uma análise epistemológica da teoria da sedução ...pepsic.bvsalud.org/pdf/ep/n30/n30a09.pdf ·...

12
65 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007 Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada: Contribuições Atuais para a Cientificidade da Psicanálise * Fernando de Andrade ** Luís Maia * ** RESUMO: As últimas “Jornadas Internacionais Jean Laplanche”, oitavas de uma série bianual, aconteceram de 20 a 22 de julho, em Lanzarote, nas Canárias, tendo por tema “Teoria da sedução generalizada: validação – refutação”. Basicamente, discutiram-se as condições de possibilidade da validação dessa teoria, o que, indiretamente, acabou por colocar a questão da oportunidade e da conveniência de uma validação científica das teorias psicanalíticas. Nesse esforço de análise epistemológica da psicanálise, em cinco reuniões, foram discutidos argumentos de diferentes autores cujo referencial teórico apóia- se na teoria laplancheana, acompanhados pela crítica e pelas contribuições do próprio Jean Laplanche. O presente trabalho consiste num resumido relatório crítico desse evento, ao qual compareceram os autores. Após uma introdução que oferece ao leitor uma breve história das Jornadas,o texto passa ao relato dos debates ocorridos, apresentando um resumo dos argumentos que motivaram cada reunião. Em seguida, é feita uma avaliação crítica das Jornadas 2006, considerando-se seu lugar no conjunto das Jornadas, sua contribuição para a obra psicanalítica em geral e a obra laplancheana. Ao final, destaca-se a constituição de um modelo epistemológico para o desenvolvimento da metapsicologia, articulado ao modelo antropológico estabelecido por Laplanche (a Situação Antropológica Fundamental). Esse modelo atesta a cientificidade da psicanálise, precisando seu lugar entre as ciências humanas. PALAVRAS-CHAVE: Metapsicologia; Teoria da Sedução Generalizada; Epistemologia da Psicanálise; Jornadas Internacionais Jean Laplanche. * Uma síntese deste trabalho foi apresentada no XVI Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise – “Fronteiras da Psicanálise”, 31 de agosto a 2 de setembro de 2006, Natal. ** Psicólogo; Professor Assistente do Departamento de Fundamentação da Educação da UFPB. *** Professor Titular (aposentado) da UFPb, antigo membro da École Belge de Psychanalyse e do CPP, sócio fundador da SPP.

Upload: hahuong

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

65Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

Uma Análise Epistemológica da Teoria daSedução Generalizada: Contribuições Atuais

para a Cientificidade da Psicanálise*

Fernando de Andrade* *

Luís Maia* **

RESUMO: As últimas “Jornadas Internacionais Jean Laplanche”, oitavas de uma sériebianual, aconteceram de 20 a 22 de julho, em Lanzarote, nas Canárias, tendo por tema“Teoria da sedução generalizada: validação – refutação”. Basicamente, discutiram-se ascondições de possibilidade da validação dessa teoria, o que, indiretamente, acabou porcolocar a questão da oportunidade e da conveniência de uma validação científica dasteorias psicanalíticas. Nesse esforço de análise epistemológica da psicanálise, em cincoreuniões, foram discutidos argumentos de diferentes autores cujo referencial teórico apóia-se na teoria laplancheana, acompanhados pela crítica e pelas contribuições do próprioJean Laplanche. O presente trabalho consiste num resumido relatório crítico desse evento,ao qual compareceram os autores. Após uma introdução que oferece ao leitor uma brevehistória das Jornadas,o texto passa ao relato dos debates ocorridos, apresentando um resumodos argumentos que motivaram cada reunião. Em seguida, é feita uma avaliação crítica dasJornadas 2006, considerando-se seu lugar no conjunto das Jornadas, sua contribuição paraa obra psicanalítica em geral e a obra laplancheana. Ao final, destaca-se a constituição deum modelo epistemológico para o desenvolvimento da metapsicologia, articulado aomodelo antropológico estabelecido por Laplanche (a Situação AntropológicaFundamental). Esse modelo atesta a cientificidade da psicanálise, precisando seu lugarentre as ciências humanas.

PALAVRAS-CHAVE: Metapsicologia; Teoria da Sedução Generalizada; Epistemologiada Psicanálise; Jornadas Internacionais Jean Laplanche.

* Uma síntese deste trabalho foi apresentada no XVI Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise – “Fronteirasda Psicanálise”, 31 de agosto a 2 de setembro de 2006, Natal.

** Psicólogo; Professor Assistente do Departamento de Fundamentação da Educação da UFPB.*** Professor Titular (aposentado) da UFPb, antigo membro da École Belge de Psychanalyse e do CPP, sóciofundador da SPP.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

66 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

Introdução: as Jornadas JeanLaplanche

Em julho de 1992, realizou-se emMontreal um Colóquio Internacionalsobre o pensamento de Jean Laplan-che. Naquela oportunidade, ele apre-sentou o que viria a ser a “Pontuação”da abertura de sua coletânea intitula-da A revolução copernicana inacabada(1992). O segundo Colóquio realizou-se dois anos depois, em Canterbury, naInglaterra, o terceiro, em 1996, emMadrid, o quarto, em 1998, em Gra-mado.

