uma introdução ao estudo de equações quadráticas à luz dos ... · À professora dra rosana...

157
UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO ROSANGELA MARAZZIO KOCH UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS À LUZ DOS TRÊS MUNDOS DA MATEMATICA SÃO PAULO 2010

Upload: doanxuyen

Post on 20-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

ROSANGELA MARAZZIO KOCH

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS À LUZ DOS TRÊS MUNDOS DA MATEMATICA

SÃO PAULO

2010

Page 2: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

2

K81i Koch, Rosangela Marazzio

Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos Mundos da Matemática / Rosangela Marazzio Koch – São Paulo : [s.n.], 2010.

156f.; il. ; 30 cm.

Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática.

Orientadora: Profª Drª . Rosana Nogueira de Lima.

1. Equações quadráticas 2. Corte didático 3. Três Mundos da Matemática I. Título.

CDD: 515.35

Page 3: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

3

ROSANGELA MARAZZIO KOCH

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS À LUZ DOS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA

Dissertação apresentada como exigência

parcial à Banca Examinadora da

Universidade Bandeirante de São Paulo −

UNIBAN, para obtenção do título de

MESTRE em Educação Matemática, sob a

orientação da Professora Doutora Rosana

Nogueira de Lima.

SÃO PAULO 2010

Page 4: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

4

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta Dissertação por processos de fotocópias ou eletrônicos.

_________________________ ____________________

Page 5: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

5

Dedico este trabalho a meu esposo, Elcio e aos meus filhos, Matheus e Nícolas por acreditarem que eu venceria, mesmo quando eu deixei de acreditar e por me ensinarem que o amor supera as dificuldades e aos meus pais Irineo e Mara, por me ensinarem que somente com determinação e perseverança alcançamos nossos objetivos.

Page 6: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

6

AGRADECIMENTOS

Ao meu esposo e aos meus filhos pelo imenso amor, apoio, incentivo e compreensão,

sem os quais eu não teria concluído minha pesquisa.

Aos meus pais que me apoiaram e compreenderam a minha ausência temporária em

suas vidas.

À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, dedicação e

carinho nas orientações, fundamentais para que esse trabalho fosse concluído.

À professora Dra Vera Giusti pelo apoio, amizade e pelas valiosas contribuições a esse

trabalho.

Ao professor Dr. Alessandro pelos questionamentos que ajudaram a delinear a minha

pesquisa.

Aos professores do programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

UNIBAN, em especial, aos professores da linha de pesquisa “Ensino e Aprendizagem e

suas Inovações” que tanto colaboraram com suas sugestões e considerações que só

aprimoraram este trabalho.

Às professoras Dra Sonia Pitta e Dra Marilena Bittar pelas valiosas contribuições a este

trabalho.

À direção e à professora da escola estadual de Jundiaí em que esta pesquisa foi

realizada, por autorizarem a aplicação dos instrumentos de coleta de dados, e aos

alunos que participaram desta.

Aos amigos e “irmãos” Josias e Paulo, pelo carinho e apoio nos momentos cruciais

deste trabalho.

À companheira desta jornada Rosineide pela amizade e pelas palavras de incentivo.

Às minhas “filhas”, em especial a Beatriz, que compartilharam comigo as noites em

claro.

Page 7: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

7

Na maior parte das ciências uma geração põe abaixo o que outra

construiu, e o que uma estabeleceu a outra desfaz. Somente na

matemática é que cada geração constrói um novo andar sobre a

antiga estrutura.

Hermann Hankel

(1839 - 1873)

Page 8: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

8

RESUMO

A nossa pesquisa tem por objetivo levantar quais características dos Três Mundos da

Matemática emergem das discussões de alunos de 8º ano do Ensino Fundamental ao

buscarem meios de resolução para as equações quadráticas, bem como as dificuldades

apresentadas por eles na transição de resolver equações lineares para resolver

equações quadráticas. Buscamos também possíveis evidências da existência de um

corte didático entre as equações lineares e as quadráticas. Para atingir este objetivo,

foram elaborados e aplicados dois instrumentos de coleta de dados. O primeiro, um

questionário contendo equações lineares, com o qual pudemos selecionar os sujeitos

que participariam do estudo principal, de acordo com os conhecimentos demonstrados

na resolução dessas equações. O segundo, um conjunto de equações quadráticas,

resolvidas em grupos pelos alunos selecionados, para entendermos como eles

resolveriam tais equações sem terem conhecimento prévio. Essa coleta ocorreu em

uma escola estadual da cidade de Jundiaí/SP, com duas turmas de 8º ano e os dados

coletados foram analisados à luz do quadro teórico dos Três Mundos da Matemática.

Os resultados obtidos evidenciam a existência de um possível corte didático, que

denominamos “corte didático quadrático”, contudo não entre as equações lineares e as

quadráticas, como conjecturávamos, mas entre as equações quadráticas de avaliação e

as equações quadráticas de manipulação. Estão presentes, no trabalho desses alunos

com equações quadráticas, características dos três mundos, corporificado, simbólico e

formal. Corporificado, quando o aluno busca as raízes da equação por avaliação;

simbólico, quando ele usa manipulação de símbolos para resolvê-la; e formal quando

usam apropriadamente as operações inversas.

Palavras-chave: Equações Quadráticas. Corte Didático. Três Mundos da

Matemática.

Page 9: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

9

ABSTRACT

This study aims at determining the characteristics of the Three Worlds of

Mathematics that can be raised from 8 th graders solving quadratic equations, as

well as the difficulties they face in the transition from solving linear equations to

solving quadratic equations. We also search for evidences of a possible didactic

cut between linear and quadratic equations. To attain our goal, we developed

and administered two instruments for data collection. The first was a

questionnaire with linear equations, used to select the students that would

participate in the main study. The second instrument was a set of quadratic

equations that the students worked on in groups, so we could see how they

would solve this kind of equation without having any previous knowledge on the

subject. We collected our data in a public school in Jundiaí/SP with two classes

of 8th grade students. Data were analysed in the light of the theoretical

framework of the Three Worlds of Mathematics. Our findings evidenced the

existence of a possible didactic cut, but not between linear and quadratic

equations, as we expected, but between quadratic evaluation equations and

quadratic manipulation equations. Characteristics from all worlds emerged from

these students‟ work. Regarding embodied world, characteristics are related to

the search of solutions by means of evaluation; the manipulation of symbols to

solve an equation is part of symbolic world; the formal world is present when

students realise the values for the unknown make the mathematical statement

true, and when they use the appropriate inverse operation to solve them.

Keywords: Quadratic Equations. Didactic Cut. Three Worlds of Mathematics.

Page 10: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Problema que utiliza o modelo da balança ..........................................................................29

Figura 2: Representação de resolução por métodos não-formalizados ..........................................31

Figura 3: Representação por métodos aritméticos ..............................................................................31

Figura 4: Representação do método algébrico ....................................................................................31

Figura 5: Representando a equação 3x + 5 = 11 com o modelo da balança ..................................44

Figura 6: Processo de resolução de equação por meio de m anipulação ........................................45

Figura 7: Resolução da equação 3x² = 27 ............................................................................................46

Figura 8: Desenvolvimento Cognitivo pelos Três Mundos da Matemática ......................................47

Figura 9: Resposta do aluno [T110] para a equação m + 6 = 5 ........................................................69

Figura 10: Resposta do aluno [T114] para a equação 2d + 10 = 60 ................................................69

Figura 11: Resposta do aluno [T109] para a equação 10 + 4w = 5..................................................70

Figura 12: Resposta do aluno [T111] para a equação 2n+ 5 = 6n − 7 ............................................71

Figura 13: Resposta do aluno [T110] para a equação 2b - 30 = 0 ...................................................72

Figura 14: Resposta do aluno [T212] para a equação 2b − 30 = 0 ..................................................72

Figura 15: Resposta do aluno [T215] para a equação m + 6 = 5......................................................72

Figura 16: Resposta do aluno [T113] para a equação m + 6 = 5......................................................72

Figura 17: Resposta do aluno [T203] para a equação 8 = 6 − c .......................................................73

Figura 18: Resposta do aluno [T215] para a equação 10 + 4w = 5..................................................73

Figura 19: Resposta do aluno [T211] para a equação 2d + 10 = 60 ................................................73

Figura 20: Resposta do aluno [T217] para a equação 2d + 10 = 60 ................................................73

Figura 21: Resposta do aluno [T109] para a equação w² = 9 ...........................................................74

Figura 22: Resposta do aluno [T120] para a equação w² = 9 ...........................................................74

Figura 23: Resposta do aluno [T120] para a equação (m + 1)² = 4 .................................................74

Figura 24: Resolução por "substituição” realizada pelo aluno [T113] para a equação m + 6 = 5 . 81

Figura 25: Resolução por "regras" realizada pelo aluno [T116] para a equação 2d + 10 = 60 ...81

Figura 26: Resolução da equação x² = 9 apresentada pelo grupo A ...............................................88

Figura 27: Resolução da equação 4 = x² apresentada pelo grupo D ...............................................88

Figura 28: Resolução da equação x² = 9 apresentada pelo grupo C ...............................................88

Figura 29: Resolução da equação 4 = x² apresentada pelo grupo C ...............................................88

Figura 30: Resolução da equação 4 = x² apresentada pelo grupo D ...............................................91

Figura 31: Resolução da equação x² = 9 apresentada pelo grupo C ...............................................91

Figura 32: Resolução da equação 4 = x² apresentada pelo grupo C ...............................................93

Figura 33: Resolução da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo A ...................................94

Figura 34: Resolução da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo C ...................................94

Figura 35: Resolução da equação x² − 25 = 0 apresentada pelo grupo A ......................................94

Page 11: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

11

Figura 36: Resolução da equação x² - 4 = 12 apresentada pelo grupo A .......................................94

Figura 37: Resolução da equação x² − 25 = 0 apresentada pelo grupo B ......................................95

Figura 38: Resolução da equação x² - 4 = 12 apresentada pelo grupo C .......................................95

Figura 39: Resolução da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo B ...................................96

Figura 40: Resolução da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo C ...................................97

Figura 41: Resolução da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo D ...................................98

Figura 42: Resolução da equação x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo B .....................................100

Figura 43: Resolução da equação x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo D .....................................102

Figura 44: Resolução da equação x² - 4 = 12 apresentada pelo grupo B .....................................103

Figura 45: Resolução da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo A .........................................106

Figura 46: Resolução da equação x² - 36 = 0 apresentada pelo grupo B .....................................106

Figura 47: Resolução da equação 4x² - 25 = 0, apresentada pelo grupo D .................................106

Figura 48: Resolução da equação 3x² = 27, apresentada pelo grupo C .......................................106

Figura 49: Resolução da equação 4x² - 36 = 0 apresentada pelo grupo C ..................................107

Figura 50: Resolução da equação 4x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo C ..................................107

Figura 51: Resolução da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo D ........................................109

Figura 52: Resolução da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo A .........................................110

Figura 53: Resolução da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo C ........................................112

Figura 54: Resolução da equação 4x² - 36 = 0 apresentada pelo grupo B ...................................113

Figura 55: Resolução da equação 4x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo B ...................................114

Figura 56: Resolução da equação 4x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo C ..................................117

Figura 57: Resolução da equação 4x² - 36 = 0 realizada pelo grupo D ........................................119

Figura 58: Resolução da equação x² + 10x + 25 = 0 apresentada pelo grupo A .........................122

Figura 59: Resolução da equação 8x² + 6x = 0 apresentada pelo grupo B ..................................124

Figura 60: Resolução da equação x² + 2x + 1 = 0 apresentada pelo grupo C .............................126

Figura 61: Resolução da equação x² + 4x + 2 = 0 apresentada pelo grupo C .............................127

Figura 62: Resolução da equação x² + 4x + 2 = 0 apresentada pelo g rupo D .............................128

Figura 63: Resolução da equação x (x + 3) = 0 apresentada pelo grupo C .................................130

Figura 64: Resolução da equação x (x + 3) = 0 apresentada pelo grupo A ..................................131

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Equações Lineares de Avaliação........................................................................... 62

Quadro 2: Equações Lineares de Manipulação ...................................................................... 63

Quadro 3: Equações Quadráticas de Avaliação ..................................................................... 64

Quadro 4: Equações Quadráticas de Avaliação ..................................................................... 79

Quadro 5: Equações Quadráticas de Manipulação ................................................................. 79

Page 12: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

CAPÍTULO 1 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 17

1.1 ARTIGOS SOBRE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS ............................................... 18

1.2 ARTIGOS SOBRE EQUAÇÕES LINEARES........................................................ 28

1.3 O CORTE DIDÁTICO NA TRANSIÇÃO DA ARITMÉTICA PARA A ÁLGEBRA .. 37

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 42

2.1 OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA .............................................................. 43

2.2 OS “JÁ-ENCONTRADOS” ................................................................................... 48

2.3 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO E DE MANIPULAÇÃO ......................................... 50

2.4 O CORTE DIDÁTICO E OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA ....................... 53

CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 57

3.1 PERFIS DAS TURMAS ........................................................................................ 58

3.2 INSTRUMENTO 1: EQUAÇÕES LINEARES E QUADRÁTICAS - O PRIMEIRO

GRUPO DE DADOS COLETADOS ........................................................................... 60

3.2.1 Gerenciamento da aplicação do instrumento 1 ................................ 64

3.2.2 Análise dos dados do instrumento 1 e escolha dos sujeitos para a

coleta principal ....................................................................................... 68

3.3 INSTRUMENTO 2: AS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS E A ENTREVISTA

REFLEXIVA SEMI-ESTRUTURADA .......................................................................... 76

3.3.1 Gerenciamento das equações quadráticas ...................................... 80

3.3.2 Procedimentos de análise dos dados .............................................. 84

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 85

4.1 ANALISANDO AS RESOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS .............. 86

4.2 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO .............................................................................. 87

4.2.1 Equações .............................................................. 87

Page 13: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

13

4.2.2 Equações ........................ 94

4.2.3 Equações ........................... 105

4.3 EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO ...................................................................... 121

4.3.1 Equações e

........................................................................................ 121

4.4 DUAS EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO: .......... 130

CONCLUSÕES ............................................................................................................ 134

1 EQUAÇÕES QUADRÁTICAS DE AVALIAÇÃO .................................................... 134

2 EQUAÇÕES QUADRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO .............................................. 137

3 RESPONDENDO AS QUESTÕES QUE NORTEIAM A NOSSA PESQUISA ....... 139

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 144

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 146

APÊNDICE A INSTRUMENTO 1: EQUAÇÕES LINEARES ........................................ 149

APÊNDICE B INSTRUMENTO 2: EQUAÇÕES QUADRÁTICAS ............................... 150

APÊNDICE C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................. 157

Page 14: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

14

INTRODUÇÃO

Nosso objetivo, com este trabalho é analisar a compreensão dos alunos

sobre equações quadráticas e as dificuldades apresentadas por eles na

transição de resolver equações lineares para resolver equações quadráticas. Tal

análise será feita utilizando o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática.

Meu interesse por este tópico vem porque leciono1 Matemática na rede

estadual de ensino há mais de 15 anos para as turmas de Ensinos Fundamental

e Médio, e observo, em minha experiência como professora, que alunos de

diferentes escolas cometem erros similares na resolução de equações. Acredito

que, muitas vezes, isso se dá talvez pelo fato dos alunos não compreenderem

os processos de resolução das mesmas.

Minha experiência em sala de aula indica que é comum os alunos se

angustiarem por não conseguirem resolver equações ou compreender os

procedimentos utilizados nas resoluções delas. Essa angústia motivou-me a

procurar melhores formas de ensinar; porém, percebi que meus esforços

acabavam sendo em vão, pois as dificuldades estavam mais profundas do que

eu poderia resolver naqueles momentos, mesmo utilizando os materiais

disponíveis, tais como livros e apostila fornecidos pelo Estado nas escolas em

que lecionava.

Devido às dificuldades percebidas nas resoluções de equações com

alunos do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, interessei-

me pelos processos de aprendizagem de equações.

1 Nesta introdução, usamos primeira pessoa do singular quando se trata de minha própria

experiência.

Page 15: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

15

Apesar de a equação quadrática ser tão importante no desenvolvimento

do conhecimento do educando (por ser a base para outros aprendizados no

currículo do Ensino Médio como, por exemplo, nos estudos das funções), não

existe uma vasta literatura a respeito das dificuldades de ensino e de

aprendizagem relacionadas a ela. A nosso ver, essa escassez de pesquisas

limita o conhecimento e a compreensão das maiores dificuldades apresentada

pelos alunos.

Assim, buscando compreender se essas dificuldades podem estar

relacionadas com o conhecimento que os alunos apresentam sobre equações,

surge a nossa primeira questão de pesquisa Quais são os procedimentos de

resolução que alunos de 8º ano2 utilizam ao resolver as equações

quadráticas, sem terem prévio conhecimento do conteúdo?. E bem como, se

essas dificuldades podem estar relacionadas a uma evidência de um Corte

Didático.

Para isso, no Capítulo 1, trataremos da Revisão de Literatura, na qual

apresentaremos alguns estudos sobre a aprendizagem das equações

quadráticas e as dificuldades apresentadas pelos sujeitos participantes desses

estudos; algumas pesquisas referentes às equações lineares, que foram

subsídios para a elaboração de um dos instrumentos de coleta de dados; e

também a pesquisa de Filloy e Rojano (1989) a respeito do corte didático, com a

qual trazemos a definição e como aparece o corte.

Em seguida, no Capítulo 2, Fundamentação Teórica, explanaremos a

respeito do quadro teórico dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), sendo

estes o Mundo Conceitual Corporificado, Mundo Proceitual Simbólico e Mundo

Formal Axiomático, no qual apoiamos a nossa pesquisa. Apresentaremos,

também, os “já-encontrados”, importante para a análise dos nossos dados, e as

equações de avaliação e manipulação, suporte do nosso trabalho de pesquisa .

Com isso, buscaremos resposta à nossa segunda questão de pesquisa Quais

2

7ª série de Ensino Fundamental: Mudança para a nomenclatura 8° ano em 2010, pela lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006 e parecer CEB 018/ 05.

Page 16: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

16

características dos Três Mundos da Matemática surgem na resolução das

equações quadráticas?. Perante o estudo referente ao “Corte Didático e aos

Três Mundos da Matemática” (LIMA; HEALY, submetido), aliado à pesquisa de

Filloy e Rojano (1989) sobre o “corte didático”, nos questionamos se É possível

caracterizar um Corte Didático na transição das equações lineares para as

equações quadráticas?. Levando-nos dessa maneira à terceira questão de

pesquisa.

No Capítulo 3, Procedimentos Metodológicos, apresentaremos os sujeitos

que participaram de nossa pesquisa, estudantes de uma escola estadual de

Jundiaí, e descreveremos a aplicação das equações lineares cujo objetivo foi o

de selecionar os sujeitos para a entrevista. Essa entrevista foi realizada com

alguns alunos que aparentavam compreender as equações lineares, com o

intuito de verificar quais seriam os procedimentos de resolução adotados por

eles ao serem confrontados com equações quadráticas sem terem prévio

conhecimento destas, pois foram apresentadas a eles antes que o conteúdo

programático contemplasse esse assunto.

A análise dos dados está contemplada no Capítulo 4. Nesse capítulo

faremos uma discussão dos procedimentos adotados pelos grupos em cada

equação, buscando relacionar esses dados com o referencial teórico dos Três

Mundos da Matemática, tratado no Capítulo 2, bem como analisaremos as

semelhanças e diferenças apresentadas nas resoluções das equações lineares

e das quadráticas, na busca de um Corte Didático, relacionando essas

diferenças e semelhanças com as pesquisas apresentadas nos Capítulos 1 e 2.

Por fim, apresentaremos as Conclusões sobre as análises que fizemos no

Capítulo 4, relacionando essas conclusões com as pesquisas apresentadas no

Capítulo 1 e com o quadro teórico, buscando responder as questões de

pesquisa.

Page 17: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

17

CAPÍTULO 1

REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo, trataremos das pesquisas sobre as equações lineares e

quadráticas. As equações quadráticas são base do nosso trabalho de pesquisa,

porém para compreendermos alguns procedimentos de resolução adotados

pelos alunos pesquisados e para fundamentar o instrumento 1, buscamos

maiores informações sobre as equações lineares.

Na busca para responder as questões que nos afligiam, encontramos

alguns estudos sobre as dificuldades com a resolução de equações quadráticas

no Brasil e no mundo levando-nos a artigos que resumimos a seguir. Iniciaremos

nossa revisão de literatura com pesquisas sobre as equações quadráticas que

trazem informações a respeito do impacto do ensino tradicional na

aprendizagem dos alunos (VAIYAVUTJMAI; CLEMENTS, 2006) além de uma

pesquisa na qual são investigados os significados que os alunos atribuem a

equações e aos métodos de resolução que utilizam e de quais experiências

esses significados surgem (VAIYAVUTJMAI; ELLERTON; CLEMENTS, 2005).

Nas pesquisas sobre as equações lineares, buscamos as que trarão

subsídios para o nosso primeiro instrumento de coleta de dados. Desse modo,

as pesquisas nas quais nos apoiaremos são as que trazem informações sobre o

Corte Didático (FILLOY; ROJANO, 1989), pesquisa esta que explica o que é e

como este ocorre, a pesquisa de Vlassis (2002) que traz uma coletânea de

autores que apóiam ou refutam o método da balança e a de Freitas (2002), que

trata dos erros que os alunos cometem durante a resolução das equações.

Page 18: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

18

1.1 ARTIGOS SOBRE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS

Quando procurávamos pesquisas sobre as equações quadráticas,

deparamo-nos com uma bibliografia escassa, pois de acordo com Vaiyavutjamai

e Clements (2006), pouco foi feito sobre esse assunto, apesar de sua grande

importância nos conteúdos de Matemática (tais como Sequências, Funções,

Geometria Analítica, Equações Algébricas, Números Complexos, Estatística) e

de Física (por exemplo, Cinemática, Dinâmica, Física Quântica e Relatividade).

Em dois estudos sobre equações quadráticas, realizados por

Vaiyavutjamai e intitulados “Factors influencing the teaching and learning of

equations and inequations in two government secondary schools in Thailand” e

“Correct answers do not imply understanding: Analyses of student solutions to

quadratic equations”, ambos em 2004, o autor investigou a aprendizagem de

equações quadráticas de 231 estudantes em seis classes, de série equivalente

ao 9º ano brasileiro de duas escolas secundárias da Tailândia

(VAIYAVUTJAMAI; ELLERTON; CLEMENTS, 2005).

As análises feitas apontam que muitos estudantes, após as aulas sobre

equações quadráticas, não perceberam que elas poderiam ter duas soluções,

alguns não souberam verificar se as soluções por eles encontradas estavam

corretas e muitos deles, talvez a maioria, como o próprio autor indica, não

perceberam que a incógnita tinha o mesmo status, embora aparecesse duas

vezes na mesma equação. Citamos como exemplo a equação , na

qual alguns alunos admitiram, como solução os valores três e cinco, admitindo

que o valor da incógnita do primeiro parênteses deve ser diferente do valor

assumido no segundo parênteses, como os próprios autores relatam.

Estes estudos foram a base para que Ellerton e Clements, juntamente

com Vaiyavutjamai, escrevessem o artigo Students’ Attemps to Solve Two

Page 19: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

19

Elementary Quadratic Equations: A Study in Three Nations (VAIYAVUTJAMAI;

ELLERTON; CLEMENTS, 2005) sobre uma pesquisa realizada com 205 alunos

do equivalente ao 9º ano no Brasil de uma escola secundária em Brunei

Darussalam e 29 estudantes do segundo ano, do curso de licenciatura em

Matemática, de uma universidade nos Estados Unidos (Illinois State University),

que, juntamente com os 231 alunos da Tailândia, totalizam 465 alunos

pesquisados. Os dados foram coletados durante as aulas dos estudantes.

O objetivo do artigo foi analisar como os alunos dessas três localidades

resolveram as equações quadráticas dos tipos , sendo , e

, em que a, b e k são números reais. Foram apresentadas

aos alunos dezessete equações quadráticas completas e uma equação

incompleta. As equações do tipo têm como solução um número inteiro,

enquanto as 17 equações do tipo apresentam como

soluções números inteiros (onze delas), números racionais (quatro), número

irracional (uma) e conjunto vazio (uma). Para o artigo em questão foram

analisadas apenas duas equações representativas, .

Esperava-se que os alunos observassem que estas teriam duas soluções, sendo

elas e , no caso da primeira equação, e e , na

segunda, o que não ocorreu com a maioria dos alunos.

Em Brunei Darussalam, as equações foram aplicadas em 10 lições sobre

equações quadráticas, em oito classes, que tinham como perfil sócio-econômico

duas pertencentes à classe alta, quatro de classe média e duas de classe baixa.

A aplicação ocorreu durante as aulas ministradas pelos professores das classes,

pois a pesquisa seguia o mesmo padrão da aplicação realizada nas escolas da

Tailândia.

Na universidade dos Estados Unidos, os instrumentos de coleta de dados

foram aplicados a 29 alunos do segundo ano do curso equivalente à

Licenciatura em Matemática, com o objetivo de saber se padrões semelhantes à

aprendizagem de equações quadráticas encontrados nos resultados da

Page 20: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

20

Tailândia e de Brunei Darussalan seriam encontrados nesses estudantes. O foco

da investigação foi o grau de compreensão das equações quadráticas, por meio

dos procedimentos utilizados por esses sujeitos para encontrarem as respostas

das equações aplicadas, observando como o conceito de variável foi tratado por

estes.

Os alunos de Brunei Darussalan e da Tailândia haviam sido ensinados a

resolver uma equação do tipo de duas formas: por equivalência, ou seja,

“... é equivalente a ” (VAIYAVUTJAMAI; ELLERTON;

CLEMENTS, 2005, p. 739, tradução nossa3) e, em seguida, fatorando o lado

esquerdo por diferença de dois quadrados, obtendo o produto dos dois binômios

que estão do lado esquerdo da igualdade ; ou afirmando que

“... é equivalente a ou , porque 3² = 9 e (−3) = 9”.

(VAIYAVUTJAMAI; ELLERTON; CLEMENTS, 2005, p. 739, tradução nossa4).

Os resultados da pesquisa indicam que os alunos tailandeses tiveram

maior proporção de respostas corretas na tarefa (x − 3)(x − 5) = 0. A maioria

deles resolveu esta equação por substituição, na qual o aluno busca um valor

para solucionar a questão e substitui esse valor na incógnita, de modo que a

equação fique verdadeira. Muitos alunos de Brunei Darussalan não conseguiram

obter soluções corretas para as duas equações aplicadas. Alguns alunos,

principalmente os de Brunei Darussalan, buscaram solução por meio de

“expansão de parênteses”, ou seja, multiplicando os fatores.

Os alunos de Brunei e da Tailândia não sabiam, apesar de terem

participado de uma série de aulas sobre equações quadráticas, que equações

do tipo x² = k, com k > 0, têm dois números reais como solução e 12 estudantes

dos Estados Unidos não tinham esse conhecimento também. As proporções de

acertos dos estudantes dos Estados Unidos não foram consideradas, pois estes

têm como objetivo serem especialistas em Matemática.

3 “… as equivalent to – .”

4“... is equivalent to , or , because +3² = 9 and (–3)² = 9.”

Page 21: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

21

As análises desse estudo sugerem que estudantes confundem o conceito

de incógnita, porque mais de 50% (dos 436 estudantes, quase 250) destes

acreditavam que a incógnita , na equação , assume valores

diferentes nos dois conjuntos de parênteses, o que se manifestou na resolução

das quadráticas. Os pesquisadores apontam que o problema não é exatamente

com as equações quadráticas e sim com as operações envolvidas na resolução

das mesmas, pois muitos alunos aprendem “regras sem razão” (SKEMP, 1976),

o que significa que eles aprendem os processos sem, no entanto, terem

adquirido a compreensão relacional.

