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MARGARETE BELLI UM OLHAR PARA A ATUAÇÃO DO PROFESSOR NA INTERNACIONALIZAÇÃO DO CURRÍCULO, MATERIALIZADO POR MEIO DA TEORIA FUNDAMENTADA. Itajaí (SC) 2019

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MARGARETE BELLI

UM OLHAR PARA A ATUAÇÃO DO PROFESSOR NA INTERNACIONALIZAÇÃO DO CURRÍCULO, MATERIALIZADO POR MEIO DA TEORIA FUNDAMENTADA.

Itajaí (SC) 2019

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE

Curso de Doutorado em Educação

MARGARETE BELLI

UM OLHAR PARA A ATUAÇÃO DO PROFESSOR NA INTERNACIONALIZAÇÃO DO CURRÍCULO, MATERIALIZADO POR MEIO DA TEORIA FUNDAMENTADA.

Tese apresentada ao PPGE como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Educação – área de concentração: Educação (Linha de Pesquisa: Estudos Linguísticos e Internacionalização do Currículo). Orientador: Prof. Dr. José Marcelo Freitas de Luna

Itajaí (SC) 2019

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CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

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EPÍGRAFE

“A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo.” (Albert Einstein)

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Dedico esta Tese à minha família!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à minha família, por todo o apoio e suporte de

sempre!

Ao meu orientador, Professor Dr. José Marcelo Freitas de Luna, por sua

orientação sempre tão precisa, por sua capacidade de nos tranquilizar quando tudo

parece não ter jeito. Por nos mostrar, na prática, que mudar a forma de ver e se

manifestar no mundo é, sim, possível! E por ser a referência em minha vida

acadêmica! Obrigada!

Ao meu parceiro Miguel Angel Verdinelli (in memoriam), pelo estímulo para eu

entrar no doutorado, por todo o apoio acadêmico enquanto esteve presente. Sinto-me

grata, também, e privilegiada, por ter compartilhado de sua caminhada nesta

existência pelo tempo que estivemos juntos. Aprendi muito com ele!

À querida professora Regina, que tem me acompanhado e incentivado na

minha caminhada acadêmica. Que privilégio tê-la em minha banca!

À professora Valéria, por quem desenvolvi uma grande admiração e carinho,

pelo apoio institucional, por sempre me receber e me orientar e confiança no estudo

da língua inglesa!

Assim também como à queridíssima professora Tânia, com quem tive o

privilégio de conviver e de estudar inglês! Também à professora Verônica, por sua

competência nos seminários que encabeçou, principalmente sobre políticas públicas

e questões de gênero: foi show!!

Às secretárias Tânia e Mariana: como sobreviveríamos sem vocês? Muito

obrigada!

À professora Rosa, pelo que aprendi sobre mediação intercultural e por sua

atenção sempre tão elegante! Um privilégio tê-la conhecido, bem como tê-la em minha

banca!

Ao professor Rodrigo, pela tão precisa e pontual orientação sobre a Grounded

Theory, metodologia que serviu de divisor de águas em minha vida acadêmica! Um

privilégio tê-lo em minha banca!

Às pessoas amáveis que toparam ser sujeitos da pesquisa meu muito

obrigada!! Sua contribuição para minha pesquisa foi imensamente valiosa!!

Às amigas que (re)encontrei aqui no programa: Patrícia, um farol amigo a

iluminar muitos de meus passos e que, de quebra, me possibilitou conhecer a radiante

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Mônica; Adriana, por sua amizade tranquila e tão bonita; Alessandra, sempre um bom

papo, palavras de apoio e muita ajuda na caminhada; e Olívia pela parceria e amizade

no caminho evolutivo e os cafés à distância para recarregar as energias! Obrigada,

queridas, por todo o carinho e assistência! Vocês tornaram mais suave e doce minha

estadia no programa!

Aos parceiros e parceiras evolucionistas do IIPC (Instituto Internacional de

Projeciologia e Conscienciologia), especialmente do Núcleo de Blumenau: sou muita

feliz por tê-los/las (re)encontrado! Certamente me ajudaram a completar esta Tese!

Às colegas e aos colegas do Grupo de Pesquisa: contracenar com vocês nesta

arena acadêmica foi bom demais!!! Principalmente quando tinha lanchinho!!

Às Amigas da Vida: Edilene, Solange, Josane, Milú, Christiane: obrigada pela

parceria! Um privilégio tê-las como amigas!

Ao querido amigo José Roberto, o Zé, pelo apoio e amizade de tantos anos,

muito obrigada! Uma honra ser sua amiga!

E à amiga-sobrinha Fabiane: que felicidade estarmos mais perto, querida

polegar!

Aos grupos de café e de what´s up: Amigas da Univali, Amigas e Nós 4. Valeu!

Logo poderei tornar a encontrá-las!

Por fim, mas não menos importante, à Univali e à Capes, pela possibilidade de

fazer este doutorado por meio de concessão de bolsas de estudo.

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RESUMO

A internacionalização do currículo (IoC) é a incorporação de dimensões internacionais, interculturais e/ou globais em seu conteúdo com o objetivo de formar cidadãos/ãs que tenham perspectivas globais, comunicação intercultural e cidadania socialmente responsável. Estudos que tratam do papel do/a professor/a neste contexto são poucos, menos ainda os que discutem a atuação docente na IoC. Em função disto o objetivo geral desta tese foi compreender a atuação dos/as professores na IoC, a partir de suas percepções e teve como objetivos específicos: contextualizar a internacionalização do currículo; conhecer a visão do/a professor/a sobre a sua prática docente; reconhecer a relação entre a docência e a IoC; categorizar as atuações do/a professor/a na IoC. Para tanto, a metodologia utilizada foi a Grounded Theory Construtivista, proposta por Charmaz. Esta abordagem metodológica se caracteriza pela construção de uma teoria substantiva fundamentada nos dados da pesquisa. Os sujeitos que forneceram a amostragem teórica foram quatro docentes da Univali, que estão inseridos/as no processo de IoC desta instituição. O referencial teórico que subsidia a investigação é formado primordialmente por Leask, Clifford, De Wit entre outros, para a IoC; e Bond para as abordagens de IoC. Na contribuição para a espessura das categorias, também utilizou-se Santos, para falar sobre a sociologia das ausências, Jung, para falar sobre inconsciente coletivo, Lippman sobre estereótipo, e Dominguez sobre colonialismo acadêmico. A teoria substantiva emersa dos dados aponta que como sujeito na atuação docente na IoC, o/a professor/a expressa que o exterior, o internacional é a Europa e os USA, primordialmente, sinalizando, assim, a ausência dos demais países do globo; revela um heteroestereótipo que coloca esses países como melhores que o Brasil; e manifesta colonialismo acadêmico. Quanto à sua atuação, é professor/a, antes de ser docente na IoC e utiliza abordagens de IoC, mesmo sem saber; fala sobre internacionalização do currículo, as vezes de forma divergente à teoria existente; e valoriza a mobilidade estudantil. Palavras-chave: Internacionalização do currículo; Atuação docente; Abordagens de IoC.

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ABSTRACT

The internationalization of the curriculum (IoC) is the incorporation of international, intercultural and/or global dimensions into its content with the aim of developing citizens who have global perspectives, use intercultural communication and are socially responsible. Studies that address the role of the teacher in this context are scarce, and even more scarce are those that discuss the teaching action in the IoC. Thus, the purpose of this research was to understand the teacher´s actions in the internationalization of the curriculum, from their perceptions and, as specific objectives it sought to: contextualize the internationalization of the curriculum; know the teacher's view of their practice; recognize the relationship between teaching and IoC; and categorize the teacher's actions in the IoC. For that, the methodology used was the Constructivist Grounded Theory proposed by Charmaz. This methodological approach is characterized by the construction of a substantive theory based on the research data. The subjects who provided the theoretical sample were four professors of Univali, who are inserted in the IoC process of this institution. The theoretical framework that supports the research is comprised primarily by Leask, Clifford, De Wit, among others, for the IoC; and Bond for the IoC approaches. In the contribution to the construction of the categories, Santos was used to talk about the sociology of absences, Jung, to talk about the collective unconscious, Lippman on stereotype, and Dominguez on academic colonialism. The substantive theory that emerged from the data is that as a subject in the teaching activity in the IoC, the teacher expresses that what s/he considers abroad, the international, is Europe and the USA, mainly, signaling, therefore, the absence of other countries of the globe; this reveals a hetero-stereotype that places these countries as better than Brazil; and manifests academic colonialism. As for her/his action, s/he is a teacher, before being a teacher within the IoC, and uses IoC approaches even without being aware of that; s/he talks about internationalization of the curriculum, sometimes differing from the existing theory; and values student mobility. Key-words: Internationalization of the curriculum; Teacher´s action; IoC approaches.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quadro sinóptico do desenho da pesquisa ............................................... 33

Figura 2: Fluxograma ............................................................................................... 49

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: GIHE Adaptação do Guia de Boas Práticas para a Internacionalização do

Currículo .................................................................................................................... 28

Quadro 2: Confronto entre as principais escolas da GT ........................................... 37

Quadro 3: Perguntas norteadoras da entrevista ....................................................... 42

Quadro 4: Dimensões com suas macrocategorias ................................................... 44

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LISTA DE ABREVIATURAS

GT Grounded Theory

IaH Internacionalização at home (internacionalização doméstica)

IES Instituição de Ensino Superior

IoC Internacionalização do currículo

PDPI Plano de Desenvolvimento do Processo de Internacionalização

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 CONTEXTUALIZANDO: CURRÍCULO E O PROFESSOR NA IoC ...................... 23

2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DO CURRÍCULO (IOC) ............................................ 23

2.2 O PROFESSOR NA IOC ..................................................................................... 28

3 DELINEAMENTO METODÓLOGICO .................................................................... 33

3.1 O DESENHO E O PROCESSO DA PESQUISA ................................................. 40

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................... 47

4.1 CATEGORIA 1: SER PROFESSOR NA IOC – SUJEITO NA ATUAÇÃO DOCENTE ................................................................................................................. 49

4.1.1 O exterior fica na Europa e nos Estados Unidos – a sociologia das ausências .................................................................................................................................. 50

4.1.2 Eles são melhores que nós – heteroestereótipo .............................................. 52

4.1.3 Precisamos seguir o exemplo deles – colonialismo acadêmico ....................... 56

4.2 CATEGORIA 2: SER PROFESSOR - ATUANDO NA DOCÊNCIA ..................... 58

4.2.1 Utilizando estratégias de ensino e abordagens de IoC .................................... 58

4.2.2 Falando sobre IoC ............................................................................................ 65

4.2.3 Refletindo sobre Mobilidade Acadêmica .......................................................... 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 71

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 74

APÊNDICE ................................................................................................................ 81

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1 INTRODUÇÃO

O mundo tem alcance global e é líquido (BAUMAN, 2007). Globalizado,

testemunha relações pessoais e comerciais cujas barreiras não são mais geográficas.

Líquido, experimenta a liquidez da vida, instável, modificando-se a cada instante, a

cada acontecimento. De permanente a vivência em si, inalterada na sua essência,

alterando-se na forma de sua materialização. No centro, e razão de ser de sua

existência: o Ser Humano, as Pessoas!

Assim também a educação. A mesma essência, mas a forma de teorizá-la e

praticá-la se modificando com as mudanças do passar dos séculos. Educação que

agora também é líquida e global, que é multicultural, que é multilíngue, que se

internacionaliza, e que tem, pelo menos na teoria, como objetivo primeiro, e último,

como objetivo único: o Ser Humano! Mais especificamente a evolução, o crescimento

deste, individual e coletivamente. Educação que, no ensino superior, então, passa a

se defrontar “com um desafio duplo: a necessidade de estar engajada globalmente

enquanto permanece conectada de maneira útil localmente” (HUDZIK, 2011, p. 12,

minha tradução). Que nos mobiliza, assim, enquanto professores/as a repensar a

nossa prática e nossos valores.

Motivada, então, pela busca do Ser Humano no contexto da educação,

delimitou-se o escopo da pesquisa para o ser professor/a, como sujeito na atuação

docente, por isso ser substantivo, bem como atuando na docência, o ser verbo, em

função da especificidade de tal empreitada: o objeto de uma pesquisa exige recortes

bem demarcados.

Na época era professora de inglês no ensino superior nesta Instituição de

Ensino Superior (IES). Também era, e sou, apaixonada por culturas e povos de

nacionalidades diferentes, por conhecer o que temos em comum, povos de

idiossincrasias tão distintas. Além disso, presenciava-se, como ainda agora, um

ambiente fervilhante sobre a internacionalização desta Instituição de Ensino Superior

onde trabalhava e eu mantinha contato próximo com o Professor Dr. José Marcelo

Feitas de Luna, que iniciou o movimento de internacionalização desta IES, e que é

referência, não só nesta universidade, mas em nível nacional e internacional, sobre a

internacionalização do currículo (IoC), e de quem passei a ser orientanda nesta

pesquisa. Assim, meu olhar se voltou para o ser professor da IoC. Este objetivo se

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manteve deste o projeto para seleção para o doutorado. Modificou-se o que e como

olhar, mas sempre esteve relacionado com o/a professor/a da IoC.

Conquanto entendo que pensar a internacionalização das universidades em

termos ideais e românticos não leva à efetivação da internacionalização da IES, e que

é necessário tratá-la com profissionalismo e, sim, também como um produto que traga

benefícios aos/às alunos/as envolvidos/as, bem como ao corpo docente e

administrativo, ou seja a toda instituição, vejo a necessidade de se ter cuidado com a

motivação para a internacionalização, para que esta não seja apenas vista como um

produto com fins lucrativos, mas sim, como aquela que prepara os/as alunos/as

eticamente para a prática cidadã e profissional (LEASK, 2015).

É preciso estarmos atentos/as, também, para o colonialismo acadêmico, que

torna legítimo, ou mesmo único, o conhecimento disseminado pelo polo hegemônico

(FERNANDES et al., 2017), e que, assim, vai de encontro à internacionalização, pois

torna ausentes os outros países do mundo e inviabiliza, assim, a interrelação entre

esses, entre todos os países do globo e não restringe seu alcance aos países que

detém o poder hegemônico.

Isto posto, passo a discorrer sobre as teorias que definem a internacionalização

da educação, bem como a IoC. Acredita-se que a motivação, ou mesmo a força

propulsora para a internacionalização das IES, se deva à crescente aceleração

direcionada para a diversidade cultural e linguística que presenciamos e que remete

a uma educação multicultural (MOREY, 2000), e que é provocada pela globalização

que, dada suas características, dilata as diversas interfaces existentes entre os países

e os povos do mundo (LEASK, 2009). Instiga, assim, as Universidades a adaptarem

suas políticas e abordagens para atender a demanda dessa sociedade globalizada

(BOURN, 2011), uma vez que a educação superior vê-se transformando numa direção

irreversível rumo a “um ambiente de dimensão mundial” (MARGINSON, 2003, p. 2),

ou seja, rumo à internacionalização.

Contudo, a internacionalização da educação numa Instituição de Ensino

Superior (IES) de acordo com Knight (2003) é aquela, que, nos níveis institucional,

setorial ou nacional, se define como o processo de integração na dimensão

intercultural, internacional ou global no propósito, funções ou na prestação dos

serviços educacionais.

Na prática, uma das formas desta internacionalização se dá pela mobilização

acadêmica de estudantes e docentes. Também a demanda de experiências

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internacionais da própria instituição, em função da participação dos/as professores/as

em atividades internacionais, é apontada por Agnew e VanBalkom (2009) como um

dos fatores que influenciam para a internacionalização das IES. Ou ainda pela

chamada internacionalização at home (IaH), ou internacionalização doméstica, que é

aquela que promove o desenvolvimento da competência intercultural e internacional

dos/as alunos/as no próprio campus (KNIGHT, 2008).

Por ser no seu currículo que as marcas da internacionalização das IES são

percebidas e registradas, formalmente ou não, seu “protagonismo”, como se existisse

“de fato” (ARAÚJO; SILVA, 2015, p. 85), submete os atores envolvidos em seu

processo às suas necessidades e pressiona em direção às ações que a materializam.

A internacionalização de um currículo (IoC) requer mudança não apenas no

desenho deste currículo como em sua prática. Dispõe seus elementos reconhecíveis:

perspectivas globais, comunicação intercultural e cidadania socialmente responsável

(CLIFFORD, 2013) e se caracteriza pela “incorporação de dimensões internacionais,

interculturais e/ou globais em seu conteúdo” (LEASK, 2009, p. 209). Na prática, a IoC,

mais comumente, se dá por meio das abordagens do acréscimo, da infusão e da

transformação (BOND, 2003; BANKS, 2004).

É, assim, nesta materialização da internacionalização por meio do currículo que

se destaca o papel do ser professor/a, do/a docente, que, juntamente com os/os

gestores/as, funcionários/as administrativos/as e alunos/as, têm um papel a

desempenhar nesse processo: dará à internacionalização os seus contornos. Coloca,

ainda, o framework da IoC e as equipes que modulam as disciplinas para a construção

dos currículos no centro do processo de internacionalização (LEASK, 2015).

São os/as docentes, já afeitos à miríade de diferenças culturais, vivenciada em

cada sala de aula, que agora ampliam seu universo intercultural para atuarem na

internacionalização do currículo, e que, pelas características de sua função, se veem

envolvidos diretamente com seus/suas alunos/as nos processos de ensino e

aprendizagem.

A competência intercultural desejada na formação dos/as discentes, para que

“desempenhem seu papel (profissional, social e emocionalmente) em um contexto

internacional e multicultural” (NILSSON, 2003, p. 31) se espera também do/a

professor/a, não só como conhecedor/a e transmissor/a de teoria acerca do assunto

no qual é especialista, mas como ele/a próprio/a um ser interculturalmente

competente, para lidar com as situações adjacentes a esse ambiente.

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Este/a professor/a que também é, acredito, um/a mediador/a intercultural. Ou

seja, o/a professor/a mediador/a intercultural como aquele/a que em situações de

conflito, advindas das diversidades culturais vivenciadas em uma sala de aula, possa

“garantir a igualdade de acesso e de sucesso a fim de promover a qualidade e

respeitar a diversidade cultural” (UNESCO, 2009, p. 4). Um/a professor/a que, não só

atue como mediador/a intercultural, mas, e primordialmente, viva e viralize a

Pedagogia – assim, com letra maiúscula, como pensada originalmente - aquela que

promove “educação para todos”, que seja mediador/a da aprendizagem de seus/as

estudantes, que de fato pratique a educação, que tem como objetivo promover o

desenvolvimento humano, e que tem, assim, como seu foco o indivíduo, o ser e sua

autonomia como cidadão. Educação que visa atender a todas as formas de

desenvolvimento humano, quer sejam nacionais ou globais e, em sua

transversalidade, contemple, entre outros aspectos, a pluralidade e o respeito às

diferenças, que, existentes dentro de um único país, se potencializam em um Estado

geográfico das dimensões do Brasil, apresentando diferenças culturais, para

mencionar apenas uma, que requerem preparo para lidar com suas manifestações e

materializações (LUNA, 2016).

