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UMA ANÁLISE HISTÓRICO-JURÍDICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA REGIÃO DO CARIRI Eduardo A. Carvalho [email protected] Curso de Direito - Universidade Regional do Cariri - URCA Rakys Ângela Fernandes Ribeiro [email protected] Curso de História - Universidade Regional do Cariri - URCA 1. INTRODUÇÃO A violência contra a mulher não é um fato novo. Todos os dias, surgem novos casos de violência contra a mulher, divulgados na mídia apenas como mais um informe diário. A mulher que nunca sofreu violência pode não saber qual a dimensão do sofrimento vivido pelas vítimas dos noticiários. Assim, os fatos passam despercebidos pela sociedade, tornando-se a violência algo comum. É considerada violência contra a mulher aquela causada pelo homem contra a mulher, ou seja, é preciso existir a figura da diferença de sexo, sendo o homem o sujeito ativo. Entende-se por violência qualquer agressão física, psicológica, verbal ou social, tanto no âmbito público como no privado, motivada apenas por sua condição de mulher (CAVALCANTI, 2005). Especificamente tratando de sua natureza no cenário caririense, a violência contra a mulher é bastante influenciada por uma estrutura patriarcalista e machista, resultado de nosso processo de colonização e aculturamento, aliada a fatores como dependência financeira, alcoolismo, impunidade e baixa qualidade educacional. Comentamos neste artigo como estes fatores influenciam fortemente na qualificação da região como uma das mais violentas do Ceará. Analisamos os aspectos históricos da violência contra a mulher na região do Cariri na Seção 2. Na Seção 3, são vistas algumas considerações jurídicas sobre as mudanças na legislação brasileira no tocante à proteção da mulher, à vigência da Lei Maria da Penha e as dificuldades encontradas para sua efetiva aplicação. Destacamos alguns casos reais de violência registrados em inquéritos policiais autuados na delegacia de uma comarca na região do Cariri, bem como estatísticas de crimes contra a mulher em Juazeiro do Norte (Seção 4). Por fim, a Seção 5 traz as considerações finais sobre o presente estudo. 2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

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UMA ANÁLISE HISTÓRICO-JURÍDICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA REGIÃO DO CARIRI

Eduardo A. Carvalho

[email protected] Curso de Direito - Universidade Regional do Cariri - URCA

Rakys Ângela Fernandes Ribeiro

[email protected] Curso de História - Universidade Regional do Cariri - URCA

1. INTRODUÇÃO

A violência contra a mulher não é um fato novo. Todos os dias, surgem novos casos de

violência contra a mulher, divulgados na mídia apenas como mais um informe diário. A mulher que

nunca sofreu violência pode não saber qual a dimensão do sofrimento vivido pelas vítimas dos

noticiários. Assim, os fatos passam despercebidos pela sociedade, tornando-se a violência algo

comum.

É considerada violência contra a mulher aquela causada pelo homem contra a mulher, ou

seja, é preciso existir a figura da diferença de sexo, sendo o homem o sujeito ativo. Entende-se por

violência qualquer agressão física, psicológica, verbal ou social, tanto no âmbito público como no

privado, motivada apenas por sua condição de mulher (CAVALCANTI, 2005).

Especificamente tratando de sua natureza no cenário caririense, a violência contra a mulher

é bastante influenciada por uma estrutura patriarcalista e machista, resultado de nosso processo de

colonização e aculturamento, aliada a fatores como dependência financeira, alcoolismo, impunidade

e baixa qualidade educacional. Comentamos neste artigo como estes fatores influenciam fortemente

na qualificação da região como uma das mais violentas do Ceará.