Enquanto na primeira pesquisa Vaiyavutjamai estava preocupado com a

aprendizagem dos alunos, no artigo “Effects of Classroom Instruction on

Students Understanding of Quadratic Equations” (VAIYAVUTJAMAI;

CLEMENTS, 2006), os autores estudam o impacto do ensino tradicional na

aprendizagem dos alunos do 9º ano da Tailândia na resolução de equações

quadráticas, com o objetivo de investigar como as lições tradicionais dessas

equações e suas resoluções por fatoração, “completando quadrados” e “fórmula

de Bhaskara” influenciaram o desenvolvimento dos estudantes nos quesitos do

conhecimento, das habilidades, dos conceitos e da compreensão, no que diz

respeito a essas equações.

Foram aplicadas 18 equações quadráticas, (as mesmas aplicadas nos

estudos anteriores) e escolhidos 18 estudantes para participarem de entrevistas.

O critério de seleção dos estudantes foi o seu desempenho em dois testes sobre

equações e desigualdades em lápis e papel que foram administrados em seis

classes. A coleta de dados foi feita em 36 sessões, nas quais cada estudante foi

entrevistado duas vezes. A primeira entrevista foi realizada antes das lições

sobre equações quadráticas, e a segunda após o aluno ter participado de 11

lições sobre essas equações.

Os resultados das entrevistas mostraram que, dos 18 estudantes

selecionados, quatro não deram respostas corretas a nenhuma pergunta da

Page 22: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

22

entrevista, não souberam fatorar e verificar se as “soluções” obtidas por eles

estavam corretas. Outros 12 entrevistados deram respostas corretas a pelo

menos duas perguntas feitas durante a entrevista, mas não significou que

adquiriram uma compreensão relacional das equações, pois, apesar de terem

acertado as respostas, acreditavam que as incógnitas, como na equação

, representavam duas incógnitas diferentes e deveriam tomar

valores diferentes simultaneamente. Esse equívoco ocorreu não somente com

essa expressão, mas igualmente com . E somente dois alunos

convenceram o entrevistador que desenvolveram uma compreensão relacional

de equação quadrática, pela qualidade de seu raciocínio durante a entrevista.

Algumas das perguntas feitas aos estudantes pelos entrevistadores foram

“Os dois x representam a mesma variável?”. E “Eles sabem que uma solução

para uma equação quadrática de um número que, quando substituído na

equação, geraria uma afirmação verdadeira?” (VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS,

2006, p.57 tradução nossa5). Estas questões estavam associadas ao teste das

equações quadráticas.

A análise prévia de ensino, realizada antes das aulas programadas sobre

equações quadráticas, indicou que os alunos tinham pouca compreensão da

Matemática associada às resoluções de equações quadráticas, o que não

ocorreu após as lições sobre as mesmas, uma vez que a análise sugeriu uma

melhora relacionada com a compreensão instrumental6, mas com ausência de

compreensão relacional7. Em nossa opinião a melhora relacionada com a

compreensão instrumental após as aulas sobre as equações quadráticas era

esperada, pois os alunos ao resolveram as equações antes de terem

conhecimento desse conteúdo apresentariam dificuldades que não seriam

apresentadas, na mesma proporção, após terem aulas explicativas sobre esse

assunto. Os autores, na análise dos dados da entrevista revelam que muitos

5 “...the two x´s represents the same variable? Would they know that a solution to a quadratic

equation was a number which, when substituted in the equation, generated a true statement? ” 6 Memorização do Método de Resolução (SKEMP, 1976).

7 Compreensão do processo de resolução dos exercícios (SKEMP, 1976) .

Page 23: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

23

alunos que obtiveram as soluções corretas não souberam justificar, junto ao

entrevistador, os procedimentos utilizados.

A conclusão dos autores é que a dificuldade apresentada pela maioria dos

estudantes em lidar com as equações quadráticas sugere que esse conteúdo

deveria ser incluído no Ensino Médio. Em ambos os estudos, “Effects of

Classroom Instruction on Students’ Understanding of Quadra tic Equations” e

“Students’ Attempts to Solve Two Elementary Quadratic Equations: A Study in

Three Nations” os autores apontam conclusões semelhantes.

Um aspecto interessante apontado pelos autores é que pesquisas indicam

que professores e pesquisadores acreditam que a aproximação do ensino das

quadráticas ao estudo das funções possa induzir nos estudantes a compreensão

relacional, podendo ser bem sucedida se enriquecida com o uso da tecnologia

moderna, como calculadoras gráficas, por exemplo.

Enquanto Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005) realizaram suas

pesquisas com turmas do Ensino Fundamental e Ensino Superior, Lima (2007)

realizou sua pesquisa com alunos do Ensino Médio, cuja questão norteadora foi

“Quais são os significados que os alunos atribuem a equações e aos métodos

de resolução que usam, e de quais experiências esses significados surgem?”

(p.18).

Nessa pesquisa, Lima (2007) aplicou seus instrumentos de coleta de

dados a alunos de duas escolas do Estado de São Paulo, uma particular na

periferia da capital, São Paulo, e uma pública, na região metropolitana da

capital, no município de Guarulhos, fazendo uso de três turmas. O total de

alunos pesquisados foi de 77 alunos, sendo divididos em 58 nas duas turmas de

Guarulhos (32 na primeira turma e 26 na segunda) e 19 na turma de São Paulo.

Inicialmente, foi construído um mapa conceitual com os alunos, para que a

pesquisadora tivesse uma melhor compreensão do significado da palavra

“equação” para o grupo por meio dos conhecimentos prévios deles. O segundo

Page 24: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

24

instrumento de coletas de dados foi um questionário que continha questões na

qual os alunos poderiam expor seus entendimentos sobre equações de modo

geral, bem como resolver algumas e utilizá-las para resolver problemas. O

terceiro instrumento foi uma atividade de resolução de equações, contendo três

equações lineares e quatro quadráticas e o quarto instrumento foi uma

entrevista com 20 alunos selecionados (13 alunos de Guarulhos, sendo oito da

primeira turma e cinco da segunda, e sete de São Paulo), para obtenção de

mais informações sobre as resoluções apresentadas por esses alunos às

questões dos instrumentos.

Algumas reflexões sobre as concepções de equação trazidas no mapa

conceitual merecem ser destacadas, segundo a autora. Um exemplo disso são

as frases que oferecem ou tentam oferecer alguma definição de equação e que

enfatizam a mesma como resolução de conta, sem destacar o sinal de igual ou a

incógnita.

Nos dados coletados com o questionário, a pesquisadora verificou que

apenas seis alunos mostraram resoluções corretas para as equações

e , todas pela fórmula de Bháskara, o que, na

nossa opinião, pode estar relacionado com o tipo de ensino apresentado aos

alunos. As resoluções incorretas incluem a transformação das equações dadas

em equações lineares. Vale salientar que, na questão oito do questionário, é

apresentada aos alunos uma solução para a equação quadrática

como e , e é pedido que eles comentem e

discutam a resposta. Nessa questão, nenhum aluno comentou explicitamente o

fato de que o produto de dois fatores é igual a zero e, portanto, um deles

também deve ser zero.

Na tarefa de resolução de equações foram apresentadas aos alunos

pesquisados as seguintes equações quadráticas:

(LIMA, 2007, p. 263).

Page 25: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

25

Essa atividade foi realizada por 67 alunos, sendo 17 da turma de São

Paulo e 50 alunos da turma de Guarulhos (divididos em 28 alunos na primeira

turma e 22 na segunda). Desses sujeitos, cinco acertaram a equação

e três acertaram a , sendo que a forma de

resolução apresentada por esses alunos, em ambas as questões, fora a fórmula

de Bhaskara. Apesar de a equação poder ser resolvida por meio de

fatoração, esse procedimento não foi usado por nenhum dos alunos.

Para a equação , três alunos resolveram corretamente, o que

significa que encontraram duas raízes, porém nove alunos encontraram somente

uma raiz, sendo essa a raiz positiva . Entretanto um aluno de São Paulo

resolveu a equação descrevendo seu raciocínio da seguinte forma (com grifo

dele mesmo) “um número que elevado ao quadrado e subtraído ele mesmo é

igual a 2 é o 2, 2² − 2 = 2” (LIMA, 2007, p. 265), indicando que, segundo Lima

(2007, p. 264) “o aluno parece compreender que a incógnita é um número que

satisfaz a equação”. Na equação , somente um aluno encontrou as duas

raízes, resolvendo por fórmula de Bhaskara. Os demais 15 alunos encontra ram

somente a raiz positiva, sendo que oito alunos extraíram a raiz quadrada do

número 9, admitindo , seis alunos escreveram “3² = 9 e, portanto, ”,

enquanto um aluno escreveu somente que “ ” (LIMA, 2007, p. 265).

A pesquisadora acredita que, em ambas as equações, o raciocínio

utilizado poderia ter colaborado para encontrar a raiz negativa, sendo (−1) na

primeira equação e (−3) na segunda.

Os alunos, ao encontrarem uma raiz que satisfaça a equação, não

tentaram outro valor, talvez por não acharem necessário, pois estão

familiarizados com as equações lineares, satisfazendo-se somente com uma

raiz.

Os alunos pesquisados tentaram resolver as equações quadráticas

completas pela fórmula de Bhaskara, embora também utilizada nas outras

equações, não trazendo, necessariamente, resultados satisfatórios. Os

Page 26: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

26

professores, segundo a autora, dão ênfase a um único método de resolução

esperando que os alunos alcancem o sucesso nas resoluções de equações e

talvez isso possa ter impedido os alunos de terem desenvolvido um pensamento

flexível, estando restritos “a apenas uma maneira de resolver esse tipo de

equação” (LIMA, 2007, p. 267). No caso das equações trabalhadas na pesquisa,

a flexibilidade é traduzida na escolha de um método de resolução que seja mais

adequado para cada equação, encontrando a solução correta. Essa procura pelo

procedimento mais adequado para cada tipo de equação mostra, segundo Lima

(2007), o pensamento proceitual, pensamento esse que significa o entendimento

dos símbolos e da sua manipulação.

As análises da pesquisadora apontam que os alunos que tentam resolver

as equações quadráticas por métodos diferentes da fórmula de Bhaskara não

são bem sucedidos e acabam utilizando métodos que transformam as equações

quadráticas em equações lineares. Essa transformação se traduz quando os

alunos trocam as incógnitas m², r² ou a² por m, r e a, eliminando o expoente;

quando atribuem valor à incógnita; ou quando somam termos não semelhantes.

Sobre essas análises, Lima (2007) diz:

Acreditamos que a falta de opções de métodos para resolver equações quadráticas faz com que esses alunos procurem um meio de escrever a equação que lhes é familiar. Ao transformarem as quadráticas em lineares, os alunos podem usar as técnicas e meios de trabalho que confiam e obter alguma solução para o exercício apresentado (LIMA, 2007, p. 270).

Sobre as técnicas adotadas pelos alunos, Lima (2007) analisa que estes

as usam, pois sabem resolver as equações lineares, cometendo equívocos de

resolução como demonstrados anteriormente. A confiança que os alunos

demonstram nessas técnicas e seus meios de trabalho faz com que eles não

percebam que seus procedimentos e métodos são inconsistentes, pois eles

estão conectados às técnicas e não aos conceitos matemáticos, dos quais as

Page 27: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

27

técnicas se originam. Sem significado matemático, seus meios de trabalho são

apenas corporificações procedimentais8 que podem levá-los a cometer erros.

Nas análises dos dados coletados, a pesquisadora encontrou evidências

de que os procedimentos usados para resolver equações lineares estão tão

enraizados, que os alunos, ao se depararem com as equações quadráticas,

tentam transformá-las em lineares. O único método de resolução de quadráticas

válido usado por esses alunos foi a fórmula de Bhaskara. Porém, poucos alunos

fizeram uso desse recurso e nem todos os que usaram alcançam o sucesso.

As análises de Lima (2007) apontam para uma falta de pensamento

proceitual, não somente na dualidade de processo e conceito que representam

os símbolos matemáticos, mas também na análise e na escolha do

procedimento mais adequado para a resolução das equações quadráticas, pois,

a partir do momento que se conhece apenas uma maneira de se resolver uma

equação, não existe a possibilidade de o aluno ser flexível para se escolher

métodos adequados.

A conclusão da autora é de que os erros apresentados pelos alunos nas

resoluções de equações são devidos ao fato dos alunos não relacionarem os

métodos de resolução que usam com conceitos matemáticos, mas sim com

corporificações procedimentais, cujo significado está relacionado apenas com a

movimentação de símbolos “como entidades físicas e não como símbolos

algébricos que devem ser manipulados de acordo com princípios algébricos”

(LIMA, 2007, p. 298).

É possível verificar que as pesquisas de Vaiyavutamai, Ellerton e

Clements (2005), Vaiyavutjamai e Clements (2006) e a de Lima (2007) apontam

na mesma direção quando se referem aos erros cometidos pelos estudantes

quando estes resolvem equações quadráticas. Os autores mostram que os

8 “Significa que os procedimentos tem significado no mundo corporificado, porque os termos de

uma equação movimentam-se de um lado para o outro do sinal de igual, como se fossem entidades físicas, com acréscimo de uma mágica de “trocar o sinal”, por exemplo .” (Lima, 2007, p. 186).

Page 28: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

28

alunos apresentam uma compreensão procedimental, indicando que esses

mesmos alunos sabem resolver as equações por procedimentos, mas não

necessariamente compreendem os conceitos matemáticos envolvidos nesse tipo

de resolução.

Em nossa pesquisa, buscamos compreender como os alunos resolvem as

equações quadráticas para entendermos as possíveis causas dessas

dificuldades. Acreditamos que as dificuldades apresentadas nas equações

quadráticas possam ser indicações de um Corte Didático (FILLOY; ROJANO,

1989) de passar de resolver equações lineares para resolver equações

quadráticas. Dessa forma, descreveremos, a seguir, algumas dificuldades

relacionadas à resolução de equações lineares e, em especial, o Corte Didático.

1.2 ARTIGOS SOBRE EQUAÇÕES LINEARES

Diversos autores relatam pesquisas a respeito de equações lineares, mas

dois nos chamaram a atenção pelo fato de suas pesquisas irem ao encontro da

nossa, e nos auxiliarem na elaboração do nosso primeiro instrumento de coleta

de dados. O primeiro autor que trataremos será Vlassis (2002), seguido por

Freitas (2002).

O objetivo da pesquisa de Vlassis (2002) é analisar o modelo da balança

para a resolução de equações lineares e identificar as questões que dividem os

pesquisadores. A autora reflete sobre os resultados de um estudo empírico e a

análise das pesquisas que aceitam ou refutam o modelo da balança para o

ensino de resolução de equações. Segundo a pesquisadora, uma série de

autores fez experiências com várias situações em que os alunos aprendem a

Page 29: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

29

resolver equações, utilizando modelos concretos: o aritmético, o da balança e o

modelo geométrico. As reflexões desse estudo são baseadas nas observações

de uma sequência didática na qual os alunos aprendem a resolver equações

com a incógnita em ambos os membros, denominado modelo da balança.

A sequência didática proposta por Vlassis (2002) foi aplicada durante o

segundo semestre do ano letivo, para 40 alunos pertencentes ao 8º ano, em

uma comunidade francófona da Bélgica. A sequência era composta por 16

sessões com duração de 50 minutos, divididos em duas fases de oito sessões,

sendo a primeira composta por equações aritméticas (FILLOY; ROJANO, 1989),

que são aquelas que apresentam a incógnita em apenas um membro, nas quais

os alunos utilizam seus próprios conhecimentos aritméticos para resolvê -las. A

segunda fase era composta por equações não-aritméticas (FILLOY; ROJANO,

1989), que são aquelas em que a incógnita ocorre em ambos os membros da

igualdade, por intermédio de três situações distintas.

A primeira situação é a resolução de um problema em que dois indivíduos

introduzem o mesmo número em suas calculadoras, mas fazem operações

diferentes com ele, obtendo o mesmo resultado; os sujeitos da pesquisa, nessa

atividade, devem descobrir qual é esse número9. A segunda é um problema que

utiliza o modelo da balança.

Figura 1: Problema que utiliza o modelo da balança

Fonte: Vlassis (2002), p. 344

Nessa segunda situação, os alunos devem descobrir o valor da massa

representada por pesos no desenho de uma balança (Figura 1), permitindo que

9 Antoine e Sophie inserem o mesmo número nas suas calculadoras. Sophie multiplica o número por 4 e

depois adiciona 3 a esse número. Antonie multiplica o número por 2 e depois adiciona 17 a esse número. Ambos obtêm o mesmo resultado. Qual foi o número com o qual ambos começaram? (Vlassis 2002, p. 344, tradução nossa)

Page 30: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

30

estes criem o método que necessitam para solucionar o problema; e na terceira

situação, os alunos resolvem equações não-aritméticas, por exemplo,

e , incluindo

os números inteiros negativos.

Os resultados, no caso da primeira situação (problema envolvendo os dois

sujeitos) indicam que os estudantes tiveram dificuldades ao estabelecerem a

equação necessária para iniciar a solução do problema. Muitos alunos

necessitaram de auxílio, e o professor iniciou o processo com a sugestão: “Crie

uma expressão para expressar o que as duas crianças estão fazendo”

(VLASSIS, 2002, p. 345, tradução nossa10). Diante dessa sugestão, alguns

estudantes usavam letras para representar os números enquanto outros

utilizavam espaços em branco ou pontos de interrogação.

Encontrada a equação, os alunos iniciaram a resolução desta; a maioria

deles o fez por intermédio de “tentativa e erro”. Após encontrarem a solução, o

professor sugeriu, então, que os alunos condensassem as duas equações em

uma única equação. Segundo Vlassis (2002), o conceito de que o sinal de

igualdade entre as expressões representaria a mesma quantidade, explicando

como as crianças (do problema) chegaram ao mesmo resultado, foi bem

compreendido pelos alunos.

As observações feitas em sala de aula, bem como a análise das

resoluções dos alunos revelaram três tipos diferentes de métodos corretos para

encontrar o valor de x: o primeiro, por meio de métodos não-formalizados, em

que o próprio desenho é utilizado e os pesos são retirados dos pratos,

mantendo o equilíbrio. Dezoito alunos utilizaram essencialmente o desenho da

balança para encontrar o valor de x, riscando a mesma quantidade de peso em

cada lado da balança, e, quando encontravam o valor numérico, procediam da

mesma maneira, tomando nota do novo valor depois de realizar a subtração,

como exemplificado na Figura 2:

10

“Create an expression to express what the two children are doing .”

Page 31: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

31

Figura 2: Representação de resolução por métodos não-formalizados

Fonte: Vlassis (2002), p. 346

O segundo tipo é o dos chamados métodos aritméticos, no qual o método

não-formalizado é utilizado até o aluno obter uma equação aritmética cuja

resolução ele conhecia. Esse método foi usado por quinze alunos, que riscaram

o x em cada um dos lados da balança, chegando a uma equação aritmética,

como na Figura 3:

Figura 3: Representação por métodos aritméticos

Fonte: Vlassis (2002), p. 347

E finalmente o terceiro, método algébrico (Vlassis, 2002), é aquele em que

os alunos fazem uma representação algébrica do desenho da balança e retiram

quantidades não no desenho, mas sim, algebricamente. Esse método não é

totalmente formalizado e foi usado por três alunos, como visto na Figura 4.

Figura 4: Representação do método algébrico segundo Vlassis

Fonte: Vlassis (2002), p. 347

Page 32: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

32

Após essa atividade, os diferentes métodos adotados pelos alunos foram

apresentados, discutidos e explicados em sala de aula.

Na terceira e última situação, as análises mostram que as equações

pertencentes a essa situação foram as mais difíceis para os alunos, porém as

observações de Vlassis (2002) revelaram que todos os alunos entenderam o

princípio da balança, ou seja, compreenderam que deveriam efetuar a mesma

operação em ambos os membros, gerando erros na resolução, tais como, dividir

o segundo membro pelo coeficiente da incógnita antes de cancelar o termo

independente, subtrair o coeficiente do termo independente; além de erros

cometidos devido à presença de números inteiros negativos na equação, como

subtração para cancelamento de um termo negativo independente, ou uma

expressão em x. Filloy e Rojano (1989) atribuem esta dificuldade ao fato de os

alunos não conseguirem se distanciar dos modelos ensinados, a fim de

generalizar o conhecimento que eles têm adquirido. Apesar dos erros terem se

misturado nos exercícios, aqueles envolvendo números inteiros negativos

persistiram.

Oito meses depois de aplicadas as equações nas aulas, foi realizada uma

entrevista com cinco alunos que participaram da primeira parte da pesquisa.

Nessa entrevista, os alunos resolveram equações aritméticas e equações não-

aritméticas. Os resultados indicam que eles ainda relacionavam a resolução da

equação com o modelo da balança, e os problemas com os números negativos

persistiam.

Diante desses resultados, Vlassis (2002) conjectura que o corte didático

sugerido nos estudos de Filloy e Rojano (1989) não está relacionado com a

estrutura da equação, ou seja, com a ocorrência da incógnita em ambos os

membros da igualdade tão pouco em se operar com a incógnita, mas sim com o

grau de abstração da equação, pois nas equações do tipo ,

também existe a necessidade de se operar com a incógnita, sem, no entanto,

oferecerem o mesmo grau de dificuldade que as equações que possuem

Page 33: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

33

incógnita nos dois membros da igualdade. A pesquisadora, então, sugere um

Corte Didático referente à possibilidade de relacionar ou não a equação a um

modelo concreto, categorizando as equações em equações aritméticas e

equações não-aritméticas.

A categoria das equações aritméticas foi qualificada em equações

aritméticas concretas, que são aquelas compostas por número naturais e a

incógnita ocorre em apenas um membro, e equações aritméticas abstratas, que

são as que apresentam incógnitas em apenas um membro, mas que exigem

certas manipulações algébricas, por exemplo, devido à presença de números

inteiros negativos.

Já as equações categorizadas como não-aritméticas incluem todas as

equações que possuem a incógnita em ambos os membros da igualdade. As

equações que podem ser baseadas em um modelo são chamadas de equações

pré-algébricas e são derivadas de modelos, frequentemente envolvendo adições

de números naturais, podendo incluir subtrações, como no caso das situações

previstas por Filloy e Rojano (1989) no contexto geométrico, necessitando de

uma compreensão algébrica do sinal de igualdade, e as equações algébricas,

que não podem ser conectadas a um modelo, só tendo sentido em um contexto

algébrico.

Segundo Vlassis (2002), existem duas correntes teóricas conflitantes

sobre a utilização do modelo da balança: uma que defende (alguns

pesquisadores são da opinião de que o modelo da balança facilita o uso de

regra, como a eliminação de termos) e outra que refuta (alguns pesquisadores

alegam que o modelo dá origem a erros que são derivados do próprio modelo,

tais como a remoção de um inteiro negativo para anulá-lo).

As conclusões da pesquisadora mostram que o modelo da balança pode

auxiliar os alunos a aprenderem o método formal de aplicar a mesma operação

em ambos os membros, consistindo não apenas em dar um significado concreto

para essas manipulações, mas também proporcionando aos alunos uma imagem

Page 34: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

34

mental de “operação” (VLASSIS, 2002, p.356) que contém os princípios que

devem ser aplicados. Acreditamos que apesar do modelo da balança auxiliar os

alunos a aprenderem o método formal, este não se aplica, em nossa opinião,

nas situações em que tratamos com números inteiros negativos, pois não é

possível representar esses valores por intermédio de uma balança. Porém,

Vlassis (2002) argumenta que, oito meses após o experimento, os estudantes,

participantes da pesquisa, ainda utilizavam o princípio corretamente, lembrando

a imagem da balança. Apesar da literatura sobre o tema enfatizar

suficientemente as dificuldades nesse nível, as imagens também podem,

segundo a autora, ser úteis para estudantes mais velhos. Entretanto, Vlassis

(2002) afirma que a resolução de equações que são desvinculadas de um

modelo implica que outras dificuldades devem ser superadas, por exemplo, as

que estão vinculadas ao processo de abstração e para o qual o modelo da

balança não se destina.

Enquanto Vlassis (2002) baseia a sua pesquisa no estudo de autores que

aceitam ou refutam o modelo da balança e as implicações que esta traz, Freitas

(2002) estuda os métodos de resolução de equações lineares e analisa os erros

encontrados no ensino médio.

A pesquisa de Freitas (2002) tem por objetivo estudar os aspectos

relativos aos procedimentos de resolução de equações lineares por alunos do

Ensino Médio de uma escola particular de São Paulo e é norteada pelas

questões “Como os alunos do ensino médio se comportam frente ao processo

de resolução de uma equação?”, “Como entender os erros dos alunos, tanto os

mais diretamente relacionados aos aspectos conceituais, como aqueles que

podem ser vistos mais diretamente relacionados aos métodos de resolução?” e

“Como os alunos aplicam as técnicas e quais as justificativas para essas

aplicações?” (FREITAS, 2002, p.3).

Com o intuito de responder essas perguntas, Freitas (2002) aplicou para

alunos de uma escola particular de São Paulo dois instrumentos de pesquisa,

Page 35: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

35

um provisório e um investigativo. O instrumento provisório , composto por 15

equações lineares, divididas em equações aritméticas e algébricas, foi aplicado

para 80 alunos pertencentes ao segundo ano de Ensino Médio.

O instrumento investigativo, composto por 24 equações lineares com

coeficientes inteiros, foi dividido em dois grupos: o primeiro contendo oito

equações aritméticas e o segundo, com 16 equações algébricas. Esse

instrumento foi aplicado para três salas do primeiro ano do Ensino Médio,

perfazendo um total de 104 alunos. Freitas (2002) justifica que a divisão entre

as equações aritméticas e as equações algébricas deve-se ao fato de esta

subsidiar a discussão a respeito da transição da aritmética para a álgebra,

definida por Filloy e Rojano (1989) como um corte didático.

As oito equações aritméticas foram divididas em quatro equações do tipo

“ ou ” (FREITAS, 2002, p. 43) e quatro do tipo “ ou

” (FREITAS, 2002, p. 43), já as 16 equações algébricas foram

divididas em blocos contendo quatro questões em cada um, da seguinte forma:

quatro equações do tipo “ ” (FREITAS, 2002, p. 44), quatro do tipo,

“ ou ” (FREITAS, 2002, p. 44), quatro do tipo

“ ” (FREITAS, 2002, p. 44) e, finalmente, quatro do tipo

“ ” (FREITAS, 2002, p. 45). Após a aplicação das

equações, os alunos participaram de oito entrevistas cujas perguntas foram

elaboradas a partir das dificuldades observadas nas resoluções das equações.

Porém, apesar da entrevista possuir um roteiro, Freitas (2002) adotou uma

entrevista semi-estruturada, pois, segundo o pesquisador, esse modelo se

adequaria mais com a pesquisa realizada, uma vez que esse tipo de entrevista

permite que o entrevistador faça as adaptações necessárias.

A seleção dos alunos que participaram da entrevista fo i feita de modo a

garantir que fossem discutidos os vários tipos de erros apresentados nas

resoluções das equações, considerando a frequência destas. O objetivo de

Freitas (2002) era analisar, por meio de interpretação, o que os alunos

Page 36: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

36

pensaram ao produzirem diferentes resoluções das equações, levantar quais as

dificuldades que estes apresentam e como eles vêem seus próprios erros.

As análises das resoluções das equações efetuadas pelos alunos

mostraram vários tipos de erros, que foram classificados em seis categorias,

sendo analisados por intermédio de tabelas designadas para cada tipo de

equação, indicando a frequência e os tipos de erros cometidos pelos alunos.

Enquanto as análises dos resultados do instrumento provisório revelam as

dificuldades que os alunos enfrentam ao resolverem as equações, os erros

analisados no instrumento investigativo, segundo Freitas (2002), indicam que

estes

... erros cometidos pelos alunos estão associados à transposição desses termos, sem a alteração do sinal e o número de erros em transpor os termos em x foi praticamente igual as dificuldades dos alunos na resolução de equações, à passagem da aritmética para a álgebra, ou seja, no período de transição das equações aritméticas para as algébricas. (FREITAS, 2002, p. 111)

Segundo Freitas (2002), para um grande número de alunos, não existe

essa dificuldade, pois eles absorveram a técnica de transpor e mudar o sinal,

efetuando essas ações mecanicamente. Porém, quando o autor analisa o

porquê da ocorrência destes erros, este conclui que a maior dificuldade para

esses sujeitos não está presente no tipo de equação, mas sim na “instauração

de uma rotina vinculada à uma falta de compreensão do conceito do que seja

uma equação e de como encontrar sua solução” (FREITAS, 2002, p. 113), bem

como, independente do método utilizado para a resolução de uma equação, o

importante nos procedimentos a serem adotados para encontrar a solução das

equações “é dar significado para as técnicas através de sua compreensão

integrando aspectos semânticos e sintáticos” (FREITAS, 2002, p. 115).