Seis anos depois de Montreal, osColóquios tinham crescido em núme-ro de participantes e tendia a perder-se o espírito que os inspirara: o de umdebate livre, voltado para uma intensaprodução teórica, sem as obrigaçõesimplicadas na realização dos grandeseventos. Laplanche, então, convocouum grupo que viria a organizar, no anoseguinte, as primeiras “Jornadas Inter-nacionais Jean Laplanche”, em Lanza-rote, nas Canárias.

Durante três dias, manhã e tar-de, reunidos em volta de uma grandemesa, num hotel à beira mar, nãomais de trinta analistas, vindos dediversos países, discutem um tema, apartir de argumentos, geralmente cur-tos, que os participantes produzirame distribuíram, via Internet, algunsmeses antes.

Nenhuma concessão ao formalis-mo, as bermudas são usuais. Não háconferências ou palestras, nenhum tipode cerimônia, só troca de idéias e de-bates, muitos debates. As críticas sãotão freqüentes quanto os elogios. La-planche, participando ativamente, cri-tica e é criticado.

Depois da primeira, em Lanzaro-te, experimentou-se uma segunda, doisanos depois, em Sorrento, na Itália. Aterceira, em 2003, e a quarta, no anopassado, marcaram a volta a Lanzaro-te e a um certo clima que lhe é carac-terístico.

1. Lanzarote 2006: o debate emtorno da validação da TSG

Em julho de 2006 éramos 29 emtorno da mesa. Viemos de Madrid,Nantes, Paris, Dijon, Besançon, Bru-xelas, Berlim, Zurique, Berna, Viena,Roma, Otawa, Nova Iorque, BuenosAyres, Belo Horizonte e João Pessoa.

O tema foi eminentemente episte-mológico: “validação – refutação daTeoria da Sedução Generalizada”. Elenos pareceu a culminância de uma ten-dência que, de Jornada para Jornada,evoluiu na perspectiva de um desen-volvimento da teoria e de seus desdo-bramentos. Num movimento que vaida teoria nuclear aos seus desdobra-mentos e, por retroação, dos desdobra-mentos à teoria nuclear. Sempre nosentido do aprofundamento do carátercientífico da teoria, na trilha do traba-lho epistemológico presente, claramen-te, desde Novos fundamentos para a psi-canálise1 .

Um trabalho que tem a marca daepistemologia de Popper. Uma episte-mologia que, partindo do conceito deverdade, faz a crítica ao modelo tradi-cional de ciência e propõe um novomodelo. Enquanto tradicionalmenteconsidera-se verdadeiro o conheci-mento fundado sobre a observação e aexperiência e construído pela lógica daindução (assim o fazem os empiristasclássicos), Popper defende que o ver-

1 Jean Laplanche, Nouveaux fondements pour la psychanalyse, Paris, PUF, 1987 (tradução brasileira: Novosfundamentos para a psicanálise,. São Paulo, Martins Fontes, 1992).

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

67Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

dadeiro conhecimento é construídopor dedução, num movimento que, aoinvés de partir dos dados empíricos,parte das teorias que concebemos paraexplicar a realidade.

Ele mesmo denominou-a de “teo-ria do método dedutivo de prova”, ba-seando-a na “concepção segundo aqual uma hipótese só admite provaempírica - e tão-somente - após haversido formulada”2 .

Para ele, toda ciência é feita porum movimento de criação de hipóte-ses explicativas para os fenômenos darealidade e submissão das mesmas a umpermanente teste de validade, atravésdo princípio da falseabilidade.

A “teoria do método dedutivo deprova” consiste, pois, na possibilidadede uma teoria ser refutada, tanto pelaexperiência quanto pela coerência in-terna de suas hipóteses. “Apresentaruma teoria que seja depois refutada nãoé um defeito, mas uma virtude”, lem-bra Blackburn3

Uma teoria científica, então, nãoé, no plano das idéias, uma cópia purae simplesmente abstraída da realidade,mas, antes, uma rede de idéias que, bemarticuladas e refutáveis, ajudam a com-preender essa realidade, permitindo aconstituição de um conhecimento ver-dadeiro, fundamentado na universali-dade, na coerência e na aplicabilidadede seus axiomas.

Essa epistemologia, que serviu dereferência para os argumentos discuti-dos em Lanzarote, inspirou a apresen-tação dos mesmos neste trabalho. Emfunção dos princípios da verificação eda falseabilidade, pensamos em quatrocategorias para articulá-los com o tema

proposto para a jornada: desenvolvi-mentos, comentários, aplicações e con-testações da teoria.

Esta classificação, organizada apartir da proximidade do núcleo duroda teoria, dá uma idéia da dinâmica doevento. Ela ilustra o quanto o debateaí desenvolvido se caracteriza comointerlocução e produção científicas, jáque admite tanto a confirmação quan-to a negação da validade da teoria emquestão. E, cabe lembrar, em quaisquerdessas duas direções, se considerado omodelo epistemológico popperiano, acientificidade da teoria está atestada.

