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Cláudio Denipotti* Uma biblioteca "vintista"portuguesa e as influências do iluminismo em Portugal, no final do século XVIII e início do século XIX Resumo Este texto busca compreender a introdução de idéias iluministas e liberais em Portugal na virada do século XVIII para o XIX através da análise do "Catálogo da Livraria de Marino Miguel Franzini" anotado pelo próprio, quanto a seu conteúdo e à forma de organização, buscando inferências relativas à vida e carreira de Franzini nas ciências e na política sobre sua compreensão e formas de aplicação dessas idéias. Palavras-chave: história da leitura, biblioteca, iluminismo. Abstract This paper looks at the introduction of enlightenment and liberal ideas in late 18 ,h and early 19 th Century Portugal thought the analysis of the library catalogue handwritten by Marino Miguel Franzini, regarding content and form of organization, searching connections between his life and career in sciences and politics and his understanding and use of such ideas.. Keywords: reading history, libraries, enlightenment " Professor da Universidade Hstadual de Ponta Grossa. Integrante do CEDOPE • Centro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses • UFPr. A escrita deste artigo só foi possível graças ao apoio do CNPQ e da Fundación Carolina ao projeto "Los naturales de Brasil, criollos, en el marco de las Ciencias Naturales de la Ilustración Portuguesa". 191

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  • Cludio Denipotti*

    Uma biblioteca "vintista"portuguesa e as influncias do iluminismo em Portugal, no final do sculo XVIII e incio do sculo XIX

    Resumo Este texto busca compreender a introduo de idias iluministas e liberais em Portugal na virada do sculo XVIII para o XIX atravs da anlise do "Catlogo da Livraria de Marino Miguel Franzini" anotado pelo prprio, quanto a seu contedo e forma de organizao, buscando inferncias relativas vida e carreira de Franzini nas cincias e na poltica sobre sua compreenso e formas de aplicao dessas idias. Palavras-chave: histria da leitura, biblioteca, iluminismo.

    Abstract This paper looks at the introduction of enlightenment and liberal ideas in late 18,h and early 19th Century Portugal thought the analysis of the library catalogue handwritten by Marino Miguel Franzini, regarding content and form of organization, searching connections between his life and career in sciences and politics and his understanding and use of such ideas.. Keywords: reading history, libraries, enlightenment

    " Professor da Universidade Hstadual de Ponta Grossa. Integrante do C E D O P E Centro de Documentao e Pesquisa de Histria dos Domnios Portugueses UFPr.

    A escrita deste artigo s foi possvel graas ao apoio do CNPQ e da Fundacin Carolina ao projeto "Los naturales de Brasil, criollos, en el marco de las Ciencias Naturales de la Ilustracin Portuguesa".

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  • Uma biblioteca "vintista"portuguesa e as influncias do iluminismo em Portugal, no final do sculo XVIII e incio do sculo XIX Cludio Denipotti

    A . passagem do sculo XVIII para o sculo XIX foi o tempo de uma srie de eventos polticos de efeitos duradouros, tanto no continente europeu quanto no Brasil. A ascenso de Napoleo Bonaparte na Frana e a expanso militar que ele promoveu, levou sada da corte portuguesa de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro. Como resultado, a elevao da colnia brasileira categoria de Reino (com Portugal e Algarve), proporcionou um rpido desenvolvimento de uma cultura letrada local, ao mesmo tempo em que se deixava Lisboa sem os benefcios da Biblioteca Real, trazida na bagagem da rainha D. Maria, o regente D. Joo e de seus cortesos.1

    Em Portugal, as invases francesas - e a resistncia a elas - criaram as bases para a defesa permanente de um estado liberal, de cunho monrquico, que seria imposto a D. Joo VI em 1820. Essa revoluo liberal, longamente gestada, provocou uma srie de conflitos que incluram a independncia do Brasil e a guerra civil entre os partidrios do absolutismo de D. Miguel (e de D. Carlota Joaquina) e os liberais, liderados por D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil). A vitria deste ltimo em favor do reinado de sua filha (D. Maria II) estabeleceu um regime que durou at a repblica, implantada em 1910.2

    Neste ambiente conturbado, as idias caras aos liberais tiveram uma aceitao que antecedeu os exrcitos "libertadores" de Napoleo Bonaparte. Embora amplamente combatidas pelo regime absolutista, essas idias, derivadas diretamente do iluminismo francs e do utilitarismo ingls, tiveram ampla disseminao, tanto no territrio portugus, quanto em suas colnias.3

    Neste contexto, Marino Miguel Franzini, um cientista bem ao estilo da virada do sculo XVIII para o XIX, viveu e atuou, tanto como leitor e colecionador de livros, quanto como participante ativo do movimento liberal portugus (o "Vintismo"). Este texto debrua-se sobre essas atuaes indissociveis a partir da perspectiva da histria da leitura, centrada inicialmente nas possibilidades culturais relativas ao estudo da biblioteca desse personagem, especificamente atravs do "Catlogo da livraria de Marino Miguel Franzini".

    Marino Miguel, nascido em Lisboa em 21 de janeiro de 1779, era filho do matemtico veneziano Miguel Franzini, professor da Universidade de Coimbra e dos filhos da Rainha D. Maria - D. Jos e D. Joo (futuro D. Joo VI) trazido para portugal no bojo do processo de "importao portuguesa do iluminismo italiano" como parte das reformas universitrias pombalinas, juntamente com outros pensadores e intelectuais como "Vandelli, Ciera, Dolla Bella, Brunelli, Faciolatti..."4.

