um olhar epistemolÓgico do papel da 3ª delegacia de...

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ROBINSON LUIS DE ARAUJO ISBN: 978-85-916700-0-0 UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO DO PAPEL DA 3ª DELEGACIA DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL/MS, NO COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS, ESPECIFICAMENTE DE COCAÍNA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A BOLÍVIA Anastácio/MS 2013

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ROBINSON LUIS DE ARAUJO ISBN: 978-85-916700-0-0

UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO DO PAPEL DA 3ª

DELEGACIA DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL/MS, NO

COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS, ESPECIFICAMENTE

DE COCAÍNA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A BOLÍVIA

Anastácio/MS 2013

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1

"A LIDERANÇA não se impõe, se conquista! Não trata com

objetos e sim com o coração. Ela não se quebra, por ser

formada com elos soldados pelo tempo! Não espalha e sim

ajunta. Ela acredita em pessoas e não as escolhe. Enxerga

potências e acredita. Não precisa de méritos...

Quer ser um verdadeiro Líder? Aprenda a servir as

pessoas, pois a humildade precede a honra. Essa é a

diferença em ser um líder!"

Pr. (ARAUJO, Robinson Luis)

Especialista em Liderança Cristã

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2 O AUTOR

Nascido na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1974, hoje reside em

Aquidauana/MS. Policial Rodoviário Federal desde 1994, assumindo e começando

suas atividades na cidade de Rio Brilhante/MS e Ponta Porã/MS. Em 1996

convidado a assumir a função de Chefe Administrativo da Delegacia PRF de

Corumbá/MS e posteriormente, assumindo a função de Chefe de Delegacia. Em

2001 foi para Brasília/DF, onde participou da Divisão de Operações Aéreas (DOA),

tendo a oportunidade de desenvolver atividades operacionais em vários estados da

Federação. No ano de 2003, retornou para o estado de Mato Grosso do Sul,

integrando o Núcleo de Operações Especiais (NOE), onde pode conhecer mais das

fronteiras e como o crime organizado trabalha. Em 2005, retornou para

Aquidauana/MS, onde foi confiado a Chefia da Delegacia de Anastácio, pelo então

Superintendente Regional, Inspetor Valter Aparecido Favaro, permanecendo até o

ano de 2007, sendo também o Administrador do Centro de Treinamento do Centro

Oeste (CTCO) e Tutor do Telecentro em Aquidauana/MS. Substituído pelo Inspetor

Ciro Vieira Ferreira, atual Superintendente Regional, pode ajudar como o substituto

da Delegacia e como Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização (NPF) e

depois como substituto do NPF. Desenvolvendo suas funções na atividade afim da

Polícia Rodoviária Federal, hoje retorna na administração como substituto do NPF

da Delegacia. É instrutor do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF) na

disciplina de Combate ao Narcotráfico, na formação de novos PRF's, atuando

também, como instrutor da disciplina no treinamento de Policiais Militares do estado

de Mato Grosso do Sul na cidade de Corumbá/MS no Curso de Operações de

Fronteira (COF) nos anos de 2005 e 2006 e da Receita Federal do Brasil (RFB) na

cidade de Fortaleza/CE em 2007. Sócio fundador da "Associação o Bom Samaritano

de Apoio e Prevenção às Drogas" na cidade de Miranda. Servo de DEUS e discípulo

de Jesus Cristo.

Graduado no curso de Bacharel em Teologia, o mesmo possui Especialização em

Educação à Distância, trabalhando o tema da Educação a Distância na

Ressocialização do Preso em Aquidauana/MS. Pós-graduado em Liderança e

Administração Eclesiástica; Pós-graduado em Aconselhamento e Psicologia

Pastoral; Pós-graduando em Terapia Familiar. Possui vários cursos de

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3 aperfeiçoamento pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e pela

Secretaria Nacional Anti Drogas (SENAD) na área de Prevenção as Drogas, como:

Capacitação de Conselheiros e Fé na Prevenção, bem como pela instituição a qual

pertence.

Casado com Christienne, com quem têm duas filhas, Jeovanna e Emanuelly.

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4 AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS a oportunidade de estar na Polícia Rodoviária Federal e ter o

privilégio de trabalhar em uma Delegacia de PRF como a de Anastácio, no portal de

entrada do Pantanal Sul Mato-grossense.

A minha família, por entenderem o tempo dedicado a esta obra e o cumprimento da

missão que temos como Policial Rodoviário Federal, quando ficamos longe.

Aos meus pais Francisco e Fátima, por me incentivarem e ensinarem a ser um

cidadão cumpridor de seu dever. A meu irmão Ramisés, pelo companheirismo.

Aos companheiro de profissão, que se nominasse a cada um, corria o sério risco de

deixar de citar algum.

Aos Colegas da Delegacia PRF de Anastácio/MS, pela dedicação e excelente

serviço prestado a sociedade a qual estamos inseridos.

Aos Inspetores Ricardo Fernandes da Costa, Chefe da Delegacia PRF de Anastácio

e Francinildo Fernandes de Araújo, Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização,

pelo apoio irrestrito a construção desse trabalho.

Ao Inspetor Ciro Vieira Ferreira, Superintendente Regional da PRF em Mato Grosso

do Sul, pelo excelente trabalho a frente e por apoiar o esforço de cada PRF.

A cada cidadão das cidades de Anastácio, Aquidauana, Corumbá, Dois Irmãos do

Buriti, Ladário, Miranda e Nioaque, por confiarem no serviço que a 3ª Delegacia PRF

de Anastácio tem desenvolvido.

Em especial ao amigo Edson Pereira de Souza, pela dedicação e contribuição para

a realização dessa obra, meu muito obrigado!

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5 DEDICAÇÃO

Dedico essa obra a cada Policial Rodoviário Federal, onde quer que estejam,

empenhados em oferecer o melhor de si no combate ao narcotráfico, crime que

cresce como um câncer, destruindo famílias, tirando sonhos, ceifando vidas.

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6 SUMÁRIO

Resumo e Abstract 08

1 Introdução 10

2 Uma breve história da cocaína 11

3 O QUE REPRESENTA OS LUCROS DO NARCOTRÁFICO 14

4 O PAPEL DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL E O TRABALHO REALIZADO PELA 3ª DELEGACIA PRF – ANASTÁCIO/MS 18

5 TIPOS DE MOEDA 26

6 UM LEVANTAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS TIPOS DE DROGAS E DE PESSOAS QUE AGEM NO NARCOTRÁFICO, BEM COMO, OS MÓDUS OPERANDIS.

30

6.1 - Drogas e Entorpecentes mais apreendidos pela 3ª Delegacia PRF no Estado de MS 31

6.1.1 - Quanto a porcentagem de 2008 a 2013, comparando com a 3ª Superintendência da PRF em MS e o DPRF 33

6.2 - Dados estatísticos sobre apreensões de drogas e entorpecentes da 3ª Delegacia PRF – Anastácio/MS de fronteira com a Bolívia no período de 01/01/2004 a 30/04/2006 e de 01/01/2008 a 30/09/2013.

35

6.2.1 - Quanto à quantidade de ocorrências registradas: 35

6.2.2 - Quantidade de ocorrências por volume de drogas: 36

6.3 - Quanto ao período (diurno e noturno): 37

6.4 - Quanto à nacionalidade das pessoas que transportavam drogas: 38

6.5 - Quanto ao sexo das pessoas presas com drogas e entorpecentes 39

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7 6.6 - Estado civil das pessoas presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 40

6.7 - Quanto à escolaridade das pessoas que foram presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 41

6.8 - Quanto à faixa etária das pessoas que foram presas transportando drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF 42

6.9 - Quanto a Naturalidade dos Brasileiros Detidos 43

6.10 - Quanto ao tipo de transporte de cocaína e seus derivados 45

6.11 - Quanto aos Módus Operandi de como as pessoas que transportam drogas a colocam. 46

6.12 - Quanto a profissão 47

6.13 - Quanto ao efetivo da 3ª Delegacia PRF 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS 52

1. Integração dos órgãos de segurança que agem na fronteira (PRF, PF, RFB, PM, PC, Justiça) 54

2. O envolvimento dos órgãos de segurança na formação dos alunos nas redes públicas e privadas 55

3. A própria Ressocialização da pessoa que está presa, por meio do oferecimento de um aprimoramento em seus estudos e, dando-lhe a oportunidade de uma capacitação e profissão

56

REFERÊNCIAS 57

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8 UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO DO PAPEL DA 3ª DELEGACIA DE POLÍCIA

RODOVIÁRIA FEDERAL/MS, NO COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS,

