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U m a p o l í t i c a d e e s q u e rd a p a r a Po r t u g a l

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PROGRAMA ELEITORAL DO PCP« Uma política de esquerda para Portugal»

Capa e arranjo gráfico: DEP/PCPc Editorial «Avante!», SA - Lisboa, 1999

Tiragem: 5.000 exemplaresImpressão e acabamento: Ciência Gráfica

Data de Impressão: Setembro de 1999Depósito legal nº

ISBN 972-550-274-4

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ÍNDICE GERAL

1ª PARTEAS GRANDES QUESTÕES NACIONAIS.PRINCIPAIS OBJECTIVOS E MEDIDAS URGENTESPARA UMA POLÍTICA DE ESQUERDA. ................................ 09

— A situação nacional no actual contexto comunitário e global ............................................................ 11

— A acção do Governo ............................................................ 14

— Grandes linhas para uma política de esquerda ................ 16

— Dez medidas urgentes ......................................................... 21

— Em 10 de Outubro, reforço da CDU — o grande factor de mudança ............................................................... 22

2ª PARTE

PROPOSTAS SECTORIAIS E ESPECÍFICAS ....................... 25

— Desenvolvimento económico equilibrado ................. 27

n Emprego ....................................................................................................... 29

n Sistema fiscal ............................................................................................... 31

n Agricultura .................................................................................................... 33

n Pescas .......................................................................................................... 36

n Indústria transformadora .............................................................................. 37

n Construção civil e obras públicas ................................................................. 38

n Turismo ......................................................................................................... 39

n Comércio e distribuição................................................................................ 40

n Sistema financeiro ........................................................................................ 41

n Energia ......................................................................................................... 43

n Comunicações e telecomunicações ............................................................. 46

n Transportes .................................................................................................. 48

n Serviços públicos ......................................................................................... 51

n Sector público............................................................................................... 52

n Pequenas e médias empresas ..................................................................... 55

n Cooperativismo ............................................................................................ 57

n Ambiente e recursos hídricos....................................................................... 58

n Ordenamento do território ............................................................................ 62

— Desenvolvimento social .. .................................................. 65

n Segurança Social ......................................................................................... 67

n Saúde ........................................................................................................... 70

n Saúde laboral ............................................................................................... 78

n Toxicodependência ....................................................................................... 79

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n Habitação ..................................................................................................... 82

n Mulheres ...................................................................................................... 84

n Juventude ..................................................................................................... 88

n Reformados .................................................................................................. 91

n Deficientes ................................................................................................... 92

n Crianças ....................................................................................................... 94

n Imigração e estrangeiros .............................................................................. 96

n Defesa do consumidor ................................................................................. 98

— Desenvolvimento educativ o, científico e cultural 101

n Educação ................................................................................................... 103

n Ensino Superior .......................................................................................... 107

n Ensino e formação profissional .................................................................. 112

n Desporto .................................................................................................... 113

n Ciência e tecnologia ................................................................................... 115

n Sociedade da informação .......................................................................... 118

n Cultura ........................................................................................................ 120

n Comunicação Social .................................................................................. 125

— Aprofundamento da democracia .......................... 129

n Justiça ........................................................................................................ 131

n Liberdade, democracia, participação ......................................................... 132

n Direitos, liberdades e garantias .................................................................. 133

n Sistema político .......................................................................................... 134

n Poder local ................................................................................................. 135

n Regionalização/Desenvolvimento regional ................................................ 137

n Autonomia regional .................................................................................... 137

n Defesa Nacional e Forças Armadas........................................................... 138

n Administração Interna e Forças de Segurança .......................................... 139

n Movimento associativo popular .................................................................. 141

— Por tugal na Eur opa e no Mundo ........................... 143

n União Europeia e Portugal ......................................................................... 145n Emigração .................................................................................................. 147

n Política externa ........................................................................................... 149

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ÍNDICE TEMÁTICO Página

Administração Interna e Forças de Segurança ................................................ 139

Agricultura .......................................................................................................... 33

Ambiente e recursos hídricos ............................................................................ 58

Autonomia regional .......................................................................................... 137

Ciência e tecnologia ......................................................................................... 115

Comércio e distribuição...................................................................................... 40

Comunicação Social ........................................................................................ 125

Comunicações e telecomunicações ................................................................... 46

Construção civil e obras públicas....................................................................... 38

Cooperativismo .................................................................................................. 57

Crianças ............................................................................................................. 94

Cultura.............................................................................................................. 120

Defesa do consumidor ....................................................................................... 98

Defesa Nacional e Forças Armadas ................................................................ 138

Deficientes ......................................................................................................... 92

Desporto .......................................................................................................... 113

Direitos, liberdades e garantias ........................................................................ 133

Educação ......................................................................................................... 103

Emigração ........................................................................................................ 147

Emprego............................................................................................................. 29

Energia ............................................................................................................... 43

Ensino e formação profissional ........................................................................ 112

Ensino Superior ............................................................................................... 107

Habitação ........................................................................................................... 82

Imigração e estrangeiros ..................................................................................... 96

Indústria transformadora .................................................................................... 37

Justiça .............................................................................................................. 131

Juventude ........................................................................................................... 88

Liberdade, democracia, participação ............................................................... 132

Movimento associativo popular ........................................................................ 141

Mulheres ............................................................................................................ 84

Ordenamento do território .................................................................................. 62

Pequenas e médias empresas ........................................................................... 55

Pescas................................................................................................................ 36

Poder local ....................................................................................................... 135

Política externa ................................................................................................. 149

Reformados........................................................................................................ 91

Regionalização/Desenvolvimento regional ...................................................... 137

Saúde ................................................................................................................. 70

Saúde laboral ..................................................................................................... 78

Sector público .................................................................................................... 52

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Segurança Social ............................................................................................... 67

Serviços públicos ............................................................................................... 51

Sistema financeiro.............................................................................................. 41

Sistema fiscal ..................................................................................................... 31

Sistema político ................................................................................................ 134

Sociedade da informação ................................................................................ 118

Toxicodependência ............................................................................................. 79

Transportes ........................................................................................................ 48

Turismo............................................................................................................... 39

União Europeia e Portugal .............................................................................145

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PARTE

AS GRANDES QUESTÕES NACIONAIS.PRINCIPAIS OBJECTIVOS

E MEDIDAS URGENTES PARAUMA POLÍTICA DE ESQUERDA.— A situação nacional no actual contexto comunitário e global

— A acção do Governo

— Grandes linhas para uma política de esquerda

— Dez medidas urgentes

— Em 10 de Outubro, reforço da CDU — o grande factor de mudança

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1.1. Portugal está confrontado, à entrada do 3º milénio,com uma situação contraditória e com dois rumos e duaspolíticas opostas.

Uma situação contraditória que resulta da necessidade deconcretização de uma política de desenvolvimento nacio-nal, definida segundo os interesses do País e capaz defazer frente aos seus problemas, se ver confrontada coma adopção obrigatória de “políticas comuns” da UniãoEuropeia ditadas por instâncias supranacionais e em quetêm peso determinante os interesses dos países maisdesenvolvidos e das multinacionais.

Quanto às duas linhas políticas que se opõem: uma pro-cura afirmar Portugal como Estado-nação em desenvolvi-mento numa União Europeia de povos e Estados sobera-nos e iguais em direitos, renovada e com um rumo econó-mico, social e político, distinto das orientações neoliberaisque têm sido dominantes; a outra política, em sentido opos-to, quer transformar Portugal progressivamente numa “re-gião europeia” de um Estado europeu federal, parceiromenor de um bloco económico – político – militar mais oumenos dependente dos Estados Unidos da América (EUA).

Entre essas duas linhas situa-se ainda uma diversificadagama de variantes dependentes, no fundamental, da cor-relação de forças políticas, económicas e sociais, e doscaminhos que essa correlação impuser à evolução dePortugal e da União Europeia.

A política do PCP corresponde, claramente, à primeira dasorientações políticas enunciadas. Assumida, naturalmen-te, com a consciência da complexidade desta luta, face aoquadro exterior e com uma situação interna que à partidaé também desfavorável. Mas com a consciência, igualmen-te, da margem de manobra política e social que existe emPortugal e nos restantes países da União Europeia, e queestá directamente ligada à mobilização e à intervençãodos trabalhadores e dos povos.

1.2. O contexto onde decorre o confronto entre estas linhaspolíticas, em Portugal como na União Europeia, é o da“globalização” capitalista, que seguindo as orientaçõesneoliberais e num quadro de conflitos e de choques de inte-resses, está a ser concretizada sob o comando dos EUA.

É um complexo processo de domínio económico, social,político, comunicacional e cultural, onde predominam osvectores económicos, e em especial o da circulação decapitais, da internacionalização do comércio e da produ-ção, dominado e dirigido pelos principais países da Tríade(EUA, União Europeia, Japão) agrupados no G7 e por duascentenas de transnacionais. E articulado com o qual estáa emergir um propósito de intervenção e de domínio mili-

tares à escala planetária, de que a recente agressão con-tra a Jugoslávia e as alterações introduzidas no conceitoestratégico da NATO constituem as mais recentes e inquie-tantes manifestações.

A guerra económica entre pólos e empresas do capitalis-mo mundial, a extensão e aprofundamento do seu domí-nio, é acompanhada pelo agravamento da exploração dostrabalhadores, o crescimento do desemprego, das desi-gualdades económicas e sociais, da pobreza e da exclu-são, quer nos próprios países da Tríade, quer no resto domundo.

A competitividade, a rentabilidade financeira e o mercadoestão erigidos como mecanismos económicos únicos eindiscutíveis de afectação óptima de recursos e de distri-buição da riqueza produzida.

Neste quadro, o papel a desempenhar pela União Europeiaé da máxima importância. Uma União Europeia para fazera guerra económica, participar nos conflitos e no cresci-mento das desigualdades, instrumento imperialista dogrande capital europeu? Ou - é esta a opção política doPCP - uma União Europeia com outro rumo, defensora dopatrimónio social e civilizacional dos trabalhadores e dospovos da Europa, virada para a construção de uma NovaOrdem Económica e Política Internacional, assente na co-operação entre povos e países, soberanos e iguais emdireitos, orientada pelos valores da paz, da democracia,do progresso social?

1.3. São evidentes os riscos, problemas e desafios que oPaís enfrenta na União Europeia e no quadro daglobalização.

Estes riscos, desafios e problemas são em parte comunscom os de outros Estados de pequena dimensão e demédio ou baixo nível de desenvolvimento, que se encon-tram crescentemente desprovidos de instrumentos de co-mando das políticas económicas e reduzidos na sua ca-pacidade de manobra, recorrendo crescentemente, comovariáveis de ajustamento económico para as crises e ou-tras perturbações económicas, à redução dos níveis sala-riais e dos níveis de emprego.

Mas esses riscos, problemas e desafios são agravadospela demissão e o conformismo políticos do Estado portu-guês, perante a concretização de uma integração desi-gual e de políticas e orientações comunitárias, que pena-lizam claramente o País e, em particular, os trabalhadorese outras camadas laboriosas.

No conjunto dos processos comunitários assumem parti-cular gravidade:

1. A SITUAÇÃO NACIONAL NO ACTUALCONTEXTO COMUNITÁRIO E GLOBAL

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— o “Pacto de Estabilidade” de Amsterdão e outrosconstrangimentos decorrentes da União Econó-mica e Monetária, agravados pela ausência demeios, no Orçamento Comunitário, para fazer facea possíveis impactos que atingem sobretudo al-guns sectores sociais e os países menos desen-volvidos (choques assimétricos);

— o quadro em que se quer processar o alargamen-to da União, num contexto em que os países con-tribuintes líquidos pretendem reduzir as suas con-tribuições e levar a cabo alterações institucionaisdesfavoráveis aos países mais pequenos comoPortugal (regras de votação, número de comissá-rios, línguas de trabalho, rotação das presidênci-as ), e em que Portugal terá ainda que contar como aumento da concorrência intracomunitária, des-favorável ao País, dado o perfil produtivo dos paí-ses candidatos ser semelhante ao português;

— o desenvolvimento pela União Europeia de umconjunto de negociações económicas, e em parti-cular comerciais, de que avultam, pelos seus efei-tos negativos para Portugal, as da OMC - Organi-zação Mundial do Comércio, o PET (o partena-riado económico transatlântico da União Europeiacom os EUA) e outras diversas negociações bila-terais e com blocos económicos regionais(MERCOSUL, Magrebe, Bacia do Mediterrâneo,Lomé, etc.).

Estes processos, onde prevalecem as políticas neoliberais,de total liberalização comercial e da circulação dos capi-tais segundo os interesses objectivos das potências do-minantes da União Europeia e do capital transnacional,provocam todos eles uma forte intensificação da concor-rência económica. Que está naturalmente articulada como crescente domínio monopolista/oligopolista dos princi-pais sectores, actividades e mercados, com asreestruturações e deslocalizações industriais, fusões eaquisições de grandes empresas e grupos e com as im-posições comunitárias de privatização, liberalização edesregulamentação. Tudo junto, impulsionando uma bru-tal redivisão europeia (e mundial) do trabalho, tendente aprovocar em Portugal a liquidação das indústrias básicase produções estratégicas, sem alternativa, deixando-nosas indústrias e serviços de mão-de-obra intensiva, mo-desto perfil tecnológico e baixo valor acrescentado.

A evolução das balanças comerciais dos diversos paísesda União Europeia é expressão desses processos: enquan-to que o défice da balança comercial portuguesa, entre1993 e 1999, se agrava em cerca de 50%, a Alemanhamultiplica por 3, e a França por 4, os seus excedentescomerciais.

Não pensamos que tais problemas e consequências maisgravosas sejam uma fatalidade.

Há uma alternativa com outro rumo para a União Europeia,de que Portugal deve ser um activo protagonista, e outrapolítica interna para Portugal.

Três direcções de luta se impõem:

A primeira , para que o Governo português e os represen-tantes de Portugal na União Europeia defendam com co-ragem os interesses portugueses, invocando, além domais, princípios ainda constantes nos Tratados como “acoesão económica”, “a coesão social”, os “interesses vi-tais”, as “características específicas”, o princípio da una-nimidade em certas decisões, etc..

A segunda , a luta do povo português e seus movimentose organizações sociais e políticas na constante defesa deinteresses concretos atingidos pela política do governo oupor decisões supranacionais.

A terceira , a luta por uma profunda modificação da UniãoEuropeia – por uma União Europeia de povos e Estadossoberanos e iguais em direitos, renovada e com um rumoeconómico, social e político, distinto das orientações quetêm sido dominantes.

1.4. Apesar de alguns progressos em infra-estruturas físi-cas, de algum crescimento da população escolarizada euniversitária, e de algumas actividades económicas de bomnível tecnológico, o País mantém gritantes desigualdadese assimetrias e um conjunto de características e índicessocioeconómicos que o colocam no fim da lista dos paí-ses da União Europeia.

No plano económico mantém-se uma situação periféricae dependente, de uma economia subcontratada e comcentros de decisão crescentemente no exterior.

Permanece uma débil estrutura produtiva (indústria, agri-cultura, pescas), uma especialização sectorial assente emmão-de-obra barata e crescentemente precarizada, comos índices de produtividade mantendo a distância, desde1992, em cerca de 40% da média comunitária.

É de sublinhar que este período de não convergência daprodutividade nacional com a produtividade média co-munitária, desmente inteiramente os argumentos dos“ganhos em eficiência” e dos “avanços na modernização”com que foi apresentada, primeiro pelo governo de Ca-vaco Silva e depois pelo governo PS/António Guterres, apolítica económica das privatizações e a convergêncianominal prevista no Tratado de Maastricht. E coincide coma década em que os fundos estruturais foram duplicadose que, ao abrigo do II QCA, se aplicaram largos milhõesde contos nas pescas, agricultura, indústria e em infra-estruturas e formação profissional, cuja escassez de re-sultados em termos nacionais e sociais contrasta viva-mente com os benefícios ilegítimos proporcionados àsclientelas do poder.

O défice da balança comercial passou, entre 1993 e 1998,de 1500 milhões de contos para cerca de 2300 milhõesde contos, continuando a balança de pagamentos equili-brada pelas receitas do turismo e por duas transferências

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de futuro incerto: remessas de emigrantes e fundos co-munitários.

À debilidade da estrutura produtiva soma-se a crescenteconcentração e predomínio do sector financeiro, com osseus instrumentos e estruturas transformados em gigan-tesco aspirador da riqueza criada nos sectores produti-vos. São escandalosas as taxas de crescimento dos lu-cros da banca portuguesa. Parte importante da estruturaprodutiva de bens de consumo está também cada vez maisdependente da grande distribuição fortemente penetradapelo capital estrangeiro.

Mantiveram-se, e em alguns casos agravaram-se, conhe-cidos défices estruturais do País, designadamente o ali-mentar, o energético, o tecnológico, e a qualificação dosrecursos humanos .

Às vulnerabilidades económicas somam-se enormes fra-gilidades e problemas em serviços públicos com a impor-tância da saúde, da educação e da segurança social, nosistema da justiça, na máquina administrativa, anquilosada,burocrática e centralista do aparelho do Estado.

O Estado português, em virtude da aceleração daintegração comunitár ia e de processos como asprivatizações, perdeu importantes instrumentos de defe-sa dos interesses do povo português na esferas económi-ca e social, ou está manietado na utilização de outros,como é o caso flagrante do Orçamento do Estado obriga-do, pelo Pacto de Estabilidade, ao cumprimento estrito doscritérios de convergência nominal.

No ano em que a Revolução de Abril comemora um quar-to de século é dramático, e sobretudo escandaloso, quePortugal seja a mais desigual das sociedades da UniãoEuropeia, como recentes dados estatísticos do EUROSTATtornam a evidenciar. Também grave, apesar das tentativasdo Governo PS de escamotear o problema, é a perma-nência e mesmo a possibilidade admitida de se agrava-rem os desequilíbrios territoriais com todas as suasconsequências, onde a sobrepopulação do Litoral, e emparticular das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto,surge como o contraponto da desertificação do Interior ede vastas áreas rurais.

1.5. A razoável conjuntura económica que Portugal tematravessado e os efeitos de algumas grandes obras públi-cas, não podem ser utilizadas para iludirem os grandes egraves problemas estruturais existentes e a consciênciade estar a ser desperdiçada uma importante oportunida-de para progredir no sentido da sua superação.

O reconhecimento de décadas de atraso acumulado, avalorização do trabalho e das capacidades dos portugue-ses e das potencialidades do País, não autoriza o recursoà prestidigitação estatística para escapar ao reconheci-mento da enorme dimensão da precariedade laboral e dosubemprego, a coberto do incerto “êxito” da taxa de de-

semprego, nem permite passar ao lado da gravidade dasassimetrias regionais e do significado do crescimento dosfenómenos da pobreza e da exclusão social.

A importância do Investimento Directo Estrangeiro para anossa economia, não pode servir para ignorar os gravesproblemas provocados por investimentos que se inseremem propósitos hegemónicos ou que apresentam as ca-racterísticas de um capital nómada que está sempre prontoa levantar a tenda para outras paragens quando oportuni-dades mais imediatas e lucrativas lhe surgem.

As interdependências das economias e das vidas dos tra-balhadores e dos povos nos dias de hoje, não podem demaneira alguma serem identificadas com uma economiavivendo sem agricultura, sem pescas e com alguns des-valorizados sectores industriais, nem dispensam uma sóli-da base produtiva e económica nacional como suporte paraa soberania, a identidade cultural e o futuro do país.

A adopção de medidas sociais orientadas para os maisdestituídos de recursos, como o Rendimento Mínimo Ga-rantido, decididas aliás com a iniciativa e a contribuiçãodeterminantes do PCP, não pode servir para absolver ogoverno do PS do prosseguimento de políticas que estãoincessantemente a produzir mais desigualdades e maispobreza e exclusão. Nem o estabelecimento de mínimossociais autoriza a violação e o abandono do quadro dedireitos sociais tal como estão consagrados na Constitui-ção, como é propósito explicitado pelo governo do PS noPlano Nacional de Desenvolvimento Económico e Socialquando propõe o “abandono gradual da concepção doEstado-Providência” e a sua substituição de facto por um“Estado mínimo” de recorte assistencialista apenas paraos mais pobres.

Frases sonantes e slogans de publicidade política, como“transparência política”, “proximidade dos eleitos e eleito-res”, podem ser utilizadas pelo PS e pelos partidos dadireita, para tentar justificar uma alteração do sistema elei-toral que salvaguarde o rotativismo centrado no PS ou noPSD face a significativas viragens eleitorais. Mas não alte-ram as verdadeiras e reais causas do crescente desfavor,afastamento e indiferença dos cidadãos perante a activi-dade política: promessas incumpridas, a desigualdade doscidadãos perante a justiça e o Estado, o campear da cor-rupção e do nepotismo sem investigação nem castigo, ademocracia tantas vezes desvirtuada, os cidadãos redu-zidos a meros espectadores da política.

Os portugueses precisam de outra política. Uma políticade esquerda que só poderá ser construída com a partici-pação e o reforço do PCP.

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Nada nem ninguém impediu o PS e o Governo do eng.António Guterres de cumprirem os compromissos que as-sumiram perante os eleitores nas legislativas de 1995. Pelocontrário, dispuseram de todas as condições políticas eparlamentares, económicas e sociais, para que se fosseesse o seu verdadeiro propósito o tivessem de facto con-cretizado.

Passados quatro anos, o capital de expectativa, de bene-fício da dúvida, que foi concedido por largos sectores doeleitorado em relação ao Governo do PS e ao Primeiro--Ministro, deu lugar a um alargado sentimento de frustra-ção provocado pelo incumprimento de grande parte daspromessas feitas. E a principal e fundamental promessanão cumprida foi a de fazer uma política diferente, nosseus aspectos essenciais, da política dos GovernosPSD/Cavaco Silva.

Na hora da avaliação destes quatro anos de governaçãodo PS, o que ressalta assim aos olhos de muitos portu-gueses, incluindo naturalmente de muitos socialistas, éque houve alternância no poder, mas que à mudança deprotagonistas não correspondeu uma real alternativa nasprincipais políticas.

Recorde-se que foi logo após as eleições, que o PS e oGoverno do eng. Guterres apresentaram um programa degoverno assente em opções fundamentais de naturezaneo-liberal e em que eram deixadas cair no esquecimentomuitas das promessas anteriores, tendo dessa forma afas-tado expressamente quaisquer condições para o desen-volvimento de entendimentos preferenciais à esquerda eaberto o caminho, como se viria a comprovar ao longo detoda a legislatura, para alianças políticas e parlamentaresà direita, com o PSD e o CDS/PP.

Mas não é só uma irrecusável evidência que durante es-tes quatro anos o PS prosseguiu no Governo os eixosessenciais da política antes desenvolvida pelos governosdo PSD. É ainda patente que em alguns domínios - comoé o caso, entre outros, das privatizações e dos direitosdos trabalhadores - tomou mesmo a iniciativa de desferirgolpes que o último Governo de Cavaco Silva, entretantodesgastado e enfraquecido, já não teve nem forças nemcondições para concretizar.

Diferenças de estilo à parte, a prometida nova forma defazer política caracterizou-se na realidade por toda umapanóplia de concepções e de procedimentos semelhan-tes, nos aspectos substanciais, às dos governos do PSD.Por exemplo: a mesma ocupação do aparelho do Estadopor critérios de compadrio político e partidário (os “jobsfor the boys”); a profunda promiscuidade entre o poderpolítico e o poder económico; a invocação da opinião demeios financeiros internacionais como argumento de au-toridade sobre a excelência da política do Governo; a apre-

sentação do partido do Governo como o “único referencialde estabilidade” e a qualificação das oposições como só“sabendo dizer mal”, acompanhadas pela substituição for-mal da máxima cavaquista das “forças de bloqueio” peladas “coligações negativas” e pelo ressuscitar do famoso“deixem-nos trabalhar”.

O Governo assumiu também uma postura claramenteneocorporativa, procurando amarrar as estruturas sindi-cais a uma “concertação estratégica” dominada pelos ob-jectivos e interesses do grande patronato e envolver ecorresponsabilizar organizações sociais na aplicação dassuas opções políticas.

A Assembleia da República foi ferida na sua dignidade,autonomia e atribuições, tanto em matérias de política in-terna (acordo extra-parlamentar PS/PSD de revisão cons-titucional, realização de um referendo sobrepondo-se à leiaprovada sobre a IVG, pressões na votação de Relatóriosde Inquérito), como de política externa (guerra contra aJugoslávia, novo conceito estratégico da NATO).

Continuaram a verificar-se graves situações de corrupção,envolvendo níveis elevados da Administração Pública, coma investigação e apuramento geridos em função dos inte-resses políticos e eleitorais do Governo.

É certo que, ao longo dos quatro anos de governação,medidas houve que procuraram corresponder a reclama-ções populares e a causas defendidas pelo PCP. Por exem-plo, a criação e implementação do Rendimento MínimoGarantido, o aumento (registado no último ano dalegislatura) das pensões para uma parcela minoritária dosreformados abrangidos pelas pensões mínimas do regi-me geral, o arranque do empreendimento do Alqueva, adecisão de preservar as gravuras de Foz-Côa, ou o voto afavor com a consequente aprovação parlamentar do pro-jecto de lei do PCP para acabar com as listas de esperano Serviço Nacional de Saúde.

Mas no cômputo geral da acção do Governo, essas pou-cas medidas são a excepção que confirma a regra, ape-nas algumas “preocupações sociais” para tentar esbater oquadro das opções determinantes.

Quanto a estas, constitui uma evidência que a acção doGoverno do PS foi particularmente marcada pela subordi-nação aos interesses dos grandes grupos económicos epelos dogmas neoliberais que os sustentam: primado doeconómico sobre o social, privilégio do financeiro em de-trimento do produtivo, fundamentalismo na privatização deempresas e de serviços públicos, liberalização edesregulamentação de mercados, ofensiva contra os di-reitos sociais e dos trabalhadores.

Esta política ficou particularmente assinalada no prosse-guimento das principais orientações e linhas de negocia-

2. A ACÇÃO DO GOVERNO

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ção da política comunitária levada a cabo pelos Governosde Cavaco Silva em relação à revisão do Tratado deMaastricht (Amesterdão), ao avanço para a moeda única,ao Pacto de Estabilidade, à negociação dos fundos estru-turais e à nova reforma da PAC da Agenda 2000.

Nunca como nos últimos anos e com este Governo do PS,foram tão estreitas e intricadas as relações entre o poderpolítico e o poder económico e foi tão abertamente assu-mida uma política governamental de apoio aos grandesgrupos económicos.

A muito prometida e proclamada consciência social de queo PS teria imbuído o seu Governo, foi substituída de factopor uma indesculpável insensibilidade.

As desigualdades sociais aumentaram nos últimos quatroanos, e o Governo do PS não avançou com uma políticade reequilíbrio na distribuição da riqueza nacional, nome-adamente através de uma generalizada melhoria dos sa-lários e da elevação das pensões que se situam nos ní-veis mais baixos. Não levou à prática uma redução de acor-do com o que seria possível de preços de bens e serviçoscom grande impacto na população portuguesa, como é ocaso da energia eléctrica e os das chamadas telefónicas,sendo que no caso destas últimas permitiu mesmo quefossem aumentados os utentes residenciais.

Os trabalhadores foram os alvos sociais preferenciais da“estratégia” do Governo de privilegiar os interesses do gran-de patronato.

As investidas do Governo contra a dignificação e a valori-zação do trabalho estão espelhadas no apoio expressoao patronato para o incumprimento do horário das 40 ho-ras, na lei da flexibilidade e da polivalência, na rejeição dareposição da idade de reforma das mulheres aos 62 anos,nas leis do trabalho a tempo parcial e do trabalho noctur-no, nas ameaças consubstanciadas nas propostas de leide alteração do regime legal das férias e do conceito deretribuição, no incumprimento governamental de compro-missos assumidos na administração pública, no aumentodo trabalho precário e sem direitos.

E, diferentemente do que o Governo e o Primeiro-MinistroAntónio Guterres pretendem fazer crer, o drama social dodesemprego existe e persiste, mesmo quando se preten-de encobrir a realidade com o regresso “estatístico” à ac-tividade agrícola, entre 1995 e 1998, de 160.000 cidadãos.

As muito prometidas “reformas estruturais”, designada-mente no âmbito do sistema fiscal, do financiamento dasegurança social, da saúde e da justiça, foram um logro.Nenhuma se concretizou porque o Governo do PS nunscasos não quis beliscar interesses ilegítimos instalados enoutros casos pretendeu diferir a adopção de medidas al-tamente impopulares para depois das legislativas.

Em matéria de saúde, o Governo, embora dando algumasrespostas aos profissionais do sector, não travou a degra-

dação do Serviço Nacional de Saúde e não deu soluçãoaos principais problemas que se colocam na óptica dosutentes.

A promoção de um ensino público de qualidade e paratodos, não constituiu de facto um objectivo fundamentaldeste Governo. Apesar de ter disponibilizado mais recur-sos públicos, o Governo não alterou as opções fundamen-tais da política educativa nem resolveu os problemas es-truturais do sector.

Apesar de ter “eleito” publicamente a droga como inimigopúblico número um, o Governo não desenvolveu uma po-lítica capaz de travar o avanço do consumo e do tráfico dedroga. De tal modo que só após quatro anos deindefinições, em fim de mandato, apresentou um docu-mento de estratégia de combate à droga tentando esca-motear as medidas que não tomou.

No sector da Justiça, o Governo beneficiou de todas ascondições institucionais para a aprovação das leis de re-forma orgânica e processual que propôs, muitas delas desentido positivo. Mas, o problema essencial da Justiça paraos cidadãos é o facto de ela ser lenta, cara, e de se cons-tatar a morosidade e ineficácia da investigação de gran-des processos que atingem zonas do poder, como é ocaso da investigação do “caso Moderna”. E, nesse plano,a acção do Governo deixou, no essencial, a situação namesma, a par de uma inabilidade que alimentou as ten-sões entre diversos corpos de agentes da justiça.

Na área dos Serviços de Informações, ocorreu a mais gravee escandalosa situação no plano do funcionamento dasinstituições e da garantia dos direitos dos cidadãos. Osserviços viveram praticamente toda a legislatura sem con-trolo, sem a plena fiscalização tal como a lei a prevê. E foinesta área que ocorreu um caso paradigmático da falta desentido de Estado do Governo, com a acção irresponsá-vel da tutela ministerial visando a direcção do SIEDM, queculminou na notória degradação das actividades de Infor-mações para a Política Externa e de Defesa Nacional.

A política do Governo para as Forças Armadas foi lesivada sua dignidade e papel, desmotivadora para os seusquadros e paralisante quanto ao funcionamento e cumpri-mento das suas missões essenciais.

Em matéria de política externa, o Governo subscreveu in-teiramente todas as decisões que a NATO e/ou os Esta-dos Unidos tomaram no plano da estratégia e das acçõesmilitares: envolveu as Forças Armadas na operação daBósnia; cedeu a Base das Lages para novas agressõesdos EUA contra o Iraque; assumiu à sua responsabilidadea participação na Força de agressão à Jugoslávia, aban-donando os necessários esforços de paz e ajudando adescredibilizar a ONU; subscreveu o novo conceito estra-tégico da NATO que admite acções fora da área NATO esem mandato da ONU; e participa nos esforços para darà União Europeia uma vertente militar de poder agressivo.

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Em 1995, com o seu voto, os eleitores portugueses mani-festaram a vontade maioritária de uma ruptura com as po-líticas de direita, de uma mudança efectiva de políticas.

O Governo do PS defraudou as expectativas desses cida-dãos, da maioria dos cidadãos portugueses: em vez deinverter as políticas dos Governos do PSD, manteve a iden-tidade essencial dessas políticas.

O Governo expressamente excluiu, pelas opções que as-sumiu, qualquer hipótese de entendimentos à esquerdana Assembleia da República e na sociedade, para realizaruma política de progresso e de justiça sociais.

Pelo contrário, o PS e o seu Governo fizeram, voluntaria-mente, uma escolha preferencial de aproximação à direitae com a direita, nos planos político, económico e social.

Decorridos quatro anos desde as últimas legislativas, nãoapenas se mantêm como em muitos casos se agravaramproblemas básicos do povo e do país, que se prendemcom as condições de vida e de trabalho de muitos portu-gueses, com o desemprego e o subemprego, com as in-justiças sociais, com as crescentes desigualdades na re-partição do rendimento nacional, com dificuldades edesequilíbrios na esfera produtiva e na economia real, comassimetrias regionais.

Mas um facto ficou suficientemente comprovado: a persis-tência dos principais problemas com que a sociedade por-tuguesa está confrontada e a frustração suscitada pela ex-periência governativa do PS nestes quatro anos não resul-ta do insucesso de uma política de esquerda: assenta norenovado fracasso da aposta numa política de direita.

O PCP propõe ao povo português um conjunto de dozegrandes objectivos que, tendo como horizonte temporala próxima legislatura, consubstanciam as traves mestrasde uma necessária política de esquerda para Portugal.

São esses objectivos :

1º Promover o desenvolvimentoeconómico e social

Para o PCP, o desenvolvimento económico deve ter comoorientação e objectivo centrais a satisfação das necessida-des materiais e imateriais dos cidadãos. E colocar comoprioridades: o crescimento económico acelerado e susten-tado; uma economia com um perfil produtivo valorizado,regionalmente equilibrada e preservadora dos recursosambientais; o aumento do emprego estável e com direitos;uma mais equitativa repartição da riqueza criada.

Ao modelo neoliberal (sacralização do mercado e o domí-nio e papel estruturante dos grupos monopolistas), o PCPcontrapõe como alternativa um projecto democrático, so-cial e participado que tem como objectivo a concretizaçãoda coesão e convergência real no espaço económico ondenos inserimos. Um projecto que permita aos trabalhado-res e a outras camadas laboriosas da população benefici-ar dos avanços da ciência, da técnica, e da cultura, asso-ciando a modernização e a utilização das novas tecnologiascomo elemento de combate ao desemprego e às desi-gualdades e exclusão sociais.

No quadro de uma economia mista, o PCP advoga o fimimediato do processo de privatizações que atinge sectoresbásicos e estratégicos, serviços públicos e funções do Es-tado, assumindo este uma posição reforçada para garantiro papel e a responsabilidade que lhe competem na defesa,

dinamização e controlo dum sector público forte, dinâmico emodernizado, com um papel determinante nos sectores bá-sicos e estratégicos. Assim, impede-se a transferência dadecisão e soberania económica nacionais para o estrangei-ro, e garante-se a prestação de serviços públicos necessári-os para melhorar as condições de vida dos portugueses.

A nova política económica que o PCP defende privilegia aactividade produtiva, promove e incentiva a produção na-cional e valoriza o papel das micro, pequenas e médiasempresas, privilegiando-as no acesso aos fundos comu-nitários e a outros incentivos.

2º Assegurar o direito ao ambientee à qualidade de vida

Para o PCP, o desenvolvimento deve igualmente ser en-carado como um processo sustentado e de longo prazo,que tenha o ambiente e a qualidade de vida como preocu-pações essenciais.

A responsabilidade nesta matéria deve ser partilhada pe-los cidadãos, autarquias locais, regiões autónomas e asmais diversas entidades públicas e privadas. Mas tem so-bretudo que envolver o Estado e a Administração Centralque não se podem refugiar em políticas ditas dedescentralização ou parceria para se demitirem da suaresponsabilidade ou para entregarem aos sectores priva-dos o real controlo das decisões.

O Governo, em especial, não pode fugir às suas responsabi-lidades específicas e centrais na política de ambiente. E hojeé responsável pela sua política dentro das fronteiras, mastambém pelo seu empenho na União Europeia e nas instân-cias internacionais. É aí, com efeito, que são tomadas algu-mas das orientações estratégicas em matéria ambiental.

3. GRANDES LINHASPARA UMA POLÍTICA DE ESQUERDA

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O PCP propõe, assim, uma radical mudança de orienta-ção, em que a defesa e preservação do ambiente e dosrecursos naturais e a racionalidade da ordenação e ocu-pação do território sejam parte integrante da política dedesenvolvimento.

3º Promover o trabalho com direitos eo emprego de qualidade

Uma política de esquerda coloca como questãoincontornável a defesa, efectivação e promoção do traba-lho e do emprego com direitos, base essencial do desen-volvimento e justiça social.

O PCP propõe e bate-se por uma política assente na pro-moção do emprego com estabilidade e com direitos, nocrescimento dos salários reais que garanta o aumento dopeso da massa salarial no rendimento nacional, na cres-cente e faseada valorização do salário mínimo nacional.

O PCP considera essencial a redução progressiva do ho-rário semanal de trabalho sem redução do salário, o aban-dono do pacote laboral do governo PS, a paragem dosprocessos de desregulamentação das relações laborais eo combate à generalização dos vínculos precários trans-formando-os em situações de excepção e de recurso fun-damentado.

Uma política social e laboral pressupõe a efectivação dosdireitos colectivos designadamente de negociação econtratação colectiva, assegurar e reconhecer a liberda-de sindical e os direitos das Comissões de Trabalhado-res, dar conteúdo efectivo ao direito de participação naelaboração da legislação laboral e respeitar o direito degreve conforme a Constituição da República o consagra;uma maior justiça nas situações de sinistralidade do tra-balho e de doenças profissionais, no combate ao traba-lho infantil e às discriminações a que são sujeitos os jo-vens e as mulheres nos locais de trabalho; uma políticade formação profissional conducente à realização dostrabalhadores no activo e dos jovens trabalhadores, to-mando a iniciativa e apoiando todas as medidas que pro-movam a formação qualificada. A defesa dos direitos dasmulheres trabalhadoras impõem a concretização de umconjunto de medidas específicas que penalizem práticasdiscriminatórias, combatam estereótipos sociais que lhesrestringem domínios profissionais e facilitem o acesso àformação profissional, como forma de ultrapassar bar-reiras entre a formação escolar e as funções que desem-penham na vida activa.

4º Reformar o sistema fiscal no sentidode maior justiça tributária, eficáciae eficiência

O nível de fiscalidade em Portugal é dos mais baixos dospaíses da União Europeia. Simultaneamente, a carga fis-cal é demasiado pesada para inúmeros cidadãos que pa-gam impostos. Porque a repartição da carga fiscal é pro-

fundamente iníqua, é escandalosa a inoperacionalidadepara combater a insustentável evasão fiscal e o regimedos benefícios fiscais se transformou numa política defavores ilegítimos às aplicações financeiras e especu-lativas.

Por isso, o PCP propõe, como imprescindível e urgente,a concretização de uma reforma fiscal exequível, orien-tada pelos princípios da justiça na repartição da cargatributária, da tributação de acordo com a capacidadecontributiva, da progressividade do sistema fiscal; e as-sente no alargamento da base tributária, na melhoria dafiscalização e do controlo e no assegurar de garantiasde defesa dos contribuintes.

Uma reforma fiscal que alivie o peso profundamente in-justo da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho,que tribute os rendimentos e mais valias do capital, pe-nalize fiscalmente as actividades especulativas, comba-ta a evasão e fraude fiscais.

Por acréscimo, a reforma fiscal é indispensável para aconcretização de outras reformas, em particular a reformado financiamento da Segurança Social, e para que o Orça-mento disponha dos recursos suficientes para que o Esta-do cumpra cabalmente as suas responsabilidades sociais.

5º Realizar uma reforma democráticado Serviço Nacional de Saúde

O PCP recusa firmemente um caminho que acentue a di-visão dos portugueses, do ponto de vista da garantia doseu direito à saúde, em cidadãos de primeira e de segun-da. E que conduza à divisão entre aqueles que têm capa-cidade económica (ou capacidade para se endividarem)para usufruírem da prestação de cuidados de saúde dequalidade, e os restantes portugueses, a grande maioria,que não tendo essa capacidade económica ficariam con-denados ao acesso apenas a um sistema residual e cari-tativo de saúde, com cuidados de saúde e outras presta-ções de nível inevitavelmente inferior.

O PCP assume por isso a defesa do Serviço Nacional deSaúde. Não do SNS como está, desfigurado pelas conti-nuadas orientações que têm sido postas em prática. Masdo SNS regressado à filosofia e à inspiração democráticae humanista inicial, ajustado às novas condições de pro-gresso tecnológico, aos problemas que o crescimento doscustos e a evolução organizativa colocam, aos novos emais exigentes padrões de saúde possíveis e por issoacessíveis a todos os seres humanos.

Em coerência com a sua postura, crítica e interventiva aolongo dos últimos anos, o PCP assume a necessidade deuma reforma democrática do Serviço Nacional de Saúde,assente num conjunto de orientações estratégicas taiscomo a autonomia e a regionalização, um novo sistemade financiamento, a gestão democrática das unidades desaúde e a separação do sector público e do sector privado.

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E defende, em simultâneo, a adopção de políticasprioritárias nos domínios da concretização do direito àsaúde, da qualidade dos serviços, da valorização dos cui-dados de saúde primários, da resolução das listas de es-pera, da racionalização e embaratecimento dos medica-mentos, da promoção dos direitos dos utentes e que pres-te uma particular atenção aos problemas da saúde men-tal, da toxicodependência e da SIDA.

6º Concretizar mais e melhorSegurança Social

A Segurança Social constitui nas sociedades de hoje umdireito fundamental e uma função social do Estado de pri-mordial importância.

Em Portugal, sucessivos governos mantiveram as presta-ções sociais num nível muito baixo, deixaram acumularvultuosas dívidas do Estado em relação ao Orçamento daSegurança Social e assumiram uma postura de extremapermissividade face à evasão contributiva e ao enormevolume de dívidas das empresas.

As insuficiências do sistema de segurança social portugu-ês (baixo nível das prestações sociais, insuficiências eevasão contributiva, etc.) não põem porém em causa odireito fundamental que ele concretiza nem desvalorizamas suas inegáveis realizações e muito menos o imensopatrimónio social que foi erguido com o trabalho e o sacri-fício de várias gerações da trabalhadores portugueses.

À política de menos segurança social e às orientaçõesneoliberais que invocam a insustentabilidade financeira dosistema público para justificar a sua privatização, o PCPcontrapõe não só a necessidade, mas a possibilidade realde defender, reforçar e aperfeiçoar o sistema público desegurança social como garante do efectivo exercício detodos à segurança social.

Nessa perspectiva sustenta a concretização de três linhasfundamentais:

— a garantia dos direitos adquiridos e em formação,de todos e individualmente de cada um, dos con-tribuintes/beneficiários do sistema público de se-gurança social, com reforço da confiança no sis-tema e recusa à aplicação de condições mais des-favoráveis que as vigentes;

— a melhoria das prestações sociais e a elevação sig-nificativa e continuada dos seus valores, em es-pecial das prestações que se encontram a níveismais degradados;

— e o reforço do financiamento do sistema público desegurança social, por forma a garantir, no presen-te e no futuro, os compromissos assumidos e apermitir uma resposta mais eficaz aos riscos so-ciais.

7º Colocar a educação, a ciênciae a cultura à altura dos desafiosdo novo milénio

A importância estratégica que a educação assume nodesenvolvimento harmonioso e integral dos indivíduosimpõem que a área da educação, do ensino e da forma-ção seja considerada como uma das principais priorida-des do país.

O papel do ensino público é imprescindível a uma políticaque vise assegurar o direito à educação e cumprir a in-cumbência constitucional atribuída ao Estado neste do-mínio.

A defesa, aperfeiçoamento e evolução de uma escola pú-blica democratizada e de qualidade, constituem, em to-dos os níveis de ensino, uma opção fundamental.

O PCP sublinha em particular a necessidade de continua-ção de um esforço financeiro em relação à educação emordem a revalorizar a acção educativa e a recuperar atra-sos relativamente à União Europeia, de aprovação de umplano de desenvolvimento da educação, precedido de umamplo debate.

Quanto ao sector da Ciência e Tecnologia, assume umaparticular importância a formulação de uma política na-cional de C&T que tenha em conta os problemas especí-ficos do País, as actuais carências e também as suaspotencialidades; as tendências e linhas de força à esca-la internacional do desenvolvimento da C&T e suas inter-acções com a evolução económica, social e cultural dassociedades desenvolvidas; a necessidade de preservaros equilíbrios naturais e garantir uma gestão adequadados recursos não renováveis; e a assunção plena do pa-pel determinante do sector público e das responsabilida-des do Estado no fomento das actividades de I&DE.

O PCP assume a necessidade de desenvolvimento dasrespostas adequadas aos desafios da universalidade deacesso colocados pela sociedade da informação.

O PCP defende um contínuo progresso cultural, pelo respei-to pela diversidade e identidades nacionais, de modo a pro-jectar e a valorizar a cultura portuguesa, numa perspectivade abertura e cooperação com todos os povos do mundo.

8º Promover a reforma democráticado Estado e aprofundar a participaçãodemocrática dos cidadãos

A reforma democrática do Estado e o aprofundamento daDemocracia são parte integrante de uma política de valo-rização e defesa efectiva dos direitos políticos e das liber-dades e devem ter uma influência efectiva na concretizaçãodos direitos económicos, sociais e culturais.

Ao nível dos órgãos de soberania, importa realizar plena-mente o princípio da separação e da interdependência, o

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que significa reforçar os poderes e o papel legislativo efiscalizador da Assembleia da República.

O PCP entende que, em áreas essenciais, só os serviçospúblicos podem assegurar a concretização dos direitoseconómicos, sociais e culturais dos cidadãos, sobretudodas populações mais carecidas e/ou residindo em áreasrurais do interior. Por isso, importa travar e inverter odesmantelamento ou privatização dos serviços públicos etravar a política de alimentar actividades privadas à custadas actividades públicas nas mesmas áreas.

Ao nível da Administração Pública impõe-se assegurar amodernização, a desburocratização, a descentralização eassegurar a desconcentração com carácter sistemático.Impõe-se garantir melhores condições de trabalho.

Os direitos dos utentes da Administração Pública devemser preocupação central. É necessário prestar especialatenção ao atendimento e comodidade dos utentes, àceleridade do procedimento administrativo.

Impõe-se combater com firmeza as clientelas, a corrup-ção e o tráfico de influências.

É preciso descentralizar para fortalecer o Poder Local doponto de vista financeiro e das suas atribuições e compe-tências. Mas importa assegurar que a descentralizaçãonão seja falseada com imputação de responsabilidadessem meios, como forma de o Governo e a AdministraçãoCentral se demitirem do seu papel.

Impõe-se igualmente relançar o processo de criação aprazo das regiões administrativas, que continuaestabelecida na Constituição e que continua a poder vir aser um factor de democratização administrativa e de de-senvolvimento.

Finalmente, a democracia participativa tem que ser umcritério essencial de estruturação e reforma democráticado Estado, designadamente pela efectivação dos direitosde participação e intervenção das organizações de traba-lhadores e de outras estruturas do movimento popular.

9º Assegurar a reforma urgenteda Justiça para concretizar os direitos,liberdades e garantias

A crise da Justiça é unanimemente reconhecida. Adenegação prática do princípio da igualdade dos cidadãosperante a lei tem, na aplicação da Justiça no nosso país,porventura uma das suas expressões mais concretas einsofismáveis.

Exemplos recorrentes, mas incontornáveis destas reali-dades, são os milhares de processos que se acumulamnos Tribunais sem decisão e cujo tempo médio de dura-ção se mantém excessivamente elevado. Mas são-no tam-bém todos os chamados mega-processos que envolvemfiguras públicas e que se arrastam e encaminham quasesempre para o arquivamento ou a prescrição.

A impunidade dos senhores do dinheiro e do poder cons-titui uma gritante desigualdade, descredibiliza um sistemade Justiça e corrói os próprios fundamentos do Estado dedireito democrático.

A gravidade da situação da Justiça no nosso país, exigeque seja levada a cabo uma reforma profunda, na ópticade uma Justiça ao serviço do cidadão e da defesa dosseus direitos, liberdades e garantias. Tal implica, não ape-nas capacidade política à altura da emergência das mu-danças reais que são necessárias mas, simultaneamen-te, o empenhamento de todos os sectores democráticosda sociedade e o envolvimento de quantos trabalham naJustiça.

A reforma profunda de que a Justiça carece deve visar,como grandes objectivos, a democratização do acesso doscidadãos à Justiça, maior celeridade na aplicação da Jus-tiça, sem prejuízo de direitos e garantias, uma Justiça maispróxima dos cidadãos e a prioridade no combate ao “cri-me de colarinho branco” e à grande criminalidade.

10º Concretizar o direitodas mulheres à igualdade

O direito das mulheres à igualdade no trabalho e na famí-lia e à participação social e política constitui uma impor-tante componente de uma política de esquerda.

É indispensável a implementação de acções de promo-ção da igualdade em todos os domínios da sociedade por-tuguesa, especialmente destinadas a combater discrimi-nações a que as mulheres estão sujeitas.

Uma política de promoção da igualdade de direitos paraas mulheres impõe igualmente a permanente avaliaçãodos impactos das diversas políticas globais na situaçãodas mulheres, enquanto cidadãs, trabalhadoras e mães ea fiscalização do cumprimento da legislação em vigor quegarante a igualdade de direitos.

O efectivo reconhecimento do estatuto de parceiro socialàs organizações de mulheres e o apoio à intervenção dasmulheres e das organizações sociais em prol da igualdade.

A defesa da maternidade-paternidade deve ser assegura-do através da promoção da qualidade de vida e estabili-dade de emprego dos progenitores e a efectiva garantiade exercício dos direitos pelas(os) trabalhadoras(es) nomercado de trabalho em conjugação com uma rede públicade educação pré-escolar, de apoio à juventude e aos ido-sos.

O direito a uma maternidade-paternidade livre e consci-ente é inseparável do direito dos cidadãos viverem umasexualidade responsável e liberta de medos e de riscosde gravidezes indesejadas.

Assim, são necessários novos passos na promoção daeducação sexual nas escolas, a garantia de informação eacesso gratuito aos métodos de planeamento familiar.

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A despenalização do aborto, a pedido da mulher até às 12semanas, por razões económicas e sociais é a respostanecessária ao aborto inseguro e clandestino e à defesada saúde das mulheres e da sua dignidade.

São ainda necessárias a promoção de iniciativas que con-tribuam para novas atitudes e comportamentos que per-mitam novos relacionamentos inter-pessoais baseados naigualdade de direitos e de oportunidades na família, notrabalho e na sociedade e para o reforço da participaçãodas mulheres.

11º Defender um novo rumopara a integração europeia

A construção da União Europeia exige um modelo espe-cífico não sendo aceitável que pretenda filiar-se à força nomodelo dos Estados federais. Impõe-se antes uma UniãoEuropeia baseada na pluralidade de identidades e de cul-turas. Uma União Europeia de Estados soberanos e iguaisem direitos, que tenha em conta as especificidades dosdiferentes países e povos.

Só assim serão salvaguardados os seus direitos e interes-ses face à influência predominante das transnacionais e docapital financeiro e às opções dos países mais poderosos.

A necessidade e possibilidade de decisões construídasna base de compromissos políticos não legitima que Por-tugal abdique de uma perspectiva progressista e demo-crática.

A prioridade concedida à aplicação dos critérios de con-vergência nominal e do Pacto de Estabilidade e ainstitucionalização do Banco Central Europeu, colocaramem segundo plano a convergência real das economias eimpuseram estratégias contrárias às necessidades e as-pirações dos povos, em particular do povo português.

Há que alterar essa prioridade e orientação, impondo-semedidas de desenvolvimento que combatam asassimetrias internas no seio da UE, associadas a opçõespolíticas e institucionais que as possibilitem, alteração doPacto de Estabilidade, por exemplo.

O alargamento da UE não pode ocorrer à margem da von-tade dos povos candidatos à adesão e indiferente aos pro-jectos que dele poderão decorrer.

Têm de ser liminarmente rejeitadas as reformasinstitucionais que visam diminuir ainda mais o papel dospequenos Estados.

As futuras negociações da Organização Mundial do Co-mércio, onde a União Europeia assume a representaçãodos Estados que a integram, devem constituir uma preo-cupação do Governo pela implicação directa que os seusresultados terão nos diversos domínios a nível nacional.

A renovação da OSCE, enquanto organização vocacionadapara a segurança colectiva na Europa no quadro das Na-

ções Unidas, deve prevalecer sobre o fortalecimento deuma lógica do Bloco político-militar consubstanciada naPESC e na absorção da UEO.

O envolvimento das instituições nacionais, em especial daAssembleia da República, são essenciais para a salva-guarda dos interesses do País e para dar corpo aos prin-cípios da “coesão económica e social” e da “igualizaçãono progresso das condições de vida e trabalho” que cons-tam dos Tratados e não podem continuar a ser esqueci-dos ou violados.

12º Assumir uma política activade soberania nacional,de paz e cooperação internacionais

Para o PCP as relações internacionais de Portugal e apolítica externa portuguesa não podem continuar subme-tidas a um processo de crescente subordinação política,económica, militar e diplomática, que comprometa a so-berania e a independência do país.

Num quadro internacional de maiores interdependências,de avanço de uma “nova ordem” de hegemonia, domínio earbítrio, comandada pelos EUA e outras grandes potênci-as capitalistas, baseada na exploração e na agressão, decrescentes perigos para a paz e a segurança mundial, oPCP considera a necessidade de afirmar e defender o lu-gar de Portugal no conjunto das Nações com posiçõespróprias e firmes na defesa dos seus interesses, articula-da com a procura da sua cooperação com outros países.

Uma política patriótica e nacional que assuma a indepen-dência e a soberania como valores inalienáveis, não sónão é contraditória como é condição de uma intervençãoactiva e empenhada de cooperação mundial no plano eco-nómico, social, político e cultural.

O PCP considera que Portugal deve bater-se pelo respei-to da legalidade internacional e seu aperfeiçoamento de-mocrático, para impedir as abusivas ingerências ou qual-quer doutrina que subordine povos, países ou regiões aosinteresses das grandes potências. Para que as grandesorganização de cooperação e segurança não sejam con-dicionadas nem subvertidas pela lógica dos centros dedecisão das grandes potências, antes afirmem o respeitoabsoluto pelos direitos dos povos à livre escolha do seupróprio caminho.

A luta pela dissolução dos blocos político-militares, nome-adamente da NATO e contra as suas ingerência na vidainterna de Estados soberanos é condição indispensávelpara se assegurar uma política de paz.

O PCP propõe uma nova política que comporte o compro-misso e a participação de Portugal numa política activa decombate às dificuldades no mundo e ao subdesenvolvimentocomo contribuição para a construção de um mundo maisjusto, mais pacífico, mais solidário e mais humano.

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No quadro da luta pela concretização dos grandes objecti-vos para uma política de esquerda anteriormente referidos edas orientações e medidas sectoriais e específicas que sus-tenta na Segunda parte deste Programa Eleitoral, o PCPapresenta ao país dez medidas concretas cujaconcretização, logo no início da próxima legislatura, teria umprofundo impacto na vida dos portugueses e permitiria darresposta imediata a alguns sentidos problemas nacionais.

Assim, o PCP propõe:

n Salário Mínimo Nacional : garantia de um au-mento anual não inferior a 3% acima do valor dainflação, o que permitiria atingir um valor não infe-rior a 75.000$00 até ao final da próxima legislatura(para uma inflação de 2%);

n Pensões :

— mínimas do regime geral (contributivo):

l beneficiários até 15 anos de contri-buições - fixação em 64% do Salário Mí-nimo Nacional líquido (o que aos valoresactuais representa 34.900$00 e portantoum aumento extraordinário de 2.300$00),acrescido de um aumento anual não infe-rior a 3% acima do valor da inflação; parauma inflação situada nos 2% isto represen-tará no final da legislatura um valor superi-or a 42.400$00;

l beneficiários com mais de 15 anos decontribuições - aumento anual não inferiora 3% acima do valor da inflação; para umainflação de 2% isto significará que as pen-sões mínimas, no final da legislatura, serãosuperiores a valores situados entre43.100$00 (15 anos) e 66.300$00 (40 anos);

— pensão social (que é, também, referencialpara o Rendimento Mínimo Garantido) : fi-xação em 47% do Salário Mínimo Nacionallíquido (o que aos valores actuais representa25.600$00 e portanto um aumento extraordi-nário de 2.000$00), acrescido de um aumen-to anual não inferior a 3% acima do valor dainflação; para uma inflação de 2%, isto signifi-ca um valor superior a 31.100$00 no final dalegislatura;

— pensão dos trabalhadores agrícolas : fixa-ção em 48% do Salário Mínimo Nacional lí-quido (o que aos valores actuais representa26.200$00 e portanto um aumento extraordi-nário de 2.000$00), acrescido de um aumen-

4. DEZ MEDIDAS URGENTES

to anual não inferior a 3% acima do valor asinflação; para uma inflação de 2% isto signifi-ca um valor superior a 31.850$00 no final dalegislatura;

— reposição da idade da reforma para as mu-lheres aos 62 anos .

n Plano de combate à precarização e ao falsotrabalho independente , designadamente apassagem a contrato efectivo dos casos de ocu-pação de postos de trabalho permanente e emrelação ao horário normal de trabalho semanal oestabelecimento de um calendário de reduçãoprogressiva para as 35 horas , sem redução desalário nem perda de direitos.

n Gratuitidade dos livros escolares no ensi-no público , abrangendo toda a escolaridade obri-gatória.

n Embaratecimento e racionalização dos gas-tos com medicamentos : promoção da utiliza-ção de genéricos, prescrição por substância acti-va, alteração do sistema de comparticipação como aumento do valor da comparticipação nos medi-camentos essenciais, alargamento da lista de me-dicamentos para doenças crónicas comparticipadosa 100% pelo Estado, dispensa gratuita de medica-mentos prescritos nas unidades do SNS nos ca-sos em que o seu fornecimento nas farmácias fi-que mais caro ao Estado.

n Aumento significativo da comparticipaçãopelo Estado de próteses, ortóteses e dis-positivos de compensação (óculos, aparelhosauditivos, próteses dentárias, entre outros).

n Despenalização do consumo da droga,adopção de um plano de alargamento darede pública nacional e gratuita de atendi-mento, tratamento e recuperação social datoxicodependência, reforço do combate aotráfico de droga e ao branqueamento decapitais que lhe está associado.

n Medidas da Reforma Fiscal a adoptar já noOrçamento do próximo ano: redução da tri-butação que incide sobre os rendimentos de tra-balho; combate efectivo à evasão contributiva,designadamente com o levantamento do sigilobancário para efeitos fiscais e a redução substan-cial dos benefícios fiscais; tributação das opera-ções de venda de títulos, em Bolsa ou fora dela, e

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das operações cambiais não suportadas emtransações comerciais.

n Ajudas agrícolas da PAC proporcionalmen-te maiores para as explorações familiares(modulação) .

n Redução em 10% dos preços da energiaeléctrica para uso doméstico e incorpora-ção do direito ao uso de um determinadonúmero de impulsos no custo da assina-tura mensal dos telefones de rede fixa.

5.1. Nas próximas eleições legislativas, o reforço eleito-ral da CDU, em votos e deputados, é o único resultadoque pode criar novos factores de mudança na situaçãopolítica nacional, impedindo a continuação da política dedireita do PS e o seu agravamento, pesando decisiva-mente para a concretização de uma viragem à esquerdae condicionando e influenciando positivamente quer asdecisões da Assembleia da República quer as opçõesde política governativa.

5.2. A estratégia das forças da direita, do PSD e doCDS/PP, para as eleições legislativas surge com nitidez.Por um lado, essas forças políticas movem-se com o ob-jectivo de capitalização, por parte da direita, do descon-tentamento social e da frustração existente em amplossectores sociais. Por outro lado, PSD e CDS/PP procu-ram escamotear que opções fundamentais da governaçãodo PS correspondem, em grande medida, às suas pró-prias orientações e opções políticas. E que só com o seuapoio directo ao longo destes quatro anos o Governo doPS as conseguiu concretizar.

O PSD promete agora fazer aquilo que durante dez anosno Governo não fez, não quis fazer e não permitiu quefosse feito. E descobriu agora a moda eleitoralista dosactos de contrição pela sua acção nos seus próprios Go-vernos. Mas não resiste a desafiar o PS para “pactos deregime” pré-eleitorais sobre reformas e políticas estrutu-rais, assim deixando clara a sua perfeita sintonia e iden-tidade com as políticas de direita que o PS realizou epretende continuar a protagonizar.

O CDS/PP, compartilhando durante meses a estratégiado PSD, desfaz-se agora em demagogia e populismo,prometendo tudo e mais alguma coisa, mesmo o que hápoucos meses rejeitou na Assembleia da República (porexemplo, a idade da reforma das mulheres aos 62 anose a implementação dos medicamentos genéricos).

Mas uma análise realista da situação nacional, incluindoos resultados eleitorais para o Parlamento Europeu, pa-rece deixar claro que o PSD e o CDS/PP não têm possi-bilidades de formar governo na sequência das eleiçõeslegislativas.

E qualquer hipotético reforço das suas posições em rela-ção à situação actual, só contribuiria para o PS reforçaras suas orientações de direita.

5.3. Nestas eleições não havendo nenhum perigo de re-gresso da direita ao governo, o risco maior e o factormais negativo para a evolução da situação política naci-onal residiria na eventualidade de uma maioria absolutade deputados do PS.

A experiência da actual maioria relativa do PS e do seuGoverno não autoriza qualquer expectativa de que umamaioria absoluta do PS fosse menos má que a experiên-cia vivida com as maiorias absolutas do PSD que os por-tugueses ainda não esqueceram, conduzindo a uma drás-tica redução da capacidade legislativa e fiscalizadora daAssembleia da República e à abertura de portas paraum governo com comportamento arrogante, autocráticoe autista.

Mas, e fundamentalmente, uma maioria absoluta do PSseria um prémio à política neoliberal que executou, seriapremiar a política que provocou o descontentamento e afrustração de largas camadas sociais que em 1995 vota-ram maioritariamente no PS. Seria permitir que o PS pros-seguisse e aprofundasse as orientações de direita dassuas políticas económicas e sociais, como se veria rapi-damente pelo retomar de aspectos da ofensiva contra osdireitos dos trabalhadores (por exemplo, as leis das fé-rias e de alteração do conceito de retribuição ou a lei queabre as portas à privatização parcial da segurança so-cial) que felizmente não conseguiu concretizar na últimalegislatura.

E o PS sabe que, sem maioria absoluta, o PCP é umobstáculo eficaz, como o foi durante a legislatura queagora finda, à concretização desses negativos desígniose propósitos.

5.4. Assim, o reforço da votação na CDU é uma contri-buição essencial, certa e segura, para simultaneamentemanter o PSD e o CDS/PP em minoria na Assembleia daRepública, para impedir o PS de aprofundar as suas ne-gativas orientações de direita, e para criar condições

5. EM 10 DE OUTUBRO, REFORÇO DA CDU- O GRANDE FACTOR DE MUDANÇA

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políticas e institucionais que permitam ao PCP e à CDUdar mais e melhor resposta aos problemas e às aspira-ções dos portugueses e mais decisivamente influírem naconcretização de medidas e políticas de esquerda emPortugal.

No quadro das principais forças concorrentes às próxi-mas eleições legislativas, o PCP e a CDU serão a dife-rença que vale a pena apoiar porque honraram inteira-mente os compromissos assumidos com o eleitorado háquatro anos e podem, legitimamente, invocar uma cons-tante intervenção em defesa dos interesses populares,quer no combate às medidas negativas do Governo PS,quer assegurando as poucas medidas positivasconseguidas durante a legislatura, como o RendimentoMínimo Nacional, a isenção ou redução do IRS para ageneralidade das famílias, a educação pré-escolar.

O PCP e a CDU são a escolha eleitoral mais útil paratodos os portugueses que aspiram e se pronunciam peloabandono da política de direita e das opções de fundoque estão na origem da crise do aparelho produtivo naci-onal, da precariedade do emprego, do subemprego, daofensiva contra os interesses e direitos dos trabalhado-res, da manutenção de profundas desigualdades na dis-tribuição do rendimento nacional, da delapidação do pa-trimónio público através do processo de privatizações,da crescente subordinação do poder político ao podereconómico, das assimetrias regionais, dos gravíssimosproblemas nos sistemas da saúde, do ensino, da justiça,da atitude de submissão nacional na União Europeia, davaga de corrupção e clientelismo, e do uso despudoradodo aparelho de Estado ao serviço dos interesses parti-dários.

O PCP e a CDU são a escolha mais útil para todos oscidadãos que, face à patente e crescente degradação davida política, compreendam a necessidade de dar maisforça a quem apresenta um incomparável património dededicação ao interesse público, coerência, firmeza deconvicções e de respeito pelos compromissos, e

protagoniza um forma de estar na vida polít icarespeitadora desses valores e critérios.

5.5. Ao apresentar o seu Programa Eleitoral, que é umcompromisso para a acção política geral e a sua interven-ção parlamentar, o PCP reafirma que a questão chavedas próximas eleições legislativas não é obviamente odesfecho do confronto eleitoral entre o PS e o PSD massim, num quadro parlamentar em que PSD e PP conti-nuem em minoria, a modificação da correlação de influên-cia eleitoral entre o PCP e o PS, aumentando o númerode deputados eleitos pela CDU. Assim fortalecendo o PCPe a CDU, a força de esquerda que, pela sua influência so-cial, pela sua presença e intervenção na sociedade e nasinstituições, pelo seu património de trabalho e propostas,está em condições de fazer repercutir o reforço da suavotação em significativas modificações na política nacio-nal e de animar a mobilização de aspirações, energias evontades indispensáveis ao processo de construção deuma alternativa de esquerda ao rotativismo entre PS ePSD na execução da política de direita.

Com inteira clareza, o PCP reafirma que não será forçade apoio a políticas ou a soluções governativas que visema continuação da política de direita que no essencial foiprosseguida pelo Governo do PS nos últimos quatro anos.

O PCP não desprezará nenhuma possibilidade de intervirconstrutivamente para alcançar soluções política egovernativas pós-eleitorais capazes de garantir a defini-ção e realização de uma nova política que represente umaprofunda rectificação da política até agora seguida peloGoverno do PS e a adopção de uma política de esquerda.

Mas esse objectivo de viragem à esquerda na política dogoverno a sair das próximas eleições legislativas só é pos-sível pela afirmação eleitoral, através de um expressivoreforço da CDU, de uma forte corrente de opinião nacio-nal de exigência de uma nova política e de séria condena-ção do enfeudamento do PS à política de direita.

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PARTE

PROPOSTASSECTORIAIS E ESPECÍFICAS

Integram a 2ª parte do Programa Eleitoral do PCP

para as Legislativas de 1999 um vasto conjunto de propostas sectoriais

e específicas, que têm como base a actividade

das diferentes áreas de trabalho e sectores centrais do PCP

e cuja apresentação está agrupada nos seguintes grandes temas:

— Desenvolvimento económico equilibrado

— Desenvolvimento social

— Desenvolvimento educativo, científico e cultural

— Aprofundamento da democracia

— Portugal na Europa e no Mundo

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Propostaspara o

DESENVOLVIMENTOECONÓMICO EQUILIBRADO

n Empregon Sistema fiscaln Agriculturan Pescasn Indústria transformadoran Construção civil e obras públicasn Turismon Comércio e distribuiçãon Sistema financeiron Energian Comunicações e telecomunicaçõesn Transportesn Serviços públicosn Sector públicon Pequenas e médias empresasn Cooperativismon Ambiente e recursos hídricosn Ordenamento do território

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n EMPREGOOs Programas Eleitorais do Governo e do PS apresenta-vam como objectivos principais em matéria de emprego, ocombate ao desemprego, nomeadamente o de longa du-ração, a promoção da qualidade do emprego e a qualifica-ção dos recursos humanos.

O Governo pretende que esses objectivos foram atingi-dos, face à leitura (no mínimo esquemática e redutora) daevolução das taxas de desemprego medidas pelo INE:7,2% em 1995, 5% em 1998.

Dando de barato a mudança de critérios estatísticos (res-ponsável, segundo o Banco de Portugal, por “possivelmen-te cerca de metade” da quebra do desemprego entre 1997e 1998), os resultados no combate ao desemprego sãono mínimo um grande ponto de interrogação, tendo falha-do rotundamente nos outros objectivos.

A avaliação do número de desempregados (e da respecti-va taxa) pelo INE é feita no quadro inverosímil do aumen-to anual e desde 1995 da população activa agrícola emmais de 160 mil pessoas “empregadas” na agricultura! Umaevolução pouco comum na Europa comunitária: enquantodesceu a percentagem de empregados na Indústria (32,2%em 1995 para 31% em 1997) e nos serviços (56,3% em1995 para 55,7% em 1997) sobe a percentagem de acti-vos na agricultura. No mínimo esta situação, a que se jun-ta o elevado crescimento de trabalhadores por conta pró-pria sem pessoal ao serviço (mais 95500 entre 1995 e1998) e as baixíssimas taxas de desemprego do INE paraas regiões Norte (4,9 em 1998) e Centro (2,5 em 1998),mostra um volumoso e indisfarçável subemprego.

A não consideração do crescimento do “emprego” agríco-la - um verdadeiro contra-senso económico e social, faceao estado da agricultura portuguesa - e o número de de-sempregados não contabilizados por se encontrarem a fre-quentar cursos de formação profissional ou em progra-mas ocupacionais (45.400 em 1998), fariam reduzir oemprego para valor inferior a 1995 e saltar a taxa de de-semprego para os 9/10%!

Mas não só o desiderato do emprego não foi cumprido.

Cresceu o desemprego de longa duração e a duraçãomédia do desemprego.

Cresceu a precariedade, mais contratos a prazo (de 11%em 1995 para 14% em 1997), mais falsos trabalhadorespor conta própria, subida da percentagem de trabalhado-res a tempo parcial (de 7,5% para 10%).

Ou seja, a qualidade do emprego não melhorou, piorou.Manteve-se uma taxa de desemprego feminino superior àdos homens e a estrutura do emprego por níveis de quali-ficação também não sofreu alterações significativas.

No fundamental o Governo PS manteve a política de em-prego herdada de Cavaco Silva: abandono das políticas

macro-económicas e responsabilização individual e nãosocial pelos problemas do desemprego, através de concei-tos como a “empregabilidade” e a “adaptabilidade”. Linhasdirectoras para a política de emprego dominadas pelas re-ceitas neoliberais: flexibilização do mercado de trabalho,redução dos custos do trabalho (ditos excessivos), sacrifí-cio dos direitos e regalias dos trabalhadores, diminuiçãodas contribuições patronais para a segurança social.