Tendo em vista o acima exposto, a pergunta que desejo responder nesta

pesquisa é: como atua o professor na IoC? Como os sujeitos da pesquisa são

profissionais da Univali, esta pergunta de pesquisa leva em consideração o

conhecimento de que esta IES está no processo de internacionalização do currículo

desde 2010, tendo criado o Plano de Desenvolvimento do Processo de

Internacionalização (PDPI) em 2011, e a Resolução da Política de Internacionalização

da Univali em 2014.Também promove oficinas sobre IoC no seu programa de

formação continuada desde 2010, com o objetivo de orientar os/as professores/as

quanto à incorporação de componentes de internacionalização no currículo, que

tratam de internacionalização de IES, internacionalização de curso no campus,

currículo internacionalizado, abordagem do acréscimo, abordagem da infusão,

abordagem da transformação, principais bloqueadores e facilitadores da

internacionalização, bem como exercícios práticos de internacionalização em seus

respectivos planos de ensino. Ou seja, os/as professores/as desta IES estão

inseridos/as num contexto educativo que vivencia um processo de internacionalização

dos currículos já há alguns anos.

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Faz-se necessário pontuar, então, a profissão e a identidade docente. As

teorias sobre o assunto evidenciam posições diversas quanto à definição desta

profissão, mas têm em comum que a profissão docente engloba saberes, habilidades,

competências, prática docente e atitudes, como características inerentes, e

necessárias, ao seu exercício (GATTI, 2016; TARDIF, 2002). Quanto à identidade

docente é uma realidade que evolui e se desenvolve, tanto pessoal como

coletivamente, que se desenvolve durante a vida, não é um atributo fixo para uma

pessoa, e sim um fenômeno relacional (MARCELO, 2009). Neste movimento entre a

evolução pessoal e coletiva se manifesta o inconsciente coletivo que parte das

características individuais até às coletivas e impessoais e considera a inserção do

indivíduo em uma família, que está inserida numa cultura ou etnia e que, por sua vez,

é da espécie humana (JUNG, 2000), e os estereótipos, ou seja, a imagem mental que

todos/as nós seres humanos partilhamos sobre determinado evento, que pode, ou

não, corresponder à realidade (LIPPMANN, 1922) e que, deste modo, influenciam a

forma de ver o mundo dos/as professores/as, bem como a sua atuação docente.

Quanto ao/à professor/a da e para a IoC, no artigo A Foundation for the

Internationalization of the Academic Self (Um Alicerce para a Internacionalização do

Eu Acadêmico) Sanderson (2008) preconiza a importância de conhecer a si mesmo/a

como condição para entender melhor os/as Outros/as (o autor enfatiza esta palavra

utilizando inicial maiúscula). Remete, ainda, ao conceito de cosmopolitanismo como

promotor de internacionalização de perspectivas pessoais e profissionais.

Com relação ao/à professor/a ideal, é também Sanderson (2011), em seu artigo

Internationalisation and teaching in higher education (Internacionalização e Ensino na

Educação Superior), que se propõe a “fornecer um caminho a seguir para desvelar a

noção de um/a professor/a "ideal" e autêntico/a para o ensino superior

contemporâneo, que apoie a contemplação do desenvolvimento de perspectivas

internacionais e interculturais no ensino” (SANDERSON, 2011, p. 661, destaque do

autor, minha tradução).

A literatura que aborda especificamente o/a professor/a da, e, para a IoC, não

é vasta. Na verdade, de acordo com Leask e Bridge (2013) os estudos sobre a

internacionalização do currículo no ensino superior são poucos, menos ainda sobre o

perfil docente do/a professor/a da IoC. O número de artigos sobre a

internacionalização do currículo se expandiu desde então, contudo sobre o/a

professor/a da IoC continua escasso. O que se encontra são artigos e livros que ao

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discutir a IoC acabam, como consequência, abordando o assunto, contudo, seu foco

não é o professor da IoC.

Nesses, o que se percebe são características prescritivas, como, por exemplo,

no quadro de Teekens (2000) sobre “O Perfil Do/a Docente Ideal Para A Aula

Internacional”, em que descreve conhecimentos, habilidades, competências e atitudes

deste/a docente. Todas as frases começam dizendo o que o/a professor/a deve ser,

fazer ou ter para ser um/a professor/a universitário/a em uma aula internacional.

Importante lembrar que o livro, onde se apresenta o quadro, trata da Educação

Superior Internacional, ou seja, trata de uma sala de aula onde alunos/as de várias

nacionalidades se encontram, e não exatamente sobre IoC.

Clifford (2013) prevê que o sucesso de um currículo internacionalizado depende

de uma gama de estratégias de ensino que demonstrem perspectivas internacionais.

Essas estratégias de ensino cabem ao/à professor/a e à gerência de ensino organizar.

Leask (2015) em seu livro intitulado “Internationalizing the Curriculum”, defende que

um currículo internacionalizado e que, por isso, prepare os/as alunos eticamente para

a prática cidadã e profissional, requer uma equipe acadêmica engajada e

comprometida.

Na busca por artigos, dissertações e teses que tratem do assunto, com as

chamadas “O professor da internacionalização nas IES” e “O papel do professor na

internacionalização do currículo”, dois artigos trazem conteúdo que se relaciona com

o tema aqui pesquisado. O primeiro se refere ao papel do/a professor/a como

catalisador/a da internacionalização, principalmente na pós-graduação, em função de

sua rede de relacionamentos (DUARTE et al., 2012) e o outro refere as publicações

acadêmicas como elemento da internacionalização (BIAVA; STALLIVIERI, 2017),

colocando, assim, também o/a professor/a pesquisador/a como um papel deste/a na

IoC.

Green e Whitsed (2015) em seu livro “Critical Perspectives on Internationalising

the Curriculum in Disciplines: Reflective Narrative Accounts from Business, Education

and Health” (Perspectivas Críticas sobre a Internacionalização do Currículo: Relatos

Narrativos Reflexivos da Administração, Educação e Saúde) têm o objetivo de fazer

ouvir as vozes do corpo docente sobre a internacionalização do currículo, considerado

por eles uma lacuna a ser preenchida, assim como discorrer, também, sobre o que

significa a IoC na prática. O livro apresenta 19 histórias, no formato de artigos

científicos, sobre a experiência de professores e professoras na área de

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administração, educação e saúde. Como pontuam os autores, “a ênfases é em

histórias reais que refletem sobre o processo, bem como sobre os resultados, da

prática da internacionalização do currículo” (p. 4).

Importante pontuar aqui que a bibliografia basilar desta pesquisa se fixa na

escola australiana sobre IoC bem como na brasileira, primordialmente, que é também

teoria pesquisada e utilizada pelo Grupo de Pesquisa Estudos Linguísticos e

Internacionalização do Currículo deste programa de doutorado.

É na busca pela resposta das perguntas levantadas até aqui, e outras, que se

pautam, assim, as ações acadêmico-científicas de minha tese de doutorado. Que me

fizeram buscar por teorias que aprofundassem meu conhecimento sobre IoC, sobre

o/a professor/a da IoC e sobre metodologias que possibilitassem alcançar meu

objetivo, que pudessem materializar meu olhar sobre a atuação do/a professor/a na

IoC. Para tal utilizei a a Grounded Theory, assim denominada para designar o método

utilizado para gerar teorias, como, também, o produto final de sua aplicação, pois “o

termo se refere a ambos, o produto da pesquisa e o método analítico de produzi-lo”

(CHARMAZ, 2008, p. 397, minha tradução).

Utilizada em pesquisas qualitativas, mas também nas quali-quantitativas, a

Grounded Theory, se caracteriza, como o nome sugere, como metodologia que

possibilita a criação de uma teoria substantiva baseada nos dados e que tem como

objetivo um grupo ou situação específica, não visa generalizar além de sua área

substantiva.

Irei utilizar o nome em inglês, Grounded Theory, em função da dificuldade de

tradução da palavra grounded com o sentido que tem nesta abordagem, em

consonância com o que pontua Tarozzi (2011). Assim, optei por utilizar o nome no

original, doravante apenas GT.

A coleta dos dados, na GT, se dá a partir de entrevistas com as pessoas

envolvidas no evento social que está sendo pesquisado. No caso desta pesquisa, os

sujeitos são professores e professoras de graduação da Univali, que estão

diretamente envolvidos/as no processo ensino/aprendizagem, e, também, na IoC. É a

partir de sua percepção sobre o evento social pesquisado, a internacionalização do

currículo, que se pretende compreender a atuação do/a professor/a na IoC. Foram

entrevistados/as quatro docentes, sendo duas mulheres e dois homens, que

trabalham na instituição como professores/as de graduação há mais de oito anos, de

disciplinas diversas, das áreas de humanas e exatas, com o objetivo de criar uma

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teoria substantiva sobre a atuação do/a professor/a na IoC. O número de entrevistas

não é previsto antes de se iniciar a pesquisa, mas sim, no decorrer da mesma, quando

ocorre a saturação, ou seja, quando mais nada de novo emerge dos dados.

O detalhamento do desenho metodológico será feito no capítulo três desta tese.

Contudo, devido às “três principais linhas ou “escolas” que o método assumiu nos

últimos anos” (TAROZZI, 2011, p. 57): (1) GT clássica (Glaser); (2) GT full conceptual

description; e (3) GT construtivista (Charmaz), cabe pontuar que está pesquisa adotou

a GT Construtivista de Charmaz. A linha construtivista prevê, entre outras coisas, que

“o conhecimento é fruto de uma coconstrução entre pesquisador (a) e sujeitos”

(TAROZZI, 2011, p. 52), colocando, assim, a dimensão do significado no centro da

busca.

Levando em consideração o acima exposto e considerando a escassez de

estudos na literatura da internacionalização do currículo (IoC), sobre a atuação do/a

professor/a na IoC, assume-se como questão de pesquisa a seguinte: qual a atuação

do professor para a IoC? Bem como se traçam os objetivos do estudo, que tem como

objetivo geral: compreender a atuação do/a professor/a na IoC a partir de suas

perspectivas. E como objetivos específicos: contextualizar a internacionalização do

currículo; conhecer a visão do professor sobre a sua prática (docente); reconhecer a

relação entre a docência e a IoC; categorizar as atuações do professor na IoC.

Ao perseguir os objetivos acima relacionados, penso contribuir de forma

teórica, empírica e metodológica. Teórica, considerando que “os estudos sobre

internacionalização do currículo em educação superior são ainda mais raros [do que

os estudos sobre o currículo]” (LEASK; BRIDGE, 2013, p. 79), e que menos estudos

ainda são voltados para o professor na IoC. Desta forma, o estudo em pauta fornece,

além da compreensão sobre a atuação do/a professor/a da IoC, uma teoria

substantiva sobre o tema e uma revisão da literatura sobre os assuntos que lhe

serviram de arcabouço teórico.

Empírica, uma vez que os movimentos da internacionalização das IES no Brasil

ainda não atingiram sua maioridade, e que estas poderão, assim, com base nos

resultados da pesquisa, pautar suas ações em relação à atuação do/a professor da

IoC, bem como, sua formação. Poderá, também, levar a novos estudos sobre o perfil

docente, levando em consideração a perspectiva dos/as alunos/as.

A contribuição metodológica se dá pelo uso da Grounded Theory, pois vem

suscitando interesse por parte de outros/as colegas, bem como de professores/as,

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com quem tenho discutido e refletido sobre o assunto e para quem tenho sugerido e

fornecido bibliografia, tendo, inclusive, participado da disciplina Seminário Doutoral,

deste programa de doutorado, quando da apresentação desta metodologia por alunas

da disciplina, para fomentação de contrapontos e explicação de dúvidas.

Este estudo está estruturado de forma a apresentar cinco capítulos, iniciando

com as considerações iniciais, seguidas pela contextualização sobre a IoC, bem como

sobre a identidade docente, no capítulo dois. O delineamento metodológico é

apresentado no capítulo três e o quarto capítulo, além da análise e discussão dos

resultados, apresenta a literatura pertinente que empresta espessura às categorias

emersas. As considerações finais são trazidas no capítulo cinco, seguido das

referências bibliográficas.

Com o objetivo de não usar sempre barras quando for escrever sobre mulheres

e homens utilizarei marcadores de gênero masculinos no capítulo dois e quatro

marcadores de gênero feminino nos capítulos três e cinco, em ambos os casos,

contemplo ambos os sexos ao marcar apenas um. Assim, quando mencionar

professores estou contemplando professores e professoras, quando mencionar

alunas, contemplo alunas e alunos. Reitero que não se trata de banir os homens do

cenário, antes, de trazer as mulheres também na representação escrita, um exercício

de inclusão. Exercício este que, também desejo, funcione como provocação para nos

fazer olhar o/a outro/a, o/a que é diferente, um exercício de interculturalidade, que

bem se coaduna com o que apresenta esta tese.

Para finalizar, trago as apropriações das contribuições da banca de

qualificação: definição da linha da Grounded Theory, redimensionamento e

reformulação dos enunciados dos objetivos, variabilidade do corpus, consistência dos

conceitos e empiria mais evidenciada para garantir coerência com a análise, as quais,

acredito ter materializado.

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2 CONTEXTUALIZANDO: CURRÍCULO E O PROFESSOR NA IoC

Considerando que o objetivo desta pesquisa é compreender a atuação do

professor na IoC, o propósito deste capítulo é trazer a contextualização da

internacionalização do currículo, bem como do professor na IoC.

2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DO CURRÍCULO (IOC)

O termo currículo é polissêmico, tem sua origem do latim, curriculum, cujo

significado é pista de corrida (SILVA, 2011). Pode ser ainda jornada (ideia de

sequência e continuidade); conjunto de atividades de aprendizagem (LUZ, 1982); ou

rol de conteúdos; um conjunto de disciplinas; uma grade curricular (FREITAS, 2009).

A formalização das ações educacionais de uma instituição de ensino se dá no seu

currículo, que é, de acordo com Silva (2011), o documento de identidade da escola.

Além disso, o currículo também é “lugar, espaço, território. O currículo é relação de

poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso” (SILVA, 2011, p. 150).

É, ainda, o currículo que guia as ações dos docentes para a materialização de

seu planejamento e prática. E, para Leask (2015), é mais do que uma lista de tópicos

para serem estudados pelos alunos, é um currículo na prática, e como tal é visto como

“inseparável do ensino e da pedagogia” (LEASK, 2015, p. 07). Esta visão reforça o

papel do professor na formulação e consecução do currículo escolar, que em função

também das diretrizes de ensino/aprendizagem de cada IES, é quem efetivamente

planeja e ensina por meio de ações pedagógicas. Ainda,

Currículo é o veículo pelo qual o desenvolvimento dos elementos epistemológicas, da práxis e ontológicos pode ser incorporado na vida e aprendizado dos estudantes de hoje, garantindo que eles se formem prontos e dispostos a fazer uma diferença positiva no mundo de amanhã. (DE WIT; LEASK, 2015, p. x, minha tradução).

É no Plano de Ensino que se formalizam e se registram os objetivos,

estratégias, atividades, e programação de uma determinada disciplina. Devido a isso,

é denominado currículo manifesto por Banks (2001), ou formal por Leask (2015, p.

08), que também menciona o currículo informal, que é representado pelos “vários

serviços de suporte e atividades e opções adicionais organizadas pela universidade

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que não são avaliadas e não fazem parte do currículo formal, mas podem levar ao

aprendizado”. Como exemplo, as atividades na comunidade do entorno escolar,

praticadas pelos alunos bolsistas nos programas de extensão.

Em oposição ao currículo formal ou manifesto, Banks (2001) refere-se à

importância do currículo “latente” ou “oculto”, o qual tem sido definido como aquele

que nenhum professor ensina explicitamente, mas que todos os alunos aprendem.

Ou, como refere Leask (2015), o currículo oculto são as mensagens não intencionais,

implícitas e ocultas que são passadas para os alunos, às vezes inconscientemente.

Como exemplo deste último ela aponta o livro texto escolhido pelo professor,

salientando de forma indireta o ponto de vista de quem é importante e, por

consequência, de quem não é. Este elemento faz parte tanto do currículo formal como

do informal. É a parte poderosa da cultura escolar que comunica aos estudantes

atitudes da escola com relação a uma série de questões e problemas, incluindo a

forma como a escola os vê como seres humanos.

Formal, informalmente ou de maneira oculta, o currículo vai se modificando em

função do processo de internacionalização, mas, as diretrizes curriculares não sofrem

modificações apenas em função deste processo e sim, como argumenta Luna (2016),

aquele apresenta semelhanças com a revisão e o redimensionamento curricular pelos

quais passam as instituições educacionais em todo o mundo:

Motivações relacionadas à mudança na legislação educacional, na forma de diretrizes curriculares, bem como aquelas relacionadas ao chamado mercado de trabalho costumam redundar em inclusão ou supressão de disciplinas, de conteúdos programáticos, de referências bibliográficas, além de ampliação ou redução de carga-horária ou créditos escolares. (LUNA, 2016, p. 44).

Mas, de fato, as mudanças relacionadas à IoC são motivadas, no caso

específico, em função da própria internacionalização das instituições de ensino

superior. Internacionalização que não é uma prerrogativa da atualidade, pois, desde

tempos remotos, estudantes universitárias viajam a outros países com o intuito de

obter novos conhecimentos.

O que se percebe, no entanto, nas últimas décadas do século XX, é um foco

especial na discussão e formalização desse processo. Definições têm sido propostas,

como a de Knight (1994), para quem a internacionalização da educação, numa IES,

constitui um processo de integração de uma dimensão internacional no ensino, na

pesquisa e nas tarefas administrativas.

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Hudzik (2011) sinaliza essa internacionalização como integral, fazendo

referência a um processo complexo que irá permear todos os aspectos da educação

superior. Em função disto, por exemplo, vê-se os serviços educacionais ingressarem

na esfera da Organização Mundial do Comércio - OMC, onde estão sujeitos às leis do

mercado (SIQUEIRA, 2003). Passa, também o Estado, de acordo com Morosini

(2012), a desempenhar seu papel de avaliador em todos os níveis do sistema

educacional, o que impacta principalmente na esfera do ensino superior, pois “a

globalização considera como um dos principais valores o conhecimento e neste, o

advindo de patamares superiores, onde a busca de educação e certificação

continuada se faz presente” (MOROSINI, 2012, p. 4). Fatores esses que fazem com

que a internacionalização das IES se instale como um ser independente, ativo, que

“assume protagonismo como se existisse “de fato” [...]” (ARAÚJO; SILVA, 2015, p.

85), e, devido a isso, submete os atores envolvidos em seu processo às suas

necessidades.

Em função das características acima arroladas, é no currículo que as marcas

da internacionalização das IES são percebidas e registradas, formalmente ou não, de

forma manifesta ou oculta, e onde esse “protagonismo” pressiona em direção às

ações que a materializam. Exemplo disto é quando docentes do ensino superior se

inquietam na busca de caminhos para tornar seu plano de ensino internacionalizado

e sua prática, internacionalizante.

