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Muitos habitantes de Caxias do Sul pensam que sua cidade não é suficientemente arborizada. Desmi- tificar essa visão é o que a prefeitura, por meio da Secretaria do Meio Am- biente pretende, por meio de projetos e conscientização da comunidade. Um dado interessante: a Organização Mundial da Saúde considera município bem arboriza- do aquele que tem de 10 a 12 me- tros quadrados de mata por habi- tante. Pelos últimos estudos feitos, Caxias é uma cidade bem arborizada, com uma mé- dia bem acima da nacional. São 42 metros quadrados por habitan- te, perdendo somente para Curiti- ba, em uma pesquisa extraoficial. Os dados são animadores, mas é preciso ressalvar que na área urbana, a realidade é totalmente di- ferente. Com exceção de poucos locais, como o Mato Sartori, que fi- cou por vários anos abandonado, mas recentemente foi readequado Um novo olhar sobre arquitetura e paisagismo Informavo de Mídia Impressa Universidade de Caxas do Sul – 2011 para educação ambiental. Foi re- tirado o lixo do local, e se iniciaram as obras, que duraram quase dois anos. O tempo foi maior do que o pre- visto, pois houve problemas com fur- tos; então, tudo tinha que ser refeito. Partindo de um muro bai- xo, tiveram que adicionar uma grade e depois da grade a serpentina. Câ- meras de vídeo também foram insta- ladas para melhorar a segurança no local, já que o mesmo estava sendo alvo de vândalos constantemente. Depois de prontas as obras, o Mato Sartori foi aberto à visitação. É uma escola de Educação Ambiental da qual qualquer pessoa pode participar, desde que sejam formados grupos de 15 a 40 pessoas. Com o acompanhamento de monitores, é feita uma trilha pelo mato. Plantio Desde 2009, foram plantadas mais de 60 mil árvores em Caxias do Sul. O Projeto Plantando uma Nova Caxias, instaurado em 2009, visa ao plantio de mudas de árvores nativas em ruas da cidade e também à subs- tituição, quando necessária, de outras árvores. As plantas retiradas são enca- minhadas para abrigos, como Lar de Idosos, Casa da Criança e viram lenha. Um caso bastante polê- mico na cidade foi o dos ligustros. Muitas pessoas eram contra o cor- te, pois não entendiam o bene- fício de uma árvore ser retirada. “É uma árvore que se multipli- ca muito, a semente vai longe e toma conta das matas ciliares, no interior, e isso é um problema, porque quanto mais ligustros, menos árvores nativas. Principalmente temos que preservar o que é nosso, o que é nativo”, diz Elemara Borguetti dos Reis, diretora da Divisão da Educação Ambiental. Reposição A Educação Ambiental tem feito um trabalho em conjunto com as comunidades, com parce- rias em eventos nos quais se reúne a população e se fazem plantios. Para plantar a árvore, é feita uma classificação de pequeno, médio e grande portes. Onde há fiações e tubulações, só são plantadas árvores de pequeno porte, como araçá, que é a mais vista no centro de Caxias. Já em áreas sem essas res- trições são plantados ipês, chau- chaus, árvores de grande porte. O processo de arborização é considera- do permanente. As mudas que são planta- das têm em média 1,2 metro, o que significa que elas já viveram cerca de um ano. O crescimento varia de acordo com a espécie e os cuidados que são tomados. Oscila em torno de cinco a seis anos para come- çar a dar uma sombra significativa. Vantagens da arborização • Conforto térmico e de umidade; • Melhoria na qualidade do ar, com a redução dos riscos da poluição; • Abrigo e alimento para os animais, principalmente aves; • Conforto acústico, pois a vegetação na área urbana abafa o som de veícu- los; • Embelezamento. Uma Caxias mais verde Divulgação

