um olhar epistemolÓgico do papel da 3ª delegacia de...
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ROBINSON LUIS DE ARAUJO ISBN: 978-85-916700-0-0
UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO DO PAPEL DA 3ª
DELEGACIA DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL/MS, NO
COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS, ESPECIFICAMENTE
DE COCAÍNA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A BOLÍVIA
Anastácio/MS 2013
1
"A LIDERANÇA não se impõe, se conquista! Não trata com
objetos e sim com o coração. Ela não se quebra, por ser
formada com elos soldados pelo tempo! Não espalha e sim
ajunta. Ela acredita em pessoas e não as escolhe. Enxerga
potências e acredita. Não precisa de méritos...
Quer ser um verdadeiro Líder? Aprenda a servir as
pessoas, pois a humildade precede a honra. Essa é a
diferença em ser um líder!"
Pr. (ARAUJO, Robinson Luis)
Especialista em Liderança Cristã
2 O AUTOR
Nascido na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1974, hoje reside em
Aquidauana/MS. Policial Rodoviário Federal desde 1994, assumindo e começando
suas atividades na cidade de Rio Brilhante/MS e Ponta Porã/MS. Em 1996
convidado a assumir a função de Chefe Administrativo da Delegacia PRF de
Corumbá/MS e posteriormente, assumindo a função de Chefe de Delegacia. Em
2001 foi para Brasília/DF, onde participou da Divisão de Operações Aéreas (DOA),
tendo a oportunidade de desenvolver atividades operacionais em vários estados da
Federação. No ano de 2003, retornou para o estado de Mato Grosso do Sul,
integrando o Núcleo de Operações Especiais (NOE), onde pode conhecer mais das
fronteiras e como o crime organizado trabalha. Em 2005, retornou para
Aquidauana/MS, onde foi confiado a Chefia da Delegacia de Anastácio, pelo então
Superintendente Regional, Inspetor Valter Aparecido Favaro, permanecendo até o
ano de 2007, sendo também o Administrador do Centro de Treinamento do Centro
Oeste (CTCO) e Tutor do Telecentro em Aquidauana/MS. Substituído pelo Inspetor
Ciro Vieira Ferreira, atual Superintendente Regional, pode ajudar como o substituto
da Delegacia e como Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização (NPF) e
depois como substituto do NPF. Desenvolvendo suas funções na atividade afim da
Polícia Rodoviária Federal, hoje retorna na administração como substituto do NPF
da Delegacia. É instrutor do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF) na
disciplina de Combate ao Narcotráfico, na formação de novos PRF's, atuando
também, como instrutor da disciplina no treinamento de Policiais Militares do estado
de Mato Grosso do Sul na cidade de Corumbá/MS no Curso de Operações de
Fronteira (COF) nos anos de 2005 e 2006 e da Receita Federal do Brasil (RFB) na
cidade de Fortaleza/CE em 2007. Sócio fundador da "Associação o Bom Samaritano
de Apoio e Prevenção às Drogas" na cidade de Miranda. Servo de DEUS e discípulo
de Jesus Cristo.
Graduado no curso de Bacharel em Teologia, o mesmo possui Especialização em
Educação à Distância, trabalhando o tema da Educação a Distância na
Ressocialização do Preso em Aquidauana/MS. Pós-graduado em Liderança e
Administração Eclesiástica; Pós-graduado em Aconselhamento e Psicologia
Pastoral; Pós-graduando em Terapia Familiar. Possui vários cursos de
3 aperfeiçoamento pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e pela
Secretaria Nacional Anti Drogas (SENAD) na área de Prevenção as Drogas, como:
Capacitação de Conselheiros e Fé na Prevenção, bem como pela instituição a qual
pertence.
Casado com Christienne, com quem têm duas filhas, Jeovanna e Emanuelly.
4 AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS a oportunidade de estar na Polícia Rodoviária Federal e ter o
privilégio de trabalhar em uma Delegacia de PRF como a de Anastácio, no portal de
entrada do Pantanal Sul Mato-grossense.
A minha família, por entenderem o tempo dedicado a esta obra e o cumprimento da
missão que temos como Policial Rodoviário Federal, quando ficamos longe.
Aos meus pais Francisco e Fátima, por me incentivarem e ensinarem a ser um
cidadão cumpridor de seu dever. A meu irmão Ramisés, pelo companheirismo.
Aos companheiro de profissão, que se nominasse a cada um, corria o sério risco de
deixar de citar algum.
Aos Colegas da Delegacia PRF de Anastácio/MS, pela dedicação e excelente
serviço prestado a sociedade a qual estamos inseridos.
Aos Inspetores Ricardo Fernandes da Costa, Chefe da Delegacia PRF de Anastácio
e Francinildo Fernandes de Araújo, Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização,
pelo apoio irrestrito a construção desse trabalho.
Ao Inspetor Ciro Vieira Ferreira, Superintendente Regional da PRF em Mato Grosso
do Sul, pelo excelente trabalho a frente e por apoiar o esforço de cada PRF.
A cada cidadão das cidades de Anastácio, Aquidauana, Corumbá, Dois Irmãos do
Buriti, Ladário, Miranda e Nioaque, por confiarem no serviço que a 3ª Delegacia PRF
de Anastácio tem desenvolvido.
Em especial ao amigo Edson Pereira de Souza, pela dedicação e contribuição para
a realização dessa obra, meu muito obrigado!
5 DEDICAÇÃO
Dedico essa obra a cada Policial Rodoviário Federal, onde quer que estejam,
empenhados em oferecer o melhor de si no combate ao narcotráfico, crime que
cresce como um câncer, destruindo famílias, tirando sonhos, ceifando vidas.
6 SUMÁRIO
Resumo e Abstract 08
1 Introdução 10
2 Uma breve história da cocaína 11
3 O QUE REPRESENTA OS LUCROS DO NARCOTRÁFICO 14
4 O PAPEL DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL E O TRABALHO REALIZADO PELA 3ª DELEGACIA PRF – ANASTÁCIO/MS 18
5 TIPOS DE MOEDA 26
6 UM LEVANTAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS TIPOS DE DROGAS E DE PESSOAS QUE AGEM NO NARCOTRÁFICO, BEM COMO, OS MÓDUS OPERANDIS.
30
6.1 - Drogas e Entorpecentes mais apreendidos pela 3ª Delegacia PRF no Estado de MS 31
6.1.1 - Quanto a porcentagem de 2008 a 2013, comparando com a 3ª Superintendência da PRF em MS e o DPRF 33
6.2 - Dados estatísticos sobre apreensões de drogas e entorpecentes da 3ª Delegacia PRF – Anastácio/MS de fronteira com a Bolívia no período de 01/01/2004 a 30/04/2006 e de 01/01/2008 a 30/09/2013.
35
6.2.1 - Quanto à quantidade de ocorrências registradas: 35
6.2.2 - Quantidade de ocorrências por volume de drogas: 36
6.3 - Quanto ao período (diurno e noturno): 37
6.4 - Quanto à nacionalidade das pessoas que transportavam drogas: 38
6.5 - Quanto ao sexo das pessoas presas com drogas e entorpecentes 39
7 6.6 - Estado civil das pessoas presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 40
6.7 - Quanto à escolaridade das pessoas que foram presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 41
6.8 - Quanto à faixa etária das pessoas que foram presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 42
6.9 - Quanto a Naturalidade dos Brasileiros Detidos 43
6.10 - Quanto ao tipo de transporte de cocaína e seus derivados 45
6.11 - Quanto aos Módus Operandi de como as pessoas que transportam drogas a colocam. 46
6.12 - Quanto a profissão 47
6.13 - Quanto ao efetivo da 3ª Delegacia PRF 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS 52
1. Integração dos órgãos de segurança que agem na fronteira (PRF, PF, RFB, PM, PC, Justiça) 54
2. O envolvimento dos órgãos de segurança na formação dos alunos nas redes públicas e privadas 55
3. A própria Ressocialização da pessoa que está presa, por meio do oferecimento de um aprimoramento em seus estudos e, dando-lhe a oportunidade de uma capacitação e profissão
56
REFERÊNCIAS 57
8 UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO DO PAPEL DA 3ª DELEGACIA DE POLÍCIA
RODOVIÁRIA FEDERAL/MS, NO COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS,
ESPECIFICAMENTE DE COCAÍNA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A
BOLÍVIA
Robinson Luis de Araujo1
Edson Pereira de Souza2
Resumo: Este artigo aborda a efetividade do Estado-Nação no combate ao Tráfico de Drogas, bem como a realidade presente na vida cotidiana das populações oriundas da região de fronteira, de um lado: Corumbá - Mato Grosso do Sul - Brasil e do outro lado: Puerto Quijarro - Arroyo Concepción - Bolívia. Esta realidade é midiatizada através dos meios de comunicação, seja por: televisão, jornais, rádios, revistas, campanhas educativas, ou mesmo, por intermédio de conversas informais, tendo como principal ator o tráfico de drogas na fronteira da Bolívia com Brasil, especificamente - Mato Grosso do Sul, culminando como principal responsável pela maioria dos ilícitos praticados no Brasil. Com isso, este artigo, objetiva-se em apresentar os resultados operacionais e efetivos dos Policiais Rodoviários federais da 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal no Mato Grosso do Sul no combate ao narcotráfico, no período de 01 de janeiro de 2004 a 30 de novembro de 2013. Portanto, esta efetividade operacional nos resultados apresentados, mostra a estratégia de política pública desenvolvida pelo Estado-Nação através da Delegacia de Polícia Rodoviária Federal no Mato Grosso do Sul como perspectiva em reduzir (e/ou eliminar) a entrada (e circulação) de entorpecentes no Estado de Mato Grosso do Sul, por esta região de fronteira. Palavras-chave: Fronteira, Tráfico de Drogas, Policia Rodoviária Federal. Abstract: This article approaches the effectiveness of the State-Nation in the fight against the Drug Dealing, as well as the reality presented in the daily routine of the population from the boundary regions, on one side: the city of Corumbá, Mato Grosso do Sul – Brazil and on the other side: the city of Puerto Quijarro - Arroyo Concepcion – Bolivia. This reality has been frequently exposed in the media through the means of communication: television, newspapers, radios, magazines, instructive campaigns or even through informal conversation having as the main character the drug dealing at the boundary of Bolivia and Brazil, culminating as the main responsible factor for
1 Policial Rodoviário Federal (turma de 1994). Instrutor da disciplina de Combate ao Narcotráfico na PRF. Graduado em Teologia, Pós-graduado em Educação a Distância; em Liderança e Administração Eclesiástica; em Aconselhamento e Psicologia Pastoral e Pós-graduando em Terapia Familiar. Mestrado em Teologia (livre). Vários cursos na área de segurança pública pela SENASP e cursos pela SENAD sobre drogas. (e-mail: [email protected]) - ISBN: 978-85-916700-0-0 - Direitos autorais, conforme Registro n.º 631.739, Livro 1.213, Folha 353, Escritório de Direitos Autorais, Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2 Geógrafo - CREA/MS 14112/D. Especialista em Didática do Ensino Superior. Mestre em Estudos Fronteiriços. Analista em Saúde, Segurança e Meio Ambiente - MTE/MS 9769. Professor-Voluntário na UFMS - Campus de Aquidauana e Campus de Campo Grande ([email protected]).
9 most part of illicit acts in Brazil. Thus, this article aims to present the operational and effective results obtained by the Federal Highway Police officers from the third Federal Highway Police Station in Mato Grosso do Sul in the fight against the drug trafficking during the period of January 1st, 2004 and November 30th, 2013. Therefore, this operational effectiveness in the presented results shows the public policy strategy developed by the State-Nation through the Federal Highway Police in Mato Grosso do Sul as a perspective to reduce (and/or eliminate) the entrance (and circulation) of narcotic in the State of Mato Grosso do Sul, specially the boundary region. Keywords: Boundary, Drug Dealing, Federal Highway Police.
