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UM SISMO ENTRE O ESMO À PORTA DO INFINITO EDIMAR A. DE BEM JR

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UM SISMO ENTRE

O ESMO

À PORTA DO INFINITO

EDIMAR A. DE BEM JR

UM SISMO ENTRE

O ESMO

À PORTA DO INFINITO

EDIMAR A. DE BEM JR

GUIA DE NAVEGAÇÃO

3- INTRODUÇÃO

5- AZUL DO CÉU

6- SONETO DE DESPEDIDA

7- MANHÃ CELEBRE

8- PÉ DE IPÊ

9- SORRIA

10- LOGÍSTICA APLICADA

11- PIGMENTO SUJO

12- SENTIMENTO INCISIVO

13- CAMINHOS LÁ FORA

14- MATEMÁTICA DO SILÊNCIO

15- SONETO PARALELO

16- O POTE

18- SONETO SOLTO

19- VIVA A VIDA

21- O BATER DAS AZAS

22- ATUAL CIRCUNFERÊNCIA

23- RUMO AO INFINITO

25- DESFRAGMENTAÇÃO

26- REVIRAVOLTA

27- UM SONHO AZUL

28- DEIXA EMANAR

29- ELEMENTAR

2

INTRODUÇÃO

Esse trabalho não passa de uma antologia, e nem por isso é

só uma antologia. Por qual razão? Explico; uma antologia é

um estudo de flores ou uma coleção de flores escolhidas;

Florilégio, assim, nomeando também uma reunião de poesias.

Às vezes, ao mesmo tempo que absorvo estudando admiradamente

a poesia que se espalha no abstrato e no concreto do existir,

transpiro-a, traduzindo de mim, o sentimento e a ideia que,

ao se mesclarem, se fazem também palavras.

E são as poesias traduzidas nessas vezes, em que minha vista

se perdeu em meio ao azul do céu ou mergulhou na noite negra

caçando a estrela mais distante (afim de me localizar), que

decidi reunir nesse livro. Esse, diferente de seu conteúdo,

me foi trabalhoso; selecionar, revisar- editar.

O conteúdo se deu de maneira natural, de tal forma que não

é um mérito, nele não houve esforço, pois é como uma espécie

de fotossíntese, que não passa de uma fotossíntese, mas nem

apenas por isso é só uma fotossíntese.

E é por simplesmente não passar do que é, e nem apenas ser

só isso, que o título desse trabalho, é o que esse trabalho

é, um sismo entre o esmo, diante da porta do infinito.

O autor.

3

4

O AZUL DO CÉU

Não há definição

Que explique o infinito

Mas um coração

O percebe de intuito

Um olhar num abismo

Um sismo entre o esmo

Uma liberdade no azul!

O pensamento em vida

Teme pela morte certa

Ainda que de obscura data

Desata no espírito

Um anseio que se sacia

Por si só,

E a sensação de existir

Percebe-se além do tempo

Desfragmentando -se

No sonho da vida.

5

SONETO DE DESPEDIDA

Tarde quente

Boca vazia

Arvore grande

Estrela mor, brilha.

Olhos claros

Refletem um rosto

Gritante silêncio

Se escora um corpo!

Despedidas iguais

Todas são tristes

-agora;

Claro e cheio

Transborda o rio

Pela face.

6

MANHÃ CELEBRE

Por sobre o silêncio das casas

paira uma neblina causada

por alguma razão que o homem

talvez explique, mas não tange.

E o emaranhado das fiações elétricas

perdem-se nos galhos dessas árvores

que se apertam em dividir espaço com o concreto.

Nessa manhã cinzenta

o coração parece estar propício ao céu azul acolá,

no além do que olhos podem ver.

Mesmo que até os pássaros passaram a preferir os fios aos

galhos,

o coral ainda ecoa nessa manhã de inverno,

junto ao quente coração que está em festa azul,

ainda que seja cinza o céu infinito em que os olhos se

perdem,

-O coração sempre vê mais profundo.

7

PÉ DE IPÊ

Um belo outdoor rouba dos meus olhos

a chance de apreciar os finos galhos

do pé de ipê, em pleno inverno.

Uma cortina de fumaça esquisita

borra a aquarela levando da minha vista

o véu do céu que eu ia apreciando...

Onde estão meus direitos?

Sou furtado a todo tempo!

Eu só queria que me chegasse o vento...

Aquele que foi bloqueado

na parede de cimento

a qual privou o pensamento

de buscar o fundamento...

Eu não quero previdência social

e nem uma folga por semana

muito menos o produto do comercial

não almejo ser bacana...

Eu quero o pé de ipê

e o céu azul!

8

SORRIA

Sobras do prato

Vão para o lixo

Horas vendidas

Pro inimigo

Sonhos vagos

Vagão dormindo

Flores no vaso

O chão é inquilino

Solo árido

Plano sem fundo

Sem salário

Vaga defunto

Escuso e raro

O tal do assunto

Penoso e caro

O efeito contrário

Que causa

um sorriso.