    A biografia de Marino Miguel Franzini nos aponta para uma atuao vinculada noo de "cincia mestra da vida", pois alm de diversos cargos militares, burocrticos e honorficos (Vogal do Supremo Conselho de Justia Militar, Brigadeiro da Real Marinha, Sub-diretor do Arquivo Militar, Comendador da Ordem de Cristo e Par do Reino), ele dedicou-se a estudos hidrogrficos, econmicos e estatsticos, ligados a sua carreira na Marinha Real portuguesa. Concomitantemente a esta atuao, Franzini participou intensamente da implantao do regime liberal de 1820, tendo sido, por dois breves perodos, ministro da fazenda e da justia (1847 e 1851). Foi tambm deputado nas Cortes Constituintes (1820 e 1837) e ordinrias (1822). Sua atuao cientfica rendeu-lhe reconhecimento como o fundador dos estudos metereolgicos e geolgicos em Portugal,5 associando sua imagem pessoal do cientista competente e neutro, sem os excessos - principalmente polticos - que caracterizam a clssica imagem revolucionria. Devido criao da imagem de competncia neutra, pode-se afirmar, com relao a ele, que tomou-se "um smbolo reconhecido do 'progresso', enquanto paradigma do utilitarismo da cincia, face s vivncias reais de uma sociedade".6

    No desempenho de suas funes polticas, militares e cientficas, ele acumulou uma biblioteca bastante vasta, cujo "Catlogo" foi mantido meticulosamente, com o registro de novas aquisies, acompanhado pelas correspondncias mantidas entre ele e livreiros venezianos e parisienses. Estes registros permitem a 192

  • reconstruo, seno das leituras, ao menos da biblioteca de Marino Franzini. Um estudo desses registros podem permitir inferncias quanto histria das idias iluministas em Portugal.

    Anotado pelo prprio Marino Miguel Franzini, provavelmente entre 1800 e 1811, o "Catlogo da Livraria" lista, a partir de uma diviso do conhecimento que exclui qualquer aluso religio ou metafsica, 816 livros e 949 volumes. Uma anlise estritamente quantitativa indica que o "Catlogo" apresenta uma enorme predominncia da lngua francesa na composio da "livraria" - 432 ttulos, correspondendo a 51,8%, so anotados como sendo escritos em francs, contra 81 ttulos (9,9%) em portugus, num distante segundo lugar, seguidos por 63 ttulos de obras em italiano (7,7%), 31 em espanhol (3,7%) e 22 em ingls (2,7%), o restante do catlogo sendo composto por trs livros em latim e diversas edies bilnges, a maioria das quais em francs e uma outra lngua.

    Embora as edies feitas em territrio francs componham a maioria dos ttulos em lngua francesa, cerca de 80 deles foram publicados nas mais diversas cidades europias, com nfase para cidades da Blgica (Lige, Bruxelas), da Holanda (Amsterd, Maestricht) e da Sussa (Lausanne, Neuchatel, includo aqui as edies da Societ Tipographique de Neuchatel, estudadas por Robert Darnton em diversos de seus trabalhos7). No tocante distribuio geogrfica geral das edies listadas por M. M. Franzini em seu "Catlogo", temos o seguinte quadro:

    TABELA 1 - RELAO PAS/QUANTIDADE DE EDIES

    "CATLOGO DA LIVRARIA DE M A R I N O M I G U E L FRANZINI"

    Pas da edio Quantidade % Frana 324 39,8 Portugal 75 9,2 Itlia 69 8,5 Espanha 52 6,4 Inglaterra 49 6,0 Holanda 30 3,7 Sua 10 1,2 Alemanha 09 1,1 Blgica 06 0,7 Rssia 03 0,4 Dinamarca 01 0,1 Estados Unidos 01 0,1 ustria 01 0,1 Sem indicao de local 186 22,7

    Total 816 100

    De forma semelhante, um levantamento da relao dos idiomas das obras correlacionado ao perodo de edio, indica uma predominncia de obras em francs, publicadas na segunda metade do sculo XVIII, com um incremento significativo nas dcadas em torno da Revoluo Francesa (respectivamente 97 livros editados durante a dcada de 1771-80, 87 entre 1781-90 e 81 na ltima dcada do sculo XVIII). Podemos compreender melhor esses dados se pensarmos, juntamente com Franklin Baumer, que a influncia intelectual francesa sobre o resto da Europa era inquestionvel, "fornecendo a nova lngua franca, e instituies e idias, incitando novos movimentos no mundo do pensamento e da aco." Essa preponderncia ocorria principalmente devido ao fato de "sendo o pas mais poderoso, populoso e culto da Europa, a Frana era uma nao em fermento, descontente com o seu Ancien Rgime e pensando seriamente em mudar para melhor".8

    Embora no se possa, baseados exclusivamente nesses dados quantificados, afirmar que Franzini era um "iluminista" ou compartilhava das idias veiculadas durante o perodo mais intenso de efervescncia da Repblica das Letras francesa do sculo XVIII, no se pode evitar perceber que a biblioteca reunida por ele era predominantemente composta por livros em lngua francesa, editados na Frana ou nos pases vizinhos que se beneficiavam do comrcio de livros ilegais com o Antigo Regime Francs.9 Pode-se levantar aqui uma questo - a ser explorada oportunamente - sobre a entrada dessas obras na Portugal do sculo XVIII e a relao com os mecanismos de censura do Estado e da Igreja.