Pela criação de emprego

O PCP defende políticas exigentes ao nível do crescimen-to e desenvolvimento económicos; defende o desenvolvi-mento e modernização das actividades produtivas e dedefesa da produção nacional; defende uma economia com-petitiva, que não seja baseada na desvalorização da forçade trabalho (moderação salarial, redução ou eliminaçãode direitos sociais), mas que tenha como vectores funda-mentais a inovação e a investigação e desenvolvimentotecnológico, a qualidade dos produtos, a formação e qua-lificação dos trabalhadores e a criação de infra-estruturasmateriais e sociais básicas.

PCP defende a adopção de políticas macro--económicas tendo como objectivo o plenoemprego , que tenham como componentes essenciais:

— crescimento e o desenvolvimento económicos;

— a dinamização da procura interna por via do cres-cimento dos salário e das pensões e por uma maisequilibrada repartição do rendimento;

— a dinamização do investimento, nomeadamenteatravés da diminuição das taxas de juro reais e deuma eficiente utilização dos dinheiros comunitári-os, em particular para as micro, pequenas e mé-dias empresas;

— reforço do investimento público e, em particular, oalargamento da prestação de serviços à comuni-dade, designadamente no âmbito da saúde, daeducação, do apoio à terceira idade e da habita-ção, no sentido de criar mais emprego e melhorara qualidade de vida das populações;

— desenvolvimento de uma política regional com vis-ta a aumentar o emprego, impedindo a deserti-ficação do interior do país, o que passa por umaadequada política agrícola, um investimento vira-do para o desenvolvimento das regiões e peloapoio às autarquias.

O PCP defende ainda:

— o reforço dos direitos de intervenção dos traba-lhadores e das suas estruturas representativas,nomeadamente no controlo sobre a gestão dasempresas e o aumento da sua participação no

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acompanhamento dos processos de reestrutura-ção e falência;

— a efectiva redução do horário de trabalho para as40 horas acabando com as tentativas de subver-ter o que foi legislado;

— redução do horário de trabalho para as 35 horas,sem perda de salário, acompanhando os aumen-tos da produtividade, nomeadamente os que re-sultam da evolução científica e técnica;

— a adopção de medidas de combate à deslocalizaçãode empresas para fora do País e a criação pelasinstâncias internacionais (União Europeia, OMC,ONU) de medidas que visem disciplinar e controlaro Investimento Directo Estrangeiro e os processosde deslocalização das empresas;

— dinamização das actividades de investigação as-sociadas à produção, particularmente em secto-res de forte conteúdo tecnológico e/ou geradoresde emprego, do sector dos serviços prestados àsempresas, dos sectores de produção cultural,desportiva e de lazer;

— o fim ao processo de privatizações e reapreciaçãoexaustiva de todos os processos de privatizaçãorealizados em sectores estratégicos da economianacional.

Pela valorização social do trabalho

Face a uma estratégia de desvalorização do trabalho le-vada a cabo pelos sucessivos governos de direita, querdo PSD, quer do PS, o PCP opõe a valorização e a quali-ficação do trabalho; às divisões entre empregados e de-sempregados, permanentes e precários, jovens e não jo-vens, fomentadas nos últimos anos, o PCP responde comuma política de unificação; a uma política de degradaçãodas condições de trabalho, o PCP responde com umapolítica de dignificação do trabalho; a uma política queconduz ao desemprego, à insegurança no dia a dia, àsdiscriminações e à exclusão social, o PCP responde coma criação de condições que promovam a estabilidade e aigualdade de oportunidades e previnam o desemprego ea marginalidade.

Para o PCP esta estratégia passa por três eixos princi-pais: o combate à precarização e à dualização do empre-go, a igualdade de oportunidades, e a qualificação dostrabalhadores.

Pelo combate à precariedade e à dualizaçãodo emprego

O PCP defende uma estratégia articulada e coerente decombate à precariedade de emprego, tendo em vista as-segurar os direitos dos trabalhadores, que são postos emcausa por via da precariedade, e contribuir para uma mai-or coesão social. É preciso intensificar a luta contra asnovas formas de precariedade como a subcontratação

desregrada, o falso trabalho independente e o emprego atempo parcial (contra a vontade dos trabalhadores) e autilização de empresas de trabalho temporário.

O PCP combate a dualização do emprego com um “cen-tro” com trabalhadores mais qualificados e com uma forteintensificação do trabalho (por via do aumento das horasextraordinárias, do pluri-emprego e da elevação da cargade trabalho) e uma “periferia” constituída por trabalhado-res com empregos precários e clandestinos e por excluí-dos sociais.

O PCP propõe ainda:

— a revogação de toda a legislação aprovada doPacote Laboral apresentado pelo Governo PS;

— moralização dos contratos a prazo por forma aapenas poderem ser utilizados em trabalhos e ac-tividades de natureza temporária e revogando asnormas legais sobre a contratação a prazo de jo-vens e de desempregados de longa duração, porserem discriminatórias;

— efectiva fiscalização da aplicação da legislaçãolaboral pela Inspecção Geral do Trabalho, em par-ticular, no combate ao trabalho infantil, ao falsotrabalho independente (“recibos verdes”), o traba-lho não declarado e o trabalho ilegal;

— aprovação de legislação que puna exemplarmenteas entidades empregadoras de crianças e legisla-ção que obrigue as empresas a converter os falsos“recibos verdes” em contratos permanentes;

— criação da legislação necessária e fiscalização ri-gorosa das empresas de trabalho temporário, queimpeça a sua transformação em meio de manu-tenção fraudulenta de contratos a prazo e de fugaa legislação laboral;

— reforço das normas sancionatórias e melhoria dofuncionamento dos Tribunais de Trabalho;

— criação de comissões de acompanhamento dosprocessos de reestruturação e falência com a par-ticipação das empresas, dos trabalhadores (comreforço dos seus direitos), dos sindicatos, do Go-verno, da Segurança Social e das Autarquias, ecombate às falências fraudulentas.

Pela igualdade no emprego

— Garantia dos direitos sindicais e das regalias so-ciais de todos os trabalhadores;

— combate a todas as formas de discriminação, no-meadamente no acesso ao emprego, nas relaçõeslaborais e nos salários;

— criação de legislação que puna exemplarmenteempresas que discriminem as mulheres, nomea-damente, em termos salariais e na progressão nacarreira.

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Pela qualificação dos trabalhadores

Face ao baixo nível de qualificação e de habilitações; àsdeficiências na articulação entre ensino e mercado de tra-balho; ao escasso desenvolvimento da formação profissi-onal nas empresas; ao número elevado de alunos quesaem do sistema de ensino sem qualquer qualificaçãoespecífica, o PCP defende o desenvolvimento da educa-ção e da formação com vista à melhoria da qualificaçãodos trabalhadores. Com esse objectivo propõe:

— o combate decidido à precariedade do emprego,que hoje constitui um dos principais elementosdesincentivadores da formação e da qualificação;

— a aposta no sistema educativo e numa forma-ção de base como determinante para a aquisiçãode competências necessárias ao exercício profis-sional e para a formação ao longo da vida activa;

— o aumento da componente tecnológica no siste-ma educativo;

— o desenvolvimento e melhoria dos sistemas detransição entre a escola e a vida activa, nomea-damente pela criação de uma rede de estágiosprofissionais em empresas públicas e privadas;

— a melhoria do sistema de aprendizagem, aumen-tando o número de jovens abrangidos e articulan-do de uma forma adequada a formação teóricacom a formação prática;

— uma formação de “banda larga” não estritamenteligada ao exercício da profissão desempenhada;

— o reforço da formação de base e profissional atodos os níveis particularmente dos trabalhado-res desempregados e, entre estes, dos desem-pregados de longa duração;

— aposta na formação contínua e na sua ligação àactividade profissional, o que passa pelo reconhe-cimento de um tempo de formação a ser con-siderado como tempo de trabalho ;

— uma política de reconversão dos trabalhadoresadequada às necessidades de permanência nomercado de trabalho;

— certificação da formação numa concepção ampla,que tenha em conta não só os cursos de forma-ção, mas também as competências adquiridas noexercício de uma actividade profissional;

— a elaboração de um plano de perfis profissionais,que permita uma correcta elaboração de currícu-los e certificações, de modo a serem válidos emtodos os Estados-membros da União Europeia.

Por uma estratégia europeia para o plenoemprego

O PCP defende uma estratégia europeia para o plenoemprego. Para isso é preciso que sejam abandonadas as

políticas neoliberais, de carácter monetarista, que são res-ponsáveis pela persistência de um elevado volume de de-sempregados.

Em fins de 1997 e 1998, a UE aprovou as Linhas Directri-zes para o Emprego (LDE) que serviram de orientação àelaboração de planos nacionais de emprego nos paísesmembros da Comunidade. Esta iniciativa teve o mérito decolocar os problemas do emprego no primeiro plano daspolíticas económicas. Traduz igualmente uma maior cons-ciência são necessárias não só políticas de emprego co-ordenadas no plano comunitário, ainda que conduzidas anível nacional, mas também, e sobretudo, que é precisoconsiderar a dimensão do emprego em todas as políticaseconómicas.

No entanto, as LDE são dominadas pela ideologia liberalde que é a insuficiente flexibilização do mercado de traba-lho que é responsável pelo desemprego; contém comoprincípio orientador a empregabilidade das pessoas numafilosofia de responsabilização individual (e não social) pe-los problemas do emprego e do desemprego; têmsubjacente a ideia de que os custos excessivos com otrabalho geram desemprego.

Neste quadro, o PCP continuará a bater-se por uma es-tratégia europeia para o pleno emprego; não deixa deintervir nos planos comunitário e nacional e especifi-camente no âmbito dos Planos Nacionais de Empre-gos, mas exigirá:

— políticas de desenvolvimento e de crescimentoeconómico sustentados;

— uma redistribuição de rendimentos mais favorávelaos trabalhadores face ao crescimento das desigual-dades na repartição da riqueza e do rendimento;

— a redução da duração do trabalho articulada comos ganhos de produtividade;

— políticas de igualdade de oportunidades;

— penalização, por via fiscal ou outra, dos movimen-tos especulativos de capitais;

— combate ao “dumping” social, através da garantiade direitos sociais básicos dos trabalhadores, oque passa pelo reforço do papel da OIT e dasnormas internacionais de trabalho.

nSISTEMA FISCALRessalvando as alterações ao IRS introduzidas no Orça-mento do Estado para 1999, por iniciativa do PCP, a actu-ação do Governo do PS pautou-se basicamente pela ma-nutenção da injustiça fiscal, da penalização dos rendimen-tos do trabalho por conta de outrém (responsáveis porcerca de 50% do IRS cobrado), pelo privilégio ilegítimodos rendimentos e operações de capital e pelacontemporização com a insustentável evasão fiscal.

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O Governo do PS não quis acabar com escandalosas einíquas benesses. Designadamente: anualmente, cerca de50% das empresas societárias declaram prejuízos paraefeitos fiscais; a generalidade dos profissionais liberais edos empresários em nome individual pagam, em média,um imposto só comparável com o suportado pelos maismodestos rendimentos dos trabalhadores por conta deoutrém; a evasão fiscal nos impostos especiais de consu-mo, em particular sobre as bebidas alcoólicas, chega aatingir cerca de 50% do imposto devido; o Governo do PSconseguiu a “proeza” de fazer subir o montante dos bene-fícios fiscais (em que os rendimentos e aplicações finan-ceiras são os grandes bafejados) para 300 milhões decontos/ano.

Por tudo isto, o PCP postula de urgente e inadiável umareforma fiscal: pela iniquidade do sistema que temos, pelainoperacionalidade do combate à evasão fiscal, e porqueela é essencial e prévia a outras reformas necessárias,como a do financiamento sustentado da segurança sociale do serviço nacional de saúde.

Reforma fiscal que o PCP de há muito defende e cujasmedidas centrais, que a seguir se explicitam, já múltiplasvezes apresentou na Assembleia da República.

Assim, a luta contra a fraude e a evasão fiscal passa,necessariamente, pelas seguintes medidas:

— eliminação do sigilo bancário para efeitos fiscais,como instrumento essencial para um controlo efi-caz da verdade declarativa;

— justa tributação dos rendimentos das profissõesliberais e dos empresários em nome individual,com recurso, sempre que necessário, à utilizaçãode métodos indirectos;

— inversão do ónus da prova quando as empresasdeclarem prejuízos para efeitos fiscais e não demons-trem a sua veracidade através de meio idóneo;

— melhoria da eficiência da Administração Fiscal,através da sua modernização técnica, da atribui-ção dos recursos humanos necessários em ter-mos quantitativos e qualitativos e das condiçõese dos instrumentos necessários a uma fiscaliza-ção efectiva.

No plano do alargamento da base tributária ede uma mais justa repartição da carga fiscal ,apontam-se como acções essenciais:

— revisão profunda do estatuto dos benefícios fis-cais com eliminação da generalidade dos conce-didos a rendimentos e operações financeiras, emantendo um regime de benefícios apenas parasituações económica e socialmente justificáveis;

— eliminação dos privilégios concedidos aos rendi-mentos provenientes de dividendos, juros (inclu-indo os juros dos suprimentos), mais-valias e ou-tros rendimentos de capital, acabando com isen-

ções injustificáveis e com taxas liberatórias quebeneficiam os rendimentos mais elevados e asmais-valias geradas na transmissão onerosa departes sociais e outros valores mobiliários;

— revogação do regime de excepção para as mais-valias mobiliárias decorrentes da alienação ou tro-ca das quotas ou acções de que são titulares associedades gestoras de participações sociais;

— tributação efectiva dos resultados das instituiçõesbancárias e seguradoras, através da limitação dasdeduções ao rendimento de que actualmente be-neficiam sem justificação económica sustentável.

Na perspectiva de implementar uma tributa-ção de acordo com a capacidade contributiva ,e para além dos efeitos decorrentes de medidas atrásindicadas, consideramos indispensável:

— a criação de um imposto sobre o património imo-biliário, que substitua o imposto da sisa e a contri-buição autárquica, com taxas muito mais baixasque as actuais mas sem perda de receita fiscal,através da inversão da situação actual em que ape-nas cerca de 10% dos prédios são tributados;

— a criação de um imposto sobre a riqueza, que tri-bute o património mobiliário;

— a aplicação, efectiva, do princípio do englobamentode todos os rendimentos, para efeitos de tributa-ção em IRS e IRC.

No plano do desagravamento fiscal da tribu-tação dos rendimentos do trabalho , e na se-quência das alterações ao IRS introduzidas no Orçamen-to para 1999 por intervenção decisiva do PCP, impõe-se:

— a fixação imediata da dedução específica pelosrendimentos do trabalho em 75% do salário míni-mo nacional, com aumento progressivo desse li-mite nos anos subsequentes;

— a redução progressiva das taxas do IRS, em par-ticular das taxas que tributam os rendimentos maisbaixos.

E, por todas as razões económicas, sociais ede justiça , o PCP propõe a tributação das operaçõesde venda de títulos em Bolsa ou fora dela, e bem assimdas operações cambiais não suportadas em transacçõescomerciais (taxa TOBIN).

Finalmente , a reforma fiscal que o PCP defende inclui, ainda:

— medidas tendentes à eliminação da evasão fiscalnos impostos especiais sobre o consumo e no IVA;

— a tributação de todos os bens alimentares à taxamínima do IVA;

— e a revisão drástica dos privilégios concedidos àszonas francas.

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n AGRICULTURAPor uma agricultura amiga do ambiente eque garanta rendimentos adequados paraos agricultores.

Por uma política de desenvolvimento ruralque assegure a fixação das populações e,em particular, dos jovens.

Depois dos anos de consulado PSD no Ministério da Agri-cultura os agricultores portugueses esperavam e lutavampor uma nova política agrícola que garantisse a viabilida-de e a competitividade do sector, que salvaguardasse osrendimentos de quem trabalha a terra, que assegurasse ofuturo de um mundo rural desenvolvido.

Contudo, no final de quatro anos de Governo do PS:

— Os agricultores portugueses estão mais po-bres. O rendimento líquido dos agricultores, a pre-ços correntes, baixou 25% (de 1995 a 1998, últi-mos dados divulgados pelo INE);

— O país importa mais produtos agro-alimenta-res. Como afirma o INE no estudo sobre a Balan-ça Alimentar Portuguesa «o abastecimento inter-no do País em produtos alimentares e bebidas faz-se, cada vez mais, com recurso a produtos impor-tados. Daí que se verifique, de ano para ano, ummaior agravamento no saldo da balança comerci-al portuguesa». De facto as compras ao exteriorde produtos alimentares e bebidas situou-se em1997 (último ano com dados disponíveis) em 763milhões de contos, mais 98% do que em 1990 e odéfice da balança alimentar quase duplicou, ten-do a taxa de cobertura baixado de 44,8% para40,9%. Isto é, Portugal importa hoje cerca de60% dos bens alimentares que consome;

— Agravaram-se os desequilíbrios sociais, asmaiores explorações e proprietários continua-ram a beneficiar da maioria das ajudas à agri-cultura. De acordo com o INGA - Instituto Nacio-nal de Garantia Agrícola «pouco mais de 3% dasexplorações agrícolas do Continente beneficiaramde mais de metade (53%) das ajudas directas aorendimento», situação que se agrava se forem tam-bém consideradas as ajudas ao investimento. Nototal estima-se que 3% a 5% das explorações agrí-colas do Continente absorvam 90% dos apoioscomunitários e nacionais. Da linha de crédito àagricultura no valor de 150 milhões de contos, cri-ada em 1997, 9,6% dos beneficiários constituídospor empresas do sector agro-alimentar e grandes

proprietários absorveram 62% do total do créditoreestruturado;

— Acentuou-se a desertificação do mundo rural.Desde 1995 desapareceram (até à data do últimoinquérito às explorações agrícolas realizado pelo INEem 1997 e publicado em Março de 1999) mais 34.000pequenas explorações. O Alentejo apresenta os maiselevados indicadores de desemprego, prossegue odeclínio demográfico, enquanto a concentração daterra continuou a crescer entre 1995 e 1997, e atin-ge hoje níveis mais elevados do que os existentesantes do 25 de Abril, tendo a área média das explo-rações aumentado mais de 40%, relativamente à quese verificava no final dos anos sessenta;

— Multiplicaram-se os problemas da saúde ani-mal e avolumaram-se as dúvidas e desconfi-anças dos consumidores. Continuam por criar,no terreno, o Corpo Nacional de Inspecção Sani-tária; o controle e fiscalização dos bens alimenta-res importados sofre de sérias deficiências; osmatadouros e as unidades de transformação edesmancha continuam a não estar completamen-te cobertas por equipas de inspecção veterináriae sanitária; o acondicionamento e destruição dosmateriais de risco provenientes da BSE faz-se emcondições muito deficientes. À propaganda e aovoluntarismo do discurso governamental nãocorrespondem reais medidas estruturantes no ter-reno. O Ministério da Agricultura que tinha anun-ciado uma previsão de antecipação em 6 mesesno fim do embargo à exportação de carne bovinanacional vê-se confrontado com o prolongamentodo embargo por mais um ano;

— A investigação agrária está hoje maisfragilizada. Reduções das dotações orçamentais,redução dos meios humanos, não investimento noaproveitamento e reforço dos meios tecnológicosexistentes, ausência de articulação entre os Insti-tutos do Estado, os serviços do Ministério da Agri-cultura e os agricultores, privilégio a orientaçõesque apontam no sentido da privatização da inves-tigação agrária em Portugal;

— A agricultura portuguesa viu agravados os fac-tores que estão na origem da sua falta decompetitividade. Não se iniciou nenhum proces-so sustentado de reconversão produtiva etecnológica e de ajustamento estrutural; os siste-mas produtivos mediterrâneos agro-florestais nãobeneficiaram de nenhum impulso significativo; aszonas rurais não beneficiaram de nenhuma políti-ca séria que permitisse criar condições e diversifi-car actividades necessárias à sustentação e ani-mação da vida económica e social;

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— A política florestal não deu seguimento às ori-entações aprovadas na Assembleia da Repú-blica. Por impulso e com base, no essencial, numprojecto de lei do PCP foi aprovada na Assembleiada República uma Lei de Bases da Política Flo-restal, que, pela primeira vez lançou as bases doordenamento florestal do País. Mas o Governoatrasou-se na elaboração da legislação regula-mentar e ainda não definiu os mecanismos depolítica financeira e fiscal nela previstos. O Planode Desenvolvimento Sustentável da Floresta Por-tuguesa não teve seguimento. A ausência de arti-culação entre Ministérios e a desorganizaçãoinstitucional do sector continua a ser patente. Aprevenção em relação aos fogos florestais conti-nua a ser confundida com o combate e pouco seavançou em medidas como a limpeza das matase a abertura de caminhos e aceiros. Os baldios eo seu domínio, posse e gestão pelas respectivascomunidades continuam sujeitas às ambiguidadese indefinições da política governamental;

— O Governo não conseguiu nenhuma viragemnas orientações estratégicas da Política Agrí-cola Comum. Nenhum dos objectivos estratégi-cos proclamados para a Reforma da PAC, no âm-bito das negociações da Agenda 2000, foi atingi-do. Nem o «reequilíbrio dos apoios entre Estadosmembros, entre regiões e entre agricultores». Nemapoios para «a reconversão produtiva para os agri-cultores que pretendam mudar de actividade, nosentido mais de acordo com a especialização agrí-cola do País». Nem políticas que garantam «asegurança dos rendimentos e que considerem umregime específico para os pequenos produtores»com a aplicação da «modulação e a compensa-ção integral para as zonas de baixos rendimentose pequenos produtores» das descidas de preços.

O PCP propõe 12 medidaspara uma nova política agrícola

A política agrícola defendida pelo PCP continua a ter comoobjectivos:

— a melhoria dos rendimentos dos agricultores e asua aproximação aos níveis médios da UniãoEuropeia; a luta contra a exclusão social e o de-semprego;

— o desenvolvimento da produção agrícola, pecuá-ria e florestal, e o fomento dos recursos naturais,particularmente dos recursos hídricos;

— assegurar uma reserva agrícola nacional, com aconsideração da terra como um património nacio-nal e bem escasso e cuja desafectação do uso,agrícola e florestal, deve ser criteriosamenteaferida;

— a preservação do tecido social agrícola e uma re-partição espacial da produção que contribua paraassegurar os equilíbrios territoriais e demográficosdas regiões e/ou atenuar situações de desertifi-cação que já se verificam;

— a valorização/incentivos às políticas de desenvol-vimento rural, de defesa da natureza e da biodi-versidade, da produção agro-ambiental e dastecnologias não poluentes da produção e protec-ção integradas;

— a realização de uma reforma agrária nos camposdo Sul, conforme a Constituição da República, ten-do em conta a realidade política, económica esocial actual, que assegure um melhor aproveita-mento da terra, de modo a contribuir para o de-senvolvimento da produção, para a criação decondições de fixação das populações e para odesenvolvimento rural e regional.

Para a concretização destes objectivos, o PCP propõe,nomeadamente, as seguintes 12 orientações e medidas:

— Aumento da produção agro-alimentar nacional ereconversão dos sistemas produtivos asseguran-do uma nova competitividade para a agriculturaportuguesa. Neste sentido o PCP submeterá aoparlamento um Projecto de Lei de Orientação Agrí-cola para o País sustentado em programas de baseregional e contratos de exploração territorial. As aju-das públicas ao investimento serão assim orienta-das tendo por objectivo o incremento e a diversifica-ção da produção de acordo com as necessidades eas vantagens comparativas do País, as poten-cialidades e as especificidades regionais e a consi-deração da inserção de Portugal num mercado cadavez mais global bem como a remuneração pelas vá-rias funções que o agricultor exerce, de produtor debens alimentares e de qualidade, de factor devivificação do mundo rural e de protecção do meioambiente, de criação de emprego, de modo a man-ter-se uma agricultura viva e ambientalmente sus-tentada em todo o território. A terra agrícola e flores-tal deve ser defendida contra a especulação imobili-ária, a betonização e outras utilizações anárquicas,noutras possíveis valências (infra-estruturas, habi-tação, zonas industriais, etc.) e com o respeito inte-gral, nos termos constitucionais, dos direitos dospequenos e médios agricultores, rendeiros e com-partes dos baldios;

— Ordenamento da floresta nacional com diver-sificação das espécies, valorização das espé-cies tradicionais mediterrâneas e defesa con-tra os incêndios. Impõe-se concretizar a Lei de

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Bases da Política Florestal designadamente quan-to à definição das medidas financeiras e fiscais eà elaboração dos Planos de Ordenamento Flores-tal e de Gestão das Explorações, em particular,quanto à salvaguarda do uso múltiplo das matasnacionais, ameaçadas com frequentes desane-xações a pretexto do desenvolvimento turístico. OPCP propõe a elaboração de um Plano de Emer-gência para a Defesa e Valorização dos monta-dos de sobro e azinho para o que apresentará naAssembleia da República uma iniciativa legislativa.Necessidade de uma efectiva política de preven-ção e combate aos fogos florestais com acompartimentação dos espaços florestais e a plan-tação de espécies resistentes aos fogos nas zo-nas de risco, a limpeza das matas e a abertura decaminhos e aceiros bem como a adopção de me-didas que contrariem a desertificação humana nasáreas florestais;

— Defesa e valorização dos baldios com a elabo-ração de um programa de apoio ao pleno aprovei-tamento dos recursos e potencialidades dos bal-dios no quadro de uma política de desenvolvimentorural e de defesa da agricultura de montanha.Dinamização das organizações de compartes egarantia de acesso dos Conselhos Directivos dosBaldios aos apoios comunitários e nacionais,designadamente no que se refere às indemniza-ções compensatórias, às medidas florestais e dedefesa do ambiente e do mundo rural;

— Aproveitamento dos recursos cinegéticosnuma óptica de ordenamento dos recursos, devalorização do associativismo e de não discrimi-nação na prática do exercício da caça;

— Novo impulso para o empreendimento deAlqueva e expansão do regadio a nível nacio-nal. Alqueva constitui um empreendimento estra-tégico e estruturante para o Alentejo, designada-mente para a agricultura da região. Mas isso im-põe uma política agrícola que, nos termos consti-tucionais, crie condições para a existência de umaestrutura agrícola equilibrada, e o aparecimentode uma nova dinâmica social que aproveite epotencialize em benefício da comunidade as ver-bas do empreendimento. O que exige a democra-tização do acesso à terra, na área beneficiada, apequenos agricultores, rendeiros e seareiros e jo-vens agricultores. Necessário se torna também adefinição das opções estratégicas para novos sis-temas de produção, um preço da água que nãoinviabilize os novos sistemas produtivos, a orga-nização dos sistemas de comercialização, a trans-formação agro-alimentar e a formação dos agri-

cultores para o que é necessário investir fortemen-te na investigação e experimentação agrária. Se-ria inaceitável que o Alqueva repetisse todos oserros dos antigos perímetros de rega e que os seusbenefícios fossem entregues aos grandes propri-etários numa perspectiva exclusiva de valorizaçãodo seu património fundiário à custa dos dinheirospúblicos. Simultaneamente é necessário apostarna recuperação dos perímetros de rega e numprograma efectivo de investimentos públicos emgrandes regadios que contribua decisivamentepara a transformação do sistema produtivo agrí-cola nacional. A renegociação com a UniãoEuropeia das quotas e limites às produçõesregadas é condição necessária para a viabilizaçãodos empreendimentos hidro-agrícolas;

— Equilíbrio e justiça social na afectação e distri-buição dos apoios à agricultura, reclamando-sea fixação de um limite máximo por beneficiário dasajudas destinadas ao rendimento e, nos apoios aoinvestimento, a modulação sectorial e social demodo a privilegiar as produções de interesse parao País e a agricultura familiar;

— Socialização dos riscos da actividade agríco-la. O PCP apresentará, para este efeito, naAssembleia da República um projecto de lei cri-ando um novo Seguro da Produção Agrícola ePecuária construído na óptica das necessidadesdos agricultores e da especificidade da actividadeagrícola;

— Segurança Social justa para os agricultores eque no quadro da defesa do sistema público desegurança social tenha em conta a especificidadeda actividade agrícola;

— Defesa dos consumidores e dos produtoresagrícolas contra os problemas criados por prá-ticas agrícolas e pecuárias não conformes coma defesa e a valorização da natureza, contrári-as à genética animal e perigosas para a saúdepública. O PCP defende o controlo e acompanha-mento do uso e importação de Produtos Geneti-camente Modificados (OGM) e a continuação daproibição da utilização de antibióticos e hormonasde crescimento na produção pecuária, bem comoda importação de carnes assim produzidas. A exis-tência de controles permanentes sobre a situa-ção epidemiológica das doenças animais em Por-tugal. Impõe-se ainda a concretização urgente doreforço e reestruturação dos serviços públicos deinspecção veterinária e sanitária. O PCP propõeainda a elaboração e divulgação de um Código

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de Boas Práticas de Consumo, a rotulagem dosprodutos pecuários e a promoção da carne nacio-nal de qualidade criada à base de sistemas dealimentação natural, em particular a provenientedas raças autóctones com denominação ecertificação de origem;

— Rejuvenescimento da população activa agríco-la com a forte dinamização da instalação dejovens agricultores, facilitando-se o acesso àterra, criando-se condições especiais para o iní-cio e o exercício da actividade, instituindo-se umregime de preferência no acesso a direitos e quo-tas de produção; assegurando-se os meios finan-ceiros para a aprovação em tempo útil dos res-pectivos projectos de investimento;

— Apoio e fomento do cooperativismo e doassociativismo agrícola. As cooperativas agrí-colas continuam a ser estruturas decisivas para adefesa e desenvolvimento da agricultura portugue-sa, para a participação dos agricultores, para aarticulação com o mercado e o escoamento dasproduções. Por sua vez o associativismo agrícolaé condição essencial para a organização dos agri-cultores e da produção, para o apoio a uma políti-ca de informação, formação e divulgação, para anegociação e defesa dos seus direitos face a ummercado cada vez mais dominado pela produçãoestrangeira e pelas grandes superfícies. O PCPdefende a necessidade do reconhecimento sus-tentado da pluralidade das diversas organizaçõesrepresentativas da agricultura e do mundo ruralcom especial destaque para as estruturas repre-sentativas da agricultura familiar e dos jovens agri-cultores. A todos deve ser assegurado apoio téc-nico e financeiro público que cubra os custos so-ciais da função cooperativa (o que implica umapolítica de discriminação positiva) e a acção múl-tipla das organizações de agricultores;

— Defesa de uma reforma da Política AgrícolaComum que reconheça a diversidade das agri-culturas europeias, que garanta o direito de cadapovo a produzir e à segurança alimentar, que re-conheça a função social dos agricultores e o seudireito a preços remuneradores pondo-se termo àdescida permanente dos preços institucionais àprodução e reabilitando-se a função produtiva daagricultura, que valorize e discrimine positivamentea agricultura mediterrânea de qualidade, amiga doambiente e da saúde pública, que privilegie asexplorações de base familiar e que no âmbito daOrganização Mundial de Comércio contribua paratravar o irracional processo de liberalização totaldo comércio agro-alimentar que leva à destruição

da agricultura e do mundo rural nos países daUnião Europeia, em particular dos países medi-terrâneos.

nPESCASA integração de Portugal na União Europeia, cuja orienta-ção política predominante em relação ao sector se baseiana contenção e mesmo numa acentuada diminuição dovolume das frotas e das capturas, colocou ao sector pes-queiro nacional desafios que não foram ganhos no planoda renovação e modernização da frota pesqueira, no aces-so a recursos externos à Comunidade, na efectiva garantiada reserva das 12 milhas (mar territorial) e da área adja-cente das 24 para usufruto exclusivo da nossa frota, naausência nuns casos e na má planificação noutros da cons-trução de infra-estruturas portuárias de apoio à produção,sobretudo visando o segmento da pesca artesanal, na faltade meios financeiros e técnicos de apoio à investigação.

Ano após ano a política de abates constituiu o vértice fun-damental da política de pescas, atitude que de forma ne-gativa marcou a acção dos governos de maioria do PSD eque o governo do PS no fundamental deu seguimento,traduzindo-se numa drástica diminuição da frota e do nú-mero de trabalhadores empregues no sector com inevitá-veis consequências na diminuição do volume da produ-ção nacional transformando Portugal num país cada vezmais dependente da importação de produtos de pesca.No plano da comercialização dos produtos da pesca oconsecutivo aumento dos preços do pescado ao consu-midor nem sempre se reflectiram em benefícios para osector produtivo.

Por outro lado não se tendo verificado mudanças signifi-cativas no sentido de melhorar as condições de vida e detrabalho dos pescadores, a população activa na pescaregista um elevado grau de envelhecimento, realidade quepode por em causa a existência de importantes segmen-tos da frota e põe a nu a ineficácia dos volumosos recur-sos (muitos deles de proveniência comunitária) que ao lon-go dos anos têm sido aplicados na formação profissional.

Portugal está hoje confrontado com a revisão da PolíticaComum de Pescas tendo em vista o horizonte 2001/2006processo que vai exigir uma atitude negocial de grandefirmeza na defesa de importantes interesses nacionais queestão em causa.

Neste quadro a defesa e manutenção deste importantesector da nossa economia exige:

— a efectiva consagração das 12 milhas (marterritorial) para o exclusivo exercício da frota naci-onal e o direito preferencial da ocupação da áreaadjacente das 24 milhas pela nossa frota;

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— uma atitude mais firme na defesa de posições depesca em benefício da nossa frota nos acordos daUnião Europeia com países terceiros cujo exemplomais próximo é constituído pelo processo negocialque envolve os Acordos de Pesca com Marrocos;

— a defesa efectiva da pesca artesanal como sectorestratégico das pescas nacionais, política que temde envolver o reforço de meios financeiros e aconstrução de infraestruturas em apoio ao exercí-cio da pesca deste importante segmento;

— a substituição da política de abates por um efecti-vo apoio à renovação e modernização da frota;

— o reforço de meios financeiros e técnicos à inves-tigação sem os quais a defesa e exploração dosrecursos poderá ser posta em causa;

— a valorização da mão-de-obra melhorando as con-dições de trabalho e de remuneração dos pesca-dores, a par de uma mais adequada política deformação profissional.

n INDÚSTRIATRANSFORMADORA

A evolução recente e a necessidade de umanova política

Embora a taxa de variação acumulada anual do índice deprodução industrial da indústria transformadora nacio-nal venha apresentando valores positivos desde 1995,estes situam-se ainda a níveis relativamente modestos faceàs necessidades de crescimento da indústria, seja numaperspectiva estrutural seja conjuntural.

Por outro lado, há que constatar que o crescimento daprodução industrial dos últimos 10 anos foi muito reduzi-do, com uma taxa média de crescimento anual de cercade +0,5 pontos percentuais, portanto muito abaixo da taxamédia de crescimento do PIB durante esse período.Estamos pois claramente, no quadro de uma abordagemexclusivamente quantitativa, perante um processo dedesindustrialização .

Por outro lado, numa perspectiva qualitativa, continuama não se verificar alterações estruturais relevantes doquadro de especialização . Efectivamente, embora tenhamocorrido crescimentos com algum significado nas indús-trias de máquinas e material eléctrico, na fabricação deprodutos metálicos e no material de transporte, bem comoa perda de peso das indústrias têxteis, de vestuário e cal-çado o que pode ser considerado uma tendência positi-va, industrias tão importantes como as químicas e asmáquinas não eléctricas continuam em perda o que é umaspecto claramente negativo .

Numa perspectiva qualitativa, estamos perante um em-pobrecimento da indústria transformadora nacional .

A indústria transformadora desempenha um papel fun-damental no desenvolvimento coerente da economia por-tuguesa.

Para estancar a eliminação de actividades produtivas es-senciais, para assegurar a existência de uma indústriatransformadora criadora de riqueza, torna-se necessárioadoptar um conjunto de medidas integradas que implicamuma política oposta à actual.

O relançamento e modernização da indústria transformadoraexigem disposições que alcancem vencer debilidades estru-turais antigas que se agravaram pelo abandono de sectoresonde se dispunha de elevado Know-how e simultaneamentecriadoras de elevado valor acrescentado.

A existência de uma indústria transformadora moder-na, tão forte e integrada quanto possível, é uma das con-dições indispensáveis para alterar o papel periférico daeconomia portuguesa no quadro da União Europeia, istoé, permitir o crescimento quantitativo e qualitativo da pro-dução industrial de base nacional e em território naci-onal é condição indispensável ao desenvolvimento.

Torna-se portanto necessário obter de forma sustentáveluma melhoria da competitividade da nossa indústriatransformadora, baseada numa força de trabalhocrescentemente valorizada e que permita obter melhoriasem termos de produtividade-qualidade, perfil de especia-lização e rendimentos energéticos e de matérias-primas.

Em síntese, é preciso conceber e aplicar uma nova políti-ca industrial , que permita:

— desenvolver uma indústria transformadora ampla-mente criadora de riqueza, isto é, geradora dereflexos no seu seio e em actividades conexas;

— vencer debilidades estruturais antigas, agravadaspelo fecho de sectores onde se dispunha de notá-vel experiência;

— estancar a eliminação de actividades produtivasessenciais;

— promover actividades criadoras de elevado valoracrescentado.

As propostas do PCP

Para a concretização de tais objectivos estratégicos , oPCP propõe a adopção do seguinte conjunto de medidas ,base fundamental de uma política industrial alternativa,ancorada nas linhas orientadoras atrás apresentadas:

— modernização organizacional e tecnológica da in-dústria, incluindo os chamados sectores produti-vos tradicionais;

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— dinamização e diversificação da actividade indus-trial em sectores complementares de fileiras emque Portugal apresente vantagens comparativasno comércio internacional;

— dinamização da actividade industrial em sectorescom capacidade de gerar maior valor acrescenta-do, independentemente do carácter público ouprivado da titularidade das empresas envolvidas;

— criação e/ou melhoria dos laços de cooperaçãoentre a indústria e as instituições do sistema na-cional de ciência e tecnologia;

— aperfeiçoamento estruturante e especializado daforça de trabalho ligada à indústria em todos osplanos e níveis - operários, técnicos, gestores eempresários;

— dinamização de acções, designadamente nos do-mínio tecnológico, organizacional, de formação emelhoria da qualidade, conducentes ao aumentoda produtividade na indústria;

— aproximação dos preços dos factores de produ-ção aos níveis europeus;

— reaproveitamento das capacidades existentes,embora em rápida perda, em actividades industri-ais recentemente desactivadas e/ou que reduzi-ram a incorporação de saber e saber fazer nacio-nais adquiridos ao longo de anos de projecto eexecução;

— reestruturação dos centros tecnológicos no senti-do da sua eficaz capacidade de apoio à indústria;

— adopção de soluções associativas/cooperativaspara melhoria, designadamente, da compe-titividade comercial nos mercados internos e ex-ternos;

— suster a liquidação do sector público e procederao seu claro reforço e reorganização em áreasestratégicas, isoladamente ou em alianças com osector privado;

— manutenção e adequada gestão de fundos comu-nitários específicos para apoio ao desenvolvimentoestruturante e sustentável da indústria, no âmbitodo III QCA;

— salvaguarda dos interesses da indústria de basenacional relativamente ao IDE, de molde a queeste não seja um mero instrumento conjuntural,antes possa constituir uma contribuição válida paraa estruturação da nossa indústria.

nCONSTRUÇÃO CIVIL EOBRAS PÚBLICAS

A construção civil e as obras públicas têm vindo a terum papel crescente na esfera produtiva da economia na-cional, particularmente nos dez últimos anos, seja em ter-mos de produto seja do emprego gerado mau grado a ele-vada intensidade do seu carácter precário. Relativamenteàs obras públicas, tal crescimento vem na sequênciado elevado investimento em infra-estruturas destinado asuprir um atraso de decénios e no que concerne a cons-trução civil à expansão da construção de habitação parao mercado (50 mil fogos/ano).

No que respeita ao segmento de habitação para o mer-cado do sector da construção civil verifica-se um boomde construção de novas habitações desajustado e anár-quico face às reais necessidades das famílias portugue-sas e aos equilíbrios da economia nacional, provocado,pela brutal pressão do sistema financeiro sobre a procurareal e potencial e pelas empresas de construção particu-larmente as de grande dimensão. Este mercado de casasnovas ocorre em simultâneo e de forma profundamentecontraditória com o efectivo abandono e degradação dedezenas de milhar de casas antigas com elevado valoreconómico, social e patrimonial, particularmente nos gran-des centros urbanos e sem resolver os problemas de ha-bitação de inúmeras famílias insolventes.

Relativamente às obras públicas , a sua produção temsido desequilibrada , seja em termos sectoriais - rodovias versus caminho-de-ferro como exemplo mais marcantemas não exclusivo - seja em termos temporais , facto, noessencial, decorrente dos calendários eleitorais e/ou dosinteresses e opções dos responsáveis governamentaiscom tutela sobre as obras públicas.

É urgente inflectir muitas das orientações e traços atrássumariamente descritos, através da concepção eimplementação de novas políticas para estes doisestruturantes e importantes sectores de actividade, comimplicações significativas no volume de emprego.

Para dar sequência a tais novas políticas, o PCP entendeimportante aplicar o seguinte conjunto de propostas :

— avaliação rigorosa do conjunto de vectores - legis-lativos, económico-financeiros, tecnológicos, fiscais,de mercados públicos - que hoje enquadram econdicionam os dois sectores e a promoção dasconsequentes medidas que permitam o embarate-cimento da construção civil no País, uma maior efici-ência dos dinheiros públicos (e em particular dos fun-dos comunitários) investidos e uma acrescidacompetitividade das empresas nacionais;

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— reconsideração da actual política de juros negoci-ados para habitação própria por forma a dirigi-lapara os que dela efectivamente precisam e nãopara engordar a especulação imobiliária e finan-ceira;

— desenvolvimento da investigação aplicada aosmateriais, aos componentes construtivos e a no-vas técnicas construtivas, com o objectivo de, semdiminuição de qualidade, antes pelo contrário,permitir baixar os prazos e os custos de constru-ção com inevitáveis reflexos sobre os preços dahabitação;

— promoção pelas entidades públicas, junto de pro-motores imobiliários, construtores e sectores daindústria transformadora a jusante da construçãocivil da adopção de normas que conduzam a umamaior “industrialização” do processo construtivo,isto é, de incorporação crescente de componen-tes pré-fabricados com vista à obtenção demelhorias de qualidade, prazos e custos;

— melhoria profunda das condições de segurançaem que se desenvolvem os processos construti-vos com envolvimento eficaz das entidades públi-cas competentes, dos sindicatos e das empresase associações empresariais;

— acreditação e controlo da actividade produtiva maisrigorosos das empresas de construção nas suasdiversas vertentes por parte das autoridades pú-blicas competentes e desenvolvimento de legisla-ção enquadradora e reguladora da subcontrataçãono sector;

— melhoria das qualificações dos trabalhadores atodos os níveis, através, designadamente, da for-mação profissional intensiva e continuada comocondição para a melhoria do desempenho nos pla-nos da qualidade, da segurança, dos custos e dosprazos;

— aperfeiçoamento da legislação aplicável aos con-cursos públicos de construção civil, com vista àobtenção de adequados compromissos entre atransparência dos processos de concurso e a agi-lidade dos prazos no respeito pelos direitos e de-veres das partes;

— reforço profundo das políticas de reabilitação erequalificação do edificado já estabilizado dosgrandes centos urbanos contrariando as políticasde abandono e demolições, base de espiraisespeculativas;

— promulgação de legislação que obste à continua-ção da existência continuada de habitaçõesdevolutas nos grandes centros urbanos, coexis-tindo com manchas de habitações profundamen-te degradadas e zonas de barracas;

— promoção de novas orientações no domínio doplaneamento dos investimentos públicos em ter-mos sectoriais e temporais, com vista a adequá--los a um harmonioso desenvolvimento eordenamento territorial do País.

nTURISMOA actividade turística tem vindo a assumir um crescentepeso no quadro da economia nacional, quer pelos impor-tantes recursos e produtos turísticos de que o País dis-põe, quer como reflexo da destruição de outros sectoresprodutivos.

Considerada desde início pelo governo PS como um sec-tor estratégico da economia nacional, a esta afirmação seseguiu a edificação de uma política nacional de turismo,nem o sector dispôs de instrumentos legislativos, fiscais efinanceiros adequados à importância que o Governo lheatribuiu.

Pelo contrário o sector turístico foi dos que mais perturba-ções teve ao longo desta legislatura com a passagem peloGoverno de três Secretários de Estado e a sua visível di-minuição no quadro da arquitectura deste Governo.

Considerando embora o Turismo como um sector estraté-gico de economia nacional o Governo manteve o Algarve,principal região turística do país, como a região mais atra-sada e periférica do Continente no plano das infra-estru-turas rodoviárias e ferroviárias.

Valorizando em discurso o papel desempenhando e a de-sempenhar pelas estruturas Locais e Regionais de Turis-mo a atitude deste Governo tem sido ao contrário marcadapela sua desvalorização. Não cumpriu como o anterior aLei de financiamento às Regiões de Turismo. Não descen-tralizou poderes. Não ousou mexer numa Lei Quadromarcadamente de cariz centralista, tendo pelo contrário,já em final de mandato, procurado absorver e invadir ospoucos poderes atribuídos às estruturas regionais de tu-rismo em benefício dos desconcentrados órgãos das Di-recções Regionais de Economia.

Uma Política Nacional de Turismo tem assim de ser sus-tentada:

— na elaboração de Planos Regionais de Turismoque permitam defender recursos e produtos turís-ticos existentes, diversificando e complementandoa oferta, visando a sua afirmação como destinode qualidade em todos os seus segmentos;

— procedendo à regular integração no mercado doamplo sector da oferta paralela, como forma de

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aumentar receitas, combater a evasão fiscal, emelhorar a qualidade do serviço prestado;

— na alteração das estruturas de promoção internae externa de modo a autonomizar este sector noplano financeiro e operacional em devida articula-ção com as estruturas regionais e locais de turis-mo, de forma a obter o maior retorno dos recur-sos financeiros empregues na promoção dos nos-sos produtos turísticos;

— na elaboração de uma nova Lei Quadro das Regi-ões de Turismo assente numa efectiva descen-tralização de poderes, meios financeiros e com-petências, objectivo que tem de estar associ-ado à sua reorganização espacial e de uma Leide Bases para o Turismo de forma a integrar earticular toda a legislação existente;

— no reforço e transparência de meios financeiros aatribuir ao sector, designadamente tendo em vis-ta o III QCA, de forma a melhorar e diversificar aoferta, através de programas de requalificaçãourbana de zonas degradadas, suprindo carênciasem infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, de sa-neamento, ou de equipamentos culturais,desportivos, congressuais;

— numa política de emprego e formação profissio-nal assente na valorização dos salários, na con-solidação dos vínculos laborais, no reconhecimen-to dos direitos de quem trabalha, no reconheci-mento de que uma mão-de-obra qualificada é in-dispensável a um destino turístico que se tem deafirmar pela sua qualidade.

nCOMÉRCIOE DISTRIBUIÇÃO

Os últimos anos foram marcados por profundas alteraçõesno sector da distribuição e do comércio. Seguindo as ten-dências dos restantes países comunitários, mas a um rit-mo acelerado, verificou-se a entrada de grandes gruposeconómicos, em estreita associação com grupos estran-geiros e multinacionais, uma vultuosa concentração decapitais e o esmagamento do pequeno comércio alimen-tar, de produtos de limpeza e higiene, de um número deprodutos cada vez mais diverso.

A repartição do mercado alterou-se substancialmente.Entre 1985 e 1997 hiper, supermercados e livre serviçosviram a sua quota de mercado subir de 35,8%, com 5,3%do número de lojas para 83,6%, com 11,82% do número

de lojas. No mesmo período a quota das mercearias pas-sou de 50,9% que correspondia a 87,9% das lojas, para14,4% e 82,9% das lojas. Só entre 1990 e 1997 a percen-tagem de hipermercados passou de 0,03% para 0,12%das lojas, tendo quase que duplicado a sua quota de mer-cado, de 21,1% para 37,2%. O número de lojas de merce-arias reduziu-se de mais de 9000, enquanto o número dehiper triplicava passando de 12 para 36.

Mas o poder da grande distribuição não afecta hoje ape-nas o pequeno comércio retalhista alimentar. A sua forçaeconómica (e política) e amplitude comercial atinge todoo pequeno e médio comércio, incluindo grossista, e deforma crescente os sectores produtivos, agricultura e in-dústria. A imposição de condições económicas leoninas(existe uma vasta lista de situações classificadas de“abusivas”) aos seus fornecedores; o desenvolvimento emlarga escala de marcas próprias (liquidando “marcas” dosprodutores que significaram largos investimentos); a práti-ca de venda abaixo do preço de custo (todas as grandesempresas distribuidoras foram apanhadas em flagrantedelito pela Inspecção Geral das Actividades Económicasentre Outubro de 1985 e Março do corrente ano, com 185produtos vendidos à margem da lei) e outras “artes” co-merciais, transformaram a grande distribuição (a par dosector financeiro com quem se estão a verificar “casamen-tos” significativos) em ferozes predadores da produção edo restante sector comercial.

Esta situação é bem confirmada por um estudo (EspíritoSanto Research/1996) que mostra que as margens de lu-cro dos hiper em Portugal são 2 a 3 vezes superiores àsdos seus congéneres (às vezes do mesmo grupo) euro-peus.

O papel dominante que os grupos económicos têm nasnovas formas de fazer comércio, nomeadamente nas ven-das, à distância e no comércio electrónico, que começa adar os primeiros passos, pode vir a agravar ainda maisuma situação já demasiado sombria.

O Governo PS apesar de ter avançado com o tímido (eainda de futuro incerto) encerramento dos hipermercadosnas tardes de domingo (e ainda assim com excepções),mantém no fundamental a política de proteccionismo doGoverno do PSD à distribuição (e aos seus gruposeconómicos).

Manteve a política de licenciamento desordenado da ins-talação de grandes superfícies e outras unidades dessesgrupos. Manteve uma intervenção “mínima” relativamenteaos abusos e ilegalidades face ao restante comércio e nasrelações com os sectores produtivos. Permaneceu indife-rente face à brutal precarização (raiando a ilegalidade) eexploração da mão de obra nessas unidades comerciais.

Apesar de alterações ao nível de alguns programas co-munitários (Procom), estes mantiveram-se demasiado

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burocratizados e inacessíveis à grande maioria do peque-no comércio, a par de graves e grandes atrasos no paga-mento dos incentivos. Mas a política discriminatória e pro-teccionista é par ticularmente evidente nas ajudasfornecidas à internacionalização de alguns desses gru-pos - compra pelo Grupo SONAE de rede comercial noBrasil - e nas facilidades dadas para a obtenção de crédi-to. É significativo que o mesmo Grupo tenha podido obtervultuosos empréstimos do Banco Europeu de Investimen-tos (BEI) para a construção de centros comerciaisNorteshopping 10 milhões de contos, Vasco da Gama 5milhões de contos). Segundo a Comissão Europeia, osempréstimos foram concedidos com parecer favorável doEstado membro e com o objectivo de “modernização dosector retalhista em Portugal”!

A inversão desta situação impõe-se. O Estado deve inter-vir através de legislação adequada e fiscalizaçãointerveniente numa regulamentação e regulação das rela-ções entre os diversos agentes do sector impedindo queseja a lógica da força económica e política a determinaras regras do mercado.

Há que reequilibrar a evolução e o papel dos diversos seg-mentos da distribuição, e nomeadamente entre o peque-no e médio comércio e a grande distribuição, dentro doobjectivo global da sua modernização, com a discrimina-ção positiva dos agentes de menor dimensão económica,respeito pelos direitos dos trabalhadores e defesa dos in-teresses dos consumidores.

Assim, o PCP propõe , designadamente:

— estabelecimento de uma política de ordenamentodos espaços comerciais;

— realização obrigatória de estudos de avaliação dosimpactos económico, ambiental e urbana, comocondição prévia para autorização para olicenciamento de novas grandes superfícies eo estabelecimento de grandes cadeias comer-ciais ; relativamente aos horários, concretizar pelaAdministração Central o encerramento todo oDomingo, criando as coimas e a fiscalização ade-quada ao seu cumprimento;

— acesso ao crédito bancário com custos seme-lhantes aos auferidos pelos grandes grupos e acriação de linhas de crédito bonificado e de finan-ciamento destinadas a promover a modernizaçãoe a adaptação do pequeno comércio aos requisi-tos actuais e aos interesses dos consumidores,bem como a adopção de um quadro fiscal com omesmo fim;

— garantia de estabilidade profissional , que estimuleo investimento e a qualidade de serviço, garantindouma Lei de Arrendamento Comercial justa;

— avaliação rigorosa do quadro económico, so-cial, jurídico em que se processa o comércio àdistância e em particular o comércio electró-nico , e criação de legislação que impeça o mono-pólio e/ou a concorrência desleal nesses novossegmentos comerciais;

— legislação e regulamentação em matéria de Leida Concorrência , e a sua rigorosa fiscalização,de modo a evitar as situações de concorrênciadesleal praticadas pelas grandes superfícies (ven-da a baixo do custo, marcas brancas, etc.) quehoje passam nas malhas largas da actual lei;

— promoção e incentivo jurídico e financeiro peloEstado de formas de associação , designada-mente cooperativa, parcerias, centrais de comprase outras que diminuam os custos e promovam aqualidade, assegurem a defesa dos interesses dosconsumidores e privilegiem a produção nacional;

— implementação de mercados abastecedores,rede de frio e outras infra-estruturas de distri-buição , com a participação na sua gestão de to-dos os interessados e a aproximação entre o pro-dutor e o consumidor;

— criação de um quadro nacional único para oexercício do comércio e a adopção de mecanis-mos de controlo e fiscalidade simplificados para oexercício de certas formas de comércio como asfeiras e mercados;

— garantia de acessibilidade aos fundos comu-nitários , com a diminuição dos patamares finan-ceiros e das peias burocráticas, fornecendo apoiotécnico para a apresentação de candidaturas;

— apoio à revitalização das estruturas representa-tivas dos pequenos e médios comerciantes , porforma a proverem a defesa dos seus interesses es-pecíficos, assegurando a sua participação na defini-ção das normas de exercício da actividade.

nSISTEMA FINANCEIROO processo de concentração e centralização do capital,inerente à evolução do capitalismo, atravessa actualmen-te uma fase de aceleração e generalização a quase todosos sectores de actividade e áreas geográficas.

Pelo seu posicionamento e funções no quadro das econo-mias capitalistas contemporâneas, nomeadamente en-quanto centro de acumulação e distribuição de capital, osector financeiro constitui uma peça fundamental nesseprocesso, garantindo a quem o domina um instrumentodecisivo para o controlo sobre a economia mundial.

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No caso português, o papel central do sector financeirosurge reforçado pela reduzida dimensão e atraso estrutu-ral dos restantes sectores de actividade, desde sempresecundarizados e debilitados, primeiro pelas políticas re-trógradas e ferozmente conservadoras do regime fascistae, depois, pela política de recuperação capitalista e derestauração do poder de antigos e novos monopolistasprosseguida por sucessivos governos do PS e do PSD,isoladamente ou em conjunto.

Tal objectivo, que tem constituído uma das motivaçõescentrais da política económica portuguesa desde 1976,está na origem e justifica o processo de privatizações, cujasconsequências negativas para a economia e os interes-ses nacionais se tornam dia a dia mais evidentes.

Caracterizado por um historial de facilidades, benesses ecompadrios que configuram verdadeiros atentados contrao património e os interesses nacionais, o processo deprivatização do sector público financeiro foi acompanhadopor medidas de liberalização dos movimentos de capitaise de desregulamentação das actividades financeiras, quereduziram substancialmente a margem de intervenção doEstado na economia e mesmo a capacidade fiscalizadoradas entidades responsáveis pela supervisão, como o Ban-co de Portugal e o Instituto de Seguros de Portugal.

Cerca de dez anos após o seu início, a presença do Estadono sector financeiro limita-se à Caixa Geral de Depósitos e,através desta, ao BNU e à Companhia de Seguros Fideli-dade, sendo as restantes empresas dominadas por umnúcleo cada vez mais reduzido de grandes capitalistas.

Com efeito, em notória contradição com o propalado au-mento da concorrência, que se dizia ser um dos objecti-vos principais das privatizações, o sector financeiro temvindo a ser objecto de um intenso processo de concentra-ção, que tudo indica estar ainda longe do fim e que pode-rá conduzir ao seu controlo quase total por grupos finan-ceiros estrangeiros, nomeadamente espanhóis.

O que se vem passando com o grupo Champalimaud, ilu-mina cruamente tudo o que o PCP tem afirmado sobre oprocesso de privatizações em Portugal.

Zangadas as comadres, vão-se a pouco e pouco tornan-do públicos os meandros escabrosos e os compadrios quepermitiram a um velho monopolista adquirir, semcontrapartidas, o controlo de um enorme império financei-ro, num processo política e financeiramente viabilizado pelogoverno PSD, primeiro, e pelo governo PS, depois.

A par disso, tornou-se evidente a cada vez mais reduzidamargem de controlo do Estado sobre o sector financeiro,enquanto o governo português se viu colocado a ridículopor um dos seus protegidos, que desafia abertamente asua autoridade, em associação com um grande grupo fi-nanceiro espanhol e com a prestimosa colaboração daComissão Europeia.

Como se não bastasse esta afronta, a resposta que sedesenha, em vez de apontar para o reforço sector públicofinanceiro ainda existente e dos poderes de intervençãodo Estado nesta área, parece apostar num novo impulsoà concentração capitalista no sector, sem quaisquer ga-rantias de que a situação não se irá repetir com os no-vos/velhos protegidos.

É particularmente preocupante a intenção, anunciadamesmo antes deste caso, de vir a colocar o Grupo CGDao serviço dos projectos de expansão dos grandes gru-pos capitalistas do sector.

A pretexto da preservação do poder financeiro em mãosnacionais, o governo prepara-se para colocar o que restado sector público financeiro ao serviço desses grandescapitalistas que, tal como Champalimaud, não hesitarãoum momento em alienar as suas posições ao capital es-trangeiro, sempre que os seus interesses e o funciona-mento do sistema capitalista o exigirem.

O PCP rejeita firmemente esta lógica de submissão dopoder político ao poder económico e financeiro, que, a pardo que se passa noutros sectores de actividade, nomea-damente a pretexto da internacionalização das empresasportuguesas, configura o retomar de práticas característi-cas do capitalismo monopolista de Estado desmanteladopela Revolução de Abril.

Para além da perda de autonomia e capacidade de inter-venção do Estado na economia nacional, a privatizaçãoda banca e dos seguros reintroduziu no sector financeiroportuguês uma lógica de funcionamento exclusivamentevoltada para a maximizações dos lucros e do poder dosgrupos financeiros, que conduziu, entre outros, ao seguin-tes resultados negativos:

— direccionamento das políticas de crédito para asgrandes empresas, nacionais e estrangeiras,subalternizando as necessidades das pequenase médias empresas nacionais e do desenvolvimen-to equilibrado e harmonioso do território nacional;

— aumento das actividades de natureza especulativa,levando à redução do crédito às actividades pro-dutivas;

— fomento da fuga às obrigações de natureza fiscal,através da utilização crescente de operaçõessediadas no off-shore;

— prática sistemática de políticas discriminatórias detaxas de juro, em desfavor dos clientes com me-nor poder económico e mais baixa capacidadenegocial;

— cobrança indiscriminada e abusiva de comissões,retenção indevida de fundos depositados sem re-muneração e incentivo a aplicações especulativase com elevado risco;

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— subida excessiva e injustificada dos prémios dosseguros e estabelecimento de condiçõescontratuais abusivas;

— dificuldades crescentes na realização de algunstipos de seguros, nomeadamente os dirigidos aosector agrícola;

— transferência de actividades para sociedades au-xiliares e instrumentais, sujeitas a um controlomenos rigoroso e, também por isso, oferecendomenos garantias aos clientes;

— generalização da publicidade enganosa, parcelare deficiente;

— degradação das condições de trabalho e remune-ração dos trabalhadores do sector.

O PCP considera necessária e urgente uma mudançaprofunda na política até agora prosseguida no sectorfinanceiro e a adopção de uma nova política assentenas seguintes orientações e medidas:

— reforço do sector público bancário, tornando-ocapaz de exercer um papel de liderança e equilí-brio do sistema financeiro, bem como de respon-der às necessidades da economia nacional e dodesenvolvimento equilibrado e harmonioso do ter-ritório nacional;

— recomposição da presença do Estado no sectorsegurador, viabilizando a implementação de umapolítica de seguros susceptível de responder àsnecessidades da agricultura e das pequenas emédias empresas e de complementar os esque-mas de protecção social do Estado;

— estabelecimento de regras que impeçam o cresci-mento excessivo dos grupos financeiros privados;

— clarificação das competências das entidades desupervisão bancária e seguradora, nomeadamen-te em áreas de sobreposição, a par do reforço dosseus poderes e capacidade de intervenção, deforma a assegurar uma fiscalização eficaz de to-das as empresas do sector, incluindo as socieda-des auxiliares e instrumentais, bem como as quenelas detenham participações relevantes;

— definição e fomento de políticas de crédito dirigidasaos investimentos produtivos, às pequenas e mé-dias empresa e às cooperativas;

— penalização pela via fiscal dos investimentosespeculativos e regulamentação rigorosa dos in-vestimentos em produtos financeiros derivados;

— garantia do exercício efectivo do controlo de ges-tão pelas Comissões de Trabalhadores;

— respeito pelos direitos individuais e colectivos dostrabalhadores do sector.

n ENERGIADe 1995 para cá intensificou-se o assalto do grande capi-tal às empresas estatais do sector energético, sendo fac-tos relevantes:

— A escandalosa política de privatizações das em-presas estatais rendíveis intensificou-se, em be-nefício do grande capital financeiro. Para conquis-tar apoio a essa política o Governo concedeu al-gumas migalhas do bolo a alguns sectores atra-vés de benefícios e incentivos fiscais à compra deacções.

— Esquartejamento da EDP em numerosas empre-sas, o que constitui uma continuação da anteriorpolítica cavaquista. Ao contrário do que pretendiao PSD, o Governo do PS privatizou a EDP atravésda holding criada pelo anterior Governo, o que pelomenos possibilita um mínimo de coordenaçãoentre as empresas do grupo. É duvidoso que arecém criada Entidade Reguladora do Sector Eléc-trico (ERSE), criada de acordo com um figurinoestrangeiro, tenha força para coordenar o sectoreléctrico. Mais provavelmente a ERSE será umorganismo destinado a arbitrar entre os muitos“apetites” privados que gravitam no sector.

— A tentativa de tirar proveito da política deprivatizações feitas em outros países, por meiode aquisições de fatias de empresas locais. Nocaso dos investimentos feitos pela EDP no Brasil,que ali participou nos leilões de empresas esta-tais, o tiro provavelmente saiu pela culatra: o de-sastre de Janeiro de 1999 verificado na economiabrasileira desvalorizou brutalmente os activos ad-quiridos pela EDP, com reflexos negativos no va-lor das acções da EDP. A política deinternacionalização, que levou a investimentos naordem dos 100 milhões de contos, é também res-ponsável por não se ter investido mais neste sec-tor dentro do nosso País.

— Esquartejamento da EDP em bocados teve comoprincipal argumento o suposto “gigantismo” daempresa. Mas no caso dos petróleos e do gásnatural o Governo PS adopta exactamente a pers-pectiva inversa, e deliberadamente concretiza umapolítica de mega-fusões. Os sectores do petróleoe do gás natural até hoje sempre caminharam emparalelo pois são, de certa forma, concorrentesentre si. Mas o Ministério da Economia consti-tuiu uma holding para controlar a Petrogal, aTransgás e a GDP. Adivinha-se o interesse do ca-pital monopolista e financeiro, que já detém uma

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fatia significativa da Petrogal (Boulhosa, EspíritoSanto, Monteiro de Barros e outros com cerca de45%), em abocanhar também o sector do gásnatural.

— Embora seja altamente louvável a introdução dogás natural no País, verifica-se que este objectivonão está a ser cumprido de forma satisfatória. Naverdade neste momento Portugal não consegueconsumir nem a metade do gás natural que con-tratou com a Sonatrach da Argélia. Trata-se de umfacto gravíssimo e que onera pesadamente a ba-lança de pagamentos nacional devido à cláusulado take or pay prevista no contrato com a Argélia(o gás que não for consumido tem de ser pago namesma). A propaganda governamental omite sis-tematicamente este dado importantíssimo paraequacionar o problema energético português.

— A principal razão para o ainda escasso consumode gás natural no País é a inexistência de umapolítica energética digna desse nome. Declaraçõeserráticas do Governo em favor do gás natural, dasenergias renováveis, da utilização racional de ener-gia e de adesão à Conferência de Quioto não têmpassado de exercícios de retórica.

— A fúria privatizadora do Governo PS traduz-se tam-bém numa política de despedimentos colectivos,com o recurso sistemático ao outsourcing. Tal polí-tica de “emagrecimento” forçado prejudica grave-mente as empresas do sector, pois os trabalhado-res qualificados que se reformam ou são demitidossão substituídos por empreiteiros privados que uti-lizam trabalhadores mal pagos e muitas vezes compouca experiência. Assim, a qualidade do serviçopara o consumidor diminui e, além disso, agravam-se os riscos de acidentes de trabalho.

— A inexistência de uma política energética no Paísé também confirmada pela quase paralisação doPlano Energético Nacional (PEN), que deveriaestar em actualização permanente. O PEN (ape-sar de ter sido criado para tentar justificar a intro-dução das centrais nucleares em Portugal) foi umaexperiência útil de planeamento energético quedeveria ter continuidade. Na verdade, tanto nocavaquismo como no Governo PS, a políticaenergética foi substituída pela busca de negóciosque beneficiem o apetite voraz do capitalmonopolista pelas empresas do sector.

A situação energética actual, considerada na sua evolu-ção desde 1980, apresenta-se do seguinte modo:

— a energia final consumida por sector apresenta umaestrutura aproximadamente constante (aliás, des-de 1972!), com preponderância da Indústria (42%),

com uma relativa modéstia do Residencial e dosServiços (6% e 14%, respectivamente) e cresci-mento lento dos Transportes (28% para 32%);

— o petróleo (64% a 72%) ocupa o lugar preponde-rante de entre os produtos consumidos na ener-gia final, com a electricidade a aumentar sucessi-vamente a sua participação (28% para 32%);

— na energia primária é também o petróleo que pre-pondera (61% a 70%), seguido da electricidade(10% a 20%, dependendo dos anos hidrológicosmais ou menos húmidos), com uma subida gra-dual do carvão (5% em 1972 para 16% em 1991);

— a produção doméstica é sobretudo de origemhidroeléctrica (aleatória, dependente das irregu-laridades dos regimes das chuvas);

— a dependência energética externa situou-se entre74% e 84% do total da energia primária consumidae a dependência do petróleo nas importações deenergia variou entre 92% e 79%;

— Portugal, continuar a apresentar, face aos outrospaíses da União Europeia, a mais elevada inten-sidade energética e a maior dependência das im-portações de energia.

Perante esta situação que subsiste no sector energético,impõem-se os seguintes objectivos básicos:

— manter reorganizado um sector público bemdimensionado na área energética que, entre ou-tros aspectos seja uma garantia para a existênciade uma reserva energética nacional e a garantiade abastecimento energético sem roturas;

— estabelecer políticas de preços e fiscal, semdistorções que transfiram rendimentos de uns sec-tores da actividade económica para outros, masincentivando um adequado consumo de energia;

— diversificar as formas e as origens das energiasprimárias importadas;

— acelerar o aproveitamento dos recursos nacionaisde energias renováveis (hidroelectricidade,biomassa, eólica, solar, geotérmica);

— promover a utilização racional da energia, tantodo lado da oferta como da procura em todos ossectores da actividade económica e nos consu-mos doméstico;

— incentivar a melhoria da intensidade energética(reduzir o consumo de energia por unidade mo-netária do valor acrescentado bruto), especialmen-te na Indústria e nos Transportes;

— dedicar atenção especial à inventariação dos re-cursos nacionais de energias renováveis e àprospecção de combustíveis fósseis;

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— respeitar o ambiente através de uma política dedesenvolvimento sustentável.

As medidas estratégicas que conduzem aos objecti-vos básicos traçados são as seguintes:

— Defender o lançamento de um novo Programa Ener-gia sem as deficiências do actual (que deverá aca-bar em 1999), burocratizado e voltado apenas paraprojectos de grande dimensão. Um novo programanacional de financiamento para a energia deveriaincluir também o sector habitacional, o que nãoaconteceu com o actual Programa Energia.

— Avançar com a construção e entrada em serviçodos empreendimentos hidroeléctricos (Alqueva,Sabor/Quinta das Laranjeiras, entre outros) etermoeléctricos (actualização e reconversão doCarregado para gás).

— Manter uma reserva estratégica nacional de ener-gia primária designadamente no que concerne apetróleo, energia hidroeléctrica e gás natural.

— Incentivar a co-geração (produção combinada decalor/vapor e electricidade), especialmente com aqueima de recursos nacionais de biomassa e coma entrada do gás natural, pela melhoria dos rendi-mentos de utilização dos combustíveis queimados.Garantir a disponibilidade anual da produção deco-geração e diversificar as paragens para a ma-nutenção individual das respectivas instalações.

— Defender uma política fiscal e de preços que esti-mule mais intensamente o uso do gás natural edas energias renováveis, tornando possível queestas formas de energia substituam, nas áreasonde é possível, e progressivamente, as clássi-cas (combustíveis líquidos e electricidade). A po-lítica fiscal e de preços finais deverá tornar menosatractivas as energias clássicas.

— Tornar obrigatório que as empresas de transportecolectivo urbano nas cidades do Continente commais de 50 mil habitantes convertam os autocar-ros para o gás natural à razão mínima de 5% dafrota por ano. Conceder-lhes facilidades para ainstalação de postos de abastecimento de gásnatural veicular (GNV). Estimular os operadoresde frotas com pequeno raio de actuação (Câma-ras, empresas locais, etc.) a adoptarem o GNV,dando estímulos ao sector privado para a instala-ção de postos públicos de abastecimento.

— Continuar a diversificar as origens de abastecimen-to de gás natural, seja por via terrestre, seja porvia marítima.