Além de serem influenciadas pela interconexão global, as IES são agentes

dessa internacionalização (SCOTT, 2000) e, para De Wit (1998) além de um processo,

a internacionalização é também uma resposta à globalização, bem como se refere a

um procedimento intencional das IES na integração de uma dimensão internacional,

intercultural ou global quanto ao propósito, as funções e a prestação de serviços

educacionais, com a finalidade de melhorar a qualidade da educação e fazer uma

contribuição significativa para a sociedade. Essa intencionalidade se percebe também

em Bégin-Caouette (2012, p. 3) quando considera que “embora o processo de

globalização influencie todas as instituições, essas instituições podem ainda escolher

como responder” e em Altbach e Knight (2007, p. 291), para quem a “globalização

pode ser inalterável, mas a internacionalização envolve muitas escolhas” e para Leask

(2015, p. 41) “envolve decisões sobre os objetivos do programa e do curso”.

Assim, além de promover a interação entre os estudantes de vários lugares do

mundo, é preciso, também, prepará-los para serem competentes interculturalmente,

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para que possam transitar pelas diferenças culturais e linguísticas de forma

satisfatória e vivenciar a diversidade cultural em todo seu potencial de

desenvolvimento humano e social.

No campus universitário, a relação entre o que marcadamente difere, do já

estabelecido e vivenciado pelas pessoas que fazem deste o seu lugar de

aprendizagem, de desenvolvimento formal e pessoal, essa dicotomia é também

percebida, como não poderia deixar de ser, e é preciso que seus integrantes estejam

preparados para lidar com suas nuances e materializações.

Uma das formas da materialização da internacionalização de uma instituição

de ensino superior, assim, se dá pela internacionalização do currículo que:

É a incorporação de dimensões internacionais, interculturais e/ou globais no conteúdo do currículo, bem como os resultados de aprendizagem, atividades de avaliação, métodos de ensino e serviços de suporte de um programa ou estudo. (LEASK, 2009, p. 209; 2015, p. 43).

Em função da importância do currículo para a internacionalização da educação,

Leask (2015), em seu livro Internationalizing the Curriculum propõe cinco fases do

processo de internacionalização do currículo, que são: 1) Revisar e refletir - busca

saber em que medida um currículo é internacionalizado e serve para estimular a

discussão e reflexão sobre o mesmo; 2) Imaginar - busca novas formas de pensar e

atuar, “imaginar novas possibilidades” (p. 47); 3) Revisar e planejar - foca nas

mudanças a serem feitas no currículo para que este se torne internacionalizado,

estágio em que são tomadas decisões de curto, médio e longo prazo para a efetivação

da internacionalização do currículo; é neste estágio que se identificam os blockers e

enablers (bloqueadores e facilitadores) do processo; 4) Atuar - analisa se os objetivos

para internacionalizar o currículo foram atendidos, o plano para internacionalizar o

currículo é implementado e prepara-se a avaliação do mesmo. Este estágio pode

envolver o desenvolvimento profissional dos professores no ensino e avaliação das

habilidades interculturais e, também, negociar e implementar novas condições de

ensino; 5) Avaliar - questiona se os objetivos formulados para a internacionalização

do currículo foram alcançados, analisa a efetividade das mudanças propostas.

Esta disposição não pode ser tomada ao pé da letra, como enfatiza Leask, mas

com certeza serve de guia para o objetivo proposto e salienta o papel do professor

nesse processo, pois “se a equipe acadêmica não tiver experiência, habilidades ou

conhecimentos necessários para internacionalizar o currículo, é provável que eles não

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se envolvam com o conceito ou adotem um foco restrito” (LEASK, 2015, p. 03, minha

tradução).

Na prática, a internacionalização do currículo se materializa por meio de três

abordagens, a abordagem do acréscimo (add on), da infusão e da transformação. De

acordo com Bond (2003), a abordagem do acréscimo consiste em adicionar às

atividades curriculares uma leitura ou atividade sobre uma questão intercultural ou

internacional, ou convidar um visitante para dar uma palestra ou promover uma

discussão sobre assuntos internacionais ou interculturais. É considerada a mais fácil

pela maioria dos professores e, alerta a autora, que dentre as abordagens, esta tem

a perspectiva mais limitada (BOND, 2003), uma vez que não busca promover a

criticidade.

A abordagem da infusão consiste, como o próprio nome revela, na infusão de

“conhecimentos, atitudes e habilidades interculturais” (BOND, 2003, p. 9, minha

tradução). Apesar de requerer mais preparação por parte dos professores, pode gerar

muito mais recompensas. A autora cita como exemplos da abordagem de infusão para

a mudança no currículo, os seguintes (idem):

(1) repensar os objetivos do curso para incluir questões e abordagens

interculturais;

(2) selecionar leituras e materiais para o curso que refletem diversos pontos de

vista sobre eventos / tópicos / questões; e

(3) trazer as experiências dos alunos para o curso como um meio de enriquecer

a aprendizagem.

Com relação à abordagem da transformação, esta “requer uma mudança na

forma como nós entendemos o mundo” (BOND, 2003, p. 9-10, minha tradução) e tem

como foco possibilitar ao aluno “movimentar-se entre duas ou mais visões de mundo”

(idem). Está condicionada a uma mudança abrangente, de todo o curso e do currículo.

Além daquelas abordagens, também várias estratégias de IoC são sugeridas

pelo Guia de Boas Práticas para a Internacionalização do Currículo da Griffith

University de Barker (2011), – doravante GIHE –, que se constitui de um documento

com exemplos de estratégias para internacionalizar o currículo. Na sua versão integral

contém 31 exemplos práticos listados e pode ser acessado no apêndice A. Este é

apresentado da seguinte forma:

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Quadro 1: GIHE Adaptação do Guia de Boas Práticas para a Internacionalização do

Currículo

Currículo Padrão Currículo Internacionalizado Exemplos Práticos

Resultados da aprendizagem do estudante

Um foco nos resultados da aprendizagem global,

internacional e intercultural do estudante.

Inclui alvos/objetivos do curso que focam no desenvolvimento do conhecimento, habilidades,

atitudes e comportamentos interculturais, ou

desenvolvimento de uma segunda língua.

Fonte: Adaptado de Barker (2011).

A forma como é apresentado, mostrando exemplos da transição do currículo

padrão, ou seja, sem as perspectivas da IoC, para o currículo internacionalizado, se

constitui num guia prático para o uso das abordagens de IoC.

Antes de apresentar a seção seguinte, cabe mencionar a mobilidade estudantil,

ou seja, alunos se deslocando para outros países, geralmente mais desenvolvidos,

como é o caso dos estudantes brasileiros, como uma das características da

internacionalização da educação superior, que “agora, mais do que nunca, existem

mais instituições em mais países que oferecem mais programas acadêmicos para

mais diversos estudantes.” (SANDERSON, 2008, p. 2, minha tradução). Conquanto

seus benefícios sejam inegáveis, tornou-se, também, um produto de exportação

(GREEN; WHITSED, 2015), ou commodity (DE WIT, 2013). O que torna necessário,

não só ao professor, mas a os envolvidos com a IoC, criticidade para saber discernir

entre a mobilidade que promove o desenvolvimento da cidadania global e o produto

de exportação explorado pelo poder hegemônico.

2.2 O PROFESSOR NA IOC

Inicio esta seção discorrendo sobre a identidade docente. Para Jenkins (2014)

as identidades de grupos são uma poderosa forma de identificação em função de sua

capacidade de mobilizar pessoas. Além disso, para Ciampa (1989) é num grupo

social, caracterizado por sua história, interesses, entre outros aspectos, que se dá o

reconhecimento de si, no reconhecimento da identificação dos outros participantes do

grupo.

A convivência com a profissão professor inicia-se na infância, o que equivale a

dizer que um professor começa a se identificar com a profissão docente já naquela

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fase da vida. E está, assim, em permanente formação, não só por essa identificação

ao longo da vida escolar, mas pela característica intrínseca de continuum de qualquer

grupo social de estar sempre mudando ou, como destaca Marcelo (2009), a identidade

docente é algo não estanque, que acompanha o desenvolvimento do profissional

também como ser humano. Para ele a identidade docente é uma realidade que evolui

e se desenvolve, tanto pessoal como coletivamente, uma vez que a identidade não é

algo que se possua, mas sim algo que se desenvolve durante a vida, não é um atributo

fixo para uma pessoa, e sim um fenômeno relacional (MARCELO, 2009).

Identidade docente, que, de acordo com Garcia

Refere-se a um conjunto de características, experiências e posições de sujeito atribuídas (e autoatribuídas) por diferentes discursos e agentes sociais aos docentes no exercício de suas funções, em instituições educacionais mais ou menos complexas e burocráticas. (GARCIA, 2010, p. 01).

Intelectuais transformadores é como Giroux (1997) define os professores, e,

ainda de acordo com este autor, para esses atuarem como tal, necessitam criar um

discurso político e conjunção de suposições, necessitam “reconstruir um discurso no

qual o professor possa ser definido através de categorias de democracia, autorização

e possibilidade” (GIROUX, 1997, p. 27). Pontua, ainda, que o saber é do professor! E

está relacionado com a pessoa e a identidade dele, além disso, esse saber está

indissociado das outras dimensões do ensino.

Esse papel de intelectual, de acordo com Mellowki e Gauthier (2004), em seu

artigo intitulado “O professor e seu mandato de mediador, herdeiro, intérprete e

crítico”, se concretiza na tarefa de mediação. Pontua que o papel do professor não se

restringe ao de portador, intérprete e crítico de uma cultura, mas também,

a de produtor e de divulgador de conhecimentos, técnicas e procedimentos pedagógicos, e de agente de socialização, de intérprete e de guardião responsável pela consolidação das regras de conduta e daquelas maneiras de ser valorizadas pela sociedade e pela escola. (MELLOWKI; GAUTHIER, 2004, p. 545).

Quanto ao papel de herdeiro, crítico e intérprete, de que falam Mellowki e

Gauthier (2004), se percebe herdeiro pois “faz parte de uma cultura que a constitui”

(p. 556), de uma coletividade, de uma história; quanto ao papel crítico pois “toda

herança é inaceitável se não for ao mesmo tempo crítica”(p. 558) e intérprete, uma

vez que “cada discurso, cada gesto, cada maneira de funcionar e de estar com os

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alunos exige decodificação, leitura, compreensão, explicação (de textos, de situações,

de intenções e de sentimentos de outrem, DO OUTRO)” (p. 559, destaque dos

autores).

Transforma-se assim o professor e sua relação docente com os alunos,

docência essa que não se confina ao transmitir conhecimento técnico, a desempenhar

um papel em função de habilidades e competências específicas, mas que leva em

consideração seus saberes, suas atitudes, sua experiência, sua herança. Profissão

que requer que seja mediador, não só de conhecimentos, que seja intérprete, que

assuma sua criticidade.

Essa alteração na capacitação profissional da docência presenciada na

atualidade é atribuída à globalização por Morosini (2000, p. 11), quando destaca que

“com o processo de globalização, que se adentrou de forma acentuada pelo panorama

nacional, a concepção de docência universitária está sofrendo alterações.”

Alterações estas que, ainda de acordo com a autora levam ao questionamento:

“quem é o docente universitário? Ele está preparado para acompanhar as mudanças

do terceiro milênio?” (MOROSINI, 2000, p. 11). Parece estar clara a formação para a

área específica do conhecimento, os critérios para esta capacitação são consensuais.

Aliado a esse conhecimento específico, contudo, pretende-se que o profissional

docente seja

um cidadão competente e competitivo; inserido na sociedade e no mercado de trabalho; com maior nível de escolarização e de melhor qualidade; utilizando tecnologias de informação na sua docência; produzindo seu trabalho não mais de forma isolada, mas em redes acadêmicas nacionais e internacionais; dominando o conhecimento contemporâneo e manejando-o para a resolução de problemas, etc. (MOROSINI, 2000, p. 11).

O professor “para a IoC”, assim, agrega às características apontadas nas

sessões anteriores deste capítulo outras que contemplem o seu lugar na

internacionalização das IES e, consequentemente, de seu currículo.

Sanderson (2011, p. 661) refere-se à necessidade de literatura que trate da

internacionalização referente aos professores da educação terciária e que pontue as

questões “em termos de seus conhecimentos e skills quando trabalhando com

currículos internacionalizados e também sobre suas atitudes pessoais e profissionais”

(minha tradução) neste contexto. Em seu artigo, intitulado “Internationalization and

teaching in higher education” (Internacionalização e ensino na educação superior) ele

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fornece “um modelo designado de internacionalização, que se aplica ao papel dos

professores universitários como plataforma de discussão” (SANDERSON, 2011, p.

664). Para tanto, utilizou “A description of nine clusters of qualifications for lecturers”

(Uma descrição de nove grupos de qualificações para professores) de Teekens (2001)

e apresenta sete dimensões que sugere que a prática docente internacionalizada

englobe:

1) Ter algum conhecimento básico sobre a teoria da educação.

2) Incorporar conteúdo internacionalizado no material da disciplina.

3) Ter uma apreciação crítica de sua própria cultura e suas premissas.

4) Ter algum conhecimento de outros países e culturas, mas uma preferência

por estar aberto para, e apreciar, outras visões de mundo.

5) Utilizar estratégias universais de ensino para aumentar as experiências de

aprendizado de todos os alunos.

6) Entender de que maneira sua disciplina acadêmica e sua profissão

relacionada (por exemplo, fisioterapia) são estruturadas em uma variedade de

países.

7) Entender o mercado de trabalho internacional relacionado com sua

disciplina acadêmica.

Esta relação das dimensões acima descritas, corrobora com o que foi

anteriormente apresentado sobre o perfil do professor para IoC, como aquele que

congregue habilidades e competências técnicas às características pessoais que

possam propiciar o aprendizado dos alunos, a fim de que estejam preparados para a

vivência profissional e pessoal no mundo global.

Importante pontuar que, ao imaginar e sugerir mudanças num plano de ensino

com vistas à IoC, “mais importante do que registrar semanticamente aspectos da

dimensão da internacionalização do currículo, é o entendimento, a internalização

dessa dimensão por cada professor” (BELLI; HEEMANN; SEHNEM, 2016). Dessa

maneira, não só o plano de ensino poderá refletir, de maneira ideal a IoC em tudo o

que representa e significa, como também, acredito, o professor poderá ter o perfil ideal

para a IoC, para o exercício da docência de sua disciplina.

Disciplina que, cada uma, apresenta sua especificidade, contudo nenhuma

sendo impossível de ser mudada. As disciplinas, assim como o corpo docente, são

comunidades socialmente construídas, formadas pelos estudantes, cada um com a

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sua história, cultura, objetivos de carreira, valores e visão de mundo (GREEN;

WHITSED, 2015).

Ainda, ao refletir sobre ser um professor autentico na educação superior,

Sanderson (2008b), em seu artigo “Being an Authentic Teacher in Higher Eduaction”

enfatiza a auto-crítica como caminho para o auto conhecimento, pois é por meio do

auto conhecimento que ao compreender-se e ter clareza sobre sua visão de mundo o

professor poderá melhor conhecer o outro e, assim, tornar-se autêntico como pessoa

e professor. O autor defende que a autencidade, a visão de mundo de cada um é

importante característica para a prática pedagógica efetiva.

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3 DELINEAMENTO METODÓLOGICO

O desenho metodológico deste estudo é desenvolvido por meio de um modelo

qualitativo (ABELA; GARCÍA-NETO; CORBACHO, 2007) o qual se baseia em

paradigmas ou modelos da investigação social. Leva-se em consideração, assim, que

a realidade que se pretende conhecer é o mundo social da vida cotidiana das pessoas,

e que cada elemento ali presente é único.

O método utilizado para a consecução desta pesquisa, Grounded Theory, prevê

a pesquisa relacionada com o aspecto social vivenciado no cotidiano das pessoas a

serem investigadas (CHARMAZ, 2008), assim, nesta pesquisa, o aspecto social a ser

investigado é o das professoras envolvidas no processo de internacionalização da

Univali.

A seguir apresento o quadro sinóptico do desenho da pesquisa, cujos passos

apresentados serão detalhados na sequência:

Figura 1: Quadro sinóptico do desenho da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

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Para a consecução desta tese, esta pesquisa orientou-se pela metodologia

qualitativa nomeada Grounded Theory (GT), que se caracteriza por ser um método

utilizado para gerar teorias, como, também, o produto final de sua aplicação, pois “o

termo se refere a ambos, o produto da pesquisa e o método analítico de produzi-lo”

(CHARMAZ, 2008, p. 397, minha tradução).

Optei por utilizar o nome na língua original em que foi cunhado, Grounded

Theory, e não Teoria Fundamentada em Dados, como também é conhecida, por

concordar com Tarozzi (2011) quanto à dificuldade de traduzir a expressão para o

português de forma a dar o significado que enseja a palavra grounded para

caracterizar esta metodologia.

A Grounded Theory, doravante apenas GT, também designada como

abordagem, é uma forma indutiva – e também abdutiva, de acordo com Charmaz

(2006) – de construir uma teoria assentada nos dados, por meio da análise qualitativa

destes e que “objetiva gerar construtos teóricos que explicam ação no contexto social

sob estudo” (CASSIANI; CALIRI; PELA, 1996, p. 80). Ou seja, “a teoria emerge dos

dados e deve ser coerente com a realidade da área substantiva especificada para o

estudo” (BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2004, p. 160).

Quanto aos métodos da Grounded Theory, Charmaz, proponente da GT

Construtivista, declara que: “colocado de forma simples, [estes] consistem em

diretrizes sistemáticas, mas flexíveis, para a coleta e análise de dados para construir

teorias fundamentadas nos próprios dados” (CHARMAZ, 2006, p. 02, minha tradução).

A pesquisadora, ao usar essa metodologia, busca processos que estão

acontecendo na cena social e declarações das entrevistas com o objetivo de aprender

sobre a vida das participantes. Diferentemente de outros métodos qualitativos, que

permitem que os pesquisadores sigam as pistas dos dados da forma que desejam,

“os métodos da GT têm a vantagem adicional de conter diretrizes explícitas que nos

mostram como nós devemos proceder” (CHARMAZ, 2006, p. 03, minha tradução,

destaque da autora).

A GT Construtivista “tem como orientação o paradigma interpretativo que

enfatiza as interrelações entre pesquisadora e pesquisada para a construção de

significados de mundo” (LEITE, 2015, p. 132), caracterizando-se, assim, como

contrária à investigação positivista “valorizando a compreensão e a explicação... o

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paradigma interpretativo pretende desenvolver e aprofundar o conhecimento de uma

dada situação num dado contexto.” (SANTOS, 2000, p. 187-188).

Ao decidir por esta tipologia qualitativa, busco compreender, com base nas

percepções e experiências de professoras de graduação da Univali, os significados

expressos com relação à sua atuação como docentes na IoC.

A utilização da GT para esta pesquisa se justifica considerando que: (1) a

mesma é sugerida para trabalhos que buscam “explorar áreas substanciais sobre as

quais pouco se sabe ou sobre as quais sabe-se muito, para ganhar novos

entendimentos’ (STERN, 19801, apud STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 24); e (2) a

originalidade desta investigação para o campo da educação em função do pouco

conhecimento teórico e empírico sobre a expressão de sentido que repercute sobre a

atuação docente na IoC.

