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UM TRABALHO COLABORATIVO NA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES MATEMÁTICOS Ana Maria Villela Grecco [email protected] Sandra Regina de Oliveira de Souza [email protected] Silvia Teresinha Frizzarini Valenzuela [email protected] Resumo Esta comunicação oral é a experiência de um projeto de extensão, intitulado “O uso de softwares Matemáticos como ferramenta de ensino e aprendizagem de Matemática no Ensino Fundamental e Médio”, desenvolvido com professores de uma escola pública de Dourados e estagiários do curso de licenciatura em Matemática da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD. O projeto visou auxiliar os participantes a utilizar os computadores em suas práticas pedagógicas, apresentando os aspectos teóricos e práticos para a manipulação de softwares matemáticos, como ferramenta no ensino e aprendizagem de Matemática. O projeto esteve focalizado em buscar subsídios junto ao campo de trabalho futuro de nossos alunos como também oportunizar aos professores, já atuantes na área, uma reflexão e capacitação em novas práticas pedagógicas, procurando sanar as dificuldades tanto da formação quanto do ensino de Matemática. O projeto passou de um trabalho cooperativo, onde apenas nós, pesquisadores, preparávamos quais softwares que fariam parte das aulas, para no final, todos participarem colaborativamente na escolha dos softwares, de acordo com as necessidades dos professores, para que pudessem trabalhar os conteúdos do plano de aula. O professor do ensino fundamental e médio, ao introduzir os softwares com seus alunos, foi acompanhado por um dos pesquisadores da universidade, ou a bolsista. Houve, com isto, o compartilhamento de saberes e experiências, com confiança e respeito mútuo. Acreditamos que esses softwares, quando bem selecionados e utilizados, contribuem como meio de luta contra o insucesso escolar, motivando os alunos e permitindo-lhes revelar seus talentos.

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UM TRABALHO COLABORATIVO NA FORMAÇÃO CONTINUADA

PARA A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES MATEMÁTICOS

Ana Maria Villela Grecco [email protected]

Sandra Regina de Oliveira de Souza [email protected]

Silvia Teresinha Frizzarini Valenzuela [email protected]

Resumo

Esta comunicação oral é a experiência de um projeto de extensão, intitulado “O uso

de softwares Matemáticos como ferramenta de ensino e aprendizagem de

Matemática no Ensino Fundamental e Médio”, desenvolvido com professores de

uma escola pública de Dourados e estagiários do curso de licenciatura em

Matemática da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD. O projeto visou

auxiliar os participantes a utilizar os computadores em suas práticas pedagógicas,

apresentando os aspectos teóricos e práticos para a manipulação de softwares

matemáticos, como ferramenta no ensino e aprendizagem de Matemática. O projeto

esteve focalizado em buscar subsídios junto ao campo de trabalho futuro de nossos

alunos como também oportunizar aos professores, já atuantes na área, uma reflexão

e capacitação em novas práticas pedagógicas, procurando sanar as dificuldades

tanto da formação quanto do ensino de Matemática. O projeto passou de um

trabalho cooperativo, onde apenas nós, pesquisadores, preparávamos quais

softwares que fariam parte das aulas, para no final, todos participarem

colaborativamente na escolha dos softwares, de acordo com as necessidades dos

professores, para que pudessem trabalhar os conteúdos do plano de aula. O

professor do ensino fundamental e médio, ao introduzir os softwares com seus

alunos, foi acompanhado por um dos pesquisadores da universidade, ou a bolsista.

Houve, com isto, o compartilhamento de saberes e experiências, com confiança e

respeito mútuo. Acreditamos que esses softwares, quando bem selecionados e

utilizados, contribuem como meio de luta contra o insucesso escolar, motivando os

alunos e permitindo-lhes revelar seus talentos.

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Introdução

Um grupo de professores de Matemática de uma escola pública de Dourados

solicitou à sua direção que entrasse em contato com a Coordenação do Curso de

Matemática-LP, da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologias - FACET/

Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, a fim de que houvesse um

trabalho colaborativo na luta contra o insucesso escolar, especificamente no

aprendizado da Matemática, motivando os alunos e permitindo-lhes revelar seus

talentos.

