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IZAIAS GONÇALVES LOPES
UMA CONTRIBUIÇÃO À DESMISTIFICAÇÃO DA ISENÇÃO TRIBUTÁRIA NAS SOCIEDADES COOPERATIVAS DE TRABALHO
CURITIBA 2006
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IZAIAS GONÇALVES LOPES
UMA CONTRIBUIÇÃO À DESMISTIFICAÇÃO DA ISENÇÃO TRIBUTÁRIA NAS SOCIEDADES COOPERATIVAS DE TRABALHO
Monografia apresentada ao Departamento de Contabilidade, do Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, como requisito para obtenção do título de MBA - Auditoria Integral. Orientador: Prof. Blênio César Severo Peixe.
CURITIBA 2006
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I
AGRADECIMENTOS.
Em primeiro lugar ao Deus invisível, Arquiteto de Universo,
responsável pela vida e que tudo nos dá.
A minha esposa Vera Lúcia Torres Lopes, que tem me
suportado todos os dias de nossas vidas desde 07/02/1975.
Agradeço ao Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo SESCOOP/PR que colaborou para que eu
participasse deste curso, o que veio a contribuir para a minha
atualização nos diversos procedimentos relacionados com a
atividade profissional, principalmente no tocante e revisão de
conceitos administrativos contábeis e econômico-financeiros.
As Cooperativas CEPROPAR E COOPERLOG que permitiram
citar os Resultados de seus Balanços.
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II
DEDICATORIA.
Aos meus familiares, principalmente aos filhos, Verisa,
Vanessa e Ivan, como um incentivo aos estudos.
Aos jovens de modo geral, para que se dediquem com afinco
nos estudos, o futuro e o desenvolvimento do país depende do
nível de desenvolvimento das pessoas que o compõe.
A meu pai, Wanderley Gonçalves Lopes, que aos 87 anos
escreveu suas memórias e que foi transformada em livro,
“Memórias de um Pioneiro”.
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III
PENSAMENTOS.
“Todas as teorias físicas, independentemente de sua
expressão matemática, devem se prestar a uma descrição
simples, que até uma criança possa entender”.
Albert Eistein.
“Na vida só há duas coisas certas, a morte e os impostos”. Roberto Campos.
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IV
HOMENAGENS. Oripes Rodrigues Gomes:
Odontólogo, ex-presidente da Cooperativa de Cafeicultores de Mandaguari, COCARI
ex-presidente da Cooperativa Central Agropecuária do Paraná –COCAP;
Ex-membro do Conselho Nacional do Café.
Um grande cooperativista e apaixonado cafeicultor.
Guntolf Van Kaick.
Eng. Agrônomo, - Primeiro Presidente da Ocepar, profundo conhecedor do
cooperativismo, estudioso incansável, um exemplo a ser seguido.
IN MEMORIAM
Benjamin Rammerschmidt Constâncio Pereira Dias
Décio da Silva Bacelar Oliver Grandene
Reinaldo Reheder Ferreira
Todos eles contribuíram de uma forma ou de outra para o
fortalecimento do cooperativismo paranaense, mas merecem minhas
homenagens, sobretudo pelo carinho e o deferimento com que me
trataram em todos os momentos que nos defrontamos.
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V
LISTA DE TABELAS Tabela 01: Demonstração do valor líquido recebido pelos prestadores de serviços. Tabela 02: Demonstrativo da evolução dos registros de cooperativas na Junta Comercial do Paraná – JUCEPAR em comparação com as consultas para constituição de cooperativas, realizadas na Organização das Cooperativas do Estado do Paraná – OCEPAR. Tabela 03: Evolução histórica da tributação no Brasil. Tabela 04: Principais tributos existentes no Brasil. Tabela 05: Evolução comparativa da carga tributária do Brasil e outros paises. Tabela 06: Distinção entre a sociedade cooperativa e a sociedade mercantil. Tabela 07: A Carga Tributária nas cooperativas de trabalho, confrontada com as outras empresas.
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VI
RESUMO
LOPES, I, G. UMA CONTRIBUIÇÃO À DESMISTIFICAÇÃO DA ISENÇÃO TRIBUTÁRIA NAS SOCIEDADES COOPERATIVAS DE TRABALHO. Do ponto de vista pessoal e profissional, foi fundamental para consolidar as habilidades em pesquisas, o aperfeiçoamento profissional, abrindo novas perspectivas, fortalecendo a auto-estima além do reconhecimento dos amigos e familiares pela dedicação ao estudo. O trabalho em seus objetivos específicos aborda os aspectos históricos da tributação desde o Brasil Colônia até a criação do Imposto de Renda em 1922, demonstrando que naquela época os encargos tributários já eram elevados; ao tratar dos principais tributos e seus impactos nas sociedades cooperativas de trabalho, o estudo demonstra que na realidade as cooperativas estão inseridas como contribuintes do fisco e que no caso, para as cooperativas de trabalho a carga tributária é maior do que aquela atribuída às micros e pequenas empresas enquadradas pelo simples; destaca-se a legislação a favor e contra as cooperativas, tendo em vista o contraditório constitucional, pela não regulamentação do ato cooperativo, o Fisco acaba por atingir as cooperativas; é um mito falar que as sociedades cooperativas são isentas ou não sofrem incidência de tributação, pois as evidências demonstram que o fisco fica com percentual maior do que as sobras, quando há sobras; a metodologia adotada foi a da pesquisa bibliográfica, considerada a mais apropriada para este trabalho; espera-se que o trabalho contribua levando informações às pessoas e que possa incentivar instituições e órgãos de governo a promover o ensino sistematizado do cooperativismo, pois um dos aspectos que mais afetam o sistema cooperativo é a falta de conhecimento não só dos leigos, mas, mesmo dos operadores do direito e pessoas formadoras de opinião. O trabalho tem sua importância por pretender contribuir com a sociedade, principalmente com aqueles que queiram constituir uma cooperativa do ramo trabalho. Palavras-chave: Tributação; Sociedade Cooperativa; Ramo Trabalho; Legislação Regulatória; Renda, Cooperado; Ato Cooperativo.
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VII
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS............................................................................................... I
DEDICATÓRIA....................................................................................................... II
PENSAMENTOS.....................................................................................................III
HOMENAGENS......................................................................................................IV
LISTA DE TABELAS..............................................................................................V
RESUMO................................................................................................................VI
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................1
2. METODOLOGIA DA PESQUISA .....................................................................6
3. DESENVOLVIMENTO.......................................................................................8
3.1. TRIBUTOS – DESMISTIFICANDO A ISENÇÃO...........................................11
3.1.1. Definição de Tributo....................................................................................11
3.1.2. Síntese da Regra Matriz da Tributação......................................................13
3.2. ASPÉCTOS HISTÓRICOS DA TRIBUTAÇÃO NO BRASIL.......................16
3.2.1. Tributação no Brasil Colônia......................................................................16
3.2.2. Tributação no Brasil Imperial......................................................................20
3.2.3. Tributação no Período Republicano...........................................................21
3.2.4. Criação do Imposto de Renda...................................................................24
3.3. PRINCIPAIS FONTES DE FINANCIAMENTO DO GOVERNO
BRASILEIRO..............................................................................................................25
3.4. PRINCIPAIS TRIBUTOS EXISTENTES NO BRASIL................................26
3.4. 1.Tipos de Impostos que Afetam a Sociedade Brasileira...............................27
3.5. IMPACTO DA TRIBUTAÇÃO NO CUSTO DA COOPERATIVA.................28
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VIII
3.6. LEGISLAÇÃO REGULATÓRIA DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS.......31
3.6.1. Da Legislação Pró-Cooperativismo.............................................................32
3.6.2. Da Legislação Contrária ao Cooperativismo...............................................34
3.7. FORMAS DE ASSOCIATIVISMO................................................................36
3.7.1. Sociedade Cooperativa ou Sociedade Mercantil?......................................36
3.7.2. Tipos de Associações..................................................................................37
3.7.3. Sociedades Cooperativas...........................................................................38
3.7.4. Origem das Sociedades Cooperativas........................................................39
3.7.5. Características das Sociedades Cooperativas...........................................40
3.7.6. Princípios Cooperativistas..........................................................................41
3.7.7. Classificação ou Tipos de Cooperativas.................................................... 43
3.7.8. Ramos de Atuação das Sociedades Cooperativas.....................................43
3.8. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO COOPERATIVISMO......................45
3.8.1. Renda do Cooperado Frente à Tributação.................................................47
3.8.2. Tratamento Tributário .................................................................................48
3.8.3. Regime Tributário das Sociedades Cooperativas.......................................51
3.8.4. Tipos de Impostos que Afetam as Cooperativas........................................55
3.8.5. Tributação sobre o cooperado....................................................................55
3.8.6. Cooperativas de Trabalho...........................................................................56
3.8.7. Principais Tributos Aplicados às Cooperativas de Trabalho......................58
3.8.8. Definição de Cooperativas de Trabalho. ...................................................59
3.8.9. Desmistificando a isenção Tributária nas Cooperativas de Trabalho........59
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................62
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IX
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................65
6. ANEXOS..........................................................................................................67
6.1. Anexo I - Tabelas.......................................................................................68
6.2. Anexo II - A Tributação nas Constituições Brasileiras do Império à
República ..................................................................................................75
6.3. Anexo III - Legislação Tributária nas Cooperativas....................................83
6.4. Anexo IV - Legislação Cooperativista – Lei 5.64/71.................................126
6.5. Anexo V - Influência da Tributação na Economia....................................150
6.6. Anexo V I - Carga Tributária Conforme SRF............................................158
6.7. Anexo VII - Balanços e Demonstrativos de Resultados de Cooperativas de
Trabalho.................................................................................................. 161
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1. INTRODUÇÃO
Pretende-se desmistificar que as sociedades cooperativas não sofrem
incidência tributária, pois este fato está apenas na imaginação popular, sendo
assim, o trabalho contribuirá, esclarecendo o que deve ser recolhido a sua
finalidade, e conforme o caso expondo a inviabilidade da cooperativa em função
da carga tributária.