— Implantar adequada rede de oleodutos para trans-

porte multiprodutos, avançando-se de imediatocom a ligação, por tal meio, das instalações daPetrogal em Sacavém ao Aeroporto da Portela, oque desde logo contribuirá para a eliminação/re-dução do tráfego de combustíveis líquidos, a pardos efeitos positivos provocados a nível de ambi-ente e segurança.

— Fomentar (e definir os casos em que deve serobrigatório) a instalação de equipamentos sola-res térmicos nos edifícios colectivos novos, inclu-sive de habitação, criando assim um mercado paraesta classe de equipamento.

— Tornar efectiva a aplicação do Regulamento dasCaracterísticas de Comportamento Térmico dosEdifícios (RCCTE) e do Regulamento dos Siste-mas Energéticos de Climatização em Edifícios(RSECE), que permanecem letra morta apesar deestarem formalmente em vigor, na construção deedifícios energeticamente eficientes.

— Apoiar o desenvolvimento e a continuidade (apóso término do período de três anos em que dis-põem de financiamento comunitário) das onzeAgências Locais e Regionais de Energia já exis-tentes em Portugal. O financiamento das Agênci-as Locais e Regionais de Energia deverá ser feitotambém com recursos do Estado, directamenteou através da futura Agência Nacional de Ener-gia. Estimular a criação de novas Agências Lo-cais e Regionais de Energia em localidades ouregiões com mais de 100 mil habitantes.

— Incentivar o aproveitamento das energiasrenováveis com empreendimentos mini-hídricos,eólicos e solares, tendo também em atenção amáxima incorporação nacional na sua construção.

— Acabar com o conluio entre o grande capital fi-nanceiro e o Governo, que se tem traduzido numaescandalosa política de privatizações e de obscu-ras mega-fusões tramadas nos bastidores queferem o interesse público e dos consumidores. Aactuação governamental em relação à Transgás,Petrogal e distribuidoras regionais de gás naturaldeverá ser transparente. É de defender a existên-cia de uma holding que coordene o Grupo EDP,que minimiza os aspectos mais anárquicos domercado, sob o controlo do Estado. O papel e fun-ções da Entidade Reguladora do Sector Eléctrico(ERSE) deverão ser analisados com cuidado, an-tes de se pensar na criação de uma entidade aná-loga para o sector gasista.

— Defender a maioria de capital público nas empre-sas fundamentais de energia - EDP, Petrogal,Transgás, GDP, ENU - sem prejuízo da manuten-

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ção e desenvolvimento das empresas privadas queactuam no sector. As energias renováveis com altacomposição orgânica de capital (como ashidroeléctricas com potências instaladas superio-res a 10 MW) deverão pertencer à EDP.

nCOMUNICAÇÕES E TELECOMUNICAÇÕESO sector das comunicações e telecomunicações é umsector estratégico de crescente importância, em profundamudança, cada vez mais complexo, diversificado e emconstante expansão.

É um sector chave para o progresso do país, nomeada-mente para o seu desenvolvimento económico, que devecontribuir para a criação de emprego, para a concretizaçãode direitos fundamentais dos cidadãos, para a vertentecultural da democracia e é determinante na garantia dasoberania nacional.

A crescente internacionalização da comunicação, aliberalização da oferta de serviços, a evolução tecnológica,nomeadamente com o desenvolvimento das comunicaçõesmóveis, a integração das comunicações fixas e móveis, ocrescimento rapidíssimo da Internet, a expansão da TVpor cabo, a emergência do multimedia, associados à evo-lução integrada dos serviços através da banda larga, apon-tam para a concretização das chamadas auto-estradas dainformação e prefiguram uma importância da comunica-ção e da informação em geral com influência determinanteem muitos dos aspectos da organização social do futuro.

A importância estratégica deste sector e a sua evolução,com o advento das auto-estradas da informação - as infra-estruturas da sociedade da informação -, podem abrir pers-pectivas para novas oportunidades de satisfação das ne-cessidades humanas ou encerrar perigos significativos,consoante os interesses que comandarem este processo.Não é por isso de estranhar que este sector, porque origi-na lucros cada vez mais elevados e, constitui além dissouma importante arma de domínio político e ideológico,desperte cada vez mais apetências por parte do grandecapital.

Em Portugal, apesar dos progressos verificados, os indi-cadores referentes ás taxas de utilização das novastecnologias da comunicação e informação, comparativa-mente aos outros países da União Europeia, mostram aexistência de um enorme fosso desfavorável ao nosso país.

Nas Telecomunicações, o Grupo Portugal Telecom (PT) éclaramente preponderante. Apesar disso, e no que respei-

ta ás comunicações móveis, as operadoras Telecel eOptimus, principalmente a primeira, representam já umaparte muito importante da actividade. Com a liberalizaçãodo serviço telefónico fixo em Janeiro do ano 2000, novasoperadoras se afirmarão no sector.

A privatização da PT, à qual o PCP se opôs, representouum duplo esbulho ao Estado e à comunidade, pela escan-dalosa subavaliação de que foi alvo na primeira fase, pelouso dos mecanismos bolsistas em prejuízo do Estado, no-meadamente na quarta fase, e ainda pela retirada ao pa-trimónio público de muitos milhões de contos de lucrosanuais. A privatização condiciona de forma obsessiva agestão ao objectivo da obtenção de grandes lucros, (emproveitos imediatos, ou na especulação bolsista), por par-te dos grupos económicos que controlam a empresa. Pres-siona a “contenção de custos”, com encerramento de de-partamentos, restruturações permanentes, que levam àeliminação de milhares de postos de trabalho e à substi-tuição de emprego com direitos, por trabalho precário, emmuitos casos mal remunerado. Afecta parâmetros da qua-lidade de serviços e conduz à adopção de uma políticatarifária que tem vindo a penalizar fortemente os utentesresidenciais. Por tudo isso, e também porque retira aoEstado capacidade de intervenção num sector estratégi-co da vida nacional, é extremamente negativa para o de-senvolvimento do país.

Os argumentos usados (necessidade de acesso a novastecnologias e de competitividade num mercado liberaliza-do, problemas que podem ser resolvidos de várias formas,designadamente através de “joint-ventures”), escondemmal os verdadeiros objectivos da privatização: aconcretização da política do PSD e de toda a direita, con-tinuada e aprofundada pelo Governo PS, dirigida para odomínio crescente do grande capital e das multinacionais,sobre a economia e a sociedade portuguesa.

O processo de internacionalização do Grupo PT, marcadonomeadamente pelo controlo da TELESP, a mais impor-tante das operadoras de serviço de comunicações mó-veis da América Latina, veio criar uma situação nova, earriscada do ponto de vista financeiro, para um grupoempresarial que tem um peso muito importante no con-junto da economia do nosso país (o seu volume de negó-cios ultrapassa o valor total do nosso produto agrícola),ao mesmo tempo que, do ponto de vista dos seus accio-nistas, diminuiu a importância relativa do mercado do nossopaís e, consequentemente, do serviço aqui prestado, bemcomo dos trabalhadores que nele operam.

Na área dos Correios, os CTT, têm quase o exclusivo daactividade, sendo as excepções mais significativas as dosserviços e produtos postais urgentes e de transporte deencomendas. O Governo PS, através da Lei de Bases doServiço Postal, introduziu uma forte linha de liberalização,

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— a definição de tarifas em função dos custos reaisconstantes de convenções plurianuais assentesem critérios objectivos e do carácter social dosserviços, com a introdução, neste caso, de com-pensações adequadas a atribuir aos utilizadoresnuma base mais alargada que a vigente actual-mente;

— a consolidação dum processo de compensaçõesaos operadores de serviço público de correios ede telecomunicações pelos prejuízos financeirosdecorrentes da obrigatoriedade de prestação deum serviço público universal com boa acessibili-dade, com qualidade e a preços socialmente acei-táveis;

— uma delimitação precisa dos serviços reservadosao sector público e dos que podem desenvolver-se com base no funcionamento do mercado;

— uma estrutura e gestão empresarial que assegu-re a aplicação da política nacional para o sector esalvaguarde a autonomia de gestão visando o al-cance dos objectivos programados;

— a promoção eficaz da exportação dos produtos(bens e serviços) e da internacionalização de ope-rações, com articulação entre as várias entidadesnacionais envolvidas. A internacionalização deoperações deverá ser compreendida na base dacelebração de alianças entre partes que mantêmcapacidade de gestão estratégica no próprio país,a qual só pode ser garantida através da proprie-dade pública.

No quadro dos princípios orientadores atrás referidos, oPCP propõe uma nova política para as comunicaçõese telecomunicações baseada nas seguintes orienta-ções e medidas:

Nas Telecom unicações:

— A garantia de um papel determinante do sectorpúblico. Detenção pelo Estado da maioria do ca-pital do principal operador e intervenção deste nasvárias áreas e actividades do sector.

— Desenvolvimento e modernização contínuos, apoi-ados nos processos de inovação mais adequa-dos, da rede nacional de telecomunicações, demodo a realizar, no tempo devido, as respostasaos desafios colocados pelo projecto da socieda-de da informação; esta deverá abranger todo opaís e ser acessível a todos os segmentos deutilizadores.

— O desenvolvimento, a modernização e a inovação,nomeadamente nas áreas do serviço de comuni-cações móveis e da internet, bem como a articu-

que entre outros aspectos, pretende pressionar a lógicade gestão do operador público, num sentido negativo.

A entidade reguladora do sector - o Instituto das Comuni-cações de Portugal (ICP) - age em consonância com osinteresses dos grupos económicos, não cumprindo o seupapel relativo ao serviço público.

Face à situação existente; de modo a contribuir para odesenvolvimento social, cultural e económico da socieda-de portuguesa, para o desenvolvimento integral do paísno respeito pelos direitos dos cidadãos, dos interesses dopovo português e da soberania nacional, e tendo em con-ta a internacionalização dos processos produtivos e aglobalização dos mercados; o PCP considera necessá-ria uma nova política para as Comunicações e Teleco-municações nacionais, baseada nos seguintes princí-pios orientadores:

— desenvolvimento do sector tendo como princípiosbásicos o direito a serviços públicos acessíveis ede qualidade, a implementação dos serviços eco-nómica e socialmente necessários e o estímulo emáxima utilização da investigação e tecnologianacionais (designadamente na área das novastecnologias da informação, associadas às teleco-municações), garantindo, sem atrasos, a sua qua-lidade ao melhor nível internacional;

— a implementação das novas tecnologias em simul-tâneo com programas de reconversão e forma-ção permanente dos trabalhadores das empresas;

— a garantia de qualidade dos serviços com padrõesdefinidos por negociação com os utilizadores;regulação e controlo da qualidade de serviço porentidade independente (não sujeita aos lobbies depressão dos fabricantes e/ou dos operadores);

— a garantia da prestação de serviços públicos uni-versais, em particular promovendo o seu acessoàs camadas sociais de fracos recursos, às pesso-as com necessidades especiais e ainda ás zonasdo interior, designadamente para a promoção daactividade económica;

— a salvaguarda dos direitos dos cidadãos e dosutentes, designadamente: do direito ao controloda qualidade dos serviços prestados; do direito àinformação detalhada e gratuita sobre as condi-ções da prestação e facturação de serviços e dodireito ao sigilo das comunicações;

— a garantia de condições de acesso e de utilizaçãode serviços de comunicações, no tempo devido,às empresas e a instituições prestadoras de ser-viço público - nomeadamente as que operam nasáreas da Educação e da Saúde;

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lação de redes e serviços, em particular aintegração fixo-móvel e da TV por cabo interactiva.

— Expansão da Internet enquanto rede global decomunicações, e dos serviços que correm sobrea mesma, nomeadamente o Comércio Electróni-co, a voz sobre IP e o multimedia, e a promoçãode programas específicos para áreas como:

l Apoio às PME no desenvolvimento e utiliza-ção do Comércio Electrónico enquanto novaferramenta de gestão e em programas espe-ciais visando a aquisição de Sistemas de In-formação;

l Generalização de programas de utilização dasnovas tecnologias da comunicação e informa-ção na Administração Pública Central e Local;

l Desenvolvimento de linhas de apoio à utiliza-ção de novas tecnologias da comunicação einformação por todas as camadas e grupossociais, incluindo as pessoas com necessida-des especiais e com particular ênfase nasáreas da Educação, da Saúde e da Seguran-ça Social;

l Defesa do idioma nomeadamente através dacriação e promoção de Sites e Portais de ex-pressão em língua portuguesa.

— Promoção de uma participação crescente dosutilizadores das telecomunicações - pessoas eorganizações - na definição das suas necessida-des próprias em serviços e aplicações, tendo emconta as possibilidades crescentes da satisfaçãodaquelas de uma forma diversificada.

— Promoção estratégica da tecnologia digital a to-dos os níveis, enquanto princípio básico de flexi-bilidade e de interactividade, capaz de facilitar, acustos decrescentes, o rápido acesso universalaos serviços, nomeadamente ao comércio elec-trónico, o transporte das quantidades necessári-as de informação a todos os locais e a combina-ção conveniente dos sinais sob as suas diversasformas (vídeo, audio, texto e dados).

— Elaboração de legislação que contemple astecnologias de comunicação digital como proces-so corrente de comunicação entre pessoas indivi-duais e colectivas e colmate os grandes atrasosexistentes na resposta aos problemas da“desmaterialização” dos documentos, em particu-lar na área do comércio electrónico.

— Estabelecimento de uma nova orientação tarifáriaque garanta a defesa dos interesses dos utentesresidenciais e das pequenas empresas.

— Defesa do emprego com direitos e dos interessesdos trabalhadores do sector.

No Serviço P ostal:

— Manutenção do operador público de correios e dasactividades que lhe estão confiadas, no sectorpúblico.

— Desenvolvimento da rede e do serviço público decorreios. Garantia da prestação de um serviçoacessível a toda a população, sem excepção, comdistribuição domiciliária diária em todos os pontosdo país.

— Melhoria da rede de Estações de Correios e apro-veitamento integral das suas capacidades de tra-balho, designadamente encarando-as como cen-tros de comunicações, que, em especial nas co-munidades de menores dimensões, poderão terum papel central na venda de bens e prestaçãode serviços em áreas tão importantes como, porexemplo, as das relações com o poder central elocal.

— Inovação nos serviços postais tradicionais, inten-sificando o lançamento de produtos com recursoa serviços de telecomunicações, designadamenteprodutos de correio electrónico, os quaisposicionarão estrategicamente os CTT em activi-dades com imenso futuro e que, nalguns casos,substituirão o correio tradicional.

— Concretização do lançamento do Banco Postal porforma a potenciar a força de trabalho das esta-ções de Correio e a ganhar posições na muito dis-putada área dos serviços financeiros, já que osserviços financeiros postais tradicionais tenderãoa defrontar crescentes dificuldades devido à con-corrência de novos produtos de base tecnológicamais avançada.

— Melhoria do controlo sobre os padrões da quali-dade de serviço, para garantir maior credibilidadee, sobretudo, maior regularidade na qualidade doserviço postal.

— Consideração dos trabalhadores como elementode maior importância, abandonando definitivamen-te a política do aumento da produtividade e daqualidade à custa dos seus direitos, do trabalhoprecário e dos baixos salários, com base na chan-tagem da concorrência que crescentemente inter-vém no mercado internacional de correios.

nTRANSPORTESA evolução dos transportes durante os quatro anos deGoverno PS, assentou na continuidade das medidas maisgravosas da política de direita, de desregulamentação dosector e de privatização das grandes empresas e sua en-trega, antecedida de grandes esforços de investimentopúblico, ao capital privado nacional e transnacional.

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É durante este período que avança: o desmembramentocompleto da CP, a decisão de privatizar parte da ANA, aentrega formal da exploração ferroviária do eixo norte/sul,incluindo a ponte 25 de Abril, ao mesmo grupo privadoque já domina o sector rodoviário, a segmentação e aprivatização da TAP e é aprovada a legislação visando aentrega do sector portuário aos privados.

É também neste período que, para “encobrir” os escânda-los, o Governo PS extingue a JAE, substituindo-a por trêsInstitutos, com a finalidade de privatizar funções do Esta-do, pondo em causa direitos dos trabalhadores.

A política desenvolvida caracteriza-se também por outrosaspectos negativos: ausência de uma visão e de uma ac-ção integrada e coordenada do sistema de transportes,tanto ao nível nacional como ao nível regional ou das áre-as metropolitanas; uma insidiosa e crescente influênciade interesses económicos privados no funcionamento enas decisões de organismos públicos do sector; a utiliza-ção dos investimentos em infra-estruturas de transportes- com custos unitários elevados, graves deficiências deconcepção e/ou de construção e graves indícios de cor-rupção - para operações de marketing político; a degrada-ção dos transportes públicos e o incentivo à utilização doautomóvel, em muitos casos sem alternativa, como solu-ção de transporte; a prevalência do modo rodoviário comos consequentes impactos ambientais negativos e umaincapacidade em matéria de segurança rodoviária que éobrigada a soluções pontuais de recurso em face de algu-mas situações limitadas e localizadas.

Na ligação a outros países, não é perceptível uma visãoestratégica e as hesitações em relação a decisões, enca-radas de forma avulsa, resultam em perdas e atrasos nonecessário combate aos factores indutores de perificidade.

O sistema de transportes, funcionando de um modo inte-grado, como um todo, continua a não existir e ao contráriodo que seria de esperar, tem-se constituído como um fac-tor de agravamento de distorções regionais, económicase sociais e de situações de exclusão social e de gravosasconsequências ambientais.

As populações dos grandes aglomerados populacionaiscontinuam sujeitas a longas filas e longos tempos para sedeslocarem entre a sua residência e os locais de trabalhoe as populações do interior continuam marginalizadas porfalta de uma adequada rede de transportes.

Aumenta o tempo das pessoas ocupado em deslocações,com crescentes problemas de trafego, permanentes emáreas urbanas ou nos seus acessos, situação agravadapela falta de qualidade no transporte público.

O conceito de serviço público é cada vez mais colocadoem “xeque”, quer pela redução de serviços, quer pelo au-

mento de tarifas, quer pela diminuição da sua amplitude,quer pelas medidas visando o desaparecimento dos pas-ses sociais. O peso dos custos com transporte no orça-mento médio das famílias (cerca de 17%) é crescente.

As agressões ao meio ambiente, continuam deliberada-mente com aumento da congestão do tráfego, os proble-mas do estacionamento, a poluição sonora e a poluiçãoatmosférica. O desenvolvimento sustentado da mobilida-de das populações não existe.

A degradação das condições de trabalho no sector - aníveis não só atentatórios das condições de saúde e se-gurança dos trabalhadores, mas susceptíveis mesmo deafectarem a segurança do transporte - são tambémconsequência visível da política que tem sido levada a cabopelo Governo PS.

O PCP propõe as seguintes orientações estratégicaspara os transportes:

— elaborar um Plano Nacional de Transportes , in-tegrado, e respectivas políticas sectoriais (aérea,rodoviária, marítima e fluvial), que sejam um ele-mento fundamental de uma política de transpor-tes de esquerda, com um papel estratégico eestruturante na economia nacional, no ordena-mento do território e desenvolvimento harmonio-so das regiões, respondendo a imperativos deeconomia energética, menor custo social e pre-servação do ambiente;

— assegurar o efectivo direito ao transporte , e pro-mover o desenvolvimento sustentado da mobili-dade, de modo a contribuir para a melhoria daqualidade de vida, do acesso ao trabalho e àsescolas e para o descanso;

— garantir a prioridade ao serviço público , atra-vés de transportes colectivos coordenados e fre-quentes, seguros, com boa qualidade e a preçossociais, tendo as empresas direito a receber asadequadas indemnizações compensatórias pelomesmo;

— assegurar a complementaridade entre os diver-sos modos de transporte, com adequadosinterfaces , corrigindo o peso excessivo dos trans-portes por estrada;

— criar as Autoridades Metropolitanas de Trans-portes e Autoridades Regionais de Transpor-tes para intervirem activamente no respectivo pla-neamento dos transportes;

— implementar uma política de investigação e de-senvolvimento tecnológico ao nível dos trans-portes.

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No contexto destas orientações estratégicas, o PCPpropõe as seguintes medidas principais :

— parar com os desmembramentos e asprivatizações das empresas e actividades do sec-tor; promover o saneamento financeiro das em-presas, tendo por base acordos com o Estado, nosentido da sua viabilização e melhoria da gestão;e desenvolver uma política de investimentos nasinfra-estruturas, equipamentos e materialcirculante, de modo a aumentar a qualidade doserviço público;

— avançar com uma verdadeira política ferroviáriaque, sendo estruturante, deve compreender, umaefectiva política de rede que garanta: o desenvol-vimento da alta velocidade, a conclusão dos actu-ais investimentos no corredor Lisboa/Porto e ei-xos conexos; a realização de investimentos numasérie de eixos que garantam a articulação de todoo território e boas ligações internacionais; a rea-bertura de trajectos encerrados e a construção denovos troços, para fechar malhas ferroviários ouonde existam pontos geradores de tráfego actual-mente não servidos por caminho de ferro;

— manter no sector público as empresas que resul-taram do desmembramento da CP e tomar medi-das no sentido de se vir repor a unidade do siste-ma ferroviário, funcionando a CP com uma nova eeficaz organização, operando com perfeita liga-ção entre as infra-estruturas, o material e a explo-ração e garantindo a segurança da circulação, afiabilidade e a qualidade;

— desenvolver o tráfego de mercadorias de um modointegrado, tendo em consideração as aptidões evocação de cada modo de transporte, dando umespecial destaque ao transporte ferroviário e apos-tando no tráfego combinado;

— estudar e implementar sistemas de eléctricos rá-pidos, metros ligeiros e de superfície, não comoforma de suprimir os transportes ferroviários exis-tentes, mas como forma de alargar os transpor-tes colectivos a cada vez mais regiões, tendo emconta os interfaces e as complementaridades comos outros modos de transporte;

— desenvolver a rede do Metropolitano de Lisboa(mantendo a empresa no sector público), concre-tizar o Metro do Porto e o Metro Ligeiro da Mar-gem Sul do Tejo, no âmbito de planos ao nível dasrespectivas áreas metropolitanas;

— reconsideração global do Plano Rodoviário Naci-onal 2000 da autoria do Governo PS, tendo emvista a sua adequação às efectivas necessidadesdo País, a complementaridade entre os diversos

modos de transporte e a sua articulação com es-tradas regionais e municipais, às quais deve serdada (em colaboração com as autarquias) umaparticular atenção, garantindo a fluidez rodoviáriaintra-regional e intramunicipal, e a acessibilidadedas pequenas e médias povoações;

— a elaboração e concretização de um plano espe-cífico de investimentos rodoviários centrados namelhoria da qualidade e segurança das estradas,eliminando os “pontos negros”, “estrangulamen-tos” e a sinalização deficiente, responsáveis emgrande parte pela elevada sinistralidade verificadana rede viária nacional;

— tomar medidas ao nível da Marinha Mercante, demodo a prepará-la para assumir maior importân-cia no contexto internacional, considerando a im-portância estratégica que o sector marítimo e por-tuário tem para o nosso País;

— desenvolver o sector portuário e respectivas em-presas, no sentido de preparar adequadamenteos portos, quer em equipamentos quer nos aces-sos rodo e ferroviários; e procurar que as diversasoperações portuárias sejam consideradas comoactividade industrial;

— manter a unidade da TAP, como importante em-presa estratégica e de bandeira de Portugal (im-portância estratégica alargada ao conjunto da avi-ação civil) permanecendo no sector público e ga-rantindo que as parcerias ou alianças a realizarnão diluirão a sua imagem;

— definir uma estratégia nacional para a rede deaeródromos; considerar a localização de um novoaeroporto internacional; e manter no sector públi-co as duas empresas criadas a partir da ANA emelhorar as condições das infra-estruturas e ex-ploração dos aeroportos nacionais;

— garantir as ligações marítimas e aéreas de pas-sageiros e de mercadorias entre as ilhas da Ma-deira e dos Açores e o Continente, a preços so-ciais;

— melhorar substancialmente o transporte fluvialexistente nas diversas Regiões, dando especialdestaque ao rio Tejo, onde o mesmo se deve inte-grar harmoniosamente no sistema de transportesda Área Metropolitana de Lisboa;

— apoiar os transportes colectivos que existem aonível das autarquias, em especial através das in-demnizações compensatórias a que têm direito;

— parar com as medidas visando acabar com ospasses sociais e tomar medidas para aumentar oseu papel e importância;

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— construir uma nova travessia rodo-ferroviária so-bre o rio Tejo entre a Ponte 25 de Abril e a PonteVasco da Gama;

— construir parques de estacionamento e interfaces,devidamente situados, bem concebidos e equipa-dos, para garantirem ligações fáceis e rápidasentre os vários modos de transportes.

nSERVIÇOS PÚBLICOSOs serviços públicos - transportes, telecomunicações,correios, electricidade, gás, água, saneamento, vias decomunicação, entre outros - constituem um elemento fun-damental para a vida das populações e para o país.

A evolução da sociedade e o desenvolvimento científico etecnológico, exigem e possibilitam condições para o de-senvolvimento destes serviços e criam também a neces-sidade de novos serviços.

Impunha-se e impõe-se que seja garantida a sua qualida-de e o seu desenvolvimento a preços acessíveis, sem dis-criminações e em condições de igualdade em todo o terri-tório nacional. Mas ao longo dos últimos anos, emconsequência das políticas privatizadoras que o GovernoPS continuou e levou mais longe que qualquer outro go-verno, os serviços públicos foram fortemente atingidos.

Os processos de liberalização e privatização em curso coma subordinação dos serviços públicos à lógica do lucro,transformam os utentes, cidadãos com direitos, em merosclientes cujos direitos estão condicionados ao pagamentodos serviços. Um pagamento que, nesta lógica, se desti-na não apenas a pagar o custo do serviço público presta-do (a sua qualidade e ou desenvolvimento), mas a gerarreceitas que permitam a máxima acumulação de lucros.

Esta transformação arrasta inevitáveis discriminações so-ciais e económicas: os maiores e melhores clientes pas-sam, na lógica inevitável da comercialização de mercado-rias, a ter direito a melhores serviços e mais baixos pre-ços/tarifas.

Tendo começado pelos sectores mais lucrativos, o pro-cesso privatizador tem vindo a estender-se com o aumen-to dos preços/tarifas para as tornar mais apetecíveis aogrande capital. Inclusive através de contratos de conces-são de actividades pelo Estado, em que este se compro-mete a garantir taxas mínimas de lucro ou a pagarvultuosas verbas aos grupos económicos e financeiros queas exploram, muito acima daquilo que teria que despenderse a gestão fosse pública.

Reflectindo-se na política de preços, a lógica do lucromáximo tem profundas consequências a outros níveis. Nos

critérios de investimento influenciando a oferta e a quali-dade dos serviços que tende a ser feita privilegiando ossectores e áreas geográficas mais lucrativas, abandonan-do ou secundarizando outras e nas exigências de padrõesde segurança.

Entre um vasto conjunto de instrumentos e de normasprivatizadoras de que o Governo lançou mão, destacam-se: a alienação de capital; concessões; a regulação de insti-tutos públicos predominantemente por normas de direitopredominantemente privado; subcontratação; mecanismosde contratualização da administração pública e reservade mercado para agentes privados.

O papel do Estado é remetido para uma função meramentereguladora das actividades, com a definição dos chamadosserviços universais, um género de serviços mínimos des-valorizados e em desvalorização, e a criação das chama-das entidades reguladoras que por eles zelariam, condicio-nadas não apenas pela pressão dos grupos económicos efinanceiros, quando não por estes directa ou indirectamen-te controladas. Pelo domínio dos interesses privados sobreas suas orientações e em qualquer caso pela limitação dosseus poderes, estas entidades não serão garantia de qua-lidade e tarifas adequadas ao nosso país.

Só uma forte responsabilidade do sector público, em al-guns casos total, dada a natureza dos sectores, na opera-ção das actividades pode permitir a força e capacidadenecessária para, com uma gestão eficaz, garantir uma ori-entação e prática de acordo com o interesse público.

As empresas de serviços públicos estão na prática a dei-xar de ter como objecto principal da sua acção os servi-ços que prestam - electricidade, telecomunicações, etc. -passando estes a constituir uma actividade subsidiária,um meio para a acumulação de lucros e para a especula-ção bolsista, de poderosos grupos económicos e finan-ceiros.

Trata-se da substituição da lógica da gestão pública, quedeve procurar a máxima eficiência, para garantir serviçospúblicos que respondam às necessidades da população edo país, pela lógica da gestão privada que, mais do que amelhoria dos serviços a prestar, procura o máximo lucro.

Considerando que os serviços públicos constituemum dos pilares do Estado, uma marca distintiva doregime democrático, um mecanismo fundamental deredistribuição da riqueza e um factor indispensável napromoção do desenvolvimento do país, o PCP propõe:

— a paragem imediata de todos os processos deprivatizações em curso e a concretização de umaorientação que utilize todos os mecanismos exis-tentes, para nas áreas concessionadas defendero interesse público e fazer regressar as activida-des para o sector público;

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— a promoção de novas formas de gestão públicaempresarial estabelecendo com clareza e rigor asobrigações de serviço público, os planos de for-mação e pesquisa, a criação de emprego de qua-lidade, um financiamento adequado, definindo-seprogramas de renovação, modernização e cons-trução de infra-estruturas apropriadas;

— a manutenção do mecanismo de perequaçãotarifária no âmbito da prestação e fornecimentode um determinado bem público, garantindo aacessibilidade económica, a universalização doatendimento com níveis de qualidade crescentes;

— a garantia que o pagamento de tarifas e taxas porparte dos utentes reverta para o desenvolvimentode planos de qualidade a desenvolver no âmbitodos serviços públicos. Revisão dos sistemastarifários da electricidade e das telecomunicaçõesde forma a garantir os interesses dos utentes do-mésticos ou residenciais;

— a definição de uma orientação em que a activida-de de prestação de serviços públicos privilegieuma lógica de cooperação e solidariedade e nãode concorrência, respeitando as reais necessida-des da população e do país;

— a garantia de uma intervenção das entidades re-guladoras, que de facto vise a defesa do interes-se nacional, das populações e dos trabalhadorese não como instrumento dos interesses de gru-pos que dominam as empresas operadoras;

— a concretização de uma rigorosa fiscalização eavaliação dos serviços públicos actualmente geri-dos e explorados por entidades privadas enquantoessa situação se mantiver, de modo a reduzir aomínimo os riscos, designadamente: de falta detransparência da actividade das empresas ao nívelde política de preços, contabilidade, investimentos,e acessibilidade a todos os cidadãos; de os benefí-cios servirem para beneficiar a diversificação e orisco empresarial em outras actividades com adescapitalização da função principal; de ataque aosdireitos e regalias dos trabalhadores ao nível doestatuto, da carreira, da formação, da protecçãosocial, da saúde e segurança no trabalho;

— reforço do papel e do apoio e dinamização dascomissões, associações e movimentos de utentese de defesa do consumidor.

n SECTOR PÚBLICOA política de privatizações levada a cabo pelos sucessi-vos governos, com o Governo PS a assumir as mais for-tes responsabilidades, não só alterou radicalmente a face

do sector público como constituiu um dos maiores e maisescandalosos esbulhos do património nacional, lesou gra-vemente os interesses económicos do país, das popula-ções e dos trabalhadores dessas empresas e serviços etornou mais dependente a economia nacional.

Os últimos quatro anos mostraram as linhas essenciaisdas orientações do Governo no que ao sector público dizrespeito. Alterada a Constituição e revogada a Lei de De-limitação de Sectores - Lei 88-A/97 - com o apoio o PSD ePP, abriu-se o caminho para a liberalização e privatizaçãoem mais larga escala.

Contrariando os interesses de uma estratégia de desen-volvimento nacional, o Governo PS promoveu e estimuloua delapidação e a entrega aos grupos privados de secto-res estratégicos e fundamentais da nossa economia, afec-tando a possibilidade de desenvolver um modelo econó-mico promotor da coesão territorial e de uma justa repar-tição da riqueza.

Iniciou a privatização da EDP. Fez perder a maioria docapital do Estado na Portugal Telecom, na Cimpor, na Bri-sa e na Tabaqueira.

Privatizou a maioria do capital do Banco de Fomento Ex-terior (BFE) e transferiu a propriedade do Banco Borges eIrmão (BBI), que o BFE controlava. Entregou a totalidadedo capital do Banco Totta e Açores ainda na posse doEstado - 13,1% -, ao Grupo Champalimaud.

Concretizou a privatização da CNP, do Grupo Quimigal(envolvendo cerca de 12 empresas); da Setenave; de vári-as empresas do Grupo Portucel; da linha ferroviária daPonte 25 de Abril, que foi concessionada, e das PEC (ma-tadouros).

No melhor figurino neoliberal desenvolveu o processo dedesmembramento da Administração Pública e de ataqueao papel do Estado, com a sua desresponsabilização e aprivatização de alguma das suas funções. Criou figuras deInstitutos, Sociedades Anónimas, Fundações e outras es-truturas, com total confusão entre o público e o privado,com dinheiros públicos a financiarem e a gestão e os inte-resses privados a dominarem. Pretendeu e pretende avan-çar com a privatização do serviço de notariado. Fez prolife-rar as concessões, esvaziando as funções do Estado, quetiveram grande desenvolvimento nas áreas da captação,tratamento e distribuição de água, de tratamento de águasresiduais e de resíduos sólidos urbanos e industriais.

Prepara a continuação das privatizações na Administra-ção Pública e no sector empresarial. É o caso, entre mui-tas empresas áreas e sectores, da EDP, que levaria à per-da da maioria do capital do Estado, da GALP - SGPS,holding do petróleo e do gás, dos Estaleiros Navais deViana do Castelo, da TAP, em processo adiantado de en-trega à Swissair e da ANA (aeroportos).

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Esta orientação tem consequências sobre a economia na-cional, a democracia, os direitos dos trabalhadores e o em-prego e constitui hoje um sério obstáculo à construção deuma política de defesa do interesse e soberania nacionais.

As privatizações têm sérias consequências no plano eco-nómico e financeiro.

Ao contrário do afirmado, as nacionalizações não consti-tuíram um cancro para o país. Os lucros das empresaspúblicas entregues ao Estado e as receitas dasprivatizações representavam já, no final de 1997, um sal-do positivo para o erário público em mais de 254 milhõesde contos, isto sem considerar as escandalosassubavaliações de que as empresas públicas foram alvo.

Com as privatizações os lucros destas empresas são en-tregues ao capital privado e retirados ao Orçamento deEstado que é também afectado pela perda de receitas fis-cais e por uma maior tentativa de ingerência na conduçãodas despesas públicas pelos grandes interesseseconómicos privados.

Com o reforço e consolidação do poder económico/sociale político de um número restrito de grupos (económico--financeiros) impõe-se uma hierarquia de relações comgrandes, médias e pequenas empresas privadas e com opróprio sector público, desfavorável/prejudicial para estes.

As condições em que as PME vão aceder ao crédito e afactores de produção tão diversos como a energia, a água,as comunicações são agravadas.

No plano de ordenamento do território e do uso dos recur-sos naturais, o carácter estruturante de muitas das em-presas públicas privatizadas ou em privatização, pela suanatureza de organização em rede com pólos espalhadosgeograficamente, pela sua índole estratégica, impedirá queo Estado, representante do interesse geral, público, usede forma capaz e suficiente esses instrumentos noordenamento do território, inclusive na resposta àsassimetrias regionais, e na defesa de um desenvolvimen-to sustentável em recursos naturais e sujeitará o seu usoàs lógicas do interesse privado.

O emprego e os direitos dos trabalhadores foram e sãoseriamente atingidos. Milhares de postos de trabalho fo-ram liquidados, apenas parcialmente “compensados” pelorecurso à sub-contratação e a múltiplas formas deprecarização das relações laborais. A extinção e ou revi-são de acordos de empresa resultaram em perda objecti-va de regalias e direitos adquiridos pelos trabalhadores,registando-se a intensificação das discriminações sala-riais, de maiores e mais intensos ritmos de trabalho, dedegradação objectiva das condições de trabalho.

Os pequenos accionistas atraídos para as privatizações,iludidos pelos primeiros ganhos servem de elemento detransferência das posições do Estado para os grupos

económicos e financeiros ou de base para o financiamen-to do seu poder de decisão.

O regime democrático é ferido com a submissão do poderpolítico ao poder económico e financeiro. Voltaram a insta-lar-se práticas antigas de confusão entre interesses públi-cos e privados, com conhecidos membros dos núcleosdirigentes do PS, PSD e PP a circular entre responsabili-dades governamentais e outros cargos públicos e funçõesde administração ou consultoria em grupos privados. Àmedida da destruição do património nacional, a corrup-ção atingiu sectores vários da vida política, económica esocial.

Quem determina a política nacional são cada vez menosos interesses do povo português, mas os que ilegitimamente,se vão apropriando dos mecanismos fundamentais da eco-nomia portuguesa, afectando a própria democracia.

Em consequência das privatizações e das restruturaçõese fusões, das que se verificaram e das que seperspectivam, atingiu-se em Portugal um grau de concen-tração capitalista e o capital financeiro adquiriu um nívelde poder, que condiciona e restringe a democracia e cons-titui um sério obstáculo à adopção de uma política que dêresposta aos interesses do povo, à concretização de umverdadeiro projecto de desenvolvimento nacional.

É preciso defender o sector público hoje existente e recla-mar a adopção de uma nova orientação para o seu funci-onamento e gestão. É preciso pôr fim imediato ao proces-so de privatizações, um dos mais graves atentados contraos interesses nacionais.

Mas se este é um aspecto da maior importância, como aacção privatizadora reduziu o sector público a uma dimen-são claramente insuficiente, retirando ao Estado, instrumen-tos fundamentais para a implementação de uma políticaque dê resposta aos problemas que o país enfrenta, estáhoje colocada como questão essencial a exigência, do re-forço do papel do Estado, de um sector público forte edinâmico para a democracia e o desenvolvimento.

Um sector público forte e dinâmico, que contribua paraconcretizar a propriedade social sobre os sectores bási-cos e estratégicos, fundamental para que o poder econó-mico se subordine ao poder político, alterando a situaçãojá existente em que o poder económico domina o poderpolítico, em que quem verdadeiramente manda, pelo po-der real que tem e pelos compromissos que assegura,são os grupos económicos e financeiros.

Um sector público forte e dinâmico, instrumento que con-tribua para a aplicação de uma política económica nacio-nal, essencial para garantir o desenvolvimento integrado,a promoção da actividade económica nacional, incluindo

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das pequenas e médias empresas, e para que esta sejaorientada ao serviço do povo e do país e não ao serviçodos grupos económicos e financeiros e das multinacionais.

Um sector público forte e dinâmico para garantir serviçospúblicos geridos para dar resposta às necessidades, e nãona óptica do máximo lucro e da especulação bolsista, commenor qualidade e preços mais elevados, à custa dosutentes e do Orçamento de Estado.

Um sector público forte e dinâmico, para promover umapolítica de emprego, de salvaguarda e elevação de direi-tos e de melhoria das condições de vida, alterando o ca-minho actual em que são sacrificados no rolo compressordo agravamento da exploração para o máximo lucro.

Um sector público forte e dinâmico, para garantir um ver-dadeiro projecto de desenvolvimento do país que contri-bua para afirmar a sua soberania, no quadro da coopera-ção e das interdependências com a Europa e o mundo dehoje, sem o qual Por tugal sofrerá plenamente asconsequências da entrega de alavancas económicas fun-damentais às multinacionais e do reforço dos gruposeconómicos ditos portugueses que, sejam quais forem asconsequências negativas para o país, apenas conhecema linguagem dos seus interesses, indissociáveis dos inte-resses do capital multinacional.

A concretização do projecto de desenvolvimento nacionalque é preciso para responder às necessidades do povo edo país coloca como objectivo e condição, a partir dasposições hoje existentes no sector público, o reforço dopapel do Estado, garantindo-lhe uma posição determinantenos sectores básicos e estratégicos, construindo um sec-tor público forte e dinâmico ao serviço da democracia e dodesenvolvimento do país.

Considerando que o sector público é componente es-sencial de uma organização económica capaz de pro-mover o desenvolvimento do País e de garantir a so-berania nacional, o PCP propõe:

— o fim do processo de privatizações, incluindo ocancelamento imediato de todos os processos emcurso;

— a reapreciação, exaustiva de todos os processosde privatização realizados, avaliando a sua legali-dade, legitimidade, preços que foram praticados,levando às últimas consequências a responsa-bilização pelas irregularidades e delapidação dopatrimónio púbico que se tenham verificado;

— o reforço do papel do Estado nos sectores bási-cos e estratégicos, reapreciando inclusiveprivatizações que ultrapassaram os 50% do capi-tal das empresas, de modo a garantir que sejamos interesses nacionais a comandar as respecti-vas empresas e sectores;

— um sector público com uma orientação que vise odesenvolvimento sustentável e integrado do país;a resposta às necessidades nacionais em termosde promoção de actividades produtivas; o apoioàs PME; a criação de serviços públicos de quali-dade, universalizando o atendimento com níveiscrescentes de qualidade; a defesa do ambiente edo património; a saúde e bem-estar; a promoçãoe desenvolvimento da educação e da cultura;

— um sector público com uma concepção e articula-ção global que incorpore em cada estádio do de-senvolvimento nacional uma estratégia de coope-ração entre os vários sectores e empresas, demodo a responder com maior eficácia e de formaintegrada aos desafios que hoje estão colocados;

— uma gestão eficiente e dinâmica, assegurandoadequados direitos de informação, fiscalização econtrolo por parte dos trabalhadores e populações,que permitam o combate a formas burocráticas eou tecnocráticas de funcionamento e organização;

— a separação das funções de regulação e opera-ção com uma definição clara da estrutura de res-ponsabilidades e competências que permita con-ferir maior qualidade, eficácia e transparência àactividade do sector público, reforçando a confi-ança dos cidadãos;

— um adequado e transparente relacionamento fi-nanceiro entre o Estado e as empresas que pres-tam serviços de natureza eminentemente públicae social, designadamente, assegurando que ascompensações financeiras que lhes são devidastenham inscrição no Orçamento do Estado;

— a nível laboral e social salvaguarda dos direitos eregalias e prossecução de uma elevação signifi-cativa e exemplar das condições de trabalho e deremuneração salarial e uma crescente participa-ção dos trabalhadores no controlo e fiscalizaçãoda orientação e gestão das empresas;

— relativamente aos diversos sectores assegurar umsector público com uma dimensão e pesodeterminante nos sectores básicos e estratégicosda economia nacional, definidos numa perspecti-va de actualidade e de futuro, garantindo:

l no sector financeiro e em particular na bancadefinir as orientações, acções e mecanismosnecessários para preservar as actuais posi-ções do Estado, de modo a que mantenhamuma influência determinante no sector;

l no sector industrial garantir as posiçõesactuais e o reforço a partir dessas posiçõesdo papel do sector público;

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l no sector energético manter a maioria do ca-pital da EDP e as posições no gás e no petró-leo, e garantir o controlo efectivo da sua ges-tão numa perspectiva do interesse público;

l garantir os sectores da captação, do tratamen-to e distribuição de água, do tratamento deáguas residuais e da recolha, tratamento deresíduos sólidos urbanos ou industriais, comoactividades públicas, tomando medidas parafazer reverter para o controle e gestão públi-cas as actividades já concessionadas, no finaldos contratos, ou antes, accionando mecanis-mos de salvaguarda do interesse público;

l assegurar um peso determinante no sectordas telecomunicações. A garantia de que oEstado deterá a maioria do capital do princi-pal operador, a intervenção deste nas váriasáreas e actividades e o estabelecimento demecanismos que regulem a intervenção deoutros operadores dentro dos objectivos dapolítica nacional de telecomunicações e dacontribuição para o financiamento do seu de-senvolvimento. A reserva do sector postalcomo actividade pública;

l uma forte presença na comunicação social,com a continuação das actuais posições doEstado e o seu reforço, com exigência e comogarantia de qualidade, pluralismo e igualdadede tratamento entre as várias forças políticas,como contributo para o desenvolvimento cul-tural, assumindo particular relevo na televisãoe na rádio e assegurando a existência de umaagência nacional de notícias;

l no sector dos transportes e vias de comuni-cação: a manutenção das posições do Esta-do nos transportes rodoviários de passagei-ros, ferroviários e nos transportes fluviais; areserva de portos e aeroportos como área dosector público; a construção, gestão e explo-ração de auto-estradas, com controlo públicosobre as empresas adjudicatárias ou conces-sionárias, fazendo reverter para o sector pú-blico as concessões já efectuadas no final doscontratos, ou antes, accionando mecanismosde defesa do interesse público;

l a defesa da continuação dos sectores que in-tegram a Administração Pública como tal, amanutenção das posições do Estado nas áre-as da agricultura, pecuária, alimentação epescas e também nas indústrias de defesasem prejuízo da cooperação tecnológica comoutras entidades;

l assegurar um sector público importante emoutros sectores que sejam considerados es-

tratégicos, designadamente actividades de in-vestigação científica e desenvolvimentotecnológico, partindo das posições que o sec-tor público já hoje aí detém.

nPEQUENAS E MÉDIASEMPRESAS

Desde há muito, que o PCP defende a existência de umaeconomia mista, constituída por empresas públicas, em-presas privadas e empresas de economia social, comouma das condições básicas para o desenvolvimento. Noquadro economia mista que propomos, existe obviamen-te um papel muito importante para as empresas priva-das , particularmente as de capital nacional.

Trata-se, no essencial, do universo das empresas de pe-quena e média dimensão (com um número de trabalhado-res inferior a 250) que ultrapassam 99,7% do número totalde empresas e são responsáveis por cerca de 3/4 do em-prego e aproximadamente 2/3 de facturação. Neste uni-verso merece especial destaque o conjunto das microempresas (menos de 10 trabalhadores) 86% do total edas pequenas empresas (entre 10 e 9 trabalhadores)10,9% do total. Segundo dados mais recentes as microempresas representam 38,4% e as pequenas empresas22,8% do emprego total. O seu peso é importante em pra-ticamente todos os sectores, Comércio e Restauração(99,2%), Outros serviços (98,3%), Construção civil (93%)e na Indústria (94%). E constituem, nalgumas regiões, apar das autarquias, os mais importantes, senão os únicosdinamizadores económicos e empregadores.

A generalidade das PME enfrentam, na sua actividade, asdificuldades decorrentes da crescente monopolização desectores, actividades e mercados e das políticas macro-económicas favoráveis ao grande capital da União Europeiae do governo PS, na continuidade dos anteriores gover-nos do PSD. Nesse enquadramento ganha particular rele-vo o predomínio do sector financeiro e da grande distribui-ção com as suas estruturas e actividades transformadasnum gigantesco aspirador da riqueza criada nos sectoresprodutivos e em particular nas PME.

Entre as políticas governamentais devem referir-se os di-versos programas com participação de fundos comunitá-rios e os planos Mateus e Pina Moura, ditos, para a recu-peração de empresas. Estes revelaram-se, na generalida-de, incorrectos e desarticulados das necessidades do sec-tor produtivo português, umas vezes uma forma de ajudar“amigos” do Governo, quase sempre balões de oxigénio,sem consequências na consolidação de um tecido produ-tivo mais eficiente, quando não se integrarem em proces-

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sos de absorção das PME pelo grande capital. O que étanto mais negativo quanto dois factores condicionam for-temente a viabilidade e competitividade das pequenas emédias empresas nacionais.

A contenção orçamental, determinada pelos critérios deMaastricht/Moeda Única e pelo Pacto de Estabilidade, pro-vocam efectivas restrições no investimento público, comparticular significado ao nível da Construção Civil e ObrasPúblicas, com as consequências respectivas que se adivi-nham ao nível do desenvolvimento das infra-estruturas,actividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D), edu-cação e formação, e do próprio mercado público (dinami-zado pelos gastos estatais), aspectos decisivos para a sus-tentação e desenvolvimento das PME.

A desigualdade, à partida, das empresas nacionais faceàs empresas de outros países, na concorrênciaintracomunitária (e no mercado mundial) decorrente dascondições favoráveis que estas últimas possuem em ma-téria de crédito, do preço dos factores de produção, deacesso a mercados, do volume das ajudas nacionais, etc..

Por exemplo, para o período 1992/94, os auxílios nacio-nais à indústria medidos em percentagem do valor acres-centado eram de 4.4% em Portugal, atingiam 4,8% na Ale-manha e Bélgica, e eram de 8,4% na Itália. Medidos emECU por trabalhador, eram 480 em Portugal, 2397 na Itá-lia, 1350 na França, 2012 na Alemanha e 1837 na Irlanda!

As PME e em particular as pequenas e micro empresas,apresentam ainda debilidades estruturais que urge ate-nuar, e que têm um impacto profundamente negativo so-bre o desempenho interno e externo da nossa economia.É também, obviamente, pela superação desta fragilidadeque passa também o reforço da competitividade da nossaeconomia.

As principais debilidades das PME, prendem-se com aqualificação dos seus recursos humanos e com as insufi-ciências e desequilíbrios da estrutura financeira e dosequipamentos produtivos das empresas. Destas carênci-as decorrem, por sua vez, fragilidades no plano da inova-ção, da produtividade, da imagem e da motivação, enfimda sua competitividade geral.

Neste quadro, não queremos deixar de referenciar o pa-pel muito importante - nos seus aspectos positivos enegativos - dos empresários destas unidades económi-cas, pelo que o seu acompanhamento é de fundamentalimportância.

Entre os problemas graves com que estão confrontadasas PME: está a manutenção de programas comunitários(RIME, PROCOM, SIR, IC-PME) que apesar de algumaevolução, continuam fortemente burocratizados, com

plafonds pequenos e rapidamente esgotados, e o paga-mento dos incentivos com grandes atrasos, dificultando oacesso das PME, ao contrário das facilidades dadas aogrande capital nacional e estrangeiro; está uma políticafiscal desadequada e penalizadora das PME (basta ver adistância entre o prazo do pagamento do IVA (30 dias) eos prazos de cobrança das facturas emitidas, em médiassuperiores a 90 dias, para lá dos critérios discriminatóriosface às empreitadas públicas), contrapondo-se com osmilhões de benefícios fiscais para os grandes gruposeconómicos; está a falta de regulamentação de proces-sos de subcontratação (por exemplo garantias bancáriasdos subcontratantes); estão as disparidades no caso domercado de capitais pois, apesar da baixa das taxas dejuro, é conhecido que as PME e em particular as microempresas continuam a pagar elevadas taxas efectivas,quer no curto prazo quer nos empréstimos para investi-mentos; está a continuidade das discriminações nos apoi-os ao associativismo empresarial, com favorecimento ex-clusivo das associações dominadas pelo grande patronato.

Face a esta situação, o PCP que afasta como soluçãoque alguns propõem para as PME a política de mão-de-obra barata, precária e sem direitos, propõe areconsideração de um conjunto de políticas e de me-didas, por forma a responder ao importante papel dasPME na sociedade portuguesa , nomeadamente:

— programas de incentivos comunitários, privilegian-do as PME, adequados às suas características ecorrespondentes aos objectivos de desenvolvi-mento económico que o PCP propõe para o país;

— uma política fiscal para as PME, integrada na ur-gente e inadiável reforma geral do sistema fiscalque há muito defendemos;

— uma política de concorrência e mercados que im-peça que o “poder financeiro e comercial” obte-nha ganhos extraordinários “anormais” nas quo-tas de mercado e transações económicas à custadas PME;

— uma regulamentação das relações de subcontra-tação entre empresas, assegurando direitos egarantias às subcontratadas e o combate à eco-nomia informal;

— uma política financeira que promova a igualdadedas PME face às grandes empresas no acessoao mercado de capitais e assegure que as medi-das destinadas a promover o financiamento dasPME, beneficie de facto estas e não as institui-ções financeiras intermediárias;

— e ainda uma reconsideração global, na base dasexperiências anteriores, das medidas de apoio àrecuperação de empresas, garantindo uma boa

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aplicação dos dinheiros públicos e a manutençãoda sua condição de PME.

No quadro de um conjunto de medidas que reputa-mos importantes e prioritárias positivas, destacamosas seguintes:

— organização da Administração Pública por formaa orientar e agilizar os apoios ás pequenas e microempresas;

— apoios específicos para as micro e pequenasempresas e para as PME nas áreas rurais e dointerior;

— programas de formação intensiva para empresá-rios, particularmente de micro e pequenas empre-sas;

— criação de programas consequentes, que permi-tam o emprego sustentado de jovens diplomadoscom formação superior em micro empresas e pe-quenas empresas;

— criação/apoio de mecanismos de coordenação eassociativismo para algumas funções empresari-ais - sobretudo aprovisionamentos e comercial - anível regional e eventualmente sectorial na pers-pectiva interna e externa;

— a par dos apoios financeiros, revalorizar os apoi-os técnicos;

— favorecer a prática de taxas de juros ajustadas àscondições económico-financeiras das pequenasunidades económicas;

— garantir a instituição de garantias comunitárias enacionais a associações de PME que prestemserviços de centralização de crédito;

— estabelecimento de contratos-programa entre asempresas públicas e as PME;

— apoio ao associativismo específico e autónomopara as PME.

n COOPERATIVISMOA Constituição da República Portuguesa consagra o SectorCooperativo com um dos três sectores de propriedade dosmeios de produção e estabelece a obrigação do Estado deestimular e apoiar a criação e actividade das cooperativas.No entanto, ao longo dos anos e dos sucessivos governos,do PS ao PSD, a política seguida foi a de ignorar, quandonão de obstaculizar, o desenvolvimento deste Sector.

Apesar das dificuldades e dos obstáculos, milhares decooperativas, dos diferentes ramos, conseguiram não ape-nas sobreviver como, em muitos casos, consolidar-se e

desenvolver-se. O Sector Cooperativo representa hoje umvolume de negócios de cerca de 820,5 milhões de contos,empregando 45 mil pessoas, e com 2,135 milhões de as-sociados.

Na última legislatura, a Assembleia da República apro-vou, por unanimidade, um novo Código Cooperativo e oEstatuto Fiscal Cooperativo, legislação para a qual o PCPdeu um importante contributo. Mas medidas concretas deapoio e incentivo ao desenvolvimento das Cooperativascontinuam por ser tomadas.

A aprovação pelo Governo do PS do PRODESCOOP –Plano de Desenvolvimento do Sector Cooperativo, nãopassou de uma operação de cosmética, já que é essenci-almente virado para a criação de novas cooperativas, nãoatendendo às necessidades que as Cooperativas existen-tes têm, de apoio à sua reestruturação e desenvolvimen-to. Por outro lado, a não criação de outros mecanismos deapoio à criação de novas cooperativas conduzirá, inevita-velmente, ao não total aproveitamento dos apoiosdisponibilizados.

Continuam, igualmente, a não ser tomadas medidas efi-cazes que impeçam a apropriação ilegítima e privada dospatrimónios das cooperativas, que são patrimónios colec-tivos, em alguns casos resultado do trabalho e empenhode gerações e gerações de cooperadores.

No Sector Cooperativo, apesar de todas as políticas des-favoráveis, prosseguem processos de rentabilização dosrecursos, de integração económica, de intercooperação -com resultados bastante positivos, demonstrativos da vi-talidade e viabilidade do Sector.

Mas os resultados das cooperativas não podem nem de-vem ser avaliados apenas em termos económicos. A im-portância social do Sector Cooperativo extravasa em mui-to os simples números de balanço, devendo a sua acçãoe eficácia ser também avaliada em termos sociais e deeducação cívica e democrática.

Perante uma situação em que persiste o baixo rendimen-to, o subemprego, o acréscimo das desigualdades na dis-tribuição do rendimento e um elevado endividamento dasfamílias. O Sector Cooperativo reúne também condiçõesnecessárias para minorar alguns dos desequilíbrios exis-tentes. Para isso, importa que sejam tomadas um conjun-to de medidas que promovam o efectivo desenvolvimentodo Sector Cooperativo e estimulem as grandes potencia-lidades de que as cooperativas são detentoras.

O PCP propõe um conjunto de medidas que permitamnão apenas a consolidação, mas também o desenvol-vimento do Sector Cooperativo, designadamente:

— a aprovação de um efectivo plano de apoio àreestruturação e desenvolvimento, que tenha em

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conta a especificidade de cada um dos seus ra-mos, os seus planos e objectivos, designadamenteaqueles que desenvolvem a sua actividade emáreas como a habitação, o ensino infantil, a soli-dariedade social e a defesa dos consumidores eprotecção do ambiente;

— a adopção de medidas que ponham termo à efec-tiva discriminação que tem existido, e continua aexistir, no acesso das cooperativas aos diferentesapoios comunitários, promovendo a publicação delegislação que tenha em conta a especificidadedo Sector Cooperativo;

— a criação de instrumentos financeiros, nomeada-mente linhas de financiamento e crédito, que te-nham em conta a especificidade das cooperati-vas e permitam o financiamento em conformida-de com as suas necessidades;

— a adopção de medidas de apoio e incentivo a pro-cessos de intercooperação entre os diferentes ra-mos do Sector Cooperativo;

— a adopção de medidas de apoio a processos deinternacionalização das cooperativas, nomeada-mente o estabelecimento de relações com os pa-íses de língua portuguesa;

— a adopção de medidas efectivas que impeçam atransformação de cooperativas em sociedadesanónimas e apropriação indevida dos patrimóni-os a estes pertencentes;

— a adopção de medidas de apoio ao reforço dasestruturas de representação do Sector Cooperati-vo, possibilitando o incremento da sua interven-ção na coordenação e representação institucionalem Portugal e nas instâncias comunitárias, e quepermitam que aquelas possam desenvolver umaacção eficaz de dinamização das cooperativas,nomeadamente através da prestação de assistên-cia técnica qualificada.

nAMBIENTE ERECURSOS HÍDRICOS

Ambiente

Nos últimos quatro anos o PS, tal como já havia aconteci-do com o PSD, não foi capaz de concretizar uma políticade ambiente coerente na óptica do desenvolvimento sus-tentável do País.

A acção do Governo caracterizou-se pela falta de cumpri-mento das promessas eleitorais, pela descoordenação

entre o Ministério do Ambiente e dos outros ministérios epela tradução avulsa de normas comunitárias sem que,enquanto membro da União Europeia, tivesse contribuídopara que estas directivas se ajustassem à realidade e aosinteresses nacionais. Muitas vezes, aliás, as directivas fi-caram na realidade por cumprir ou são apenas parcial-mente executadas.

O Ministério do Ambiente ao invés de concretizar políti-cas e intervenções a que se havia comprometido, apre-sentou um conjunto de trabalhos em final de mandatoque, a serem válidos, só seriam aplicáveis na legislaturaseguinte, pretendendo assim, parecer estar a cumprir oscompromissos assumidos. Confundiu sempre debatepúblico com apresentação pública de projectos. Os agen-tes económicos e sociais não foram chamados nem en-volvidos na definição da política ambiental e de desen-volvimento, tendo-se imprimido uma linha de favore-ci-mento de interesses económicos privados, designa-damente de grupos estrangeiros.

Não elaborou o Plano Nacional do Ambiente. É total adesarticulação nas medidas agro-ambientais. Não há umaverdadeira estratégia de conservação da natureza e dedefesa da biodiversidade, nem uma política de desenvol-vimento rural e florestal. Portugal mantém-se como umpaís de calamidades, incêndios, secas e inundações.

A falta de planos leva a intervenções casuísticas ecentralizadoras, de carácter arbitrário e com deficiente fun-damentação técnica e científica. Este facto conduz àburocratização e ao desprestígio das intervenções de sal-vaguarda ambiental.

Os planos das áreas protegidas são meros regulamentos,com conjuntos de proibições, sem visão do desenvolvi-mento e sem a preocupação de trazer vantagens para aspopulações.

Não avançou na reclassificação das áreas protegidas nemna sua gestão democrática. Continua a não haver Lei daÁgua nem projectos de plano de bacia. Em relação aolitoral, a elaboração de Planos de Ordenamento da OrlaCosteira surge desenquadrada de uma política deharmonização e por vezes em conflito com outros meca-nismos de ordenamento.

Mantêm-se níveis muito baixos de tratamento de esgotosdomésticos e industriais.

É apresentado a poucos dias do fim do mandato, sem hi-pótese de debate na Assembleia da República duranteesta legislatura, um chamado Plano Nacional dos Resídu-os Sólidos, após o desastre que foi a acção do Governonesta matéria, particularmente no que respeita à precáriainstalação de aterros sanitários e ao processo de trata-mento dos resíduos industriais perigosos e hospitalarescontaminados, que culminou com o processo da co-inci-

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neração, num cenário de total falta de transparência e des-prezo pela participação dos cidadãos e suas organizaçõesao nível das decisões.

As restrições ambientais existem e são fortementepenalizadoras nas áreas rurais, sem compensações, aomesmo tempo que impera um clima fortemente permissi-vo e sem salvaguardas ambientais nas áreas urbanas

As perspectivas e orientações da Agenda 21 ficaram nagaveta. A Rede Natura 2000, que o Governo, de formaautista, não discutiu nem, como lhe competia, esclareceuem muitas das áreas em que estava proposta, pratica-mente não avançou. As linhas de água continuam ao aban-dono sem conservação e sem vigilância. Vive-se uma si-tuação de insegurança face à ausência de uma fiscaliza-ção adequada que defenda a população. Situações comoos recentes casos das vacas loucas, das dioxinas dos fran-gos importados da Bélgica, da coca cola contaminada eainda do consumo de produtos geneticamente modifica-dos, em que o próprio Governo admite insuficiências defiscalização, são altamente preocupantes.

Finalmente, verificou-se um deficiente aproveitamento dosfundos comunitários destinados a este sector, a que acres-ceu a sua gestão desequilibrada e desarticulada.

Face a esta situação o poder local acabou por ter de as-sumir muito da intervenção que competiria ao Governonesta área, não lhe sendo criadas contudo as condiçõesmínimas para tal intervenção.

São, assim, mais do que legítimas as preocupações dosportugueses face à situação ambiental do País e à suaqualidade de vida.

De facto, o Governo PS não foi capaz de dar resposta aosproblemas ambientais, situação que não pode serescamoteada por uma ou outra atitude mais positiva. OGoverno PS provou que o Partido Socialista não tem umavisão correcta nem uma política de desenvolvimento sus-tentável para Portugal.

O PCP considera que a política de ambiente e recursosnaturais é uma questão fulcral para o presente e futuro doPaís e do povo português.

O PCP assume o solene compromisso de reforçar a sualuta, quer no contexto nacional quer no da União Europeia,tendo como objectivo a garantia de criação das condiçõesnecessárias à concretização de um desenvolvimento inte-grado e equilibrado do País.

Trata-se de uma luta que o PCP desde sempre vem de-senvolvendo e que assenta nas seguintes premissas:

— Os conceitos de desenvolvimento e de ambientenão são dissociáveis. O desenvolvimento deve ser,necessariamente, encarado sob as mais diversasperspectivas, designadamente a económica, a

social, a cultural, a ecológica, a ética e a estética.Isto é, a perspectiva ambiental tem de estar, sem-pre, presente em todas as políticas sectoriais, enão encarar o desenvolvimento numa exclusivaperspectiva económica, como vulgarmente temvindo a acontecer, o que apenas serve para ne-gar o próprio princípio do desenvolvimento;

— O PCP entende a política de protecção e de valo-rização ambiental como um meio indispensável àdignificação do Homem e da sua relação com anatureza e como um direito fundamental da Hu-manidade;

— O PCP sempre afirmou que o grau de eficácia deuma política de ambiente depende, em boa medi-da, da vontade e do empenhamento do Estado edos governos a quem compete o seu delineamen-to. Isto, não exclui o papel, também primordial, queàs populações e à sociedade em geral cabe naprotecção e valorização ambiental, o que implicaum esforço contínuo e empenhado na educação,sensibilização e mobilização dos cidadãos faceaos problemas e às estratégias que a política deambiente encerra;

— O PCP considera, ainda, que a questão ambientalassume, cada vez mais, um carácter global, quenão reconhece fronteiras regionais ou nacionaise que por isso mesmo carece do reforço de umarigorosa definição e defesa que o PCP, atravésdos seus eleitos, tem vindo a promover em todosos Fórum internacionais.

Neste sentido, a política de ambiente que o PCP pre-coniza e que, em síntese, tem por principal desígnio aconcretização e a prossecução de um desenvolvimentosustentável do país, deverá ser enquadrado por umconjunto de vectores dos quais destacamos, como es-senciais:

— reforço da participação democrática dos cidadãos;

— a prática de um ordenamento na base de umaperspectiva de defesa ambiental face à instalaçãodas actividades humanas e de uma maior racio-nalização e democratização dos processos degestão da REN e da RAN;

— a urgente ultrapassagem das inadmissíveis taxasde carência que ainda se registam, quanto à dis-ponibilidade de infra-estruturas de base;

— a preservação e exploração sustentável dos re-cursos naturais.

Neste contexto, o PCP considerando indispensável umapolítica de ambiente ao serviço da população e do País,lutará pela concretização das seguintes acções:

— elaborar o Plano Nacional de Ambiente;

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— democratizar e descentralizar a política de ambi-ente, fortalecendo o papel dos municípios, conti-nuando a lutar pela instituição das regiões admi-nistrativas dotadas dos necessários recursos, ereforçando a participação das populações e osmeios de actuação das associações de defesa doambiente;

— promover o direito à informação e à educaçãoambiental, que carece de uma total reestruturaçãoe que deverá estar presente em todos os grausde ensino, peças fundamentais de uma políticade ambiente;

— democratizar a gestão das áreas protegidas comelaboração dos respectivos planos deordenamento, com a participação das populações,das suas organizações e dos representantes dosconselhos directivos dos baldios nos respectivosconselhos gerais;

— alargar a recolha e tratamento final dos lixos, esti-mulando a população a participar activamente nasua requalificação;

— privilegiar a política de redução de resíduos urba-nos e industriais, bem como a reciclagem ereutilização, com soluções racionais e integradasa nível nacional, dando cumprimento às directivasexistentes, em especial sobre embalagens;

— apoiar a recolha selectiva de materiais e aumen-tar a capacidade da indústria transformadora nosentido de garantir a absorção destes produtos;

— adoptar políticas de tratamento com base nos in-teresses das populações, na minimização doimpacte ambiental da área ocupada e do princí-pio da adopção da melhor tecnologia disponível;

— assegurar um correcto tratamento de resíduostóxicos e perigosos industriais e hospitalares;

— garantir a segurança no transporte de substânci-as poluentes ou perigosas, e o seu tratamentoefectivo com recusa de exportação para paísesem vias de desenvolvimento;

— reforçar a qualidade, a idoneidade e a indepen-dência dos estudos de impacte ambiental promo-vendo a sua extensão a planos e programas, in-cluindo projectos financiados ou co-financiadospela União Europeia e Banco Mundial e aumen-tando os níveis de participação pública;

— garantir a justa aplicação do pr incípio dopoluidor/pagador, encontrando formas de apoiopara acesso à melhor tecnologia disponível, comatenção especial aos problemas das pequenas emédias empresas;

— assegurar uma particular atenção às zonas ondea degradação ambiental assume proporções críti-cas, tais como as em risco de desertificação e dedesastres naturais, ou de problemas agudos depoluição, requalificação e reordenamento de áre-as metropolitanas, especialmente as densamen-te povoadas e questões de transportes e mobili-dade dos cidadãos;

— prosseguir de uma forma intransigente o deverprioritário do Estado de defesa da qualidade doar, da água e dos solos, da reflorestação, da pro-tecção dos sistemas ecológicos, da biodiversidadee das espécies protegidas e em vias de extinção;

— promover um combate activo a propósitosconducentes a prováveis aumentos do risco dedestruição da camada de ozono ou de aumentodo efeito de estufa e consequente aquecimentoglobal;

— promover o direito de informação objectivarespeitante à utilização e consumo de organismosgeneticamente modificados e à bio-segurança,com a criação de um comité de bio-segurançaresponsável pelo controlo das importações, avali-ação e etiquetagem desses produtos;

— estimular o recurso a formas inovadoras de ob-tenção de energia, aproveitando os potenciais jáexistentes (solar, eólica, de marés), e contribuin-do para a diminuição dos fenómenos de poluição(aproveitamento do metano);

— rever o Plano Estratégico Nacional de Conserva-ção da Natureza e da Biodiversidade, integrando-lhe as componentes de consulta à comunidadecientífica e empresarial, bem como os interessesdas populações ligadas à sua vivência, valores etradições culturais;

— promover uma melhor caracterização, monito-rização e diminuição da poluição do ar;

— procurar promover e incentivar práticas de trans-parência política, com a informação e participa-ção de agentes públicos assim como os cidadãose associações ambientalistas e de consumidores,designadamente alargando a participação no Pla-no Nacional do Ambiente e demais órgãos con-sultivos, aos sindicatos e outros representantesdas populações;

— zelar pela consagração dos efectivos interessesnacionais no quadro do Plano Nacional de Ambi-ente sempre que se verifiquem situações de ne-gociação bi ou multilateral, que possam produzirefeitos não desprezáveis, nesta área, para o nos-so País, designadamente no quadro dos Tratadose compromissos a firmar pela União Europeia.

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Água

O PS esquecendo as suas próprias propostas eleitorais eas posições defendidas enquanto oposição, prosseguiu noGoverno uma política que continua a não reconhecer aágua como factor essencial ao desenvolvimento harmóni-co e sustentável, gerindo os recursos hídricos de uma for-ma totalmente irresponsável que poderá ter gravíssimosreflexos no futuro dos portugueses.

O Governo manteve o conjunto dos diplomas publicadosem 1993 pelo anterior Governo, que estabeleceram a ac-tual orgânica do Ministério do Ambiente, contrariando oseu próprio programa eleitoral. Tal legislação, recorde-se,abandonou o conceito de bacia hidrográfica como unida-de de gestão de recursos hídricos (considerando-a ape-nas como unidade de planeamento), ao arrepio da maismoderna doutrina e do consenso internacional que sobretal matéria se estabeleceu. A estrutura de gestão da água,mau grado a existência dos conselhos de bacia manteve-se, pois, centralizada, burocratizada e sem adequada par-ticipação dos utilizadores e dos cidadãos.

Continuou adiada outra das promessas eleitorais do PS, ada publicação (ou, sequer, a mera preparação de uma Leida Água, que incorporasse os princípios básicosgeneralizadamente reconhecidos como os mais adequa-dos para a gestão da água).