Tendo em vista a grande importância das novas tecnologias na Educação

atual e com a recente implantação de laboratórios de informática nas escolas

públicas do Mato Grosso do Sul e a pedidos de seus professores, nós,

pesquisadores da UFGD junto com esses professores interessados, preparamos um

projeto de extensão com o intuito de apresentar-lhes, softwares que têm ligação com

os conteúdos trabalhados em sala de aula. Desta forma, a apresentação desses

softwares educacionais e aplicativos foram de preferência gratuitos, para maior

acessibilidade de todos e assim poder executar as ações previstas no projeto. Logo,

nos permitiu instituir o intercâmbio entre a escola e a universidade, bem como, entre

os professores da universidade e os professores da Escola Estadual Ministro João

Paulo do Reis Veloso, buscando aprimorar a formação inicial e continuada.

O projeto esteve focalizado em buscar subsídios junto ao campo de trabalho

futuro de nossos alunos como também oportunizar aos professores, já atuantes na

área, uma reflexão e capacitação em novas práticas pedagógicas, procurando sanar

as dificuldades tanto da formação quanto do ensino de Matemática. Desta forma, o

projeto esteve em consonância com o objetivo do curso de Licenciatura em

Matemática, que é a formação de professores que atuarão no Ensino Fundamental e

Médio e a responsabilidade de oferecer em seu currículo o desenvolvimento das

habilidades e competências, segundo as Diretrizes Curriculares para os Cursos de

Matemática (2001, p. 3): “capacidade de aprendizagem continuada, sendo sua

prática profissional também fonte de produção de conhecimento”.

Levando-se em consideração, também, aspectos das atuais propostas

educacionais, tais como as indicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN,

1998) e do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) relativa à

Informática Educativa, a idealização deste projeto teve por fundamento a

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contribuição de maneira ativa para a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental

e Médio nessa escola.

Com um grande contingente de softwares matemáticos (freewares,

sharewares e demos) disponíveis para ensino e aprendizagem de Matemática no

Ensino Fundamental e Médio, decidimos oferecer um curso que ressaltasse suas

características técnicas e didáticas, a fim de discutir e refletir as condições e a

importância do uso de cada um deles.

Lembramos que os termos demo, freeware e shareware têm as seguintes

conotações respectivamente (PROGRAMAS, 2007):

“Demo de demonstration”, demonstração é aplicado a jogos. Geralmente é uma versão mais curta do jogo, que permite a sua instalação e utilização, possibilitando que seja experimentado e que se decida por sua compra. Freeware para programa de distribuição livre. Notar que a língua inglesa tem apenas a palavra free para designar os termos “gratuito” e “livre”, que têm significados diferentes em português. Assim sendo, o termo freeware não significa necessariamente que o programa é grátis, isso só ocorrerá se o software tiver uma licença GPL. Shareware programa criado por autor independente. Uma cópia de avaliação, que se pode instalar gratuitamente, é disponibilizada, possibilitando ao usuário a instalação e o conhecimento do que o programa é capaz de fazer. Entretanto, a cópia pode ter um prazo para utilização ou pode não ser completa: - funciona durante um certo tempo, o período de avaliação, (geralmente 30 dias), ou possui apenas algumas de suas funções ativadas.”

Acreditamos que, mesmo com o crescimento constante da indústria

tecnológica e consequentemente a variação na qualidade dos softwares, as

tecnologias de informações e comunicações (TIC) podem ser bons recursos

didáticos, se forem selecionadas e utilizadas adequadamente. Elas podem ser

usadas como meio que auxilie os professores, na produção e construção do

conhecimento, desenvolvendo novas maneiras e materiais didáticos.