Este trabalho pretende contribuir com a sociedade, principalmente com as
pessoas interessadas em constituir cooperativas e que julgam que este tipo de
sociedade oferece uma vantagem tributária em relação às demais sociedades,
assim, poderão ter uma idéia da situação atual a respeito.
Sabendo-se que as cooperativas não existem em razão de si mesmas, mas
em função do associado e que toda a movimentação de recursos é em nome do
associado e que toda a tributação representa menos recursos em poder do
associado, em que circunstância é vantajoso para as pessoas constituir uma
cooperativa?
Acredita-se que a falta de informação leve as pessoas a julgarem que as
sociedades cooperativas não sofrem incidência tributária. Mas que fatos as
conduzem a esta conclusão?
Em vista da impossibilidade, de estender este trabalho a todos os ramos do
cooperativismo, foi feita a opção pelas cooperativas de TRABALHO, entendendo aí
incluso os ramos de trabalho, transporte e de saúde, já que o fisco federal e a
previdência social não reconhecem o ramo transporte da mesma forma que o ramo
saúde é entendido como de trabalho médico, odontológico e etc. Já para o fisco
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estadual, as cooperativas de transportes simplesmente não existem, as cooperativas
não são consideradas como transportadoras, mas sim como agenciadoras de
transportes (em suma, um intermediário).
Deve-se registrar, entretanto, que as cooperativas componentes dos ramos,
AGROPECUÁRIO, CRÉDITO e INFRA-ESTRUTURA, com relação ao PIS e a
COFINS, foram beneficiadas pela não cumulatividade, de tal forma que em vista de
obterem créditos, podem zerar sua base de cálculo.
Em relação ao ICMS e IPI, as cooperativas do ramo agropecuário também
utilizam créditos sobre os insumos e, estes impostos devidos sobre o produto final,
são transferidos ao consumidor, portanto é um tratamento de justiça e de acordo
com a igualdade e equilíbrio da concorrência.
Com relação ao ramo de CONSUMO, em conseqüência da Lei 9.532/97 que
estabelece que as cooperativas de consumo estão sujeitas às mesmas normas de
incidência dos impostos e contribuições de competência da união aplicáveis às
demais pessoas jurídicas e, como a discussão para clarear o assunto é longa e não
vai chegar a um lugar comum, o fato é que hoje não há o que justifique a
constituição de cooperativas de consumo, desta forma não comporão o presente
estudo.
Demonstrar-se-á que no decorrer do tempo, do advento da Lei 5764/71 até o
presente, muita coisa mudou, principalmente na ordenação jurídica brasileira, pós
Constituição de 1988.
A necessidade do governo em atender os comandos constitucionais de
garantias fundamentais inerentes ao ser humano, redundou por alteração na carga
tributária nos 3 (três) níveis de administração (Municipal, Estadual e Federal).
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Ao falar sobre a guerra fiscal, abordando a sua preocupação com a reforma
tributária, conforme citação de Paulo de Barros Carvalho em GRUPENMACHER
(2001, p. 61) afirma, “nós sabemos o que a União quer: aumentar a sua
arrecadação, e os Estados também querem aumentar a sua arrecadação, bem como
os municípios, enquanto o contribuinte quer pagar menos. Então como é possível
conciliar tudo isto?”.
Independente da necessidade de arrecadar há leis, normas, regulamentos,
decisões judiciais a favor e contra as cooperativas e a maior parte deste arcabouço
legal não chega ao conhecimento do povo.
A própria Lei 5764/71 é uma lei desconhecida até nos tribunais.
Apesar da existência de legislação pela não incidência tributária das
cooperativas e de obras bibliográficas defendendo a não incidência, na realidade isto
não ocorre em vista de existirem leis e normas em sentido contrário e com isto o
fisco vem exigindo que as cooperativas contribuam com sua parte na arrecadação
tributária.
Verdade seja dita, até meados dos anos 90 realmente não havia cobrança de
impostos sobre os chamados atos cooperativos, por exemplo, a LC nº. 70 de
30.12.91, que isentava as cooperativas da COFINS nas operações de atos
cooperativos, desde então as formas de arrecadação mudaram muito e pode estar aí
também um dos motivos do julgamento de que cooperativas não pagam impostos.
Em vista deste paradoxo, pretende-se defender o ponto de vista de que a
solução do problema é a informação.
Em Seminário de Direito Cooperativo, realizado em Curitiba, o mesmo
assunto foi debatido e conforme publicação do Jornal Eletrônico “Paraná
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Cooperativo”, editado pela OCEPAR, a tributação foi tema de debates, dando a
seguinte reportagem:
Tributação - O ato cooperativo representa a exteriorização jurídica das relações entre a cooperativa e o seu cooperado. Esse ato, explica Becho, tem conseqüências. A principal delas é que o ato cooperativo corretamente identificado não sofre a incidência da tributação. Essa questão da tributação é atualmente um dos maiores focos de debate jurídico na área cooperativista. Isso porque, muitas vezes, a caracterização do ato cooperativo não está clara. Portanto, não fica claro o que deve ser ou não tributado. O presidente da Ajufe, Jorge Maurique, frisou que o objetivo do evento é justamente tentar superar esse tipo de problema jurídico. “O principal entrave que eu vejo no cooperativismo hoje é a falta de informação. O sistema cooperativo tem uma vitalidade, uma importância muito grande, mas nem todos os setores da sociedade têm conhecimento desse fato”, avalia Maurique. O segundo entrave, na visão do presidente da Ajufe, é que algumas questões jurídicas não foram resolvidas ou estão mal explicadas. A tributação sobre o ato cooperativo é um exemplo. (PR COOPERATIVO – Cooperativismo – 06/10/05).
O que merece destaque é o fato do presidente da Ajufe afirmar que o
principal entrave no cooperativismo é a falta de informação.
Os agentes econômicos precisam saber que as sociedades cooperativas
apesar de terem uma legislação a seu favor, quanto ao tratamento tributário,
recebem na verdade um tratamento contraditório às vezes em condições piores do
que as outras empresas.
Fundamenta-se na hipótese de que em vista da elevada carga tributária os
empreendedores procuram meios para reduzir seus custos, pagando menos tributos,
para isto correm o risco da sonegação fiscal, ou vão para a economia informal, e na
eventualidade de uma possibilidade melhor, procuram se proteger nas sociedades
cooperativas, onde se possível capitalizam as sobras e socializam as perdas.
A idéia básica é demonstrar o impacto da tributação nos custos das
cooperativas nos ramos de trabalho, saúde e transporte e para o cooperado em
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especial, apesar da confusão legislativa criada sobre este tipo de sociedade, haja
vista a existência de leis em defesa e apoio do cooperativismo, em divergência com
a legislação fiscal que estabelece normas de arrecadação que sujeita a todos.
Dessa forma, esclarecerá às pessoas que desejam constituir cooperativa, a
carga tributária incidente sobre o ramo trabalho do sistema cooperativo.
O objetivo geral deste trabalho não é estudar o assunto do ponto de vista
jurídico, mas da sua aplicabilidade. Não se questionará a legislação, mas será
demonstrado que, enquanto a lei estiver em vigor, até que ponto chega a carga
tributária incidente sobre alguns ramos do sistema cooperativo, principalmente
saúde, trabalho e transporte e que em conseqüência as cooperativas terão um custo
maior do que deveria ter, o que em última análise representa menos renda para o
cooperado.
Este trabalho tem como objetivos específicos:
Evidenciar os aspectos históricos da tributação no Brasil;
Apresentar os principais tributos e seus impactos nas sociedades
cooperativas de trabalho;
Demonstrar a legislação existente a favor e contra as cooperativas, a opinião
de alguns juristas a respeito do assunto;
Apurar os números que possam representar o impacto da tributação para as
cooperativas;
Desmistificar que as sociedades cooperativas são isentas da tributação.
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2. METODOLOGIA DA PESQUISA
Dentre os diversos métodos de pesquisa existentes, o que mais se adequou
para este trabalho, mais especificamente em Tributação nas Sociedades
Cooperativas, em nível de especialização "lato sensu" foi a Pesquisa Bibliográfica.
A trabalho foi desenvolvido pelo método da pesquisa bibliográfica, por se
caracterizar em um estudo abrangente levando à reflexão a respeito do tema.
O propósito da utilização deste método foi pela sua praticidade, uma vez que
o pesquisador não depende de levantamentos em empresas e outras instituições
que não sejam as bibliotecas e outras fontes de conhecimento do pesquisador.
O processo teve seu inicio com o projeto da monografia, após a sua
aprovação, passou-se à estruturação e digitação dos rascunhos, para os quais
contou-se com a orientação do Professor Blênio César Severo Peixe.
Para o levantamento das informações referentes aos aspectos históricos da
tributação no Brasil, duas obras foram fundamentais, a “História da Tributação no
Brasil”, de Benedito Ferreira e “Do Império à República” de Milton Miró Vernalha,
complementadas com a pesquisa na Internet das constituições de 1824 a 1988,
O módulo de Auditoria e Gestão Tributária, do curso MBA – Auditoria Integral,
contribuiu sobremaneira, com subsídios sobre os Principais Tributos Existentes no
Brasil o que veio a facilitar a tarefa, inclusive no tratamento do Impacto da
Tributação, foi utilizado também para enriquecimento do assunto de citações de
colunistas da Folha de São Paulo, como Anna Bernasek e do O Estado de São
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Paulo, Wilson da Nóbrega, o escritório Picarelli, Advogados Associados, fornece
uma lista de 74 tributos, disponibilizada na Internet e por fim a própria Receita
Federal e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, também foram fontes
de informações já que tratam do assunto, carga tributária.