A Convenção Luso-Espanhola recentemente negociadacom o País vizinho, embora com um quadro institucional ejurídico mais favorável relativamente à situação anterior,deixa múltiplos e importantes problemas em aberto queurge sejam negociados com a adequada fundamentaçãotécnica e com grande determinação na defesa dos inte-resses nacionais.

O modelo de gestão da água como recurso finito, móvel ereutilizável de propriedade comum, como bem de primeiranecessidade cujo acesso é um direito natural, reflecte oprojecto de desenvolvimento do País, a forma de exercícioda soberania, do direito, da equidade e da democracia.

Indissociável das políticas territorial e ambiental, a políti-ca da água, como recurso estratégico condicionante dopotencial agrícola, energético, industrial, de uso do solo edo espaço, da saúde, das pescas e de bem-estar, consti-tui, no entender do PCP, muito mais que uma políticasectorial, uma componente estruturante do desenvolvimen-to integrado humano, de equilíbrio com o espaçoenvolvente, de autonomia e da sustentabilidade.

Na coerência do projecto global e integrado de desenvol-vimento defendido pelo PCP está a principal garantia e oindispensável enquadramento de uma profunda alteraçãoda política da água que sirva, efectivamente, o presente eo futuro de Portugal e pela qual o PCP lutará firmemente.

Integrados neste projecto e subordinados às suas ori-entações gerais, são objectivos específicos no âmbi-to da gestão da água:

— o desenvolvimento e protecção quantitativa e qua-litativa do sistema de recursos hídricos, atravésde uma gestão no quadro de um ordenamento doterritório que compatibilize o desenvolvimento só-cio-económico com os valores ambientais;

— o estabelecimento de um sistema consistente deDireito da Água e das condições para a sua apli-cação, a “desgovernamentalização” e o rigor téc-nico quanto à sua gestão, o que exige uma parti-cipação alargada dos Cidadãos e seus represen-tantes legítimos nas decisões sobre RecursosHídricos e a capacitação institucional do sectorde Administração Pública da Água;

— a elevação dos níveis de abastecimento de águadoméstico, recolha e tratamento de águas residu-ais, até atingir as metas de 100% para abasteci-mento de água potável e 95% para tratamento deáguas residuais e a devolução total das compe-tências municipais nesta área, com a dotação dosrecursos necessários.

Para atingir esses objectivos específicos o PCP pro-põe as seguintes medidas concretas:

— concretização da Lei de Bases da Água, incluindoos princípios fundamentais do Direito da ÁguaPortuguês;

— elaboração e aprovação de uma proposta de Polí-tica Nacional da Água, a adoptar após ampla dis-cussão e participação;

— gestão rigorosa dos Convénios e “Convenção”entre Portugal e Espanha e desenvolvimento dasnegociações na defesa intransigente do interessenacional, o que exige um esforço urgente de re-dução do desequilíbrio negocial decorrente dosdiferentes estádios de conhecimento e interven-ção nos recursos hídricos;

— consideração especial das Regiões do Alentejo,Trás-os-Montes e Alto Douro e Beira Interior, quesão aquelas cujo potencial de desenvolvimento émais directamente ameaçado pela degradaçãoquantitativa e qualitativa das afluências deEspanha;

— análise, avaliação do grau de incumprimento,compatibilização e revisão dos diplomas legais enormativos mais relevantes sobre água e sua com-pilação num único diploma;

— reformulação dos órgãos de gestão dos recursoshídricos, prevendo:

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l substituição dos “Conselhos de Bacia” por ór-gãos efectivamente representativos, com com-petências mais latas, poder de decisão e su-porte institucional;

l participação efectiva e adequada do PoderLocal e órgãos regionais na gestão da Água;

l promoção efectiva dos direitos dos Cidadãosem relação à água, com um apoio efectivo eindependente do poder político, que viabilizeo levantamento de acções ao Estado para de-fesa de interesses particulares, colectivos,ambientais e das gerações futuras, e que ins-titua, de facto, a possibilidade de acção popu-lar em defesa do ambiente prevista na Cons-tituição;

— monitorização, controlo e fiscalização da ocorrên-cia, qualidade, utilizações da água e do solo adja-cente, através da criação de um sistema de clas-sificação qualitativa dos nossos rios, com especi-al destaque para a monitorização de caudais (ro-tina abandonada pela Administração Central des-de 1989), qualidade das origens para abasteci-mento público e verificação da conformidade comos usos (passando a cumprir, pelo menos, a le-gislação nacional e comunitária nesse âmbito), doscaudais e da qualidade da água afluente deEspanha;

instituição de um sistema de planeamento técni-ca e institucionalmente sustentado que contem-ple a utilização de medidas não estruturais e pro-dução urgente e integrada dos necessários ins-trumentos de gestão, que incluem os Planos deBacia Hidrográfica, os Planos de Ordenamentodas Albufeiras, os Planos de Protecção de Capta-ções, os Planos de Ordenamento da Orla Costei-ra, os Programas de exploração de aproveitamen-tos hidráulicos, os Programas de adaptaçãoambiental e os Programas de implementação efec-tiva do direito nacional e comunitário no sector;

— promoção das infra-estruturas necessárias de re-gularização, tratamento, protecção e reabilitaçãodo domínio hídrico fluvial e marítimo, numa pers-pectiva de desenvolvimento do potencial utilizá-vel, priorizando, no entanto, as medidas não es-truturais tais como a adequada exploração dosaproveitamentos e equipamentos e os incentivosà economia e preservação dos recursos hídricos,com destaque para os regimes de exploração dealbufeiras;

— restruturação do quadro normativo, institucional etécnico-científico do sistema de licenciamento efiscalização do uso da água e do domínio hídrico,dotando-o dos meios e procedimentos necessári-

os ao pleno desempenho do seu papel na garan-tia de economia e correcta afectação dos recur-sos hídricos, protecção dos interesses de tercei-ros e do equilíbrio ambiental, designadamente noque refere ao valor ecológico e paisagístico daslinhas de água e das suas orlas ripícolas;

— capacitação institucional do sector - compati-bilização dos recursos com as atribuições e com-petências, instituição das condições técnicas eorganizacionais necessárias ao rigor, eficácia etransparência de administração; medidas de atrac-ção, valorização e fixação dos recursos humanosqualificados e instalação de uma rede nacional delaboratórios acreditados;

— criação de condições institucionais e legais deacesso directo e gestão Municipal dos fundos es-truturais a afectar ao saneamento básico, e aindaque possibilitem a criação de empresas intermuni-cipais, municipais ou mistas para exploração dossistemas municipais salvaguardando os interes-ses nacionais e das populações nos processosde concessão de gestão dos sistemas públicosem entidades privadas, designadamente estran-geiras;

— responsabilização efectiva da Administração Cen-tral pela protecção e garantia de fiscalização rigo-rosa da qualidade das origens da água para abas-tecimento público, respectivas análises epublicitação dos resultados;

— promoção do uso de novas tecnologias visando apreservação dos recursos, de estudos e projec-tos de investigação aplicada com objectivo demelhorar o rigor e eficácia de utilização da água.Elaboração de regulamentos de segurança paraprojectos de recursos hídricos e ambiente.

nORDENAMENTO DOTERRITÓRIO

Durante o período da legislatura que agora termina, oGoverno do PS não só prosseguiu, no essencial, as políti-cas desarticuladas herdadas dos Governos do PSD comoaté as agravou quando quis mostrar maior obediência aosinteresses dos grandes grupos económicos no queconcerne à especulação fundiária.

As políticas de incidência territorial têm sido, no essenci-al, constituídas por meras medidas avulso, na sua grandegeneralidade de carácter demagógico. Esta desarticula-ção das políticas sobre o território tem-se mostrado exce-lente recurso para dissipar o alcance das reivindicações e

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conquistas populares em áreas como a habitação, a saú-de, o ensino, e em tantos outros domínios, onde os meiosde investimento não comportam a afectação de solos ne-cessários para a sua realização.

A Lei de Bases do Ordenamento do Território e do Urba-nismo que, embora timidamente, incorpora algumas daspropostas há muito defendidas pelo PCP, apenas define oquadro geral da formulação de políticas articuladas deordenamento do território, o que não dispensa, antes obri-ga, à elaboração do Programa Nacional da Política deOrdenamento do Território, a aprovar pela Assembleia daRepública. Aliás e no prosseguimento da aprovação destalei foram aprovados recentemente dois novos diplomas um,por proposta do PCP, que enquadra de forma positiva aresolução dos graves problemas das Áreas Urbanas deGénese Ilegal e outro que pretendendo constituir meca-nismo de desburocratização dos processos delicenciamento de obras, vem abrir a porta aos interessesespeculativos e ao favorecimento das grandes empresasimobiliárias.

Até que este objectivo seja alcançado, apenas os municí-pios continuarão a assegurar, melhor ou pior, estratégiasde ocupação e vocação de uso do solo, necessariamentedesarticuladas e desprovidas de meios transformadores,por ausência de enquadramento operativo a nível regio-nal e nacional. A Administração Central quase só inter-vém quando pretende assegurar interesses privados eespeculativos.

Neste quadro, as autarquias de maioria CDU têm demons-trado capacidade de mobilização de competências e re-cursos para racionalizar a ocupação do espaço ehumanizar a vida nos respectivos concelhos, com resulta-dos globalmente reconhecidos e valorizados, embora li-mitados pelos meios financeiros disponíveis e pelo carác-ter centralizador da legislação existente.

Ao ordenamento do território o PCP associa a intervençãohumana, pelos actos de construir ou edificar e pela delimi-tação de usos preferenciais ou toleráveis do solo. Delimita-ção esta determinada pela vontade democrática dos povospara a realização das suas legítimas aspirações de melhoriadas condições de vida, num quadro geral de sustentabilidadeambiental e regeneração de recursos.

Daí, o PCP entender que a política do ordenamento doterritório terá de constituir-se como vector permanente-mente presente no delinear e na concretização da estra-tégia de desenvolvimento do País, bem como na base deuma concepção que encara o território nacional como umtodo, valorizando as suas especificidades e comple-mentaridades.

A situação que se vive tem-se traduzido: na progressivadesertificação registada em significativas zonas do interi-or do país; no desequilíbrio funcional, na degradaçãoambiental e na descaracterização de vastas zonas do lito-

ral; na saturação das principais áreas urbanas, onde o cres-cimento populacional não é acompanhado dos correspon-dentes níveis de infra-estruturação e equipamentos nemde medidas de acesso à habitação e ao emprego.

O PCP defende como principais as seguintes orien-tações :

— uma concepção que encare o solo e os recur-sos naturais que lhe estão associados, nãocomo uma mercadoria e fonte de enriqueci-mento especulativo, mas sim como bens es-cassos que devem ser orientados para o usode interesse público, garantindo uma ocupaçãohumanizada de todo o território capaz de devol-ver a dimensão social e cultural à cidade e ao cam-po num ambiente saudável;

— a elaboração de um Programa Nacional de Po-lítica de Ordenamento do Território e de umPlano Nacional de Ordenamento visando o de-senvolvimento do interior e das zonas deprimidase aliviando o litoral e as áreas metropolitanas daactual pressão de crescimento;

— a ar ticulação nacional das políticas deordenamento do território, desenvolvimento erequalificação urbana, voltada para a satisfaçãode melhores condições de vida das populações, eassente na protecção e regeneração de recursosnaturais e culturais numa lógica ambiental susten-tável;

— a criação, sustentação e avaliação de um sis-tema nacional de dados sobre o comportamen-to do território, compatibilizado com sistemaslocais de avaliação, destacando-se a urgente ne-cessidade da cobertura e actualização periódicade cartografia topográfica e cadastral, em articu-lação com o sistema estatístico nacional, capazde apoiar as necessidades de planeamento e ges-tão da ocupação e uso do solo;

— a criação de condições para a prática do pla-neamento e gestão do território, participado eavaliado no sentido da resolução dos proble-mas das comunidades, articulado aos vários ní-veis e escalas, capaz de promover a convergên-cia de procedimentos em tempo útil na óptica damaior rentabilidade social de resultados;

— a descentralização administrativa, técnica e fi-nanceira, capaz de permitir potenciar a nívellocal recursos humanos e naturais, pressupon-do a identificação do acesso a programas e medi-das sectoriais a fixar no programa nacional daspolíticas nacionais de ordenamento, guiado por:

l uma política de promoção do investimen-to produtivo nas regiões do interior, emharmonia com os seus recursos naturais, cul-turais e ambientais, bem como o reforço das

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políticas públicas de apoio ao investimento, demedidas de ordenamento rural que comba-tam as assimetrias regionais, dignificando ascondições de trabalho;

l uma política nacional de habitação, guiadapelo cumprimento do direito constitucional deacesso e que sirva a generalidade da popula-ção independentemente da sua situação eco-nómica, e que articule políticas e medidassociais, visando uma plena integração sociale combatendo os fenómenos de segregação,violência e exclusão social que se vêm agra-vando na sociedade portuguesa, em especialnas cidades;

l uma política para as grandes cidades emetrópoles que privilegie a reabilitação e arenovação urbana, invertendo a actual situa-ção de abandono de centros históricos e áre-as consolidadas, e que devolva à vida sociala dimensão urbana, permitindo o reencontrodos cidadãos com o espaço público no usu-fruto cultural e de lazer, através de umamelhoria da imagem urbana capaz de inver-ter o processo de degradação ambiental;

l uma concepção urbana de aproximação daresidência ao local de trabalho, contrarian-do e corrigindo as zonas mono-funcionais, res-ponsáveis pela desertificação dos centros e ocrescente empurrar da residência para zonassubequipadas e subinfra-estruturadas da pe-riferia, longe dos locais de trabalho, cultura elazer.

O PCP defende que:

— a concretização de tão importantes objectivos exi-ge a aplicação consequente de medidas e políti-cas nos domínios do planeamento, ambiente,transportes e acessibilidades, habitação, desen-volvimento económico e regional, já abordadosnoutros pontos deste Programa Eleitoral, bemcomo a estreita cooperação e coordenação entreo Poder Central e Local na adopção de medidasde defesa do património, da integração das artesplásticas e, nomeadamente, da arquitectura, noembelezamento e caracterização cultural do modode ocupação do território, nos espaços públicos,no desenvolvimento de escolas, equipamentosdesportivos, segurança dos cidadãos, combate àdelinquência, promoção de acções culturais e ser-viços sociais, combate à poluição nas suas dife-rentes expressões, apoio a incentivos à participa-ção dos cidadãos na resolução dos problemas dascidades.

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n Segurança Socialn Saúden Saúde Laboraln Toxicodependêncian Habitaçãon Mulheresn Juventuden Reformadosn Deficientesn Criançasn Imigração e estrangeirosn Defesa do consumidor

Propostaspara o

DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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nSEGURANÇA SOCIALA Segurança Social constitui nas sociedades de hoje umdireito fundamental e uma função social do Estado de pri-mordial importância.

Em Portugal, só a partir do 25 de Abril de 1974 a seguran-ça social se desenvolveu como um direito que se estendea toda a população.

A criação do sistema público de segurança social repre-sentou um instrumento insubstituível de solidariedade, dejustiça social, de integração e de participação na vida dasociedade, ao garantir protecção, nos termos constitucio-nais, na doença, invalidez, velhice, viuvez e orfandade,bem como no desemprego e em todas as outras situa-ções de falta ou diminuição de meios de subsistência oude capacidade para o trabalho.

Mas, apesar do avanço que a criação desse sistema pú-blico representou, sucessivos governos deixaram acu-mular vultuosas dívidas do Estado em relação ao Orça-mento da Segurança Social (referentes aos regimes nãocontributivo ou fracamente contributivos e à acção social),assumiram uma postura de extrema permissividade faceà evasão contributiva e ao enorme volume de dívidas dasempresas e mantiveram as prestações sociais num nívelmuito baixo.

Nos últimos anos o grande capital financeiro nacional etransnacional desencadeou sucessivas campanhas paratentar demonstrar que o sistema público de segurançasocial se encontra à beira da falência e que não resta ou-tro caminho que não seja o da redução de direitos doscontribuintes/beneficiários e a privatização parcial do sis-tema público de modo a transferir para o mercado finan-ceiro privado as modalidades de segurança social maisrentáveis.

O PCP não acompanha essa visão catastrófica da situa-ção do sistema público de Segurança Social e denuncia ocarácter interesseiro das movimentações privatizadoresque a têm promovido.

O PCP considera que as insuficiências do sistema de se-gurança social português não põem em causa o direitofundamental que ele concretiza nem desvalorizam as suasinegáveis realizações e muito menos o imenso patrimóniosocial que foi erguido com o trabalho e o sacrifício de vá-rias gerações da trabalhadores portugueses.

O PCP sublinha também que o actual sistema público desegurança social revela potencialidades para garantir emelhorar a protecção social dos portugueses, mas paraisso é indispensável que seja levada a cabo uma políticade sentido oposto a que tem sido seguida.

O peso das prestações sociais nas despesas públicasnacionais, bem como no Produto Interno Bruto, mantém-se num nível baixo quando comparado com o dos outrospaíses da União Europeia, o que evidencia a existênciade uma real margem de manobra para uma maior afecta-ção de recursos nacionais em favor da Segurança Social.

Os direitos sociais e as funções redistributivas associa-das à Segurança Social naturalmente absorvem recursos,mas a sua concretização tem simultaneamente efeitospositivos na actividade económica e favorece outras con-dições de desenvolvimento social.

À política de menos segurança social e às orientaçõesneoliberais que invocam a insustentabilidade financeira dosistema público para justificar a sua privatização parcial(plafonamento), contrapõe por isso o PCP não só a ne-cessidade mas a possibilidade real de defender, reforçare aperfeiçoar o sistema público de segurança social comogarante do efectivo exercício de um direito social funda-mental - o direito de todos à segurança social.

Esta política é inseparável da valorização do papel da so-lidariedade, consagrada em direitos sociais e na suaconcretização, do trabalho com direitos, de uma mais jus-ta distribuição da riqueza e do rendimento e da necessi-dade de uma sociedade menos individualista. Em quepossa ser realçado o dever de contribuir para o sistemada segurança social como forma de solidariedade concre-ta para garantir um futuro melhor para todos.

Quanto às instituições particulares que desenvolvam acti-vidades na área social, tenham elas natureza lucrativa ounão lucrativa, o Estado deve reforçar o seu papel de tutelae proteger os legítimos direitos e expectativas dos querecorram aos seus serviços.

De acordo com esta perspectiva geral o PCP sustentaa concretização de três linhas fundamentais em rela-ção ao sistema público de segurança social:

1. A garantia dos direitos adquiridos e em formação,de todos e individualmente de cada um, dosbeneficiários/contribuintes do sistema público desegurança social, com reforço da confiança nosistema e recusa à aplicação de condições maisdesfavoráveis que as vigentes;

2. A criação de condições para a melhoria das presta-ções sociais e a elevação significativa e continua-da dos seus valores, em especial das prestaçõesque se encontram a níveis mais degradados;

3. O reforço do financiamento do sistema público desegurança social, por forma a garantir, no pre-sente e para o futuro, os compromissos assumi-dos e a permitir uma resposta mais eficaz aosriscos sociais.

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O PCP defende a adopção para o sistema público epara as instituições particulares, entre outras, das se-guintes propostas :

Medidas para aperf eiçoar os direitos no sistema pú-blico:

— estabelecer um aperfeiçoado conjunto de prin-cípios do sistema público de segurança soci-al: universalidade, unidade, igualdade, eficácia,conservação dos direitos adquiridos e em forma-ção, descentralização, informação, garantia judi-ciária, solidariedade e participação;

— consagrar um denso conjunto de regimes desegurança social - o regime geral dos trabalha-dores por conta de outrém, o regime geral dostrabalhadores independentes, o regime de segu-ro social voluntário, o regime não contributivo e oregime complementar - que se concretizam emprestações garantidas como direitos;

— assumir que o regime não contributivo visaassegurar direitos básicos de cidadania e a cla-ra definição das situações que ele abrange;

— clarificar que a acção social constitui um di-reito básico de todos os cidadãos , destinadaprioritariamente a prevenir situações de carência,disfunção e marginalização social e a assegurara integração comunitária;

— garantir o direito à informação , nomeadamenteatravés da obrigação da informação anual da si-tuação contributiva e da totalidade da carreiracontributiva dos contribuintes/beneficiários, e daobrigação, aquando da vinculação ao sistema desegurança social, de ser fornecida a cada benefi-ciário uma informação circunstanciada sobre osseus direitos e sobre os mecanismos a que poderecorrer para a sua defesa;

— reforçar do ponto de vista legislativo o princí-pio da conservação dos direitos adquiridos eem formação;

— desenvolver a participação activa dos benefi-ciários e das suas organizações a todos os ní-veis do sistema de segurança social e garantir umaparticipação maioritária de representantes das or-ganizações de contribuintes/beneficiários no Con-selho Nacional da Segurança Social;

— reparação e reposição de direitos adquiridosque tenham sido violados ;

— restabelecimento da idade de reforma dasmulheres aos 62 anos ;

— publicação no prazo de um ano do diploma queregule o processo de integração da protecçãodos acidentes de trabalho dos regimes da se-

gurança social , sem prejuízo dos direitos adqui-ridos, alargamento do conceito de reparaçãoexistente de modo a contemplar não só os valo-res profissionais mas também os sociais e huma-nos; e revisão da legislação sobre a reparaçãodas doenças profissionais , de forma a elevar asrespectivas pensões.

Medidas para melhorar as prestações sociais no sis-tema púb lico:

— estabelecimento, como critério fundamentalpara a determinação dos montantes das pres-tações substitutivas dos rendimentos do tra-balho , o nível desses rendimentos e o período decontribuição;

— fixação de que os montantes das remunera-ções que servem de base de cálculo das pen-sões e de outras prestações devem seractualizados anualmente;

— desenvolvimento de um inovador regime com-plementar , no seio do sistema público de segu-rança social, de subscrição voluntária e com pres-tações definidas;

— pensões:

l deverão ser anualmente elevadas, de for-ma a garantir o incremento do seu valorreal, devendo esse aumento incidirprioritariamente sobre as pensões maisbaixas;

l mínimas do regime geral ( contributivo):

w beneficiários até 15 anos de contribui-ções - fixação em 64% do Salário Míni-mo Nacional líquido (o que aos valoresactuais representa 34.900$00 e portantoum aumento extraordinário de 2.300$00),acrescido de um aumento anual não infe-rior a 3% acima do valor da inflação; parauma inflação situada nos 2% isto repre-sentará no final da legislatura um valor su-perior a 42.400$00;

w beneficiários com mais de 15 anos decontribuições - aumento anual não infe-rior a 3% acima do valor da inflação; parauma inflação de 2% isto significará queas pensões mínimas, no final dalegislatura, serão superiores a valores si-tuados entre 43.100$00 (15 anos) e66.300$00 (40 anos);

l pensão social (que é, também, referencialpara o Rendimento Mínimo Garantido): fi-xação em 47% do Salário Mínimo Nacionallíquido (o que aos valores actuais representa

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25.600$00 e portanto um aumento extraordi-nário de 2.000$00), acrescido de um aumen-to anual não inferior a 3% acima do valor dainflação; para uma inflação de 2% , isto signi-fica um valor superior a 31100$00 no final dalegislatura;

l pensão dos trabalhadores agrícolas: fixa-ção em 48% do Salário Mínimo Nacional lí-quido (o que aos valores actuais representa26.200$00 e portanto um aumento extraordi-nário de 2.000$00), acrescido de um aumen-to anual não inferior a 3% acima do valor asinflação; para uma inflação de 2% isto signifi-ca um valor superior a 31850$00 no final dalegislatura;

l reposição da idade da reforma para asmulheres aos 62 anos ;

l serão revistas as situações dasaposentações degradadas;

— alargar o período de concessão do subsídiode desemprego e do subsídio social de desem-prego ;

— Rendimento Mínimo Garantido : prosseguimen-to da aplicação deste novo direito social, prestan-do particular atenção à componente da integraçãosocial;

— reforçar o subsídio social familiar : com carác-ter universal e com um montante base não inferi-or a 10% do Salário Mínimo Nacional; em relaçãoàs famílias de menores rendimentos e para os de-sempregados, ao montante base deverão ser adi-cionados valores complementares, a definir;

— a concretização do subsídio de dependênciadeve obedecer ao princípio de diferenciação devalores de acordo com os encargos, devendo serigual à pensão social nas situações mais graves,designadamente dos acamados;

— reformular o subsídio de inserção de jovensna vida activa , aumentando o seu valor e alar-gando o seu âmbito de aplicação.

Medidas para ref orçar e aperf eiçoar o financiamentodo sistema púb lico:

— assegurar o financiamento pelo Orçamento doEstado dos regimes não ou poucocontributivos e da acção social , de acordo como que está legalmente estabelecido, bem comodos serviços administrativos e da formação pro-fissional;

— recuperar as dívidas das entidades patronaisà segurança social;

— dar combate de forma eficaz a todas as formasde evasão contributiva;

— adoptar medidas para garantir a inscrição detodos os trabalhadores na Segurança Social;

— aperfeiçoamento da relação entre as presta-ções recebidas e o esforço contributivo ;

— alargar a base contributiva do regime geral dostrabalhadores por conta de outrem , acrescen-tando às contribuições mensais dos trabalhado-res e das entidades empregadoras que incidemsobre as remunerações, uma contribuição anualdas entidades empregadoras, cujo volume de ne-gócios ultrapasse um valor a fixar por lei, calcula-da na base do seu valor acrescentado bruto (VAB);ao valor dessa contribuição anual e até ao seulimite é dedutível o somatório das contribuiçõesmensais já pagas sobre as remunerações;

— elaborar o orçamento e a conta da segurançasocial de forma a serem autonomizadas as re-ceitas de cada regime e explicitadas as despesaspor prestações e eventualidades cobertas;

— adequar as fontes de financiamento , por formaa distinguir, em relação às várias prestações, oque deve ser financiado por contribuições e ou-tras receitas próprias do sistema, e o que deveser financiado pelo Orçamento do Estado;

— em todos os casos que haja estabelecimentode taxas contributivas inferiores à taxa socialúnica , bem como de isenções ou reduções deoutras contribuições ao sistema, designadamentepara responder a condições específicas de deter-minadas camadas (pequenos agricultores, porexemplo), o Estado deve transferir anualmentepara o orçamento da segurança social o montan-te global dos apoios que concedeu.

Medidas para aperf eiçoar as relações entre o Estadoe as instituições par ticulares e para garantir os direi-tos dos beneficiários de prestações complementaresde natureza priv ada:

— aperfeiçoar a acção tutelar do Estado - poderesde inspecção, de fiscalização e de apoio técnico -em relação às instituições particulares, como oobjectivo de garantir o cumprimento da lei e de-fender os interesses dos beneficiários e da popu-lação em geral;

— garantir um registo actualizado das instituiçõesparticulares, dos relatórios e contas anuais e dacomposição dos respectivos órgãos dirigentes;

— estabelecer em regime legal as regras e os crité-rios a que obedecem os apoios a conceder às ini-ciativas particulares;

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— sujeitar a legislação própria a criação e a modifi-cação de esquemas de prestações complemen-tares das garantidas pelo sistema público de se-gurança social, bem como a prossecução de mo-dalidades colectivas de benefícios, que abranjamtrabalhadores do mesmo sector sócio profissio-nal, ramo de actividade, empresa ou grupo deempresas;

— impor o respeito pelos princípios da externalidade,da portabilidade de direitos, do controle dos direi-tos e do património e do direito à informação, nainstituição de esquemas de prestações comple-mentares para além das garantidas pelo sistemapúblico, assim definidos:

l princípio da externalidade consiste na afecta-ção a entidades juridicamente autónomas, agestão de patrimónios suficientes para garantiros direitos adquiridos pelos participantes ebeneficiários;

l princípio da portabilidade de direitos consistena manutenção do direito ao benefício corres-pondente ao período total de participação,quando o interessado mude de empresa ousector de actividade;

l princípio do controle dos direitos e do patrimó-nio consiste no direito dos associados, parti-cipantes e beneficiários ou suas organizações,de designarem igual número de representan-tes para uma comissão de controle com po-deres fixados na lei;

l direito à informação dos interessados consisteno direito em obter informações, nomeada-mente em relação às taxas de rentabilidadeutilizadas e obtidas, carteira de aplicação dosactivos, demonstrações financeiras, númerode participantes e beneficiários, pensão mé-dia, despesas de gestão.

n SAÚDE

O Serviço Nacional de Saúde - apesar do subfinan-ciamento crónico e da incoerência das políticas de que foialvo por parte de sucessivos governos - é indiscutível queconseguiu elevar de forma significativa, depois do 25 deAbril, o nível dos cuidados de saúde do conjunto da popu-lação portuguesa. Mas as suas potencialidades não fo-ram plenamente aproveitadas e desenvolvidas.

A persistência de uma política de saúde de inspiraçãoneoliberal particularmente durante os governos do PSD,

apesar do empenhado esforço de muitos dos profissio-nais do SNS, conduziu a uma situação de deterioração demuitos serviços, com evidente diminuição da capacidadede resposta e da qualidade dos cuidados prestados, e pro-vocou em algumas situações a quebra dos seus níveis desegurança.

Entre as consequências mais nocivas dessa política sãode destacar: o continuado e agravado subfinanciamento;a tendência para a avaliação dos resultados das unidadesprestadoras de cuidados por critérios economicistas; osprocessos de centralização da tomada de decisão, de “co-mando” administrativo das unidades de saúde e asobreposição do clientelismo partidário à competência téc-nica; a inadequação de muitos serviços em relação àsnovas exigências de organização e de equipamento; adesvalorização de toda a área (essencial) dos cuidadosde saúde primários; a falta de condições de trabalho dosprofissionais de saúde, a degradação das carreiras e aprecarização dos vínculos; e o agravamento das desigual-dades de natureza classista no acesso aos cuidados desaúde como consequência, nomeadamente, do encerra-mento de serviços na periferia, de introdução de barreirasadministrativas e de taxas moderadoras e da prioridadede atendimento em casos de referenciação privada paraos serviços públicos.

Na última legislatura, a interrupção de algumas destasorientações neoliberais por parte do Ministério da Saúdenão deu porém lugar a uma intervenção clara e inequivo-camente empenhada com a defesa e a melhoria do SNS.

Sem dúvida, e isso foi positivo, foram apresentadas publi-camente orientações e objectivos para concretizar gan-hos em saúde para os portugueses e foi confirmado o “pa-pel estratégico essencial do sector prestador do SNS naconfiguração do sistema de saúde”. Mas a situação noterreno, em muitos hospitais e centros de saúde, não re-gistou progressos.

Persistem dificuldades de acesso em muitos centros desaúde e unidades hospitalares, atrasos no atendimentode utentes, inadmissíveis listas de espera, reflexo de múl-tiplos problemas entre os quais se destaca a falta de mé-dicos de família, de enfermeiros e de outros técnicos, e háquestões que se prendem com a qualidade e com ahumanização da prestação de cuidados de saúde que nãose encontram ainda satisfatoriamente resolvidos em mui-tas unidades e serviços.

A carestia dos medicamentos, o crescente recurso a mei-os complementares de diagnóstico e a prestação de cui-dados de saúde privados são cada vez maisincomportáveis para muitos portugueses - em 1995 osportugueses já pagavam directamente do seu bolso (paraalém do que desembolsavam através dos impostos) mais

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de 40% das despesas de saúde, quando a média da UniãoEuropeia era da ordem dos 25%.

A equipa responsável pelo Ministério da Saúde eviden-ciou claras dificuldades em levar à prática as orientaçõesque definiu, mostrou-se incapaz de separar o público e oprivado, e de afrontar a voracidade dos grandes interes-ses que disputam e absorvem o grosso dos recursos pú-blicos disponibilizados para o sector - desde asmultinacionais dos medicamentos e dos equipamentos, àárea das convenções, aos grupos económicos empenha-dos na privatização de saúde, aos grandes construtorescivis.

O PCP recusa firmemente um caminho que acentue a di-visão dos portugueses, do ponto de vista da garantia doseu direito à saúde, em cidadãos de primeira e de segun-da. E que conduza à divisão entre aqueles que têm capa-cidade económica (ou capacidade para se endividarem)para usufruírem da prestação de cuidados de saúde dequalidade, e os restantes portugueses, a grande maioria,que não tendo essa capacidade económica ficariam con-denados ao acesso apenas a um sistema residual e cari-tativo de saúde, com cuidados de saúde e outras presta-ções de nível inevitavelmente inferior.

O PCP assume por isso a defesa do Serviço Nacional deSaúde. Não do SNS como está, desfigurado pelas conti-nuadas orientações que têm sido postas em prática, masdo SNS regressado à filosofia e à inspiração democráticae humanista inicial, ajustado às novas condições de pro-gresso tecnológico, aos problemas que o crescimento doscustos e a evolução organizativa colocam, aos novos emais exigentes padrões de saúde possíveis e por isso aces-síveis a todos os seres humanos.

Nos últimos anos os comunistas alertaram repetidamentepara a gravidade da situação existente na área da saúde.Apontaram com clareza os interesses ilegítimos e a pro-miscuidade existente entre o sector público e o privadocomo um dos principais obstáculos à resolução dos pro-blemas do SNS. Reclamaram insistentemente do governodo PS uma verdadeira inversão da política neoliberal, demercantilização da saúde e de destruição do SNS, anteri-ormente conduzida. Apresentaram propostas fundamen-tadas no domínio da política de saúde, cuja adopção játeria permitido travar a degradação do SNS, globalmenteavaliada, e alcançar uma efectiva melhoria da prestaçãode cuidados de saúde.

Em coerência com esta postura, crítica e interventiva, oPCP assume a necessidade de uma reforma democráti-ca do Serviço Nacional de Saúde , assente num conjun-to de orientações estratégicas tais como a autonomia e aregionalização, um novo sistema de financiamento, a ges-tão democrática das unidades de saúde, e a separação

do público e do privado. E defende, em simultâneo, aadopção de políticas prioritárias nos domínios daconcretização do direito à saúde, da qualidade dos servi-ços, da valorização dos cuidados de saúde primários, daslistas de espera, dos medicamentos, da promoçãodosdireitos dos utentes e que preste uma particular aten-ção aos problemas da saúde mental, da toxicodepen-dência e da SIDA.

Autonomia e Regionalização do SNS

A manutenção de uma orgânica centralizada egovernamentalizada em que o Ministério da Saúde todosnomeia e tudo aprova e em que as administrações regio-nais se assumem como meros prolongamentos do apare-lho burocrático central, constitui um dos principais proble-mas com que o SNS está confrontado.

Na realidade, o centralismo constitui o principal obstáculoà capacidade de planeamento, de gestão, de financiamen-to, de avaliação, de monitorização e de formação profissi-onal, tem desencorajado as iniciativas na periferia, e im-pedido a avaliação do impacto dos programas e a correc-ção de erros de orientação.

A um modelo alternativo, de organização e de gestão de-mocráticas dos serviços de saúde, pede-se que invertaeste quadro e que dê resposta às condições de crescentecomplexidade funcional e de densificação e interligaçãoterritorial das estruturas prestadoras de cuidados de saú-de, para as quais os sistemas de direcção centralizada ede comando burocrático-administrativo esgotaram a suacapacidade reguladora e organizadora. E pede-se que de-senvolva - dentro de uma filosofia de equidade - um novoequilíbrio dinâmico e auto-regulado democraticamente,entre as necessidades da população, as possibilidadesdecorrentes do avanço do conhecimento e do progressotecnológico e a utilização dos recursos financeirosdisponibilizáveis.

A regionalização do Serviço Nacional de Saúde é um ins-trumento político-administrativo que tem como finalidadeaproximar os níveis regional e local de decisão política ede intervenção social das populações, dos serviçosprestadores de cuidados de saúde.

A participação das comunidades na administração do sis-tema de saúde a todos os níveis deve ser encarada comoum imperativo técnico, na ausência da qual dificilmente seconsegue a aceitação plena de qualquer programa desaúde.

A região é, por isso, a unidade administrativa que melhorse adapta à resolução dos problemas dos serviços desaúde em matéria de desenvolvimento comunitário. A ar-ticulação entre os níveis primário, secundário e terciáriodo sistema de saúde, em geral difícil, encontra na região o

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espaço mais adequado para estabelecer relaçõesprogramáticas institucionalizadas.

O PCP propõe :

— a autonomia do SNS estatutária, administrativa,técnica, financeira, disciplinar - assente na articu-lação dinâmica dos vários poderes que intervêmno sector e da sua regulação e controlo atravésde processos democráticos;

— a institucionalização de órgãos de nível nacional:a Administração Nacional do SNS, nomeada peloMinistro da Saúde, integrando técnicos de carrei-ra de administração, médicos e enfermeiros, aquem compete dirigir o SNS e elaborar o PlanoNacional de Saúde; e o Conselho Nacional doSNS, constituído entre outros por representantesde sectores sociais e profissionais, a quem incum-be dar parecer em relação ao Plano Nacional deSaúde;

— a regionalização do sistema de saúde, envolven-do nomeadamente:

l a institucionalização democrática de um níveladministrativo regional do SNS, que integreno mínimo um presidente, um administrador,um médico e um enfermeiro e a quem devecompetir, nomeadamente, a proposição doplano regional de saúde e dos júris dos con-cursos para seleccionar as equipas de ges-tão das unidades de saúde, o acompanhamen-to da articulação entre os estabelecimentosde saúde e a aplicação da lei reguladora dofinanciamento do SNS;

l a institucionalização democrática do Conse-lho Regional de Saúde como instrumento departicipação do poder social e de regulaçãoexterna do sistema, constituído por represen-tantes das autarquias locais, das associaçõesde utentes, e das associações das várias ca-tegorias de profissionais de saúde, e ao qualcabe, entre outras competências, a de darparecer sobre o plano regional de saúde.

Financiamento do Serviço Nacional de Saúde

Portugal é o país da União Europeia que tem menos gas-tos públicos com a saúde, e ao mesmo tempo, aquele emque é mais elevado em percentagem o encargo financeirosuportado directamente pelos utentes com as despesascom a saúde.

Contra o subfinanciamento crónico do SNS e contra aspretensões da direita de limitar o direito à saúde, importaevidenciar que a recuperação dos investimentos e das

despesas com os serviços de saúde é feita sob a formado aumento da esperança de vida, diminuição da mortali-dade prematura, alívio da dor e do sofrimento físico e psi-cológico, recuperação da autonomia, mais dias de bemestar individual, familiar e social. O facto de muitos dessesbens não serem imediatamente quantificáveis, pelo me-nos da mesma maneira como se medem outros bens, nãoos faz perder importância.

A contribuição financeira para o SNS deve ser realizadasob a forma de impostos, tendo com base a efectiva tribu-tação proporcional dos rendimentos de todos os portu-gueses. Desse modo se concretiza um sistema de financi-amento em que todos, antecipadamente, contribuem, deacordo com as suas possibilidades económicas para asnecessidades de saúde de todos. E a sua realização aolongo da vida produtiva dos cidadãos e previamente à ve-rificação de necessidades concretas de serviços de saú-de tem em vista garantir que ninguém seja confrontadocom dificuldades económicas que inviabilizem o acessoaos cuidados de saúde.

A distribuição dos recursos do SNS pelos seus diversosníveis e unidades deverá respeitar critérios geo-demográficos, epidemiológicos e de produção, a fim degarantir a racionalidade e objectividade no financiamentodo sistema.

O PCP defende:

— a gratuitidade da prestação de cuidados de saúdee o carácter universal e geral do SNS;

— eliminação das taxas chamadas de moderadoras,por serem contrárias à filosofia inspiradora do SNS,além de ineficazes como instrumento de financia-mento e de terem um custo administrativo acres-cido que as anula;

— o aumento dos recursos atribuídos à área da saúde;

— a melhor utilização dos meios públicos disponi-bilizados para a saúde;

— a aplicação da lei quadro reguladora do financia-mento do SNS de forma a garantir os recursosfinanceiros suficientes.

Gestão Democrática das Unidades de Saúde

Os serviços de saúde, sejam eles hospitais ou centros desaúde, são hoje instituições complexas cuja gestão requerum elevado grau de conhecimentos e competências e al-tos padrões de profissionalismo para cumprirem a suamissão. Neles estão envolvidos grande volume de recur-sos técnicos e financeiros, um elevado número de profis-sionais altamente especializado e tecnologias muito de-

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senvolvidas. Para que da melhor combinação de todasestas componentes se possam obter os resultados maisefectivos, mais eficientes e que melhor correspondam àsexpectativas dos utilizadores dos serviços de saúde, tor-na-se necessário que o exercício dos cargos de gestãotenham uma legitimidade exclusivamente baseada no po-der decorrente da competência técnica e profissional. Aeste nível do que se trata é de prestar os melhores cuida-dos, aplicando as tecnologias, os conhecimentos e os re-cursos disponíveis num ambiente organizacional acolhe-dor, favorecedor de altos padrões de desempenho, em queprofissionais e utilizadores dos serviços se sintam bem.Este desiderato só é concebível e possível num ambientede mútua confiança entre quem gere, quem presta e quemrecebe cuidados.

O PCP propõe:

— a escolha por concurso das equipas gestoras doshospitais e centros de saúde do Serviço Nacionalde Saúde; o júri será nomeado pelo nível regionalde administração do SNS, dele fazendo parte,designadamente, elementos escolhidos pela Es-cola Nacional de Saúde Pública e pelas Ordensdos Médicos e dos Enfermeiros e outras organi-zações profissionais de técnicos da saúde; asequipas gestoras deverão pertencer preferencial-mente ao estabelecimento de saúde a que con-correm, e serão avaliadas na base de um planotécnico e financeiro conjugado com os elementoscurriculares dos seus elementos; por forma a ob-ter-se uma fortecoesão na aplicação do plano téc-nico e financeiro aprovado, caberá à equipagestora nomear os directores de serviço entre osmédicos com a categoria mais elevada, reunindoparecer da direcção médica;

— a eleição das Direcções Médica e de Enferma-gem pelos profissionais das respectivas carreirasque trabalham no estabelecimento de saúde doSNS; cada um destes órgãos é composto por pro-fissionais das diversas categorias das carreiras, éeleito mediante a apresentação de um programade acção e por votação secreta; as suas compe-tências estão sobretudo relacionadas com o re-forço da autonomia técnica das carreiras, com acapacidade de emitir pareceres sobre a observân-cia de normas de qualidade, e com a garantia dorespeito pelas normas de progressão nas carrei-ras em bases técnico-científicas.

Plano de separação do público e do privado

Os interesses ilegítimos que se foram instalando na áreada saúde e a promiscuidade existente entre o sector pú-blico e o privado constituem um dos mais sérios obstácu-los à resolução dos problemas do SNS.

O PCP defende uma política de aproveitamento integralda capacidade instalada na rede de serviços do SNS, emque o recurso a meios externos ao SNS só tenha lugarem situações de clara insuficiência ou de esgotamentodessa capacidade.

Impõe-se a necessidade de adopção de um Plano de se-paração do sector público e do sector privado, com a adop-ção de um conjunto de medidas tais como:

— alteração do sistema que permite o desenvolvi-mento de medicina privada no interior dos esta-belecimentos públicos;

— introdução, em simultâneo, de modalidadesremuneratórias que permitam fixar no SNS técni-cos de elevada competência;

— estabelecimento de um código de conduta quetorne ilícito aos médicos do SNS o desvio de do-entes para consultórios privados;

— consagração do carácter público da gestão de to-dos os estabelecimentos públicos e cessação doscontratos de gestão privada de estabelecimentosdo SNS, actualmente existentes.

Qualidade dos Serviços de Saúde

A qualidade do SNS é definida pela sua capacidade decorresponder às grandes necessidades de saúde da po-pulação, designadamente a sua capacidade de promovero bem estar e melhorar os índices nacionais de saúde.São de esperar ganhos em saúde avaliados pela melhoriada esperança e qualidade de vida e dos indicadores demorbilidade das principais doenças e dos índices de mor-talidade, nomeadamente infantil e das patologias maiscomuns.

Embora seja este o critério global de avaliação, os portu-gueses justamente avaliam o desempenho do SNS muitomais pela qualidade dos serviços recebidos em cada es-tabelecimento e de cada serviço de saúde, designada-mente a rapidez de atendimento e tratamento, a huma-nização e organização, do que pelos aparentes ou reaissucessos das estatísticas nacionais.

Assim, o desenvolvimento de uma política nacional dequalidade em saúde implica levar em conta a opinião nãosó dos técnicos, mas também dos utentes dos serviços.

Para além da dimensão interna da promoção da qualida-de ao nível dos estabelecimentos de saúde, através daboa articulação entre poderes, a promoção contínua daqualidade passa pela criação de mecanismos de avalia-ção externa às instituições. As acções de peritagem e depromoção da qualidade não têm em si fins punitivos ou de

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inspecção. Destinam-se apenas a permitir uma avaliaçãode serviços capaz de gerar nos próprios trabalhadores asrespostas adequadas à superação das deficiências. A únicasanção ou prémio será o reconhecimento público de quaisos serviços que alcancem níveis de excelência. Este esta-tuto pode permitir aceder a estímulos de financiamento einvestimento que premeiem os resultados conseguidos.

O PCP assume:

— a qualidade dos cuidados de saúde prestados e oseu desenvolvimento contínuo deve ser um ob-jectivo fundamental de todo o sistema público desaúde, a começar pela gestão das unidades desaúde;

— a reformulação do Instituto da Qualidade dos Ser-viços do SNS, alargando o seu âmbito e atribui-ções, dotando-o de delegações regionais, que pro-cedam avaliações internas e externas da qualida-de dos cuidados de saúde prestados;

— os órgãos de direcção deste instituto deverão in-cluir também elementos indicados pelas associa-ções de profissionais de saúde e por represen-tantes das populações (Assembleia da Repúbli-ca) de forma a assegurar a autonomia da sua in-tervenção.

Cuidados de Saúde Primários

Aos cuidados de saúde primários compete conduzir o di-agnóstico de saúde da comunidade, desenvolver progra-mas de prevenção da doença e promoção da saúde e pres-tar cuidados básicos às populações. Compete ainda geriro encaminhamento dos doentes para os cuidados dife-renciados hospitalares e outros.

É pois, indispensável recentrar nos cuidados primários agestão dos doentes e o controle das principais patologias.

Nesta perspectiva importa concretizar uma nova articula-ção entre cuidados primários e secundários que rompacom a visão burocrática-administrativa que tem prevaleci-do no SNS.

É pois, necessário aprofundar o processo de articulação,integração e democratização dos serviços, facilitando as-sim a continuidade de cuidados.

O PCP defende as seguintes medidas, entre outras, paramelhorar a oferta de cuidados de saúde primários:

— o reforço prioritário do investimento nos cuidadosprimários, considerando que esta medida é umacondição essencial para o bom funcionamento dosistema de saúde;

— a renovação e criação de novas instalações e equi-pamentos para os cuidados primários de saúdeatendendo ao insuficiente e deteriorado parque desaúde existente; com esta finalidade o PCP pro-põe a duplicação do investimento nesta área napróxima legislatura;

— uma nova política de pessoal que, para além doredimensionamento e preenchimento dos quadros,valorize a adequada gestão das carreiras profissi-onais, garantindo a pertinente requalificação dostrabalhadores da saúde;

— a articulação através de ligações horizontais fle-xíveis entre centros de saúde e serviços hospita-lares, na base do interesse mútuo e orientadaspor objectivos concretos de saúde;

— a adequada expressão da vontade das popula-ções na direcção dos centros de saúde, atravésde representação electiva, de forma a fazer re-flectir no funcionamento e organização dos cen-tros de saúde, os reais interesses da população edos profissionais;

— a promoção de uma política de estímulos que pro-mova a inovação organizativa, designadamente aaproximação dos horários aos períodos de con-veniência da comunidade e o desenvolvimento doapoio domiciliário e as transferências de tecnologiados cuidados secundários para os cuidados pri-mários;

— o desenvolvimento de programas de prestação decuidados de especialidade nos Centros de Saúde,da responsabilidade dos hospitais de referência;

— o reforço da produtividade, através da inovaçãotecnológica e organizativa, da motivação dos pro-fissionais, e da facilitação dos contactos entreutentes e profissionais de saúde;

— a reforma da legislação de enquadramento dosCuidados Primários de Saúde que consagre umanova filosofia de gestão democrática, mudançaorganizativa, nova política de recursos humanose financiamento contratualizado.;

— a garantia da qualidade dos cuidados de saúde atra-vés de uma avaliação da adequação de recursos,dos processos de prestação e dos resultados al-cançados, em termos de ganho em saúde.

Listas de espera

Os atrasos no atendimento dos utentes do SNS e a exis-tência de situações em que foram excedidos os temposclinicamente aceitáveis (listas de espera) constitui umarealidade absolutamente inadmissível que sucessivos go-vernos não enfrentaram nem quiseram resolver.

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Assumir que este é um problema solucionável e mobilizartodos os recursos necessários, e em primeiro lugar os dopróprio SNS, para a resolução sustentada do problemadas listas de espera, tem sido pois uma prioridade nacio-nal na área da saúde, que há muito o PCP vem reivindi-cando.

Defendendo o interesse nacional e os interesses dospróprios utentes o PCP propôs e a Assembleia da Re-pública aprovou um Programa Especial de Acesso aosCuidados de Saúde, de cujo andamento o Governo ficoude prestar contas regularmente, de forma a assegurar, emtempo útil, o acesso à prestação de cuidados de saúdepelo SNS.

Este Programa consagra o princípio do aproveitamentoda capacidade do Serviço Nacional de Saúde através dacontratualização com as instituições do próprio SNS deforma a aumentar a resposta dada por estes serviços. Eprevê a concretização de várias medidas, entre as quaissão de sublinhar:

— o recenseamento rigoroso dos utentes em listasde espera, regularmente actualizado;

— a avaliação da capacidade instalada do SNS emrecursos humanos, infra-estruturas e equipamen-tos e sua mobilização para a resolução sustenta-da do problema das listas de espera, medianteacordos entre as Agências das AdministraçõesRegionais de Saúde e as instituições do SNS, queestabeleçam as medidas organizativas e de apoioindispensáveis;

— o estabelecimento do princípio de que o recurso ameios externos ao SNS só terá lugar em situa-ções de insuficiência ou esgotamento da capaci-dade instalada;

— a atribuição ao Programa Especial de Acesso aosCuidados de Saúde de uma dotação orçamentaladicional e própria.

Medicamentos

Portugal é um dos países europeus com maiores gastosde medicamentos e continua vulnerável à propaganda daindústria multinacional de medicamentos, a qual determi-na em larga medida o perfil de receituário dos serviços,verificando-se um largo consumo de medicamentos des-necessários, ineficazes e dispendiosos.

É sabido como o sistema actual de comparticipação demedicamentos e a forma como são prescritos favorecemos medicamentos mais caros.

Os utentes e o SNS são assim penalizados à custa dofavorecimento dos interesses económicos do sector dosmedicamentos.

A indústria leva à prática um marketing agressivo que pres-siona os médicos no sentido de prescreverem os medica-mentos mais caros. Quanto às farmácias elas obviamenteobtêm maiores margens de comercialização com os me-dicamentos mais caros.

O Governo português, no seu próprio programa, prome-teu tomar medidas para incentivar a prescrição por princí-pio activo, mas até agora não houve progressos.

Observe-se que o preço dos medicamentos genéricos énormalmente 20 a 30% mais baixo que os corresponden-tes de marca e que nos próximos 3 anos grande parte dosmedicamentos com cotas significativas do mercado terãoas patentes caducadas aumentando assim as possibilida-des de aumento da quantidade de genéricos.

O PCP defende em relação aos medicamentos, entreoutras, as seguintes medidas:

— dispensa gratuita aos utentes do SNS do conjun-to de medicamentos que lhes sejam prescritos cujacomparticipação financeira sai mais cara ao erá-rio público do que a sua dispensa gratuita noshospitais e centros de saúde;

— a prescrição de medicamentos comparticipáveispelo SNS terá de ser efectuada com indicação dasubstância activa ou denominação comum inter-nacional seguida de dosagem e forma farmacêutica;

— implantação de um formulário nacional de medi-camentos que tenha em conta o balanço entre ocusto e o benefício terapêutico dos fármacos neleincluídos;

— enquanto o formulário nacional de medicamentosnão entrar em vigor defendem-se transitoriamen-te os seguintes procedimentos:

1. caso o médico deseje optar pela marca de umdeterminado laboratório, para além da indica-ção da substância activa, dosagem e formafarmacêutica, terá de escrever em seguidaentre parêntesis a marca pretendida ou nomecomercial;

2. se o médico não escrever na receita o nomecomercial ou marca o farmacêutico terá de dis-pensar o medicamento incluído na lista oficialdos medicamentos comparticipáveis, que te-nha o preço mais baixo correspondente à subs-tância activa ou denominação comum interna-cional, dosagem e forma farmacêutica prescri-ta pelo médico devendo o director técnico ou oseu substituto legal rubricar a receita;

3. no caso do médico optar por indicar uma de-terminada marca comercial que não seja a depreço mais baixo o farmacêutico terá de infor-

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mar o utente qual o medicamento compartici-pável com igual composição qualitativa e quan-titativa, com o preço mais baixo;

4. caso o utente opte pelo medicamento de igualcomposição mas mais barato a receita teráde ser rubricada pelo utente e pelo directortécnico ou o seu legal substituto;

— alteração do sistema de comparticipação de me-dicamentos com eliminação dos medicamentosque tenham uma eficácia terapêutica actualmen-te considerada discutível e os que tenha preçosrelativamente excessivos de forma a se poder au-mentar o valor da comparticipação nos medica-mentos essenciais;

— promoção da utilização dos medicamentos gené-ricos, devidamente certificados, de acordo com asnormas de patentes vigentes internacionalmente;

— aperfeiçoar a lista de medicamentos compar-ticipados a 100% pelo Estado de forma a contem-plar entidades nosológicas de carácter crónicocujas características clínicas e sociais são equi-valentes às de outras já contempladas;

— utilização de critérios mais rigorosos e eficientesna autorização dos medicamentos de forma a queem Portugal não sejam aprovados medicamentoscujo balanço entre o benefício terapêutico e o ris-co seja discutível;

— desenvolvimento de estruturas a nível das farmá-cias dos hospitais que permitam a distribuição demedicamentos aos doentes que acedem às ur-gências e consultas externas;

— aperfeiçoar a legislação sobre ensaios clínicoscom medicamentos de forma a que a investiga-ção nesta área se desenvolva em Portugal salva-guardando os direitos dos doentes e a transpa-rência nas relações entre a indústria farmacêuti-ca e os investigadores;

— alteração da legislação sobre publicidade de me-dicamentos de forma a que se restrinja a sua prá-tica nos grandes meios de comunicação social ese controlem de forma mais eficaz as pressõessobre os profissionais de saúde e os consumido-res;

— desenvolvimento de uma política estruturada deinformação científica independente destinada aosprofissionais de saúde utilizando novas tecnologiasde informação;

— intervenção mais activa nas instâncias da UniãoEuropeia e da OMS que têm um papel determi-

nante na definição das políticas relacionadas como medicamento de forma a se salvaguardarem osinteresses nacionais nos aspectos económicos,científicos e culturais;

— criação de linhas de apoio à investigação nomea-damente em fármaco-epidemiologia e tecnologiafarmacêutica;

— política de apoio ao investimento produtivo na in-dústria farmacêutica nacional, que dificulte a trans-ferência para outros países da produção local demedicamentos;

— garantir a produção e a distribuição de manipula-dos e outros medicamentos não existentes no cir-cuito comercial;

— criação de um laboratório de referência oficial parao controle da qualidade dos medicamentos.

Direitos dos Utentes

A defesa dos interesses dos utentes dos serviços de saú-de não pode ficar limitada à aprovação abstracta de umaCarta de Direitos ou de instrumentos de reclamação jurí-dica, antes exige um reforço da capacidade de interven-ção do cidadão e das suas organizações com vista a mo-dificar as causas do não respeito pelos seus direitos.

O PCP defende uma política de efectiva defesa dosdireitos dos utentes que contenha, entre outros, osseguintes pontos:

— o direito a um atendimento humanizado;

— o direito a um atendimento e tratamento em tem-po adequado à condição de risco que o doenteapresenta;

— o direito a usufruir de cuidados de saúde cientifi-camente adequados;

— o direito a não ser discriminado por razões eco-nómicas, religiosas ou outras;

— participação na definição das políticas e planosde saúde, na sua avaliação e na gestão dos servi-ços de saúde;

— o direito de reclamação;

— o direito à informação;

— o direito à indemnização e reparação de danos;

— os direitos das associações de utentes de saúdee das associações de doentes ou deficientes;

— para o cumprimento destes objectivos importa re-forçar os instrumentos jurídicos de reclamação dosutentes, nomeadamente a possibilidade de dele-

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gação nas sua organizações colectivas e no re-curso a instâncias independentes de arbitragemde conflitos;

— criação da figura de Provedor da Saúde para tor-nar visível, eficiente e expedita a resposta às re-clamações dos utentes.

Saúde Mental

Na área da saúde, torna-se urgente corrigir erros e ultra-passar preconceitos que durante anos dominaram, preju-dicaram e desvalorizaram a assistência na doença ou naperturbação mental, discriminando o doente mental e se-gregando os serviços de saúde que lhe são especifica-mente dirigidos.

Orientações que importa concretizar:

— plena integração e/ou articulação dos serviços ouconsultas de psiquiatria nos serviços gerais desaúde, considerando as suas especificidades talcomo em outras áreas da medicina;

— rendibilização da acção da psiquiatria, pela dota-ção das suas equipas com outras especialidadesda saúde mental (psicologia, serviço social, tera-pia ocupacional e outras);

— dotação financeira e logística de recursos e mei-os que permitam quer a plena utilização e contro-lo da neuroquímica, quer as acções preventivascomplementares da farmacoterapia e da recupe-ração e compensação da doença ou perturbaçãomental.

O PCP, com base nos apuramentos técnicos disponí-veis, considera necessário redefinir a política de saú-de mental nas seguintes direcções:

— política de promoção de saúde mental privilegian-do a informação e educação para a saúde, a nívelde qualidade de vida, toxicodependência, particu-larmente alcoolismo;

— definição de serviços de atendimento;

— a nível de cuidados primários, através da ligaçãofuncional com os médicos da carreira de clínicageral e criação de serviços de consultadoria noscentros de saúde; desenvolvimento de consultasde Psiquiatria nos Centros de Saúde; criação deáreas de dia nos Centros de Saúde; lares pós-cura; residências protegidas; programas de em-prego protegido;

— criação de Departamentos de Psiquiatria em to-dos os hospitais gerais e abertura de quadros depessoal médico, enfermagem e de assistênciasocial; abertura de camas de internamento;

— desenvolvimento de unidades especializadas emdiferentes terapêuticas como serviços depsicoterapia, clínicas de lítio e unidades de reabi-litação;

— descentralização de serviços especializadosdesignadamente no tratamento da toxicodepen-dência e do alcoolismo;

— criação de uma política social para os doentes comperturbações mentais, tal como a que se deverádesenvolver para todas as formas de deficiência;em particular, deve ser tida em conta a necessi-dade de criar empregos protegidos;

— redefinição de quadros e abertura de concursosnos actuais hospitais psiquiátricos, promoção dascondições de humanização, novos investimentosem instalações e equipamento, desenvolvimentoe diversificação de novas actividades, designada-mente nos cuidados de reabilitação e correcçãode sérias carências em técnicos de serviço soci-al, terapia ocupacional e psicólogos;

— promoção de mecanismos de controlo de quali-dade em toda a rede de serviços e estabeleci-mentos de saúde mental;

— o alargamento dos benefícios dos doentes do sec-tor da saúde mental com o aumento das compar-ticipações nos antidepressivos e neurolépticospara o regime de comparticipação para 80% ecarbonato de lítio para 100%.

Toxicodependência

A toxicodependência desenvolveu-se de forma alarmantena última década, sendo particularmente grave a existên-cia de dezenas de milhar de consumidores de heroína.

O combate à droga tem de ser travado por razões de saú-de pública e também em nome da dignidade do ser huma-no. Importa tomar medidas concretas para prevenir o con-sumo de drogas e para permitir o tratamento e a reinserçãosocial de toxicodependentes, cabendo ao Estado garantiro acesso de todos os cidadãos, independentemente dasua condição económica, aos serviços de tratamento emvez de, e como vem acontecendo, incentivar o negócioprivado com clínicas de desintoxicação e comunidadesterapêuticas.

Para além da abordagem integrada do problema datoxicodependência, que é desenvolvida no ponto específi-co, deste Programa Eleitoral, no domínio particular dasaúde, o PCP defende medidas que visem:

— o tratamento dos toxicodependentes, no âmbitodo SNS, através de uma rede pública de serviços

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para toxicodependentes, devidamente dimensio-nada, constituída por Unidades de Atendimento,para consulta e acompanhamento do doente e fa-mília em regime ambulatório, Unidades deInternamento para desintoxicação física e Comu-nidades Terapêuticas para assegurar a desintoxi-cação psicológica, bem como através da desintoxi-cação em meio familiar;

— a reinserção social e profissional de toxicodepen-dentes através de protocolos de formação profis-sional e emprego.

SIDA

A evolução da epidemia de SIDA em Portugal constituimotivo de justificada preocupação e coloca, para além danecessidade de criação de melhores e mais humanizadoscuidados de saúde para todos aqueles que já estãoinfectados pelo VIH, um conjunto de novos e complexosproblemas no domínio social e de luta contra a propaga-ção desta doença.

O número de notificações de casos de SIDA (um total de5.798 entre Janeiro de 1983 e final de Março de 1999) eo seu aumento por data de notificação constitui uminiludível alerta de que a epidemia se encontra em fasecrescente no nosso país. Também o número total de óbitospor VIH/SIDA reforça a mesma preocupação: 3288 óbitosregistados em cinco anos, entre 1994 e 1998.

Para enfrentar as graves consequências da epidemiada SIDA e lutar activamente contra o seu alastramen-to, o PCP, defende orientações e medidas de combateintegrado à doença, tais como:

— a intensificação da Campanha Nacional de Pre-venção contra a SIDA, nomeadamente através darecomendação e facilitação da utilização do pre-servativo; adopção de medidas especiais em re-lação aos toxicodependentes e a outros compor-tamentos de risco;

— a criação de melhores e mais humanizados cui-dados de saúde para todos os infectados pelo VIH;para isso torna-se necessário:

l melhorar o apoio aos doentes infectados;

l aumentar a oferta e a qualidade dos serviçosna área do aconselhamento;

l melhorar a articulação entre os Hospitais eos outros serviços de saúde;

l desenvolver a formação específica dos pro-fissionais de saúde com responsabilidades anível da saúde das comunidades e de acom-panhamento de doentes não hospitalizados;

l desenvolver estruturas que permitam receber

doentes que não disponham de alojamento e/ou meios de subsistência, com a criação decamas de retaguarda e o reforço de progra-mas de apoio domiciliário;

— a redefinição dos serviços de apoio social e desaúde, criando condições para que os indivíduosafectados pelo VIH/SIDA tenham uma vida inseridanum contexto social o mais normal possível evi-tando situações de discriminação e incentivandoa solidariedade;

— a urgente e condigna reparação dos indivíduosinfectados pelo VIH por responsabilidade atribuí-vel aos serviços de saúde.

n SAÚDE LABORALO direito à segurança, higiene e saúde no desempenhoda actividade profissional é um direito social fundamentaldos trabalhadores. Este direito inclui o direito à integrida-de física, à prevenção dos acidentes, das doenças profis-sionais, das doenças relacionadas com o trabalho e à pro-moção da saúde no local de trabalho.

O direito à segurança, higiene e saúde dos trabalhadorese à melhoria das condições de trabalho é um factor indis-pensável ao desenvolvimento económico e não édissociável dos restantes direitos sociais fundamentais.

As condições de trabalho nas empresas portuguesas, pri-vadas e públicas, dos diversos sectores de actividade eco-nómica apresentam grandes deficiências que são a cau-sa de inúmeros acidentes e doenças profissionais ou rela-cionadas com o trabalho.

Perante a grave situação da saúde dos trabalhadores,o PCP defende a urgente definição de uma Política Na-cional de Saúde Laboral assente nas seguintes orien-tações :

— planificação e desenvolvimento de adequadarede de serviços de segurança, higiene e saúdeno trabalho, orientada para os trabalhadores e paraos locais de trabalho, priorizando as situações denocividade, de complexidade dos ambientes e derisco profissional, e dando particular atenção àspequenas e médias empresas;

— desenvolvimento de formação e informaçãogeral em segurança, higiene e saúde no traba-lho , incluindo a integração destas matérias no sis-tema educativo e formação profissional;

— elaboração de estatísticas rigorosas nos domí-nios dos acidentes de trabalho e das doenças pro-fissionais;

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— participação dos trabalhadores e dos seus re-presentantes na definição e aplicação das políti-cas de segurança, higiene e saúde dos trabalha-dores, aos diversos níveis;

— formação dos profissionais de segurança, hi-giene e saúde dos trabalhadores (médicos, en-fermeiros, técnicos de higiene e segurança e ou-tros) e garantia do seu exercício profissional comindependência técnica;

— funcionamento e coordenação efectivas deórgãos e serviços públicos , encarregados doacompanhamento e fiscalização das condições detrabalho e dos serviços e cuidados de saúdelaboral.

O PCP, no campo da prevenção dos riscos profissio-nais e também da reparação dos acidentes e das do-enças, propõe entre outras, as seguintes medidas:

— concretização de um plano nacional de emer-gência contra a sinistralidade laboral , para re-duzir os elevados índices que se registam em al-guns sectores e regiões;

— assegurar o funcionamento eficaz e rigorosoda acção inspectiva, em particular da inspecçãodo trabalho ;

— publicação urgente de legislação complemen-tar à lei quadro (Dec. Lei nº 441/91), regulamen-tação da protecção dos trabalhadores da agricul-tura e pescas, transposição de directivas comuni-tárias e ratificação de convenções e recomenda-ções da OIT;

— publicação urgente de legislação que regula-mente a actividade e assegure o controle daqualidade dos técnicos e das empresas queprestam serviços nesta área;

— extinção do IDICT e criação do Instituto Nacio-nal de Segurança, Higiene e Saúde no Traba-lho em que estejam representados os trabalha-dores e as suas organizações, incluindo na suaadministração;

— desenvolvimento de um programa nacional deinvestigação em segurança, higiene e saúde dostrabalhadores;

— institucionalização através de legislação espe-cífica das comissões de segurança e higienenas empresas ;

— cumprimento do direito à segurança, higienee saúde para os trabalhadores da Administra-ção Pública , implementando os necessários ser-viços;

— dinamização do Conselho Nacional de Higie-ne e Segurança do Trabalho ;

— definição de uma política coerente de repara-ção e reabilitação médica e profissional; revi-são da legislação de reparação dos acidentesde trabalho e doenças profissionais , baseadano princípio da reparação social;

— instauração obrigatória de processos crime emcaso de acidentes de trabalho de que resulte amorte ou a incapacidade permanente ou sempreque haja violação das normas essenciais de se-gurança.

nTOXICODEPENDÊNCIAA toxicodependência, um dos grandes problemas da ac-tualidade que afecta fortemente o nosso país, tem raízesnuma sociedade baseada na exploração, no lucro, no su-cesso sem princípios, no consumismo, uma sociedadegeradora de dependência das drogas, cuja organização écada vez mais nociva para milhões de pessoas.

Os problemas daí resultantes atingiram uma dimensão quese reflecte na situação dramática de muitas dezenas demilhar de toxicodependentes e suas famílias. Verifica-se aexpansão de drogas já conhecidas e o aparecimento egeneralização de novas drogas, proliferam autênticos san-tuários de tráfico e degradação humana, geram-se gravesproblemas de saúde pública com a expansão da SIDA, datuberculose e das hepatites, ocorre um elevado númerode mortes, muitas delas escamoteadas nas estatísticas, emultiplicam-se problemas de criminalidade associada, quefazem encher as prisões de toxicodependentes.

O tráfico de droga e o branqueamento de capitais que lheestá associado, problema de amplitude mundial, com cadavez maior incidência no nosso país, envolve poderosasorganizações criminosas que, com as actividades e dinhei-ro ilícitos, minam e se interligam com o sistema económi-co e financeiro, fomentam a corrupção, põem em causa asoberania e independência dos Estados, e comprometema própria democracia.

Em Portugal, nos últimos anos, não só não se reduziu adimensão do problema da toxicodependência, como severifica a expansão de novas drogas, designadamente asdrogas de síntese e a extensão da toxicodependência edo tráfico de droga, que se centrava nas grandes zonasurbanas, às zonas rurais e do interior.

O PS, que tinha definido a droga como inimigo públiconumero um, desenvolveu no Governo ao longo dos últi-

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mos quatro anos uma acção claramente insuficiente, titu-beante, incoerente, marcada acima de tudo por uma pre-ocupação propagandística e que não esteve ao nível quese impunha para enfrentar a dimensão do problema dadroga no nosso país.

É certo que, em consequência do empenhamento de téc-nicos e especialistas a vários níveis, da preocupação epressão popular e das múltiplas iniciativas do PCP, algu-mas medidas foram tomadas, mas em geral parciais, atra-sadas e insuficientes.

Quatro anos depois continuamos a não ter um estudo na-cional sobre a incidência da toxicodependência. Perderam-se anos a gastar dinheiro em acções ditas de prevençãoprimária, realizadas de forma desconexa e sem qualqueravaliação. O Governo não hesitou em transformar acçõesde sensibilização da opinião pública em grandes opera-ções de propaganda, de que é exemplo mais elucidativo ochamado Dia D.

A rede pública de atendimento, tratamento e reinserçãosocial foi alargada e abrange hoje o conjunto do territórionacional, mas apresenta grandes insuficiências nas zo-nas mais populosas, continua a haver um elevado tempode espera para primeiras consultas e as comunidades te-rapêuticas da rede pública contam apenas com o insigni-ficante número de 34 lugares. Só agora começam a serencarados programas nacionais, mas ainda incipientes,de reinserção social. O Governo insiste na sua desrespon-sabilização, procurando passar responsabilidades inacei-táveis para as autarquias locais e desenvolve, simultane-amente, uma linha de promoção do negócio do tratamen-to e reinserção social.