Analisamos os aspectos históricos da violência contra a mulher na região do Cariri na

Seção 2. Na Seção 3, são vistas algumas considerações jurídicas sobre as mudanças na legislação

brasileira no tocante à proteção da mulher, à vigência da Lei Maria da Penha e as dificuldades

encontradas para sua efetiva aplicação. Destacamos alguns casos reais de violência registrados em

inquéritos policiais autuados na delegacia de uma comarca na região do Cariri, bem como

estatísticas de crimes contra a mulher em Juazeiro do Norte (Seção 4). Por fim, a Seção 5 traz as

considerações finais sobre o presente estudo. 2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

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Historicamente, as relações entre mulheres e homens são desiguais e marcadas pela

tentativa de subordinação do feminino pelo masculino. Isto impõe valores e normas de conduta e as

“devidas correções” ao descumprimento, culturalmente toleradas e até incentivadas (JÚNIOR,

2006). Simone de Beauvoir, em seu discurso feminista, endossa a tolerância dessa cultura ao

refletir sobre a submissão do feminino ao masculino nas relações humanas ao longo dos tempos:

A mulher sempre foi, se não escrava do homem, ao menos sua vassala; os dois sexos nunca partilharam o mundo em igualdade de condições; e ainda hoje, embora sua condição esteja evoluindo, a mulher arca com um pesado handicap. Em quase nenhum país seu estatuto legal é idêntico ao do homem, e muitas vezes este último prejudica consideravelmente. Mesmo quando os direitos lhe são abstratamente reconhecidos, um longo hábito impede que encontrem nos costumes sua expressão concreta. Economicamente, homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade de condições, os primeiros têm situações mais vantajosas, salários mais altos, maiores possibilidades de êxito que suas concorrentes recémchegadas. Ocupam, na indústria, na política, etc., maior número de lugares e postos mais importantes. Além dos poderes concretos que possuem, revestem-se de um prestígio cuja tradição a educação da criança mantém: o presente envolve o passado, e no passado toda a história foi feita pelos homens. No momento em que as mulheres começam a tomar parte do mundo, esse mundo ainda é dos homens. Eles bem o sabem, elas mal duvidam (BEAUVOIR, 1986, pp. 18-19).

O conservadorismo clerial também impôs às mulheres um tipo de controle social rígido,

que influência ainda hoje o comportamento e a discriminação. Nos casos de defloramento e estupro,

por exemplo, a mulher é vista como a causadora destes tipos de violências, conforme se referem

Neder e Filho ao analisarem o livro Delitos contra a mulher (de Viveiros de Castro apud NEDER e

FILHO, 2001). Segundo estes autores, a obra lida confirma a continuidade de um conjunto de

práticas ideológicas inculcadas por séculos de hegemonia do pensamento religioso (e do Direito

Canônico) na cristandade ocidental, afirmando que a mulher que é violentada é vista como ré,

nunca como vítima. Nesse sentido, a mulher é considerada responsável pelo estupro porque ela

manifesta um mal que só ela possui, a sedução, justificando, dessa forma, o meio mais aguçado de

exteriorizar a cultura machista.

Minayo (MINAYO, 2005) discute situações do cotidiano da violência contra a mulher,

levando em conta o caso brasileiro, típico da cultura ocidental carregada de preconceitos e

impregnada de ideologias machistas. Duas dessas situações são a violência contra a mulher na

condição de cônjuge e o estupro. No caso da violência doméstica com a mulher na condição de

cônjuge, ela se justifica porque os maridos ou parceiros buscam primeiro “avisar” e “conversar”, e

depois, se não são obedecidos, agridem. Em relação ao estupro, ocorre a anulação da vontade de

vítima (que só pode ser a mulher) e, quando a mesma denuncia, muitas vezes é considerada a

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culpada pelo acontecido. Para os estupradores, apesar de confessarem que forçaram a relação sexual

e a fizeram num “momento de fraqueza”, eles acreditam que a mulher queria ser violentada (p. 24).