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Muitos habitantes de Caxias do Sul pensam que sua cidade não é suficientemente arborizada. Desmi-tificar essa visão é o que a prefeitura, por meio da Secretaria do Meio Am-biente pretende, por meio de projetos e conscientização da comunidade. Um dado interessante: a Organização Mundial da Saúde considera município bem arboriza-do aquele que tem de 10 a 12 me-tros quadrados de mata por habi-tante. Pelos últimos estudos feitos, Caxias é uma cidade bem arborizada, com uma mé-dia bem acima da nacional. São 42 metros quadrados por habitan-te, perdendo somente para Curiti-ba, em uma pesquisa extraoficial. Os dados são animadores, mas é preciso ressalvar que na área urbana, a realidade é totalmente di-ferente. Com exceção de poucos locais, como o Mato Sartori, que fi-cou por vários anos abandonado, mas recentemente foi readequado

Um novo olhar sobre arquitetura e paisagismoInformativo de Mídia Impressa Universidade de Caxas do Sul – 2011

para educação ambiental. Foi re-tirado o lixo do local, e se iniciaram as obras, que duraram quase dois anos. O tempo foi maior do que o pre-visto, pois houve problemas com fur-tos; então, tudo tinha que ser refeito. Partindo de um muro bai-xo, tiveram que adicionar uma grade e depois da grade a serpentina. Câ-meras de vídeo também foram insta-ladas para melhorar a segurança no local, já que o mesmo estava sendo alvo de vândalos constantemente. Depois de prontas as obras, o Mato Sartori foi aberto à visitação. É uma escola de Educação Ambiental da qual qualquer pessoa pode participar, desde que sejam formados grupos de 15 a 40 pessoas. Com o acompanhamento de monitores, é feita uma trilha pelo mato.

Plantio Desde 2009, foram plantadas mais de 60 mil árvores em Caxias do Sul. O Projeto Plantando uma Nova Caxias, instaurado em 2009, visa ao plantio de mudas de árvores nativas em ruas da cidade e também à subs-tituição, quando necessária, de outras árvores. As plantas retiradas são enca-minhadas para abrigos, como Lar de Idosos, Casa da Criança e viram lenha. Um caso bastante polê-mico na cidade foi o dos ligustros. Muitas pessoas eram contra o cor-te, pois não entendiam o bene-fício de uma árvore ser retirada. “É uma árvore que se multipli-ca muito, a semente vai longe e toma conta das matas ciliares, no interior, e isso é um problema, porque quanto mais ligustros, menos árvores nativas. Principalmente temos que preservar o que é nosso, o que é nativo”, diz

Elemara Borguetti dos Reis, diretora da Divisão da Educação Ambiental.

Reposição

A Educação Ambiental tem feito um trabalho em conjunto com as comunidades, com parce-rias em eventos nos quais se reúne a população e se fazem plantios. Para plantar a árvore, é feita uma classificação de pequeno, médio e grande portes. Onde há fiações e tubulações, só são plantadas árvores de pequeno porte, como araçá, que é a mais vista no centro de Caxias. Já em áreas sem essas res-trições são plantados ipês, chau- chaus, árvores de grande porte. O processo de arborização é considera-do permanente. As mudas que são planta-das têm em média 1,2 metro, o que significa que elas já viveram cerca de um ano. O crescimento varia de acordo com a espécie e os cuidados que são tomados. Oscila em torno de cinco a seis anos para come-çar a dar uma sombra significativa.

Vantagens daarborização

• Conforto térmico e de umidade;• Melhoria na qualidade do ar, com a redução dos riscos da poluição;• Abrigo e alimento para os animais, principalmente aves;• Conforto acústico, pois a vegetação na área urbana abafa o som de veícu-los;• Embelezamento.

Uma Caxias mais verde

Divulgação

Editorial Uma equipe composta por 24 alunos dos cursos de Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Relações Públi-cas e Jornalismo traz por meio do informativo Janela um olhar dife-renciado sobre a cultura regional a partir da arquitetura e urbanismo. Nesta edição o leitor encontra, entre outras matérias, espaços destina-dos à arte e à cultura em Caxias, memória e identidade ligadas aos sótãos e po-rões, crescimento do mercado imobiliário e alteração do perfil das construções. O Janela traz pontos de vista peculiares, dando ao leitor a possibili-dade de envolvimento com a história e os rumos da região. Uma leitura que pretende definir e ampliar a visão de um povo, por meio de suas construções.

Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação

Mídia ImpressaReitor: Isidoro Zorzi

Diretora de Centro: Marliva GonçalvesDocente: Alessandra Rech

Coordenação: Vanessa Honorina Mallmann Burgin

Vitória Maria Rubbo Lovat

Planejamento Gráfico e Diagramação:Cristiane MottaDébora Nunes

Katiane Beal CardosoTreissa Fagundes

Revisão:Bruna Scheifler Romani

Lisiane Pires da CruzSabrina Costa Silva

Textos:Adriane Amantino MachadoAnderson da Costa Oliveira Cristiano Machado Daros

Francine Spiller Luan Moraes da Luz

Luis Claudio Giani Marros Magali Bascheira dos Santos

Mateus LanzoniOhana Catarina de Almeida Matias

Rosangela Moreira Crestani Sabrina Comerlatto

Talita Maria Camello

Fotos:Adriane Amantino Machado

Camila SorgetzCharlene Uez

Mônica Zanela

Tiragem:250 Exemplares

Caxias do Sul já foi a Capital Nacional da Cultura, em 2008, o que levantou polêmica na época, em parte devido à baixafrequência às promoções culturais. Para a diretora da Companhia, Escola e Casa de Te-atro ‘Tem Gente Teatrando’, Zica Stockmans, que atua há 25 anos na área, Caxias do Sul tem, sim, uma boa estrutura, mas um de-safio pela frente: discutir a me-lhor ocupação desses espaços.

Janela: Quais os principais espaços culturais de Caxias?Zica Stockmans: Espaços convencionais para a apre-sentação de espetáculos: Teatro São Carlos, Casa da Cultura, UCS Teatro, Sesc e Casa de Teatro. Mas a arte pode surgir em qualquer ambiente, não necessariamente em casas de espetáculos; por isso não posso deixar de citar o Ateliê Bruno Segalla, o Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho e a Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima.Janela: Quais as necessidades mais urgen-tes de Caxias em relação aos espaços culturais?Zica: Com certeza mais espaços e uma boa

política de ocupação dos mesmos. Já temos bons teatros com capacidade para 400, 600 pessoas, mas que, pela necessidade de ma-nutenção, ficam com um valor de locação inacessível. Então, é a hora dos teatros de

menor capacidade, de menor valor para sua utilização, que facilitem o agendamento de temporadas. Janela: O que você gostaria de ver num futuro próximo no município?Zica: Gostaria que o movimento cul-tural que já vem acontecendo cres-cesse, que tivesse mais incentivos e que decolasse, pois já está na hora de Caxias crescer mais nesse senti-do. Eu espero que, no futuro, além de sermos reconhecidos como um polo

metal-mecânico, também entremos definitivamente no seleto grupo das cidades que respiram arte.Janela: Considerações finais?Zica: Hoje, a cidade de Caxias do Sul tem seis espaços para apresentações teatrais, três for-mas de financiamento, muitas pessoas vivendo do teatro, temos um festival que leva o nome da cidade, o ‘Caxias em Cena’. Por tudo isso acho que estamos no caminho certo. Estamos construindo, e com um caminho já preparado às novas gerações, que têm tudo para conti-nuar neste caminho tão rico que é o da arte.

ZICA STOCKMANS E OS ESPAÇOS CULTURAIS

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A Casa de Pedra foi cons-truída no final do século XIX pela família Luchesi, que morou na mes-ma até 1913. Depois, várias outras famílias moraram ali. Ela também serviu de residência, albergue, co-mércio, açougue, serraria, esto-que de secos e molhados (arma-zém) e sede do Grêmio Esportivo Gianella. Ela foi desapropriada em 1974, tornando-se um pon-to histórico em março de 1975. Os telhados, as janelas, a es-cada e o reboco das paredes não são os originais. Com a desapropriação, a família que ali morava construiu uma casa em frente para viver, que mais tarde daria lugar a um parreiral.O tombamento do museu pela pre-feitura aconteceria apenas em 2003. Mas não é bem com a cultura ita-liana que o aposentado Luis Ibê Shultz está preocupado. Ele saiu de Porto Alegre e há 12 anos vive

