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1 Texto complementar HISTÓRIA Uma história da guerra John Keegan

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Page 1: Uma história da guerra - · PDF fileUma história da guerra John Keegan. 1 História Assunto: ... Uma história da guerra Diferentes tipos de produtos, bem como diferentes quantidades,

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Texto complementar

HISTÓRIA

Uma história da guerraJohn Keegan

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HistóriaAssunto: Sociedade suméria

Uma história da guerraDiferentes tipos de produtos, bem como diferentes quantidades, tinham de ser registrados com marcas dis-

tintas, e dessas anotações sobre argila derivaram os símbolos que proporcionaram a primeira forma de escrita.

Advém daí o argumento de que, por volta de 3000 a.C., as sociedades de irrigação sumérias já tinham construído as primeiras cidades, que essas cidades podem apropriadamente ser chamadas de cidades-Estados e que esses Estados eram teocracias. O poder dos sacerdotes-reis vinha de sua “propriedade” da riqueza sem precedentes que a agricultura irrigada produzia – duzentos grãos colhidos a partir de cada grão plantado – e, depois, da finalidade a que destinavam sua parte do excedente. Ela pagava os servidores do templo, os escravos que o endividamento poderia causar e o financiamento do comércio que os templos supostamente domi-navam: uma vez que a Mesopotâmia era pobre em pedra, metais e quase todo tipo de madeira, todos esses materiais tinham de ser trazidos de longe para satisfazer as necessidades essenciais dos sumérios e o desejo por artigos de luxo, logo surgido numa sociedade em que alguns estavam livres do trabalho diário. A arqueo-logia da Suméria fornece indícios desses artigos trazidos de muito longe: ouro do vale do Indo, lápis-lazúli do Afeganistão, prata do sudeste da Turquia, cobre das costas do mar da Arábia. Mas uma coisa que ela não revela, pelo menos nos primeiros estágios da ascensão das cidades sumérias ao nível de Estado, são indícios de guerra. Nenhuma das treze cidades que se sabe terem existido no começo do terceiro milênio, inclusive Ur, Uruk e Kish, tinha muralhas. Nesse estágio, parece que a Suméria teve uma civilização livre dos conflitos internos graças à imensa autoridade dos sacerdotes-reis, livre das guerras entre cidades talvez devido à ausência de conflitos de interesses, e livre das agressões externas pela aridez da paisagem que circundava o vale fértil e pela falta de meios de transporte – o camelo e o cavalo ainda não tinham sido domesticados – para os intrusos em poten-cial do deserto ocidental ou da estepe oriental.

KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 177-178.