É importante considerar que historicamente prevalece uma visão masculinizada no Direito

brasileiro, que vem timidamente mudando. Tal visão é bastante criticada ao adjetivar os atos de

violência doméstica como “crimes menores”, como foi o caso da Lei 9.099/95 (lei que criou os

Juizados Especiais Criminais) que, até o advento da Lei Maria da Penha (Lei 11.340, de 7 de agosto

de 2006), era o diploma legal utilizado para tratar também casos de violência doméstica. Na

compreensão de Campos e Carvalho (CAMPOS e CARVALHO, 2006), a Lei 9.099/95 não

recepcionou a natureza diferenciada da violência doméstica, por não dar a devida atenção à questão

da violência de gênero. Gênero é um termo que possui amplo sentido, significando espécie no caso

do gênero humano, sendo que as ciências sociais e humanas têm a categoria de gênero como uma

forma para demonstrar sistematizar as desigualdades sócio-culturais existentes entre homens e

mulheres. Em resumo, o gênero aborda as diferenças e desigualdades econômicas e políticas em que

as mulheres são colocadas em posição de inferioridade, dominação nas diferentes áreas da vida

humana (CAVALCANTI, 2005; CAMPOS e CARVALHO, 2006).

A violência em geral, e especialmente contra a mulher, possui traços da incompetência do

Estado em solucionar os problemas basilares da sociedade. De nada adianta um Estado repressor,

como vem sendo desde os tempos do Império, se o mesmo não garante qualidade de vida ao povo.

Vários problemas que vivenciamos hoje no campo das políticas públicas voltadas para atendimento

de crianças e adolescentes (prostituição infantil, abuso sexual, estupro, violência doméstica,

abandono), mulheres e idosos, não podem ser solucionadas sem que tenhamos a clareza do processo

histórico-cultural subjacente (NEDER e FILHO, op. cit).

2.1 Causas da violência contra a mulher no contexto caririense

Diante do contexto geral apresentado, a dominação, discriminação e submissão da mulher

não poderiam ser diferentes na realidade caririense que, aliados a uma grande tradição cultural

imposta historicamente, têm levado a região do Cariri a contabilizar grandes marcas nas estatísticas

de violência contra a mulher.

A dependência financeira é uma das causas que enseja a violência doméstica contra a

mulher. Na maior parte dos casos de violência, a mulher não denuncia os abusos sofridos, por

receio de seu abandono financeiro e dos filhos. Daí, muitos casos não computam as estatísticas

oficiais, sendo seu conhecimento apenas dentro do ambiente familiar ou na vizinhança. Decerto que

muitas mulheres não têm a visão de se educar, melhorar de vida, pois não foram ensinadas a

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batalhar por sua sobrevivência buscar um futuro melhor. A educação tradicional (familiar e escolar)

da mulher brasileira alicerça-se no servir e obedecer ao homem, ignorando um mundo que prima

pela igualdade de direitos e deveres, pelo menos em tese.

O alcoolismo é um fator cultural moderno que tem favorecido a violência doméstica,

principalmente nas classes sociais menos favorecidas. Depois vêm as drogas, o desemprego e as

questões financeiras como fatores mais potencializadores, conforme reportagem do jornal Diário do

Nordeste (SALES, 2007). A bebida é a causa mais comum da violência doméstica no Cariri, porque

possui acesso mais fácil, por existir considerável quantidade de bares e botecos espalhados por

pequenas e grandes cidades da região. O bar, bem como o comércio, é uma das principais fontes de

renda. A falta do que fazer, principalmente nos fins de semana, leva uma massa de jovens e adultos

a esses locais para se divertir.

Sendo a cachaça o item mais barato da prateleira, ela desencadeia uma série de problemas

sociais. Em se tratando dos jovens, muitas vezes eles recorrem aos pais aposentados para conseguir

dinheiro para sair e beber. Muitos casos de violência doméstica aí se iniciam, até que, nas situações

mais graves, o jovem assassina os pais ou avós para manter o vício. Noutro cenário, envolvem-se

em discussões, rixas ou brigas de gangues que terminam em morte.

Já aqueles adultos que chegam a casa bêbados, terminam espancando mulher, filhos e avós,

ou os agridem e ofendem verbalmente. Estas famílias são ambientes altamente propícios para fugas

de adolescentes, que nas ruas encontram o crime, drogas e prostituição. Não raro, a prostituição é

mais convidativa para as jovens na mais tenra idade, que tendo apenas o corpo como ferramenta de

sedução e sobrevivência, logo conquistam a atenção de cáftens, prostíbulos e outros interessados.