Tanto na abordagem da legislação pró-cooperativismo como na legislação
contrária ao cooperativismo, foi adotado o confronto da pesquisa documental,
através de pesquisa bibliográfica, procurando demonstrar a incidência tributária a
que as cooperativas estão sujeitas.
No que se refere ao Cooperativismo, Direito Cooperativo e Tributação nas
Sociedades Cooperativas, foram utilizadas as pesquisas bibliográficas, com
pesquisa realizada no acervo da biblioteca da OCEPAR, pesquisa realizada na
biblioteca da UFPR e pesquisa pela Internet.
Pretendeu-se analisar apenas os tributos de interesse para cada ramo de
cooperativa, como o PIS/COFINS, a contribuição previdenciária nas cooperativas de
trabalho e de transporte, o ISS, o ICMS nas cooperativas de consumo e de
transporte e o IRRF/PJ incidente sobre as cooperativas de trabalho.
Conforme o tema se desenvolvia, em títulos e subtítulos, procedia-se a
pesquisa, selecionando as informações obtidas, as quais posteriormente passaram a
fazer parte do trabalho.
Com as informações da tabela I compara-se o volume total movimentado pela
cooperativa (valor hipotético), o quanto ficou para o cooperado, o que foi de
despesas tributárias e quanto sobraria para o cooperado se ele não estivesse na
cooperativa, mais os exemplos dos balanços das cooperativas, comprova-se a
tributação sofrida pelas cooperativas.
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3. DESENVOLVIMENTO
A realidade do que acontece no setor de orientação para constituição de
cooperativas do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná
(OCEPAR) -, onde anualmente comparecem mais de 200 grupos de pessoas
dispostas a constituírem cooperativas, alegando os mais diversos motivos e
interesses, mas principalmente são movidos pela idéia de que cooperativas não
pagam tributos.
Os relatórios anuais da OCEPAR, conforme tabela 02 do Anexo I,
demonstram o total da demanda (pessoas interessadas em constituir cooperativas)
em confronto com o total de cooperativas que se registram na Junta Comercial do
Paraná (JUCEPAR).
Ademais, deve-se destacar ainda que mesmo aquelas cooperativas que já
estão funcionando, os dirigentes e a maior parte do quadro de cooperados, pensam
que a sua cooperativa não paga imposto ou se paga não deveria fazê-lo, já que o
governo deve ajudar a cooperativa com alguma forma de subvenção.
O Governo Lula, por exemplo, está motivando a constituição de cooperativas
no ramo de crédito, na tentativa de se baixar os juros para o consumidor final, (a
maior presença das cooperativas obrigariam os bancos a diminuírem suas margens
para concorrer com as cooperativas).
Para aumentar o número de cooperativas do ramo de crédito o Governo
alterou as normas do Banco Central (BACEN), quanto à autorização de
funcionamento para cooperativas de crédito mútuo, denominadas cooperativas
fechadas, com isto, o BACEN permitiu que se criassem cooperativas de empresários
que estivessem ligados a uma associação ou sindicato, esta mudança está
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provocando um interesse muito grande para a criação de cooperativas de crédito
mútuo de micro e pequenos empresários, ligados à associação comercial, por
exemplo, associação dos revendedores de combustíveis, associações dos lojistas
etc. A cooperativa de credito de livre admissão foi regulamentada pela Resolução
do Banco Central, número 3.106 de 25/06/2003 e as cooperativas de créditos de
empresários (Micros e pequenos empresários) foi regulamentada pela Resolução
do Banco Central número 3.140 de 27/11/2003.
A demanda é tão grande que o SEBRAE, em nível nacional, fez uma parceria
com o Banco Central para prestar orientação na constituição de cooperativa de
crédito especificamente para atender os pequenos e micros empresários, seus
clientes em potencial.
A OCEPAR dá orientação para a constituição de cooperativas em todos os
ramos, sendo que a demanda maior para orientação está no segmento TRABALHO,
em vista da falta de emprego, o que leva as pessoas a procurarem uma alternativa,
existe também a demanda de empresários - que desconhecem o funcionamento de
cooperativas - mas querem terceirizar o trabalho em seu negócio, ao criarem uma
cooperativa para os funcionários; o interesse de entidades públicas como
prefeituras, que estão empenhadas em criar cooperativas de trabalho ou de
produção para catadores de material reciclável; organizações não governamentais
(ONGs) e Organizações Sociais Civis de Interesse Público (OSCIPs) e as
universidades com suas incubadoras de cooperativas, conforme citação de Gediel
em GRUPENMACHER:
...a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, da Universidade Federal do Paraná, desde a sua criação, em abril de 1999, vem procurando apoiar a constituição e consolidação de cooperativas populares, em todo o Estado do Paraná, com base em modelo concebido e experimentado, há cerca de 5 anos, pela Coordenadoria de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade FederaL
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do Rio de Janeiro -COPPE/UFRJ e por outras Universidades, nos últimos três anos. (GRUPENMACHER, 2001. p 89).
No caso das cooperativas do Ramo Crédito, quando as pessoas resolvem por
constituí-las, fazem-no com uma boa base de conhecimento já que o BACEN exige
profissionalização na gestão por se tratar de recursos financeiros e lidar com a
economia popular. O BACEN exige um plano (estudo de viabilidade) prévio para
analisar a viabilidade do projeto antes de conceder a autorização de funcionamento.
Mesmo com todo o cuidado na constituição, nos dois primeiros anos de existência, a
situação é difícil, dependendo da quantidade de clientes (cooperados) e das
operações, já que mesmo sendo cooperativas, elas estão sujeitas às mesmas
condições tributárias dos Bancos, exceto o IRPJ.
Desta forma, no segmento crédito existe um público mais esclarecido, ou já
são empresários e estão apoiados por uma entidade de classe, ou são empregados
de uma grande empresa, facilitando a comunicação e a compreensão da
necessidade de se pagar tributos.
No segmento agropecuário, além da falta de conhecimento do
empreendimento, da empresa, as pessoas julgam que constituindo cooperativas,
estarão amparadas pelo governo que tudo lhes proverá, esquecendo que estão
criando uma sociedade empresária (no novo Código Civil, foi denominada de
“sociedade simples”) da qual serão os donos e os responsáveis, pelos destinos da
cooperativa, inclusive pelos recolhimentos dos tributos.
No interesse pela criação de cooperativa está ocorrendo um fato no mínimo
inusitado, de um lado está o povo querendo fugir da carga tributária (que em 2004
foi de 35,91% do PIB) e pensando que as cooperativas são isentas e do outro lado
está o governo (incentivando a criação de cooperativas), com o objetivo de aumentar
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a arrecadação, visto que com o alto índice de desemprego e com um contingente
enorme de pessoas trabalhando no denominado mercado informal de trabalho,
quando as pessoas passam a fazer parte de uma cooperativa, saem da
informalidade e passam a contribuir com o tesouro.
3.1. TRIBUTO – DESMISTIFICANDO A ISENÇÃO
Para que se possa entender tributos é preciso conhecer os seus
fundamentos, partindo-se de sua definição, classificação, finalidade a sua natureza,
a competência entre as 3 (três) esferas de governo para tributar e arrecadar,
entender a diferença do que seja tributos e o que seja impostos, histórico, a sua
relevância social como fator distribuidor de rendas, entre outros aspectos serão
abordados na seqüência.
3.1.1. Definição de Tributo.
“A expressão tributos foi empregada, originalmente para designar as
contribuições em ouro, escravos, ou sob qualquer modalidade que, nas guerras, o
povo vencido, em sinal de dependência, pagava ao vencedor, o que correspondia às
atuais indenizações de guerra”.(Enciclopédia Barsa vol 13, 1973).
De acordo com o Código Tributário Nacional, (CTN) Lei 5.172 de 25 de
outubro de 1966, em seu art. 3º estabelece: “Tributo é toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada” e, conforme o art 4º.”A natureza jurídica específica do tributo
é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, (...)” grifo nosso.
O Art 5º preconiza que os tributos são, impostos, taxas e contribuições de
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melhoria. A doutrina (Hugo de Brito Machado, Paulo de Barros Carvalho entre
outros), entende que a partir da Constituição de 1988, o empréstimo compulsório e
as contribuições, em sentido amplo, também são espécies de tributos conforme os
artigos 148 e 149 da CF/88.
COELHO enfaticamente, declara:
Nos termos do art. 149 da CF, as contribuições parafiscais em geral estão submetidas aos princípios retores da tributação, e às normas gerais de direito tributário, isto é, ao Código Tributário Nacional. São, pois, ontológica e normativamente, tributos. Em relação a elas incidem os princípios da legalidade, anterioridade, intertempo de 90 dias, irretroatividade e os conceitos de tributo, lançamento, obrigação, etc., enfeixados no Código Tributário Nacional.(COELHO 1988. p.169).
As contribuições sociais de seguridade social constituem tributos de características específicas, vinculados a despesa especial ou vantagem referida aos contribuintes e que podem implicar, ou não, atuação estatal. São inconstitucionais a instituição, a cobrança, a arrecadação e a fiscalização das contribuições por órgãos da administração direta, mesmo diante da expressa previsão legal de posterior repasse dos recursos à seguridade, por violarem o art. 195, I, da CF, em razão de inexistência de financiamento direto.(MELO, 2003 p.89).