Com tais pressupostos, estabelecemos como objetivos principais no projeto

os seguintes itens:

- Apresentar aos participantes do projeto alguns softwares, de preferência

freewares ou shareware, para o ensino de Matemática, bem como ensinar a

manipulá-los e a fazerem uma ligação entre o uso de softwares e o conteúdo

trabalhado em sala de aula;

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- Discutir e avaliar os usos dessa tecnologia como ferramenta no ensino de

Matemática e propor metodologias alternativas para inserção da informática no

ensino de Matemática;

- Reforçar a prática dos professores na escola usando os softwares;

- Produzir materiais didáticos para o uso de softwares de Matemática a partir

das práticas realizadas pelos professores no laboratório de informática;

- Oportunizar o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação na

Educação – TICE, na práxis do ensino e na perspectiva de aproximar os professores

das mesmas.

A partir de tais objetivos destacamos as ações trabalhadas.

Referencial Teórico-Metodológico

O grupo de extensão iniciou o projeto com uma prática cooperativa, no

sentido de buscar subsídios que auxiliassem os professores da escola pública, na

inserção do laboratório de informática em suas práticas pedagógicas e com isso

melhorar o rendimento de seus alunos.

Após longo período de trabalho conjunto passou de uma prática cooperativa,

de relações desiguais, para uma prática colaborativa, em que todos trabalhavam

conjuntamente de igual para igual. No início de um trabalho cooperativo, apenas

nós, pesquisadores, preparávamos quais softwares que fariam parte das aulas, no

final, todos participavam colaborativamente na escolha dos softwares, de acordo

com as necessidades dos professores, para que pudessem trabalhar os conteúdos

do plano de aula.

Nesta visão, o nosso referencial teórico-metodológico voltou-se para um

Trabalho Colaborativo em que não nos reduzimos a simples auxiliares ou

fornecedores de dados e materiais, como considera Fiorentini (2004, p. 34):

“Todos os integrantes de um grupo colaborativo assumem um mínimo de protagonismo no grupo, não se reduzindo a meros auxiliares ou fornecedores de dados e materiais, mas como sujeitos que não apenas aprendem, mas também produzem conhecimentos e ensinam os outros”.

A participação foi voluntária, tanto dos professores quanto dos pesquisadores

e bolsista de Ensino de Graduação. O grupo foi composto por quatro professores do

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ensino fundamental e médio, apesar de termos começado com um número maior,

além dos cinco pesquisadores da universidade e com uma bolsista de licenciatura

em Matemática.

O projeto foi executado em dez meses, dos quais seis meses serviram para a

apresentação e manipulação dos softwares:

- Graphequation (shareware): destinado ao estudo de funções e gráficos,

curvas e regiões no plano;

- Winplot (freeware): destinado ao estudo de funções e gráficos em 2D e 3D;

- Poly (shareware): permite explorar família de poliedros convexos, onde é

possível aplicar movimentos e planificá-los;

- Régua e Compasso (freeware): destinado ao estudo das construções

geométricas;

- Excel (software): usado como ferramenta no estudo de estatística.

Os outros quatro meses foram destinados à assessoria, reflexões e

avaliações das práticas pedagógicas desenvolvidas pelos participantes em suas

aulas, referentes aos softwares apresentados. A metodologia adotada seguiu o

seguinte percurso:

- Encontros semanais de capacitação para o uso de softwares;

- Assessoria aos professores da escola, sobre as facilidades e dificuldade do

uso da informática no ensino e aprendizagem da matemática;

- Produção e implementação de material didático para as aulas;

- Elaboração de relatórios finais onde constarão as atividades desenvolvidas,

as dificuldades encontradas, os encaminhamentos, etc.

Nesse tempo de assessoramento, a negociação de metas e objetivos era

comum, co-responsabilizando-se para atingi-los. O professor do ensino fundamental

e médio, ao introduzir os softwares com seus alunos, foi acompanhado por um dos

pesquisadores da universidade, ou a bolsista. Houve, com isto, o compartilhamento

de saberes e experiências, com confiança e respeito mútuo. Tais aulas foram

gravadas e filmadas, com o intuito de, mais tarde em encontros quinzenais,

reflexionarmos sobre nossos êxitos e fracassos, onde nos sentimos a vontade de

expressar livremente nossas críticas e o mais importante, sentindo-nos dispostos as

mudanças.