Sorria criança

Sorria velhinho

Sorria esperança

Pra encontrar o perdido.

9

LOGÍSTICA APLICADA

O que olhos podem ver

Além de formatos cores?

Se não sabes o que tem numa alma

Porque nos afliges com débeis rumores?

Bem é bem e mal é mal?

Contos infantis e fábulas mágicas

Inspiram os sonhadores e deterioram os patéticos,

Prateleiras e caixas organizam as coisas,

Mas não de modo que se possa entender.

10

PIGMENTO SUJO

...É logo ali o submundo...

No paralelo das ruas

Dormem crimes absurdos

-Todas as leis nuas!

Despidas de qualquer juízo

As almas se perdem em romances,

Dramas, vinganças dum paraíso...

Atulham se performances;

Droga, dinheiro, comércio

A luz de um belo dia, ou

No brilho de um artifício

Fúnebre, noite que ecoou.

Nos labirintos, absinto!

O trono do caos, numa lata

O súdito sem espírito

Se vende ao que lhe mata...

Na casa bonita

Dormem as crianças

Os pais das benditas

Nelas têm esperanças.

Tão pouco sabem,

Mas o mal dos covardes

É achar que podem

Esquivar-se dos combates.

11

SENTIMENTO INCISIVO

Fora dos planos

De baixo dos panos

A fuga dum cigano

Em madrugada de sereno;

Acerta-se num engano

Um século em um ano

Sentimento profano...

Se o amor causa danos

Para quem constrói reinos,

Também não se faz ameno

Para quem o sente de menos.

12

CAMINHOS LÁ FORA

As estrelas do céu

as ondas do mar

além do horizonte

elas ousam estar,

não são como os prédios

imóveis nas cidades,

chuva ácida infiltra

nos trincados que ardem.

No fundo dos oceanos

onde o mistério se enxágua,

ou galáxias afora

onde o som se propaga,

lugar quer que esteja

há de ter estrada

se a cabeça que deseja

sair de dentro de casa!

13

MATEMÁTICA DO SILÊNCIO

Antes ouvindo atento

As paisagens do silêncio

Do que em desalento

Vagando em acho receio

A esmo num mar

De afirmações

Desperdiçadas queixas

Em frações

Desproporcionais

Aos dividendos

Desequilíbrio que berra

Os segredos

Que de forma oposta

De outro deveria dizer

Sempre em tom brando

Benignas frases

Pois uma vez que fossem

Seriam, para o bem.

14

SONETO PARALELO

Uma viagem planejada

Há um lugar não tão distante

O mar de frente a sacada

De uma construção errante;

A serra alta cerca os lados

E entre seus tons de verde

Cachoeiras e mistérios alados

Que voam entre os que entendem

Borboletas, libélulas e pássaros

E mais outros não identificados,

Purpurina no ar, um sonho encantado.

A magia da essência com brilho raro

Dispensei a ciência dos bastardos

Lá não significa nada, os números somados.

15

O POTE

A comodidade se esbalda

Na planície do mármore

As mãos, ambas ocupadas

Mexendo, cal e enxofre.

Na curva do mundo

No berçário dos ventos

Correndo, se vai um miúdo

Buscando seu momento.

De tarde, de noite

A qualquer pensamento,

Derruba o pote

A corrente de vento;

As folhas são o que são

Os homens também

Inquérito da razão

Ainda vai além...

De certo há vontade de berrar

Mas nem sempre se tem o que dizer

Vem do complexo pensar

O receio em ser;

Infinitas chances desperdiçadas

Enchendo o pote de fichas,

Escolhas bem planejadas

Em paredes fixas?

16

-A fuga ;

Não há o que dizer!

Nem mesmo uma ruga!?

O vento pode ser;

Lá de onde ele fez nascer

O carrasco do sequestro,

Mas devo esclarecer

Ele libertou o verso espectro;

A mesa continua ao dispor

E o pote tombado sobre ela

Em volta, alicerce e seco suor,

Acima, sol estrela amarela,

A atitude de repente

Lavrou aquela luta diária

O cenário retumbante

Em outra fonte, vária.

Ninguém mais protege o pote.

Ninguém mais constrói no lote.

17

SONETO SOLTO

Vivo de bico,

mas não sou pássaro.

Quem me dera se eu fosse

e soubesse voar.

Às vezes fico,

outras não paro,

quem me dera esquecesse,

insisto em lembrar.

Pão pra comer,

sonho pra realizar.

Busco apenas ser.

Na beira do mar

aumento meu poder.

Longe, como gosto olhar.

18

VIVA A VIDA

A prisão dos conceitos

Alimenta de pão e água

O coração do sujeito

Que se entregam às mágoas

Às mínguas do ser

Perde-se nas certezas,

Dúvidas parece nem ter.

Onde ficam as horas vagas

Que vagam pelas rotinas?