De tudo resulta que as contribuições tipificam-se como tributos, por traduzirem receitas públicas derivadas, compulsórias, com afetação a órgão específico (destinação constitucional), e por observarem regime jurídico pertinente ao sistema tributário.(MELO, 2003 p.92).
No art 16 o CTN define que “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato
gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa
ao contribuinte”.
Por necessidade de delimitação do tema não serão abordadas, taxas,
contribuições de melhorias e empréstimos compulsórios, pois são tributos que fogem
da discussão por estarem pacificados e todos (pessoas físicas e jurídicas) serem
tratados com certa isonomia e não serem no seu âmago objetos do presente estudo.
Destaca-se também que não serão estudas as contribuições sociais e
trabalhistas incidentes sobre a folha de salários dos empregados e colaboradores,
pelo fato de que as cooperativas com relação aos seus empregados têm tratamento
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igual às demais empresas e como a relação de emprego não tem ligação com a
atividade de cooperado, inclusive é pacífico o entendimento sobre a legalidade e
justiça dos referidos encargos. A lei 5.764/71 em seu art 91 regulamenta o assunto
como segue: “As cooperativas igualam-se às demais empresas em relação aos seus
empregados para fins da legislação trabalhista e previdenciária”.
3.1.2. Síntese da Regra Matriz da Tributação.
È curioso como na área do direito, foi desenvolvida uma MATRIZ com
fundamentos matemáticos com uma complexidade de compreensão e aplicação
prática. Teoricamente esta matriz é muito útil para levar o leitor a compreender o por
que da incidência tributária ou quem é responsável sobre o que no processo de
tributação, recolhimento e pagamento.
Paulo de Barros Carvalho apresenta o tema em sua obra “Curso de Direito
Tributário", dissecando o assunto em 3 capítulos e segundo ele, (CARVALHO, 2003
p. 243) “a hipótese da incidência tributária foi proposta por Geraldo Ataliba, para
denominar a descrição abstrata, contida na lei, e o fato imponível para representar a
ocorrência no mundo dos fenômenos físicos, que satisfaz os ante-supostos
requeridos pela norma jurídica”.
E ainda, (CARVALHO, 2003, p. 247). “A regra-matriz da incidência tributária
é, por excelência, uma regra de comportamento, preordenada que está a disciplinar
a conduta do sujeito devedor da prestação fiscal, perante o sujeito pretensor, titular
do direito de crédito".
Neste trabalho será transcrito apenas a Matriz e o significado de sua
simbologia, com o fito de registrar a importância do seu enunciado.
ESQUEMA LÓGICO DE REPRESENTAÇÃO FORMAL -
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EXPLICAÇÃO DOS SÍMBOLOS
Esboço da regra-matriz de incidência, utilizando-a para traduzir o cerne da percussão jurídica do IPTU do Município de São Paulo. Na oportunidade, estávamos introduzindo o conceito, vivamente preocupados em mostrar-lhes a utilidade, numa
aplicação pronta e direta para o caso do tributo da competência municipal. Não
tínhamos, ainda, ingressado em análise pormenorizada de seus elementos integrantes,
apenas anunciados de modo genérico e superficial. Fizemo-lo, por isso, numa linguagem
não-formalizada, quer dizer, usando expressões conhecidas, mas abreviadas, em homenagem aos objetivos daquele instante, que eram meramente didáticos. Agora,
podemos dar um passo adiante, procurando formalizar a linguagem, o que se consegue
pela substituição das palavras por símbolos que as representem. Feito isso, teremos a
regra-matriz de incidência nuamente exposta no seu esquematismo formal e plenamente
apta para retratar o fenômeno do impacto jurídico de todo e qualquer tributo. Para tanto, será suficiente substituir as variáveis lógicas pelas constantes do direito positivo, na
operação inversa (desformalização). Vejamos como fica. (CARVALHO 2003 p.344) O enunciado passa pela equação:
H t = C m (v . c) . C e . C t N Jt D S n D S m .
C st = C p (S a . S p ) . C q (B c . A 1)
Explicação dos símbolos
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Njt = Norma jurídica tributária - regra-matriz de incidência Ht = Hipótese tributária, antecedente, suposto normativo, proposição hipótese ou
descritor. = = Equivalência Cm = Critério material da hipótese - núcleo da descrição fática v = Verbo – sempre pessoal e de predicação incompleta • = Conectivo lógico conjuntor. c = Complemento do verbo. Ce = Critério espacial da hipótese - condicionante de lugar. Ct = Critério temporal da hipótese - condicionante de tempo Cst = Conseqüência tributária, conseqüente, proposição conseqüente, prescritor
normativo. Cp = Critério pessoal do conseqüente, onde estão os sujeitos da relação jurídica
obrigacional Sa = Sujeito ativo da obrigação tributária, credor, sujeito pretensor Sp = Sujeito passivo da obrigação tributária, devedor Cq = Critério quantitativo da obrigação tributária - indicador da fórmula de
_determinação do objeto da prestação Bc = base de cálculo - grandeza mensuradora de aspectos da materialidade do fato
jurídico tributário a1 = alíquota - fator que se conjuga à base de cálculo para a determinação do valor
da dívida pecuniária DSn = dever-ser neutro - conectivo deôntico interproposicional. É representado por
um vetor →ę significa que, ocorrida..a..hipótese, deve-ser a conseqüência. DSm = dever-ser modalizado - operador deôntico intraproposicional. E representado
por dois vetores sobrepostos, com a mesma direção, porém em sentidos contrários. Significa a obrigação do sujeito devedor de cumprir a prestação e, ao mesmo tempo, o dIreIto subjetIvo do que é titular o sujeito pretensor.
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3.2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRIBUTAÇÃO NO BRASIL.
Por se tratar de um trabalho acadêmico, não há como deixar de apresentar
um retrospecto da tributação em nossa Pátria, assim, notar que sempre houve uma
atuação forte do Estado para cada vez mais aumentar a carga tributaria desde os
tempos do Brasil Colônia, passando pelo período imperial, o efeito da chegada da
Família Real ao Brasil em 1821, bem como todo o período republicano (A velha a
nova o período de ditadura e a atual) inclusive a criação do Imposto de Renda ainda
na República Velha.
3.2.1 Tributação no Brasil Colônia.
Para demonstrar a origem da tributação no Brasil, foram estratificados alguns
trechos da obra “A História da Tributação no Brasil - Causas e Efeitos” de autoria do
Senador Benedito Ferreira.
Segundo FERREIRA, no Brasil na época da Colônia, mesmo a partir de
1500 lançaram aqui as primeiras medidas de ocupação e a conseqüente “cobrança”
de tributos em favor da Metrópole.
Historiadores da tributação no Brasil dividiram em quatro fases distintas a
implantação do Sistema Tributário aqui adotado por Portugal.
1ª Fase - rendosa e mais difícil, pelas distâncias, era a exploração direta do
patrimônium - o termo patrimônium, vem do império romano, e significava que o
imperador tinha que recolher ao erário sobre seus bens pessoais, denominado de
patrimonium - Bem, para obter receitas deste patrimônio o rei de Portugal, D. João
III, em 1530, quando mandou Martim Afonso de Souza, para cá, regulamentou a
ocupação, criando 15 donatorias, posteriormente transformadas em capitanias
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hereditárias. (FERREIRA - Brasília, 1986 p 19 e seguintes)
O Donatário, posteriormente, o “Capitão Mor” tinha poder para tributar, com
exceção as terras concedidas sob a carta de sesmaria que pagavam somente o
dízimo para a Ordem de Cristo - sob a designação de foro todas as atividades nas
suas jurisdições.
O nosso sistema de sesmaria, que era diferente do romano, teve origem em
lei promulgada por D. Fernando I, para regulamentar a doação de terras não
ocupadas e não cultivadas, gravando-se o beneficiário das ditas doações com a
“sesma”, sexta parte do que viesse nela produzir - (grifo nosso). O adjetivo
evoluiu para “sesmo” designando o novo tipo de contribuinte como “sesmeiro” e por
conseqüência, as doações de terras como sesmarias.
Com a nomeação do Governador Geral em 1548, as terras concedidas sob a
égide das sesmarias sujeitavam os sesmeiros a novas condições e novas formas de
tributos ou impostos, seguem-se os tributos impostos aos sesmeiros:
1. vintena sobre o pau-brasil, especiarias e drogas; 2. Direito de portagem nos rios; 3. Vintena sobre o pescado (1 de cada 20 peixe); 4. O quinto sobre pedra preciosa, ouro, cobre, chumbo, estanho, algofar, coral, pérola, etc;.... 5. Donativo e a terça parte dos ofícios. 6. Contratos dos dízimos. 7. Contratos das entradas. 8. Dízimos das colheitas e do comércio com o exterior. 9. Foros, rendas e direitos das alcaiderias-mores. 10. Pensão anual de 500 réis devida pelos tabeliões das vilas e povoações das Capitanias. 11. Capitação, (fintas, derramas), e outros tributos de menor importância (não relacionados).
2ª Fase - inicia a partir da nomeação de Thomé de Souza para Governador
Geral, que institui a unificação da administração da colônia. (FERREIRA, 1986 p. 22)
Com a Lei Tributária de 1548, D. João III, nomeou naquele mesmo ano,
Antônio Cardoso de Barros, para o cargo de Provedor Mor da Real Fazenda, o qual
ao chegar revolucionou o sistema fazendário, instalando portos de fiscalização e
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arrecadação nas capitanias do Nordeste e na Região Sul, nomeando Brás Cubas,
em São Vicente, como Provedor Parcial, construindo sedes para órgãos da Fazenda
e armazéns para as alfândegas em todas as capitanias.