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  • TABELA DE EDIES (RELAO IDIOMA/PERODO DE EDIO'

    S ./D. < 1600 1601-1650 1651-1700 1701-1750 1751-1800 >1800 Total FRA 20 1 7 17 361 39 445 POR 8 1 1 43 31 84 ITA 7 2 2 2 6 45 2 66 ESP 3 26 3 32 ING 19 3 22 LAT 1 2 3

    Total 38 3 2 11 26 494 78 652

    Esses dados esto longe de nos fornecer todos os elementos necessrios para a plena compreenso de como o indivduo em questo estava inserido em sua sociedade, ou o quanto a anotao do catlogo de seus livros reflete sua leitura desses mesmos livros. De fato, tais dados apenas indicam diversos caminhos que a anlise pode tomar.

    Podemos, por exemplo, tentar pensar essa biblioteca em termos da forma como o catlogo foi organizado - tal organizao sendo uma outra maneira de expressar a forma que Franzini concebia da prpria organizao do mundo. Segundo Robert Darnton,10 podemos pensar a classificao expressa em tal documento como um exerccio de poder - aquele de dar sentido ao mundo, de criar uma hierarquia do conhecimento, resultando em uma ordenao que reflete a concepo de mundo que a inspirou. Pensemos tambm, juntamente com Jacques Le Goff, que a monumentalizao do documento se d por um processo de poder - o de sistematizar, classificar o documento. O "Catlogo", como tal, se mostra um til exerccio de criao de sentido.11

    Simultaneamente, ao analisar este documento em particular, devemos manter em mente o esforo dos enciclopedistas franceses, particularmente durante a segunda metade do sculo XVIII, em redefinir as noes de filosofia, cincia e artes, tendo como resultado imediato a mutao desses termos para um estgio de "fluxo considervel". Segundo Baumer, "a 'filosofia' tomou um novo significado na Encyclopdie-, a 'cincia' foi definida com mais preciso; e fizeram-se distines mais subtis entre as diferentes espcies de artes, nomeadamente liberais, mecnicas e 'belas'. Falharam, visivelmente, as tentativas para unificar as artes e as cincias, ou para as manter unidas."12 Dadas as peculiaridades estatsticas, descritas acima, as formas de organizao do pensamento enciclopdico iluminista tm uma relao mais que superficial com as maneiras que Franzini organizou seu catlogo.Nesse sentido, a estrutura que Marino Manoel Franzini deu a esse dcumento pode ser representativa das formas como ele concebia a sociedade em que vivia e a importncia das idias que nela circulavam.

    O "Catlogo" oferece uma estrutura apenas aparentemente alfabtica, cujo primeiro item bastante caracterstico. Sob o ttulo "Artes" ele reuniu 31 ttulos (3,8 % do total de livros) sobre os mais diversos aspectos das artes liberais, mecnicas ou belas, tambm conhecidas pela generalizao "artes e ofcios". Sintomaticamente, a lista - e o catlogo - inicia-se pela referncia a trs volumes de Enciclopdias: O primeiro e o terceiro, Encyclopdie Mthodique, editados em Lige (uma provvel contrafaco da edio francesa de Panckouke)13 e Pdua respectivamente em 1782 e 1797 - o volume Arts et metiers mcaniques, e o Diccionaire de toutes les especes de pches, o segundo uma Encyclopdie Pratique, editada em Lige, em 1772.14 Com as trs primeiras colunas do catlogo dedicadas a esse tema, as "Artes" incluam obras devotadas qumica prtica - especialmente para as mulheres15 -, destilao, metalurgia, minerao, perfumaria, pintura, ao uso da panela de presso,16 alm de um improvvel volume sobre prestidigitao.17

    A esse item, seguem-se os "Autores Clssicos", com 25 ttulos, incluindo obras de Csar, Ccero, Demstenes, Homero, Marco Aurlio, Petrnio, etc. Chama a ateno que este ter sido o subttulo sobre o qual o pensador liberal incluiu a nica obra que podemos afirmar ser onipresente nas bibliotecas ocidentais: A Bblia (La Sacra Bblia), em uma edio italiana (e no latina) de 1757, impressa em Dresden. Ela aparece em ordem alfabeticamente errada, logo depois da Histria de Cipio (Scipion L'Africaine) escrita pelo Abade Seran de La Tour e antes da obra de Valrio Mximo em Latim e Francs.18

    Os itens seguintes do "Catlogo" continuam a construir uma viso cientificizada medida que os ttulos foram reunidos sob ttulos genricos como agricultura, botnica, comrcio, estatstica (que englobava todos os aspectos da administrao pblica, em particular a economia), geografia, hidrografia, etc. Os livros de medicina, divididos em farmacopias, guas termais e banhos e "meninos" seguiam as obras de matemtica, listadas com os subitens "Astronomia", "ptica", "Taboas" e "Diversidades".

    Juntamente com as variedades da matemtica, uma parte significativa do catlogo foi dedicada ao 194

  • mbito das cincias cuja definio foi mais definitivamente construda no sculo XVIII - em particular aquelas s quais Franzini se dedicaria nos anos subseqentes confeco do "Catlogo": "Fysica, Vulcanos, Meteoreologia". Juntem-se a essas subdivises aquelas referentes geodsia, geografia, hidrografia, hidrulica, botnica, e temos um total de 131 ttulos arrolados (16% de todo o catlogo).

    H uma nfase semelhante sobre as obras que lidam com a vida militar em seus diversos aspectos (artilharia, fortificaes, histria militar, topografia militar, ttica, etc.), com 85 ttulos anotados, equivalentes a 10,4% do total de ttulos. Somados s obras listadas sob os diferentes itens e subitens relacionados Marinha (navegao, ttica, construo), o nmero de obras listadas sobe para 132 ttulos (16,1%).

