uma nova proposta de abordagem da história da arquitetura brasileira

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    arquitextos 141.00 histria: Uma nova proposta de abordagem da histria da arquitetura brasileira

    abstracts

    portugus Segundo Lemos, no processo cultural brasileiro aconteceram situaes singulares que defini-ram e qualificaram a arquitetura nacional desde os tempos de Colnia at hoje. Deste modo, temos que identific-las e acompanhar suas existncias no vasto Brasil

    how to quote

    LEMOS, Carlos A. C.. Uma nova proposta de aborda-gem da histria da arquitetura brasileira. Arquitex-tos, So Paulo, 12.141, Vitruvius, feb 2012 .

    Igreja de Ges, Roma Foto Victor Hugo Mori

    Cremos tenha sido o crtico de arte e ensasta argen-tino Damin Bayn o primeiro a escrever sobre as condies em que ocorreu a produo artstica do Novo Mundo face experincia milenar europeia (1). No Velho Continente, em suas variadas regies,

    a arquitetura, como as demais artes em geral, se desenvolveu num continuum onde, com muita pre-ciso, a produo de bens se compartimenta em de-finidos perodos, cada qual com suas caractersticas locais singulares. Isso permite aos historiadores e crticos distinguir com exatido os artefatos daqui e dali; a sucesso de eventos significativos, cuja cro-nologia e locus demarcam etapas de um caminho lentamente percorrido pelo homem sensvel s coi-sas da esttica. A eles, fcil percorrer a seqncia dos estilos e das tcnicas no universo europeu.

    Na Amrica, ao contrrio, como nos disse Bayn, em aula na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, todos os gostos e estilos desaguaram mis-turados de roldo na produo artstica do mundo americano, cujos artfices ignoravam candidamente o que fosse antecedente ou conseqente naquela ba-rafunda de estilemas trazidos sem maiores explica-es. Os primeiros agentes culturais aqui arribados, tenham sido engenheiros militares, ou arquitetos inseridos no corpo das ordens religiosas, ou mestres de risco reinis avulsos, todos eles, com diferencia-das informaes ou experincias, trouxeram em suas bagagens as lies de seus mestres e, outrossim, esmaecidas pela distncia, as recomendaes dos tratadistas do renascimento e do maneirismo en-quanto guardavam em suas saudades as aparncias das antigas capelas, igrejas e mosteiros romnicos de suas velhas aldeias rurais, de Braga, do Porto ou de Lisboa. E j cerca de duzentos anos aps Cabral, se alastrou pelo litoral canavieiro o barroco intro-duzido no Reino pelos arquitetos e escultores italia-nos. Depois, ainda, com data marcada, encerrando o tempo colonial, chegou-nos o neoclssico francs pelas providncias do corpo diplomtico da corte fugida justamente de Napoleo, em 1808. Foi o estilo oficial do nosso Imprio.

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    Douglas Aguiar

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    Essa a circunstncia brasileira onde, no cenrio edificatrio anterior a dom Joo VI, na maioria das ocasies, uma manifestao estilstica qualquer, uma modinatura especfica, um agenciamento ou um partido arquitetnico determinado dificilmente podero indicar sozinhos, sem o auxlio de docu-mentos, a poca de sua ocorrncia ou mesmo situar uma construo numa cronologia qualquer. Aquele mesmo citado rei, como veremos, mal chegado ao Rio, por exemplo, inaugurou a igreja de Santa Cruz dos Militares, magnfico exemplar maneirista cal-cado na Ges de Roma. Os estilos aqui chegaram verdadeiramente em tempo real de seu percurso cronolgico s a partir dos franceses da chamada Misso.

    Vista da Igreja de Santa Cruz dos Militares, Rio de Janeiro RJ. Aquarela de Richard Bates, sculo 19 [Wikimedia Commons]

    Entre ns, aqueles acima citados agentes culturais, atuando nos principais centros econmicos do li-toral, sobretudo na costa aucareira nordestina, ti-veram suas influncias absorvidas empiricamente pelos construtores locais atravs da observao e cpia de obras destinadas ao Governo, Igreja, classe dominante agrria ou aos comerciantes en-ricados. Os exemplares arquitetnicos sucessivos,

    cada vez mais afastados dos modelos originais, acabaram propiciando contaminaes e despo-liciamentos das normas estilsticas sugerindo um singular ecletismo precursor daquele histrico do sculo XIX.

    Essa disseminao aleatria de estilos ou de ma-neiras de fazer, ao longo do tempo, acompanhada de uma diluio das normas acadmicas e dos as-pectos eruditos fez surgir uma arquitetura de alto interesse, onde o lado antropolgico no pode ser olvidado porque tem presena marcante explicando justamente aquela circunstncia americana rela-tiva arquitetura onde o esquecimento das regras propicia obras de recriao do maior valor. De fato, essa constatao nos fez lembrar da reao de um certo editor italiano ao ttulo de uma obra a ele ofe-recida falando em arte no Brasil, exigindo que a publicao somente tratasse de larte del Brasile, porque naqueles dias comemorativos dos 500 anos da descoberta da Amrica, o que realmente interes-sava aos estudiosos europeus era conhecer a contri-buio original do artista brasileiro pertencente a uma distinta sociedade miscigenada na qual tam-bm ndios e negros tiveram atuao relevante (2).

    De fato, nas comemoraes volta do feito de Co-lombo, o que despertava curiosidade era justamente aquilo que o artista apartado na Amrica devolvia ao europeu a partir do seu isolamento digerindo os preceitos ibricos arribados com as caravelas. O que deveria ser mostrado a todos seriam, por exemplo, adaptaes ao meio ambiente, ao clima, nova sociedade mestia a partir da inventividade do autctone que sabia coisas da Europa s por ouvir dizer.

    Com efeito, de incio, muitos fatos aconteceram mo-dificando a arquitetura trazida pelos recm-chega-dos. Vieram ao Brasil as pessoas mais variadas, do norte ou do sul lusitano, sabendo procedimentos os mais diversos, ou no conhecendo nada de mais, de modo que nunca houve um consenso sobre como

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    agir coletivamente no quadro das construes na-quele ambiente falto dos materiais mais comezin-hos na ptria distante. Aqui, to somente haviam de aproveitar dos recursos do meio ambiente e se utilizar do saber fazer dos ndios at a definio dos sincretismos inevitveis e do uso dos demorados e sucessivos meios vindos da ptria distante. Foi um comeo difcil.