1.1. Desenvolvimentos da teoria

Dentre os argumentos no sentidodo desenvolvimento da teorialaplancheana, podem ser identificadasas contribuições de Dejours e deLuchetti. Partindo da afirmação deLaplanche, segundo a qual seu mode-lo refere-se a um certo número de pres-supostos fatuais que, em princípio, se-riam passíveis de falsificação, em seuargumento, Dejours, de Paris, interro-gou, basicamente, a natureza dos fatossobre os quais uma tal falsificação po-deria operar.

Ele lembrou que a Situação Antro-pológica Fundamental4 (SAF) é incom-patível, por exemplo, com a teoria dasimbiose primitiva de Mahler. E que ostrabalhos de Godelier, questionandotanto a universalidade do interdito doincesto, quanto seu papel como con-dição sine qua non de acesso ao simbó-lico, constituem uma prova de falsifi-cação não só para a teoria deLévi-Strauss mas também para a teoria

2 Karl Popper, A lógica da pesquisa científica, 14ª ed., São Paulo, Cultrix, 2002 (1ª edição em alemão: 1935),p.30.

3 S. Blackburn, Dicionário Oxford de Filosofia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p.302.4 Há duas grafias para esta expressão neste trabalho: aquela com as iniciais de cada nome em maiúsculas,indica a teoria acerca dessa situação, e aquela grafada em minúsculas indica a própria situação.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

68 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

estrutural da ordem simbólica propos-ta por Lacan. Perguntou, então, se es-ses trabalhos de etnologia comparadaconstituiriam uma prova de validaçãopara a Teoria da Sedução Generaliza-da (TSG).

Mas foi o seu conceito de inconsci-ente amencial5 , postulado como existen-te ao lado do inconsciente recalcado,que foi considerado por Laplanchecomo uma contribuição à teoriatradutiva do recalque.

O texto de Luchetti, de Roma, porsua vez, consistiu numa reflexão quecorrespondeu clara e diretamente aotema proposto para 2006. Após invo-car e articular os princípios fundamen-tais das teorias desenvolvidas porHempel e Popper, lembrou que, valida-da, a TSG torna-se uma referência decientificidade para toda a psicanálise.

Para assim ser reconhecida, porém,haveria que responder a algumas ques-tões importantes. Uma delas versa so-bre a coerência entre os pressupostosepistemológicos popperianos e a idéiasegundo a qual a teoria acompanha osmovimentos de seu objeto (o incons-ciente): em que medida poder-se-iaaceitar a asserção, cara a Laplanche,de que esta teoria sofre os efeitos dosmovimentos do inconsciente?

Nessa mesma direção, outra per-gunta recaiu, de um lado, sobre a pos-sibilidade (e o modo) de articulaçãoentre a observação e o tratamento clí-nico; e, de outro, sobre o desenvolvi-mento teórico da metapsicologia, maisparticularmente, no que esta teoriaexplica sobre o inconsciente.

1.2. Comentários à teoria

Nos comentários à teoria, podemser lembrados os argumentos de Mar-

tens e de Sauvent. Martens, de Bru-xelas, em seu argumento, começou porconstatar que o resgate da teoria deFreud por Laplanche permite o con-fronto entre um modelo psicanalíticoestável, as ciências humanas e as ciên-cias da natureza. De um lado, a noçãode tradução parece uma interface pos-sível entre as abordagens neurocientí-fica e metapsicológica; do outro, a in-sistência sobre a situação antropológicafundamental permite situar as questõescruciais a um nível mais fundamentalque o do Édipo.

Isto posto, a cientificidade da psi-canálise parece assegurada por sua ap-tidão em dar sentido a uma miríade defenômenos que, sem ela, estariam des-tinados à incoerência. A teoria psica-nalítica é virtualmente, e só nesse pla-no, refutável: pode-se apenas imaginara existência de uma sociedade capaz desobreviver sem pôr um freio à expres-são do sexual pré-genital. Se essavirtualidade fosse passível de realiza-ção, o modelo psicanalítico desmoro-naria.

Por seu turno, Sauvant, de Berna,em vez de tentar responder às questõescolocadas pelo tema das Jornadas, li-mitou-se a trazer o modo como elasecoaram nele. Inicialmente, parecia-lhe importante que se chegasse a umacordo sobre o que, em psicanálise, seentende por “ciência”, para tentaraplicá-lo à Teoria da Sedução Genera-lizada e a seus futuros desenvolvimen-tos.

Depois, tratar-se-ia de situar, de umponto de vista epistemológico, o pen-samento de Laplanche em relação àsoutras abordagens pós-freudianas, pararessaltar o rigor de sua construçãometapsicológica e, talvez, delimitar asfronteiras da psicanálise. Afinal, per-

5 Cf. Dejours, Christophe, Le corps, d’abord, Paris, Payot, 2003.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

69Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

guntou, se há método por trás do rigordesse pensamento.

1.3. Aplicações da teoria

Na terceira categoria, das aplica-ções da teoria, podem ser encontradosargumentos como o de Tessier e deHock. Tendo afirmado a validade dateoria laplancheana, Tessier, de Otawa,utilizou-a em uma vigorosa crítica àpsicanálise norte-americana.

Após retomar os principais postu-lados laplancheanos, apresentados emtorno dos critérios de laicidade teóri-co-metodológica e de descentramentotípico da Situação Antropológica Fun-damental, a autora, entendendo ser ametapsicologia o objeto de validaçãoda psicanálise, passou a descrever mi-nuciosamente o atual cenário da psi-canálise nos Estados Unidos.