    O catlogo da biblioteca de Franzini continha diversos cabealhos relativos s humanidades. O item "filosofia", com 15 ttulos arrolados (1,8%), dissociava a disciplina da metafsica e associava-a com obras relacionadas busca do aperfeioamento humano. Nesse sentido, fugia da definio de filosofia como era pensada pelos enciclopedistas, que, em seu sentido mais geral, "significava simplesmente a soma de conhecimento procedente da razo humana, e inclua a metafsica, a teologia, e tambm toda a 'cincia do homem' e a 'cincia da natureza'".1'' Assim, a lista de obras iniciava-se com o Avertimenti d'Isocrate a Demonico (em traduo de 1749), passava por obras sobre o matrimnio, a educao, a sabedoria, os deveres dos cidados, o progresso do esprito humano2" e inclua exemplares da Logique de Condillac (em edio de 1800), Ouvres diverses (edio de 1732) e Essai philosophique concernant l'entedement humain, (1758) de John Locke, Contract social, de Rousseau (em edio de Amsterd, de 1762), Les Ruines de Volney,21 Deffense ds Droits des Femmes, de Mary Wollstonecraft,22 terminando com um estudo comparativo dos fundadores das religies orientais.23

    Outra categoria que mereceu destaque foi a de histria, com 28 ttulos. Somada subcategoria de Histria Militar (20 ttulos), perfaz um total de 5,9% das obras listadas no "Catlogo". Nessas categorias, Franzini incluiu documentos relativos poltica contempornea, como jornais franceses e ingleses ou as descries das guerras napolenicas, por exemplo, o relato das campanhas de 1805 e as "Relaes" de Isidore Langlois e Alexandre Berthier sobre as campanhas do Egito e da Sria, entre outros.24 Esse interesse de Franzini repercute sua prpria experincia como membro (major do Estado Maior, para ser mais exato) da legio portuguesa, organizada pelo general Junot, comandante do exrcito napolenico que invadiu Portugal aps a fuga da famlia real. Franzini acompanhou a legio, convocada a servir junto aos exrcitos de Napoleo, at a Espanha, de onde "desertou" para voltar marinha de guerra portuguesa.25

    s obras reunidas nas categorias chamadas de "histria" podemos acrescentar outras que se complementam para dar biblioteca descrita por Franzini em seu "Catlogo", caractersticas peculiares de abrangncia global. As categorias de geografia, hidrografia, viagens (subdividida em viagens martimas e terrestres), refletem os interesses de Franzini como cientista, que estria como autor em 1812 publicando o Roteiro das costas de Portugal, ou instuces nauticas para intelligencia e uso da carta reduzida da mesma costa, e dos planos particulares dos seus principaes portos?6 Em seu conjunto, essas obras compem 8,9% do total de livros listados por Franzini (73 ttulos), mas permitem perceber como seu interesses (e os de seus contemporneos) giravam em torno da descrio minuciosa do extico e do desconhecido, em nome da cincia e/ou da civilizao ocidental.

    O Catlogo assumiu ares de conhecimento universal ao anotar as obras desses tpicos, com ttulos provavelmente to descritivos quanto seu contedo. Obras como o Itinraire des routes les plus frquentes, anotada por Franzini como Itinraire des routes principales de l'Europe,11 ou a descrio corogrfica de Portugal,28 e aquela das "coisas maravilhosas" da cidade de Roma2,(anotadas na classificao "Geografia"), assemelham-se a obras como as descries de viagens ao Plo Boreal, Rssia, China, Austrlia, alm da descrio do motim do Bounty e dos dirios do Capito Cook (anotadas sob "Viagens").30 Essa semelhana ocorre no tocante a um redimensionamento do mundo gestado pelas idias de cincia da segunda metade do sculo XVIII e do incio do sculo XIX, que fizeram com que os europeus - seguindo Gibbon - passassem a perceber uma "superioridade intelectual" coletiva da Europa para com o resto do mundo, gerada por "uma avalanche de informaes sobre as terras de alm-mar, juntamente com o esprito da reforma".31 Imagina-se que Marino Miguel Franzini, quando deixava de ser o anotador do catlogo e se tornava o leitor dessas obras, compartilhava dessas noes de cincia e, provavelmente, da percepo de superioridade, da mesma forma como a prpria cincia do setecentos foi elevada "a um plano hierarquicamente superior"32 e Franzini era tido, como vimos acima, neste tocante e no mbito poltico, como um smbolo do progresso e paradigma do utilitarismo da cincia.33

    Como homem do seu tempo, Franzini demonstrava compartilhar das idias que caracterizaram a modernidade ocidental, como "ruptura com o passado de universalismo cristo e [abertura] de

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  • um presente secularizado, com suas conseqncias - racionalizao da ao e fragmentao da vida interna do homem ocidental".34 nesse sentido que podemos refletir sobre o modo como Franzini classificou o conhecimento acumulado em sua biblioteca, ordenando-o nas pginas do "Catlogo". Podemos iniciar comparando essa ordenao com outras semelhantes e que a antecedem, como aquela da Real Academia dos Guardas Marinhas, onde Franzini teve sua formao inicial nos anos finais do sculo XVIII. Surgida (em 1783) do cruzamento das reformas universitrias pombalinas e da institucionalizao cientfica copiada Frana e Inglaterra, essa instituio visava dar a formao especfica a oficiais da Armada portuguesa.35

    A biblioteca dessa instituio, tambm transportada para o Brasil junto com a corte portuguesa, era composta por obras e autores que foram classificados por Maria de Ftima Nunes em seis categorias sintomticas de "uma certa pedagogia de ensino e do contexto nacional, e europeu, que influenciou a criao e o crescimento da Academia":36

