uma perspectiva de longo período sobre a integração latino-americana vista pelo brasil

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O objetivo do texto é discutir o processo de integração latino-ameri- cana, com atenção especial às posições brasileiras, visando compre- ender os elementos de continuidade entre a política dos primeiros anos da República, particularmente o período do Barão do Rio Bran- co (1902-1912) e a atualidade. Buscam-se as raízes remotas da polí- tica brasileira em relação à integração regional que nos anos 1980 549 Contexto Internacional (PUC) Vol. 36 n o 2 – jul/de 2014 1ª Revisão: 10/08/2014 * Artigo recebido em 17 de junho de 2013 e aprovado para publicação em 6 de junho de 2014. ** Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP), professor titular aposen- tado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e docente do Programa de Pós-graduação “San Tia- go Dantas” da Unesp-Unicamp e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: [email protected]. *** Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), professor adjunto da Uni- versidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contempo- rânea (Cedec) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu). E-mail: [email protected]. **** Professor titular aposentado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador do Cen- tro de Estudos de Cultura Contemporânea e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu). E-mail: [email protected]. CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 36, n o 2, julho/dezembro 2014, p. 549-583. Uma Perspectiva de Longo Período sobre a Integração Latino-americana Vista pelo Brasil* Clodoaldo Bueno,** Haroldo Ramanzini Júnior*** e Tullo Vigevani****

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Oobjetivodotexto discutir oprocessode integraolatino-ameri-cana, comateno especial s posies brasileiras, visando compre-ender os elementos de continuidade entre a poltica dos primeirosanos da Repblica, particularmente o perodo do Barodo RioBran-co (1902-1912) e a atualidade. Buscam-se as razes remotas da pol-tica brasileira em relao integrao regional que nos anos 1980549ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014* Artigo recebido em 17 de junho de 2013 e aprovado para publicao em 6 de junho de 2014.** Doutor emHistria Econmica pela Universidade de So Paulo (USP), professor titular aposen-tado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e docente do Programa de Ps-graduao San Tia-go Dantas da Unesp-Unicamp e da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP).E-mail: [email protected].*** Doutor em Cincia Poltica pela Universidade de So Paulo (USP), professor adjunto da Uni-versidade Federal de Uberlndia (UFU) e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contempo-rnea (Cedec) e do Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos(INCT-Ineu). E-mail: [email protected].**** Professor titular aposentado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador do Cen-tro de Estudos de Cultura Contempornea e do Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia paraEstudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu). E-mail: [email protected] INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 36, no2, julho/dezembro 2014, p. 549-583.UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil*ClodoaldoBueno,**HaroldoRamanziniJnior***eTulloVigevani****confluiu na proposta do Mercosul. Ser estudada, portanto, a polti-ca brasileira relativa aos seus vizinhos ao longo do sculo XX. Seroapontados experimentos de coordenao de polticas e estratgiasque buscavama maximizao de interesses dos pases da regio. ocaso do acordo ABCdiscutido e malogrado no perodo do Baro doRio Branco. Houve outros ensaios ao longo do sculo XX. Um de-les, o Tratado sobre Livre Intercmbio, assinado pela Argentina epeloBrasil, emnovembrode1941, pelos ministros EnriqueRuiz-Guiaz e Oswaldo Aranha, mas que no chegou a ser efetiva-do. Aquesto foi retomada coma importante proposta de umacordode livre comrcio apresentada nos anos 1950 por Juan Domingo Pe-rn, da Argentina. Deve ser lembrada ainda a tentativa, que no pas-sou de tal, do governo Humberto de Alencar Castello Branco de ne-gociar uma Unio Comercial coma Argentina, presidida pelo Gene-ral Ongania em 1967, ideia logo abandonada com a posse do Gene-ral Artur da Costa e Silva. Esses movimentos so significativos nosentido de demonstrar acordos de aproximao entre os pases da re-gio durante o sculo XX, sobretudo entre Brasil e Argentina, mas,at os anos 1980, no tiveram forte densidade. Durante parte do pe-rodo em anlise, a relao do Brasil com os pases vizinhos foi im-pulsionada por aspectos de rivalidade e diferenciao.Antes do Mercosul, as discusses sobre a integrao na Amrica La-tina e do Sul tiveram um carter romntico ou apenas comercial,como foramos casos da Aliana Latino-Americana de Livre Comr-cio (ALALC), criada em 1960, e da Associao Latino-Americanade Integrao (Aladi), a partir de 1980. Do ponto de vista da polticaexterna brasileira, apenas a partir de meados dos anos 1980 o mbitoregional passou a ser visto como um eixo estruturador do comporta-mento internacional do pas. Houve tentativas anteriores no sentidode fomentar a cooperao regional, no necessariamente emuma l-gica de integrao. O contexto latino-americano at os anos 1980permitiuque a busca pelodesenvolvimentonacional autnomofosseClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani550 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014um objetivo forte. Em outros casos, a busca de uma relao privile-giada com os Estados Unidos uma atrao forte no somente porheranas estratgicas determinadas pelo contexto continental, mastambm pelos atrativos que a maior economia do continente podeoferecer.Uma interpretao reiterada por alguns autores que o ano de 1985sinaliza a passagemda fase romntica para a fase pragmtica da inte-grao, conforme confirmariam as relaes entre Argentina e BrasilnosgovernosRal AlfonsneJosSarney(BARBOSA, 1996).Essas relaes, a partir desse momento, superam dcadas de receiosrecprocos, o que possibilitou o incio do processo de integrao eco-nmica fora de esquemas multilaterais tradicionais, mas apoiado so-bre a parcial complementaridade de suas economias. Para o Brasil,preservava-se o sentido universalista de sua poltica externa, mas,dentro dele, foi fortalecida e ampliada a prioridade s relaes comos pases vizinhos, sobretudocoma Argentina. As iniciativas de inte-grao, tanto na etapa bilateral, como, posteriormente, na do Merco-sul, viriama modificar o padro de interao dos pases do Cone Sul.Tiveramcomo marcos a soluo do contencioso Itaipu-Corpus e, emseguida, a solidariedade brasileira Argentina, na Guerra das Malvi-nas de 1982.Tendo emconta os objetivos apresentados acima, o trabalho est or-ganizado da seguinte forma: na primeira seo, discutiremos a traje-tria da poltica brasileira emrelao integrao regional no pero-do do Baro do Rio Branco at a Operao Pan-Americana de 1958.Na segunda seo, analisaremos as experincias da Comisso Eco-nmica para a Amrica Latina e o Caribe (Cepal) e da ALALC, bus-cando identificar seu significado no tocante poltica brasileira deintegrao e cooperao. A terceira seo ser dedicada anlise daAladi. Por fim, a quarta seo tem como objetivo analisar o Merco-sul, considerando a sua diferena emrelao s experincias anterio-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil551ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014res. Tambm buscamos identificar os elementos de continuidade dapoltica brasileira emrelaoaos pases da Amrica doSul, docome-o do sculo XX aos dias de hoje.1.DoABCdeRioBrancoOperaoPan-Americana(1902a1958)O Baro do Rio Branco, durante toda sua gesto no Ministrio dasRelaes Exteriores (MRE) (1902-12), cultivou retrica elevada efavorvel s boas relaes com todas as naes do hemisfrio, masconhecia os limites da solidariedade sul-americana. Por isso, mes-mo, quando se tornou figura de prestgio emtoda a regio, teve o cui-dado de nunca deixar aparecer