Todos os fatores supra mencionados existem em todos os lugares mas, especificamente na

região do Cariri, por que a violência contra a mulher é tão proeminente em relação a outras regiões

do Ceará?

A base para esta discussão, e provavelmente uma possível resposta, recai no processo de

educação por que passamos. É necessário levar em conta que o acesso da mulher à educação,

politização e ter direito a uma profissão é algo bem recente. A região do Cariri é, notadamente,

marcada por uma estrutura econômica agrária, com poucos recursos para a maioria das famílias

rurais, em que o nível educacional atingido pela maioria de seus integrantes não é digno das

melhores estatísticas nacionais. Em conseqüência disso, tais problemas desdobram-se na falta de

melhores oportunidades de trabalho, melhores salários e de condições de a mulher se manter

independentemente.

Devido a apresentarem maior infra-estrutura e demografia da região, os municípios de

Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha apresentam os maiores índices de criminalidade, incluindo

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casos de violência contra a mulher, em relação aos outros municípios. Apesar de concentrarem boa

parte da produção industrial, percebe-se que a oferta de empregos para mulheres em certos setores é

reduzida. A economia dos integrantes do Crajubar (municípios de Crato, Juazeiro do Norte e

Barbalha) e demais municípios da região do Cariri baseia-se na agricultura, no agronegócio, na

pequena e média indústria e no comércio e serviços. Nestes dois últimos setores, o campo de

trabalho da mulher alastra-se um pouco mais, dado que estes mercados absorvem bastante o

trabalho feminino.

Nas demais cidades, basicamente, a economia gira em volta da pequena agricultura, dos

empregos públicos, aposentadorias, pensões e comércio. Boa parte da população rural vive da

pequena agricultura familiar. Em virtude do regime de chuvas, a produção de bens e a circulação de

dinheiro ficam restritas. Atualmente, os planos assistenciais do governo federal (bolsa escola, bolsa

família) garantem a essas famílias uma renda extra, senão a principal. Em algumas famílias, seus

integrantes deixam até de trabalhar e passam a viver desse assistencialismo.

Após essa breve análise sócio-econômica da região, acreditamos que o fator educação é a

peça chave desse processo para a amenização dos conflitos dentro da família. Não se trata somente

da educação da escola tradicional, mas a educação da convivência, da tolerância e o fomento a um

ideal de futuro como valores sociais. Uma herança de anos de um sistema educacional de péssima

qualidade tem levado aos conflitos de família na região do Cariri, somados aos outros fatores

mencionados (a bebida, conflitos de natureza emocional/ciúme, machismo, impunidade e

dependência material-financeira). Nesse contexto, a mulher é um dos elementos mais frágeis,

porque não tem seu espaço garantido na sociedade. É ela quem tem de ficar e criar os filhos, quando

abandonadas e dependentes; nela ficam as marcas da dor da agressão física e do abandono por seus

companheiros.

3. ASPECTOS JURÍDICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

3.1. O cenário jurídico antes do advento da Lei Maria da Penha

É assustador o número de ocorrências de crimes praticados contra as mulheres, sendo que

muitos não são levadas ao conhecimento das autoridades competentes, algumas vezes por

constrangimento, outras em consideração aos filhos que não gostariam de ver seus pais presos, ou

por motivos íntimos e particulares da própria vítima (SOUZA, 2001). Campos refere-se às cifras

ocultas da criminalidade aos casos de violência que não eram computados nas estatísticas oficiais

antes do advento da lei que criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais através da Lei 9.099/95.

A partir de então os agente públicos passaram a dar maior publicização dos TCOs (Termos

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Circunstanciados de Ocorrência), no que se refere às estatísticas de violência contra a mulher

(CAMPOS, 2003). Segundo a autora, mesmo com a publicização, não houve contribuições no

sentido de minimizar ou encontrar outras formas diversas de enfrentar este problema preventiva ou

repressivamente.