A possibilidade de dar força, no plano legislativo, ao trata-mento dos toxicodependentes, como doentes que são, foifrustrada quando o PS juntou os votos da quase totalida-de dos seus deputados aos do PSD e CDS/PP, para chum-bar a proposta do PCP apresentada na Assembleia daRepública, em 1996, para eliminação da pena de prisãoem casos de simples consumo de droga.

A situação nas prisões atingiu uma dimensão limite, comas alas livres de droga e as comunidades terapêuticas emmeio prisional, sucessivamente anunciadas, a não chega-rem a dois por cento das necessidades.

O combate ao tráfico de droga continua com uma dotaçãoinsuficiente de meios e a prevenção e combate ao bran-queamento de capitais, apesar de haver legislação que openaliza há mais de cinco anos, não teve até hoje qual-quer expressão significativa.

Uma estratégia de prevenção da toxicodependência e deluta contra a droga, que deveria ter sido executada peloGoverno desde o início é esboçada, com claras limitações

e insuficiências e é anunciada apenas a poucos mesesdas eleições, sendo assim transformada num mero con-junto de promessas para o futuro.

Não chega fazer declarações que classificam a droga comoinimigo público numero um. Não basta anunciar, comomeras promessas para o futuro, estratégias que deviamestar há anos em aplicação. É preciso agir. Em outras épo-cas, com muito menos recursos e conhecimentos, peran-te outras epidemias, mobilizaram-se quadros, criaram-seinfra-estruturas, disponibilizaram-se meios e esses pro-blemas foram enfrentados. Face à epidemia datoxicodependência, que avança em Portugal e no mundo,não foi feito até agora algo de semelhante.

O PCP desenvolveu ao longo dos últimos anos uma inten-sa, qualificada e coerente acção com tomadas de posi-ção, propostas de medidas, promoção de iniciativas e apre-sentação de projectos-lei. São de destacar: a proposta,no âmbito da revisão da Lei da Droga, da exclusão depenas de prisão por consumo de droga; o projecto de leisobre a rede pública de centros de atendimento detoxicodependentes e de comunidades terapêuticas; o pro-jecto de lei sobre as condições de financiamento públicode projectos de investimento respeitantes a equipamen-tos destinados ao tratamento de toxicodependentes; osprojectos lei de criação de um Programa Nacional de Com-bate ao Branqueamento de Capitais e de aperfeiçoamen-to da legislação, existentes nesta matéria; o projecto de leisobre os princípios gerais da política nacional de preven-ção primária da toxicodependência, sobre medidas de in-tervenção em situações de risco e sobre medidas dereinserção social e laboral de toxicodependentes em re-cuperação; a realização de iniciativas públicas de debatesobre toxicodependência, o tráfico de drogas e o bran-queamento de capitais com a participação de especialis-tas nacionais e estrangeiros.

A acção do PCP conduziu à adopção de algumas das me-didas mais positivas neste período. É o caso da criação ealargamento da rede de serviços públicos para o tratamen-to e a reinserção de toxicodependentes (embora numa pers-pectiva mais redutora das responsabilidades do Estado doque havia proposto o PCP). É também o caso do estabele-cimento de critérios para regular o financiamento públicode propostas de investimento respeitantes a equipamentosdestinados à prevenção secundária de toxicodependentes,de modo a evitar o desperdício de dinheiro público e práti-cas de compadrio. A obrigação, inscrita na «Lei da Droga»,de o Governo apresentar à Assembleia da República umRelatório sobre a situação do país em matéria detoxicodependência e tráfico de droga, é igualmente fruto deuma proposta apresentada pelo PCP.

Face à situação existente em Portugal, e para enfren-tar este problema, o PCP propõe, no âmbito da sua

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política alternativa, uma política de esquerda para Por-tugal, os seguintes pontos sobre a prevenção datoxicodependência e a luta contra a droga:

— a adopção de uma nova política que ataque ascausas geradoras do caldo de cultura que está nabase da toxicodependência, uma política que dêperspectivas de futuro aos jovens, que lhesgaranta emprego e concretize o direito ao ensi-no e à formação com qualidade, o acesso à habi-tação, ao desporto, à cultura e aos tempos livres;

— um plano nacional de prevenção datoxicodependência e luta contra a droga, comuma visão e acção integradas, com uma efectivacoordenação, na concepção, promoção econcretização das medidas de combate às cau-sas e consequências da toxicodependência, comestruturas próprias multidisciplinares, estruturassectoriais com funções claramente definidas quegarantam a plena assunção de responsabilidadespelo Estado;

— a realização urgente e continuada de um estudonacional, sistematizado, elaborado com os instru-mentos científicos hoje disponíveis no âmbito dasciências sociais, que permita dotar o país, as insti-tuições que intervêm nesta área e os órgãos de so-berania do conhecimento real da situação;

— a adopção de um vasto conjunto de incentivosà investigação científica, designadamente sobreas vulnerabilidade que conduzem à toxicodepen-dência, como forma de seleccionar os melhoresprogramas de prevenção e sobre os mecanismosda dependência, de modo a aumentar a eficáciados processos de tratamento;

— a adopção de novas medidas de prevençãoprimária e a sua coordenação e avaliação. Aadopção de uma estratégia de prevenção coorde-nada no meio escolar. A abordagem deste proble-ma nos currículos escolares. A preparação dosprofessores nesta área. A sensibilização dos pro-fissionais da comunicação social para o tratamentojornalístico adequado ao problema da droga e oreforço da atenção dos órgãos de comunicaçãosocial com o estudo das mensagens mais ajusta-das. A concretização de programas especiais paragrupos de risco, como por exemplo os jovens queabandonam a escola;

— a consideração que o toxicodependente temdireito a ser tratado e recuperado e que o Es-tado tem a responsabilidade de contribuir paraque tal se verifique. A criação de condições paratratamento dos toxicodependentes com o alarga-mento da rede pública . A criação de novos Cen-

tros de Atendimento de Toxicodependentes (CAT)e extensões. O alargamento dos programas e es-truturas para tratamento de grávidas toxicodepen-dentes. O aumento de lugares das unidades dedesabituação. O aumento acentuado do númerode lugares, com a criação de novas comunidadesterapêuticas públicas, que constituam a base daestrutura de resposta às necessidades deinternamento e garantam uma efectiva coberturanacional, a par de uma exigente fiscalização deinstituições particulares nesta área. A formaçãodos médicos e a articulação dos centros de saú-de com os serviços do SPTT, para o aproveita-mento de todas as potencialidades existentes. Aconsideração dos mais diversos métodos de tra-tamento, com o devido acompanhamento e avali-ação e consequentemente o uso de antagonis-tas, de produtos de substituição e de outras solu-ções com critérios definidos e de forma mais oumenos alargada;

— a adopção de uma estratégia de redução dedanos que tenha sempre em vista o tratamen-to dos toxicodependentes. No plano da saúde,que contribua para a redução dos perigos de con-tracção da SIDA, da tuberculose ou das hepatites.No plano da sociedade, que permita baixar o ní-vel da criminalidade ligada à angariação de dinhei-ro para sustentar o consumo dos toxicodepen-dentes. A possibilidade de ensaiar a utilização dedrogas, para fins terapêuticos, após uma avalia-ção idónea e independente, designadamente pelaOMS, das experiências em curso noutros países,de acordo com normas estabelecidas, restrita acertos grupos de toxicodependentes, com o acom-panhamento devido e tendo sempre em vista oseu tratamento e reinserção. O levantamento doslocais críticos do país e a criação de um dispositi-vo nacional de centros de apoio fixos ou móveisque permitam cuidados básicos de assistência esaúde a toxicodependentes, bem como outrassoluções de redução de danos, visando o seu en-caminhamento para tratamento. A elaboração eexecução de programas prioritários de interven-ção nos guetos de toxicodependência, integrandoe coordenando medidas de (re)inserção social,(re)qualificação urbana e segurança das popula-ções, com a responsabilização dos serviços qua-lificados do Estado em coordenação com o poderlocal e as populações;

— o desenvolvimento dos programas dereinserção social com a cobertura nacional decasas de saída e a concretização de oportunida-des de formação profissional, emprego, com acom-panhamento e efectiva integração. Dar prioridade

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á criação de postos de trabalho nos próprios servi-ços do Estado, mas envolvendo também protoco-los com entidades privadas e apoio a soluções noplano cooperativo, salvaguardando o objectivo daintegração dos ex-toxicodependentes e contrari-ando tentativas de aproveitamento como mão deobra barata e subsidiada para qualquer tipo defunções;

— a consideração no quadro legal que otoxicodependente é um doente, que não deveser criminalizado, e que por isso se justifica adespenalização do consumo de droga. Conti-nua entretanto a considerar-se que, fora do âmbi-to penal, a legislação deve estabelecer normasque apontem para a defesa do bem que é a saú-de dos indivíduos e que alertem para o desvalorque constitui a dependência das drogas. Consi-dera-se que o Estado não deve desresponsa-bilizar-se, e que a entidade que vier a estabelecero contacto com os consumidores deve ter um pa-pel de ajuda, encaminhamento e acompanhamen-to de acordo com cada situação pessoal. Utiliza-ção em mais larga escala de penas alternativas àprisão para situações de pequenos delitos asso-ciados à toxicodependência. Criação de mecanis-mos de articulação entre a justiça e os serviçosde saúde, que facilitem o encaminhamento paratratamento;

— a adopção de um plano em meio prisional quepermita até ao final de 2000 a criação de oportu-nidades de tratamento aos toxicodependentes queo desejem, de acordo com as regras definidas,bem como o estabelecimento de políticas de re-dução de danos, que facilitem o encaminhamentopara tratamento em todos os estabelecimentosprisionais e a tomada de medidas para impedir oacesso da droga e a sua proliferação no meioprisional;

— combate ao tráfico. O reforço da coordenação,do dispositivo e das capacidades para o com-bate ao tráfico de droga e a multiplicação dosmeios especializados no combate ao branquea-mento de capitais, das magistraturas e autorida-des policiais. A criação de um Programa Nacionalde Prevenção e Combate ao Branqueamento deCapitais com o objectivo de: alargar a aplicaçãodas normas sobre a prevenção, criminalização erepressão do branqueamento de capitais e refor-çar a cooperação internacional; adoptar mecanis-mos de regulamentação, controlo, transparênciae fiscalização das actividades financeiras; aper-feiçoar a legislação para prevenir e combater aacção das associações criminosas e para umamais fácil confiscação dos patrimónios de origem

criminosa; eliminar o obstáculo do segredo ban-cário; aprofundar a acção das entidades que in-tervêm na prevenção e repressão nesta matéria eimplementar uma estrutura de coordenação e ava-liação da prevenção e combate ao branqueamen-to de capitais;

— a intervenção de Portugal no quadro interna-cional, no âmbito da União Europeia e da ONU,contribuindo para uma nova ordem mundial.Lutando pela promoção da actividade produtivareal, com respeito pela natureza e ao serviço dasnecessidades humanas, o controlo, regulamenta-ção e redução drástica do capital especulativo, poruma política de cooperação efectiva com os paí-ses menos desenvolvidos, que passe por umaeconomia de substituição e controlo da cultura deplantas base da produção de estupefacientes, pelaimplementação de planos de desenvolvimentosustentável, que lhes permitam romper o ciclo depobreza e subdesenvolvimento e pela anulaçãoda dívida externa, autêntico garrote ao seu pro-gresso económico e social.

O PCP não contemporiza, nem se resigna a uma socieda-de que produz toxicodependência ou a políticas que tenhamcomo perspectiva o ser humano alienado, dominado edestruído pela droga, ou que aceitam e se conformam coma sua inevitabilidade. Assim, as estratégias a desenvolver,quaisquer que sejam, devem ter como objectivo enfrentar efazer recuar a toxicodependência, evitando que mais pes-soas, particularmente jovens, caiam na dependência dasdrogas e procurando saídas para aqueles que se deixaramenredar nesse percurso dramático.

nHABITAÇÃOO parque habitacional cresceu, nos últimos anos, a umamédia superior a 50 mil fogos/ano, mas não é menos ver-dade que as carências se mantêm a um nível elevadíssimo,(25 mil fogos/ano correspondem à necessidade de fogosde substituição destinados a fazer face à degradação doparque habitacional existente e as carências habitacionais,referidas a 1995, eram de 500 mil fogos).

Mas o problema da habitação, sendo resultado de um com-plexo conjunto de factores económicos e sociais, não sepode traduzir apenas em números. As novas construçõesnão resolveram os problemas de habitação de famíliasinsolventes; não permitiram diminuir, antes aumentaram,o número de fogos devolutos; não tiveram os efeitos ne-cessários à recuperação do parque habitacional degrada-do; não aumentaram a oferta de habitação para arrenda-mento; não desinflacionaram os valores finais de venda ealuguer de habitação.

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De facto, neste sector, o PS limitou-se a prosseguir, naactual legislatura, as políticas anteriores e que no essen-cial se traduziram por:

— uma desresponsabilização do Estado ao nível daspolíticas de solos, deixando caminho aberto aomercado especulativo;

— uma progressiva desresponsabilização do Esta-do na elaboração de um quadro coordenador deintervenções, desde os solos à indústria de cons-trução, ao financiamento e à fiscalidade;

— uma protecção total ao capital financeiro, tornadopeça fulcral das intervenções sobre o solo urbanoe a oferta de habitação e que surge, cada vez mais,como determinante no financiamento à aquisiçãode casa própria.

O PS levou, assim, à prática, a anterior afirmação dosgovernos de direita de que o Estado não estavavocacionado para a produção de habitação e de que tinhatotal cabimento a alienação dos solos antes destinadosao sector. Apenas em períodos eleitorais tal afirmação pa-rece ser esquecida, admitindo agora o PS de novo a res-ponsabilidade do Estado, mas para a passar, para o po-der local democrático sem garantia de transferência dosmeios necessários.

Com o PER assistiu-se e assiste-se ao mais trágico em-buste na área da habitação. Foi prometido acabar com asbarracas até ao ano 2000. Em cada dia novas barracassão construídas e já não subsistem dúvidas de que, esgo-tado o PER, as barracas continuarão. Restam os chorudosnegócios que se fazem à custa do alargamento das peri-ferias e da reclassificação de solos antes protegidos.

O PCP sublinha as incumbências constitucionais do Esta-do em assegurar o direito à habitação, tal como preceituao artigo 65º : Todos tem direito para si e para a sua família,a uma habitação de dimensão adequada, em condiçõesde higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoale a privacidade familiar.

O PCP defende a necessidade de rápida definição de umaPolítica Nacional de Habitação, em íntima ligação à políti-ca de solos que impeça a especulação, definindo o direitode urbanizar como eminentemente público. O PCP defen-de que esta política seja definida a partir do inventário pre-ciso e sério, quer das carências, quer dos agentes e mei-os disponíveis ou a mobilizar. E que promova um vasto eradical conjunto de medidas que actuem sobre as váriascomponentes do processo, desde a política de solos e deordenamento do território, à promoção habitacional, à in-vestigação em torno de projectos, tipologias, materiais etécnicas construtivas, ao apoio à indústria da construçãocivil, ao financiamento e à fiscalidade, ao “processo” deaquisição e de arrendamento de fogos.

Designadamente o PCP irá empenhar-se naconcretização das seguintes medidas:

— garantir, do ponto de vista institucional, que a trans-ferência de atribuições e competências para asautarquias locais, na área da habitação, tenha acorrespondente transferência de meios técnicose financeiros do Estado, e seja operada no senti-do de simplificar os processos, evitar as peiasburocráticas e garantir a transparência dos proce-dimentos;

— adoptar políticas de ordenamento do território,gestão de solos e urbanismo que garantam o di-reito de urbanizar como eminentemente público;

— desenvolver uma política coerente de subsídios,de bonificações e isenções financeiras, fiscais eoutras amplamente incentivadora da promoçãohabitacional, diminuindo os custos e penalizandoa especulação, incentivando os promotores e cons-trutores do sector privado e do sector cooperati-vo, a produzir fogos de preços acessíveis às po-pulações, fomentando a construção para arren-damento;

— apoiar o movimento cooperativo habitacional, atra-vés da criação de bolsas de terrenos e de políti-cas fiscais, no sentido de estimular a iniciativa daspopulações envolvidas e a manutenção dos prin-cípios cooperativos;

— concretizar um vasto programa do Estado de cons-trução de habitação a custos controlados e paraos estratos de menores recursos (com arrenda-mento social, construção própria, ou compra apoi-ada), redefinindo todo o esquema actual de sub-sídios, tornando-o efectivo, alargando a sua con-cessão e revendo os patamares de renda;

— revisão do PER (Programa Especial de Realoja-mento) no sentido de lhe retirar os aspectos ne-gativos e de o alargar a situações de carência quenão apenas a dos residentes em barracas, de oadequar - em sintonia com programas de custoscontrolados - aos diversos níveis de carência e decapacidades de mobilização de meios existentesnos municípios;

— considerar a reabilitação urbana e do parquehabitacional construído como uma das priorida-des. Neste sentido adoptar medidas institucionaise de financiamento para a recuperação das áreasdegradadas, designadamente dos centros e nú-cleos históricos, bem como a conservação do par-que habitacional degradado, generalizado a todoo País, quer seja arrendado ou de habitação pró-pria. Criar, no seguimento da aprovação da Leiproposta pelo PCP, um programa especial de re-cuperação de loteamentos ilegais, que assegure

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a participação financeira da Administração Cen-tral nas infra-estruturas e o estabelecimento denormas que facilitem as operações delicenciamento, registo e notariais, aliviando a car-ga financeira para os municípios e para os propri-etários. Elaborar um quadro jurídico que estimulea cooperação e facilite a intervenção do condomí-nio na conservação e recuperação de fogos;

— instituir novos sistemas de financiamento às coo-perativas e empresas que pretendam construir acustos controlados, o que implica um efectivo con-trolo, bem como o acesso a solos com preçosbaixos;

— considerar o complexo programa do arrendamen-to numa perspectiva integrada e consensual, quepondere a dimensão social do problema e aharmonização de justos interesses em causa, im-pedindo a degradação dos fogos, a especulaçãoe a existência de milhares de casas devolutas.Articular a solução deste problema com o PlanoNacional de Habitação, considerando de formaponderada e participada a diversidade de situa-ções e potenciando a capacidade de acção deinstrumentos financeiros e outros que fomentemo regresso ou a entrada de novos fogos no mer-cado de arrendamento;

— aligeirar a carga fiscal sobre a habitação, com adefinição de uma política global e estrutural paraa habitação que, sem afectar as receitas dasautarquias locais, abranja nomeadamente a Con-tribuição Autárquica, a Sisa, o IRS, o Imposto deSelo e tenha em conta as diferentes “classes” dehabitação, designadamente com sistemas de isen-ção para as habitações de custos controlados.Compatibilizar a vertente fiscal de uma política dehabitação com um adequado regime de financia-mento do Poder Local.

nMULHERESApesar da evolução registada nas últimas décadas, quese têm traduzido por avanços inestimáveis no estatuto damulher e constituído impulsos decisivos para a sua inser-ção e participação em todos os domínios da sociedadepermanecem neste limiar do século XXI fortes condi-cionalismos a uma plena igualdade de direitos para asmulheres enquanto cidadãs, trabalhadoras e mães.

As mulheres são quase metade da população activa por-tuguesa. A taxa de actividade tem crescido significativa-mente nas últimas décadas, sendo uma das mais altas daEuropa. As jovens ingressam no mercado de trabalho, maistarde e com um melhor nível de escolarização relativa-

mente ás gerações anteriores. A maternidade não é razãode abandono da actividade profissional. Nenhuma áreaprofissional lhe está vedada.

Esta evolução positiva não alterou ainda, as discriminaçõesa que as trabalhadoras continuam sujeitas. O “mercado detrabalho” continua a reserva-lhes as funções menos qualifi-cadas, mais mal pagas e sem perspectiva de carreira. Asraparigas, aquando do acesso ao emprego, são em geralencaminhadas para categorias sem progressão na profis-são ou para as profissões “consideradas” femininas pros-seguindo o tradicional “ciclo” de discriminação.

A actividade feminina continua a concentrar-se, em sectoresde serviços, os quais representam mais de 64%. do empre-go. No sector industrial, se bem que, a participação femininatem vindo a diminuir situando-se nos 19,6%, continua contu-do a predominar nos sectores “ditos” tradicionais.

O valor das remunerações médias das mulheres é inferiorem 30% ao da remuneração média do trabalho dos ho-mens. Elas são discriminadas salarialmente no desempe-nho de funções iguais ou equivalentes e nos diversos“prémios” pelo exercício dos direitos decorrentes da ma-ternidade e da assistência aos filhos e à família.

Os lugares de chefia continuam a ser quase exclusivamen-te desempenhados por homens, mesmo em sectores ondeas mulheres predominam, tanto em empresas privadas,como na Administração Pública.

Apesar de algum crescimento do emprego, cujo ritmo não écontudo suficiente para reduzir significativamente a taxa dedesemprego, ele tem-se verificado à custa do emprego atempo parcial, do trabalho temporário e dos contratos a pra-zo que penalizam todos os trabalhadores, mas em particularas mulheres e as jovens à procura do primeiro emprego.

A crescente generalização da precarização dos vínculosde trabalho tem vindo a aumentar o poder discricionáriodas entidades patronais nos vários sectores de actividadesobre os direitos das trabalhadoras, especialmente dasjovens que têm vindo a ingressar no mercado de trabalhofragilizando de forma duradoira o seu estatuto sócio-pro-fissional.

O desemprego é um dos mais graves e persistentes pro-blemas sociais e que, comparativamente, afecta maismulheres. Está claramente demonstrado que os índicesde pobreza são maiores, entre a população feminina: asmulheres são mais do dobro dos trabalhadores abrangi-dos pelo salário mínimo nacional e constituem a largamaioria dos titulares do rendimento mínimo garantido; sãoa maioria das famílias monoparentais, com filhos a cargo.

A manutenção do aborto clandestino e inseguro penalizamais fortemente as mulheres e as jovens de menores re-cursos, já que quem tem maior capacidade económica

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pode recorrer em Portugal ou a Espanha a clínicas priva-das que garantem a saúde das mulheres. Mesmo, que aLei nº 6/84 fosse integralmente cumprida, ela não abran-ge a razão fundamental que leva as mulheres a recorrerao aborto clandestino - as razões económicas e sociais.

As mulheres representam, hoje, mais de metade da popu-lação nos diferentes graus de ensino - 51,3% no ensinosecundário; 68,2% no ensino médio politécnico; 50,9% noensino superior, segundo dados de 1997. Mas, ao mesmotempo temos outra a realidade:

— é ainda muito elevada a percentagem de mulhe-res que não possuí qualquer grau de instrução -25,5% em 1997;

— apesar das mulheres serem em maior número noconjunto do ensino superior, a oferta de empregono final do curso para as mais jovens nãocorresponde muitas vezes ao nível de qualifica-ção obtido;

— ao nível do pessoal docente, as mulheres repre-sentam 99,1% na educação pré-escolar; 75,4%no ensino básico e secundário; 36,1% no ensinouniversitário e 6,7% na categoria de professorascatedráticas.

A acção do Governo do PS

É certo que o essencial destes indicadores de discrimina-ção estão largamente diagnosticados e são reconhecidospelos poderes públicos, incluindo o Governo do PartidoSocialista que dois anos após a sua tomada de posse, emMarço de 1997, anunciou publicamente a aprovação deum novo instrumento de acção, a que designou por “PlanoGlobal para a Igualdade de Oportunidades” contendo seteobjectivos em domínios, como a prevenção da violência, apromoção da igualdade de oportunidades no emprego enas relações de trabalho; conciliação da vida privada eprofissional, defesa da maternidade, entre outros.

Porém, a natureza genérica das medidas previstas na-quele, enganosamente apresentado como global, a au-sência de quantificação e de metas objectivas, a par dasrestrições orçamentais impediram um nível satisfatóriode execução das medidas. É exemplo a ausência demeios humanos e financeiros para a abertura dos cen-tros de apoio a mulheres maltratadas, embora sucessi-vamente anunciados.

É certo que este governo falou mais das questões da igual-dade, que qualquer dos governos anteriores do PSD. Mas,um balanço objectivo da sua acção neste domínio põe emevidência que a “enorme ambição” que presidiu ao discur-so político não correspondeu a alterações significativasnos problemas e na situação das mulheres visadas pelasdiversas medidas específicas.

Ao contrário são visíveis os impactos negativos das políti-cas económicas e sociais do governo na manutenção e,mesmo agravamento das desigualdades de que é exem-plo a ofensiva sem precedentes contra alguns dos princi-pais pilares do direito do trabalho consubstanciada nopacote laboral.

Algumas das peças nele contidas foram mesmo aponta-das como soluções para uma maior conciliação da vidafamiliar e profissional. É o caso da flexibilidade dos horári-os de trabalho e das novas formas de organização do tem-po de trabalho, designadamente a tempo parcial.

A insistente promoção do trabalho a tempo parcial, com-binada com a recente aprovação da lei do trabalho a tem-po parcial apresentada, pelo Governo do Partido Socialis-ta irá contribuir decisivamente e, de novo (como tem sidodenunciado noutros países) para perpetuar a tradicionaldivisão sexual do trabalho e dos papeis na família em cla-ro desfavor da mulher, que terá, cada vez maiores obstá-culos à conquista da igualdade de oportunidades na for-mação, diversificação e progressão profissionais. Acres-ce, que muitas, mal pagas terão que recorrer a um duploou triplo emprego, para perfazer um salário digno.

De resto, todos os indicadores disponíveis sobre o traba-lho a tempo parcial em Portugal e na União Europeia con-firmam que esta opção não resulta da livre decisão datrabalhadora ou dos trabalhadores mas do estrito interes-se das entidades patronais de reduzir gastos com salári-os e com garantias sociais.

A crescente intensificação dos ritmos de trabalho, a cha-mada “adaptabilidade” e a manutenção de prolongadoshorários semanais em alguns sectores onde predomina amão de obra feminina (indústrias eléctricas, vestuário ecalçado, hotelaria, entre outros) a regressão do estatutodas trabalhadoras, de que é exemplo a banca e os segu-ros, devido à privatização ilustram os impactos negativosda acção dos últimos governos.

O governo aprovou novos direitos no domínio da materni-dade-paternidade. Não assegurou, contudo, o cumprimen-to de direitos já consagrados na lei neste domínio por par-te do patronato mais retrógrado que continua a impedirque muitas mulheres (sob ameaça de desemprego) utili-zem integralmente a licença da maternidade ou exerçamo direito ao período de amamentação ou de assistência àfamília.

Também, os trabalhadores que desejem partilhar a pater-nidade são fortemente condicionados, não só por razõesde ordem cultural, que subsistem, mas por uma realidadelaboral cada vez mais desregulamentada e lesiva dos in-teresses dos trabalhadores impedindo deste modo o seuexercício.

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Entretanto, permanece uma grave insuficiência de respos-tas sociais ao nível das infra-estruturas de apoio à criança, àjuventude e ao idoso em contraponto com a elevada taxa deactividade das mulheres. A rede pública de educação pré-escolar estagnou desde a década de 80 não tendo o gover-no do PS assumido cabalmente as suas responsabilidadesde acordo com a Lei Quadro da Educação Pré-Escolar.

Deste modo, a grande maioria das trabalhadoras enfrentasérias dificuldades em compatibilizar a sua actividade fa-miliar e profissional com uma intervenção com caráctermais permanente nos diversos níveis de decisão da vidapolítica, social, cultural e desportiva do País. Estas decor-rem de estereótipos culturais - com maior ou menor pesode acordo com a região do País - mas também e em gran-de medida, como já foi referido, por factores económicose sociais, cuja superação está ao alcance do poder políti-co verdadeiramente democrático e que levaria a uma maisrápida alteração de mentalidades.

Após a realização do referendo sobre a despenalizaçãodo aborto o Governo anunciou um conjunto de medidasvisando assegurar o aumento de consultas de planeamentofamiliar e o cumprimento da Lei nº 6/84 que prevê a inter-rupção voluntária da gravidez em meio hospitalar, em al-gumas circunstâncias.

Estas medidas deveriam ter sido implementadas logo apósa formação do governo em 1995, como resposta às gra-ves regressões impostas pela política de saúde do gover-no do PSD e não no “rescaldo” do referendo do abortoque deu uma vitória tangencial ao Não à despenalizaçãodo aborto.

Apesar de tardias, estas medidas poderiam ter permitidoum forte impulso à generalização das consultas de plane-amento familiar e à gratuitidade dos métodos estabelecidaspor lei desde 1984. Contudo, os graves problemas exis-tentes no Serviço Nacional de Saúde, a que o governonão deu resposta satisfatória - com listas de espera, es-paços exíguos, falta de médicos e de enfermeiros -condicionaram gravemente o alcance pretendido com es-tas medidas.

Os dados disponíveis sobre a aplicação da Lei nº 6/84apontam para o aumento do número de hospitais públicosque garantem a interrupção voluntária da gravidez, quan-do existe perigo de malformação do feto. Contudo, man-têm-se fortes resistências à aplicação da referida lei quan-do está em perigo a saúde psíquica da mulher.

A situação da mulher no desporto português continua acaracterizar-se por um grande atraso em relação aos res-tantes países europeus. Não foram tomadas medidas paragarantir uma participação feminina em igualdade a todosos níveis e em todas a funções e esferas de competência.

O défice de participação política das mulheres foi encara-

do pelo governo do PS estritamente no domínio do refor-ço desta participação ao nível de alguns órgãos de poder- Parlamento Europeu e Assembleia da República - ten-tando impor por lei aos partidos, um objectivo que deveser realizado por vontade própria e soberana destes, ig-norando que são de igual modo necessários novos impul-sos que renovem a motivação e a participação das mulhe-res nas tomadas de decisão dos órgãos de poder que emcada acto eleitoral elegem.

Por último, regista-se que a figura de Alta Comissária paraa Igualdade e Família, criada em 1995, foi no essencialum instrumento de permanente construção de uma ima-gem governamental positiva, sem que tenha sido visívelalgum contributo de peso das problemáticas da igualdadede direitos e de oportunidades. Entretanto, a passagemda tutela da Comissão para a Igualdade de Direitos dasMulheres para este novo órgão não contribuiu parapotenciar a intervenção desta Comissão governamental,com 20 anos de actividade em estreita cooperação comas organizações de mulheres, designadamente do seuConselho Consultivo.

A acção do PCP

Tem sido fruto da iniciativa política do PCP na Assembleiada República que foram consagrados importantes direitospara as mulheres ao longo das últimas décadas e tam-bém na VII Legislatura que agora termina.

Foi o PCP quem apresentou diplomas inovadores para asociedade em domínios como a protecção da maternida-de-paternidade; planeamento familiar e educação sexual;o direito do pai assistir ao parto hospitalar; o acompanha-mento da mãe/pai a filho hospitalizado; combate à violên-cia sobre as mulheres e o reconhecimento do estatuto deparceiro social das organizações de mulheres.

No cumprimento das propostas constantes do seu pro-grama eleitoral para as últimas eleições legislativas, o PCPapresentou e conseguiu fazer aprovar na Assembleia daRepública leis que constituíram novos mecanismos legaisde combate a discriminações a que a mulher está particu-larmente sujeita, enquanto trabalhadora e também relati-vas: à protecção dos menores de famílias monoparentais;proibição da discriminação salarial dos jovens na fixaçãodo salário mínimo nacional; a garantia do direito à igual-dade no trabalho e no emprego; o reforço dos direitos se-xuais e reprodutivos; a garantia de alimentos devidos amenores e de agravamento das penas para crimes sexu-ais, nomeadamente de que são vítimas menores; a cria-ção de uma licença especial para a assistência a meno-res portadores de deficiência profunda; criação de umalicença especial nos casos de gravidez de risco; reforçodos direitos das associações de mulheres.

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Entretanto, o PS rejeitou as propostas do PCP de reduçãoda idade da reforma das mulheres para os 62 anos e deprotecção às uniões de facto.

Em Fevereiro de 1998, arrastada por uma nova propostado PCP (despenalização do aborto, até às 12 semanas, apedido da mulher), a Juventude Socialista apresentou naAssembleia da República uma proposta própria que foiaprovada por 116 votos contra 107. Porém, 24 horas de-pois, em clara cedência ao PSD, o PS consentiu em refe-rendar o que tinha sido aprovado na véspera, levando aque mais uma vez se tivesse perdido a oportunidade dealterar a legislação.

Os compromissos do PCP

O PCP compromete-se na próxima legislatura a tomaras iniciativas políticas de acordo com as seguintes prio-ridades:

— a promoção de uma política de emprego e forma-ção profissional que garanta a estabilidade deemprego e igualdade de progressão nas carrei-ras profissionais;

— reforço das acções de qualificação profissionaldirigidas às mulheres beneficiárias do rendimen-to mínimo garantido;

— a promoção de acções positivas no sentido deapoiar a diversificação das opções profissionaisdas mulheres;

— propor que anualmente sejam avaliados os impac-tos das políticas económicas e sociais, das políticasde emprego e salariais na evolução da situação dasmulheres, designadamente das trabalhadoras;

— a garantia de que a Inspecção Geral do Trabalhoexerça um papel fortemente inspectivo e preventi-vo na detecção das discriminações, incluindo dasindirectas, hoje com um peso crescente no mer-cado de trabalho favorecendo o reforço da suapenalização;

— tomar medidas que valorizem os pareceres daCITE relativos às discriminações;

— a promoção de campanhas anuais de divulgaçãodo conteúdo das leis que garantem a igualdade edos instrumentos que, designadamente a traba-lhadora poderá utilizar quando estes são violados;

— propor a redução do horário de trabalho para 35horas, sem redução do salário, medida que melhorfavorece a conciliação da vida profissional e famili-ar e o direito da mulher a usufruir de tempos livres;

— propor a diminuição da idade da reforma das mu-lheres para os 62 anos;

— propor iniciativas no domínio da educação, forma-ção profissional e emprego, de modo a criar condi-ções de facto de acesso e integração das mulheresdeficientes tanto no plano económico como social ;

— criação de apoios sociais a crianças e jovens fi-lhos de pais desempregados, nomeadamente naárea da educação (gratuita), na área da saúde edos transportes públicos;

— apoiar e estimular a criação de redes de apoio àinserção social às mulheres vítimas da prostitui-ção garantindo apoios à sua formação profissio-nal e na obtenção de emprego, bem como a prio-ridade de colocação dos filhos na rede pública dopré-escolar;

— incluir no Orçamento de Estado verbas para aconcretização de um programa de combate e pro-tecção às mulheres vítimas de violência;

— apoiar a criação de diferentes mecanismos deanálise e de avaliação que detectem os diferentesaspectos da desigualdade de género nos domíni-os económico, social, política, cultural e desportivagarantindo o tratamento regular e periódico dosdados estatísticos existentes dando maior visibili-dade aos problemas da mulher e à sua natureza;

— penalizar todas as práticas discriminatórias emfunção do sexo, designadamente ao nível da pu-blicidade, da divulgação e tratamento de imagensatentatórias da dignidade da mulher nos grandesórgãos de comunicação;

— criar programas específicos de promoção da mu-lher no desporto;

— adoptar normas específicas no Estatuto de AltaCompetição, tendentes a assegurar o efectivoacesso da mulher a este desporto;

— assegurar a fiscalização da gratuitidade dos mei-os contraceptivos nas consultas de planeamentofamiliar (Lei nº 3/84);

— assegurar o fornecimento gratuito de preservativoatravés dos estabelecimentos farmacêuticos;

— comparticipação pelo Estado a 100% na aquisi-ção dos meios contraceptivos fora das consultasde planeamento familiar, bem da contracepção deemergência;

— garantir o acesso das mulheres, em especial dasjovens, a consultas de planeamento familiar emqualquer centro de saúde;

— assegurar o acompanhamento da evolução do nú-mero de consultas de planeamento familiar no País,designadamente nos grandes centros urbanos;

— garantir que as faltas dadas pelas trabalhadoraspara atendimento em consulta de planeamento fa-

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miliar, rasteio do cancro da mama e do útero nãodeterminem perda ou prejuízo de quaisquer direi-tos ou regalias, nomeadamente quanto à retribui-ção e prémios de assiduidade e produtividade;

— apresentar de novo o projecto de lei dedespenalização do aborto até às 12 semanas, apedido da mulher por razões sociais e económicas;

— fazer cumprir a legislação que reconhece o esta-tuto de parceiro social às organizações de mulhe-res garantindo a sua participação em todos osorganismos públicos que visem directa ou indirec-tamente a igualdade (Conselho Económico e So-cial, Instituto do Consumidor, Conselho Nacionalda Cultura, Conselho Nacional da Educação, Con-selho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimen-to sustentável, Conselho Nacional da Toxicodepen-dência, Conselho Superior do Desporto, Conse-lho Nacional das Associações de Família) e o di-reito ao tempo de antena;

— propor a duplicação das verbas do Orçamento deEstado a partir de 2000 para as actividades doConselho Consultivo da CIDM, no âmbito dos pro-jectos comuns e dos projectos autónomos (de 25mil para 50 mil contos) e garantir uma rubrica pró-pria no orçamento da CIDM com este fim;

— propor o reforço das verbas para a CIDM no Or-çamento de Estado de 1999 que permita a reali-zação de estudos em áreas onde permanece umdéfice de avaliação da situação das mulheresdesignadamente na vida associativa, na activida-de desportiva e cultural;

— propor que sejam elaboradas medidas concretaspelo Ministério da Educação em colaboração como Conselho Nacional de Educação, os Sindicatosdos Professores, a CIDM e organizações de mu-lheres que eliminem as imagens estereotipadas,ainda existentes nos manuais escolares nos di-versos graus de ensino e que venham a incluirinformação fundamentada sobre as mulheres queao longo dos séculos se destacaram;

— propor medidas que visem uma generalizadaintegração das questões da igualdade de direitospara as mulheres na formação inicial e contínuados professores.

nJUVENTUDEMelhorar as condições de vida dos jovens, defender egarantir novos direitos e aspirações, são um dos grandesobjectivos do PCP.

O Governo PS manteve, nas questões essenciais, as ori-entações anteriormente aplicadas pelo PSD, seguindo amesma política de direita.

Tal como o PSD já o fizera, o Governo PS investiu fortenuma política que, criando ilusões e falsas expectativas,se traduziram em grandes operações de propaganda jun-to da Juventude, visível nomeadamente nas iniciativas in-ternacionais do Verão de 1998. Iniciando a governaçãocom a ilusão do diálogo, a relação governo/juventude pau-tou-se por uma profunda oposição de interesses demons-trada em várias políticas sectoriais fundamentais para osjovens.

No ensino mantêm-se as limitações no acesso ao ensinosuperior - numerus clausus -, a injustiça nos sistemas deavaliação no ensino básico e secundário e a fraca acçãosocial escolar. A promessa de redução das despesas dasfamílias no financiamento do ensino superior resultou numalei do financiamento do ensino superior com as propinas,com o novo conceito de estudante elegível, em que asbolsas, além de insuficientes, passaram a ter que ser uti-lizadas para pagar propinas e os empréstimos bancáriospretendem esconder as insuficiências da acção social es-colar. O acesso à educação e à cultura tem uma claramarca de classe, sendo que os jovens provenientes dasclasses sociais mais desfavorecidas têm maiores dificul-dades em aceder ao ensino e são quem mais sofre, a faltade qualidade deste. Mantendo muitas das orientações doPSD, o Governo PS continuou a política que leva à exclu-são de milhares de jovens do sistema educativo.

No plano do emprego e dos direitos dos trabalhadores,milhares de jovens continuam a ser vítimas do desempre-go e da precariedade das relações laborais. Generaliza-se a ideia da inevitabilidade dos vínculos precários,designadamente nos primeiros anos de actividade profis-sional e a diminuição de direitos outrora garantidos. O go-verno PS avançou também na tentativa de diminuir para ofuturo os direitos que foram conquistados pelos trabalha-dores, avançando ainda mais na desregulamentaçãolaboral, visando atingir as novas gerações. Os jovens queestão no início da sua actividade profissional ou que ain-da não entraram no mundo do trabalho são efectivamentequem mais vai ser afectado pela nova legislação laboral, opacote laboral. Para a segurança social há concepçõespara o regime público que, a concretizarem-se afectarãoos jovens.

Assistimos igualmente ao crescimento dos fenómenos damarginalidade e exclusão, afectando grande número dejovens. As situações de insucesso escolar, de desempre-go, de falta de habitação, de toxicodependência e de po-breza atiram cada vez mais jovens para a exclusão social.

O apoio ao associativismo e à participação juvenil conti-nua a não ser prioridade para o Governo. As iniciativas e

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programas governamentais - da Secretaria de Estado daJuventude e do Instituto Português da Juventude - ocu-pam a maior parte da actividade e do Orçamento de Esta-do para a juventude. Os recursos disponíveis para o apoioao movimento associativo juvenil são distribuídos prefe-rencialmente naquele mais institucionalizado, formal e demenor pendor reivindicativo e quase sempre na área par-tidária, política e ideológica do Governo. Os critérios emecanismos burocráticos, como é exemplo o Registo Na-cional de Associações Juvenis, para aceder aos apoiosdo IPJ são meios de exclusão do associativismo mais in-formal e reivindicativo.

Por outro lado, o Governo PS adoptou uma táctica algodiferente do PSD na tentativa de manietar e controlar omovimento associativo, apostando no envolvimento emcompromissos de algumas associações e dirigentes e pro-curando criar divisões no seu seio, com o intuito de lhesdiminuir o espaço reivindicativo.

O PCP entende que, uma política de esquerda para a ju-ventude exige a participação efectiva dos jovens na suaconcepção e construção, pressupõe uma profunda trans-formação da sociedade e assume os direitos e aspiraçõesjuvenis e a sua realização individual e colectiva, motorese objectivos de um projecto político que atravessa os dife-rentes sectores da política que influenciam e interferemna vida dos jovens.

Atravessando diversas políticas sectoriais, são questõesfundamentais para a juventude os princípios que orientama política de juventude proposta pelo PCP, como são oacesso à educação e ao ensino, a um emprego com direi-tos, a uma vida independente, à produção e fruição cultu-rais, à prática do desporto, a uma vida sexual saudável eassumida e a paz e a cooperação entre os povos.

Por uma escola diferente, mais democrática, humana,motivadora e criativa, o PCP propõe:

— uma efectiva educação pública, gratuita e de qua-lidade, com o alargamento aos 12 anos da esco-laridade obrigatória;

— um forte investimento por parte do estado, no sen-tido de criar uma eficaz rede escolar pública, atodos os níveis de ensino, dotando todas as esco-las do equipamento necessário ao seu bom funci-onamento — pavilhões gimnodesportivos, camposdesportivos, bibliotecas, salas de estudo, labora-tórios, equipamentos informáticos, salas de con-vívio;

— o fim do numerus clausus, enquanto sistema derestrições quantitativas globais e a revogação dalei do regime de acesso ao ensino superior públi-co, de forma a que o ensino superior particular e

cooperativo seja encarado sempre como alterna-tivo e não como a única opção para milhares deestudantes;

— a valorização de um sistema de avaliação contí-nua, que encare a avaliação como um instrumen-to com vista a detectar as dificuldades de apren-dizagem, permitindo a sua superação e revogan-do as provas eliminatórias (provas globais e exa-mes nacionais);

— a adopção de um regime disciplinar mais justo epara que todos possam contribuir para uma esco-la de integração social, que combata a exclusão eo abandono escolar a definição com a participa-ção de todos os agentes educativos os respecti-vos direitos e deveres de todos;

— o alargamento da participação nos órgãos de ges-tão de estudantes do 3º ciclo do ensino básico, bemcomo a dignificação do papel do delegado de tur-ma e da assembleia de delegados de turma;

— um horário escolar que permita e promova a par-ticipação dos estudantes aos vários níveis da vidada escola;

— a promoção dos programas que motivem e quecontribuam para a melhor preparação dos estu-dantes;

— a efectiva regulamentação e aplicação da Lei nº3/84 da Educação Sexual e Planeamento Famili-ar, bem como da nova Lei que “Reforça as garan-tias do direito à saúde reprodutiva”;

— a adopção de medidas que favoreçam a possibili-dade dos alunos que optem por uma via profis-sionalizante possam, se o desejarem, candidatar-se ao ensino superior;

— a existência de um único sistema e de um únicograu de formação inicial no ensino superior, quepotencie as actuais escolas politécnicas e univer-sitárias, que promova a investigação e a experi-mentação científicas, e que não seja gerador deum ensino de primeira e outro de segunda porrazões políticas e administrativas;

— a revogação imediata da presente Lei de Financi-amento do Ensino Superior que consagra, nome-adamente, o aumento das propinas;

— uma acção social escolar que promova activamen-te a igualdade de oportunidades ao acesso, fre-quência e sucesso no ensino superior;

— apoios gerais a todos os estudantes (nomeada-mente nos domínios da alimentação, assistênciamédica e medicamentosa, apoio para transportes,elementos de estudo, acesso à cultura e ao des-porto, etc.), bem como discriminações positivas,

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bolsas de estudo aos que não tiverem os recur-sos económicos necessários e concessão de alo-jamento a todos os estudantes deslocados;

— que os estudantes do ensino superior particular ecooperativo devam aceder à acção social escolarenquanto se mantiver o numerus clausus;

— a revisão do Estatuto do Ensino Superior Particu-lar e Cooperativo, na óptica da defesa da qualida-de e dos direitos educativos dos estudantes;

— a intervenção do Estado na garantia da qualidadedos estabelecimentos privados de ensino; em casode incumprimento das disposições legais aplicá-veis, prever a possibilidade do seu encerramento,antecedido da transferência dos respectivos estu-dantes para o ensino público;

— o aperfeiçoamento dos processos dos processosde direcção e gestão democrática das instituiçõesde ensino superior, dando efectiva possibilidadede intervenção e participação aos estudantes;

— elaboração de disposições legais que protejam osdireitos dos alunos que se encontram a frequen-tar estágios;

— o estabelecimento de um plano de elevação doperfil educativo da população portuguesa que pro-mova a obtenção de formação inicial por parte detodos os que não completaram os estudos,designadamente com o recurso ao ensino noctur-no e que crie condições para a obtenção de for-mações complementares ao longo da vida.

Pelo direito dos jovens a um emprego com direitos, oPCP propõe:

— que a política económica e laboral assuma comoprioridade o combate ao desemprego e à precari-edade do emprego juvenil, promovendo o 1º em-prego com direitos e estabilidade;

— pôr termo às pretensões de generalização do tra-balho a tempo parcial, com menos salário e me-nos direitos;

— a trabalho igual salário igual;

— a efectiva aplicação do subsídio de desempregoaos jovens e a reformulação do subsídio de inser-ção na vida activa, aumentando o seu valor e oseu âmbito;

— a efectiva fiscalização e exemplar punição dasentidades empregadoras de crianças; fixação dos16 anos como idade mínima para a prestação detrabalho; 35 horas como horário máximo de traba-lho e proibição de trabalhar entre as 20 h e as 6 hpara os trabalhadores entre os 16 e 18 anos;

— a criação da legislação necessária e fiscalizaçãorigorosa das empresas de trabalho temporário, queimpeça a sua transformação em meio de manu-tenção fraudulenta de contratos a prazo e de fugaà legislação laboral;

— uma política que promova a sindicalização e aparticipação reivindicativa dos jovens nas estru-turas dos trabalhadores;

— o respeito integral do Estatuto do Trabalhador Es-tudante pelas escolas e pelas empresas;

— que os horários pós-laborais tenham efectivamenteem conta a realidade do mundo laboral;

— a garantia das prestações sociais a que os jovensdevem ter acesso.

Pela promoção do acesso à habitação e a uma vidaindependente, o PCP propõe:

— facilitar aos jovens o acesso à habitação, por viado arrendamento ou de aquisição de habitaçãoprópria;

— divulgar eficazmente e facilitar e desburocratizaro acesso ao Incentivo ao Arrendamento Jovem,combatendo a especulação dos preços do arren-damento que lhe estão associados;

— incentivar a aquisição de habitação própria pro-movendo o cooperativismo de jovens, a constru-ção com custos controlados e a auto-construção.

Para o apoio à participação, à valorização humana e àrealização pessoal dos jovens, o PCP propõe:

— o aumento e desburocratização dos apoios à acti-vidade e a actividades das associações; a consi-deração do associativismo informal nos apoios doIPJ;

— a simplificação do processo de aquisição de per-sonalidade jurídica das associações e que nãohajam ingerências dos organismos estatais naconstituição e funcionamento das associações;

— aperfeiçoar o quadro legislativo que define os cri-térios de apoio, bem como que a sua aplicaçãoseja efectivamente com base na actividade desen-volvida e não num Registo Nacional de Associa-ções Juvenis que cria barreiras e condiciona oacesso a apoios e que não serve;

— que as associações e os seus activistas tenhamuma participação efectiva na definição e desen-volvimento das políticas que envolvem os jovens;

— que seja atribuído o estatuto jurídico ao CNJ, comoplataforma do associativismo juvenil português;

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— promover o direito de associação e constituiçãode associações de menores;

— uma política de efectivo desenvolvimento regionalque possibilite a igualdade de oportunidades aosjovens do interior do país;

— o reforço de acções de informação e educaçãoambiental, nas escolas e noutros locais de con-centração juvenis e a promoção da iniciativa juve-nil em torno desta temática;

— a criação de condições para o acesso ao direitode plena criação e fruição cultural, revitalizandoas estruturas existentes e incentivando a sua utili-zação por jovens; o desenvolvimento de uma li-nha de apoios técnicos e financeiros para jovense grupos de jovens, na área da criação cultural; erever no sentido da sua redução a tributação so-bre os materiais de expressão artística, livros eoutros bens culturais;

— adopção de um Plano Nacional que incentive aparticipação dos jovens e que crie condições, no-meadamente de infra-estruturas, para a práticadesportiva; a concretização dos direitos dos jovensatletas de alta competição; e a criação de condi-ções para a existência de Educação Física emtodas as escolas do Básico e Secundário;

— a concretização de acções de prevenção primáriade consumo de drogas, especialmente em meioescolar, virada para todos os alunos de todos osgraus de ensino, abordadas de forma inter e ex-tra-curricular, em conjunto com acções de forma-ção, esclarecimento e debate;

— a garantia de que cada toxicodependente possaaceder de imediato a tratamento gratuito em es-tabelecimento público e a criação de comunida-des terapêuticas públicas e gratuitas, garantindoo acesso a menores de 18 anos;

— despenalização do consumo da droga e estabe-lecimento de mecanismos de ajuda, encaminha-mento e tratamento.

Para uma sexualidade assumida e saudável, o PCPpropõe:

— o acesso de todos os jovens à informação correc-ta e sem falsos moralismos que permita a cadajovem adoptar uma atitude esclarecida e respon-sável perante a sexualidade, visando também aprevenção das doenças sexualmente transmis-síveis;

— uma educação sexual dirigida aos jovens, que pro-porcione a informação e o diálogo, e promova umasexualidade assumida e saudável;

— o respeito efectivo pela orientação sexual de cadapessoa, impedindo qualquer tipo de discriminaçãosocial, profissional ou outra;

— a concretização do direito ao planeamento famili-ar e a melhoria da sua acessibilidade, assim comoo funcionamento e eficaz divulgação de uma redede planeamento familiar, acessível aos jovensmenores de 18 anos sem a necessidade de acom-panhamento da família, contemplando a distribui-ção gratuita de métodos contraceptivos;

— o combate ao aborto clandestino, nomeadamenteatravés da efectiva consagração do direito à inter-rupção voluntária da gravidez até às 12 semanase por razões terapêuticas até às 24 semanas degestação;

— o apoio de forma específica às mães adolescentes.

nREFORMADOSA situação dos reformados e pensionistas com a esmaga-dora maioria a viver abaixo dos limites de pobreza, conti-nua a ser um grave problema social.

A degradação da situação desta camada social, é o resul-tado directo de uma política de regressão social de muitosanos, praticada por sucessivos governos. O Governo PSpraticando uma política dita de solidariedade social, reduzi-da à resolução de situações pontuais, procurou escamote-ar as questões de fundo e essenciais que afectam os refor-mados, nomeadamente as baixíssimas pensões, o profun-do isolamento e a solidão, as discriminações sociais, ascarências de apoios sociais, culturais e recreativos.

Terminada esta legislatura, a maioria dos reformados epensionistas continuam a viver de pensões baixas e de-gradadas, sem condições para fazer face ao custo de vidae às coisas elementares da sua vida diária como o paga-mento das rendas de casa, água, luz, telefone e subsis-tência diária.

A falta de assistência médica e medicamentosa, a falta dehabitação condigna e a preços sociais, de passes semrestrições no que toca a horários e comparticipação emtodo o país, torna a vida de centenas de milhares de refor-mados, bem precária, apesar do saldo da conta da Segu-rança Social permitir uma melhoria significativa das suascondições de vida.

Além disso o Governo PS tem vindo de uma forma cres-cente a limitar o espaço e capacidade de intervenção dasorganizações de reformados.

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A luta dos reformados que o PCP sempre apoiou foi umelemento essencial para defender o seus direitos e peladignificação da sua vida.

Reconhecendo a situação difícil da esmagadora mai-oria dos reformados e pensionistas e que, entre osprincipais factores condicionantes da pobreza emPortugal, surge em primeiro lugar as reformas e pen-sões muito baixas , o PCP propõe:

— aumento anual e significativo das pensões e re-formas, suplementos e complementos, de formaa compensar o valor da inflação e a garantir o in-cremento do seu valor real, e revisão de todas aspensões degradadas;

— pensões:

l mínimas do regime geral (contributivo):

w beneficiários até 15 anos de contribuições- fixação em 64% do Salário Mínimo Na-cional líquido (o que aos valores actu-ais representa 34.900$00 e portanto umaumento extraordinário de 2.300$00),acrescido de um aumento anual não infe-rior a 3% acima do valor da inflação; parauma inflação situada nos 2% isto repre-sentará no final da legislatura um valor su-perior a 42.400$00;

w beneficiários com mais de 15 anos decontribuições - aumento anual não inferi-or a 3% acima do valor da inflação; parauma inflação de 2% isto significará queas pensões mínimas, no final dalegislatura, serão superiores a valores si-tuados entre 43.100$00 (15 anos) e66.300$00 (40 anos);

l pensão social (que é, também, referencial parao Rendimento Mínimo Garantido): fixação em47% do Salário Mínimo Nacional líquido (o queaos valores actuais representa 25.600$00 eportanto um aumento extraordinário de2.000$00), acrescido de um aumento anualnão inferior a 3% acima do valor da inflação;para uma inflação de 2% , isto significa umvalor superior a 31.100$00 no final dalegislatura;

l pensão dos trabalhadores agrícolas: fixaçãoem 48% do Salário Mínimo Nacional líquido(o que aos valores actuais representa26.200$00 e portanto um aumento extraordi-nário de 2.000$00), acrescido de um aumen-to anual não inferior a 3% acima do valor asinflação; para uma inflação de 2% isto signifi-ca um valor superior a 31.850$00 no final dalegislatura;

l reposição da idade da reforma para as mu-lheres aos 62 anos;

— atribuição de pensões por invalidez causada poracidentes de trabalho ou doença profissional, cal-culadas com base na totalidade do vencimento queo trabalhador recebia na altura do acidente;

— aplicação e pagamento do 14º mês a todos osreformados e pensionistas que ainda não usufru-am desse benefício;

— reposição dos direitos adquiridos e retirados aospensionistas durante o Governo de Cavaco Silva,situação que o Governo PS não corrigiu;

— embaratecimento e racionalização dos gastos commedicamentos: promoção da utilização de gené-ricos, prescrição por substância activa, alteraçãodo sistema de comparticipação com o aumentodo valor da comparticipação nos medicamentosessenciais, alargamento da lista de medicamen-tos para doenças crónicas comparticipados a100% pelo Estado, dispensa gratuita de medica-mentos prescritos nas unidades do SNS nos ca-sos em que o seu fornecimento nas farmácias fi-que mais caro ao Estado;

— aumento significativo da comparticipação peloEstado de próteses, ortóteses e dispositivos decompensação (óculos, aparelhos auditivos,próteses dentárias, entre outros);

— abolição das chamadas taxas moderadoras no SNS;

— desenvolvimento de serviços domiciliários. Apoioe responsabilização do Governo no cumprimentodas funções sociais do Estado, a pessoas idosas,inválidas e acamadas no lar;

— criação da Carta Sanitária que estabeleça critéri-os de prioridade no atendimento médico às pes-soas idosas e deficientes;

— construção a nível nacional de uma rede de cen-tros de convívio, centros de dia e lares, de formaa dar satisfação às necessidades sociais dos re-formados, pensionistas e idosos;

— criar condições para que não tenham lugar ac-ções de despejo de pessoas idosas, garantindoapoio aos idosos desprovidos de recursos sufici-entes para pagar a renda habitacional.

nDEFICIENTESA situação social da esmagadora maioria dos deficientes portu-gueses continua a degradar-se como consequência de umapolítica de direita desenvolvida ao longo dos últimos anos,e sem soluções durante este mandato do Governo PS.

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A política anti-social contra os trabalhadores e camadasdesfavorecidas da população, desenvolvida pelo GovernoPS nestes 4 anos de mandato, não solucionou, tambémela, os principais problemas que afectam hoje os deficien-tes, antes, os agravou.

O Governo PS não repôs nesta legislatura as conquistasalcançadas após o 25 de Abril, pelos deficientes e movi-mento associativo, limitados e liquidados durante 10 anosde governo PSD/Cavaco Silva.

A não existência de uma verdadeira Política Nacional dePrevenção, Reabilitação e Integração Social dos Deficien-tes, de acordo com o que está consignado no Artigo 71ºda Constituição da República Portuguesa, nem a aplica-ção da legislação nacional e internacional a que Portugalse obrigou, levou a que centenas de milhares de deficien-tes sejam hoje descriminados na sua vida económica,social e cultural.

O Governo PS praticou, nestes 4 anos de legislatura, umapolítica que designou de Solidariedade Social, resolvendoalguns casos pontuais, mas o essencial da sua actividadeincidiu na criação de organismos e departamentosgovernamentalizados, onde procurou estabelecer planosde acção que não passaram do papel.

Procurou, como isso, desviar e arrastar a actividade do mo-vimento associativo em redor duma discussão estéril, ondeos problemas de fundo que afectam os deficientes em áreascomo a Saúde, Educação, Emprego, Acessibilidades, Rea-bilitação e Integração Social ficaram por resolver.

A política de ataque ao Sistema Público de SegurançaSocial e de Solidariedade entre gerações, atingindo os tra-balhadores e a população em geral, afecta de forma parti-cular os deficientes portugueses.

O Governo PS, tal como os anteriores governos doPSD, continuou uma política de espartilho financeirojunto das associações de deficientes, usando o critériodiscricionário do “Saco Azul”, e não criando legislação queclarificasse a situação em matéria de atribuição financeiraàs associações de deficientes.

O PCP apresentou na Assembleia da República, ao longodas várias legislaturas, projectos-lei que a serem aprova-dos resolveriam em grande parte os problemas mais pre-mentes dos deficientes portugueses. Projectos que foramsucessivamente rejeitados pelo PS e pelo PSD.

O PCP, assumindo o compromisso de continuar a lu-tar pelos interesses dos deficientes, propõe:

— regulamentação e aplicação imediata da Lei deBases de Prevenção, Reabilitação, e Integraçãodas Pessoas com deficiência;

— pugnar para que Portugal aplique os documen-

tos internacionais que subscreveu e ratificou,nomeadamente as Regras Gerais das NaçõesUnidas Sobre Igualdade de Oportunidades,para as pessoas com deficiência, como instrumen-to determinante para a evolução social favorávelà pessoa com deficiência;

— pugnar pela normalização de uma definição dedeficiência , tendo como base, que compete àsociedade suprimir, reduzir ou compensar as bar-reiras, a fim de garantir a cada pessoa o benefíciode uma cidadania de pleno exercício;

— realização e implementação de um Censo Na-cional da população deficiente, a realizar em 2001,por forma a conhecer o seu universo real, carac-terísticas e especificidades, tendo como ponto departida uma campanha de sensibilização e infor-mação, para garantia de um resultado minimamen-te fidedigno;

— promoção de campanhas de sensibilização juntoda população sobre os direitos dos deficientes,as suas potencialidades e capacidades;

— reconhecimento do papel dos dirigentesassociativos e atribuição de crédito de horas a di-rigentes de organizações nacionais e regionais deforma a cumprirem o papel que representam nasociedade portuguesa;

— elaboração de legislação que duma forma inequí-voca estabeleça as regras de financiamento porparte do Estado às organizações de deficientes,tornando clara a sua autonomia política, financei-ra e administrativa;

— emprego

l implementação e garantia de uma quota deemprego na Administração Pública;

l criação e normas legais de protecção e ma-nutenção dos postos de trabalho dos defi-cientes;

l criação de Centros de Emprego Protegidospara pessoas com grandes deficiências, quecontenham valências de formação profissional;

l medidas que promovam o emprego para defi-cientes;

— ensino e educação

l facilitar o acesso dos deficientes às áreas doEnsino;

l garantia de uma Rede Pública de Ensino Es-pecial e apoio a instituições de Ensino Priva-do e Cooperativo de reconhecidos méritos;

l medidas tendentes a assegurar uma efectivaintegração escolar das crianças e jovens de-

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ficientes no sistema de ensino regular, em to-dos os níveis do mesmo;

l apoio efectivo aos alunos e corpo docente paraequipas multidisciplinares, no estabelecimen-tos de ensino;

— saúde

l abolição das taxas moderadoras;

l adopção e implementação de programas efi-cazes que visem a detecção precoce de defi-ciência, sua avaliação e tratamento;

l apoio público efectivo em matéria de medica-mentos, meios auxiliares de correcção oucompensação e outros, dos quais dependemo quotidiano do cidadão deficiente;

l desenvolvimento de uma Rede Nacional deLares, Centros de Dia e Centros de Apoio;

l criação de serviços de apoio domiciliário com-posto por elementos devidamente formadospara responder ao universo das solicitaçõesque se lhes colocam;

l aumento significativo da comparticipação peloEstado de próteses, ortóteses e dispositivosde compensação (óculos, aparelhos auditivos,próteses dentárias, entre outros);

l alargamento e descentralização de Centrosde Hemodiálise;

l garantia de transportes adaptados, que pos-sibilitem a deslocação aos Centros de Saúde,de pessoas com dificuldades de locomoção aconsultas, exames médicos ou terapia;

— pensões e subsídios

l aumento anual e significativo das pensões esubsídios de forma a compensar o valor dainflação, e a elevar o seu valor real, melhoran-do o nível de vida do cidadão deficiente;

l elevação dos montantes de pensões sociaisde invalidez;

l cálculo de pensões por invalidez causada poracidente de trabalho ou doença profissional,com base na totalidade do vencimento que otrabalhador recebia na altura do acidente;

l garantia da reforma integral a pessoas commais de 60% de incapacidade permanentecom o mínimo de 25 anos de trabalho;

l revisão da Tabela Nacional de Incapacidadesquanto à atribuição dos respectivos coeficien-tes e cálculo das pensões e indemnizações;

l elaboração de uma Tabela Nacional de Inca-pacidades para pessoas cuja deficiência não

tenha resultado ou não venha a resultar deacidente de trabalho ou doença profissional;

— reabilitação

l adopção de uma Política Nacional de Reabili-tação que promova a igualdade de oportuni-dades e ponha termo à discriminação dosdeficientes;

l adopção de uma lei antidiscriminatória que pro-íba a discriminação com base na deficiência;

l criação de Centros Regionais de Reabilitação,visando o alcance e manutenção óptima daautonomia e mobilidade dos deficientes e do-tados de condições humanas e técnicas paraa prestação de serviços a que se destinam;

— transportes

l aumento e extensão da rede de transportesadaptados em todo o país de forma a proporci-onar o acesso a condições de vida condigna;

l adaptação gradual da Rede de TransportesPúblicos a nível nacional;

— acessibilidades

l aprovação do Regulamento Geral de Edifi-cações Urbanas que contemple normas téc-nicas de acessibilidades aos edifícios de ha-b i t a ç ã o ;

l implementação e aplicação de legislação queproíba a construção de barreiras nos novosedifícios públicos, e que promova a eliminaçãodas barreiras arquitectónicas já existentes;

— habitação

l consideração de uma quota mínima para de-ficientes nas habitações sociais;

l criação de medidas legislativas que prevejamo apoio aos deficientes em caso de processosde despejo de pessoas com deficiência, comgrau de incapacidade igual ou superior a 60%.

nCRIANÇASPortugal precisa de garantir às crianças uma infância fe-liz, condição para a formação de cidadãos física, intelec-tual e emocionalmente saudáveis.

A todas as crianças deve ser assegurado, em igualdadede oportunidades, o direito à protecção e a cuidados es-peciais, o direito ao amor e ao afecto, ao respeito pela suaidentidade própria, o direito à diferença e à dignidade so-cial, o direito a serem desejadas, à integridade física, auma alimentação adequada, ao vestuário, à habitação, à

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saúde, à segurança, à instrução e à educação, ao lazer eà ocupação dos tempos livres.

A felicidade e o bem estar das crianças estão intimamenteligados à felicidade e ao bem estar das famílias e dosque as rodeiam, o que quer dizer, intimamente ligadosao cumprimento efectivo dos direitos civis, sociais,económicos e culturais por parte do Estado, bem como àassunção por parte deste das suas responsabilidadespara garantir, na prática da vida das crianças, os princí-pios da Constituição da República Portuguesa e outrosprincípios internacionais, como o da Convenção sobreos Direitos das Crianças, aprovada pela Assembleia daONU em 1989 que, por força da Constituição, constitu-em direito interno português.

Verifica-se um enorme abismo entre os direitos das crian-ças, muitos dos quais consagrados de forma constitucio-nal e legal, e a realidade da vida de muitos milhares decrianças portuguesas. Verifica-se um enorme fosso entreas reais necessidades das crianças e as prioridades polí-ticas, os esforços, a utilização de recursos e o carácteressencial anti-social da política promovida pelo GovernoPS, que atinge gravemente as crianças.

O Governo PS prossegue no essencial a política do ante-rior governo PSD. Como resultado desta política, há aindamuitas crianças portuguesas vítimas da subnutrição e dafome, das carências dos serviços de saúde materno-in-fantil, das insuficiências do sistema escolar, do abandonoe insucesso escolar, do trabalho infantil, da promiscuida-de habitacional.

Há ainda muitas crianças portuguesas vítimas da violên-cia e sujeitas a situações de risco, como a mendicidade eo abandono. O trabalho infantil, a prostituição juvenil, ascrianças de rua, são chagas sociais que continuam a existire que exigem a adopção de medidas urgentes e de fundono plano social.

Defende-se que às famílias portuguesas deve ser garanti-do por parte do Estado a protecção e a assistência neces-sárias ao desempenho do seu papel na comunidade, naformação e desenvolvimento das crianças.

Considera-se que para a efectivação dos direitos das cri-anças é necessário que se cumpra a legislação que direc-ta ou indirectamente lhes diga respeito e se realize umapolítica sócio-económica de erradicação da pobreza, decombate às desigualdades sociais, e de promoção do di-reito à igualdade de oportunidades.

Para assegurar a defesa dos direitos e melhorar a vidadas crianças portuguesas, o PCP propõe as seguin-tes orientações e medidas:

— o cumprimento efectivo da lei da maternidade-pa-ternidade;

— o desenvolvimento dos cuidados primários desaúde materno-infantil;

— o desenvolvimento da rede pública de estabeleci-mentos de educação pré-escolar que incluam ocu-pação de tempos livres e outras estruturas de ca-rácter social de apoio à criança e à família tendoem conta as necessidades existentes;

— a criação de espaços com condições e meios ade-quados para o divertimento, o lazer, a vivência daalegria, o gosto pela leitura entre outros aspectoslúdicos que contribuam para a felicidade e para odesenvolvimento harmonioso das crianças;

— a criação nas escolas de espaços com condiçõese meios adequados que tornem acessíveis o en-sino artístico, a educação física e o desporto;

— o cumprimento do direito à igualdade de oportuni-dades de acesso e êxito escolar no ensino obri-gatório com a implementação de medidas efica-zes e integradas que conduzam à erradicação doabandono e à redução do insucesso escolar, no-meadamente pela melhoria das condições sócio-económicas das famílias e pelo assegurar dosrecursos necessários a uma prática pedagógicaadequada;

— o desenvolvimento de uma efectiva acção socialescolar, capaz de garantir às crianças do ensinoobrigatório, entre outros aspectos, um suplemen-to alimentar completo, transportes escolares quan-do necessário e assistência médica escolar;

— a criação e melhoria de condições especiais noensino e noutros aspectos da vida para as crian-ças com dificuldades e deficiências específicas,de modo a garantir o seu desenvolvimento eintegração social;

— estimular uma pedagogia que desenvolva o res-peito pela criança, o direito à liberdade de expres-são e à igualdade entre rapazes e raparigas;

— implementação de acções que protejam as crian-ças do fomento da violência e de valores contrári-os ao desenvolvimento de uma personalidade lú-cida e crítica;

— implementação de acções que visem apoiar ospais e a formação contínua dos educadores e deoutros técnicos, nomeadamente de saúde;

— desenvolvimento de condições e incentivos paraa colaboração e cooperação harmoniosas entrepais, professores, administração escolar e a co-munidade local na educação e formação de me-nores;

— criação e desenvolvimento de medidas de apoioa agentes e estruturas que visam o conhecimento

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e a intervenção no âmbito da melhoria das condi-ções de vida das crianças;

— elevação dos níveis das prestações da segurançasocial de apoio à família;

— tomada de medidas que ponham cobro ao traba-lho infantil, à mendicidade e à prostituição infantil,criando, essencialmente, condições que assegu-rem uma habitação digna e a estabilidade de em-prego, financeira e emocional às famílias;

— garantia de um efectivo apoio a todas as criançasvítimas de arbitrariedade, violência e exploraçãoe punição dos seus responsáveis;

— desenvolvimento de uma política de protecçãoespecial às crianças em risco, que passa sobre-tudo pelo assegurar dos meios necessários à re-solução, o mais adequada, deste tipo de situações,e pela reformulação da acção das instituições deprotecção à criança, assegurando os seus direi-tos e garantindo a sua integração plena na comu-nidade.

n IMIGRAÇÃO E ESTRANGEIROSA VII Legislatura da Assembleia da República fica marcadapor dois traços fundamentais em matéria de política deimigração e de direito dos estrangeiros: Um traço negati-vo, que se traduz na convergência entre o PS e os parti-dos de direita (PSD e CDS/PP) quanto às opções funda-mentais de política de imigração e de asilo, em obediên-cia estrita aos Acordos de Schengen e aos objectivos decriação de uma “fortaleza europeia” fechada aos cidadãosestrangeiros, que teve como consequência, nomeadamen-te, a aprovação de legislação muito restritiva em matériade imigração, de direitos dos estrangeiros e de direito deasilo. Um traço positivo, que resultou directamente da ac-ção desenvolvida pelo PCP nestes últimos quatro anos, eque, devido à inexistência de uma maioria absoluta de umsó partido na Assembleia da República, permitiu aprovardiversas leis muito positivas para os cidadãos estrangei-ros e particularmente para os cidadãos originários de pa-íses da CPLP, para além de ter permitido melhorar de for-ma significativa aspectos muito negativos que constavamde Propostas de Lei apresentadas pelo Governo.