O pesquisador, analisando as justificativas dos procedimentos adotados

pelos alunos, depara-se com frases do tipo “isolar o x”, “se está multiplicando,

passa dividindo” (FREITAS, 2002, p. 116), evidenciando que as expressões

utilizadas nesses exemplos são vagas, levando a uma interpretação errônea,

Page 37: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

37

não orientando as transformações a serem efetuadas sobre as equações e,

desse modo, não contribuindo para tornar significativos os procedimentos de

“isolar” a incógnita em um termo da equação e, obtendo a expressão algébrica,

possa-se determinar o valor da incógnita, revelando uma intensa influência da

mecanização das técnicas associadas às frases ditas pelos alunos. Podemos

observar essas expressões associadas a alguns alunos no nosso cotidiano

durante as resoluções de exercícios que envolvam as equações, sejam elas

lineares ou quadráticas.

Enquanto Freitas (2002) analisa as dificuldades de resolução nas

equações lineares e os erros que surgem destas, Vlassis (2002) analisa as

vantagens e desvantagens do uso do modelo da balança. Ambos os

pesquisadores fazem referências ao corte didático e do surgimento deste.

Apesar de a nossa pesquisa ter como foco as equações quadráticas, as

pesquisas a respeito das equações lineares nos ajudarão a compreender os

procedimentos utilizados pelos alunos e as dificuldades que estes venham a

apresentar nas resoluções das equações pertencentes ao primeiro instrumento

que trataremos no capítulo 3, bem como as referências ao corte didático que

detalharemos a seguir.

1.3 O CORTE DIDÁTICO NA TRANSIÇÃO DA ARITMÉTICA PARA A

ÁLGEBRA

Na nossa pesquisa buscamos a existência de um corte didático das

equações lineares para as equações quadráticas. Assim relatamos a pesquisa

Page 38: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

38

de Filloy e Rojano (1989) que trata do corte didático entre as equações lineares

aritméticas para as equações não-aritméticas.

Filloy e Rojano (1989) classificaram as equações lineares em dois tipos:

aritméticas, nas quais a incógnita aparece somente em um dos membros da

equação, isto é, do tipo onde a, b ϵ e a ≠ 0, e as não-aritméticas,

em que a incógnita aparece nos dois membros da equação, isto é as da forma

.

Em seus estudos clínicos com crianças de 12 a 13 anos, Filloy e Rojano

(1989) apontam uma dificuldade dos alunos ao passarem de resoluções

equações aritméticas para resoluções de equações não-aritméticas. Essa

dificuldade recebeu o nome de “corte didático”, pois, segundo eles, ocorre uma

quebra na compreensão e nas formas de resolução de equações.

Para observar a existência desse corte, Filloy e Rojano (1989) aplicaram,

em uma escola secundária experimental na Cidade do México, um teste para

estudantes de 12 a 13 anos, em três classes. Esse teste possuía três tipos de

questões: equações aritméticas com letras, como por exemplo, ,

equações aritméticas sem letras, exemplo □ - 95 = 23 e problemas escritos que

conduziam a equações aritméticas simples. Após responderem o teste, os

alunos foram separados em três grupos com relação aos acertos nesse teste.

Comparando as respostas das três partes do teste, foram selecionados,

para entrevistas, os sujeitos que mais acertaram as questões. Nessas

entrevistas, foram apresentadas aos alunos sequências com cinco ou mais

itens, ilustradas como nos exemplos abaixo:

Sequência E: verificação do pré teste: x + 5 = 8; 13x = 39, (x + 3) 6 = 48” Sequência C: equações equivalentes: x + 5 = 5 + 2; x + x/4 = 6 + x/4, x + 5 = x + x Sequência I: operação do desconhecido: 3 + 2x = 5x; 7x + 2 = 3x + 6; 10x − 18 = 4x

Page 39: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

39

Sequência A: problemas do tipo “encontre um número” (FILLOY E

ROJANO, 1989, p. 20, tradução nossa)11.

Após as análises do trabalho dos alunos com essas equações, os

pesquisadores apresentaram aos indivíduos entrevistados duas abordagens de

ensino por meio de modelos concretos, o modelo da balança e o modelo

geométrico. No modelo geométrico, foi apresentada uma equação do tipo

, sendo que a, b e c, eram valores positivos não nulos e . Em

um primeiro momento, foram representadas essas equações relacionadas a

retângulos, logo depois, no segundo momento, foi feita a comparação das áreas

das figuras, produzindo uma nova equação, (c - a)x = b, (terceiro momento). Em

seguida foi pedido que resolvessem a nova equação e verificassem a solução.

No modelo da balança, foi aplicada a mesma equação que no modelo

geométrico, só que representada em uma balança, na qual os pratos

representam os membros da equação e o equilíbrio representa a igualdade. No

primeiro passo, os alunos traduziram a equação para o modelo da balança. Em

seguida, eles removeram as incógnitas dos pratos da balança, mantendo o

equilíbrio, até não sobrar nenhuma delas do lado esquerdo da balança. No

terceiro passo, os alunos escreveram a nova equação, no caso, ,

seguida pela resolução da equação e verificação da raiz encontrada.

Na análise dos processos de abstração dos modelos geométricos e da

balança foi indicada uma perda momentânea da habilidade para resolver

equações aritméticas e a automação do uso dos modelos, levando os alunos a

cometerem erros típicos associados à sintaxe algébrica, como a tentativa de

adição e subtração de coeficientes de diferentes graus. Segundo os autores, a

insuficiência operacional existente no que estes chamam de estágio pré-

simbólico da álgebra sugere um corte, uma quebra no desenvolvimento de

entendimento do indivíduo.

11

“Sequence E. (verification of pre-test) e. g. x + 5 = 8; 13x = 39, (x + 3) 6 = 48” Sequence C. (the equation as equivalence) e. g. x + 5 = 5 + 2; x + x/4 = 6 + x/4, x + 5 = x + x Sequence I. (operating on the unknown) e. g. 3 + 2x = 5x; 7x + 2 = 3x + 6; 10x − 18 = 4x Sequence A. (word problems of “find a number type”).”

Page 40: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

40

As análises das entrevistas confirmaram a presença do “corte didático”.

Tal corte pode ser justificado pela diferença entre a compreensão dos conceitos

de equações aritméticas e dos conceitos de equações não-aritméticas. Para os

autores, “intervenções apropriadas de um professor no ponto de transição

podem ser cruciais para os alunos que estão aprendendo álgebra pela primeira

vez” (FILLOY; ROJANO, 1989, p.19, tradução nossa12). Uma hipótese para

explicar essa diferença de compreensão, proposta pelos pesquisadores, é a

evolução da linguagem aritmética para a linguagem algébrica.

Seus estudos apontam que a transição para a resolução de equações

lineares com incógnitas em um membro para as lineares com incógnitas nos

dois membros não é imediata, sendo necessária a construção ou aquisição dos

elementos da álgebra não aritmética. Segundo os autores, no estágio de

transição pode-se trabalhar o ensino de álgebra de duas formas opostas:

concreto, como por exemplo, utilizando o modelo geométrico e o da balança; ou

abstrato, na qual os alunos aprendem regras apropriadas e as aplicam nas

resoluções.

Filloy e Rojano (1989) sugerem a existência de um corte didático ao longo

da linha evolutiva do pensamento da aritmética para a álgebra. Segundo suas

análises, esse corte corresponde às grandes mudanças que aconteceram na

história da álgebra simbólica na concepção do “desconhecido” e a possibilidade

de “exploração do desconhecido”.

Os pesquisadores afirmam que, em termos de currículo, o corte está

localizado na transição de quando os alunos sabem resolver equações do tipo

“ ” (FILLOY; ROJANO, 1989, p.

20), pois é suficiente inverter ou “desfazer” as operações indicadas, sendo

desnecessário operar realmente com a incógnita; para quando os estudantes

recebem equações dos tipos “ ” (FILLOY;

ROJANO, 1989, p.20). Para resolver esses tipos de equações, não é suficiente

12

“Suitable interventions from a teacher at the point of transition may be crucial for students learning algebra for the first time.”

Page 41: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

41

a inversão dos procedimentos, sendo necessário operar com a incógnita, ou

seja, manipular sobre o que é representado. Segundo Filloy e Rojano (1989) os

alunos achariam mais difícil resolver as equações não-aritméticas porque existe

a necessidade de se operar com as incógnitas, enquanto, para resolver

equações aritméticas, as operações são efetuadas utilizando apenas números.

Filloy e Rojano (1989) acreditam que os alunos acham mais difícil resolver

as equações não-aritméticas, porque necessitam lidar com as incógnitas, do que

com as equações aritméticas, nas quais os alunos trabalham com os números,

justificando, no artigo escrito em 2010, que

... um corte didático na transição do pensamento aritmético para o pensamento algébrico ocorre quando alunos se deparam com tarefas de uma natureza algébrica pela primeira vez e precisam construir novos significados e novos sentidos para objetos e operações aritméticos, com a característica especial adicional de que tais significados e sentidos recentemente construídos necessariamente pressupõem uma quebra com a aritmética. (FILLOY; ROJANO; SOLARES, 2010, p. 59, tradução nossa)

13.

Apesar de Filloy e Rojano (1989) tratarem do corte didático relacionado

com as equações lineares e nosso trabalho ter como foco as equações

quadráticas, acreditamos que seus estudos nos auxiliarão na análise e seleção

dos sujeitos da nossa pesquisa. No próximo capítulo Fundamentação Teórica

descreveremos o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática no qual

apoiamos a nossa pesquisa.

13

“… a didactic cut in the transition from arithmetic thinking to algebraic thinking occurs when

students face tasks of an algebraic nature for the first time and need to build new meanings

and new senses for arithmetic objects and operations, with the added special characteristic that

such newly built meanings and senses necessarily presuppose a break with arithmetic.”

Page 42: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

42

CAPÍTULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No capítulo anterior, apresentamos algumas pesquisas sobre as equações

lineares, que trouxeram subsídios para a elaboração de um dos instrumentos de

coleta de dados; outras sobre equações quadráticas, que trouxeram informações

à respeito das formas de resolução adotadas por alunos de diferentes níveis de

escolaridade, e sobre as dificuldades apresentadas por eles ao usarem regras

inapropriadas; e a pesquisa realizada por Filloy e Rojano (1989), a respeito de

um corte didático entre as equações lineares que apresentam a incógnita em um

único membro e as equações lineares nas quais a incógnita ocorre em ambos os

membros.

Neste capítulo, trataremos dos Três Mundos da Matemática, quadro teórico

no qual está apoiada a nossa pesquisa; os “já-encontrados”, que são a

influência de conhecimentos anteriores sobre a aprendizagem; a definição de

equações de avaliação e manipulação e as diferenças entre elas; e a relação do

corte didático com os Três Mundos da Matemática.

Na nossa pesquisa, a análise dos dados será feita à luz dos Três Mundos da

Matemática, um quadro teórico que está em desenvolvimento por pesquisadores

do Brasil e da Inglaterra, entre outros, e tem por objetivo explicar a

aprendizagem da Matemática a longo prazo.

Page 43: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

43

2.1 OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA

Quando Tall (2007, p. 1) “considerou toda a gama de pensamento

matemático, ele percebeu que a noção de três diferentes mundos da Matemática

oferecia uma categorização útil para diferentes tipos de contextos

matemáticos”14. Os Três Mundos da Matemática são o mundo conceitual

corporificado; o mundo “proceitual” simbólico e o mundo formal axiomático,

sendo esses mundos resultado do crescimento cognitivo de cada indivíduo e da

evolução do pensamento matemático que cada um constrói (BADARÓ, 2010,

p. 31).

O mundo conceitual corporificado

O mundo conceitual corporificado, que chamaremos de mundo

corporificado, trata das imagens de situações concretas e mentais que são

construídas pela observação e pela percepção, fazendo com que possamos

identificar as propriedades matemáticas nesses elementos e ajamos sobre eles,

buscando compreensão do que estes significam e também, da manipulação

física de objetos “como no caso de representar uma equação como uma

balança” (LIMA, 2007, p.75).

Como exemplo, na Figura 5, temos a equação sendo

representada por meio de uma balança. O indivíduo pode resolver essa equação

idealizando uma balança, na qual os pratos representam os membros da

equação; o equilíbrio, a igualdade; e os pesos representam os números. Porém,

essa representação só pode ser utilizada quando os valores usados na equação

são positivos. O sujeito não necessita manipular fisicamente a balança para

14

“As I considered the whole range of mathematical thinking, I began to realize that the notion of three different wor lds of mathematics” … “offered a useful categorization for different kinds of mathematical context.” (tradução nossa)

Page 44: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

44

resolver a equação em questão, pois pode fazê-lo mentalmente ou

ilustrativamente (ver ilustração da Figura 5), manipulando os pratos da balança,

analisando e levantando hipóteses. Na figura, as latas representam a incógnita

e as bolinhas representam a unidade.

O mundo “proceitual” simbólico

O mundo proceitual simbólico, que chamaremos mundo simbólico, é

aquele em que os símbolos são usados para representar conceitos matemáticos .

Esses símbolos podem ser vistos, simultaneamente, como processos e

conceitos.

Os processos e conceitos foram chamados por Gray e Tall (1994) de

proceitos (amálgama de processos e conceitos), que é a compreensão

simultânea dos processos de resolução e dos conceitos matemáticos. Segundo

Lima (2007), os “proceitos” elementares “podem ser vistos como diferentes

procedimentos que resultam em uma mesma saída” (LIMA, 2007, p. 58) , por

exemplo, a equação envolve o processo de extração de raiz quadrada e

o conceito de ideia de equação.

A habilidade de passar de processo para conceito é chamada por Gray e

Tall (1994) de “pensamento proceitual”. Deste modo, os “símbolos matemáticos

são „proceitos‟ quando eles carregam consigo a possibilidade de serem vistos

Figura 5: Representando a equação com o modelo da balança

Page 45: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

45

tanto como procedimentos quanto como o conceito que eles representam”

(LIMA, 2007, p. 58).

Segundo Lima (2007), o mundo proceitual simbólico amplia os significados

do mundo corporificado para os conceitos matemáticos, porque, para os

conceitos serem aceitos como verdades, são necessários cálculos e

manipulações que habitam o mundo simbólico. No mundo proceitual simbólico,

os símbolos representam não apenas os conceitos, “mas também as ações

exercidas sobre os objetos e o produto dessas ações” (LIMA, 2007, p. 57) , como

por exemplo, na resolução das equações do tipo , esta pode

ser feita por intermédio do modelo da balança, mas não é possível desfazer as

operações, sendo necessário, nesse caso, a manipulação das incógnitas,

resultando em utilização de símbolos matemáticos representando os conceitos

matemáticos.

Na Figura 6, mostramos um exemplo desse processo de manipulação de

incógnitas, para a equação .

Figura 6: Processo de resolução de equação por meio de manipulação simbólica

Nesse exemplo, a resolução da equação é feita por meio de manipulação

das incógnitas, quando o indivíduo faz a transposição dos termos de um

membro para o outro.

O mundo formal axiomático

É o mundo caracterizado pelo uso da linguagem formal, por axiomas,

definições e teoremas. Apesar de ser trabalhado em sua totalidade somente no

Ensino Superior, podemos identificar características do Mundo Formal

Page 46: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

46

evidenciadas em diversos níveis de escolaridade, quando o indivíduo se depara

com situações em que é necessário o uso de definições matemáticas, por

exemplo. No ensino fundamental, o mundo formal não está presente em sua

totalidade devido ao nível de escolaridade dos alunos, pois ele pressupõe a

construção axiomática dos diferentes ramos da Matemática, mas

...há o uso de algumas características desse mundo, em dados momentos, como, por exemplo, quando o aluno se depara com demonstrações, em que ele precisa compreender o desencadeamento dos passos nelas efetuados, ou mesmo ao se deparar com definições, propriedades ou princípios da Matemática ao realizar alguma manipulação algébrica ou alguma generalização. (LIMA, 2007, p. 79)

Na Figura 7, por exemplo, mostramos a resolução da equação .

Figura 7: Resolução da equação

Nesse exemplo, o aluno desenvolve a equação utilizando características

do mundo formal, pois trabalha com o processo inverso da multiplicação e da

potenciação.

O desenvolvimento cognitivo pelos “Três Mundos da Matemática” está

representado no quadro a seguir:

Page 47: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

47

Figura 8: Desenvolvimento Cognitivo pelos Três Mundos da Matemática Fonte: Tall (2007, tradução e adaptação nossa)

A Figura 8 retrata o que ocorre no desenvolvimento cognitivo de um

indivíduo quando explicado pelos Três Mundos da Matemática. Cada mundo

ocupa uma área, em que a intersecção indica a relação entre os mundos e o uso

do conhecimento matemático que pode ser feito naquela área do

desenvolvimento cognitivo. A intersecção entre os Mundos Corporificado e

Simbólico é chamada de Simbólico Corporificado. Um sujeito está “Simbolizando

a Corporificação”, quando este parte do Mundo Corporificado e chega ao Mundo

Simbólico e “Corporificando o Simbolismo” quando faz o sentido contrário, ou

seja, parte do Mundo Simbólico e chega ao Mundo Corporificado (BADARÓ,

2010, p.38).

A intersecção entre os Mundos Corporificado e Formal forma a área do

conhecimento chamado de “Corporificado Formal”, e entre os Mundos Simbólico

e Formal, o “Simbólico Formal”. O crescimento cognitivo, representado pelo eixo

vertical, indica que este é adquirido ao longo do tempo e por meio de sua

Page 48: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

48

relação com cada um dos Três Mundos da Matemática. Na região onde os Três

Mundos da Matemática se interceptam emerge a integração total destes.

2.2 OS “JÁ-ENCONTRADOS”

Em seu caminhar na vida escolar, os alunos se deparam com várias

situações de aprendizagem matemática, o que significa que a forma de perceber

e entender os conceitos matemáticos varia de aluno para aluno, dependendo de

suas dificuldades e experiências anteriores, sejam elas escolares ou não. Nesse

aprendizado, seu caminhar pelos Três Mundos da Matemática é muito peculiar,

pois cada indivíduo aprende de uma forma única “desenvolvendo sua própria

imagem de conceito” (TALL; VINNER, 1981) definida “como a estrutura cognitiva

total que é associada com o conceito, que inclui todas as figuras mentais e

propriedade e processos a eles associados.” (TALL; VINNER, 1981, p. 152,

tradução nossa15). Essa estrutura cognitiva é desenvolvida durante sua vida, por

meio de experiências de todos os tipos, sendo modificada à medida que o

indivíduo encontra novos estímulos (LIMA, 2007, p.87).

Lima e Tall (2008) referem-se a essas experiências anteriores como “já-

encontrados”16, que são fundamentalmente importantes na aprendizagem de

conceitos matemáticos, porque afetam esse aprendizado de alguma forma, seja

positiva ou negativa:

...um já-encontrado é toda e qualquer experiência anterior a um certo aprendizado, considerada como construto mental, presente na imagem de

15

“ ...the total cognitive structure that is associated with the concept, which includes all the mental pictures and associated properties and processes.” 16

Traduzido por Lima (2007) do inglês met-before.

Page 49: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

49

conceito do aluno, que possa interferir no aprendizado em questão, seja de forma positiva ou negativa. (LIMA, 2007, p. 88).

Os “já-encontrados” são usados quando um indivíduo se depara com

situações semelhantes às que lhe são familiares. Nesse momento, diante de

uma nova situação, ele usa conhecimentos ou procedimentos que já conhece

para resolver a nova situação apresentada, tomando-os como válidos para esse

momento. Por exemplo, as experiências de aprendizado com equações lineares

podem influenciar o aprendizado de equações quadráticas (LIMA, 2007, p. 87).

A influência negativa de um já-encontrado se refere a causar dificuldades

em um novo aprendizado, e a influência positiva se dá quando o aprendizado

anterior exerce uma “influência benéfica no aprendizado corrente” (Lima, 2007,

p. 88). As expressões algébricas ou soma de termos semelhantes pode ser um

já-encontrado que atua positivamente em equações porque o aluno pode utilizar

esse conceito para somar as incógnitas com coeficientes iguais. Por exemplo,

na equação , o aluno soma as incógnitas, pois estas são termos

semelhantes; quando deparado com uma equação quadrática, por exemplo, o

aluno poderá lançar mão de seus conhecimentos anteriores ao resolver a

equação somando as incógnitas pois são termos semelhantes.

Quanto à influência negativa, ao se deparar, por exemplo, com a equação

quadrática , o aluno pode pensar que pode somar os termos

semelhantes para depois isolar a incógnita, pois foi assim que ele aprendeu nas

equações lineares, resultando em um erro de procedimento. Nesse caso, o

aluno parece não ter observado que as incógnitas possuem expoentes

diferentes gerando um problema na aprendizagem de equações quadráticas. O

aluno pode querer somar e por achar que são semelhantes, resultando,

por exemplo, em , pelo mesmo já-encontrado de somar termos, mas usado

inapropriadamente porque não são semelhantes.

No nosso trabalho, os “já-encontrados” são importantes para que

possamos analisar quais procedimentos e conhecimentos anteriores os alunos

utilizaram para resolver as equações quadráticas propostas, e quais implicações

Page 50: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

50

essa nova experiência, no decorrer da resolução das equações, ampliou seus

conceitos, modificando a forma como eles resolvem as equações quadráticas de

diferentes tipos.

2.3 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO E DE MANIPULAÇÃO

Segundo Thomas e Tall (2001), o desenvolvimento cognitivo em Álgebra

pode ser classificado em três tipos de álgebra: álgebra de avaliação, álgebra de

manipulação e álgebra axiomática. Na álgebra de avaliação, a incógnita pode

ser avaliada nas equações dando valores à ela. Na álgebra de manipulação, as

equações são manipuladas algebricamente, e a letra assume o papel da

incógnita, permitindo compreender igualdades como .

A partir dessa caracterização de Thomas e Tall (2001), Lima (2007)

classifica as equações em equações de avaliação e equações de manipulação.

As equações de avaliação são aquelas que podem ser resolvidas desfazendo as

operações efetuadas sobre a incógnita até que o valor da incógnita seja

encontrado; e as equações de manipulação são aquelas em que é necessário

operar com a incógnita, isto é, há manipulação simbólica. Em relação aos Três

Mundos da Matemática podemos observar que as equações de avaliação,

devido as suas particularidades, apresentam características pertencentes ao

mundo corporificado, enquanto que as equações de manipulação remetem ao

mundo simbólico.

Adotaremos esta caracterização para nossa pesquisa porque, segundo as

pesquisadoras Lima e Healy (submetido), as equações de avaliação estão

relacionadas com o mundo corporificado no qual o sentido de ““fazer” e

Page 51: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

51

“desfazer” poderia vir de operações com objetos desse mundo” (LIMA; HEALY,

submetido, p.8). Porém, quando se lida com equações de manipulação, é

necessário se trabalhar com os símbolos, que estão relacionados com o mundo

simbólico.

Neste ponto do trabalho devemos destacar que as equações de avaliação

e de manipulação foram assim caracterizadas pelas suas propriedades de

resolução, porém, essa caracterização não é fechada, uma vez que o sujeito

pode resolver uma equação de avaliação como se fosse de manipulação, e vice

versa. Essa resolução dependerá dos conhecimentos que o sujeito traz consigo.

Podemos dar como exemplo a resolução da equação . Um indivíduo

pode querer manipular a incógnita deixando-a no primeiro termo da igualdade

somente por conseguir resolver a equação apenas com a incógnita neste termo

da igualdade, enquanto que outro sujeito resolveria da maneira como foi

apresentada. Quanto a equação de manipulação, podemos citar como exemplo

a resolução da equação . Nessa resolução dessa equação

podemos nos deparar com um sujeito que necessita do artifício de Bháskara

porém um outro encontraria as raízes da equação apenas avaliando. Uma

pessoa que estivesse habituada a resolver equações quadráticas saberia que o

segundo termo é a soma e o terceiro termo é a multiplicação das raízes.

Ao relacionar esta caracterização para equações lineares com aquela de

Filloy e Rojano (1989), vemos que as de avaliação são chamadas por eles de

aritméticas, enquanto as de manipulação são as não-aritméticas. Enquanto em

suas pesquisas Filloy e Rojano (1989) caracterizam somente as equações

lineares, Lima (2007) caracterizou também as equações quadráticas como de

avaliação e manipulação. Essa caracterização não se dá pela posição da

incógnita na equação, mas pelas características próprias da equação.

Podemos caracterizar como sendo equações de avaliação as equações

lineares do tipo com a, b e c reais e . Por exemplo, a equação

pode ser resolvida adicionando 30 ao número 40, resultando em

Page 52: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

52

70. Em seguida, divide-se o resultado 70 por 2, obtendo 35, encontrando, assim,

o valor da incógnita. Outra forma de resolução é buscar um valor que

multiplicado por 2 seja igual a 70 para que a igualdade seja verdadeira.

Já as equações lineares de manipulação são as do tipo

e e podemos dar como exemplo a equação linear

. Para resolvê-la, é necessário operar com a incógnita para obter

o resultado. Nesse exemplo, somando-se em ambos os membros,

temos , o que é equivalente a . Em seguida, divide-

se −12 por −4, resultando em 3. Observa-se nesse exemplo, a necessidade de

uma manipulação dos símbolos para se obter o valor da incógnita.

No que se refere à classificação das equações quadráticas, as do tipo

, em que a e b são números reais e a ≠ 0, são de avaliação, uma vez que

podem ser resolvidas desfazendo as operações. Por exemplo, a equação

pode ser resolvida desfazendo as operações, ou buscando os números

que, elevados ao quadrado, resultarão em 9. Admitindo que a incógnita assuma

dois valores distintos, temos 3 e −3. Uma segunda maneira de resolução é por

meio das operações inversas, o que significa que se pode extrair a raiz

quadrada de 9, percebendo, à partir dessa raiz que −3 também é solução, e não

apenas +3. Em geral, as equações do tipo são de avaliação,

pela característica de poder desfazer as operações efetuadas sobre a incógnita.

Existem também equações quadráticas de manipulação. Podemos citar

como exemplo as equações do tipo , que podem ser resolvidas

pelo uso direto da fórmula de Bhaskara, completamento de quadrados ou por

fatoração. Por exemplo, , que pode ser resolvida fatorando o

primeiro membro, resultando em . Nesse caso, a incógnita x

assume o valor −1.

As equações de avaliação e de manipulação carregam dificuldades

diferentes de resolução, e buscamos entender se essas dificuldades podem ser

explicadas por um corte didático.

Page 53: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

53

2.4 O CORTE DIDÁTICO E OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA

Como vimos, Filloy e Rojano (1989) acreditam que o corte didático nas

equações lineares ocorra por dificuldades na transição de resolver equações

aritméticas para resolver equações não-aritméticas. Vlassis (2002) também

buscou as raízes desse corte. Os resultados de seu experimento levaram-na a

conjecturar que, diferentemente do que Filloy e Rojano (1989) afirmam, o corte

didático está relacionado com a possibilidade de o aluno associar ou não a

equação com um modelo concreto e não com a posição em que se encontra a

incógnita (em um ou nos dois membros da igualdade).

Já as pesquisadoras Lima e Healy (submetido) acreditam que o corte

didático não está relacionado apenas com o tipo de equação, mas com a

necessidade de manipulação dos símbolos presentes nas equações e com a

maneira pela qual os indivíduos as resolvem.