10 1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo tratar de assunto atual, por estar
constantemente presente na vida cotidiana, seja através dos meios de comunicação
televisiva, jornais, rádios, revistas, campanhas educativas, ou mesmo, por
intermédio de conversas informais, tendo como principal ator o tráfico de drogas
ilícitas que têm assolado nosso País, culminando como principal responsável pela
maioria dos ilícitos praticados no Brasil.
Neste trabalho, o autor demonstra o trabalho da 3ª Delegacia de Polícia
Rodoviária Federal (DLPRF), com sede na rua Cel. Zelito, nº 33, Altos da Cidade –
Anastácio/MS: a forma como atua; os resultados já alcançados no período de 01 de
janeiro de 2004 a 30 de novembro de 2013; o conhecimento adquirido neste
assunto; as formas de tráfico; suas rotas; os tipos de entorpecentes e drogas; como
a PRF deverá proceder para ser cada vez mais eficaz na constante luta contra o
tráfico de entorpecentes e drogas afins e quais os tipos de moedas3 são utilizadas
para a aquisição destes entorpecentes.
Várias são as formas de combater este problema, tanto por meio de
campanhas, palestras, bem como a repressão ao transporte. Com este trabalho
procura-se apresentar a forma como os policiais da 3ª Delegacia de Polícia
Rodoviária Federal – Anastácio de Mato Grosso do Sul (MS) vem agindo e como
poderão subsidiar as aplicações em outras delegacias e até mesmo nas Regionais.
Tem-se a pretensão de fornecer elementos à PRF para que, cada vez mais,
tenha reconhecido o seu papel na área de segurança pública. Ressalta-se neste
estudo, também, o comprometimento, o empenho, o conhecimento, a motivação e a
dedicação de cada Policial Rodoviário Federal no combate ao tráfico de
entorpecentes e drogas.
Vislumbra-se a possibilidade de subsidiar os órgãos governamentais na busca
de políticas que tragam reais possibilidades de transformar a vida das pessoas que
ora se encontram na situação de transportadoras dessas drogas ilícitas, por meio de
um estudo e levantamento do perfil dessas pessoas que são recrutadas pelo
narcotráfico.
3 Objeto, bem móvel utilizado para aquisição de entorpecentes e drogas pelos criminosos na Bolívia.
11 2 UMA BREVE HISTÓRIA DA COCAÍNA
A cocaína é um alcalóide (produto extraído das folhas de uma planta
chamada Erythroxylon coca) encontrada principalmente em países da América do
Sul e Central. Também é conhecida como coca, pó dourado, neve ou "senhora". A
cocaína é um estimulante do Sistema Nervoso Central. Ela atinge rapidamente o
cérebro, produz resposta intensa, o que a torna muito procurada como droga de
abuso4.
De acordo com Ferreira e Martini (2001, p. 96), nos assevera:
"O envolvimento humano com substâncias psicoativas, em especial a cocaína, retornam a um passado longínquo. O abuso de cocaína tem suas raízes nas grandes civilizações pré-colombianas dos Andes que, há mais de 4500 anos, já conheciam e utilizavam a folha extraída da planta Erythroxylon coca ou coca boliviana, como testemunham as escavações arqueológicas do Peru e da Bolívia. A planta de coca cresce na forma de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica. Cultivada em clima tropical e altitudes que variam entre 450 m e 1.800 m acima do nível do mar, continua sendo usada pelos nativos da região que a mascam".
Sendo uma planta de folhas perenes, tem uma produção que pode ocorrer
durante um período de 30 a 40 anos, com quatro colheitas anuais, podendo chegar
a fornecer folhas até por cem anos.
O hidrocloreto de cocaína era comumente usado como anestésico local em
odontologia, oftalmologia e cirurgias de ouvido, nariz e garganta, dada a sua forte
ação vasoconstritora que ajuda a reduzir as hemorragias locais. O próprio Freud
utilizava cocaína em doses de 200 mg por dia. Ele recomendava doses orais da
substância entre 50-100 mg como estimulante e euforizante em estados
depressivos. De acordo com Gurfinkel5 (2008, p.421), Freud utilizou cocaína para
tratar alguns amigos:
"Após algumas tentativas frustradas, deparou-se com um alcalóide quase desconhecido que, conforme lhe pareceu, prometia se tornar a tal “descoberta”. Mergulhou febrilmente na bibliografia e iniciou diversas experiências com o uso da droga em si mesmo e em outros (amigos, parentes e pacientes). A sua monografia “Sobre a coca”, de 1884, é um estudo meticuloso e entusiástico sobre a história da droga, seus efeitos e possíveis usos terapêuticos. Dentre as controvérsias que cercam o episódio da cocaína, encontra-se o doloroso episódio de um colega e amigo (Koller) que teria “roubado” a fama por publicar em seguida um trabalho sobre os
4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE, O que é Cocaína? Disponível na Internet:<http://psicoativas.ufcspa.edu.br/cocaina.html> Acesso 2003 5 Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 11, n. 3, p. 420-436, setembro 2008
12
efeitos anestésicos da cocaína; a história trágica de outro amigo (Fleischl) cujo vício em morfina Freud incentivou a tratar com uso de cocaína e que acabou morrendo, assim como o grau de envolvimento pessoal de Freud com a droga em termos do uso da mesma".
Após quatro anos de sua publicação original, Freud repensa depois de
analisar que os efeitos maléficos da "droga milagrosa" era maior que a possibilidade
de bem estar, devido ao grande potencial de pessoas se tornarem
"cocainomaníacos" que, em muitos casos, substituía a "morfinomania" ou mesmo se
combinava com ela, potencializando os seus efeito.
É fato, amplamente divulgado nos dias atuais, que o uso abusivo de cocaína
tem se constituído em um problema cada vez maior na sociedade. As complicações
neuropsiquiátricas e cardiocirculatórias, assim como os transtornos socio-
ocupacionais, econômicos e legais associados ao seu abuso, fazem com que esse
fenômeno necessite ser cada vez mais estudado. O aumento das taxas de
morbidade e mortalidade parecem ser devido a uma diminuição no preço da droga e
um aumento da sua disponibilidade. Um maior número de pessoas utilizam a droga
em concentrações e doses cada vez mais elevadas, dados que nunca tinham sido
relatados num passado recente. (PEMS, 2000).
O surgimento de regulamentações e leis restritivas, como o tratado de Haia
(1912), Harrison Act, de 1914, nos EUA, ou o Decreto-lei Federal nº 4.292 de 6 de
julho de 1921, no Brasil, tornaram a cocaína menos disponível para a população em
geral. O conhecimento da população sobre os efeitos nocivos da cocaína em
grandes quantidades também ajudou no declínio do uso de droga.
Além disso, na década de 1930, as anfetaminas e outras drogas estimulantes
- mais baratas e com efeitos estimulantes mais duradouros que a cocaína -
tornaram-se disponíveis, provavelmente ganhando a preferência de muitos usuários
prévios de cocaína. Depois de 50 anos, o mundo depara-se com o ressurgimento da
cocaína e seus derivados, como uma droga de largo consumo.
Segundo Laranjeira (1996), foi a partir dos anos 80, com o aumento da oferta
de cocaína no mercado de todos os países americanos, que essa concepção
começou a mudar. Esse aumento da oferta deve-se, principalmente, a uma maior
produção e a uma distribuição mais eficaz realizadas por alguns cartéis de
traficantes sul-americanos. Essa maior oferta, com um preço muito menor, fez com
que o uso de cocaína aumentasse e se diversificasse bastante (DIAMOND R. 1994,
p.274). Segundo informe do NIDA (National Institute of Drug Abuse), em 1994, o
13 consumo ocasional e o regular de cocaína diminuíram, ao passo que o consumo
frequente aumentou (KOPP P. 1998, p.274).
Ferreira e Martini (2001, p. 99) afirma que um século se passou desde a
descoberta da cocaína como um agente anestésico por Karl Koller, até o momento
do surgimento do crack , em 1985, nas Bahamas. Com o advento do “crack” a partir
da metade dos anos 80, o mundo testemunha uma nova fase da história da cocaína,
pelo menos com relação ao potencial de toxicidade. Novos estudos estão sendo
realizados com relação ao “crack”, montando um novo capítulo dessa história.
Pedro Biondi, em seu artigo: O pó da Onipotência6. A planta que brota dos
Andes virou emblema da busca frenética do sucesso, nos assevera:
"O que preocupa mesmo as autoridades brasileiras não é tanto a cocaína em pó – mais consumida pelas classes de maior poder aquisitivo – e sim o crack, sua variante fumável, que vicia com apenas três ou quatro doses e faz efeito em menos de 10 segundos. Mais barato que a cocaína (uma dose custa cerca de 5 reais), o crack está se alastrando no país com uma rapidez comparável à de sua ação no organismo. A “pedra”, como é conhecida, chegou à Grande São Paulo em 1988 e, em dez anos, já conquistou 120 000 usuários – o que, no caso, é quase sinônimo de dependentes. Na parte mais decadente do centro da cidade, o tráfico criou uma espécie de feira livre de venda e uso da pedra, a Crackolândia. “Aqui todo mundo usa. A gente passa a noite pipando e de dia descansa”, disse à SUPER uma moradora de rua, de 46 anos. Na Crackolândia, é comum encontrar meninas de menos de 18 anos se prostituindo em troca de crack ou de dinheiro para comprá-lo. As maiores vítimas, em São Paulo, são os meninos de rua. Uma pesquisa do Cebrid com 38 crianças, em 1993, revelou que 48 delas fumaram crack naquele ano. Curiosamente, a droga é quase inexistente no Rio de Janeiro. Os traficantes de lá proíbem o crack, temendo que ele vicie os adolescentes que trabalham para o tráfico nos morros".
Fato que hoje, o crack tem se espalhado em todo o território brasileiro,
tornando-se em calamidade pública, envolvendo o governo Federal em campanhas
e programas, como "Crack, é possível vencer"7.
Assim, a 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal exerce um importante
papel no combate e controle, para que a cocaína e seus derivados deixe de adentrar
e chegar a nossos grandes centros, como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de
Janeiro.
6 Pedro Brondi. O Pó da Onipotência. A Planta que brota nos Andes virou emblema da busca frenética de sucesso. Superinteressante. São Paulo: Abril, 1998. Disponível na Internet: <http://super.abril.com.br/saude/po-onipotencia-443862.shtml> Acessado em 2013. 7 Disponível em: http://www2.brasil.gov.br/crackepossivelvencer/home
14 3 O QUE REPRESENTA OS LUCROS DO NARCOTRÁFICO
Segundo Caggiola (1997), para se ter uma ideia da pressão que o
narcotráfico exerce sobre as economias dos países atrasados, um exemplo basta.
Em 28 de setembro de 1989, foi feita em Los Angeles a maior apreensão de cocaína
já realizada: 21,4 toneladas, cujo preço de venda ao público atingiria US$ 6 bilhões,
uma cifra superior ao PNB de 100 (cem) Estados soberanos.
A grande transformação das economias monoprodutoras em narcoprodutoras
(e o grande salto do consumo nos EUA e na Europa) se produziu durante os anos
80, quando os preços das matérias-primas despencaram no mercado mundial:
açúcar (-64%), café (-30%), algodão (-32%), trigo (-17%).
Afirma ainda que a crise econômica mundial exerceu uma pressão formidável
em favor da narco-reciclagem das economias agrárias, o que redundou num
aumento excepcional da oferta de narcóticos nos países industriais e no mundo
todo. Apenas nos últimos anos, o tráfico mundial cresceu 400%. As apreensões de
carregamentos se multiplicaram por noventa nos últimos quinze anos, ainda assim
afetando apenas entre 10 e 20% do comércio mundial.