A GT tem sua origem marcada pela publicação do livro The Discovery of

Grounded Theory, em 1967, de autoria de Barley Glaser e Anselm Strauss. À época

foi denominada como método de comparação constante, em função de ter esta

estratégia como importante característica para a análise de dados (ABELA; GARCÍA-

NETO; CORBACHO, 2007).

Strauss teve sua formação na escola de Chicago, com uma forte ênfase

qualitativa e influência do interacionismo simbólico. Como corrente alternativa às

teorias funcionalistas, tem o entendimento de que as pessoas atuam sobre a

sociedade, dão forma ao seu entorno, constroem e compartilham significados

(BLUMER, 1969), bem como o ser humano é um ativo criador de seu mundo (MEAD,

1933). Já Glaser veio da universidade de Columbia e foi influenciado por Paul

Lazarsfeld, inovador dos métodos quantitativos. Glaser percebeu a necessidade de

estabelecer comparações entre os dados para identificar, construir e relacionar

conceitos. A teoria fundamentada surge, assim, como uma alternativa às teorias

funcionalistas e estruturalistas (ABELA; GARCÍA-NETO; CORBACHO, 2007).

Tarozzi (2011) destaca que a definição apresentada por Glaser e Strauss em

seu livro traz “o acento na sistematicidade” (TAROZZI, 2011, p. 18) dos procedimentos

da GT fazendo frente ao “impressionismo assistemático de outras abordagens

qualitativas” (idem) que se faziam presentes à época. Apontadas como carecendo de

rigor em seus procedimentos, as pesquisas qualitativas da década de sessenta, eram

1 STERN, P. N. Grounded theory methodology: its uses and processes. Journal of Nursing Scholarship, v. 12, n. 1, p. 20-23, 1980 apud STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 24.

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ainda consideradas de baixa validade e pouca confiabilidade em função do forte

subjetivismo de seus pesquisadores; a GT veio, assim, para trazer a legitimidade que

a comunidade científica almeja de uma pesquisa e, também, desafiar o paradigma

positivista que dominava então (TAROZZI, 2011; LEITE, 2015).

De 1967, quando do lançamento do livro, até o presente, a GT modificou-se,

novas vertentes surgiram, mantida, contudo, a essência do método, ou seja as

características gerais que envolvem o fazer da GT (GLASER; STRAUSS, 1967)

apontadas por Charmaz (2009, p. 19), que são:

• O envolvimento simultâneo na coleta e na análise dos dados;

• A construção de códigos e categorias análiticas a partir dos dados e não de

hipóteses preconcebidas e logicamente deduzidas;

• A utilização de método comparativo constante, que compreende a

elaboração de comparações durante cada etapa de análise;

• O avanço no desenvolvimento da teoria em cada passo de análise;

• A redação de memorandos para elaborar categorias, especificar as suas

propriedades, determinar relações entre as categorias e identificar lacunas;

• A amostragem dirigida à construção da teoria e não visando a representação

populacional;

• A realização da revisão bibliográfica após o desenvolvimento de uma análise

independente.

Com relação ao último aspecto apresentado acima, a revisão bibliográfica após

o desenvolvimento da análise, conforme pontua Tarozzi, “no caso de uma pesquisa

que visa construir uma teoria a partir dos dados, uma análise da literatura preliminar

levaria à inconveniência de criar pré-compreensões que poderiam inibir a emersão de

intuições e a formulação de categoarias originais fundadas na experiência” (TAROZZI,

2011, p. 106), isto vale, contudo, assim entendo, como indicativo de que a análise não

deve ser levada de forma a refletir a teoria existente e sim “uma ulterior fonte de dados

para prosseguir no constante trabalho de comparação” (idem, p. 107). Isto não

significa que não se deva fazer uma boa análise crítica da literartura preeviamente,

dada a importância desta para um doutorando, sem contar seu papel importante em

um programa de pós-graduação. Além disso, traz densidade e argumentação teórica

e aumenta a credibilidade da pesquisa (CHARMAZ, 2006), desde que não seja

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apenas “um texto compilativo similar a uma bibliografia comentada” (TAROZZI, 2011,

p. 108), mas crítico. Sugerem, ainda, Charmaz (2006) e Tarozzi (2011) que a literatura

pertinente não necessariamente esteja no inicio de uma tese, podendo ser colocada

no final para que dialogue com os resultados, evidenciando possíveis limites e lacunas

na literatura existente.

A partir da publicação do livro clássico que apresentou a GT, Glaser e Strauss

assumem pespectivas diferentes de pesquisa e se distanciam. Glaser permaneceu

fiel às características iniciais da GT e considerou a perspectiva utilizada por Strauss

muito divergente da original na obra Basics of Qualitative Research: Grounded Theory

Procedures and Techniques, publicada em 1990 por Strauss e Corbin. “Ele a

considerou tão distante, que deu à obra outro nome: ‘descrição conceitual plena´ (full

conceptual description)” (TAROZZI, 2011, p. 45-46). Para Charmaz, contudo, “apesar

das muitas objeções de Glaser à versão de Strauss e Corbin, o livro serve como

enunciado vigoroso do método” (CHARMAZ, 2009, p. 23). Com o falecimento de

Strauss, Violet Corbin assume esta vertente da GT.

Tendo em vista o acima exposto, apresento o quadro-resumo de Tarozzi (2011,

p. 56) sobre as principais escolas da Grounded Theory na atualidade:

Quadro 2: Confronto entre as principais escolas da GT

GT clássica

GT full conceptual description

GT construtivista

Glaser Corbin Charmaz

Pergunta de Pesquisa

Não é uma afirmação que identifica o problema a ser estudado. É impossível de definí-lo antes de ir para campo (inicia-se de modo aberto a partir de uma área de investigação)

É uma afirmação que identifica claramente o problema a ser estudado. Consente restringir e gerenciar a área de investigação.

Não existe. Os conceitos sensibilizantes (Blumer), interesses pessoais e disciplinares iniciam a pesquisa.

Tipos de dados “All is data”. Indiferente, sobretudo observações.

Entrevistas semiestruturadas e análise textual. Coconstrução de dados.

Core category Emerge quase magicamente e é intuída improvisadamente no início ou no fim de uma pesquisa.

Fazê-la emergir requer fortes manipulações de dados. Não existe uma única core category.

Existe uma core category prevalente.

Tipo de Codificação

Substantiva teórica. Aberta, axial, seletiva. Inicial, focalizada, axial, teórica.

Fonte: Tarozzi (2011, p. 56).

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Em função de ter-me pautado, para a consecução desta pesquisa,

primordialmente, na GT Construtivista, cabe traçar as linhas que a caracterizam.

Importante, então, salientar, que mesmo a GT tendo, originariamente, desafiado o

paradigma positivista dominante na década de 60, permaneceu ainda com algumas

características não resolvidas a esse respeito. Os anos de 1980 e 1990, com a

reviravolta que colocou luz nesses resíduos positivistas, levaram à reformulação da

GT agora com enfoque construtivista e pospositivista (TAROZZI, 2011). Ou seja, a

GT, a partir deste paradigma, conforme enfatiza Ekins (1997), assume um ponto de

vista pospositivista em que a teoria emerge na interação entre pesquisadora e os

dados. E solicita à investigadora ter uma aproximação íntima com a área do estudo.

Enfatizando o descobrimento e o desenvolvimento de teoria, a GT não se

embasa em deduções apoiadas em um marco teórico prévio, somente em abdução

ou indução (CHARMAZ, 1990, 2006). Sendo abdução um silogismo em que se

delineia uma premissa, ao observar um fenômeno, que se fosse verdadeira explicaria

naturalmente o fenômeno, diretamente ligada à nossa razão criativa, “a capacidade

humana de adivinhar a hipótese correta, justamente aquela que é capaz de explicar o

fato surpreendente” (SANTAELLA, 20012, apud LEITE, 2015, p. 155); e indução o

princípio lógico segundo o qual se deve partir das partes para o todo, de um significado

particular a um mais geral.

Antes de passar a detalhar sobre os procedimentos da GT, é importante colocar

que a GT Construtivista assume o relativismo como epistemologia (CHARMAZ, 2006;

2008a), tem “como orientação o paradigma interpretativo que enfatiza as interrelações

entre pesquisador e pesquisado para a construção de significados” (LEITE, 2015, p.

132). Reconhece, assim, que a realidade não é pré-estabelecida, mas, sim, construída

pelas interpretações ocorridas por meio das relações sociais.

Ao iniciar-se a codificação e análise dos dados busca-se resposta para a

pergunta: o que está acontecendo aqui? (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 129) Ou seja,

a pesquisadora não busca descobrir se no contexto de sua pesquisa há determinado

fato, previamente estipulado com base em teoria e literatura existentes. Ao contrário,

quer saber o que existe nos dados que foram coletados. Com procedimentos

2 SANTAELLA, L. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo, Hacker Editores, 2001 apud LEITE, 2015, p. 155.

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analíticos, a investigadora vai desenvolvendo conceitos e construindo a teoria que se

fundamenta nesses dados.

Para o desenvolvimento da GT, duas estratégias são essenciais: o método

comparativo constante, conforme já mencionado, e a técnica da amostra téorica. De

forma sistemática na aplicação do método comparativo, se buscam-se semelhanças

e diferenças através da análise dos incidentes contidos nos dados. Por meio destas

comparações, a pesquisadora gera conceitos levando em consideração os padrões

de comportamento. Ou seja, busca-se regulariades em torno de processos sociais

(CARRERO; SORIANO; TRINIDAD, 2012).

Quanto à amostragem teórica consiste na:

coleta de dados conduzida por conceitos derivados da teoria evolutiva e baseada no conceito de “fazer comparações”, cujo objetivo é procurar locais, pessoas ou fatos que maximizem oportunidades de descobrir variações entre conceitos e de tornar densas categorias em termos de suas propriedades e de suas dimensões. (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 195, destaque dos autores).

Os conceitos são a base das análises e formam blocos que constituem a teoria,

que ao identificar similaridades e diferenças por meio do método comparativo, as

especifica e demonstra sua variabilidade. Na amostra teórica, o pesquisador seleciona

novos casos a estudar, para refinar e expandir os conceitos e teorias no decorrer do

estudo. A escolha da amostra na GT não pode ser selecionada ao acaso, mas sim

realizada de maneira cuidadosa. Tal procedimento permite encontrar as pessoas que

mais trarão profundidade aos dados, onde encontrá-los e que dados solicitar (RUIZ

OLABUÉNAGA, 2012). A amostra teórica é cumulativa, cada nova amostra é somada

à análise, o que faz com que seja a teoria evolutiva apontada por Strauss e Corbin

(2008). Há, assim, um processo contínuo entre coleta e análise de dados que cessa

somente quando se chega à saturação, ou seja, não emergem mais novos conceitos

e nem novas categorias dos dados. Diante disto, não são definidos a priori o número

de entrevistas, ou observações, conforme o caso, nem o número de participantes.

Cabe também pontuar que na GT outro procedimento essencial são as

anotações que nos permitem falar das categorias e suas relações através do registro

de insights e interpretações por meio da criação de memos. Este processo é constante

desde o início da codificação e somente se finaliza com a escrita das considerações

finais.

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Como a GT busca descobrir como e porque as pessoas se comportam de

determinada maneira em contextos específicos (CHARMAZ, 2006; STRAUSS;

CORBIN, 2008) a amostra para desenvolver a pesquisa se forma a partir de

participantes que possam trazer valiosos insights relacionados ao assunto da

pesquisa. A GT, assim, idealmente emprega amostragem teórica, ou seja, “começa

entrevistando um pequeno número de pessoas (as vezes apenas uma ou duas) cujas

características são relevantes para o estudo e seleciona outros participantes levando

em consideração as informações obtidas nas entrevistas anteriormente realizadas”

(FOLEY; TIMONEN, 2015, p. 1198, livre tradução da autora).

3.1 O DESENHO E O PROCESSO DA PESQUISA

Importante destacar que todo o processo de uma pesquisa com a metodologia

da GT não acontece de modo linear, ou seja, não há uma ordem única de

procedimento onde primeiro se efetiva determinada etapa, em seguida outra, até a

última. Ela se processa em forma de círculo, ou espiral. O método de comparação

constante faz com que a pesquisadora se movimente para trás e para diante nos

dados em busca de informações que emergem dos mesmos para a construção da

teoria substantiva. Contudo, para que se possa registrá-la convenientemente são

utilizados segmentos explicativos de como esta pesquisa se desenvolveu em uma

ordem que se pode considerar, para os propósitos deste capítulo, do início ao fim.

Conclui-se a ampliação da amostra quando há saturação das categorias. Ou

seja, a amostragem teórica é ampliada em função de áreas ainda descobertas,

tornando-se inútil permanecer onde há redundância de dados. Isto faz com que seja

impossível definir a priori o número de contextos, de sujeitos a serem entrevistados e

o número de entrevistas (CHARMAZ, 2006; TAROZZI, 2011; STRAUSS; CORBIN,

2008).

Os sujeitos da primeira fase da pesquisa foram as gestoras de ensino da IES,

devido ao fato que essas fornecem as diretrizes para o planejamento e ações

docentes. Além disso, entendo que as coordenadoras, alunas e funcionárias

administrativas também estejam envolvidas no processo de internacionalização,

levando em conta as premissas da Internacionalização de uma IES, contudo, a

escolha das docentes, para a segunda fase da pesquisa, como sujeitos, se justifica

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considerando que essas estão diretamente envolvidas com a sala de aula, com as

alunas, por serem os professores, também, que materializam o planejamento de aula,

e, portanto, peças principais tanto para o currículo formal, como também para o oculto.

É sua ação como docente, a partir das perspectivas das mesmas, no contexto da

internacionalização da IES e de seu currículo que se buscou analisar.

A partir de entrevistas semiestruturadas com esses sujeitos de pesquisa e após

a transcrição dessas entrevistas, foi feita a codificação inicial, que contribuiu para a

definição dos temas a serem tratados nas entrevistas sucessivas, bem como para

identificar as direções para os participantes da amostragem teórica.

Ainda com relação à amostragem teórica, Tarozzi pontua que a Grounded

Theory:

“propôs um tipo de amostragem rigorosa para a pesquisa qualitativa, mas que não é probabilística, nem tem o objetivo de garantir a representação do grupo de sujeitos estudados em relação ao universo da população, no entanto, é estreitamente ligada ao processo de análise. A amostragem teórica consiste na identificação de sujeitos seguindo as indicações que provêm do processo de análise.” (TAROZZI, 2011, p. 72).

No caso desta pesquisa, os sujeitos a serem investigados passaram a ser não

mais as gestoras e professoras, mas somente professoras, conforme entendimento

juntamente com os membros da Banca de Qualificação desta pesquisa, considerando-

se que o objetivo da investigação é compreender a atuação das professoras.

Os códigos que emergiram da análise daquelas entrevistas foram descartados,

contudo, ao proceder à análise e codificação os direcionamentos para a próxima etapa

da pesquisa se delinearam, os quais passo a detalhar.

A próxima etapa da pesquisa, assim, tem seu contexto no local de trabalho das

professoras entrevistadas, a Universidade do Vale do Itajaí, em Itajaí, Santa Catarina.

A realização das entrevistas foi em 2018, duas entrevistas no primeiro semestre e

duas no segundo.

Ao todo foram entrevistadas quatro professoras que trabalham na IES há mais

de oito anos, que atuam nas áreas de informática, artes, engenharia e comércio

exterior. Há no grupo três doutoras e uma doutoranda em fase final de sua pesquisa,

sendo que duas delas fizeram sanduiche no exterior e duas não.

Foram entrevistadas duas mulheres e dois homens. Não de forma premeditada

os sujeitos assim se configuraram, metade mulheres e metade homens, uma vez que

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ao terminar a última entrevista, não sabia, então, que seria a última em função das

características da GT quanto à amostragem, pois não se define à priori o número de

investigadas. A mesma diferenciação – 2/2 – ocorreu com relação às entrevistadas

que participaram de oficinas de formação continuada sobre IoC oferecidas pela

instituição. Essas oficinas tiveram como objetivo orientar as professoras quanto à

incorporação de componentes de internacionalização no currículo, que tratam de

internacionalização de IES, internacionalização de curso no campus, currículo

internacionalizado, abordagem do acréscimo, abordagem da infusão, abordagem da

transformação, principais bloqueadores e facilitadores da internacionalização, bem

como exercícios práticos de internacionalização em seus respectivos planos de

ensino. Novamente, a quantidade de sujeitos não foi planejada a priori.

Todas as entrevistadas assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e para preservação de seus nomes, serão identificados como RUI, ANA,

GRAÇA e ARI.

As entrevistas, semiestruturadas, foram gravadas por meio de dois aparelhos

eletrônicos: celular e notebook, com o objetivo de prevenir que a entrevista, ou parte

dela, se perdesse. Em seguida foram transcritas por terceiros e editadas por mim,

pois, como sinaliza Tarozzi (2011), a transcrição é a primeira operação de codificação.

As entrevistas tiveram duração em média de 45 minutos. Iniciaram-se com a

introdução sobre o objetivo da pesquisa.

Procedeu-se, nesta etapa, à elaboração de perguntas norteadoras para a

entrevista previamente planejadas com base no quadro de Charmaz (2006, p. 30-31),

que sugere a divisão da entrevista em questões: (1) iniciais abertas; (2) intermediárias

e (3) finais. O exemplo trazido pela autora foi usado em suas pesquisas para levantar

dados sobre “uma mudança de vida” e que Charmaz considera como questões que

refletem ênfase no interacionismo simbólico, e que foram adaptadas para a presente

pesquisa:

Quadro 3: Perguntas norteadoras da entrevista

Questões abertas iniciais - Me fale de sua formação acadêmica e das disciplinas que leciona. - Me conte sobre sua participação em oficinas de formação continuada sobre IoC.

Questões abertas iniciais

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- Pode comentar sobre alguma situação em sala de aula onde um aluno ou uma aluna trouxe para a sala de aula uma história ou assunto que tenha vivenciado no exterior ou lido algo sobre o assunto que se relacionasse com o conteúdo que estava sendo ministrado? Você pôde aproveitar para a aula? Como?- Você lembra de algum conteúdo que trouxe para aula que apresentou uma perspectiva internacional? Como foi essa experiência? O que fez você ter trazido esse conteúdo internacional?

Questões intermediárias - O que, se algo, você sabe sobre IoC? - O que você acha da IoC? - Poderia elencar pontos positivos e negativos da IoC? - Como você se vê numa sala de aula no futuro? Ou seja, as características daquela boa aula seriam as mesmas? - Você acha que encontrará problemas no futuro com relação ao contexto de uma sala de aula internacionalizada? O que ajudaria você a lidar com isso?

Questões finais - Quais você acha que são as formas mais importantes de internacionalizar o currículo como professora? - O que é mais importante que a professora apresente para a aluna com relação à IoC? - O que você diria para alguém que está começando agora na docência? Que conselhos daria? - Gostaria de me perguntar mais alguma coisa?

Fonte: Adaptado de Charmaz (2006, p. 30-31).