que seu pas tivesse pretenses de li-derana. As suscetibilidades que as naes hispano-americanas exi-biam em questes que envolviam interesses brasileiros o levavam aperceber que oBrasil tinha pouca chance de exercer influncia solit-ria sobre elas. Rio Branco considerava seu pas diferente dos demaisda Amrica Latina, poca palcode interminveis convulses polti-cas. Os pronunciamentos e as guerras civis traziam descrdito, ver-gonha e desconsiderao para a rea, que, assim, atraa atentados soberania de suas naes. O Chile seria a nica exceo. A maneiramais eficiente de se proteger contra tais atentados seria, segundo ele,garantir a estabilidade poltica da regioa fimde se fazer encerrar suaera de revolues. Reconhecia que no era s nos pases vizinhosque lavra o esprito revolucionrio, mas tambmno Brasil, desde al-guns anos, e na Repblica Argentina at certo ponto (AHI, 1904). Alinha geral da poltica exterior de Rio Branco em relao AmricadoSul foi a busca doequilbrioa fimde se evitar sonhos imperialistasou projetos de hegemonia originados no seu prprio espao, o que oconvenciaaobservarumapolticadecordialintelignciacomaArgentina e o Chile (LINS, 1945, p. 613). No ofcio ao ministro ple-nipotencirio do Brasil emBuenos Aires, datado de 22 de novembroClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani552 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014de 1904, formulou claramente seu pensamento a respeito e sugeriu acriao, pelos trs principais pases da Amrica do Sul, de uminstru-mento legal que levasse a atitudes voltadas para a paz e a ordem naregio.Na Argentina, o presidente Julio Roca (1880-1886; 1898-1904) foitambm defensor da atuao conjunta das trs principais repblicasda Amrica do Sul, integrantes do ento chamado tringulo ABC.Em 1904, ele e seu chanceler Jos A. Terry estabeleceram, comouma das condies para o reconhecimento do novo Estado do Pana-m, que o ato fosse conjunto, realizando-se, assim, conforme afir-mou Fraga (1994, p. 44), a primeira ao concreta do ABC.Ao defender a influncia compartilhada, Rio Branco agia sobretudocom pragmatismo. A amizade entre as trs naes, alm do equil-brio, impediria intervenes de uma delas emrepblica de menor ex-presso, bem como deixava o Brasil mais vontade no contextosub-regional. Em correspondncia oficial, afirmou: a estreita ami-zade entre o Brasil e o Chile tem servido para conter as suas [dos ar-gentinos] veleidades de interveno franca no litgio chileno-perua-no, noque tivemos coma Bolvia e noque ainda temos pendente como Peru (AHI, 1906). A aproximao das trs naes adquiria um arde entente do Sul e provocava receios, sobretudo nos peruanos, con-forme informou o embaixador do Brasil em Washington, JoaquimNabuco.Em 20 de outubro de 1907, em Santiago, Puga Borne (ministro dasRelaes Exteriores do Chile) e Lorenzo Anadn (representante daArgentina naquela capital) redigiram um projeto de tratado para re-gular as relaes entre os pases do ABC. Oesboo feito por ambos,embora contemplasse a regulamentao da imigrao e a adeso deoutros pases, tinha carter de aliana militar e at previa uma dis-creta equivalncia nas foras navais dos trs. Oassunto no prospe-rou, sobretudo em razo da conjuntura ento existente nas relaesUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil553ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014bilaterais Brasil-Argentina, marcada pela tenso, diferente, portanto,daquela que se observara ao tempo do presidente Roca. Rio Brancono via possibilidade de cordialidade entre Brasil, Chile e Argentinaenquanto seu rival na questo das Misses, Estanislo Zeballos, queteria veleidades de hegemonia e interveno emnegcios alheios,fosse ministro das Relaes Exteriores. Ochanceler brasileiro queriaexaminar o assunto relativo entente s mais adiante, comtempo ecalma e de modo a no prejudicar a intimidade com o governoamericano, que era grande, e promover o estreitamento da amizadetambmcomoChile(apudCONDURU, 1998, p. 106-110, p.77-78).Em13 de fevereiro de 1909, Rio Branco recebeu a minuta de umpro-jeto de pacto de cordial inteligncia de Puga Borne, naquele momen-to ex-ministro das Relaes Exteriores, quando de sua passagempelo Brasil em direo Europa, a fim de ocupar a representao deseu pas emParis. Rio Branco formulou outro e o entregou, no dia 21do mesmo ms, ao referido diplomata, mas preferiu que a propostafosse apresentada Argentina pelo Chile. Segundo Conduru (1998),o projeto de Rio Branco preservou no artigo 1oa frmula do projetoPuga Borne ao declarar que havia entre os trs pases a mais perfeitaharmonia e que desejavam mant-la e robustec-la, procurandoproceder sempre de acordo entre si emtodas as questes que se rela-cionem com os interesses e aspiraes comuns e nas que se encami-nhem a assegurar a paz e estimular o progresso da Amrica do Sul(apud CONDURU, 1998, p. 112; BANDEIRA, 1973, p. 179; LINS,1945, v. 2, p. 770-771). Ricupero (1995) afirma que o foco do acor-doestava noseuartigo1o. Peloartigo2odoprojeto, as partes obriga-vam-se a submeter a arbitramento os desacordos de qualquer natu-reza que ocorrerem entre elas e que no tenham podido resolver-sepor via diplomtica, desde que no envolvessem interesses vitais,a independncia, a soberania ou a honra dos Estados contratantes. Oartigo 6oprevia regras a serem observadas na hiptese de desinteli-gncia grave entre eles que no comportassem recurso a juzo arbi-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani554 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014tral. A preocupao de Rio Branco com a ordem e a estabilidade daregio est refletida no artigo 9o, que previa a obrigao de os gover-nos contratantes impedirem, nos respectivos territrios, que se reu-nisseme se armassemimigrados polticos. Os dois artigos seguintesdetalhavam ainda mais o procedimento ao vedarem o comrcio aosinsurgentes de pases limtrofes, alm de outras disposies como odesarmamentodeasilados(CONDURU, 1998, p. 75, p. 84, p.110-112; LINS, 1945, p. 770-771; LINS, 1965, p. 522-523;RICUPERO, 1995, p. 95).O projeto do ABC de Rio Branco no contemplava questes econ-micas ou comerciais nem o referente equivalncia naval no ConeSul. Aaproximao entre os trs pases no seria destinada a contra-balanar a influncia norte-americana na Amrica do Sul, o que nospermite inferir que, para o chanceler brasileiro, o ABCfazia parte doque se poderia chamar de condomnio oligrquico de naes destina-do a manter a paz nessa rea do hemisfrio (AHI, Despacho paraWashington, 10 mar. 1906 apud LINS, 1945, p. 757-761).Aideia de que o Brasil, a Argentina e o Chile devessemse apoiar re-ciprocamente e de que essa eventual entente no assumiria carterantinorte-americano faria aumentar o prestgio das trs naes e con-tribuiria para afastar tentativas imperialistas da Europa.O ABC, ao tempo de Rio Branco, no passou da fase preliminar denegociaes. Mesmo assim, houve uma tentativa de atuao concer-tada entre as trs naes quando da IV Conferncia InternacionalAmericana, que se realizou em 1910, em Buenos Aires. O Brasil to-mou a iniciativa de estabelecer secretamente um entendimento pr-vio comos outros dois pases emtorno de uma frmula de resoluoem apoio doutrina Monroe, redigida por Joaquim Nabuco poucoantes de sua morte. A reao que o vazamento do assunto provocounos representantes das demais naes americanas levou o Brasil e aArgentina, apoiados pelos Estados Unidos, a desistir de submeter aUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil555ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014debate a resoluona citada conferncia (BURNS, 1966,p.154-155). O New York Herald, em 4 de setembro de 1910, publi-coumatria de seucorrespondente emBuenos Aires, na qual atribuiu ao dos delegados chilenos o fracasso da ampliao da doutrinaMonroe que iria ser proposta pela representao brasileira. A ideiado ABC, todavia, iria reaparecer mais adiante, na gesto Lauro Ml-ler, mas em outra conjuntura das relaes hemisfricas.Os tratados pacifistas foramuma reao exacerbaoda crise da erados imprios na primeira dcada do sculo XX. Assinaram-se trata-dos e formaram-se ligas com objetivos ofensivos