ESPECIFICAMENTE DE COCAÍNA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A

BOLÍVIA

Robinson Luis de Araujo1

Edson Pereira de Souza2

Resumo: Este artigo aborda a efetividade do Estado-Nação no combate ao Tráfico de Drogas, bem como a realidade presente na vida cotidiana das populações oriundas da região de fronteira, de um lado: Corumbá - Mato Grosso do Sul - Brasil e do outro lado: Puerto Quijarro - Arroyo Concepción - Bolívia. Esta realidade é midiatizada através dos meios de comunicação, seja por: televisão, jornais, rádios, revistas, campanhas educativas, ou mesmo, por intermédio de conversas informais, tendo como principal ator o tráfico de drogas na fronteira da Bolívia com Brasil, especificamente - Mato Grosso do Sul, culminando como principal responsável pela maioria dos ilícitos praticados no Brasil. Com isso, este artigo, objetiva-se em apresentar os resultados operacionais e efetivos dos Policiais Rodoviários federais da 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal no Mato Grosso do Sul no combate ao narcotráfico, no período de 01 de janeiro de 2004 a 30 de novembro de 2013. Portanto, esta efetividade operacional nos resultados apresentados, mostra a estratégia de política pública desenvolvida pelo Estado-Nação através da Delegacia de Polícia Rodoviária Federal no Mato Grosso do Sul como perspectiva em reduzir (e/ou eliminar) a entrada (e circulação) de entorpecentes no Estado de Mato Grosso do Sul, por esta região de fronteira. Palavras-chave: Fronteira, Tráfico de Drogas, Policia Rodoviária Federal. Abstract: This article approaches the effectiveness of the State-Nation in the fight against the Drug Dealing, as well as the reality presented in the daily routine of the population from the boundary regions, on one side: the city of Corumbá, Mato Grosso do Sul – Brazil and on the other side: the city of Puerto Quijarro - Arroyo Concepcion – Bolivia. This reality has been frequently exposed in the media through the means of communication: television, newspapers, radios, magazines, instructive campaigns or even through informal conversation having as the main character the drug dealing at the boundary of Bolivia and Brazil, culminating as the main responsible factor for

1 Policial Rodoviário Federal (turma de 1994). Instrutor da disciplina de Combate ao Narcotráfico na PRF. Graduado em Teologia, Pós-graduado em Educação a Distância; em Liderança e Administração Eclesiástica; em Aconselhamento e Psicologia Pastoral e Pós-graduando em Terapia Familiar. Mestrado em Teologia (livre). Vários cursos na área de segurança pública pela SENASP e cursos pela SENAD sobre drogas. (e-mail: [email protected]) - ISBN: 978-85-916700-0-0 - Direitos autorais, conforme Registro n.º 631.739, Livro 1.213, Folha 353, Escritório de Direitos Autorais, Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2 Geógrafo - CREA/MS 14112/D. Especialista em Didática do Ensino Superior. Mestre em Estudos Fronteiriços. Analista em Saúde, Segurança e Meio Ambiente - MTE/MS 9769. Professor-Voluntário na UFMS - Campus de Aquidauana e Campus de Campo Grande ([email protected]).

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9 most part of illicit acts in Brazil. Thus, this article aims to present the operational and effective results obtained by the Federal Highway Police officers from the third Federal Highway Police Station in Mato Grosso do Sul in the fight against the drug trafficking during the period of January 1st, 2004 and November 30th, 2013. Therefore, this operational effectiveness in the presented results shows the public policy strategy developed by the State-Nation through the Federal Highway Police in Mato Grosso do Sul as a perspective to reduce (and/or eliminate) the entrance (and circulation) of narcotic in the State of Mato Grosso do Sul, specially the boundary region. Keywords: Boundary, Drug Dealing, Federal Highway Police.

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10 1 INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objetivo tratar de assunto atual, por estar

constantemente presente na vida cotidiana, seja através dos meios de comunicação

televisiva, jornais, rádios, revistas, campanhas educativas, ou mesmo, por

intermédio de conversas informais, tendo como principal ator o tráfico de drogas

ilícitas que têm assolado nosso País, culminando como principal responsável pela

maioria dos ilícitos praticados no Brasil.

Neste trabalho, o autor demonstra o trabalho da 3ª Delegacia de Polícia

Rodoviária Federal (DLPRF), com sede na rua Cel. Zelito, nº 33, Altos da Cidade –

Anastácio/MS: a forma como atua; os resultados já alcançados no período de 01 de

janeiro de 2004 a 30 de novembro de 2013; o conhecimento adquirido neste

assunto; as formas de tráfico; suas rotas; os tipos de entorpecentes e drogas; como

a PRF deverá proceder para ser cada vez mais eficaz na constante luta contra o

tráfico de entorpecentes e drogas afins e quais os tipos de moedas3 são utilizadas

para a aquisição destes entorpecentes.

Várias são as formas de combater este problema, tanto por meio de

campanhas, palestras, bem como a repressão ao transporte. Com este trabalho

procura-se apresentar a forma como os policiais da 3ª Delegacia de Polícia

Rodoviária Federal – Anastácio de Mato Grosso do Sul (MS) vem agindo e como

poderão subsidiar as aplicações em outras delegacias e até mesmo nas Regionais.

Tem-se a pretensão de fornecer elementos à PRF para que, cada vez mais,

tenha reconhecido o seu papel na área de segurança pública. Ressalta-se neste

estudo, também, o comprometimento, o empenho, o conhecimento, a motivação e a

dedicação de cada Policial Rodoviário Federal no combate ao tráfico de

entorpecentes e drogas.

Vislumbra-se a possibilidade de subsidiar os órgãos governamentais na busca

de políticas que tragam reais possibilidades de transformar a vida das pessoas que

ora se encontram na situação de transportadoras dessas drogas ilícitas, por meio de

um estudo e levantamento do perfil dessas pessoas que são recrutadas pelo

narcotráfico.

3 Objeto, bem móvel utilizado para aquisição de entorpecentes e drogas pelos criminosos na Bolívia.

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11 2 UMA BREVE HISTÓRIA DA COCAÍNA

A cocaína é um alcalóide (produto extraído das folhas de uma planta

chamada Erythroxylon coca) encontrada principalmente em países da América do

Sul e Central. Também é conhecida como coca, pó dourado, neve ou "senhora". A

cocaína é um estimulante do Sistema Nervoso Central. Ela atinge rapidamente o

cérebro, produz resposta intensa, o que a torna muito procurada como droga de

abuso4.

De acordo com Ferreira e Martini (2001, p. 96), nos assevera:

"O envolvimento humano com substâncias psicoativas, em especial a cocaína, retornam a um passado longínquo. O abuso de cocaína tem suas raízes nas grandes civilizações pré-colombianas dos Andes que, há mais de 4500 anos, já conheciam e utilizavam a folha extraída da planta Erythroxylon coca ou coca boliviana, como testemunham as escavações arqueológicas do Peru e da Bolívia. A planta de coca cresce na forma de arbusto ou em árvores ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica. Cultivada em clima tropical e altitudes que variam entre 450 m e 1.800 m acima do nível do mar, continua sendo usada pelos nativos da região que a mascam".

Sendo uma planta de folhas perenes, tem uma produção que pode ocorrer

durante um período de 30 a 40 anos, com quatro colheitas anuais, podendo chegar

a fornecer folhas até por cem anos.

O hidrocloreto de cocaína era comumente usado como anestésico local em

odontologia, oftalmologia e cirurgias de ouvido, nariz e garganta, dada a sua forte

ação vasoconstritora que ajuda a reduzir as hemorragias locais. O próprio Freud

utilizava cocaína em doses de 200 mg por dia. Ele recomendava doses orais da

substância entre 50-100 mg como estimulante e euforizante em estados

depressivos. De acordo com Gurfinkel5 (2008, p.421), Freud utilizou cocaína para

tratar alguns amigos:

"Após algumas tentativas frustradas, deparou-se com um alcalóide quase desconhecido que, conforme lhe pareceu, prometia se tornar a tal “descoberta”. Mergulhou febrilmente na bibliografia e iniciou diversas experiências com o uso da droga em si mesmo e em outros (amigos, parentes e pacientes). A sua monografia “Sobre a coca”, de 1884, é um estudo meticuloso e entusiástico sobre a história da droga, seus efeitos e possíveis usos terapêuticos. Dentre as controvérsias que cercam o episódio da cocaína, encontra-se o doloroso episódio de um colega e amigo (Koller) que teria “roubado” a fama por publicar em seguida um trabalho sobre os

4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE, O que é Cocaína? Disponível na Internet:<http://psicoativas.ufcspa.edu.br/cocaina.html> Acesso 2003 5 Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 11, n. 3, p. 420-436, setembro 2008

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12

efeitos anestésicos da cocaína; a história trágica de outro amigo (Fleischl) cujo vício em morfina Freud incentivou a tratar com uso de cocaína e que acabou morrendo, assim como o grau de envolvimento pessoal de Freud com a droga em termos do uso da mesma".