Nesses encontros se fez presente o bate-papo informal, reciprocidade afetiva

e confraternizações, mas respeitando sempre diferentes interesses e ponto de vista.

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Ao final destinamos a leitura de textos e produção do relatório final, num processo

de sistematização e socialização dos conhecimentos adquiridos, que são expostos

mais a frente.

A seguir, apresentaremos um breve relato dos softwares trabalhados e seus

respectivos conteúdos desenvolvidos, tanto, nos encontros semanais de

capacitação, quanto, na prática do grupo ao levar os alunos no laboratório de

informática.

Conteúdos Desenvolvidos

Dentre os conteúdos trabalhados, destacamos as funções e seus gráficos,

equações, inequações, sistemas lineares, geometria plana, geometria espacial,

estatística, entre outros. Esses conteúdos, que fazem parte do plano de ensino das

escolas públicas, se desenvolveram na dinâmica de conhecimento, utilização e

avaliação de cada software.

Colocamos, a seguir, uma breve descrição de cada um desses softwares e

alguns exercícios utilizados com os professores que fizeram parte do curso e seus

alunos. Também relatamos, de forma reflexiva, as principais características

educacionais inerentes aos softwares com relação aos conteúdos trabalhados,

especificamente em cada um deles.

Graphequation

Programa que permite “desenhar” paisagens através de representação gráfica

de funções e relações. Para construir uma paisagem pensamos em certas “formas” e

a elas devemos associar relações matemáticas. Tomando como ponto de partida

uma função bastante simples, aplicamos operações algébricas sobre sua expressão,

produzindo diferentes transformações no seu gráfico - translações, reflexões,

dilatações, contrações - de modo a obter a “forma” desejada.

Para construção de desenhos como no exercício abaixo (figura 1), é preciso

saber as relações matemáticas que serão utilizadas em cada parte do desenho, para

escrevê-las no graphequation.

Exercício: Desenhar a seguinte flor:

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Figura 1: Construção de uma flor no Tabelas 1: Inequações das pétalas da flor no

Graphequation Graphequation

Tabela 2: Inequação do miolo da flor no Tabela 3: Inequações do caule e da folha no

Graphequation. Graphequation

Este exercício permite verificar como os alunos puderam trabalhar na sala de

informática, com inequações e suas relações dentro de uma perspectiva artística,

estimulando-os a encontrar a melhor inequação que estabelece uma harmonia da

figura pedida. Os alunos foram orientados a iniciar com desenhos mais simples, que

apresentassem apenas retas, para depois trabalharem com outros tipos de

equações, dependendo do grau de conhecimento dos alunos.

Consideramos este software muito importante na aprendizagem das funções,

o qual possibilita aos alunos pesquisar as inequações e suas relações matemáticas,

de tal maneira que formarão os desenhos desejados no gráfico. Desta forma,

permite ao professor utilizá-lo como uma ferramenta, a mais, em suas aulas para

uma maior visualização das principais características das inequações e de onde

podem ser aplicadas.

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Winplot

Programa livre, desenvolvido por Rick Parris (Phillips Exeter Academy) para

sistemas Windows, destinado à construção de gráficos de funções de primeiro e

segundo grau, polinomiais, logarítmicas, exponenciais, trigonométricas, entre outras.

O Winplot gera gráficos de 2D e 3D a partir de funções ou equações matemáticas.

Você obtém resultados rápidos, diretos e excelentes. Os menus do sistema são

simples, sendo que existe uma opção de ajuda em todas as partes. Aceita funções

matemáticas de modo natural.

Este software ainda lhe oferece a possibilidade de criar órbitas planetárias

para realizar cálculos de objetos no espaço. Todos os gráficos podem ser

personalizados, com alteração de cores de fundo, fontes, tabelas etc. O Winplot é

um programa completo com versão em português que facilita seu manuseio por

parte do usuário, visto que é uma ferramenta educacional simples de utilizar.