Parreiral bom pra cachorro!

em Caxias do Sul. Tem uma casa com um parreiral em pleno Bair-ro Cruzeiro, zona urbana da cida-de. Porém, sua história é curiosa. Ele conta que há cerca de quatro anos foi comer em uma lancheria da cidade que tinha parreiral, e gostou da ideia. Então foi até uma agropecuária e comprou cinco mudas de videira. Ele mesmo as plantou e também montou a estrutura de madeira. Mas Shultz não queria a planta pelas frutas que

ela daria, e sim para fazer sombra no pátio onde tem um canil para quatro cachorros. Segundo ele, no verão os bichos sofriam muito com o sol, então encontrou no parreiral uma boa solução para o problema. O melhor é que, mesmo sem esperar, o parreiral sempre dá muitas uvas. O cachorro Zeus, um rotweiller, é o que mais se beneficia com a boa ideia de seu dono – claro, além da paisagem, que fica muito mais bonita.

Não é somente no famoso ponto turístico da cidade de Caxias, a Casa de Pedra, que se vê parreirais. É surpreendente quantas casas em zonas

centrais contam com essa planta, que imaginamos estar somente no interior

Caxias do Sul: a soma de folclore, de pratos típicos, da convi-vência harmônica de técnicas arte-sanais com tecnologia de ponta e a hospitalidade ítalo-gaúcha. Esses aspectos se encontram nas antigas casas que ainda preservam sótãos e porões como territórios para guardar as lembranças e os costumes ainda mantidos. No distrito de Fazenda Sou-za, que une a cultura campeira com a dos imigrantes italianos, algumas moradias como a de Waldemar Bas-cheira, 83 anos, mantêm esse as-pecto arquitetônico que é um traço singular da cultura: ter nos espaços subterrâneos e superiores da casa o local de conservação de alimentos que fazem parte do cotidiano rural e, com eles, boas histórias para contar.

Janela: Há quanto tempo o senhor reside em Fazenda Souza?Bascheira: Eu moro aqui há mais de 75 anos, essa casa era dos meus pais, logo depois casei e reformei a casa e formei minha família aqui. Te-nho seis filhos, mas um veio a falecer muito jovem.Janela: Quem mora com o senhor hoje?Bascheira: Nesta casa só moro eu, pois minha esposa faleceu há cinco meses, mas tenho meu filho mais ve-lho, a esposa e o neto, de 22 anos, como vizinhos.Janela: As tradições de seus pais são seguidas nos dias de hoje?Bascheira: Sim, com menos inten-sidade, mas ainda temos o costume de fazer o próprio vinho, o vinagre que guardamos nos garrafões, secar

amendoim e feijão no sótão, fazer a própria marmelada e pão no forno à lenha.Janela: Cite uma das lembranças boas da infância que sempre vêm à mente?Bascheira: Lembro que gostava muito de pegar a funda e sair no meio do mato para caçar passarinho e também quando trançava as cestas de vime no sótão da minha casa.Janela: O que o senhor guarda no porão da sua casa?Bascheira: Hoje tenho alguns garrafões de vinho e vinagre, cestos de vime para colher uva, ferramentas(balança, tesoura, enxa-das, pás...). Guardo a banha de por-cos que serve como alimento, seco salames e tenho um pequeno trator-zinho. Costumes que ainda perma-necem aqui em casa.

A cultura preservada nos sótãos e porões

Feito em casa 3

Divulgação

Arte e patrimônio

Espaços destinados à arte na Capital Nacional da CulturaAs edificações são testemunhas de acontecimentos históricos e culturais de uma cidade. Caxias do Sul, município fundado por imigrantes italianos, tem alguns desses cenários de época

transformados em espaços destinados à cultura, monumentos de resistência em meio a um cenário em que muito pouco se preservou. A seguir, um breve relato sobre alguns deles

“Apesar da mobilização de alguns setores da comunidade ca-xiense, nas quatro últimas décadas do século XX, muitos prédios de valor histórico e cultural foram demolidos. Antigas residências, templos, cinemas, prédios industriais... referências da cidade perderam-se e com elas um pouco da identidade local.”