A Lei 9.099/95 era o dispositivo legal para tratar, também, casos de violência doméstica.

Quando a mesma entrou em vigor, ela não recepcionou a natureza diferenciada da violência

doméstica, por não dar a devida atenção à questão da violência de gênero. Esta lei trata basicamente

da criação dos chamados Juizados Especiais, popularmente conhecidos por juizados de pequenas

causas, e dos trâmites processuais nas esferas cível e criminal, primando pela simplicidade,

informalidade, economia processual. Seu intuito é conferir ao processo a devida celeridade para a

resolução de conflitos (art. 2°) e sua possível conciliação. Mas a violência contra a mulher, no

âmbito doméstico e familiar, é realmente uma pequena causa?

Instituído este modelo consensual de Justiça, a lei 9.099/95 contempla atualmente quatro

institutos despenalizadores, que são: (a) forma da transação penal, (b) composição civil extintiva da

punibilidade (nos crimes de ação penal privada ou pública condicionada), (c) exigência de

representação nas lesões corporais leves ou culposas e (d) suspensão condicional do processo

(GOMES e BIANCHINI, 2006).

Visto por este prisma, os casos de violência contra a mulher praticados no âmbito

doméstico e familiar, cuja pena máxima cominada não fosse superior a dois anos, cumulada ou não

com a pena de multa, eram vistos como infrações penais de menor potencial ofensivo. Consideram-

se infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa (definição dada pela

Lei 11.313/06). Neste caso, o Ministério Público poderá propor a suspensão do processo e aplicar

ao réu penas alternativas, desde que o mesmo satisfaça determinados requisitos legais. Daí ser

condicional, desde que o agressor concorde com as condições impostas. Entre estas penas

alternativas ao agressor, os casos mais comuns com relação a agressões contra a mulher eram a

prestação de serviços (como medida socializadora), não mais perseguir/ameaçar a vítima, deixar de

freqüentar certos locais, ou realizar o pagamento de cestas básicas a entidades filantrópicas pré-

cadastradas perante a Justiça.

A questão da exigência de representação nas lesões corporais leves ou culposas está

disposto no art. 88 da Lei dos Juizados Especiais, por conta da necessidade de representação

(denúncia) da vítima contra o agressor (mover ação pública condicionada a representação da vítima,

se for do seu interesse prosseguir com a denúncia). Hodiernamente, nos casos de violência contra a

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mulher no âmbito doméstico e familiar, com a advento da Lei Maria da Penha esta questão muda

consideravelmente, como será explicado na seção seguinte.

A Lei 9.099/95 foi bastante criticada no que tange o tratamento da violência doméstica e

familiar contra a mulher. Gomes e Bianchini (op. cit) consideram que o funcionamento dos juizados

nunca agradou alguns setores da sociedade. Algumas associações de mulheres, especialmente,

sempre protestaram contra a forma de solução dos conflitos “domésticos” pelos juizados. Em casos

de ação penal pública, em que o Ministério Público oferece a denúncia, a mulher (ou outra vítima

qualquer) nem sequer participa da transação penal, sendo que o modelo consensualista era ineficaz

para diminuir os casos de agressão no lar ou na família. Como as ações consensuais não punham

termo nas reiteradas agressões, isto culminou no surgimento do novo diploma legal, que está

refutando de modo peremptório qualquer incidência da Lei 9.099/1995 para tratar de casos de

violência contra a mulher no lar e na família.

3.2. A Lei Maria da Penha

A questão da violência doméstica e familiar contra a mulher é matéria tratada pela

Constituição Federal de 1988 no art. 226, que dispõe no caput que a família, base da sociedade, tem

especial proteção do Estado. Predomina o princípio da dignidade da pessoa humana no texto deste

artigo, cujo § 8º especifica que o Estado se compromete a assegurar a assistência à família na

pessoa de cada um de seus integrantes, notadamente no que se refere à proteção da mulher (como a

criação de mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares), da criança e ao

idoso. A partir da promulgação de nossa Carta Magna em 1988, vários diplomas legais tiveram

vigência a partir de então, materializados no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90),

Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003) e, mais recentemente, a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

Apesar de a Constituição Federal de 1988 ter incluído entre seus princípios fundamentais a

dignidade da pessoa humana, o direito penal e processual penal pátrios ainda se preocupam em

demasia com o crime e com o criminoso, deixando de lado quem mais necessita de assistência e

apoio: a vítima. A violência doméstica é um problema que acomete ambos os sexos e não costuma

obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico, conforme anota Stela

Cavalcanti (op. cit).