e defensivos, bemcomo pactos destinados a evitar rupturas da paz por meio do apazi-guamento e propostas de criao de mecanismos para soluo decontrovrsias.Em24de julhode 1914, Domciode Gama, embaixador doBrasil emWashington, e William Jennings Bryan, secretrio de Estado nor-te-americano, firmaramumtratado pacifista que previa soluo ami-gvel de dificuldades que pudessem surgir entre seus dois pases. Oato fazia parte da srie de acordos bilaterais do gnero, propostos eassinados pelo governo norte-americano com diversos pases. Ofir-mado como Brasil era o vigsimo e estabelecia que as eventuais difi-culdades, no abrangidas pela Conveno de Arbitramento de 23 dejaneiro de 1909, seriam submetidas a uma comisso permanente deinvestigao, na hiptese de no se conseguir acordo diplomtico di-reto. Os pases signatrios comprometiam-se, ainda, a no recorrer guerra enquanto a citada comisso no apresentasse seus resultados.Ficavam, todavia, excludas as questes de carter jurdico que afe-tassemos interesses vitais, a independncia, ou a honra de qualquerdos dois Estados contratantes, ou [que pusessem] em causa interes-ses de terceiro (MRE, 1914/15, p. 37, 140-144).Avisita que Lauro Mller, sucessor de Rio Branco no Ministrio dasRelaes Exteriores, fez Argentina em 1915 seguiu na esteira daClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani556 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014ento recente mediao do ABC na crise das relaes Estados Uni-dos-Mxico e assinalou um momento de extrema cordialidade entreas duas principais naes atlnticas do Cone Sul. Em25 de maio, emBuenos Aires, o chanceler brasileiro e seus colegas Jos Luis Mura-ture e Alejandro Lyra, respectivamente, da Argentina e do Chile, as-sinaram um Tratado Pacifista, designado tambm por Tratado doABC, destinado a solucionar amigavelmente eventuais questes quesurgissem entre os pases signatrios, no abrangidas pelos arbitra-mentos previstos emtratados anteriores. Tal como o disposto no tra-tado norte-americano, as controvrsias que no fossem resolvidaspor arbitragem ou pela via diplomtica direta seriam submetidas auma comisso permanente, integrada por umdelegado de cada pas.No deveria haver hostilidade enquanto a citada comisso no apre-sentasse seu parecer ou enquanto no decorresse um ano da sua for-mao. Adiferena emrelao aos tratados pacifistas dos EUA queo ABCseria tripartite. Amatria do tratado era modesta e seu prop-sito era congelar os conflitos por um ano e meio, pois o prazo para aapresentao do parecer podia ser prorrogado por mais seis meses(BURNS, 1977, p. 394;MRE, 1914/15, p. 144-149;FERRARI,1981).OTratado do ABCde 1915, conforme consta no relatrio ministerialbrasileiro, no apresentou nada de especial emrelao ao tratado pa-cifista que oBrasil firmara comos Estados Unidos. Otratadode 1915era menor que as propostas do ABCde 1907-09 e complementar aostratados de arbitramento j assinados bilateralmente. O ato de 1915foi, portanto, distinto daquelas propostas, at porque no tinha alcan-ce regional e no se previa aliana militar, equivalncia naval ou(comopropusera RioBranco) cooperaoanti-insurrecional(CONDURU, 1998, p. 12).A ideia inicial de Mller era firmar um tratado de amizade perptuacom a Argentina. Seu colega Jos Luis Murature, todavia, acolheu aproposta no sentido de enquadr-la nos termos dos atos semelhantesUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil557ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014j firmados pelos Estados Unidos. Na mensagememque o presiden-te Victorino de la Plaza e Murature encaminharamo tratado ao Con-gresso de seu pas para a apreciao, informavamque o convnio eraanlogoaos tratados chamados pacifistas que os Estados Unidos ce-lebraram com a maior parte dos governos sul-americanos, inclusiveo nosso (AHI, 1914; 1915).1A concepo que o governo argentino tinha do tratado do ABC deiniciativa brasileira foi vista pelo representante da Frana emBuenosAires como simples cortesia internacional. Tal constatao no eradifcil de se fazer, pois o governo argentino aproximava-se do ABC,mas no abandonava sua poltica de armamentos, conforme notou ojornal portenhoLaMaana. A Cmara dos Deputados brasileiraaprovou o tratado de 25 de maio, o mesmo fazendo o Senado em3 denovembro de 1915. Opresidente da Repblica sancionou-o em12 domesmo ms. O tratado foi tambm aprovado pelo Senado chileno.Na Argentina, o Senado aprovou-o por unanimidade aps o discursodo relator, JoaquimGonzles. No o foi, todavia, na Cmara dos De-putados, onde seus opositores no encontraramrazo para no esten-d-lo s demais repblicas, almde teremvislumbrado intenes he-gemnicas e intervencionistas. Lus Maria Drago e Zeballos foramos destaques da oposio.Na Argentina, havia ainda a interpretaode que otratadodoABCli-mitaria a direo de sua poltica exterior, pois seria obrigada a mar-char a reboque do Brasil e do Chile. Luis P. Tamini2j em 1912 en-xergara desta forma a aproximao do ABC. Coma chegada dos ra-dicais ao poder, o tratado foi definitivamente descartado emBuenosAires. Em maro de 1917, La Gaceta de Buenos Aires registrava oesfriamento na ativa fraternidade propiciada pela gesto anterior dodoutor Plaza (FERRARI, 1981, p. 70).Na interpretao de Heitor Lyra (1992), o ABCteria sido umfracas-so da diplomacia brasileira emrazo da sua inoportunidade e da ina-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani558 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014bilidade no seu encaminhamento, e, por isso, acolhido negativamen-te no continente, sobretudo por aqueles pases que se sentiram colo-cados em segundo plano (CONDURU, 1998, p. 71-72; OTERO,1998-1999, p. 117-118, p. 122-123). A iniciativa de Mller recebeutambmcrtica interna. Odeputado federal Dunshee de Abranches estudioso das relaes internacionais e ex-colaborador de Rio Bran-co criticou na Cmara, na sesso de 6 de outubro de 1915, a iniciati-va do ministro Mller, como argumento, entre outros, de que o trata-do seria desnecessrio (Cf. CONDURU, 1998, p. 72-73). Pandi Ca-lgeras, em1918, classificouotratadocomodesastre, porque, empoltica internacional, ato intil ato perigoso, pois no resolve pro-blema algume, por suas declaraes, pode ser invocado emcircuns-tnciasoutras, quenohaviamsidoprevistas(CALGERAS,1987, p. 502). J havia trs pactos bilaterais entre Argentina, Brasil eChile sobre arbitramento. Assim, indagava por que substituir umaeventual discusso entre dois contratantes por outra de trs, o que le-varia a umagrupamento de dois contra um. Almdisso, sendo umpacto de amizade perptua, firmando princpios de fraternidadecontinental, no tinha como evitar a adeso de outras potnciassul-americanas, e perguntava: Sendo o Chile um dos signatrios,que atitude [seria] a do ABC se o Peru e a Bolvia aderissem e, poriniciativa brasileira (j que tivemos o caso) reviverem a palpitantequesto de Tacna e Arica, a Alscia-Lorena de nosso Continente?Adormecida, hoje, ter vindo despert-la a desasada gesto do Ita-maraty. Aconcluso de Calgeras foi enftica: Resultado: de sim-ptico a todas as repblicas do Pacfico, o Brasil se tornou a ameaa paz da Amrica (CALGERAS, 1987, p. 502).Cumpre reforar que o Tratado de 1915 nada tinha de resistncia penetrao poltica e econmica dos Estados Unidos ou mesmo daEuropa. Aaliana informal do ABCno fora acolhida comhostilida-de pelos Estados Unidos, que estariammudando sua forma de tutelasobre os vizinhos dosul. APrimeira Guerra levoua uma crise total daUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil559ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014ordeminternacional na qual se inseria oABC, que, emconsequncia,desapareceusemencontrar condies para ressurgir noentreguerras.No comeo de 1923, houve o colapso definitivo da poltica do ABC,pois a chancelaria argentina recusou proposta brasileira de uma reu-nio prvia dos trs em Valparaso, para tratar do tema relativo aosarmamentos navais, antes da realizao da VConferncia Pan-Ame-ricanadeSantiago(SMITH, 1991, p. 80; DONGHI, 1972, p.292-293; FERRARI, 1981, p. 70).A Primeira Guerra Mundial interrompeu a sequncia das confern-cias