    No processo cultural brasileiro aconteceram si-tuaes singulares que definiram e qualificaram a arquitetura nacional desde os tempos de Colnia at hoje. Deste modo, assim pensamos, temos que identific-las e acompanhar suas existncias pelo tempo afora no vasto Brasil. Numa metodologia de abordagem dessa produo americana chame-mos essas situaes singulares de conjunturas, a nosso ver, em nmero de quatro, a saber: Primeira Conjuntura, a relativa ao meio ambiente; Segunda Conjuntura, a prpria da nova sociedade; Terceira Conjuntura, a proporcionada pelas regras, orde-naes do reino, constituies, cdigos, posturas municipais e breves papais referentes s atuaes da Igreja no Brasil colonial; Quarta Conjuntura, em sntese, seria aquela volta dos procedimentos re-ferentes s atividades dos arquitetos e construtores face s trs conjunturas anteriores, quando, tam-bm, estar presente a inteno plstica. Enfim, nesta Quarta Conjuntura estaria definido o partido arquitetnico, que a consequncia formal, tangvel ou visvel daqueles condicionantes e determinantes atrs arrolados.

    Certamente podemos relacionar variadas ocorrn-cias peculiares de cada uma daquelas conjunturas numa tentativa de buscar a viabilidade dessa ideia de substituir o modo atual de dividir nossa histria da arquitetura em perodos ligados a ciclos econmi-cos ou a determinadas polticas administrativas. Essa aproximao via conjunturas, assim julgamos, permite sejam estudadas e analisadas concomitan-temente as obras arquitetnicas desde os tempos de muito antigamente at hoje em todas as ilhas

    culturais participantes do multifacetado arquip-lago da civilizao brasileira.

    Runas do forno circular da Caieira dos Jesutas, Cubato SP Foto Victor Hugo Mori

    Resumindo, nesta Primeira Conjuntura, vemos que, desde o incio, os variados materiais disponveis na natureza necessariamente no propiciaram, em todo o territrio, um s tipo de construo. Expliquemos: no litoral havia rochas e calhaus em abundncia e fcil obteno de cal, tirada dos sambaquis e das conchas do mar. Da, sem titubeios, essa escolha do muro contnuo de pedra entaipada sobre o cho de areia incompressvel. Em So Paulo, por exemplo, no planalto, ao contrrio, pouca pedra, cal muito cara penosamente importada das caieiras jesuticas de Cubato, que exportavam somente o que sobrasse da solicitao santista ou vicentina. E quanto ma-deira, dificuldades de transporte para os campos de Piratininga. Disso tudo resultou a natural adoo da taipa de pilo, a exclusiva tcnica dos paulistas, usada continuamente no mundo bandeirante por trs sculos e meio. Em Minas Gerais, por sua vez,

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    por motivos vrios, as construes em geral, fora as igrejas importantes levantadas em substituio s modestas capelas iniciais, eram de taipa de mo, algumas de excelente fatura, mormente aquela de carpintaria aprendida na reconstruo de Lisboa depois do terremoto de 1755.

    Parede de taipa de pilo do Stio Solido, Guararema SP Foto Victor Hugo Mori

    No sul, as grandes florestas entremeadas de araucrias, ao serem devastadas pelos colonos alemes e italianos, j no sculo XIX, sugeriram as construes inteiramente de tbuas, inclusive as coberturas de plaquinhas lembrando a distante ardsia. Num segundo estgio, os tedescos aperfei-oaram aqui a arquitetura de enxaimel, que veio a caracterizar a produo daquela operosa populao chegada nos tempos ainda de D. Pedro II.

    Hoje, a grandeza continental do Brasil e a disforme distribuio de recursos em paisagens variadssimas justificam a permanncia, em diversos locais, dessa natural seleo de modos de fazer, vinda dos tempos de Colnia. Somente nos grandes centros que vige a tecnologia moderna, com o imprio do concreto armado e com o emprego de material importado.

    A questo das condies meteorolgicas tambm est presente na primeira situao e sua import-ncia foi fundamental nas determinaes arquite-

    tnicas. J de incio, todos os europeus chegaram a uma constatao: em seus lugares de origem, o rigor do clima a ser enfrentado era o do inverno gelado e, para tanto, acendia-se o fogo, que, por sinal, tambm era usado para cozer os alimentos. Da, desde os romanos, a pedra do lar, do trafogueiro no mago da moradia, recebendo a fogueira aque-cedora da famlia reunida; outrossim em seuslu-gares de arribada na Colnia, quase que no havia a sucesso das estaes, sempre a temperatura era amena fora dos dias quentes do vero que custava a passar e, porisso, sempre que possvel, os foges e panelas fora de casa.Em muitos lares, mais de uma cozinha; a de dentro s para os alimentos de cozimento rpido, para aquecer a sopa e ferver a gua do mate, do ch de congonha em So Paulo. Cozinhas dispersas,quase que ao ar livre. A contri-buio efetiva da casa europia morada brasileira foi a permanncia do dormitrio sob a cumeeira do telhado e da cama que, lentamente foi expul-sando a rede de dormir dos ndios. Dissotudo, por exemplo, a impossibilidade da mera transposio da casa integral aoriana com seu fogo central para as colnias dos ilhus em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aqui a situao era outra. Aqui, a casa, em vez de ser aquecida por dentro, deveria ser refrescada por fora.