O tráfico internacional de drogas, em alta escala, começou a desenvolver-se a
partir de meados da década de 1970, tendo tido o seu boom na década de 1980.
Esse desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica mundial. O
narcotráfico determina as economias dos países produtores de coca, cujos principais
produtos de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços (ainda que a
maior parte dos lucros não fique nesses países) e, ao mesmo tempo, favorece
principalmente o sistema financeiro mundial.
O dinheiro oriundo da droga corresponde à lógica do sistema financeiro, que é
eminentemente especulativo. Este necessita, cada vez mais, de capital "livre" para
girar, e o tráfico de drogas promove o "aparecimento mágico" desse capital que se
acumula muito rápido e se move velozmente.
Atualmente, o narcotráfico é um dos negócios mais lucrativos do mundo. Sua
rentabilidade se aproxima dos 3.000%. Os custos de produção somam 0,5% e os de
transporte gastos com a distribuição (incluindo subornos) 3% em relação ao preço
final de venda. De acordo com dados recentes, o quilo de cocaína custa US$ 2.000
na Colômbia, US$ 25.000 nos EUA e US$ 40.000 na Europa. No Oriente Médio e no
Japão atinge seu maior valor: US$ 80 mil o quilo.
15
A América Latina participa do narcotráfico na qualidade de maior produtora
mundial de cocaína, e um de seus países, a Colômbia, detém o controle da maior
parte do tráfico internacional (a pequena parte restante é dividida entre a máfia
siciliana e a Yakuza japonesa).
A cocaína gera "dependência" não apenas em indivíduos, e também em
grupos econômicos, até mesmo nas economias de alguns países, como por exemplo
nos bancos da Flórida, em ilhas do Caribe ou nos principais países produtores —
Peru, Bolívia e Colômbia, para citar apenas os casos de maior destaque.
Com relação aos três últimos, os dados são impressionantes. Na Bolívia, os
lucros com o narcotráfico chegam a US$ 1,5 bilhão contra US$ 2,5 bilhões das
exportações legais. Na Colômbia, o narcotráfico gera de US$ 2 a 4 bilhões,
enquanto as exportações oficiais geram US$ 5,25 bilhões. Nestes países, a
corrupção é generalizada.
Os narcotraficantes controlam o governo, as forças armadas, o corpo
diplomático e até as unidades encarregadas do combate ao tráfico. Não há setor da
sociedade que não tenha ligações com os traficantes e até mesmo a Igreja recebe
contribuições destes.
No Peru e na Bolívia, parte da produção de coca é legal e destina-se ao
consumo tradicional (mastigação das folhas para combater os efeitos da altitude), à
indústria (chás e medicamentos) e à exportação (o Peru exporta 700 toneladas de
folhas de coca por ano para a Coca-cola).
O Peru é o maior produtor mundial de coca. Segundo a Organização Mundial
da Saúde, 100 mil camponeses peruanos cultivam 300 mil hectares de coca. Apenas
5% dessa produção é utilizada para fins legais. Com o resto, o tráfico abastece 60%
do mercado mundial. Esses camponeses são massacrados, alternadamente, pela
guerrilha, pela máfia e pelas tropas de repressão ao tráfico.
Na Bolívia, a dependência em relação ao narcotráfico chega ao extremo. Os
traficantes detêm o controle das principais empresas, a corrupção atinge níveis
inacreditáveis e, de acordo com a CEPAL8, a população desempregada passou de
19% da população ativa em 1985 para 35% no ano seguinte. De cada três
bolivianos, um lucra com os derivados do narcotráfico. Há estimativas, que
8 Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
16 coincidem com os dados da CEPAL, segundo as quais 65% da economia do país
pertencem ao setor informal.
Na Bolívia, o quilo da cocaína, pode variar de U$ 1.500,00 a U$ 2,500,00, isso
depende do grau de pureza e onde a mesma é adquirida, bem como, o volume de
droga comprado pelos narcotraficantes.
A Colômbia especializou-se em transformar a pasta base produzida por Peru
e Bolívia em cocaína e exportá-la para o resto do mundo. Dois grandes cartéis (Cali
e Medellin) controlam a maior parte do narcotráfico no país. Entretanto, existem
centenas de pequenos traficantes, muitos dos quais roubam a droga dos grandes
cartéis. O país está, por completo, nas mãos dos narcotraficantes.
O Congresso e a polícia nacionais disputam o primeiro lugar em grau de
corrupção, a até mesmo as campanhas presidenciais são patrocinadas com dinheiro
da droga. Cada novo governo colombiano se esforça para repatriar os lucros obtidos
com o tráfico internacional de cocaína. Dos cerca de US$ 16 bilhões anuais obtidos
pelos narcotraficantes, apenas entre US$ 2 e 4 bilhões voltam ao país.
A expansão desta atividade na América Latina significou a degradação de
países inteiros ao simples papel de apêndice do narcotráfico. A coca já representa
75% do PIB boliviano, 23% de outras nações. Os grupos principais das burguesias
nacionais realizaram sua reconversão pela "economia do crime", dominando os
recursos dos Estados e monopolizando um acúmulo de riquezas que permitiu aos
mafiosos colombianos situarem-se no ranking dos multimilionários do mundo.
A transformação do mineiro boliviano em cultivador de coca e a substituição
das melhores áreas agrícolas por cultivos do insumo básico da droga são
determinantes do pavoroso estancamento da economia deste país, que alguns
"experts" de Harvard elogiam cinicamente por sua "estabilidade monetária". Que a
coca represente a única saída de sobrevivência para os peruanos desempregados
das cidades ou migrantes da desertificação rural é outra evidência do mesmo
processo de regressão econômica.
Em meio aos assassinatos cotidianos, a Colômbia é uma vitrina por onde se
vê o esbanjamento de um grupo de cartéis que, seguindo a tradição das oligarquias
latino-americanas, gastam em importações suntuosas um volume de dinheiro que
permitiria saldar a dívida externa deste país. Como ocorreu no passado com a
borracha, o guano e o açúcar, a monoexportação de coca é mais um episódio da
devastação agrária, do empobrecimento campesino e do desperdício da região.
17
Cabe salientar que, quando o traficante recebe a cocaína nos grandes centros
no Brasil, têm-se a possibilidade de se "batizar" a mesma, fazendo de um quilo o
volume de três a quatro quilos, transformando o que custou U$ 2.000,00 em R$
40.000,00 até R$ 60.000,00.
Outro dado interessante é em relação ao crack. O valor aproximado de 1 Kg
da droga, pode chegar a U$ 1.500,00, sendo vendida nos grandes centros a pedra
de R$ 5,00 a R$ 15,00 a pedra, dependendo do local e o público. Cada pedra pesa
de 2g a 5g, pode chegar a um lucro de R$ 7.500,00. O problema é que o consumo
de crack se torna maior, devido ao seu poder de viciamento dos consumidores,
tornando a busca mais intensa.
18 4 O PAPEL DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL E O TRABALHO REALIZADO
PELA 3ª DELEGACIA PRF – ANASTÁCIO/MS
A Polícia Rodoviária Federal é a polícia ostensiva da União, integrante da
estrutura permanente do Ministério da Justiça. Realiza policiamento rodoviário
composto por ações em fiscalização de trânsito e segurança pública, com o objetivo
de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e de
terceiros. Tem como dever primordial o de salvar vidas, cumprindo e fazendo
cumprir a legislação para um trânsito mais humano e seguro nas rodovias federais
brasileiras.
Em atividades de fiscalização são também empreendidas ações de combate
aos ilícitos penais, atuando na prevenção e repreensão aos crimes contra a vida, os
costumes, o patrimônio, a ecologia e ao meio ambiente. Destacando as ações
repressivas contra os furtos e roubos de veículos e bens, o tráfico de entorpecentes
e drogas afins, o contrabando, o descaminho, a exploração de crianças e
adolescentes e os demais crimes previstos em lei.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 prevê
expressamente a competência da Polícia Rodoviária Federal para atuar no combate
ao crime, e por consequência atuar no combate ao narcotráfico, inserindo-a no
contexto das instituições responsáveis pela segurança pública no país. No Capítulo
que trata da Segurança Pública, em seu Art. 144, assim versa:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
(...) II - polícia rodoviária federal; § 2° A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, se destina, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais;
(...) § 7º- A Lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
O Decreto nº 1.655, de 03 de outubro de 1995, define atribuições de interesse
específico do presente trabalho. Define assim a competência da PRF:
Art. 1° À Polícia Rodoviária Federal, órgão permanente, integrante da estrutura regimental do Ministério da Justiça, no âmbito das rodovias federais, compete:
I - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros;
19
X - colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes contra a vida, os costumes, o patrimônio, a ecologia, o meio ambiente, os furtos e roubos de veículos e bens, o tráfico de entorpecentes e drogas afins, o contrabando, o descaminho e os demais crimes previstos em leis (grifo do autor).
A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1.997, que institui o Código de Trânsito
Brasileiro, também trouxe expressa previsão de atuação da PRF no contexto de
segurança pública nacional ao dispor:
Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e estradas federais:
(...) II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros.
Verifica-se nesta legislação que, mesmo o legislador tratando do assunto
trânsito, não deixou de preocupar-se com a segurança da população, ficando esta a
cargo da PRF, nas rodovias federais.
O Decreto nº 4.345, de 26 de agosto de 2002, que instituiu a Política Nacional
Antidrogas, estabelece: “objetivos e diretrizes para o desenvolvimento de estratégias
na prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social, redução de danos
sociais e à saúde, repressão ao tráfico e estudos, pesquisas e avaliações
decorrentes do uso indevido de drogas”, cabendo a Polícia Rodoviária Federal
fornecer apoio irrestrito às ações.
O Decreto nº 4.118, de 07 de fevereiro de 2002, dentre outras providências,
coloca a Polícia Rodoviária Federal como Instituição integrante da estrutura básica
do Ministério da Justiça.
A Lei nº 11.343, DE 23 de agosto de 2006, Institui o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD9; prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências. Sendo que, a Portaria n.º 420 da
ANVISA10 que define o que é droga ilícita e de controle.
Há de se verificar, que muitas são as atribuições da Polícia Rodoviária
Federal, e cada vez mais ela se compromete com a área de Segurança Pública,
como se poderá constatar ao longo do referido artigo.
9 Sistema nacional de políticas públicas sobre drogas. 10 Agência Nacional de Vigilância Sanitária
20
Inserida no contexto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal,
encontra-se a 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal, situada á rua Cel. Zelito,
nº 33, Altos da Cidade - Anastácio/MS, que tem desenvolvido um papel significativo
no combate ao tráfico de Cocaína e seus derivados, que por ora, tem acarretado a
destruição de várias gerações, muito mais a dos dias de hoje, devido à facilidade de
obtenção de cocaína por parte dos usuários desta droga.
A jurisdição da referida Delegacia faz fronteira seca com a Bolívia11, país esse
considerado como um dos maiores produtor de folha de coca, da pasta básica de
cocaína em grande escala, e cloridrato de cocaína em pequena escala, bem como
do crack. Sendo a cocaína produzida neste país de baixa qualidade.