internacionais americanas, o que contribuiu para o arrefecimen-to da solidariedade hemisfrica na dcada de 1920, visvel na VIConferncia Internacional Americana (Havana, 1928), quando ficountida a ciso EUA-Amrica Latina. Na conjuntura imediatamenteanterior Segunda Guerra, os Estados Unidos voltaram-se, nova-mente, para a Amrica Latina, praticando uma poltica de aproxima-o liderada pelo presidente Franklin D. Roosevelt, que a designoude boa vizinhana. No Brasil, a partir de 1930, iniciou-se o perodoGetlio Vargas, no qual se deu nfase ao pan-americanismo, aplica-do na questo de Letcia (conflito entre Peru e Colmbia), e na me-diao, juntamente coma Argentina, da Guerra do Chaco. Na ordemmundialdosegundops-guerra,foiprevistanacartadaONUacriao de organismos regionais. Assim, em 1947, foi assinado emPetrpolis oTratadoInteramericanodeAssistnciaRecproca(TIAR), que previa mecanismos de manuteno da paz e da seguran-ahemisfrica. AOrganizaodosEstadosAmericanos(OEA),criada em1948 pela IXConferncia Internacional Americana, reali-zada em Bogot, a sucessora da Unio Pan-Americana criada em1890 e responsvel pelas conferncias que se lhe seguiram. Com oTIAR e a OEA, o regionalismo hemisfrico integrou-se ordemmundial do segundo ps-guerra.Ao trmino da Segunda Guerra (maio de 1945), da qual o Brasil par-ticipou ao lado dos Aliados, seguiu-se a deposio de Vargas emou-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani560 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014tubro. Redemocratizado o pas, o marechal Eurico Gaspar Dutra foieleito pelo voto direto em 2 de dezembro de 1945 e tomou posse emjaneiro do ano seguinte. Onovo presidente manteve a poltica exter-na centrada na proximidade aos Estados Unidos (apesar de fortes di-vergncias no campo econmico) em sequncia da aliana militarhavida durante a guerra. No plano interno, administrou economia efinanas nacionais segundo princpios liberais. Nas vertentes internae externa, assumiu, portanto, trajetria diversa daquela da Argentina,que, nas mos de Juan Domingo Pern, rumava para o nacionalismoe afastamento dos Estados Unidos, fatores que punham o Brasil emguarda e refratrio a qualquer projeto internacional de aproximaotipo ABC. O retorno de Vargas ao poder em 1951 alterou esse qua-dro, voltando dubiedades prprias de seu estilo de governar, o queacabou levando ao distanciamento dos Estados Unidos. frente doMinistriodas Relaes Exteriores foi aladoJooNeves da Fontou-ra, defensor da proximidade comos EUAe contrrio aproximaocom Buenos Aires, em cuja embaixada reps Joo Batista Lusardo,gacho, antigo companheiro, adepto do pacto do ABC e amigo deJuan Domingo Pern, que ansiava pela unio das trs principais na-es do sul do hemisfrio. Internamente, os contrrios aproxima-o denunciavamque, por trs do pretendido pacto, Pern alimenta-va propsitos expansionistas sobre o segmento sul do continente.Isso porque, diante dos blocos de poder antagnicos liderados pelosEUAe pela Unio Sovitica, Pern propunha uma terceira posio a Amrica do Sul liderada pelas naes que compunhamo ABC. Aoposioliberal e parte da imprensa denunciaramoperigoda instala-o de uma repblica sindicalista ao ver a aproximao com Pern.Aps um perodo de hesitao permeada pelo embate interno, Var-gas contatouPernreservadamente em1953, usandoumintermedi-rio, para indagar sobre sua disposio de formar o ABC. Aps darresposta positiva, o presidente argentino ficou aguardando manifes-tao de Vargas, que, todavia, no deu sequncia ao assunto, prova-velmente em razo da crise interna. A demora levou Pern, em con-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil561ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014ferncia secreta na Escola Nacional de Guerra argentina, a acusarVargas de fraqueza e opinar que o Itamaraty punha obstculos unio dos dois pases. O texto vazou e, no Rio de Janeiro, chegou smos do oposicionista Carlos Lacerda, que o publicou na Tribuna daImprensa, transformando o assunto em escndalo poltico. Vargasfoi acusado de traidor da ptria, particularmente pelos apoiadores doveemente jornalista Carlos Lacerda. Nessa altura, o governo Vargasj perdia sustentao. Meses depois, em 24 de agosto de 1954, Var-gas suicidou-se em meio a uma crise poltica na qual se entrecruza-ram componentes externos e internos. Pern foi derrubado do poderno muito tempo depois, em 21 de setembro de 1955 (BANDEIRA,1987, p. 25, p. 30-32). Antes disso, j estavammortas as possibilida-des de um pacto tipo ABC (CAVLAK, 2008, p. 56, p. 65, p. 169, p.171, p. 176, p. 182, p. 195, p. 201).As relaes do Brasil coma Amrica Latina voltarama ganhar nfa-se na gesto de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1955-60) com olanamento da Operao Pan-Americana (OPA) em1958 como pro-posta de cooperao internacional de mbito hemisfrico comvistasa banir da Amrica Latina a misria e o subdesenvolvimento, vistoscomo portas de entrada para ideologias antidemocrticas. Aapresen-tao da OPA aproveitava o momento de recrudescimento do anti-norte-americanismo que criava dificuldades nas relaes dos Esta-dos Unidos com as naes do sul hemisfrico que no receberam osbenefcios da cooperao econmica prestada por aqueles a outrasreas do mundo. O presidente brasileiro pediu ao presidente nor-te-americano Dwight Eisenhower que o pan-americanismo polticotivesse traduo econmica, pois seria a maneira mais eficiente de ohemisfrio se opor ameaa materialista e antidemocrtica do blo-co sovitico. Kubitschek referia-se no apenas ao Brasil, mas Amrica Latina na defesa do reforo da democracia, pois esta seriaincompatvel com a misria. Para ele, a OPA no era um simplesprograma, mas toda uma poltica ajustada s novas modalidadesda crise mundial, em um momento crtico para o Ocidente. A pro-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani562 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014posta pedia estudos sobre a aplicao de capitais em reas atrasadasdo continente, aumento do crdito das entidades internacionais, for-talecimento da economia interna, disciplina no mercado de produtosde base, formaode mercados regionais, ampliaoe diversificaoda assistncia tcnica, e a necessidade de capitais pblicos para seto-res bsicos e infraestrutura. Apesar da m vontade do secretrio deEstado John Foster Dulles, que achou a ideia inoportuna, o governonorte-americano no teve como fugir de sua discusso em razo darepercusso internacional que o assunto adquiriu. AOPA, apesar debemacolhida pela OEA, que constituiu uma comisso especial de re-presentantes dos seus 21 membros (Comit dos 21) incumbida de lhedar execuo, apresentou poucos resultados prticos. A criao doBanco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apontada comoseu nico resultado concreto, at porque coincidiu comaspirao an-tiga na regio(BANDEIRA, 1973, p. 378, p. 381-382; SETTE, 1996,p. 251; LEITE, 1959, p. 26-43).Ointegracionismoat oinciodos anos 1950, para os latino-america-nos, teve carter poltico. As relaes comerciais, incipientes em al-gumas sub-regies, eramregidas por acordos bilaterais. As possibili-dades de soerguimento econmico da rea pela via da integraocomercial e da cooperao econmica comearam a ser percebidasno decorrer daquela dcada (na qual se situa a gesto Juscelino Ku-bitschek no Brasil), merc, inclusive, de exemplos externos, nomea-damente, o Tratado de Roma (1957).2.OBrasil,aCepal eaALALCRubens Barbosa (1996, p. 135) considera que o perodo de discus-ses conduzidas pela Cepal, no final dos anos 1950 e no incio dosanos 1960, deve ser definido como romntico, do ponto de vista daspropostas e possibilidades concretas para a integrao. As discus-ses na Cepal iniciaram-se em1953 e foramestimuladas por proble-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil563ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014mas reais existentes na Amrica Latina e que, pensava-se na Comis-so, poderiamser aomenos atenuados por umprocessode integraoeconmica entre os pases da regio, visualizado, ento, sobretudocomointegraoindustrial. importante considerar que, na perspec-tiva da Cepal, a integrao regional pensada combase