Constata que a teoria psicanalíti-ca norte-americana, em seu estado atu-al, categorizada em três grupos – ori-entação relacional-intersubjetiva,abordagem neuro-científica e teoriasdo apego – atende ao critério dodescentramento ao reconhecer o pa-pel primordial do outro na formação dasubjetividade, mas desconhece a sexu-alidade infantil e o inconscienterecalcado.

Daí a conclusão: há uma incom-patibilidade entre a teoria laplanchea-na e os modelos norte-americanos, osquais deixam de ser validados comocientíficos na perspectiva do paradig-ma defendido por Laplanche para acientificidade da psicanálise.

A fim de ilustrar o caso em que adificuldade de tradução da criança, nasituação antropológica fundamental,parece estar relacionada à dificuldadeadulta de lidar com a sexualidade daprópria criança, Hock, de Berlim, apre-sentou a seguinte cena: uma jornalis-

ta, a caminho da piscina com seus doismeninos, passa por uma mulher que,despida, está sendo massageada. É en-tão que um de seus filhos, visivelmen-te excitado, pergunta à massagista:“Quando eu crescer e for homem, vocêfaz a mesma coisa comigo?”. Constran-gida, a mãe manda os filhos para a pis-cina.

Partindo da constatação de que severifica, aqui, uma relação entre a in-capacidade infantil de traduzir as men-sagens enigmáticas sexuais vindas doadulto e a incapacidade adulta de lidarcom a excitação sexual da criança, oautor relacionou a não-tradução infan-til à angústia adulta. E concluiu: “oadulto não é apenas o emissor de men-sagens enigmáticas, mas também lhesdá um peso maior, já que não sabe comoajudar a criança a traduzir”.

1.4. Contestações à teoria

Na última categoria, das contesta-ções, estão as intervenções de Gutierrez-Terrazas e de Ribeiro. Em seu comentá-rio, Gutierrez-Terrazas, de Madrid,afastou-se da discussão epistemológicapara sublinhar a necessidade de que ateoria laplancheana considere não so-mente a inexistência, de partida, de uminconsciente sexual em todo o infans,mas também a inexistência de um su-jeito capaz de traduzir a mensagem dooutro. Pareceu-lhe importante questio-nar o que se passa no tempo de implan-tação da mensagem, enquanto esse tem-po não é ainda de tradução, maspré-subjetivo.

Ribeiro, de Belo Horizonte, deucontinuidade ao questionamento teó-rico de Gutierrez-Terrazas, articulandosua reflexão em torno de três pontosda teoria: o papel da identificação pas-siva na sedução originária, sua relaçãocom a feminilidade e o efeito de

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

70 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

recalque que o sexo e o gênero produ-zem sobre o sexual infantil. Para ele, aidentificação passiva é a que vem dooutro e não do próprio sujeito, identifi-cação “por” em vez de identificação “a”.

Tratar-se-ia, a seu ver, da soluçãocopernicana para uma das principaisaporias da Teoria da Sedução Genera-lizada – a concepção tradutiva dorecalque, fundada sobre o pressupostode uma capacidade tradutiva do bebê,o que se lhe afigura impossível antesda formação do eu.

Em vez dessa capacidade de tradu-ção, propôs um mecanismo de imitaçãoprecoce, anterior à capacidade de se re-presentar. E lembrou a tese de JacquesAndré, sobre o caráter feminino das ori-gens da psicossexualidade. Mais do quea polaridade fálico-castrado, as criançastendem a exprimir a intrusão pelo ou-tro sob a forma das polaridades pene-trante-penetrado, dominador-domina-do, agressor-agredido.

Para ele, a atribuição consciente dogênero pela família é um processoidentificatório secundário, que se ins-tala e se desenvolve sobre o solo com-pletamente colonizado pela imitaçãoprecoce e a primitiva experiência desubjetivação em que ela implica.

2. O argumento de Jean Laplanche

Por sua importância, clareza e pelolugar que ocupa no desenvolvimentoda teoria, vale a pena nos determos noargumento apresentado pelo próprioLaplanche. Em sua comunicação, natarde do último dia das Jornadas, o cri-ador da Teoria da Sedução Generali-zada (TSG) fez uma análise do atualestado do debate teórico em psicanáli-se, criticando-lhe duas de suas derivas:o relativismo e a normatividade.

No primeiro caso, o relativismorevela-se pela ausência de interlocução

e de crítica entre os diferentes autores,num vazio que ele caracterizou comode “horror ao teoricamente correto”.Citou como exemplo os congressos, emque cada autor apresenta seu trabalhosem que seu pensamento ou o de seusinterlocutores se enriqueça graças aodebate. Não há debate porque não hánem mesmo um corpo teórico comumque o fundamente.

Quanto à segunda deriva, anormatividade, Laplanche chama aatenção para o fato de psicanalistas -sobretudo de filiação lacaniana, arroga-da como a leitura psicanalítica por ex-celência - serem convocados para tomarposição sobre todos os fenômenos soci-ais, contribuindo para a constituição denormas pretensamente universais e “tor-nando, assim, a psicanálise uma espéciede lei do social”.