    Cozinha no interior da sede da Fazenda Esperana, Paraibuna SP Foto Victor Hugo Mori

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    Essa afirmativa veraz e responsvel pelo alpendre domstico. Realmente, na Europa e, portanto na Pennsula Ibrica, as casas nunca foram alpendra-das. Esse tipo de cobertura existiu na Espanha e em Portugal unicamente nas capelas rurais em conse-qncia da antiqssima determinao cannica, que impedia a presena de pessoas no batizadas no templo e, para eles, foi ento reservado um lugar abrigado fora da nave, onde ficava a pia batismal. Seria esse alpendre uma verso popular ibrica da galil das baslicas da Igreja de Roma (3).Verso po-pular repetida exausto no Brasil, comopodemos ver naspinturas e gravuras, notadamente nos tra-balhos de Franz Post, no Pernambuco holands do sculoXVII e ler nas atas da Cmara de SoPaulo daquele mesmo sculo. No ncleo bandeirante das duas primeiras centrias todas as igrejas urbanas eram alpendradas (4). Resta-nos apenas a pequena igreja de So Miguel, de 1622. Sem dvida, o al-pendre sombreador das paredes mestras da mora-dia brasileira veio-nos da ndia, precisamente do bangal, a construo rural com a totalidade do tel-hado prolongado para fora da edificao destinado a fazer sombra, no s s paredes, mas tambm, para proteger do sol seus moradores aproveitando a brisa refrescante. A notcia do alpendre chegou-nos trazida pela carreira das ndias, cujos navios, em suas aguadas nos portos do Rio e Salvador, igual-mente deixavam marfins, porcelanas esmaltadas, lacas, jacas, mangas e carambolas.

    Alpendre na capela de So Miguel, So Paulo SP Foto Victor Hugo Mori

    Alpendre na capela de Montserrat, Salvador BA Foto Victor Hugo Mori

    A nosso ver, esse alpendre volteando a casa copiado dos bangals(nada a ver com o bungalow ameri-cano)indianos ficou circunscrito s construes rurais do sculo XVIII e XIX da atual regio litor-nea fluminense, nas sedes dos antigos engenhos de acar e residncias solarengas volta do Rio de Janeiro. Talvez tambm tenha aparecido aqui e ali em algum engenho baiano, mas sem se tor-nar um modismo regional. Depois dessas citadas ocorrncias, o alpendre firmou-se na arquitetura rural brasileira em geral, s na frente da constru-o, como rea de intermediao entre o pblico e o privado, com o esquecimento de sua funo primeira de moderador da temperatura interna da casa. Transformou-se em zona de receber e de acesso capela sempre presente. Em So Paulo, ao contrrio, a arquitetura domiciliar verncula do mundo bandeirante repudiou o alpendre porque era conveniente que a grossa parede de taipa de suas moradas guardasse o calor da osculao solar para aquecer as dependncias noite. O alpendre volta da construo s apareceu em So Paulo com o caf, levado por famlias baianas fugidas da seca, que assolou a Chapada Diamantina nas ltimas dcadas do sculo XIX (5). Hoje, moda inconteste.

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    O calor tambm foi o responsvel pelas trelias das janelas e muxarabis, sobretudo das casas urbanas, herdeiras diretas da arquitetura rabe/berbere vigente em terras do sul portugus por cerca de seiscentos anos. Essas rtulas e balces gradeados apareceram pelo pas todo havendo em So Paulo, Minas, Rio, Pernambuco ou Maranho exemplos magnficos desse recurso amenizador da cancula, pois permitia a passagem permanente da brisa pelos interiores da casa. Alis,certo especialista em eti-mologia de expresses rabes disse-nos certa vez que muxarabi significa exatamente local onde refrescado o pote de gua, funo que justifica o balano daquele balco treliado para ser cruzado lateralmente pelo vento que sopra pela rua afora. Uma questo de fsica aplicada: a evaporao da umidade da superfcie da cermica molhada faz a temperatura cair e a gua se resfriar. bom que se diga, somente agora com a mais avanada tecno-logia que nossa arquitetura moderna conseguiu edifcios climatizados de modo a driblar satisfato-riamente os rigores do calor tropical, solues ca-ras, no entanto, e exclusividade dos ricos. Enquanto isso, os pobres e remediados tm que se contentar com as inventividades ligadas fsica e o curioso que alguns recursos interessantes, como os quebra-sis, inspirados por Le Corbusier, saram de moda, como se fosse pecado us-los no lugar do ar condi-cionado e dos vidros espelhados e protetores dos raios ultravioletas da vida. E hoje nos esquecemos dos esforos quase que desesperados de Oswaldo Bratke para chegar a solues baratas e viveis de problemas de ventilao, isolamento trmico e ilu-minao natural de casas, sobretudo as operrias, nas instalaes da Serra do Navio, no Amap, por volta de 1949/50. O pior de tudo, ao que parece, que suas experincias e lies foram de pouco alcance, se no olvidadas (6).

    Muxarabi e treliados, Diamantina MG Foto Victor Hugo Mori

    Muxarabi e treliados, Diamantina MG Foto Victor Hugo Mori

    A Segunda Conjuntura refere-se primordialmente, na arquitetura, aos programas de necessidades re-

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    lativos s construes em geral e respectivos des-dobramentos merc de sua permanente evoluo advinda do progresso e da mudana de hbitos ma-nifestados ao longo do tempo, sobretudo nos anos seguintes Revoluo Industrial. Na nova sociedade instalada na Colnia, a partir de 1808, novos usos e costumes foram adaptados aos novos cenrios, sugerindo agenciamentos de singulares partidos arquitetnicos. Foi na roa, entretanto, desde os primeiros dias, que as condies de vida plasma-ram as formas dos complexos rurais.

    Nos ermos das distantes propriedades agrcolas ins-taladas em enormes sesmarias e nos stios formados em terras simplesmente apossadas, o dia-a-dia, alm de montono, era falto de notcias frescas, as novi-dades ali chegadas h muito j haviam ocorrido. Da, bem-vindos os forasteiros. Os maus caminhos, raros os carroveis, tornavam as viagens muito demoradas e de obrigatrios pernoites. Os pousos de tropas nas estradas do interior foram progra-mas surgidos apenas no sculo XVIII para facilitar o transporte de gneros aos arraiais mineiros; para levar o acar ituano a Santos e, na poca do impe-rador jovem, para transportar o caf at os barcos ancorados serra-abaixo, do Rio de Janeiro para o sul. Mas, nos tempos da produo s de subsistn-cia e de diminuta circulao de mercadorias, como dissemos, as viagens a p (viajar paulista, uma pessoa atrs da outra, como os ndios) e a cavalo eram realmente vagarosas e a hospitalidade nas fazendas manifestou-se naturalmente como uma obrigao e no como virtude ou mera cortesia. claro que tais hspedes viajores variavam de cate-goria social. Raramente surgia o escoteiro estranho a caminho de seu destino viajava-se em comitivas, havia os escravos e ndios administrados carre-gadores de bagagens variadas acompanhando seus senhores brancos ou mamelucos significativos no estamento dos mandes. Os subalternos dormiam no cho embaixo das rvores, sob alguma coberta da sap. Os iguais ao dono da casa em dependncias ao p da moradia ou acopladas prpria construo, conquanto independentes da mais famlia, como escreveu o padre Manuel da Fonseca em sua biogra-