no fortaleci-mento de capacidades nacionais.Nos marcos da Cepal, a industrializao era vista, nas dcadas de1950 e 1960, como a soluo de longo prazo para o problema da vul-nerabilidade externa, que seria uma caracterstica intrnseca dos pro-cessosdeindustrializaoperifricos. Aintegraoregional eraapontada, tambm, como uma possvel resposta para esse problema.ACepal esteve diretamente envolvida na criaoda ALALCe enten-dia que esse novo acordo regional poderia contribuir para o incio deum processo de diversificao das exportaes dos pases da regiopor esforo prprio, atravs da via, teoricamente mais fcil, do co-mrcio intrarregional. O mercado comum latino-americano teria avirtude de ampliar as transaes dos setores industriais exigentes, fa-cilitando o aprofundamento do processo substitutivo de importaes(BIELSCHOWSKY, 2000). Porm, os objetivos cepalinos em rela-o integrao e a passos de maior envergadura demonstravam-sedifceis de seremalcanados porque os pressupostos das polticas na-cionais a respeito do desenvolvimento no os colocavamcomo ques-tes centrais. De acordo comCervo (2008, p. 155), o pensamento ce-palino erigido em torno de conceitos como indstria, emprego, pro-teo, mercado interno e autossuficincia se expressou em prticaspolticas que tiveram como consequncia, ainda que no fosse seuobjetivo, constranger os processos de integrao. Do ponto de vistadoBrasil, as teses da Cepal fortalecerama perspectiva dos que defen-diam as ideias de desenvolvimento e projeo nacional.Desde 1953, a Cepal reconheceu a necessidade de incrementar o co-mrcio intrarregional, cuja premissa seria a reduo ou a eliminaodas tarifas alfandegrias que aparentemente o limitavam. Na reunioClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani564 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014de novembro de 1954 de ministros da Economia, em ocasio da IVSessoExtraordinria doConselhoInteramericanoEconmicoe So-cial da OEA, so apresentados documentos da Cepal em que se dis-cute o papel do comrcio regional como elemento de desenvolvi-mento (NAES UNIDAS, 1954). Neste contexto, a Cepal criouem 1956 um Comit de Comrcio, cuja finalidade era estudar asquestes que entravavamo comrcio regional. Este comit criou umgrupo de trabalho denominado Mercado Regional Latino-America-no, que se reuniu inicialmente em fevereiro de 1958 em Santiago,produzindo o documento Bases para la formacin del mercado re-gional latinoamericano. As concepes de Raul Prebisch eramvis-veis. Comodiretor principal da Cepal, ele foi ochefe da Secretaria dogrupo Mercado Regional. Pelo Brasil, participou Jos Garrido Tor-res, presidente do Conselho Nacional de Economia; e, pela Argenti-na, Eustaquio Mndez Delfino, presidente da Bolsa de Comrcio deBuenos Aires. Este texto, certamente precursor, reconheceu a exi-gncia social de desenvolvimento. Os caminhos seriam a tecnifica-o da agricultura e a progressiva industrializao dos pases. Ain-dustrializao requer amplo mercado, sem o qual no ser possvelalcanar em nossos pases a elevada produtividade dos grandes cen-tros industriais. A Amrica Latina poderia ter um amplo mercado,porm o tem fragmentando em vinte compartimentos estanques(NAESUNIDAS,1961b,p.41).Semdvida,comoteremosoportunidade de ver ao estudar as razes da crise da ALALCe da de-bilidade da Aladi, essa ideia de um mercado latino-americano com-preendendo todos os pases da regio parece ter sido uma das razesquelevoualgunsaclassificaremasprpriaspropostasdaCepalcomo romnticas. Isto , no foi levada emconta a diversidade de in-teresses e at mesmo a impossibilidade de uma viso latino-america-nista abrangente. O documento da Cepal de fevereiro de 1958 reco-nhece diferenas, afirma que os pases menos avanados deveroser objeto de tratamento especial (NAES UNIDAS, 1961a, p.43), mas ao mesmo tempo no surgemcomclareza as vantagens dosUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil565ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014pases maiores, que eramArgentina, Brasil e Mxico. Por outro lado,as potenciais vantagens desses pases maiores sero decisivas parasua adeso ALALC. A Cepal sugere no apenas uma rea de livrecomrcio, mas a perspectiva de umregime tarifrio comumfrente aorestante do mundo, considerada a possibilidade oferecida pelo Acor-do Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT, na sigla em ingls), queaceitava emsuas regras uma unio alfandegria. Oimpacto do Trata-do de Roma, de maro de 1957, que criou a Comunidade EconmicaEuropeia, era evidente nesses debates.No que se refere ALALC, emgeral, todas as anlises coincidemnaopinio de que os primeiros anos de seu funcionamento, at 1967,podem ser avaliados positivamente. Neste ponto, cabe indicar as ra-zes, seno do fracasso, certamente do definhamento da ALALC.Uma de carter econmico, outra de carter poltico. Se umprocessode integrao no tem impacto sobre a gesto estratgica dos gover-nos, trata-se de um forte indcio da precariedade de todo o processo.No caso da ALALC e de outros processos de integrao regional naAmrica Latina, comexceo do Pacto Andino, no se desenvolveu,por ao deliberada ou no dos governos, qualquer esforo no senti-do de trazer esses mesmos processos para o quadro de uma nova ins-titucionalidade, que viabilizasse a absoro do tema, de forma a tor-n-lo um fato nacional relevante. Particularmente no caso do Brasil,o entorno geogrfico, com raros momentos de exceo, como nocaso do acordo de Uruguaiana de 1961, teve pouco peso na atuao enos objetivos internacionais do pas nos anos 1960, 1970 e parte dosanos 1980 (CERVO; BUENO, 2011).Os primeiros anos da ALALCforamcertamente positivos, mas tive-ram escasso impacto nas economias regionais, as principais delas,sobretudo Brasil e Mxico, caminhando para um crescimento volta-do para dentro e buscando sempre a melhora de suas relaes comospases centrais. Na anlise das razes econmicas do definhamentoda ALALC, deve-se levar em conta o surgimento de graves diferen-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani566 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014as entre os pases, cujas causas foram de vrias origens. medidaque a negociao levava ao rebaixamento de tarifas de produtos combaixa competitividade, que poderiamser comprados a preos meno-res empases externos Associao, as tenses iamaumentando. Aomesmo tempo, questo essencial em todos os processos de integra-o regional, vislumbravam-se crescentemente situaes de distri-buio desigual de custos e benefcios. Enquanto alguns, sobretudoArgentina, Brasil e Mxico, obtinham resultados positivos, particu-larmente no comrcio de manufaturados, outros se encontravam emdesvantagem. Conflitos sobre o tratamento tarifrio de produtos im-portantes, como petrleo e trigo, foramaumentando as tenses. Cer-tamente esta foi uma das razes importantes que acabou por levar umgrupo de pases ao Acordo de Cartagena, de maio de 1969, quandoBolvia, Chile, Colmbia, Equador e Peru criamo Grupo Andino. Apercepo de prejuzos de parte dos pases menores e mdios acabouafetando a credibilidade do bloco.No perodo que precedeu o Tratado de Montevidu de 18 de feverei-ro de 1960, a convergncia dos pases latino-americanos no planopoltico era mnima, a situao no foi modificada nos anos seguin-tes, apesardealgumastentativasimportantes. AOperaoPan--Americana, como vimos acima, havia sido uma proposta do gover-no Kubitschek destinada Amrica Latina, mas que deveria surgirsobretudo da cooperao norte-americana. Acriao do Banco Inte-ramericano de Desenvolvimento (BID), em 1ode outubro de 1960,conta coma ativa participao dos Estados Unidos, mas no se apre-senta junto comprogramas diretamente vinculados integrao lati-no-americana, cujo debate estava se dando exatamente no mesmoperodo. Reflexo da situao existente na regio o encontro de Uru-guaiana, em20 de abril de 1961, entre os presidentes Arturo Frondizie Jnio Quadros. Naquela ocasio, as conversaes versaramsobre oconjunto das relaes entre os dois pases, polticas, militares e eco-nmicas, assim como sobre as relaes com terceiros pases, da