Sob sua jurisdição, esta localizado uma malha de rodovias federais de
aproximadamente 435 km, onde se encontram 03 (três) postos de fiscalização da
PRF alocados com suas BR’s patrulhadas e quantidade de Km pertencentes aos
respectivos postos, assim sendo:
• Posto F 3301 – posto PRF localizado na BR 419, no Km 260. é de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento de duas BR’s, sendo a BR 419 do Km 244 ao Km 328, totalizando assim 84 Km e BR 262, do Km 427,7 ao Km 531, totalizando 103,3 Km;
• Posto F 3302 – posto PRF localizado na BR 262, Km 600, denominado posto PRF “Guaicurus”, sendo de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento da BR 262, do Km 531 ao Km 658, totalizando desta forma 127 Km;
• Posto F 3303 – posto PRF localizado na BR 262, Km 706, denominado posto PRF da “Ponte”, sendo de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento das BR's 262, do seu Km 658 ao Km 779, totalizando assim, 121 Km e BR 359 do Km 512 ao 519, com total de 7 Km.
• 3ª Delegacia PRF de Anastácio - localizada à rua Cel. Zelito, 33 - Altos d cidade - Anastácio/MS, de onde é controlado os três postos relatados à cima.
No esquema apresentado, encontram-se os 03 (três) Postos da Polícia
Rodoviária Federal, localização da sede da 3ª Delegacia PRF no município de
Anastácio, as rodovias federais e quantidade de quilômetros que compreende a
circunscrição de cada Posto PRF, bem como, o quilômetro onde se encontra
localizado cada posto da PRF apresentado.
11 Fronteira com o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre
21
Figura 1 Mapa de Atuação da Delegacia PRF de Anastácio/MS
Fonte Google Mapas Escala 1:50Km
No mapa referendado, pode-se observar o trecho de atuação da
Delegacia PRF de Anastácio, sendo a BR 262 ligação entre as cidades de Campo
Grande/MS (ponto A) e Corumbá/MS (ponto D), onde se avista a marcação em
preto, sendo o Posto PRF de Guaicurus, no Km 600. A marcação feita em vermelho,
está a localização do Posto PRF da Ponte do rio Paraguai, Km 706. A marcação em
azul claro, está o Posto PRF de Anastácio, na BR 419, Km 260, ligação entre as
cidades de Anastácio/MS (ponto B) e Nioaque/MS (ponto E).
Há de se considerar ainda, a pavimentação da BR 419, do trecho que
compreende as cidades de Anastácio/MS (ponto B) a cidade de Rio Verde de Mato
Grosso/MS (ponto F), que ainda não é patrulhada pela PRF.
Destaca-se em fiscalizações e combate ao narcotráfico, em apreensões, o
Posto PRF denominado Guaicurus, responsável por 63% das apreensões de
cocaína e seus derivados. Um local estratégico, devido a sua estrutura física e
localização, proporcionando aos policiais rodoviários federais que ali trabalham, as
condições necessárias para combater o tráfico de drogas, oriundos da Bolívia.
Estas drogas, em sua maioria, transportadas por “mulas”12, principalmente
para o consumo interno (Brasil), como para o tráfico internacional (Europa), utilizam
os aeroportos e portos dos grandes centros consumidores do Brasil.
12 Pessoas contratadas por traficantes para o transporte das drogas.
22
Diferente é o Modus Operandi que as pessoas que trabalham para o tráfico
de drogas nessa região se utilizam, tendo como única e certa, a necessidade de
burlar e dificultar a fiscalização pelos policiais que ali desenvolvem suas atividades
fiscalizadoras. São variados os locais onde os policiais rodoviários federais
apreendem drogas na circunscrição da 3ª Delegacia PRF, podendo ser citados:
Veículos de Passeio - Essas drogas são escondidas em compartimentos,
tais como no forro do banco, embaixo do banco, dentro do tanque de combustível,
dentro dos pneus, soltas no porta-malas, ou em lugares da estrutura ou latarias do
veículo que são preparadas com fundo-falso ou mocós13, para que as drogas
possam ser escondidas. Em um passado, por volta dos anos de 1996 a 1998, os
traficantes se utilizavam de veículos velhos, para que, se perdessem, não tivessem
um prejuízo maior. Não sendo a realidade de nossos dias, onde quadrilhas se
utilizam de carros modernos e de alto valor econômico, tentando por esta forma,
intimidar a fiscalização dos policiais, acreditando que os mesmos não serão
desmontados na procura de entorpecentes.
Pode-se citar a apreensão divulgada pela imprensa, quando:
Policiais Rodoviários Federais apreenderam droga com uma soldadora de 31 anos. Segundo a PRF, a mulher seguia de Corumbá para Campo Grande num veículo GM/S-10 com placas de Mato Grosso do Sul. A droga foi encontrada escondida no tanque de combustível, cerca de 46 quilos distribuídos em 42 tabletes. Conforme a polícia, a condutora disse que havia comprado a droga na Bolívia, por R$ 4 mil cada tablete, e pretendia vender o entorpecente em Campo Grande. A ocorrência foi encaminhada para Delegacia de Polícia Federal de Corumbá.14
Veículos de Transporte de Cargas - Neste tipo de transporte, as drogas são
alojadas em mudanças, dentro de mercadorias que são despachadas, na estrutura
das carrocerias, escondidas no meio das cargas. Um outro meio utilizado, é
principalmente por pessoas do sexo feminino, quando ficam à beira da estrada,
pedindo carona, oriundas da cidade de Corumbá, ou até mesmo com passageiros,
quando os motoristas oriundos da cidade de Corumbá, embarcando nesses
veículos, na tentativa de passar pela fiscalização sem serem abordadas e, por
muitas vezes, se passando como alguém íntimo do motorista.
Pode-se citar, fato divulgado pela imprensa, quando:
13 Lugares em que os traficantes preparam com a ajuda de oficinas de funilaria, onde ficam ocas, facilitando o ocultamento e armazenamento de drogas ilícitas, como no caso, a cocaína. 14 Disponível em: http://www.eventosdoms.com.br/noticias/1372/Policia/PRF-apreende-R--168-mil-em-cocaina-com-soldadora--droga-ia-para-capital.html#.UnWgy_kQboY
23
Em Miranda, no km 600 da BR 262 às 20h do dia 16/02/2012, Policiais Rodoviários Federais, após receberem informações da Policia Militar do MS e da Policia Federal, de que determinado tipo de veículo poderia estar transportando entorpecente, ao realizarem operação de rotina procedendo fiscalização no Posto PRF Denominado GUAICURUS, distante 190 km da fronteira com a Bolívia, foi abordado o veículo Scânia placas de Álvares Florence/SP, onde após minuciosa fiscalização, foram encontrados nas laterais do compartimento de carga do veículo 674 kg de cocaína. Foram presos o condutor, um homem de 28 anos e uma mulher com 22 anos e apreendida uma adolescente com 16 anos. O ocorrência foi encaminhada a Polícia Federal em Corumbá15.
Importante que seja mencionado, que a referida apreensão, corresponde a
maior apreensão de cocaína realizada pela Delegacia PRF de Anastácio em um
único veículo transportador.
Figura 2 Apreensão de 674 Kg de Cocaína em Caminhão contêiner
Arquivo particular
Um exemplo de como os narcotraficantes transportam as drogas em grande
quantidade, com o intuito de burlar e dificultar a fiscalização por parte dos agentes
de fiscalização, como no caso específico, a Polícia Rodoviária Federal. Alojando a
droga (cocaína) em repartição preparada para que a mesma não venha ser
encontrada pelos policias.
15 Disponível em: http://casadoinspetor.blogspot.com.br/2012/02/prf-apreende-674-kg-de-cocaina.html
24
Figura 3 674 Kg cocaína, depois de haver sido retirada do local preparado no contêiner
Arquivo particular
Nas figuras 2 e 3 a apreensão se deu no Posto PRF de Gauicurus, BR 262,
Km 600, ficando comprovada a forma de atuação em conjunto das organizações de
segurança, tanto na esfera Federal como na Estadual, possibilitando resultados
expressivos no combate ao narcotráfico. Salienta-se também, a importância do
mecanismo scanner, facilitando a fiscalização, principalmente na diminuição do
tempo para procura e localização de onde as possíveis drogas estão alojadas, na
tentativa de burlar as fiscalizações.
Veículos de Transporte Coletivos - Ocorre quando seus passageiros trazem
as drogas dentro de seus próprios corpos, por serem engolidas com forma de
cápsulas ou introduzidas em seus órgãos genitais e ânus. Sob suas vestes, presas
ao corpo, dentro de malas e em fundo falso criado nas próprias malas; diluídas em
roupas, dentro de latas, como cerveja, doces, e dentre outras formas, caracterizando
assim, o tráfico "formiguinha".
Narra-se fato divulgados no jornal fatimanews16, quando:
Agentes da Polícia Rodoviária Federal apreenderam por volta na tarde de ontem, na BR 262, km 605, próximo à cidade de Miranda, um quilo e 250 gramas de cocaína que estavam presos ao corpo de RAA, 48 anos e 200 gramas de cocaína introduzidas na genitália de MHRS, 33 anos, que estava em companhia da filha de 10 meses de idade.
16 Disponível em: http://www.fatimanews.com.br/noticia/detalhe/prf-prende-mulheres-com-mais-de-um-quilo-de-cocaina/18269
25
Importante observação se faz quanto aos locais de apreensões de drogas e
entorpecentes, na 3ª Delegacia PRF, uma vez que, em razão do relevo, localização
geográfica, extensa fronteira seca com os Países confinantes com o Brasil, a forte
produção agrícola e pecuária, o que propicia surgimento de várias estradas vicinais,
conhecidas como “cabriteiras”17, utilizadas pelos traficantes para desviarem da
fiscalização.
É importante frisar, quando da execução de operações no trecho da 3ª
Delegacia PRF, a Delegacia implantar operações ostensivas nas rodovias federais, e
em pontos estratégicos em estradas vicinais, previamente estabelecidos e
planejados, para que se tenha sucesso no resultado da operação.
É fato que as Leis nº 7.565 de 19 de dezembro de 1986 e a 9.614, de 5 de
março de1998, regulamentadas por Decreto 5.144/2004 que regulamentou os 1º, 2º
e 3º do artigo 303 do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/1986, que foi
modificada em 1998, para permitir o"abate de aeronaves"). Institucionalizada como a
Lei do Abate, vem contribuindo em muito para o aumento das apreensões de
grandes quantidades de cocaína, oriundas da Bolívia ou Colômbia por terra nos
últimos anos. Isso se deve ao medo ou receio dos condutores dessas aeronaves
serem abatidas pela falta de plano de voo.
Sendo assim, os traficantes trazem as drogas oriundas da Colômbia, Interior
da Bolívia e despacham por via terrestre. É fato também, a pratica de levar esse tipo
de droga para o Paraguai, onde vem aumentando as apreensões de cocaína na
região, fato que não era comum. Isso também se dá, pela vasta malha rodoviária
que existe na fronteira do Brasil com o Paraguai, dificultando a fiscalização e
tornando-se mais acessível a chegada aos grandes centros consumidores.
17 Expressão utilizada para definir estradas vicinais utilizadas pelos traficantes para passarem com drogas e entorpecentes e veículos furtados/roubados.
26 5 TIPOS DE MOEDA
Além do dinheiro, conseguido em sua maioria através de atos ilícitos, temos
como “moeda” utilizada na aquisição de drogas, as motocicletas que chegam na
Bolívia desmontadas ou montadas, sendo transportados em bagageiros de ônibus,
caminhões, ou mesmo, rodando, em cima de veículos utilitários e caminhões
utilizados por transportadoras.
Outra moeda muito forte são as carretas roubadas ou furtadas. Na Bolívia
esta é a preferida e a de maior valor é a carreta “Volvo”, muito utilizada para
transporte e serviço nas lavouras18, depois de adaptações em seus pneus, e por
haver peças de reposição de fácil aquisição naquele País. Muitos de nossos
veículos são levados ao Paraguai ou Bolívia por verdadeiras “empresas”
(quadrilhas)19 especializadas em “golpe do seguro”20.