De entre os aspectos negativos, cumpre salientar a apro-vação da “lei de estrangeiros”, que consagra uma orienta-ção geral de fechamento do nosso país aos cidadãos oriun-dos de países que não sejam da União Europeia, ignoran-do completamente a especificidade da relação de Portu-

gal com os países da CPLP e tratando como potenciaiscriminosos todos os imigrantes que demandem o nossopaís. A realização de um processo extraordinário de regu-larização de estrangeiros, que apoiado e proposto tam-bém pelo PCP, ficou marcado na sua execução por múlti-plas deficiências e atrasos. A recusa da revogação pura esimples da legislação que introduz discriminaçõesinjustificadas no acesso de estrangeiros ao trabalho emcondições de igualdade. A aprovação de um regime legalsobre direito de asilo que manteve a recusa da concessãode asilo por razões humanitárias e que conduz aoindeferimento limitar da esmagadora maioria dos requeri-mentos de asilo. A adopção de uma orientação geral paraa actuação do SEF que tem conduzido à criação de difi-culdades inultrapassáveis no relacionamento de muitoscidadãos com este serviço, ao espezinhar de direitos fun-damentais de cidadãos estrangeiros e à prática de arbi-trariedades impróprias de um país democrático.

Porém, a VII Legislatura teve também como um dos seustraços essenciais, uma dinâmica e insistente actuação doPCP, em diálogo permanente com as associações repre-sentativas dos imigrantes e com os movimentos anti-ra-cistas, que se traduziu em resultados concretos muito po-sitivos, de que importa destacar: a aprovação de uma leicontra a discriminação racial, proibindo e sancionando to-das as práticas (por acção ou por omissão) que, em razãoda pertença de alguém a determinada raça, cor, naciona-lidade ou origem étnica, violem o princípio da igualdade; aaprovação de uma lei sobre os direitos das associaçõesde imigrantes, que atribui a estas um amplo conjunto dedireitos de participação e de apoio por parte do Estado àprossecução das suas actividades; a aprovação de umprojecto de lei do PCP que acabou com a exigência deapresentação de um documento emitido pelo SEF paraque os cidadãos estrangeiros pudessem provar a sua ca-pacidade eleitoral perante as comissões recenseadoras;a aprovação de uma proposta do PCP que reduziu de 6para 4 anos o período mínimo de residência exigível a umcidadão originário de um país da CPLP para obter capaci-dade eleitoral passiva (ser eleito) e de 4 para 2 anos paraobter direito de voto (salvaguardadas evidentemente ascondições de reciprocidade), no quadro da lei aprovadaconcedendo, em condições de reciprocidade, capacidadeeleitoral aos cidadãos estrangeiros residentes nas eleiçõespara as autarquias locais. Foi ainda por proposta e poriniciativa do PCP que foram introduzidos melhoramentossignificativos nas Propostas de Lei apresentadas peloGoverno em matéria de acesso dos estrangeiros ao em-prego, de regularização extraordinária de imigrantes e daprópria “lei de estrangeiros”.

Para o PCP, a dupla condição de Portugal como país deemigração e de imigração, que constitui também um si-nal da sua especificidade na União Europeia, deve justi-

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ficar de modo reforçado uma orientação política de aco-lhimento e de integração dos imigrantes na sociedadeportuguesa marcada pelo respeito pelos seus direitoscívicos, sociais e culturais, de apoio à sua integraçãoharmoniosa e de valorização do seu contributo para odesenvolvimento do país.

Nesse sentido, o PCP propõe uma política de imigraçãoe de estrangeiros assente nos seguintes vectores es-senciais:

— alteração da legislação sobre entrada, perma-nência, saída e expulsão de estrangeiros emPortugal, por forma a garantir nomeadamente:

l a limitação dos poderes discricionáriosatribuídos ao SEF em matéria de expulsãode estrangeiros, dando a todos os cidadãossobre quem tenham sido tomadas decisõesadministrativas de expulsão a possibilidadereal de recurso judicial com efeito suspensivoe carácter urgente;

l a adopção de uma política de concessãode vistos para entrada em Portugal de acor-do com critérios transparentes, mais aber-ta e que tenha também em a prioridade quedeve constituir o estreitamento dos laços deamizade e cooperação entre Portugal e ospaíses da CPLP;

l a reformulação dos critérios para a aplica-ção legal das penas acessórias de expul-são , excluindo liminarmente a sua aplicaçãoautomática, a possibilidade da sua aplicaçãoa cidadãos que possuam autorização de resi-dência permanente ou cujo agregado familiarse encontre legalmente radicado em Portugal;

l a redução para 5 anos do prazo de resi-dência legal indispensável para a conces-são de autorizações de residência perma-nente em Portugal;

l a aprovação de um mecanismo legal comcarácter permanente, destinado a possibi-litar a regularização da situação de cida-dãos que residam e trabalhem em Portu-gal, permaneçam em situação irregular emanifestem a vontade de legalizar a sua si-tuação;

— reformulação da lei da nacionalidade que, man-tendo aquisições legais positivas como a possibi-lidade da dupla nacionalidade, facilite a aquisiçãoda nacionalidade portuguesa, quer originária, querpor naturalização, de modo a constituir um factorpositivo de integração com direitos na sociedadeportuguesa. No mesmo sentido e quanto a estamatéria, deve ser nomeadamente considerada:

l a correcção da legislação retrógrada aprova-da em 1993 pelo Governo PSD que fez recairsobre os requerentes da concessão de nacio-nalidade portuguesa por naturalização o ónusda prova quanto à sua efectiva ligação à co-munidade nacional;

l a alteração do critério de atribuição da nacio-nalidade portuguesa originária por forma a fa-cilitar tal atribuição quanto a cidadãos nasci-dos em Portugal, contribuindo para eliminar asituação indesejável dos que nasceram, cres-ceram e vivem em Portugal a título permanen-te e definitivo sem que a nacionalidade portu-guesa originária lhes seja reconhecida;

— reformulação da legislação sobre direito deasilo de forma a, nomeadamente:

l reconhecer o direito de asilo em Portugal porrazões humanitárias;

l garantir a todos os requerentes de asilo emPortugal a apreciação justa dos respectivosrequerimentos e a concessão de um apoiosocial e humanitário digno enquanto perma-necerem em território nacional;

l eliminar as formas de indeferimento liminardos pedidos de asilo, que negam aos reque-rentes o direito a verem os fundamentos dosseus pedidos de asilo concretamente anali-sados;

l o estabelecimento de critérios para a conces-são de asilo em Portugal que relevem maisda tutela de direitos humanos fundamentaisdo que de critérios de conveniência da políti-ca externa;

— criação de mecanismos concretos de aplicaçãoda legislação aprovada sobre associações deimigrantes e de combate à discriminação raci-al, assegurando nomeadamente a rápida institui-ção da Comissão Contra a Discriminação Racial,o reforço da participação das associações de imi-grantes no Conselho Consultivo para os Assun-tos da Imigração e o seu efectivo funcionamento.A definição indispensável de um programa demedidas, de informação e de procedimentosque garantam a efectiva execução prática evinculativa por todas as entidades, públicas ouprivadas, dos princípios aprovados na lei apro-vada por iniciativa do PCP contra a discrimi-nação em função da raça, cor, ascendência, ori-gem nacional ou étnica;

— institucionalização imediata e desburocratizadados mecanismos de apoio às associações deimigrantes e das condições de exercício prático

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dos seus direitos previstos na legislação recente-mente aprovada, nomeadamente: a participaçãona definição da política e nos processoslegislativos relativos à imigração; o acesso ao di-reito de antena e à informação, a isenção de cus-tas e preparos judiciais, o apoio técnico e finan-ceiro;

— assegurar o funcionamento de um Serviço deEstrangeiros e Fronteiras como uma entidadeque, na sua relação com os cidadãos estrangei-ros, actue segundo procedimentos correctos erespeitadores de direitos fundamentais, e que, noseu funcionamento actue com celeridade e cor-recção, pondo termo à actual imagem de inefici-ência e de prepotência que actualmente caracte-rizam este Serviço e que fazem com que ele sejavisto, justamente, pelos cidadãos estrangeiros,como um Serviço repressivo, temido, e destinadoa dificultar a sua vida. Tomada urgente de medi-das para desburocratizar e simplificar a emissãoe renovação atempadas e sem atrasos das auto-rizações de residência;

— a revogação das disposições legais que, situadasno âmbito jurídico-laboral, se destinam exclusiva-mente a garantir o controlo policial dos trabalha-dores estrangeiros , introduzindo sobre estes umregime legal de suspeição discriminatório e inad-missível, e incentivando objectivamente a manu-tenção de situações de trabalho clandestino e semdireitos;

— uma política não discriminatória de garantiados direitos dos imigrantes , em igualdade comos demais cidadãos, designadamente quanto àeducação, saúde e segurança social, cultura, des-porto e habitação, baseada num conceito de ci-dadania que privilegia a residência na formação eexercício de direitos. Não discriminação de cida-dão imigrantes, em consequência da irregularida-de da sua situação, designadamente no acesso àsaúde e à educação. Desenvolvimento de progra-mas de apoio que tenham em conta a situaçãoespecífica dos cidadãos imigrantes, de modo apromover a sua inserção social e cívica, com res-peito pelas respectivas identidades culturais;

— assegurar uma política de educação baseadanuma concepção multicultural da sociedadeportuguesa, a começar na política em relação àfamília e à escola em todos os níveis, que comba-ta de raiz o racismo e a xenofobia, valorize as di-versas identidades culturais, o respeito pela dife-rença e o efectivo diálogo intercultural, assegurea formação correspondente de professores e ou-tros agentes educativos e a adequação de pro-gramas e currículos , desenvolva a experiência

dos mediadores culturais como meio positivo dediálogo, participação e inserção entre comunida-des étnicas, a escola e os poderes públicos;

— prosseguir uma orientação de progressiva exten-são de direitos políticos aos cidadãos imigran-tes em Portugal, considerando prioritariamente oalargamento da sua capacidade eleitoral activa epassiva nas eleições para as autarquias locais;

— defender que Portugal, em conformidade aliás coma sua dupla condição de país de emigrantes e deimigrantes, defenda uma política na UniãoEuropeia de alargamento da liberdade de cir-culação e dos direitos cívicos e sociais doscidadãos imigrantes , designadamente de paísesterceiros e que combata as políticas de fechamen-to xenófobo que caracterizam as orientações do-minantes e que podem também causar sérios pre-juízos ao relacionamento privilegiado que Portu-gal deve manter com os países e povos de línguaportuguesa.

nDEFESA DO CONSUMIDORNo mundo actual em que os mercados se encontram emplena expansão, massificados e competitivos, a protec-ção dos consumidores, a par da qualificação dos produ-tos e serviços prestados, constituem uma irrecusável pre-ocupação das sociedades modernas e uma condição deprogresso e de qualidade de vida.

A sociedade de consumo apresenta como modelo um con-sumo, manipulado, sobretudo, pelos interesses dos gran-des grupos económicos, incitando à compra desenfreadae desnecessária, fomentando o desperdício e o excesso.

O consumo é, assim, eleito como uma “filosofia de vida”,onde a aquisição e o uso de bens e serviços, se transfor-mam num ritual fictício de felicidade, apelando, sobretudoaos sentidos dos seres humanos, criando necessidadesartificiais.

Esta profunda transformação no domínio do consumo,designadamente na sua estrutura e composição, obriga àadopção de novas estratégias e formas de intervenção nadefesa e protecção do consumidor, a partir de referenciaisindividuais certamente, apresentam contudo uma dimen-são colectiva em correlação com outros valores incluídosno plano social e ambiental.

Portugal, apresenta actualmente, índices crescentes deutilização do crédito ao consumo, conduzindo muitas fa-

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mílias ao desequilíbrio económico (a exemplo de outrospaíses da Comunidade Europeia), registando-se uma per-centagem elevada de endividamento, que consequente-mente arrastam a outro tipo de problemas de carácter so-cial, humano e psicológico, de difícil solução.

Na ordem jurídica portuguesa, a protecção do consumi-dor alcançou uma marcante expressão, nomeadamente,com a aprovação do regime legal aplicável à defesa dosconsumidores, Lei nº 24/96 de 31 de Julho, contudo, en-tre a protecção definida na lei e a realidade, continuar aexistir um enorme fosso e o acesso à justiça para inúme-ras camadas da nossa população e em particular para oconsumidor, entendido aqui, como parte mais frágil dacadeia económica, constitui, ainda hoje, em Portugal, umarealidade.

Direitos fundamentais como a qualidade dos bens e servi-ços; a protecção da saúde e da segurança física, a forma-ção, a informação e a educação para o consumo, a pro-tecção dos interesses económicos dos consumidores, aprevenção e a reparação dos danos patrimoniais ou nãopatrimoniais, a protecção jurídica e o acesso a uma justi-ça acessível e pronta, constituem alguns dos pilares fun-damentais do movimento dos consumidores, continuan-do, na sociedade portuguesa, a verificar-se insuficiênciase incumprimentos significativos.

Conforme estipula a Lei nº 24/96 de 31 de Julho de Defe-sa dos Consumidores, compete ao Estado, às RegiõesAutónomas e às Autarquias Locais proteger o consumidore desenvolver acções no sentido da formação e informa-ção do consumidor.

No âmbito da descentralização para as Autarquias Locais,compete a estes órgãos, promover acções e adoptar medi-das tendentes à formação e à educação para o consumo.

O direito à formação e à educação para o consumo deixa,assim de constituir numa incumbência exclusiva do podercentral, alargando-se às Regiões Autónomas e àsAutarquias Locais, e todos em conjunto, deverão desen-volver e adoptar medidas que permitam a prossecuçãodos objectivos de formação e educação do consumidor.

Assim, com o objectivo de contribuir para a salvaguar-da dos direitos dos cidadãos e para a melhoria da qua-lidade de vida, o PCP propõe:

— elaboração de legislação adequada bem como demecanismos processuais que assegurem o con-trolo efectivo das práticas comerciais com vista àtransparência do mercado, impedindo comporta-mento lesivos dos direitos dos consumidores,como abusos contratuais e a colocação no mer-cado de produtos defeituosos, por parte de algunsagentes económicos;

— assegurar e fiscalizar o cumprimento de legisla-ção específica de protecção e salvaguarda dosdireitos dos consumidores, bem como da protec-ção dos utentes de serviços públicos essenciais;

— incentivo ao desenvolvimento dos serviços públi-cos de rádio e de televisão, para a promoção dosinteresses e direitos dos consumidores;

— concretização da educação do consumidor numaperspectiva transversal e interdisciplinar ao nívelde currículos escolares, que consigne a educa-ção do consumidor, a para da educação ambiental;

— sensibilização da comunidade docente e escolarpara os problemas inerentes ao consumo e aomeio ambiente para a adopção de posturasconsumeristas (entendidas como atitudes de gru-pos de cidadãos que visam a protecção e a pro-moção dos interesses dos consumidores), emoposição a atitudes meramente consumistas;

— reforço do desenvolvimento e da criação das As-sociações de Consumidores, que assegurem aprotecção dos consumidores em áreas específi-cas dos seus interesses e direitos, que visem aconsciência crítica dos cidadãos consumidores, aconsciência do meio ambiente, a preocupaçãosocial e a solidariedade, no sentido da melhoriada qualidade de vida dos cidadãos;

— implementação de Códigos de Boa Conduta, no-meadamente entre os Centros de InformaçãoAutárquicos aos Consumidores/Serviços Munici-pais de Informação ao Consumidor e Associaçõesde Comerciantes existentes, bem como entre ou-tros parceiros económicos;

— desenvolvimento e apoio aos Centros de Arbitra-gem de Conflitos de Consumo existentes, a nívelnacional, de forma a facilitar o acesso dos consu-midores à justiça, permitindo a resolução de con-flitos de consumo, que a serem resolvidos judici-almente, levariam a custos muito elevados, pra-zos excessivamente longos e utilização de proce-dimentos complexos;

— desenvolvimento e apoio às estruturas existentesa nível autárquico, no âmbito da defesa do consu-midor, os actuais Centros de InformaçãoAutárquicos ao Consumidores/Serviços Municipaisde Informação ao Consumidor, com as funçõesde informação, mediação e conciliação, para alémda dinamização de acções didáctico-pedagógicasjunto da comunidade docente escolar, com vistaà sua implementação ao maior número de Muni-cípios do nosso país.

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n Educaçãon Ensino Superiorn Ensino e formação profissionaln Desporton Ciência e tecnologian Sociedade da informaçãon Culturan Comunicação Social

Propostaspara o

DESENVOLVIMENTO EDUCATIVO,CIENTÍFICO E CULTURAL

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nEDUCAÇÃOA “grande prioridade” para a educação e a formação e ospropósitos de “humanizar a escola, democratizar oportu-nidades, construir a qualidade”, foram as promessas fei-tas pelo PS há quatro anos para conseguir chegar ao go-verno. Era o tempo da “paixão da educação”.

Mas os anos passaram e agora é necessário ajuizar seessa “paixão” de facto significou alguma coisa de sériopara enfrentar os problemas existentes na área da educa-ção, ou se ela não passou de um flirt breve e inconse-quente.

É um facto que aumentaram os recursos públicosdisponibilizados para a área da educação, mas isso nãosignifica que tenha sido assegurado o bom aproveitamen-to desses meios. Também houve alterações quanto aoestilo governativo, que deixou de caracterizar-se pela ar-rogância e pela ignorância que haviam sido a imagem demarca dos ministérios da educação da responsabilidadedo PSD.

Entretanto quanto aos principais problemas do sector -que haviam sido apontados criticamente ao PSD aquandodo seu longo desempenho governativo - a verdade é quea situação, no seu conjunto, não evidenciou melhorias sig-nificativas. Saliente-se o baixo nível de instrução da popu-lação; as taxas de escolarização no 2º e no 3º ciclos esco-lares, se encontrarem ainda longe dos 100%; a baixa fre-quência no ensino secundário; a permanência de eleva-das taxas de insucesso escolar e educativo; o abandonoescolar; a dificuldade sentida por muitas escolas de en-contrarem respostas adequadas aos problemas de apren-dizagem dos seus alunos, seja por razões materiais, sejapor motivos organizativos ou pedagógicos; os insuficien-tes passos dados no domínio dos mecanismos de apoiosócio-pedagógico e de orientação escolar e profissional;a sobrecarga curricular, designadamente a programática;a indeterminação subsistente ao nível do ensino secun-dário, com a falta de clarificação e de aperfeiçoamentodas suas vias, somada à questão da baixa frequência quecontinua a verificar-se no plano nacional; a insuficiênciado investimento público e da intervenção ao nível do ensi-no superior, indispensáveis para enfrentar a falta de con-dições e os problemas de qualidade existentes.

Os últimos anos na área da educação acabaram, assim,por ser, fundamentalmente, de continuidade da políticaanterior . Com efeito, tem sido realmente escassa a inter-venção orientada para os problemas estruturais, de cujaresolução depende a efectiva democratização e a qualida-de deste bem maior que representa a educação pública.

Tem sido positiva a expansão que se regista na educaçãopré-escolar. Mas ainda aqui a grande novidadedemocratizadora, que foi a da gratuitidade da sua compo-nente educativa, em verdade foi da iniciativa da Assembleia

da República - onde se destacou o papel dos deputadosdo PCP - que impôs em lei tal disposição apesar dos vo-tos contrários do PS. E a verdade, também, é que na prá-tica o Governo não está a assegurar o cumprimento ge-neralizado da gratuitidade da educação pré-escolar, nema garantir a suficiente e rápida expansão da rede públicaque a deve suportar.

Quando valorizamos a questão do ensino público no nos-so país - como condição básica para a concretização dodireito à educação que a Constituição e a Lei de Bases doSistema Educativo justamente consagram -, isso não sig-nifica da parte do PCP desinteresse em relação aos pro-blemas do ensino privado e à necessidade de uma defesaactiva dos direitos educativos dos alunos deste sector.

E é bem necessário e urgente defender estes direitoseducativos.

Uma coisa é o surgimento de iniciativas privadas na áreada educação - legítimo a partir do momento em que se-jam preenchidos os requisitos mínimos constantes dasnormas legais - outra, bem diversa e inaceitável, é a ten-tativa a que se assiste de substituição do ensino públicopor escolas de ensino privado financiadas pelo Estado. Eesta é realmente a principal linha privatizadora da educa-ção que tem vindo a ser desenvolvida entre nós e que oactual governo tem prosseguido.

A Constituição proclama o direito à educação e incumbeexpressamente o Estado de o concretizar, designadamenteatravés de uma rede pública que proporcione um ensinoda mais alta qualidade e que cubra as necessidades detoda a população.

É por tudo isto que assume uma grande importância adefesa de uma Escola Pública, de Qualidade e paraTodos.

De acordo com esta perspectiva, o PCP assume seis li-nhas de orientação estratégica e um conjunto de me-didas concretizadoras de uma nova política educativa:

1ª Educação, uma das prioridades nacionais

A importância estratégica que a educação assume no de-senvolvimento harmonioso e integral dos indivíduos e oatraso acumulado devido à política de sucessivos gover-nos impõem que a área da educação, do ensino e da for-mação seja considerada - seguramente por muitos anos -como uma das principais prioridades do país.

O PCP defende:

— continuação de um esforço financeiro em re-lação à educação em ordem a revalorizar a ac-ção educativa e a recuperar atrasos relativamen-te à União Europeia, utilizando criteriosamente osfundos comunitários para uma efectiva melhoriada qualidade da educação;

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— aprovação de um plano de desenvolvimento daeducação , precedido de um amplo debate pre-vendo, entre outras coisas, os equipamentos erecursos necessários à expansão da escolarida-de obrigatória para 12 anos, bem como a respec-tiva restruturação curricular, a expansão do ensi-no superior público e a efectiva concretização darede pública de educação pré-escolar;

— desenvolvimento de um plano de educaçãopermanente que possibilite o aumento dasoportunidades de acesso a acções de educa-ção formal e não formal, escolar e não escolar ,em todos os níveis de ensino e de formação, vi-sando a recuperação de atrasos acumulados;

— reconhecimento da formação profissionalcomo prioridade nacional e revalorização da in-tervenção directa do Ministério da Educação nes-te domínio.

2ª A escola pública como opção fundamental

As grandes alterações que tiveram lugar em Portugal naárea educativa depois do 25 de Abril, e que têm a ver comas transformações políticas e sociais muito profundas queentão ocorreram, assim como a aspiração dos portugue-ses a um desenvolvimento multidimensional, tornam maispremente a garantia do direito à educação. O papel doensino público, nas condições sócio-económicas e cultu-rais concretas existentes na sociedade portuguesa, é im-prescindível a uma política que vise assegurar o direito àeducação e cumprir a incumbência constitucional atribuí-da ao Estado neste domínio.

A defesa, aperfeiçoamento e evolução de uma escola pú-blica democratizada e de qualidade, constituem, em to-dos os níveis de ensino, uma opção fundamental.

Neste contexto assumem-se com clareza três prioridades:inverter a “lógica” mercantilizadora do ensino e de financi-amento público do ensino privado, pondo fim aos privilégi-os que o Estado lhe vem concedendo; promover uma po-lítica de valorização e aperfeiçoamento das condições deaprendizagem e de formação no ensino público; promovera elevação da qualificação científica, tecnológicahumanística e artística.

O PCP defende:

— expansão da rede pública de estabelecimentosde educação e ensino, racionalização do par-que escolar, por forma a assegurar a concre-tização do direito à educação e o reforço daidentidade nacional, independentemente deiniciativas de entidades particulares ou coo-p e r a t i v a s ;

— expansão do sistema público de educação pré-escolar, em cumprimento da obrigação que aConstituição impõe ao Estado, articulada coma rede escolar do 1º ciclo;

— alargamento da escolaridade obrigatória paradoze anos;

— desenvolvimento da resposta pública às necessi-dades de educação especial numa perspectivade escola inclusiva, sem descurar a respostaespecializada a situações particulares;

— promoção de um ensino de qualidade, que favo-reça o desenvolvimento da autonomia intelec-tual do educando, dê oportunidade à experi-mentação científica e ao contacto com a vida,e permita o desenvolvimento de um pensamen-to crítico e criativo;

— promoção da escola pública como um espaço decultura e de intervenção aberta à comunidade,tornando-a uma instância de vivência demo-crática e de construção de uma identidade cul-tural plural;

— incentivo e apoio técnico-financeiro aos pro-jectos educativos de escola;

— promoção de actividades de investigação educa-cional intimamente associadas aos processosde ensino e aprendizagem;

— organização de iniciativas destinadas aos pais eencarregados de educação, visando promovero conhecimento do sistema educativo e oacompanhamento do percurso escolar dosseus educandos;

— articulação da rede pública da Educação com oServiço Nacional de Saúde por forma a garantira prevenção de doenças e a prestação de cui-dados de saúde à população escolar.

3ª Democratização do acesso e do sucessoeducativos

A criação de condições de igualdade real de oportunida-des de acesso e de sucesso educativo para todos os por-tugueses continua a ser uma causa de grande significadosocial. É por isso necessária uma escola pública de quali-dade e a criação de um conjunto de condições e de medi-das de discriminação positiva que promovam o acesso àescola independentemente da origem sócio-económica esócio-cultural das crianças e dos jovens, independente-mente da região do país onde nasceram ou onde vivem.

O PCP defende:

— a gratuitidade do ensino público;

— revogação da lei do financiamento do ensino su-perior e aprovação de um novo e mais justo dis-positivo legal;

— gratuitidade dos livros escolares para toda a es-colaridade obrigatória;

— incremento do apoio social escolar em todos osníveis de escolaridade com crescimento con-

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siderável das capitações para atribuição dosrespectivos apoios e dos montantes-limite pre-vistos para as diversas áreas;

— criação de incentivos e de apoios financeiros fa-miliares com vista a permitir o cumprimento daescolaridade obrigatória, a frequência da edu-cação pré-escolar e o combate à exclusão so-cial, introduzindo-se medidas de responsa-bilização das famílias por esse cumprimento;

— garantia de transportes, alojamento e alimenta-ção para os alunos que, vivendo afastados daescola ou por outros motivos, careçam totalou parcialmente desses benefícios sociais;

— estabelecimento de um novo e mais justo re-gime de acesso ao ensino superior e rápidaexpansão do ensino superior público com abo-lição das restrições quantitativas globais(numerus clausus );

— promoção da educação de adolescentes e adul-tos numa perspectiva de formação permanen-te e recorrente, visando o combate ao analfa-betismo e à iliteracia e a qualificação profissi-onal, social e pessoal;

— promoção do ensino básico no estrangeiro.

4ª O sucesso educativo e escolar dos jovens,o sucesso do sistema

As elevadas taxas de retenção em todos os níveis de esco-laridade, o abandono precoce da escolaridade obrigatóriae a baixa qualidade das aprendizagens, constituem sinto-mas da crise do sistema educativo. Urge desenvolver umapolítica que, conjugando diversos factores em simultâneo ede forma combinada, faça com que cada escola se trans-forme num lugar de sucesso educativo real para todos.

O PCP defende:

— estabelecimento de condições e de prazos paraimplementar o turno único em todas as escolas,o que significa a utilização de uma parte dodia para actividades lectivas e do tempo res-tante para o acompanhamento das aprendiza-gens e para a concretização de outras activi-dades formais diversificadas, dando dessemodo também resposta à necessidade de ocu-pação das crianças e jovens durante a jornadade trabalho dos pais e aperfeiçoando o papelque compete à escola pública;

— adequação da população escolar à capacidadefísica de cada escola de forma a possibilitar adiversificação de actividades que caracterizamo ensino actual;

— fixação do número máximo legal de 25 alunospor turma;

— desenvolvimento da rede dos serviços de psi-cologia e orientação;

— fixação de um número máximo legal de alunospor professor (6 turmas);

— revisão dos currículos de modo a corresponderàs necessidades do desenvolvimento actual dasociedade e da formação integral dos jovens;

— desenvolvimento de uma educação multiculturalque dignifique os valores das diferentes cultu-ras de que os jovens são portadores e promo-va entre estes o respeito mútuo;

— definição de currículos e programas nacionais queestabeleçam claramente as margens de auto-nomia para a introdução de componentes lo-cais do currículo;

— aperfeiçoamento do sistema de avaliação dosalunos;

— redefinição das funções e objectivos do ensi-no geral e tecnológico, do ensino profissionale da formação profissional;

— melhoria da qualidade da formação inicial econtínua de professores e de outros profissio-nais de educação;

— aperfeiçoamento das carreiras docentes e de-finição de carreiras de outros técnicos deeducação, mediante negociação com os res-pectivos sindicatos;

— criação de incentivos à fixação de professo-res em zonas desfavorecidas;

— criação e/ou alargamento de serviços técnicosespecializados para a realização de actividadeseducativas, de orientação psicopedagógica evocacional, e de serviço social;

— dotação das escolas de pessoal administrati-vo, técnico e auxiliar em número suficiente paragarantir o seu bom funcionamento;

— promoção da formação de pessoal não docen-te, valorizando a sua função educativa.

5ª Uma escola com mais autonomia e commais participação

Uma escola com mais autonomia face ao poder central eaos poderes fácticos de natureza local, e também commais participação, constitui um dos vectores fundamen-tais de uma política que promova o urgente processo detransformação e de modernização do nosso sistemaeducativo.

Trata-se de assumir que a escola para poder cumprir assuas funções, compreendidas à luz das exigências do tem-po actual:

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— deve funcionar tomando em consideração as con-dições sociais e culturais do meio em que estáinserida;

— deve desenvolver as suas capacidades de organi-zação interna e de auto-dinamização, bem comoas suas formas de ligação com a sociedade;

— deve associar às actividades de aprendizagempreocupações formativas e actividades de carác-ter lúdico.

Este processo de inovação, centrado no papel e na vidada própria escola, impõe que esta, no quadro de orienta-ções educativas gerais, de carácter nacional, assuma assuas próprias metas e o seu próprio projecto educativo.Impõe também uma actuação coordenada em diversosplanos e níveis, e a mobilização activa e o empenhamentodos vários intervenientes no processo educativo.

É neste sentido que o PCP defende:

— a revogação do decreto-lei n.º 115-A/98 sobre“o regime de autonomia, administração e gestãodos estabelecimentos públicos de educação pré-escolar e dos ensino básico e secundário, bemcomo dos respectivos agrupamentos”, por consa-grar orientações que, apesar do seu gradualismo,se inserem numa perspectiva neo-liberal dedesresponsabilização do Estado, de empresa-rização das escolas públicas e de transformaçãodos professores em empresários, o que abala epõe profundamente em causa o conceito e a rea-lidade da escola pública, assim como as funçõesdemocráticas e democratizadoras que lhe estãointrinsecamente ligadas;

— aprovação de uma nova lei que aprofunde e de-senvolva a gestão democrática dos estabele-cimentos escolares , no quadro dos princípios,objectivos e valores da política educativa consa-grada na Constituição e na Lei de Bases do Siste-ma Educativo;

— aprovação de um estatuto de autonomia dasescolas com o objectivo de permitir a diversifica-ção das formas de gestão dos currículos nomea-damente no que respeita à organização dos es-paços, dos tempos e das dinâmicas das aprendi-zagens.

6ª Um sistema não governamentalizado,dotado de autonomia democrática e comfinanciamento suficiente e regular

A governamentalização do sistema educativo expressanomeadamente pela tendência para o comando burocrá-tico-administrativo da vida escolar, constitui um dos as-pectos que ao longo dos anos tem marcado mais negati-vamente a educação pública no nosso país.

Constitui, objectivamente, um factor de bloqueio do con-junto do sistema educativo e da intervenção dinâmica queprofessores, estudantes e a comunidade nele deveriamassumir.

Ao questionar-se a governamentalização, não é o papel ea responsabilidade do Estado, nem a existência de umapolítica educativa nacional - tal como estão consagradosna Constituição e na Lei de Bases do Sistema Educativo -que estão em causa. Bem pelo contrário, o alvo a atingir éo mecanismo de comando burocrático administrativo quefoi sendo desenvolvido no sistema de ensino ao longo dosanos e os impulsos de natureza conservadora que propa-ga até às escolas, bem como a sua crescente inadequaçãoà complexidade, diversidade e dinâmica dos modernosprocessos educativos.

De acordo com esta perspectiva crítica, assume decisivaimportância a clarificação do papel fundamental do Esta-do, como garante da escola pública e sede da funçãonormativa, em simultâneo com o desenvolvimento de umprincípio de territorialização do sistema educativo que sal-vaguarde a autonomia e a especificidade pedagógica dasescolas, no âmbito das respectivas comunidades.

É à luz destes princípios que tem sentido conceber actu-almente a estruturação de um verdadeiro Sistema Públicode Educação, com autonomia democrática e meios ade-quados de financiamento. Um sistema cujo funcionamen-to assente em mecanismos de auto-regulação democráti-ca, no seu interior e na sua relação com a sociedade, emque se articulem e se desenvolvam novos equilíbrios en-tre os diversos poderes que intervêm na área educativa -o poder político democrático (a nível central, regional elocal), o poder técnico e profissional dos docentes e dosrestantes profissionais do sector, e os poderes de nature-za social dos pais, dos estudantes e da comunidade.

A necessária e conveniente transferência do poder cen-tral para o poder local de um conjunto de competênciasao nível das instalações, dos transportes escolares e deoutros aspectos estruturais, desde que assegurada a trans-ferência de meios financeiros suficientes para que asautarquias locais possam assumir essas novas responsa-bilidades, não é substitutiva do papel que as autarquiasnecessitam de assumir - enquanto instância de represen-tação política local das populações - no próprio sistemaeducativo.

A constituição de conselhos locais de educação, por inici-ativa dos municípios, para a articulação local dos diversosagentes e parceiros sociais, não pode por isso ser consi-derada como substitutiva das estruturas regionais e locaisdo sistema educativo.

Em conformidade o PCP defende:

— estruturação do Sistema Público de Educação ,aos três níveis (local, regional e nacional), dotadode autonomia e assente em mecanismos de auto-regulação democrática;

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— aprovação de uma lei do financiamento da edu-cação pública (pré-escolar, básica e secundária)que consagre claramente as responsabilidades doEstado e fixe os princípios, objectivos e critérios definanciamento dos respectivos estabelecimentos;

— audição obrigatória dos professores, no respei-to pela Lei de Bases do Sistema Educativo, sobreas medidas de política educativa a decidir aos di-versos níveis e desde a fase da sua elaboração;

— diálogo sistemático envolvendo o poder políticocentral e local e as organizações sindicais de pro-fessores e de outros trabalhadores do ensino, asorganizações de juventude, as associações depais e o Conselho Nacional de Educação, em or-dem à elaboração de análises e à consideraçãode medidas para enfrentar os problemas maisimportantes da educação.

nENSINO SUPERIORAs comparativamente baixas taxas de escolarização dajuventude e da população activa, a níveis secundário esuperior em Portugal, as elevadas taxas de insucesso ede abandono escolares e outros elementos de avaliação,constituem indicadores preocupantes quanto à capacida-de nacional para vencer atrasos em relação aos paísesmais desenvolvidos da União Europeia, para corrigir desi-gualdades sociais e para reforçar as condições de cidada-nia de todos os portugueses.

Ao mesmo tempo acentua-se a pressão da sociedadesobre o sistema de ensino superior, quer no que respeitaàs actividades de formação quer às actividades de inves-tigação, para encontrar respostas para os desafioscrescentemente complexos e exigentes que o desenvolvi-mento contemporâneo comporta.

Enquanto partido da oposição, o PS acompanhou um di-agnóstico muito crítico do panorama existente no ensinosuperior. E assumiu compromissos em relação à satisfa-ção das principais reclamações que as instituições esco-lares e os seus protagonistas - os professores, os estu-dantes, os funcionários não docentes - de há muito vi-nham levantando.

Ao fim de uma legislatura mantêm-se entretanto inalteradosos principais problemas do sector - quer ao nível dos fac-tores de qualidade do ensino e das condições para a in-vestigação científica, quer dos factores democratizadoresdo acesso e do sucesso escolares. O montante do finan-ciamento e os critérios e orientações para a sua atribui-ção continuam a constituir um grave constrangimento. Aexpansão do ensino superior público não foi suficiente nemfoi estabelecido qualquer prazo em relação à eliminaçãodo sistema de restrições quantitativas globais dos numerusclausus. Continuou a ser favorecida a expansão do ensino

privado, em grande parte sem qualidade, e não foramempreendidas medidas correctivas da situação herdadados anteriores governos. E foram anunciadas, em relaçãoao futuro, orientações de inspiração neo-liberal que repre-sentam a continuidade das principais políticas que condu-ziram o ensino superior à presente situação.

São de destacar, em particular, os seguintes pontos:

— Financiamento: manutenção da política desubfinanciamento do ensino público face à neces-sidade de expansão do sistema, com eficiência equalidade, nomeadamente no que respeita às con-dições de trabalho dos docentes e dos estudan-tes; aumento significativo das propinas no ensinopúblico a par com o alargamento significativo dofinanciamento público do ensino privado; em mui-tos casos, preço exorbitante das propinas doscursos de pós-graduação. No entretanto, persistea enorme escassez de apoios de acção socialescolar que, conjuntamente com o aumento bru-tal das propinas, inviabilizam o ingresso ou difi-cultam o sucesso, por carências sócio-económi-cas, de uma margem significativa da populaçãona correspondente faixa etária.

— Autonomia : proclamação verbal do seu respeitomas na prática prosseguimento e acentuação demecanismos de subfinanciamento que limitam for-temente o poder de decisão e de iniciativa dosestabelecimentos públicos de ensino superior(incumprimento da fórmula de financiamento dasdespesas de funcionamento, manutenção deparâmetros e racios que promovem o econo-micismo, imposição administrativa dos conceitosde “curso elegível” e de “estudante elegível”, fi-nanciamento ad-hoc de actividades de investiga-ção desligado das instituições que integram).

— Acesso ao ensino superior : não obstante a pu-blicação de uma “nova” lei constata-se a manu-tenção das orientações dos anteriores governos,com agravamento da selectividade no ensino se-cundário e a manutenção de uma política de pre-enchimento de vagas no ensino superior públicoque contraria os interesses e as opções de gran-de número dos candidatos e que favorece a ofer-ta das escolas privadas.

— Ensino privado : apesar dos compromissos pré-eleitorais do PS em relação à correcção dos pro-blemas de falta de qualidade e de desrespeito pornormas legais que se verificam em muitas esco-las privadas e apesar, também, do despachoexarado pelo Ministro da Educação determinan-do a realização de inspecções rigorosas a todasas instituições deste sector, o saldo da acçãogovernativa neste domínio foi negativo. Prosseguiuuma política de liberalização da abertura de no-vas escolas e de novos cursos, satisfazendo inte-

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resses sobretudo comerciais alheios ao interessepúblico, sem garantias mínimas de qualidade doensino e de credibilidade dos seus diplomas, ca-minho sem saída para muitos jovens, além de es-forço e dinheiro desperdiçados.

— Também as carências de observação regularda realidade social , de recolha de estatísticas ede estudos de diagnóstico e prospectivos, não cri-aram condições para a fundamentação objectivade decisões, tanto ao nível governamental comodos estabelecimentos de ensino, no sentido daadequação da oferta dos ensinos à procura, aten-dendo às vocações e à localização das popula-ções, nem às perspectivas de necessidades pro-fissionais, quando estas são ou sejam ante-cipáveis.

— Insucesso escolar : continuou a situar-se numnível intolerável. Este facto prende-se com a per-manência de um complexo conjunto de factores,entre os quais se referem: o subfinanciamento con-tinuado; a insuficiência da oferta de ensino quesatisfaça as aspirações dos jovens e as suas vo-cações; a ausência de concertação e o desres-peito pela autonomia institucional; as carências deapoios de acção social escolar; a desvalorizaçãodas instâncias de acompanhamento e de decisãopedagógicas; as normas de avaliação do ensinosecundário e de acesso ao ensino superior; a ca-rência de diagnósticos e de prospectivas; as insu-ficiências das referências e dos conteúdosprogramáticos.Insucesso escolar reflecte não só as insuficiênci-as existentes a nível do ensino superior, mas tam-bém os problemas acumulados em todos os ní-veis de ensino, tardando a rectificação de políti-cas que, pela sua inspiração neoliberal e pelasopções inadequadas que comportam, para tal têmcontribuído activamente ao largo dos anos.

O PCP sublinha a necessidade de adopção de um con-junto de orientações estratégicas, assentes numa vi-são global prospectiva e coerente. Entre essas linhassalienta as seguintes:

1ª Integrar num único sistema organizado deensino superior todas as universidades e ins-titutos politécnicos, com respeito pela identi-dade, especificidade e criatividade de cadainstituição .

No quadro desse sistema único de ensino superior deveráhaver lugar para soluções organizativas diferenciadas,conteúdos científicos e modelos pedagógicos muito diver-sos, modalidades distintas de formação, garantido que sejao respeito por regras gerais, que assegurem a qualifica-ção profissional e a comparabilidade académica a nívelnacional e internacional.

Defende-se a evolução para um grau único de formaçãoinicial de nível superior, independentemente da natureza

da instituição que o confere, salvaguardados limiares ob-jectivos de aplicação universal, sem prejuízo da diferenci-ação de formações e sem prejuízo da igualdade de aces-so a idênticos níveis de pós-graduação.

A atribuição de graus académicos dos diferentes níveispor qualquer escola do ensino superior, será apenas con-dicionada pelos currículos, duração dos cursos, qualida-de do corpo docente e avaliação do ensino. Os percursosescolares serão flexibilizados.

Reconhecimento das estruturas de coordenação e repre-sentação dos estabelecimentos de ensino superior comoparceiros imprescindíveis à estruturação e regulação dosistema e à contribuição para a definição de políticaseducativas. Promoção da integração dos estabelecimen-tos de ensino e das suas estruturas de coordenação erepresentação em níveis superiores de organização, deorientação temática ou de base territorial, visando a suaconcertação, maior eficiência na aplicação de recursos ea sua contribuição para a elaboração de políticaseducativas.

Serão desenvolvidas articulações de âmbito geral (estru-turas inter-institucionais de funcionamento democrático)ou entre escolas de natureza e com objectivos idênticos(escolas de engenharia, de formação de professores, etc.).E o sistema de ensino superior deverá ser territorializado,com funcionamento em rede de base regional que fomen-te processos de cooperação e de complementaridade en-tre instituições. Será ainda estabelecida uma metodologiae critérios de base objectiva que regulem a fase de passa-gem do actual sistema binário (universitário e politécnico)para o futuro sistema único de ensino superior.

2ª Defender e aperfeiçoar a autonomia do en-sino superior consagrada na Constituição enas Leis nºs 108/88 e 54/90 .

Promoção da autonomia do ensino público entendida comocapacidade do sistema e dos estabelecimentos que o in-tegram, de definição e de concretização de objectivos pró-prios, no quadro das orientações nacionais de políticaeducativa democrática e como garante da independênciaacadémica, da plena liberdade de aprender e de ensinare da livre criação intelectual, científica e artística, o quepressupõe um quadro de financiamento público, suficien-te e previsível; o desenvolvimento de processos de avalia-ção institucional e de planeamento estratégico como ins-trumentos de governo; a prevalência dos valores pedagó-gicos e científicos, e a adopção de normas de gestão fle-xível, de funcionamento participado e de governo demo-crático.

Para o efeito se propõe nomeadamente:

— Reconhecimento de facto e elevação da autono-mia científica dos estabelecimentos de ensinosuperior público, dotando-os de recursos própriossuficientes para o exercício da liberdade de inves-tigação, para a atracção de investigadores e para

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acrescidas qualidade e pertinência da investiga-ção e dos ensinos.

— Aperfeiçoamento dos processos de direcção egestão democrática nas instituições públicas deensino superior politécnico e extensão aos esta-belecimentos privados da intervenção democráti-ca do corpo docente, discente e dos funcionáriosnão docentes, com responsabilidades diferencia-das, nos domínios científico, pedagógico, admi-nistrativo, académico e disciplinar.

3ª Alargar a frequência, elevar a qualidade egarantir o financiamento sustentado do siste-ma público de ensino superior.

Expansão da rede de ensino superior público e seu fi-nanciamento sustentado, tendo em vista a democratiza-ção do acesso e da frequência, a adequação da oferta eda procura do ensino, a diversidade de domínios e mo-dalidades de aprendizagem e dos universos dos seusdestinatários, por forma a proporcionar a formação paraa cidadania, a elevação do nível cultural e a competênciatécnica da população portuguesa e a disponibilização derecursos humanos qualificados para o desenvolvimentodo país.

Consagração da responsabilização do Estado em rela-ção ao financiamento integral do sistema de ensino su-perior público de modo a concretizar a progressivagratuitidade estabelecida pela Constituição; a expandir onúmero de vagas e eliminar o sistema de restrições quan-titativas globais no acesso (numerus clausus); a possibi-litar a significativa elevação da qualidade do ensino; aabranger a generalidade dos domínios do conhecimen-to; a alargar as condições de frequência do ensino supe-rior por trabalhadores-estudantes; a corresponder à re-levância dos vários cursos baseada na satisfação dasnecessidades sociais e das aspirações pessoais; e acobrir equilibradamente o território nacional.

Revogação da Lei nº 113/97 de bases do financiamentodo Ensino Superior e aprovação de uma lei quadro dofinanciamento e da gestão orçamental do ensino superi-or que assegure: o funcionamento estável e sustentadodos estabelecimentos de ensino público; a renovação,expansão e manutenção das suas infra-estruturas e equi-pamentos; o progressivo alargamento, a diversificação ea pertinência do ensino oferecido; o alargamento das mo-dalidades e dos universos de destinatários do ensino ofe-recido; a qualidade do ensino e o incremento do sucessoeducativo; a qualificação, a estabilidade e a mobilidadedo corpo docente; os recursos que suportem uma políti-ca de real aproximação aos indicadores da generalidadedos países da UE.

Disponibilização de recursos que permitam a rápida con-vergência das universidades e dos institutos politécnicospúblicos para as estruturas orçamentais e os quadros depessoal actualmente tidos como referência, anteceden-

do a actualização a breve prazo dos princípios queenformam esses termos de referência, com a adopçãode uma nova fórmula de financiamento do orçamento defuncionamento.

Estabelecimento, para cada instituição pública, de orça-mentos suficientes e estáveis, em base plurianual, as-sentes em critérios objectivos que cubram as componen-tes pedagógica, científica e cultural, compreendendo queruma componente de funcionamento quer uma compo-nente de investimento associada aos planos de desen-volvimento estratégico a cinco anos a acordar com o Mi-nistério da Educação. Quanto ao orçamento de funcio-namento de cada estabelecimento de ensino, ele deveser ponderado de acordo com os seguintes parâmetros:número de vagas anualmente preenchidas; número dealunos anualmente diplomados; área científica dos cur-sos de bacharelato e licenciatura e duração dos respec-tivos planos curriculares; oferta de estágios curricularesou profissionais ou de outras acções terminais equiva-lentes; número de alunos inscritos em cursos de pós-graduação, de mestrado e em doutoramento, tendo emconta as respectivas áreas científicas; número e qualifi-cação de docentes vinculados; número de docentes vin-culados em formação; número e qualificação de investi-gadores vinculados e em formação; valor do patrimóniomóvel e imóvel afecto ao ensino e à investigação. Fixa-ção de quadros de docentes, investigadores e outros fun-cionários com dimensões adequadas e gestão flexível.

Rejeição das propinas como forma de financiamento doensino público e oposição ao aumento verificado. A pres-tação de serviços por parte dos estabelecimentos públi-cos deve ser considerada como fonte supletiva de recei-tas. O financiamento por concurso de programas especí-ficos deverá ser instrumento apenas utilizado para a pros-secução de políticas governamentais cujo objectivo ex-travase as competências naturais e estatutárias do sis-tema de ensino superior e nunca como forma aberrantedo seu financiamento corrente.

4ª Apoiar o aperfeiçoamento científico,curricular e pedagógico do ensino superior.

Promover a articulação entre o sistema de ensino supe-rior e a sociedade, desde o nível governamental até aosníveis sectoriais e territoriais, envolvendo os estabeleci-mentos de ensino e as suas entidades representativas.

Desenvolver um programa permanente, concertado entreo Governo e outros órgãos da administração pública, asinstituições de ensino e as respectivas estruturas de coor-denação e representação, bem como estruturas represen-tativas dos interesses sociais e económicos, para a ade-quação e expansão do sistema de ensino superior às ne-cessidades do desenvolvimento, nacional e regional, glo-bal e especializado, de ensino, formação e investigação.

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Criar um sistema abrangente de observação e análisedo ingresso no ensino superior, do sucesso escolar e daintegração e progressão profissional dos diplomados.Estimular a oferta de formações em domínios e em moda-lidades diversificadas e à flexibilização de percursos deaprendizagem acreditados para toda a população, na pers-pectiva da oferta de formação ao longo da vida.

Apoiar o esforço de clarificação para a coerência ecomparabilidade dos conteúdos científicos dos planos deestudo.

Promover a concepção, experimentação e aplicação demedidas de aperfeiçoamento pedagógico e de promoçãodo sucesso das aprendizagens.

Estimular a cooperação internacional, tendo em vista acomparabilidade e harmonização de aprendizagens, e amobilidade de docentes e de estudantes, tanto no quadroeuropeu como da CPLP.

5ª Prosseguir e generalizar os processos deavaliação e acompanhamento das instituiçõesde ensino superior .

Aprofundamento dos objectivos da avaliação e do acom-panhamento do ensino superior, designadamente: pro-moção e garantia da qualidade do ensino superior e oseu ajustamento às necessidades de desenvolvimentodo país; análise das causas do insucesso escolar em par-ticular nos primeiros anos; promoção do sucesso esco-lar e da adequação profissional; promoção do auto-co-nhecimento e do conhecimento recíproco dos estabele-cimentos de ensino superior; contribuição para a valori-zação e aperfeiçoamento do trabalho dos docentes, in-vestigadores e outro pessoal em todas as vertentes doensino, da investigação, da prestação de serviços; cria-ção de instrumentos e disponibilização de informações eestudos que viabilizem a programação objectiva da polí-tica nacional do ensino superior.

Apreciação e prosseguimento dos processos de avalia-ção já realizados nas universidades públicas, com aferi-ção de critérios e metodologias utilizados.

Prosseguimento do processo de avaliação no ensinopolitécnico público e generalização a todo o ensino pri-vado da avaliação e acompanhamento das respectivasescolas.

Implementação de facto de um sistema unitário de avali-ação institucional do ensino superior público e privado,independente face ao governo e a quaisquer grupos deinteresses particulares ou corporativos, que dê plenasgarantias de objectividade e isenção, legitimado pela par-ticipação das instituições e pela independência eresponsabilização das estruturas de avaliação externa eacompanhamento, por forma a promover e assegurar aqualidade do ensino e da investigação e a facultar ele-mentos de apoio à elaboração de políticas.

6ª Criar um novo e mais justo sistema de aces-so ao ensino superior .

Implementação de um novo regime de acesso ao ensinosuperior que aproxime os ingressos às aptidões dos jo-vens candidatos e que alargue o ingresso a outros univer-sos de candidatos já integrados na vida activa.

O numerus clausus, no sentido de restrição quantitativa,de carácter global, no acesso ao ensino superior público,deve ser eliminado no prazo máximo de três anos lectivos.

O acesso ao ensino superior deve ser realizado no qua-dro actualmente definido pela Lei de Bases do SistemaEducativo: exigência de habilitação com curso secundá-rio, ou equivalente, cumulativamente com prova de capa-cidade para a frequência do ensino superior, devendo aprova ou provas de avaliação dessa capacidade ter âmbi-to nacional e ser específicas para cada curso ou grupo decursos afins. Os júris para a elaboração das provas espe-cíficas devem integrar professores do ensino secundárioe do ensino superior, sendo garantida a adequação des-sas provas aos programas efectivamente leccionados noensino secundário.

A nota de candidatura aos estabelecimentos públicos eprivados do ensino superior deverá ponderar equilibra-damente as classificações obtidas no ensino secundárioe as obtidas nas provas de capacidade para acesso. Paraminorar os efeitos da eventual contaminação da nota dacandidatura com classificações do ensino secundário anor-malmente baixas ou elevadas, consoante os estabeleci-mentos frequentados, deverá proceder-se à correcçãoestatística das classificações do ensino secundário, queassegure uma maior justiça relativa.

Enquanto vigorar o sistema actual, baseado em examesnacionais para finalização do ensino secundário e acessoao ensino superior, o Ministério da Educação deve pelomenos assegurar que para diminuir a contingência dosexames, cada exame nacional tenha duas oportunidadesde realização cumulativas, sendo tomada em considera-ção a nota mais elevada obtida pelo aluno.

7ª Elevar e alargar significativamente a acçãosocial escolar .

Democratizar o acesso ao ensino superior, provendo nãosó a expansão do sistema de público mas também parale-lamente reforçando o sistema de acção social escolar ealargando-o a segmentos da população ainda não benefi-ciados. Alteração da Lei da acção social escolar, no senti-do de a tornar mais largamente acessível a todos os estu-dantes e torná-la extensiva aos estudantes de pós-gradu-ação, bem como aos estudantes do subsistema particulare cooperativo que não tenham oportunidade de ingressono ensino público.

A acção social no ensino superior deve comportar duasformas distintas e complementares de apoios: por um lado,

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apoios gerais a todos os estudantes, decorrentes da fun-ção social do ensino superior, nos domínios da alimen-tação, assistência médica e medicamentosa, apoio paratransportes, elementos de estudo e material escolar, in-formações e procuradoria, entre outros; e por outro ladodiscriminações positivas traduzidas na atribuição de bol-sas de estudo e na concessão de alojamento, destina-das a viabilizar a frequência do ensino superior por par-te de quantos manifestem capacidade para tal mas nãodisponham dos necessários recursos económicos, as-segurando assim a expansão do sistema e uma maisefectiva igualdade de oportunidades no acesso e fre-quência dos diversos graus do ensino superior.

Os apoios de acção social, e particularmente as bolsasde estudo, deverão ser tornadas extensivas aos estu-dantes de pós-graduação, em proporção significativa doscandidatos e sobretudo em domínios de formaçãoprofissionalizante.

O financiamento da acção social escolar deve ser ob-jecto de legislação específica, distinta da que estabele-ça o financiamento das instituições públicas do ensinosuperior. Rejeita-se em absoluto que a possibilidade decontracção de empréstimos bancários por parte de es-tudantes seja considerada matéria do domínio da ac-ção social escolar.

A acção social escolar deve ser extensiva ao ensino su-perior particular e cooperativo enquanto se mantiver oregime de restrições quantitativas globais no acesso aoensino superior público (numerus clausus). O númerode bolsas de estudo para estudantes, como instrumen-to de suprimento de carências sócio-económicas e es-tímulo, deverá ser largamente aumentado e o seu mon-tante elevado para possibilitar a efectiva satisfação dasnecessidades da população estudantil.

Em todos os âmbitos deve ser reconhecido o direito eestimuladas as formas de auto-organização estudantile de participação plena da juventude na vida e na ges-tão escolares. Em particular, deve ser assegurada a le-gítima representação dos estudantes nos órgãos dedecisão da acção social, designadamente nos seus con-selhos administrativos. Os órgãos de competência pe-dagógica dos estabelecimentos de ensino devem tam-bém poder contribuir para a orientação da acção social,no âmbito das respectivas instituições.

Devem ser reactivados os serviços médico-sociais e in-tegrada a assistência médica e medicamentosa no Ser-viço Nacional de Saúde.

E deverá ser facultado apoio à juventude na despistagemde vocações, no encaminhamento e no acesso ao ensi-no superior, nas modalidades e nos domínios possíveise adequados.

8ª Defender a qualidade do ensino e os direi-tos educativos dos alunos do ensino privado .

O reconhecimento da legitimidade da existência de insti-tuições privadas de ensino superior, porque assenta norespeito pelos princípios constitucionais e legais que re-gem o sector educativo, não autoriza uma política oficialde permissividade face a situações de falta de qualidadee de cedência a grupos de interesses.

Devem ser tornados públicos os relatórios das inspecçõesrealizadas em 1996 e das subsequentes medidas deter-minadas pelo Ministério da Educação. O lançamento deum processo credível de avaliação do ensino privado deveser assumido como imediata prioridade. No caso de esco-las em que se verifique um grave e continuado incum-primento das disposições legais vigentes e a qualidadedo ensino ministrado e a credibilidade dos diplomas con-feridos se encontrem seriamente afectados, deve ser con-siderado o seu encerramento, antecedido da transferên-cia dos respectivos estudantes para escolas do ensinopúblico, com equivalências e planos de estudo a aprovarpelos órgãos científicos competentes, e com assunção peloEstado da responsabilidade de criar condições para afinalização do percurso escolar dos alunos.

As acumulações de serviço docente entre ensino públicoe ensino privado devem limitar-se às situações abrangidaspor protocolos públicos de cooperação entre instituiçõesque claramente enunciem os propósitos e as vantagensdessas formas de cooperação, fixando-se e fiscalizando-se de forma efectiva o número limite máximo por semanade horas lectivas ou ocupadas com outras actividades.

Deverão ser fixadas regras mínimas comuns ao ensinopúblico e ao ensino privado para a contratação de docen-tes e para a respectiva carreira docente.

Devem ser estabelecidas relações contratuais precisasentre cada estudante e a instituição de ensino privado quepretenda frequentar, de forma a garantir à partida as con-dições financeiras que vigorarão durante todo o períodode duração do respectivo curso.

9ª Qualificar os recursos humanos: dignificar,valorizar as carreiras docentes.

Para cumprimento dos objectivos anteriormente enuncia-dos, requerem-se meios e instrumentos que facultem aformação científica e pedagógica dos quadros docentesnecessários à capacitação e à expansão sustentada dosistema de ensino superior.

Paralelamente, preconiza-se a revisão dos estatutos decarreira dos docentes e investigadores dos ensinos uni-versitário e politécnico e o seu alargamento ao subsistemaparticular e cooperativo, tendo em vista a sua dignificaçãoe a sua convergência, a valorização da dedicação exclusi-va e, ainda, a avaliação objectiva e o reconhecimento dodesempenho dos docentes.

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A política em relação às carreiras docentes e aos respecti-vos estatutos remuneratórios constitui um instrumento mui-to importante para a promoção da qualidade do ensino su-perior, pois dela dependem, no essencial, as qualificaçõesdo corpo docente e a sua adequação às necessidades doensino e da investigação; a intensidade da dedicação dosdocentes às suas instituições e os incentivos à melhoria doseu desempenho; bem como o grau de independência comque trabalham e com que intervêm na vida das escolas ena procura de soluções para os problemas do país.

Assim, é necessário concretizar a revalorização salarialdas carreiras docentes, de forma a torná-las mais atracti-vas para os mais qualificados. Devem ser mantidas oualargadas as condições para a obtenção dos grausacadémicos ou para a preparação de provas, tanto nouniversitário como no politécnico. Deve ser atribuído vín-culo estável à função pública aos docentes, após um perí-odo inicial máximo de 3 anos de contrato, como forma deaumentar a sua liberdade e independência de criação ede participação. O reconhecimento e a recompensa domérito individual dos docentes devem ser consagradosestatutariamente, e não devem poder estar limitados ad-ministrativamente pelo congelamento dos quadros, de for-ma a que sejam mantidos incentivos permanentes àmelhoria das suas qualificações e do seu desempenho noensino, na investigação, na gestão e na ligação à socieda-de. Deve ser valorizada a componente pedagógica da ac-tividade dos docentes e devem ser regulamentados deforma adequada os concursos e as provas, de modo agarantir a qualidade pedagógica e o empenhamento navida institucional a par da produção científica bem como atransparência e a equidade de processos.

Sendo as carreiras docentes fundamentais no âmbito dosestabelecimentos de ensino, outras são fundamentais aocumprimento da diversidade de missões do ensino superi-or e à melhoria do funcionamento das instituições. Nessesentido se preconiza a criação de quadro de carreira deinvestigação nos estabelecimentos de ensino superior pú-blico, na base de pôr em paralelo com os actuais quadrosde pessoal docente e de funcionários não docentes. E bemassim, que sejam facultados meios e instrumentos para arápida requalificação dos funcionários em serviço e para orecrutamento de funcionários em carreiras especiais.

nENSINO E FORMAÇÃOPROFISSIONAL

O ensino e a formação profissionais, pelo conjunto dasprofundas implicações que têm no actual processo dedesenvolvimento, constituem prioridades essenciais dapolítica nacional.

O governo do PS não foi capaz de projectar e concretizaruma política global e coerente de preparação para o tra-

balho, quer ao nível dos jovens, quer dos trabalhadores,no activo ou não.

De facto, não obstante algumas medidas pontuais positi-vas, que distinguem o quadro actual daquele que caracte-rizou o dos governos do PSD, não se deram passos signi-ficativos no sentido de uma política integrada de educa-ção e de formação.

A população activa portuguesa continua a apresentar osmais baixos índices de escolaridade em termos europeus,incluindo a mais elevada taxa de analfabetismo literal daeducação adulta. Mesmo ao nível das camadas mais jo-vens, apesar de algum progresso registado, as taxas deescolarização continuam a ser das mais baixas da UniãoEuropeia. Não se ultrapassaram os esquemas de acçõespontuais e de formação profissional acelerada, não se al-terou, significativamente, o quadro de burocratização quecaracteriza os centros de emprego, mantendo-se as defi-ciências na ligação entre escolas, centros de emprego eautarquias. Deste modo, não surpreende a opinião gene-ralizada, no nosso país, de que não se observam os re-sultados no sistema de formação profissional que as ver-bas recebidas do Fundo Social Europeu, gastas ao longodos últimos anos, justificariam.

A superação das fragilidades e estrangulamentos que seregistam ao nível da qualificação dos nossos recursoshumanos só é possível no quadro de uma política integra-da de educação e de formação, que seja potenciadoradas nossas capacidades, que mobilize a sociedade portu-guesa, que desenvolva o acesso ao conhecimento e in-centive uma cultura de aprendizagem permanente e deformação ao longo da vida.

É necessário contrariar a tendência, que já se verifica, paraconsiderar improdutivos e “dispensáveis” os trabalhadoresmais idosos e possibilitar a activos o regresso à escola, atra-vés de modalidades flexíveis aos trabalhadores no activo.

É indispensável assegurar a todos os jovens a conclusãoda escolaridade obrigatória, dotando-os de saberes trans-versais e das necessárias competências científicas etecnológicas.

Importa ainda criar condições para a generalização da ofer-ta ao nível da educação e da formação, através da coor-denação e da rentabilização de recursos que permitamque a transição dos jovens para a vida activa se processeem bases qualificadas, contribuindo, deste modo, para apermanência dos jovens em contextos de educação/for-mação, pelo menos, até aos 18 anos.

O próximo quadro comunitário de apoio constitui a últimagrande oportunidade de Portugal dispor de verbas do FSEpara sustentar medidas que permitam ultrapassar o nos-so atraso no plano da qualificação e formação profissio-nais. É indispensável que tais verbas sejam devidamenterentabilizadas e aplicadas numa política que prepare oscidadãos para o trabalho, apoiada numa formação de base

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de elevada qualidade, na promoção e facilitação da inser-ção na vida activa e no desenvolvimento da formação con-tínua, em articulação sistemática com o processo de de-senvolvimento do país.

Como orientações fundamentais no domínio do ensi-no/formação o PCP aponta:

— o urgente debate e definição de linhas estraté-gicas claras, orientadoras de uma política nacio-nal de emprego e de formação profissional assenteno melhor aproveitamento dos recursos disponí-veis, nomeadamente os do III Quadro Comunitá-rio de Apoio;

— o desenvolvimento de um sistema estruturado, quepossibilite a todos os cidadãos o acesso a umaformação permanente ao longo da vida e comestreita ligação entre as diversas modalidades deformação, de modo a permitir uma actualizaçãoconstante de saberes e um adequado desempe-nho profissional;

— a valorização do ensino público estreitando asrelações entre as escolas e o mundo do trabalhoe o reforço da necessidade de uma maior autono-mia das escolas secundárias na concepção e ela-boração curricular da oferta de formação quali-ficante e na construção da sua própria territoria-lização e identidade local e regional;

— o estímulo, apoio e regulação de outros mode-los (e ofertas) de formação , ligados a estratégi-as locais e regionais de formação.

No quadro destas orientações, o PCP aponta as se-guintes medidas concretas:

— a desburocratização dos centros de empre-go , de modo a aproximá-los das populações,designadamente através da criação de mecanis-mos de participação local;

— a elaboração de referenciais profissionais ,permanentemente actualizados, que permitamuma correcta elaboração de currículos ecertificações susceptíveis de serem reconheci-dos em todos os Estados membros da UniãoEuropeia;

— uma negociação cuidadosa das normas queregulamentam os fundos comunitários , demodo a permitir o seu total aproveitamento e ofuncionamento normal dos cursos através da atri-buição atempada de verbas;

— aperfeiçoamento das regras que regulamen-tam as candidaturas e dos mecanismos de con-trole e fiscalização dos dossiers de candidaturae das verbas gastas na formação profissional;

— a elaboração cuidadosa e participada de novoscurrículos e cargas horárias para o ensino se-cundário, em moldes que garantam uma articu-lação correcta entre a parte curricular técnica ecientífica e a componente humanística, promo-

vendo, deste modo, uma formação harmoniosae equilibrada;

— a generalização da rede de estágios profissio-nais em empresas públicas e privadas, no finaldos cursos, preparando assim a inserção dos jo-vens na vida activa;

— o desenvolvimento de percursos de educação/for-mação e a implementação de dispositivos quepermitam a valorização das aprendizagens in-formais para fins escolares e profissionais e a con-sagração, de facto, do direito à formação, postoem causa pelo patronato em conivência com ogoverno.

nDESPORTONa área do desporto o PS, tal como já havia acontecidocom o PSD, promoveu uma prática política atrasada notempo algumas décadas, desfasada da realidade do des-porto contemporâneo, com inegáveis prejuízos para o País,para todos os portugueses e particularmente para a ju-ventude.

O desporto escolar continua sem expressão significativaem termos de organização e actividade, estando a viver asua maior crise desde o 25 de Abril. Foram-lhe reduzidasas verbas de 15 para 12,5% do dinheiro do jogo. A tentati-va de redução dos horários da educação física escolarainda não foi totalmente afastada. O desporto federadoestagnou, continuando os seus praticantes a não ultra-passar os 3% da população. O número de portuguesesque praticam desporto regularmente não subiu.

A Comissão Desporto Século XXI (sobre instalações) afas-tou as autarquias, os primeiros promotores de equipamen-tos desportivos do País; a legislação sobre SociedadesDesportivas, cuja apreciação parlamentar foi requerida peloPCP, mantém aspectos gravosos para os clubes e para oassociativismo tendo uma das suas expressões mais ne-gativas na possibilidade de compra maioritária pelo capi-tal estrangeiro (incluindo o de outros clubes).

O mecenato desportivo impõe que os clubes e o movi-mento associativo em geral, tenham de pedir reconheci-mento prévio a dois Ministros para poder colher apoiosdos mecenas.

Foi completa a ausência de medidas, previstas no PlanoGlobal da Igualdade de 1997, relativa à promoção da “igual-dade de oportunidades nas políticas desportivas” o quese reflecte na diminuição da participação das mulheresnas actividades desportivas e na sua quase ausência emórgãos dirigentes.

A Alta Competição e a preparação olímpica continuam semos prazos e os apoios adequados.

Há matérias em que a Lei de Bases do Sistema Desportivo,dez anos depois, continua por regulamentar e a legisla-

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ção produzida é orientada para o controlo e a limitação daautonomia e da liberdade do associativismo.

O Orçamento do Desporto continua a depender, no es-sencial, dos dinheiros do jogo e mantém uma importânciainsignificante (0,23 - 0,27%) no Orçamento de Estado.

Nas instalações desportivas públicas dependentes daAdministração Central praticam-se preços que afastam agrande maioria da população do seu usufruto ao mesmotempo que alastram as concessões privadas.

A acção do Governo caracterizou-se pelo aproveitamentopolítico, sem escrúpulos, do fenómeno desportivo, ligando-se preferencialmente ao desporto profissional e de Alta Com-petição, apostando em grandes eventos desportivos inter-nacionais no nosso País cujas mais valias para as modali-dades respectivas e para a afirmação internacional do Paíspodem ser consideradas, mas que não escamoteiam agravosa situação do desporto nacional e da práticadesportiva dos cidadãos portugueses, desde as criançasaos mais idosos, entendido enquanto direito constitucional.

O PCP considera indispensável pôr fim a uma política que,contrariando expectativas que alguns sectores deposita-ram no PS, tem vindo a provocar um grande atraso nodesporto ao serviço dos cidadãos e defende a tomada deum conjunto de medidas que respondam às necessida-des e aspirações da população e corporizem uma políticaorientada para um desporto ajustado às exigências dasociedade contemporânea.

O PCP propõe, como premissas essenciais para umapolítica de desenvolvimento do desporto nacional:

— conceber o desporto como um factor de desen-volvimento cultural e de integração social, de rea-lização do Homem e dos seus direito e de aproxi-mação entre os povos garantindo a democratiza-ção do desporto, alargando a prática desportiva atodos e envolvendo os praticantes na concepção,organização, gestão e avaliação das actividades;

— garantir a educação física e o desporto escolarem todos os níveis e graus de ensino;

— apoiar o associativismo, reconhecendo o papelfundamental do clube como célula base do de-senvolvimento desportivo e promover uma políti-ca de descentralização e de cooperação entre osdiferentes níveis da administração e o associati-vismo;

— atribuir meios financeiros adequados à importân-cia que o desporto assume na saúde, na qualida-de de vida e bem-estar da população.

