu,mas foi suciente para que eu

  • comeasse a especular arespeito do possvel horroroculto nas sombras s minhascostas. O medo umsentimento relativo, de modoque s posso medir minhasimpresses naquele momentopor meio das situaes deperigo que vivi em perodosanteriores quele, ou pormeio das experincias quepassei desde ento; masposso armar sem nenhumavergonha que, se as sensaesque suportei durante os

  • minutos seguintes foram demedo, que D eus ajude ocovarde, pois a covardia ,sem sombra de dvidas, suaprpria punio.

    Estar paralisado de costaspara um perigo to horrvel edesconhecido, de cujo som osferozes guerreiros apachesfogem desenfreadamentecomo um rebanho de ovelhasfugiria de uma matilha delobos, me parece a ltimapalavra em situaesapavorantes para um homem

  • que sempre esteveacostumado a lutar por suavida com todas as foras desua poderosa constituio.D iversas vezes pensei terouvido sons dbeis atrs demim, como se algumestivesse se movendo comcuidado, mas nalmente atesses sons cessaram e fuideixado s, para contemplarminha prpria situao. Podiaapenas conjeturar vagamentea causa de minha paralisia eminha nica esperana era a

  • de que passasse de forma torepentina quanto se abateusobre mim. No nal da tarde,meu cavalo, que cara paradocom as rdeas soltas dianteda caverna, comeou a descerlentamente a trilha -evidentemente em busca decomida e gua -, e quei scom o misterioso edesconhecido companheiro ecom o corpo sem vida de meuamigo, que, dentro de meucampo de viso, jazia nasalincia em que o havia

  • colocado no incio da manh.D e l at possivelmente a

    meia-noite, tudo era silncio,o silncio da morte. Ento,repentinamente, o pavorosolamento da manh abateu-sesobre meus alarmadosouvidos, e novamente dassombras escuras veio o somde algo se movendo e umfraco murmrio, como o defolhas mortas. O choque parao meu j extenuado sistemanervoso foi terrvel aoextremo e, com um esforo

  • sobre-humano, esforcei-mepara quebrar meus terrveisgrilhes. Foi um esforo damente, da vontade, dosnervos; no muscular, poisno era capaz de mover nemmeu dedo mnimo, mas nomenos poderoso apesar detudo. E ento algo cedeu,houve uma momentneasensao de nusea, umbarulho agudo como o estalarde um o de ao, e me pusem p de costas contra aparede da caverna, encarando

  • meu inimigo desconhecido.A luz da lua inundou a

    caverna e, diante de mim,estava meu prprio corpo, namesma posio em que estevedeitado durante todasaquelas horas, com os olhosencarando a borda externa eas mos pousadasfrouxamente sobre o cho.Primeiro observei meu corposem vida sobre o cho dacaverna e, em seguida, olheipara mim mesmo em totalperplexidade, pois ali eu jazia

  • vestido, e, todavia, estava emp, nu como no momento demeu nascimento.

    A transio foi torepentina e to inesperadaque por um momento meesqueci de tudo, exceto minhaestranha metamorfose. Meuprimeiro pensamento foi:"Ento isso a morte!Realmente passei parasempre para aquela outravida!" Mas no podiaacreditar nisso, uma vez quesentia meu corao batendo

  • contra minhas costelas emvirtude do vigor de meuesforo em me libertar dotorpor que me haviaacometido. Minha respiraosaa em arfadas rpidas ecurtas, um suor frio saa decada poro de meu corpo e aantiga prtica do beliscorevelou o fato de que eu noera nada alm de umespectro.

    Minha ateno foi nova erepentinamente chamada devolta para os meus arredores

  • por uma repetio doestranho lamento vindo dasprofundezas da caverna.Minhas armas estavam atadasao meu corpo sem vida que,por alguma razo insondvel,me era impossvel toc-lo.Minha carabina estava em seucoldre, amarrada minhasela, e como meu cavalo haviafugido, fui deixado sem meiosde defesa. Minha nicaalternativa parecia ser a fuga,e minha deciso se cristalizoucom a recorrncia do rudo

  • daquilo que agora parecia, naescurido da caverna e paraminha imaginao distorcida,estar rastejando furtivamenteem minha direo.

    I ncapaz de resistir pormais tempo tentao defugir daquele lugar terrvel,pulei rapidamente atravs daabertura para a luz dasestrelas de uma noite clara doArizona. O ar fresco erevigorante das montanhasfora da caverna agiu como umtnico imediato e senti uma

  • vivacidade e coragemrenovadas uindo atravs demeu corpo. Parando naextremidade da abertura,repreendi- me pelo que,agora, parecia ser umaapreenso totalmenteinjusticada. Conjeturei quehavia permanecido deitado eindefeso durante muitashoras dentro da caverna, quenada me havia molestado, emeu bom senso, quandocapaz de seguir um raciocnioclaro e lgico, convenceu-me

  • de que os rudos que ouvideveriam ser resultado decausas puramente naturais einofensivas. Provavelmente, acongurao da caverna eratal que uma leve brisapoderia causar os sons queouvi.

    D ecidi investigar, masprimeiro ergui a cabea paraencher meus pulmes com opuro e revigorante ar noturnodas montanhas.

    Ao fazer isso, viestendendo-se muito abaixo

  • de mim a bela vista dodesladeiro rochoso e umaplancie pontilhada de cactos,transformada pela luz do luarem um milagre de doceesplendor e impressionanteencanto.

    Poucas maravilhas nooeste so mais inspiradorasque as belezas de umapaisagem banhada pelo luarno Arizona. As montanhasprateadas na distncia, asestranhas luzes e sombrassobre as encostas escarpadas,

  • os riachos e os detalhesinusitados dos rgidos e beloscactos formam uma imagemao mesmo tempo mgica einspiradora, como seestivssemos captando pelaprimeira vez o vislumbre dealgum mundo morto eesquecido, to diferente dequalquer outro recanto sobrea terra.

    Assim, parado emmeditao, desviei meu olharda paisagem para os cus, noqual uma mirade de estrelas

  • formava uma abbada para asmaravilhas da cena terrestre.Minha ateno foirapidamente desviada poruma grande estrela vermelhaprxima do horizontedistante. Ao mir-la, sentiuma esmagadora fascinao -era Marte, o deus da guerraque, para mim, homemlutador, sempre teve o poderde irresistvel seduo. Aoolhar para ele naquelalongnqua noite, o astroparecia me chamar atravs do

  • inconcebvel vazio,seduzindo- me, atraindo-mecomo o m atrai umapartcula de ferro.

    Meu desejo ultrapassavaqualquer obstculo. Fechei osolhos, estiquei meus braosem direo ao deus de minhavocao e senti-me atrado,com a rapidez dopensamento, atravs daincomensurvel imensido doespao. Houve um instante defrio extremo e absolutaescurido.

  • Captulo 03 - MINHACHEGADA A MARTE

    Abri meus olhos para umaestranha e bizarra paisagem.S abia que estava em Marte enem uma vez questioneiminha sanidade ou se estavaacordado. No estavadormindo, no havianecessidade de me beliscardessa vez. Minha conscinciadisse claramente que euestava em Marte da mesma

  • forma que sua mente lhe dizque voc est na Terra. Vocno questiona o fato, e eu noo questionei.

    Eu estava deitado debruos sobre uma camaamarelada, forrada com umavegetao parecida commusgo que se esticava ao meuredor em todas as direespor interminveisquilmetros. Eu parecia estardeitado num vale profundo ecircular, ao longo da bordaexterna, cujas irregularidades

  • das colinas baixas pudedistinguir.

    Era meio-dia, o solbrilhava com toda fora sobremim e o calor era intensosobre meu corpo nu, aindaque no mais forte do queteria sido em condiessimilares em um deserto doArizona.

    Aqui e ali havia levesaoramentos de pedras comquaro que cintilavam luzdo sol. Um pouco minhaesquerda, talvez a uns cem

  • metros, havia uma construobaixa e murada, com cercaum metro e meio de altura.No havia gua ou outravegetao a vista que no omusgo e, como estava comsede, resolvi fazer umapequena explorao.

    Ao dar impulso com meusps tive minha primeirasurpresa marciana. O esforo,que na Terra teria mecolocado em p, me fez subircerca de trs metros no armarciano. No entanto, pousei

  • suavemente no solo, semchoque ou batida dignos denota. Nesse momento teveincio uma srie de evoluesque mesmo na pocapareceram ridculas aoextremo. D escobri quedeveria aprender a andarnovamente, uma vez que oesforo muscular que mefazia caminhar de maneirafcil e segura na Terra mepregava uma estranha peaem Marte.