Este cenário serviu de contrapontopara que Laplanche insistisse na suaposição acerca da verdade: mesmo quenão esteja sempre acessível imediata ediretamente à razão, isso não implicaem dizer que ela não exista. Ao con-trário, é possível fazer coincidir verda-de e razão, assim como certa coerênciado discurso.

Sendo assim, não apenas as ciên-cias ditas “duras”, mas também as hu-manas encontram critérios confiáveispara guiar a produção de seus saberes.Um desses critérios é a incerteza. Lon-ge de significar imprecisão, tal critériopermite o avanço do conhecimento,mesmo quando o objeto não seja dire-tamente apreensível ou a sua percep-ção ainda esteja marcada por dúvidas.

Para Laplanche, portanto, a psica-nálise é, antes de mais nada, um méto-do científico que produz teoria e sedesenvolve ao longo de uma práticaterapêutica. Contudo, ao insistir, comFreud, no caráter primordialmente ci-entífico da psicanálise, Laplanche

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

71Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

constata que essa dimensão costuma serrelegada ao último lugar nacontemporaneidade da psicanálise.

Ora, nas suas próprias palavras, “sea psicanálise quiser permanecer entreas ciências, onde creio ser seu lugar, énecessário que ela desenvolva um cor-po teórico sem qualquer afirmação decaráter prático”, ou seja, fundamenta-da sobre axiomas e categorias univer-sais e generalizáveis.

Há, entre Freud e Popper, uma con-vergência de posições a esse respeito.Mesmo que Freud não tenha indicadoconhecer Popper e que Popper não te-nha compreendido Freud, Laplanchedemonstrou essa convergência, reto-mando textos como “Pulsão e destinodas pulsões” e “Comunicação de umcaso de paranóia contradizendo a teo-ria psicanalítica”. Para ele, “Freud temum pensamento popperiano” ao cons-truir hipóteses sobre as pulsões e em-preender exercícios de refutação desuas próprias teorias sobre a paranóia esobre a sedução como fator etiológicodas neuroses.

Há, no entanto, que se consideraros níveis dos enunciados e a coerênciainterna da teoria psicanalítica. ParaLaplanche, há dois extremos: de umlado, a metapsicologia, verdadeira te-oria científica da Psicanálise; de outro,o mítico-simbólico, puramente ideoló-gico e não-científico. Entre eles, háníveis intermediários, claramente liga-dos à prática terapêutica, de naturezaparticular, cuja refutação não implica-ria em refutação da metapsicologia: ateoria do conflito, a psicopatologia,quiçá mesmo a teoria dos sonhos.

Uma psicanálise científica reque-reria, portanto, um nível denso, sim-ples e bem articulado de enunciados.Seria o núcleo duro em torno (e a par-tir) do qual se poderiam extrair enun-ciados secundários, mais particulares e,

portanto, menos significativos para ateoria. Para Laplanche, o núcleo deuma teoria psicanalítica verdadeira-mente digna de ser considerada cien-tífica é constituído pelo “inconscienterecalcado e suas vias de acesso, bemcomo pelo lugar e a gênese da sexuali-dade infantil”.

Qualquer outra tentativa de garan-tir para a psicanálise um lugar entre asciências - como aquela que distingue“ciências da observação” de “ciênciasda interpretação” - é infrutífera. Omodelo científico é um só para toda equalquer ciência, fundado no exercí-cio dedutivo e refutável de elaboraçãode teorias que, em última instância, sãosempre conjecturas falseáveis.

As vicissitudes que a noção de se-xualidade infantil recalcada - o sexualpré-sexual - experimentou na teoriapsicanalítica são, irônica e paradoxal-mente, as mesmas que Freud indicouem “Os três ensaios sobre a sexualida-de”: o esquecimento, a negligência oua edulcoração em função de outros con-ceitos, como o de apego.

Enquanto a sexualidade infantilé tratada, inclusive pelo próprioFreud, numa seqüência linear que an-teciparia e prepararia a sexualidadeadulta, Laplanche insiste na simulta-neidade entre adulto e criança:“adulto e criança devem ser conce-bidos, pela psicanálise, numa simul-taneidade, num diálogo, numa trocade mensagens”.

A TSG propõe precisamente estadupla assimétrica: entre bebê e adulto,no que tange ao inconsciente, não háinteração, mas assimetria de comuni-cação. Enfatiza que sempre é precisoconsiderar o inconsciente do adulto emface da criança, a fim de não restringiras origens da sexualidade infantil (e dopróprio inconsciente) à criança isola-damente.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

72 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

A dificuldade da observação da SAFreside na dificuldade de observar a si-multaneidade e o diálogo estabelecidosna defrontação assimétrica entre adul-to e criança, e, no adulto, o ressurgi-mento do sexual infantil, provocadopela confrontação com a criança. As-sim, a construção de uma metodologiapara observação desse encontro, reme-teria novamente à questão do recalqueda sexualidade infantil.