Conforme pontua Charmaz (2006), pensar nas perguntas para a entrevista,

listá-las e levá-las para a entrevista é principalmente importante para pesquisadoras

com pouca experiência neste tipo de atividade. Esta adaptação das perguntas

norteadoras foi feita após as entrevistas com as gestoras e teve uma entrevista piloto

gravada e trabalhada para verificação e adequação.

Construir estas questões norteadoras mostrou-se de grande valia para a

consecução da entrevista, tornando-se mesmo parte integrante da análise e

imprimindo maior segurança na consecução da entrevista, mesmo que, como o

próprio nome denuncia, foram perguntas norteadoras, não tendo sido seguidas a risca

em função da especificidade da entrevista empregada.

A etapa da codificação foi bastante inquietante a princípio e, ao mesmo tempo,

desafiadora, devido ao ineditismo em minha experiência como pesquisadora e porque

“a designação de um nome a uma categoria interpretativa exige permanecer fiéis à

intencionalidade de quem fala e de não impor denominações que sejam demais

univocamente interpretativas, por exemplo, derivadas da literatura sobre o tema.”

(TAROZZI, 2011, p. 71). É essa designação que levará à formação da categoria

principal, tendo, assim, papel preponderante no processo de pesquisa.

Ainda, segui a sugestão de Charmaz (2006) para o uso de verbos no gerúndio

uma vez que se tratava de retratar ações. No início este fato se tornou um peso na

pesquisa em função de eu querer codificar sempre utilizando um verbo com o intuito

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de poder conjugá-lo no gerúndio, ou seja, passei a dar um valor maior a como

codificar, do que ao código em si. Em algum momento, contudo, após a categorização

focalizada das primeiras duas entrevistas, o processo de codificação se tornou mais

leve, e ainda mais prazeroso, ao observar exemplos de grandes nomes da GT em

suas codificações, os quais não usavam sempre a mesma classe gramatical para dar

nome aos códigos, passei assim a perceber que mais importante do que a forma de

escrever o código era o próprio código, era captar de forma mais acurada possível o

que estava sendo comunicado, o que emergia deles.

Na prática da codificação inicial as estratégias utilizadas são “palavra por

palavra”, “linha a linha” ou “incidente por incidente”. Também são utilizadas

expressões das entrevistadas de forma literal como código, quando se quer dar ênfase

a alguma informação, que recebem o nome de códigos in vivo.

Para a codificação inicial, ou aberta, utilizei o Atlas.ti, software desenvolvido

para pesquisas qualitativas. Para as fases da codificação focalizada e teórica, devido

à minha necessidade de ter um contato mais direto e mais físico com os dados, bem

como em função da dificuldade vivenciada em usar o software, utilizei o Word, papéis

e canetas coloridas para conduzir a organização e análise dos dados da pesquisa.

Foram feitas várias listagens no Word a partir dos códigos iniciais organizados

no Atlas.ti. Estas foram construídas em duas colunas, uma com os códigos e outra

com espaço para observações. Quando necessário, os códigos eram recortados com

o objetivo de organizá-los em redes e listagens físicas. No verso de cada código

recortado era anotado o número da página em que poderia ser rastreado na listagem

para possível consulta das observações, que funcionaram como insights e memos.

Em cada código foi anotado o número correspondente à categoria provisória a que

pertencia, como cuidado para a necessidade de refazer essas categorias iniciais.

Após uma análise mais focalizada e comparação entre eles, esses códigos, das

duas primeiras entrevistas, foram agrupados em 8 macrocategorias iniciais

provisórias, divididos em duas dimensões. Esta etapa da codificação é se caracteriza

pela emersão de macrocategorias, quando as categorias se interligam, ou seja, de

acordo com Charmaz (2006), a codificação axial.

As duas dimensões que emergiram foram: (1) Professor e (2) Sala de Aula. A

listagem abaixo relaciona essas dimensões com suas macrocategorias:

Quadro 4: Dimensões com suas macrocategorias

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Dimensões

Professor Sala de Aula

Macrocategoria 1 A prática docente: ser uma professora antes de ser uma professora da IoC.

Macrocategoria 6 Estratégias, recursos.

Macrocategoria 2 Demarcação da IoC. Macrocategoria 7 Olhando as alunas (como a professora vê a aluna).

Macrocategoria 3 Características da professora (como a professora vê, sente, expressa sua vivência/ação em sala de aula ou em relação a ela; formação).

Macrocategoria 8 Internacionalização do currículo na prática.

Macrocategoria 4 Metodologia, estratégias, recursos: pedagogia, didática.

Macrocategoria 5 Experiência no Exterior.

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Numa análise ainda mais minuciosa e profunda, esta fase inicial de codificação

se configurou com suas subcategorias em duas dimensões, que são interligadas:

(1) Ser um professor antes de ser um professor de IoC; e

(2) IoC teoria e prática.

Após a codificação e análise das entrevistas com GRAÇA e ARI, agora com

foco mais definido, em função das categorias que emergiram das entrevistas de RUI

e ANA, as dimensões Ser um professor antes de ser um professor de IoC, e IoC teoria

e prática se sedimentaram.

Foi nesta fase da análise, e sempre usando a comparação entre os dados, que

emergiu com clareza uma categoria que é relacionada com o colonialismo ou

imperialismo acadêmico, com o heteroestereótipo, com as sociologias das ausências

e das emergências, que serão discutidos no capítulo a seguir.

A partir daí as categorias passaram a ter três dimensões: (1) A prática docente;

(2) A docência e a IoC; e (3) O professor da IoC, que culminou em duas dimensões

apenas, considerando que a primeira e a segunda se aglutinam naturalmente,

passando a ser: (a) O professor da IoC e (b) O professor na IoC. Estas expressões,

que marcam os títulos das dimensões, foram utilizadas e estão aqui colocadas com o

objetivo de mostrar, da forma mais objetiva possível, as ideias que emergiram dos

dados e que direcionaram a criação das categorias, não configurando, em si, as

categorias propriamente ditas. Essas serão detalhadas no capítulo seguinte.

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Ainda um passo adiante na pesquisa, onde mais comparações foram feitas, as

categorias prevalentes ou codificação teórica, passaram a ser duas, com três

subcategorias cada uma:

Categoria 1: Ser Professora na IoC – Sujeito na Atuação Docente

(1) O exterior fica na Europa e nos USA – a sociologia das ausências;

(2) Elas são melhores que nós - heteroestereótipo;

(3) Precisamos seguir o exemplo delas – colonialismo científico.

Categoria 2: Ser Professorana IoC - Atuando na Docência

(1) utilizando estratégias de ensino e abordagens de IoC;

(2) Falando de IoC;

(3) refletindo sobre mobilidade acadêmica.

Para finalizar este capítulo, disponho que a amostragem está completa quando

as categorias estão bem descritas e dimensionadas, ou seja, quando existe a

saturação (STRAUSS; CORBIN, 2008). A saturação não está vinculada à quantidade

de dados que foram coletados e analisados ou ao número de participantes da

pesquisa, mas ocorre quando novos insights significantes cessam de emergir, quando

“entrevistas adicionais não estão mais gerando novos dados, nem dados necessários

para concretizar as categorias que já emergiram” (FOLEY; TIMONEN, 2015, p. 1199,

livre tradução da autora). Considero a saturação presente, uma vez que os dados não

apresentaram mais novos insights.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Antes de passar para a apresentação e análise dos resultados, apresento os

professores e as professoras que fizeram parte desta pesquisa. Seus nomes são

fictícios, mas as informações sobre eles e elas são reais, as quais eles/as me

ajudaram a obter. Optei por apresentar os professores de forma mais personalizada

neste momento uma vez que é neste capítulo que são ouvidas suas vozes.

Rui é das engenharias. Fez doutorado sanduiche na Europa e viaja

regularmente ao exterior para participar de congressos internacionais. É fã de

tecnologia. Fala inglês.Trabalha na Univali há mais de 15 anos e não participou de

uma Oficina sobre IoC na programação de Formação Continuada da instituição.

Aceitou prontamente participar da entrevista e demonstrou franqueza nas respostas e

disse ter achado a entrevista leve, como acredita que uma aula deve ser.

Ana é das literaturas e das artes. Fez doutorado sanduiche e pós-doutorado na

Europa. Viaja regularmente ao exterior. Tem um senso estético encantador. Fala

inglês e francês.Também trabalha na instituição há mais de 15 anos. Partcipou de

Oficina sobre IoC. Aceitou prontamente me dar a entrevista e foi também bastante

receptiva na ocasião. Defende intensamente que todos/as os/as alunos/as devem

estudar no exterior.

Graça é da área de administração. Especializou-se na área internacional em

seu mestrado e doutorado. Trabalha na instituição há mais de dez anos. Participou de

Oficina sobre IoC. Fala espanhol e inglês. Foi bastante receptiva e empática na

entrevista. Verbaliza que suas aulas são planejadas para a internacionalização e

registra boas práticas para transformá-las em estudos de caso.

Ari é da informática. Trabalha há mais de oito anos na Univali e diz que arranha

no inglês, mas se comunica muito bem, como pude constatar. É eclético, conforme

comenta, uma vez que atuou em várias áreas até chegar a lecionar na graduação.

Não participou de Oficina de IoC. Está na fase final de seu doutoramento. Suas aulas,

conforme contou, são planejadas centradas nos/nas alunos/as, nas suas

especificidades.

Com relação ao percurso para obtenção e apresentação dos dados, a partir da

codificação e categorização dos mesmos chegou-se a duas grandes dimensões,

ambas interligadas e contextualizadas pelo viés da internacionalização do currículo.

Cada uma dessas dimensões constitui, assim, uma categoria que faz parte da teoria

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substantiva que leva à compreensão da atuação da professora na IoC. Refletem,

estas categorias, o Ser Professora da IoC: substantivo e verbo.

A primeira categoria, não primeira por ordem de importância, mas porque é

necessário começar por uma delas, se refere ao ser substantivo, sujeito na ação

docente, e revela que as perspectivas do professor da IoC sobre o exterior, sobre

internacional, se referem à Europa e aos Estados Unidos primordialmente; refletem

um sentimento de que o que tem “lá fora” é melhor do que o que tem no Brasil e que

professores brasileiros devem seguir o exemplo do exterior. A segunda categoria se

refere à atuação docente em si, o ser professor atuando na docência e desvela que,

antes de ser um professor da IoC, o docente é professor; com relação à IoC, utiliza

várias estratégias coerentes com a teoria existente, mais especificamente adição e

infusão, mesmo sem saber; tem um entendimento sobre IoC que diverge da teoria

pertinente em alguns aspectos; e valoriza a mobilidade acadêmica.

A estrutura utilizada para apresentar os resultados será a de integrar às

categorias a literatura existente com o objetivo de comparar as categorias emersas

com os estudos presentes na literatura com o objetivo de “contribuir para dar

espessura à própria teoria” (TAROZZI, 2011, p.162).

As evidências empíricas serão utilizadas para dar suporte às categorias aqui

apresentadas, não sendo dispostas com o propósito de provar a fundamentação de

conceitos, ou seja, “se são citadas passagens de entrevista é somente porque têm

uma alta força emblemática e ilustram adequadamente um conceito expresso no texto,

não para confirmar cada afirmação, pois estas são provadas por serem enraizadas no

processo da pesquisa.” (TAROZZI, 2011, p.163).

Ainda com relação às evidências empíricas, observa-se que: (1) os nomes

usados nas citações são fictícios, para proteger a identidade dos entrevistados; (2)

são utilizados termos gerais e/ou neutros para substituir substantivos que possam

indicar a disciplina trabalhada pelos professores; (3) são usadas letras aleatórias para

substituir os nomes dos alunos mencionados pelos entrevistados; (4) são usadas

reticências para substituir partes das citações dos entrevistados que não adicionam

informação pertinente ao que se quer apontar, com o objetivo de tornar o texto mais

fluído; (5) algumas citações podem estar repetidas por servirem de evidência empírica

em mais de uma subcategoria; e (6) as citações dos entrevistados estão em itálico,

qualquer outra citação será apresentada em fonte padrão.

A imagem abaixo exibe o desenho dos resultados, com suas interconexões.

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Figura 2: Fluxograma

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

4.1 CATEGORIA 1: SER PROFESSOR NA IOC – SUJEITO NA ATUAÇÃO

DOCENTE

Fazem parte desta categoria três subcategorias: (1) O exterior fica na Europa

e nos USA – a sociologia das ausências; (2) Eles são melhores que nós -

heteroestereótipo; e (3) Precisamos seguir o exemplo deles – colonialismo científico.

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4.1.1 O exterior fica na Europa e nos Estados Unidos – a sociologia das

ausências

Ao falar de internacional, de exterior e mencionar “lá fora”, este último também

com o sentido de exterior, os entrevistados se referiam aos países da Europa e aos

Estados Unidos, e, em um número reduzido de vezes, ao Canadá e à Austrália, como

no trecho da entrevista a seguir:

... é uma situação que ocorre até por orientação da nossa coordenação, pelo menos no curso [que leciono] que aconteça nos planos de ensino a inserção de características de internacionalização que incluem bibliografia, artigos, livros, não necessariamente em inglês. Então, se eu tenho um artigo muito bom em espanhol, ... “olha, tem um artigo muito bom que é referência nesta área de um estudante espanhol!” ou de um pescador espanhol. ...E nas unidades ao abordar o conteúdo nós fazemos justamente esta conversa com outras nações, muitas vezes, então como é no caso [da disciplina]... Como é produzido nos Estados Unidos? ... Então, vamos lá para a Inglaterra, o que acontecia na Inglaterra? Então, a gente resgata toda essa questão, ... a gente faz toda essa questão Global.” (ARI)

Olhar o mundo para além das fronteiras geográficas e culturais brasileiras e

enxergar somente estes países reflete “o conhecimento hegemônico, tanto filosófico

como científico, produzido no Ocidente nos últimos duzentos anos” (SANTOS, 2002),

ou seja, reforça a ideia de que o “mundo” do conhecimento se restringe aos países da

Europa e aos Estados Unidos. Por conta disso, se um dos objetivos da

internacionalização do currículo é formar cidadãos globais com competência

intercultural, questiona-se sobre qual cidadania “global” estamos falando. Convém

lembrar que por cidadãos globais, Clifford e Montgomery (2015) entende que “são

pessoas que tem conhecimento do mundo e desenvolveram competências culturais,

mas também tem um senso de responsabilidade social” (p. 15), esta última nos níveis

local, nacional ou internacional. Conquanto nada contrário a está definição tenha

emergido dos dados da pesquisa, o alcance da dimensão global parece estar em

desalinho se ao contemplar o mundo, este é visto contido em um número determinado

de países, que refletem a hegemonia em várias dimensões e que, assim, podem turvar

a noção de globalidade e internacionalidade e por consequência a de nacionalidade e

localidade, modificando a noção de cidadania “global”. Vai de encontro à afirmação

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de Santos (2002, p. 239) de que “a compreensão do mundo excede em muito a

compreensão ocidental do mundo” e chama atenção para uma consciência crítica

quanto ao termo global.

Esta ausência, do restante dos países que compõem o globo, também é

percebida quando ARI fala dos egressos do curso:

Todas essas perspectivas globais, e não só o que passou, mas o que virá, não é? Então assim, hoje você está preparado, por exemplo para atuar [numa empresa] no Canadá como acontece de vez em quando com alunos nossos, tem alunos em Nova Iorque, tem alunos no Canadá. (ARI)

Nas entrevistas não foi percebido que os professores tenham consciência de

tal ausência, possivelmente, porque também eles vieram do mesmo sistema de

ensino/aprendizagem, ou seja, aquele que é marcado pela transformação de

interesses hegemônicos em conhecimentos verdadeiros (SANTOS, 2002).

Santos (2002) chama de razão indolente ao modelo de racionalidade que

desperdiça experiências, que não percebe que “a experiência social em todo o mundo

é muito mais ampla e variada do que o que a tradição científica ou filosófica ocidental

conhece e considera importante” (SANTOS, 2002, p. 238), pontua também que a

indolência da razão é manifestada, entre outras maneiras, na resistência à mudança

das rotinas, e na transformação daqueles interesses hegemônicos em conhecimentos

verdadeiros. Das quatro tipologias em que Santos (2002) divide a razão indolente,

destaco a razão metonímica, uma “racionalidade, que toma a parte pelo todo por um

conceito de totalidade que se compõe de partes homogêneas, e que relega como

desinteressante o que fica de fora” (LUNA, 2016, p. 34), dessa maneira, conforme

destaca Santos, corroborando Luna (2016), “há apenas uma parte lógica que governa

tanto o comportamento do todo como o de cada uma das partes” (SANTOS, 2002, p.

242). Abaixo uma outra evidência empírica representativa do que emergiu dos dados

sobre esta ausência aqui discutida:

Então eu quero te dizer que as meninas indo lá para o exterior [Europa], elas vieram com ideias novas...e eu me tornei um pesquisador muito assim, potente! (ANA) ...[dimensão internacional] seria trabalhar a metodologia numa perspectiva francesa? (ANA)

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...[ele]ganhou prêmios internacionais, inclusive na França, ele estava levando seu trabalho para França, ele ganhou um prêmio, inclusive também na França. (ANA) ...eu vejo a F, vamos pegar o exemplo da F que foi a última que voltou,... o jeito que ela lida com os problemas no dia a dia é de uma maturidade que ela adquiriu, também, indo para o exterior ... pelas dificuldades que ela passou no exterior.. por se relacionar com as pessoas lá, pelos aspectos culturais que ela aprendeu sobre a vida desse povo [francês]...e acaba ampliando esse olhar dela sobre a nossa realidade... vamos pensar agora a M, o benefício que trouxe para nossa universidade, ela fazer um pós lá fora[França]... (ANA)

Percebe-se também a sociologia das ausências quando ao ser solicitado a

explicar que local geográfico marcaria esse estrangeiro, esse internacional de que

fala, GRAÇA respondeu que “É a base de dados da web. Não tem um lugar, ele é

global”. Ao insistir sobre essa demarcação geográfica pergunto se especificamente

mais americano e europeu ou se não tem isso (de americano ou europeu), a resposta

é que “Não tem isso, quando eu procuro, às vezes vem da Europa, às vezes vem dos

Estados Unidos. Talvez, pensando melhor nessa sua pergunta, da Ásia muito pouco,

os escritos assim da Ásia, mas às vezes aparece.” (GRAÇA). Afirma ainda GRAÇA

que seu critério de busca é internacional. Esta constatação pontua, mais uma vez, o

que refere Santos (2002), sobre a sociologia das ausências anteriormente

apresentada. A base de dados utilizada pelo professor mostra a demarcação de uma

globalidade que é exemplo da “consolidação do Estado liberal na Europa e na América

do Norte” (SANTOS, 2002, p. 243), onde “as revoluções industriais e o

desenvolvimento capitalista, o colonialismo e o imperialismo, constituíram o contexto

sócio-político em que a razão indolente se desenvolveu” (idem).

Além dessa restrição do que é exterior ao Brasil, acima apontada, o que tem

“lá fora”, nesse exterior, é melhor do que o que temos aqui, fato esse que será

discutido na próxima subcategoria.