    Em vez de avanar de

  • forma digna e equilibrada,minhas tentativas decaminhar resultaram em umavariedade de saltos que mearremessavam para longe docho cerca de meio metro acada passo e terminavamcomigo de cara ou de costasno cho a cada dois ou trssaltos. Meus msculos,perfeitamente ajustados eacostumados fora dagravidade na Terra,brincavam de forma maldosaem minha primeira tentativa

  • de me ajustar gravidade e presso atmosfrica menoresde Marte.

    Contudo, eu estavadeterminado a explorar aestrutura baixa que constituaa nica evidncia dehabitao vista, de formaque me deparei por acasocom o plano singular dereverter ao primeiro princpioda locomoo, engatinhar.S ai-me sucientemente bemnisso, e em instantes haviaatingido o muro baixo e

  • circular da estrutura.A construo parecia no

    ter portas ou janelas nalateral mais prxima a mim,mas como o muro tinhapouco mais de um metro dealtura, me coloqueicuidadosamente em p eolhei sobre a parede para aviso mais estranha quejamais havia visto. O teto daestrutura era feito de vidroslido com cerca de dezcentmetros de espessura e,abaixo dele, havia vrias

  • centenas de grandes ovosperfeitamente redondos ebrancos como neve. Eles eramquase uniformes emtamanho, com cerca desessenta centmetros dealtura e um pouco menos dedimetro.

    Cinco ou seis ovos jhaviam chocado, e asgrotescas caricaturas que sesentavam piscando sob a luzdo sol foram sucientes parame fazer duvidar de minhasanidade. Pareciam ser

  • constitudas principalmentede uma cabea, corpopequeno e esqueltico,pescoo comprido e seispernas, ou, como aprendimais tarde, duas pernas edois braos, com um par demembros intermedirios quepodiam ser utilizados comobraos ou pernas, de acordocom a vontade. Os olhosestavam posicionados empontos extremos das lateraisda cabea, um pouco acimado centro, e se projetavam de

  • tal forma que poderiam olharpara a frente ou para trs deforma independente um dooutro, permitindo assim queo estranho animal olhasse emqualquer direo, ou em duasdirees ao mesmo tempo,sem a necessidade de virar acabea.

    As orelhas, um poucoacima dos olhos e prximasuma da outra, eram comopequenas antenas cncavasprojetando-se no mais doque uma polegada nesses

  • jovens espcimes. S eusnarizes no passavam defendas longitudinais no meiode suas faces, entre suasbocas e orelhas.

    No havia penas em seuscorpos, que apresentavam umleve tom amarelo-esverdeado.Nos adultos, como viria aaprender logo, essa corescurece at chegar a umverde-oliva e mais escuranos machos que nas fmeas.Alm disso, as cabeas dosadultos no so to

  • desproporcionais aos corposcomo no caso dos jovens.

    As ris eram vermelho-sangue, como nos albinos,enquanto a pupila era escura.O globo ocular em si erabastante branco, assim comoos dentes. Esses ltimosatribuam uma aparnciaferoz a uma sionomia que jseria apavorante e terrvel,uma vez que os pontiagudoscaninos faziam uma curvapara cima, terminando pertode onde os olhos dos seres

  • humanos se localizam. Obranco dos dentes no separecia com o do marm,mas com a mais branca ebrilhante porcelana. Contra ofundo escuro de suas pelescor de oliva, seus caninos sesobressaam de formaimpressionante, fazendo comque essas armas tivessemuma aparncia formidvel.Notei a maioria dessesdetalhes mais tarde, j quetive pouco tempo paraespecular sobre as maravilhas

  • de minha nova descoberta. Eutinha observado que os ovosestavam em processo deecloso e, enquanto queiassistindo aos abominveispequenos monstrosquebrarem as cascas, deixeide notar a aproximao decerca de vinte marcianosadultos s minhas costas.Vieram atravs do musgomacio e abafado que cobrepraticamente toda asuperfcie de Marte, comexceo das reas congeladas

  • nos plos e das regiescultivadas dispersas, epoderiam ter-me capturadocom facilidade, porm suasintenes eram bem maissinistras. Foi o barulho dosapetrechos do guerreiro mais frente que me chamou aateno.

    Minha vida estava por umo, e muitas vezes me admiroter escapado to facilmente.Caso o rie do lder dessegrupo no balanasse de seucoldre ao lado da sela, de tal

  • modo que batia a coronhacontra a sua grande lana demetal, eu teria sido mortosem imaginar sequer que amorte estava prxima. Mas opequeno som fez com que eume virasse e ali, sobre mim, amenos de dez passos dedistncia do meu peito,estava a ponta da grandelana de doze metros decomprimento com aextremidade revestida demetal reluzente, mantidabaixa na lateral de uma

  • verso montada dospequenos demnios que euobservava. Quo fracos einofensivos eles pareciamagora, ao lado dessasenormes e terrveisencarnaes do dio, davingana e da morte. Oprprio homem, pois assimposso o chamar, tinha pelomenos quatro metros e meiode altura e, na Terra, teriapesado em torno de cento eoitenta quilos. Estava sentadoem sua montaria como ns

  • nos sentamos em um cavalo,segurando o torso do animalcom seus membrosinferiores, enquanto as mosde seus dois braos direitosseguravam sua imensa lanaao lado de sua montaria. S eusdois braos esquerdosestavam estendidoslateralmente para ajudar apreservar seu equilbrio, acoisa por ele montada noapresentava estribo ou rdeasde qualquer espcie paraconduo.

  • E sua montaria! Comopodem palavras humanasdescrev-la! Atingia trsmetros na altura do ombro,tinha quatro pernas de cadalado, um rabo achatado elargo - maior na ponta que naraiz, o qual mantinha reto epara trs enquanto corria -, euma boca escancarada quedividia sua cabea do focinhoat o pescoo longo evolumoso.

    Como seu mestre, eratotalmente desprovido de

  • cabelo, mas possua uma corde ardsia escura, sendoextremamente liso ebrilhante. Sua barriga erabranca, e suas pernasmudavam da cor de ardsiade seus ombros e quadrispara um amarelo vivo nosps. Os ps em si eramfortemente acolchoados esem unhas, fato este quetambm contribuiu para suaaproximao silenciosa e que,assim como a multiplicidadede pernas, constitui um trao

  • caracterstico da fauna deMarte. Apenas o tipo maisevoludo de homem e umoutro animal, o nicomamfero existente em Marte,possuem unhas bemformadas, e no existeabsolutamente nenhumanimal com casco l.Seguindo esse primeiroatacante demonacoenleiravam-se dezenoveoutros, similares em todos osaspectos mas, como aprendimais tarde, apresentando

  • caractersticas que lhes sopeculiares, exatamente comono h dois de ns idnticos,embora sejamos todosforjados em um moldesemelhante. Essa imagem ou,melhor dizendo, pesadelomaterializado, que descrevidetalhadamente, causou-meapenas uma impressoterrvel e imediata conformegirei para me deparar comela.

    D esarmado e desnudocomo estava, a primeira lei da

  • natureza manifestou-se nanica soluo possvel parameu problema imediato, queera sair da rea de alcance daponta da lana posicionadapara o ataque.

    Conseqentemente, deium salto bastante mundano,e ao mesmo tempo sobre-humano, para atingir o topoda incubadora marciana, poisdeterminei que se tratavadesse tipo de estrutura.

    Meu esforo foi coroadocom um sucesso que me

  • chocou no menos do quepareceu surpreender osguerreiros marcianos. Fuielevado dez metros no ar eaterrissei a cerca de trintametros de meusperseguidores, do ladooposto da estrutura. D esci nomusgo macio de forma fcil esem problemas, e, virando-me, vi meus inimigosalinharem-se ao longo daparede adiante. Alguns meinspecionavam comexpresses que,

  • posteriormente, descobriserem de extrema surpresa, eos outros estavamevidentemente satisfeitos poreu no ter molestado suaprole. Estavam conversandoem tom baixo, gesticulando eapontando em minha direo.Sua descoberta de que eu nohavia machucado ospequenos marcianos e queestava desarmado deve terfeito com que me encarassemcom menos ferocidade. Mas,como descobri depois, o que

  • mais pesou a meu favor foi ademonstrao de minhashabilidades em saltarobstculos.