Gomes e Bianchini (op. cit) abordam com prioridade certos aspectos de violência contra a

mulher, refletindo o que pode e o que não pode ser abrangido pela nova Lei:

Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5o, parágrafo único): do sexo masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja:

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qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo da violência; basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico: todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima: aplica a nova lei. A essa mesma conclusão se chega: na agressão de filho contra mãe, de marido contra mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora que agride empregada doméstica, de companheiro contra companheira, de quem está em união estável contra a mulher etc. Exceção: marido policial militar que agride mulher policial militar, em quartel militar (a competência, nesse caso, é da Justiça militar). Quem agredir uma mulher que está fora da ambiência doméstica, familiar ou íntima do agente do fato não está sujeito à Lei 11.340/2006. É dizer: quem ataca fisicamente uma mulher num estádio de futebol, num show musical etc., desde que essa vítima não tenha nenhum vínculo doméstico, familiar ou íntimo com o agente do fato, não terá a incidência da lei nova. Aplicam-se, nesse caso, as disposições penais e processuais do CP, CPP etc.

Entre os avanços da Lei Maria da Penha, há os procedimentos jurídicos já postos em

execução, como é o caso das mudanças na transação processual. Com relação ao amparo do Estado

para as mulheres que sofreram violência doméstica e familiar, as mudanças ainda estão para se

implantar.

No que se refere às mudanças do rito processual, destaca-se a retirada da competência dos

Juizados Especiais Criminais (criados pela Lei 9.099/95) para julgar os crimes de violência

doméstica e familiar contra a mulher. A nova Lei permite a autoridade policial prender o agressor

em flagrante, sempre que houver qualquer das formas de violência doméstica contra a mulher.

Depois, registra-se o boletim de ocorrência (BO) e instaura-se o inquérito policial (composto pelos

depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas documentais e periciais). As penas

pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas) ficam abolidas. No processo judicial, o juiz

poderá conceder, no prazo de 48 horas, medidas protetivas de urgência (suspensão do porte de

armas do agressor, afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras),

dependendo da situação.

4. ESTATÍSTICAS DA VIOLÊNCIA NA REGIÃO DO CARIRI – OS NÚMEROS DA

VIOLÊNCIA EM JUAZEIRO DO NORTE/CE

Nesta seção, analisamos os dados estatísticos de crimes contra a mulher obtidos em

algumas comarcas da região do Cariri, especialmente de Juazeiro do Norte/CE. Em nossa pesquisa,

poucos dados estatísticos sobre crimes contra a mulher foi encontrado em boa parte dos municípios

da região, ressaltando que pouco se pesquisa e eficientemente se organizam as informações sobre

crimes no Cariri.

Os dados aqui existentes foram obtidos diretamente das delegacias especializadas, mas

percebemos que o trato com estas informações parece não ser bem recepcionada por muitos de

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nossos policiais. Isso indica que o Estado precisa melhor aparelhar e formar adequadamente os

integrantes do aparelho policial, principalmente no que tange na catalogação de dados e

informações relevantes, para efeitos de estudos e medidas a serem tomadas. Ressalte-se que tais

estatísticas deverão alimentar no futuro as bases de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça

e Segurança, conforme dispõe o art. 38 da Lei Maria da Penha. Daí, a necessidade de melhor

formação e recliclagem de pessoal e aparelhamento dos órgãos de Segurança Pública a curto prazo.