    Um - As obras gerais, dc direo coletiva ou publicadas sob os auspcios de instituies, que tinham essencialmente o carter de obras de consulta. Referimo-nos, por um lado, aos instrumentos de trabalho indispensveis aprendizagem das lnguas vivas, (como francs e ingls que eram obrigatrias), ou seja dicionrios e gramticas. Dentro deste grupo genrico incluem-se ainda os dicionrios geogrficos, histricos, diplomticos e universais, alm daqueles que designaramos, hoje, por tcnicos, referentes exclusivamente prtica de marinharia. Dois - A organizao interna obedeceu a condicionalismos histricos, que determinaram uma certa orientao epistemolgica do saber. O espao e o tempo cultural refletem-se na existncia de obras que dizem respeito s reformas de ensino, ateno muito especial dada reforma pombalina de 1772. nesse sentido que, por exemplo, lado a lado com os Estatutos da Real Academia dos guardas Marinhas deparamos com os Estatutos da Universidade de Coimbra. Porm, h tambm um tempo cultural exterior aos limites nacionais, que fez sentir a sua presena atravs da referncia, por exemplo, de L 'Ordenance de la Marine, de Ordenances et Rglements sur la Marine Franaise ou dos dois volumes das Ordenanzas de la Marina. Trs - Os manuais portugueses constituem um outro ncleo, encabeados pelas obras de Azevedo Fortes (O Engenheiro Portugus, Lgica Racional), e seguidas pelos manuais de Brotero {Compndio de Botnica, Princpios de Agricultura Filosfica) ou dos de marinharia, de autoria de professores da Academia, como Limpo, por exemplo. E tambm de aqui enquadrar quer o Regulamento do Exrcito do conde Lippe (a influncia da nova disciplina militar...), quer os 10 volumes da Recreao Filosfica do padre oratoriano Teodoro de Almeida. Quatro - A histria de Portugal, muito especialmente a das glrias martimas, constitui um outro ncleo; nomes como Joo de Barros, Diogo Couto, Damio de Gis, aparecem referenciados com as respectivas obras. Cinco-O sabertcnico-cientifico da cincia nutica consubstancia-se nos manuais especficos, quer nos referentes aos trabalhos prticos inerentes ao curriculum escolar (feitura de mapas e rotas, medies trigonomtricas, tbuas nuticas e astronmicas), quer no saber militar, que teria como apoio fundamental o Cours d'tudes au usage de l'Ecole Royale Militaire, em 46 volumes.

    Seis - A formao tcnica juntava-se uma componente de formao cultural mais alargada que permitisse moldar o perfil do oficial de Marinha ao sabor das tonalidades da produo do conhecimento humano da altura. Nesta diretriz enquadra-se a bibliografia de divulgao, ligada s Academias, recm criadas, e com objetivos inovadores. No , pois, por simples acaso que encontramos referenciadas as Memrias de Mathemtica e Fsica da Real Academia das Sciencias de Lisboa e da Academia Real das Sciencias de Paris, desdobrando-se em Mmoires, Histoire, Tables, Machines e Mmoires de l'Institut. E ainda como um complemento pedaggico cultural a "Livraria" da Academia guardava ttulos como Pratica de Botanica en Hespanol (9 vols.), Essay sur ls maladies, Code des Prises, Rapport sur la situation de l 'Ecole Politechnique ou Histoire des progrs de la puissance d'Angleterre.37

    J pudemos observar alguns pontos de encontro entre a diviso acima e aquela percebida no "Catlogo" de Franzini, em particular o de um conceito de cincia identificvel pela predominncia de obras devotadas a temas "tcnico-cientficos". A abundncia de obras sobre aspectos tcnicos da Marinha (ou militares em geral) e as de conhecimento geogrfico, evidenciveis em ambos os casos, ligam-se a diversos aspectos da vida profissional de Franzini, com matrizes evidentes em sua principal escola. A lista de livros anotadas por Marino Miguel inclua diversas das obras que ele conhecera na Academia dos Guardas Marinha, em especial, as de Manoel do Esprito Santo Limpo, professor daquela instituio,38 bem como o Compndio de Botnica de Brotero39 e o Regulamento de Lippe.40

    Mantendo em mente que a categorizao de Nunes apenas uma entre muitas maneiras de buscar agrupar conhecimento contido em bibliotecas, no improvvel que Franzini se inspirasse na sua realidade cotidiana imediata, copiando os modelos mais prximos de si ao

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  • tentar estruturar sua prpria rvore do conhecimento. Ainda segundo Nunes:

    Dos inmeros nomes mencionados no inventrio fda Academia dos Guardas Marinha], procede-se a uma escolha que teve como suporte de referncias a concepo de cincia do sculo XVIII, e os seus nomes mais representativos e paradigmticos. Eles constituem tambm os expoentes dos objetivos cientficos dessa poca - o progresso c o modelo de perfectibilidade - mas tambm o perfil de um certo padro cultural, avanado e inovador, que se concentrou emblemticamente no Esquisse d'un Tableau Historique des Progrs de l'Esprit Humain, de Condorcet. Deste modo, o contedo dos milhares de pginas que compunham a "livraria" da Academia dos Guardas Marinhas, encerrava um potencial imenso de idias, ou melhor, de "cincia das idias". Nesse espao destinado ao conhecimento, mas tambm prtica de objetivos pedaggicos, moldava-se o pensamento dos jovens alunos, delineando-se, conseqentemente, possveis modelos ideolgico-culturais."4 '