    Embora os marcianossejam imensos, seus ossosso muito grandes e suamusculatura desenvolvidaapenas na proporo dagravidade que devemsuportar. O resultado queeles so innitamente menosgeis e menos poderosos, emproporo seu peso, que umhomem terrestre, e duvido

  • que qualquer um deles, casofosse de repente transportadopara a Terra, conseguisseerguer o prprio peso do cho- de fato, estou convencido deque seriam incapazes de faz-lo. Meu feito era tomaravilhoso em Marte comoo teria sido na Terra e, assim,abandonando o desejo de meaniquilar, passaram a meencarar como uma magncadescoberta a ser capturada eexibida entre seuscompanheiros.

  • A vantagem que minhainesperada agilidade meproporcionou permitiu queeu formulasse planos para ofuturo imediato e que notassecom mais ateno a aparnciados guerreiros, pois emminha mente no pudedesassociar essa gente dosguerreiros que, apenas umdia antes, haviam meperseguido. Notei que cadaum deles estava armado comvrias outras armas alm daenorme lana que descrevi. A

  • arma que fez com que medecidisse contra umatentativa de fuga por vo foi aque evidentementecorrespondia a algum tipo derie e em cujo manuseiosenti, por alguma razo,serem eles bastanteecientes. Esses ries eramde um metal branco comcoronha de madeira que,aprendi mais tarde, ser deuma planta muito leve eimensamente dura, muitoapreciada em Marte e

  • completamente desconhecidapara ns, habitantes da Terra.O metal do cano era uma ligacomposta principalmente poralumnio e ao, queaprenderam a temperar atatingir uma dureza queexcede em muito a dureza doao com que estamosfamiliarizados. O peso dessesries comparativamenteleve e, com os projteisexplosivos de rdio de baixocalibre que utilizam - e ogrande comprimento do cano

  • - so extremamente mortais adistncias que seriaminconcebveis na Terra. O raiode alcance efetivo tericodesse rie de quasequinhentos metros, mas omelhor que podem realmentefazer em servio quandoequipados com seuslocalizadores sem o e miras de um pouco mais detrezentos metros. I sso foimais que suciente para meimbuir de grande respeitopelas armas de fogo

  • marcianas, e alguma forateleptica deve ter meadvertido contra umatentativa de fuga em plenaluz do dia bem debaixo dosfocinhos de vinte destasmquinas da morte.

    Os marcianos, depois deconversarem por algumtempo, viraram-se e partiramna direo de onde vieram,deixando um de seus homenssozinho ao lado daconstruo. Quando jhaviam se afastado cerca de

  • duzentos metros, sedetiveram e, virando suasmontarias em nossa direo,sentaram-se e caramobservando o guerreiroparado ao lado da construo.O guerreiro em questo eraaquele cuja lana quase haviame perfurado e eraevidentemente o lder dogrupo, j que notei que elespareceram ter tomado suasposies atuais segundo suasordens. Quando sua brigadaestancou, ele desmontou,

  • jogou sua lana ao cho,baixou seus braos pequenose deu a volta na extremidadeda incubadora vindo emminha direo,completamente desarmado eto desnudo quanto eu, comexceo dos ornamentosamarrados em sua cabea,membros e peito.

    Quando estava a cerca dequinze metros de mim, eleretirou um enorme braceletede metal e, segurando-a emminha direo na palma

  • aberta de sua mo, dirigiu- sea mim com uma voz clara eressonante, mas em umidioma que, desnecessriodizer, no pude entender. Elepermaneceu parado comoque esperando uma resposta,estirando suas orelhas emforma de antenas e mantendoseus olhos de aparnciaestranha xos na minhadireo.

    Como o silncio se tornouincmodo, decidi arriscar umpouco de conversa de minha

  • parte, j que acreditei que eleestivesse fazendo umaproposta de paz. O baixar desuas armas e a retirada de suatropa antes de seu avano emminha direo teriamsignicado uma missopacca em qualquer lugar naTerra, ento, por que no emMarte?

    Colocando minha mosobre meu corao, z umareverncia ao marciano eexpliquei que, embora notivesse entendido seu idioma,

  • suas aes demonstravam apaz e amizade que, nomomento atual, me erammais caras ao corao. Claroque daria no mesmo se eufosse um riacho murmurante,dado o entendimento quemeu discurso causou nacriatura, mas elecompreendeu a ao queimediatamente se seguiu sminhas palavras. Esticandominha mo em sua direo,avancei e tomei o bracelete desua palma aberta, prendendo-

  • o sobre meu brao acima docotovelo. Sorri para ele equei esperando. Sua bocalarga estendeu-se em umsorriso de resposta e,prendendo um de seus braosintermedirios no meu, ele sevirou e dirigiu-se para suamontaria. Ao mesmo tempo,gesticulou aos seusseguidores que avanassem.Eles comearam a caminharem nossa direo em umacorrida selvagem, mas foramdetidos por um sinal dele.

  • Evidentemente ele temeu queeu, caso me assustassenovamente, desta vez saltassetotalmente para fora de seualcance. Ele trocou algumaspalavras com seus homens,gesticulou para mim quemontasse na garupa de umdeles e, em seguida, montouem seu animal. O indivduoescolhido baixou duas ou trsmos e me colocou atrs desi, na lustrosa traseira de suamontaria, onde me segurei damelhor forma possvel pelas

  • faixas e correias queprendiam as armas eornamentos do marciano.

    Assim, toda a procisso sevirou e galopou na direo dacadeia de colinas ao longe.

  • Captulo 04 - UMPRISIONEIRO

    Havamos percorrido talvezdez milhas quando o terrenocomeou a se elevar de formamuito rpida. Ns estvamos,como vim saber depois, nosaproximando da margem deum dos mares de Marte,todos mortos h muitotempo, no fundo do qualocorreu meu encontro com osmarcianos. Em pouco tempo

  • chegamos aos ps dasmontanhas e, depois deatravessar uma estreitaravina, samos em um valeaberto, na extremidaderemota do qual havia umplanalto, sobre o qualcontemplei uma enormecidade. Galopamos em suadireo, entrando atravs doque parecia ser uma estradaabandonada que levava parafora da cidade, mas chegavaapenas at a borda doplanalto, onde acabava

  • abruptamente em um lancede escada de degraus amplos.

    Mediante atentaobservao notei, conformepassava pelos edifcios, queeles estavam desertos e,embora no estivessem muitodeteriorados, tinham aaparncia de no seremocupados h anos,possivelmente h eras. Nadireo do centro da cidadehavia uma grande praa, ondenela e nos edifciosimediatamente ao seu redor

  • estavam acampadas algo emtorno de novecentas a milcriaturas da mesma raa demeus captores, pois assimpassara a consider-los,apesar da maneira suave comque fui aprisionado.

    Com exceo de seusornamentos, todos estavamnus. As mulheresapresentavam uma aparnciaum pouco diferente da doshomens, exceto pelo fato deque suas presas eram muitomaiores em relao sua

  • altura, em alguns casoscurvando-se quase at asorelhas posicionadas no altoda cabea. Os corpos erammenores e mais claros, e osdedos de seus psostentavam unhasrudimentares, totalmenteausentes entre os machos. Aaltura das fmeas adultasvariava entre trs e trsmetros e meio.

    As crianas eram de cormais clara, mais clara at queas mulheres, e todos

  • pareciam idnticos meusolhos, a no ser pelo fato deque alguns eram mais altosdo que outros. Por seremmais velhos, presumi. No visinais de idade avanadaentre eles, nem haviaqualquer diferena notvelem sua aparncia desde amaturidade, cerca dequarenta anos, ataproximadamente os milanos, quandovoluntariamente saem em sualtima e estranha

  • peregrinao at o rio I ss, oqual nenhum marciano vivosabe aonde vai e de ondenenhum marciano jamaisvoltou; caso retornasse depoisde embarcar uma vez em suasfrias e escuras guas, noteria permisso de viver.Estima-se que apenas ummarciano em mil morre dedoena ou enfermidade, e quepor volta de vinte fazem aperegrinao voluntria. Osoutros novecentos e setenta enove morrem de forma

  • violenta em duelos, caadas,na aviao e na guerra. Mastalvez a maior perda de vidasocorra, de longe, durante ainfncia, quando um vastonmero de pequenosmarcianos cai vtima dosgrandes macacos albinos deMarte. A expectativa mdiade vida de um marciano apsa idade madura de cerca detrezentos anos, mas essenmero seria prximo damarca dos mil anos, nofossem os vrios caminhos

  • que levam a uma morteviolenta. D evido aos escassosrecursos do planeta,evidentemente tornou-senecessrio contrabalanar acrescente longevidadedecorrente de suas notveishabilidades em medicina ecirurgia, de modo que a vidahumana em Marte passou aser considerada de formaleviana, como evidenciadopor seus perigosos esportes eguerras quase contnuas entreas diversas comunidades.