Mirante – Caderno do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Estação FérreaFoi inaugurada, em 1910, para

ser a estação do trem que ligava Caxias à capital Porto Alegre.

No pavimento térreo ficavam as salas de espera, encomendas, te-légrafo, bagagens e guichê de bi-lheteria. No andar superior, ficava a residência do chefe da estação.

O prédio fica no centro de um grupo de quatro construções his-tóricas que compõem o chamado Largo da Estação Férrea – além da Estação de Passageiros, tem a Casa do Administrador, o Depósi-

to de Cargas e o Depósito de Lo-comotivas.

As construções formam um único conjunto arquitetônico, com grande valor histórico.

O antigo prédio da Estação de passageiros abriga a sede da Se-cretaria Municipal da Cultura e o antigo depósito de cargas foi trans-formado num espaço alternativo para a realização de oficinas, en-saios e apresentações de dança, teatro e música, com palco e pol-tronas para cerca de 120 pessoas.

A Casa da Cultura, inaugurada em 23 de outubro de 1982, abri-ga o Teatro, a Galeria de Arte e a Biblio-teca Mu-n i c i p a l . Posterior-m e n t e , r e c e b e u a deno-m inação oficial de Casa da C u l t u -ra Percy Vargas de Abreu e Lima, em ho-menagem ao ilustre cidadão ca-xiense.

Ao longo dos anos, a Casa da Cultura mostrou ser o principal suporte cultural de Caxias e da região, abrigando, desde o iní-

Casa da Culturacio, momentos das artes em suas mais diversas manifestações.

Com o desgaste natural de uma casa de espe-t á c u l o s , associado à neces-sidade de m o d e r -nizar os e q u i p a -m e n t o s , o Teatro M u n i c i -

pal passou por uma reforma em 1999. Em 2004, foi ampliada para instalar a Galeria Municipal de Arte, com espaço amplo e moder-no. Atualmente, a Casa da Cultu-ra tem capacidade total de 402 lugares entre plateia e mezanino.

Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás FilhoInstalada em Ca-

xias em 1910, a Can-tina Antunes teve uma trajetória com-plexa. Desenvolveu várias atividades em diversos prédios. Ex-plorando inicialmente o comércio de vinhos e de produtos suínos, mais tarde começou a produzir seus pró-prios produtos. Entre 1930 e 1950, o em-preendimento teve seu apogeu. Nos anos que seguiram a empresa enfrentou uma crise que causou o encerramento de suas atividades em 1980.Inaugurado em 2001, o Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho é um am-plo espaço totalmente destinado a promover a cultura. Teatro, dança, cinema e artes plásticas são algumas das manifestações artísticas que

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Espaços destinados à arte na Capital Nacional da CulturaAs edificações são testemunhas de acontecimentos históricos e culturais de uma cidade. Caxias do Sul, município fundado por imigrantes italianos, tem alguns desses cenários de época

transformados em espaços destinados à cultura, monumentos de resistência em meio a um cenário em que muito pouco se preservou. A seguir, um breve relato sobre alguns deles

Museu Municipal de Caxias do SulO prédio foi a residência da famí-

lia Morandi-Otolini, no final de 1880. Naquela época, a construção de al-venaria e cal de dois pavimentos se destacou em meio às predominan-tes casas de madeira. Em 1894, foi a leilão e arrematado pelo poder público. Abri-gou a Guarda Municipal e a DP. Em 1913, agregou o funcionamen-to da Escola Complemen-tar. Em 1919, recebeu a ad-ministração pública, então denomi-nada Intendência Municipal. Sediou a prefeitura municipal até 1974.