Para uma verdadeira política de desenvolvimento e de-mocratização da cultura física e do desporto, o PCPpropõe:

— um Plano Nacional de Desenvolvimento Despor-tivo, com a participação da Administração Central

e Local, do movimento associativo, das escolas ede outros agentes e instituições desportivas;

— um Plano Integrado de Infra-estruturas Desporti-vas que permita dotar o País das infra-estruturasnecessárias para a prática generalizada da popu-lação e para o desporto de alto nível;

— o aumento do financiamento do desporto, apon-tando progressivamente durante a próximalegislatura para o valor de 1% do Orçamento deEstado, como dotação básica;

— reconhecer o papel decisivo do Poder Local nodesenvolvimento desportivo nacional, dotando-ode mais meios financeiros;

— assegurar a educação física como disciplina obri-gatória em todos os graus do Ensino Básico eSecundário, dotando as escolas de instalaçõesadequadas e de professores qualificados, toman-do medidas de emergência no que se refere ao 1ºCiclo do Ensino Básico;

— assegurar uma prática desportiva escolar extra-curricular a todos os jovens das escolas, envol-vendo na concepção, preparação, organização,gestão e avaliação desta actividade, os estudan-tes, os professores e os pais, procurando dar-lheuma expressão organizativa com larga autonomia;

— criar o Clube Desportivo Escolar e a Federaçãodo Desporto Escolar, associações dotadas de es-tatutos e personalidade jurídica próprios;

— dinamização do desporto no Ensino Superior, emcooperação com as associações de estudantes ea Federação Académica do Desporto Universitá-rio, através de um plano global que assegure aosestudantes deste grau de ensino uma práticadesportiva regular e diversificada;

— articulação da actividade desportiva escolar como associativismo desportivo, federado ou não e acomunidade local em geral, com o objectivo decriar um espaço de acolhimento e de práticadesportiva dos jovens, ainda, durante e após a es-colaridade;

— dinamizar o desporto no trabalho designadamenteatravés do apoio aos clubes de empresa e às es-truturas representativas dos trabalhadores;

— mobilizar a mulher para a prática desportiva, as-sim como garantir uma maior e mais decisiva in-tervenção e participação das mulheres no des-porto em todos os níveis, funções e esferas decompetência;

— promoção do desporto para a população defici-ente e para a população idosa, através de progra-mas específicos e do apoio às suas associações;

— aumento decisivo do apoio da Administração Cen-tral ao movimento associativo desportivo popular,aos clubes desportivos, às associações e federa-ções desportivas;

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— alargar as medidas de conforto e segurança nosrecintos desportivos aos clubes de desporto nãoprofissional e garantir o policiamento gratuito dasactividades desportivas amadoras e populares;

— garantir o uso gratuito ou a preços sociais das ins-talações desportivas escolares por parte do mo-vimento associativo popular;

— apoio mais substancial à alta competição atravésdas federações e a nível da representação olím-pica, definindo planos de desenvolvimento paraesta área a curto, médio e longo prazos;

— garantia aos atletas de alto nível da dignificaçãoda sua função social, do desenvolvimento das suascapacidades em condições de preparação ade-quadas, dos meios exigíveis de preparação e tra-balho para os técnicos e apoio à medicinadesportiva e à investigação científica e valoriza-ção do atleta, desde a detecção do seu valor atéao fim da carreira;

— revisão da actual legislação no sentido da claradefinição das condições exigíveis para que as di-ferentes entidades possam exercer actividadesdesportivas profissionais;

— estimular no seio do movimento associativodesportivo popular novas formas e soluções com-petitivas para o desporto amador e a práticadesportiva generalizada dos cidadãos, incluindoas novas práticas de contacto com a natureza eos chamados desportos radicais;

— reconhecer o papel social do dirigente associativodesportivo garantindo-lhe um estatuto que con-signe apoios à forma benévola como exerce a suaactividade;

— valorizar e apoiar as organizações representati-vas de atletas, treinadores e outras associações,cujo papel é indispensável à necessária interven-ção e autonomia destes agentes desportivos;

— adoptar um plano nacional de formação de técni-cos e outros agentes quer a nível superior, quer aníveis intermédios e do voluntariado, estabelecen-do os mecanismos de progressão e as carreirasprofissionais respectivas;

— promover a reforma da medicina desportiva revo-gando a legislação actual e criando condições deacompanhamento médico geral e gratuito aos pra-ticantes desportivos, ao nível da prevenção e dotratamento, no quadro do Serviço Nacional deSaúde;

— incentivar a investigação científica em desporto,articulando o sistema desportivo e as instituiçõesuniversitárias e de investigação existentes e criarum centro de investigação especializado e um Ob-servatório do Desporto;

— articular as políticas desportiva e de saúde com oobjectivo de conseguir mais elevados padrões de

qualidade de vida, de bem-estar, saúde e preven-ção da doença;

— apoiar e estimular a recolha, preservação edinamização da prática dos jogos populares tradi-cionais;

— rever a Lei de Bases do Sistema Desportivo e todaa legislação complementar que a regulamenta,elaborando a legislação em falta, designadamentesobre desporto dos trabalhadores e das federa-ções multidesportivas;

— constituição, junto da Assembleia da República,de um órgão realmente representativo do movi-mento desportivo que substitua o actual e inefi-caz Conselho Superior do Desporto.

nCIÊNCIA E TECNOLOGIAO sector da Ciência e Tecnologia, envolvendo as activida-des de investigação fundamental, investigação aplicada,desenvolvimento experimental de produtos e processos,e demonstração, e, bem assim, as infra-estruturas huma-nas e materiais que constituem o sistema científico etecnológico nacional, reveste-se de capital importânciapara o desenvolvimento económico e social do País, mo-dernização do sector produtivo e dos serviços, preserva-ção e gestão dos recursos naturais.

A evolução positiva de alguns indicadores nos últimos anos(designadamente no que respeita a pessoal activo e fi-nanciamento público), o desenvolvimento de acções igual-mente positivas no sentido da promoção do ensino expe-rimental das ciências e da divulgação científica, não alte-ram significativamente a situação geral de franca carên-cia de recursos humanos, materiais e financeiros afectosao sector; de sérios problemas organizativos; de ausênciade uma política com objectivos claros, prioridades e me-tas definidas; da inexistência de mecanismos de partici-pação efectiva na tomada de decisões, não apenas dacomunidade científica mas também das próprias institui-ções e pessoas colectivas, públicas e privadas, que de-vem protagonizar as actividades de C&T.

Tendo sido muito propositivo no domínio da C&T, o gover-no acaba o seu mandato, quatro anos volvidos, com umbalanço proporcionalmente decepcionante, a elaborar li-nhas de orientação e um plano para transformar e desen-volver o sistema científico e tecnológico nacional, lançan-do-se num processo demagógico de interacção com umacomunidade científica cuja descrença se foi aprofundandoà medida que o tempo passava sobre sucessivas mani-festações de incapacidade governativa.

Apontam-se os seguintes traços caracterizadores dasituação actual :

— perda de autonomia e de capacidade de progra-mação das instituições de investigação, decorren-

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tes do abuso do mecanismo de financiamento deprojectos através de concurso, sem consideraçãopela necessidade de cobertura de despesas defuncionamento de unidades e infra-estruturas, ereduzindo a quase nada as verbas destinadas aactividades de I&DE directamente inscritas nosorçamentos das instituições;

— produção legislativa que não tem em conta asnecessidades do sistema e as realidades do País,tecnicamente mal feita e em vários casos não apli-cada ou publicada com grande atraso relativamen-te a compromissos assumidos, designadamente,novo estatuto da carreira de investigação científi-ca e o regime jurídico das instituições de I&DE;

— continuada paralisia do Conselho Superior de C&Tao mesmo tempo que se protela a constituiçãodos chamados Colégios de Especialidade, uns eoutro objecto de medidas legislativas com maisde 3 anos;

— persistente baixo nível de actividade das empre-sas, em C&T, e deficiente articulação das unida-des de investigação com o sector produtivo, re-flectindo a incapacidade do governo em criar in-centivos adequados e conceder àquelas unidadesa autonomia necessária à criação de condiçõespara essa articulação;

— deplorável desconfiança do Governo relativamenteàs potencialidades e capacidade de regeneraçãodos laboratórios do Estado, traduzida na imposi-ção de gestores externos e na criação por vialegislativa de condições para uma crescente su-bordinação desses laboratórios a centros de de-cisão externos;

— persistência na imposição da aplicação de instru-mentos estatísticos desadequados da realidadeque se quer retratar e de deficiente qualidade;

— acentuada escassez de recursos financeiros com-binada com uma asfixiante dependência dos fun-dos estruturais europeus para o financiamento daCiência, sem que resultados duradouros eestruturantes, à parte a formação de recursoshumanos, tenham sido alcançados;

— desmantelamento das estruturas de controlo daexecução do programa PRAXIS XXI (principal fon-te de dinheiro “fresco” para a Ciência) permitindoo mais completo arbítrio na gestão dos fundos co-munitários;

— apesar da melhoria do nível de qualificação dopessoal candidato a carreiras científicas (aumen-to do número de doutorados e mestres), totalimobilismo dos quadros de pessoal investigadornas universidades e laboratórios do Estado;

— crescente precarização do trabalho científico, pas-sando pela substituição por bolseiros do pessoalassistente e estagiário e a tentativa de supressãodas categorias da fase de formação das carreiras

de investigação e docente universitária, patenteno articulado da recente legislação sobre o regi-me jurídico das instituições de I&D e no novo es-tatuto da carreira de investigação científica;

— progressiva degradação das condições de funcio-namento dos laboratórios de Estado e outras uni-dades de investigação, decorrente do envelheci-mento e não substituição do pessoal especializa-do indispensável para apoiar actividades de carizexperimental ou que recorrem a equipamentostecnologicamente evoluídos;

— inexistência de mecanismos de participação bemcomo de critérios objectivos para a escolha de di-rigentes das unidades de investigação exterioresao sistema universitário, facilitando a promoção emanutenção em funções de direcções incompe-tentes e de comissários políticos;

— insistência em esquemas de avaliação de projec-tos, não legitimados e aceites e sem estruturasestáveis de acompanhamento, funcionando comcritérios flutuantes ou desconhecidos, que apro-vam e reprovam os mesmos projectos a um oudois anos de intervalo;

— promoção atabalhoada de avaliações ad-hoc deinstituições e unidades de investigação, algumasrepetidamente avaliadas ao longo dos anos maisrecentes, sem consequências positivas visíveis.

Face a esta situação, o PCP propõe três orientaçõesestratégicas:

1ª Quanto aos objectivos gerais :

— formulação de uma política nacional de C&T quetenha em conta os problemas específicos do País,as actuais carências do sistema nacional de C&Te também as suas potencialidades; as tendênciase linhas de força à escala internacional do desen-volvimento da C&T e suas interacções com a evo-lução económica, social e cultural das socieda-des desenvolvidas; a necessidade de preservaros equilíbrios naturais e garantir uma gestão ade-quada dos recursos não renováveis;

— promover e apoiar a difusão e divulgação do co-nhecimento científico de forma a elevar o nívelgeral de cultura científica do povo português, mor-mente através do sistema educativo e das organi-zações para a juventude;

— incrementar a cooperação internacional no domí-nio da C&T, designadamente, no quadro da UniãoEuropeia e da Comunidade de Países de LínguaPortuguesa.

2ª Quanto à organização e funcionamento dosistema :

— assunção plena do papel determinante do sectorpúblico e das responsabilidades do Estado no fo-mento das actividades de I&DE;

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— desenvolvimento sustentado do sistema nacionalde I&DE, promovendo a coordenação dos váriossub-sistemas que o integram e articulando as res-pectivas funções, numa perspectiva de melhoraproveitamento dos recursos disponíveis edisponibilizáveis, e envolvendo os vários sectoresda Administração Pública;

— desenvolvimento de mecanismos de participaçãodemocrática da comunidade científica nasmacrodecisões orientadoras do sistema nacionalde I&DE e garantia do respectivo funcionamento;

— promoção do estabelecimento de contratos-pro-grama entre órgãos da Administração Pública einstituições públicas de I&DE, para a resoluçãode problemas técnico-científicos envolvidos nadefinição e execução de políticas sectoriais eintersectoriais;

— desenvolvimento das actividades de investigaçãoindustrial, designadamente, através de parceriasempresas-unidades de I&DE do sector público;

— criação de condições para o aumento da produti-vidade do trabalho de I&DE, nomeadamente, pro-movendo a constituição de equipas com dimen-são crítica (envolvendo, investigadores e técnicosde investigação a tempo inteiro); conferindo-lhesmaior autonomia de gestão dos recursos que lhessão afectos, designadamente, recursos financeiros;criando ou reforçando serviços e infraestruturastécnicas de apoio às actividades de I&DE;

— adopção de procedimentos de escolha democrá-tica das direcções e desenvolvimento da autono-mia administrativa, financeira e científica das ins-tituições públicas de I&DE;

— legitimação dos mecanismos de avaliação e acom-panhamento da actividade das instituições deI&DE (mediante o desenvolvimento de processosde auto-avaliação e de avaliação externa com ór-gãos permanentes de acompanhamento).

3ª Quanto aos recursos humanos e financeiros :

— crescimento dos recursos financeiros (para inves-timento, funcionamento, contratos-programa e pro-jectos) e dos recursos humanos afectos às activi-dades de I&DE, independentemente das contin-gências associadas aos fundos comunitários;

— elaboração de uma lei de financiamento das insti-tuições públicas de I&DE, contemplando um finan-ciamento-base regulado por parâmetros objecti-vos e um sistema de financiamento por contratos-programa e por projectos.

Neste quadro, o PCP propõe a adopção das seguintesmedidas :

— proceder ao progressivo aumento do montante defundos públicos nacionais destinados às activida-des de I&DE tendo por meta a completa substitui-ção dos fundos estruturais europeus até 2006 esimultaneamente a duplicação da despesa públi-ca total a preços constantes em I&DE no mesmoprazo (cerca de 15 Mc/ano suplementares até2006);

— atribuir às instituições de I&DE um financiamentoespecífico independente de projectos, para o fo-mento da cooperação internacional com os paí-ses membros da Comunidade de Países de Lín-gua Portuguesa;

— promover um debate alargado com a comunidadecientífica sobre a política de financiamento daI&DE (agências financiadoras; esquemas de finan-ciamento; legitimação do processo de selecção deprojectos a financiar por concurso);

— rever a estrutura de gestão e controlo de execu-ção dos programas financiados por fundos estru-turais europeus, no domínio da C&T, atribuindoao CSCT um papel determinante nesse âmbito;

— lançar esquemas de incentivos, directos e indirec-tos, ao investimento empresarial em I&DE, finan-ceiramente significativos e não simplesmente sim-bólicos;

— remover os presentes entraves à contratação depessoal a vincular à Função Pública, quer para oalargamento quer para a renovação dos recursoshumanos das instituições;

— instituir novas carreiras de regime especial daFunção Pública, para técnicos de investigação epara operários prototipistas;

— promover um plano plurianual de reapetre-chamento em instalações e equipamento de insti-tuições de I&DE, designadamente, laboratórios doEstado e unidades de investigação ligadas àsUniversidades, cuja situação se tem vindo a de-gradar ao longo dos anos;

— pôr em funcionamento o Conselho Superior deC&T e, oportunamente, rever a sua composição;

— suprimir os Colégios de Especialidade entregan-do as respectivas funções às Sociedades Cientí-ficas de especialidade;

— rever o novo Estatuto da Carreira de InvestigaçãoCientífica;

— revogar o novo regime jurídico das instituições deI&DE, substituindo-o por uma lei quadro sobre ofinanciamento e gestão das unidades públicas deI&DE, contemplando também novas regras de de-signação dos dirigentes dessas instituições;

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— instituir um organismo nacional para a avaliaçãode C&T, encarregado, num primeiro tempo, de pro-mover um amplo debate sobre a avaliação de ins-tituições, programas e projectos de I&DE, e, numsegundo tempo, de implementar uma estruturapermanente e mecanismos de avaliação descen-tralizados e devidamente adaptados aos esque-mas de financiamento a implementar, em substi-tuição dos procedimentos actuais;

— prever e facilitar a colaboração regular de inves-tigadores, docentes do ensino superior e técni-cos de investigação, com vínculo à Função Pú-blica, com as escolas do ensino básico e secun-dário, reconhecendo formalmente essa activida-de nos respectivos estatutos profissionais e per-fis funcionais.

nSOCIEDADE DA INFORMAÇÃOAo conceito de sociedade da informação associam-se osimpactos - na esfera económica, como nos mais diversossectores de actividade humana - do conjunto de transfor-mações que decorrem do crescente emprego das novastecnologias da comunicação e da informação.

Entre esses impactos são de referir, nomeadamente, mo-dificações profundas nas condições que determinam a di-visão internacional do trabalho, alterações no conteúdodo próprio trabalho e na organização dos processos em-presariais, novas qualificações requeridas para os postosde trabalho, a expansão do teletrabalho e a crescente im-portância do comércio electrónico.

Assiste-se, por outro lado, a uma progressiva redefiniçãodo papel dos meios de comunicação de massa tradicio-nais, tendencialmente no sentido do seu enfraquecimen-to. E o modo de intervenção dos indivíduos e das organi-zações na formação da opinião pública tende também aalterar-se e a diversificar-se à medida que se integramnos novos mecanismos e os aproveitam a seu favor.

Estão assim presentes novas formas de exercício dos po-deres dominantes e abertas novas possibilidades e espa-ços de intervenção e de participação democrática dos ci-dadãos na vida da sociedade.

Estas mudanças, intervindo no conjunto da sociedade,estão também a colocar problemas e desafios específicosaos sistemas educativo e de ciência e tecnologia. Do queneles for realizado vai depender, em muito, a possibilida-de de uma afirmação consistente, de desenvolvimentosustentado do nosso País, no contexto comunitário e glo-bal em que se situa.

O Governo do PS, não obstante algumas iniciativas havidasnestes últimos anos, incluindo a criação de um organismoestatal específico, a Missão para a Sociedade da Informa-ção, e a elaboração de um Livro Verde, às quais se juntouuma intensa campanha propagandística, apresenta umbalanço de realizações particularmente modesto. E é sin-tomático o facto do Governo não ter estabelecido um pla-no de investimento público que suportasse a implemen-tação das medidas estruturantes anunciados no Livro Ver-de, ao mesmo tempo que foi sempre endossando a inicia-tiva para uma indeterminada “sociedade civil”.

Estudos encomendados pelo próprio Governo apuraramem 1998 que o preço de acesso à Internet em Portugalera o terceiro mais elevado da área da OCDE, num paíscujo poder de compra é um dos mais baixos dessa mes-ma área, e que apenas 10% da população portuguesa,com idade superior a 15 anos, a ela tinha acesso nessaaltura.

A postura oficial de “deslumbramento” perante a socieda-de da informação, desligada da resolução dos problemasestruturantes que condicionam o seu desenvolvimento,designadamente ao nível da ultrapassagem da info-exclu-são de uma parte significativa da população, constitui umaatitude inconsequente e objectivamente anestesiante.

Além disso, verificam-se deficiências no combate a peri-gos inerentes ao desenvolvimento da sociedade da infor-mação que dizem nomeadamente respeito à privacidadee à liberdade dos indivíduos; às tentações de limitaçãodos direitos e liberdades de expressão no novo “espaço”dos utilizadores de computadores; ao alargamento do fos-so das desigualdades, em particular devido às diferençaseducativas, não obstante uma previsível queda no custodo acesso à informação disponibilizada; ao desempregoestrutural (pelo menos durante toda a fase de transição)por efeitos não só da automação dos processo de fabrica-ção de produtos, mas também por impactos análogos, ain-da mais profundos, em todas as actividades de apoio ad-ministrativo e de enquadramento intermédio nas áreas deprestação de serviços; à marginalização de pessoas comnecessidades especiais, em particular os idosos (um gru-po cujo peso demográfico cresce rapidamente) e os defi-cientes; e às pressões negativas sobre as identidadescultural e nacional dos diferentes povos e países.

Impõe-se, em sentido oposto, uma política democráticade desenvolvimento da sociedade da informação, que as-segure a omnipresença dos pontos de acesso à comuni-cação e à informação, e o real abaixamento dos custos deacesso, pelas inegáveis oportunidades que proporcionade desenvolvimento económico, social, cultural, de eleva-ção da participação dos cidadãos e de aprofundamentoda democracia.

Em consequência, o PCP considera que a sociedadeda informação pode representar uma transformaçãoprenhe de consequências positivas, e que os perigosreais referidos poderão ser minimizados se forem as-

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sumidas as políticas democráticas adequadas . Paraatingir estes objectivos, o PCP defende sete orienta-ções fundamentais :

— desenvolvimento das respostas adequadas aosdesafios da universalidade de acesso colocadospela sociedade da informação, por forma a que estavenha a ser uma realidade para todos os estratosda sociedade e a incluir eficazmente as áreas daEducação, da Cultura, da Saúde e da Assistênciaàs Pessoas com Necessidades Especiais;

— observação e avaliação permanentes dosimpactes da prática do teletrabalho, e tomada opor-tuna das medidas, nomeadamente legislativas,que se venham a revelar necessárias a uma equi-librada transição para um tipo diferente de organi-zação dos processos laborais, nomeadamente noque respeita à defesa dos direitos e garantias dostrabalhadores afectados;

— observação e avaliação permanentes dosimpactes das actividades de comércio electrónico(nomeadamente a nível de estruturas deintermediação em geral e, em particular, do siste-ma monetário, em face da criação de dinheiro elec-trónico), tendo em conta o facto de que este tam-bém se processa a nível internacional (questõesda taxação das transacções, diferentes legislaçõesaplicáveis);

— promoção da participação das pessoas e das or-ganizações na definição das suas necessidadesem serviços e aplicações, tendo em conta as pos-sibilidades crescentes de oferta de soluçõesdiversificadas;

— efectivação generalizada do armazenamento, trans-porte e processamento digital da informação exis-tente e a criar por forma a facilitar, a preços aceitá-veis, o acesso universal, o transporte da informa-ção requerida a todos os locais e a combinaçãomultimédia dos sinais que contém essa informa-ção sob diversas formas (voz, texto, gráficos, da-dos em geral, imagens fixas, vídeo, música);

— promoção da coordenação do acesso aos novosmeios com o acesso aos existentes (telefone fixoe móvel, audiovisual, rádio, livros, jornais, maga-zines);

— criação de um Conselho Nacional para a Socie-dade da Informação, dotado da necessária auto-ridade institucional, com funções de orientaçãoestratégica para as áreas da ciência e datecnologia, para as estruturas económicas, soci-ais e culturais, e para os diversos centros de inter-venção política e institucional.

O PCP defende para o período da próxima legislaturaas seguintes medidas:

— elaboração de uma Lei-quadro para a socieda-de da informação ;

— adaptação do conceito do serviço universal detelecomunicações ao ambiente da sociedadeda informação , com a criação de condições quepermitam a sua extensão por forma a englobar osnovos serviços básicos corporizados pela Internet;

— criação de centros de recursos locais e de re-des de comunidades locais e regionais , quepermitam o acesso partilhado a infra-estruturas eoutros recursos tecnológicos, bem como aos ne-cessários conhecimentos das áreas das tecno-logias da comunicação e informação;

— manutenção consequente das condições ne-cessárias à garantia da privacidade e liberda-de dos indivíduos na sociedade da informação ,recorrendo inclusivamente a medidas legislativassempre que a situação o requerer;

— criação da legislação necessária à protecçãodos direitos e liberdades de expressão nociberespaço dos seus utilizadores ;

— adequação da legislação dos direitos de pro-priedade intelectual às novas condições dasociedade da informação ;

— concretização da educação como área funda-mental no âmbito da sociedade da informação ,nomeadamente através:

l do apoio docente especializado, e em quanti-dade suficiente, à formação específica eminformática, e à utilização dos meios informá-ticos na generalidade das actividades cur-riculares;

l do equipamento adequado do sistema esco-lar, incluindo a manutenção e actualização emtempo útil do parque disponível;

l da criação de bases de dados multimédiadedicadas ao sistema de ensino, acessíveis atra-vés de meios públicos de telecomunicações;

l do estabelecimento do acesso universal, ga-rantido pelo Orçamento de Estado, das esco-las e dos alunos à informação disponível atra-vés de meios telemáticos;

l da articulação, em todos os estabelecimentode ensino, do uso dos novos meios com odos seus centros de documentação e infor-mação/bibliotecas;

— digitalização das obras de valor artístico, filo-sófico e científico do património cultural nacio-nal, tendo por objectivo conseguir durante o perí-odo da legislatura, a conclusão do trabalho relati-vo a uma fracção significativa dessas obras;

— tornar acessíveis, através de bases de dadosnacionais preparadas para portugueses, asobras mais representativas da cultura univer-sal, incluindo obras de carácter científico etecnológico ;

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— lançar as acções necessárias de I&DE na áreadas tecnologias da comunicação e informação ,prestando especial atenção aos requisitos daspessoas com necessidades especiais, às tradu-ções de e para a língua portuguesa, aos aspectosde integração humana e social, no trabalho e naresidência, ao ensino apoiado através da Internet,à utilização destes na gestão dos processos par-tilhados de desenvolvimento do conhecimento e,também, à integração dos serviços fixos e móveisde telecomunicações.

nCULTURAA política de Cultura que o PCP defende assenta na con-cepção de que a Democracia Cultural é indissociável dasdimensões política, económica e social da Democracia, queconstituem as condições materiais para a sua realização.

Nesta perspectiva, o PCP defende uma política para aCultura que contribua de modo eficaz para o desenvolvi-mento de formas de vida mais livres, mais justas e maisfraternas.

O reconhecimento das necessidades, aptidões e aspira-ções do povo português neste sector impõe que o estímuloà criação, a liberdade de tendências estéticas, a fruição plenade bens e equipamentos culturais, a salvaguarda erevitalização do Património histórico-artístico, e a regulaçãodo mercado que envolve a produção e a circulação, sejamverdadeiros imperativos para uma política de Esquerda noseu mais amplo sentido. O PCP assume como grandeprioridade do Estado democrático, a defesa de uma po-lítica cultural baseada em três vectores fundamentais:

— o entendimento da Cultura como factor de trans-formação da vida e não como um instrumentoelitista ou um terreno de privilégios e desvirtuaçãoda memória colectiva, do exercício da exploraçãoe da dominação burguesas prosseguidas pelabarbárie neoliberal.

— o entendimento da Cultura como espaço desensibilização e de defesa das identidades e as-pirações mais fundas do povo português – e nãocomo mais um espaço de cerceamento das suasmelhores energias e potencialidades mais ricas ede desfiguração do regime democrático.

— o entendimento da Cultura na perspectivadialéctica do desenvolvimento multilateral dos indi-víduos - e não como terreno de instrumenta-lizaçãode agentes e recursos e processo de entretenimen-to depauperador da maioria da população.

É por isso que, para o PCP, a Cultura se assume hojecomo mais um terreno de resistência face ao impacto bru-tal dos valores do mercado capitalista e da globalização,

ambos visando estrategicamente a desvirtuação das iden-tidades nacionais. Tudo isto impõe e exige da parte doEstado democrático, à luz de uma reforçada cidadaniaparticipativa e do que chamamos uma interculturalidadede partilha, uma salutar função interventiva através deestruturas que assegurem o apoio ao exercício produtivo,o reforço da defesa e conservação dos bens culturais, adescentralização de equipamentos, a protecção dos agen-tes, o estímulo à liberdade e diversidade criativas contra amassificação redutora, a inter-disciplinariedade do traba-lho, a salvaguarda do direito de associação, e o reforçodos canais que permitam uma ampla fruição da Cultura,no seu todo, contra as desigualdades que sustentam quais-quer formas de opressão.

A crescente desresponsabilização do Estado em relaçãoàs suas obrigações culturais e sociais exprime-se tam-bém na tentativa de submeter a lógica relativamente autó-noma da Cultura à lógica do mercado, à lei do lucro e daselectividade ideológica. Indústria, comércio e mercado sãorealidades que crescentemente intervêm e permeiam ocampo da Cultura, mas esta não se reduz a uma parte daeconomia: o mercado, só por si, não garante o desenvolvi-mento e democratização da produção e da fruição, a ele-vação e diversificação das apetências culturais. Neste fi-nal do século, a situação adquire novos contornos de gra-vidade, devido ao impacto da globalização nas estruturasdas sociedades, despindo-as de consciência e de identi-dade. Por isso, não existem alternativas de futuro a quemvisar construir uma nova política em nome dos valores daEsquerda - afirmação da dignidade humana, defesa dosdireitos dos trabalhadores, controlo dos grandes sectoreseconómicos, defesa intransigente do princípio da igualda-de - enquanto o terreno da Cultura não for, também ele,integrado de pleno direito neste âmbito de lutas. Para seconstruir uma identidade colectiva, o conceito de «culturaintegral do indivíduo», tal como o propunha Bento de Je-sus Caraça, reaparece hoje com contornos de flagranteactualidade.

O PCP valoriza a validade das intenções e princípios pro-clamados pelo Ministério da Cultura: a defesa da «demo-cratização da cultura», a «gestão integrada» de recursose bens, a «eficácia estatal e legislativa», o maior diálogointer-departamental, a «reconciliação da sociedade como seu património», o reconhecimento da importância cul-tural do teatro e da necessidade de garantir estabilidade àcriação, a melhor «visibilidade exterior» no plano dos re-cursos, a aposta na rede de Leitura Pública. E reconhecea importância nacional do êxito de grandes iniciativas quecontaram sempre com o apoio e, por vezes, com o impul-so do PCP (a criação do Parque Arqueológico de Foz Côa,a Feira de Frankfurt, o apoio à Expo-98, a classificaçãodos Patrimónios Mundiais de Sintra, Porto e Côa, o anún-cio do Porto-Capital da Cultura, etc.). Mas também é certoque o Ministério da Cultura estiolou entre guerras de frac-ções do PS em luta pelo poder, esquecidas que foram aslinhas de reabilitação cultural que tinha assumido como

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prioridade de governação e num crescente depaupera-mento e desvirtuamento de acções, de linguagem e depoder interventivo. O Ministério, mais atento a absorvernovos agentes e a criar institutos de todo inoperantes,senão inúteis, e ampliando o escandaloso processo deprebendas do que a enfrentar a especulação e a corrigiras distorções do sistema foi conduzido ao favorecimentoe à irresponsabilidade (como por exemplo as guerras en-tre IPPAR e DGEMN à revelia das grandes urgências), oque comprova a nossa profunda convicção de que o terre-no da Cultura, por ser por demais importante, exige pro-fundas correcções desta política.

Para o PCP, o Estado democrático não pode substituir-senem tutelar de forma dirigista a criação, a produção e afruição dos agentes culturais, bem como a salvaguardade bens, mas não tem forçosamente de demitir-se de serum factor fundamental de reforço da Democracia Cultural.O papel do Ministério da Cultura só se pode legitimar sefor esteio da confiança entre parceiros e de reforço de umintervencionismo consequente em áreas como o a pre-servação do Património edificado, o inventário dos bensmóveis, os Museus (estatais, autárquicos e privados), apolítica do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, o Teatroe as Artesdo Espectáculo, a Animação dos Bens Cultu-rais, as grandes opções e prioridades de regulação, etc..Devemos, pois, defender com todo o empenho um projec-to de alternativa política, cultural e ambiental onde a digni-dade dos trabalhadores e do povo português seja salva-guardada em interligação com a liberdade do acto criativonas suas variadas formas de expressão (o teatro, a músi-ca, o bailado, a dança, o cinema, as artes plásticas, a lite-ratura, a história da arte, o estudo das estações arqueoló-gicas e dos monumentos, a produção integrada, etc.), como ordenamento qualificado do território contra as especu-lações, com a abertura de postos de trabalho no sector dorestauro do património regulamentando as respectivascarreiras e integração estatutária, com a defesa do Patri-mónio como qualidade de vida, com a melhoria de servi-ços culturais do Estado, devidamente articulados, etc.

Ao assumir este projecto alternativo de Esquerda e dePoder, em nome de uma Democracia de corpo inteiro, oPCP reivindica como seus os princípios de uma Culturapartilhada, fraterna, igualitária, livre, dotada de mais-valiasocial e de «autonomia relativa» entre si, como referentesde perenidade.

O PCP - que defendeu no seu anterior Programa Eleitorala criação de um Ministério da Cultura que «assegure efomente a liberdade e diversidade da produção cultural eque, com a participação dos produtores culturais, articulee potencie as condições e criação e fruição culturais atra-vés de interacções a vários níveis (incluindo inter-ministe-riais) no sentido do desenvolvimento e da democratiza-ção culturais» - está seguro de que nem estas grandesintenções foram viabilizadas (pesem os anunciadostriunfalismos de balanço), nem o MC criado pelo governodo PS foi capaz de cumprir cabalmente o conjunto de

«grandes causas» em que se propôs intervir.A complexidade e a dimensão das questões em causa e adiversidade de agentes e intervenientes directos e indi-rectos na área cultural exige uma actuação e uma orienta-ção políticas que, em vez de inúteis conselhos e comis-sões, promova os espaços de efectiva concertação e arti-culação de recursos, acções, meios e estratégias. É ape-nas sobre uma tal base que será possível programar edesenvolver, à altura das necessidades a verdadeira es-tratégia de defesa e desenvolvimento integral da culturaportuguesa de que o país necessita.

A democratização da Cultura é orientação estratégica parao desenvolvimento democrático de Portugal. Significa oentendimento da Cultura, não como privilégio nem comoum mero sector da produção e circulação de mercadori-as, mas como um factor de transformação da vida, assen-te na elevação do exercício dos direitos culturais e no re-conhecimento das necessidades, aptidões e aspiraçõesculturais do povo português.

Assim, o PCP define seis objectivos estratégicos es-senciais :

— o apoio à reabilitação do património cultural, nasua efectiva dimensão social transformadora en-quanto instrumento potenciador da identidadenacional, e o apoio à criação contemporânea, en-tendidos ambos como vectores de uma mesmaorientação estratégica;

— o apoio à formação e profissionalização dos agen-tes culturais e às instituições populares de produ-ção e comunicação cultural, reconhecendo o di-reito dos produtores, fruidores e demais agentesà participação na definição das políticas, e asse-gurando a sua função social reguladora;

— a defesa de um maior equilíbrio entre as instânci-as central, regional e local na perspectiva do aces-so das populações à criação e recepção dos bensculturais, descentralizando efectivamente o aces-so aos bens e equipamentos culturais, promoven-do uma articulação flexível entre as estruturas depoder e as instâncias de produção, criação efruição (artistas, associações, fundações, acade-mias, escolas, empresas);

— o apoio à afirmação do português, na sua diversi-dade, como língua internacional; a promoção dacriação cultural portuguesa no mundo, designa-damente no espaço europeu, no Brasil e no espa-ço africano lusófono, no mundo ibero-americanoe no oriente, e à recepção crítica das culturas in-ternacionais;

— a defesa de uma profunda reforma e revitalizaçãodo ensino artístico nos seus vários níveis, e dacomponente de desenvolvimento da criatividadeartística e da formação do interesse cultural nodecurso da escolaridade obrigatória;

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— a defesa de um Ministério da Cultura inter-activo,dotado de um orçamento maior e em processo decrescimento, estrategicamente ligado na sua ac-ção a outros ministérios e secretarias de Estado,reconhecendo e potenciando os efeitos culturaisda educação e do ensino, da ciência e da comuni-cação social.

Património

Para a área específica do estudo, salvaguarda e reabilita-ção do nosso rico mas muito depauperado Património His-tórico-Cultural, Arqueológico e Artístico - dentro da cons-ciência alargada e globalizadora que os comunistas de-têm face a esse património -, o PCP propõe sete medi-das com carácter de urgência :

— que o princípio da «gestão integrada» de monu-mentos, edifícios e bens seja consolidado no seiodo MC, não através de decretos impostos a ou-tras tutelas do Estado (Finanças, Plano, Defesa,etc.), antes através de um reforço do diálogo e daconfiança entre as diversas instituições envolvi-das, de modo a controlar recursos humanos e fi-nanceiros, a definir prioridades cíclicas e apotencializar o poder de intervenção a partir deuma direcção unívoca;

— que o prometido (mas sempre adiado) PactoPatrimonial a firmar entre o Estado e as entida-des que detêm bens patrimoniais (a Igreja Católi-ca, as instituições privadas, as misericórdias, asacademias, as associações e empresas, etc.), ecom os técnicos de conservação e restauro, sejaconstruído em nome do reforço da confiançadialogal entre partes, que congregue as entida-des envolvidas sem excepção, reforçando a sal-vaguarda e a classificação, em nome de valoresidentitários consensuais;

— que o Inventário de Bens Patrimoniais nacionais,nunca cumprido por falta de coragem política de-vido a um bloqueio (ainda que não declarado), sejafinalmente levado à prática, em moldes de registoexaustivo (ao nível dos cinco inventários sectoriais:do património edificado, móvel, arqueológico, do-cumental e inorgânico), de forma a devolver-se aopovo português o exacto conhecimento das exis-tências e a estancar a sangria da rapina e da des-truição em vastas zonas do tecido nacional;

— que a Lei-Quadro do Património Cultural, instru-mento fundamental de salvaguarda, possa ser -depois de revista à luz dos princípios da Lei Qua-dro nº 13/85 (nunca regulamentada), e de melho-rada em substância a proposta recém-reprovadana Assembleia da República - consensualmenteviabilizada e, enfim, regulamentada;

— que o poder decisório do Estado em matériaexecutiva, no que toca às intervenções em cen-

tros históricos e monumentos classificados, assen-te numa maior eficácia da conservação preventi-va, da expropriação concertada, da definição deáreas protectoras, e de reforço do restauro, emnome de sãos princípios de pluri-disciplinariedadede trabalho aceites pelas normas internacionaisestabelecidas;

— que a regulamentação, em bases legislativas, daprática antiquária, se processe de forma a nor-malizar a sua actividade, muitas vezes à margemdos interesses nacionais, a redefinir a noção de«arrolamento», e a estancar o escandaloso eincontrolado processo de depauperamento dosbens culturais móveis;

— que o poder de intervenção a nível do patrimónioinorgânico (oralidade, teatro popular, romarias,poesia ingénua, festividades populares, etc.), sejareforçado, por ser justamente o mais ameaçadode desaparecimento à míngua de registos de do-cumentação antropológica e de instrumentos decontrolo adequados;

— que a formação de quadros técnicos na área daconservação preventiva e do restauro seja eficaz-mente apoiada, com incentivo aos trabalhadorese regulamentação das respectivas carreiras.

Actividade literáriaLeitura, edição e cir culação do livr o

Para incentivo da criação literária, para o incremento econsolidação dos hábitos de leitura, para o incentivo àedição e circulação do livro, para o estímulo à produção edivulgação universal de conteúdos feitos em Portugal eem língua portuguesa, o PCP propõe:

Incentivo da criação literária

— Continuação do apoio do Estado aos autores atra-vés da concessão de bolsas para a criação literá-ria, incluindo a criação e publicação de textosespecializados e lacunares, e o apoio à edição deobras de novos autores;

— medidas incentivadoras ao lançamento de novosprémios literários nas várias áreas da criação lite-rária, e apoio aos prémios já existentes;

— estudo das formas de generalizar a fiscalizaçãode tiragens por intermédio das sociedades de de-fesa autorais;

— revisão da legislação fiscal aplicável aos rendimen-tos provenientes dos direitos autorais;

— definição dos critérios legais com vista à protec-ção dos autores em situação económica difícil;

— estudo urgente, em colaboração com as socieda-des de direitos autorais, dos efeitos dos direitosautorais sobre textos na Internet.

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Incremento e consolidação dos hábitos deleitura

— Reforço da política de cooperação entre a admi-nistração central e as autarquias, com vista à ace-leração do alargamento da rede de bibliotecaspúblicas, de forma a cobrir todos os concelhos dopaís no mais breve prazo;

— dotação do FEF de verbas que permitam àsautarquias desenvolver o aproveitamento dos equi-pamentos já existentes na Rede de Leitura Pública;

— aceleração da implantação da rede de bibliotecasescolares, dotando-as de fundos bibliográficos emeios humanos capazes de cumprir a sua função;

— especialização e formação de quadros, na gestãodas bibliotecas escolares, tornando-os verdadei-ros agentes dinamizadores do gosto de ler e dointeresse pela leitura.

Incentivo à edição e circulação do livro

— Prosseguimento, com a necessária avaliação da prá-tica verificada, da política do preço fixo do livro(reavaliando os diplomas existentes e introduzindoas alterações cuja necessidade seja verificável pelaprática dos últimos três anos) instituindo uma fisca-lização eficaz do cumprimento da Lei do Preço Fixo;

— melhoria da Lei da Cópia Privada, através da subs-tituição da recentemente criada AGECOP (Asso-ciação para a Gestão da Cópia Privada) por duasassociações, uma para a gestão da reprografia eoutra para a gestão da cópia sonora e audiovisual;

— redução da taxa do IVA na venda de livros, e inter-venção junto do Parlamento Europeu para a elimi-nação progressiva do IVA na Comunidade Europeia,através de legislação a nível comunitário;

— pagamento pelo Estado aos editores dos livrosrequisitados para as bibliotecas centrais em cum-primento da Lei do Depósito Legal;

— desoneração das ofertas de livros feitas por edito-res ou livreiros às entidades sem fins lucrativos ouàs instituições que usufruam do estatuto de utilida-de pública, eliminando o IVA nessas operações;

— lançamento de incentivos à modernização do par-que gráfico nacional, com particular atenção aosequipamentos capazes de assegurar de uma for-ma rentável pequenas tiragens e, por conseguin-te, garantir uma edição diversificada e plural;

— estabelecimento de todo um programa para a for-mação profissional e a qualificação dos quadrosdo sector nas diversas fases de produção ecomercialização do livro, desenvolvendo as com-petências dos recursos humanos nos sectores li-vreiro e editorial;

— incentivo ao estabelecimento de livrarias nas lo-calidades do interior (periféricas), nomeadamen-

te em zonas desfavorecidas;

— incentivo à modernização das livrarias existentes;

— apoio e estímulo a iniciativas locais de dinamizaçãodo livro e da leitura (feiras e mercados do livro),bem como à deslocação dos autores a escolas,clubes, associações.

Ar tes plásticas e design

O PCP propõe medidas de apoio à criação e à divulga-ção, e uma orientação que vise assegurar o acesso aosapoios e incentivos em condições de equidade na avalia-ção de projectos e propostas, combatendo o dirigismocultural e o estreitamento do leque e do confronto de op-ções formais ou estéticas.

Apoio à criação e aos projectos de investiga-ção disciplinar, técnica e estética :

— a generalização da concessão de bolsas de longaduração, a actualização e o aumento das bolsas,a plena utilização das potencialidades existentese a desenvolver no quadro de acordos de coope-ração e intercâmbio internacionais;

— a comparticipação financeira em projectos de ins-talação e equipamento de “ateliers” e oficinas, e oincentivo à reserva de espaços destinados à suainstalação nos programas de certas operações ur-banísticas;

— uma política sustentada de aquisição de obras deautores portugueses para as colecções do Estado;

— o incentivo a uma forte diversificação de projectosde arte pública, incluindo os de natureza efémera,e a generalização do acesso à sua encomendaatravés do concurso público;

— o incentivo ao design nacional nas suas váriasvertentes, nomeadamente através da cooperaçãoentre ministérios visando o apoio à produção edifusão do design nacional, tanto à escala da gran-de como da pequena e média produção.

Apoio à divulgação :

— a atribuição de subsídios a jovens criadores paraa realização de primeiras exposições ou publica-ções de trabalhos;

— uma política de apoio a projectos de itinerância,nomeadamente a projectos de exposições colec-tivas itinerantes e outras formas de divulgação nopaís e no estrangeiro da obra de criadores nacio-nais (assumindo formas inovadoras, como porexemplo, um combóio-galeria de exposições);

— uma rotação planificada do acervo das colecçõesdo Estado, e em particular das suas aquisições maisrecentes, pelos edifícios da administração pública,nomeadamente as instalações diplomáticas;

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— o incentivo à criação de uma rede nacional degalerias, que promova e apoie a organização deprojectos em todas as regiões do país.

Ar tes do espectáculo

Sobre as Artes do Espectáculo – teatro, música, dança ebailado – o PCP apresenta os seguintes vectores estraté-gicos comuns: reestruturação e criação de condições defuncionamento para os pólos públicos de actividade emcada um dos sectores; dotação do país com uma redenacional de salas de espectáculos dotadas de capacida-de de programação, técnicas e de acolhimento das diver-sas artes; reestruturação e reforço do ensino artístico, apar das formações específicas; criação de uma linha deapoio a projectos que utilizem e cruzem formas de expres-são artística diversas, a partir do IPAG, ICAM e IAC, ten-dente ao desenvolvimento de pesquisas, quer a níveltecnológico quer a outros, e a um maior diálogo entre asdisciplinas e colaboração entre artistas de várias áreas.

Música e cultura musical

— Criação de uma rede nacional de Orquestras fun-cionando nos parâmetros definidos pela lei e cons-tituição de Orquestras Sinfónicas em Lisboa e noPorto com estrutura adequada;

— criação no Teatro Nacional de S. Carlos de umaCompanhia Portuguesa de Ópera com estruturasadequadas, com repertório próprio e que dê es-paço a produções nacionais;

— protecção a outras Orquestras, coros e agrupa-mentos musicais e à situação profissional dosmúsicos portugueses;

— constituição de centros de formação musical, re-gionais e locais, em estreita ligação com asAutarquias e partindo das instituições musicaisexistentes;

— integração da música de raiz popular na políticade subsídios para o sector;

— criação de mecanismos de apoio às itinerâncias;

— definição de uma política fiscal adequada na aqui-sição de bens de produção para os artistas, no-meadamente através da redução da taxa do IVAnos instrumentos e acessórios musicais;

— desenvolvimento de uma política de apoio materi-al, técnico e financeiro às escolas de música, ban-das e outras associações que desempenham pa-pel relevante na formação e divulgação musicais;

— reestruturação e reforço de todos os níveis deensino de música, tendo como pressuposto o ne-cessário aprofundamento da cultura musical e as-sumindo esta formação como um vector impor-tante da cultura geral e da formação dos portu-gueses, a par das culturas e saberes específicosque a escola transmite e recria;

— desenvolvimento de programas coerentes de di-fusão musical a nível nacional, incluindo o reforçodo papel dos serviços públicos da RTP e da RDPnesta área, designadamente através de transmis-são em directo e gravação de espectáculos;

— apoio à produção e divulgação de música contem-porânea erudita e de raiz popular;

— protecção, edição sistemática, divulgação e pro-moção de obras de autores portugueses de todasas épocas.

Teatro

— Elaboração de uma lei de bases de actividade te-atral com as seguintes finalidades essenciais:

l estabelecimento do sector público de activi-dade, definindo claramente os objectivos,meios e funcionamentos dos Teatros Nacio-nais; clarificação das responsabilidades e doestatuto de participação a diversos níveis dospoderes central, regional e local no apoio àcriação e produção teatrais; prossecução doprograma de dotação do país com uma redede salas de espectáculos, dotadas de capaci-dades de programação, técnicas e de acolhi-mento de jovens companhias ou jovens cria-dores, a par de uma política de criação decondições para a fixação de criadores teatrais;pôr fim à destruição e desafectação de espa-ços teatrais existentes (designadamente o Par-que Mayer); rentabilização de espaços teatraisexistente através do estabelecimento de pro-tocolos;

— elaboração do estatuto profissional de Teatro quepromova a dignificação e o papel dos diversosintervenientes no processo de criação teatral; re-gulamentação e aplicação dos direitos conexos;

— apoio à dramaturgia portuguesa, nomeadamenteatravés da promoção do trabalho regular de dra-maturgos junto das estruturas de produção e daarticulação com os agentes e associações do sec-tor, tais como a SPA e as Universidades, e doaprofundamento das relações, nesta área, com osPALOP;

— desenvolvimento de uma política coerente de in-formação e produção teatrais, designadamentenos serviços da RTP e RDP e de divulgação deespectáculos considerados de interesse artísticoe cultural;

— promoção de maior interligação e acções comunsentre os Ministérios da Cultura e da Educação noâmbito do Teatro para a infância e juventude;

— reestruturação e reforço de todos os níveis deensino do teatro, tendo como princípio a impres-cindibilidade do aprofundamento da cultura geraldos portugueses no domínio das artes a par dossaberes e conhecimentos específicos;

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— criar condições para que o Museu do Teatro cum-pra as funções de registo, investigação e divulga-ção das obras apresentadas e alargue o âmbitodo seu objecto;

— definição e implementação de medidas de emer-gência na criação de estruturas comuns de en-saio e produção apetrechadas tecnicamente paraacolher os múltiplos projectos que não dispõemde espaços próprios, particularmente em Lisboae no Porto;

— criação de uma Companhia Nacional de Revistaà Portuguesa, a ser instalada no Parque Mayer,que englobe actividades como a criação de cur-sos de escrita, cenografia, figurinos, etc..

Dança e bailado

— Reforço da dotação orçamental global para a dan-ça, acompanhando o crescimento do sector, e cri-ação de condições para que as estruturasconvencionadas possam funcionar de forma con-tínua e consequente;

— revisão do processo e regulamento do concursopara atribuição de apoios a projectos pontuais decriação de modo a fomentar o desenvolvimentodo trabalho regular e a estimular co-produções;

— criação e recuperação de salas de espectáculos,dotadas de capacidades de programação e técni-cas, quer nos grandes centros urbanos quer emáreas geográficas mais desfavorecidas e promo-ção de um adequado programa de itinerância;

— reestruturação da Companhia Nacional de Baila-do, com estatuto e orçamento próprios;

— reestruturação e reforço de todos os níveis deensino da dança;

— concessão de bolsas de estudo no estrangeiro eapoio à internacionalização dos agentes nacionais;

— legislação sobre o estatuto profissional do profissi-onal de dança e bailado como de desgaste rápido.

Produção e difusão do cinema edo audio visual

— Criação de legislação para uma política de Cine-ma em Portugal, que abranja todas as áreas - pro-dução, distribuição e exibição. Uma lei transparentee defensora do cinema que se faz no nosso país edo respeito por quem nele trabalha;

— uma efectiva protecção do Cinema Português eEuropeu visando introduzir factores de reequilíbriono panorama da distribuição e da exibição, pro-porcionando um maior acesso do público não ape-nas ao cinema português e europeu, mas a todasas cinematografias nacionais e minoritárias. A in-trodução de um sistema de quotas nos canais de

distribuição e exibição, com o objectivo de contro-lar quem planifica e determina o panorama cine-matográfico no nosso país;

— reformulação da actuação do Instituto do CinemaAudiovisual e Multimédia, desgovernamentalizan-do-o e gerindo-o com transparência;

— extensão das actividades da Cinemateca Portu-guesa/Museu de Cinema a todo o país, reforçodos seus meios de arquivo, conservação e res-tauro como consequência da dinamização do Ar-quivo Nacional de Imagens em Movimento, alar-gamento do acesso e empréstimo de documenta-ção/ filmes à sua guarda;

— estabelecimento de políticas concretas de finan-ciamento e subsídios à produção, prioritariamenteem áreas comercialmente desfavorecidas,designadamente as de ficção de autor, da curta-metragem e da animação;

— reconhecimento e apoio dos Cine-Clubes e ou-tros que contribuem para o incremento da práticae cultura cinematográfica por todo o país;

— reforço do programa “Cinema nas Escolas” com odestacamento de meios humanos e técnicos paraapoio a este projecto;

— reformulação da Radiotelevisão Portuguesa emtermos de verdadeiro serviço público, com espe-cial incidência na sua desgovernamentalização, nofomento de produção própria, na vivificação dasdelegações regionais, nos programas por satéli-te, no apoio às televisões dos PALOP’s e na sal-vaguarda do acervo audiovisual criado e a criar;

— exigência de rigor no cumprimento das obrigaçõesdecorrentes da lei e dos compromissos assumi-dos no que se refere aos operadores privados detelevisão;

— favorecimento de empreendimentos conjuntos deprodutores cinematográficos e operadorestelevisivos, designadamente a RTP no campo daficção, ressalvando o primado das salas na difu-são das obras resultantes.

nCOMUNICAÇÃO SOCIALNos últimos quatro anos, apesar da publicação de algunsdiplomas legais de conteúdo positivo, como a Lei de Im-prensa e o Estatuto dos Jornalistas, para cuja aprovaçãoo PCP contribuiu de forma determinante, não se alteroupara melhor o panorama geral da comunicação social emPortugal.

De facto, em consequência, nomeadamente, da intensifi-cação do processo de concentração da propriedade dosmeios de comunicação, acentuou-se a fragilização das con-

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dições de exercício da profissão de jornalista e de outrasactividades inerentes ao universo mediático, tanto no planoda insegurança laboral, como no da salvaguarda dos res-pectivos códigos deontológicos. A informação produzidapelos canais de televisão, integrando-se na luta pelas au-diências e na captação de receitas publicitárias, influencia-da pela lógica comercial que tudo contamina, constituiu-secomo paradigma e disseminou no sector a especta-cularização e o tratamento sensacionalista da informação,a exploração da fragilidade dos sentimentos humanos, asuperficialidade das abordagens, a invasão da vida íntimados cidadãos, contribuindo para uma menor diligência dosjornalistas na certificação dos factos e acabando por criarum modelo informativo deontolo-gicamente criticável mascom irrecusável capacidade de se impor como padrão faceaos restantes meios de comunicação social.

Em matéria de serviço público de televisão, ficou patentea total incapacidade do Governo PS para superar a situa-ção de grave crise da RTP que herdou da gestão do PSD.Em vez de uma reestruturação séria da empresa, levadaa cabo em diálogo com os respectivos trabalhadores econducente à dignificação da prestação do Serviço Públi-co, assistiu-se a uma instabilidade de chefias quase per-manente, à indefinição de uma estratégia coerente para oServiço Público de Televisão, a tentativas de pseudo-reestruturações sectoriais que escondem mal os objecti-vos de privatização dos sectores potencialmente mais ren-táveis, como a produção. O Governo PS alterou por diver-sas vezes os responsáveis pela RTP, mas não alterou pra-ticamente em nada os processos e as concepção de ges-tão que conduziram à situação de crise da RTP que nãocessou de se agravar nestes últimos quatro anos.

Ao contrário do que havia prometido quando era oposi-ção, o PS não teve uma política consequente de apoio àimprensa regional e às rádios locais. A generalidade dasinstituições públicas continua a não veicular a respectivapublicidade institucional através da comunicação sociallocal e regional, foi alterada a legislação relativa à cele-bração de escrituras públicas por forma a privar a impren-sa regional de um dos seus principais sustentáculoseconómicos e só a acção do PCP na Assembleia da Re-pública conseguiu impedir que o Governo PS levasse pordiante os seus intentos de acabar com o porte pago a100% para a imprensa regional.

A recente evolução da comunicação social em Portugal,pese embora estar a ser servida por profissionais maisqualificados e crescentemente preocupados com o exer-cício dos seus direitos e deveres, não tem favorecido oreforço dos valores do Estado democrático, tal como seencontra caracterizado na Constituição, tendo-se acen-tuado a contaminação dos conceitos jornalísticos e dosprincípios deontológicos pela prevalência dos valoresmercantilistas adoptados pelos detentores reais do podersobre os media. Esta situação justifica que a área da co-municação social seja considerada uma área de interven-

ção prioritária de qualquer governo que pretenda rompercom os erros do passado.

O PCP considera que a inversão da actual situação nosector se torna necessária à estabilidade e reforço do re-gime democrático e, nesse sentido, define as seguinteslinhas gerais de actuação e medidas específicas concre-tas que pretende levar à prática no âmbito da sua activi-dade partidária e institucional.

Linhas Gerais de actuação

O pluralismo de expressão constitui elemento estruturantedo nosso regime político e implica a existência de um “ser-viço público” na comunicação social, que deve ser asse-gurado, nomeadamente, pelas empresas do sector públi-co de rádio e televisão às quais tal serviço seja conces-sionado.

No meio audiovisual, o “serviço público” assenta numa in-formação autónoma das pressões exteriores, deonto-logicamente rigorosa e isenta, aberta ao confronto de po-sições e às diferentes problemáticas que afectam e deter-minam o viver dos portugueses.

No plano da programação, o “serviço público” caracteriza-se por ser generalista; exigente quanto à qualidade do quedifunde; valorizador do património cultural português, dosseus criadores e intérpretes; potenciador dos meios ma-teriais e humanos de que dispõe; capaz de inovar e expe-rimentar; aberto ao intercâmbio cultural e ao reforço dorelacionamento do interior do espaço geográfico da lín-gua portuguesa.

A gestão do “serviço público” deverá evoluir no sentido deassegurar a sua independência face ao poder político, oque passa designadamente pela existência de “conselhosde opinião” com poderes efectivos de fiscalização, pelanomeação para as administrações de elementos propos-tos pelos trabalhadores dos respectivos órgãos de comu-nicação social e pela atribuição aos “conselhos de redac-ção” de meios de actuação que reforcem a vida democrá-tica das redacções, especialmente na elaboração e apro-vação dos “livros de estilo”, no sancionamento das ofen-sas à deontologia profissional e na emissão de pareceresprévios e vinculativos, aquando da nomeação de directo-res de informação.

Os operadores privados de televisão e rádio devem res-peitar os condicionamentos criados pelo quadro legal vi-gente e os que decorrem dos alvarás e das obrigaçõesemergentes das licenças de emissão.

Rádios locais e imprensa regional devem ser objecto deuma intervenção legislativa que reconheça a importânciada função social e cultural que desempenham e a disponi-bilidade do Estado democrático para assegurar as condi-

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ções da sua viabilização. Deverão ser criados sistemas deapoio para a imprensa regional e para as rádios locais,geridos por entidades independentes do governo, nas quaisse incluam elementos designados pelas estruturas repre-sentativas destes meios de comunicação social e promo-vidas medidas tendentes a assegurar o reforço das suasreceitas próprias.

Torna-se imperioso travar e fazer retroceder a crescentecontradição entre as características pluralistas da estrutu-ra democrática do regime e a concentração da proprieda-de dos meios de comunicação social, à qual o actual Go-verno tem sido incapaz de se opor.

Nesse sentido, deverá publicar-se a legislação anti-monopolista prevista na Constituição e deverão seradoptadas medidas legais que introduzam a transparên-cia na formação do capital das empresas do sector e es-tabeleçam os seus limites.

Medidas específicas :

— Uma reestruturação da RTP que estabeleça osprincípios de uma gestão independente do poderpolítico e as contrapartidas essenciais ao prosse-guimento dos seus objectivos: manutenção de doiscanais, abrangendo as Regiões Autónomas dosAçores e Madeira e dos Serviços Internacionais(RTP Internacional e RTP África), pluralismo in-formativo, condições para a expressão e o con-fronto das diferentes correntes de opinião, quali-dade e diversidade da programação, conservaçãoe dinamização do seu arquivo, reconversãotecnológica, aproveitamento dos meios materiaise humanos existentes incentivando a produçãoprópria e revitalizando as delegação regionais;

— uma regulamentação da Lei de Televisão que en-quadre as questões colocadas pela criação detelevisões regionais, designadamente no âmbitoda televisão digital, por forma a evitar a sua con-centração, e que estabeleça com clareza as obri-gações sociais e culturais decorrentes da explo-ração privada de canais de televisão;

— um Estatuto da RDP que garanta a sua indepen-dência e o pluralismo informativo, definidor danatureza do “serviço público” radiofónico e dasobrigações inerentes e que estabeleça directivasque conduzam ao completo aproveitamento dacompetência e dedicação dos seus profissionais;

— a reformulação do quadro legal das rádios locaispara impedir a sua concentração e a perda dassuas características originárias; definição de umsistema de apoios que valorize os projectos inse-ridos nas realidades culturais e cívicas das comu-nidades que essas rádios servem; adopção de umsistema de fiscalização do carácter local das rádi-os locais não apenas através da titularidade dos

respectivos alvarás mas através do carácter efec-tivamente local da respectiva programação;

— a reorganização do sistema de apoios à imprensaregional criando as condições que promovam assuas receitas próprias, apoiando a distribuição dosperiódicos, promovendo a equidade na publica-ção de anúncios oficiais e as formas de coopera-ção no sentido da redução dos custos de produ-ção, garantindo a intervenção efectiva das suasassociações representativas em todo o processode concessão de meios financeiros do Estado;

— reforço do papel desempenhado pela LUSA, as-sumindo o Estado português as suas inequívocasresponsabilidades num meio de comunicação so-cial que é, simultaneamente, um elemento do sis-tema de apoios públicos à comunicação social eum elo essencial no relacionamento entre os paí-ses de língua portuguesa, garantindo a manuten-ção de um serviço informativo plural comerciali-zado a preços acessíveis e a criação de novosserviços;

— aproveitamento das novas possibilidadestecnológicas no domínio da comunicação social,designadamente a televisão digital, a rádio emDAB ou a comunicação através da Internet, porforma a garantir a acessibilidade de tais serviçosà generalidade da população e a evitar que taispossibilidades tecnológicas não venham a redun-dar no maior aprofundamento das desigualdadesentre os cidadãos em matéria de acesso à infor-mação;

— reforço dos direitos dos jornalistas, designa-damente através da regulamentação dos direitosde autor sobre a respectiva criação intelectual, doreforço da sua intervenção na orientação dos ór-gãos de comunicação social e do aperfeiçoamentoda protecção legal conferida ao sigilo profissional;

— a publicação da legislação anti-monopolista pre-vista na Constituição e a adopção de medidas le-gais que introduzam a transparência na formaçãodo capital das empresas do sector e estabeleçamos seus limites;

— aprofundamento das áreas de intervenção da AltaAutoridade para a Comunicação Social com agarantia de que a sua composição seja efectiva-mente pluralista - exigência essencial naestruturação de um órgão que deve assegurar opluralismo do sistema comunicacional.

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n Justiçan Liberdade, democracia, participaçãon Direitos, liberdades e garantiasn Sistema políticon Poder localn Regionalização/Desenvolvimento regionaln Autonomia regionaln Defesa nacional e Forças Armadasn Administração Interna e Forças de Segurançan Movimento associativo popular

Propostaspara o

APROFUNDAMENTODA DEMOCRACIA

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nJUSTIÇA1. Os quatro anos de mandato do actual Governo PS fo-ram marcados, na área da Justiça, por uma governaçãoque não soube resolver problemas e bloqueamentos detoda a ordem, que atingem há tempo demais uma Justiçaem crise e que corroem fundamentos do Estado de direitodemocrático, como são os direitos, liberdades e garantiasconstitucionais dos cidadãos.

O PCP reconhece a “pesada herança recebida” pelo Go-verno, as boas intenções proclamadas, as grandes pro-messas e até as várias medidas de sentido positivo. Maso Governo não mostrou nem vontade suficiente nem ca-pacidade política à altura da emergência e da necessida-de das mudanças reais e profundas que este sector hátanto reclama. Ao contrário, as imagens de marca do Go-verno do PS, na área da Justiça, são:

— a lentidão da Justiça, ou a sua denegação objec-tiva;

— a desigualdade no acesso aos Tribunais e na apli-cação da Justiça;

— o desconhecimento ou conhecimento incompletodos seus direitos por muitos cidadãos e em parti-cular por trabalhadores e pelos mais desfavore-cidos, e a incapacidade real de os fazer valer;

— a impunidade do crime económico;

— a crónica insuficiência de meios afectos à investi-gação criminal e à modernização do aparelho ju-diciário;

— as disfunções de um sistema prisional, incapaci-tado para o cumprimento da sua função re-socializadora;

— a conflitualidade permanente entre os agentes ju-diciários e os conflitos de interesses tornados apa-rentemente insanáveis.

Os cidadãos, particularmente os de mais fracos recursos,quando se trata de fazer valer direitos, liberdades e garan-tias, continuam confrontados com uma Justiça lenta, carae distante, com quase total ausência de informação judici-ária e com um apoio judiciário, na maioria dos casos, demenor qualidade.

O arrastamento infindável dos chamados mega proces-sos envolvendo alguns criminosos de “colarinho branco”,a excessiva morosidade dos processos e das próprias in-vestigações dos casos de corrupção, favorecimento e trá-fico de influências, grande tráfico de droga e branquea-mento de capitais, etc., estão na base da descredibilizaçãocrescente de um sistema de Justiça que favorece objecti-vamente as classes dominantes e os poderosos.

A modernização do aparelho judiciário, nas suas diversasver tentes (novos métodos, formação profissional,desburocratização e informatização) continua a não me-recer o empenho, as medidas e o investimento suficientespara a recuperação dos atrasos e ineficiências crónicoshá muito detectados.

Os Tribunais continuam, de ano para ano, mais atulhadosde processos e querelas que aí não deveriam ser dirimi-dos, ao mesmo tempo que é objectivamente descurada aatenção aos casos judiciais mais importantes e em riscode prescrição.

Com a chamada reforma legislativa, de reconhecida im-portância e necessidade, o Governo e a maioria socialistaque o apoia, não logrou, em muitos casos, por manifestainépcia e impreparação, alcançar os consensos indispen-sáveis à confiança jurídica que se deve impor e que deveresultar das novas soluções e da evolução dos instrumen-tos legislativos.

Já no final da legislatura a fúria privatizadora do Governoatingiu os notários e conservadores, privando o Estado derecursos e adulterando princípios que conferem um mani-festo carácter público a estes sectores.

2. O mal-estar latente entre todos os diversos operadoresjudiciários quanto à situação na Justiça, o acentuar de ten-sões e choques entre magistraturas, associações e ór-gãos do Poder Judicial, são sintomas fortes não apenasde problemas corporativos mal resolvidos, mas sobretudoda incapacidade da tutela e, em geral, dos órgãos de so-berania em atenuar contradições e concertar posições naprocura de vias de superação, com os interessados, dosproblemas existentes.

A degradação da situação na Justiça tem vindo a criarcondições de especial vulnerabilidade do Poder Judicialface a estratégias que sempre apostaram no seu enfra-quecimento e instrumentalização, na limitação da indepen-dência dos Tribunais - o que constituiria um sério riscopara o próprio regime democrático constitucional.

O PCP foi, ao longo dos últimos quatro anos, uma forçapolítica particularmente interveniente nesta área, aliandoà denúncia das causas da crise uma iniciativa responsá-vel e séria, quer através de inúmeras tomadas de posiçãoquer por via de propostas construtivas, legislativas e ou-tras, de alcance reconhecido para a solução dos proble-mas da Justiça.

É neste quadro, e com determinação, que o PCP se com-promete a dar o seu contributo empenhado, não apenaspara o debate exaustivo e aprofundado sobre o sistemajudicial e novos caminhos a empreender como, acima detudo, na apresentação de propostas políticas e legislativasque concretizem as medidas necessárias para ultrapas-sar a crise existente.

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Na próxima legislatura o PCP apresentará iniciativaslegislativas que contribuam decisivamente para tor-nar a Justiça mais célere, mais próxima dos cidadãos,mais igualitária.

Nesse sentido, apresentará as seguintes propostas:

— criação dos Julgados de Paz, previstos na Consti-tuição, como Tribunais para o julgamento de pe-quenas causas, com estruturas menos formaliza-das e formas processuais mais simples, tendo oduplo objectivo de descongestionar os Tribunais ealcançar uma Justiça de maior proximidade aoscidadãos, ao nível de freguesia ou de conjuntosde freguesias;

— criação da figura do Defensor Público, no âmbitode um Instituto Público de acesso ao Direito, des-tinado a garantir aos cidadãos de menores recur-sos uma Justiça de maior qualidade, sistema utili-zado com êxito noutros países, não pondo em cau-sa a advocacia como profissão liberal;

— conjunto de medidas contra a morosidade proces-sual, tendo por objectivo tornar a Justiça mais rá-pida, combatendo o excesso de formalismo e con-cretizando medidas de simplificação processual,sem prejuízo dos direitos e garantias constitucio-nais;

— incremento de estruturas e formas de mediaçãofamiliar que permitam subtrair aos tribunais algu-mas formas de litigiosidade a esse nível;

— rápida modernização e desburocratização do apa-relho judicial e melhoria das condições de traba-lho dos operadores judiciários;

— melhoria da assessoria técnica e dos meiosinformáticos e tecnológicos ao dispor dos magis-trados, que permitam melhorar a celeridade da suaactuação e a informação disponível;

— reforço e optimização dos meios à disposição dasautoridades judiciais e dos órgãos de polícia cri-minal, com vista a uma melhor e mais rápida in-vestigação criminal;

— concretização de medidas legislativas e adminis-trativas que, com salvaguarda dos direitos consti-tucionais, reduzam a possibilidade de manipula-ção dilatória da investigação e julgamento da altacriminalidade, criminalidade económica e “crimesde colarinho branco”;

— reforço da cooperação judiciária, por via de umamaior articulação entre as autoridades judiciais ede mecanismos que confiram mais eficácia à pre-venção e ao combate à criminalidade transna-cional;

— concretização de alternativas às penas de prisãoe ao excesso de prisão preventiva, dignificaçãoda situação dos reclusos e medidas de efectiva

reinserção eficazes na prevenção da reincidênciano crime e na delinquência;

— organização de um programa de divulgação sis-temática da função social do Direito e dos Tribu-nais, começando pelas escolas e através de ou-tros meios;

— dignificação do estágio dos advogados, com mai-or responsabilização pública na sua formação eapoio;

— defesa do notariado público, e da sua moderniza-ção, como garante da fé pública e como activida-de que assegura ao Estado uma importante fontede financiamento do sistema da Justiça;

— criação de um Observatório da Administração daJustiça, junto da Assembleia da República, com aparticipação de elementos vindos dos Tribunais edas instituições representativas dos profissionaisde Justiça, das universidades, da comunicaçãosocial e outros.

nLIBERDADE, DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃOOs direitos, liberdades e garantias continuam a não serassegurados completamente. Este facto coexiste com ainsegurança que se vive, sobretudo nos meios urbanos. Éimperioso rectificar a situação. É preciso conjugar as li-berdades e a segurança dos cidadãos. É especialmenteurgente garantir o pluralismo e igualdade de oportunida-des na comunicação social. Por outro lado, impõe-se umapolítica de acesso ao direito e de democratização da justi-ça, que continua cara e lenta, e garantir a sua efectivaindependência.