Um dos exercícios utilizados com este software teve por objetivo a exploração

de gráficos de equações do 2º e 3º graus, como mostra a seguir:

Faça o gráfico das seguintes funções explícitas:

a) g(x) = x^2-2x+1 b) g(x) = (x+1)^3-2

O Winplot é um programa muito útil, pois ajuda tanto o professor quanto o

aluno na construção e na visualização rápida das principais características dos

gráficos, como o estudo do coeficiente angular e linear, pontos de crescimento e

decrescimentos, os zeros da função, ponto de mínimo e máximo, concavidade, entre

outras propriedades, na exploração de qualquer tipo de função.

1 2 3 4 5 6

-1

-2

12

1

2

3

4

1 2 3 4

-1

-2

-3

-1-2-3-4

1

2

3

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Assim, consideramos que este software contribuiu para o desenvolvimento da

capacidade de observação e do senso crítico dos alunos, além de possibilitar a

associação de idéias evitando a simples memorização.

Régua e Compasso

O aplicativo “Régua e Compasso” (C.a.R.), desenvolvido pelo professor René

Grothmann, é um excelente laboratório de aprendizagem da geometria. O aluno (ou

o professor) pode testar suas conjecturas através de exemplos e contra-exemplos

que ele pode facilmente gerar. Uma vez feita a construção, pontos, retas e círculos

podem ser deslocados na tela mantendo-se as relações geométricas (pertinência,

paralelismo, etc.) previamente estabelecidas, permitindo assim que o aluno (ou o

professor), ao invés de gastar o seu tempo com detalhes de construção repetitivos,

se concentre na associação existente entre os objetos.

Existem vários outros softwares de geometria dinâmicos disponíveis no

mercado, apesar de algumas diferenças, o princípio de funcionamento é

basicamente o mesmo, de modo que as atividades desenvolvidas com qualquer um

deles possam facilmente ser adaptadas para o software “Régua e Compasso”.

O exercício 1, a seguir, em que se utiliza o software Régua e Compasso, teve

por objetivo a exploração de uma perpendicular a uma reta dada.

Exercício 1 - Construir a perpendicular a uma reta AB passando por um ponto

P com o uso do software Régua e Compasso.

Resolução:

Figura 4: Resolução do exercício 1, no Régua e Compasso.

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Com este software o aluno tem a possibilidade de mudar de lugar o ponto P

sobre a reta perpendicular a AB e verificar que as circunferências de centro em A e

em B acompanham este ponto, aumentando ou diminuindo seus raios, conforme a

posição escolhida para P, mais distante ou mais perto da reta AB respectivamente.

No entanto, o próximo exercício 2 com a construção de um triângulo, onde

seus lados são fixos, as circunferências utilizadas, para tal, não mudam de tamanho

ao manipular um dos vértices deste triângulo, vejamos a seguir:

Desta forma, o aluno consegue manipular suas construções diretamente na

tela do computador, observando as propriedades de suas construções geométricas.

Ou seja, este software permite um ambiente de geometria dinâmica, com micro

mundos que concretizam um domínio teórico, no caso da geometria euclidiana, pela

construção de seus objetos e de representações que podem ser manipuladas. Além

de oferecer uma base inicial de menus que pode ser expandida com a inclusão de

automatização de rotina de construção – a macroconstrução.

Na figura 4 do exercício, pode-se verificar no lado esquerdo desta, uma caixa

de diálogo que apresenta as ações tomadas, de forma clara e objetiva. Fácil de usar,

o software favorece uma interface agradável, bem didática que permite a realização

de construções geométricas bem simples até construções bastante complexas,

estimulando a criatividade e o questionamento.

Polly

O software Polly permite explorar famílias de poliedros convexos: os

platônicos, os arquime-dianos, os prismas e antiprisma, os poliedros duais. É

possível aplicar movimento aos poliedros e também planificá-los. O Polly é essencial

para uma maior visualização do conteúdo que esta sendo aplicado, pois as figuras

são prontas, tem planificações e tem movimento.

Exercício: Figura tridimensional e sua planificação (prisma pentagonal):

Figura 6 e 7: Visualização e planificação do sólido geométrico no Polly.

