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TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE Avenida Professor Egas Moniz – Almada Tel.: 21 273 93 60 | www.ctalmada.pt | [email protected] Encenação de Rodrigo Francisco Uma produção da Companhia de Teatro de Almada Uma comédia de Ferenc Molnár Com Rui Mendes no protagonista “Eu vejo-me obrigado, temporada após temporada, a falar com os corações alheios.” fotografia: Rui Carlos Mateus

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Page 1: Uma comédia de Ferenc Molnár - SATAE · 2020. 11. 2. · A comédia Um teatro sobre o teatro P relúdio ao Rei Lear, peça sardónica ao modo de Pirandello, consistin-do num único

TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITEAvenida Professor Egas Moniz – Almada Tel.: 21 273 93 60 | www.ctalmada.pt | [email protected]

Encenação de Rodrigo FranciscoUma produção da Companhia de Teatro de Almada

Uma comédia de Ferenc Molnár

Com Rui Mendesno protagonista

“Eu vejo-me obrigado, temporada após temporada, a falar com os corações alheios.”

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PRELÚDIO AO REI LEAR

Rodrigo Francisco foi assistente de encenação de Joaquim Benite entre 2006 e 2012. É autor de Quarto minguante (2007) e Tuning (2011). Na Companhia de Teatro de Almada dirigiu os seguintes espectáculos: Falar verdade a mentir, de Almeida Garrett (2011); Negócio fechado, de David Mamet (2013); Em direcção aos céus, de Ödön von Horváth (2013); Um dia os réus serão vocês, a partir do texto do julgamento de Álvaro Cunhal (2013); Kilimanjaro, a partir de Ernest Hemingway (2014); A tragédia optimista, de Vsevolod Vichnievski (2015); Noite da liberdade, de Ödön von Horváth (2016); Bonecos de luz, a partir de Romeu Correia (2017); Migrantes, de Matei Vişniec (2017); e Nathan, o sábio de Gotthold E. Lessing. É desde 2013 director artístico da CTA e do Festival de Almada.

FICHA ARTÍSTICAENCENAÇÃO Rodrigo Francisco INTÉRPRETES Rui Mendes, André Albuquerque, André Gomes, Érica Rodrigues, Ivo Marçal, João Farraia, João Gadelha, João Tempera e Pedro Walter CENOGRAFIA Jean-Guy Lecat FIGURINOS Ana Paula Rocha LUZ Guilherme Frazão

Rui Mendes (n. 1937), actor de teatro, cinema e televisão, tem realizado uma das carreiras mais longas e aclama-das em Portugal. Estreou-se em 1956 no Teatro da Trin-dade, tendo integrado mais de uma centena de elencos, do Teatro Monumental, Teatro ABC, Teatro Nacional Po-pular (de Francisco Ribeiro), Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Malaposta, ou Grupo 4 (de que foi co-fundador e onde realizou interpretações inesquecíveis, como a de Juiz Azdak, em O círculo de giz caucasiano, de Brecht). Em 1971 recusou o Prémio para Melhor Actor de Teatro Musicado, atribuído pelo regime de Marcello Caetano. Na televisão celebrizou-se por protagonizar a série de culto Duarte & Companhia, e no cinema trabalhou com realiza-dores como Manoel de Oliveira e António de Macedo. Foi homenageado no 37.º Festival de Almada por ser “um dos mais significativos servidores públicos das artes de palco em Portugal”.

João Gadelha

Pedro Walter

Ivo Marçal

André Gomes

João Farraia

Érica Rodrigues

João Tempera

André Albuquerque

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13 de Novembro a 6 de Dezembroquarta a sábado às 21h | domingo às 16h SALA PRINCIPAL M/12

INFORMAÇÕES E RESERVAS: Carina Verdasca, Pedro Walter e Marco Trindade: 96 496 00 05 | [email protected] Municipal Joaquim Benite: Av. Prof. Egas Moniz - Almada | Telf.: 21 273 93 60 | www.ctalmada.pt | [email protected]

6,50€ Preço especial para grupos

16€ Jantar +

Espectáculo

A comédia

Um teatro sobre o teatro

Prelúdio ao Rei Lear, peça sardónica ao modo de Pirandello, consistin-do num único e longo acto (em si

mesmo uma ousadia), constitui um fino modelo da sofisticação da escrita teatral de Molnár, não apenas pelo tratamento metateatral, de combinação entre a rea-lidade (a vida dos actores em cena) e a ficção (a peça de Shakespeare, dando como nunca antes visto verdadeira vida própria às suas personagens), como no modo como Molnár foi capaz de transfor-