A histórica edificação da Visconde de Pelotas foi destinada à revitaliza-ção do Museu Municipal. Atualmen-te, cerca de 11 mil peças compõem

o acervo – exposto ou armazenado na reserva técnica –exclusivamen-te obtidas por meio de doação. A exposição de longa duração está distribuída em seis salas. As peças e objetos são testemunhos mate-

riais que permitem o reconhe-c i m e n t o da cultura. O Museu d i s p õ e , ainda, de sala para e x p o s i -ções de curta du-ração e/ou

eventos. Integrado pelo pátio inter-no, o prédio anexo abriga: reserva e processamento técnico do acer-vo, biblioteca de apoio e atividades de educação patrimonial, incluindo sala de projeção audiovisual que exibe documentários.

Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho

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Casa de PedraOs imigrantes europeus na re-

gião nordeste do Estado utiliza-ram madeira e pedra e criaram uma arquitetura diferenciada. Foi a moradia do imigrante italiano Giuseppe Lucchese, no final do século XIX, na então denominada nona légua de Caxias. A constru-ção apresenta pedras assentadas e rejuntadas com barro, aberturas em pinho falquejado e janelas afi-xadas em tijolos artesanais.

Pertenceu a Jacob Brunetta de 1913 a 1946, quando tornou-se propriedade de David Tomazzo-ni. Ao longo do tempo, em cons-truções de madeira, outras ativi-dades foram ali desenvolvidas,

como abatedouro de suínos, ar-mazém, ferraria e outros.

Com a expansão urbana na-quela região, especialmente dos bairros São José e Santa Cata-rina, a antiga edificação estava ameaçada. Em 1974, aproximan-do-se o centenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o Município de Caxias do Sul ne-gociou com a família Tomazzoni. Tornou-se proprietário da área e instalou o Museu Casa de Pedra, inaugurado em 14 de fevereiro de 1975, durante a Festa da Uva. Desde então, é um espaço de referência para a comunidade e para os visitantes.

fazem parte do comple-xo. Ofere-ce Sala de C i n e m a , Salão de Artes, Sala de Expo-sições de artes plás-ticas, sa-las para o f i c i n a s , M e m o r i a l

da Cantina Antunes, Zarabatana café--bar e o Tele Centro com acesso gratuito à internet. Ainda nas dependências do Centro funcionam o Acervo Municipal de Artes Plásticas (Amarp), a Unidade de Música, a Unidade de Teatro, a Cia. de Dança, a Escola Preparatória de Dança e a Academia Caxiense de Letras.

Fotos: Divulgação

Janela: Conte um pouco so-bre sua carreira profissio-nal e como tudo começou.Jéssica de Carli: Durante a época da faculdade, fiz vários estágios não remunerados em alguns escritórios de Arquitetura. Isso foi fundamen-tal pelo fato de adquirir experiência prática daquilo que estudava na universidade. Sendo assim, quan-do me formei, senti plena segu-rança em ter um escritório próprio.

Janela: Como surgiu a ideia de trabalhar com a reutiliza-ção de materiais de demolição?Jéssica: Na realidade, sempre fui uma pessoa muito ligada às ques-tões ambientais. E a reutilização de matérias-primas faz parte dessa consciência pessoal. Não acredito mais em uma boa arquitetura des-conectada do valor do patrimônio natural. O mundo atual necessita que sejamos mais conscientes das escolhas que fazemos no nosso

Arquitetura responsável

dia a dia. E como arquiteta, posso fazer isso nas minhas obras, des-de a reutilização da água da chuva, captação de energia solar, utilização de materiais de demolição como ti-jolos, madeiras, azulejos, móveis antigos que tenham uma história...

Janela: Qual a sua relação com o cliente sobre reutiliza-ção de materiais? A propos-ta surge de você ou dele?Jéssica: Normalmente a proposta parte de mim. Porém, muitas pes-soas já estão informadas e bus-cando essa valorização ambien-tal. A imprensa atual faz um papel importante de conscientização.Como já tenho muitas obras de re-ferência nesse campo, os clien-tes já me escolhem, muitas ve-zes, por esse motivo específico.