re-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil567ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014gio e comos Estados Unidos. Os termos da Conveno de Amizadee Consulta e da Declarao de Uruguaiana estabeleciam a ao con-junta, argentina e brasileira, na soluo dos problemas internacio-nais. Falava-se tambmemmaior integrao, mas a referncia espe-cfica ao possvel significado da ALALCpara o processo de integra-o no surge (MELOFRANCO, 1968). No seria possvel explicaressas aparentes contradies e incoerncias buscando o fio condutorapenas na poltica exterior dos pases ou na concepo de integraoregional. As situaes internas desses pases no permitiam elevadonvel de coerncia a suas aes externas. Como sabemos, os anos se-guintesforamintensosdegravesacontecimentosquelevaramarenncia e a golpes de Estado. importante assinalar que, para os pases que a constituram, parti-cularmente para o Brasil, a ALALCteve carter delimitado, onde pa-recemconsagrar-se algumas das caractersticas que no desaparece-ro dos debates das duas ltimas dcadas do sculo XX. Na percep-o da poca, o Tratado de Montevidu resultou de uma Confernciade carter tcnico. Uma Zona de Livre Comrcionoexigiu, na inter-pretaobrasileira, modificaes da poltica econmica interna e dapoltica comercial face aos demais membros. Constata-se, tambm,a no exigncia de uma autoridade supranacional para seu funciona-mento, mas sim de organismos intergovernamentais que a adminis-tre (RESENHA, 1960, p. 110). O Tratado criou o Comit ExecutivoPermanente, com uma Secretaria, nico rgo administrativo con-junto, quepermanecernosegundoTratadodeMonteviduem1980. De certo modo, serviu de modelo para a secretaria do Merco-sul, tambmestabelecida emMontevidua partir de 1991, igualmen-te com caractersticas tcnicas e destituda de fora poltica.Processos de integrao regional emnvel de reas de livre comrciono necessitam ter polticas de desenvolvimento como pressuposto.Mas qualquer processo de integrao regional deve ser percebido pe-los Estados e pela sociedade como de interesse prprio. No caso daClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani568 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014ALALC, desde o incio, mas com maior nfase na segunda metadedos anos 1960, mesmo como crescimento do intercmbio, o esforode integrao estagnava. Da mesma forma, os objetivos cepalinosdos anos 1950 e 1960 demonstravam-se impossveis de seremalcan-ados, nemmesmose podiamdar alguns passos de maior envergadu-ra em sua direo porque os pressupostos das polticas nacionais osinviabilizavam. Outra razo de debilitao da perspectiva da integra-o, razo provavelmente decisiva na Amrica Latina, o papel doEstado nacional e, sobretudo, a perspectiva nacionalista com que aprpriaintegraofoiconsiderada, particularmentenoscasosdaArgentina e doBrasil. Perspectiva que se manteve at a nova fase quese iniciou em novembro de 1985 com a assinatura da Declarao deIguau. Importante mencionar que, com a Ata de Iguau, pela pri-meira vez, a poltica externa brasileira elegeu como parceiro estrat-gico umpas da Amrica do Sul. Parceira mais simtrica, significati-vamente diferente das parcerias estabelecidas do Brasil comAlema-nha e Japo nos anos 1970, ou mesmo com os Estados Unidos emdiferentes momentos.Pode-se afirmar que a dcada de 1960 foi intensa em iniciativas vi-sando superar o subdesenvolvimento: Conferncia de Alta Gracia, IIConferncia das Naes Unidas para o Comrcio e o Desenvolvi-mento, com a criao da Conferncia das Naes Unidas Sobre Co-mrcio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em ingls), Grupodos 77. Nenhuma dessas iniciativas, porm, caminhava nosentidodaintegrao. Onovo governo brasileiro, resultante do golpe militar demaro de 1964, sinalizou que a integrao deveria ser entendida emprimeiro lugar como instrumento de fortalecimento da prpria posi-o comercial na regio: tudo faremos em favor do fortalecimentoda ALALC, para aumentar a presena do Brasil no mercado lati-no-americano (LEITODACUNHA, 1965, p. 136). Convmdes-tacar que, mesmo no perodo que se inicia em1967, quando na polti-ca exterior do Brasil retornaram concepes nacionalistas autorit-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil569ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014rias e, parcialmente, terceiro-mundistas, o objetivo da integrao re-gional nunca foi objeto de preocupao maior. Mesmo a retomada, apartir do governo Costa e Silva (1967-1969), de alguns aspectos dapoltica externa independente do perodo Quadros e Goulart, notrouxe maior preocupao pela integrao regional.Da a grande relevncia das mudanas a partir de 1985, que sinalizamprofundo redirecionamento: uma mudana estrutural da poltica re-gional e a criao de uma poltica de integrao. Essa afirmao deveser bem situada. A poltica exterior brasileira, tanto na verso auto-nomista quanto na universalista, ou na perspectiva do global trader,sempre privilegiou a prpria independncia. Aadeso convicta in-tegraocoma Argentina e nombitodoMercosul, a partir de 1985e1990, deve ser entendida como instrumento de fortalecimento nacio-nal, portanto compatvel comuma perspectiva realista de poltica ex-terna, que, como sabemos, aceita a integrao, quando vista comoinstrumentodoprpriointeresseedoprpriofortalecimentorelativo.3.AladiNa anlise dos impasses da ALALC que desembocaram na criaoda Aladi, podemos considerar oanode 1969comoumpontomarcan-te. O Protocolo de Caracas estendeu o trmino do perodo de transi-o previsto para a criao da rea de livre comrcio, almde reduziras metas quantitativas anuais de desgravao tarifria e definir as ba-ses para o incio de negociaes visando a adequao do Tratado deMontevidu de 1960 a uma nova etapa de integrao. Essas negocia-es tiveram incio apenas em 1974 e continuaram em 1975, semproduzir resultados imediatos. De todo modo, ficou consolidada aaspirao geral de flexibilizao dos mecanismos operacionais cria-dos a partir de 1960, a eliminao das metas quantitativas e dos pra-zos definidos para alcanar os objetivos finais estabelecidos, que es-tavam ligados perspectiva de criao de um mercado comum lati-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani570 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014no-americano. Foi nessa fase que o modelo da Aladi comeou a serdesenhado: a promoode acordos parciais, entre grupos oudois pa-ses, limitando o acordo regional a uma zona de preferncias comer-ciais. O tema do tratamento preferencial aos pases de menor desen-volvimento econmico relativo foi objeto de debates, sem conclu-ses. Em novembro de 1978, a XVIII Conferncia da ALALC deci-diu abrir formalmente as negociaes para umnovo tratado. As reu-nies havidas em 1979 e no primeiro semestre de 1980 encerra-ram-se na XIXConferncia Extraordinria da ALALC, realizada emAcapulco, em junho de 1980. O Tratado de Montevidu de 1980,como conhecido, foi assinadoem12de agostode 1980(MOAVRO, 1992, p. 180-186). Para a compreenso das diferenasentre os dois tratados, importante reter que a Aladi reflete a convic-o da impossibilidade de uma poltica de integrao regional, posi-o plenamente compartilhada pelo governo brasileiro.O Tratado de 1980 abandona o objetivo de estabelecer uma zona delivre comrcio. Este aspecto talvez seja o mais importante do pontode vista poltico. Consequentemente, deixa de lado todos os compro-missos quantitativos e provisrios. Na prtica, cria um instrumentode registrode acordos entre dois oumais pases, compatibilizando-oscom as regras do GATT. Substancialmente, as diferentes perspecti-vas polticas, sociais e econmicas dos pases refletiram-se no acor-do. Os pases andinos insistiam em nveis superiores de integrao,tais quais tarifa externa comum, programa de desenvolvimento in-dustrial, tratamento semelhante ao capital estrangeiro, objetivos noaceitos peloBrasil, que mantinha uma poltica de alta proteotarif-ria, objetivo fortalecido pela crise cambial que se aguava. Por outrolado, as polticas liberais da Argentina, doChile e doUruguai haviamerodidoasmargensdeprefernciasestabelecidasnoquadrodaALALC. A partir de 1980, as crises do petrleo e, sobretudo, as cri-ses da dvida