As peças que Molnár escreveu sobre o próprio teatro resultaram nalgu-mas das suas melhores obras: The

play’s the thing, O guarda, e o trio de pe-ças em um acto Um prólogo ao Rei Lear, Marshal e A violeta (publicadas num mes-mo volume em 1920 intitulado Teatro). Estas peças evocam as suas personagens favoritas – o jovem amante inocente, a ac-triz infiel, o actor pomposo, o dramaturgo

Prolixo escritor, Molnár assinou 72 títulos, transformando-se num dos mais famosos dramaturgos da

Broadway. Molnár compôs 42 peças de teatro, a maior parte da quais foram le-vadas à cena no Mundo inteiro, e a partir das quais foram feitos 26 filmes e três musicais nos Estados Unidos.

100 anos depois de Károly Kisfaludi (1788-1830), o pai do teatro de boule-vard húngaro, Molnár depressa trans-cendeu as qualidades desse pai funda-dor, violando praticamente todas as con-venções da tradição. Tradutor e admira-dor de grandes nomes da cena teatral francesa, aprendeu com esses mestres a sofisticação verbal, o brilho dos diálogos e a ousadia das reviravoltas inesperadas na trama, entrando por mérito próprio no cânone teatral moderno.

Ferenc Molnár cultivava a elegância e a distinção, usando um monóculo desde

mar uma tragédia numa comédia. Escrita em 1921, Prelúdio ao Rei Lear é uma das comédias que valeram a Molnár o epíteto de ‘Molière húngaro’.

Prelúdio é uma tragicomédia farsesca que trata do drama de uma personagem princi-pal, Brandão, que se esconde do confronto com os seus problemas “não teatrais” por detrás das personagens que interpreta.

O drama desta comédia prende-se com o processo de dramatização a que as personagens recorrem, resolvendo um

conflito, que é exterior à peça, no lugar que é o palco, mais especificamente no cenário que concretiza a magnífica sala do palácio do Rei Lear.

Para além da convocação do universo espacial e profissional que a peça deter-mina para si, a metateatralidade urde-se a partir da resolução de “eventos reais” das vidas das personagens por meios teatrais.

Nesta peça, a acção decorre no palco, pouco antes do início da representação de Rei Lear de William Shakespeare.

visionário e o criado astuto – e exploram os seus temas predilectos: a vida versus o teatro, a batalha dos sexos, e o poder da caneta de um dramaturgo. Molnár era simultaneamente um sentimental, que acreditava no jovem amor inocente, e um cínico que adorava cravar alfinetadas na afectação dos homens de meia-idade e na inconstância amorosa das suas espo-sas. Molnár era também um mestre da

técnica de palco, que sabia tirar partido dos mundos da fantasia e dos sonhos, sendo capaz de revelar-nos a maquinaria por detrás da ilusão, levando-nos a rir e a chorar – mostrando-nos a verdade como uma miragem, e o fingimento como a rea-lidade (o que acontece no palco é a vida, e o que acontece na vida não passa de uma peça). “Todos, no fundo, representamos um papel”, disse certa vez.

os 20 anos e fatos impecáveis feitos por medida. Interessava-se pelo oculto, ao mesmo tempo que seguia com interesse os avanços da ciência. Hedonista, gosta-va de boa comida, de bom vinho (tinto), de café com um cheirinho de conhaque, de mulheres e de cigarros turcos. Bi-bliófilo, lia três ou quatro livros por dia. Fluente em alemão e em francês, era também capaz de ler e falar em italiano, finlandês e grego, sendo ainda conhe-cedor do latim. Tocava piano, violino e violoncelo, e consta que cantava muito bem. Também era capaz de desenhar com grande competência, por vezes fazendo retratos das personagens que criava e esquissando cenários e outros elementos cenográficos para as suas pe-ças. O seu génio revelava-se facilmente quando tomava a palavra. Cheio de char-me social, era conhecido pelo seu senti-do de humor.

Ferenc Molnár (1878-1952)

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APOIO:

Cada vez que abro a boca para dizer alguma coisa … uma vez é Shakespeare quem me impõe silêncio com um “pst, agora sou eu a falar” – depois é Molière quem me

repreende e depois Bernard Shaw ou Garrett… Sempre que eu aqui estou de olhos a brilhar, todo eu febril, de cabeça erguida, na ânsia de abrir o meu coração… sempre, repito, há sem-pre outro que fala pela minha boca.

Fala de Brandão/ LearExcerto de Prelúdio ao Rei Lear, de Ferenc Molnár (tradução de Manuela Nunes)