    fia do jesuta Belchiorde Pontes (7). Por outro lado, um breve papal proibia terminantemente o exerc-cio das prticas sacras como a missa, o casamento ou o batizado promiscuamente em dependncias domiciliares. Da, a razo de serem as capelas colo-niais independentes, sem acesso direto ao interior da residncia. O dormitrio para receber pessoas de fora e a capela independente, ento vieram a ser, nos tempos de Colnia, dois elementos bsicos do programa da casa rural, no s paulista de ser-ra-acima, mas verdadeiramente nacional, quem sabe, americano. Assim, ficou definida uma rea construda dedicada intermediao entre o pblico e o privado quase sempre determinada por um al-pendre de distribuio chamado pelo Brasil afora de pretrio, corredor, varanda, ou copiar. Alpendre trreo ou elevado, ao longo do pavimento assobradado. Note-se que tal agenciamento deu-se, tambm, nas regies a beira-mar ou prximas do litoral, nos engenhos de acar do nordeste, onde os caminhos foram substitudos pelos cursos dgua navegveis que levavam a produo aos portos de embarque.

    Fazenda Pau dAlho, So Jos do Barreiro SP; a meio caminho entre o Rio de Janeiro e So Paulo, abrigou D. Pedro na viagem da Independncia

    Foto Victor Hugo Mori

    Nas fazendas, a presena da mo-de-obra negra escrava foi fundamental para dar continuidade ao fracionamento do programa em vrias construes satlites no quintal da morada principal desde os primeiros dias. Pelos motivos do clima, do regime

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    de trabalho, pelo cardpio e pela guarida aos de fora, o programa de necessidades da casa roceira, de incio, determinava outrossim a mencionada zona de contato entre o pblico e o privado (hspede / capela) separada radicalmente do citado quintal, isto , das mulheres, mucamas e das crianas. Mul-heres reclusas, inclusive nas cidades, liberadas de sair rua s com destino s missas, sempre em-buadas por compridos xales arrodeando toda a cabea como no mundo muulmano do Algarve e Andaluzia. Mulheres que espionavam as visitas pelas frestas das portas. O mundo das mulheres era o quintal murado de taipa ou cercado por gros-sos paus fincados no cho; o mundo confinado das construes satlites; do moinho; do monjolo; do telheiro do fabrico de farinha; do rancho do fogo para derreter o toicinho; para fazer o sabo de cinzas e de desidratar o caldo da cana at transform-lo em melado e, depois, em rapadura. Quintal das rvores de espinho (ctricas em geral) dos marmeleiros, das parreiras, jabuticabeiras, bananeiras; dos tal-hes de cana para o acar da casa; do mandiocal para a farinha cotidiana e mais canteiros para as couves, amendoim, batatas vrias, toda sorte de carazes, como disse Anchieta nos primeiros dias de So Paulo. Vasto quintal dos chiqueiros e das galinhas. Das roupas corando ao sol. Enfim, esto a, as descries dos bens de raiz nos inventrios dos primeiros sculos mostrando toda a disperso das pequenas construes pelo quintal, cada qual com sua funo, ao contrrio do que acontecia no reino distante. A habitao unifamiliar do fazen-deiro totalmente isolada dentro do complexo agr-cola uma constante do Brasil colonial. Somente dos finais do sculo XVIII em diante que vemos reinis recm-chegados, sobretudo em Minas, Gois e litoral do Rio a Santos, instalando engenhos de acar anexados s suas moradias. Eram eles ainda simplesmente isentos da cultura americana. Tudo como nos montes alentejanos.

    Fbrica e residncia anexa no Engenho dAgua, Ilha Bela SP Foto Victor Hugo Mori

    Somente a presena do escravo que poderia justi-ficar o programa dos grandes sobrados urbanos do litoral, mormente aqueles nordestinos e, de modo especial, os do Recife. Lcio Costa, em um de seus memorveis textos, nos sugeriu e imaginamos que o negro escravo, dentro de casa, fosse elevador car-regando pelas escadas ngremes de altos degraus pessoas achacadas, gua vinda dos chafarizes, g-neros alimentcios, lenha para os foges instalados no ltimo pavimento, s vezes, no quarto andar; era esgoto, levando os barris repletos de excrementos senhoriais a serem despejados no rio ou at no mar; era ventilador abanando os brancos suarentos e subindo vidraas pesadas; enfim o negro-guindaste fazia a casa funcionar.

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    arquitetura brasileira

    Sobrados, Recife PE Foto Victor Hugo Mori

    Ainda na Conjuntura Segunda, podemos, na moder-nidade, vislumbrar longnquos reflexos do tempo da escravatura condicionadora de programas se atentarmos presena da chamada edcula nos quintais das residncias urbanas das classes rica e mdia at hoje dependentes da mo-de-obra da empregada domstica. Comunssimas nas grandes cidades at os dias da Segunda Guerra Mundial e at agora planejadas nas cidades do interior, essas dependncias englobando quarto de empregada, banheiro, lavanderia, quarto de passar ou garagem constituem uma exclusividade, ao que parece, so-mente brasileira ao segregar essas funes subal-ternas. Esse isolamento daquelas instalaes de servio logo manifestou-se outrossim nos primeiros edifcios de apartamentos fazendo surgir em suas plantas uma clara distino de circulaes, a dos familiares moradores titulares e a dos empregados, faxineiros e entregadores de encomendas. At os elevadores eram separados e com acessos distintos. Ampla pesquisa em bibliografia estrangeira compro-va essa outra exclusividade brasileira que, somente h poucos anos, tende a desaparecer, por variados motivos que no precisam ser aqui relembrados (8).