  • H outras causas naturaisque contribuem para atendncia de diminuio dapopulao, mas nadacolabora de forma maisintensa para esse m do queo fato de nunca um marciano,macho ou fmea, estarvoluntariamente desprovidode uma arma de destruio.

    Ao nos aproximarmos dapraa e minha presena serdescoberta, fomosimediatamente rodeados porcentenas de criaturas que

  • pareciam ansiosas em mepuxar de meu assento atrsde meu guarda. Uma palavrado lder do grupo calou seuclamor e trotamos atravs dapraa at a entrada do edifciomais magnco que olhosmortais j puderamvislumbrar. O edifcio erabaixo, mas cobria umaenorme rea. Havia sidoconstrudo em mrmorebranco reluzente incrustadocom pedras douradas ebrilhantes que ofuscavam e

  • cintilavam sob a luz do sol. Aentrada principal tinha cercade trinta metros de largura eprojetava-se do edifcioformando uma enormeabbada sobre o hall deentrada. No haviaescadarias, somente uma leverampa para o primeiro andardo edifcio se abria para umaenorme cmara rodeada porgalerias.

    No piso dessa cmara,repleta de mesas e cadeirasaltamente trabalhadas,

  • estavam reunidos cerca dequarenta ou cinqentamarcianos machos ao redordos degraus de uma tribuna.Na plataforma, perfeitamenteagachado, encontrava-se umenorme guerreiropesadamente carregado comparamentos metlicos, penasde cores alegres e adornosbelamente elaborados emcouro engenhosamentecravejados de pedraspreciosas. D e seus ombrospendia uma capa curta de

  • pele branca alinhadarevestida com seda escarlatebrilhante.

    O que mais meimpressionou em relao assemblia e ao hall no qualestavam reunidos foi o fatode as criaturas seremtotalmente desproporcionaisem relao s mesas, cadeirase outros mveis, quepossuam um tamanhoadequado ao dos sereshumanos como eu; emcontrapartida, a grande

  • quantidade de marcianos malpermitia que eles seespremessem nas cadeirasnem deixava espao para suaslongas pernas sob as mesas.Assim, cou evidente quehavia mais cidados emMarte alm das selvagens egrotescas criaturas nas mosdas quais eu havia cado, masas provas de extremaantigidade exibidas em todaa minha volta indicavam queessas construes deveriamter pertencido a alguma raa

  • h muito extinta e esquecidana vaga antigidade deMarte. Nosso grupo haviaparado na entrada do edifcioe, a um sinal do lder, fuicolocado no cho. Novamentetravando seu brao no meu,seguimos para a cmara deaudincias. Havia algumasformalidades a seremobservadas ao abordar seusuperior. Meu captorcaminhou a passos largos nadireo da tribuna, os outrosse afastavam para que ele

  • avanasse. O lder principalse levantou e pronunciou onome de meu acompanhanteque, por sua vez, parou erepetiu o nome dogovernante, seguido por seuttulo. Naquele momento,essa cerimnia e as palavrasproferidas nada signicavampara mim, masposteriormente vim saberque esta era a saudaocostumeira entre marcianosverdes. Caso fossemestranhos entre si e, portanto,

  • incapazes de se saudarem,teriam trocado presentessilenciosamente se suasmisses fossem de paz - docontrrio, teriam trocado tirosou terminado asapresentaes com algumaoutra de suas diversas armas.Meu captor, cujo nome eraTars Tarkas, era virtualmenteo vice-lder da comunidade eum homem de grandeshabilidades como estadista eguerreiro. Evidentemente, eleexplicou em poucas palavras

  • os incidentes ligados suaexpedio, incluindo minhacaptura e, quando terminou,seu lder despendeu algumaateno a mim.

    Respondi em nosso bom evelho ingls apenas paraconvenc-lo de que nenhumde ns poderia entender ooutro, mas notei que, quandosorri levemente durante aconcluso, ele fez o mesmo.Esse episdio e a ocorrnciade um feito similar duranteminha primeira conversa com

  • Tars Tarkas convenceu-me deque ao menos tnhamosalguma coisa em comum: acapacidade de sorrir. Mas euaprenderia que o sorrisomarciano meramentemecnico e que a risadamarciana algo que faz comque homens fortes quembrancos de horror.

    A idia de humor entre oshomens verdes de Marte amplamente divergente dasnossas concepes deestmulo da alegria. A agonia

  • da morte de um outro serprovoca, para essas estranhascriaturas, a mais loucahilaridade, enquanto aprincipal forma da maissimples diverso matar seusprisioneiros de guerra deformas diversas ehorripilantes.

    Os guerreiros reunidosexaminaram-me com ateno,sentindo meus msculos e atextura de minha pele. Entoo principal lderevidentemente expressou o

  • desejo de ver minhaapresentao e, gesticulandopara que eu o seguisse,entrou com Tars Tarkas napraa a cu aberto.

    At agora, eu no haviafeito nenhuma tentativa decaminhar, desde meuprimeiro sinal de fracasso,exceto ao agarrar rmementeo brao de Tars Tarkas, deforma que agora ia pulando eesvoaando entre as mesas ecadeiras como um gafanhotomonstruoso. D epois de me

  • machucar seriamente, paragrande diverso dosmarcianos, novamente recorriao engatinhar, mas isso noestava de acordo com seusplanos, pois fui rudementecolocado em p por umsujeito enorme que riu com omais puro entusiasmo deminha desgraa.

    Ao me colocar em pviolentamente, seu rosto seinclinou prximo ao meu e za nica coisa que umcavalheiro pode fazer sob

  • circunstncias de brutalidade,grosseria e falta deconsiderao para com osdireitos de um estranho.Enei meu punhodiretamente em suamandbula e ele caiu comoum boi no abate. Enquantoele caa ao cho, volteiminhas costas na direo damesa mais prxima,esperando ser subjugado pelavingana de seuscompanheiros; estava, porm,determinado a proporcionar-

  • lhes uma luta to boa quantopossvel, dadas as chancesdesiguais, antes de abrir moda minha vida.

    No entanto, meus medosforam infundados, poisoutros marcianos, emprincpio mudos de espanto,nalmente romperam em umselvagem estrondo de risadase aplausos. No reconheci osaplausos como tal, mas,posteriormente, quandotomei conhecimento de seuscostumes, aprendi que havia

  • conquistado o que elesraramente concedem, umamanifestao de aprovao. Osujeito que atingipermaneceu onde caiu enenhum de seuscompanheiros se aproximoudele. Tars Tarkas avanou emminha direo, estendendoum de seus braos, e assimprosseguimos at a praa semmais contratempos. claroque eu no conhecia a razopara termos sado para oexterior, mas logo vim

  • saber. Primeiro, elesrepetiram a palavra "sak"inmeras vezes, e ento TarsTarkas deu vrios pulos,repetindo a mesma palavraantes de cada salto. Virando-se para mim, disse "sak"!Entendi o que queriam e,recompondo-me, "sakei" comto impressionante sucessoque me afastei bons quarentae cinco metros e, dessa vez,no perdi meu equilbrio epousei em p sem cair. Ento,voltei para o pequeno grupo

  • de guerreiros com saltosfceis de sete ou oito metros.Minha exibio foitestemunhada por vriascentenas de marcianoscomuns e eles imediatamenteexigiram uma repetio, que older ordenou que eu zesse.Mas eu estava com fome esede e decidi naquela horaque minha nica forma desalvao seria exigirconsiderao dessas criaturasque, evidentemente, noconcederiam de forma

  • voluntria. Portanto, ignoreios repetidos comandos para"sakar" e cada vez que erampronunciados, gesticulava emdireo minha boca eesfregava meu estmago.

    Tars Tarkas e o ldertrocaram algumas palavras eo ltimo, chamando umajovem fmea entre amultido, lhe passou algumasinstrues e gesticulou paraque eu a acompanhasse.Agarrei seu brao estendido ejuntos cruzamos a praa em

  • direo de um grande prdiono lado mais afastado.

    Minha acompanhantetinha cerca de dois metros emeio de altura, tendoacabado de chegar maturidade, mas ainda semter atingido o mximo de suaaltura. Ela era de uma corverde-oliva claro, com couroliso e lustroso. S eu nome,soube mais tarde, era S ola, eela fazia parte da comitiva deTars Tarkas. Ela me conduziuat uma espaosa cmara em

  • um dos edifcios na frente dapraa, o que, pela confuso desedas e peles sobre o cho,entendi ser o dormitrio devrios dos nativos.