Janela: Ligando a sustentabili-dade a seu trabalho, qual a con-tribuição para o meio ambiente?Jéssica: A contribuição vem de duas formas: uma palpável mesmo, que é a contribuição da reutilização física dos materiais. E a segunda, e que considero a mais importante, é o fato de poder fazer uma discussão crítica sobre esse assunto tão importante. Só o fato de você estar abor-dando este assunto em um trabalho acadêmico é maravilhoso. Só por curiosidade, na minha vida pessoal também adquiri hábitos que servem

como protesto ambiental. Sou vege-tariana há oito anos e sei que isso não vai mudar o problema ambien-tal, porém serve de aviso às pesso-as da minha convivência. Se cada um de nós fizer sua parte, teremos um mundo melhor e mais saudável.

Janela: Como você vê essa mu-dança de conceito, quebrando a tradição de decorar e montar um ambiente com móveis novos e uti-lizar materiais “velhos” e usados?Jéssica: Essa mudança não será mais uma escolha daqui a alguns anos, será obrigatório sermos mais conscientes no nosso dia a dia, e não só na área da Arquitetura. Esse paradigma de que a reutilização de materiais que necessariamente se-jam velhos e usados é um precon-ceito. Na realidade, muitas indús-trias do setor moveleiro investem muito em móveis novos, que no seu processo de fabricação utili-zam energias renováveis e “limpas”. No setor da construção civil também se começa a pensar em al-ternativas mais conscientes no can-teiro de obras. O que é preciso que se entenda é que o cliente pode ter um espaço moderno, contemporâneo ou clássico utilizando esses materiais. Não existem regras fixas, existe sim criatividade e vontade de fazer um projeto interessante, funcional, estético, que valorize o patrimônio principal: nosso ambiente natural. Jéssica tem escritório no Moinho da Estação (Rua Coronel Flores, 810/sala 301 – São Pelegri-no, Caxias do Sul).

A reutilização de materiais de demolição na construção é um tema que mescla modernidade e consciência ambiental. A arquiteta Jéssica de Carli, formada pela

UCS em 2005, já é conhecida por projetos que valorizam a sustentabilidade

Criatividade 6

Fotos Divulgação - Boteco 13

Cultura7

Por que Galópolis?Um bairro distante do Centro de Caxias, Galópolis também parece

distanciada na vida cultural

Enquanto a preservação am-biental e do patrimônio ainda é um desafio na área urbana, o bairro se torna um destino interessante, desde o charme da Vila dos Tecelões a ini-ciativas comunitárias, como o chur-rasco coletivo que acontece periodi-camente na praça.

O Janela conversou com o empresário Sidnei Roberto Canuto, 46 anos, um entusiasmado morador de Galópolis.

Janela: Quais os principais atrativos de Galópolis?

Sidnei Roberto Canuto: A praça, típica de uma vila do interior; a igreja, com seus vitrais magníficos e a torre que sustenta a imagem de Nossa Senhora de Pompeia; a Vila dos Tecelões, com suas casas em estilo inglês; a cascata Véu de Noi-va, avistada por quem passa pela BR 116 e o Morro da Cruz. Visitar o interior do bairro, conhecer a Quarta--Légua, São Francisco, São Brás...

Janela: Os jovens são bas-tante atuantes na comunidade.Quais as principais iniciativas que promovem?

Canuto: Ações isoladas, como as realizadas pelo grupo Ma-téria Prima (que busca alternativas de lazer ao bairro), revelam os ideais de alguns dedicados e persistentes jovens, que promoveram mostras fo-tográficas, peças de teatro no salão paroquial, sessões de cinema, sarau gaudério. Louvável também é a ação da Escola de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, que pro-moveu a Feira do Livro na Semana de Galópolis.

Janela: O que muda da épo-ca em que o senhor era criança?

Canuto: Os tempos são ou-tros, muitas coisas mudaram, algu-mas não existem mais. Falta mais vida social e cultural. Por décadas, o

Vila dos Tecelões, tradicional ponto turístico do bairro

Lanifício despejou seus efluentes no arroio Pinhal. A Cootegal, fundada em 1999, passou a tratar seus efluentes logo em seguida, quando entrou em funcionamento sua Estação de Tra-tamento de Efluentes. Também algu-mas atitudes voltadas para o consu-mo controlado de água, evitando ao máximo o desperdício. Adoção de medidas que visem à não poluição dos recursos hídricos, como o arroio Pinhal que, por incrível que pareça, voltou a ter peixes.