    nico exemplar do sc. XIX de edifcio de apartamento que subsiste parcial-mente na R. Floriano Peixoto em So Paulo, projetado por Giulio Micheli em

    1896. Na planta aparece o quarto da criada, o WC e as alcovas com aberturas para o poo de ventilao

    A Terceira Conjuntura refere-se a breves papalinos, determinaes cannicas; s posturas, resolues ou normas das cmaras municipais; aos cdigos sanitrios estaduais a at s ordens ou resolues constitucionais. Quanto s determinaes de carter religioso, j lembramos aqui o caso da exigncia de isolamento das capelas particulares em relao rea habitacional das sedes das propriedades rurais. Ordenaes do Vaticano tambm tiveram reflexo nos espaos urbanos desde o momento em que pas-saram a exigir distncias mnimas entre os conven-tos das variadas ordens religiosas, o que explica a trama viria de muitas cidades do Novo Mundo, como o caso do celebrado tringulo formado pelas ruas centrais histricas de So Paulo devido loca-lizao final dos franciscanos, antes instalados na Rua Direita, em sua ermida pioneira, hoje igreja de Santo Antnio (9). Nos dias de Colnia, as cmaras municipais, principalmente em Minas, timidamente procuraram normalizar as construes procurando uniformizar os frontispcios das casas, tentando uma harmonia impeditiva de personalismos; tentaram equalizar os afastamentos e alturas das portas e janelas das construes encarreiradas nos alinha-mentos das ruas, at mesmo nas ladeiras, fato que causou muita controvrsia e desobedincias vrias. Queriam inclusive continuidade dos espiges em construes distintas, coisa de fato desejvel na-queles tempos de tcnica construtiva muito limitada nos desvios de guas pluviais.

    Foi nos primeiros momentos da Repblica positivis-ta, no entanto, que as construes em geral passaram

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    arquitetura brasileira

    a ser policiadas pelo Estado atravs de leis e cdigos disciplinadores no s do modus faciendi das obras mas tambm como us-las mormente atentando s questes da higiene. Pela primeira vez, no Brasil, a lei entrava dentro das casas dizendo como elas deveriam ser, contrariando os direitos sagrados de propriedade equacionados pela Revoluo Francesa (10). Agora, as reas mnimas e os ps-direitos dos cmodos teriam suas dimenses regulamentadas. Todas as dependncias deveriam ser providas de janelas garantidoras do ar e da luz natural. Adeus s alcovas escuras e abafadas. Pisos e paredes ladril-hados nas cozinhas e banheiros. E assim por diante. Os palacetes do ecletismo republicano, ento, inau-guraram a postura envaidecedora e semostradora garantida pelo isolamento total no centro do lote e pelas quatro fachadas igualmente ajaezadas de ornamentao espantosa. E tudo dentro da lei. Leis nem sempre benquistas, principalmente quando pretendem regular gabaritos e taxas de ocupao. A histria de nossa arquitetura moderna sempre est a mostrar periodicamente solicitaes ou providn-cias destinadas a abrandar os rigores da legislao, cujos autores s vezes estariam pouco atentos aos alcances financeiros embutidos entre os artigos e pargrafos bem intencionados. Leis ultrapassadas, qui incmodas. Essa histria nunca poder ser contada com clareza porque nossa arquitetura nestes tempos no depende s dos arquitetos mas tambm de empreendedores, cujos modos de agir nem sempre esto dentro da ortodoxia desejada quando vislumbram perdas ou ganhos significa-tivos. Isso tudo para no falarmos da corrupo pura e simples que no precisa, pelo contrrio, de revogao de prescrio legal alguma. E as cidades crescem merc dos caprichos do capitalismo.

    A Quarta e ltima Conjuntura rene as questes do saber fazer, os problemas da arte de construir, as intenes estetizantes e a adoo de estilos pelo Brasil afora, ontem e agora na modernidade. Evi-dentemente, os praticantes ou profissionais nela envolvidos em suas atuaes, de modo necessrio, tm que se louvar nos recursos e orientaes vi-gentes, depois de vistas as determinaes ou condi-

    es expressas nas Conjunturas anteriores. Disso tudo, resultar aquilo que chamamos de partido arquitetnico, isto , a formalizao definitiva do bem arquitetnico.

    Nesta Conjuntura Quarta, ao longo do tempo, pode-mos perceber algumas linhas de conduta ou melhor, aes coletivas dirigidas por posicionamentos co-muns face a estilos; a determinadas solues, agen-ciamentos ou a modos de satisfazer certos progra-mas, que podem levar identificao de solues paravernaculares regionais no universo cultural brasileiro. Algumas dessas correntes podero ser exemplificadas rapidamente.

    A primeira delas, talvez a mais importante em nossa arquitetura colonial, foi a sob responsabilidade dos engenheiros militares atuantes sobretudo na costa brasileira. Como indica a sua denominao vieram aqueles profissionais edificar fortificaes e, bom que se diga, tais obras eram pretensamente defensi-vas mas, primordialmente, tinham a funo de de-marcar a posse portuguesa do territrio brasileiro. Naqueles dias da recente descoberta das armas de fogo, as construes militares estavam a atender uma nova determinao: nada de torres ou eleva-es, agora, muralhas baixas confundindo-se com o horizonte, deixando de ser alvos fceis. Uma nova tecnologia construtiva surgiu e logo os engenheiros italianos se especializaram para seguir as condies impostas pela chamada pirobalstica. Foi nos tempos dos Felipes de Espanha, que reinaram em Portugal no perodo de 1580 a 1640. Nessa ocasio, toda a defesa dos portos e das divisas foi reformulada com o total abandono dos castelos e torres medievais por serem inteis. Tiburcio Spanocchi, celebrado engen-heiro militar italiano, com outros conterrneos, foi o orientador dos fortificadores ibricos. Assim, os engenheiros militares portugueses, no s foram in-troduzidos s modernas concepes fortificatrias, s novas tcnicas construtivas, comotambm conhe-ceram o estilo maneirista, a nova linguagem dos italianos, que antecedeu ao barroco. Estilo aplicado nas construes do interior das fortalezas e em obras militares em geral, que passou a ser considerado