O proprietário do veículo é procurado por alguém, que faz uma proposta,
sendo aceito, o veículo é conduzido por outro elemento da quadrilha até um certo
ponto e, posteriormente, outro elemento, às vezes da região, dá continuidade à
viagem. Para não levantar suspeitas é registrada a queixa de roubo/furto pelo
proprietário, ocasião em que a pessoa já se encontra com o veículo fora do Brasil.
Os veículos importados, os tipos “of road”, caminhonetes, traçados, diesel e
aqueles de alta cilindrada são de boa aceitação no país mencionado. Ressalta-se
que o valor de tais veículos nesse país corresponde, em média, de 20% (vinte por
cento) a 40% (quarenta por cento) de seu valor no Brasil, e grande parte dos
acessórios (rádios, caixas de som, macacos, chaves-de-roda, estepes) são retirados
para serem comercializados no Brasil, com a finalidade de aumentarem ainda mais o
lucro na venda do veículo.
É comum a PRF efetuar a prisão de elementos que “levaram” veículos à
Bolívia e estavam retornando com CRLV e CD player do veículo embarcados em
ônibus oriundos da cidade de Corumbá. Pelo valor do veículo vendido na Bolívia,
bem como, o grau de risco, envolvimento e custo da viagem, tornam-se muito mais
18 Ressaltamos que estas lavouras em sua maioria é para plantio de drogas e entorpecentes. 19 Quadrilhas, pessoas que se unem para prática de condução e destino dos veículos roubados e furtados dos grandes centros comerciais até o Paraguai ou Bolívia. 20 Prática muito utilizada, onde o proprietário do veículo entrega este a um terceiro que leva o veículo para ser vendido no Paraguai ou Bolívia, após a venda, o proprietário registra uma falsa ocorrência de roubo/furto de seu veículo para receber o valor do montante assegurado.
27 lucrativa a venda deste veículo como forma de pagamento na aquisição de
entorpecentes.
O que pode-se notar é que existem quadrilhas e pessoas para
roubarem/furtarem os veículos nos centros urbanos, outras para transportarem até a
Bolívia; ainda outras como receptadores ou intermediárias; pessoas para preparo de
entorpecente e, ainda, outras para o transporte das mesmas.
Em suma, uma verdadeira empresa em funcionamento, onde cada um é
responsável por uma missão, tendo como objetivo principal o estabelecimento de
uma rede para proteção do sistema e funcionamento, visando o lucro fácil de forma
ilícita.
Amorim, em seu artigo: Evo Morales e o crime organizado na Bolívia21
publicado em 17 de junho de 2011, afirma que o presidente da Bolívia, Evo Morales,
acaba de sancionar uma lei federal que legaliza (ou oficializa, ou anistia) o roubo de
veículos em seu país. O decreto-lei número 133, de 8 de junho de 2011, baseado
“no direito de todos a ter um carro”, estabeleceu que podem ser emitidos
documentos de registro para veículos sem discutir a propriedade anterior e a origem.
Com isso foi criado o maior entreposto de carros e caminhões roubados das
Américas. Ele ainda assevera:
Só nos primeiros três dias de vigência da nova lei, segundo o repórter José Casado, de O Globo, 40 mil veículos foram legalizados. Como sabemos, a maior parte dos carros, ônibus e caminhões roubados no Brasil têm como destino final o Paraguai e a Bolívia. São negociados à luz do dia, em agências e “concessionárias” abertas ao público, muitas das quais empresas de fachada do crime organizado. Além do mais, esses veículos (preço variando entre 60 e 400 mil reais) são moedas de troca para o contrabando de armas e o narcotráfico.
Amorim ainda, afirma que Morales foi o primeiro representante de índios plantadores de coca (os cocaleros) a chegar ao poder. Em seu gabinete de trabalho, em La Paz, ele ostenta um retrato de Ernesto “Che” Guevara, feito de folhas de coca coladas sobre uma tela. Logo após ser eleito, Evo Morales declarou que na Bolívia não haveria uma política de “coca zero”, como tentaram – e fracassaram – seus vizinhos colombianos, envolvidos numa guerra civil que já dura meio século. As lavouras de coca bolivianas fornecem matéria-prima para a indústria farmacêutica (medicamentos para doenças circulatórias e respiratórias) e também para o narcotráfico (pasta básica da cocaína). São parte fundamental do PIB do país.
O dinheiro em espécie, não deixa de alimentar o tráfico de drogas na
fronteira, quando somas de dinheiro são interceptadas, com a finalidade de se
21Disponível em: http://carlosamorim.com/2011/06/17/evo-morales-e-o-crime-organizado-na-bolivia/
28 adquirir cocaína. Pode-se confirmar, conforme apreensão divulgada no jornal
douradosnews22 que assevera:
Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal apreendeu por volta das 08 horas de ontem, na BR 262, km 605, próximo à cidade de Miranda, 22 mil e 760 dólares em espécie, que estavam acondicionados na lateral interna, na altura das poltronas 33 e 34 de um ônibus que fazia o trajeto São Paulo/Porto Soares, na Bolívia (...). O dinheiro que seria usado para a compra de cocaína na Bolívia foi encaminhado para a Superintendência da Polícia Federal, em Campo Grande.
Em uma outra reportagem, do correio do estado, ano IV - n.º 183 de 30 de
abril de 2001, mostra a apreensão de U$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares)
que estavam em poder de uma pessoa, passageira do ônibus da empresa
Andorinha, em direção a Corumbá/MS. Possivelmente o referido dinheiro, seria
utilizado para acerto do narcotráfico.
Existe uma prática ainda mais cruel, que os criminosos utilizam-se para
conseguir somas de dinheiro, com o objetivo de obterem drogas: o sequestro
relâmpago. Uma prática em que o criminoso sequestra as pessoas que ora estão no
veículo.
Em um tipo de prática, os amarram no mato e sob a vigilância de outrem,
descolam-se para a Bolívia sem chamar a atenção da fiscalização, por possuírem os
documentos e ainda não haver ocorrência de roubo. Quando o veículo chega no seu
destino, é avisado e o condutor e possíveis passageiros são libertados. Em outros
Módus Operandi, acabam matando essas pessoas, como o caso de repercussão e
comoção ocorrido em Campo Grande/MS, sendo:
Têm 22 anos os dois bandidos que foram presos nesta sexta-feira e confessaram envolvimento no assassinato e sequestro dos estudantes Breno Luigi Silvestrini de Araújo, 18 anos, e Leonardo Batista Fernandes, 19 anos. Os dois ficaram mais de 17 horas desaparecidos, após sair de um bar ontem à noite, em Campo Grande, e foram encontrados mortos hoje no começo da tarde. O veículo em que estavam, uma Pajero, foi localizado em Corumbá. A Polícia acredita que os bandidos mataram os rapazes para roubar o veículo e levar para a Bolívia23.
Pôde-se ler e observar uma prática de crime com usos de crueldade com a
vida humana, com o objetivo de se levar uma veículo para trocá-lo por cocaína no
país vizinho (Bolívia). Assim, agem quadrilhas e gangues, espalhando medo e terror
22 Disponível em: http://www.douradosnews.com.br/arquivo/prf-apreende-dolares-que-serviria-para-comprar-cocaina-a9aadeea058ad9d2c30ab9518aa5348d 23 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/bandidos-que-sequestraram-e-mataram-estudantes-tem-22-anos
29 nos grandes centro urbanos de nosso país, com a finalidade de somarem recursos
financeiros para obtenção, em sua grande parte, de drogas.
Observado os tipos de moedas que o narcotráfico utiliza nas negociações
como compra e até mesmo, para que o vício possa ser mantido, é importante
conhecer-se o perfil dessas pessoas que atuam, ora como transportadores utilizadas
pelo tráfico, ora como traficantes.
30 6 UM LEVANTAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS TIPOS DE DROGAS E DE
PESSOAS QUE AGEM NO NARCOTRÁFICO, BEM COMO, OS MÓDUS
OPERANDIS.
Após um levantamento de 9 (nove) anos, é possível afirmar a importância da
3ª Delegacia PRF no contexto de policia ostensiva da União e o papel que
representa no local onde está instalada, podendo comprometer o trabalho de seus
integrantes em uma relocação para uma outra cidade, devido ao local onde
encontra-se instalada ser estratégico para proporcionar ritmo as atividades
desenvolvidas, por estar instalada em local estratégico, no meio de um triângulo,
onde a criminalidade converge e diverge, como rota de passagem obrigatória.
Há que se afirmar o território geográfico em que a 3ª DLPRF encontra-se
inserida: a faixa fronteiriça sul-mato-grossense totaliza 1.517 quilômetros: 1.131 km
com o Paraguai (434 km de fronteira seca) e 386 km com a Bolívia (319 km seca).
Caba ressaltar que, mesmo sendo uma fronteira seca de 319 Km, a BR 262 se torna
uma espécie de funil para o escoamento da produção e transporte de cocaína e
seus derivados.
Quando se compara as apreensões a nível nacional, estadual e local, pode-se
verificar a importância da 3ª Delegacia PRF, no que se diz respeito ao combate ao
tráfico de Cocaína. Dividindo em dois períodos, é possível observar: O DPRF24, no
período compreendido entre 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de 2006, realizou a
apreensão de 4.167 Kg25 de cocaína.
A 3ª Superintendência Regional de PRF em Mato Grosso do Sul, apreendeu
no mesmo período a quantidade de 1.724,9 Kg24. A 3ª Delegacia PRF, apreendeu
893,1 Kg26 de cocaína neste mesmo período, isso totaliza a porcentagem de 21,43%
do total apreendido no contexto nacional e 51,78% apreendido no contexto estadual
pela Polícia Rodoviária Federal, no período de 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de
2006.
No segundo período, compreendido entre 01 de janeiro de 2008 a 30 de
setembro de 2013, pode-se verificar os seguintes resultados: O DPRF apreendeu
37.509,43 Kg24 de cocaína e seus derivados em todo o território nacional. A 3ª
24 Departamento de Polícia Rodoviária Federal 25 Dados adquiridos no sistema ROD (Relatório Operacional Diário), disponível em: http://www.prf.gov.br/rod/relatorios/. 26 Dados obtidos na sede da 3ª Delegacia PRF, relatados no BOP (Boletim de Ocorrência Policial).
31 Superintendência da PRF no MS apreendeu 10.149,6 Kg24 da mesma substância
entorpecente. Ao levantar as apreensões da 3ª Delegacia PRF, chega-se a
quantidade de 3.987,125 Kg25, representando 10,62% do total apreendido a nível
nacional e 39,28% da droga apreendida no estado de Mato Grosso do Sul pela PRF.
Em um terceiro período, tomamos por base o mês de novembro de 2013,
onde pôde-se verificar os seguintes resultados: O DPRF apreendeu 1.119,114 Kg24
de cocaína e seus derivados em todo o território nacional. A 3ª Superintendência da
PRF no MS apreendeu 621,893 Kg24 da mesma substância entorpecente. Ao
levantar as apreensões da 3ª Delegacia PRF, chega-se a quantidade de 476,09
Kg25, representando 42,54% do total apreendido a nível nacional e 76,55% da droga
apreendida no estado de Mato Grosso do Sul pela PRF.
6.1 - Drogas e Entorpecentes mais apreendidos pela 3ª Delegacia PRF no
Estado de MS
ANO MACONHA (KG) COCAÍNA (KG) 2004 100,500 223,886 2005 15,605 337,325 2006 até 30/04/06 431,250 331,794 2008 344 117,881 2009 880 289,907 2010 358 74,408 2011 6,1 390,302 2012 274,18 1466,571 2013 até 30/09/2013 2529,89 754,951
TOTAL 4.939,525 3.987,025
Quadro 1 Quadro de apreensões de Maconha e Cocaína na jurisdição da 3ª DLPRF Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
32
Figura 4 Demonstrativo de Cocaína apreendida no período de 2004 - 2013
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Pode-se verificar que, com o passar dos anos, a 3ª Delegacia PRF/MS vem
aumentando o índice de apreensões na sua jurisdição, tendo um aumento
significativo quanto ao volume de apreensão do ano de 2004 para 2005, e de 01
janeiro até o dia de 30 de abril de 2006, sendo que neste quatro primeiros meses de
2006, se apreendeu quase o total de cocaína do ano de 2005.