Outra dificuldade apontada é aconfusão, já difundida, entre teoria psi-canalítica e teoria infantil, entre a te-oria tradutiva6 e a teoria científica(metapsicologia). Face à proposta de sefazer psicanálise científica, cabe distin-gui-las, evitando que ela se tornemítico-simbólica e, em decorrência

disso, ideológica e recalcadora do seupróprio objeto.

Desse modo, “a força da TSG resi-de em dar conta da função não-cien-tífica dos mitos psicanalíticos” e de suaforça recalcadora. Tomar esses mitoscomo explicações acabadas e científi-cas é recalcar, novamente, o inconsci-ente. É atribuir a uma teoria um valordefinitivo, acabado.

Interrogando-se, então, sobre comofalsificar a TSG, tecida em torno demensagens (muitas delas não-verbais)e de suas recepções, traduções e even-tuais fracassos, Laplanche afirmou serpossível fazê-lo através de conjecturassobre o fracasso das traduções, manifes-to nos enigmas, apresentados, de modoesquemático, no quadro a seguir:

SITUAÇÃO ANTROPOLÓGICA FUNDAMENTAL ETEORIA DA SEDUÇÃO GENERALIZADA: TESES

Como destacou o próprio Laplanche,“vários desses pontos remetem à explo-ração analítica”. Por um lado, este desta-que ressalta a centralidade dessa experi-ência como recriação da situaçãoantropológica fundamental7 ; e, por ou-

tro, como esforço analítico (logo, des-tra-dutor) das construções que o indivíduofez, desde sua infância, a partir dos enig-mas gerados naquela situação.

Vê-se, então que os enunciados daTSG, amparados no pressuposto

6 A castração, por exemplo, é uma teoria sexual infantil e o Édipo, um mito grego.7 Laplanche desenvolveu aprofundadamente essa idéia em Problemáticas V: A Tina ¾ a transcendência datransferência. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

73Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

factual da SAF, consistem numa hipó-tese tradutora (mensagem ® tradução® fracasso parcial ou total da tradução® constituição do inconsciente),conjectura fundada em Freud e emJakobson. Segundo Laplanche, essemodelo não só está mais próximo daexperiência propriamente humana,mas também é mais manejável que omodelo energético.

Ora, para demonstrar a fidedigni-dade de seu modelo, Laplanche propôstrês possibilidades de teste que demons-tram a verificabilidade da TSG. A pri-meira delas é relativa à primeira das te-ses enunciadas8 e diz respeito ao disfarcedo tempo tradutor e à recodificação narecepção de toda mensagem, reconhe-cidos por Freud como o “esquecimen-to” da sexualidade infantil.

A segunda possibilidade de teste,relativa à segunda das teses enuncia-das9 e diz respeito à distinção entre otempo de implantação e o tempo detradução no tratamento das mensagensenigmáticas, que aparece na teorizaçãoclínica através do só-depois e dos efei-tos do tempo no psiquismo.

Se as duas primeiras possibilidadesconcernem a cada um dos atores da si-tuação antropológica fundamental, aterceira considera, naturalmente, o quea própria situação permite que surja, apartir da diferença inicial entre adultoe infans: a diferença entre fracasso par-cial e fracasso radical da tradução damensagem (que, no caso do fracassototal, resta por ser traduzida). É essadiferença que determina, por exemplo,a possibilidade de tratar-se de níveis deinconsciente, como o faz Freud, porexemplo, em seu artigo de 1915, sobreo inconsciente.

Vale recordar que Laplancheacompanha Popper na concepção datestabilidade. Testável não é sinônimode sujeito a testes empíricos e à obser-vação direta e objetiva, mas, sim, fal-seável, ou seja, sujeito à contraprovaeventual de outra teoria que, levandoem conta o mesmo fenômeno, expli-que-o de forma mais simples, coerentee aplicável.

Laplanche concluiu que suas hipó-teses, ainda que não testáveis empiri-camente, fornecem elementos impor-tantes para apreender-se melhor oprocesso de tratamento, entendidocomo movimento incessante de tradu-ção e re-tradução.

É no nível do processo clínico edo tratamento, então, que se constataa falseabilidade da teoria. A TSG e,com ela, a teoria da tradução são emi-nentemente suscetíveis de verificaçãoe falsificação, se considerados o mode-lo popperiano e a metodologia psica-nalítica definida pelo próprio Freud.

3. A obra de Jean Laplanche:um (válido) fundamento para acientificidade da psicanálise

A escolha, em 2006, do tema davalidação da TSG permite reconhecera influência que a epistemologia deKarl Popper exerce sobre a obra deLaplanche, em seu esforço de delimi-tação de fundamentos científicos paraa psicanálise.

Ora, Laplanche não adotou aepistemologia popperiana por acaso.Apesar de o próprio Popper considerara psicanálise como não científica10 , seumodelo permite o reconhecimento deuma ciência que não tenha acesso ob-

8 A primeira tese refere-se à existência disfarçada e manifestação eventual de um inconsciente infantilrecalcado em todo adulto.

9 A segunda tese diz respeito à inexistência, no início, de inconsciente sexual em qualquer criança.10 Para Popper, a psicanálise seria sustentada por uma teoria que ele pretendia não-falseável.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

74 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

jetiva e diretamente a seu objeto. Nãoobstante, faz-se necessário que tal ci-ência se mantenha crítica e auto-críti-ca, através da constituição de teoriasque sejam refutáveis e falseáveis. Des-ta forma evita-se o dogmatismo e a ide-ologia. Tal é o projeto laplancheanopara a psicanálise. O esforço de vali-dar a TSG corresponde à busca de umapsicanálise científica.