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    indissocivel da atuao profissional. A arquitetura dos soldados portugueses noconheceu o barroco, foi diretamente das lies dos tratadistas como Vi-gnola para o neoclssico histrico, que comeou a reger o gosto arquitetnico do Brasil imperial merc da atuao da Misso Francesa. Exemplo significa-tivo desses alto na Histria da Arte est na igreja de Santa Cruz dos Militares, no Rio de Janeiro, projetada no ltimo quartel do sculo XVIII pelo brigadeiro Jos Custdio de S e Faria francamente inspirada na Ges de Roma, que teve como ltimo arquiteto Giacomo Della Porta. Foi inaugurada no incio do sculo seguinte por D. Joo VI, j nos dias da aceita-o do neoclssico de Napoleo. Na mesma poca, em So Paulo onde imperava a taipa de pilo, tc-nica pobre de poucos recursos, o engenheiro mili-tar Joo da Costa Ferreira, ao projetar o quartel de milcias da cidade, pespegou no eixo de simetria da fachada um frontozinho triangular, nico estilema de seu repertrio maneirista permitido pela terra socada entre taipais. Pequeno fronto que levou alguns desavisados a cham-lo de proto-neoclssico quando, na verdade, ainda tinha vnculos com o renascimento (11).

    Forte das Cinco Pontas, Recife PE Foto Victor Hugo Mori

    Palcio neoclssico do Itamarati, Rio de Janeiro RJ Foto Victor Hugo Mori

    Os engenheiros militares, no isolamento da Colnia, naturalmente foram impelidos a prestar auxlio populao ajudando a construir os edifcios defi-nitivos em substituio aos primitivos exemplares sincrticos levantados com materiais e tcnicas em-prestadas dos habitantes locais, sobretudo conven-tos e igrejas. Nesta hora no podemos nos esquecer de Francisco Frias de Mesquita, o operoso militar do sculo XVII, que projetou e construiu, alm de fortalezas, igrejas e conventos pelo litoral do pas, de So Lus do Maranho at o Rio de Janeiro pas-sando pelo Rio Grande do Norte e Salvador. Obra de maior significado na arquitetura religiosa de Francisco de Frias, como tambm era conhecido, o mosteiro e igreja de So Bento, no Rio. A partir dele e de recomendaes que deixou sobre novas tcnicas construtivas longa a histria de suces-sivos engenheiros militares ajudando aos colonos levantar paredes, cobri-las e pint-las com maestria. Devido a isso, por exemplo, em So Paulo, o engen-heiro militar Joo da Costa Ferreira foi elogiado pelo governador-general Bernardo Jos de Lorena, que mencionou ter sido ele amado pelo povo devido sua atuao ensinando a todos como construir bem com as disponibilidades locais. No s foram importantes no saber fazer, tambm os engenhei-ros militares influram no gosto, e participaram da difuso de estilemas do maneirismo. O brigadeiro

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    Jos Fernandes Pinto Alpoim, homem do conde de Bobadela, no Rio, por exemplo, considerado o di-fusor das vergas de arco abatido nas janelas e portas nos meados do sculo XVIII a partir de seu projeto do Palcio dos Governadores de Ouro Preto. Enfim, cabe queles tcnicos o mrito de disseminarem pelo Brasil uma s arquitetura, de Porto Alegre a Belm dando a razo ao engenheiro francs Louis Lger Vauthier, no Recife, em meados do sculo XIX, quando proferiu um chute veraz: Quem viu uma caza brasileira, viu todas (12).

    Palcio dos Governadores, Ouro Preto MG Foto Victor Hugo Mori

    Igualmente aos engenheiros militares, religiosos tra-vestidos de arquitetos tambm deram a sua contri-buio levantando obras assemelhadas constituindo um rol de exemplares magnficos distribudos pelo Brasil, mormente no Nordeste. o caso dos mos-teiros e templos franciscanos portando galils, cuja obra prima o Convento de Santo Antonio, de Joo Pessoa.

    O uso da madeira nas estruturas autnomas, na impossibilidade do emprego por variados motivos dos muros contnuos de pedras, tijolos ou mesmo de taipa de pilo, fez surgir nessa Conjuntura Quarta construes de bastante interesse arquitetnico e antropolgico. o caso das casas palafitas da Ba-cia Amaznica; das construes de taipa de mo; das moradias de tbuas dos poloneses do Paran;

    das casas ditas de enxaimel dos alemes de Santa Catarina e das construes da colnia japonesa do Vale do Ribeira, em So Paulo.

    Residncia da famlia Fukusawa, Registro SP Foto Victor Hugo Mori

    Dentre os exemplos acima citados, certamente, a taipa de mo participando de estruturas autno-mas de madeira a modalidade que mais variaes construtivas apresentou ao longo do tempo pelas mltiplas regies do pas. No entanto, tais alterna-tivas podem ser divididas em dois grandes grupos: as surgidas antes do terremoto de Lisboa, em 1755, e as aperfeioadas a partir daquele cataclisma. Ex-pliquemos. As construes de grande envergadura de madeira lavrada no eram o forte da arquitetura portuguesa e conseqentemente os paramentos de taipa de mo no apresentavam nenhum requinte memorvel e, diga-se de passagem, o ferramental disponvel para o manuseio de madeirame era bas-tante primitivo. Toda essa vulgaridade tcnica foi passada Colnia na bagagem dos emigrantes lusos. Foi na reconstruo da capital do Reino que se tomou conhecimento das estruturas eruditas dos pases nrdicos da Europa e de l que chegaram a Lisboa os carpinteiros para ensinar o uso de estruturas ento imaginadas para minorar ou evitar os desmo-ronamentos das construes em outros provveis terremotos. Assim, os engenheiros militares e seus carpinteiros aprenderam novas maneiras de lidar com a madeira usando novas ferramentas e novas sambladuras. Na segunda metade do sculo XVIII, os governadores-generais das variadas capitanias

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    e seus squitos de tcnicos puderam trazer Col-nia novidades como essa da nova arquitetura de madeira junto a outras inovaes nascidas nos pri-mrdios da Revoluo Industrial. Esse novo sistema construtivo recebeu aqui o nome de pau-a-pique, justamente por possuir paus rolios verticais crava-dos ao mesmo tempo nos baldrames e nos frechais, enfiados em furos idnticos e largos possveis graas aos recentestrados, os sucessores das verrumas de diminuto dimetro. Essa foi a carpintaria levada para Minas Gerais e para as fazendas de caf de So Paulo, no sendo entre ns, no entanto, correta a denominao portuguesa gaiola por no ser a armao destinada a enfrentar terremotos.