Após quatro anos de sua publicação original, Freud repensa depois de

analisar que os efeitos maléficos da "droga milagrosa" era maior que a possibilidade

de bem estar, devido ao grande potencial de pessoas se tornarem

"cocainomaníacos" que, em muitos casos, substituía a "morfinomania" ou mesmo se

combinava com ela, potencializando os seus efeito.

É fato, amplamente divulgado nos dias atuais, que o uso abusivo de cocaína

tem se constituído em um problema cada vez maior na sociedade. As complicações

neuropsiquiátricas e cardiocirculatórias, assim como os transtornos socio-

ocupacionais, econômicos e legais associados ao seu abuso, fazem com que esse

fenômeno necessite ser cada vez mais estudado. O aumento das taxas de

morbidade e mortalidade parecem ser devido a uma diminuição no preço da droga e

um aumento da sua disponibilidade. Um maior número de pessoas utilizam a droga

em concentrações e doses cada vez mais elevadas, dados que nunca tinham sido

relatados num passado recente. (PEMS, 2000).

O surgimento de regulamentações e leis restritivas, como o tratado de Haia

(1912), Harrison Act, de 1914, nos EUA, ou o Decreto-lei Federal nº 4.292 de 6 de

julho de 1921, no Brasil, tornaram a cocaína menos disponível para a população em

geral. O conhecimento da população sobre os efeitos nocivos da cocaína em

grandes quantidades também ajudou no declínio do uso de droga.

Além disso, na década de 1930, as anfetaminas e outras drogas estimulantes

- mais baratas e com efeitos estimulantes mais duradouros que a cocaína -

tornaram-se disponíveis, provavelmente ganhando a preferência de muitos usuários

prévios de cocaína. Depois de 50 anos, o mundo depara-se com o ressurgimento da

cocaína e seus derivados, como uma droga de largo consumo.

Segundo Laranjeira (1996), foi a partir dos anos 80, com o aumento da oferta

de cocaína no mercado de todos os países americanos, que essa concepção

começou a mudar. Esse aumento da oferta deve-se, principalmente, a uma maior

produção e a uma distribuição mais eficaz realizadas por alguns cartéis de

traficantes sul-americanos. Essa maior oferta, com um preço muito menor, fez com

que o uso de cocaína aumentasse e se diversificasse bastante (DIAMOND R. 1994,

p.274). Segundo informe do NIDA (National Institute of Drug Abuse), em 1994, o

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13 consumo ocasional e o regular de cocaína diminuíram, ao passo que o consumo

frequente aumentou (KOPP P. 1998, p.274).

Ferreira e Martini (2001, p. 99) afirma que um século se passou desde a

descoberta da cocaína como um agente anestésico por Karl Koller, até o momento

do surgimento do crack , em 1985, nas Bahamas. Com o advento do “crack” a partir

da metade dos anos 80, o mundo testemunha uma nova fase da história da cocaína,

pelo menos com relação ao potencial de toxicidade. Novos estudos estão sendo

realizados com relação ao “crack”, montando um novo capítulo dessa história.

Pedro Biondi, em seu artigo: O pó da Onipotência6. A planta que brota dos

Andes virou emblema da busca frenética do sucesso, nos assevera:

"O que preocupa mesmo as autoridades brasileiras não é tanto a cocaína em pó – mais consumida pelas classes de maior poder aquisitivo – e sim o crack, sua variante fumável, que vicia com apenas três ou quatro doses e faz efeito em menos de 10 segundos. Mais barato que a cocaína (uma dose custa cerca de 5 reais), o crack está se alastrando no país com uma rapidez comparável à de sua ação no organismo. A “pedra”, como é conhecida, chegou à Grande São Paulo em 1988 e, em dez anos, já conquistou 120 000 usuários – o que, no caso, é quase sinônimo de dependentes. Na parte mais decadente do centro da cidade, o tráfico criou uma espécie de feira livre de venda e uso da pedra, a Crackolândia. “Aqui todo mundo usa. A gente passa a noite pipando e de dia descansa”, disse à SUPER uma moradora de rua, de 46 anos. Na Crackolândia, é comum encontrar meninas de menos de 18 anos se prostituindo em troca de crack ou de dinheiro para comprá-lo. As maiores vítimas, em São Paulo, são os meninos de rua. Uma pesquisa do Cebrid com 38 crianças, em 1993, revelou que 48 delas fumaram crack naquele ano. Curiosamente, a droga é quase inexistente no Rio de Janeiro. Os traficantes de lá proíbem o crack, temendo que ele vicie os adolescentes que trabalham para o tráfico nos morros".

Fato que hoje, o crack tem se espalhado em todo o território brasileiro,

tornando-se em calamidade pública, envolvendo o governo Federal em campanhas

e programas, como "Crack, é possível vencer"7.

Assim, a 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal exerce um importante

papel no combate e controle, para que a cocaína e seus derivados deixe de adentrar

e chegar a nossos grandes centros, como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de

Janeiro.

6 Pedro Brondi. O Pó da Onipotência. A Planta que brota nos Andes virou emblema da busca frenética de sucesso. Superinteressante. São Paulo: Abril, 1998. Disponível na Internet: <http://super.abril.com.br/saude/po-onipotencia-443862.shtml> Acessado em 2013. 7 Disponível em: http://www2.brasil.gov.br/crackepossivelvencer/home

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14 3 O QUE REPRESENTA OS LUCROS DO NARCOTRÁFICO

Segundo Caggiola (1997), para se ter uma ideia da pressão que o

narcotráfico exerce sobre as economias dos países atrasados, um exemplo basta.

Em 28 de setembro de 1989, foi feita em Los Angeles a maior apreensão de cocaína

já realizada: 21,4 toneladas, cujo preço de venda ao público atingiria US$ 6 bilhões,

uma cifra superior ao PNB de 100 (cem) Estados soberanos.

A grande transformação das economias monoprodutoras em narcoprodutoras

(e o grande salto do consumo nos EUA e na Europa) se produziu durante os anos

80, quando os preços das matérias-primas despencaram no mercado mundial:

açúcar (-64%), café (-30%), algodão (-32%), trigo (-17%).

Afirma ainda que a crise econômica mundial exerceu uma pressão formidável

em favor da narco-reciclagem das economias agrárias, o que redundou num

aumento excepcional da oferta de narcóticos nos países industriais e no mundo

todo. Apenas nos últimos anos, o tráfico mundial cresceu 400%. As apreensões de

carregamentos se multiplicaram por noventa nos últimos quinze anos, ainda assim

afetando apenas entre 10 e 20% do comércio mundial.

O tráfico internacional de drogas, em alta escala, começou a desenvolver-se a

partir de meados da década de 1970, tendo tido o seu boom na década de 1980.

Esse desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica mundial. O

narcotráfico determina as economias dos países produtores de coca, cujos principais

produtos de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços (ainda que a

maior parte dos lucros não fique nesses países) e, ao mesmo tempo, favorece

principalmente o sistema financeiro mundial.

O dinheiro oriundo da droga corresponde à lógica do sistema financeiro, que é

eminentemente especulativo. Este necessita, cada vez mais, de capital "livre" para

girar, e o tráfico de drogas promove o "aparecimento mágico" desse capital que se

acumula muito rápido e se move velozmente.

Atualmente, o narcotráfico é um dos negócios mais lucrativos do mundo. Sua

rentabilidade se aproxima dos 3.000%. Os custos de produção somam 0,5% e os de

transporte gastos com a distribuição (incluindo subornos) 3% em relação ao preço

final de venda. De acordo com dados recentes, o quilo de cocaína custa US$ 2.000

na Colômbia, US$ 25.000 nos EUA e US$ 40.000 na Europa. No Oriente Médio e no

Japão atinge seu maior valor: US$ 80 mil o quilo.

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15

A América Latina participa do narcotráfico na qualidade de maior produtora

mundial de cocaína, e um de seus países, a Colômbia, detém o controle da maior

parte do tráfico internacional (a pequena parte restante é dividida entre a máfia

siciliana e a Yakuza japonesa).

A cocaína gera "dependência" não apenas em indivíduos, e também em

grupos econômicos, até mesmo nas economias de alguns países, como por exemplo

nos bancos da Flórida, em ilhas do Caribe ou nos principais países produtores —

Peru, Bolívia e Colômbia, para citar apenas os casos de maior destaque.

Com relação aos três últimos, os dados são impressionantes. Na Bolívia, os

lucros com o narcotráfico chegam a US$ 1,5 bilhão contra US$ 2,5 bilhões das

exportações legais. Na Colômbia, o narcotráfico gera de US$ 2 a 4 bilhões,

enquanto as exportações oficiais geram US$ 5,25 bilhões. Nestes países, a

corrupção é generalizada.