Na discussão das semelhanças de classificação das equações lineares

dadas por Filloy e Rojano (1989), Lima e Healy (submetido) concluem que esta

não difere da classificação dada por elas para as equações aritméticas,

entendendo então que estas “podem ser tratadas como parte apenas do mundo

corporificado” (LIMA; HEALY, submetido, p. 9) enquanto as classificadas como

equações não-aritméticas, segundo as pesquisadoras, envolvem aspectos do

mundo corporificado e do mundo simbólico também. Com referência a

classificação de Vlassis (2002), as autoras sugerem que, quando os alunos

procuram resolver as equações por intermédio de um modelo concreto, eles as

estão associando ao mundo corporificado, enquanto nas equações denominadas

por Vlassis (2002) como equações algébricas, é possível que estes “talvez

necessitem de uma viagem pelo mundo simbólico” (LIMA; HEALY, idem).

Page 54: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

54

À luz dessa discussão, Lima e Healy (submetido) levantam a hipótese de

que, se um corte didático ocorrer,

ele estará relacionado à passagem de resolver equações de avaliação para resolver as de manipulação – porque esta passagem envolve fazer conexões entre dois mundos da matemática, o corporificado de um lado, e o simbólico de outro (LIMA; HEALY, submetido, p. 9).

As pesquisadoras chegaram a essa conclusão analisando as resoluções

apresentadas por 68 alunos para as equações lineares ;

e . Nessas análises, observa-se que 28 alunos resolveram

corretamente a equação , 22 alunos acertaram a equação

e somente cinco alunos resolveram corretamente a equação

. Segundo as pesquisadoras, a dificuldade em se resolver a equação

está na operação com zero, pois pode ser difícil para os alunos

aceitarem que duas vezes alguma coisa resulta em quatro vezes a mesma

coisa. Elas relatam que todas as equações resolvidas corretamente, assim como

as resoluções incorretas, envolveram técnicas de movimentação de termos,

passando um termo para o outro membro da equação e mudando de sinal , isto

é, corporificações procedimentais (LIMA; TALL, 2008). Essas técnicas, segundo

Lima e Healy (submetido) estão “desconectadas do princípio algébrico de

efetuar a mesma operação em ambos os membros” (L IMA; HEALY, submetido,

p.12), não havendo, aparentemente, diferença de dificuldades nas resoluções de

equações de avaliação ou de manipulação, indicando, segundo as autoras, que

o corte didático (se é que existe) não é aparente.

Considerando as equações quadráticas, as autoras evidenciam que os

alunos que obtiveram um sucesso maior nas resoluções destas foram aqueles

que conseguiram fazer algum tipo de avaliação para encontrar as raízes das

equações. O sucesso, segundo elas, foi associado então “à possibilidade de

trabalhar de maneira essencialmente corporificada”, (LIMA; HEALY, submetido,

p.18).

Page 55: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

55

As análises das resoluções das equações quadráticas apresentadas pelos

alunos indicam que eles apresentam dificuldades em trabalhar com equações

quadráticas de manipulação. Essa dificuldade pode ser justificada pelo fato dos

alunos, aparentemente, não estarem familiarizados com diferentes métodos

algébricos de resolução, e até mesmo a fórmula de Bháskara, que é enfatizada

pelos professores no desenvolvimento das equações quadráticas, não traz

sucesso na maioria das vezes. Por este motivo, as pesquisadoras entendem que

exista uma “dificuldade crescente em trabalhar com equações quadrát icas de

manipulação” (LIMA; HEALY, submetido, p. 18), que elas atribuem à

necessidade de buscar sentido no mundo simbólico e não unicamente no mundo

corporificado.

Com referência às equações lineares, as denominadas equações de

manipulação não podem ser resolvidas como equações de avaliação, nas quais

o aluno resolve desfazendo as operações efetuadas sobre a incógnita; porém,

as de avaliação podem ser tratadas como de manipulação, como apontado no

estudo de Lima e Healy (op. cit.). Nas equações quadráticas de avaliação, as

autoras percebem duas possibilidades de avaliação: a primeira é aquela na qual

o aluno desfaz as operações, e, na segunda, o aluno avalia a expressão e

percebe uma raiz da equação, que é feito nas equações quadrát icas de

manipulação.

A concepção das pesquisadoras Lima e Healy (op.cit.) à respeito das

equações de manipulação, principalmente as quadráticas, é de que estas

apresentam características sofisticadas do Mundo Simbólico, necessitando, ao

lidar com elas, uma consciência dos princípios matemáticos envolvidos nos

métodos de resolução, implicando o fato de o indivíduo ter pensamento

proceitual. Porém, pelos resultados das pesquisas realizadas por Lima (2007),

até os alunos que foram bem sucedidos nas equações pareciam estar

resolvendo por características corporificadas ao invés de simbólicas,

evidenciando o mundo corporificado ao invés do mundo simbólico.

Page 56: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

56

A pesquisa de Lima e Healy (submetido) evidencia que as dificuldades

dos alunos, ao se depararem com as equações lineares podem não ser com o

fato de se operar com a incógnita, como proposto por Filloy e Rojano (1989),

mas podem estar relacionadas com as interpretações dos alunos dos métodos

que lhes foram ensinados para resolvê-las, bem como com a relação entre o

aluno e a equação, ou seja, como os alunos fazem para resolvê-las, o que não

manifestará um corte didático se elas são vistas como o mesmo tipo de

equação.

Enquanto Filloy e Rojano (1987) acreditam que o corte didático está

relacionado com a ocorrência da posição da incógnita, e Vlassis (2002) propõe

um ensino com abordagem da balança (ambos tratados no Capítulo 1: Revisão

de Literatura), a conclusão de Lima e Healy (submetido) foi que as raízes da

ocorrência do corte didático são mais complexas do que a posição da incógnita

em um ou dois membros da equação ou a relação da equação com modelos

concretos. A conjectura das pesquisadoras é de que possa existir um corte

didático entre equações que podem ser resolvidas com procedimentos

relacionados ao mundo corporificado e equações que precisam de

procedimentos do mundo simbólico, resultando de uma tendência em procurar

significados corporificados ao invés de simbólicos para objetos simbólicos,

havendo a necessidade de conexões entre os mundos corporificado e simbólico.

Acreditamos, assim como as pesquisadoras Lima e Healy, que o corte

didático esteja relacionado não com a posição da incógnita, mas sim com o tipo

de equação que é apresentada, avaliação ou manipulação. Contudo, em nossa

opinião, é interessante reforçar que a diferença entre as equações de avaliação

e manipulação estão relacionadas com os conhecimentos do sujeito.

No próximo capítulo, Procedimentos Metodológicos, descreveremos

como realizamos a nossa coleta de dados, os instrumentos utilizados e a

seleção dos sujeitos para a coleta principal, com o objetivo de responder as

questões de nossa pesquisa.

Page 57: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

57

CAPÍTULO 3

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesse capítulo, tratamos da metodologia adotada para atingir nosso

objetivo e responder as perguntas que fomentaram a nossa pesquisa:

Quais são os procedimentos de resolução que alunos de 8º ano utilizam

ao resolverem as equações quadráticas, sem terem prévio conhecimento

do conteúdo?,

Quais características dos Três Mundos da Matemática surgem na

resolução das equações quadráticas? e

É possível caracterizar um Corte Didático na transição das equações

lineares para as equações quadráticas?

Para isso, realizamos a coleta de dados em duas fases. A primeira

consistiu da aplicação de um questionário composto por dez equações lineares

e duas quadráticas. O objetivo das equações lineares era identificar quais

alunos sabiam resolver corretamente estas equações e quais foram os

procedimentos adotados por estes. Já com as duas equações quadráticas

tínhamos como objetivo conhecer previamente quais seriam as possíveis formas

de resolução que os alunos adotariam, independentemente se estes

procedimentos seriam corretos ou não.

A segunda fase consistiu de entrevistas reflexivas semi-estruturadas,

contendo 14 equações quadráticas, com alguns alunos (selecionados pelas

resoluções apresentadas nas equações lineares do primeiro instrumento).

Acreditamos que a entrevista reflexiva semi-estruturada permite verificar quais

métodos de resolução foram adotados pelos alunos e levantar as características

relacionadas a cada um dos Três Mundos da Matemática.

Page 58: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

58

Para verificarmos a existência de um possível corte didático na passagem

das equações lineares para as equações quadráticas, seguimos a metodologia

descrita no artigo de Filloy e Rojano (1989) e explanado no Capítulo 1 (p.37),

selecionando os alunos que já sabiam resolver equações lineares para

participarem da resolução das equações quadráticas. É importante ressaltar que

os dois instrumentos foram elaborados a partir do quadro teórico dos Três

Mundos da Matemática.

A nossa pesquisa contou com a colaboração de uma escola estadual da

cidade de Jundiaí, com 40 estudantes pertencentes a duas turmas de 8º ano e

com a professora de Matemática que leciona para essas duas turmas. Apesar de

as turmas possuírem 67 alunos ao todo, divididos em 33 alunos na primeira

turma e 34 na segunda, nem todos quiseram participar da coleta de dados, por

este motivo apenas 40 alunos participaram do primeiro instrumento.

3.1 PERFIS DAS TURMAS

A escola estadual a qual pertencem os sujeitos da pesquisa está situada

na periferia do município de Jundiaí. Os alunos são, em sua maioria, de classe

sócio- econômica baixa. É uma escola que possui alunos desde o 6º ano do

Ensino Fundamental até o Ensino Médio, sendo a maior parte do corpo docente

composta por professores efetivos, e o IDESP17 da escola é um dos mais altos

em Jundiaí, e acima da média estadual.

17

IDESP- Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo. Fontes: http://idesp.edunet.sp.gov.br/arquivos2008 - acessado em 27/12/2009 http://idesp.edunet.sp.gov.br/o_que_e.asp- acessado em 27/12/2009

Page 59: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

59

Ao apresentarmos os objetivos da nossa pesquisa para a direção e a

professora das turmas de 8º ano, combinamos, em acordo com as partes, que o

instrumento 1 “Equações Lineares e Quadráticas” seria aplicado no fim do

segundo semestre do ano letivo, após o aprendizado sobre as equações

lineares. Conversamos com a professora e com as turmas para que pudéssemos

construir o perfil das classes, como descreveremos a seguir.

A primeira turma, chamada T1, foi composta por 33 alunos. Segundo a

professora, era uma classe composta por alunos que não tomam iniciativa, e a

maioria deles atrapalhava o desenvolvimento das aulas, não realizando as

tarefas propostas, enquanto os demais realizavam satisfatoriamente as

atividades. Os alunos que não faziam as atividades propostas eram

considerados indisciplinados, pois bagunçavam bastante durante as aulas,

fazendo com que a professora parasse as atividades diversas vezes para

chamar a atenção deles.

Havia uma divergência entre o que a professora e os alunos pensavam

sobre as atitudes comportamentais da classe. Enquanto a professora achava

que a turma não estava interessada nem tomava iniciativa, os alunos afirmavam

que os colegas ajudavam-se mutuamente, procurando tirar as dúvidas dos

demais. O ponto de concordância entre os alunos e a professora era com

respeito à indisciplina, pois eles concordavam que esse comportamento

atrapalhava um pouco o andamento das aulas.

Já a segunda turma, que chamamos de T2, foi composta por 34 alunos e,

segundo a mesma professora, era uma classe que apresentava um

comportamento mais falante, mais ativo e mais participativo. Nessa turma, a

professora alegava não existir meio termo, os alunos eram bons ou eram ruins.

Os alunos considerados ruins se dividiam em dois grupos: um que participava

um pouco e outro cujos alunos não demonstravam interesse em aprender.

Nessa segunda turma, a visão da professora era compatível com a dos

alunos pesquisados. Os alunos também achavam que a classe era falante e que

Page 60: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

60

existia uma divisão entre os alunos da turma. Essa divisão se daria entre os que

estudavam e aqueles que não estariam muito preocupados com o estudo. Mas,

apesar dessas diferenças, a classe era entrosada e possuía vontade sempre de

participar. Ao analisarmos o comportamento dos sujeitos das duas classes,

observamos que elas possuíam perfis bem diferentes, indo, aparentemente, ao

encontro da concepção que a professora tem das turmas, o que pôde ser

verificado na primeira e segunda fase da coleta de dados.

3.2 INSTRUMENTO 1: EQUAÇÕES LINEARES E QUADRÁTICAS - O

PRIMEIRO GRUPO DE DADOS COLETADOS

O objetivo de elaborar um instrumento de coleta de dados composto por

equações lineares foi verificar quais alunos conseguem resolvê-las, utilizando os

conceitos e/ou procedimentos, para assim, determinarmos quais alunos seriam

convidados para a segunda fase da pesquisa.

Como queríamos saber quais seriam as formas de resolução adotadas

pelos alunos e quais as justificativas que eles dariam para resolver as equações

com os procedimentos apresentados, pedimos que justificassem sua forma de

pensar e, no caso de não terem conseguido resolver alguma delas, que

explicassem os motivos. Optamos por colocarmos as equações com incógnitas

diferentes de x para sabermos se os alunos apresentariam conhecimentos de

resolução independentemente de a incógnita ser ou não diferente daquela que

eles estavam habituados a trabalharem.

A aplicação das equações ocorreu no segundo semestre, em dias

diferentes para as duas turmas por motivo de organização da escola, pois nos

Page 61: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

61

foi cedida uma sala de aula que não estava sendo usada no período de aula em

que aplicamos o instrumento 1.

As equações foram selecionadas de forma a contemplar características

dos Três Mundos da Matemática, especialmente no que diz respeito às

equações de avaliação e de manipulação. Por este motivo, o instrumento já

estava consolidado antes de conhecermos os sujeitos da nossa pesquisa.

Esse instrumento de coleta de dados foi composto por doze equações,

extraídas e adaptadas de alguns livros didáticos, sendo dez equações lineares,

divididas em seis de avaliação e quatro de manipulação, e duas quadráticas de

avaliação. Seis equações lineares tinham como resultado um número natural,

duas resultavam em um número inteiro negativo e duas em um racional . Já as

equações quadráticas tinham como resultado, a primeira, duas raízes iguais e

positivas, e a segunda, uma raiz positiva e uma negativa. Não usamos equações

cujos resultados fossem números irracionais, pois acreditamos que os alunos

poderiam apresentar dificuldades em lidar com esses números, o que tiraria o

foco da resolução de equações e das dificuldades que eles poderiam enfrentar

no trabalho com elas.

Apesar de o foco principal desse instrumento ser a análise das resoluções

de equações lineares, colocamos duas quadráticas para termos uma ideia de

como os alunos se comportariam na tentativa de resolver esse tipo de equação ,

e quais seriam os procedimentos que estes usariam. Em nossa opinião as

resoluções mostradas pelos alunos no primeiro instrumento nos dariam uma

noção de quais posturas os sujeitos selecionados poderiam adotar no segundo

instrumento.

As equações lineares de avaliação estão apresentadas no Quadro 1, as

de manipulação se encontram no Quadro 2 e as duas quadráticas estão

apresentadas no Quadro 3.

Page 62: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

62

+ =

Quadro 1: Equações Lineares de Avaliação

No Quadro 1, estão apresentadas as equações lineares de avaliação, cujo

objetivo era verificar se os alunos as resolveriam avaliando por tentativa e erro,

buscando valores que as satisfizessem, ou usando procedimentos matemáticos

para encontrar as raízes. Colocamos a equação fracionária

+

=

(apesar

de termos consciência de que o grau de dificuldade dessa ser maior que as

demais pertencentes a esse instrumento) com o objetivo de saber se a postura

dos alunos diante dessa equação seria a mesma da adotada nas outras

equações lineares pertencentes a esse instrumento de coleta de dados.

A equação foi escolhida porque Vlassis (2002) afirma que

uma equação desse tipo não pode ser resolvida pelo modelo da balança, por

conter um número negativo no primeiro membro, fazendo com que o aluno

procure outra forma de resolução, por exemplo, desfazendo a equação ou

buscando valores que a validem, assim como no caso da equação 8 = 6 − c, que

Freitas (2002) aponta, em sua pesquisa, a dificuldade em trabalhar com o

coeficiente negativo.

A equação de avaliação do tipo , representado no nosso

instrumento nas equações e , são, segundo Filloy e

Rojano (1989), mais simples de serem resolvidas, pois os alunos podem

desfazer as operações sobre as incógnitas para que a raiz seja encontrada, não

Page 63: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

63

necessitando operar com a incógnita. Já segundo Freitas (2002), as equações

do tipo apresentam como grau de dificuldade a transposição de

termos independentes, enquanto Vlassis, em seus estudos, aponta que essas

equações podem ser resolvidas usando o modelo da balança.

No Quadro 2, estão apresentadas as equações lineares de manipulação,

que Filloy e Rojano (1989) denominam, em seus estudos, como “equações não -

aritméticas”. O nosso instrumento contém equações de manipulação para

verificarmos se os alunos iriam manipular as incógnitas para encontrar a raiz da

equação.

Quadro 2: Equações Lineares de Manipulação

As equações do tipo que no nosso instrumento estão

representadas nas equações ,

apresentam como grau de dificuldade, segundo Freitas (2002), o procedimento

de transposição de termos, enquanto Filloy e Rojano (1989) alegam que a

dificuldade dos alunos nesse tipo de equação é a dificuldade de operar com a

incógnita.

Nosso objetivo, com as equações de manipulação, foi saber se os alunos

compreendiam a forma de resolução que deveriam abordar nessas equações,

utilizando os procedimentos algébricos, pois, nas equações de manipulação se

faz necessária a manipulação, ou seja, o manuseio da incógnita, diferentemente

do que ocorre nas equações de avaliação, em que se pode resolver avaliando e

encontrando um valor que satisfaça a equação.

Page 64: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

64

No Quadro 3, apresentamos as equações quadráticas de avaliação

presentes no instrumento 1, que utilizamos para termos ideia se os alunos iriam

resolvê-las e que de forma o fariam.

Quadro 3: Equações Quadráticas de Avaliação

As equações quadráticas de avaliação podem ser resolvidas por meio de

avaliação, na qual o aluno encontra valores que validem a equação. Nosso

objetivo com estas equações foi observar quais procedimentos seriam adotados

pelos alunos ao se depararem com as mesmas, pois esse conteúdo não faz

parte do ano que eles estavam cursando (8º ano).

3.2.1 Gerenciamento da aplicação do instrumento 1

Na apresentação, para a direção da escola e para a professora, dos

objetivos e da forma como seria realizada a nossa pesquisa, combinamos,

inicialmente, que a professora estaria conosco no momento da aplicação do

primeiro questionário. Porém, esse acompanhamento acabou não ocorrendo,

pois, uma vez que alguns alunos estavam com notas baixas e necessitavam de

recuperação, essa seria aplicada necessariamente pela professora da classe

durante o período letivo (recuperação contínua). A ausência da professora

atrapalhou um pouco a aplicação das questões, porque alguns alunos tiveram

dificuldades em se manter em silêncio. Entretanto, essa falta de colaboração

não interferiu na coleta dos dados.

Page 65: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

65

A aplicação do primeiro instrumento de coleta de dados foi realizada no

período de aula e em 50 minutos, com exceção de três alunos que necessitaram

de mais tempo. O questionário foi aplicado em dias diferentes para as duas

turmas do 8º ano. Dos 67 alunos pertencentes às duas turmas, somente 40

alunos participaram (22 da primeira turma e 18 da segunda), pois alguns alunos

não quiseram participar da pesquisa. Todos os pais dos sujeitos envolvidos na

pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

apresentado no Apêndice C, no qual estavam descritos os objetivos da nossa

pesquisa e como seriam coletados os dados.

Como a professora da turma não pôde participar, a aplicação das

questões foi feita somente pela pesquisadora. Então, em uma conversa

preliminar com a professora, foram apresentados os tipos de equações que

seriam apresentadas aos alunos, e ela sugeriu que, caso surgissem dúvidas

quanto às nomenclaturas das incógnitas (pois as incógnitas pertencentes ao

instrumento eram variadas, tais como, b, w, c, k, d, m, x, y), que fosse dito que

eles deveriam trabalhar como se todas fossem x e y, pois os alunos dela

estavam habituados a trabalhar com essas incógnitas. Lembramos que a opção

da mudança das incógnitas foi com o objetivo de verificarmos se os alunos

conseguiriam desenvolver a resolução das equações independentemente desta

ser x ou não.

Também, antes de entregar a folha com as questões para os alunos, foi

orientado que estes não se preocupassem em acertar ou errar a resolução das

equações, mas que não deixassem de registrar seus raciocínios e/ou formas de

pensar na resolução. Acreditamos que esse registro permitiu-nos verificar os

métodos de resolução usados por eles e sugerir as dificuldades que possam ter.

Conforme as suposições da professora da turma, durante a aplicação do

primeiro instrumento para as duas turmas, surgiram algumas dúvidas dos alunos

quanto às letras, pois estes não tinham certeza se poderiam resolver as

questões com incógnitas representadas por letras diferentes das que eles

Page 66: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

66

conheciam, o que nesse caso, eram x e y. Em nossa opinião, essa dúvida

poderia evidenciar um já-encontrado que está atrapalhando o trabalho dos

alunos, pois é uma dificuldade de compreensão de que as incógnitas podem

assumir qualquer letra. Diante dessa problemática, os alunos foram orientados

para que resolvessem como se todas as incógnitas fossem x e y, e informados

que as letras podem ser quaisquer, não alterando as questões que foram

aplicadas. Durante a atividade, um aluno perguntou se o x podia assumir dois

resultados, e a resposta da pesquisadora foi que se ele achou isso, que

justificasse essa sua ideia.

Observamos que após essa orientação, os alunos trabalharam com as

incógnitas de maneira natural, porém, caso não tivéssemos seguido a

orientação da professora da classe, a mudança nas incógnitas poderia ser

realmente um fator de dificuldade na resolução e essa não estaria relacionada

com os procedimentos de resolução das equações e sim, com a falta de

compreensão de que as incógnitas podem ser representadas por letras

diferentes de x e y, que são comumente trabalhadas em sala de aula e

apontadas em alguns livros didáticos, como pudemos verificar nos utilizados

pelos professores pertencentes a essa escola estadual.

A todo o momento, os alunos foram orientados para não deixarem de

responder questão alguma. Mesmo que eles achassem que não soubessem a

resposta, a pesquisadora pediu para que eles encontrassem um meio de

resolução. Alguns alunos demonstraram insegurança ao responder as questões,

enquanto outros começaram a conversar com os colegas, tentando encontrar

uma solução para as questões. Nesse momento, a pesquisadora pediu para que

os alunos trabalhassem individualmente, dadas as características de nossa

pesquisa.

Observando o comportamento dos alunos durante a resolução das

questões, percebemos que muitos estavam com receio de responder de forma

incorreta. Sugerimos que, caso o aluno não conseguisse responder após tentar,

Page 67: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

67

que explicasse suas dificuldades. O prazo dado para que os indivíduos

trabalhassem as resoluções foi de uma aula (de 50 minutos), mas três alunos da

primeira turma necessitaram de um prazo maior e utilizaram mais 20 minutos.

Enquanto a primeira turma estava mais tranquila e concentrada, a

segunda mostrou-se mais agitada, pois alguns alunos não conseguiram se

concentrar e começaram a conversar. Nessa classe, a orientação quanto ao

silêncio foi dada diversas vezes e, infelizmente, esse pedido não foi atendido.

Alguns alunos não tentaram resolver nenhuma questão, dando a impressão que

não queriam ficar na aula de Matemática, e utilizaram o artifício da pesquisa

para saírem da sala de aula. Admitimos isso porque foram justamente esses

alunos que mais deram trabalho nos quesitos silêncio e participação, e que, no

tempo em que ficaram na sala com os demais alunos que participaram da

pesquisa, faziam questão de serem notados, até o momento em que a

pesquisadora teve que pedir para que estes saíssem da sala para que não

prejudicassem os outros colegas e a coleta de dados em si. Esses alunos não

foram excluídos dos dados, pois, apesar de alguns destes terem conversado

muito, tentaram resolver algumas questões.

Comparando as duas classes, observamos que, apesar de os alunos da

segunda turma estarem agitados, eles não apresentaram tanta insegurança em

relação à resolução das equações quanto os da primeira turma. Os alunos que

ficaram na sala, dando continuidade à resolução das questões, responderam e

justificaram conforme foram orientados pela pesquisadora.

Os resultados deste questionário foram analisados para que soubéssemos

quais alunos resolveram estas equações corretamente, utilizaram a substituição

de valores diretamente na incógnita ou apresentaram conhecimentos sobre os

procedimentos de resolução. Após a análise, selecionamos os sujeitos que

acertaram o maior número de questões para participarem da segunda fase da

nossa pesquisa.

Page 68: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

68

3.2.2 Análise dos dados do instrumento 1 e escolha dos sujeitos para

a coleta principal

Apresentamos, nessa seção, as análises das respostas dadas pelos

alunos18 às equações pertencentes ao primeiro instrumento de coleta de dados.

Para selecionar os sujeitos que participariam da segunda fase da nossa

pesquisa, classificamos as respostas dadas em cinco categorias: “resolveram a

equação corretamente”, “utilizaram substituição de valores diretamente na

incógnita”, “mal-rules”, “não compreenderam a questão” e “não resolveram”.

Optamos pela expressão “mal-rules” porque segundo Sleeman (1984),

esta se refere ao uso de regras inapropriadas de resolução, ou seja, no nosso

caso, a utilização de procedimentos corretos na resolução de equação, porém

com erros no percurso desta tal como: ausência do sinal negativo, divisão

errada, soma ou subtração incorreta de valores numéricos.

Retornando a categorização, na primeira categoria denominada

“resolveram a equação corretamente”, classificamos os alunos que acertaram as

equações, resolvendo-as por procedimentos, como podemos ver na Figura 9.

18

Nas apresentações das resoluções das equações, o aluno será indicado por um código de

quatro dígitos, no qual os dois primeiros referem-se à turma que o aluno faz parte, e os outros

dois, ao aluno dentro da turma. Por exemplo, o aluno T101 é o aluno 01 da turma T1.

Page 69: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

69

Figura 9: Resposta do aluno [T110] para a equação m + 6 = 5

Nessa categoria, o aluno parece tratar a resolução das equações por meio

de “regras”, ou seja, a transposição de termos de um membro para o outro,

como, por exemplo, a resolução apresentada pelo aluno [T110] para a equação

m + 6 = 5, que é resolvida isolando a incógnita m em um lado da igualdade,

subtraindo 6 de 5, resultando em –1.

No caso da segunda categoria, que chamaremos como “utilizaram

substituição de valores diretamente na incógnita”, foram classificados os alunos

cuja resolução foi feita pelo que chamamos de substituição, encontrando a raiz

correta. Nessa categoria, o aluno analisa a equação e substitui a incógnita por

um valor que torna a igualdade verdadeira. Por exemplo, na equação linear de

avaliação 2d + 10 = 60, o aluno substitui a incógnita d pelo valor 25, sem utilizar

os recursos procedimentais, como podemos ver na solução apresentada na

Figura 10, realizada pelo aluno [T114].

Figura 10: Resposta do aluno [T114] para a equação 2d + 10 = 60

Page 70: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

70

A terceira categoria de classificação denominada “mal-rules” refere-se aos

alunos que apresentaram procedimentos corretos de resolução mas que

cometeram algum erro de percurso, como por exemplo, ausência de sinal

negativo na raiz da equação. Um exemplo pode ser visto na resolução do aluno

[T109] a seguir (Figura 11).

Figura 11: Resposta do aluno [T109] para a equação 10 + 4w = 5

Na Figura 11, observamos que o aluno [T109] apresenta uma forma de

desenvolvimento de resolução correta, mas não coloca o sinal negativo na

conclusão da equação, ou seja, na fração.

A quarta categoria é destinada aos alunos que “não compreenderam a

questão”, que são os alunos que, aparentemente, desconhecem a forma de

resolução das equações, não conseguindo resolver as mesmas por nenhum

método, seja por substituição de valores na incógnita ou por proced imentos

matemáticos, como podemos ver na Figura 12, na resolução do aluno [T111].

Por fim, na quinta categoria, classificamos os alunos que “não resolveram”, ou

seja, aqueles alunos que não desenvolveram a resolução da equação.

Page 71: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

71

Figura 12: Resposta do aluno [T111] para a equação 2n+ 5 = 6n − 7

As análises das equações lineares e quadráticas pertencentes ao

instrumento 1 estão apresentadas na Tabela 1.