Todas as mudanças permitem que ao fim de 1550 a renda pública destinada
a coroa já atinja 700.000 cruzados, só o monopólio do pau-brasil, contribuía com
30% sobre o total arrecadado.
No período do 3º Governador Geral, Men de Sá, as rendas da coroa
totalizaram 6.000.000 de cruzados.
Em 1.565 Estácio de Sá, funda a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
construindo-se ali a alfândega e nomeando-se provedor parcial da Fazenda Real.
Neste período além dos tributos já existentes e citados anteriormente, foram criados
outros, divididos em:
a) tributos de caráter ordinários ou permanentes.
a) As cisas. b) As cavalas. c) Os impostos de chancelaria - Lei do selo, criada pelo alvará de 10/03/1797. d) Impostos de passagem; e) Impostos de engenhos. f) Impostos dos molinetes. g) Tributos lançados pelas Câmeras.(FERREIRA, 1986 p. 24) b)Tributo de caráter transitório.
1. Donativos “ espontâneos”. 2. Cotas de indenizações de guerras. 3. Cotas para custear e manter as tropas e fortalezas nas guerras contra os invasores
holandeses e franceses. 4. “Donativos” para o consórcio de membros da família Real. 5. Imposto de “Consulado” - criado para custear a organização e manutenção da esquadra de
comboio. 6. Imposto para a reconstrução de Lisboa e seu respectivo porto, este decreto para vigir por
10 anos consecutivos. (FERREIRA, 1986 p. 25).
Dentre os chamados tributos extraordinários havia o “finta e o derrama” já
citados.
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O autor não posicionou a 3ª e a 4ª fase, pelo que se depreende da obra
citada, a 3ª fase inicia quando em 1.645 foi criada a Companhia Geral de Comércio,
com o privilégio de todo o comércio na colônia.
Como o objetivo era arrecadar, com a companhia se estabelecera os
“estancos” atos legislativos da Fazenda Real, que passaram a controlar as entradas
de mercadorias. Estava praticamente exterminada a sonegação. (FERREIRA, 1986
p. 31).
A 4ª Fase inicia com o desembarque da família real em 24 de janeiro de 1808,
para permanecer até 1821. Constitui-se no maior bem que nos poderia ocorrer, pois
segundo VERNALHA “até então o Brasil sofria com os administradores que Portugal
enviava, eram leis desumanas, cruéis, bárbaras, tudo em detrimento do que se podia
produzir, para proteger o que Portugal enviava”.(VERNALHA 1989 p.12).
Embora tenha sido benéfica para o Brasil como um todo, a vinda de D. João
VI não representou nenhum alívio para os contribuintes, sendo mantidos, na sua
inteireza, os impostos existentes e sobrecarregando ainda mais a carga fiscal.
Dos atos aqui baixados os mais significativos foram:
a) Carta Régia de 28 de janeiro de 1808 (abertura dos portos e instituição do Imposto sobre Importações, ainda vigente nos dias atuais)
b) Decreto de 11 de junho de 1808, privilegiando os produtos de origem portuguesa com alíquota de 16% enquanto os dos outros paises ficavam sujeitos a 24%.
c) Alvará de 27 de junho de 1808 regulamentando o Imposto Predial, o qual, pela Lei de 27 de agosto de 1830, passou a denominar-se décima urbana (10% sobre o valor locativo dos prédios urbanos).
d) Alvará de 1º de abril de 1808, (instalação do Conselho de Fazenda), que levantou a funesta proibição do funcionamento de indústria no Brasil.
e) Alvará de 28 de abril de 1808, (isenção de imposto de importação de matérias-primas destinadas à industrialização)
f) Alvará de 17 de junho de 1809 (instituição do imposto do selo). g) Alvará de 12 de outubro de 1808 (introdução do papel-moeda, emitido pelo Banco do
Brasil). h) Decreto de 16 de dezembro de 1815 (elevação do Brasil à condição de Reino). i) Decreto de 22 de abril de 1821 (dando a Regência a seu filho D. Pedro), assinado 4 dias
antes do seu retorno a Portugal. (FERREIRA, 1986 p. 36)
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3.2.2 Tributação no Brasil Imperial
Todos sabem que ao voltarem para Portugal a Casa Real portuguesa adotou
a estratégia de guerra, prevendo que sedo ou tarde aconteceria a independência,
assim levaram tudo o que puderam, causando até a falência do Banco do Brasil, que
foi extinto em 23 de setembro de 1829 lavaram as riquezas mas ficaram as
estruturas de estado , como Estado Maior, os Tribunais etc e segundo Rocha
Pombo, D Pedro I escreveu ao pai pedindo socorro de cujo texto destaca-se o
seguinte : “ Haja por bem dar-me um quase repentino remédio, para que eu não me
veja envergonhado depois de me ter sacrificado a ficar no meio de ruínas” Então
tivemos um novo recomeço com déficit orçamentários, despesas maiores que as
receitas.
Proclamada a independência, o seu reconhecimento iria nos custar cerca de
£$ 2.(dois) milhões de libras esterlinas, assumindo um dívida de £$1.5 (hum milhão
e quinhentos mil, através de empréstimo contraído por Portugal e mais indenizações
de propriedades e bens da Coroa e material de Marinha de Guerra, que ficariam
pertencendo ao Brasil.
D Pedro I teve grandes dificuldade para administrar o seu governo, aboliu
diversos impostos, reduziu outros e alguns foram alterados e regulamentados. A
gestão de D. Pedro I foi uma constante de dificuldades financeiras e políticas,
especialmente no aspecto fiscal. Todavia em 25 de março de 1824 Promulga a
nossa primeira Constituição; em vista das dividas procurou melhorar as receitas do
Tesouro como segue:
Decreto de 30 de outubro de 1822 (Direito sobre Mercadorias importadas do
exterior).
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Decreto de 04 de janeiro de 1823 (Organizou o Consulado, criou e
estabeleceu a cobrança dos direitos de exportação).
As desordens nas finanças acabam levando a profundo abalo o crédito
público, colimando com a abdicação de D. Pedro I a 7 de abril de 1831 ai entramos
no período da Regência Trina que a 3 de outubro de 1834 tem aprovada a Lei
Orçamentária, onde estabelece que para as províncias (estados) caberiam cerca de
5 tipos de tributos e ao Poder Central nada menos que 58 conforme se pode
visualizar no anexo II.
3.2.3. Tributação no Período Republicano
A constituição de 1891 nos apresenta apenas o artigo 7º com 4 incisos
referente à tributação, para a União e o artigo 9º com 4 incisos e 3 parágrafos
referente à tributação pelos estados. O que ocorria é que naquela época a política
econômica era dominada pelo liberalismo o qual no século XIX era definida como um
mínimo de governo com leis e a Constituição traçada voluntariamente pelo povo,
através de representantes responsáveis, em outras palavras, o estado não tinha
responsabilidade para com a sociedade, cabendo ao mercado se auto-regulamentar
e resolver todos os problemas de interesse de todos (toda a infra-estrutura é
montada com recursos privados). O liberalismo econômico tinha por base os
princípio do laissez-faire, laissez-passer. Segue abaixo transcrição na integra dos
artigos 7º e 9º da Constituição de 24/02/1891.
Art 7º - É da competência exclusiva da União decretar: 1 º ) impostos sobre a importação de procedência estrangeira; 2 º ) direitos de entrada, saída e estadia de navios, sendo livre o comércio de
cabotagem às mercadorias nacionais, bem como às estrangeiras que já tenham pago impostos de importação;
3 º ) taxas de selo, salvo a restrição do art. 9º, § 1º, nº I 4 º ) taxas dos correios e telégrafos federais. Art 9º - É da competência exclusiva dos Estados decretar impostos:
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1 º ) sobre a exportação de mercadorias de sua própria produção; 2 º ) sobre Imóveis rurais e urbanos; 3 º ) sobre transmissão de propriedade; 4 º ) sobre indústrias e profissões. § 1º - Também compete exclusivamente aos Estados decretar: 1 º ) taxas de selos quanto aos atos emanados de seus respectivos
Governos e negócios de sua economia; 2 º ) contribuições concernentes aos seus telégrafos e correios. § 2º - É isenta de impostos, no Estado por onde se exportar, a produção dos
outros Estados. § 3º - Só é lícito a um Estado tributar a importação de mercadorias
estrangeiras, quando destinadas ao consumo no seu território, revertendo, porém, o produto do imposto para o Tesouro federal.
A Constituição de 16 de julho de 1934 acrescenta itens novos á relação dos
tributos, devendo estar claro que o pensamento vigente nos constituintes ainda era a
do Liberalismo, No anexo II se encontra a transcrição na integra dos artigos 6º, 7º,
8º e 9º da Constituição de 16/07/34.
A constituição de 34 durou apenas 3 anos pois o Brasil entrou no regime de
exceção decretado pelo Governo de Getulio Vargas, enquanto a constituição de 34
é promulgada pelos constituintes, a de 37 é promulgada pelo Presidente e seus
Ministros, O principio básico do enfoque político econômico, muda do liberalismo de
mercado para o intervencionismo do Estado, faz-se necessário aqui abrir um
parêntese para especificar a diferença básica entre um regime e outro - Não se trata
aqui do Estado provedor de todas as necessidades humanas, dentro da ideologia
socialista-comunista, mas do Estado controlando o capitalismo e atuando como
investidor e fomentador do desenvolvimento, enquanto o liberalismo teve seu
apogeu no século XIX fundamentado na obra de Adam Smith “Riqueza das Nações”
, o intervencionismo do estado ganha força após o Crack da Bolsa de Nova Yorque
em 1929, quando na seqüência outro economista inglês Sr.John Maynard Keynes
com sua obra “Teoria Geral do Emprego, Lucro e Moeda” foi convidado pelo
Governo americano para traçar um plano de recuperação, o qual teve grande êxito.