4.1.2 Eles são melhores que nós – heteroestereótipo

De acordo com Hass, Waechter e Krause-Ono (2017), foi Walter Lippmann

quem primeiro usou o termo estereótipo, em 1922, para adaptar um conceito nas

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ciências sociais. Antes disso o termo era somente usado na indústria de impressão

para se referir à placa de impressão da matriz do layout. Sua origem é grega: στερεός

(stereós), que significa firme ou sólida, e τύπος (typós) que significa impressão.

Em seu livro intitulado “Public opinion”, um dos conceitos que Lippmann pontua

é o da imagem compartilhada, no sentido de que todos nós seres humanos

partilhamos o conhecimento de símbolos, todos nós temos uma imagem mental sobre

determinado evento, que pode, ou não, corresponder à realidade e “o único

sentimento que alguém pode ter sobre um evento que ele não vivencia é o sentimento

despertado por sua imagem mental daquele evento” (LIPPMANN, 1922, p. 53, minha

tradução). Ainda ilustra Lippmann que:

Cada um de nós vive e trabalha em uma pequena parte da superfície da Terra, se move em um pequeno círculo, e das pessoas que conhece, apenas algumas conhece intimamente. De qualquer evento público que tenha efeitos amplos, vemos, na melhor das hipóteses, apenas uma fase e um aspecto. Isto é tão verdadeiro para os eminentes gestores que elaboram tratados, fazem leis e emitem ordens, como é para aqueles para quem os tratados são feitos, para quem as leis são promulgadas e as ordens são dadas. Inevitavelmente nossas opiniões cobrem um espaço maior, um alcance mais longo do tempo, um número maior de coisas, do que podemos observar diretamente. Eles têm, portanto, que ser montados a partir do que os outros relatam e do que podemos imaginar. (LIPPMANN, 1922, p. 53).

Dessa maneira a imagem mental de determinado evento passa a ser a verdade

para quem detém essa imagem, que não é questionada, pois se apresenta como a

experiência que se tem, um estereótipo: “… uma imagem ordenada, mais ou menos

consistente do mundo, à qual nossos hábitos, nossos gostos, nossas capacidades,

nossos confortos e nossas esperanças se ajustaram.” (LIPPMANN, 1922, p. 54).

Corresponde a esta ideia ordenada do mundo, acima comentada, esta que

emergiu dos dados de que exterior, internacional, “lá fora” se refere aos Estados

Unidos e Europa. Que além de ser observada como um estereótipo, pode ser também

compartilhada pelo inconsciente coletivo, ideia defendida por Jung e apresentada em

seu livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”, cuja primeira versão foi escrita em

1951. Para Jung (2000) são elementos inconscientes que constituem a psique e estes

têm origem diversas, partindo das características individuais até às coletivas e

impessoais, considerando a inserção do indivíduo em uma família, que está inserida

numa cultura ou etnia e que, por sua vez, é da espécie humana. Assim, formam o

inconsciente coletivo as experiências compartilhadas com a família ou a etnia, o

inconsciente familiar ou étnico e, por último, os elementos inconscientes comuns a

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todos os indivíduos da espécie humana. Mills (2018, p. 40) em seu ensaio sobre o

mito do inconsciente coletivo coloca que o “construto inconsciente coletivo é um

significante para a dinâmica psicológica comum e características de humanidade

compartilhada.” (minha tradução).

As ideias sobre estereótipo e inconsciente coletivo encontram eco uma na

outra, postulam a imagem mental compartilhada sobre o “lá fora” com o sentido de

exterior, que emergiu dos dados dessa pesquisa e que ilustramos a seguir:

“Eu já vejo assim alguns alunos nossos que participaram do intercâmbio que eles estão morando fora, já estão morando no exterior... relatar uma experiência internacional dele... e que na Europa já é assim, não sei se nos USA...” (GRAÇA)

Aos professores entrevistados, em função de sua formação e atuação, não falta

o conhecimento geográfico das fronteiras do globo terrestre, ainda assim, ao

evocarem o exterior ao Brasil, o fazem restringindo esse exterior aos países que mais

se sobressaem no cenário global em termos de poder econômico, para citar apenas

uma forma de poder. O fazem inconscientemente, dessa forma compartilhando uma

imagem mental sobre o Brasil em relação ao mundo. Além dessa imagem, desse

estereótipo, compartilham uma outra, a de que o que tem “lá fora” é melhor do que o

que tem no Brasil e que, por isso, configura-se num heteroestereótipo, termo que faz

par antagônico com autoestreótipo.

Por autoestereótipo nos referimos à ideia que determinado grupo, por exemplo

um país, faz de si mesmo e heteroestereótipo à ideia que tem de outro país. Estudos

sobre o assunto (HASS; WAECHTER; KRAUSE-ONO, 2017; PETROVA et al., 2014)

indicam que normalmente a imagem que tem de si mesmos é mais positiva do que a

que tem dos outros. Contrária a esta ideia, está a noção que emergiu dos dados de

que o que tem “lá fora” é melhor do que o que tem aqui, conforme explicita RUI:

A formação [no sanduiche na Inglaterra] enriqueceu, ainda mais, só pra gente perder um pouquinho do complexo de vira-lata, porque a gente via que o que os caras faziam lá [na minha área] a gente fazia aqui também... (RUI)

É possível ver nesta fala que o entrevistado coloca o Brasil e a Inglaterra no

mesmo padrão quando menciona que os dois países fazem a mesma coisa em

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determinado contexto, contudo, o fato de perder o complexo de vira lata em função

desta percepção evoca a necessidade de validação de ser bom na área em função de

que a Inglaterra faz o mesmo, ou seja, perder o complexo de vira-lata porque a

Inglaterra faz o mesmo que no Brasil, indica que a ideia que se tem daquele país é

que ele é melhor que este. Com relação ao complexo de vira-lata, esta é uma

expressão criada por Nelson Rodrigues para se referir, originalmente,

ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada

pela Seleção Uruguaia na Copa do Mundo no Maracanã. Contudo, de acordo com

Nelson Rodrigues, esta expressão vai além do cenário do futebol, pois “por complexo

de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente,

em face do resto do mundo.” (RODRIGUES, 1993, p. 51).

A citação a seguir reitera a evidência acima apresentada:

Aqui [no curso] a gente chama de benchmark, que é você pegar realmente o que tem de bom em alguma organização.... alguma instituição e incorporar os teus processos então, eu vejo o que lá fora um professor [dessa disciplina] faria? Então, a gente começa a chocar justamente com essa questão didática: “um professor lá do exterior colocaria 10 artigos para os alunos lerem, e eles vão ler, teoricamente, porque lá fora não se costuma trabalhar enquanto se estuda”. Uma das coisas que os intercambistas comentam é: “professor, lá fora o estudante vive para estudar, e ele recebe do governo para estudar!” (ARI)

O que se refere aqui é que mesmo entendendo que o que caracteriza a

estratégia de benchmarking é utilizar o exemplo de sucesso de outra empresa, de

outra instituição, que experienciou um sucesso que ainda não se atingiu e, assim, o

professor estaria simplesmente utilizando uma estratégia de ensino/aprendizagem,

neste caso, contudo, o que há de melhor é o que vem de “fora”. E esse sentimento é

compartilhado, ou mesmo, aqui na citação, estimulado pelo que os intercambistas

comentam sobre o que tem lá fora, uma vez que receber do governo para estudar e

viver para estudar, é, sem dúvida, algo muito bom. Esta perspectiva é reforçada por

GRAÇA quando comenta sobre os livros e artigos que busca para preparar suas aulas:

“...hoje a minha leitura é toda internacional, tento pegar os livros estrangeiros e artigos que eu consiga vincular [com o conteúdo da aula]... eu tento buscar teoria de fora para implantar dentro de sala de aula...não desmerecendo os nossos livros brasileiros,

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porque eu também busco, mas eu foco mais no internacional...” (GRAÇA)

O professor também usa livros nacionais, não os desmerece, mas foca no

internacional, porque os considera melhores, caso contrário não iria utilizá-los.

Demarcando, mais uma vez, o heteroestereótipo de que o que tem lá fora é melhor

do que o que tem aqui.

Com relação ao que foi dito até aqui sobre esta subcategoria, De Wit (2013),

parece ser otimista com relação ao assunto. Mesmo não utilizando o termo sociologia

das ausências de que fala Santos (2002), ele compartilha a ideia que subjaz à

expressão e chama a atenção para: “as economias emergentes e a comunidade de

educação superior de outras partes do mundo [que] estão alterando a paisagem da

internacionalização” (DE WIT, 2013, p. 3), trazendo, assim, um novo olhar, mais

auspicioso, e complementa que essas economias emergentes e esses grupos de

educação superior de outras partes do mundo estão “afastando-se do conceito

ocidental e neocolonial, que orienta a percepção de “internacionalização” de muitos

educadores, este princípio precisa incorporar estas visões diferentes e emergentes.”

(DE WIT, 2013, p. 3).

Contudo, o que ficou evidente nos dados da pesquisa é que o heteroestereótipo

de que o que tem “lá fora” é melhor está evidente. E uma das áreas, relacionada ainda

com a educação, onde está particularmente presente é no campo acadêmico, como

apresentado na subcategoria a seguir.

4.1.3 Precisamos seguir o exemplo deles – colonialismo acadêmico

Sobre o colonialismo (ou imperialismo) acadêmico Domingues afirma que “...a

formação de professores continua sendo um empreendimento profundamente

colonial... embora mergulhada em discursos de diversidade e multiculturalismo, ainda

presumindo a centralidade do pensamento e da ideologia eurocêntrica.”

(DOMINGUEZ, 2019, p. 47, minha tradução). Colonialismo este que não é explícito

verbalmente, mas se vê refletido não só nas práticas docentes, mas também nas

narrativas da educação e, para os propósitos desta pesquisa, nas falas dos

entrevistados:

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...e no caso da F., ela estudou um assunto que é o nosso grande guarda-chuva de pesquisa.... E no Brasil a gente não tem muitas coisas sobre essa metodologia, a linha francesa tem muita referência, muita mesmo, então a gente tem muito a aprender com a linha francesa sobre esse assunto. Então ela, principalmente o referencial teórico... e ela já pegou as referências que a F. trouxe, que a C., e elas citam a tese da F., a tese da C., a própria tese delas, que elas produziram com base nos estudos delas lá, tá servindo de referência. (ANA) Os meus artigos que eu leio são todos internacionais, os meus livros que eu leio hoje atualmente são todos internacionais, eu procuro às vezes uma base teórica no português assim, mas eu foco mais no que está sendo estudado lá fora, porque eu acho que a gente ainda tem, tem muito a evoluir em relação a isso, a teoria, os modelos. Então hoje nos meus artigos a maioria é tudo com base de textos internacionais. (GRAÇA)

As falas acima exemplificam o que Fernandes et al. (2017, p. 82) criticam

acerca do colonialismo: “seu caráter de constituir epistemicamente e consolidar,

politicamente, um conjunto de saberes a partir dos quais o único saber visto e aceito

como legítimo é aquele que corrobora com o universo de possibilidades alcançado

pelo polo hegemônico nas relações coloniais”. Importante notar que no artigo desses

autores o colonialismo de que tratam é do norte-sul do Brasil. Outro excerto da

entrevista menciona a qualidade a alcançar da educação:

E que na Europa, com esse professor que foi orientador dela, eu compreendi que as humanidades são muito importantes junto com as ciências duras, e junto com as Ciências da saúde, porque ele era um médico, formado em letras, e ele, a representatividade que ele tinha em Londres, era pela formação dele em letras, não pela formação de medicina, mas ambas davam a ele uma entrada muito grande nas áreas médicas para falar de humanidades. E aí a B. vem assim com uma metodologia muito diferente... foi um divisor de águas; antes da B. e depois da B. (ANA)

Destaca-se, na citação acima, a representatividade do professor na área

médica de Londres e como o contato, mesmo que indireto, com ele funcionou como

divisor de águas, como marcou a qualidade da nova metodologia aprendida. A

propósito de qualidade, Pyvis (2011) em seu estudo sobre um programa universitário

australiano promovido na China em parceria com uma universidade chinesa,

argumenta que “a atual abordagem para a formação de qualidade educacional no

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ensino superior transnacional promove imperialismo educacional” (PYVIS, 2011, p.

734, minha tradução), uma vez que a “similaridade com o programa de origem é que

é a medida de qualidade” (idem). Considera-se aqui que os cursos onde lecionam os

professores entrevistados não possuem um programa educacional formalizado com

um país da Europa ou dos USA, nem mesmo da Austrália, como é o caso do estudo

apresentado por Pyvis, contudo a medida de qualidade é atribuída à educação

daqueles países, em função da legitimação do saber disseminado pelo polo

hegemônico e a quem é atribuída a soberania do saber e, por conseguinte, atua como

marca de qualidade, como evidencia ANA:

“e ele, a representatividade que ele tinha em Londres, era pela formação dele em letras, não pela formação de medicina, mas ambas davam a ele uma entrada muito grande nas áreas médicas para falar de humanidades”. (ANA)

Reitera-se que, isoladamente, essa citação apenas informa que um professor

estrangeiro qualificado contribuiu de forma significativa para o aprimoramento

cientifico, tanto da aluna quanto do professor. O que, contudo, remete a informação

contida nesta citação ao colonialismo acadêmico é o cotejamento com as outras

categorias e citações apresentadas neste capítulo.

4.2 CATEGORIA 2: SER PROFESSOR - ATUANDO NA DOCÊNCIA

Fazem parte desta categoria três subcategorias: (1) utilizando estratégias de

ensino e abordagens de IoC; (2) Falando de IoC; e (3) refletindo sobre mobilidade

acadêmica.

4.2.1 Utilizando estratégias de ensino e abordagens de IoC

A constatação de que antes de serem professores da internacionalização do

currículo, os professores, primeiramente, se identificam com a profissão professor

ficou evidente quando os entrevistados falaram sobre o que é para eles uma boa aula.

Emergiu dos dados, sobre uma boa aula, que esta envolve a participação dos alunos,

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o planejamento, a sedução para o conteúdo, bem como sua importância para a

formação profissional dos alunos:

Para mim, aula boa é aquela que você traz o aluno para participar da aula. Então, eu tenho que mostrar para o aluno que aquela matéria, que a minha disciplina é muito importante para ele para a formação dele, que para mim é a melhor coisa que tem... Então, eu tenho primeiro que persuadi-los de que aquele conteúdo é importante para a formação dele... eu procuro sempre trazer os alunos para participar da aula, então, eu sempre estímulo à participação.... mas a questão da sedução que eu falo seria você seduzi-los para o conteúdo, e também para o ambiente de sala de aula mais leve para eles participarem do ambiente de sala de aula. Então, você perguntou uma aula boa; tem uma aula assim que eu planejei conteúdo, eu exerci este conteúdo, tal... têm aulas assim que terminam exatamente naquele ponto que eu queria, já preparando a ponte para a próxima aula..."Putz, esta aula foi exatamente como eu planejei assim, o conteúdo, a sequência, a participação e o tempo. Isso é fundamental, várias vezes acontece isso. (RUI) “O que eu considero uma boa aula é quando o aluno pesquisa, é quando o aluno constrói os conceitos sem o professor ter que dizer a eles os conceitos...minha função é justamente escutá-los, completar o que estão dizendo, corrigir se tiver algum desvio” (ANA)

Percebe-se que, não só os aspectos didático-pedagógicos tradicionais fazem

parte do cotidiano dos professores, mas também, conforme emergiu dos dados, a

importância da participação e autonomia dos alunos na construção dos conceitos.

Percebe-se aqui o novo paradigma educacional, ou, como coloca Moraes (2007), o

“paradigma educacional emergente”, que tem uma visão do aluno em sua totalidade

e para quem o foco da educação se direciona, diferentemente do paradigma

tradicional onde o foco era ensinar. Dito de outra forma, direcionam-se as ações

docentes, primordialmente, não para o ensino, mas para o aprender, para o

aprendente, que é “um ser original, singular, diferente e único. É um ser de relações,

contextualizado, alguém que está no mundo e com o mundo, cuja realidade lhe será

revelada mediante sua construção ativa.” (MORAES, 2007, p. 138). A atuação do

professor se faz conjuntamente com os alunos para a construção da realidade,

trazendo o aluno a participar da aula, usando como uma das estratégias a sedução

para o conteúdo apresentado com vistas a chamar a atenção para a carreira para a

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qual se preparam para exercer, colocando a ênfase, assim, “na aprendizagem e não

no ensino, na construção e não na instrução” (idem, p. 139).

Emergiu dos dados igualmente que a atuação do professor se faz

conjuntamente com os alunos e com esses também constrói ativamente a realidade

ao assumir que o professor não sabe tudo e a aula é fruto de atuação compartilhada

entre professor e alunos, conforme manifesta ANA:

...por exemplo, eu tenho dois alunos que quando é a matéria [tal] eu peço para os dois falarem, que os dois são especialistas em... Então, assim, toda vez que eu vou fazer referência a esses autores, eu peço para eles me ajudarem...Então eu não posso ter a postura de que eu detenho o conhecimento, porque senão eu não vou dar conta, eu tenho que toda vez que eu falo de [tal autor], eu tenho que dizer: M, explique isso aqui agora. Eu vou falar de [tal autor]: J você explica... Então tem algumas coisas, assim, que sou eu que detenho, mas outras são eles, tá? (ANA) E esses alunos me mostraram um domínio conceitual muito grande e, na verdade, a aula não foi dada por mim, foi dada por eles... (ANA)

O docente atua também como mediador e intérprete quando amarra os

conceitos criados e aprendidos pelos alunos, apara arestas, onde os alunos têm

autonomia para suas próprias descobertas e o papel do professor é mediar estas

descobertas, como refere ANA:

... mas eu penso que o mais importante de tudo é os nossos alunos terem a autonomia, eles tem que ser educados para isso. E quando eu dou o seminário [tal], eu falo muito pouco, porque eu preciso que eles falem, eles precisam fazer as descobertas deles. E eu preciso aprender com eles... é o professor que vai entrar em sala de aula calado, fala bem pouco, e quem fala muito são os alunos. Inicialmente isso pode parecer uma coisa caótica, que o professor não sabe, entende?... mas à medida que a coisa vai acontecendo, tu vais amarrando os conceitos, tu vai conduzindo a aula, uma aula assim com autonomia. (ANA)

Outra constatação do papel de mediador que exerce o professor se percebe

quando ARI chama a atenção dos alunos para as fontes de conhecimento confiáveis:

E, antes de mais nada, mostrar para o aluno que aquilo que ele está buscando muitas vezes de forma online, não passou por

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algum crivo editorial, por exemplo. Eu pelo menos tento mostrar em sala a importância e a diferença de pesquisar no livro do que pesquisar no blog. Por que o blog qualquer um entra lá faz o login, escreve qualquer coisa e depois aquilo é usado como referência em trabalhos acadêmicos. O livro já teve todo um conselho editorial, são pessoas especializadas naquele assunto, o aluno pode até não concordar com o teor daquilo ali, aquela teoria exposta naquele livro, por exemplo, mas que ele teve o aval de pessoas especializadas naquele assunto para ele poder ser publicado já leva o livro a uma categoria diferente do que o material online que... obviamente, existem materiais online muito qualificados por que você tem que cuidar justamente da fonte. (ARI)

É professor mediador, pois, ao anunciar a interface entre conhecimento

científico e informação de um blog fomenta a criticidade dos alunos para a realidade,

para o que é importante tanto para o estudo que está empreendendo no momento,

como para a acuracidade de suas pesquisas vindouras.