É importante relatar que nos anos de 2008 e 2010, a diminuição da
quantidade de cocaína se dá pela diminuição do efetivo, bem como, a escassez de
viaturas. Nos anos de 2012 e 2013, há uma explosão no quantitativo de apreensões,
tendo como causa os concursos e lotações de PRF's, o retardo das transferências e
a reforma de postos da PRF, sendo o efetivo movimentando para os postos em
funcionamento, aumentando o efetivo por posto de fiscalização, tornando as
apreensões uma realidade quando se relaciona um maior efetivo para se trabalhar o
combate ao narcotráfico, como no referido exemplo27:
Um homem de 25 anos foi preso transportando cerca de 300 kg de pasta base de cocaína em uma carreta com placas da cidade mineira de Varginha. O flagrante foi realizado pela Polícia Rodoviária Federal e aconteceu na tarde deste sábado (21) de setembro, no km 706 da rodovia BR-262, no posto da PRF da ponte sobre o rio Paraguai, na região do Porto Morrinho. "Desconfiamos do veículo e na abordagem, o motorista estava nervoso. Fizemos a vistoria e descobrimos a droga escondida num compartimento preparado na carreta", informou ao Diário Corumbaense o policial rodoviário federal Viaro.
27 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/prf-apreende-cerca-de-300-quilos-de-pasta-base-de-cocaina
33
Foram encontrados, no fundo falso, 279 tabletes de pasta base de cocaína. O motorista não informou para onde levaria o carregamento, ainda segundo o Diário Corumbaense. Cinco policiais rodoviários federais participaram da operação que trouxe o veículo com a droga para a área urbana de Corumbá. Duas viaturas escoltaram o caminhão, que foi dirigido por um agente da PRF. O motorista, que não teve a identidade divulgada, foi trazido no próprio caminhão.
Figura 5 Dados das apreensões de maconha e cocaína no período de 2004 a 2013. Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Mesmo sendo uma Delegacia que têm por fiscalização uma BR que dá
acesso a fronteira do Brasil com o Paraguai, sendo a 419, a grande parte do volume
de drogas apreendidas pela PRF de Anastácio é a cocaína. Mesmo estando quase
equiparadas em volume, a maconha representa um volume muito pequeno, devido
ao seu valor comercial.
6.1.1 - Quanto a porcentagem de 2008 a 2013, comparando com a 3ª
Superintendência da PRF em MS e o DPRF
Ano DPRF 3ª
Superintendência 3ª Delegacia
DPRF 3ª SRPRF 2008 4.095,96 Kg 21,44% 2,88% 13,42% 2009 4.452,25 Kg 26,50% 5,51% 24,56% 2010 6.278,35 Kg 24,73% 1,18% 4,80% 2011 8.023,81 Kg 20,76% 4,86% 23,42% 2012 8.509,53Kg 38,44% 17,23% 44,82% 2013 6.149,65 Kg 27,76% 12,27% 44,22%
Quadro 2 Representa a porcentagem entre a DLPRF, comparada com a Superintendência e o DPRF. Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
34
Figura 6 Comparativo de apreensões realizadas entre o DPRF e a Superintendência do MS
Fonte: Levantamento ROD da 3ª SRPRF/MS e o DPRF
Pode-se observar a porcentagem de apreensões realizadas pela 3ª
SRPRF/MS em relação ao volume de cocaína apreendido pelas 26 Regionais ou
Distritos que compõem o DPRF, ficando acima dos 20% das apreensões de cocaína.
Pode-se destacar o ano de 2012, devido as grandes apreensões realizadas.
Figura 7 Comparação entre as apreensões realizadas pela DLPRF e o DPRF
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS e ROD
Cabe salientar, que a Delegacia PRF de Anastácio, está inserida em um
contexto de aproximadamente 150 (cento e cinquenta) Delegacias de PRF
espalhadas pelo território Nacional. É possível perceber que no ano de 2012, ela
35 apreendeu o correspondente a 17,23% de toda droga apreendida pelo DPRF e
tendo suas dificuldades no ano de 2010.
Figura 8 Comparação entre as apreensões realizadas pela 3ª SRPRF e a 3ª DLPRF Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS e ROD 3ª SRPRF
É importante destacar que a 3ª Superintendência PRF de MS possui 10 (dez)
delegacia e 22 (vinte e dois) postos de fiscalização, mesmo assim, foi responsável
por uma boa porcentagem das apreensões de cocaína realizadas pela PRF no
estado do MS, chegando a 44,82% no ano de 2012.
6.2 - Dados estatísticos sobre apreensões de drogas e entorpecentes da 3ª
Delegacia PRF – Anastácio/MS de fronteira com a Bolívia no período de
01/01/2004 a 30/04/2006 e de 01/01/2008 a 30/09/2013
6.2.1 - Quanto à quantidade de ocorrências registradas
De 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de 2006
Maconha Cocaína 2,85% - das ocorrências 97,15%- das ocorrências
Quadro 3 Comparação entre quantidades de maconha e cocaína apreendidas entre 2004 a 2006 Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
De 01 de janeiro de 2008 a 30 de setembro de 2013
Maconha Cocaína 55,33% - das ocorrências 44,67%- das ocorrências
Quadro 4 Comparação entre quantidades de maconha e cocaína apreendidas entre 2008 a 2010 Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
36
Figura 9 Porcentagem de maconha e cocaína apreendidas por períodos distintos
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Pôde-se notar, a diferença de volumes de apreensões entre maconha e
cocaína por períodos, sendo que, no período de 2004 a 2006, a apreensão de
maconha correspondeu a 2,85% do volume de drogas apreendidas na Delegacia.
No segundo período, percebe-se o aumento do volume de maconha apreendida pela
citada.
6.2.2 - Quantidade de ocorrências por volume de drogas
Maconha Cocaína 8,84% 91,16%
Quadro 5 Quantidade de ocorrências por tipo de drogas apreendidas Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
37
Figura 10 Porcentagem de maconha e cocaína por quantitativo de ocorrências
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
É possível a percepção da quantidade de ocorrências registradas do âmbito
da 3ª Delegacia PRF, sendo que, as ocorrências que envolveram apreensões de
maconha, corresponde a 8,84% de todas as apreensões. Sendo assim, é possível
afirmar que o foco de apreensões da citada é o transporte de cocaína.
6.3 - Quanto ao período (diurno e noturno)
Diurno Noturno 57,81%- das ocorrências 42,19%- das ocorrências
Quadro 6 Quantidade de ocorrências por período diurno e noturno Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
38
Figura 11 Porcentagem de ocorrências por período
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Estabelecendo-se o período diurno das 07h30min às 17h30min, é possível
perceber que não existe um período específico para ocorrência de crimes
envolvendo o transporte de drogas, tendo um índice de porcentagem menor no
noturno. Pode-se desmistificar que os criminosos operam somente no período
noturno.
6.4 - Quanto à nacionalidade das pessoas que transportavam drogas
Africana Boliviana Brasileira Espanhola Ghanense Hungara Peruana 0,43% 16,22% 78,5% 1,72% 0,43% 0,43% 2,63%
Quadro 7 Quantidade de pessoas detidas por nacionalidade Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
39
Figura 12 Porcentagem de ocorrências por período
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Os dados em porcentagem apresentado quanto às pessoas presas, pode-se
perceber as de nacionalidades: Africanas, Bolivianas, Espanholas, Ghanenses,
Hungaras e Peruanas, representam os estrangeiros que foram flagrados
transportando drogas na jurisdição da 3ª Delegacia PRF. Não restam dúvidas que a
maior parte das pessoas detidas são de brasileiros seguidos pelos bolivianos.
Importante salientar, que as pessoas estrangeiras que são flagradas no
transporte e associação ao crime de drogas, ele estará sendo enquadrado na Lei n.º
11.343/2006, que assevera:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito (...);
6.5 - Quanto ao sexo das pessoas presas com drogas e entorpecentes Masculino Feminino 63,5% 36,5%
Quadro 8 Quantidade de pessoas apreendidas por sexo
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
40
Figura 13 Porcentagem de ocorrências de pessoas detidas por sexo
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
É possível perceber que as pessoas do sexo masculino representam a
maioria das pessoas detidas por transportarem drogas. As mulheres representando
a minoria, 36,50% das pessoas detidas, comprova que elas estão cada vez mais se
envolvendo no mundo do crime e transporte de drogas. Uma por serem esposas de
presos e também por apresentarem fragilidade, tentando assim, ludibriar a
fiscalização.
6.6 - Estado civil das pessoas presas transportando drogas entorpecentes na
3ª Delegacia PRF
Solteiras Casadas Outras Ignoradas 47,26% 25,87% 21,89% 4,98%
Quadro 9 Quantidade de pessoas detidas por estado civil Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
41
Figura 14 Porcentagem de pessoas detidas por estado civil
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Cabe salientar, que as pessoas que foram enquadradas em outras, são
aquelas que informaram ser desquitadas/separadas, ou amasiadas com outras
pessoas, ou até mesmo viúvas. Quanto às pessoas qualificadas como ignoradas,
são aquelas que não informaram o seu estado civil no ato da detenção, ora por não
se manifestarem, ora pelo agente fiscalizador não perguntar. Pelo descompromisso
com outras pessoas e até mesmo espírito aventureiro, os solteiros representam
quase 50% das pessoas detidas pelo crime de tráfico de drogas.
6.7 - Quanto à escolaridade das pessoas que foram presas transportando
drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF
Analfabetas 0,54% Semi-analfabetas 1,08% Primário 0,54% Fundamental 44,56% Médio 33,69% Superior 2,71% Sem informação 16,30%
Quadro 10 Percentual de gral de escolaridade das pessoas detidas Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
42
Figura 15 Porcentagem de ocorrências por escolaridade das pessoas detidas
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Cabe ressaltar, que quanto às pessoas com escolaridade ignorada, não foram
questionadas quanto a isso no momento da apreensão e, as que estão sem
informação, são aquelas que não prestaram tal informação no ato de sua prisão. É
possível perceber que 33,69% das pessoas detidas, teriam a possibilidade de
estarem cursando uma faculdade e se qualificando, melhorando assim as condições
de trabalho e remuneração.
6.8 - Quanto à faixa etária das pessoas que foram presas transportando drogas
entorpecentes na 3ª Delegacia PRF
Faixa Etária Quantidade 13 – 17 anos 3,98% 18 – 20 anos 7,46% 21 – 25 anos 23,33% 26 – 30 anos 17,41% 31 – 35 anos 14,92% 36 – 40 anos 8,45% 41 – 45 anos 12,93% 46 – 50 anos 3,06% 51 – 55 anos 6,46% Acima de 56 anos 2,00%
Quadro 11 Porcentagem de pessoas detidas por idade Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
43
Figura 16 Porcentagem de ocorrências por idade das pessoas detidas
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Pode-se observar que 34,77% das pessoas apreendidas transportando
drogas na jurisdição da 3ª DLPRF, possuem sua idade abaixo de 26 anos, sendo
assim, deveriam estar em sala de aula, no mínimo terminando seus estudos
universitários; observa-se que 75,55% das pessoas presas deveriam estar no
mercado de trabalho, ao invés de lotarem os presídios, sendo sustentadas pelo
sistema carcerário.