    Foi dentro desse esprito de idias que procuramos compreender a forma como Franzini ordenou sua prpria coleo de livros nas pginas de seu catlogo, inspirado nas concepes de organizao do saber que permearam a revoluo do prprio conhecimento durante o sculo XVIII. Provavelmente inspirado pelas obras-chave do perodo - em particular a Encyclopdie de D'Alembert e Diderot,42 no Esquisse de Condorcet, ou ainda nas obras de outros expoentes do Iluminismo, cujas obras ele colecionou. Percebe-se, na ordenao, sua preocupao com uma biblioteca que abrangesse todos os campos do conhecimento desenvolvido em torno das noes de cincia e de tcnica. Mesmo as obras "clssicas" so includas na medida em que lanam luz a campos do conhecimento que podem ser identificados na ao posterior de Marino Miguel, como poltico e como cientista. Sua participao no movimento liberal portugus de 1820 mais facilmente compreensvel medida que podemos ver, nos livros colecionados por ele, as matrizes do pensamento liberal, em suas mltiplas vertentes.

    Como fonte para estudos sobre a histria da leitura, os papis de Marino Miguel Franzini, que incluem o "Catlogo", constituem um rico recurso, pois podem fornecer elementos sobre aspectos diversificados da vida portuguesa na passagem do sculo XVIII ao XIX. Isso pode ser feito no somente com relao histria poltica, das cincias e das idias, mas tambm sobre as operaes cotidianas em relao leitura, ao livro e a outros aspectos da vida cultural, operando questionamentos relativos, simultaneamente, tanto aos "movimentos coletivos quanto as aes individuais, tanto com as tendncias quanto com os acontecimentos",43

    e identificando, no cotidiano, tanto o tempo da efemride quando o do grande acontecimento, como uma sucesso benjaminiana de "presentes no fluxo da vida".44

    Ao "Catlogo" somam-se listas de compras de livros feitas junto a diversos livreiros europeus (por exemplo, as 16 pginas da lista de Livros que compramos no Negocio Molini de Florncia, listando obras adquiridas, por ano, entre 1798 e 1807, com ttulos e valores globais), e outros catlogos (Catalogue des livres et etc. e Rol dos livros que comecei a comprar em 1798), escritos em momentos distintos e que fornecem elementos para a reconstruo das leituras possveis - quando no se puder ver as leituras de fato, atravs dos escritos do prprio Franzini. Sua biblioteca permite inferncias sobre essas leituras e sua atuao na sociedade de seu tempo.

    Notas 1 SCHWARCZ, Lilia Mortiz; A Z E V E D O , Paulo Cesar de; COSTA, Angela Marques da. A longa viagem da biblioteca dos reis; do terremoto

    de Lisboa Independencia do Brasil. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. 2 C E N T R O DE E S T U D O S DO P E N S A M E N T O POLTICO. In: http:,'www.iscsp.utl.pt/~cepp ; abertura.php. consultado em 27/10/2003. 3 CAVALCANTE, Berenice. Os ' letrados ' da sociedade colonial; as academias e a cultura do i luminismo no final do sculo XVIII. Acervo

    - Revista do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: Jan/dez., 1995, p.53-66. 4 NUNES, Maria de Ftima. O liberalismo portugus: iderio e cincias; o universo de Marino Miguel Franzini (1800-1860). Lisboa:

    Centro de Histria da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, 1988,, p. 21. Ver tambm MONTEIRO, Arlindo Camilo. Aspectos histricos da vida portuguesa; os professores doutores Miguel Franzini e Domingos Vandclli da Universidade de Coimbra atravs de alguns inditos do Arquivo Nacional do Brasil. REVISTA DO A R Q U I V O MUNICIPAL CXXIV. So Paulo, 1949.

    5 ACADEMIA DAS C INCIAS DE LISBOA, ln: hUp:/ ;www.ins;ituU;-canK)Cs.nt/cvc/cei)cia :c31 .html, consultado em 17/10/2003; FRANZINI, In: latp://'\v\vvv.iscsp.utl.pt/cepp/anitario/sccxix/aiH)l 851 .htm consultado em 17/10/2003; http:// \vww.arqnct.pl 'cxcrcito 'franzini. html, consultado em 17/10/203; PORTUGAL - DICIONRIO HISTRICO, ln: h t tpVAvw.arqnct .p l /d ic ionano/ ranzmmm.html . consultado em 17/10/2003.

    f' N U N E S . O liberalismo portugus, ... p. 17. 7 Ver. por exemplo DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos; e outros episdios da histria cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal,

    1986. The kiss of Lamourette. New York: Norton, 1990.

    " BAUMER, Franklin. O pensamento europeu moderno, vol I sculos XVII e XVIII. Lisboa: Edies 70. s./d. p. 180, grifos do autor.

    * DARNTON, Robert. Os best-sellers proibidos da Frana pr-revolucionria. So Paulo: Companhia das Letras. 1998.

    197

    http://www.iscsp.utl.pt/~cepphttp:///vww.arqnct.pl'cxcrcito'franzini
  • 10 DARNTON, Robert. Os filsofos podam a rvore do conhecimento; a estratgia epistemolgica da Encyclopdie. In: . O grande massacre de gatos, ... p. 247-275

    11 LE GOFF, Jacques. Historia e memria. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. 5a ed. 12 BAUMER, O pensamento europeu... p. 167. 13 Encyclopdie Mthodique. In: htlp://www.hataldfischet\-ertaif.de/hfv/AEL/8el 1-S0 engl.htm. consultado cm 30/08/2005. Ver tambm:

    DARNTON, Robert. O iluminismo como negocio: histria cia publicao da "Enciclopdia", 775-1780. So Paulo: Companhia das Letras, 1996.