Quanto às estratégias de ensino que contemplam as abordagens de IoC, as

professoras utilizam as abordagens do acréscimo (add on) e da infusão (infusion).

Quanto à abordagem da transformação não foi expressa pelas respondentes da

pesquisa.

Além daquelas abordagens, percebeu-se que os professores utilizam também

várias estratégias de IoC sugeridas pelo Guia de Boas Práticas para a

Internacionalização do Currículo da Griffith University de Barker (2011), – doravante

GIHE – o fazem sem saber da existência deste guia, que se constitui de um

documento com exemplos de estratégias para internacionalizar o currículo. Na sua

versão integral contém 31 (trinta e um) exemplos práticos listados e pode ser

acessado no apêndice A.

A oferta de disciplinas em língua estrangeira, que podem ter tantos alunos

brasileiros quanto estrangeiros, é uma faceta da IoC, mais pelo conteúdo e forma

como é apresentado do que pela língua estrangeira. Esta, dependendo de como são

conduzidas as aulas, pode ser apenas a língua de instrução. GRAÇA relatou que se

preparava para lecionar uma disciplina neste módulo internacional e expressou o

seguinte:

...eu vou, se fechar a turma, começar a lecionar no módulo internacional, ver a disciplina [tal]... e realmente agora eu estou na fase de definir a ementa, definir plano de ensino, eu

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realmente me pergunto: quem serão os alunos? Serão alunos brasileiros...? Virão alunos estrangeiros?...Qual é a vivência deles? Qual é a história? (GRAÇA)

Percebe-se, nesta fala, a preocupação do professor com as questões

interculturais de seus alunos em potencial ao preparar a ementa pensando em alunos

brasileiros e estrangeiros e suas vivências, suas histórias, suas culturas, fazendo uso,

assim, da abordagem da infusão que é aquela que prevê “repensar os objetivos do

curso para incluir questões e abordagens interculturais” (BOND, 2003, p. 9, minha

tradução).

Outro exemplo de abordagem de IoC é percebido nessa citação considerando

que o módulo internacional em questão utiliza como língua de instrução a inglesa, ou

seja, estimula o aprendizado de uma língua estrangeira, uma vez que para participar

das aulas os alunos necessitam ter fluência neste idioma. Torna-se, assim, um critério

tanto para poder cursar a disciplina, como para participar ativamente desta e o GIHE

sugere “Incluir módulos tais como comunicação intercultural ou linguística” com o

intuito de “incentivar os alunos a aprender uma segunda língua ou a concluir um curso

de comunicação intercultural” como exemplo para a internacionalização do currículo,

como possibilitador da comunicação entre pessoas de nacionalidades diferentes.

Além disso, considerando que o módulo internacional é oferecido para alunos

nacionais e estrangeiros, cria possibilidade de favorecer a comunicação intercultural

entre os participantes desse grupo.

Mais uma vez se percebe a utilização da abordagem do acréscimo, ou seja,

aquela que adiciona uma questão internacional ao currículo existente, quando ARI

menciona:

Em uma disciplina como [tal], por exemplo, eu posso adaptar e trazer dados, conceitos e outras características de não necessariamente nacionais, e sim de uma perspectiva mais internacional. Mesmo em uma aula somente para alunos brasileiros, já é uma situação que ocorre até por orientação da nossa coordenação, pelo menos no nosso curso, que aconteça nos planos de ensino a inserção de características de internacionalização que incluem bibliografia, artigos, livros, não necessariamente em inglês. (ARI) E nas unidades ao abordar o conteúdo nós fazemos justamente esta conversa com outras nações, muitas vezes, então como é no caso de tal item produzido nos Estados Unidos? (ARI)

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Nas citações acima ARI dá exemplos claros de que utiliza abordagens de IoC,

ao mencionar dados e características de uma perspectiva mais internacional e a

inserção de bibliografias em língua estrangeira, bem como esta conversa com outras

nações, esta comparação entre o Brasil e os USA em relação ao produto.

Utiliza a abordagem do acréscimo, na primeira citação e a comparação entre o

país de origem e um estrangeiro, na segunda, como exemplo de internacionalização

mencionado no GIHE. É verdade que o fato de ser um material de língua estrangeira,

que certamente é de outro país, configura abordagem da infusão, contudo ao

mencionar que adiciona uma questão internacional ao currículo existente, aponta para

a do acréscimo. Além disso, o GIHE sugere revisão de literatura internacional que

inclui artigos e revistas internacionais, bem como a comparação de um assunto, no

caso um produto, entre o país de origem e um ou mais países estrangeiros.

ARI menciona a visita técnica como um exemplo de IoC, proporcionando para

o aluno um alargamento da visão de mundo:

... e eu faço essa questão da localidade, porque você compara, por apontada pela professora como exemplo, a um aluno habitante de Penha, Piçarras, Tijucas, que são cidades pequenas em que a realidade do aluno muitas vezes se baseia na casa dele, na vizinhança dele, por mais que ele tenha um mundo à disposição. Ele pode acessar o que ele quiser pela internet, mas qual é o real envolvimento dele? ...por isso que são fundamentais as visitas técnicas oferecidas pelo curso, para ele sair da zona de conforto dele e saber que existe um mundo ali fora, isso, o detalhe que nós estamos falando é de poucos quilômetros, às vezes tem 150k... (ARI)

Considero essa perspectiva como abordagem da IoC uma vez que tem a

intenção de realçar para os alunos que “existe um mundo ali fora”, mesmo que as

fronteiras geográficas sejam de poucos quilômetros de distância. Chama a atenção

dos alunos para outras realidades às quais os alunos não estão habituados, desperta-

os para o tamanho do mundo, aguça sua curiosidade para o que tem lá fora. Ainda,

com relação às visitas técnicas, o GIHE sugere “visita técnica em comunidades étnicas

para trabalhar com parceiros interessados” com o objetivo de “proporcionar aos alunos

experiência prática por meio na comunidade local para explorar questões específicas

da disciplina”. Além disso, ARI demonstra ainda a preocupação com o aluno

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favorecendo o contexto de relações desta no mundo e com o mundo, na construção

ativa da realidade (MORAES, 2007).

A comparação entre o Brasil e outros países, como anteriormente já

mencionado, é uma abordagem de IoC. Nas evidências empíricas abaixo

apresentadas esta característica é explorada:

E nas unidades ao abordar o conteúdo nós fazemos justamente esta conversa com outras nações, muitas vezes, então como é no caso da [disciplina] como é produzido nos Estados Unidos? Eles usam mais o que, que tipo de material eles utilizam nos produtos? Como é o estilo desses profissionais no caso de [disciplina] por exemplo, tem tudo uma questão de, por se tratar de curso em que leciono, como é a origem da sociedade de consumo? Tem toda uma questão de Revolução Industrial, que acabou trazendo todas essas consequências mercadológicas que a gente conhece hoje. Então, vamos lá para a Inglaterra, o que acontecia na Inglaterra? Então, a gente resgata toda essa questão, mesmo se tratando de um curso de ..., a gente faz toda essa questão Global, ... (ARI) ...porque eu costumo dizer, por exemplo, a questão do chuveiro elétrico. O chuveiro elétrico, eu não conheço nenhum país do mundo que tem chuveiro elétrico. É a gás, normalmente, o geral é a gás. Daí, quando a gente viaja e fala que no Brasil o chuveiro elétrico, o pessoal... de outros países falam: " Poxa, mas não é perigoso!" antigamente era perigoso, muito perigoso. Daí o pessoal [alunas]fala: "pois é, eu estive lá, eu fiz intercâmbio na Austrália, realmente o chuveiro era a gás, eu nunca vi chuveiro elétrico!" o pessoal fala: "na Europa é muito banheiro assim, aquecimento térmico, eu também não vi chuveiro elétrico!" daí, agora, hoje, é muito comum na sala de aula ter alunos que fizeram intercâmbio, muito comum mesmo, e que viajam também bastante.... Então, a gente conhece, tem experiência internacional sobre especialmente hábitos, não necessariamente sobre conteúdos da matéria, mas... (RUI) ...na [disciplina]nem tanto, mas na [disciplina]é direto. É direto, porque daí você tem empresas internacionais como o Google, Facebook ou IBM que trabalham, que usam isso nos produtos, e a gente traz essas experiências como exemplos de sucesso dessas técnicas no dia a dia. Então, é interessante que quando a gente começa a citar esses exemplos, a maioria deles já conhecem os exemplos, e as técnicas também: " eles usam isso, usam aquilo!". As técnicas também conhecem, então... as técnicas que nós usamos aqui são usadas no mundo inteiro. (RUI)

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Percebe-se, não apenas nas três citações acima, que marcam comparações

entre o Brasil e outros países e que busca a participação dos alunos nessa “conversa

com outras nações” (ARI), como em todas as outras nesta subcategoria, exemplos de

abordagens de IoC, mesmo que nem sempre os professores tinham noção de que

estavam expressando-as, de que estão utilizando-as. Ao assim agirem, sinalizam

estarem atuando no processo de IoC. Por outro lado, o fato de os termos internacional,

exterior e “lá fora” estarem contidos num específico grupo de países traz um alerta

para a forma como os professores veem o mundo e o seu país no mundo, e todas as

implicações que este fato traz. Acredito que, conforme pontua Dominguez, apesar de:

“... todas as suas "inovações", e pela ânsia de explicar a diversificação no mundo, a formação de professores continua sendo um empreendimento profundamente colonial.... Em todo o mundo, é um processo empreendido por instituições predominantemente brancas, preparando predominantemente novos educadores Brancos, embora mergulhada em discursos de diversidade e multiculturalismo, ainda presumindo a centralidade do pensamento e da ideologia eurocêntrica (DOMINGUEZ, 2019, p. 47, minha tradução, grifos do autor).

Ainda assim, os professores demonstram estar engajados no processo de IoC,

mesmo que ainda na sua etapa inicial. E não só utilizam abordagens que remetem a

esta, como falam sobre a IoC.

4.2.2 Falando sobre IoC

Esta subcategoria está relacionada com o que os professores verbalizam sobre

a internacionalização do currículo, direta ou indiretamente, e que converge ou diverge

da literatura existente sobre IoC. ARI ao falar de sua prática relacionada à

internacionalização do currículo, a forma como transita, em sua disciplina, pelo

mundo, comenta:

Não necessariamente abordar o conteúdo em outra língua, eu posso dar uma aula de português, trazendo perspectivas internacionais. Agora, internacional no sentido de internacionalizar o currículo não é necessariamente colocar um artigo de inglês no plano de ensino. Então assim, o processo de internacionalização ele é um pouco mais complexo, então, justamente você no plano de ensino prever situações às quais o aluno vai estar exposto e ele sair da disciplina com uma perspectiva internacional, eu acho que esta é a função de um

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bom plano de ensino e que uma boa aula vai fazer cumprir, porque você pode ter um bom plano de ensino e uma aula que não atenda a isso que foi planejado. (ARI)

O que expressa o professor na citação acima são características que compõem

a internacionalização do currículo, uma vez que a IoC “é a incorporação de dimensões

internacionais, interculturais e/ou globais no conteúdo do currículo, bem como os

resultados de aprendizagem, atividades de avaliação, métodos de ensino e serviços

de suporte de um programa ou estudo” (LEASK, 2009, p. 209; 2015, p. 43). Além

disso, faz uso da abordagem da infusão: (1) ao pensar no plano de ensino de forma a

preparar o aluno para que ele saia da disciplina com uma perspectiva internacional

(ARI); ao comentar que internacionalizar o currículo não é só colocar um artigo em

inglês no plano de ensino; e (3) entender que o processo de IoC é mais complexo. Ou

seja, o professor expressa conhecimento sobre IoC.

Contudo, esta constatação se torna fragilizada, levando em consideração os

fatos apresentados anteriormente sobre o alcance do termo internacional, sobre a

sociologia das ausências e o heteroestereótipo. Ainda assim, novamente, a percepção

sobre internacionalização do currículo apresentada pelo professor é uma

demonstração objetiva de que o processo de IoC está ocorrendo.

No entanto, ao falar sobre seu entendimento com relação à internacionalização

do currículo, RUI apresenta uma visão que diverge das teorias existentes quanto à

definição de IoC:

...eu imagino que seja em nível de ementa, conteúdo básico assim que tem que ser trabalhados para cada disciplina, coisa assim no mundo inteiro, seria basicamente isso, e seria também mais ou menos a parte de nomenclatura padrão para o mundo inteiro de conteúdos, alguma coisa assim? (RUI)

Concordo com Leask (2015) quando defende que a ideia apresentada acima,

de um currículo comum no mundo inteiro, é um dos equívocos comuns quanto ao

entendimento da IoC. Pondera a autora que “um currículo internacionalizado não é

um tipo de currículo globalizado, genérico, que seja o mesmo em todo lugar e que

possa ser ensinado em qualquer lugar para qualquer pessoa” (LEASK, 2015, p. 12,

minha tradução). Concordo com a autora, pois o termo internacionalizar pressupõe

perspectivas internacionais (lembrando que o termo internacional abrange dois ou

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mais países) que um currículo comum global dificilmente conseguiria obter. Pelo

contrário, traria as perspectivas do poder hegemônico, ou seja, como marca Leask:

“privilegia e fortalece os conhecimentos e grupos que já são dominantes” (idem). Não

é esta a ideia que subjaz a IoC, pelo contrário, nesta sociedade global cada vez mais

conectada e que muda velozmente, o que se espera de um currículo é que “facilite o

desenvolvimento em todos os estudantes de habilidades, conhecimentos e atitudes

que irá equipá-los, como graduados, profissionais e cidadãos do mundo para viver e

trabalhar efetivamente” nesta aldeia global (LEASK, 2015, p. 12, minha tradução).

Interessante perceber, contudo, que na entrevista de RUI percebe-se que utiliza

abordagens de IoC e que compartilhou, várias vezes, dos objetivos da IoC, mesmo

sem saber.

Na entrevista com GRAÇA percebeu-se que o mesmo tem conhecimento de

IoC e que tem estudado sobre internacionalização do currículo, como expressa na

passagem abaixo:

... mas eu sempre estimulo eles a pensarem nisso [comparar o Brasil com outros países em relação a disciplina lecionada], até porque a gente percebe que são poucos ... os que fazem essa mobilidade de viajar para fora, isso não é muito aberto ainda, são poucos que tem, digamos, esse privilégio de fazer, não é? Então com o estudo da internacionalização que a gente vem fazendo e com a internacionalização de currículo, eu como professora eu já tento incluir ... essa perspectiva dentro das minhas atividades em sala de aula não é? Então por meio das leituras que a gente faz. (GRAÇA)

Diferente de entender que a matemática, por exemplo, é internacional, pois

todas as escolas no mundo ensinam esta disciplina, é comparar as formas de entender

e praticar a matemática em diferentes países, o que remete a IoC. Assim, não só o

professor menciona a expressão internacionalização do currículo, como dá exemplo

de sua prática ao estimular os alunos a fazerem a comparação do seu país de origem

com outros países quanto ao conteúdo apresentado em aula. O GIHE sugere como

exemplo prático de IoC solicitar aos alunos que discutam sobre o desenvolvimento de

questões/problemas no país de origem e outro país ou analisar tendências

internacionais em outro país.

Outro exemplo de IoC que emerge nesta citação é o da internacionalização at

home (IaH) ou doméstica, e que, na análise de Leask (2015), é muito similar com a

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IoC. Mesmo sem utilizar o termo, o entrevistado, ao falar do pequeno número de

estudantes que tem oportunidade de fazer mobilidade acadêmica, de viajar para o

exterior, e pensar numa alternativa para esta situação de forma a alcançar todos os

alunos, que seria trazer perspectivas internacionais para a sala de aula, está falando

de IoC. Ou seja, as experiências internacionais também podem se dar pela IaH, uma

vez que esta promove o desenvolvimento da competência intercultural e internacional

dos alunos, sem que esses necessitem sair de sua própria cidade com propósitos

educacionais (CROWTHER et al., 2001), ou que enfatiza aspectos interculturais no

processo de ensino e aprendizagem (DE WITT, 2011) ou ainda que costura alianças

com grupos culturais e éticos locais nos planos e programas de ensino, nos processos

de ensino e aprendizagem, nas atividades extracurriculares, bem como nas atividades

de investigação acadêmica (KNIGHT, 2008).

Mesmo que a porcentagem de estudantes que fazem mobilidade acadêmica

seja pequena em relação à que não tem essa oportunidade, o fato de os professores

se referirem a ela de forma sistemática e significado compartilhado, levou à criação

de uma subcategoria, que será apresentada a seguir.

4.2.3 Refletindo sobre Mobilidade Acadêmica

Mobilidade acadêmica de acordo com Rudzki (1998) é uma política a qual se

refere de forma explicita à internacionalização, ou seja, é a principal característica

visível do processo de internacionalização da educação (KNIGHT, 2010). Contudo,

Leask (2015) alerta para o risco de se pensar em internacionalização da educação

como se tratando exclusivamente de mobilidade acadêmica, como muitas vezes

acontece. Defende, ainda, a autora, que esta é uma atividade que pode ser

transformadora para os estudantes que a praticam, mas que a porcentagem de alunos

que tem condições de fazê-lo é muito reduzida. Ainda assim, os professores

entrevistados elencaram os benefícios desta atividade.

Então quando eu penso em internacional é isso, é a questão de mobilidade, de ele já ter essa visão de estudos, de tradições entre países, porque o aluno com essa formação ele pode, ele pode futuramente vir a trabalhar não é, com negociações internacionais, então ele tem que ter essa noção da globalização. (GRAÇA)

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A L. fez o intercâmbio, eu acredito que foi nos Estados Unidos, por que a língua é inglês, eu acho que foi Estados Unidos. E ela trazia sempre muitas contribuições para a sala de aula. Aqui no [curso] nós tivemos várias contribuições. A M. ... trouxe muitas contribuições para o grupo com relação à metodologia... e ela trouxe muitas contribuições. ... E a D. foi a mais recente.... Então, assim, toda vez que ela está no grupo, ela traz as suas experiências, inclusive de dificuldade com a língua, porque a D. chegou lá e teve muita dificuldade com a língua. Então ela incentiva muito os alunos a aprenderem melhor uma língua aqui antes de sair. (ANA) ... alunos que fizeram intercâmbio, eles voltam com uma visão de estudo completamente transformada: “Ah, porque lá na Holanda não existe o aluno não precisa ir para aula, ele recebe um projeto para fazer, ele tem um prazo para entregar!” E as pessoas acabam indo para biblioteca para fazer grupos de estudo, e eles sabem que eles têm que entregar aquele material. (ARI) E também nós tivemos o caso da S. que fez parte do nosso grupo de pesquisa e que foi minha bolsista de iniciação científica, e eu percebi... e a S. foi minha bolsista depois que veio do intercâmbio, o intercâmbio da S. na graduação. E ela demonstrou uma... um trânsito muito bom na metodologia. ... E a S. ela realmente conseguiu desenvolver uma pesquisa sozinha e com muito rigor metodológico. E isso eu atribuo a dois fatores, primeiro pelo domínio que ela tem no inglês e do espanhol, porque ela conseguiu ir atrás de fontes e ler essas referências nessas línguas. E segundo, também, porque o exercício intelectual que uma pessoa tem que fazer para sobreviver lá fora é muito grande. (ANA)

Importante pontuar que os programas de mobilidade destacam-se como um

dos campos mais férteis para a cooperação acadêmica internacional (KNIGHT, 2014;

DE WIT, 2010; ALTBACH, 2005), e possibilitam o deslocamento de milhares de

estudantes a cada ano (STALLIVIERI, 2004). Favorecem aos seus participantes a

possibilidade de formar uma consciência mais abrangente do mundo, bem como se

preparar para viver em um mundo interdependente, de acordo com a Unesco

(UNESCO, 1998) na Conferência Mundial sobre Ensino Superior, realizada em Paris

em 1998, na qual se discutiram tendências da educação superior para o século XXI.