Observação que se pode acrescentar em relação aos estudos dessas
pessoas, pois mesmo presas, o governo poderia proporcionar uma educação de
qualidade dessas pessoas, com a finalidade de não ficarem ociosas quando são
privadas de sua liberdade, por intermédio da educação a distância, como nos
assevera Araujo (2011):
É dessa forma, que as barreiras que separam a pessoa encarcerada da educação “caem por terra”, pois, com os avanços tecnológicos, o preso, mesmo dentro das cadeias e sem possibilidades de estudar fora de seus muros, poderá ter acesso à educação e, até mesmo, de uma formação em nível superior ou de pós-graduação.
6.9 - Quanto a Naturalidade dos Brasileiros Detidos
Estado Porcentagem CE 2,46% DF 1,23% GO 4,32% MA 0,61% MG 5,55%
44
MS 45,06% MT 1,85% PA 0,61% PR 1,23% RJ 0,61% RN 0,61% SP 35,18%
Quadro 12 Porcentagem das pessoas detidas por naturalidade
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Figura 17 Porcentagem de ocorrências por naturalidade das pessoas detidas
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Pode-se observar, que 54,94% das pessoas que foram presas não são do
estado de Mato Grosso do Sul, sendo assim as cadeias do estado acabam
recebendo uma população oriunda de outros lugares, onerando e sobrecarregando a
estrutura existente para atendimento de uma demanda regional.
Não só a superlotação dos presídios pode trazer preocupação. É importante
lembrar que essas pessoas quando presas, podem manter contato com facções
criminosas como o PCC28 e, ao invés de serem recuperados pelo governo, acabam
sendo recrutados e se filiando a essas facções criminosas.
28 Primeiro Comando da Capital
45 6.10 - Quanto ao tipo de transporte de cocaína e seus derivados
Tipo Porcentagem Veículos de passeio e utilitários 35,59% Transporte coletivo 53,67% Veículos de carga 5,64% Motocicletas 3,95% Trem de carga 1,15%
Quadro 13 Porcentagem de tipos de veículos utilizados e apreendidos
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Figura 18 Porcentagem de ocorrências por tipo de transporte Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
É importante ressaltar que as apreensões em veículos de carga
correspondem aos maiores volumes de drogas apreendidas; nos veículos coletivos,
corresponde ao transporte "formiguinha", onde as pessoas usam o próprio corpo
para transportar as drogas, ganhando para isso valores de R$ 200,00 a R$ 1.500,00.
Ainda nesse tipo de transporte, encontra-se a maioria dos estrangeiros que
dissimulam as drogas em outros utensílios com a finalidade de levá-las para fora do
país, servindo o Brasil como um corredor de passagem e embarque nos aeroportos,
como registrado na apreensão divulgada29:
Em fiscalização de rotina no Posto PRF "Guaicurus" (km 605 da BR 262) na região de Miranda/MS, uma equipe da Polícia Rodoviária Federal
29 Disponível em: http://www.aquidauananews.com/0,0,00,6234-42983-BR+262+PRF+ENCONTRA+ 140+CAPSULAS+DE+COCAINA+EM+TRAVESSEIRO.htm
46
apreendeu hoje às 10h o total de 140 cápsulas de cocaína, com peso aproximado de 01 (um) quilo de cocaína acondicionado dentro de um travesseiro. Foi preso em flagrante ARS, casado, 56 anos, jardineiro, residente na cidade mineira de Uberlândia, e trazia o travesseiro "recheado" com a droga no interior de uma mochila de viagem, que no momento da abordagem policial, se encontrava na poltrona ao seu lado. A..., relatou aos policiais que um homem o contactou na cidade de Uberlândia/MG, no interior de um bar e disse estar recrutando pessoas para buscar drogas na Bolívia. O acordo foi fechado em R$ 1.500,00. Segundo o "jardineiro" preso, ele aceitou o serviço devido a sua situação financeira precária. Conforme checagem feita pela PRF, não havia registro criminal contra o mesmo até o momento. A cocaína, que foi adquirida em Corumbá/MS através de uma mulher que identificou-se como V..., seria entregue na estação rodoviária da cidade paulista de Penápolis, sendo que o "jardineiro" não soube dizer quem o encontraria, pois a pessoa já teria os dados sobre suas características físicas e o abordaria. Após a transação, o "entregador" retornaria a Uberlândia/MG.
Nos veículos de passeio ou utilitários, podemos encontrar locais em diferentes
compartimentos para o transporte de drogas, como por exemplo, o tanque de
combustível.
6.11 - Quanto aos Módus Operandi de como as pessoas que transportam
drogas a colocam
Módus Porcentagem Cápsulas dentro do estômago 4,95% Presas ao corpo 4,95% Bagagens 17,7% Introduzidas em partes íntimas 17,35% Fundo falso nos veículos "mocó" 19,83% Estepe de veículos 2,47% Tanque de combustível 13,22% Sem dono 10,74% Outros tipos 5,79%
Quadro 14 Porcentagem dos Módus Operandi das drogas apreendidas
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
47
Figura 19 Porcentagem de ocorrências quanto aos Módus Operandis
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
Percebe-se os mais variados Módus Operandis utilizados pelas pessoas que
transportam drogas. Cabe ressaltar que aquelas que se utilizam do corpo e engolem
ou que introduzem em suas partes íntimas, é um dos módus mais difíceis de se
detectar, por muitas vezes não possuir policial do sexo feminino e a pessoa suspeita
ser do sexo feminino. É importante que se tenha um bom conhecimento de técnicas
de entrevista por parte do agente fiscalizador.
6.12 - Quanto a profissão
Profissão Porcentagem Autônomos 3,2% Comerciantes 9,09% Costureira 3,2% Desempregados 5,34% Afazeres domésticos 10,16% Empresários 1,6% Estudantes 5,88% Mecânico e funileiro 5,88% Motoristas 13,36% Relacionado a construção civil 9,09% Serviços gerais 2,67% Profissões de nível superior 2,13% Outras profissões 28,4%
Quadro 15 Porcentagem das pessoas detidas e suas profissões Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
48
Figura 20 Porcentagem de ocorrências quanto a profissão das pessoas detidas
Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS
É importante registrar que de todas as pessoas detidas por transporte de
drogas, somente 5,34% alegaram ser desempregadas, fato que poderia "justificar"
seu envolvimento. Os 94,66% restantes declararam ter profissão definida. Isso vem
corroborar com o fato de que a possibilidade de ganho fácil com o envolvimento no
tráfico, incentiva pessoas a deixarem suas profissões e se embrearem na
criminalidade.
Em relatos por parte de algumas pessoas, afirmaram transportar por motivos
de saúde, na busca de um ganho rápido de valores financeiros, para ajudar em
algum tipo de tratamento. Outros por estarem endividados. Aceitaram a oferta de
"amigos" para transportar as drogas, possibilitando assim, possuir dinheiro para
quitar a sua dívida. Há relatos de pessoas que transportam pelo simples fato de
conseguirem dar prosseguimento a seu vício, dentre outros.
Cabe mostrar a apreensão ocorrida no mês de novembro de 2013, sendo
noticiada pela imprensa Campo Grande news30, da apreensão de 318 Kg de Cocaína
e seus derivados, onde o motorista afirma que receberia a quantia de R$ 20.000,00
para o transporte, sendo:
A Polícia Rodoviária Federal interceptou uma carregamento de 270 kg de cloridrato de cocaína na BR-262, região de Corumbá, distante 419 km de Campo Grande. A droga estava em uma Scania, com placas do Paraná.
30 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/prf-apreende-carga-de-rs-12-milhoes-de-cocaina-em-corumba
49
A carga é de cloridrato de cocaína, substância da qual podem derivar a cocaína em si e outras drogas, como o crack. Nesta quantidade, a carga pode valer cerca de R$ 12,1 milhões. Também foram apreendidos 47,6 kg de pasta base, que estava escondida na cabine do veículo. A Scania foi interceptada no km 706 da BR-262. Segundo informações da assessoria de imprensa da PRF, o veículo era conduzido por um homem de 42 anos, morador de Ibiporã (PR), que não teve o nome divulgado. Os policiais suspeitaram do nervosismo do condutor e durante revista minuciosa localizaram a droga, que estava escondida em 14 compartimentos dentro da cabine. O homem informou que recebeu o entorpecente em Corumbá e levaria até Campo Grande. Pelo transporte receberia R$20 mil. A ocorrência foi encaminhada à Polícia Federal local.
Figura 21 318Kg de Cocaína e derivados Arquivo particular
A referida reportagem e foto, demonstra como o crime organizado e os
narcotraficantes recrutam as pessoas para que as mesmas adentrem e cedam ao
mundo do crime. Nesse caso, uma soma alta de dinheiro, proporcionando ao
motorista a possibilidade de adquirir "em um trabalho" aparentemente fácil, uma
soma boa de dinheiro.
6.13 - Quanto ao efetivo da 3ª Delegacia PRF
O efetivo de policiais rodoviários federais, pertencentes aos quadros da 3ª
Delegacia PRF, atualmente é de 03 (três) PRF’s administrativos, sendo estes o
Chefe da Delegacia, o Chefe de Policiamento e Fiscalização e um administrativo; o
50 efetivo operacional que trabalha em regime de escala de 24h por 72h de descanso é
de 42 (quarenta e dois) PRF’s.
Os 42 (quarenta e dois) PRF's são distribuídos em 3 (três) postos e 4
(quatro) equipe, excluindo os PRF's de férias e outros afastamentos, proporciona
equipes de 2 (dois) a 3 (três) PRF's por plantão diário em cada posto. Ressaltamos
que em tempos anteriores ao presente, o efetivo operacional chegou em menos de
30 (trinta) PRF's.
Mesmo que os números sejam significativos no combate ao narcotráfico,
acredita-se que não seja o efetivo de policiais rodoviários federais adequado para o
cumprimento dos trabalhos operacionais desenvolvidos pela 3ª Delegacia PRF, mas,
mesmo assim, é considerada a atuação, comprometimento e responsabilidade dos
servidores PRF’s no trabalho de combater ao tráfico de drogas na região.
Ressaltamos que esses PRF's, em sua escala, não estão envolvidos
somente no trabalho de combate ao narcotráfico, os mesmos precisam: fiscalizar as
jurisdições dos Postos PRF onde estão de serviço; atender acidentes; combater os
crimes de trânsitos, descaminhos, contrabandos, ambientais, dentre outros.
Tal fato fica claro na dificuldade de se combater exclusivamente o tráfico de
drogas, quando um veículo transportando cocaína em seu interior, foi apreendido na
cidade de Sidrolândia/MS, por um erro de rota do motorista. Tal atitude do mesmo,
permitiu que a PRF retirasse um volume considerado da referida droga, como nos
assevera a reportagem31:
Um motorista de 38 anos errou o caminho e, ao fazer a correção da rota, caiu em uma barreira da PRF (Polícia Rodoviária Federal) com 332,4 quilos de cocaína. A carga está avaliada em R$ 1,6 milhão, mas pode chegar na Europa rendendo até R$ 6,6 milhões. Conforme a PRF, a droga era transportada em um fundo falso da carreta I/Sinotruck, com placas de Cuiabá (MT). A apreensão aconteceu, ontem à tarde, durante fiscalização no Posto da PRF na BR-060, em Sidrolândia. Os policiais rodoviários federais descobriram a cocaína porque o motorista ficou muito nervoso durante a abordagem. O homem de 38 anos, que não teve o nome divulgado, pegou a droga na Bolívia e levaria para São Paulo. No entanto, em Campo Grande, ele confundiu a BR-163 e pegou a BR-060, no sentido de Campo Grande - Sidrolândia. Ele foi abordado quando voltava para a Capital.