Os narcotraficantes controlam o governo, as forças armadas, o corpo

diplomático e até as unidades encarregadas do combate ao tráfico. Não há setor da

sociedade que não tenha ligações com os traficantes e até mesmo a Igreja recebe

contribuições destes.

No Peru e na Bolívia, parte da produção de coca é legal e destina-se ao

consumo tradicional (mastigação das folhas para combater os efeitos da altitude), à

indústria (chás e medicamentos) e à exportação (o Peru exporta 700 toneladas de

folhas de coca por ano para a Coca-cola).

O Peru é o maior produtor mundial de coca. Segundo a Organização Mundial

da Saúde, 100 mil camponeses peruanos cultivam 300 mil hectares de coca. Apenas

5% dessa produção é utilizada para fins legais. Com o resto, o tráfico abastece 60%

do mercado mundial. Esses camponeses são massacrados, alternadamente, pela

guerrilha, pela máfia e pelas tropas de repressão ao tráfico.

Na Bolívia, a dependência em relação ao narcotráfico chega ao extremo. Os

traficantes detêm o controle das principais empresas, a corrupção atinge níveis

inacreditáveis e, de acordo com a CEPAL8, a população desempregada passou de

19% da população ativa em 1985 para 35% no ano seguinte. De cada três

bolivianos, um lucra com os derivados do narcotráfico. Há estimativas, que

8 Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

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16 coincidem com os dados da CEPAL, segundo as quais 65% da economia do país

pertencem ao setor informal.

Na Bolívia, o quilo da cocaína, pode variar de U$ 1.500,00 a U$ 2,500,00, isso

depende do grau de pureza e onde a mesma é adquirida, bem como, o volume de

droga comprado pelos narcotraficantes.

A Colômbia especializou-se em transformar a pasta base produzida por Peru

e Bolívia em cocaína e exportá-la para o resto do mundo. Dois grandes cartéis (Cali

e Medellin) controlam a maior parte do narcotráfico no país. Entretanto, existem

centenas de pequenos traficantes, muitos dos quais roubam a droga dos grandes

cartéis. O país está, por completo, nas mãos dos narcotraficantes.

O Congresso e a polícia nacionais disputam o primeiro lugar em grau de

corrupção, a até mesmo as campanhas presidenciais são patrocinadas com dinheiro

da droga. Cada novo governo colombiano se esforça para repatriar os lucros obtidos

com o tráfico internacional de cocaína. Dos cerca de US$ 16 bilhões anuais obtidos

pelos narcotraficantes, apenas entre US$ 2 e 4 bilhões voltam ao país.

A expansão desta atividade na América Latina significou a degradação de

países inteiros ao simples papel de apêndice do narcotráfico. A coca já representa

75% do PIB boliviano, 23% de outras nações. Os grupos principais das burguesias

nacionais realizaram sua reconversão pela "economia do crime", dominando os

recursos dos Estados e monopolizando um acúmulo de riquezas que permitiu aos

mafiosos colombianos situarem-se no ranking dos multimilionários do mundo.

A transformação do mineiro boliviano em cultivador de coca e a substituição

das melhores áreas agrícolas por cultivos do insumo básico da droga são

determinantes do pavoroso estancamento da economia deste país, que alguns

"experts" de Harvard elogiam cinicamente por sua "estabilidade monetária". Que a

coca represente a única saída de sobrevivência para os peruanos desempregados

das cidades ou migrantes da desertificação rural é outra evidência do mesmo

processo de regressão econômica.

Em meio aos assassinatos cotidianos, a Colômbia é uma vitrina por onde se

vê o esbanjamento de um grupo de cartéis que, seguindo a tradição das oligarquias

latino-americanas, gastam em importações suntuosas um volume de dinheiro que

permitiria saldar a dívida externa deste país. Como ocorreu no passado com a

borracha, o guano e o açúcar, a monoexportação de coca é mais um episódio da

devastação agrária, do empobrecimento campesino e do desperdício da região.

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17

Cabe salientar que, quando o traficante recebe a cocaína nos grandes centros

no Brasil, têm-se a possibilidade de se "batizar" a mesma, fazendo de um quilo o

volume de três a quatro quilos, transformando o que custou U$ 2.000,00 em R$

40.000,00 até R$ 60.000,00.

Outro dado interessante é em relação ao crack. O valor aproximado de 1 Kg

da droga, pode chegar a U$ 1.500,00, sendo vendida nos grandes centros a pedra

de R$ 5,00 a R$ 15,00 a pedra, dependendo do local e o público. Cada pedra pesa

de 2g a 5g, pode chegar a um lucro de R$ 7.500,00. O problema é que o consumo

de crack se torna maior, devido ao seu poder de viciamento dos consumidores,

tornando a busca mais intensa.

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18 4 O PAPEL DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL E O TRABALHO REALIZADO

PELA 3ª DELEGACIA PRF – ANASTÁCIO/MS

A Polícia Rodoviária Federal é a polícia ostensiva da União, integrante da

estrutura permanente do Ministério da Justiça. Realiza policiamento rodoviário

composto por ações em fiscalização de trânsito e segurança pública, com o objetivo

de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e de

terceiros. Tem como dever primordial o de salvar vidas, cumprindo e fazendo

cumprir a legislação para um trânsito mais humano e seguro nas rodovias federais

brasileiras.

Em atividades de fiscalização são também empreendidas ações de combate

aos ilícitos penais, atuando na prevenção e repreensão aos crimes contra a vida, os

costumes, o patrimônio, a ecologia e ao meio ambiente. Destacando as ações

repressivas contra os furtos e roubos de veículos e bens, o tráfico de entorpecentes

e drogas afins, o contrabando, o descaminho, a exploração de crianças e

adolescentes e os demais crimes previstos em lei.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 prevê

expressamente a competência da Polícia Rodoviária Federal para atuar no combate

ao crime, e por consequência atuar no combate ao narcotráfico, inserindo-a no

contexto das instituições responsáveis pela segurança pública no país. No Capítulo

que trata da Segurança Pública, em seu Art. 144, assim versa:

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

(...) II - polícia rodoviária federal; § 2° A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, se destina, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais;

(...) § 7º- A Lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

O Decreto nº 1.655, de 03 de outubro de 1995, define atribuições de interesse

específico do presente trabalho. Define assim a competência da PRF:

Art. 1° À Polícia Rodoviária Federal, órgão permanente, integrante da estrutura regimental do Ministério da Justiça, no âmbito das rodovias federais, compete:

I - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros;

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X - colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes contra a vida, os costumes, o patrimônio, a ecologia, o meio ambiente, os furtos e roubos de veículos e bens, o tráfico de entorpecentes e drogas afins, o contrabando, o descaminho e os demais crimes previstos em leis (grifo do autor).

A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1.997, que institui o Código de Trânsito

Brasileiro, também trouxe expressa previsão de atuação da PRF no contexto de

segurança pública nacional ao dispor:

Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e estradas federais:

(...) II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros.

Verifica-se nesta legislação que, mesmo o legislador tratando do assunto

trânsito, não deixou de preocupar-se com a segurança da população, ficando esta a

cargo da PRF, nas rodovias federais.

O Decreto nº 4.345, de 26 de agosto de 2002, que instituiu a Política Nacional

Antidrogas, estabelece: “objetivos e diretrizes para o desenvolvimento de estratégias

na prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social, redução de danos

sociais e à saúde, repressão ao tráfico e estudos, pesquisas e avaliações

decorrentes do uso indevido de drogas”, cabendo a Polícia Rodoviária Federal

fornecer apoio irrestrito às ações.

O Decreto nº 4.118, de 07 de fevereiro de 2002, dentre outras providências,

coloca a Polícia Rodoviária Federal como Instituição integrante da estrutura básica

do Ministério da Justiça.

A Lei nº 11.343, DE 23 de agosto de 2006, Institui o Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD9; prescreve medidas para prevenção do

uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de

drogas; define crimes e dá outras providências. Sendo que, a Portaria n.º 420 da

ANVISA10 que define o que é droga ilícita e de controle.

Há de se verificar, que muitas são as atribuições da Polícia Rodoviária

Federal, e cada vez mais ela se compromete com a área de Segurança Pública,

como se poderá constatar ao longo do referido artigo.

9 Sistema nacional de políticas públicas sobre drogas. 10 Agência Nacional de Vigilância Sanitária

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Inserida no contexto do Departamento de Polícia Rodoviária Federal,

encontra-se a 3ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal, situada á rua Cel. Zelito,

nº 33, Altos da Cidade - Anastácio/MS, que tem desenvolvido um papel significativo

no combate ao tráfico de Cocaína e seus derivados, que por ora, tem acarretado a

destruição de várias gerações, muito mais a dos dias de hoje, devido à facilidade de

obtenção de cocaína por parte dos usuários desta droga.