externa, a comear pela do Mxico de 1982, acentua-rama tendncia de todos os pases embuscar aumentar suas prpriasUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil571ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014exportaes. Nesse contexto, a Aladi passou a valorizar os interessesindividuais dos pases-membros em prejuzo da viso comunitria(BARBOSA, 1996, p. 146).Ao mesmo tempo em que a perspectiva de integrao latino-ameri-cana ou mesmo sul-americana se afasta, outros fatos sugeremnovosdesdobramentos. Havia novas referncias que explicamo carter re-ducionista da Aladi, adequadas s realidades existentes. Em 1977, assinado um primeiro acordo entre Argentina e Brasil no sentido deestabelecer cooperao no campo nuclear. Mais importante, em ou-tubro de 1979, os governos Jorge Videla e Joo Baptista Figueiredo,vencidas as resistncias de setores militares comleituras no coope-rativas da soberania nacional, assinamoacordoque permite a utiliza-o trinacional das guas do Rio Paran, viabilizando as usinas deItaipu e Corpus. Significativa foi a influncia, para esse acordo, desetores interessados emresultados positivos, no situados no ncleodecisrio dos Estados: no caso brasileiro, a Itaipu Binacional e a Ele-trobras; no caso argentino, reas econmicas preocupadas como se-tor de energia (CAUBET, 1991). Oministro das Relaes Exterioresdo Brasil, Saraiva Guerreiro, logo depois da assinatura do SegundoTratado de Montevidu, manifestou preocupao com o relaciona-mentocontinental. Para ele, traduzir emaes e empreendimentos ovocabulrio da solidariedade latino-americana significava envere-dar pelocaminhodopragmatismo. Nomais dos acordos gerais. Nosgovernos militares, fala-se em caminhos novos, mas no surgem di-rees privilegiadas. Arelao coma Argentina temcerto destaque,mas de maneira vaga, sem distingui-la claramente das relaes comos outros pases (SARAIVA GUERREIRO, 1980, p. 38, p. 40).Em seus primeiros anos, a Aladi consolidou parcialmente o que ha-via sido alcanado entre 1960 e 1980, o ento chamado patrimniohistrico. O Acordo de Preferncia Tarifria Regional, assinado em1984emnveis baixos, continuouproduzindopequenoefeitocomer-cial. Ao longo da dcada de 1980, o intercmbio intrarregional redu-ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani572 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014ziu-se, depois de ter alcanado US$ 24 bilhes em1981. Para os efei-tos dessa discusso sobre a integrao latino-americana e as polticasbrasileiras, cabe assinalar que as preferncias comerciais nada acres-centaramao comrcio regional, enquanto a possibilidade criada pelaAladi de negociao de acordos bilaterais acrescentou um instru-mento que foi intensamente utilizado nos anos seguintes, particular-mente nas relaes entre Argentina e Brasil, e de ambos com o Uru-guai. Em1986, nova tentativa de fortalecer a Aladi deu-se coma con-vocao da Rodada Regional de Negociaes, finalizada em marode 1987, quando o Conselho de Ministros da organizao aprovou oPrograma de Recuperao e Expanso do Comrcio. Segundo Ro-berto Martnez Clainche (1984), a baixa prioridade da integraomanifesta-se tambm pela aparente falta de preparao tcnica paraas negociaes: funcionrios mal qualificados, falta de instruesclaras e tambma falta de coordenao nos setores pblico e privadoenvolvidos na integrao (CLAINCHE, 1984, p. 173). A Aladi ca-racterizou-se por ser uma instituio declaradamente tcnica e de re-gistro. Nos processos de integrao, os benefcios polticos e sociaisso considerados partes essenciais, e tambm assim foram conside-rados na ALALCe noPactoAndino. Nofizeramparte dos objetivosdoTratadode Montevidude 1980. Alguns anos depois, os objetivospolticos e sociais surgemcomfora, no bojo de uma relao e de umprojeto diferente.Odesenvolvimento das relaes entre a Argentina e o Brasil a partirde 1985 corresponde, como vimos, fase que Barbosa (1996) chamade pragmtica. Superando dcadas de receios recprocos, alguns dosquais discutimos nas pginas precedentes, por iniciativa de BuenosAires os presidentes dos dois pases decideminiciar o processo de in-tegrao econmica, fora dos esquemas multilaterais, mas apoiadossobre a parcial complementaridade entre suas economias. Na per-cepo brasileira, sugerida pelo ministro das Relaes ExterioresOlavo Setbal, apoiada pelo presidente Sarney, que convocou espe-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil573ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014cialmente os ministros da Fazenda, da Agricultura e de Minas e Ener-gia, a integrao latino-americana s se poderia viabilizar coma in-tegrao prvia do Cone Sul e esta, por sua vez, dependeria da inte-graoBrasil-Argentina (BARBOSA, 1996, p. 149). AAladi, aoteroptado pela aceitao das iniciativas bilaterais e pelos Acordos deComplementao Econmica, acabou por endossar naturalmente oprocesso que se iniciava. Apartir de ento, a poltica brasileira para aArgentina fundamenta-se em uma lgica de cooperao, tanto nosentido poltico (consolidao da democracia e aumento do poder debarganha no sistema internacional), quanto no mbito econmico,em que a inflao alta e o endividamento externo representavam aface comum do desafio que ambos os pases enfrentavam.4.MercosulUma sequncia de acordos determinam mudanas importantes nasrelaes entre os dois pases, comimpactos para o conjunto das rela-es latino-americanas. Os principais so: 1) a Declarao de Igua-u, de novembrode 1985, assinada pelos presidentes Sarneye Alfon-sn, que enfatizava, entre outras questes, a importncia da consoli-dao do processo democrtico nos dois pases e a unio de esforoscomvistas defesa de posies comuns emforos internacionais; 2) oPrograma de Integrao e Cooperao Econmica (PICE), de julho1986, que estabeleceu 24 protocolos setoriais, voltados integraode setores produtivos especficos; 3) o Tratado de Integrao, Coo-perao e Desenvolvimento de novembro de 1988, pelo qual Brasil eArgentina estabeleceram um prazo de dez anos para a formao deum espao econmico comum.Para CelsoLafer (1997), oque poderamos chamar de transformaodo sistema regional seria o resultado de: 1) o acordo trilateral sobre autilizao das guas do Rio Paran, de 1979; 2) a posio brasileiraem relao Guerra das Malvinas; e 3) o processo de democratiza-o, com nfase no desenvolvimento, controle civil dos militares eClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani574 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014relao transparente e confivel na esfera nuclear. Corolrio abran-gente foi o Tratado de Assuno, que deu origemao Mercosul. Ara-dical inovao no padro precedente de relaes regionais deriva deuma cooperao poltica que tem como ponto de partida uma novapercepode inserointernacional, nova compreensodoque seja acooperao poltica, o desmantelamento, com participao ativa degrupos epistmicos que compreendiammilitares, da hiptese de con-fronto entre os dois pases.Nos anos 1985 e 1986, os governos argentino e brasileiro considera-rama integrao uma mudana radical nas atitudes dos Estados fren-te ao parceiro. A ideia da fase pragmtica e realista reflete essa per-cepo. O governo brasileiro definiu, em nvel presidencial, umaclara poltica em relao ao processo de integrao regional. A maisalta prioridade passou a ser dada ao projeto de integrao e coopera-o econmica coma Argentina; a integrao latino-americana s sepoderia viabilizar com a integrao prvia do Cone Sul, e esta, porsua vez, dependeria da integrao Brasil-Argentina (BARBOSA,1996, p. 149). Para Luiz Felipe Seixas Corra (1996, p. 374), reto-mando ideia de Rubens Ricupero, um dos formuladores da polticabrasileira nesse perodo, talvez a principal e mais duradoura linha depoltica externa do governo Sarney tenha sido a reformulao dorelacionamento do Brasil coma Argentina, mediante a superao derivalidades e desconfianas que sobreviviam ao passado e a conco-mitante implantao de umespao preferencial de entendimento de-mocrticoe de integraoeconmica que veioa desembocar noMer-cosul.Aps a constituio do Mercosul, o fato de Argentina, Brasil, Uru-guai e Paraguai apresentarem posies conjuntas diante de outrospases