É claro que não podes ver

Deixas sempre fechadas as cortinas...

Esqueça o que sabe

Venha comigo

Em um fim de tarde

Vai encontrar o caminho;

Vamos sem pressa

Estrelas a dentro

Galáxias à fora,

Um novo movimento:

19

-Acene para o universo!

Conspiração benigna

Derrama-se em versos;

Liberta o dogma

De um conceito perplexo,

Transforma, numa reforma

Vez em que alinha o universo

Em nível do amor

Acima do mar

‘’ Voe por onde for

Mas não se esqueça de amar. ’’

20

O BATER DAS AZAS

Pensamentos soltos

Em órbita de uma dúvida qualquer,

A metade do dobro

Compare e diga como quiser;

A ordem dos fatores

Não altera o resultado,

Pois esse, trafega por aí

Como um ser mutável.

A borboleta de mil cores

Habita nos mais engenhosos

Jardins...

Entenda o que convir-

Cabe ao coração

Enxergar o que olhos

Não podem ver!

Veja:

Os sem fins e os fins

Se emendam pelo meio.

21

ATUAL CIRCUNFERÊNCIA

Os homens armados

Estão cada dia mais ferozes

Pelos becos escuros situam-se vozes

Pedindo para que castrem os cordeiros

Evitando que andem por lugares perigosos

Os canteiros cada dia mais cinzas

As flores cada dia mais murchas

E o dia, cada noite que passa, amanhece

Como quem deitou para dormir,

Mas não pode descansar.

Poucos são os que notam

As olheiras do sol

Parecem cegos os viandantes

Que trafegam nessa vida

Acoplados em suas máquinas

Tragando a existência em cavalos de potência

Desesperada e impacientemente!

E a ciência

Sem crença

Amena

Morna

Distraí

E traí a reflexão de quem pensa.

22

RUMO AO INFINITO

Vi no horizonte um futuro me chamar

Um chamado tão urgente

Que nem tive tempo de juntar

A meia dúzia de pertences

Que pude conquistar.

Entre ir para o infinito

Em busca do desconhecido

Ou ficar enraizado

Dando frutos desnecessários,

Optei,

Numa fração de segundos

Em nada optar.

Me larguei pela eternidade

Como um pássaro faz no ar.

Aos poucos tomei uma direção

E foi essa tão inesperada

Pois não era permitida

Mas também não era contramão.

Ouvi comentários débeis

Rumores delirantes

De espectadores vacilantes

Nas margens dessa via sem por onde.

23

Os que quiseram me brecar

Seja por qualquer razão

Foram ficando para trás

Enquanto quem me dava combustão

Comigo aqui jaz

Em recíproca lealdade

- Fiz uma transfusão-

Na minha veia só corre amizade!

24

DESFRAGMENTAÇÃO

Quanto mais arte

um indivíduo absorve,

com parafusos a menos

vai ficando,

até ficar

com a cachola solta,

que é,

quando os portões

da mente

estão abertos

para uma caminhada

pelo infinito do pensamento,

onde um monte de rabisco

tonifica e transmite

os transeuntes

das ideias.

25

REVIRAVOLTA

Eu sei que tudo que faço

É um rascunho escasso

Do que pretendia fazer

Eu sei que isso é muito raso

É totalmente ao contrário

Do que eu devia dizer...

Veja o céu

As nuvens se movem com o vento

Veja o mar

As ondas sincronizam-se com incrível talento

De ir e vir. Como? Nós ainda não sabemos.

26

UM SONHO AZUL

Eu quero me mudar

Para lugar nenhum

Onde eu possa habitar

Livre do senso comum

Entre paredes de ar

Revestidas de azul

A bússola vou quebrar,

O norte ou o sul

Tanto fez e faz

Desde que seja em paz,

A vizinhança, o berço

A herança e a rebeldia.

27

DEIXA EMANAR

Vejo linhas paralelas

Entre as estrelas

Prevejo dias de aventura

E noites escuras

Rimo versos

Com universos,

Trago milhares por graça,

De graça, na fumaça!

Exala!

Seres místicos

Voam ao meu lado,

Me chamam de louco

Os pobres coitados

Que perderam a esperança

E exigem que domem

A peralta criança

Disfarçada de homem.

28

ELEMENTAR

Se o vento é um ser vivo

Quem pode comprovar?

Ora, qualquer um de nós.

Quem nunca ouviu sua voz

Rugir entre os vãos da cidade?

Ou então, viu seus cabelos se enroscarem

Nos galhos das árvores?

Só mesmo um absurdo

Ignorante e patético

Irá dizer que o vento não é sério.

Talvez nunca tenha sido

Beijado no rosto

Numa tarde de domingo,

Talvez nunca tenha tido

Os pulmões preenchidos

Com ares de outros postos...

Arreia! Que esse nem viveu ainda.

29

® 2017 Edimar A. de Bem Jr

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