Janela: Fale um pouco sobre a cultura de Galópolis com relação à preservação da natureza.

Canuto: Galópolis ainda tem muita mata nativa onde se respira ar sem poluição, as pessoas são hospi-taleiras e todos se conhecem. É um lu-gar diferente, acolhedor, belo e singe-lo. A praça central, em frente à Igreja, é onde as pessoas se encontram nos dias de sol para um chimarrão, uma cerveja, um churrasco coletivo, e as crianças brincam no parquinho. Arroio Pinhal voltou a ter peixes

Fotos: Divulgação

Percebe-se aqui no bairro uma melhora siginificativa na conscienti-zação das pessoas na separação do lixo doméstico (seletivo e orgânico) e atitudes pessoais e empresarias vol-tadas para a reciclagem de resíduos sólidos. Essa ação, além de gerar renda para muita gente, diminui a quantidade de lixo no solo. Não se percebe a exploração dos recursos vegetais, das matas de forma des-controlada. Há uma forte evidência da preservação das áreas verdes.

Mercado imobiliário

O mercado imobiliário vem sofrendo mudanças nos últimos anos, como pode ser facilmente vis-to na “geografia” da cidade. Antiga-mente, as pessoas buscavam casas amplas com pátio grande, ou apar-tamentos em que a cozinha ainda era um grande local de convívio. No entanto, o crescimento de Caxias do Sul acompanha a evolução dos grandes centros urbanos e o tão sonhado local para morar mudou. Para Alan Otávio Quadros da Silva, corretor e sócio-proprietário da Áhtual Imóveis, os espaços compac-tos estão em alta. As pessoas pas-sam menos tempo dentro de casa devido às exigências do mercado de trabalho. Manter uma residência nos moldes antigos, cuidando do jardim, requer um tempo do qual os trabalha-dores não dispõem. A cultura habitacional da região foi se ambientando às evolu-ções na mesma proporção do cres-cimento e importância que a cidade vem adquirindo ao longo do tempo. O crescimento industrial da região atrai pessoas de todo o Rio Grande do Sul e também de fora todos os dias, todos em busca de oportunida-des de emprego que a cidade ofe-rece e o sonho de uma vida melhor. Todo esse cenário acarretou, nos últimos anos, um crescimento enorme da construção civil. A Secre-taria de Urbanismo já autorizou em 2010 a construção de 58,48% metros quadrados a mais que em 2009, exa-tamente pelo estatus adquirido pelo município e os investimentos do gover-no para construção de novas moradias. Segundo Alan Quadros, as construções de imóveis compactos geram novas preocupações: “Ago-ra, as pessoas buscam qualida-de no acabamento da construção, como me disse um cliente certo dia. Pequeno sim, mal-acabado não.” Mesmo assim, algumas cons-trutoras acabam visando ao lucro e produzindo imóveis de má qualidade, em termos de acabamento e limpe-za. Outras empresas adotaram ges-tões de qualidade e, com isso, ofe-recem um produto melhor ao cliente. Outro fator importante na era dos

Cidade em transformaçãoA típica moradia de italianos cede ao estilo urbano de viver

imóveis compactos é a gestão de espaço e divisão da área construída. “Um imóvel de 65 m² bem divi-dido aparenta ter de 70 a 75 m², dando para seu cliente um con-forto bem-estimado”, destaca. Essa cultura deve ganhar força nos próximos anos, afinal, a facilidade para compra da casa pró-

pria está cada vez maior, seja por financiamentos longos ou pelo gran-de incentivo dado pelo governo à população, ou até mesmo pela “fal-ta de espaços” para a construção de moradias nas grandes cidades. A única certeza é de que o mercado imobiliário tende a cres-cer e muito nos próximos anos.

Fotos Divulgação

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“Um imóvel de 65 m² bem dividido aparenta ter de 70 a 75 m², dando ao cliente um

conforto bem-estimado.”