A jurisdição da referida Delegacia faz fronteira seca com a Bolívia11, país esse

considerado como um dos maiores produtor de folha de coca, da pasta básica de

cocaína em grande escala, e cloridrato de cocaína em pequena escala, bem como

do crack. Sendo a cocaína produzida neste país de baixa qualidade.

Sob sua jurisdição, esta localizado uma malha de rodovias federais de

aproximadamente 435 km, onde se encontram 03 (três) postos de fiscalização da

PRF alocados com suas BR’s patrulhadas e quantidade de Km pertencentes aos

respectivos postos, assim sendo:

• Posto F 3301 – posto PRF localizado na BR 419, no Km 260. é de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento de duas BR’s, sendo a BR 419 do Km 244 ao Km 328, totalizando assim 84 Km e BR 262, do Km 427,7 ao Km 531, totalizando 103,3 Km;

• Posto F 3302 – posto PRF localizado na BR 262, Km 600, denominado posto PRF “Guaicurus”, sendo de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento da BR 262, do Km 531 ao Km 658, totalizando desta forma 127 Km;

• Posto F 3303 – posto PRF localizado na BR 262, Km 706, denominado posto PRF da “Ponte”, sendo de responsabilidade dos policiais rodoviários federais o patrulhamento das BR's 262, do seu Km 658 ao Km 779, totalizando assim, 121 Km e BR 359 do Km 512 ao 519, com total de 7 Km.

• 3ª Delegacia PRF de Anastácio - localizada à rua Cel. Zelito, 33 - Altos d cidade - Anastácio/MS, de onde é controlado os três postos relatados à cima.

No esquema apresentado, encontram-se os 03 (três) Postos da Polícia

Rodoviária Federal, localização da sede da 3ª Delegacia PRF no município de

Anastácio, as rodovias federais e quantidade de quilômetros que compreende a

circunscrição de cada Posto PRF, bem como, o quilômetro onde se encontra

localizado cada posto da PRF apresentado.

11 Fronteira com o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre

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Figura 1 Mapa de Atuação da Delegacia PRF de Anastácio/MS

Fonte Google Mapas Escala 1:50Km

No mapa referendado, pode-se observar o trecho de atuação da

Delegacia PRF de Anastácio, sendo a BR 262 ligação entre as cidades de Campo

Grande/MS (ponto A) e Corumbá/MS (ponto D), onde se avista a marcação em

preto, sendo o Posto PRF de Guaicurus, no Km 600. A marcação feita em vermelho,

está a localização do Posto PRF da Ponte do rio Paraguai, Km 706. A marcação em

azul claro, está o Posto PRF de Anastácio, na BR 419, Km 260, ligação entre as

cidades de Anastácio/MS (ponto B) e Nioaque/MS (ponto E).

Há de se considerar ainda, a pavimentação da BR 419, do trecho que

compreende as cidades de Anastácio/MS (ponto B) a cidade de Rio Verde de Mato

Grosso/MS (ponto F), que ainda não é patrulhada pela PRF.

Destaca-se em fiscalizações e combate ao narcotráfico, em apreensões, o

Posto PRF denominado Guaicurus, responsável por 63% das apreensões de

cocaína e seus derivados. Um local estratégico, devido a sua estrutura física e

localização, proporcionando aos policiais rodoviários federais que ali trabalham, as

condições necessárias para combater o tráfico de drogas, oriundos da Bolívia.

Estas drogas, em sua maioria, transportadas por “mulas”12, principalmente

para o consumo interno (Brasil), como para o tráfico internacional (Europa), utilizam

os aeroportos e portos dos grandes centros consumidores do Brasil.

12 Pessoas contratadas por traficantes para o transporte das drogas.

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Diferente é o Modus Operandi que as pessoas que trabalham para o tráfico

de drogas nessa região se utilizam, tendo como única e certa, a necessidade de

burlar e dificultar a fiscalização pelos policiais que ali desenvolvem suas atividades

fiscalizadoras. São variados os locais onde os policiais rodoviários federais

apreendem drogas na circunscrição da 3ª Delegacia PRF, podendo ser citados:

Veículos de Passeio - Essas drogas são escondidas em compartimentos,

tais como no forro do banco, embaixo do banco, dentro do tanque de combustível,

dentro dos pneus, soltas no porta-malas, ou em lugares da estrutura ou latarias do

veículo que são preparadas com fundo-falso ou mocós13, para que as drogas

possam ser escondidas. Em um passado, por volta dos anos de 1996 a 1998, os

traficantes se utilizavam de veículos velhos, para que, se perdessem, não tivessem

um prejuízo maior. Não sendo a realidade de nossos dias, onde quadrilhas se

utilizam de carros modernos e de alto valor econômico, tentando por esta forma,

intimidar a fiscalização dos policiais, acreditando que os mesmos não serão

desmontados na procura de entorpecentes.

Pode-se citar a apreensão divulgada pela imprensa, quando:

Policiais Rodoviários Federais apreenderam droga com uma soldadora de 31 anos. Segundo a PRF, a mulher seguia de Corumbá para Campo Grande num veículo GM/S-10 com placas de Mato Grosso do Sul. A droga foi encontrada escondida no tanque de combustível, cerca de 46 quilos distribuídos em 42 tabletes. Conforme a polícia, a condutora disse que havia comprado a droga na Bolívia, por R$ 4 mil cada tablete, e pretendia vender o entorpecente em Campo Grande. A ocorrência foi encaminhada para Delegacia de Polícia Federal de Corumbá.14

Veículos de Transporte de Cargas - Neste tipo de transporte, as drogas são

alojadas em mudanças, dentro de mercadorias que são despachadas, na estrutura

das carrocerias, escondidas no meio das cargas. Um outro meio utilizado, é

principalmente por pessoas do sexo feminino, quando ficam à beira da estrada,

pedindo carona, oriundas da cidade de Corumbá, ou até mesmo com passageiros,

quando os motoristas oriundos da cidade de Corumbá, embarcando nesses

veículos, na tentativa de passar pela fiscalização sem serem abordadas e, por

muitas vezes, se passando como alguém íntimo do motorista.

Pode-se citar, fato divulgado pela imprensa, quando:

13 Lugares em que os traficantes preparam com a ajuda de oficinas de funilaria, onde ficam ocas, facilitando o ocultamento e armazenamento de drogas ilícitas, como no caso, a cocaína. 14 Disponível em: http://www.eventosdoms.com.br/noticias/1372/Policia/PRF-apreende-R--168-mil-em-cocaina-com-soldadora--droga-ia-para-capital.html#.UnWgy_kQboY

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Em Miranda, no km 600 da BR 262 às 20h do dia 16/02/2012, Policiais Rodoviários Federais, após receberem informações da Policia Militar do MS e da Policia Federal, de que determinado tipo de veículo poderia estar transportando entorpecente, ao realizarem operação de rotina procedendo fiscalização no Posto PRF Denominado GUAICURUS, distante 190 km da fronteira com a Bolívia, foi abordado o veículo Scânia placas de Álvares Florence/SP, onde após minuciosa fiscalização, foram encontrados nas laterais do compartimento de carga do veículo 674 kg de cocaína. Foram presos o condutor, um homem de 28 anos e uma mulher com 22 anos e apreendida uma adolescente com 16 anos. O ocorrência foi encaminhada a Polícia Federal em Corumbá15.

Importante que seja mencionado, que a referida apreensão, corresponde a

maior apreensão de cocaína realizada pela Delegacia PRF de Anastácio em um

único veículo transportador.

Figura 2 Apreensão de 674 Kg de Cocaína em Caminhão contêiner

Arquivo particular

Um exemplo de como os narcotraficantes transportam as drogas em grande

quantidade, com o intuito de burlar e dificultar a fiscalização por parte dos agentes

de fiscalização, como no caso específico, a Polícia Rodoviária Federal. Alojando a

droga (cocaína) em repartição preparada para que a mesma não venha ser

encontrada pelos policias.

15 Disponível em: http://casadoinspetor.blogspot.com.br/2012/02/prf-apreende-674-kg-de-cocaina.html

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Figura 3 674 Kg cocaína, depois de haver sido retirada do local preparado no contêiner

Arquivo particular

Nas figuras 2 e 3 a apreensão se deu no Posto PRF de Gauicurus, BR 262,

Km 600, ficando comprovada a forma de atuação em conjunto das organizações de

segurança, tanto na esfera Federal como na Estadual, possibilitando resultados

expressivos no combate ao narcotráfico. Salienta-se também, a importância do

mecanismo scanner, facilitando a fiscalização, principalmente na diminuição do

tempo para procura e localização de onde as possíveis drogas estão alojadas, na

tentativa de burlar as fiscalizações.