Dentre os casos de crimes contra a mulher registrados nas Delegacias de Defesa de

Mulher, destaca-se a estatística de crimes ocorridos no município de Juazeiro do Norte nos anos de

2006 e 2007, a partir dos quais analisamos alguns pontos importantes. No município de Crato, os

dados obtidos não permitiram traçar uma análise mais pormenorizada, visto que a Delegacia da

Mulher trabalha com inquéritos e BOs, não especificando que tipos de crimes/contravenções

ocorreram e seus números.

No mesmo enfoque, colocamos exemplos de casos de violência contra a mulher

encontrados em processos criminais da comarca de Barbalha1, de modo a ilustrar os fatos e os

ilícitos praticados. Com isso, demonstram-se as situações pelas quais as agressões ocorreram,

ratificando suas relações com as causas da violência contra a mulher explicitadas neste trabalho.

A Figura 1 relaciona o número de casos de ilícitos penais registrados na Delegacia de

Defesa de Mulher de Juazeiro do Norte nos anos de 2006 e 2007. Os crimes de ameaça, lesão

corporal leve, estupro e vias de fato, em geral, foram as ocorrências mais freqüentes no município

naqueles anos.

Podemos observar que em relação ao crime de ameaça (tipificado no art. 147 do Código

Penal), houve significativa redução do mesmo no caso geral, ou seja, aqueles que não envolvem

violência doméstica. Todavia, houve aumento dos casos deste crime no âmbito doméstico/familiar,

mesmo com a vigência da Lei Maria da Penha (35 casos registrados em 2006 contra 76 em 2007).

1 Os nomes dos agressores e das vítimas apresentados neste trabalho são fictícios, a fim de preservar a identidade de

todos, dado que casos de família exigem o máximo de discrição e ética.

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Figura 1. Crimes praticados contra a mulher em Juazeiro do Norte, nos anos de 2006 e 2007. Fonte: Delegacia de Defesa da Mulher de Juazeiro do Norte.

Isso pode significar que as ameaças predominaram ou aumentaram, porque restou ao

homem manter o problema, perseguir (perseguição contumaz, constrangimento e limitação do

direito de ir e vir) e ameaçar a mulher, enfim, praticar as ações de violência psicológica elencadas

no art. 7°, inciso II da Lei. Um exemplo de situação de ameaça está descrita a seguir, segundo

depoimento constante em um inquérito policial:

Aos vinte e três dias do mês de julho do ano de 2007, na cidade de Barbalha, onde André foi preso por infração, em tese ao art. 147 do CPB e Lei Federal 11.340/06 (Maria da Penha), haja visto ter sido flagrado no Posto de Saúde, bairro Alto da Alegria, Barbalha/CE. Josefa, vítima disse que: por volta das 09:50 horas a declarante se encontrava no Posto de Saúde do bairro Alto da Alegria, quando seu esposo, André (46 anos) chegou no local embriagado, ameaçou-a de morte, devido a ciúmes; que hoje apenas pediu ao vizinho, Roberto, para cortar um pedaço de pau de lenha; que o esposo é costumeiro em ter ciúmes da esposa; o esposo vive embriagado, causando transtornos familiares; que já houve audiência na Promotoria de Justiça de Barbalha para resolver os problemas, mas seu esposo não deixa de beber; que vive uma vida de tormentos, escondendo-se do esposo para não morrer; que os filhos não a querem mais a seu lado, vivendo ao relento, pois se voltar para casa vive ameaçada pelo esposo.

Nota-se uma diminuição de 43,26% nos casos lesões leves, na modalidade de violência

doméstica, porém houve aumento no registro de crimes dessa mesma natureza para os casos

comuns (41 em 2007 contra 19 casos em 2006). Ressalta-se aqui que a polícia tomou conhecimento

dos casos mediante queixa das ofendidas, porém nem todas foram autuadas (feita a lavratura de

inquéritos, TCOs ou PECAs — Procedimento Especial Contra Adolescente), por possível

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desistência da vítima em prosseguir com a ação. Segundo dados da Delegacia de Defesa da Mulher

em Juazeiro do Norte, dos 141 casos de violência doméstica com lesão leve registrados em 2006,

apenas 73 ocorrências foram autuadas (51,77%).