    O quarto era bemiluminado por vrias janelasamplas e estava belamentedecorado com pinturasmurais e mosaicos, mas sobretodos eles parecia repousaraquele indenvel toque deantigidade que meconvenceu de que osarquitetos e construtores

  • dessas criaes assombrosasnada tinham em comum comos rudes meio brutos queagora os ocupavam. S olaindicou que eu sentasse sobreuma pilha de sedas prximaao centro da sala e, virando-se, fez um peculiar somsibilante, como se sinalizassepara algum no aposento aolado. Em resposta ao seuchamado, tive minhaprimeira viso de uma novamaravilha marciana quesacolejou sobre suas dez

  • pernas curtas e agachou-sediante da garota como umlhote obediente. A coisatinha o tamanho de um pneishetland, mas sua cabeaostentava uma ligeirasemelhana com a cabea deum sapo, exceto que asmandbulas eram equipadascom trs leiras de presaslongas e afiadas.

  • Captulo 05 -ENGANANDO MEUCO DE GUARDA

    S ola encarou os olhosperversos do bruto,murmurou uma palavra ouduas de comando, apontoupara mim e saiu do aposento.Tudo que pude fazer foiconsiderar o que aquelamonstruosidade de aparnciaferoz poderia fazer quandodeixado a ss com um pedao

  • relativamente tenro de carne.Mas meus medos no tinhamfundamento, pois a fera,depois de me inspecionar deforma intensa por ummomento, cruzou a sala at anica sada que levava rua edeitou-se atravessado nasoleira.

    Essa foi minha primeiraexperincia com um co deguarda marciano, mas noestava destinada a ser altima. Esse companheiro meprotegeria cuidadosamente

  • durante o tempo em quepermaneceria cativo entreesses homens verdes; duasvezes salvou minha vida enunca se afastou de mimvoluntariamente por ummomento sequer.

    Enquanto Sola estava fora,aproveitei para examinarmais detalhadamente oquarto no qual estava preso.As pinturas nos muraisretratavam cenas de rara eestonteante beleza.Montanhas, rios, lagos,

  • oceanos, pradarias, rvores eores, estradasserpenteantes, jardinsbeijados pelo sol - cenas quepoderiam retratar vistasterrestres, exceto pelacolorao da vegetao. Otrabalho tinha evidentementesido executado pela mo deum mestre, to sutil era aatmosfera, to perfeita atcnica. Ainda assim, emnenhum lugar havia arepresentao de um animalvivo, homem ou bicho, pela

  • qual eu pudesse conjeturar aaparncia desses outros etalvez extintos cidados deMarte. Enquanto permitia queminha imaginao corresseamotinada em loucasconjeturas sobre a possvelexplicao para as estranhasanomalias que at agora tinhaencontrado em Marte, Solaretornou com comida ebebida. Ela as depositou nocho ao meu lado e,sentando-se a uma curtadistncia, me encarou

  • atentamente. A comidaconsistia em quase meio quilode alguma substncia slidacom consistncia de queijo esem muito gosto, enquanto olquido era aparentementeleite de algum animal. Noera desagradvel ao paladar,embora levemente cido, eem pouco tempo aprendi avaloriz-lo enormemente. Eleprovinha, como descobri maistarde, no de um animal -uma vez que existia apenasum mamfero em Marte e

  • esse mamfero era, semdvida, bastante raro -, masde uma grande planta quecresce praticamente semgua, mas parece destilar seuabundante estoque de leite apartir dos produtos do solo,da umidade do ar e dos raiosdo sol. Uma nica plantadessa espcie pode forneceroito ou dez litros de leite pordia. D epois de comer senti-me bastante revigorado, mas,sentindo a necessidade dedescansar, me estirei sobre as

  • sedas e logo dormi. D evo terdormido vrias horas, poisestava escuro quando acordeie sentia muito frio. Notei quealgum havia jogado umapele sobre mim, mas elaestava parcialmente malcolocada e no escuro noconsegui arrum-la.S ubitamente, uma mo seesticou e puxou a cobertapara cima de mim,adicionando outra logo emseguida.

    Presumi que minha zelosa

  • guardi fosse S ola, e noestava errado. Apenas essagarota, entre todos osmarcianos verdes com osquais tive contato, reveloucaractersticas de simpatia,gentileza e afeio. S uaateno s minhasnecessidades fsicas foiinfalvel e seu cuidadosolcito me poupou muitosofrimento e provaes.

    Como eu aprenderia, asnoites marcianas soextremamente frias, e como

  • praticamente no hcrepsculo ou aurora, asmudanas de temperaturaso sbitas e muitodesconfortveis, como astransies entre a luz do dia ea escurido. As noites soiluminadas por uma luzbrilhante ou so ento muitoescuras, pois se nenhuma dasduas luas de Marte calha deestar no cu, a escuridoresultante quase total, jque a falta de atmosfera ou,melhor dizendo, a escassa

  • atmosfera no conseguedifundir a luz das estrelas deforma muito ampla. Por outrolado, se ambas as luas estono cu noite, a superfcie dosolo vivamente iluminada.

    As duas luas de Marte seencontram muito mais pertodo planeta do que a nossa luaest da Terra. A lua maisprxima est a cerca de oitomil quilmetros de distncia,enquanto a mais afastada esta pouco mais de vinte de doismil quilmetros de distncia,

  • em comparao aos mais dequatrocentos mil quilmetrosque nos separam da nossalua. A lua mais prxima deMarte completa sua evoluoao redor do planeta em poucomais de sete horas e meia, deforma que pode ser vistaatravessando o cu como umgigantesco meteoro duas outrs vezes por noite,revelando todas as suas fasesa cada passagem pelos cus.

    A lua mais distante giraem torno de Marte em cerca

  • de trinta e uma horas equinze minutos, e, com seusatlite irmo, torna apaisagem noturna uma cenade estranha e esplndidagrandeza. E bom que anatureza tenha iluminado anoite marciana de forma tograciosa e abundante, pois oshomens verdes de Marte,sendo uma raa nmade semgrande desenvolvimentointelectual, possuem apenasmeios primitivos deiluminao articial,

  • dependendo principalmentede tochas, um tipo de vela euma lmpada a leo que gerags e queima sem pavio. Esseltimo dispositivo produzuma luz branca brilhante delongo alcance, mas como oleo natural exigido paraaliment-la s pode serobtido atravs da mineraoem um dos vrios locaisremotos e longnquos, utilizada poucas vezes poressas criaturas cujo nicopensamento o hoje e cujo

  • dio ao trabalho manual ostm mantido em um estadosemibrbaro por incontveiseras.

    D epois que Sola arrumouminhas cobertas, dorminovamente, acordandoapenas quando j era dia. Osoutros ocupantes do quarto,cinco no total, eram todasmulheres e ainda estavamdormindo, amontoadas comuma diversicada gama desedas e peles. Atravessado nasoleira, permanecia esticado o

  • primitivo guardio insone, namesma posio em que ohavia visto no dia anterior.Aparentemente, ele no haviamovido um msculo. S eusolhos estavam diretamentexados em mim e comecei ame perguntar exatamente oque me aconteceria caso eutentasse fugir.

    S empre estive propenso abuscar aventuras e ainvestigar e experimentar emsituaes em que homensmais sbios teriam deixado ao

  • acaso. Ocorria-me agora que amaneira mais certa dedescobrir qual seriaexatamente a atitude dessafera em relao a mim eratentar sair do aposento.Estava bastante seguro emminha crena de que poderiaescapar caso fosse perseguidopelo animal se estivesse forado prdio, pois comeava acar bastante orgulhoso deminhas habilidades comosaltador. Alm disso, pudededuzir, pelo comprimento

  • diminuto de suas pernas, queo animal em questo no eraum saltador e,provavelmente, nemcorredor. Assim, devagar ecom cuidado, me coloquei emp, apenas para ver se meuobservador fazia o mesmo.Cautelosamente, avancei emsua direo, descobrindo queme movendo em uma marchaarrastada era capaz deconservar meu equilbrio efazer um progressorazoavelmente rpido.

  • Conforme me aproximei doanimal, ele cautelosamente seafastou de mim e, quandocheguei ao exterior, ele semoveu para o lado parapermitir minha passagem. Eleento se postou atrs de mime seguiu-me a uma distnciade cerca de dez passosconforme eu avanava pelarua deserta. Evidentementesua misso era apenas meproteger, pensei, mas quandoatingi o limite da cidade, elesubitamente pulou a minha

  • frente, produzindo sonsestranhos e expondo suashorrendas e ferozes presas.