Veículos de Transporte Coletivos - Ocorre quando seus passageiros trazem

as drogas dentro de seus próprios corpos, por serem engolidas com forma de

cápsulas ou introduzidas em seus órgãos genitais e ânus. Sob suas vestes, presas

ao corpo, dentro de malas e em fundo falso criado nas próprias malas; diluídas em

roupas, dentro de latas, como cerveja, doces, e dentre outras formas, caracterizando

assim, o tráfico "formiguinha".

Narra-se fato divulgados no jornal fatimanews16, quando:

Agentes da Polícia Rodoviária Federal apreenderam por volta na tarde de ontem, na BR 262, km 605, próximo à cidade de Miranda, um quilo e 250 gramas de cocaína que estavam presos ao corpo de RAA, 48 anos e 200 gramas de cocaína introduzidas na genitália de MHRS, 33 anos, que estava em companhia da filha de 10 meses de idade.

16 Disponível em: http://www.fatimanews.com.br/noticia/detalhe/prf-prende-mulheres-com-mais-de-um-quilo-de-cocaina/18269

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Importante observação se faz quanto aos locais de apreensões de drogas e

entorpecentes, na 3ª Delegacia PRF, uma vez que, em razão do relevo, localização

geográfica, extensa fronteira seca com os Países confinantes com o Brasil, a forte

produção agrícola e pecuária, o que propicia surgimento de várias estradas vicinais,

conhecidas como “cabriteiras”17, utilizadas pelos traficantes para desviarem da

fiscalização.

É importante frisar, quando da execução de operações no trecho da 3ª

Delegacia PRF, a Delegacia implantar operações ostensivas nas rodovias federais, e

em pontos estratégicos em estradas vicinais, previamente estabelecidos e

planejados, para que se tenha sucesso no resultado da operação.

É fato que as Leis nº 7.565 de 19 de dezembro de 1986 e a 9.614, de 5 de

março de1998, regulamentadas por Decreto 5.144/2004 que regulamentou os 1º, 2º

e 3º do artigo 303 do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/1986, que foi

modificada em 1998, para permitir o"abate de aeronaves"). Institucionalizada como a

Lei do Abate, vem contribuindo em muito para o aumento das apreensões de

grandes quantidades de cocaína, oriundas da Bolívia ou Colômbia por terra nos

últimos anos. Isso se deve ao medo ou receio dos condutores dessas aeronaves

serem abatidas pela falta de plano de voo.

Sendo assim, os traficantes trazem as drogas oriundas da Colômbia, Interior

da Bolívia e despacham por via terrestre. É fato também, a pratica de levar esse tipo

de droga para o Paraguai, onde vem aumentando as apreensões de cocaína na

região, fato que não era comum. Isso também se dá, pela vasta malha rodoviária

que existe na fronteira do Brasil com o Paraguai, dificultando a fiscalização e

tornando-se mais acessível a chegada aos grandes centros consumidores.

17 Expressão utilizada para definir estradas vicinais utilizadas pelos traficantes para passarem com drogas e entorpecentes e veículos furtados/roubados.

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26 5 TIPOS DE MOEDA

Além do dinheiro, conseguido em sua maioria através de atos ilícitos, temos

como “moeda” utilizada na aquisição de drogas, as motocicletas que chegam na

Bolívia desmontadas ou montadas, sendo transportados em bagageiros de ônibus,

caminhões, ou mesmo, rodando, em cima de veículos utilitários e caminhões

utilizados por transportadoras.

Outra moeda muito forte são as carretas roubadas ou furtadas. Na Bolívia

esta é a preferida e a de maior valor é a carreta “Volvo”, muito utilizada para

transporte e serviço nas lavouras18, depois de adaptações em seus pneus, e por

haver peças de reposição de fácil aquisição naquele País. Muitos de nossos

veículos são levados ao Paraguai ou Bolívia por verdadeiras “empresas”

(quadrilhas)19 especializadas em “golpe do seguro”20.

O proprietário do veículo é procurado por alguém, que faz uma proposta,

sendo aceito, o veículo é conduzido por outro elemento da quadrilha até um certo

ponto e, posteriormente, outro elemento, às vezes da região, dá continuidade à

viagem. Para não levantar suspeitas é registrada a queixa de roubo/furto pelo

proprietário, ocasião em que a pessoa já se encontra com o veículo fora do Brasil.

Os veículos importados, os tipos “of road”, caminhonetes, traçados, diesel e

aqueles de alta cilindrada são de boa aceitação no país mencionado. Ressalta-se

que o valor de tais veículos nesse país corresponde, em média, de 20% (vinte por

cento) a 40% (quarenta por cento) de seu valor no Brasil, e grande parte dos

acessórios (rádios, caixas de som, macacos, chaves-de-roda, estepes) são retirados

para serem comercializados no Brasil, com a finalidade de aumentarem ainda mais o

lucro na venda do veículo.

É comum a PRF efetuar a prisão de elementos que “levaram” veículos à

Bolívia e estavam retornando com CRLV e CD player do veículo embarcados em

ônibus oriundos da cidade de Corumbá. Pelo valor do veículo vendido na Bolívia,

bem como, o grau de risco, envolvimento e custo da viagem, tornam-se muito mais

18 Ressaltamos que estas lavouras em sua maioria é para plantio de drogas e entorpecentes. 19 Quadrilhas, pessoas que se unem para prática de condução e destino dos veículos roubados e furtados dos grandes centros comerciais até o Paraguai ou Bolívia. 20 Prática muito utilizada, onde o proprietário do veículo entrega este a um terceiro que leva o veículo para ser vendido no Paraguai ou Bolívia, após a venda, o proprietário registra uma falsa ocorrência de roubo/furto de seu veículo para receber o valor do montante assegurado.

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27 lucrativa a venda deste veículo como forma de pagamento na aquisição de

entorpecentes.

O que pode-se notar é que existem quadrilhas e pessoas para

roubarem/furtarem os veículos nos centros urbanos, outras para transportarem até a

Bolívia; ainda outras como receptadores ou intermediárias; pessoas para preparo de

entorpecente e, ainda, outras para o transporte das mesmas.

Em suma, uma verdadeira empresa em funcionamento, onde cada um é

responsável por uma missão, tendo como objetivo principal o estabelecimento de

uma rede para proteção do sistema e funcionamento, visando o lucro fácil de forma

ilícita.

Amorim, em seu artigo: Evo Morales e o crime organizado na Bolívia21

publicado em 17 de junho de 2011, afirma que o presidente da Bolívia, Evo Morales,

acaba de sancionar uma lei federal que legaliza (ou oficializa, ou anistia) o roubo de

veículos em seu país. O decreto-lei número 133, de 8 de junho de 2011, baseado

“no direito de todos a ter um carro”, estabeleceu que podem ser emitidos

documentos de registro para veículos sem discutir a propriedade anterior e a origem.

Com isso foi criado o maior entreposto de carros e caminhões roubados das

Américas. Ele ainda assevera:

Só nos primeiros três dias de vigência da nova lei, segundo o repórter José Casado, de O Globo, 40 mil veículos foram legalizados. Como sabemos, a maior parte dos carros, ônibus e caminhões roubados no Brasil têm como destino final o Paraguai e a Bolívia. São negociados à luz do dia, em agências e “concessionárias” abertas ao público, muitas das quais empresas de fachada do crime organizado. Além do mais, esses veículos (preço variando entre 60 e 400 mil reais) são moedas de troca para o contrabando de armas e o narcotráfico.

Amorim ainda, afirma que Morales foi o primeiro representante de índios plantadores de coca (os cocaleros) a chegar ao poder. Em seu gabinete de trabalho, em La Paz, ele ostenta um retrato de Ernesto “Che” Guevara, feito de folhas de coca coladas sobre uma tela. Logo após ser eleito, Evo Morales declarou que na Bolívia não haveria uma política de “coca zero”, como tentaram – e fracassaram – seus vizinhos colombianos, envolvidos numa guerra civil que já dura meio século. As lavouras de coca bolivianas fornecem matéria-prima para a indústria farmacêutica (medicamentos para doenças circulatórias e respiratórias) e também para o narcotráfico (pasta básica da cocaína). São parte fundamental do PIB do país.

O dinheiro em espécie, não deixa de alimentar o tráfico de drogas na

fronteira, quando somas de dinheiro são interceptadas, com a finalidade de se

21Disponível em: http://carlosamorim.com/2011/06/17/evo-morales-e-o-crime-organizado-na-bolivia/

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28 adquirir cocaína. Pode-se confirmar, conforme apreensão divulgada no jornal

douradosnews22 que assevera:

Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal apreendeu por volta das 08 horas de ontem, na BR 262, km 605, próximo à cidade de Miranda, 22 mil e 760 dólares em espécie, que estavam acondicionados na lateral interna, na altura das poltronas 33 e 34 de um ônibus que fazia o trajeto São Paulo/Porto Soares, na Bolívia (...). O dinheiro que seria usado para a compra de cocaína na Bolívia foi encaminhado para a Superintendência da Polícia Federal, em Campo Grande.