Em contrapartida, outro panorama ocorreu no ano de 2007. Dos 61 casos registrados de

violência doméstica com resultado lesão leve, 55 deles vieram a ser autuados sob a forma de

inquéritos ou PECAs. Este novo contexto reflete, possivelmente, a disposição das mulheres em

prosseguir com a ação penal contra os maridos, companheiros ou menores infratores.

Com relação às lesões de natureza grave no âmbito doméstico e familiar, não houve

grandes alterações nas estatísticas de 2006 e 2007. Percebe-se que os números de violência grave

são consideravelmente menores que os casos de lesões leves.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho trata da violência contra a mulher na região do Cariri, no qual analisamos as

causas pelas quais várias mulheres que vivem nesta região estão sofrendo violência, notadamente no

âmbito doméstico ou familiar.

Fazemos uma análise histórica do assunto e no cenário caririense, a violência contra a

mulher é bastante influenciada por uma estrutura patriarcalista e machista, resultado de um processo

de colonização e aculturamento, aliada a fatores correlacionados, como dependência financeira,

alcoolismo, impunidade e baixa qualidade educacional.

O conservadorismo clerial também impôs às mulheres um tipo de controle social rígido,

que influência ainda hoje o comportamento e a discriminação, fato típico da cultura ocidental

carregada de preconceitos e impregnada de ideologias machistas, fazendo da mulher violentada ser

vista como ré, nunca como vítima. Culturalmente, esta situação está alicerçada no ditado popular

que o homem não sabe porque está batendo, mas a mulher sabe porque está apanhando.

Certos autores também alegam que a violência contra a mulher cearense manifesta-se

através de em tipo de violência não física, mas moral, em que se destaca a estrutura machista na

qual há um manejo de poder dentro da família. Este fato é comum na família nordestina, em termos

gerais, principalmente no campo.

Em resumo, o machismo, a valentia e a violência social,que marcaram intensamente a

região do Cariri outrora, são as causas culturais para a segregação da mulher nas decisões

familiares. Cremos que tais fatores não podem ser deixados de lado, porque solidificam a figura do

cabra-macho, da valentia que só pode ser atribuída à figura masculina com mais vigor. Aliam-se a

estes fatores o alcoolismo e o baixo índice educacional na região, o que favorece sobremaneira as

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formas de violência, favorecendo o ócio e a falta de perspectiva em melhorar de vida, apesar de ser

um povo batalhador.

Com relação os dados estatísticos de crimes praticados contra a mulher, especialmente

dentro do lar ou na família, dados da Delegacia de Defesa da Mulher de Juazeiro do Norte,

permitem apontar que houve diminuição dos casos de lesões leves, por exemplo, após a vigência da

Lei Maria da Penha. No entanto, nos anos sob estudo, não houve considerável diminuição nos casos

de vias de fato, ameaça e difamação.

As lutas das mulheres vêm permitindo conquistar vários espaços na sociedade. A vigência

da Lei Maria da Penha, a partir de agosto de 2006, é uma grande conquista do ponto de vista

jurídico. Todavia, somente a lei não muda a sociedade nem resolverá os problemas sociais do país,

notadamente da região do Cariri. Enquanto os países desenvolvidos preocupam-se com outros

problemas sociais e econômicos, o Brasil ainda está buscando resolver os problemas mais básicos,

tais como melhoria da rede de saúde pública, educacional e de segurança.

Espera-se que a coercibilidade da Lei Maria da Penha promova a diminuição das

estatísticas de crime no âmbito doméstico e familiar (de modo a evitar que ocorrem os tristes casos

reais de agressão reunidos neste trabalho), especialmente se a União e o Estado do Ceará

fomentarem as ações de prevenção e proteção da mulher estipuladas na Lei, bem como o melhor

aparelhamento técnico e estrutural das Delegacias de Defesa da Mulher, a fim de realmente se

alcançar a dignidade pretendida pelas mulheres.

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