Todos os professores apontaram as vantagens da mobilidade estudantil,

contudo, faço um contraponto com o que menciona Hans de Wit (2010), sobre uma

das desvantagens dessa atividade, a chamada “brain drain”, que significa a evasão

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de cérebros, ou seja, a emigração de pessoas altamente treinadas ou inteligentes de

um determinado país, de onde saíram para irem estudar e se preparar

profissionalmente em outra nação. Acabam, os mais inteligentes e treinados, sendo

convidados a ficar e trabalhar neste país, o que configura a “brain drain”. Ainda assim,

também valorizo a mobilidade estudantil, quando se restringe ao seu objetivo original.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para traçar as considerações finais desta pesquisa, trago o objetivo primeiro da

internacionalização do currículo que é formar cidadãs globais que tenham

conhecimento do mundo e desenvolvam competências culturais, além de

responsabilidade social (CLIFFORD; MONTGOMERY, 2015). O objetivo principal do

estudo foi compreender a atuação da professora na IoC, a partir de suas percepções.

Ou seja, lançar um olhar para a forma que a professora atua como docente na

internacionalização do currículo com vistas a contribuir para a formação dessa cidadã

global. A consecução da pesquisa trouxe resultados que levaram à teoria substantiva

que oferece uma forma de compreender essa atuação.

A elaboração conceitual que estrutura a teoria substantiva construída, atendeu

aos parâmetros da Grounded Theory Construtivista, e revelou duas dimensões a ser

consideradas quando se lança o olhar para esta profissional inserida no contexto da

internacionalização do currículo, ambas relacionadas com o ser professora na atuação

docente na IoC: o ser professora substantivo é sujeito na atuação docente e o ser

professora verbo diz respeito à prática, à atuação em si. Cada uma das dimensões

deu origem a uma categoria que, por sua vez, foi subdividida em três subcategorias.

Esse procedimento metodológico, assim, levou à seguinte teoria substantiva:

Como sujeito na atuação docente na IoC, a professora expressa que o exterior, o

internacional é a Europa e os USA, primordialmente, sinalizando, assim, a ausência

dos demais países do globo; revela um heteroestereótipo que coloca esses países

como melhores que o Brasil; e manifesta colonialismo acadêmico. Quanto à sua

atuação, é professora, antes de ser docente na IoC e utiliza abordagens de IoC,

mesmo sem saber; fala sobre internacionalização do currículo, as vezes de forma

divergente à teoria existente; e valoriza a mobilidade estudantil.

No decorrer do processo de análise, quando da nomeação das primeiras

macrocategorias, ao distribuir os códigos pelas duas dimensões que emergiram

primeiramente – dimensão professor e dimensão sala de aula – estas se tornaram

componentes, lentes, para seguir nas análises e esclarecer o questionamento da

pesquisa quanto à atuação da professora na IoC. Os passos seguintes, e com a

comparação constante, estas dimensões foram transpostas para o contexto da IoC:

Ser uma professora antes de ser uma professora de IoC e IoC teoria e prática.

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A partir daí, impregnada com essas lentes, seguir com as comparações

constantes, conduzir as análises e chegar nas categorias prevalentes foi um passo

natural. Compreender a atuação da professora no contexto da IoC a partir de suas

percepções evidenciou o paradigma interpretativo, ao destacar a interrelação entre

pesquisadora e pesquisadas para a construção de significados de mundo, no caso

especifico desta pesquisa, a construção de significados sobre o contexto da docência

e da IoC.

Antes de passar para o próximo parágrafo, escrevo sobre a minha relação com

a Grounded Theory, não a GT teórica, apesar de ter mergulhado nesta, mas a GT na

prática, ou seja, o que li na teoria se confirmou na prática: de fato as categorias

emergem dos dados! De fato, o método da comparação constante é importantíssimo

para a criação da teoria substantiva. E, apesar de eu ter conhecimento prévio de IoC

e este conhecimento, possivelmente ter influenciado na criação de algum código, por

outro lado, eu não imaginava que os dados revelariam a sociologia das ausências, o

heteroestereótipo e o colonialismo acadêmico. Não que eu não tivesse conhecimento

disso, tinha. O que, contudo, não imaginava antes de começar a pesquisa é que iria

encontrar evidências de sua manifestação nos dados da pesquisa.

O fato de as professoras relatarem como se sentem em relação aos países da

Europa e USA leva à reflexão sobre a forma como estão atuando para alcançar o

objetivo da IoC, para formarem cidadãs globais. Se por um lado esta constatação é

desfavorável, por outro, o fato de ter sido percebida é o primeiro passo para a sua

modificação de forma favorável. É a educação, acredito, que tem papel preponderante

neste movimento, especialmente a internacionalização do currículo com todas as

prerrogativas que lhe são peculiares. IoC que busca transformar as estudantes em

cidadãs globais com responsabilidade social, respeito ao diferente, comunicabilidade

intercultural.

Importante salientar que não vejo problema algum, muito pelo contrário, na

mobilidade estudantil para países da Europa e para os USA, nem tampouco o uso de

materiais – livros, artigos, revistas - vindos desses países, menos ainda em comparar

o Brasil com esses países. O que foi aqui apresentado é o que emergiu dos dados. O

colonialismo acadêmico, o fato de restringir o global aos países da Europa e aos USA

e de demonstrar um sentimento que revela que lá fora é melhor, não se restringe, na

verdade, ao meio acadêmico. O inconsciente coletivo brasileiro vem se mantendo

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assim por muito tempo. O heteroestereótipo de que o que vem de lá é melhor do que

o tem aqui é presenciado em várias dimensões da vida cotidiana brasileira.

As professoras, no entanto, estão engajadas no processo de IoC, conforme

emergiu dos dados, não só pelo que expressam sobre esta, mas, e principalmente,

pela sua atuação em si quanto ao uso das abordagens de IoC. Ao utilizar as

abordagens do acréscimo e da infusão, bem como exemplos do Guia Prático para a

Internacionalização do Currículo da Griffith University, demonstraram estar inseridas

neste processo, que, também, ainda não atingiu sua maturidade.

Por fim, os objetivos específicos que serviram de lente para a consecução desta

pesquisa foram atingidos quando a IoC foi contextualizada, a visão das professoras

sobre sua prática docente foi conhecida, categorizada e apresentada, o que levou à

compreensão da atuação da professora na internacionalização do currículo. Além

disso, foi também o contexto da internacionalização do currículo que me proporcionou

ter materializado esta pesquisa, ter chegado à finalização desta tese, que me chamou

atenção para o mundo em seu sentido lato, que possibilitou com que eu me

percebesse, não apenas uma pesquisadora, mas uma pesquisadora satisfeita.

Como sugestão de pesquisas posteriores a partir do aqui foi apresentado,

sugiro investigações para descobrir se as alunas também se sentem assim com

relação ao Brasil comparado com esses países e se as alunas percebem a utilização

das abordagens de IoC pelas professoras e o que acham disso. Ainda, uma pesquisa

sobre a razão de a maioria de nós, brasileiros, termos o sentimento, de forma

consciente ou não, de que o que tem lá fora, sendo este lá fora os países da Europa

e os USA, é melhor do que tem aqui, seria bem vinda e com certeza forneceria

subsídios para a mudança de paradigma relacionada à nossa brasilidade.

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UNESCO. Conferência Mundial sobre o Ensino Superior: Tendências de Educação Superior para o Século XXI. Paris, 1998. Disponível em: http://www.unesco.org/education/educprogr/wche.htm/. Acesso em: 15 jun. 2019.

UNESCO. The New Dynamics of Higher Education and Research for Societal Change and Development. World Conference on Higher Education, Paris: UNESCO, 2009.

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APÊNDICE

APÊNDICE A: GIHE – Adaptação do Guia de Boas Práticas para a Internacionalização do Currículo

Currículo Padrão Currículo Internacionalizado Exemplos Práticos

Resultados da aprendizagem do estudante

Um foco nos resultados da aprendizagem global,

internacional e intercultural do estudante.

Inclui alvos/objetivos do curso que focam no desenvolvimento do conhecimento, habilidades,

atitudes e comportamentos interculturais, ou

desenvolvimento de uma segunda língua.

Revisão de literatura Revisão de literatura internacional

Inclui leituras/artigos de revistas (journals/revistas científicas) internacionais,

organizações intergovernamentais, jornais

estrangeiros, etc.

Estudo de Caso Inclui estudos de caso comparativos, exemplos e ilustrações de diferentes

países e culturas.

Solicitar aos alunos que discutam sobre o

desenvolvimento de questões/problemas no país de

origem e [outro país] ou analisar tendências

internacionais em [outro país].

Contexto local das disciplinas ou profissão

Considerar o contexto da disciplina/profissão em um

cenário internacional.

Pedir alunos para que avaliem e comparem práticas

profissionais no país de origem e [outro país].

Normas de acreditação nacional e profissional

Ou padrão profissional e acreditação nacional

Acreditação internacional e requisitos/padrões profissionais

específicos de disciplinas

Assegurar-se que o programa acadêmico tenha acreditação internacional onde relevante e

que seja reconhecido por órgãos/agências de

acreditação internacional.

Desenvolvimento linguístico e comunicativo

Incluir módulos tais como comunicação intercultural ou

linguística

Incentivar os alunos a aprender uma segunda língua ou a

concluir um curso de comunicação intercultural.

Questões éticas locais na disciplina e/ou profissão

Incorporar estudos de caso e ilustrações de questões éticas

em um mundo globalizado

Examinar questões éticas na globalização, como justiça social, equidade, direitos

humanos, Imigração e outras questões

econômicas e/ou políticas que envolvem uma abrangente

conscientização das tendências mundiais.

Atividades de sala de aula independentes.

Utilizar atividades interativas que incentivem os alunos a se envolver com outras pessoas de ambientes multiculturais

diversos.

Incentivar relações de trabalho entre estudantes oriundos de ambientes e culturas diversas,

tais como entrevistas com estudantes e/ou profissionais

que trabalharam internacionalmente

Estudo pessoal/individual Oferecer programas voluntários de monitoria de

pares (peer-monitoring)

Propiciar formação de pares entre alunos internacionais e

locais com o objetivo de

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facilitar a orientação, a transição e o sucesso

acadêmico .

Palestras e Tutoriais padrão Inclui workshops multiculturais, discussão por meio de mesas-

redondas, outras atividades interativas em grupo na sala de

aula

Pedir aos estudantes que avaliem e comparem

criticamente o impacto de uma questão/tópico no [país X] e

[país Y}.

Os alunos trabalham em grupo Alunos trabalham em grupos culturalmente diferentes

Pedir aos alunos que trabalhem em equipes/grupos multiculturais compostos por

alunos de uma gama de diferentes contextos sociais,

culturais e religiosos fornecendo-lhes suporte para garantir relações equitativas.

Fórum de discussões (board

discussion)

Discussão online com estudantes estrangeiros para

examinar questões comparativas

Pedir aos estudantes que usem os links eletrônicos e redes (por exemplo, e-mail, videoconferência, grupos de

bate-papo) para se comunicar com os alunos e profissionais

de outros países

Atividades de aprendizado presenciais

Garantir que os alunos que estão estudando nos modos

online ou mistos tenham oportunidades iguais a dos

alunos no campus em termos de interação cultural com seus

pares

Utilizar métodos de aprendizagem flexíveis e

mistos que combinem instruções do tipo presenciais

com as mediadas por computador (por exemplo, acesso online a palestras

gravadas, apresentações em PowerPoint, fóruns e salas de

bate-papo de estudantes, etc.).

Livros-texto e leituras nacionais Incluir materiais relevantes ou adequados para estudantes com diversidade cultural e

linguística

Usar livros didáticos, artigos de revistas e anais de congressos

internacionais recentemente publicados.

Palestrantes convidados locais Incluir apresentações de palestrantes convidados ou palestrantes acadêmicos ou

profissionais estrangeiros com experiência internacional na

área.

Programar apresentações de elevado perfil na academia,

negócios, relações internacionais, governo e

setores sem fins lucrativos, em conjunto com oportunidades de

networking para os alunos colaborarem com palestrantes

chave, oradores, outros acadêmicos e seus pares.

Materiais ocidentais de autoria de estudiosos, acadêmicos ou

profissionais.

Material não-ocidental de autoria de membros da comunidade local ou

internacional.

Apresentar entrevistas ao vivo gravadas em vídeo digital com

os migrantes, membros da comunidade ou minorias

étnicas para discutir questões controversas atuais (por

exemplo, qualidade e racismo, imigração, etc.).

Expertise acadêmica de professores e estudiosos como

recurso de aprendizagem.

Usar a diversidade cultural e expertise dos estudantes internacionais como um recurso para destacar

Incentivar relações de trabalho entre estudantes oriundos de

background e culturas diversas, tais como entrevistas

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valores/perspectivas diferentes.

com profissionais e/ou estudantes estrangeiros que

têm trabalhado em nível internacional.

Falar rápido e alto. Falar calmamente com clareza e em um tom moderado para

garantir que os alunos compreendam seu sotaque,

uso e significado das palavras.

Falar de 150-160 palavras por minuto, o que é o intervalo de

tempo em que as pessoas confortavelmente ouvem e

vocalizam as palavras

Apresentar informação/conceitos

verbalmente

Apresentar Informação em uma variedade de modos

verbais e visuais e, se apropriado, utilizar desenhos,

mapas ou Ilustrações para fornecer Informações não-verbais

extras.

Usar apresentação power-point, gravações de vídeo, e vídeos, gravações e material impresso da aula para repetir

mensagens-chaves apresentadas durante as

palestras/ tutoriais.

Assumir que os alunos entendem a menos que eles

façam perguntas.

Checar o entendimento dos alunos sobre o que você falou

pedindo-lhes para repetir mensagens-chave e esclarecer

quando necessário

Após apresentação de cada conceito-chave, ideia ou tópico, perguntar aos alunos "Alguém

pode resumir em 2-3 frases o que acabo de

dizer? "

Faça uso de senso de humor. Lembre-se que humor e linguagem são altamente

específicos para cada cultura. Evite o uso de gírias, jargões

ou piadas verbais.

Evite gírias como por exemplo se estiver dando aula em

português: “tirar a barriga da miséria”; “a vaca foi pro brejo”.

Atividades de avaliação individual

Combine projetos individuais e em grupo para que os alunos sejam avaliados quanto à sua

capacidade de trabalhar eficazmente em ambientes

multiculturais, multilíngues e/ou globais.

Utilizar avaliações individuais, tais como testes/exames

escritos, ensaios e artigos em conjunto com projetos feitos

em equipe como apresentação em grupo ou relatórios escritos

em conjunto.

Projetos de pesquisa Incluir tarefas de pesquisa comparativa que façam com

que os alunos comparem práticas locais e internacionais na área profissional/ disciplina.

Pedir aos estudantes que comparem como sistemas

sociais, econômicos, políticos, legais e ambientais variam entre o país de origem e

grandes cidades no mundo (ex.: Tokio, New York,

Londres).

Revisão de literatura Delinear projetos práticos com organizações locais que trabalhem em projetos

internacionais ou locais com um foco internacional ou

global.

Solicitar aos alunos que escrevam uma proposta de

negócios para prestar assistência a organizações de

voluntariado estrangeiras, como a UNICEF, a World

Wildlife Fund, World Vision, Anistia Internacional, etc.

Alunos entregam seu próprio trabalho

Revisão dos trabalhos por outro colega (Peer review)

Incentivar os alunos a apresentar os seus trabalhos a

uma audiência intercultural e/ou experts internacionais da

área (ex.: editor de revista cientifica), bem como obter

comentários imparciais destes.

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Procedimentos de avaliação padrão

Projetar atividades de avaliação em consulta com os estudantes, garantindo que os critérios de avaliação estejam relacionados com os objetivos

do curso internacional.

Solicitar aos alunos idéias sobre projetos de avaliação

que permitiriam a eles demonstrarem conscientização

internacional de questões globais, multiculturais e/ou

multilíngües.

Elaboração de portfólios pelos alunos

Incentivar os alunos a criarem portfólios eletrônicos para

demonstrar sua competência intercultural e conscientização

global.

Pedir aos alunos que coletem e apresentem informação

eletrônica (por exemplo, textos inseridos), arquivos

eletrônicos, imagens, multimídia, registros de blogs,

etc.) na internet que demonstrem a sua

conscientização global e competência intercultural.

Clubes do campus, sociedades e associações locais

Incentivar os alunos a participar de associações internacionais que sejam

afiliadas com sua disciplina/profissão.

Promover o envolvimento dos alunos em clubes ou

associações que sejam relevantes para as questões

globais (ex.: sem fins lucrativos, organizações como

a AIESEC, Griffith Vision Group, Griffith Environment Conservation Organisation,

etc.)

Colocação professional local. Promover estudo no exterior e/ou colocação em trabalho

professional com organizações ou agências de voluntariado

internacionais.

Incentivar os estudantes a participar de experiências no

exterior de programas de aprendizado integrado com

trabalho, Service Learning ou programas de intercâmbio com

instituições parceiras internacionais, tais como, Los

Andes em Columbia, Sun Yat Sen na China,

Centrum no Peru, Ruven Na França, Universidade de

Stellenbosch na África do Sul).

Visita técnica Organizar estágios fora do campus ou visita técnica a comunidades étnicas para

trabalhar com parceiros comunitários interessados.

Proporcionar aos alunos experiência prática por meio de visita técnica na comunidade local para explorar questões especificas da disciplina (ex.:

gerenciamento da água, conservação da vida

selvagem)

Contextos de aprendizagem tradicional em sala de aula

Proporcionar exposição à experiências multiculturais fora

da sala de aula.

Envolver os alunos em eventos extra-curriculares

multiculturais, para aumentar os seus conhecimentos e apreciação de diversidade social, cultural e religiosa.

Fonte: Adaptado de Barker (2011).