Em uma outra reportagem, do correio do estado, ano IV - n.º 183 de 30 de

abril de 2001, mostra a apreensão de U$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares)

que estavam em poder de uma pessoa, passageira do ônibus da empresa

Andorinha, em direção a Corumbá/MS. Possivelmente o referido dinheiro, seria

utilizado para acerto do narcotráfico.

Existe uma prática ainda mais cruel, que os criminosos utilizam-se para

conseguir somas de dinheiro, com o objetivo de obterem drogas: o sequestro

relâmpago. Uma prática em que o criminoso sequestra as pessoas que ora estão no

veículo.

Em um tipo de prática, os amarram no mato e sob a vigilância de outrem,

descolam-se para a Bolívia sem chamar a atenção da fiscalização, por possuírem os

documentos e ainda não haver ocorrência de roubo. Quando o veículo chega no seu

destino, é avisado e o condutor e possíveis passageiros são libertados. Em outros

Módus Operandi, acabam matando essas pessoas, como o caso de repercussão e

comoção ocorrido em Campo Grande/MS, sendo:

Têm 22 anos os dois bandidos que foram presos nesta sexta-feira e confessaram envolvimento no assassinato e sequestro dos estudantes Breno Luigi Silvestrini de Araújo, 18 anos, e Leonardo Batista Fernandes, 19 anos. Os dois ficaram mais de 17 horas desaparecidos, após sair de um bar ontem à noite, em Campo Grande, e foram encontrados mortos hoje no começo da tarde. O veículo em que estavam, uma Pajero, foi localizado em Corumbá. A Polícia acredita que os bandidos mataram os rapazes para roubar o veículo e levar para a Bolívia23.

Pôde-se ler e observar uma prática de crime com usos de crueldade com a

vida humana, com o objetivo de se levar uma veículo para trocá-lo por cocaína no

país vizinho (Bolívia). Assim, agem quadrilhas e gangues, espalhando medo e terror

22 Disponível em: http://www.douradosnews.com.br/arquivo/prf-apreende-dolares-que-serviria-para-comprar-cocaina-a9aadeea058ad9d2c30ab9518aa5348d 23 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/bandidos-que-sequestraram-e-mataram-estudantes-tem-22-anos

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29 nos grandes centro urbanos de nosso país, com a finalidade de somarem recursos

financeiros para obtenção, em sua grande parte, de drogas.

Observado os tipos de moedas que o narcotráfico utiliza nas negociações

como compra e até mesmo, para que o vício possa ser mantido, é importante

conhecer-se o perfil dessas pessoas que atuam, ora como transportadores utilizadas

pelo tráfico, ora como traficantes.

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30 6 UM LEVANTAMENTO EPISTEMOLÓGICO DOS TIPOS DE DROGAS E DE

PESSOAS QUE AGEM NO NARCOTRÁFICO, BEM COMO, OS MÓDUS

OPERANDIS.

Após um levantamento de 9 (nove) anos, é possível afirmar a importância da

3ª Delegacia PRF no contexto de policia ostensiva da União e o papel que

representa no local onde está instalada, podendo comprometer o trabalho de seus

integrantes em uma relocação para uma outra cidade, devido ao local onde

encontra-se instalada ser estratégico para proporcionar ritmo as atividades

desenvolvidas, por estar instalada em local estratégico, no meio de um triângulo,

onde a criminalidade converge e diverge, como rota de passagem obrigatória.

Há que se afirmar o território geográfico em que a 3ª DLPRF encontra-se

inserida: a faixa fronteiriça sul-mato-grossense totaliza 1.517 quilômetros: 1.131 km

com o Paraguai (434 km de fronteira seca) e 386 km com a Bolívia (319 km seca).

Caba ressaltar que, mesmo sendo uma fronteira seca de 319 Km, a BR 262 se torna

uma espécie de funil para o escoamento da produção e transporte de cocaína e

seus derivados.

Quando se compara as apreensões a nível nacional, estadual e local, pode-se

verificar a importância da 3ª Delegacia PRF, no que se diz respeito ao combate ao

tráfico de Cocaína. Dividindo em dois períodos, é possível observar: O DPRF24, no

período compreendido entre 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de 2006, realizou a

apreensão de 4.167 Kg25 de cocaína.

A 3ª Superintendência Regional de PRF em Mato Grosso do Sul, apreendeu

no mesmo período a quantidade de 1.724,9 Kg24. A 3ª Delegacia PRF, apreendeu

893,1 Kg26 de cocaína neste mesmo período, isso totaliza a porcentagem de 21,43%

do total apreendido no contexto nacional e 51,78% apreendido no contexto estadual

pela Polícia Rodoviária Federal, no período de 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de

2006.

No segundo período, compreendido entre 01 de janeiro de 2008 a 30 de

setembro de 2013, pode-se verificar os seguintes resultados: O DPRF apreendeu

37.509,43 Kg24 de cocaína e seus derivados em todo o território nacional. A 3ª

24 Departamento de Polícia Rodoviária Federal 25 Dados adquiridos no sistema ROD (Relatório Operacional Diário), disponível em: http://www.prf.gov.br/rod/relatorios/. 26 Dados obtidos na sede da 3ª Delegacia PRF, relatados no BOP (Boletim de Ocorrência Policial).

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31 Superintendência da PRF no MS apreendeu 10.149,6 Kg24 da mesma substância

entorpecente. Ao levantar as apreensões da 3ª Delegacia PRF, chega-se a

quantidade de 3.987,125 Kg25, representando 10,62% do total apreendido a nível

nacional e 39,28% da droga apreendida no estado de Mato Grosso do Sul pela PRF.

Em um terceiro período, tomamos por base o mês de novembro de 2013,

onde pôde-se verificar os seguintes resultados: O DPRF apreendeu 1.119,114 Kg24

de cocaína e seus derivados em todo o território nacional. A 3ª Superintendência da

PRF no MS apreendeu 621,893 Kg24 da mesma substância entorpecente. Ao

levantar as apreensões da 3ª Delegacia PRF, chega-se a quantidade de 476,09

Kg25, representando 42,54% do total apreendido a nível nacional e 76,55% da droga

apreendida no estado de Mato Grosso do Sul pela PRF.

6.1 - Drogas e Entorpecentes mais apreendidos pela 3ª Delegacia PRF no

Estado de MS

ANO MACONHA (KG) COCAÍNA (KG) 2004 100,500 223,886 2005 15,605 337,325 2006 até 30/04/06 431,250 331,794 2008 344 117,881 2009 880 289,907 2010 358 74,408 2011 6,1 390,302 2012 274,18 1466,571 2013 até 30/09/2013 2529,89 754,951

TOTAL 4.939,525 3.987,025

Quadro 1 Quadro de apreensões de Maconha e Cocaína na jurisdição da 3ª DLPRF Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 4 Demonstrativo de Cocaína apreendida no período de 2004 - 2013

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Pode-se verificar que, com o passar dos anos, a 3ª Delegacia PRF/MS vem

aumentando o índice de apreensões na sua jurisdição, tendo um aumento

significativo quanto ao volume de apreensão do ano de 2004 para 2005, e de 01

janeiro até o dia de 30 de abril de 2006, sendo que neste quatro primeiros meses de

2006, se apreendeu quase o total de cocaína do ano de 2005.

É importante relatar que nos anos de 2008 e 2010, a diminuição da

quantidade de cocaína se dá pela diminuição do efetivo, bem como, a escassez de

viaturas. Nos anos de 2012 e 2013, há uma explosão no quantitativo de apreensões,

tendo como causa os concursos e lotações de PRF's, o retardo das transferências e

a reforma de postos da PRF, sendo o efetivo movimentando para os postos em

funcionamento, aumentando o efetivo por posto de fiscalização, tornando as

apreensões uma realidade quando se relaciona um maior efetivo para se trabalhar o

combate ao narcotráfico, como no referido exemplo27:

Um homem de 25 anos foi preso transportando cerca de 300 kg de pasta base de cocaína em uma carreta com placas da cidade mineira de Varginha. O flagrante foi realizado pela Polícia Rodoviária Federal e aconteceu na tarde deste sábado (21) de setembro, no km 706 da rodovia BR-262, no posto da PRF da ponte sobre o rio Paraguai, na região do Porto Morrinho. "Desconfiamos do veículo e na abordagem, o motorista estava nervoso. Fizemos a vistoria e descobrimos a droga escondida num compartimento preparado na carreta", informou ao Diário Corumbaense o policial rodoviário federal Viaro.