Equações

Resolveram

a equação

corretamente

Substituíram

valores

corretos

diretamente

na incógnita

Mal-Rules

Não

compreenderam

a questão

Não resolveram

Turma Turma Turma Turma Turma

T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2

2b - 30 = 0 5 4 6 8 3 - 8 3 - 3

6x = 5x 1 - - - - - 19 9 2 9

10 + 4w = 5 3 3 - - 6 2 10 5 3 8

8 = 6 - c 4 3 - - 9 3 8 4 1 8

4k - 2 = 3k + 6 5 4 - - 4 - 13 5 - 9

2d + 10 = 60 6 3 3 4 5 2 8 4 - 5

m + 6 = 5 3 3 8 9 3 - 7 1 1 5

w² = 9 1 1 4 1 3 2 12 3 2 11

2n + 5 = 6n - 7 3 1 - 2 7 3 11 - 1 12

+ = - - - - 2 2 8 2 12 14

(m + 1)² = 4 - - 8 5 - - 9 5 5 8

4y - 13 = 9 - 5y 4 3 - - 7 1 9 3 2 11

Tabela 1: Categorias de respostas para as equações do instrumento 1

Page 72: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

72

Nas análises das equações de avaliação, observamos que 23 alunos

resolveram corretamente as equações 2b − 30 = 0 (nove por regras e 14

substituindo os valores na incógnita) e m + 6 = 5 (seis por regras e 17 por

substituição). Na Figura 13 e na Figura 14 apresentamos as resoluções adotadas

pelos alunos para a equação 2b − 30 = 0, e nas Figuras 15 e 16, as respostas

dos alunos para a equação m + 6 = 5.

Figura 13: Resposta do aluno [T110] para a equação 2b - 30 = 0

Figura 14: Resposta do aluno [T212] para a equação 2b − 30 = 0

Figura 15: Resposta do aluno [T215] para a equação m + 6 = 5

Figura 16: Resposta do aluno [T113] para a equação m + 6 = 5

Page 73: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

73

A equação 8 = 6 − c foi resolvida corretamente por sete alunos e a

equação 10 + 4w = 5 por seis. As soluções corretas foram realizadas somente

por regras, como apresentado nas Figuras 17 e 18.

Figura 17: Resposta do aluno [T203] para a equação 8 = 6 − c

Figura 18: Resposta do aluno [T215] para a equação 10 + 4w = 5

A equação 2d + 10 = 60 foi resolvida corretamente por 16 alunos (nove

por regras, e sete por busca de valores que validassem a equação), como

apresentado nas Figuras 19 e 20, enquanto a equação + = não foi

resolvida corretamente por nenhum aluno, indicando, provavelmente, que o fato

desta ser uma equação contendo fração pode ter sido um fator agravante de

dificuldade.

Figura 19: Resposta do aluno [T211] para a equação 2d + 10 = 60

Figura 20: Resposta do aluno [T217] para a equação 2d + 10 = 60

Page 74: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

74

Colocamos, no instrumento 1, duas equações quadráticas de avaliação

para que pudéssemos verificar quais seriam os possíveis meios de resolução

adotados por esses alunos, obtendo, desse modo, pelo menos uma das raízes

corretas para as equações. Na equação w² = 9 sete alunos (dois por

procedimentos matemáticos e cinco por busca de valores que validassem a

equação) encontraram uma raiz; na equação (m + 1)² = 4, treze alunos

encontraram uma raiz e o fizeram por substituição. Nenhum aluno resolveu

usando regras. As formas de resolução adotadas pelos alunos estão

representadas nas Figuras 21, 22 e 23.

Figura 21: Resposta do aluno [T109] para a equação w² = 9

Figura 22: Resposta do aluno [T120] para a equação w² = 9

Figura 23: Resposta do aluno [T120] para a equação (m + 1)² = 4

As equações quadráticas foram desenvolvidas, em sua maioria, por busca

de valores que validassem a equação. Essas equações fizeram parte do

instrumento 1 para que pudéssemos observar quais seriam os procedimentos

adotados pelos alunos, mas não foram decisivas no momento da seleção dos

alunos que participariam da segunda parte da nossa pesquisa.

Page 75: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

75

Acreditamos que apenas as resoluções das equações talvez não fossem

suficientes para compreendermos a forma de resolução adotada pelos alunos,

por isso pedimos que eles justificassem a forma como pensaram ao resolver as

equações ou o porquê de não conseguirem resolvê-las. Porém, isso não foi de

grande valia, pois as justificativas apresentadas pelos alunos foram do tipo

“descreveu os procedimentos”, “não justificou”, “foi assim que aprendi”, “pensei

desse jeito”, “não sei resolver”, “não resolvi porque tinha fração” e essas

justificativas não demonstram se os alunos sabem só os procedimentos ou

também os conceitos, por este motivo, consideramos apenas a forma como os

alunos resolveram as equações lineares.

Após as análises das resoluções pertencentes ao primeiro instrumento,

selecionamos seis alunos pertencentes à turma T1, sendo dois alunos que

resolveram por regras e quatro alunos que resolveram tanto por regras quanto

por substituição, o que denominamos resolução mista, e quatro alunos da T2

(dois somente por regras e dois por regras e substituição), totalizando dez

alunos que participariam da segunda fase da nossa pesquisa. Selecionamos os

alunos que sabiam resolver as equações lineares para vermos quais seriam os

procedimentos adotados por eles na resolução das equações quadráticas do

segundo instrumento de coleta de dados, e se, diante dessas resoluções,

haveria evidências de um corte didático na passagem de resolução de lineares

para quadráticas.

A principal característica tomada como critério de seleção dos sujeitos

para a segunda fase da pesquisa foi a utilização correta de procedimentos de

resolução de equações lineares. Os alunos selecionados não acertaram todas

as equações, mas demonstraram conhecimentos dos procedimentos que

deveriam ser adotados nas resoluções das lineares. Dos alunos selecionados,

três resolveram corretamente as equações quadráticas pertencentes a esse

primeiro instrumento de coleta de dados.

Page 76: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

76

Organizamos os dez alunos em quatro grupos cujas características de

resolução adotadas, nas equações lineares, foram semelhantes: regras

(procedimentos matemáticos) ou misto (regras e avaliação, por intermédio de

busca de valores que validem a equação). A divisão dos grupos foi feita da

seguinte forma: dois grupos com dois componentes, um de cada turma (T1 e

T2), e dois com três componentes, sendo um grupo com dois componentes

pertencentes a T2 e um a T1 e outro grupo com os três componentes

pertencentes a T1.

3.3 INSTRUMENTO 2: AS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS E A ENTREVISTA

REFLEXIVA SEMI-ESTRUTURADA

Nosso objetivo, com esse segundo instrumento de coleta de dados, é

compreender quais são os procedimentos utilizados pelos alunos ao resolverem

as equações quadráticas, sem terem conhecimento prévio sobre esse conteúdo-

pois ele é visto no 9º ano- e verificar a existência ou não de um corte didático

das equações lineares para as quadráticas. Para isso, após analisarmos as

respostas dadas pelos alunos das duas turmas do 8º ano, nas equações

pertencentes ao primeiro instrumento, selecionamos, dos 40 alunos que

participaram da primeira fase, dez alunos e os subdividimos em grupos com

características semelhantes de resolução, por regras (procedimentos

matemáticos) ou misto (regras e avaliação, na qual o aluno faz a substituição de

valores que transformam a equação em verdadeira).

Assim como Filloy e Rojano (1989), que em sua pesquisa selecionaram os

sujeitos que sabiam resolver equações aritméticas, para identificar dificuldades

Page 77: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

77

na transposição dessas equações para as equações não-aritméticas,

selecionamos os alunos que sabiam resolver as equações lineares para vermos

se, diante das equações quadráticas, haveria um corte didático na passagem da

resolução de lineares para quadráticas. Na seleção dos alunos para essa

segunda fase da pesquisa utilizamos como critérios, a forma de resolução que

eles adotaram nas equações lineares e a quantidade de acertos que estes

tiveram.

Cabe reafirmar que o fato de esses sujeitos terem ou não resolvido as

equações quadráticas pertencentes à primeira coleta de dados não influenciou

na seleção dos mesmos, pois colocamos essas equações para termos noção de

como os alunos se comportariam diante delas, sem prejuízo de seleção. Porém,

apesar de não servirem para a seleção, estas equações foram importantes para

termos conhecimento da postura dos alunos diante destas.

A aplicação do instrumento 2, intitulado “As equações quadráticas e a

entrevista reflexiva semi-estruturada”, contendo quatorze equações quadráticas,

foi realizada no fim do segundo semestre, em dias diferentes para os quatro

grupos. Esta aplicação teve duração aproximada de duas horas para cada

grupo. As equações quadráticas, pertencentes ao segundo instrumento, foram

elaboradas contemplando características dos Três Mundos da Matemática

(corporificado, simbólico e formal) bem como a classificação que usamos de

equação de avaliação e de manipulação e, desse modo, as equações já

estavam prontas antes de selecionarmos os sujeitos que participariam dessa

segunda fase.

A aplicação desse segundo instrumento foi realizada por meio de

entrevistas reflexivas semi-estruturadas. A entrevista reflexiva, segundo Yunes e

Szymanski (2005, p.1), é “um método dinâmico e interativo para obtenção de

informações”, permitindo-nos compreender o que está emergindo das

discussões dos componentes dos grupos durante a resolução das equações

quadráticas, pertencentes a esse segundo instrumento de coleta de dados. A

Page 78: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

78

entrevista semi-estruturada é aquela em que o pesquisador possui um roteiro

básico, que pode ser extrapolado. Isso indica que o mesmo não precisa ser

aplicado rigidamente, mas permite que o pesquisador faça as adaptações que

julgar necessárias.

A escolha pela entrevista reflexiva semi-estruturada foi feita pelo fato de

existir a possibilidade de interagirmos com os sujeitos da pesquisa, organizados

em grupos, e questionarmos as formas de resolução apresentadas para as

equações, questionando sobre os procedimentos utilizados, buscando

compreender as motivações para usar este ou aquele processo de resolução, no

decorrer das discussões emergidas nos grupos, possibilitando-nos a análise dos

procedimentos utilizados por estes sujeitos no momento em que cada um

expunha suas idéias e formas de raciocinar para os colegas de grupo. Essas

entrevistas foram áudio-gravadas para que pudéssemos, após as atividades em

grupo, compreendermos e identificarmos características de resolução comuns a

todos os grupos.

Selecionamos quatorze equações quadráticas, divididas em dez de

avaliação, apresentadas no Quadro 4: Equações Quadráticas de Avaliação, e

quatro de manipulação, apresentadas no Quadro 5: Equações Quadráticas de

Manipulação. Nove equações de avaliação têm como solução números inteiros e

uma um número racional, enquanto das quatro de manipulação, duas possuem

como solução número inteiro, uma um número racional, e uma irracional. A

opção por essas equações deve-se ao fato dos alunos não terem conhecimento

das resoluções das equações quadráticas, pois este não faz parte do conteúdo

programático do 8º ano. Acreditamos que as equações de avaliação seriam

resolvidas mais facilmente do que as equações de manipulação; por este

motivo, o instrumento 2 apresenta uma quantidade maior de equações de

avaliação do que as de manipulação.

Page 79: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

79

Quadro 4: Equações Quadráticas de Avaliação

Quadro 5: Equações Quadráticas de Manipulação

Acreditamos que os alunos encontrariam um meio de resolver as equações

quadráticas de avaliação e as de manipulação sendo a segunda desenvolvida

provavelmente, segundo a pesquisa de Lima (2007), inicialmente, por métodos de

resolução adotados nas equações lineares, pois essa resolução pertence aos “já-

encontrados” deles.

Page 80: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

80

3.3.1 Gerenciamento das equações quadráticas

Os dez alunos selecionados para a segunda fase desta pesquisa foram

organizados em quatro grupos denominados A, B, C e D, divididos em três

componentes nos grupos A e D e dois nos grupos B e C para participarem da

entrevista reflexiva semi-estruturada, que foi aplicada pela pesquisadora no

contra turno19 das aulas dos alunos e com duração aproximada de duas horas

cada entrevista. Nosso objetivo, nesse segundo instrumento, era analisar como

esses grupos agiriam diante de equações quadráticas, quais seriam os

procedimentos utilizados e quais discussões emergiriam entre os componentes

dos grupos. Por este motivo, cada grupo foi entrevistado isoladamente, para que

as discussões e as conclusões de um grupo não interferissem nas dos outros

sendo as entrevistas áudio-gravadas.

Para a montagem dos grupos, unimos os alunos selecionados diante das

características semelhantes de resolução usadas nas equações lineares,

pertencentes ao instrumento 1 “Equações lineares e quadráticas”, pois alguns

estudantes resolveram as equações buscando valores que validassem as

equações, trocando a incógnita pelo valor que transforma a equação em

verdadeira, como feito pelo aluno [T113] na equação m + 6 = 5 (Figura 24), que

chamamos de “substituição”, enquanto outros utilizaram “regras”, usando

procedimentos matemáticos, indicando que procuraram resolver seguindo um

roteiro de resolução conhecido por eles, como realizado pelo aluno [T116] na

equação 2d + 10 = 60 (Figura 25).

19

Fora do horário de aula na qual o aluno está matriculado.

Page 81: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

81

Figura 24: Resolução por "substituição” realizada pelo aluno [T113] para a equação m + 6 = 5

Figura 25: Resolução por "regras" realizada pelo aluno [T116] para a equação 2d + 10 = 60

Organizamos os dez alunos selecionados em quatro grupos (A, B, C e D)

com características próprias para que pudéssemos identificar semelhanças e

diferenças no processo de resolução das equações quadráticas em cada grupo.

Nas análises que faremos diante das respostas dadas às equações

pertencentes ao instrumento 2, verificaremos se esses alunos resolvem com

procedimentos semelhantes aos que usaram para resolver equações lineares.

O grupo A, composto por três alunos (um da T1 e dois da T2) e o grupo C

por dois (um da T1 e um da T2), foram formados por sujeitos que possuíam as

mesmas características de resolução (“regras”), procedimentos matemáticos. É

importante ressaltar que todos os componentes desses grupos não resolveram

nenhuma equação do primeiro instrumento por “substituição”. Os demais grupos,

B e D, compostos por dois alunos (um da T1 e um da T2) e três alunos (todos da

T2) respectivamente, foram formados por alunos que apresentaram como

características de resolução “regras” e “substituição”. Esses grupos foram

denominados por nós como grupos mistos, pois utilizaram duas formas de

resolução para as equações lineares. Acreditamos que formar um grupo misto

Page 82: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

82

poderia trazer discussões interessantes sobre os procedimentos que esses

alunos encontrariam para resolverem as equações quadráticas, evidenciando

características dos três mundos da matemática.

Ao entregarmos as equações quadráticas aos grupos, foi explicado que

eles procurassem resolvê-las da melhor maneira que conseguissem, sempre

com o objetivo de chegarem a uma conclusão sobre o valor da incógnita.

Também foi dito que não nos focaríamos em observar se as respostas dadas por

eles eram certas ou erradas, mas sim que estávamos interessados em

compreender como eles buscavam soluções para um assunto do qual eles não

tinham conhecimento prévio.

Nessa segunda fase da nossa pesquisa, foram entregues aos grupos as

quatorze equações, uma de cada vez, em uma ordem que consideramos ser de

crescente dificuldade, para que pudessem resolver sem se preocupar com a

quantidade de questões que seriam apresentadas a eles nem com as

dificuldades que poderiam apresentar, podendo haver uma desestimulação por

parte dos integrantes dos grupos. Não foi determinado, previamente, nenhum

redator dentro do grupo, porém cada um adotou uma forma de registro das

respostas. Enquanto em um grupo uma única pessoa assumiu o lápis e o papel,

registrando as respostas das equações diante das discussões de resoluções,

em outro, a folha passava pelas mãos de todos, conforme a necessidade de

anotação dos procedimentos adotados. Somente a folha com a equação ficou

em poder dos alunos do grupo, não existindo nenhuma folha de rascunho, o qual

era feito, conforme a necessidade, na própria folha de resolução. Optamos pelos

grupos rascunharem na mesma folha das equações para evitar que alguns

componentes buscassem soluções individualmente para as equações, sem

verificarem se os procedimentos adotados no desenvolvimento das equações

seriam compartilhados pelos demais componentes do grupo.

Para a entrevista, organizamos e caracterizamos os sujeitos selecionados

em grupos como descrito na Tabela 2.

Page 83: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

83

Grupos

Características

A

Predileção pelos procedimentos (regras)

B

Resolveram por procedimentos e substituição (misto)

C

Predileção pelos procedimentos (regras)

D

Resolveram por procedimentos e substituição (misto)

Tabela 2: Organização e características dos grupos

No decorrer da entrevista, foram feitas algumas perguntas com o objetivo

de elucidar as dúvidas quanto ao uso de um procedimento específico de

resolução, tais como “Como vocês resolveram?”, “Vocês estavam tentando por

distributiva?”, “Qual a outra forma [de resolução] que vocês utilizaram?” ,

“Existiria outro valor além de quatro? Algum valor negativo?”, “Existe algum

outro valor para x?”, “Algum número fracionário? Ou negativo?”, dentre outras. A

partir dessas perguntas, buscamos compreender as motivações de o grupo ter

adotado essa ou aquela resolução como válida. As perguntas da entrevista,

apesar de pertencerem a um roteiro básico, podem ser extrapoladas conforme a

necessidade de maiores esclarecimentos e/ou informações a respeito dos

procedimentos adotados pelos grupos. As intervenções ocorridas na entrevista

foram feitas com o intuito de compreender as motivações que levaram os alunos

a pensarem na forma de resolução que usaram para resolver cada questão.

Acompanhamos a resolução de cada uma das equações, pedindo aos

alunos que explicassem os motivos pelos quais adotaram essa solução. As

conversas e as atitudes gestuais dos grupos selecionados foram observadas e

as discussões áudio-gravadas para que pudéssemos analisar os procedimentos,

as reflexões, as divergências e as concordâncias utilizadas por estes, e,

posteriormente, transcritas e analisadas à luz do quadro teórico dos Três

Mundos da Matemática.

Page 84: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

84

3.3.2 Procedimentos de análise dos dados

Para analisarmos os dados coletados, faremos uma discussão dos

procedimentos adotados pelos grupos em cada equação, comparando esses

procedimentos usados nas equações quadráticas com os adotados por esses

mesmos alunos nas equações lineares, observado se a predileção pela forma de

resolução se mantém, e também como os alunos resolverão as equações de

avaliação e as de manipulação, buscando evidências de um corte didático entre

as equações lineares e as equações quadráticas.

Após o levantamento dos tipos de respostas, faremos uma classificação

que será analisada à luz do quadro teórico dos Três Mundos da Matemática,

identificando quais características de resolução emergem das discussões dos

grupos, e quais características dos Três Mundos da Matemática surgem nas

resoluções das equações quadráticas. Por fim, analisaremos semelhanças e

diferenças nas resoluções das lineares e das quadráticas na busca da

existência de um corte didático entre as equações lineares e as equações

quadráticas.

Essa análise, que será apresentada no Capítulo 4, teve como objetivo

identificar as características dos Três Mundos da Matemática (corporificado,

simbólico e formal), presentes nas resoluções dos grupos, com o intuito de

analisar como eles trabalham com equações quadráticas, tendo conhecimentos

das resoluções das equações lineares, bem como, a verificação da existência de

um corte didático das equações lineares para as quadráticas, por meio de

semelhanças e diferenças no processo de resolução das mesmas.

Page 85: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

85

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, responderemos às perguntas norteadoras de nossa

pesquisa

Quais são os procedimentos de resolução que alunos de 8º ano utilizam

ao resolverem as equações quadráticas, sem terem prévio conhecimento

do conteúdo?,

Quais características dos Três Mundos da Matemática surgem na

resolução das equações quadráticas? e

É possível caracterizar um Corte Didático na transição das equações

lineares para as equações quadráticas? ,

Para isso, apresentamos a análise dos dados coletados com as

entrevistas, feita à luz dos Três Mundos da Matemática, observando os

procedimentos utilizados pelos componentes dos grupos e as justificativas

dadas por eles. Procuramos também identificar os “já-encontrados” usados

pelos estudantes durante as entrevistas.

A análise foi feita a partir da transcrição das entrevistas reflexivas semi -

estruturadas, nas quais os grupos descreveram a forma como resolveram as

equações. Buscamos, em posse desses dados, identificar características dos

Três Mundos da Matemática na primeira vez que esses alunos trabalharam com

equações quadráticas.

Page 86: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

86

4.1 ANALISANDO AS RESOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS

A análise das resoluções apresentadas por estes alunos para as

equações quadráticas será apresentada por conjuntos de equações cujas

características de resolução adotadas pelos grupos consideramos semelhantes.

Os grupos adotaram formas parecidas de resolução em algumas equações, com

diferenças em alguns procedimentos, o que será explorado no decorrer da

análise.

Durante a resolução das equações, houve diversas discussões e

divergências por parte dos componentes dos grupos quanto à forma de

resolução que deveriam adotar. Em alguns momentos, os alunos não chegavam

a um consenso, sendo necessária a releitura da questão e a comparação com a

forma de resolução das equações lineares. Essas comparações surgiram dos

próprios elementos dos grupos; a pesquisadora interveio apenas com

questionamentos sobre os procedimentos usados por eles, na tentativa de

compreender a forma de resolução utilizada pelos alunos sujeitos da pesquisa.

As primeiras equações foram resolvidas mais rapidamente, talvez pelo

fato de serem equações de avaliação incompletas, o que pode ter facilitado o

trabalho dos grupos na busca de valores que satisfizessem a igualdade. As

últimas, categorizadas por nós como equações quadráticas de manipulação e

completas, foram resolvidas com mais dificuldade; provavelmente não somente

pelo fato de serem de manipulação e exigirem o manuseio da incógnita, mas

também por serem diferentes das equações que os componentes dos grupos

conheciam.

Page 87: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

87

4.2 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO

As equações que classificamos como de avaliação foram classificadas

dessa forma pela natureza das equações. Porém, o indivíduo não precisa

obrigatoriamente vê-la com essa característica, isto é: apesar dessas equações

estarem classificadas como avaliação, o aluno pode resolvê-las como se fossem

de manipulação.

Havia dez equações de avaliação dentre as equações apresentadas aos

alunos. Nessa seção, analisaremos os procedimentos usados pelos grupos para

resolvê-las.

4.2.1 Equações e

Os grupos A, B e D desenvolveram as equações e de forma

similar às apresentadas nas Figuras 26 e 27, enquanto o grupo C avaliou de

forma diferente dos outros grupos, como pode ser visto na Figura 28 e Figura

29.

Page 88: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

88

Figura 26: Resposta da equação x² = 9 apresentada pelo grupo A

Figura 27: Resposta da equação 4 = x² apresentada pelo grupo D

Figura 28: Resposta da equação x² = 9 apresentada pelo grupo C

Figura 29: Resposta da equação 4 = x² apresentada pelo grupo C

Nas respostas apresentadas, observamos que os grupos A, B e D

resolveram as equações e , avaliando e procurando um valor que

satisfizesse a igualdade, tal como apresentado nas Figura 26 e Figura 27,

enquanto o grupo C resolve utilizando procedimentos, como a extração da raiz

quadrada, encontrando a raiz positiva, e o conceito de potenciação para

encontrar a raiz negativa, como apresentado nas Figura 28 e Figura 29.

Podemos observar que os alunos, ao buscarem meios de resolver essas

equações, cometem alguns erros. Primeiramente, podemos destacar os erros de

notação, considerando que os alunos não colocam parênteses para mostrar que

Page 89: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

89

estão, por exemplo, elevando ao quadrado como na Figura 29. Além desse

tipo de erro, os alunos também cometem erro conceitual ao extraírem a raiz

quadrada de ambos os membros da equação, e encontrarem que é igual a 2

(Figura 29). Ao extrair a raiz quadrada de , os alunos deveriam chegar ao

resultado no primeiro membro, e 2 no segundo, resultado da extração da raiz

quadrada de 4. De nossa experiência como professora, percebemos tanto em

sala de aula quanto em observação em livros didáticos, que talvez, não

é um conhecimento que esses alunos tenham. Dessa forma, tal erro conceitual

aparecerá durante toda a coleta de dados, e por isso mesmo, não estaremos

continuamente repetindo que ele ocorre. Percebemos, então, que “desfazer as

operações” no caso da extração da raiz quadrada, incorre um erro conceitual, e,

talvez, não seja adequada para a resolução de equações quadráticas.

Na equação , os grupos A, B e D, ao encontrarem a raiz positiva,

aparentemente, se dão por satisfeitos e não procuram outra raiz. Nas

entrevistas, quando foi questionado aos componentes dos grupos A, B e D se

haveria outra solução para esta equação, estes, após pensarem durante alguns

instantes, concluíram que não, porém sem apresentar nenhuma justificativa,

como visto no trecho da entrevista20 do grupo A.

A02: Então.... x² = 9 e como não tem nenhum número antes do x... A03: o quê? [Todos falam ao mesmo tempo e eles próprios não conseguem se entender nesse momento] A02: Não... fala aí...repete. A03: Eu acho... não sei também. Vamos pela lógica? A02: E qual que é a lógica? A03: Talvez o 3 [O grupo pára para pensar na questão] A02: Não... vamos pelo raciocínio lógico mesmo... Então o x é três. Três vezes três... P: Existe outro número que satisfaça essa equação, ou somente o três satisfaz? A02: Somente o três. P: Então somente o número três satisfaz a equação? A03: é...

(Trecho da entrevista com o grupo A, para a equação x² = 9)

20

Nas apresentações dos trechos das entrevistas, a fala dos alunos será indicada por uma letra e um número, em que a letra refere-se ao grupo do qual o aluno faz parte, e o número refere-se ao aluno dentro do grupo, por exemplo, A01 refere-se ao aluno 1 pertencente ao grupo A. P refere-se à fala da pesquisadora.

Page 90: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

90

Como podemos ver na fala do grupo A durante a entrevista, ao ser

perguntado se haveria outro valor que satisfizesse a equação, A02 responde

que “somente o 3 satisfaz a condição”, referindo-se ao fato de que, na visão do

grupo, somente o 3 valida a equação. Diferentemente dos outros grupos, o

grupo C admite duas soluções para a equação (3 e −3), mostrando, talvez, que

os componentes do grupo percebem que a equação pode ter duas raízes,

apesar desta ser encontrada, novamente, com erros de notação referenciados

acima, sobre o não uso dos parênteses ao se elevar um número negativo ao

quadrado.

Na análise da equação , os componentes dos grupos A e B mantêm

a mesma postura de admitir somente uma raiz como verdadeira. Com os

componentes do grupo D, ocorre uma mudança de postura, pois eles parecem

perceber que poderia existir outro valor que satisfizesse a igualdade, como visto

na Figura 30 e no trecho da entrevista.

D01: Essa aí dá dois! D02: pode ser também, é..., −2. D03: é, pode ser −2. Menos com menos dá mais. D02: é. P: Qual valor vocês encontraram? D01: 2 e −2 P: Nenhum outro número? ... D01 e D02: acho que só esses! P: Como vocês encontraram esses dois números? D03: Bom, dois vezes dois dá quatro e −2 com −2 também dá quatro, então são só esses números.

(Trecho da entrevista com o grupo D, para a equação )

Na Figura 30, podemos ver que o grupo D admite que a equação pode ter

duas raízes, uma positiva e outra negativa, confirmada no trecho da entrevista

apresentado, na fala do aluno D03 “pode ser −2... menos com menos dá mais”.

Page 91: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

91

Figura 30: Resposta da equação apresentada pelo grupo D

A forma de resposta apresentada pelo grupo C, nas duas equações, é

diferente das apresentadas pelos outros grupos, pois este resolve desfazendo

as operações, como podemos verificar na Figura 31 e no trecho da entrevista,

citado a seguir.