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Luiz Carlos Bresser Pereira, enfatiza que “o Estado cresceu demasiadamente em
todo o mundo entre as décadas de 30 a 70” (PEREIRA, 1996 p.63) e ainda que o
Estado passa por ciclos de modelos políticos-econômicos dividindo estes ciclos em 3
fases que são: (Op. cit..p.67).
1 - Estado Planejador (Modelo Soviético) - Que sabemos não existe mais; 2 - Estado Desenvolvimentista - Como aplicado no Japão e na Alemanha; 3 - Estado Coordenador e do Bem Estar - modelos dos paises da OCDE -
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico”.
Segundo PEREIRA, no meado da década de 90 o Brasil estava passando da
fase 2 (dois) para a fase 3 (três), para a fase 2(dois) ele denominou de “consenso
keynesiano” e para a fase 3 (três) de neo liberal pela necessidade de redução do
Estado, sem contudo deixar de controlar a economia, e que o Governo FHC é um
marco nesta fase pelas privatizações e implementação das agências reguladoras,
isto posto, retorna-se à constituição de 1937 - Apesar de ser uma constituição de um
regime totalitário, tinha princípios de compromisso com o social. No Anexo II, podem
ser lidos na integra os artigos 20, 23 e 24 da Constituição de 10 de novembro de
1937.
Devendo ser ressaltado que de 1939 a 1945 o Brasil como o resto do mundo
sofreu os efeitos da II Guerra Mundial.
Em 1946 volta-se ao regime democrático, apesar das tendências socialistas
onde se previa o monopólio do estado nas industrias de base e em serviços
essenciais. Os artigos 15 e 19 da Constituição se encontram na íntegra no anexo II
Em 1964 o país volta ao regime de exceção, e tem sua base tributária
alterada e ampliada com a Constituição de 1967. No anexo II se encontra na integra
os artigos 22, 23, 24 e 25 da Constituição.
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3.2.4. Criação do Imposto de Renda
Merece destaque o fato de que em 30 de dezembro de 1922, portanto sob o
“manto” da Constituição de 1891, através da Lei Orçamentária nº 4.625, foi criado o
Imposto de Renda conforme artigo 31 da citada lei:
“Fica instituído o Imposto de Renda, que será devido anualmente, por toda
pessoa, física ou jurídica, residente no território do País, e incidirá, em cada caso
sobre o conjunto liquido dos rendimentos de qualquer natureza”.
Mesmo passando a vigir em 1923, duas décadas de atraso em relação aos demais tributos pós-constituição de 1891, em vista das diversas dificuldades de implantação e execução o Imposto de Renda teve execução efetiva a partir de 1926. A lei 4.625 dividia em quatro categorias os rendimentos sujeito ao novo (velho) tributo:
1º) comércio e qualquer exploração industrial, inclusive agrícola; 2º) capitais e valores mobiliários; 3º) ordenados públicos e particulares, subsídios, emolumentos, gratificações,
bonificações, pensões, e remunerações sobre qualquer título e forma contratual; 4º) exercício de profissões não comerciais e não compreendidas em categoria
anterior. (FERREIRA, 1986 p. 75) Finalizando o levantamento histórico da tributação no Brasil, não se pode
deixar de lembrar que os tributos são criados para cobrir os gastos e investimentos
do Estado, é conveniente citar Joaquim Nabuco, em transcrição do próprio Ferreira
como segue:
A pior doença que afligia a administração pública brasileira era e ainda é até hoje, a doença da empregomania, a malversação dos recursos públicos, a generosidade com o dinheiro do contribuinte, orientado, mais das vezes, a exemplo do que ocorreu no passado e ainda constatamos hoje, o empreguismo, o custeio, coisa intocável, tabu para Oposição e para Governo, vez que no texto da nossa Carta Magna, lá está desde 1967, o preceito a reclamar uma lei complementar, fixando os parâmetros para as despesas de custeio da administração pública. (FERREIRA, 1986 p. 42).
É instrutivo também citar o pensamento do Dr Samuel Johnson em prefácio
da obra de Benedito Ferreira nos seguintes termos:
Através das idades transparecem algumas constantes A primeira é a voracidade dos governos que não satisfeitos de tributar os
cidadãos, recorrem cronicamente ao endividamento. Isso ocorreu com os faraós, os barões feudais e os estados modernos.
A segunda, é o excesso ou arbitrariedade da tributação, que foi fator promotor da dissolução de impérios e da eclosão de revoluções.
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E, terceiro, é o papel do imposto na formação de uma consciência cívica. Como dizia Mirabeau - “o imposto é como uma dívida comum dos cidadãos, o preço das vantagens que a sociedade lhes propicia.” A vinculação do imposto ao serviço prestado pelo Estado, é fundamental, principalmente nos regimes democráticos; nestes o contribuinte vota tributos como um endividamento sobre os serviços que espera do Estado. (FERREIRA 1986 prefácio).
Para melhor compreensão desta faze histórica da tributação no Brasil
recomenda-se a leitura do anexo I onde se encontra a tabela 03 da evolução
histórica da tributação no Brasil.(BETTONI, 2004).
3.3. PRINCIPAIS FONTES DE FINANCIAMENTO DO GOVERNO BRASILEIRO Quando se estuda a tributação e seu impacto na sociedade é preciso
entender as necessidades de financiamento do governo, como a priori o governo
não produz, só gasta, então se faz necessário lançar um olhar sobre as fontes de
financiamento do governo, afinal o governo é sustentado só com os tributos que
arrecada ou tem outras fontes de receitas? José Eduardo Soares de Mello, dá uma
idéia de onde vem o recurso (receitas) que cobrem os gatos do governo conforme
descrição abaixo:
O país necessita de recursos para atingir seus objetivos fundamentais,
consistentes na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, no desenvolvimento nacional, na erradicação da pobreza e da marginalização, na redução das desigualdades sociais e regionais, bem como na promoção do bem estar da coletividade (art. 1º, § 3º, da constituição Federal).
A união, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios executam inúmeras e diversificadas atividades, como se colhe do simples exame de matérias previstas na Constituição Federal, concernentes aos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário (arts. 44/154); Forças Armadas e Segurança Pública (arts. 142/144); Seguridade Social (arts. 194/204); Educação, cultura e Desporto (arts. 205/217); Ciência e Tecnologia (arts. 218/219); Meio Ambiente (art.225); Família, Criança, Adolescente e Idoso (arts.226/230). São ainda dotados de competência constitucional para participar da ordem econômica e das políticas urbanas, agrícola e fundiária (arts.170/191)
A execução de todas essas atividades ( de natureza pública e privada implica a utilização de pessoal, aquisição de bens, realização de investimentos, demandando a imprescindível obtenção e manuseio de valores, atinentes a receitas e despesas, elaboração de orçamentos, significando um procedimento de autêntica gestão financeira.
Determinados valores pecuniários, correspondendo receita derivada do
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patrimônio das pessoas privadas, (naturais e jurídicas), têm a característica de tributos, consoante sistemática constitucional, regrados por peculiar regime jurídico.
Como se pode ver o país tem necessidade de obter recursos para poder atingir
seus objetivos fundamentais, originários de seus próprios bens, ou derivados de patrimônio dos particulares em razão do que a absorção de valores pecuniários decorre de diversas causas como:
a) contratos administrativos (alugueres, doações, juros, laudêmios, foros, preços) ;
b) fianças, cauções, depósitos; c) multas decorrentes de sanções; d) indenizações; e) adjudicações; e f) tributos. (DE MELO, 2004 p. 11 e 44).
Como se observa no texto o Estado tem outras fontes de recursos que são
originados de seus próprios bens (Lucros das empresas estatais, alugueres de
propriedades etc) desta feita o Estado explora empresas executando atividade
privada e surge uma pergunta, as empresas estatais (cujo capital tem origem na
tributação) são eficazes, geram lucro compatíveis com os investimentos? Atendem
pelo menos aos objetivos sociais para o qual foram criadas?
O que se vê nos dias de hoje é a contaminação, na ralação do publico com o
privado, as empresa publicas desviando parte do lucro para os “Fundos de Pensão”
e este fundos desviando o recurso para os partidos políticos e para outras
finalidades não muito clara, deixando a sensação de que o contribuinte paga cada
vez mais não só para cobrir as necessidades de investimentos do Estado, mas ainda
para cobrir as deficiências das empresas estatais, pois os lucros e as rendas de
alugueis poderiam estar cobrindo uma parte maior dos gastos do governo.
3.4. PRINCIPAIS TRIBUTOS EXISTENTES NO BRASIL
Como o Brasil é um dos paises com uma das maiores cargas tributária
do mundo, objetiva-se demonstrar como este fato ocorre e como é distribuído o
tributo nas 3 (três) esferas de governo.
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3.4.1 Tipos de Impostos que Afetam a Sociedade Brasileira
A) Federais (Diretos e Indiretos):
I. Imposto Sobre Importação (II);
II. Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI);
III. Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ);
IV. Imposto de Renda Retido na Fonte (Sobre o Capital e Trabalho -
IRRFPJ);
V. Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF);
VI. Imposto sobre a Propriedade Rural (ITR);
VII. Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira
(CPMF);
VIII. Contribuição para Financiamento da Seguridade Social
(COFINS);
IX. Programa de Integração Social (PIS);
X. Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL);*
XI. Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE).
* Obs: A partir de 1º de janeiro de 2005, as cooperativas estão
isentas da CSLL, de acordo com a Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004,
art. 39 e 48.