Antes de terminar, gostaríamos demostrar duas implicações do projetolaplancheano para a psicanálise con-temporânea. Uma primeira refere-se àquestão do método e tem evidentesrepercussões na prática analítica.Freud, como se sabe, recusou a suges-tão de Jung para que, depois da psico-análise, se fizesse a psico-síntese. Paraele, a síntese seria feita pelo paciente.O eu, enquanto instância especializa-da, se encarregaria disso.

Em sua teoria tradutiva dorecalque, Laplanche afirma que a cri-ança tenta traduzir as mensagens adul-tas, nomeadamente as enigmáticas,com seu reduzido estoque semântico.Os restos não traduzidos correspondemao recalcado originário e constituem-se na origem do inconsciente.

Nesta perspectiva, a função doanalista não é de fazer uma nova tra-dução mas de ajudar à des-tradução doque a criança anteriormente traduziu.Assim, abre-se espaço para que umanova e mais fidedigna tradução possaser feita pelo analisando.

Quando Laplanche caracterizaÉdipo e castração como da ordem domítico-simbólico ele inscreve-os nes-se movimento da criança (e da cultu-ra) de traduzir o enigmático. A crian-ça (e a cultura) não esperaram pelapsicanálise para fazer tais traduções. Àpsicanálise compete, portanto, ajudara des-traduzir. Permitindo que venha àluz o que a tradução, em termos de cas-

tração, por exemplo, deixara recalcado.É por isso que interpretar em termosde Édipo ou de castração é traduzir, nãodes-traduzir. Uma tradução que tendea situar-se do lado do recalque.

A outra implicação do projetolaplancheano para a psicanálise con-temporânea refere-se à formação de psi-canalistas. Portanto, tende a repercutirjunto às respectivas instituições. Pode-mos introduzi-la pelo aforismolacaniano: “a psicanálise não se ensina,se transmite”. Mas de onde vem estetermo “transmissão”? Trata-se de umadas traduções possíveis para Übertragung.No idioma alemão de Freud, este termotem, no entanto, um sentido bem pre-ciso, de “transferência”. Qual é, então,o sentido lacaniano de tal aforismo?Aparentemente Lacan nos lembra que,para a formação, não basta um conhe-cimento puramente livresco da psicaná-lise, é preciso passar pela análise, vivera transferência. E, portanto, isso nãopode acontecer na Universidade.

Mas o que sugere o fato de queambos os termos, “transferência” e“transmissão”, sejam, na verdade, tra-duções de um mesmo termo na línguade origem? Que a transmissão da psi-canálise se faz por transferência, portransferência ao mestre. Não por aca-so, Lacan designava seus pacientescomo seus “alunos” e pretendia que odestino de toda a análise era formar umanalista. O modelo é antigo, remontaà tina de Mesmer e aos milagrosos po-deres de sua água magnetizada. Preten-der que a psicanálise se transmita portransferência é, evidentemente, re-montar à pré-história da psicanálise, éapelar para a sugestão; mesmo que a tinapossa ter sido a biblioteca onde se en-contravam os que esperavam a consul-ta, as mesas dos cafés onde, depois, dis-cutiam as intervenções do mestre, oua “École” que ele fundou.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

75Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

Lacan não foi o primeiro, nem cer-tamente o último, a transformar ummétodo que se pretende libertador dosdeterminismos inconscientes, em estra-tégia de poder, de doutrinação, de re-crutamento, de assujeitamento O pro-cesso, lembra Laplanche, éco-extensivo a uma anomalia denomi-nada “análise didática” - se “didática”,não pode ser “análise”; se “análise”, nãopode ser “didática”.

Pretendemos ressaltar que, no sen-tido da cientificidade da psicanálise, omovimento laplancheano tem-se cons-tituído como um movimento dedesalienação que, ao caracterizar todaa teoria como passível de falsificação,diminui o brilho e a sedução dos gran-des mestres, de suas doutrinas e de seusdogmas, apontando para o devir de umprocesso científico em constante pro-gresso.

É possível constatar, ainda, que osargumentos de Lanzarote, na esteira daobra laplancheana, permitem reconhe-cer um movimento circular. Tal movi-mento parte de uma teoria desenvolvi-da segundo os princípios da simplicidadeconceitual e da elegância da constru-ção, que garantem maior probabilidadede se alcançar a cientificidade. E acientificidade a que se chega, por suavez, reclama a preservação dessas carac-terísticas da teoria.