Figura 31: Resposta da equação apresentada pelo grupo C

C01: x² = 9. C02: 3 ao quadrado. 3 ao quadrado é nove. C01: ahã...[concordando] C02: Porque o inverso do quadrado é a raiz e raiz quadrada de 9 é 3 P: Qual valor vocês encontraram? C01: x é igual a 3 P: Como vocês encontraram a resposta? C01: Fizemos o inverso do quadrado... aí encontramos o número 3, pois a raiz de 9 é 3. P: Existe outro valor, negativo ou fracionário que satisfaça a equação? C02: o −3

(Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação x² = 9)

Na Figura 31, podemos verificar que o grupo resolve a equação x² = 9

desfazendo a operação quando faz “x = 9, x = ”, confirmada no trecho da

entrevista, quando C02 diz “o inverso do quadrado é a raiz quadrada”. Porém,

no ato de “desfazer” as operações nas equações quadráticas , o aluno acaba por

Page 92: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

92

cometer o mesmo erro conceitual relacionado à , como já descrito na análise

das equações e , caracterizando dificuldades relacionadas ao

mundo formal.

Este é o único grupo que assume, nas duas equações, duas raízes como

solução. A nós parece que os componentes do grupo começam a compreender

que equações quadráticas possuem duas raízes, e já utilizam alguns

procedimentos de resolução justificando esse uso por justificativas, tais como

“−2 ao quadrado é quatro também”.

Na entrevista, quando questionados se poderia existir outra raiz como, por

exemplo, negativa ou fracionária para a equação , os componentes do

grupo C respondem que essa seria o −2. Mesmo que incorretamente, o grupo

percebe uma raiz, por intermédio de busca de valores, fazendo alguma

avaliação. Talvez o questionamento feito pela pesquisadora possa ter

influenciado na busca de duas raízes como solução, mas estes alunos parecem

perceber que, de alguma forma, a equação pode assumir dois valores. Para

confirmar sua resposta, o grupo substituiu o valor −2 na incógnita, apesar de

cometer erros de notação, como vemos no trecho da entrevista abaixo e na

Figura 32:

C02: é a mesma coisa. [referindo-se a equação ] C01: como assim? C02: vai dar 2 e −2... A raiz quadrada de 4 é 2. C01: certo. C02: e −2 ao quadrado é quatro também C01: ahã... P: Então quais valores vocês encontraram? C02: 2 e −2 P: Existe alguma outra solução? Um número fracionário? C02: não... [O aluno C01 concorda acenando com a cabeça]

(Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação )

Page 93: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

93

Figura 32: Resposta da equação 4 = x² apresentada pelo grupo C

“Já-encontrados”

Nas resoluções apresentadas, podemos observar que os alunos utilizam

como “já-encontrados” os conceitos de potenciação e raiz quadrada, regras de

sinal, multiplicação de números inteiros positivos e negativos e o encontro de

uma única raiz (um único valor que satisfaça a equação mesmo que por

procedimentos errôneos) esta justificada, talvez, pelo fato de os alunos

possuírem somente conhecimentos relacionados a equações lineares.

Os componentes do grupo C apresentam resoluções diferentes daquelas

apresentadas pelos demais grupos, pois utilizam os conceitos de extração de

raiz quadrada, enquanto os grupos A, B e D utilizam os conceitos de regra de

sinais de inteiros e multiplicação de números inteiros positivos e negativos ,

porém, a multiplicação de inteiros negativos só ocorre no grupo D na equação

, diferentemente do que fizeram os grupos A e B, que multiplicaram os

inteiros positivos.

Page 94: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

94

4.2.2 Equações

Os grupos A, B e D resolveram a equação de forma similar à

apresentada na Figura 33, enquanto o grupo C resolveu como podemos ver na

Figura 34. Nas equações , os grupos A e D resolveram

de forma semelhante às Figuras 35 e 36 e os grupos B e C resolveram de forma

similar às Figura 37 e Figura 38.

Figura 33: Resposta da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo A

Figura 34: Resposta da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo C

Figura 35: Resposta da equação x² − 25 = 0 apresentada pelo grupo A

Figura 36: Resposta da equação x² - 4 = 12

apresentada pelo grupo A

Page 95: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

95

Figura 37: Resposta da equação x² − 25 = 0 apresentada pelo grupo B

Figura 38: Resposta da equação x² - 4 = 12 apresentada pelo grupo C

Os grupos A, B e D apresentaram respostas similares para a equação

. Esses grupos resolveram avaliando, procurando um valor que

validasse a equação (Figura 33), enquanto o grupo C resolveu avaliando de

forma diferente da apresentada pelos outros grupos, utilizando conceitos de

operação inversa, no caso, raiz quadrada e subtração (Figura 34), repetindo a

forma de raciocinar utilizada nas equações anteriores ( e ).

Observamos novamente que os erros relacionados à extração da raiz quadrada

de permanecem, sendo recorrentes em algumas equações.

Page 96: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

96

Na resposta da equação , o grupo B tentou resolver

inicialmente por “distributiva”21: distribuíram o expoente como se fosse uma

multiplicação por 2, obtendo , então resolveram como se fosse uma

equação linear, isolando a incógnita x, ficando , resultando em .

Ao perceberem que não daria certo (na concepção deles), buscaram solução

para a equação avaliando de forma diferente, procurando um valor que

satisfizesse a equação, como podemos observar na Figura 39 e no trecho da

entrevista:

Figura 39: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

B01: (x + 3)² = 49 B02: Podemos resolver por distributiva. B01: Como? B02: Assim ó. [o aluno liga os valores dentro dos parênteses com a potência 2]. B01: Mas não vai dar certo. Não dá para resolver assim. B02: Vamos usar o raciocínio. P: Vocês conseguiram usar a distributiva? B02: Não. P: Por quê? B01: Porque não podemos distribuir a potência. P: Como assim? B01: Não podemos colocar a potência em cima do x e do 3, temos que fazer de outro jeito. P: De que jeito? B02: Acho que repetindo os parênteses. Vai ficar mais difícil. P: Então de que jeito vocês irão resolver? B01: Usando o raciocínio mesmo. P: ok. [apagam o que tinham feito anteriormente]

21

Atribuímos o nome “distributiva” porque foi assim que os sujeitos do grupo justificaram sua forma de

pensar.

Page 97: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

97

B02: Bom, acho que o valor é o 4. B01: É. 4 + 3 é 7, e 7 ao quadrado é 49. [escrevem a conta na folha e verificam, por meio de substituição, se o valor é o correto] P: Então qual o valor que vocês encontraram para o x? B02: valor 4. P: Teria outro valor além do quatro? Algum valor negativo? B02: Poderia ser o -10, mas aí ficaria -7 e o resultado seria -49. B01: Então não tem. É só o 4 mesmo. P: Qual é a resposta então? B01: Somente o 4

(Trecho da entrevista com o grupo B, para a equação (x + 3)² = 49)

Pela entrevista, podemos observar que o grupo tenta resolver por um

processo semelhante à distributiva, isto é, “distribuindo” o expoente para os

termos dentro dos parênteses. Porém, percebendo que esse procedimento não

estaria correto, utiliza o conceito de potenciação e justifica que o processo

deveria ser escrever a multiplicação e multiplicar estes fatores.

Segundo a fala do aluno B02, esse procedimento seria mais difíc il, talvez pelo

fato de ter que trabalhar com a multiplicação entre os parênteses, então o grupo

decide resolver analisando e buscando um valor que satisfizesse a equação, o

que eles chamaram de “usando o raciocínio”.

O grupo C resolve a equação extraindo a raiz quadrada em

ambos os membros. Esse procedimento não é claro no protocolo de resposta da

equação (Figura 40), mas foi explicitado na entrevista, durante a resposta da

mesma.

Figura 40: Resposta da equação (x + 3)² = 49 apresentada pelo grupo C

[C01 e C02 parecem pensar um pouco antes de resolver a equação]

Page 98: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

98

C02: quase a mesma coisa [referindo-se a equação 4 = x²]. Tirando a raiz... C01: Encontramos o valor 4. P: Vocês chegaram ao resultado? C02: Sim. x = 4 P: Como chegaram ao valor 4? C02: Se tirarmos a raiz quadrada no dois lados, vamos ter x+3 igual à raiz de 49, que é 7! E aí passa o 7 pra lá e fica 7 − 3, que dá 4. Aí fica x = 4. P: tá jóia. E na concepção de vocês, vocês acham que existe outro número que satisfaça a condição? C01: não. (Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação (x² + 3) = 49)

Na análise da equação podemos notar que apesar do grupo

D ter encontrado o valor correto da raiz (Figura 41), a forma de raciocinar do

grupo não foi correta, como apresentado no trecho da entrevista:

Figura 41: Resposta da equação apresentada pelo grupo D

D01: 4 D02: 4 vezes 4. D03: ...e dá 49? D01: 4 vezes 4 dá 16 D02: 4 vezes 4 dá 16 e tem que dar 49! P: Como vocês estão pensando em resolver essa equação? D03: um número mais três, vezes ele... D02: duas vezes ele! D03: duas vezes ele, que tem que dar 49. P: Ok. E vocês já o encontraram? D01: Acho que é o 7 D03: 7 mais 3 D01: não... D03: não vai dar. Vai dar 10 D02: Não, é tipo 33 mais...

Page 99: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

99

D03: Não é não. Tem que ser um número mais 3, vezes esse número; duas vezes, é que vai dar 49 P: D02, você disse que é o 33, por que você pensou nele? D02: É tipo assim, 33 mais 3 elevado a 2 vai dar... agora já não sei.... [D02 rascunha algumas contas de multiplicação] D01: não! Tipo assim, 1 mais 3 D03: aí o resultado é 4. E 4 vezes 4... D01: e duas vezes 4... não vai dar, tem que ser mais ..... D02: 12 vezes 12 D03: não! Tem que somar 3... dá 15... não dá! D01: ...e 15 vezes 15 dá 30 D03: tem que ser maior, 19 vezes 19 [fazem a multiplicação e encontram como resultado 291] D02: vamos tentar com 17 D01: se deu alto, tem que ir baixando P: Encontraram o valor? D02: eu acho que tem que ser o 33 D01 e D03: Não, o valor é o 4. [D02 não discute e parece aceitar a resposta dos colegas] P: Qual número vocês respondem então? D02: O 4. P: Tem algum outro número que satisfaça a equação? D03: não.

(Trecho da entrevista com o grupo D, para a equação (x + 3)² = 49)

Durante a resposta da equação , os sujeitos do grupo

procuram valores que satisfaçam a equação, porém cometem erros de

multiplicação, tanto nos fatores ao multiplicarem as unidades e somarem as

dezenas, no caso de dois algarismos, quanto no conceito de potenciação ao

confundirem o expoente 2 com a multiplicação por dois, como por exemplo, na

fala do aluno D01, em que ele diz “15 vezes 15 dá 30”. No trecho da entrevista,

podemos perceber que os componentes do grupo não conseguem se entender

quanto à forma de resolução, o que não ocorreu nas equações anteriores

.

Observamos que, mesmo questionando os grupos se haveria outra raiz,

por exemplo, um número negativo ou fracionário, eles parecem resistentes a

procurarem e aceitarem outra raiz que satisfaça a equação, com exceção do

grupo C que, apesar de ter encontrado as duas raízes nas equações anteriores

, na equação não procuram outra solução.

Nessa equação, nenhum grupo encontra outra raiz, apesar de procurarem

outros valores.

Page 100: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

100

Já na equação , houve uma mudança de resposta no grupo B,

pois os componentes desse grupo tentam resolver procurando um valor que

satisfaça a equação e usando o procedimento da raiz quadrada, como visto na

Figura 42 e no trecho da entrevista citado a seguir.

[B02 lê a equação] B01: x = 5, pois 5 ao quadrado é 25 P: Teria outro valor além de x = 5? Algum valor negativo ou fracionário? B02: Aqui é possível x= −5, pois menos com menos dá mais. B01: Então é possível ter negativos nos outros problemas. B02: Sim... Acho que teria dado certo.... B01: Você pensou no −5. Como seria? B02: Resolvendo a equação assim [tirando a raiz] eu não conseguiria chegar no menos cinco, mas se pensar... acho que é lógica. Não pensei nisso antes. P: Mas utilizando o pensamento você conseguiria chegar ao menos cinco também. Ou não? B02: Sim... é só substituir o −5 aqui [mostra a incógnita] e fazendo a conta...[faz a conta ao lado demonstrando seu raciocínio] B01: É, −5 vezes −5 dá 25, pois menos com menos é mais, aí daria 25 e 25 menos 25 é zero. P: Então vocês acham que esta equação tem duas respostas: 5 e −5? B01 e B02: Sim.

(Trecho da entrevista com o grupo B, para a equação )

Figura 42: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

Enquanto nas equações anteriores o

grupo B admitiu somente uma raiz e resolveu buscando um valor que

satisfizesse a equação, nessa o grupo utilizou conceitos de raiz quadrada,

Page 101: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

101

verificando a resposta por meio da substituição do valor 5 na equação,

admitindo duas raízes como verdadeiras.

O grupo C mantém a mesma postura adotada nas equações anteriores,

utilizando os procedimentos de raiz e certificando-se de que a raiz satisfaz a

equação. Os grupos A e D continuam avaliando, buscando um valor que

satisfaça a equação, como visto na Figura 35. Diferentemente do que ocorreu na

equação anterior, os componentes do grupo D encontram a raiz sem

apresentarem dificuldades, como apresentado no trecho da entrevista e na

Figura 43.

D01: esse... esse tem que dar vinte e cinco! D02: cinco... D03: cinco vezes cinco dá vinte... D02 e D03: vinte e cinco! D01: isso! Só ele, vejam... P: encontraram o valor? D01: é cinco! Resolvido! P: cinco, certo. Tem algum outro valor? Negativo? Fracionário? D02: pode ser menos cinco também, eu acho... D01: não... senão acho que...não daria certo [escrevem a equação substituindo o 5 na incógnita x] D02: só esse? D03: coloca o menos cinco também. D01: Acho que não vai dar certo. D02: O x não pode ser negativo....ou pode? P: Vocês acham que o x não pode assumir um valor negativo porque não tem negativo aqui [referindo à incógnita x²], ou não tem nada a ver? D01: não tem nada a ver P: Então vocês acham que o x pode ser negativo mesmo sem o sinal de menos aqui? [mostrando a incógnita x²] D01: isso! Eu acho que pode ser negativo P: vocês querem tentar então? D01: com sinais iguais o resultado vai dar positivo! D02: mas aqui, olha, é cinco vezes cinco e vai dar vinte e cinco... D03: e vai somar. Vai ficar menos vinte e cinco D02: não vai dar! D01: então é só o cinco! D02 e D03: isso! P: chegaram a algum acordo? D01: sim! É só o cinco P: mais nenhum número? Fracionário ou negativo? D01, D02 e D03: não!

(Trecho da entrevista com o grupo D, para a equação )

Page 102: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

102

Figura 43: Resposta da equação apresentada pelo grupo D

Ao receber a equação , o grupo D mostra certa segurança

para resolvê-la, diferente do que ocorreu na equação anterior .

Nessa equação, os componentes do grupo encontram uma das raízes e admitem

a possibilidade de haver uma outra raiz negativa, o que culmina com uma

tentativa de encontrá-la. Após encontrarem a raiz positiva, nesse caso o 5, os

componentes do grupo, em seguida ao questionamento da pesquisadora se

haveria outra raiz, tentam o −5, mas não admitem esse valor como raiz, apesar

do protocolo indicar que o grupo encontrou as duas raízes, mesmo com erro de

não colocar -5 entre parênteses. A justificativa é de que, na concepção do

grupo, esse valor não satisfaria a equação, porque na entrevista, o raciocínio do

grupo é de que a soma de dois valores negativos, gerará um valor diferente de

zero, o que não condiz, segundo eles, com a igualdade da equação.

Dos quatro grupos, somente o grupo A não busca outra raiz para a

equação, como podemos observar no trecho da entrevista abaixo:

P: E essa equação? A02: x² − 25... [A01 e A03 olham e parecem pensar na equação] A02: é o 5. [A01 e A03 concordam balançando positivamente a cabeça]

Page 103: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

103

P: Por que vocês acham que o 5 é o valor procurado? A01: Porque 5 vezes 5 é 25 P: E você A03 concorda com isso? A03: Sim. 25 menos 25 é zero, então é o 5 mesmo P: Vocês acham que teria outro número além do 5? [o grupo fica em silêncio, aparentemente procurando outro valor] A02: Não. P: Então é somente o 5 que satisfaz a equação? A01: É.

(Trecho da entrevista com o grupo A, para a equação x )

Na resposta da equação , apesar de o termo independente

ser diferente de zero, os componentes dos grupos A e D avaliam da mesma

maneira que as equações anteriores, buscando uma raiz que satisfaça a

equação. Já os grupos B e C resolvem usando a extração da raiz, mantendo a

mesma forma de resposta adotada nas equações anteriores

. Somente os componentes dos grupos

B e C admitem duas raízes, como podemos ver na Figura 44 e no trecho da

entrevista abaixo:

Figura 44: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

B01: B01: é o 2. 2 ao quadrado vale quatro. B02: −2 ao quadrado também é quatro B01: espera. Vamos isolar o x. Assim, olha. [B01 mostra para B02 como deveria ser isolado o x, descrevendo no ar a passagem do 4 para o segundo membro da igualdade] [B02 escreve o procedimento indicado por B01]

Page 104: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

104

B01: 12 mais 4 dá 16 B02: E raiz de 16... Ah! Vale quatro! Quatro e menos quatro! B01: isso. P: Quais valores vocês encontram? B01: 4 e −4

(Trecho da entrevista com o grupo B, para a equação )

O grupo B resolveu a equação usando a extração de raiz

quadrada. Inicialmente, o grupo isolou a incógnita, assim como feito na equação

, para depois extrair a raiz do resultado da soma de 12 com 4.

Nessa equação o grupo B admitiu as duas raízes, mas não substituiu na

incógnita para se certificar, diferentemente do que fez na equação .

“Já-encontrados”

Nas equações analisadas, observamos que os grupos adotam, assim

como nas equações , os conceitos de potenciação, raiz

quadrada, regra de sinal, multiplicação de números inteiros. A diferença é que,

nessas equações, com exceção do grupo A, os demais grupos admitem, em

algum momento durante a resposta das equações, duas raízes como

verdadeiras, independentemente dos valores encontrados estarem corretos ou

não, o que não ocorreu nas duas primeiras equações analisadas.

Nas equações somente o grupo C utilizava conceitos de

extração de raiz quadrada e conceito de resoluções de equação lineares, como

visto no trecho da entrevista, “x + 3 igual à raiz de 49, que é 7! E aí passa o 7

pra lá e fica 7 −3, que dá 4. Aí fica x = 4”, nas equações

, o grupo B apresenta uma mudança de postura,

adotando também os “já-encontrados” de raiz quadrada. Os grupos A e D

continuam resolvendo de forma similar ao que faziam anteriormente, avaliando e

buscando valores que satisfaçam a equação.

Um “já-encontrado” que podemos apontar como fator de dificuldade foi

apresentado pelo grupo D, na ausência dos parênteses quando estes estavam

resolvendo a equação . Na análise da entrevista e dos protocolos da

Page 105: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

105

equação , vemos que o grupo encontra a raiz −5 mas, no momento

de verificar se esta satisfaria a equação, não leva em conta que o valor deveria

estar entre parênteses, resultando na negação de uma segunda raiz, como

apresentado no trecho da entrevista:

D01: com sinais iguais o resultado vai dar positivo! D02: mas aqui, olha, é cinco vezes cinco e vai dar vinte e cinco... D03: e vai somar. Vai ficar menos vinte e cinco [referindo-se a soma de inteiros negativos] D02: não vai dar! P: Por que não vai dar? D02: Porque −25 com −25 dá −50 D01: então é só o cinco! D02 e D03: isso! P: encontraram o valor? D01: sim! É só o cinco P: mais nenhum número? Fracionário ou negativo? D01, D02 e D03: não!

(Trecho da entrevista com o grupo D, para a equação )

4.2.3 Equações

Podemos observar, nas análises dessas equações, que, apesar delas

apresentarem algumas características diferentes, como o termo independente

ser diferente de zero e a parte literal possuir coeficiente diferente de um, alguns

grupos mantiveram a característica de resposta semelhante à adotada nas

equações , o que não ocorre com

todos os grupos. Alguns grupos, no decorrer das resoluções das equações,

utilizam a extração de raiz quadrada e a aceitação de duas raízes como

resposta.

Os grupos A, B e D resolveram de forma semelhante às Figuras 45, 46 e

47, enquanto o grupo C resolve de forma diferente dos demais grupos, como

apresentado nas Figuras 48, 49 e 50

Page 106: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

106

Figura 45: Resposta da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo A

Figura 46: Resposta da equação 4x² - 36 = 0 apresentada pelo grupo B

Figura 47: Resposta da equação 4x² - 25 = 0, apresentada pelo grupo D

Figura 48: Resposta da equação 3x² = 27, apresentada pelo grupo C

Page 107: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

107

Figura 49: Resposta da equação 4x² - 36 = 0 apresentada pelo grupo C

Figura 50: Resposta da equação 4x² - 25 = 0 apresentada pelo grupo C

Page 108: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

108

As análises das resoluções apresentadas para a equação

mostram que os grupos A, B e D avaliam-na, procurando valores que satisfaçam

a equação. O grupo B, não satisfeito apenas em encontrar a raiz da equação,

extrai a raiz quadrada de 9 para se certificar de que o valor encontrado é

realmente aquele desejado, admitindo somente uma raiz, o que não ocorreu nas

equações para as quais o grupo encontra duas raízes.

Enquanto nas equações os

componentes do grupo D conseguiam se entender nos processos de resposta,

na equação , eles aparentemente não percebem que 3² resulta em 9. O

grupo chega a discutir o valor 9 como solução da equação, mas, durante a

resposta da mesma, os componentes do grupo não conseguem se entender,

pois alguns acham que deveriam multiplicar primeiro o valor encontrado por 3

para depois fazer a potenciação do resultado da multiplicação, não chegando a

um consenso, como visto na Figura 51 e apresentado no trecho da entrevista.

D01: acho que podemos tentar alguns valores... D02: quais? D01: acho que o 9 dá certo. D03: acho que não vai dar [olham novamente para a equação, aparentemente resolvendo-a mentalmente] D01: não! Ó, é 3 vezes isso aqui que dá 27 [mostra para os colegas o x] D02: 3 vezes 6 D01: não! Ó! É 3 vezes esse número aqui que dá 27 [mostra novamente a incógnita x] D02: e como vamos resolver então? [D03 tira o lápis do D01 e escreve o número 3] D03: ó, você colocou 3 aqui, e aí vai ser 9. 3 vezes 9 que dá 27 D02: e o 2? D03: 3 vezes quanto, que vezes 2 que dá 27? D01: Tenta o número 1,2. [D03 faz a multiplicação de 1,2 por 3 e em seguida, multiplica o resultado 3,6 por 3,6, encontrando o resultado 12,96] D02: Não deu certo... Então o número deve ser maior. Tenta o 1,5. [o grupo faz a multiplicação com o novo valor encontrando c omo resultado 20, 25] P: Vocês conseguiram encontrar o valor? D03: Nós tentamos vários números, mas nenhum deu certo... D02: Eu acho que o número é 1,5. P: Porque você acha que é esse número? D02: Porque tem que ser um número maior que 1,2 e 1,5 é maior. P: Qual número vocês responderão? D01: Acho que o 9 e o 1,5.

(Trecho da entrevista com o grupo D, para a equação 3x² = 27)

Page 109: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

109

Figura 51: Resposta da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo D

Durante a resposta dessa equação, observamos que dois componentes do

grupo parecem não compreender que a potência deve ser efetuada primeiro. O

aluno D03 encontra, mentalmente, o valor procurado, mas, ao tentar resolver a

equação, colocando no papel suas ideias de resposta, o grupo não consegue

resolvê-la, o que talvez possa ser justificado pelo fato dos alunos aparentarem

não compreender ou não se lembrar da ordem de resposta envolvendo

potenciação e multiplicação, fazendo com que estes tentem alguns números

Page 110: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

110

sem chegarem a uma conclusão correta. Na Figura 51, observamos que o grupo

anota o número 3, logo na primeira linha de resposta, mas não o admitem como

resposta.

A postura de resposta do grupo A permanece a mesma. O grupo chega a

discutir se haveria outra solução para as equações, mas acaba admitindo

somente uma raiz, o número 3, como apresentado na Figura 52 e no trecho da

entrevista do grupo A:

Figura 52: Resposta da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo A

A02: 3x² = 27 [Cada aluno pertencente ao grupo parece analisar a equação] A02: Então... é o sete. A01: ou o 4. A02: talvez o 4... Que número ao quadrado dá 27? Se fosse o 3 aqui... [referindo ao x] A03: seria aqui... 3 vezes... A01 e A02: é... 3 vezes o número que é ao quadrado dá 27. A02: 3... 3 vezes 3, 9 A01: 9 vezes 9.... A03: 81. [O grupo parece refletir sobre os valores encontrados] A03: Ai.... é o 9. A01: É o 3. 3 ao quadrado é 9 e 3 vezes 9 é 27. A02: 3 vezes 3 não dá 27... é 29. A01: 3 vezes..... A02: utilizo o 3... A01: é

Page 111: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

111

A02: 3 vezes 3... tem que multiplicar 3 vezes o x.. 3 vezes 3... A01: 9 A02: 9 ao quadrado... vai dar 81. A01: eu não to pensando assim.... A02: O x ao quadrado... o número.... Se fosse 9 daria. ... A02: O número aqui que multiplicado por 3 vezes x² dá 27. A01: que número ao quadrado... A02: que dá 27? A01: não... você entendeu o que eu falei? A02: não. A01: ó.... 3 vezes 3 ao quadrado é 27... [A01 pega a folha das mãos do colega e escreve sua forma de pensar]. 3 vezes 3 é... A02: 9. A01: 9 vezes 3 é igual a 27. Fica igual a 27. [A02 e A03 olham para a resposta encontrada e meneiam a cabeça positivamente] P: Vocês acham que exista outro número que satisfaça essa equação, como negativo ou fracionário? A02: negativo com negativo... multiplicando dá positivo... 3 negativo? 3 vezes 3.... vai dar 9, não é? A03: Menos 3, vezes.... A02: 3 vezes 3, vai dar o mesmo. Eu não sei se multiplicar negativo... A01: tem outro número negativo? A03: que dá 27? ... P: .... Na opinião de vocês, o x só pode ser, nessa equação o 3. A01, A02 e A03: é

(Trecho da entrevista com o grupo A, para a equação 3x² = 27)

Podemos observar, pelas discussões apresentadas na entrevista, que os

componentes do grupo analisam a equação mas não admitem duas raízes,

mesmo encontrando outro valor que satisfaça a equação, como podemos ver na

fala do aluno A02 “negativo com negativo... multiplicando dá positivo... 3

negativo?”.

O grupo C é o único grupo que admite duas raízes, como apresentado na

Figura 53 e na entrevista.

C01: 3x² = 27 C02: A gente tem que dividir o 27 por 3… C01: 27 dividido por 3... dá 9 [C01 escreve a divisão na folha] C02: a raiz de 9 é 3 C01: então o número é 3 e −3. P: Vocês acham que o x pode ser 3 positivo ou 3 negativo. Por que ele pode ser 3 positivo e 3 negativo? C01: por que o x é ao quadrado. E 3 vezes 3 é 9, e 9 vezes 3 dá 27 P: E no caso do 3 negativo?

Page 112: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

112

C01: aí é o mesmo com −3 P: Como assim? C01: −3 vezes −3 é... C02: 9, aqui [mostra o valor no papel] P: 9 positivo ou negativo? C02: 9 positivo. O x é 3 e -3 (Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação 3x² = 27)

Figura 53: Resposta da equação 3x² = 27 apresentada pelo grupo C

Nessa equação, 3x² = 27, o grupo C admite duas raízes, como nas

equações x = 9, 4 = x , (x + 3) = 49, x − 25 = 0, x − 4 = 12, resolvendo por

meio de procedimentos matemáticos, como a operação inversa da potenciação e

a extração de raiz, verificando a veracidade da raiz negativa encontrada, por

meio de substituição do valor encontrado na incógnita (Figura 53).