B) Estaduais: (Diretos e Indiretos)
XII. Imposto de Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços de Transporte e Comunicação (ICMS), incide sobre mercadoria
nacional e estrangeira, alimentação e bebidas e transporte interestadual e
intermunicipal, energia e telecomunicações.
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XIII. Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
C) Municipais (Diretos).
XIV. Imposto de Propriedade Predial e Territorial Urbana
(IPTU);
XV. Imposto de Transmissão Inter Vivos de Imóvel (ITBI);
XVI. Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).
No Anexo I pode-se ver na Tabela 04, os principais tributos por
Siglas, com as suas respectivas alíquotas e denominação.
3.5. IMPACTO DA TRIBUTAÇÃO NO CUSTO DA COOPERATIVA
O impacto da tributação na sociedade brasileira é enorme chegou a atingir
35,91% do Produto Interno Bruto PIB no ano de 2004, sendo que para as empresas,
conforme estudo realizado pelo professor Ariovaldo dos Santos da FEA-USP, em
citação de BETTONI (UFPR 2004 p.10), encerrado em dezembro de 2000, o Estado
é o maior “sócio” ficando com a maior parte da riqueza gerada pela empresas. Em
sua conclusão o professor aponta. “Tributos ficam com 43% das receitas, o pessoal
com encargos 23% e a remuneração do capital 34%”.
Em conseqüência desta carga tributária há uma reclamação geral de que o
desemprego é provocado pelo excesso de impostos, que não há excedente para os
empresários investirem em novas plantas industriais etc., há outra corrente,
entretanto que afirma que os impostos são impulsionadores de desenvolvimento, a
esse respeito em artigo, publicado na Folha de São Paulo de 10/04/05 na Coluna
“Opinião Econômica - Impostos e Crescimento”, Anna Bernasek faz uma análise da
influência da tributação na economia, cujo texto se encontra no anexo V, Bernasek,
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levanta a questão do ponto de vista dos interesses convergentes de cada peça que
compõe o jogo da política econômica, como por exemplo de um lado está o
Presidente Americano querendo reduzir os impostos, de outro o Presidente do
Banco Central (FED) querendo aumentar e o partido político querendo uma reforma
ampla em todo o sistema fiscal, segundo ela o sentimento anti-impostos está focado
na crença de que os impostos são ruins para a economia, e por outro lado dois
economistas concluíram estudos afirmando de que “a evidência de que os índices
de impostos influem no crescimento econômico é perturbadoramente frágil”. Informa
também que um outro especialista fez um levantamento e apurou que no século XX,
o crescimento da carga fiscal nos EUA e em outros paises desenvolvidos
acompanhou o aumento da prosperidade.
No mesmo anexo V encontra-se um comentário do ex-ministro Maílson da
Nóbrega, segundo o qual se cair a carga tributária o Brasil pode piorar isto dito em
2004, ao passo que hoje (10/2005) foi aprovado pelo Congresso a MP 255
denominada de “Medida Provisória do Bem” onde se prevê a redução de alguns
tributos, entre eles a desoneração das cooperativas de transporte na incidência do
PIS e da COFINS.
Segundo BETONI (ob cit.), há uma relação direta entre a carga tributária e o
nível de desenvolvimento (quanto mais desenvolvida a economia, maior a carga
tributária), mas o que é mais grave é que enquanto nos paises desenvolvidos a
tributação é sobre a renda, nos paises subdesenvolvidos a tributação é sobre
comércio exterior e nos paises em desenvolvimento (como Brasil) a tributação recai
sobre o consumo, sendo um sistema tributário regressivo.
O impacto da tributação é um assunto, que ultrapassa as fronteiras
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brasileiras, e bastante polêmico quanto aos benefícios que pode trazer para a
sociedade, como educação, pesquisa saúde, infra-estrutura, principalmente podem
impulsionar o desenvolvimento, mas também não se pode negar que os recursos
arrecadados pelo Estado em forma de tributos são mal aplicados ou utilizados
indevidamente, gerando um custo cada vez maior para a sociedade. Reforçando
este ponto no anexo V tem-se o comentário, disponibilizado na Internet pelo
escritório Picarelli, Advogados Associados, que entre outras informações listam um
total de 74 tributos.
Segundo a Receita Federal, a Carga Tributária Bruta CTB, atingiu 35,91% do
PIB - Produto Interno Bruto em 2004, contra 34,90% em 2003 e que essa variação
foi uma resultante da combinação do crescimento em termo reais de 4,6% do PIB e
de 7,62% no crescimento da arrecadação nos 3(três) níveis de governo, na tabela
05 do Anexo I pode se ver como a tributação no Brasil é representativa em
comparação com outros paises..
Em vista da abordagem no item 3.2.3 (A Tributação no Período no
Republicano), onde se destaca o crescimento da carga tributaria conforme a
ideologia política no poder dominante, e em pesquisa realizada pelo IPEA - Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada, destacando a evolução da carga tributária que
adicionada a informação da tabela 05 permite uma visão deste processo nos últimos
57 anos. Conforme o IPEA, informa em 1947, a carga tributária representava 13,8%
do PIB a qual veio num crescimento até atingir 18,7% do PIB em 1958, tendo ai
iniciado um recuo em meio a crise institucional, ficando em 15,8% do PIB em 1962.
Nos anos seguintes ocorreu uma profunda reforma tributária e se recuperou a
tendência ascendente. Completado o período de transição 64-67 a carga tributária
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atingiu 25% do PIB no final dos anos 60 e permanecendo oscilando neste patamar
ao longo de toda a década de 70 (Regime Militar - período do “milagre brasileiro”) -
investimento com base em empréstimos externos e crise do petróleo, aumento do
endividamento. Só ocorreu outra mudança drástica em 1990 com o Plano Collor,
quando a carga totalizou 28,8% do PIB e por fim, em 1994 com o Plano Real a carga
tributária atingiu 29,8% do PIB. Em números relativos, comparando a carga tributária
de 1990 com a de 2000 dá uma idéia de um acréscimo pequeno de apenas 3,75%
em 10 anos, mas considerando 1990 como ano base (100) o aumento foi de
13,02% no período. (IPEA 1998 p 3).
O fato marcante que diferencia o Brasil dos demais paises é que o imposto
que se paga não retorna à população na forma de serviços prestado pelo Estado,
pode-se citar o exemplo do segmento automotivo, onde há uma carga elevada de
tributos, no veículo novo e nas peças (IPI, ICMS e CPMF) nos combustíveis (IPI,
ICMS , CIDE e CPMF) e anualmente o IPVA, em contrapartida as estradas não são
boas, as melhores são pedagiadas, aí o contribuinte paga de novo, e neste ritmo,
seguem a educação, quem quer uma melhor tem que pagar, a saúde, tem que pagar
um plano de saúde privado, a segurança, tem que pagar as empresas de segurança
eletrônica em casa.
3.6. LEGISLAÇÃO REGULATÓRIA DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS
As Sociedades cooperativas têm um ordenamento jurídico diferenciado, se
comparado com outras formas de sociedades, o seu estudo vem cativando cada vez
mais pessoas interessadas em fortalecer uma nova forma de relação entre as
pessoas.
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Ressalta-se que alguns notáveis entre eles Waldirio Bulgarelli, advoga há
tempos a criação do ramo do Direito Cooperativo (BULGARELLI, 1.967 p.156/157).
3.6.1. Da Legislação Pró-Cooperativismo
Considerando que o objeto de estudo é a tributação, mais precisamente
demonstrar que as cooperativas pagam impostos, mesmo havendo legislação
favorável à não incidência, o que nos leva ao artigo 79 da Lei 5.764/71 que dá todo o
embasamento legal sobre a não incidência e ou isenção nas sociedades
cooperativas.
O art. 79 assim preconiza: “Denominam-se atos cooperativos os praticados
entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas
entre si quando associadas, para consecução dos objetivos sociais”.
Parágrafo único. “O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem
contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”.
Como se pode observar, se a operação da cooperativa com o cooperado e do
cooperado com a cooperativa não é considerada operação mercantil, o que significa
que a cooperativa é apenas uma sociedade auxiliar, que cumpre mandato, ou seja,
cumpre ordens do dono, é comum dizer que a cooperativa é o “braço do cooperado
para alcançar o mercado” não há porque falar de tributos, pois dentro deste
embasamento legal não existe fato gerador do tributo.
A Constituição Federal de 1988 recepcionou a Lei 5.764/71 de tal forma que
em seu artigo 5º inciso XVIII reza - “a criação de associações, e na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em
seu funcionamento”;
Quando trata do Sistema Tributário Nacional em seu Título VI Capítulo I a
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Constituição Federal estabelece:
Art. 146 Cabe à lei complementar.
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária
especialmente sobre: alínea c - adequado tratamento tributário ao ato
cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. grifo nosso.
No título VII, que trata da Ordem Econômica e Financeira, capitulo I que
regulamenta os princípios gerais da atividade econômica a Constituição Federal em
seu art 174 § 2o. Estabelece “a lei apoiará e estimulará o cooperativismo”.
A Lei Complementar Nº 70 de 30/12/91 que Instituiu contribuição para
financiamento da Seguridade Social, elevou a alíquota da contribuição social sobre o
lucro das instituições financeiras em seu artigo 6º estabelecia:
“Art. 6° São isentas das contribuições”:
I - as sociedades cooperativas que observarem ao disposto na
legislação específica, quanto aos atos cooperativos próprios de suas finalidades”.
A partir de 1º de janeiro de 2005, as cooperativas estão isentas da CSLL, de
acordo com a Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004, artigos 39 e 48.