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No caso do exercício anterior, do prisma, pode ser feita a comparação com o

anti-prisma regular. Ao manipulá-lo, o aluno poderá perceber juntamente com a

orientação do professor que além dos poliedros platônicos e arquimedianos, os

prismas e anti-prisma completam a família de poliedros convexos que tem como

faces polígonos regulares e que são uniformes.

As principais características do prisma podem ser destacadas como o que

tem duas faces congruentes dispostas em planos paralelos e de tal forma que as

arestas unindo vértices a vértices, nestas faces, formam as demais faces quadradas

(figura 6). Já os anti-prisma tem duas faces congruentes dispostas em planos

paralelos, mas com um giro tal que os vértices de uma delas se localizam no “meio”

de vértices consecutivos da outra, e são unidos por aresta, formando as demais

faces triangulares eqüiláteras.

Excel

O Microsoft Excel (nome completo Microsoft Office Excel) é um programa, de

planilha eletrônica, desenvolvido pela Microsoft. Seus recursos incluem uma

interface intuitiva e capacitadas ferramentas de cálculo e de construção de gráficos

que, juntamente com marketing agressivo, tornaram o Excel um dos mais populares

aplicativos de computador. O Excel foi o primeiro programa de seu tipo a permitir ao

usuário definir a aparência das planilhas (fontes, atributos de caractere e aparência

da célula). Também introduziu recomputação inteligente de células, na qual apenas

células dependentes da célula a ser modificada são atualizadas (programas

anteriores recomputavam tudo o tempo todo ou aguardavam um comando específico

do usuário). O Excel tem capacidades avançadas de construção de gráficos.

Um dos exercícios trabalhados no Excel, junto ao conteúdo de Estatística, foi

o seguinte:

Exercício 1 - Com os dados a seguir construa um gráfico de SETORES

CIRCULARES: Produção de Óleo Cru (Petróleo do Mundo) - Fonte: Dep. de Energia

dos EUA

América Latina África China Ásia

Oriente

Médio Outros

10 10,5 4,7 5,1 31 38,7

Tabela12: Tabela do exercício realizado no Excel.

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Figura 8: Gráfico de pizza do exercício realizado no Excel.

Com o Excel, os alunos do Ensino Fundamental e Médio, podem trabalhar

com o conteúdo de estatística: moda, média e mediana além de construírem os

gráficos dos dados de uma pesquisa realizada por eles próprios. Através de

diferentes gráficos construídos com o auxílio do Excel, os alunos podem ter uma

melhor visualização dos dados recolhidos durante suas pesquisas. Além de

perceber que cada tipo de gráfico lhes permitem leituras diferentes, ou seja, através

de porcentagem como no gráfico de setores, comparando categorias no gráfico de

barras, entre outras.

Os softwares foram apresentados aos professores com intuito de ensinar a

manipulá-los, e fazer uma ligação entre o seu uso e o conteúdo trabalhado em sala

de aula. Cada procedimento foi avaliado, numa perspectiva de tornar as aulas

diferenciadas da sala de aula em que se utilizam apenas os materiais comuns como

o caderno, lápis e borracha.

As experiências obtidas variaram com o passar do tempo e novas

expectativas foram se adquirindo, como veremos a seguir.

Experiências Finais

Até o sexto mês desta experiência foram trabalhados os softwares citados

acima. Neste período, tanto os professores da escola quanto os acadêmicos da

UFGD tiveram seus primeiros contatos com softwares educativos por meio do

projeto.

Passados seis meses de apresentação e manipulação dos softwares os

outros quatro meses, que faltavam para completar o projeto, foram destinados à

assessoria, reflexões e avaliações das práticas pedagógicas desenvolvidas pelos

demais participantes em suas aulas referentes aos softwares apresentados.

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Nas reuniões quinzenais, foi discutido o artigo: ”Grupo de estudo sobre o uso

de softwares educacionais para o ensino de Matemática no ensino Médio: uma

formação continuada” (Dolurdes Vôos, 2008). Foram levantados várias questões

prós e contras a utilização da sala de informática pelos professores.