Para a equação 4x − 36 = 0, dois grupos admitem duas raízes, o B e o C,

enquanto A e D admitem somente uma raiz como resposta (o grupo A encontra

o valor correto), mesmo sendo perguntado se haveria outros valores que

satisfizesse a equação, apesar do grupo D ter admitido duas raízes nas

equações 4 = x² e x − 25 = 0. Diferentemente da postura adotada anteriormente

nas equações x² = 9, 4 = x², (x + 3)² = 49 e 3x² = 27, na equação 4x − 36 = 0 o

grupo B admite duas raízes, avaliando e buscando valores que satisfizessem a

equação, talvez pelo fato de ser perguntado ao término de cada equação se

haveria ou não outro valor que validasse a equação, como apresentado na

Figura 54 e no trecho da entrevista citado a seguir.

Page 113: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

113

Figura 54: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

[B01 e B02 olham para a equação, parecendo pensar sobre que valor substituir na incógnita] B01: 4 vezes quanto que dá 36? B02: 4 vezes seis...não. B01: é três B02: quatro vezes três é doze... B01: tem quadrado... é três ao quadrado... fica quatro vezes nove, que é trinta e seis. B02: ah! [B01 anota os valores discutidos] P: Vocês encontraram o valor de x? B01: É o três. P: Existe algum outro valor? Algum número fracionário? Ou negativo? B01: menos 3 B02: é! P: Por que vocês acham que é o −3? B01: Porque −3 vezes −3 é 9. P: Por que vocês escreveram , aqui em baixo? B02: ah... porque a gente encontrou o valor 3, então se 3 vezes 3 é nove, a raiz de 9 é três.

(Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação )

Os componentes do grupo B, após encontrarem as raízes (3 e −3)

trabalham com a incógnita isolada, como se fosse uma equação quadrática cujo

coeficiente é um. O aluno B01 escreve e desenvolve-a encontrando os

valores das raízes, como visto na Figura 54. Podemos observar que após

resolverem algumas equações e serem questionados se haveria outra raiz, esse

grupo admite duas raízes, essa atitude pode ser influência da entrevista, isto é,

considerando que a pesquisadora recorrentemente perguntou aos alunos se

Page 114: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

114

haveria outra raiz além da por eles encontrada em todas as equações

anteriores, o grupo acaba por admitir a possibilidade de existência de duas

raízes para as demais equações.

Na equação os grupos A e D não encontram a raiz que

satisfaça a equação, apesar de buscarem valores que acreditavam ser os

corretos. Os grupo B e C encontram as duas raízes, por formas diferentes de

avaliar, como veremos a seguir.

O grupo B encontrou as duas raízes, admitindo que estas possam ser

representadas tanto na forma decimal quanto na forma de fração, como

podemos ver na Figura 55 e no trecho da entrevista citado abaixo:

Figura 55: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

Page 115: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

115

B01: nossa! B02: quatro vezes quanto que dá vinte e cinco? B01: cinco... B02: aí é vinte B01: Não tem nenhum número que vai dar certo! [Ficam um tempo em silêncio parecendo pensar sobre quais valores utilizariam] P: vocês acham que algum número inteiro satisfaz a equação? B01 e B02: não. Isso está claro. P: Por que está claro? B01: Porque não tem nenhum número que multiplicado por 4 dá 25. P: Então que tipo de número vocês acham que tem que ser? B02: Não sei... B01: Vamos fazer com números com vírgula. B02: Tá. Qual então? B01: Põe aí o 4,5. B02: Não deu... B01: acho que se não tivesse o quatro aqui... [ficam em silêncio parecendo refletir sobre a equação] B01: Vamos diminuir então. Usa o 3,5. B02: Não deu também. B01: Diminui de novo. Vamos fazer com 0,5. B02: Ficou pouco... P: O que ficou pouco? B01: O resultado da multiplicação. P: Quais números vocês tentaram? B01: O 4,5 e 3,5 passaram B02: 0,25 do 0,5 ao quadrado, não chegou. [referindo-se ao resultado da multiplicação de 0,5 por 0,5] B02: Se 3,5 passou e 0,5 não chegou... [B02 faz a multiplicação de 2,5 por 2,5] B01: ah! Tá! 4,5; 3,5 e depois seria 2,5... B02: e é fracionário! B01: vai dar seis e vinte e cinco. Tem que ser um pouco maior... B02: ah! Precisa multiplicar por quatro. B01: tá! B01 e B02: Eeeee! Isso! P: Chegaram a alguma solução? Que número vocês usaram? B01: 2,5. Estávamos fazendo contas erradas. P: Fazendo conta errada? B01: é P: que tipo de conta errada? B02: a gente somava P: Como assim? B01: Ah! Em vez de elevar ao quadrado a gente tava somando o número! P: Então qual valor vocês acham que o x assume? B01: 2,5 P: vocês colocaram por decimal. Por fração vocês acham que daria a mesma coisa? B02: Dá sim... Veja, 2,5 é a mesma coisa que 25 dividido por 10. B01: hã? [B02 pega o lápis e mostra a fração] B01: olha... é mesmo! P: Vocês encontraram um número decimal e uma fração. Nenhum outro número?

Page 116: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

116

B01: pode ser negativo. B02: é, como nas outras. B01: Aí fica menos 2,5. [referindo-se a fração]. B01: menos com menos não dá mais? [referindo-se a potenciação] B02: -25 dividido por -10? Não fica o menos só no vinte e cinco? B01: certo! P: Então quais são os valores para a equação? B01 e B02: 2,5, menos 2,5, 25 por 10 e menos 25 por 10.

(trecho da entrevista do grupo B para a equação )

Nessa equação, o grupo B busca valores que satisfaçam a equação e

percebem que eles não poderiam ser números inteiros, porque não existe,

segundo o grupo, nenhum número inteiro que multiplicado por quatro dê 25. Os

dois componentes do grupo percebem que deveriam usar um número racional

para o valor da incógnita, admitindo que as raízes podem ser escritas como

números na forma decimal ou na forma fracionária.Assim, eles acreditam terem

encontrando duas raízes representadas de duas formas, decimal e fracionária.

O grupo C ao encontrar a raiz quadrada de um numero na forma decimal

não a desenvolve, talvez pelo fato desta ser de um número decimal , como

demonstrado na Figura 56 e no trecho da entrevista.

C02: 4x² − 25 = 0... C01: 4 vezes 6 dá 24! C02: é... C01: Não dá prá gente resolver assim. [referindo-se ao fato de substituírem um valor que satisfaça a equação]. C02: Vamos resolver do mesmo jeito que a outra... [referindo-se a equação 4x² − 36 = 0]. C01: Então tá. Passa o 25 prá lá e depois divide por 4. [C02 muda o número de termo e divide pelo número quatro]. C02: 25 dividido por quatro... não vai dar um número inteiro... deu 6,25. raiz de 6,25... C01: não sei... não tem. P: O que não tem? C02: A raiz quadrada desse aqui [aponta o número 6,25]. P: Qual foi o procedimento que vocês fizeram? C02: primeiramente a gente passou o 25 prá lá ... [mostra na folha a transposição do 25 para o segundo termo]. C01: E depois dividimos por quatro. P: Certo e depois? C02: E 25 dividido por quatro dá 6,25 e aí tiramos a raiz. P: Certo, e aí o x vale a raiz de 6,25? C02: Sim. P: E essa raiz vai ser negativa ou positiva? C02: Hã? C01: Positivo

Page 117: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

117

C02: Pode ser negativo também... Como nos outros, certo? C01: É... P: Então vocês acham que o valor encontrado pode ser positivo e negativo? C02: Sim, pode ser positivo e negativo, mas a gente não sabe como fazer a raiz. P: Por que? C02: Porque tem um número quebrado. [refere-se ao número ser decimal].

(Trecho da entrevista com o grupo C, para a equação )

Figura 56: Resposta da equação apresentada pelo grupo C

O grupo C percebe que pode-se encontrar uma raiz positiva e uma

negativa, porém apesar de demonstrarem conhecimentos dos procedimentos

que deveriam adotar para resolver a equação, não desenvolvem a raiz quando

percebem que a divisão dá um número racional, representado por um número

decimal, que pode ser percebido na fala do aluno C02 quando este diz “a gente

não sabe como fazer a raiz... Porque tem um número quebrado” .

Page 118: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

118

“Já-encontrados”

Nesse conjunto de equações de avaliação e

notamos que os grupos adotam como forma de resposta os

procedimentos de extração de raiz, potenciação, regra de sinal, multiplicação e

divisão de números inteiros, atuando como “já-encontrados”. Apesar de essas

equações possuírem coeficientes diferentes de um, os grupos as resolveram de

forma semelhante às do grupo anterior .

Somente os grupos B e C admitem duas raízes para algumas equações

apresentadas nesse conjunto. Porém o grupo D não encontrou as duas raízes

para as equações desse bloco apesar de “esbarrarem” nas respostas corretas,

diferentemente do que fizeram nas equações em que o

grupo encontra as raízes sem, aparentemente, apresentarem grandes

dificuldades e dúvidas.

No caso da equação acreditamos que os “já-encontrados” de

multiplicação e potenciação possam ter agido como um fator de dificuldade,

porque os componentes do grupo parecem não compreender que a potência é o

processo inverso da radiciação, como podemos ver na fala do aluno D03 “3

vezes quanto, que vezes 2 que dá 27” dando à potenciação o status de

multiplicação por dois. Ainda sobre o mesmo grupo, na equação o

grupo admite que o número seis deva ser substituído na incógnita, porém na

resposta podemos observar os “mal-rules” de erro de escrita (LIMA, 2007, p. 38)

na potenciação e multiplicação, como mostrado na Figura 57.

Page 119: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

119

Figura 57: Resposta da equação realizada pelo grupo D

Nessa equação, o grupo D eleva o valor seis ao quadrado e depois subtrai

o resultado de 36, encontrando o valor zero que multiplicado por quatro resulta

em quatro, apesar da fala do aluno D02 “4 vezes zero dá zero” ser diferente do

que está escrito, talvez por uma falta de atenção do aluno que anotou o

resultado. Os grupos A e D desenvolvem a equação repetindo a

mesma forma de resposta adotada pelo grupo D na equação anterior, incluindo

os mesmos “mal-rules”, como definidos no Capítulo 3.

Reflexões à luz dos três Mundos da Matemática

As equações quadráticas apresentadas nesta seção são equações de

avaliação, que podem ser resolvidas de duas maneiras: a partir da procura de

valores que satisfaçam a igualdade ou por intermédio de desfazer as operações

nela contidas. Dessa forma, os alunos não encontraram grandes dificuldades em

resolvê-las.

A partir da análise dos procedimentos de resposta adotados pelos alunos,

à luz dos Três Mundos da Matemática, observamos que dois grupos resolveram

unicamente avaliando a incógnita e percebendo o valor que esta deve assumir,

evidenciando características essencialmente pertencentes ao Mundo

Corporificado. O interessante é que um desses grupos havia priorizado a

resposta das equações lineares por intermédio de “regras” como descrito no

Page 120: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

120

Capítulo 3, mas adotou uma postura diferente frente às equações quadráticas.

Essa mudança de atitude pode estar relacionada com o fato do grupo conseguir

encontrar valores que satisfaçam a equação, mesmo que cometam erros

conceituais, como descrito no percurso das análises. Nosso intuito não era

trabalhar com alunos que já conhecessem a fórmula de Bhaskara. Entretanto,

talvez o conhecimento deste ou de algum outro procedimento de resolução de

equações quadráticas pudesse fazer com que eles não buscassem valores para

substituir no lugar da incógnita, mas sim continuassem com o seu

comportamento de usar procedimentos.

Somente um dos grupos adota como único meio de resposta desfazer as

operações, enquanto o último adota as duas formas de resposta

simultaneamente, como que para se certificar de que o valor encontrado estaria

correto. Os componentes desses grupos, em alguns momentos evidenciaram

corporificações procedimentais22, por exemplo, quando mencionaram, durante a

resposta das equações, a movimentação de um termo de um membro para o

outro, como podemos observar na fala “passa o 25 prá lá” do aluno C01, no

decorrer da resolução da equação . Por outro lado, os alunos

pertencentes aos grupos evidenciam característ icas do Mundo Formal quando

fazem referência ao formalismo das operações inversas, como visto na fala do

aluno C02 “porque o inverso do quadrado [potência] é a raiz e raiz quadrada de

9 é 3” ao justificar que usaria a raiz quadrada porque é a operação inversa da

potenciação. A característica de resolução dos grupos (o uso de procedimentos

matemáticos) perante as equações lineares e quadráticas permanece a mesma.

22

Corporificação Procedimental acontece quando “o aluno apenas movimenta termos de um

membro da equação para o outro, adicionando “toques mágicos” a essa movimentação (LIMA,

2007, p. 291).

Page 121: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

121

4.3 EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO

Analisaremos os procedimentos adotados pelos grupos ao se depararem

com as três equações quadráticas completas e uma incompleta. Essas

equações são de manipulação, pois, para serem resolvidas, faz-se necessária a

manipulação da incógnita.

4.3.1 Equações e

Os grupos A e B resolvem as equações avaliando-as e atribuindo valores

para as incógnitas. A diferença entre esses dois grupos é que o grupo A avalia a

equação após isolar as incógnitas, com exceção da equação ,

que o grupo optou por buscar o valor sem isolar as incógnitas. Apresentamos

abaixo, na Figura 58, uma equação resolvida pelo grupo A e o trecho da

entrevista realizada com o mesmo.

Page 122: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

122

Figura 58: Resposta da equação apresentada pelo grupo A

A03: Vamos ter que tirar o 25 daqui. [referindo-se a mudança de membro do valor 25]. A01: Vai ficar -25 A02: Vamos tentar números... Acho que 1, 25 A02: Não deu... A01: Tenta outro número. A02: Já tentei o 1,25 e o 2,5 [A01 retira o lápis das mãos do A02 e refaz a conta com o valor 2,5] A01: E se a gente usar o 2,1... [A01 devolve o lápis para A02] A01: Tem que ter valor negativo no x. A02: −2?

Page 123: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

123

A01: Não deu A02: Tenta um número maior. ... A02: Menor que 2 e maior que 1,5! A01: Vamos tentar números decimais até chegar, de pouco em pouco ao valor de 25... ... P: Vocês acham que só um número ou dois satisfaria essa equação? A01: Só um número! P: E esse número seria igual neste x

2 e neste outro x, ou podem ser

diferentes? A01: Acho que tem que ser iguais. Se fossem diferentes teria que ter outra letra aqui. [Aponta para a equação] P: O que vocês estão tentando agora? A01: Estamos tentando encontrar um número que ao quadrado dê 25. Mas o problema é este 10 aqui, que tem que ficar negativo. P: E por que ele tem que ficar negativo? A02: Para que na hora da conta dê zero. A01: Negativo com negativo fica positivo. A02: Se for −2 ainda não daria. Aqui ficaria 4 − 20 + 25 e não daria zero! A01: Tenta outro... será que −5 daria? [A02 faz a conta] A01:Deu certo! P: Vocês encontraram o valor? A01: Sim P: E qual foi? A01: O -5! P: Existiria outro valor? A02: Não.

(trecho da entrevista do grupo A para a equação )

Apesar das equações possuírem

apenas uma raiz que as satisfaça e do grupo A ter encontrado a raiz correta

para a equação , os componentes do grupo parecem não

perceber, assim como nas equações anteriores, que a incógnita das equações

quadradas pode assumir dois valores, como verificado na fala do aluno A01 “Só

um número!”, quando questionado se haveria outro valor que satisfizesse a

equação.

O grupo B, assim como o grupo A, tenta encontrar um valor que satisfaça

a equação, mas não consegue, justificando que “Não há solução, pois uma letra

não pode assumir dois valores ao mesmo tempo” (trecho da entrevista do grupo

B para a equação ). O grupo consegue encontrar uma raiz

somente na equação , sendo esta o número zero, como

apresentado abaixo, na Figura 59 e no trecho da entrevista.

Page 124: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

124

Figura 59: Resposta da equação apresentada pelo grupo B

B01: Vamos encontrar um valor como fizemos nas outras [referindo-se às outras equações pertencentes a esse instrumento] B02: Pode ser −2 e 2 B01: Não deu certo, tenta o −4 e 4. P: Encontraram o valor para a equação? B02: Não. Nenhum dá certo. P: Por quê? B01: Tentamos substituir por 2 e por 4, mas não deu certo... B02: Nenhum valor que seja igual nos dois x da equação B01: Acho que não tentamos tudo P: Por que vocês acham que não tentaram tudo? B01: Olha... [falando com o aluno B02] se tentar o zero aqui [aponta para a incógnita], dá zero e zero... B02: Isso! Dá zero nos dois! P:Qual é a resposta para essa equação? B01: zero!

(Trecho da entrevista do grupo B para equação 8x² + 6x = 0)

O grupo B resolve a equação por avaliação com os números −2, 2, −4 e 4

somente verbalmente, sem substituir nenhum valor até terem certeza qual raiz

seria a correta, o que nesse caso foi o zero. Podemos observar, pela entrevista,

que os componentes do grupo admitem duas raízes como solução, mantendo a

mesma postura adotada em quatro equações de avaliação, porém não

conseguem encontrá-la.

No caso do grupo C, os componentes do grupo tentam resolver a equação

por procedimentos, mas mudam de atitude nas outras equações

, utilizando a procura de valores

Page 125: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

125

que as satisfaçam quando parecem perceber que essa postura (de resolver por

procedimentos) não daria certo. Apresentamos abaixo, na Figura 60, a

resolução do grupo para a equação e as justificativas no

trecho da entrevista do mesmo.

C02: Como vamos resolver? C01: Por regras. C02: Tá. Então primeiro isola os elementos com x... [os componentes do grupo não discutem nada até encontrarem a raiz negativa apresentada na Figura 34] C02: Não dá certo. C01: É... P: O que não dá certo? C01: A conta. P: Como vocês fizeram? C02: Primeiro passamos o um pra lá... [mostra a mudança de termo na equação] C02: Depois eu passei o dois para o outro lado... [mostra a fração] C02: Então a gente encontrou o valor -1/2... C02: Aí depois eu passei para número decimal... [mostra o resultado da divisão] C02: Depois eu passei a raiz, e f icou 2x e passei o dois pra lá... [mostra a fração] P: Como você fez a raiz? C02: Eu peguei o dois que estava no x e passei para a raiz. Aí ficou x + x então ficou 2x P: Ok. [o grupo volta a desenvolver a equação]

C02: Aqui é raiz de negativo... [refere-se a ], mas [o x] não é

negativo porque negativo vezes negativo... um número negativo ao quadrado é positivo, e vai ser maior que zero... C01: Tá, então continua... C02: Não dá pra fazer... C01: Mas fica mais próximo. C02: Dá para passar o dois, fica raiz de -0,25, não ajuda muito... C01: Então não dá. C02: Acho que tem que ter dois valores C01: Mas a raiz é negativa e negativo com negativo dá positivo, e a conta dá zero. ... P: Vocês encontraram o valor da raiz? C01: Mais ou menos... P: Vocês acham que o x é raiz de -0,25 C02: Não. Não acho que o x é raiz de -0,25. Porque não é possível tirar raiz de número negativo... P: Por que não é possível? C01: Porque não tem nenhum número negativo que multiplicado por ele dá negativo. P: Então vocês acham que tem solução? C02: Não. P: Vocês acham que existe outra forma de fazer a letra i

[ ] sem ser por regras? C02: pensamos em outra forma... mas acho que não dá certo...

Page 126: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

126

P: E qual forma foi essa? C01: Procuramos números que dariam certo, mas não encontramos.

(Trecho da entrevista do grupo C para a equação )

Figura 60: Resposta da equação apresentada pelo grupo C

Nesse grupo, os componentes admitem que a equação deva apresentar

duas raízes como resposta, mesmo com procedimentos incorretos, mas não

conseguem desenvolver pelo fato de terem encontrado a raiz quadrada de um

número negativo. O grupo, em um primeiro momento, tenta resolver a equação

por procedimentos e ao perceberem que desse modo não encontrariam os

Page 127: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

127

valores que satisfariam a equação, tentam encontrar valores que validassem a

equação, não os encontrando. Nas demais equações, o grupo encontra as duas

raízes, mas para que pudessem validar a mesma, substituem os valores

encontrados simultaneamente, após isolarem a incógnita, como podemos ver na

Figura 61.

Figura 61: Resposta da equação apresentada pelo grupo C

Podemos observar que a postura de resolução adotada pelos

componentes do grupo C foi diferente da equação anterior, pois nessa equação,

eles buscam valores que a satisfaçam, e admitem que esta deva ter duas raízes,

assumindo os valores (0 e 0,5) concomitantemente, pensando ter validado,

desse modo, a equação. Novamente ocorre um erro conceitual, diferente do que

foi relatado anteriormente.

O grupo D resolve todas as equações de manipulação por procedimentos

matemáticos, como apresentado na Figura 62.

Page 128: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

128

Figura 62: Resposta da equação apresentada pelo grupo D

O grupo D adota como forma de resolução das equações de manipulação

os procedimentos matemáticos em que eles isolam as incógnitas e depois

assumem que a potenciação deva ser considerada como coeficiente da primeira

incógnita, sendo somada com o coeficiente do , apresentado na equação,

como podemos observar no exemplo acima. Essa postura reafirma os erros

conceituais que vem acompanhando a resolução de algumas equações

quadráticas.

“Já-encontrados”

Nas equações de manipulação todos os grupos procuram desenvolver as

equações usando formas de resolução de uma equação linear, porém não

conseguem resolver corretamente por procedimentos. Com exceção do grupo D,

os demais grupos misturam duas formas de resolução, a primeira manipulando

as incógnitas e após avaliando a “nova” equação, buscando valores que

satisfaçam a mesma, por potenciação, multiplicação, adição e subtração.

Page 129: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

129

Reflexões à luz dos três Mundos da Matemática

As equações apresentadas nessa seção são de manipulação, que podem

ser resolvidas por meio de procedimentos matemáticos, tanto por intermédio da

fatoração, quanto por Bhaskara.

Nas resoluções das equações de manipulação, em um momento inicial,

alguns grupos tentaram resolver por avaliação, evidenciando características do

mundo corporificado, mas como com esse procedimento eles não dão conta de

resolver as equações, os alunos tentam por manipulação, característica do

mundo simbólico.

Podemos observar que os alunos não conhecem os procedimentos

algébricos, portanto não fazem a manipulação simbólica corretamente, mas

buscam em seus conhecimentos anteriores (“já-encontrados”), formas de

encontrar valores que satisfaçam a equação, levando-os a resolverem como se

as equações quadráticas fossem lineares, indicando que eles estão

corporificando o simbolismo, que é quando o indivíduo parte do mundo simbólico

e chega ao mundo corporificado.

No caso do grupo C e do grupo D, os conhecimentos de equações de

avaliação atrapalharam a resolução das equações de manipulação, pois esses

grupos, inicialmente manipulam as incógnitas (característica do mundo

simbólico) e em seguida usam a avaliação para resolver a equação

(característica do mundo corporificado)

Page 130: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

130

4.4 DUAS EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO:

As duas equações que apresentamos nessa seção, em princípio, são

equações de avaliação, mas o comportamento dos grupos diante delas pode

transformá-las em equações de manipulação.

No caso da equação foi resolvida corretamente por três

grupos, sendo que dois (A e B) resolveram por avaliação (quando desfazem a

equação) e dois (C e D) resolvem por manipulação (quando trabalham com a

incógnita, manipulando-a), porém desses dois últimos somente um grupo

conseguiu encontrar o valor correto da raiz.

O grupo C resolve as equações aplicando a propriedade distributiva, para,

em seguida, avaliar a equação e encontrar valores que satisfaçam a mesma,

como podemos ver na Figura 63.

Figura 63: Resposta da equação apresentada pelo grupo C

Vemos que os componentes do grupo adotam o procedimento da

propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição para resolver a

equação quadrática e, após, avaliam a mesma buscando valores que satisfaçam

a igualdade utilizando dois valores diferentes concomitantemente. Na nossa

Page 131: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

131

concepção, esse fato ocorre porque os alunos confundem o que é raiz de uma

equação, justificado pelo fato de colocarem dois valores simultaneamente. O

grupo D pensa da mesma maneira, mas não consegue desenvolver as equações

por dificuldades de compreensão dos conceitos de soma de incógnitas.

Os grupos A e B admitem duas raízes, após avaliarem as equações

citadas, como podemos ver na Figura 64.

Figura 64: Resposta da equação apresentada pelo grupo A

O grupo A busca valores que satisfaçam a equação demonstrando

preocupação em encontrar outros valores, admitindo assim, que a equação

deveria ter duas raízes. Esse comportamento do grupo difere do que vinham

fazendo até essas equações, quando o grupo não admitia duas raízes como

respostas. Na equação o grupo encontra somente uma raiz.

Page 132: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

132

Reflexões à luz dos três Mundos da Matemática

As equações apresentadas, apesar de serem de avaliação, podem ser

resolvidas como manipulação, dependendo da forma como os alunos se

comportam diante delas. Analisando as resoluções dos quatro grupos,

observamos que dois grupos encontram os valores que satisfaçam essas

equações por avaliação, enquanto os outros dois as transformam, inicialmente,

em equações de manipulação.

Os alunos pertencentes aos dois grupos que resolveram por avaliação o

fizeram buscando valores que satisfariam a equação, evidenciando

característica do Mundo Corporificado. Aparentemente esses alunos preferiram

essa forma de resolução porque foi a que contemplou a maioria das equações.

O interessante nesse segundo grupo é que nas equações de manipulação os

componentes foram unânimes em alegar que era impossível resolvê-las. Porém,

as equações que apresentamos a esses alunos estão apenas escritas de forma

diferente, por evidência, mas correspondem ao mesmo tipo de equação

trabalhada anteriormente

As resoluções para essas equações apresentadas pelos outros dois

grupos estão divididas em duas formas. A primeira maneira de resolução foi

adotada por um grupo que inicialmente, manipula a incógnita aplicando a

propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição para, em seguida,

avaliar a “nova equação” formada, enquanto o outro grupo resolve unicamente

por manipulação. Com referência ao primeiro grupo, a propriedade distributiva

pode ser vista como evidência do Mundo Simbólico, pois existe a necessidade

de se manipular a incógnita, enquanto, no desenrolar da resolução da equação,

eles utilizam a avaliação, buscando valores que a satisfaçam, evidenciando

características do Mundo Corporificado. O diferencial nesse primeiro grupo é

que eles permanecem com a mesma postura adotada nas equações de

manipulação, o que não ocorreu com os demais grupos. Podemos perceber que

houve uma mudança de postura por parte dos alunos na resolução das

Page 133: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

133

equações de avaliação para as de manipulação, mostrando que, aparentemente,

ocorreu um desenvolvimento cognitivo diante das novas experiências que fo ram

proporcionadas a eles. Como não houve “passagem de um valor para o outro

membro”, não identificamos a corporificação procedimental, tão pouco

características do Mundo Formal, o que não ocorreu nas equações de avaliação.

Com relação ao último grupo analisado, os componentes tentaram

resolver as equações por manipulação, mas não alcançaram sucesso, pois

utilizaram conceitos errôneos de resolução. Aparentemente, esses alunos estão

interpretando os seus procedimentos como corporificações procedimentais e

não como característica do Mundo Simbólico, o que exigiria deles uma

consciência dos princípios matemáticos envolvidos nos métodos de resolução.

Na Conclusão, tratamos das reflexões sobre os resultados obtidos nas

análises e as características dos Três Mundos da Matemática que levantamos,

com o objetivo de responder nossas questões de pesquisa.

Page 134: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

134

CONCLUSÕES

Ao concluirmos nossa pesquisa retomamos as questões que a nortearam,

e faremos algumas reflexões sobre cada uma delas. Além disso expomos as

dificuldades encontradas no decorrer da pesquisa e nossas discussões

relacionadas ao quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, comparando os

dados obtidos com aqueles apresentados na revisão bibliográfica deste

trabalho. Algumas sugestões de continuidade também serão indicadas, pois,

como já vimos no decorrer do trabalho, não existe vasta bibliografia sobre as

dificuldades apresentadas por alunos ao se depararem com o estudo de

equações quadráticas.