Até este ponto foi apresentado o que há na legislação pela não incidência
tributária nas cooperativas, todavia, é justo afirmar que houve um maior interesse
pela constituição de sociedades cooperativas de trabalho após a inclusão do
parágrafo único do Art 442 da Consolidação das Leis Trabalhista CLT que
estabelece: “Qualquer que seja o ramo de atividade cooperativa, não existe vínculo
empregatício entre ela e seu cooperado, nem entre estes e os tomadores de
serviços daquela”.
Esta inclusão foi desnecessária, pois, termo semelhante já constava no Art 90
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da Lei 5764/71 que assim reza: “Qualquer que seja o tipo de cooperativa, não existe
vinculo empregatício entre ela e seus associados“.
O fato é que a sua inclusão na CLT tornou o fato visível, pois a Lei 5764/71
não está às mãos dos operadores do direito como a CLT está.
Pode-se afirmar que em vista do acima apresentado sobre as sociedades
cooperativas fica claro o questionamento, apresentado na introdução nos seguintes
termos: “Acredita-se que a falta de informação leve as pessoas a julgarem que as
sociedades cooperativas não sofrem incidência tributária. Mas que fatos as
conduziram a esta conclusão?”.
3.6.2. Da Legislação Contrária ao Cooperativismo
Com o advento da CF/88, o Brasil é declarado um Estado Democrático de
Direito, e, no Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais - Capitulo I - Dos
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos no Art 5º reza: “Todos são iguais perante a
Lei, sem distinção de qualquer natureza, (...)” E, no inciso II do mesmo artigo
determina: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”.
Ao dispor sobre a seguridade social a constituição Federal de 1988
preconizou nas disposições gerais:
Art 194. “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.
Art 195. “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei; (...)”.
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No item 2.1 na definição de sociedade cooperativa, foi abordado o
denominado ATO COOPERATIVO, o qual leva a crer a existência de um Ato não
cooperativo o que é correto, a própria Lei 5764/71 em seus artigos 85, 86 e 87
regulamenta o assunto como segue:
Art. 85 - As cooperativas agropecuárias e de pesca poderão adquirir produtos de não associados, agricultores, pecuaristas ou pescadores, para completar lotes destinados ao cumprimento de contratos ou suprir capacidade ociosa de instalações industriais das cooperativas que as possuem;
Art. 86 - As cooperativas poderão fornecer bens e serviços a não associados, desde que tal faculdade atenda aos objetivos sociais e estejam de conformidade com a presente lei.
Parágrafo único - No caso das cooperativas de crédito e das seções de crédito das cooperativas agrícolas mistas, o disposto neste artigo só se aplicará com base em regras a serem estabelecidas pelo órgão normativo;
Art. 87 - Os resultados das operações das cooperativas, com não associados, mencionados nos arts. 85 e 86 serão levados à conta do “Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social” e serão contabilizados em separado, de molde a permitir cálculo para a incidência de tributos.
Vale destacar ainda a interpretação que os agentes do Estado dão à
definição de cooperativas especificada no artigo 4º da Lei 5764/71, anteriormente
citado, onde se lê: “(..) constituídas para prestar serviços aos associados.(..)”.
Em vista deste texto, entendem que as cooperativas são contribuintes do ISS,
da CPMF, do IRPJ, retido na fonte sobre o capital, da CSLL, e lógico do PIS e da
COFINS.
Tem a Lei 9.532 de 10 de dezembro de 1997, que em seu artigo 69 reza:
“Art. 69. As sociedades cooperativas de consumo, que tenham por objeto a
compra e fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se às mesmas normas
de incidência dos impostos e contribuições de competência da União, aplicáveis às
demais pessoas jurídicas”.
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3. 7. FORMAS DE ASSOCIATIVISMO
Procura-se demonstrar de forma sucinta, as diversas formas de
associativismo que existem, além da cooperativa, como associações, Ocip,s,
fundações etc.
3.7.1. Sociedade Cooperativa ou Sociedade Mercantil?
Como o presente trabalho visa servir de fonte de informação ás pessoas que
queiram constituir uma sociedade cooperativa, entende-se que se deva fazer um
parêntese para reforçar o conceito do que seja uma sociedade cooperativa, com
base em outros argumentos e formas de apresentação, assim têm-se que as
pessoas que pretendem constituir uma sociedade cooperativa devem procurar
entender os aspectos que se seguem:
a) As sociedades cooperativas são uma forma de estrutura empresarial
como as outras, mas que é regida por uma legislação própria, da mesma forma que
as micros e pequenas empresas têm uma legislação, as sociedades anônimas têm
outra, as fundações , as Organizações Civis de Interesse Publico - OCIPS outra etc.
Mas um fator tem que ficar claro. Na definição dada pela lei específica, no seu art 3º
estabelece; “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens e serviços para o exercício de
uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro” grifo nosso.
Como destacado pelo grifo, para se constituir uma sociedade cooperativa as
pessoas têm que exercer uma atividade econômica comum, então a cooperativa é
uma empresa que vai trabalhar para aumentar a escala da capacidade de produção
destas pessoas e conseqüentemente deverá trazer para estas pessoas uma
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remuneração maior para elas trabalhando em conjunto do que se estivesse
trabalhando isolado. Reforçando, cooperativa é uma forma de sociedade que deve
ser criada para proporcionar aos sócios maneiras de ganhar mais dinheiro, em
princípio é isto, qualquer coisa fora disto é utopia, o social é conseqüência, pois só
há possibilidade de atender a parte social na medida que os sócios da cooperativa
não estejam com a situação econômica ameaçada.
b) As pessoas compreendendo o que foi abordado anteriormente e tendo
optado pela sociedade cooperativa como sendo a melhor forma empresarial para a
atividade econômica que vão desenvolver, deverão observar que para uma
sociedade cooperativa dar certo, obrigatoriamente deverá estar sedimentada nos
seguintes pilares:
I Necessidade - dentro da realidade;
II Viabilidade - Econômica e Social;
III Legalidade - Registros e Operações;
IV Administração - Credibilidade e compromisso.
Ressalta-se que a Viabilidade Econômica da Cooperativa passa sem dúvida,
pelo estudo da implicação da carga tributária na atividade a ser desenvolvida pelos
sócios na cooperativa.
c) Ainda para fortalecer o entendimento sobre as sociedades cooperativas é
conveniente demonstrar as principais diferenças existentes entre a sociedade
cooperativa e a sociedade mercantil conforme demonstrado na tabela 06 do Anexo I:
3.7.2. Tipos de Associações.
“Geralmente o termo associação é reservado para as entidades sem fins
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econômicos, enquanto sociedades, para as entidades com fins lucrativos, embora
isso não seja estrito, nem seja regra. O Novo Código Civil no art. 53 dispõe:
Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins
não econômicos”.(VENOSA, 2003 p. 285).
Todo tipo de associação que se possa imaginar (recreativa, desportiva,
educativa, cultural, filantrópica etc,) como as associações de classes, os sindicatos,
tanto patronais como de empregados, as ordens religiosas e mesmo os partidos
políticos são formas de associativismos.
Os condomínios são outra forma de associativismo, tendo duas
características o urbano e o rural, o urbano é regido pela Lei 4.591 de 16/12/64.
O condomínio rural trata-se de um agrupamento de pequenos produtores
rurais - pessoas físicas - que, individualmente, não teriam demanda de trabalho para
empregar trabalhadores em caráter permanente, pois sua atividade é estritamente
sazonal e o labor exigido se estende pelos curtos períodos de safra. A finalidade do
condomínio é possibilitar que este grupo de empregadores coletivamente contrate os
empregados, registrando-os e garantindo-lhes todos os direitos trabalhistas e
previdenciários. Tais obrigações serão partilhadas entre todos os componentes do
grupo de empregadores, segundo a proporção em que cada um utilizar a mão-de-
obra. Essa modalidade de contrato permite aliar a legalidade à facilidade de
contratação, incentivando a empregabilidade sem a precarização dos direitos
sociais. Ressaltam-se ainda os consórcios e as centrais de compras.
3.7.3. Sociedades Cooperativas.
No X Congresso Brasileiro de Cooperativismo, os congressistas elaboraram a
seguinte definição de cooperativa:
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“Cooperativa é uma organização de pessoas unidas pela cooperação e ajuda
mútua, gerida de forma democrática e participativa, com objetivos econômicos e
sociais comuns de todos, cujos aspectos legais e doutrinários são distintos de outras
sociedades”.
A Lei 5.764 de 31 de dezembro de 1971 em seus artigos 3º assim as define:
Art 3º celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens e serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.
3.7.4. Origem das Sociedades Cooperativas
O trabalho versa sobre a tributação nas sociedades cooperativas, todavia, um
pouco da historia que levou a humanidade a criar este tipo de sociedade ajuda a
entender, o por que dessa distinção que nos leva a crer que este tipo de sociedade
seria a melhor solução para a humanidade, já que todos estariam imbuídos no bem
comum, sendo a sociedade cooperativa, o fiel da balança entre o capitalismo e
socialismo.
Procurando não fugir da fidelidade dos fatos, foram transcritos de forma
sintetizada, alguns textos que dão uma idéia geral da origem do cooperativismo
como segue:
Cooperativismo origina-se da palavra cooperação. É uma doutrina cultural e socioeconômica, fundamentada na liberdade humana e nos princípios cooperativos.
Cooperar é agir de forma coletiva com os outros. A prática da cooperação educa a pessoa desenvolvendo uma mentalidade mais aberta, flexível, participativa, humana e solidária.
A história da humanidade relata que o ser humano pratica a união há milhares de anos, pois há exemplos dos egípcios, gregos, romanos e, mais recentemente, dos incas, maias e astecas, que se valiam da u