    Pensando em me divertirum pouco s suas custas,corri em sua direo e,quando estava quase em cimadele, saltei no ar, aterrissandomuito alm e afastando-meda cidade. Ele se virou edisparou em minha direocom a velocidade maispavorosa que j havia visto.Havia pensado que suaspernas fossem um obstculo

  • para a rapidez, mas se eleestivesse correndo comgalgos ingleses, esses ltimosteriam parecido to lentosquando um capacho. Comoeu viria saber, esse era oanimal mais veloz de Marte e,devido sua inteligncia,lealdade e ferocidade, erausado na caa, na guerra ecomo protetor dos homensmarcianos. Rapidamentepercebi que teria diculdadeem escapar das presas da feraem um percurso reto, de

  • modo que respondi suadisparada voltando por ondetinha vindo e saltando sobreele quando estava quase mealcanando. Essa manobra medeu uma vantagemconsidervel e fui capaz dechegar cidade bastante asua frente. Como ele vinhauivando atrs de mim, puleipara uma janela a cerca dedez metros do cho na frentede um dos prdios com vistapara o vale. Agarrando opeitoril, me icei e sentei sem

  • olhar para o interior doedifcio e tei para odesconsertado animal abaixode mim. Porm minhaexultao foi curta. Mal haviame sentado em seguranasobre o peitoril quando umamo enorme me agarrou portrs pelo pescoo e mearrastou violentamente para ointerior da sala. Ali, fuijogado de costas e vi em p aminha frente uma colossalcriatura-macaco, branca esem pelos, exceto por uma

  • enorme rajada de cabelosespetados sobre sua cabea.

  • Captulo 06 - UMALUTA QUE

    CONQUISTOUAMIGOS

    A coisa, que se parecia maiscom o homem terrestre doque os marcianos que euhavia visto, me prendeu nocho com um p gigante,enquanto matraqueava egesticulava para algumacriatura que respondia atrs

  • de mim. Esse outro, queevidentemente era seucompanheiro, logo veio emnossa direo, segurandouma pesada clava de pedracom a qual evidentementetencionava me partir acabea.

    As criaturas mediam entretrs e quatro metros de alturaem posio ereta e tinham,como os marcianos verdes,um conjunto intermediriode braos ou pernas a meiocaminho entre seus membros

  • superiores e inferiores. S eusolhos eram bem juntos e noprotuberantes, suas orelhascavam no alto da cabea,enquanto seus focinhos edentes eramassombrosamente parecidoscom os de nossos gorilasafricanos. No geral, eles noeram desagradveis quandoobservados em comparaoaos marcianos verdes.

    A clava balanou em umarco que acaboucompletando- se sobre meu

  • rosto enquanto eu olhavapara cima. Foi quando umraio de horror cheio depernas se jogou atravs daporta com carga total sobre opeito de meu executor. Comum guincho de medo, omacaco que me seguravasaltou pela janela aberta, masseu companheiro entrou emuma intensa luta mortal commeu protetor, que no eranada menos que minha elcoisa de guarda. Noconseguia me obrigar a

  • chamar uma criatura tohedionda de cachorro. Fiqueiem p o mais rpido queconsegui e, apoiando- mecontra a parede, testemunheiuma batalha que poucos serestiveram a oportunidade depresenciar. A fora, agilidadee ferocidade cega dessas duascriaturas no tm paralelosconhecidos na Terra. Minhafera teve uma vantagem emsua primeira investida,enterrando suas poderosaspresas profundamente no

  • peito de seu adversrio, masos grandes braos e patas domacaco, aliados a msculosque transcendem em muitoos dos homens marcianos quehavia visto, havia agarrado agarganta de meu guardio elentamente o sufocava,dobrando para trs suacabea e pescoo sobre seucorpo. Por um momento,esperei ver o primeiro cairsem foras com seu pescooquebrado. Ao fazer isso, omacaco estava despedaando

  • toda a parte frontal de seupeito, que estava preso noaperto de alicate daspoderosas mandbulas. Para afrente e para trs os doisrolavam no cho, nenhumdeles emitindo um som demedo ou dor. Naquelemomento vi os olhos deminha fera saltaremtotalmente para fora de suasrbitas e o sangue uir desuas narinas. Era evidenteque ele estava perdendo asforas, mas o mesmo ocorria

  • com o macaco, cujos esforosmomentaneamentediminuram.

    Subitamente voltei a mime, com o estranho instintoque sempre parece mechamar ao dever, agarrei aclava e, brandindo-a comtodas as foras de meusbraos humanos, golpeei emcheio a cabea do macaco,esmagando seu crnio comose fosse a casca de um ovo.Mal eu acabara de desferir ogolpe quando fui confrontado

  • por um novo perigo. Ocompanheiro do macaco,recuperado de seu primeirochoque de terror, haviavoltado cena do encontropor dentro do edifcio. Eu ovislumbrei um pouco antesde ele atingir a porta e devoconfessar que sua viso, agorarugindo ao perceber seucompanheiro sem vidaestirado no cho, eespumando pela boca, noauge de sua fria, me encheude terrveis pressentimentos.

  • S empre estou disposto a care lutar quando as chances noesto esmagadoramentecontra mim, mas nesse casono antecipei nem glria nemlucro em empregar minharelativamente insignicantefora contra os msculos deao e a ferocidade brutaldesse enfurecido habitante deum planeta desconhecido. Narealidade, o nico resultadode um encontro como esse,at onde eu podia prever,parecia ser a morte sbita. Eu

  • estava em p perto da janela esabia que, uma vez na rua,poderia ganhar a praa e asegurana antes que acriatura pudesse me dominar.Ao menos havia uma chancede segurana na fuga contra amorte quase certa caso eucasse e lutasse, noimportando com quedesespero.

    verdade que eu seguravaa clava, mas que serventia elateria contra quatro enormesbraos? Mesmo que eu

  • conseguisse quebrar umdeles com meu primeirogolpe, pois imaginei que omacaco tentaria repelir obasto, ele poderia mealcanar e aniquilar com osoutros antes que eu pudesseme recuperar para desferirum segundo ataque.

    No instante em que essespensamentos me passarampela cabea eu havia mevirado para alcanar a janela,mas a viso da forma de meuoutrora guardio fez sumir no

  • ar todos os pensamentos defuga. Ele estava deitadoarfando sobre o piso doaposento com seus grandesolhos ncados em mim noque parecia ser umlamentvel apelo porproteo. Eu no seria capazde suportar aquele olhar nem,pensando bem, abandonarmeu salvador sem ao menoslutar por ele tanto quanto elehavia lutado por mim.

    S em mais demora,portanto, me virei para

  • enfrentar o ataque doenfurecido macaco macho.Ele agora estava muito pertode mim para que a clavativesse qualquer utilidadeefetiva; portanto,simplesmente joguei-a com amaior fora possvel contraseu corpanzil que avanava. 0instrumento o atingiu logoabaixo dos joelhos,produzindo um uivo de dor efria e, assim,desequilibrando-o e fazendocom que se lanasse sobre

  • mim com toda a fora, com osbraos completamenteabertos para amortecer suaqueda.

    Novamente, como no diaanterior, recorri a tticasterrestres e, golpeando meupunho direito com toda afora contra seu queixo, eneium golpe de esquerda nofundo de seu estmago. Oefeito foi maravilhoso. Depoisde dar um pequeno passopara o lado, aps o segundogolpe, ele se ajoelhou e caiu

  • no cho nocauteado pela dore resfolegando. S altandosobre seu corpo prostrado,apanhei a clava e dei cabo domonstro antes que pudesse selevantar.

    Quando eu desferia ogolpe, uma risada baixa soouatrs de mim e, virando-me,vi Tars Tarkas, S ola e outrostrs ou quatro em p na portado aposento. Quando meusolhos encontraram os delesfui, pela segunda vez, odestinatrio de seus aplausos,

  • reservados com tanto zelo.Minha ausncia havia sido

    notada por S ola ao acordar eela rapidamente informou aTars Tarkas, queimediatamente saiu a minhaprocura com um punhado deguerreiros. Ao seaproximarem dos limites dacidade, testemunharam asaes do macaco machoquando este disparou nadireo do edifcio,espumando de raiva.