    Parede de pau-a-pique, So Luiz do Paraitinga SP Foto Victor Hugo Mori

    Por falar em estruturas autnomas, o contraponto dos muros contnuos, nesta conjuntura quarta, h muito o que dizer sobre o concreto armado. Ele chegou-nos como novidade depois de bem insta-lado o ecletismo arquitetnico sempre apoiado nas alvenarias, sobretudo de tijolos. Em SoPaulo, em 1907, o arquiteto Victor Dubugras projeta pequena estao de estrada de ferro em Mairinque usando concreto entremeado a vergalhes de ferro em tetos abobadados com nervuras aparentes chamando a soluo de concreto armado e com tal nome foi seu trabalho criticado e elogiado na revista da Escola Politcnica daquele ano.J h algum tempo essa de-

    nominao se referia presena de peas metlicas, at de arames, justapostos a argamassas variadas, como hoje existem as argamassas armadas de grande sucesso. Na verdade, o que agora conhe-cemos por concreto armado foi regulamentado e praticado com rigor cientfico, na capital paulista, pelo engenheiro-arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Jr., professor da Escola Politcnica, em cujo labora-trio de ensaios de materiais de construo fez o primeiro acompanhamento de obra, alis, projeto de sua autoria, na Rua Direita, em 1912 (13). De incio, o concreto armado no teve a oportunidade de se popularizar com rapidez devido, principalmente, s dificuldades de obteno de ao e cimento im-portados. Aqui, a demanda do calcreo apropriado era muitssimo maior que a incipiente produo nacional, que, na verdade, somente a partir da se-gunda metade dos anos 1920 foi capaz de satisfazer s necessidades do mercado em expanso desde o armistcio de 1918, quando foram retomadas as obras em geral, sobretudo as ferrovirias com os seus tneis e viadutos. A nossa produo de cimento antecedeu cerca de duas dcadas a primeira grande siderrgica, a de Volta Redonda, conseguida graas a Getlio Vargas em suas tratativas polticas com o governo americano no fim da Segunda Guerra Mundial em 1945. Desta data em diante, o concreto armado deslanchou entre ns quando assumimos um saber fazer excepcional, graas ao qual nossa arquitetura moderna se tornou referncia mundial.

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    Estao Ferroviria, Mairinque SP Foto Victor Hugo Mori

    Desde os tempos iniciais, das pioneiras feitorias e das atividades dos donatrios, at hoje, muitas guas passaram sob vrias pontes e nesta Quarta Conjun-tura relativa s operaes, aos procedimentos, s atuaes dos arquitetos temos que levar em conta que a globalizao lentamente est a esmaecer o multicolorido panorama cultural mundial, fazendo desbotar os caracteres regionais tendendo a tornar todo o ecmeno numa s paisagem cinzenta. No Bra-sil, nas grandes cidades e nas metrpoles, como So Paulo, vemos que programas de necessidades em geral, que as tcnicas construtivas e que as aprecia-es estticas j esto definitivamente atreladas s solues universais gestadas nos ditos pases ricos. Assim, essa nossa ideia de abordar a histria da ar-quitetura brasileira atravs das quatro conjunturas agora alvitradas parece que seja factvel somente at o fim de nosso tempo colonial, pois a partir de 1822, da Misso Francesa e do seguinte ecletismo de-senfreado trazido pelos imigrantes, donos de novas tcnicas e portadores de novos materiais, teve incio o processo de universalizao de nossas condutas. Isso verdade, mas no podemos nos esquecer, no entanto, que a enormidade do tamanho do nosso pas continua acolhendo regies ou nichos, como gostam de dizer, em que as condies permanecem as mesmas do passado. Seja como for, julgamos que a brasilidade ainda existe nas atuaes individuais de certos arquitetos, em cuja bagagem mental perdu-ram herdados ou adquiridos resqucios da tradio nacional ou vestgios de nosso passado americano. Arquitetos talentosos em cuja obra se estampa a criao singular, eminentemente pessoal e nica, na qual, no entanto, percebida a nossa nacionali-dade. Se Oscar Niemeyer fosse um arquiteto japons jamais teria concebido a obra-prima que a igreja de So Francisco de Assis da Pampulha. Este um simples exemplo para encerrarmos esta mensagem e todos esto convidados a descobrir o Brasil no vasto repertrio de nossa arquitetura moderna.

    Igreja da Pampulha, Belo Horizonte MG Foto Victor Hugo Mori

    Comentrios sobre as imagens

    1. Casa do Padre Incio, Cotia, So Paulo

    Casa do Padre Incio, Cotia SP, c. 1753 Foto Victor Hugo Mori

    Esta residncia de c. 1753, construda pelo padre Rafael de Barros, mostra bem como est envolvida com as conjunturas mencionadas no texto desta comunicao:

    a) suas paredes de taipa de pilo j nasceram direta-mente de valas abertas no prprio solo, ao contrrio da prtica ibrica que sempre exigiu baldrames de pedra ou de tijolos. Tal fato deu-se devido sobretudo falta de cal no Planalto. Essa adaptao acabou exigindo terrenos planos em nvel onde as guas pluviais estariam impedidas de provocar eroses danosas.

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    b) sua cobertura de quatro guas estruturalmente definida por quatro grandes vigas de madeira que, apoiadas nos frechais das paredes da sala quadrada, encontram-se no vrtice da pirmide onde trabal-ham a compresso; estando prevista, inclusive, flam-bagem de gosto oriental. Ao que sabemos, no houve naqueles tempos modelos ibricos semelhantes. No sul de Portugal, por exemplo, os telhados de quatro guas eram (e ainda so) destinados a cobrir apenas pequenos cmodos providos de abbadas de tijolos, em cujos rins apoiavam-se as delgadas e curtas pe-as de madeiras livres de qualquer tipo de esforo a no ser suportar o peso das telhas.