    14 D 'ALEMBERT, Encyclopdie mthodique ou par ordre de matires; Arts et mtiers mcaniques. Fac-sim. de l 'd. de Paris : Panckoucke ; Lige : Plomteux, 1784; EMMANUEL, Ch. Encyclopdie pratique, ou Etablissement de grand nombre de manufactures. Lige : .1. F. Bassompicrre, 1772; LACOMBE, Jacques. Encyclopdie mthodique ou par ordre de matires; Dictionaire de toutes ls especes de pches. Tome unique. A Padoue: 1797..

    15 MEURDRAC, Marie; Jean Jacques (Sous la direction de). La Chymie charitable et facile, en faveur des dames. 3e ed"n Paris: 1687. 16 QURIAU, Franois-Guillaume. Mmoire sur 1 'usage oeconomique du digesteur de Papin, donn au public par la Socit des Belles-

    Lettres, Sciences et Arts de Clennont-Ferrand. Clermond-Ferrand: P. Viallanes, 1761. 17 DENTON, Thomas. Opelotiqueiro desmascarado. Traduzido do Ingls. Lisboa: 1791. (edio original: DENTON, Thomas The conjurer

    unmasked; being a clear and full exploitation of ali the surprizing performances exhibited as ire// in this Kingdom as on the continent, London: Stalkei, 1788.)

    1 8 SERAN D E L A TOUR, Abb. Histoire de Scipion l'Africain, pour servir de suite aux Hommes illustres de Plutarque. Avec des observations de M. le chevalier de Folard sur la bataille de Zaina. Didot, Paris, 1752; La Sacra Bblia traduta in lngua italiana. Dresdae: Lipsiae, 1757; VALRE-MAXIME. Valre-Maxime Latin et Franaise. Lyon: H. Moulin, 1700.

    19 BAUMER, O pensamento europeu... p. 170. 2(1 COCCH1 Antonio, Del matrimonio. Ragionamento di un filosofo mugellano. Colonia: s./ed., 1763; ANON. De l'ducation, ouvrage

    utile aux parents, aux gouverneurs, etc. et tous ceux que si chargent de l'ducation. Amsterdam: J. H. Schneider, 1768; CHARRON Pierre, De La Sagesse, 3 livres, suivant la vraie copie de Bourdeaux. Amsterdam, 1782; PUFENDORF, Samuel, Freiherr von. Les devoirs de l'homme et du citoyen: tels qu'ils lui sont prescrits par la loi naturelle; Amsterdam: Arste & Merkus, 1756; SEVERIEN, Alexandre, Histoire des progrs de l'esprit humain dans les sciences et dans les arts qui en dpendent. Histoire naturelle. Paris, s./ed., 1778.

    2 1 V O L N E Y (Comte de). Les Ruines ou Mditations sur les rvolutions des empires. Paris: s./ed., 1799. 22 GODWIN, Mary Wollstonecraft, Dfense des droits des femmes, suivie de quelques considrations sur des sujets politiques et moraux,

    ouvrage traduit de l 'anglais. Paris: Buisson, 1792. 2 3 PASTORET, C.E.J.P. Zoroastre, Confucius et Mahomet, compar comme sectaires, lgislateurs et moralistes; avec le tableau de leurs

    dogmes, de leurs lois & de leur morale. Paris: Buisson, 1787. 24 Campagnes de la grande arme et de l'arme d'Italie en l'an XIV (1805), ou recueil des bulletins et de toutes les pices officielles relatives

    cette guerre avec l 'Al lemagne et la Russie, et des discours prononcs au snat et au tribunat cette occasion, suivi du trait de paix de Presbourg et d 'un dictionnaire gographique des villes, villages, rivires et autres points o les deux annes ont livr des batailles et combats dans cette glorieuse campagne. Paris, Librairie conomique: 1806; LANGLOIS, Isidore & BERTHIER, Alexandre. Relation des campagnes du gnral Bonaparte en Egypte et en Syrie, par le gnral de division Berthier. Paris, impr. de P. Didot l 'an : An IX (1800).

    2 5 FRANZINI, In: http./yvvww.iscsp.utl.pt/cx-pp/anuario/secxix/aiio 1851 .htm consultado em 17/10/2003; http://www.arqnet.pt/exerctto/ franzini.html. consultado em 17/10/203; PORTUGAL - DICIONRIO HISTRICO, In: http://www.arqnet.pt/dicionario/lraiizinima.htm. consultado em 17/10/2003.

    2 6 FRANZINI, Marino Miguel. Roteiro das costas de Portugal, ou instuces nauticaspara intelligencia e uso da carta reduzida da mesma costa, e dos planos particulares dos sues principaes portos. Dedicado a sua alteza real o principe regente nosso senhor. [Lisboa]: Na Impresso Regia, 1812. Essa publicao antecedida somente pela publicao, na Inglaterra, do mapa que prepara esse trabalho: FRANZINI, Marino M. Chart of the Coast of Portugal from Cape Silleiro to Huelba Bar. Carta reduzida da Costa de Portugal desdo Cabo Silleiro athe a Barra de Huelba. London : A. Arrowsmith, 1811.

    2 7 DUTENS, Louis. Itinraire des routes les plus frquentes, ou journal de plusieurs voyage aux villes principales de l'Europe, depuis 1768 jusqu 'en 1783. O l'on a marqu, en heures & minutes, le temps employ aller d'une poste l'autre; les distances en milles anglois, mesures par un Odometre appliqu a la voiture; le productions des diffrentes contres; les choses remarquables voir dans les villes & sur les routes; les auberges, &c. On y a joint le rapport des monnoies, & celui des mesures itinraires, ainsi que le prix des chevaux de poste des diffrents pays. Sixime dition, revue, corrige & augmente ... Paris, chez Theophile Barrois, 1788.