    Eles o seguiram

  • prontamente, pensando serpouco provvel que suasaes pudessem ser umapista de meu paradeiro, eassistiram nossa breve,porm, decisiva batalha. Esseencontro, juntamente commeu ajuste de contas com oguerreiro marciano no diaanterior e meus feitos na artedo salto, colocaram-me emuma posio privilegiada aseus olhos. Evidentementedesprovidos de todos osnobres sentimentos de

  • amizade, amor ou afeto, essaspessoas veneram com fervor adestreza fsica e a bravura, enada bom o bastante para oobjeto de sua adoraocontanto que este mantenhasua posio por meio derepetidos exemplos depercia, fora e coragem. S ola,que havia acompanhado ogrupo de buscas por vontadeprpria, foi a nica entre osmarcianos cuja face no haviase contorcido em risadasenquanto eu lutava por

  • minha vida. Ela, ao contrrio,manteve-se sria comaparente solicitude e, assimque dei cabo do monstro,correu para mim ecuidadosamente examinoumeu corpo procura depossveis ferimentos oumachucados. S atisfeita por euter sado ileso, sorriusilenciosamente e, pegandoem minha mo, comeou acaminhar na direo da portado aposento. Tars Tarkas e osoutros guerreiros haviam

  • entrado e estavam paradosdiante da fera - agorarapidamente recuperada - quehavia salvado minha vida ecuja vida eu, em troca, haviasalvado. Eles pareciamperdidos em uma discusso e,nalmente, um deles dirigiu-se a mim, mas lembrandomeu desconhecimento de sualngua, voltou-se novamentepara Tars Tarkas que, comuma palavra e gesto, deualguma ordem aocompanheiro e virou-se para

  • nos seguir para fora. Haviaalgo de ameaador em suasatitudes para com a minhafera e hesitei em sair atsaber do resultado. Foi umaidia muito boa, pois oguerreiro sacou uma pistolade aparncia demonaca deseu coldre e estava a ponto dedar m criatura quandosaltei para a frente e ergui seubrao. A bala atingiu obatente de madeira da janelae explodiu, atravessando porcompleto a madeira e a

  • alvenaria.Ento, me ajoelhei ao lado

    daquele ser de aspectotemvel e, colocando-o em p,gesticulei para que meseguisse. Os olhares desurpresa que minhas aesprovocaram nos marcianosforam absurdos. Eles eramincapazes de entender, excetode uma maneira dbil einfantil, atributos comogratido e compaixo. Oguerreiro cuja arma eu haviaempurrado lanou um olhar

  • inquisitivo para Tars Tarkas,mas este ltimo gesticuloupara que eu fosse deixado ameu prprio gosto. Assim,voltamos para a praa comminha grande fera seguindomeus calcanhares e S ola mesegurando rmemente pelobrao.

    Agora eu tinha pelomenos dois amigos em Marte;uma jovem mulher quecuidava de mim comsolicitude maternal e umafera muda que, como mais

  • tarde viria saber, carregavaem sua feia e pobre carcaamais amor, mais lealdade,mais gratido do que sepoderia encontrar em toda apopulao de cinco milhesde marcianos verdes quevagavam pelas cidadesdesertas e pelos leitos dosmares mortos de Marte.

  • Captulo 07 -CRIANDO FILHOS

    EM MARTE

    D epois de um caf da manh,que foi uma rplica exata darefeio do dia anterior e umindcio de praticamente todarefeio que se seguiuenquanto estive com oshomens verdes de Marte, Solame acompanhou at a praa,onde encontrei toda acomunidade engajada em

  • cuidar ou ajudar a arrear asenormes feras mastodnticass grandes carruagens de trsrodas. Havia cerca deduzentos e cinqenta dessesveculos, cada qual puxadopor um nico animal, sendoque qualquer um deles, pelaaparncia, poderia facilmentepuxar todo o comboio,mesmo que totalmentecarregado.

    As carruagens eramgrandes, confortveis ericamente decoradas. Em

  • cada uma estava sentada umafmea marciana carregada deornamentos de metal, comjias, sedas e peles. S obre osdorsos de cada uma dasbestas que puxavam ascarruagens cavaempoleirado um jovemcondutor marciano. Como osanimais sobre os quais osguerreiros estavammontados, os pesadosanimais de carga noutilizavam cabresto ou sela,pois eram totalmente guiados

  • por meios telepticos. Essepoder maravilhosamentedesenvolvido em todos osmarcianos, sendo responsvelem grande parte pelasimplicidade de seu idioma epelas relativamente poucaspalavras trocadas, mesmo emlongas conversas. alinguagem universal deMarte, por meio da qual asformas de vida mais e menosdesenvolvidas desse mundode paradoxos so capazes dese comunicar em um grau

  • maior ou menor, dependendoda esfera intelectual dasespcies e dodesenvolvimento doindivduo.

    Conforme a procissoassumia a linha de marchaem uma la nica, S ola mearrastou para uma dascarruagens vazias eacompanhamos a procissona direo do ponto atravsdo qual eu havia entrado nacidade no dia anterior. Nacabeceira da caravana

  • cavalgavam algo em torno deduzentos guerreiros, cinco decada lado, e um nmerosemelhante acompanhava atraseira, enquanto vinte ecinco ou trinta batedores nosanqueavam em ambos oslados.

    Todos, homens, mulherese crianas - menos eu -,estavam pesadamentearmados, e na traseira decada carruagem trotava umco de caa marciano, minhaprpria fera seguia de perto a

  • nossa. Na verdade, a elcriatura nunca me abandonouvoluntariamente durante osdez anos que estive em Marte.Nosso caminho passavaatravs do pequeno vale antesda cidade, pelas colinas at ofundo do mar morto, quecruzei em minha jornada daincubadora at a praa. Aincubadora, como couprovado, era o ponto nal denossa jornada nesse dia e,como toda a procissodisparou em um galope

  • enlouquecido assim queatingiu o espao plano dofundo do mar, logo nossoobjetivo estava em nossocampo de viso.

    Ao atingir seu destino, ascarruagens foramestacionadas com precisomilitar nos quatro lados daestrutura e metade dosguerreiros, comandados peloenorme lder, desmontou eavanou em sua direo.

    Pude ver Tars Tarkasexplicando algo para o lder

  • principal cujo nome, alis,era, at onde pude traduzirpara o ingls, LorquasPtomel, jed; sendo jed seuttulo. Logo fui informadosobre o objeto de suaconversa j que, chamandoS ola, Tars Tarkas gesticuloupara que ela me levasse atele. Nessa ocasio, eu j haviadominado as diculdades deandar sob condiesmarcianas e, respondendorapidamente ao seu comando,avancei para o lado da

  • incubadora no qual estavamos guerreiros.

    Ao chegar ao seu lado, umbreve olhar mostrou-me quetodos, exceto alguns poucos,haviam chocado, e aincubadora estava realmentecheia com os pequenos ehorrendos demnios. S uaaltura variava entre noventa ecento e vinte centmetros, e semoviam sem descanso pelaestrutura como queprocurando por comida.Quando parei sua frente,

  • Tars Tarkas apontou para aincubadora e disse "sak". Vique ele queria que eurepetisse minha apresentaodo dia anterior para instruode Lorquas Ptomel e, j quedevo confessar que minhaproeza me proporcionou umbocado de satisfao, atendirapidamente, saltando sobreas carruagens estacionadasno lado mais afastado daincubadora. Quando retornei,Lorquas Ptomel rosnou algoem minha direo e,

  • voltando-se para seusguerreiros, emitiu algumaspalavras de comandorelativas incubadora. Elesno prestaram mais atenoem mim e me foi concedidapermisso para permanecerperto e assistir s suasoperaes, que consistiam emproduzir uma abertura naparede da incubadora grandeo suciente para permitir asada dos jovens marcianos.Em ambos os lados dessaabertura as mulheres e os

  • marcianos mais jovens,fmeas e machos, formavamduas las, slidas comoparedes, que passavam porentre as carruagens e cobriamgrande parte da plancie. Ospequenos marcianos,selvagens como gazelas,corriam entre essas lasseguindo por toda a extensodo corredor, onde eramcapturados um por vez pelasmulheres e crianas maisvelhas. O ltimo da laapanhava o primeiro pequeno

  • a atingir o nal da passagem;quem estivesse sua frentecapturava o segundo e assimpor diante, at que todas aspequenas criaturas tivessemsado da incubadora e sidopegas por algum jovem oufmea. Conforme pegavam ascrianas, as fmeas saam dala e voltavam para suasrespectivas carruagens, aopasso que aqueles que caramnas mos dos homens jovenseram posteriormenteentregues a alguma mulher.

  • Eu vi que a cerimnia, se que poderia ser digna dessenome, estava acabada e,procurando por Sola, aencontrei em nossacarruagem com umacriaturinha horrendaapertada em seus braos.