ResuméLes dernières “Journées InternationalesJean Laplanche”, huitième d’une série bi-annuelle, ont eu lieu du 20 au 22 juillet,à Lanzarote, aux Îles Canaries et ont eupour thème “Théorie de la séductiongénéralisée: validation – réfutation”.D’une manière générale, nous avonsdébattu des conditions rendant possible laval idation de cette théorie ce qui,

indirectement, a terminé par poser laquest ion de l ’opportunité et de laconvenance d’une validation scientifiquedes théories psychanalytiques. Dans ceteffort d’analyse épistémiologique de lapsychanalyse, les travaux de différentsauteurs dont le référentiel théoriques’appuie sur la théorie laplanchienne ontété discutés, tout au long de cinq réunions,et accompagnés de la critique et de lacontribution du propre Jean Laplanche.Le présent travail consiste en un rapportcritique résumé de cet évènement où ontcomparu les auteurs. Après uneintroduction qui offre au lecteur une brèvehistoire des Journées, le texte fait unerapide référence aux débats qui se sonttenus, en les illustrant par quelquesexemples. Par la suite, un résumé dudiscours de clôture de Laplanche estprésenté dans lequel il insiste sur lascientificité de sa théorie et oú il présentequelques possibilités de falsification. À lafin, le texte souligne la constitution d’unmodèle épistémologique pour ledéveloppement de la métapsychologie,articulé au modèle anthropologique établipar Laplanche (la s i tuationanthropologique fondamentale). Cemodèle atteste de la scientificité de lapsychanalyse en précisant sa place entreles sciences humaines.

Mots-clésMétapsychologie; Théorie de la SéductionGénéral isée; Epistémologie de lapsychanalyse; Journées InternationalesJean Laplanche.

ReferênciasBLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.DEJOURS, C. Le corps, d’abord. Paris : Payot,2003.

Uma Análise Epistemológica da Teoria da Sedução Generalizada

76 Estudos de Psicanálise • Salvador • n. 30 • p. 65 - 76 • Agosto. 2007

_____. “Théorie de la séduction: falsification,validation – Argument”. In : Journées JeanLaplanche. Lanzarote, julho 2006, 3 páginas.

GUTIÉRREZ TERRAZAS, J. “Sem Título”.In : Journées Jean Laplanche, Lanzarote, julho2006, 5 páginas.

HOCK, U. “Annotation”. In : Journées JeanLaplanche, Lanzarote, juillet 2006, 2 páginas.

LAPLANCHE, J. La révolution copernicienneinachevée, Paris : Aubier, 1992, p.III-XXV.

_____.Nouveaux fondements pour lapsychanalyse, Paris: PUF, 1987 (traduçãobrasileira: Novos fundamentos para a psicanálise.São Paulo: Martins Fontes, 1992).

_____. “La psychanalyse dans la communautéscientifique”. In : Cliniques méditerranéennes,1995, 45/46 (1ª publicação) e Entre séduction etinspiration: l’homme. Paris : PUF, 1999, pp.173-188 (2ª publicação).

_____. “La psychanalyse comme anti-herméneutique”. In : Revue des Scienceshumaines, 1995, 240, p.13-24. (1ª publicação) eEntre séduction et inspiration: l’homme. Paris :PUF, 1999, pp.243-261 (2ª publicação).

_____. “La psychanalyse: mythes et théorie”.In : Revue philosophique, 1997, 2 (1ª publicação)e Entre séduction et inspiration: l’homme, Paris,puf, 1999, pp.263-292 (2ª publicação).

_____. “Narrativité et herméneutique:quelques propositions”. In : Revue française depsychanalyse, 1998, 3 (1ª publicação) e Entreséduction et inspiration: l’homme, Paris, puf, 1999,pp.293-300 (2ª publicação).

LUCHETTI, A. “Sem título”. Journées JeanLaplanche, Lanzarote, juillet 2006,12 páginas.

MARTENS, Francis, “Psychanalyse et science– Sur le z inc avec Karl Popper ou del’inconvénient d’accommoder les fraisescommme les échalotes”, Journées Jean Laplanche,Lanzarote, juillet 2006, 7 páginas.

_____. “Apostille – Quelques remarquestraductives adressées à Jean Laplanche”, JournéesJean Laplanche, Lanzarote, juillet 2006, 3 páginas.POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 14ªed. São Paulo: Cultrix, 2002 (1ª edição emalemão: 1935).

RIBEIRO, P. C. O problema da identificação emFreud – recalcamento da identificação femininaprimária. São Paulo: Escuta, 2000.

_____.“Identification passive, genre etséduction originaire”. Journées Jean Laplanche,Lanzarote, julho 2006, 26 páginas.

SAUVANT, J.-D., “Comment enfoncer desportes ouvertes sans se prendre les pieds dans letapis (?) ou Quand ça va sans dire, ça vasouvent beaucoup mieux en le disant”. JournéesJean Laplanche, Lanzarote, julho 2006, 4 páginas.

TESSIER, H. La psychanalyse américaine, Paris:PUF, 2005.

_____.“La théorie de la séduction généraliséeet la psychanalyse post-freudienne anglo-saxonne – Introduction à la discussion”. JournéesJean Laplanche, Lanzarote, julho 2006, 24páginas.

Recebido em 18/04/2007

Endereço para correspondência:

Fernando Cézar Bezerra de AndradeAv. Epitácio Pessoa, 753 - sala 809Bairro dos Estados - fone (83) 3225-3298CEP 58030-904 - João Pessoa - [email protected]

Luís MaiaRua Geraldo Mariz, 853 - Tambauzinho58042-060 João Pessoa PBfone: 83 [email protected]