ou organizaes razoavelmente indito. A coordenao deaes produziu resultados, como se verificou no tocante posio dobloco perante a Iniciativa para as Amricas, inicialmente propostapelo presidente George Bush em junho de 1990. Naquela ocasio, oUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil575ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014Acordo4+1, ouAcordodoJardimdas Rosas (AMORIM;PIMENTEL, 1996), assentou o princpio de que o bloco regional ne-gociaria como tal diante dos Estados Unidos. Apartir de 1994, comoProtocolo de Ouro Preto, estrutura-se a Unio Alfandegria entre ospases do Mercosul, fato que traz a obrigatoriedade legal de posiesconjuntas entre os pases-membros em negociaes comerciais in-ternacionais. Aposiodos pases doMercosul foi umdos elementosfundamentais para o encerramento das negociaes para uma reade Livre Comrcio das Amricas (ALCA), continuidade da iniciati-va de Bush, na reunio de Mar del Plata em 2004.Apoltica brasileira de integrao regional, como vimos, ancorou-seno Mercosul, mas, ao mesmo tempo, produziu outras iniciativas. Aproposta de criao da rea de Livre-Comrcio da Amrica do Sul(ALCSA) em1993, nogovernoItamar Franco, e, em2008, nogover-no Lus Incio Lula da Silva, a Unio das Naes Sul-Americanas(Unasul) mostram o interesse brasileiro em fortalecer a perspectivade integrao do subcontinente. Essas iniciativas resultam da preo-cupao dos formuladores das polticas do Estado pelo conjunto daregio, o que levou criao do conceito geopoltico de Amrica doSul e, ao mesmo tempo, preocupao pela estabilidade de todo osubcontinente.Oaumento das correntes de comrcio intrabloco nos primeiros anosde funcionamento do Mercosul foi altamente significativo. Contudo,depois de vinte anos, abrem-se impasses emrelao aos quais o Esta-do brasileiro ainda ter que se posicionar, no havendo consenso nasociedade e entre as elites sobre as formas de consolidao. O Mer-cosul um bloco de integrao no apenas comercial, mas tambmeconmica, em sentido amplo. Como os instrumentos do Estado, fi-nanceiros, fiscais, institucionais, devamser alocados para o aprofun-damento, noest claro. Aagenda recente doblocotemsidoocupadapela questo da distribuio dos benefcios da integrao, pelas dis-cusses sobre seufortalecimentoinstitucional e maior internalizaoClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani576 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014da lgica da integrao nos pases-membros. Aconstituio do Fun-dopara a Convergncia Estrutural doMercosul (Focem), oProtocolode Olivos, as discusses emtornodoParlamentodoMercosul (Parla-sul) e doForoConsultivode Municpios, Estados Federados, Provn-cias e Departamentos do Mercosul (FCCR) e os procedimentos faci-litadores de cadeias produtivas regionais sotodos temas que se inse-remno objetivo de adensar o processo de integrao. Indicampossi-bilidades importantes, cujos resultados no esto garantidos. Avon-tade do Estado brasileiro nos ltimos governos, inclusive no de Dil-ma Rousseff, iniciado em2011, claramente favorvel continuida-de da integrao, mas essa vontade poltica no suficiente para ga-rantir os avanos pretendidos. A crise econmica, inclusive a daUnio Europeia, provocar impactos.ConsideraesFinaisA discusso feita demonstra que quase at o final do sculo XX otema da integraoregional noestava nocentrododebate noEstadoe na sociedade brasileira. Nemno plano poltico, nemno econmico,nemmesmocultural. Ainda que na literatura otema da Amrica Lati-na surja esporadicamente, a continentalidade do pas no estimulousua insero nos grandes debates nacionais. H explicaes. Aquasetotalidade dos demais pases tememcomuma origemcolonial espa-nhola, o que tem seu peso, ainda que em alguns casos tenha sido decarter negativo. AAmrica Latina, especialmente a Bacia do Prata,foi considerada o ambiente natural para expanso da influncia bra-sileira, mas nose tratava ainda de integrao. Essa expansoenfren-tava a competio de umEstado poderoso, a Argentina. poca dosABCs, conforme discutimos, considerava-se a cooperao poltica.Apenas a partir da dcada de 1980 a integrao regional passou a servista como instrumento do fortalecimento nacional. Emdcadas an-teriores, 1940, 1950, 1960, surgiramesporadicamente iniciativas vi-sando a integrao. Nenhuma delas teve sucesso. Discutimos as difi-UmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil577ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014culdades da ALALC, que inicialmente propunha uma rea de livrecomrcio, finalmente reduzida a instrumento de regulao comer-cial, como foi a Aladi. A ideia de integrao como instrumento defortalecimento nacional no particularidade brasileira. Todos osprocessos de integrao partem do pressuposto de que sero benfi-cos para o prprio pas, para toda a sociedade e para suas elites.O Brasil, como quase todos os pases da Amrica Latina, estevecondicionado no sculo XX pelas relaes com os Estados Unidos.Os temas da aproximao comesse pas, como obter benefcios des-sa relao, como ser autnomo e fortalecer um projeto nacionalista,fizeram e fazem parte de um debate permanente. O desdobramentofoi a no urgncia de um projeto de integrao regional, continua-mente remetido a um depois um pouco distante. As propostas daALALC, da Cepal e da Aladi no contriburam decisivamente paraintroduzir o tema da integrao no Brasil. As mudanas econmicase polticas dos anos 1970e 1980estimularama passagemde uma for-mulao idealista da integrao para a formulao de um projetoconcreto. A noo de desenvolvimento acabou encontrando um ter-renocomumcoma noode integrao. Esta absorvida nocorpodoEstado brasileiro e nas suas elites. Nos anos 2000, a criao da Una-sul sugere que a preocupao pela integrao se estende a toda aAmrica do Sul.Notas1. Esta e as demais citaes de originais emlngua estrangeira foramlivremen-te traduzidas para este artigo.2. Cf. Etchepareborda (1978, p. 123-124). Tamini era umexpoente da ideolo-gia imperialista argentina e escrevia artigos na revista de Zeballos.ClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani578 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014RefernciasBibliogrficasAHI Arquivo Histrico do Itamaraty. Despacho para Buenos Aires, 22 nov.1904.. Despacho reservado para Washington, 31 mar. 1906.. Ofcios, Buenos Aires, 23 dez. 1914.. Ofcios, Buenos Aires, 24 jan. 1915.AMORIM, Celso; PIMENTEL, Renata. Iniciativa para as Amricas: o acordodo Jardimdas Rosas. In ALBUQUERQUE, J. A. G. Sessenta anos de polticaexterna brasileira (1930-1990). v. II. So Paulo: Cultura/Nupri USP/Fapesp,1996.BANDEIRA, Moniz. 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Buscam-se as razes remotas da poltica brasileira em relao inte-grao regional que, nos anos 1980, confluram na proposta do Mercosul.Analisam-se as atitudes do Brasil em relao aos seus vizinhos, bem comoos experimentos de coordenao de polticas e estratgias destinadas a ma-ximizar os interesses dos pases da regio.Palavras-chave: Brasil Amrica Latina Histria Poltica Externa Integrao RegionalAbstractABrazilianLong-TermOverviewonLatinamericanIntegrationThepaperaimstodiscusstheLatinAmericanintegrationprocesswithfocus on the Brazilian positions, in order to understand the elements ofClodoaldoBueno,HaroldoRamanziniJnioreTulloVigevani582 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no2, julho/dezembro 2014ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014continuitybetweenthe actions of the earlyyears of the Republic,particularly the period of the Baron of Rio Branco (1902-1912), and thecurrent years. There is a search for the roots of Brazilian policy towardsregional integration, which in the eighties of the last century resulted in theMercosur proposal. Brazilian positions in relation to its neighbors will beanalyzed considering the experiments of policy coordination that sought tomaximize the interests of the countries in the region.Keywords: Brazil Latin America History Foreign Policy RegionalIntegrationUmaPerspectivadeLongoPerodosobreaIntegraoLatino-americanaVistapeloBrasil583ContextoInternacional(PUC)Vol.36no2jul/de20141Reviso:10/08/2014