    Foto Victor Hugo Mori

    c) sua planta, da qual resulta um frontispcio de coincidente simetria paladiana, sem dvida sin-gular : uma grande sala semi-obscura arrodeada de camarinhas que hoje passam por dormitrios. Na verdade no sabemos com exatido qual teria sido o programa norteador daquela casa, como das demais habitaes bandeiristas.

    d) do referido programa, no entanto, identificamos dois determinantes prprios das condies locais, responsveis pela existncia da varanda central, naquela poca denominada corredor, na verdade, um vestbulo direcionador dos passos. Tal depen-dncia dava acesso capela e ao quarto de hspedes, dois itens programticos exclusivos da solido do mundo colonial de serra-acima.

    2. Palcios e capelas

    Daquelas antigas determinaes cannicas exigindo separao das capelas domsticas das acomoda-es residenciais naturalmente surgiu nas moradas solarengas o partido arquitetnico localizando o pequeno templo algo afastado da construo prin-cipal, mas a ela visualmente comprometido atravs da prgula, passagem coberta ou, ento, plataforma elevada. Essa constatao est presente na casa do sculo XVIII do bispo do Rio de Janeiro. Tal soluo comparece tambm no projeto do Palcio da Alvo-rada, em Braslia, onde Oscar Niemeyer coloca a capelinha no mesmo piso elevado da residncia pre-sidencial criando um relacionamento harmonioso indissolvel. Nos tempos de Juscelino Kubitschek no havia naturalmente aquelas determinaes ca-nnicas e nem os futuros presidentes iriam exigir tal construo religiosa. Pensamos que essa composio arquitetnica nasceu simplesmente de um impulso do subconsciente desejoso de firmao nacionalista

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    assumindo um partido prprio de nosso passado; sem querer, a busca e garantia de uma identidade brasileira, como o nome da cidade.

    Palcio da Alvorada, Braslia DF. Arquiteto Oscar Niemeyer, 1957 Foto Victor Hugo Mori

    Chcara do bispo do Rio de Janeiro. Aquarela de Thomas Ender, 1817

    notas

    NE O presente texto foi apresentado em conferncia no 1 Seminrio Latinoamericano Arquitetura e Docu-mentao, organizado pela Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Centro de Documentacin de Arquitectura Latino-americana Cedodal, ocor-rido em Belo Horizonte, em 2008. Publicao origi-nal: LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Uma nova proposta de abordagem da histria da arquitetura

    brasileira. In CASTRIOTA, Leonardo. Arquitetura e documentao novas perspectivas para a histria da arquitetura. So Paulo, Annablume/IEDS, 2011, p. 275-292. A edio das imagens de Victor Hugo Mori, tambm autos das fotos e desenhos.

    1 Dentre outras obras deste autor, ver em especial: BAYN, Damin. Sociedad y arquitectura colonial sudamericana. Barcelona, Gustavo Gili, 1974.

    2 Depoimento de Pietro Maria Bardi a respeito da edio de Larte del Brasile, Arnaldo Mondadori Editore, Milano, 1982; publicao baseada na obra Arte no Brasil distribudaemfascculospelaEdito-raAbrilcomtextos de Jos Roberto TeixeiraLeite e Carlos A. C. Lemos.

    3 Ver: SAIA, Lus. O alpendre nas capelas brasileiras. Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n. 3, Rio de Janeiro, 1939; LEMOS, Carlos A. C. Capelas alpendradas de So Paulo. In LEMOS, Carlos A. C. Notas sobre a arquitetura tradicional de So Paulo. 3. edio.So Paulo, FAU USP, 1992.

    4 Sobre o assunto: LEMOS, Carlos A. C. Organizao urbana e arquitetura em So Paulo dos tempos colo-niais. In: Histria da Cidade de So Paulo a cidade colonial. Volume 1.So Paulo, Paz eTerra, 2004, p. 145.

    5 A respeito do alpendre domiciliar, ver : LEMOS, Carlos A. C. Casa paulista.So Paulo, Edusp, 1999, p. 23 e 220.

    6 Bratke contou-nos seus problemas no Amap, in-clusive da rejeio inicial por parte dos operrios de suas casas consideradas inabitveis devido ao calor ali reinante. Demorou muito para que che-gasse a solues satisfatrias. A respeito: SEGAWA,

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    Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke.So Paulo, Pro-Editores, 1997.

    7 FONSECA, Manuel da. Vida do venervel padre Bel-chior de Pontes, da Companhia de Jesus da Provncia do Brasil. So Paulo, Melhoramentos, s.d.

    8 LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. 2. edio.So Paulo, Perspectiva, 1978, p. 153.

    9 Vernossotrabalho citado nanota 4 e,tambm, otexto-fundamental Subsdiospara oestudo dainfluncia dalegislao naordenao e naarquitetura dasci-dades brasileiras,teseparaobteno dectedra naEscolaPolitcnica da USP,em 1966, de autoria de Francisco de PaulaDias de Andrade.

    10 A respeito da legislao republicana, ver: LEMOS, Carlos A. C. A Repblica ensina a morar (melhor).So Paulo, Hucitec, 1999.

    11 LEMOS, Carlos A. C. No Brasil, a coexistncia do maneirismo e do barroco at o advento do neocls-sico histrico. In: VILA, Affonso. Barroco, teoria e anlise,So Paulo, Perspectiva, 1997, p. 233.

    12 VAUTHIER, Louis Lger. Casas de Residncia no Brasil. Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, n. 7,Rio deJaneiro, 1943.

    13 CARAM, Andr Lus Balsante. Pujol, concreto e arte.So Paulo,Banco do Brasil, 2001, p. 126.

    sobre o autor

    Carlos Alberto Cerqueira Lemos formado em ar-quitetura pela FAU Mackenzie, atualmente pro-fessor titular de ps-graduao no departamento

    de Histria da Arquitetura e Esttica do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. De-senvolveu atividades ligadas ao projeto de edifcios e de urbanizaes, docncia e pesquisa histrica. autor de diversos livros, tais como: Cozinhas etc. (Perspectiva, 1976); A casa paulista (Edusp, 1999).

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