Em matéria de direitos, liberdades e garantias é importan-te que estas não fiquem à porta das empresas. O PCPnão aceita que nestas impere, muitas vezes, oautoritarismo. Não aceita a inviabilização da actuação dosrepresentantes dos trabalhadores.

Mais liberdade tem que ser acompanhada de mais segu-rança.

Em matéria de aprofundamento da democraticidade dosistema impõe-se valorizar as formas de controlo demo-crático do poder político e de prevenção efectiva de abu-sos de poder, abertos ou encapotados.

Impõe-se por isso a valorização efectiva do papel daAssembleia da República como órgão legislativo,fiscalizador, de debate político e de participação na direc-ção do processo de integração de Portugal na UniãoEuropeia.

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É sobretudo o próprio cidadão que tem que ter um papelreforçado. Neste aspecto podemos destacar algumas pro-postas: a possibilidade de grupos de cidadãos apre-sentarem projectos de lei, tomarem a iniciativa de re-ferendos e solicitarem a fiscalização de constitucio-nalidade de diplomas .

Quanto à democracia participativa, existe um amplo lequede direitos de participação, consagrados na Constituiçãoe na lei e que devem ter a projecção prática que não têmtido. Salienta-se a participação dos trabalhadores naelaboração da legislação do trabalho, dos sindicatosna gestão da segurança social, de representantes dostrabalhadores na gestão das empresas públicas, dasassociações de defesa do ambiente na política doambiente, de estudantes, pais e professores na políti-ca de educação , etc..

Um objectivo essencial do projecto do PCP é adescentralização . A sua realização implica valorizar si-multaneamente os municípios e as freguesias e instituiras regiões nos termos que vierem a ser estabelecidos.

Impõe-se inverter a política de centralização de recursos,de imposição de encargos e de asfixia financeira dasautarquias.

Defender os direitos, liberdades e garantias, assegurandoo seu exercício efectivo, garantir a segurança, tornar ademocracia representativa mais genuína, defendendo oreal alcance da representação proporcional na conversãode votos em mandatos, assegurar a democraciaparticipativa, tornando-a numa prática quotidiana aos maisdiferentes níveis, democratizar a Administração Pública,descentralizando-a e desburocratizando-a, são alguns dosobjectivos essenciais que o PCP defende.

nDIREITOS, LIBERDADESE GARANTIAS

Os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e doscidadãos em geral foram duramente conquistados. Massão muitos os portugueses que não os conhecem, nãosabem como hão-de fazê-los valer na prática ou que osvêem negados.

Estamos perante um problema que não tem só a ver como sistema de justiça, mas também com os sistemas deeducação, de cultura, de produção e com a sociedade noseu conjunto.

Existe, de facto, um grave problema de carência do exer-cício de direitos, liberdades e garantias no plano político.

As limitações dos direitos fundamentais dos trabalhado-res, designadamente a crescente precarização do traba-

lho, a permanente discussão sobre o horário de trabalho,a tentativa de restringir o direito de greve e a promoção deuma prática de negação do direito de acção sindical, par-ticularmente dentro da empresa, têm um conteúdo e pro-jecção especialmente importantes.

Para o reforço da democracia portuguesa e da protecçãodos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos em ge-ral e dos trabalhadores em particular, o PCP propõe:

— clarificação da obrigação do Estado de criar ascondições para a efectivação do princípio da igual-dade, designadamente atenuando e eliminando asdesigualdades sociais, económicas e culturaisentre os cidadãos;

— revisão da legislação sobre entrada, permanên-cia, saída e expulsão de estrangeiros em Portu-gal, permitindo a apreciação judicial, com efeitospráticos, das decisões administrativas de expul-são e abandonando uma concepção - que resul-ta da lei actual - que trata todos os cidadãos nãocomunitários como potenciais delinquentes;

— garantia plena da liberdade de expressão, da li-berdade de imprensa, do direito à informação,nomeadamente através de medidas anticoncen-tração e de transparência da titularidade do capi-tal social das empresas de comunicação social;

— consagração de especial protecção à comunica-ção social de âmbito regional e local, especialmen-te à imprensa e rádios locais;

— reforço dos direitos dos profissionais da comuni-cação social;

— defesa dos serviços públicos de rádio e televisão;

— reforço das garantias de acesso à justiça,designadamente pela clarificação de que o aces-so aos tribunais não pode ser dificultado pela ex-cessiva onerosidade dos serviços de justiça e deque o direito à justiça é também um direito à justi-ça célere e de consagração de providências ex-peditas junto dos tribunais para defesa de certosdireitos fundamentais;

— garantia efectiva do direito de acção popular, con-sagrado na Constituição, conferindo a todos, pes-soalmente ou através de associações, o direito dedefender junto dos tribunais interesses colectivos,em áreas como o ambiente, a saúde pública, opatrimónio e a qualidade de vida em geral;

— igualdade efectiva perante as diferentes instituições,com combate a todas as formas de discriminaçãodo PCP ou de qualquer outra força política;

— reforço da responsabilidade do Estado e de ou-tras entidades públicas perante os cidadãos,designadamente por actos dos serviços hospita-lares, das forças policiais, serviços prisionais oude outros serviços da Administração Pública;

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— garantia de maior eficácia de exercício do direitode petição, conferindo aos cidadãos o direito deserem informados dos resultados da sua aprecia-ção e eliminando as restrições que hoje impendemsobre certas categorias de cidadãos;

— reforço das garantias dos cidadãos perante a Ad-ministração Pública e transparência e acesso aosdocumentos da Administração, uma vez solicitados;

— garantia do acesso dos cidadãos a dados informá-ticos que lhes digam respeito e defesa contra autilização abusiva desses dados;

— reforço ou protecção efectiva dos direitos, liberda-des e garantias face às possibilidades decorren-tes de novas tecnologias, designadamente do di-reito à intimidade;

— reforço das garantias de liberdade de associaçãoe do apoio do Estado ao associativismo popular,designadamente através das colectividades decultura e recreio;

— reforço da protecção legal devida aos cidadãosvítimas de crimes, designadamente contra as pes-soas, contra o património e contra a vida em so-ciedade;

— garantia de uma fiscalização efectiva e plural dosserviços de informações e clarificação dos limitesdas actividades que estes podem desenvolver;

— redução progressiva do horário de trabalho;

— garantias do direito ao salário e outras compen-sações adquiridas, combatendo designadamenteos salários em atraso;

— consagração de novos direitos e novas obrigaçõesdo Estado, em matéria de higiene, saúde e segu-rança e acidentes de trabalho;

— adopção de medidas que modernizem e harmo-nizem pelos valores constitucionais diplomas fun-damentais dos militares, como sejam o Regula-mento de Disciplina Militar (RDM) e o Código deJustiça Militar (CJM) e que concretizem a extinçãodos Tribunais Militares em tempo de paz;

— consagração em Lei de um quadro claro de direi-tos de cidadania para os membros das ForçasArmadas, designadamente o direito de associa-ção sócio-profissional;

— garantia efectiva do direito de associação sócio-pro-fissional nas forças e serviços de segurança e re-conhecimento na Lei dos direitos sindicais na PSP;

— protecção da contratação colectiva, designada-mente em caso de cessão da empresa;

— reforço da protecção aos representantes dos tra-balhadores, nos locais de trabalho e nos sindica-

tos, designadamente contra despedimentosabusivos;

— reforço dos direitos dos consumidores, através doacesso à informação e possibilitando a sua inter-venção.

nSISTEMA POLÍTICOO sistema político democrático, previsto na Constituição,mostra em princípio, em aspectos essenciais, flexibilidadee capacidade no plano teórico de adaptação a diferentessituações e sistemas partidários. Mas são muitos os por-tugueses que se afastaram e se desinteressaram da vidapolítica e para quem a imagem da política e dos políticosse degradou. Essa é, em muitos casos, uma forma de pro-testo, eventualmente inconsciente, contra a participaçãoe a ausência de resposta dos governos a aspirações indi-viduais e colectivas, em especial contra a ausência deconcretização de direitos económicos, sociais e culturais.Entretanto, aumenta o poder de meios de comunicaçãosocial e a ligação de muitos destes ao poder económico eo protagonismo de agentes do sistema judicial em detri-mento de políticos.

Os níveis elevados de abstenção são bem o reflexo daapatia demonstrada por quem não vê os seus problemasmais elementares resolvidos, a par do crescente descré-dito dos cidadãos nos órgãos do poder.

Apesar de três revisões constitucionais, manteve-se na leifundamental o essencial da separação e interdependênciados órgãos de soberania. Continua consagrado o princí-pio de representação proporcional como princípioestruturante do sistema e limite material da revisão cons-titucional. Os direitos, liberdades e garantias surgem as-sociados aos direitos económicos, sociais, culturais eambientais, aos quais é conferido idêntico estatuto e dig-nidade. A repartição vertical de poderes é amplamenteconsagrada, através das regiões político-administrativasdos Açores e da Madeira, das regiões administrativas nocontinente e do poder local em todo o País. A estas, so-mam-se outras regras sobre a Administração Pública desentido inequivocamente democrático.

A experiência e a vida apontam, entretanto, como vanta-josos ou necessários vários aperfeiçoamentos do sistemapolítico. É imprescindível melhorar a identificação dos ci-dadãos com o sistema político, melhorar a vida democrá-tica, a qualidade e as possibilidades efectivas da partici-pação dos cidadãos.

De facto, prosseguiu a substituição do princípio da sepa-ração e interdependência dos órgãos de soberania peloprojecto de governamentalização de todos os órgãos depoder e a utilização abusiva do aparelho de Estado aoserviço de interesses eleitoralistas e partidários.

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Muitos referem constantemente a necessidade de refor-ma do sistema político. Mas ao invocarem reais necessi-dades da sua transformação não é para o aperfeiçoar. Ésim, essencialmente, como um meio capaz de permitirculpar a democracia das dificuldades do sistema político;justificar operações de engenharia eleitoral, falsificadorasda conversão democrática dos votos em mandatos ouadulterar os comportamentos eleitorais. O pretexto maisfrequente é a aproximação dos deputados aos cidadãos.Mas o objectivo real é, em geral, obter mais deputadoscom menos votos.

O PCP considera que o sistema político actual, tal comoestá consagrado na Constituição, contém amplaspotencialidades democráticas se houver vontade política.Entretanto, e para além das medidas inseridas noutrospontos do programa eleitoral, designadamente nos pon-tos sobre os direitos, liberdades e garantias e sobre a even-tual revisão constitucional, o PCP preconiza as seguin-tes orientações essenciais:

— manutenção do sistema misto parlamentar-presi-dencial, com a consagração e clarificação da in-tervenção do Presidente da República nas áreasda política externa e da defesa;

— fortalecimento sistemático dos poderes e da in-tervenção da Assembleia da República, quer decarácter legislativo, quer de fiscalização;

— reestruturação do funcionamento das comissõescom maior apoio técnico, com valorização dos re-latórios, das audições de comissão, obrigatóriasem certos casos, bem como da obrigatoriedadede debates sobre políticas sectoriais com o minis-tro respectivo;

— garantia de debate público obrigatório dos gran-des problemas de interesse nacional;

— maior e mais regular intervenção da Assembleiada República no processo de integração comuni-tária, entrecruzando, na medida do possível, o tra-balho parlamentar com a dinâmica da produçãolegislativa comunitária;

— manutenção do sentido e alcance do princípio darepresentação proporcional, não admitindo quais-quer alterações ao sistema eleitoral que diminu-am ou alterem o alcance desse princípio;

— reforço sistemático dos mecanismos da democra-cia participativa e da democracia directa, garan-tindo a execução plena dos que estão consagra-dos e reforçando os mecanismos de iniciativa po-pular, nomeadamente a acção popular e o refe-rendo local;

— respeito integral pelos direitos, liberdades e ga-rantias e concretização prática dos direitoseconómicos, sociais, culturais e ambientais, como

objectivo e como referência essencial do funcio-namento do sistema político;

— criação de mecanismos de moralização e trans-parência do sistema político, designadamente con-sagrando a proibição de financiamento dos parti-dos políticos pelas empresas;

— aperfeiçoar e tornar mais rigoroso o regime de in-compatibilidades e alargar o período de impedi-mento do exercício de certas funções privadasapós exercício de certas funções políticas essen-ciais;

— consagrar o princípio da exclusividade de exercí-cio de funções por parte de titulares de cargospolíticos e altos cargos públicos;

— criação de registos de interesses para todos oscargos políticos e da alta administração;

— combate firme e permanente à corrupção em todaa Administração Pública, designadamente a curtoprazo através de uma “operação mãos limpas” deemergência;

— investigação e julgamento mais rápido dos mega-processos que envolvem grandes gruposeconómicos e políticos;

— fomentar um processo coerente de descentra-lização como instrumento de fomentar a partici-pação;

— levar sistematicamente a democracia a todo o país,em especial ao interior das empresas, bem comoatravés de sindicatos de polícias e de associaçõessócio-profissionais de militares.

n PODER LOCALPara o PCP, o Poder Local democrático continua a assumir-se como uma conquista essencial da Revolução de Abril.

Apesar das dificuldades e das contradições com que seconfronta, o facto é que, embora de forma desigual, man-tém-se como suporte essencial e primordial para a melhoriaprogressiva da qualidade de vida dos portugueses.

Assume-se, por outro lado, como um espaço central derealização da democracia participativa. Constitui, inequi-vocamente, um fortíssimo apoio do movimento popular eprivilegiado porta-voz dos seus interesses junto dos ór-gãos do poder.

Ninguém pode questionar o inestimável contributo que oseleitos comunistas e outros democratas responsáveis pelotrabalho das autarquias CDU têm dado para o reforço dopapel que o Poder Local deve desempenhar no aprofunda-mento da nossa vida democrática.

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Desde logo, levando à prática um estilo de trabalho que secaracteriza por uma concepção profundamente democráti-ca do poder que o recusa como privilégio e, ao contrário, oassume como forma de prestação de serviço às popula-ções. Que se caracteriza, ainda, pela isenção, pela práticade igualdade e da imparcialidade e pela recusa de quais-quer compadrios ou de angariação de benefícios pessoais.

No último mandato de Governo PS e apesar das expecta-tivas criadas em nada se alterou, no essencial, a orienta-ção centralizadora, burocratizante e de asfixia financeiraque vinha sendo seguida pelos anteriores governos dedireita.

De facto, no quadro de uma política de continuidade, o PSobjectivamente contribuiu para a criação das condiçõesque vieram inviabilizar a concretização da regionalização.Hipotecou, desta forma, a hipótese que Portugal dispu-nha de avançar no sentido do verdadeiro e necessário pro-cesso de descentralização administrativa do País.

Em seu lugar, o PS caminhou para a aprovação de umpacote legislativo relativo ao Poder Local, que apesar daluta desenvolvida pelo PCP no sentido da sua melhor ade-quação, ficou muito aquém das promessas há muito ma-nifestadas como foi o caso da Lei de Finanças Locais.Apontou, no fundamental não para a defesa dos interes-ses das populações e das suas autarquias, mas, ao con-trário, para uma arbitrária transferência de competências,que em última análise, vai ao encontro das directrizesorçamentais exigidas pela continuidade da aplicação doscritérios de convergência e a recolocação dos problemasmais agudos e geradores de maior controvérsia e pres-são junto da esfera do Poder Local.

O PS, na realidade, não descentralizou e muito menosduplicou, como havia prometido, a disponibilidade finan-ceira do Poder Local Democrático.

E mesmo as medidas e os diplomas aprovados e que sig-nificam efectivas melhorias para a capacidade de gestãodas autarquias (Lei das Associações de Municípios, Leidas Associações de Freguesias, Lei de Criação das Em-presas Municipais e Intermunicipais, Lei da Revisão doRegime de Tutela e Lei da Criação do Lugar de DirectorMunicipal para os Maiores Municípios) resultaram da ini-ciativa, da luta e da pressão desenvolvida pelo PCP naAssembleia da República e representam o cumprimentode compromissos eleitorais assumidos em 1995 pelo PCP.

Ao modelo neoliberal que orienta em grande medida apolítica do Governo PS contrapõem-se o projecto demo-crático, social e de participação, que tem como objectivo aconcretização da coesão real, que o PCP defende e levaà prática na sua actividade autárquica.

O PCP manifesta, assim, o seu empenho na luta pelaconsagração de um Poder Local Democrático que seja,cada vez mais, parte integrante e decisiva do regimedemocrático e instrumento insubstituível da material-

ização dos direitos individuais e colectivos dos cida-dãos e com esse objectivo, irá propor e lutar pelasacções de carácter geral que nesta área consideraprioritárias:

— reformulação do quadro de delimitação das atri-buições e competências entre a AdministraçãoCentral e Local (recentemente aprovado), por for-ma a extirpar-lhe um conjunto de novas atribui-ções e competências que desde já se mostramtotalmente desadequadas ao campo de acção doPoder Local, ajustando o seu elenco numa ópticade garantia de um exercício com nível de qualida-de acrescido àquele que actualmente se regista eque tenha em conta a situação demográficaconjuntural do território português;

— revisão da Lei de Finanças Locais por forma a queesta possa efectivamente responder às necessi-dades financeiras das autarquias, nomeadamen-te garantindo os meios indispensáveis ao reforçodo exercício das novas competências, num qua-dro de sujeição a uma racional política orçamentale conferindo-lhe o carácter de valor reforçado queinviabilize a sua manipulação ao sabor das con-junturas e dos interesses políticos;

— garantia de que as novas atribuições e competên-cias serão acompanhadas dos necessários eacrescidos recursos financeiros, de modo a que oPoder Local tenha uma efectiva capacidade de as-segurar uma melhor resposta aos problemas acu-mulados;

— promoção das iniciativas tendentes a reforçar ovalor dos instrumentos de planeamento eordenamento do território municipais, reduzindo amargem de arbítrio e de usurpação de competên-cias por parte da Administração Central;

— promoção das iniciativas necessárias a retomar ereforçar o poder dos órgãos deliberativos dasautarquias e à contínua e progressiva valorizaçãodos trabalhadores da Administração Local;

— democratização dos processos de discussão e ela-boração dos Planos de Desenvolvimento Económi-co e Social e de gestão de verbas do Quadro Comu-nitário de Apoio, designadamente através dareformulação da constituição das estruturas deacompanhamento e das unidades de gestão, visan-do o necessário reforço da participação municipal ea democratização dos processos de decisão;

— reforço da capacidade de gestão das áreas me-tropolitanas mediante a criação das autarquiasmetropolitanas previstas na Constituição atravésda eleição das assembleias metropolitanas e dagarantia da sua capacidade de intervenção;

— prosseguimento do reforço das freguesias e dasassociações de freguesias, em especial das suasatribuições, competências e meios financeiros;

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— elaboração de um Código do Poder Local Demo-crático, que congregue, racionalize e organize ovasto conjunto de legislação dispersa que respei-ta às autarquias locais.

nREGIONALIZAÇÃO /DESENVOLVIMENTO

REGIONALA política do Governo do PS, não tem apesar de todas aspromessas e proclamações caminhado para reduzirdeterminantemente as assimetrias regionais. Prosseguea desertificação de vastas zonas, os pólos de crescimen-to económico situam-se em zonas do litoral que, com oaumento da população e o aumento especulativo dos pre-ços do sector imobiliário, enfrentam dificuldades na habi-tação, o agravamento dos problemas dos transportes edo tráfego humanos, a degradação do ambiente e da qua-lidade de vida, a segregação e a exclusão social e as bol-sas de pobreza.

O desenvolvimento das regiões depende, em parte, defactores e dinâmicas externas, com destaque para o Mer-cado Interno Comunitário. Mas esse desenvolvimento temque apostar essencialmente no aproveitamento dos re-cursos endógenos das regiões.

Com esse objectivo, o PCP propõe a concessão de in-centivos especiais aos investimentos que promovamo aproveitamento integrado do potencial económicoendógeno das regiões, em especial das mais deprimi-das, nomeadamente dos recursos humanos e naturais.

Por isso, o PCP propõe :

— a desconcentração de serviços públicos comprogressiva racionalização dos seus territórios deactuação;

— a substituição das Comissão de CoordenaçãoRegional e de outros serviços públicos descon-centrados por institutos públicos regionais comparticipação municipal;

— a máxima descentralização possível dos fundoscomunitários, em especial dos destinados aosmunicípios;

— a implantação regional de adequadas redes deinfra-estruturas de transportes , de energia eléc-trica e de telecomunicações, que possibilitem afixação de empresas em condições decompetitividade inter-regional;

— a criação de condições para a inserção das em-presas regionais nas redes de investigação edesenvolvimento tecnológico;

— a criação de condições para instituir as regiõesadministrativas como autarquias locais, tal comoestão previstas na Constituição, após um proces-so de ampla consideração das suas áreas combase num largo debate público e na participaçãomunicipal.

nAUTONOMIA REGIONAL

O PS continuou a não assegurar às Regiões Autónomasdos Açores e da Madeira o estatuto e os apoios concre-tos correspondentes ao seu reconhecimento como regi-ões ultraperiféricas pela União Europeia e pela Consti-tuição. Por sua vez, o PSD empenhou-se mais em ali-mentar conflitos sem interesse concreto para as popula-ções do que em assegurar medidas e apoios que vão nosentido da justiça, igualdade de direitos e apoios ao de-senvolvimento.

A verdade, no entanto, é que as Regiões Autónomas dosAçores e da Madeira consagram uma importante experi-ência de autonomia política, administrativa, financeira,económica e fiscal.

Dando fundamento às históricas aspirações autonomistasdas suas populações, a Constituição da República Portu-guesa reconhece esta importante conquista democrática,tornada possível com o 25 de Abril.

O estatuto especial destas “regiões ultraperiféricas” cons-titui uma definição que deveria abrir novas possibilidadesquanto à existência de medidas mais específicas e per-manentes capazes de concretizar novos incentivos dospotenciais de desenvolvimento destas Regiões.

Na origem dos acontecimentos que desfiguram o normalrelacionamento democrático entre as Regiões Autónomase o Estado estão repetidas declarações com objectivosexplícitos de garantir um ambiente de permanenteconflitualidade política. Os comportamentos e afirmaçõesassociadas a pretensões de diluição da unidade do Esta-do, as chantagens de cariz separatista, alimentam per-manentes conflitualidades, não correspondem a uma de-fesa consequente das autonomias, nem contribuem paraa sua valorização.

O PCP defende um consequente movimento de defe-sa dos interesses regionais, procurando novos cami-nhos de democratização e desenvolvimento económi-co e social dos Açores e da Madeira.

Nesse sentido, o PCP propõe:

— a valorização das autonomias regionais dos Aço-res e da Madeira, contrariando as repetidas situa-ções de conflitualidade através da promoção de

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um relacionamento democrático e institucional coma naturalidade que é exigível e desejável;

— a defesa de um quadro adequado de relacionamen-to entre as Regiões Autónomas e o Estado, e mui-to especialmente entre Governos Regionais e oGoverno da República;

— a efectivação de um conteúdo capaz de concreti-zar a “ultraperificidade” dando-lhe substância práti-ca, garantindo um conjunto de medidas específi-cas de protecção concreta das populações e dodesenvolvimento;

— a revisão do regime eleitoral para as AssembleiasLegislativas Regionais de modo a que, através deum verdadeiro respeito pelo regime da proporcio-nalidade, possa ser obtida uma representaçãoinstitucional que respeite a verdadeira vontade po-lítica dos cidadãos e acabe com as actuais injusti-ças e distorções;

— a defesa intransigente da legalidade democrática,pondo termo a discriminações políticas e ideológi-cas dando um real conteúdo aos direitos, liberda-des e garantias dos cidadãos;

— o combate às chantagens de cariz separatista e aerradicação de comportamentos centralistas porparte de órgãos ou serviços do Estado;

— a garantia de uma permanente cooperaçãoinstitucional com os órgãos das Regiões Autónomase uma clara articulação entre a Administração doEstado e as administrações regionais autónomas;

— a garantia de bom desempenho e dignificação dosserviços do Estado que estão a cargo da Adminis-tração Pública Central, nomeadamente no que res-peita ao preenchimento dos quadros e à existênciade instalações adequadas;

— a defesa dos direitos constitucionais e legais reco-nhecidos aos trabalhadores e o respeito integraldas garantias constitucionais e de legalidade donosso País;

— a defesa da autonomia do Poder Local nas Regi-ões Autónomas, garantindo a descentralizaçãoadministrativa e financeira dos municípios, pondocobro à abusiva centralização de recursos e depoderes por parte dos governos regionais;

— a realização de uma política de participação e deconsulta permanente e colaboração entre os ór-gãos de soberania e os órgãos regionais, neces-sariamente em todas as matérias que digam res-peito às Regiões Autónomas, incluindo as ques-tões derivadas da integração europeia;

— a garantia de que o 3º Quadro Comunitário de Apoioconfira às Regiões Autónomas os meios indispen-sáveis para contribuir para que o ritmo de desen-volvimento a imprimir possibilite uma clara aproxi-mação destas ao nível nacional médio;

— a revisão do Acordo das Lages, de forma a que asmedidas de cooperação nele previstas tenham umaclara incidência na Região Autónoma dos Açores.

nDEFESA NACIONAL EFORÇAS ARMADAS

Os quatro anos de Governo PS, identificando-se com asgrandes opções estratégicas assumidas pelos Governosdo PSD e não dando resposta aos problemas concretoscom que se debate a instituição militar e quem a compõe,constituiu um estrondoso fracasso. A política seguida peloPS defraudou assim as expectativas que conduziram àsua eleição em 1995.

O seguidismo face aos EUA e a adopção de muitas dassuas orientações em matéria de política externa e acedência sem medida aos interesses e objectivos da NATO/EUA, marcaram a governação do PS.

O empenhamento do PS na revitalização e inclusão daUEO na UE, como estrutura militar da União, configuraum caminho de potenciamento de Forças Armadasmultinacionais e funcionando como pilar europeu da NATO.

O PS no Poder, ao invés de assumir uma postura visandoa progressiva dissolução da NATO e o potenciamento dasorganizações vocacionadas para a paz e a segurança(ONU e OSCE), deu o seu apoio entusiasmado a umavisão estratégica expansionista da NATO, aprovando o novoConceito estratégico da Aliança, bem como à sua capaci-dade para intervir em qualquer parte do globo.

Trata-se de um indesejável e perigoso caminho que nãoserve os povos, a paz e a cooperação.

A política do Governo PS, optando pelo uso e abuso deanúncios visando mostrar uma eficácia que não teve, nãodando resposta a nenhum dos problemas concretos comque se tem vindo a debater a instituição militar, manteve eagravou os bloqueios, a falta de modernização efectiva dainstituição, bem como elevou o grau de desmotivação dosmilitares.

Particular destaque merece as enormes hesitações do PS,no que respeita à matéria do alargamento de direitos decidadania para os militares (revisão do artigo 31 daLDNFA), nomeadamente com o reconhecimento de asso-ciações sócio-profissionais. Mas merece também reparo,a ausência de medidas claras face ao grave problema so-cial que constitui a inserção dos militares em regime decontracto, no mercado de trabalho.

As opções tomadas - embora ainda não concretizadas -de extinção pura e simples do serviço efectivo normal(SMO), eliminando por completo os vínculos da nação com

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as Forças Armadas, não serve os princípios da coesão edesenvolvimento de uma consciência nacional e, consti-tuirá, uma fragilidade nacional. Como se não bastasse, aforma atabalhoada como o Governo avançou para estadecisão, constitui e constituirá um problema de difícil ges-tão para as FA.Desinserida de uma visão estratégica de caracter nacio-nal, democrática e participada, esta medida surge comomais uma que foi tomada não com base no interesse na-cional, mas satisfazendo objectivos ligados com interes-ses e dinâmicas externas.

A ausência de medidas de apoio e valorização do Siste-ma de Autoridade Marítima, ao mesmo tempo que paula-tinamente o Governo procedeu à transferência de compe-tências para a área marítimo-portuária, não mais consti-tuiu do que o prosseguimento da política que tem vindo acriar sucessivos estrangulamentos a um sistema de auto-ridade marítima credível e actuante, bem como pode com-prometer a autoridade do estado nesta importante área.

Quanto ao reequipamento das FA, as opções do GovernoPS foram o prosseguimento das opções do PSD, ou seja,a prioridade para a aquisição de meios que visam a satis-fação de compromissos externos. Deste modo milhões decontos são gastos sem que deles resulte um aumento dacapacidade nacional de defesa. Acresce que ao seremaprovados programas (só com os votos do PS) sem asdotações financeiras necessárias, foi a própria imagemdas FA que foi afectada.

Neste quadro o PCP propõe:

— a promoção de um verdadeiro debate nacional doqual resulte a definição das Grandes Opções doConceito Estratégico de Defesa Nacional;

— a apreciação das matérias decorrentes da defini-ção conceptual referida;

— defesa do princípio da aplicação da FA a missõesnacionais;

— revisão global da LDNFA;

— consagração do associativismo sócio-profissionalcom o estabelecimento de regras definidoras deum relacionamento institucionalmente digno;

— elaboração de legislação enquadradora da justi-ça e disciplina militar, com base nos valores cons-titucionais; garantia de acesso ao Provedor deJustiça no quadro do estatuto do Provedor; elabo-ração de um regulamento de avaliação do méritoem bases objectivas;

— promoção de um amplo debate que analise a si-tuação das Industrias de Defesa, visando a defi-nição de linhas estratégicas potenciadoras da suaactividade e desenvolvimento;

— revisão da legislação sobre as FA numa perspec-tiva que vise a sua desgovernamentalização;

— adopção de medidas com o objectivo de melhoraras condições de serviço nas FA, a dignificação emotivação profissional, a valorização dos órgãosconsultivos existentes nos ramos;

— valorização do Sistema de Autoridade Marítima,no quadro de uma ampla auscultação e debatevisando definir o quadro conceptual, dependên-cia, estrutura e meios do Sistema. Adopção demedidas decididas visando a resolução dos pro-blemas profissionais do pessoal que opera nestaárea;

— desenvolvimento das actividades ligadas à I&D,assumidas como sector estratégico ao desenvol-vimento e sustentação de uma capacidade autó-noma de defesa.

No plano externo:

— defesa da dissolução da NATO;

— oposição à criação e participação em qualquerbloco político-militar europeu;

— acções decididas visando o potenciamento daONU e da OSCE como estruturas privilegiadaspara a paz e a segurança na Europa e no Mundo;

— a participação militar portuguesa no quadro dossistemas de segurança colectiva (ONU e OSCE)deverá ser ponderada caso a caso e à luz do rigo-roso respeito pelo direito internacional;

— no âmbito dos acordos com os PALOP as FA de-vem colaborar em todas as acções de apoio, inte-gradas na política de cooperação, nomeadamen-te a formação, treino e o apoio ao desenvolvimen-to das industrias de defesa.

nADMINISTRAÇÃO INTERNA E FORÇAS DE SEGURANÇA1. Do balanço da acção governativa do Partido Socialista,nestes quatro anos de Governo, ressalta, no essencial, aausência de assumpção de uma estratégia clara e consis-tente nas opções relativas à Segurança Interna, no senti-do de privilegiar sem equívocos os factores de prevençãoe proximidade das populações, bem como as relativas ànatureza das Forças de Segurança, com vista à sua com-pleta desmilitarização e ao reforço da vertente civilista.

2. Persistem na sociedade portuguesa factores de inse-gurança, directamente ligados a fenómenos demarginalidade e exclusão de vária ordem, a que as diver-sas políticas governamentais - económicas, sociais e cul-turais - se têm revelado incapazes de responder com su-cesso.

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3. O direito constitucional dos cidadãos à segurança e àtranquilidade continua longe de estar cabal esatisfatoriamente garantido e assegurado por uma eficazpolítica de segurança, assente em verdadeiras medidasde carácter preventivo, como sejam as de suficientes efec-tivos no patrulhamento, maior proximidade das populaçõese procura do envolvimento empenhado dos cidadãos emmatéria de tranquilidade pública.

4. A política de Segurança Interna deveria implicar umaestratégia de conjunto que contemplasse o leque das For-ça de Segurança, em função da sua missão primordial dedefender a legalidade democrática, a segurança interna eos direitos dos cidadãos. Sem escamotear medidas desentido positivo no campo legislativo, do dispositivo, dosdireitos dos profissionais, persistem, no entanto, indeci-sões graves que têm levado à aceitação de umdesfasamento incompreensível entre Forças de Seguran-ça com missões em tudo semelhantes. Tal facto indicia aexistência de fortes hesitações e contradições no seio dopoder político no que respeita ao futuro das Forças deSegurança, o que tem sido factor de instabilidade numaárea tão sensível e importante como a Administração In-terna.

5. Assim, e como consequência duma política sem umaorientação coerentemente assumida, permanecem ten-dências para o reforço da militarização da GNR, com anun-ciados projectos do seu envolvimento numa Força de In-tervenção Rápida da União Europeia (estrutura policial),distorções no dispositivo territorial e dispersão de forçascom inerentes encargos logísticos, duplicação de forças ede estabelecimentos de ensino e de formação, manuten-ção de agentes em tarefas fora do âmbito das funções desegurança (diligências ao tribunais), multiplicação doscorpos especiais de repressão, com a recente criação dasCompanhias de Intervenção na PSP.

6. Persistem, por outro lado, a falta de determinação, mei-os e formação adequada para o combate ao crime violen-to e ao tráfico de estupefacientes e uma política de imigra-ção com características xenófobas no espírito dos Acor-dos de Schengen, de crescente integração nas políticaseuropeias de segurança (EUROPOL e Serviço de Infor-mações Schengen-SIS). Mantém-se a permissividade àsactuações ilegais e incontroladas do Serviço de Informa-ções; o bloqueamento das reivindicações dos profissio-nais das Forças de Segurança com destaque para horári-os de serviço, subsídios e de mecanismos de representa-ção associativa interna.

7. A segurança e tranquilidade públicas são indissociáveisde um quadro de desenvolvimento harmonioso e susten-tado, de justiça social contra a pobreza e as desigualda-des, de mais qualidade de vida contra a degradação dascondições sociais.

O PCP sempre norteou a sua intervenção política por es-tes princípios, ao mesmo tempo que protagonizou, na so-ciedade e nas instituições, de forma ímpar, um vasto con-

junto de iniciativas políticas - debates, intervenções, pro-postas legislativas - das quais se destacam, na Assembleiada República, na actual legislatura, o Projecto das Gran-des Opções de Segurança Interna, a criação dos Conse-lhos Municipais de Segurança já aprovados por lei, alémde outras propostas tendentes à democratização das for-ças de segurança, ao alargamento de direitos e à melhoriadas condições de vida e de trabalho dos profissionais.

8. O PCP defende e propõe:

— uma política de combate à criminalidade e às suascausas;

— uma política de segurança que garanta e defendaa legalidade democrática e os direitos dos cida-dãos, prevenindo todas a formas de marginalidadee reprimindo a delinquência, com destaque parao crime organizado;

— uma política de segurança que estimule e dinami-ze, no quadro da lei existente, a criação dos Con-selhos Municipais de Segurança dos Cidadãoscomo estrutura adequada à participação das co-munidades locais e vocacionada para a preven-ção dos factores geradores de insegurança;

— a discussão e aprovação de uma Lei de GrandesOpções da Política de Segurança Interna que de-fina os seus princípios orientadores;

— a discussão e aprovação de uma Lei-quadro quedefina a estrutura orgânica, o dispositivo, as mis-sões e o funcionamento das Forças de Segurança.

O PCP defende ainda:

— uma política de segurança com uma forte compo-nente preventiva que aproxime os polícias dos ci-dadãos e renove a confiança das populações nasForças de Segurança;

— uma política de segurança que rejeite definitiva-mente a concentração de efectivos e «divisõesconcentradas» e privilegie a abertura de esqua-dras e postos de proximidade, optimizando o em-prego dos efectivos em função das necessidadesconcretas da segurança das populações;

— uma política de segurança que dote as forças po-liciais com meios humanos e materiais, na basede estudos sustentados e prioridades de missãoe que realize uma correcta e eficaz gestão dosmeios;

— uma política de segurança que dote as forças po-liciais com formação técnico-profissional adequa-da e exclusivamente ministrada em estabelecimen-tos de ensino vocacionados para o efeito;

— uma política de segurança que ponha fim àdualidade de estatutos nas Forças de Segurançae defina com clareza o seu carácter e naturezacivilista;

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— uma política de segurança que racionalize ereoriente os efectivos que estão adstritos a fun-ções não policiais, e os canalize para missões desegurança das populações e contribuindo para adinamização do aparelho policial na sua vertentede segurança pública;

— uma política de segurança que promova o reforçodos mecanismos de controlo externo da activida-de policial, designadamente a Inspecção Geral deAdministração Interna (IGAI);

— uma política de segurança que promova a melhoriadas condições de vida e de trabalho dos profissio-nais das Forças de Segurança, que respeite osseus direitos de cidadania, designadamente o re-conhecimento do direito de Associação sócio-pro-fissional e sindical;

— uma política de segurança que promova a melhoriados aspectos de cooperação internacional, masque recuse a criação de uma polícia europeia comcaracterísticas supranacionais;

— uma política de segurança, que limite a actividadedos Serviços de Informações, à garantia dos prin-cípios e direitos constitucionais, prevenido as actu-ações ilícitas e assegurando o seu efectivo contro-lo democrático pelo Conselho de Fiscalização.

nMOVIMENTOASSOCIATIVO POPULAR

Se atendermos ao que a Constituição da República con-sagrou, temos que o Estado está obrigado a prosseguiras políticas cultural, desportiva e outras, em cooperaçãocom as associações e os clubes, com os cidadãos organi-zados nas mais diferentes expressões associativas. Nãoé isto que tem vindo a acontecer nas duas últimas déca-das e também não aconteceu nos últimos quatro anos como Partido Socialista no Governo.

São as associações, as colectividades e os clubes a as-sumir o essencial da intervenção cultural, desportiva esocial em todo o país, procurando suprir as insuficiênciasdo Estado e das políticas governamentais, recorrendo aosrecursos próprios resultantes da sua actividade e de con-tribuições e outras iniciativas junto das populações, semque lhes seja dado esse reconhecimento.

As centenas de milhar de associativistas desenvolvemvoluntariamente esta actividade por consciência social ecívica, numa atitude de bem fazer, gerando uma poderosaeconomia social, participando na construção sócio-cultu-ral do país, no aprofundamento e exercício da democraciaparticipativa e da cidadania, na melhoria da qualidade devida de todos os cidadãos.

No que respeita à acção governativa e do Partido Socia-lista, o que se pode dizer é que o associativismo popularou é ignorado, ou quando é lembrado é sempre numa po-sição de menorização no terreno legislativo, ou numa pos-tura de oportunismo político-eleitoral. Por outro lado, àausência de políticas activas de desenvolvimento doassociativismo visando a sua dinamização e reforço, en-quanto rede social de participação e democracia, associam--se medidas e práticas claramente negativas de que sãoexemplo:

— a intervenção inaceitável do INATEL na constitui-ção de Federações Distritais de Bandas e de umafutura Confederação governamentalizada, semcorrecta audição dos interessados;

— uma lei do Mecenato que, na prática, fecha a por-ta ao movimento associativo com a exigência deum reconhecimento ministerial prévio dos dona-tivos;

— a legislação sobre restaurantes e bares que, a nãoser alterada, ameaçaria de encerramento milha-res de colectividades;

— acresce que para o Ministério da Cultura os mi-lhares de grupos de teatro, ranchos, coros, ban-das, e outras expressões culturais de amadores,pura e simplesmente não existem, não tendo jun-to do Governo qualquer interlocutor.

Apesar deste quadro, o movimento associativo enquan-to criação popular, tem-se diversificado, crescido e de-senvolvido. Na última década alargou, inovou e moderni-zou as suas actividades e integra cada vez mais activistas,com destaque para a presença e envolvimento de cadavez mais mulheres e jovens, a nível dirigente. Têm surgi-do novas estruturas de coordenação e articulaçãoassociativa. O movimento associativo e as suas estrutu-ras representativas nacionais reclamam o Estatuto deParceiro Social.

Por iniciativa do PCP foi possível, no quadro da altera-ção do Estatuto de Utilidade Pública, isentar as associa-ções de utilidade pública do Imposto de Selo, ImpostoMunicipal de Sisa, Imposto sobre Sucessões e Doações,Contribuição Autárquica, IRC a ajustar no respectivo Có-digo, Custas Judiciais e Imposto sobre Veículos, Impostode Circulação e Imposto Automóvel, que resultaram so-bretudo da acção do PCP em defesa do movimentoassociativo na Assembleia da República.

O PCP considera indispensável a adopção de medidas eestímulo e dinamização da vida associativa, potenciandoos meios existentes, apoiando o voluntariado, abrindo anovas soluções e a novas respostas às novas necessi-dades das populações, ao mesmo tempo que consideraimperativo que o Estado cumpra os seus deveres consti-tucionais.

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Com o objectivo de contribuir para o desenvolvimento efortalecimento da vida associativa portuguesa o PCP pro-põe:

— aprovação pela Assembleia da República de umaLei-quadro que clarifique o Estatuto e os mecanis-mos de apoio e cooperação da Administração Cen-tral com o movimento associativo de cultura, des-porto e recreio;

— aprovação de legislação que defina o Estatuto doDirigente Associativo Voluntário e que crie condiçõespara que os dirigentes exerçam as suas funções emmelhores condições;

— criação de uma instituição junto da AdministraçãoCentral com delegações regionais que, entre outras,tenha por funções o incentivo ao associati-vismo, oapoio directo às actividades (apoio técnico, cedênciade materiais e equipamentos, apoio a transportesem grupo, apoio à aquisição, construção e repara-ção ou manutenção de instalações, apoio directo aplanos de actividades anuais e outras de índole cul-tural, desportiva e social), bem como outras acções,incluindo formação para dirigentes, activistas e ani-madores associativos;

— isenção do IVA relativo à transmissão e locação debens, à prestação de serviços, bem como à aquisi-ção de bens e de serviços relacionados com as ac-tividades sociais e com a construção ou conserva-ção de imóveis destinados à realização dos finsestatutários das associações;

— equiparação das pessoas colectivas de utilidadepública às IPSS, para efeitos de IRC;

— apoio directo às colectividades que, face àprivatização de serviços públicos, perderam regali-as não fiscais, no que respeita ao consumo de águae de energia eléctrica, assim como de uso de trans-portes públicos;

— revogação da legislação sobre porte pago, alargan-do o âmbito da sua aplicação às publicações e cor-respondência associativas;

— ajustamento da taxa de direito de autor à realidadeassociativa;

— criação de incentivos e apoios especiais para asso-ciações que desenvolvam actividades visando aintegração dos jovens na vida associativa;

— criação de fundo e programa especial de apoio àconstrução, aquisição, arrendamento, arranjo e ma-nutenção de instalações das associações;

— garantir ao movimento associativo cultural, desportivoe recreativo a utilização das instalações desportivasescolares, gratuitamente ou a preços sociais;

— apoio à contratação e constituição de equipas detécnicos especializados com formação nas áreasde especialidade das associações a nível local eregional;

— alteração da lei do mecenato no sentido de elimi-nar a necessidade de reconhecimento ministerialprévio para os donativos concedidos às entida-des de utilidade pública;

— alteração da legislação sobre restaurantes e ba-res, visando a sua adaptação à especificidade domovimento associativo;

— criação de condições de acesso aos programascomunitários orientados para as actividades domovimento associativo, assim como a criação denovos programas de apoio à vida associativa;

— lançamento de projectos de desenvolvimento cul-tural e desportivo a nível regional e sub-regionalque integrem a participação dos poderes central,regional e local, as associações culturais e despor-tivas e os agentes económicos;

— medidas de apoio e reconhecimento das Federa-ções Distritais e Associações Concelhias do mo-vimento associativo;

— garantia de uma reestruturação das estruturasafectas aos Bombeiros portugueses, precedida deum amplo debate; concretização das bases ge-rais para o ordenamento jurídico da actividade dosBombeiros e da legislação complementar, no res-peito, defesa e afirmação do voluntariado, da efi-cácia da resposta às múltiplas tarefas e da cente-nária tradição dos Bombeiros portugueses; ter emconta as novas responsabilidades que a lei confe-re às autarquias nesta área;

— atribuição do Estatuto de Parceiro Social à Fede-ração Portuguesa das Colectividades de Culturae Recreio e à Liga dos Bombeiros Portugueses;

— criação do Conselho Nacional da Vida Associativaque acompanhe a evolução do associativismoportuguês e formule propostas para o seu desen-volvimento.

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n União Europeia e Portugaln Emigraçãon Política externa

Propostaspara o

PORTUGAL NA EUROPAE NO MUNDO

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nUNIÃO EUROPEIA EPORTUGAL

A forte influência das orientações adoptadas nas instânci-as da União Europeia na vida política, económica, sociale cultural, em Portugal, impõe que aquelas sejam segui-das com particular atenção e empenho pela Assembleiada República e reclama um novo posicionamento do go-verno português no plano comunitário.

À Assembleia da República, enquanto órgão legislativo porexcelência, determinante na formação do governo efiscalizador político da actividade por este desenvolvida,cabe, assim - com vista a assegurar o progresso do País eo bem-estar dos portugueses e a garantir uma efectivaparticipação dos cidadãos -, um papel fundamental noacompanhamento do processo de decisão comunitário, emparticular, da acção do governo no contexto da UniãoEuropeia.

Os actuais contornos da construção europeia - orienta-dos, no plano institucional, para um modelo federalizador;alicerçados no âmbito económico e social por umneoliberalismo sem peias e incapaz de responder às ne-cessidades do Homem; e perspectivado, no plano exter-no, para uma completa subordinação aos desígnios nor-te-americanos, através da NATO, reclamam uma interven-ção permanente e firme de Portugal, no sentido de impri-mir à construção europeia um novo rumo, respeitador davontade dos povos, solidário, de justiça social e de paz e,em particular, respeitador dos interesses, vontades e di-reitos de Portugal no quadro da integração europeia.

Aquelas orientações comunitárias, determinadas em lar-ga medida, durante os últimos anos, por governos demaioria conservadora, em nada se alteraram com o factode socialistas e sociais-democratas terem passado, en-tretanto, a integrar treze e serem maioritários em onze dosquinze governos dos países da União Europeia.

A convergência de posições entre essas duas correntespolíticas sobre a direcção a imprimir à construção europeiatem-se revelado, de resto, uma constante e encontra na-tural sequência, em Portugal, na profunda identidade deposições do PS e do PSD e dos respectivos governos.

Alterar tal situação pressupõe, assim, uma Assembleia daRepública com maior e melhor capacidade e vontade deintervenção no plano comunitário e reclama um governocom atitudes e políticas diferentes.

A importância das questões que se perspectivam no qua-dro europeu, a sua complexidade e os riscos que apre-sentam poderão, entretanto, determinar dificuldades acres-cidas para Portugal.

Assim acontece em quatro domínios fundamentais: refor-mas institucionais, concretização definitiva do euro, alar-gamento e negociações no âmbito da Organização Mun-dial do Comércio.

Neste quadro, o PCP considera e propõe como princí-pios, orientações e medidas:

— O respeito pela soberania e pelos interesses,valores e especificidades de cada Estado de-vem constituir vectores essenciais da construçãoeuropeia. A limitação da intervenção da UniãoEuropeia estritamente aos casos em que tal sejustifique apresenta-se, por isso, como orientaçãofundamental.

— Uma Europa de cooperação , o que exige, no pla-no institucional:

l a associação dos Parlamentos Nacionais aosprocessos de decisão comunitários e o fim dagovernamentalização dos assuntos europeus;

l a manutenção da unanimidade na tomada dedecisão sobre questões fundamentais e a re-cusa de alterações na ponderação dos votos,nas decisões por maioria, em prejuízo dos pa-íses de menor dimensão ou população;

l um maior controlo da Comissão;

l uma alteração significativa dos estatutos doBanco Central Europeu, com vista a assegu-rar o seu efectivo controlo político;

l a manutenção das línguas de cada Estadocomo línguas oficiais e a recusa de quaisquerdiscriminações neste domínio;

l a representação de todos e cada um dos Es-tados, independentemente do seu número, nocolégio de comissários;

l uma maior transparência nos processos dedecisão e a participação efectiva dos cidadãosna vida comunitária.

— A defesa dos interesses nacionais , o que exigeuma atitude firme e fundamentada da parte dogoverno e de todos os restantes intervenientes nosprocessos de negociação comunitários, uma arti-culação permanente entre todos eles e destes comas instituições democráticas nacionais e com osagentes económicos, sociais e culturais.

— A construção de uma Europa solidária e o res-peito efectivo pelos objectivos da coesão eco-nómica e social exigem, em especial, uma rup-tura com as actuais orientações neoliberais, e emparticular:

l uma renegociação profunda do Pacto de Es-tabilidade de forma a permitir a concretizaçãoduma política de crescimento e de emprego ea criação de um instrumento financeiros ade-

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quado e capaz de responder a eventuais cho-ques assimétricos;

l o reforço do orçamento comunitário de formaa transformá-lo num instrumento de justaredistribuição, ao serviço da coesão econó-mica e social;

l o termo da actual política de privatizações,nomeadamente de serviços públicos funda-mentais e o reforço do sector público;

l a reorientação de políticas sectoriais comunse comunitárias nos aspectos que ferem asespecificidades, ignoram os atrasos e as de-bilidades estruturais ou sacrificam sectores deactividade fundamentais do país. É particular-mente indispensável uma acção intransigen-te nos seguintes sentidos:

w uma profunda reforma da Política Agríco-la Comum, nos sentidos da respectivaregionalização e modulação, com vista aultrapassar os actuais desequilíbrios en-tre produtores, produções e países e quepermita o crescimento da produção agro-alimentar nacional e, em geral, a moder-nização do sector primário do país;

w uma reorientação da Política Comum dePescas, que garanta continuidade e de-senvolvimento da actividade piscatória,consagre a extensão das zonas exclusi-vas de pesca até às 24 milhas, terminecom a política brutal de abates, alargue emelhore os acordos com países terceirose assegure a manutenção e desenvolvi-mento dos recursos;

w apoios específicos, significativos e semconstrangimentos à actividade industrialno país, nomeadamente de têxteis e decalçado, visando o seu crescimento e mo-dernização;

w efectivo apoio ao sector comercial, parti-cularmente ao comércio tradicional, deforma a permitir a respectiva reconversãoe modernização;

w apoios particulares ao sector cooperati-vo, nos diferentes sectores de actividade.

— Uma Europa de coesão pressupõe a transfe-rência de meios financeiros suficientes paraos países de menor desenvolvimento , as quais:

l deverão visar, para além da concretização deinfra-estruturas ou da formação profissional,um apoio directo ao desenvolvimento econó-mico sustentável e a programas eficazes denatureza social e não deverão constituir, comono passado, meras compensações às incidên-

cias da implementação de novas orientaçõese políticas comunitárias;

l não deverão ser postas em causa pela pers-pectiva ou pela ocorrência de novas situações,como o alargamento da União Europeia anovos países ou a concretização do euro (anovas situações e objectivos deverão ser fei-tos corresponder meios financeiros adicionais)e antes deverão acautelar as incidências des-tas nos planos económico e social.

— Uma Europa social avançada terá de apontar paraum nivelamento, por cima, das condições de vida ede trabalho ao nível comunitário, o que implica arecusa de uma especialização de Portugal comopaís de mão-de-obra barata e pouco qualificada eeconomicamente subalterno e dependente.

— O combate ao desemprego e a criação de em-prego com direitos constitui uma primeira priori-dade. Esta prioridade pressupõe ainda mudançasprofundas na política económica e monetária, comabandono das orientações neoliberais e orçamen-talmente restritivas e reclama medidas efectivas,com investimento público e, em geral, com incen-tivos ao investimento produtivo e à procura inter-na. Requer um combate eficaz aos movimentosde capitais especulativos, nomeadamente pela suatributação.

— Uma completa absorção e uma correcta apli-cação dos fundos comunitários . A aplicação dosfundos comunitários deve inserir-se na permanen-te procura de concretização de um desenvolvimen-to equilibrado de todo o território nacional e serimplementada na base de prioridades definidaspreviamente e de forma participada. A gestão de-mocrática e transparente dos fundos, com com-bate firme à corrupção e ao clientelismo, apresen-ta-se como essencial.

— O alargamento da União Europeia a dez paísesdo centro e leste europeus e a Chipre não suscitaobjecção de princípio. A sua concretização, po-rém, não pode ocorrer de forma cega e indiferen-te aos impactos que dele poderão decorrer, a vá-rios níveis, seja para os países candidatos, sejapara os actuais Estados-membros.

Em caso algum poderão ser os países de menordesenvolvimento a pagar os custos do alargamen-to, para mais na certeza das vantagens económi-cas que outros - os mais poderosos – dele certa-mente retirarão.

— As negociações a efectuar no âmbito da Orga-nização Mundial de Comércio , onde praticamen-te nenhum domínio de actividade, incluindo a pro-dução cultural, estará ao abrigo da sanha libera-lizadora porão em causa domínios diversos do co-mércio, da actividade produtiva e do investimento.

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Preocupações várias deverão informar tais nego-ciações. Desde logo, repensar as bases de funci-onamento da própria OMC. Também a procura deformas e meios capazes de assegurar o respeitogeneralizado por condições sociais e ambientaismínimas, nomeadamente com a fixação de regrasrigorosas de combate ao dumping social.

— A União Europeia deve afirmar-se solidária nasrelações com países terceiros de menor desen-volvimento , seus parceiros tradicionais.

Negando uma perspectiva de “Europa fortaleza”.Recusando as imposições norte-americanas, noquadro da OMC e nomeadamente com vista a pôrem causa acordos preferenciais com países demenor desenvolvimento de outros continentes (emespecial os acordos de Lomé, com países de Áfri-ca, Caraíbas e Pacífico). E, particularmente, pelaconcretização de uma política de cooperação efec-tiva com esses países, que permita e assegure oseu desenvolvimento e que, a prazo, ponha termoàs causa profundas da imigração.

O combate sem tréguas ao racismo, à xenofobiae ao nacionalismo encontrará nesta cooperaçãocom países terceiros uma da suas mais podero-sas armas.

— A União Europeia e os Estados que a integramdevem empenhar-se numa renovação e valori-zação da O.S.C.E. (Organização de Segurança eCooperação Europeia), enquanto organização daNações Unidas, numa perspectiva de organiza-ção de todo o continente europeu e de procura deuma paz duradoura no mesmo.

Uma Europa de paz recusa a lógica de bloco polí-tico-militar, nomeadamente pela absorção da UEO(União da Europa Ocidental). Como recusa a su-bordinação à NATO e aponta para o seu definitivodesmantelamento.

nEMIGRAÇÃO1. O período decorrido desde as eleições legislativas de1995 confirmou, também para a Emigração Portuguesa,a frustração das expectativas criadas pela derrota do PSDe pelo fim de um período improdutivo e negativo de cercade 16 anos consecutivos deste partido à frente da políticagovernamental para as Comunidades Portuguesas.

De facto, 4 anos passados, também o Governo do PSnão resolveu nem respondeu à maioria dos problemasfundamentais com que se debate a Emigração Portu-guesa . Não promoveu a indispensável alteração qualitati-va e quantitativa do ensino da língua e da promoção dacultura portuguesas no seio das Comunidades, condi-ção da preservação da sua identidade e da sua ligaçãofutura, particularmente das jovens gerações de lusodes-

cendentes, a Portugal. Não desenvolveu linhas eficazesde apoio e valorização do movimento associativo , queconstitui uma rede dinâmica insubstituível na participaçãoe valorização dos emigrantes portugueses, antes prefe-rindo uma política casuística de subsídios avulsos e de“sacos azuis”. Não respondeu a problemas essenciais ecrescentes suscitados na área da Segurança Social pe-las centenas de milhar de portugueses emigrados queentram na idade da reforma e se confrontam com a moro-sa e deficiente capacidade de resposta dos Serviços aosprocessos relativos às suas pensões, não lutou contra asdramáticas situações de exclusão social e pobreza queafectam significativo número de compatriotas no Mundotambém afectados pela injustiça e pelas desigualdadessociais que são a marca das orientações dominantes docapitalismo neoliberal. Continua a falta de informação eapoio eficaz e generalizado aos emigrantes sobre os seusdireitos, para que os possam exercer e proteger melhoros seus interesses. Continua a falta de medidas que esti-mulem a canalização das poupanças dos emigrantes paraPortugal, tão importantes para o desenvolvimento do Paíse para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos.

2. O nosso juízo muito crítico da política governamentalna área das Comunidades Portuguesas não exclui natu-ralmente o reconhecimento de que algumas medidas fo-ram tomadas e alguns passos foram dados nestes 4 anos.Que no fundamental correspondem a reivindicaçõese propostas que há muito constituem bandeiras de lutado PCP e que foram em geral concretizadas de modoparcial, lento ou pouco coerente .

Foi o caso da constituição e eleição do Conselho dasComunidades Portuguesas , mas que desde logo o Go-verno procurou instrumentalizar e condicionar, tentandoreduzi-lo à condição de órgão de apoio à Secretaria deEstado desta área e cortando-lhe meios de funcionamen-to e intervenção autónoma e própria. Foi o caso do iníciodo processo de modernização e informatização dos ser-viços consulares e da aprovação do novo Estatuto doPessoal dos Serviços Consulares, mas nada fazendo paraa adequação da rede consular à actual realidade da distri-buição da emigração no Mundo e para o indispensávelreforço destes serviços em técnicos de apoio social e jurí-dico. Foi o caso da aprovação do novo Estatuto dos Pro-fessores de Português no Estrangeiro, mas que logo origi-nou novos focos de instabilidade e injustiça que puserama nu a fragilidade de uma área que deveria ser prioritáriano investimento do Estado português dirigido às Comuni-dades.

O Governo e o seu Secretário de Estado para esta áreaprivilegiaram claramente uma política de relações pú-blicas, de propaganda e de promoção de imagem, demuitas viagens e promessas mas menos actos con-cretos , em desfavor de uma orientação política que ata-casse eficazmente os problemas fundamentais da emi-gração portuguesa, quer na sua relação com Portugal querna sua integração nas sociedades de acolhimento. Preo-

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cuparam-se mais em ocupar e dominar o aparelho depoder ligado às Comunidades Portuguesas, numa lógicalamentável e idêntica à antes praticada pelo PSD. Usaramos progressos verificados no domínio da comunicação comas Comunidades Portuguesas, não para integrar, fazerparticipar e aproveitar os próprios agentes e criadoresculturais das Comunidades, para valorizar e projectar amodernidade e a capacidade realizadora dos emigrantesportuguesas, para projectar e debater os seus problemase aspirações, mas, como sucede de forma particularmen-te evidente com a RTPI, para veicular o seu discurso ofici-al e para continuar a projectar uma imagem redutora,distorcida e desactualizada da própria emigração.

3. É possível e é necessária uma outra política para asComunidades Portuguesas , que resolva e respondamelhor e com mais eficácia às obrigações do Estado por-tuguês para com os emigrantes portugueses e oslusodescendentes (quer na sua permanência no estran-geiro quer no seu regresso), que fortaleça também os seuslaços com Portugal e o seu positivo contributo para o de-senvolvimento do País e que ao mesmo tempo valorize eapoie uma inserção bem sucedida e prestigiada dos por-tugueses nos países onde vivem e trabalham e que aípromova a sua activa participação social, cultural, cívica epolítica.

Constituem elementos fundamentais para uma nova emais eficaz política dirigida às Comunidades Portu-guesas as seguintes orientações e medidas:

— a definição de um programa de expansão e qua-lificação do ensino da língua e da cultura por-tuguesas no seio das Comunidades Portuguesasem todo o Mundo, com a elaboração de um “LivroBranco” sobre o ensino do Português, com um forteinvestimento em mais meios financeiros, mais pro-fessores contratados e destacados, mais e me-lhores meios e apoios pedagógicos, mais apoiosao movimento associativo, melhor coordenação detodos os meios (incluindo o papel da RTPI), maisintensa pressão e diálogo junto dos Governos dospaíses de emigração portuguesa para a integraçãocurricular do ensino da língua e da cultura portu-guesa nos seus sistemas de ensino;

— a elaboração de um plano de reorganização eadequação da rede consular à actual realidadee distribuição da emigração, que assegure umamelhor cobertura e apoio, mais técnicos para oapoio social e jurídico aos emigrantes e concreti-ze a constituição das Comissões de Acção Sociale Cultural previstas no Regulamento Consular comrepresentação das Comunidades Portuguesas lo-cais, que em geral não estão concretizadas;

— a tomada de medidas de efectivo reforço dosServiços especializados da Segurança Socialem Portugal que permitam uma resposta pronta eeficaz às solicitações e problemas relativos aos

processos de pensões, cujo número aumenta àmedida que as primeiras gerações da nossa emi-gração acedem à idade da reforma;

— a intervenção do Estado português a favor doapoio a emigrantes portugueses que se encon-tram em situações dramáticas de pobreza e deexclusão social;

— definir um plano de apoio ao movimentoassociativo das Comunidades Portuguesas ,com a constituição de um Fundo dotado de ver-bas próprias no Orçamento de Estado e a defini-ção clara de critérios de apoio na base da auscul-tação prévia das associações, com o apoio emequipamentos e bens culturais (por exemplo bibli-otecas, meios e equipamentos audiovisuais einformáticos) e com a preparação e destacamen-to de animadores culturais;

— a elaboração de uma política cultural especifi-camente orientada para as Comunidades Por-tuguesas, que actualmente não existe, natural-mente coordenada com os diferentes serviçosculturais portugueses que intervêm no estrangei-ro (mas que orientam a sua actividade sobretudopara os cidadãos desses países) e aproveitandotambém os seus meios, que combata estereóti-pos ultrapassados e imagens redutoras da emi-gração portuguesa, que se oriente prioritariamentepara o diálogo e envolvimento das novas gera-ções de Lusodescendentes e promova o seucontacto com o que de mais progressivo e qualifi-cado possui a produção cultural em Portugal e nasComunidades Portuguesas;

— a efectiva colocação do serviço público deradiotelevisão e de radiodifusão (RTPI e RDPI)destinado às Comunidades Portuguesas efec-tivamente ao seu serviço , através da criação deprogramas de informação sobre a vida das Co-munidades Portuguesas no Mundo, da participa-ção dos criadores e agentes culturais das Comu-nidades, da difusão da melhor produção culturalde raiz portuguesa, da criação de espaços pluraise isentos de informação e de debate político diri-gidos à Emigração;

— a concretização de um plano eficaz de informa-ção e apoio aos emigrantes sobre direitos e pro-cedimentos , quer nos países onde residem querno tratamento dos seus problemas em Portugal,com recurso a todos os meios de comunicação dis-poníveis e que responda às enormes carênciasnesta matéria sentidas pelos emigrantes;

— o reforço dos meios próprios, da autonomia edas condições de funcionamento do Conse-lho das Comunidades Portuguesas e o aperfei-çoamento da legislação no sentido de reforçar asua democraticidade, autonomia e representa-tividade;

— a criação de incentivos que estimulem a cana-

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lização de poupanças dos emigrantes paraPortugal (nomeadamente pela actualização dalegislação referente ao “Sistema Poupança-Emi-grante”) e o seu melhor aproveitamento para o de-senvolvimento do País e a superação das desi-gualdades regionais.

nPOLÍTICA EXTERNA1. A política externa do governo do Partido Socialista, noseu conteúdo e linhas fundamentais, identificou-se no es-sencial, nalguns aspectos para pior, com a política exter-na do governo PSD/Cavaco Silva.

Foi uma política que em lugar de se pautar pela defesafirme dos interesses de Portugal e dos portugueses e dasoberania nacional, se vergou servilmente ante as impo-sições das grandes potências e alinhou com a sua estra-tégia de domínio planetário.

O governo do PS, longe de contrariar e combater o proces-so de globalização capitalista e uma “construção europeia”determinada pelos interesses do grande capital e das gran-des potências, comportou-se como gestor assumido e dis-ciplinado das orientações e decisões emanadas da OCDE,UE, FMI/BM e outros centros do imperialismo.

Em lugar de contrariar e combater a hegemonia dos EUAsobre a União Europeia e a Europa, o governo do PS des-tacou-se especialmente na defesa e prática de um“atlantismo” que tende a legitimar e a fortalecer essahegemonia.

Não se ignoram acontecimentos protagonizados por Por-tugal que - como o processo visando a transferência deMacau para a R.P. da China, a Cimeira Ibero-Americanado Porto, a própria Expo-98 - servem o interesse nacionale prestigiam o país.

Mas o que essencialmente caracterizou a política externaportuguesa nos quatro anos do governo do PS foi a faltade iniciativa, o silêncio e a ausência de posição própriasobre grandes questões da vida internacional, o show-offa par da aceitação de humilhantes imposições externas, oatropelo em aspectos essenciais da própria Constituiçãoda República nomeadamente do seu artigo 7º.

Nas relações com a Espanha , que se revestem da maiorimportância política, económica, cultural e de segurança,nem sempre o interesse nacional tem sido devidamenteacautelado.

Em relação a África e particularmente aos PALOP , é ne-cessária mais iniciativa e menos propaganda, e uma polí-tica coerente e sistemática junto da U.E. e outras instânci-as internacionais para libertar os países africanos (e ou-tros) do flagelo da dívida externa e do sistema de rela-ções de trocas desiguais. Tendências, que têm aflorado,para imiscuir Portugal nos assuntos internos de Estados

soberanos só podem prejudicar e comprometer o desen-volvimento de relações mutuamente vantajosas.

A política em relação a Timor-Leste - em que a luta dopovo timorense pela autodeterminação e a independên-cia entrou numa fase nova de importância crucial - temcarecido de clareza e firmeza, nomeadamente no que res-peita à intervenção para o isolamento internacional, políti-co e militar do regime indonésio.

Particularmente grave é o envolvimento de Portugal naestratégia hegemónica dos EUA e outras grandes potên-cias e na corrida armamentista a nível da NATO, UEO eEU. A participação de Portugal e das forças armadas por-tuguesas na guerra contra a Jugoslávia , realizada emfrontal violação do Direito Internacional e à revelia da pró-pria ONU, constitui um vergonhoso acto de subserviênciaem relação aos EUA/NATO tanto mais condenável, quan-to realizada à margem de qualquer debate e resolução daAssembleia da República, confirmando aliás que sobera-nia e democracia são realidades inseparáveis.

2. A política externa que o PCP preconiza para Portugalbaseia-se na defesa e promoção dos interesses legítimosde Portugal e dos portugueses, considera a independên-cia e soberania nacional valores inalienáveis da nação por-tuguesa, respeita e valoriza a Constituição da Repúblicaque, apesar de sucessivas modificações, consagra comclareza e rigor uma orientação patriótica e internacionalistapara o relacionamento externo do Estado português.

Os acelerados e complexos processos de mudança davida internacional implicam uma política externa atenta,dinâmica, diversificada, atenta às novas realidades e aformas variadas de relacionamento e cooperação. Umapolítica transparente, formulada com o envolvimento econsulta regular das instituições democráticas e dos prin-cipais partidos e organizações sociais e apoiada na forçade uma opinião pública esclarecida.

A política externa necessária a Portugal rejeita imposiçõesexternas incompatíveis com o interesse, a dignidade, aindependência e a soberania do país. Toma corajosamen-te posição em prol das grandes causas da liberdade, doprogresso social e da paz. Empenha-se na construção dealianças com outros países de todos os continentes paracombater as profundas injustiças e desigualdades sociaisdo mundo contemporâneo, para enfrentar a “nova ordem”totalitária hegemonizada pelos EUA e outras grandes po-tências, para construir um mundo mais justo, mais pacífi-co, mais solidário e mais humano.

Este final de século apresenta-se carregado de perigospara a paz e a segurança internacional. A guerra nosBalcãs, o novo conceito estratégico da NATO, amilitarização da U.E. com a criação do “pilar europeu” daNATO, o relançamento do militarismo no Extremo-Orien-te, os ataques à ONU e à Carta das Nações Unidas, legiti-mam grandes inquietações. Entretanto, por toda a parte

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há forças, povos e países que resistem e lutam para inver-ter o rumo negativo da evolução mundial. Rejeitando comfirmeza o espartilho em que as grandes potências da NATOe da U.E. pretendem aprisioná-lo, Portugal pode e deveinserir-se, com coragem e convicção, na grande correnteque luta por um mundo de progresso, paz e cooperação.

3. Por isso o PCP defende:

— basear a política externa na mais ampla consul-ta das forças políticas e organizações sociaisem relação a todas as principais questões de Es-tado;

— garantir a articulação responsável dos órgãosde soberania - Assembleia da República, Presi-dente da República, Governo - em torno da políti-ca externa;

— estimular uma diplomacia activa e criativa ,exercida por diplomatas escolhidos em função dasua real competência e espírito democrático e nãona base de critérios partidários discriminatórios;

— diversificar as relações externas de Portugalcombatendo o seu perigoso afunilamento para aU.E. e EUA e dando particular atenção ao desen-volvimento das relações com os PALOP e o Bra-sil ; com os países do Magrebe e da Bacia doMediterrâneo ; com a China , com a Índia , com aÁfrica do Sul e outros países onde a emigraçãoportuguesa é numerosa, com outros países daEuropa, África, Ásia e América Latina;

— impulsionar uma activa política de desarmamen-to orientada para a dissolução da NATO , paraimpedir a transformação da U.E. num blocopolítico-militar , para obter a proibição e destrui-ção das armas nucleares e outras armas dedestruição massiva;

— intervir para a implementação efectiva de umsistema de segurança e cooperação na Euro-pa com base nos princípios da Acta de Helsínquiae potenciando a vocação e papel da OSCE;

— agir em defesa da Carta das Nações Unidas eda ONU e pela sua democratização , com firmeoposição à instrumentalização e marginalizaçãoda ONU pelos EUA e outras grandes potências;

— apoiar por todos os meios ao alcance de Portugala concretização da independência de Timor Les-te, em conformidade com a vontade massivamenteexpressa pelo seu povo na consulta democráticade 30 de Agosto de 1999;

— defender uma Nova Ordem Económica Interna-cional e uma política de cooperação e apoio acti-vo e solidário ao desenvolvimento dos povos dospaíses subdesenvolvidos.

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