Algumas destas questões, contra, discutidas e analisadas foram: a dificuldade

de agendamento da sala de informática; o número grande de alunos por

computador; a falta de computador em casa para o professor planejar suas

atividades; falta de comunicação entre professores de turmas diferentes dificultando

a realização de projetos. E as questões levantadas, a favor foram que os

professores se sentem mais seguros depois do projeto, porém conscientes da

necessidade de atualização constante. Sentem também o entusiasmo do

conhecimento dos softwares educacionais e de um trabalho colaborativo em

estabelecer a continuidade deste projeto. Os professores reconhecem que muitas

dificuldades existem no ensino e aprendizagem, mas que com o esforço e

colaboração essas dificuldades podem ser amenizadas.

Constatamos neste tempo que alcançamos alguns resultados relevantes

sendo que um deles é o desejo de mudança em suas práticas pedagógicas, mas

que segundo Brito e Purificação (2006) “quando falamos na organização

educacional, existe um fenômeno comum a todos os participantes...: o medo dessa

mesma mudança”.

Essa é uma realidade que se apresenta aos participantes, principalmente com

os professores já atuantes, mas de certa forma está sendo revertido conforme

relatos de uma dessas professoras, no que diz respeito a sua prática com seus

alunos. A professora também relata que nas poucas vezes trabalhada na sala de

informática já surgiram mudanças no aprendizado e no interesse dos alunos

referente aos conteúdos trabalhados como mostra a seguir:

“As turmas sempre “cobram” para levá-las ao laboratório. Os alunos estão tendo mais interesse. Eu acho assim: aquela parte de variação de sinal, eu tiro experiência pelos outros anos, nunca ninguém entendia, por mais que eu me esforçasse, agora com o auxílio do software Graphquation eles tem essa visão, que antes poucos alunos tinham, e isso é um grande passo para nós, pelo menos essa dificuldade de “enxergar” eles não têm mais. A sala que eu levei no laboratório não tem mais esse problema”.

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Além disso, observamos que já havia uma mudança de comportamento

referente à sua forma de avaliar: “... hoje vou fazer isso, vou dar a função para eles,

eles vão ter que me dizer qual a raiz daquela função, quem é o vértice, por que a

concavidade é voltada para cima ou para baixo vou começar a avaliar de forma

diferente”. Almouloud (apud Brito e Purificação, 2006) ressalta essa utilização do

computador em “tratar no tempo real uma parte da avaliação e em diminuir o efeito

emocional da avaliação”. A professora demonstrou também a necessidade de um

trabalho em conjunto, com os demais colegas da escola, sugerindo assim que todos

participem de projetos como este, destacando a necessidade de mudança no

planejar por meio da interdisciplinaridade.

Essa conscientização da professora foi além de nossos objetivos. Assim

concluímos que ainda há uma grande necessidade na formação e conscientização

de todos os professores no que diz respeito às novas tecnologias.

Ao final, todos os professores levaram seus alunos para a sala de informática,

uns com mais timidez que outros, mas todos com a certeza de poder somar mais

conhecimento aos seus alunos. Cada professor levou de duas a quatro turmas,

conforme as possibilidades de agendamento na sala, onde trabalharam com cada

software estudado.

Foram produzidos vídeos da prática de cada professor no laboratório de

informática e, através destes, houve momentos de discussão sobre a utilização de

todos os softwares juntamente aos conteúdos trabalhados, bem como as

metodologias utilizadas.

Do material elaborado para o curso prático, foram feitas sugestões de

elaboração de materiais didáticos para o uso em aula prática no laboratório. Dessa

forma, foi possível oportunizar o uso e aproximação das tecnologias da informação e

comunicação na educação - TICE; na práxis do ensino, na perspectiva de aproximar

os professores das mesmas.

A partir deste projeto de extensão dar-se-á seqüência em um novo projeto,

agora de pesquisa, em que serão avaliados, nos anos subseqüentes, os resultados

das práticas docentes no laboratório de informática.

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