    2 8 FREIRE, Antonio de Oliveira. Descripam corografica do reyno de Portugal, que contm huma exacta relaam de suas provincias Lisboa : Na Officina de Bemado Anton, de Oliveira, 1755.

    2 9 FELINI Pietro Martire, Trattato mtovo dlie cose meravigliose dell'alma citt di Roma, Roma, Montimer, 1995, XVI-436 p. ill. (Le antichc guide di Roma, 4) [Ristampa anastatica dell 'edizione Roma, 1610],

    3UPHIPPS, Constantine John, baron Mulgrave, Voyage au ple boral, fait en 1773 par ordre du roi d'Angleterre, par Constantin Jean Phipps. Traduit de l 'anglois [par Jean-Nicolas Dmeunier]. Paris, Saillant et Nyon : 1775; GMELIN Voyage en Sibrie, contenant la description des moeurs et usages des peuples de ce pays, le cours des rivires considrables, la situation des chanes de montagnes, des grandes forts, des mines, avec tous les faits d'histoire naturelle qui sont particulires cette contre ; fait aux frais du gouvernement russe. Par M. Gmelin. Traduction libre de l'original allemand par M. de Kralio. Paris, chez Desaint, 1767; MEARES, John. Voyages de la Chine a la cote nord-ouest d'Amrique, faits dans les annes 1788 et 1789 ; prcds de la relation d'un autre voyage excut en 1786 sur le vaisseau le Nootka, parti du Bengale ; d'un recueil d'observations sur la probabilit d'un passage nord-ouest ; et d'un trait abrg du commerce entre la cte nord-ouest et la Chine, etc. etc. Par le capitaine J. Meares, commandant le vaisseau la Felice. Traduits de l 'anglois par J. B. L. .1. Billecocq, citoyen franais... [A Paris], [Chez F. Buisson] : [1795]; PHILLIP, Arthur. Voyage du gouverneur PhiUip Botany-Bay avec une description de / 'tablissement des colonies du Port-Jackson et de l'le Norfolk, faite sur des papiers authentiques, obtenus des divers dpartemens, auxquels on a ajout les Journaux des lieutenans Shortland, Watts, Bail et du capitaine Marshall, avec un rcit de leurs nouvelles dcouvertes. Paris, Saillant et Nyon : 1775; BLIGII, William. Relation de / 'enlvement du navire Le Bonnty appartenant au roi d'Angleterre et command par le lieutenant Guillaume Bligh, avec le voyage subsquent de cet officier et d'une partie de son quipage dans sa chaloupe, depuis les iles des Amis, dans la mer du Sud, jusqu ' Timor, tablissement hollandais aux iles Mo/tiques, crit en anglais par M. William Bligh,.., et traduit par Daniel Leseallier,... Paris, F. Didot : 1790. RICKMAN, John. Journal of Captain Cook's last voyage to the Pacific Ocan, on Discovery. perfomied in the years 1776, 1777, 1778, 1779 : illustratcd with cuts, and a chart, shewing the tracts of the sliips employed in this expdition / faithfuly narrated from the original MS.. London : Printed for E. Newbery ...,178 L

    3 1 BAUMER, O pensamento europeu... p. 181-2.

    198

    http://www.hataldfischet/-ertaif.de/hfv/AEL/8elhttp://www.arqnet.pt/exerctto/http://www.arqnet.pt/dicionario/lraiizinima.htm
  • 3 2 NUNES, O liberalismo portugus ... p. 13. 3 3 Idem, p. 17. 3 4 REIS, Jos Carlos. Histria e teoria; historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 28. 3:1 N U N E S , , O liberalismo portugus ... p.25-27. 3 6 Idem, p. 29. 3 7 Idem, p. 29-31. 3 8 O Catlogo lista as seguintes obras de Manoel do Esprito Santo Limpo: Noes de Manobra de navio (Lisboa: Regia Of. Tipogrfica,

    1793): Princpios de tactica naval, (Lisboa, na Typog. da Acad. R. das Scienc. : 1797); Applicaes das Mathematicas Tactica. (Lisboa, 1791); alm da traduo do Ensaio de Tctica Naval, de John Clerk. (CLERK, John. Ensaio de tactica naval / Por Joo Clerk, Traduzido Livremente do Inglez Por Manoel do Espirito Santo Limpo . - Lisboa : Typographia Chalcographica e Litteraria do Arco do Cego, 1801. - 2 tomos : il.; 30 cm . - T. da o. orig. : Essay on naval tactics. - 1 tomo : edio de 1790. - II tomo : edio de 1797).

    3 9 BROTERO, Flix da Silva Avelar. Compendio de Botnico, ou Nooens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores Modernos, espostas na Lngua Portugueza, Paris, 1788, 2 vols.

    4" LIPPE, Wilhelm Schaumbourg Graf Von. Regulamento para o exerccio e disciplina dos Regimentos de Infantaria dos Exrcitos de Sua Magestade Fidelssima. Lisboa : [mp. na Secretaria de Estada 1763.

    4 1 N U N E S , , O liberalismo portugus ... p. 31. 4 2 DARNTON, . Os filsofos podam a rvore do conhecimento, ... p. 247-275. 4 3 BURKE, Peter, org. A escrita da histria; novas perspectivas. So Paulo: Unesp, 1996, p. 14. 4 4 GUARINELLO, Norberto Luiz. "Histria cientfica, histria contempornea e histria cotidiana". Revista Brasileira deHistria, 2004,

    vol. 24 no.48, p. 13-38.

    Sem titulo