    O trabalho de criar jovensmarcianos verdes consisteapenas em ensin-los a falar ea utilizar as armas de guerraque lhes so entregues desdeo primeiro ano de sua vida.S ados dos ovos nos quais

  • repousaram por cinco anos,seu perodo de incubao,davam o primeiro passo nomundo perfeitamentedesenvolvidos, exceto pelotamanho. No conheceriamsuas mes, que, por sua vez,teriam diculdade emapontar os pais com qualquergrau de preciso; eles so ascrianas da comunidade e suaeducao recai sobre asfmeas que por acaso oscapturaram conforme saamda incubadora.

  • S uas mes adotivas nopodem sequer ter um ovo naincubadora, como era o casode S ola - que ainda no haviacomeado a botar -, atmenos de um ano antes de setornar a me da prole deoutra mulher. Mas isso poucoconta entre os marcianosverdes, j que amor entre paise lhos lhes todesconhecido quanto comum entre ns. Acreditoque esse horrvel sistema, quevem sendo levado adiante h

  • eras, a causa direta da perdade todos os sentimentosrenados e instintoshumanitrios superioresentre essas pobres criaturas.D esde o nascimento, noconhecem o amor paternal oumaternal, no sabem osignicado da palavra lar. S oensinados que deverosuportar o sofrimento da vidaat que possam demonstrar,por meio de seu fsico eferocidade, que esto aptos asobreviver. Ao se mostrarem

  • deformados ou imperfeitosem qualquer instncia, soimediatamente eliminados. Eno devem derramar sequeruma lgrima pelas cruisprovaes s quais serosubmetidos desde a maistenra infncia. No estouquerendo dizer que osmarcianos adultos sejamdesnecessria ouintencionalmente cruis aosmais jovens, mas em sua durae impiedosa luta pelasobrevivncia neste planeta

  • em curso de morte, osrecursos naturais sereduziram a tal ponto quemanter qualquer vidaadicional signica um tributoa mais comunidade que asustenta.

    Por meio de seleocuidadosa, do suporteapenas aos espcimes maispreparados de cada espcie e,com previso quasesobrenatural, regulam a taxade nascimentos para apenascontrabalanar as mortes.

  • Cada fmea adulta marcianadeposita cerca de treze ovospor ano. Aqueles que atingemo tamanho, peso e que sejamaprovados em testesespeccos de gravidade, soescondidos nos recnditos dealguma gruta subterrneaonde a temperatura baixademais para a incubao.Todo ano esses ovos socuidadosamente examinadospor um conselho de vintelderes, e todos, exceto cemdos mais perfeitos, so

  • destrudos entre a produode um ano inteiro. Ao final decinco anos, foram escolhidosquinhentos ovos dos maisperfeitos entre milhares deovos botados. Estes, ento,so colocados emincubadoras praticamente vcuo para serem chocadospelos raios do sol duranteoutros cinco anos. A eclosoque testemunhamos hoje foium bom exemplo desseevento. Menos de um porcento dos ovos eclode no

  • espao de dois dias. Se osovos atrasados eclodiram,nada se sabe do destinodesses pequenos. Eles noso queridos porque seusdescendentes podem herdar etransmitir a tendncia deincubao prolongada eassim desorganizar o sistemaque tem se mantido por eras,permitindo que os marcianosadultos calculem o tempoadequado para retornarem sincubadoras, com preciso dehoras. As incubadoras so

  • construdas nos mais remotosrinces, onde h pouca ounenhuma chance de seremdescobertas por outras tribos.O resultado de tal catstrofesignicaria a ausncia decrianas na comunidade poroutros cinco anos.Posteriormente eupresenciaria os resultados dadescoberta de umaincubadora alheia.

    A comunidade dosmarcianos verdes da qualmeu grupo fazia parte era

  • composta por trinta milalmas. Eles cruzaram umaimensa extenso de terrasridas e semi- ridas entre aslatitudes oitenta e quarentagraus sul, e se dirigiram paraleste e oeste por dois outrosterrenos enormes cultivados.Seu quartel-general repousano canto sudoeste dessaregio, prximo aocruzamento de dois doschamados canais marcianos.Como a incubadora calocalizada no longnquo norte

  • de seu prprio territrio, emuma rea supostamentedesabitada e erma, tnhamos nossa frente uma tremendajornada da qual eu,obviamente, no fazia amenor idia.

    Aps nosso retorno cidade fantasma, passeivrios dias relativamenteocioso. No dia seguinte aonosso retorno, todos osguerreiros haviam cavalgadopara longe e ainda nohaviam voltado at pouco

  • antes do cair da noite. Comodepois aprendi, eles haviamido s grutas subterrneasonde os ovos eram guardadose os haviam transportadopara a incubadora - a qualeles novamente lacraram comnovas paredes por outroscinco anos e que, combastante probabilidade, noseriam visitadas novamentedurante esse perodo. Asgrutas nas quais escondiamos ovos at que estivessemprontos para incubao

  • estavam localizadas hmuitos quilmetros ao sul daincubadora e seriam visitadasanualmente pelo conselho devinte lderes. O porqu deno construrem suas grutas eincubadoras perto de suascidades sempre foi ummistrio para mim e, comomuitos outros mistriosmarcianos, continuaro semresposta para os costumes e oraciocnio terrqueos.

    As tarefas de S ola agorahaviam dobrado, uma vez que

  • estava encarregada de cuidardo jovem marciano e de mim,mas nenhum de ns requeriamuita ateno. Ambosestvamos praticamente nomesmo nvel de educaoquanto aos costumesmarcianos e Sola couresponsvel por treinar osdois juntos. Seu prmioconsistia em um machomuito forte e sicamenteperfeito, com cerca de ummetro e trinta de altura. Eletambm aprendia rpido e

  • nos divertimosconsideravelmente - pelomenos, eu sim - com arivalidade entre irmos quedemonstrvamos. Alinguagem marciana, como jcitei, extremamente simplese em uma semana eu podiacomunicar todas as minhasnecessidades e entenderpraticamente tudo o quediziam para mim. D a mesmaforma, sob a tutela de Sola,desenvolvi poderestelepticos que me permitiam

  • sentir praticamente tudo oque ocorria ao meu redor.

    O que mais surpreendeuS ola foi que enquanto eupodia captar facilmente asmensagens de outros -algumas, at, que nem eramendereadas a mim -,ningum podia ouvir um piode minha mente sobquaisquer circunstncias. Aprincpio, isso meatormentou, mas depoisquei muito feliz, por me daruma indubitvel vantagem

  • sobre os marcianos.

  • Captulo 08 - UMABELA CATIVA VINDA

    DO CU

    No terceiro dia aps acerimnia da incubadora, noscolocamos a caminho de casa,mas mal a ponta do cortejohavia desembocado no campoaberto diante da cidade,foram dadas ordens para umretorno imediato. Mesmotreinados por anos atravsdessa evoluo singular, os

  • marcianos verdes derreteramcomo bruma nas amplaspassagens perto dos edifciosat que, em menos de trsminutos, toda a caravana decarruagens, mastodontes eguerreiros montados haviasumido de vista.

    Sola e eu entramos em umedifcio na frente da cidade.Na verdade, era o mesmo noqual eu havia tido meuencontro com os macacos e,desejando entender o quecausara to repentina

  • retirada, subi a um andarmais alto e espreitei pelajanela sobre o vale e colinas frente. E ento vi a causa desua pressa em se esconder.Uma grande embarcaolonga, prxima ao solo epintada de cinza, balanavasobre o topo da colina maisprxima. Seguindo-a, vinhaoutra, e outra, e outra, at quevinte delas, guinando baixosobre o solo, navegavamvagarosa e majestosamenteem nossa direo.

  • Cada uma trazia umaestranha bandeiratremulando da roda da proa popa, acima das estruturas doconvs, e sobre a proa de cadauma delas estava pintado umbizarro desenho que brilhavasob a luz do sol e podia servisto com bastante clareza nadistncia que nos separavadas embarcaes. Eu podiaver guras infestando osconveses posteriores e nasestruturas das naves. Eu nosaberia dizer se eles haviam

  • nos descoberto ou se apenasolhavam para a cidadedeserta, mas, de qualquermaneira, receberam umarecepo hostil.Repentinamente e sem aviso,os guerreiros verdesmarcianos dispararam umasalva de artilharia das janelasdos edifcios que encaravam opequeno vale atravs do qualos grandes navios avanavampacificamente.

    I nstantaneamente a cenamudou, como que por

  • mgica. A embarcao mais frente pendeu de travs emnossa direo e, ativando suasarmas, retornou nosso fogoao mesmo tempo em que semovia paralelamente nossadianteira por algum tempo, eento nos deu as costas naevident