1 EQUAÇÕES QUADRÁTICAS DE AVALIAÇÃO

Ao avaliarmos os resultados obtidos com as respostas dadas pelos alunos

para as equações de avaliação, observamos, em algumas delas, que três

grupos não procuram as duas raízes da equação, assim como na pesquisa de

Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005). Eles encontram uma das raízes, por

intermédio de busca de valores que validem a equação, o que evidencia

características do mundo corporificado. Em contra partida, um grupo busca

responder essas equações desfazendo as operações efetuadas sobre a

incógnita, isto é, efetuando operações inversas e movimentando os termos da

equação de um membro a outro. Esse método de resolução apresentado pelo

Page 135: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

135

grupo representa corporificações procedimentais, evidenciando novamente o

Mundo Corporificado, numa tentativa de trabalhar com o Mundo Simbólico.

Quando analisamos os resultados obtidos com a equação ,

observamos que existe uma mudança de postura do grupo D, o qual parece

admitir duas raízes como verdadeiras, assim como conjectura Vaiyavutjamai,

Ellerton e Clements (2005) em suas pesquisas que, após o ensino das equações

quadráticas, os alunos demonstram conhecimentos do conteúdo. Apesar de não

terem estudado esse conteúdo ainda, o grupo parece ter adquirido uma

compreensão do processo de resolução dessa equação durante a entrevista.

Essa compreensão dos processos de resolução pode ser consequência das

perguntas realizadas no decorrer da entrevista reflexiva semi-estruturada, pois,

a cada questão finalizada, foi perguntado se haveria outro valor que satisfizesse

a equação, incluindo valores negativos. Por outro lado, é possível que os alunos

saibam de antemão que tanto 2 ao quadrado quanto –2 ao quadrado resultam

em quatro.

Observamos, também, que os alunos usam os seus “já-encontrados” na

resolução das equações quadráticas, tais como isolamento da incógnita e

operações inversas. Porém, tais “já-encontrados” agem de maneira negativa

quando os componentes dos grupos não admitem que uma equação quadrática

possui duas raízes como resposta, como visto na pesquisa de Lima (2007). Isso

ocorre, provavelmente, pelo fato dos alunos estarem habituados a resolver

equações lineares, que possuem uma única raiz. É importante comentar que

não foram em todas as equações que os grupos verificaram se as raízes são

verdadeiras, como Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005) diagnosticaram em

sua pesquisa.

Apesar do foco do nosso trabalho não ser a identificação dos erros

apresentados no desenvolvimento das equações, não podemos nos furtar ao

fato de que alguns erros cometidos pelos alunos são em decorrência do uso

inapropriado de regras, denominados mal-rules (Sleeman,1984), apontado tanto

Page 136: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

136

nos estudos de Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005) e Vaiyavutjamai,

Clements (2006) quanto na pesquisa de Lima (2007).

Observamos, no decorrer das entrevistas reflexivas semi-estruturadas,

que existe uma diferença importante entre os “já-encontrados” que atuam de

forma negativa e as mal-rules. Quando tratamos dos “já-encontrados” negativos

estamos nos referindo às experiências anteriores que os alunos trazem consigo

e que aplicam em situações semelhantes as que lhe são familiares, porém de

forma errônea, e isso se aplica tanto às regras quanto aos conceitos.Todavia as

mal-rules referem-se apenas ao uso inapropriado de regras, pois um sujeito

utiliza regras matemáticas em seus processos de resolução de equações, além

do uso de conceitos. Quando utiliza “já-encontrados” de forma negativa, está

utilizando incorretamente princípios algébricos de resolução de equações, e não

somente executando mal-rules. Ou seja, ao executar uma mal-rule um sujeito

pode ou não estar aplicando corretamente um conceito, mas certamente usando

erroneamente as regras para resolver equações.

Os alunos, ao se depararem com as equações quadráticas de avaliação,

tratam-nas como de avaliação, ou seja, as resolvem avaliando ou buscando

valores que as validem. Isso implica que, nas equações quadráticas de

avaliação, não houve alteração na forma de resolução esperada, diferentemente

do que ocorreu com as equações lineares de avaliação pertencentes ao primeiro

instrumento de coleta de dados, no qual alguns alunos optaram por resolvê-las

por meio de manipulações algébricas, como se elas tivessem as mesmas

características das equações lineares de manipulação. Comparando as formas

de resolução apresentadas pelos alunos nas equações lineares e nas equações

quadráticas de avaliação, pudemos observar que uma característica das

equações quadráticas de avaliação é a permanência da característica de

avaliação.

Page 137: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

137

2 EQUAÇÕES QUADRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO

Inicialmente, os grupos tentaram resolver as equações quadráticas de

manipulação de forma similar àquela apresentada por Lima (2007) em sua

pesquisa, isto é, transformando as equações quadráticas em equações lineares

ou somando as partes literais com expoentes diferentes. Como os alunos não

possuíam o conhecimento de como resolver equações quadráticas, eles

buscaram seus “já-encontrados” de equações lineares para resolverem as

equações que lhes foram apresentadas.

As equações cujo primeiro membro era um quadrado perfeito foram

resolvidas de forma satisfatória encontrando uma única raiz, por alguns grupos,

utilizando o procedimento de avaliação, evidenciando característica do mundo

corporificado. Um fato interessante na análise das resoluções apresentadas é

que um grupo usou primeiro seus “já-encontrados” de equações lineares

isolando primeiro a incógnita para, em seguida, avaliar a “nova” equação,

buscando valores que a satisfizesse. Porém, mesmo após terem resolvido

equações de avaliação em que os grupos, em dados momentos, admitiam duas

raízes como solução, essa atitude não foi permanente, ou seja, não percebemos

essa postura em todas as tentativas de resolução que apareceram durante as

entrevistas reflexivas semi-estruturadas.

Nas equações de manipulação, os grupos parecem não perceber que

estas possuem duas raízes como solução. Durante a entrevista do grupo B,

vimos que os componentes não desenvolvem tipo algum de resolução para as

equações quadráticas completas de manipulação. O grupo justifica que essas

equações não podem ser resolvidas, pois, segundo eles, “uma letra [incógnita]

não pode assumir dois valores ao mesmo tempo”, ou seja, identificando que a

variável não pode assumir dois status ao mesmo tempo, contrariando o que a

Page 138: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

138

pesquisa de Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005) apontou. Apesar de

estarem corretos em suas impressões, eles não têm conhecimento do

formalismo envolvido nas resoluções das equações quadráticas, mas

demonstraram compreender, naquele momento, que a incógnita não pode ser

substituída ao mesmo tempo por dois valores de suas raízes.

Em contrapartida, o mesmo não ocorreu com o grupo C, pois seus

componentes admitem dois status para a incógnita, confirmando os estudos de

Vaiyavutjamai, Ellerton e Clements (2005). Acreditamos que essa diferença

entre os dois grupos (B e C) se deu pelo fato do primeiro ter conseguido

perceber que as equações quadráticas admitem duas soluções, mesmo que não

tenham conseguido apresentar valores para nenhuma delas; enquanto o outro

grupo ainda está preso a conceitos de equações lineares. Neste ponto, devemos

destacar que os grupos A e D, em alguns momentos durante a entrevista,

admitiram valores simultâneos para as incógnitas na tentativa de resolver as

equações propostas.

As formas de resolução adotadas pelos grupos remetem ao mundo

simbólico, pois os mesmos trabalham com a incógnita, porém nem todos os

grupos parecem dar significado as estas, trabalhando com a avaliação,

remetendo ao simbólico corporificado, que são conhecimentos que permeiam

dois mundos da Matemática, o mundo corporificado e o mundo simbólico.

Dado que esses alunos não conheciam nenhum método de resolução para

as equações quadráticas de manipulação, eles buscaram valores para resolvê-

las, ou seja, essas equações não são resolvidas como equações de

manipulação, mas sim como equações de avaliação. Porém, apesar dos sujeitos

não conhecerem os métodos de resolução das equações quadráticas, eles

poderiam ter, por exemplo, visto que algumas delas tinham um quadrado

perfeito no primeiro membro. Caso os alunos tivessem escrito a equação na

forma de , eles poderiam tê-la resolvido como de avaliação. A

manipulação algébrica na resolução dessas equações ficou de lado, o que

Page 139: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

139

acarretou em não encontrar as duas raízes, isso indica um problema em relação

ao desenvolvimento ao algébrico. Apesar de o currículo apontar que o

desenvolvimento algébrico foi trabalhado com os alunos, eles não manifestam

uso desse tipo de manipulação, e acabam por não resolver essas equações

algebricamente.

3 RESPONDENDO AS QUESTÕES QUE NORTEIAM A NOSSA PESQUISA

Analisando a primeira questão que norteia o nosso trabalho:

Quais são os procedimentos de resolução que alunos de 8º ano

utilizam ao resolverem as equações quadráticas, sem terem prévio

conhecimento do conteúdo?

Concluímos que, nas equações quadráticas do tipo , os alunos

utilizam como forma de resolução a avaliação, admitindo, em alguns momentos,

somente uma raiz como solução. Esses procedimentos ficam evidentes quando,

na análise dos dados, observamos que os alunos buscam valores que

satisfaçam a equação, apesar de cometerem erros conceituais, como, por

exemplo, quando eles admitem que a equação , pode ser resolvida

extraindo-se a raiz quadrada em ambos os membros, resultando valores

positivos e negativos sem usarem o fato de que = . Acreditamos que esse

erro conceitual ocorra porque, ao fazermos uma breve verificação no livro

didático utilizado por esses alunos, este não faz referência ao conceito de

módulo quando trabalha com expressões algébricas ou com a resolução de

equações quadráticas. A ausência desse conteúdo no momento da

Page 140: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

140

aprendizagem de equações quadráticas pode gerar um erro conceitual que pode

ser incorporado na vida escolar dos sujeitos, e gerando corporificações

procedimentais, como evidenciado em Lima (2007).

Nas equações do tipo , os alunos utilizam a avaliação e

a manipulação na busca de solução para elas. Ao fazerem isso, eles não usam

os procedimentos encontrados nos livros didáticos, tais como fórmula de

Bhaskara, fatoração ou completamento de quadrados. Tal comportamento dos

alunos já era esperado em nossa pesquisa, dado que esses sujeitos ainda não

haviam tido contato com o conteúdo.

Porém, as equações quadráticas em que o primeiro membro é um

quadrado perfeito, alguns alunos conseguiram resolver por avaliação, talvez

pelo fato das raízes serem iguais. Apesar dos alunos não terem conhecimento

da forma de resolução, eles buscaram seus “já-encontrados” para solucioná-las

de forma correta ou não.

Em resumo, para resolver equações tanto de avaliação quanto de

manipulação, os alunos foram em busca de valores que as satisfizessem, e

raramente tentaram utilizar procedimentos algébricos que teoricamente

conheciam.

Retomando e respondendo a nossa segunda questão de pesquisa:

Quais características dos Três Mundos da Matemática surgem na

resolução das equações quadráticas?

As análises dos dados apontam que as características que emergiram das

resoluções das equações quadráticas de avaliação eram, em sua maioria,

pertencentes ao mundo corporificado. Nessas equações, que eram do tipo

, os alunos faziam avaliações e buscavam valores que as satisfizessem,

encontrando, na maioria das vezes, uma única raiz. Porém, essa postura de

admitir uma única raiz foi mudando no decorrer das tentativas de resolução das

equações, possivelmente induzidos pelo fato do questionamento realizado pela

Page 141: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

141

pesquisadora durante a entrevista ter como referência a existência de outros

valores que validassem a equação. Entretanto, apesar dos alunos às vezes

apresentarem o comportamento de buscarem duas raízes, essa atitude não foi

evidenciada em todas as entrevistas até o final da coleta de dados.

Quanto às equações de manipulação, que são as do tipo

, observamos que as características evidenciadas eram as

pertencentes aos mundos corporificado e simbólico, independentemente de os

procedimentos utilizados pelos alunos terem sido corretos ou não.

Na nossa visão, as características do mundo corporificado foram mais

evidenciadas pelo fato dele estar associado às equações de avaliação, que

parecem mais fáceis de serem resolvidas talvez pelo fato de que as raízes,

quando são naturais, nos “saltam aos olhos”.

Apesar de os alunos não terem resolvido as equações quadráticas de

manipulação na sua totalidade, encontrando as duas raízes, observamos que

surgiram, em algumas dessas resoluções, características do mundo formal,

quando os sujeitos dos grupos utilizaram os princípios algébricos. Vale destacar

que quando os alunos buscaram meios de descobrir quais valores satisfariam as

equações, alguns destes os fizeram por meios equivocados de resolução,

algumas vezes utilizando princípios algébricos errôneos; mas o que ficou

evidenciado é que, por intermédio da entrevista, alguns destes alunos

aparentavam ter ideia de que era necessário haver duas raízes como resposta.

Finalmente, quanto a esta questão de pesquisa, após encontrarmos

evidências de características dos Três Mundos da Matemática, as mais

evidenciadas foram as pertencentes ao mundo corporificado, mesmo porque, na

nossa concepção, as equações de manipulação carregam características

sofisticadas do mundo simbólico, sendo necessário para se lidar com elas, ter

conhecimento dos princípios matemáticos envolvidos nos métodos de resolução.

Page 142: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

142

Cabe ressaltar que poucas são as características dos mundos simbólico e

formal apresentadas no trabalho desses alunos com equações quadráticas.

Acreditamos que isso se deve ao fato dos alunos não apresentarem

conhecimento dos princípios matemáticos, apesar destes terem sido

apresentados a eles, conforme o currículo aponta. Por este motivo, acreditamos

que seria importante que fosse trabalhado com os alunos principalmente as

características do mundo formal, para que eles pudessem usar com mais

domínio as características do mundo simbólico.

E, por fim, quanto a nossa terceira questão de pesquisa:

É possível caracterizar um Corte Didático na transição das equações

lineares para as equações quadráticas?

Quanto a essa questão, obtivemos uma resposta interessante.

Acreditávamos, no início do nosso trabalho, que existiria um corte didático na

transição das equações lineares para as equações quadráticas. Nas leituras

preliminares de artigos e pesquisas, percebemos que havia uma dificuldade de

resolução nas equações quadráticas, nos motivando a questionar se essa

dificuldade também ocorreria na transição de resolução das equações lineares

para as equações quadráticas. Entretanto nossos dados evidenciaram algo

diferente do que tínhamos imaginado inicialmente, como descreveremos a

seguir.

As análises dos dados apontam que os alunos conseguem perceber meios

de encontrar as raízes de uma equação quadrática do tipo de duas

maneiras: avaliando e encontrando pelo menos uma raiz que valide a equação;

ou realizando operações inversas. Nesse caso, percebemos alguns erros

conceituais decorrentes, talvez, de uma falta de informação por parte dos

alunos. Em minha experiência em sala de aula, observei a ausência de pelo

menos um conceito importante nos livros didáticos que trabalhei, que no caso é

o ensino de que a , importante para a compreensão do fato da

incógnita possuir uma raiz positiva e outra negativa. Isto é, os alunos podem

Page 143: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

143

pensar que é uma mágica que faz com que apareça um “mais ou menos” no

segundo membro, quando é, na verdade, por causa do fato de que .

Entretanto quando analisamos os dados referentes às equações do tipo

observamos que os alunos buscam algumas maneiras de

resolução com o objetivo de encontrar as raízes, tais como a avaliação das

equações e a busca de valores que a validem; e a transformação das equações

quadráticas em lineares. Porém, essas buscas de resolução não se mostraram

totalmente eficazes, pois, apesar de observarmos que alguns alunos, ao

tentarem resolver as equações, conseguiram uma resposta satisfatória no caso

das equações quadráticas cujo primeiro membro é um quadrado perfeito , o

mesmo não se aplica quando essas equações não têm quadrados perfeitos.

Os pesquisadores Filloy e Rojano (1989) afirmam, em suas análises a

respeito das equações lineares, que o corte didático ocorre na transição da

aritmética para a álgebra, ou seja, das equações lineares aritméticas para as

não-aritméticas. As nossas análises indicam que o corte didático entre as

equações não está associado com a transição das equações lineares para as

quadráticas e, tão pouco, relacionado com a posição da incógnita. Em nosso

estudo encontramos evidências que o corte ocorre, no caso das equações

quadráticas, entre as equações do tipo e , ou seja, o

corte está relacionado com a dificuldade de passar de resolver equações de

avaliação para resolver de manipulação, caracterizando um corte didático que

denominamos de “Corte Didático das Quadráticas”. Um artigo escrito por Lima e

Healy (op. cit.), durante nossa análise, sugere que este nosso “Corte Didático

das Quadráticas” pode ocorrer porque as equações de avaliação não dão conta

da sofisticação que existe nas equações de manipulação, o que pudemos

demonstrar neste nosso trabalho. Indicamos então nas nossas Considerações

Finais que este caminho que estamos apontando deva ser mais estudado.

Page 144: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

144

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A nossa pesquisa deparou-se com algumas situações que não estão

contempladas nas nossas questões, mas deixamos como sugestão de pesquisas

que poderão dar continuidade às pesquisas sobre equações quadráticas.

Uma das situações com a qual nos deparamos é a falta de percepção da

existência de duas raízes que satisfazem uma equação quadrática na

aprendizagem dos alunos. Observamos, no nosso trabalho, que talvez algumas

perguntas feitas durante a entrevista reflexiva semi-estruturada possam ter

induzido os alunos a buscarem outros valores para as equações. Esse fato

refletiu de forma positiva quando esses alunos percebem que existe uma

segunda raiz, porém agiu de forma negativa quando percebemos, nas nossas

análises, que alguns alunos buscavam um segundo valor, sem, no entanto,

terem compreendido o porquê de estarem fazendo isso. Por este motivo,

deixamos como sugestão de pesquisa um estudo a respeito da falta de

percepção dos alunos da existência de duas raízes nas equações quadráticas.

Observamos também que os alunos apresentaram alguns erros

conceituais durante as resoluções das equações quadráticas. Nosso foco não

era identificar os erros que apareceriam, mas sim, evidenciar quais

procedimentos esses alunos utilizariam, porém, como alguns erros foram

recorrentes, acreditamos que um estudo a respeito dessas dificuldades possam

indicar quais mudanças, em termos de aprendizagem, poderiam ser tomadas

pelos educadores, assim como compreendermos o porquê desses erros serem

tão recorrentes. Sugerimos, também, a análise de livros didáticos do ensino

fundamental, pois os que observamos não evidenciam conceitos que, a nosso

ver, são fundamentais para a aprendizagem dos alunos, citamos como exemplo,

o conceito de módulo. Acreditamos que a ausência de assuntos importantes

Page 145: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

145

tanto do material de apoio quanto da fala do professor possa gerar conflitos no

momento de resolver as equações quadráticas, pois pode gerar dúvidas e

confusões conceituais.

Acreditamos que fazer a aplicação das equações utilizadas nesse trabalho

para os alunos de 9º ano pode trazer resultados interessantes, pois se

pressupõe que esses alunos já adquiriram conhecimentos de equações

quadráticas, porém seria interessante observar se as mesmas tentativas de

resolução mostradas nesse trabalho surgem com esses alunos e se o “Corte

Didático das Quadráticas” aparece nessa turma.

Outra sugestão de pesquisa que deixamos é a elaboração de uma

sequência didática com o objetivo de identificar maneiras de minimizar as

dificuldades decorrentes do “Corte Didático das Quadráticas” , como sugerimos

nas considerações da terceira questão de pesquisa. Sugerimos também uma

pesquisa que envolvesse alunos do 9º ano, para a verificação se os diferentes

Mundos da Matemática que emergiram na nossa pesquisa emergem naqueles

que possuem conhecimento das quadráticas.

A nosso ver, o quadro teórico foi de grande valia para a fundamentação do

nosso trabalho e para atingirmos nosso objetivo de pesquisa, pois permitiu que

analisássemos a manifestação dos Três Mundos da Matemática durante a busca

de soluções para as equações, mas é importante que o quadro teórico continue

sendo desenvolvido por intermédio de novas pesquisas, para que possamos

compreender melhor o desenvolvimento cognitivo, por parte dos alunos, das

equações quadráticas.

Page 146: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

146

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADARÓ, J. N. Significados do Símbolo de Igualdade numa Jornada por Três Mundos da Matemática. 2010. 124 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) - Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010 . FILLOY, E.; ROJANO, T.; SOLARES, A. Problems dealing with unknown quantities and two different levels of representing unknowns. Journal for Research in Mathematics Education, Reston, 41, n. 1, 2010. 52-80. FILLOY, E; ROJANO, T. Solving Equations: the Transition from Arithmetic to Algebra. For the Leaning of Mathematics 9.2 (1989) FREITAS, M. A. de. Equação do 1º grau: Métodos de Resolução e análise de erros no ensino médio. 2002. 146 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002. GRAY, E.; TALL, D. O. Duality, Ambiguity and Flexibility: A proceptual view of Simple Arithmetic, The Journal for Research in Mathematics Education, NCTM, v.26, n.2, p.115 - 141, 1994. IEZZI, G.; DOLCE, O.; MACHADO, A. Matemática e Realidade- Ensino Fundamental- 7ª série, Atual Editora, 5ª edição- 2005, São Paulo __________, Matemática e Realidade- Ensino Fundamental- 8ª série, Atual Editora, 5ª edição- 2005, São Paulo LIMA, R. N. de; HEALY, L. Revisitando o Corte Didático. Boletim GEPEM (submetido), 2010 LIMA, R. N. de; TALL, D. Procedural embodiment and magic in linear equations. Educational Studies in Mathematics, 67, n. 1, 2008. 3-18.

Page 147: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

147

LIMA, R. N. de. Equações Algébricas no Ensino Médio: uma Jornada por diferentes Mundos da Matemática. 2007. 358 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. SKEMP, R. R. Relational Understanding and Instrumental Understanding. Department of Education, University of Warwick, 1976 SLEEMAN, D. An attempt to understand students’ understanding of basic algebra. Cognitive Science. Austin, v. 8, p. 387 - 412, 1984. SPINELLI, W.; SOUZA, M. H. Matemática 7ª série - Editora Ática- PNLD, 2ª edição, São Paulo, 2008 ________________, Matemática 8ª série - Editora Ática, 1ª edição, São Paulo, 2002 TALL, D. O. Introducing Three Worlds of Mathematics . Mathematics Education Research Centre. University of Warwick, UK, 2004 _____________Embodiment, Symbolism and Formalism in Undergraduate Mathematics Education.[S.I.]: [s.n.], 2007. TALL, D. O.; THOMAS, M. O. J. The long-term cognitive development of symbolic algebra. In: International Congress of Mathematical Instruction, Melbourne, 2001, v. 2, p. 590 - 597. TALL, D. O.; VINNER, S. Concept image and concept definition in Mathematics with particular reference to limits and continuity. In: Educational Studies in Mathematics. [S.l.]: Kluwer Academic Publishers, v. 12, 1981. p. 151-169. VAIYAVUTJAMAI, P.; CLEMENTS, M. A. (KEN). Effects of Classroom Instruction on Students Understanding of Quadratic Equations . Mathematics Education Research Journal, 2006, Vol. 18, nº 1, 47- 77 VAIYAVUTJAMAI, P; ELLERTON, N. F; CLEMENTS, M. A. (KEN). Students’ Attempts to Solve Two Elementary Quadratic Equations: A Study in Three Nations -2005

Page 148: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

148

VLASSIS , J. The balance model: hindrance or support for the solving of linear equations with one unknow. Educational Studies in Mathematics. The Netherlands, v. 49, p. 341 - 359, 2002 YUNES, M.A.; SZYMANSKI, H. Entrevista Reflexiva & Grounded-Theory:Estratégias Metodológicas para Compreensão da Resiliência em Famílias. Revista Interamericana de Psicología/Interamerican Journal of Psychology - 2005, Vol. 39, Num. 3 pp. 000-000

Page 149: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

149

APÊNDICE A INSTRUMENTO 1: EQUAÇÕES LINEARES

Nome:________________________________________________série:________

Resolva as equações justificando cada passagem, não deixando nenhuma sem

responder.

a) 2b − 30 = 0

b) 6x = 5x

c) 10 + 4w = 5

d) 8 = 6 − c

e) 4k − 2 = 3k + 6

f) 2d + 10 = 60

g) m + 6 = 5

h) w² = 9

i) 2n + 5 = 6n − 7

j) -3x + x = -5 4 3 6

k) (m + 1)² = 4

l) 4y − 13 = 9 − 5y

Page 150: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

150

APÊNDICE B INSTRUMENTO 2: EQUAÇÕES QUADRÁTICAS

b)

4 =

a)

= 9

Page 151: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

151

d)

− 2

5 =

0

c)

(x +

3)²

= 4

9

Page 152: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

152

f) 3

= 2

7

e

) x²

− 4

= 1

2

Page 153: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

153

h)

4x²

− 2

5 =

0

g

) 4x²

− 3

6 =

0

Page 154: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

154

j) x

² +

10

x +

25

= 0

i) x

² +

2x +

1 =

0

Page 155: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

155

l) 8

+ 6

x =

0

k)

+ 4

x +

2 =

0

Page 156: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

156

n)

x (

x +

2)

= 1

5

m

) x (

x +

3)

= 0

Page 157: Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos ... · À professora Dra Rosana Nogueira de Lima, pelo imenso apoio, amizade, ... Aos amigos e “irmãos” Josias

157

APÊNDICE C- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O presente estudo, intitulado Uma introdução ao estudo de equações quadráticas à Luz dos Três Mundos da Matemática, tem por objetivo investigar as ações dos alunos da 7ª série (8º ano) do Ensino Fundamental, quando se deparam com equações quadráticas pela primeira vez. Para o bom desempenho desta pesquisa, contamos com sua colaboração no sentido de permitir a participação de seu (sua) filho (a) neste estudo, respondendo às questões do questionário com equações lineares para entender o que eles sabem sobre equações. Alguns alunos serão selecionados para continuar na pesquisa. A seleção se dará pelo fato de não se ter tempo hábil para entrevistar todos os alunos participantes. Os dados serão coletados da seguinte forma: em um primeiro momento, pelos otocolos dos alunos, as respostas ao questionário. Em um segundo momento, faremos entrevistas que será áudio- gravadas, filmadas e recolhida a produção escrita do aluno. Ao permitir que seu filho participe deste estudo, você estará consentindo que os dados de seu (sua) filho (a) sejam utilizados apenas para fins desta pesquisa. Ressalta-se que há garantia de preservação de identificação. O nome da escola e o nome de seu (sua) filho (a) não serão divulgados. Caso seja pedido que ele se identifique em algum momento, será apenas para identificá-lo dentro do grupo de alunos pesquisados. Desde já agradeço sua contribuição, a qual será de extrema importância para que os objetivos deste trabalho sejam atingidos.

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, _________________________________________________________________, portador do RG _______________________, com e-mail _____________________________, abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para que meu (minha) filho (a) participe como voluntário (a) da pesquisa supracitada, sob a responsabilidade principal de Rosangela Marazzio Koch, aluna do curso de Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN. Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que: a) o objetivo da pesquisa é verificar as ações dos alunos quando se deparam com equações quadráticas pela primeira vez. b) a realização desta pesquisa é fundamental para o progresso da Educação Matemática no Brasil, para melhor entender as dificuldades de aprendizagem nesse conteúdo. c) a participação do meu (minha) filho (a) no estudo será responder ao questionário e, eventualmente, participar de entrevistas. d) assim que a pesquisa terminar, terei acesso aos resultados globais do estudo. e) estou livre para interromper, a qualquer momento, a participação do meu (minha) filho (a) nesta pesquisa. f) os dados pessoais do meu (minha) filho (a) serão mantidos em sigilo, e os resultados obtidos com a pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, incluindo a publicação na literatura científica especializada e apresentação dos resultados em eventos nacionais e internacionais. g) poderei entrar em contato com a pesquisadora Rosangela Marazzio Koch pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (11) 84539639 sempre que julgar necessário. h) obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a participação do meu (minha) filho (a) na referida pesquisa. i) este Termo de Consentimento é feito em duas vias, de maneira que uma permanecerá em meu poder e a outra com a pesquisadora responsável. São Paulo, _____ de ____________________ de 2009.

________________________________ _____________________________________

Assinatura do participante Rosangela Marazzio Koch