Sendo assim, é possível observar as dificuldades que o governo tem em
combater tal atividade ilícita, quando deixa uma repartição pública, com tanta
31 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/motorista-erra-caminho-e-cai-em-barreira-com-332-quilos-de-cocaina
51 importância na apreensão de drogas ilícitas, totalmente desamparada pela falta de
efetivo, bem como de estrutura para o combate a criminalidades.
É oportuno registrar que no período de 2008 até 2013, o efetivo da delegacia
prendeu 20 (vinte) fuzis de grosso calibre, sendo 13 (treze) de calibre 7,62mm de
uso exclusivo das forças armadas e 6 (seis) de calibre 5,56mm de uso exclusivo das
forças especiais, bem como pistolas e metralhadoras 9mm e farta munição dos
referidos calibres. Importante registrar que as apreensões desses fuzis, representam
18,7% de todos os fuzis apreendidos pelo DPRF.
Essas apreensões representam um verdadeiro arsenal de guerra,
comprometendo assim, a segurança direta dos referidos PRF's, caso haja um
confronto armada, devido a proporcionalidade de policiais X bandidos, e os policiais
que trabalham na referida fronteira não possuírem o mesmo tipo de armamento para
possíveis confrontos.
Não vindo somente a Polícia Rodoviária Federal sofrer, mais a Polícia
Federal, a Receita Federal do Brasil, com a dificuldade em manter servidores em
locais como a região oeste do estado do MS, perdendo com isso a sociedade
brasileira.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pôde-se verificar, ao longo deste trabalho, que o combate ao tráfico de drogas
(cocaína) é bastante complexo. Buscou-se esclarecer terminológicamente o que é e
de onde vêm a cocaína e seus derivados que adentram pela fronteira da Bolívia com
Brasil, especificamente no estado de Mato Grosso do Sul.
De acordo com o levantamento feito no âmbito deste trabalho, diversos tipos
de apreensões de entorpecentes e drogas foram registrados na 3ª Delegacia PRF –
Como bem se pôde observar, várias são as táticas utilizadas pelos elementos para
tentarem ludibriar a fiscalização, o que requer, por parte do policial, conhecimento,
vontade, dedicação e condições para efetuar uma fiscalização com resultado
satisfatório.
Essas condições poderiam ser supridas, se o Governo investisse em
aumentar o quadro de PRF's para comporem o efetivo da 3ª Delegacia PRF do MS;
investimento em tecnologia como escâner, armamento e viaturas. Há necessidade
de capacitar mais seus policiais para possíveis enfrentamentos que, a cada dia, se
torna mais próximo das realidades urbanas dos grandes centros, bem como, o
incentivo em dominar uma outra língua, devido a região ser foco de turistas de
outros países.
De acordo com o levantamento estatístico realizado, buscou-se informar o
leitor sobre a localidade da 3ª Delegacia PRF e seus postos PRF’s, como também,
mostrar dados sobre as apreensões de entorpecentes e drogas, podendo ser
observado que com o passar dos anos as apreensões vêm cada vez aumentando
quanto ao volume apreendido.
Informou-se também a indicação dos tipos de moeda utilizados pelos
traficantes na aquisição de drogas e entorpecentes, além do dinheiro, como alguns
bens móveis em especial, tais como carros roubados/furtados, caminhões,
caminhonetes, dentre outros, que realçam a necessidade de operações conjuntas
com outras instituições policiais, dadas a abrangência e a complexidade do trabalho.
Como já foi salientado neste trabalho, o tráfico de drogas e entorpecentes,
está ligado a outros crimes cometidos em nosso país, tendo como principal objetivo
o lucro ilícito e fácil com desprezo aos interesses da nação e a vida das pessoas
usuárias de drogas.
Importante é analisar-se o que Geene (2000, p. 265) nos assevera:
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O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço e deixar que os outros fiquem com os louros. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.
Várias são as formas de se combater este mal que de forma direta ou indireta,
afeta a todas as pessoas que fazem parte da sociedade brasileira, podendo
enumerar como ações: a prevenção, a informação, as campanhas educativas,
investimento na educação, melhores condições de vida, diminuição do desemprego,
tratamento de dependentes, apoio às famílias, acompanhamento social, acordos
bilaterais de cooperação entre Países, ações integradas, policiamento eficiente nas
regiões de fronteira, policiamento ostensivo e repressivo, busca de maiores
conhecimentos, capacitação dos policiais, investimentos na área de segurança
pública e, principalmente, o planejamento de uma política consistente a curto, médio
e longo prazos de combate ao tráfico de drogas ilícitas, sabendo-se ao certo as
consequências e aonde se pretende chegar.
O problema das drogas chegou hoje a um nível de gravidade tal que ninguém
pode-se colocar à margem dele. A responsabilidade social precisa ser assumida, por
meio de ajuda mútua de pais e educadores e de atitudes individuais simples. Todos
podem participar de trabalhos em grupo e oferecer importantes contribuições para
lidar com o problema do crescimento do consumo de drogas.
Vive-se uma cultura das drogas. Os anúncios publicitários, principalmente os
de cigarros e álcool, são sempre ligados a situações positivas de bem-estar, poder,
bens materiais, saúde e boa forma física. Tudo isso será fatal: um dia as drogas
serão oferecidas aos jovens.
O que se precisa é prepará-los, discutir claramente com eles, para, quando
esse dia chegar, saberem como agir ou, pelo menos, não se sentirem obrigados a
aceitá-las. Não ficando esse papel restrito ao combate que as policias realizam, mas
será a união de todos que proporcionará condições para se vencer esse mal que
atinge a sociedade, principalmente através da educação.
Observa-se a luta constante dos integrantes da 3ª Delegacia PRF e como sua
experiência pode contribuir como subsídio ao planejamento futuro de ações
concretas e cada vez mais objetiva. O que não se pode esquecer é:
Ressaltando-se que: “aquele que conhece o inimigo e a si mesmo não correrá perigo algum em cem confrontos. Aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo será por vezes vitorioso e por vezes
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Encontrará a derrota: Aquele que não conhece o inimigo e tampouco a si mesmo será invariavelmente derrotado em todos os confrontos”32 (p.64).
O autor, em sua obra, manifesta as estratégias que se deve ter no
planejamento de uma guerra, como proceder e atacar o seu inimigo. Ora, quando
ele cita "encontrará a derrota", entendeu-se como a droga está relacionada na
violência que têm assolado a sociedade brasileira. Sendo assim, se o Estado-Nação,
nesse caso, entendido como Governo, a qual a PRF está inserida, não conhecer o
módus operandi de como as pessoas que estão envolvidas com o narcotráfico
agem, não será possível mitigar as potencialidades desdobradas por esta prática
ilícita em nosso país.
Por conseguinte, se o governo não fizer uma política pública com eficácia,
não encontrará os resultados efetivos que se espera, por exemplo: a diminuição da
oferta e procura. Dessa forma, ficaremos sempre ineficazes nesse sistema desigual
e combinado. Com isto, de maneira operacional, informa-se três perspectivas na
efetividade do combate ao narcotráfico, quais sejam:
1. Integração dos órgãos de segurança que agem na fronteira (PRF, PF,
RFB, PM, PC, Justiça);
• PRF - Como foi apresentado, cabe a Polícia Rodoviária Federal a
fiscalização das BR's, principalmente aquelas que dão acesso a
fronteira do Brasil com a Bolívia, denominada BR 262. Mas é preciso
que se entenda que ela de forma alguma, têm a possibilidade e deve
trabalhar isoladamente. É preciso a soma de ações para que resulte na
inibição do crime de drogas;
• PF - A Polícia Federal exerce um trabalho eficiente de inteligência e
controle sobre as organizações criminosas e efetuado diversos tipos de
apreensões do tipo: colarinho branco; tráfico de drogas; tráfico de
pessoas, dentre outros. Mas, é preciso que as informações sejam
compartimentadas, quando não existe a possibilidade de que ela
própria realize as detenções. É importante destacar o relacionamento
que a Delegacia da PF em Corumbá tem tido com a 3ª Delegacia PRF
de Anastácio;
32 TZU, Sun – A Arte da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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• RFB - A Receita Federal do Brasil, tem por atribuições, coibi a evasão
de divisas, bem como o controle das importações. É sabido que as
redes e organizações criminosas, utilizam-se da prática de lavagem de
dinheiro obtido por intermédio do crime, dentre eles, pode-se destacar
o de tráfico de drogas. É de suma importância que a Receita trabalhe
em conjunto com os órgãos de fiscalização, repassando informações.
• PM - A polícia Militar do estado de Mato Grosso do Sul, exerce um
trabalho eficaz dentro das cidades, tanto em perímetro urbano, quanto
rural. É preciso, nas cidades de fronteira, que os policiais que nela
trabalham, recebam treinamento especializado para se combater o
narcotráfico, seja de grande quantidades ou de pequenas, que se
instalam nas conhecidas "bocas de fumo". Sendo as informações
alimentadas pela polícia civil e outros órgãos de segurança pública;
• PC - A policia Civil do estado do Mato Grosso do Sul, como a Policia
Militar, está instalada em todas as cidades do estado, proporcionando
assim, um efetivo controle e monitoração dos crimes praticados por
facções, bem como quadrilhas. O levantamento de informações e
investigação realizada pelos seus policiais, é de suma importância no
combate aos referidos crimes. Um trabalho integrado, garantiria uma
melhor eficácia nos resultados por parte dos órgãos de segurança.
• Justiça - A justiça, cabe aplicar a Lei e os rigores da Lei à aqueles que
de alguma forma, se envolvem com a criminalidade. É preciso a
aplicação de penas severas para as pessoas que realmente são
consideradas traficantes, confirmando o trabalho que as forças de
segurança realizam. Sendo que às drogas têm proporcionado a
sociedade uma destruição avassaladora de futuros de crianças e bem
estar das famílias.
2. O envolvimento dos órgãos de segurança na formação dos alunos nas
redes públicas e privadas;
É preciso que os órgãos de segurança sejam inseridos na formação dos
cidadãos enquanto alunos da rede pública ou particular, proporcionando uma
aproximação com a sociedade e o repasse daquilo que presenciam no dia-a-dia e os
prejuízo que as drogas proporcionam para as pessoas. Ninguém melhor do que o
56 policial para ensinar sobre o referido tema, sendo preciso o treinamento para que ele
possa atuar e contribuir no envolvimento das famílias.
3. A própria Ressocialização da pessoa que está presa, por meio do
oferecimento de um aprimoramento em seus estudos e, dando-lhe a
oportunidade de uma capacitação e profissão;
Vive-se em um tempo, em que as pessoas não podem mais ficar alheias ao
conhecimento e impedidas de terem acesso e oportunidades de desenvolverem e
terminar seus estudos. É nesse sentido que ao se visualizar uma população, no
caso, os encarcerados, que estão fora do contexto da sociedade, excluídos, sob o
pretexto de ficarem reclusas de forma definitiva e/ou temporária (semiaberta) da
sociedade, com a finalidade de cumprirem a sanção e/ou julgamento que outrora lhe
fora determinado, pensa-se no processo de ressocialização dos encarcerados, por
meio da Educação à Distância (EAD), e assim, quando estiverem aptos, possam ser
reintroduzidos ao convívio social, de forma qualificada.
Portanto, espera-se, que de maneira integrada, possa haver, ainda mais, uma
maior efetivação de resultados, para que isso aconteça, entendeu-se que as
sugestões apontadas, serão o cerne para a ampliação de políticas públicas voltadas
ao combate ao narcotráfico aqui no Estado de Mato Grosso do Sul, principalmente,
por ser intitulada como 'rota do tráfico'.
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REFERÊNCIAS
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ARAUJO, Robinson Luis. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO EM AQUIDAUANA/MS. TCC pós-graduação. Universidade da Grande Dourados. UNIGRAN, Dourados-MS, 2011.
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