27 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/prf-apreende-cerca-de-300-quilos-de-pasta-base-de-cocaina

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Foram encontrados, no fundo falso, 279 tabletes de pasta base de cocaína. O motorista não informou para onde levaria o carregamento, ainda segundo o Diário Corumbaense. Cinco policiais rodoviários federais participaram da operação que trouxe o veículo com a droga para a área urbana de Corumbá. Duas viaturas escoltaram o caminhão, que foi dirigido por um agente da PRF. O motorista, que não teve a identidade divulgada, foi trazido no próprio caminhão.

Figura 5 Dados das apreensões de maconha e cocaína no período de 2004 a 2013. Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Mesmo sendo uma Delegacia que têm por fiscalização uma BR que dá

acesso a fronteira do Brasil com o Paraguai, sendo a 419, a grande parte do volume

de drogas apreendidas pela PRF de Anastácio é a cocaína. Mesmo estando quase

equiparadas em volume, a maconha representa um volume muito pequeno, devido

ao seu valor comercial.

6.1.1 - Quanto a porcentagem de 2008 a 2013, comparando com a 3ª

Superintendência da PRF em MS e o DPRF

Ano DPRF 3ª

Superintendência 3ª Delegacia

DPRF 3ª SRPRF 2008 4.095,96 Kg 21,44% 2,88% 13,42% 2009 4.452,25 Kg 26,50% 5,51% 24,56% 2010 6.278,35 Kg 24,73% 1,18% 4,80% 2011 8.023,81 Kg 20,76% 4,86% 23,42% 2012 8.509,53Kg 38,44% 17,23% 44,82% 2013 6.149,65 Kg 27,76% 12,27% 44,22%

Quadro 2 Representa a porcentagem entre a DLPRF, comparada com a Superintendência e o DPRF. Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 6 Comparativo de apreensões realizadas entre o DPRF e a Superintendência do MS

Fonte: Levantamento ROD da 3ª SRPRF/MS e o DPRF

Pode-se observar a porcentagem de apreensões realizadas pela 3ª

SRPRF/MS em relação ao volume de cocaína apreendido pelas 26 Regionais ou

Distritos que compõem o DPRF, ficando acima dos 20% das apreensões de cocaína.

Pode-se destacar o ano de 2012, devido as grandes apreensões realizadas.

Figura 7 Comparação entre as apreensões realizadas pela DLPRF e o DPRF

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS e ROD

Cabe salientar, que a Delegacia PRF de Anastácio, está inserida em um

contexto de aproximadamente 150 (cento e cinquenta) Delegacias de PRF

espalhadas pelo território Nacional. É possível perceber que no ano de 2012, ela

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35 apreendeu o correspondente a 17,23% de toda droga apreendida pelo DPRF e

tendo suas dificuldades no ano de 2010.

Figura 8 Comparação entre as apreensões realizadas pela 3ª SRPRF e a 3ª DLPRF Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS e ROD 3ª SRPRF

É importante destacar que a 3ª Superintendência PRF de MS possui 10 (dez)

delegacia e 22 (vinte e dois) postos de fiscalização, mesmo assim, foi responsável

por uma boa porcentagem das apreensões de cocaína realizadas pela PRF no

estado do MS, chegando a 44,82% no ano de 2012.

6.2 - Dados estatísticos sobre apreensões de drogas e entorpecentes da 3ª

Delegacia PRF – Anastácio/MS de fronteira com a Bolívia no período de

01/01/2004 a 30/04/2006 e de 01/01/2008 a 30/09/2013

6.2.1 - Quanto à quantidade de ocorrências registradas

De 01 de janeiro de 2004 a 30 de abril de 2006

Maconha Cocaína 2,85% - das ocorrências 97,15%- das ocorrências

Quadro 3 Comparação entre quantidades de maconha e cocaína apreendidas entre 2004 a 2006 Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

De 01 de janeiro de 2008 a 30 de setembro de 2013

Maconha Cocaína 55,33% - das ocorrências 44,67%- das ocorrências

Quadro 4 Comparação entre quantidades de maconha e cocaína apreendidas entre 2008 a 2010 Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 9 Porcentagem de maconha e cocaína apreendidas por períodos distintos

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Pôde-se notar, a diferença de volumes de apreensões entre maconha e

cocaína por períodos, sendo que, no período de 2004 a 2006, a apreensão de

maconha correspondeu a 2,85% do volume de drogas apreendidas na Delegacia.

No segundo período, percebe-se o aumento do volume de maconha apreendida pela

citada.

6.2.2 - Quantidade de ocorrências por volume de drogas

Maconha Cocaína 8,84% 91,16%

Quadro 5 Quantidade de ocorrências por tipo de drogas apreendidas Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 10 Porcentagem de maconha e cocaína por quantitativo de ocorrências

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

É possível a percepção da quantidade de ocorrências registradas do âmbito

da 3ª Delegacia PRF, sendo que, as ocorrências que envolveram apreensões de

maconha, corresponde a 8,84% de todas as apreensões. Sendo assim, é possível

afirmar que o foco de apreensões da citada é o transporte de cocaína.

6.3 - Quanto ao período (diurno e noturno)

Diurno Noturno 57,81%- das ocorrências 42,19%- das ocorrências

Quadro 6 Quantidade de ocorrências por período diurno e noturno Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 11 Porcentagem de ocorrências por período

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Estabelecendo-se o período diurno das 07h30min às 17h30min, é possível

perceber que não existe um período específico para ocorrência de crimes

envolvendo o transporte de drogas, tendo um índice de porcentagem menor no

noturno. Pode-se desmistificar que os criminosos operam somente no período

noturno.

6.4 - Quanto à nacionalidade das pessoas que transportavam drogas

Africana Boliviana Brasileira Espanhola Ghanense Hungara Peruana 0,43% 16,22% 78,5% 1,72% 0,43% 0,43% 2,63%

Quadro 7 Quantidade de pessoas detidas por nacionalidade Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 12 Porcentagem de ocorrências por período

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Os dados em porcentagem apresentado quanto às pessoas presas, pode-se

perceber as de nacionalidades: Africanas, Bolivianas, Espanholas, Ghanenses,

Hungaras e Peruanas, representam os estrangeiros que foram flagrados

transportando drogas na jurisdição da 3ª Delegacia PRF. Não restam dúvidas que a

maior parte das pessoas detidas são de brasileiros seguidos pelos bolivianos.

Importante salientar, que as pessoas estrangeiras que são flagradas no

transporte e associação ao crime de drogas, ele estará sendo enquadrado na Lei n.º

11.343/2006, que assevera:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito (...);

6.5 - Quanto ao sexo das pessoas presas com drogas e entorpecentes Masculino Feminino 63,5% 36,5%

Quadro 8 Quantidade de pessoas apreendidas por sexo

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 13 Porcentagem de ocorrências de pessoas detidas por sexo

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

É possível perceber que as pessoas do sexo masculino representam a

maioria das pessoas detidas por transportarem drogas. As mulheres representando

a minoria, 36,50% das pessoas detidas, comprova que elas estão cada vez mais se

envolvendo no mundo do crime e transporte de drogas. Uma por serem esposas de

presos e também por apresentarem fragilidade, tentando assim, ludibriar a

fiscalização.

6.6 - Estado civil das pessoas presas transportando drogas entorpecentes na

3ª Delegacia PRF

Solteiras Casadas Outras Ignoradas 47,26% 25,87% 21,89% 4,98%

Quadro 9 Quantidade de pessoas detidas por estado civil Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 14 Porcentagem de pessoas detidas por estado civil

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Cabe salientar, que as pessoas que foram enquadradas em outras, são

aquelas que informaram ser desquitadas/separadas, ou amasiadas com outras

pessoas, ou até mesmo viúvas. Quanto às pessoas qualificadas como ignoradas,

são aquelas que não informaram o seu estado civil no ato da detenção, ora por não

se manifestarem, ora pelo agente fiscalizador não perguntar. Pelo descompromisso

com outras pessoas e até mesmo espírito aventureiro, os solteiros representam

quase 50% das pessoas detidas pelo crime de tráfico de drogas.

6.7 - Quanto à escolaridade das pessoas que foram presas transportando

drogas entorpecentes na 3ª Delegacia PRF

Analfabetas 0,54% Semi-analfabetas 1,08% Primário 0,54% Fundamental 44,56% Médio 33,69% Superior 2,71% Sem informação 16,30%

Quadro 10 Percentual de gral de escolaridade das pessoas detidas Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 15 Porcentagem de ocorrências por escolaridade das pessoas detidas

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Cabe ressaltar, que quanto às pessoas com escolaridade ignorada, não foram

questionadas quanto a isso no momento da apreensão e, as que estão sem

informação, são aquelas que não prestaram tal informação no ato de sua prisão. É

possível perceber que 33,69% das pessoas detidas, teriam a possibilidade de

estarem cursando uma faculdade e se qualificando, melhorando assim as condições

de trabalho e remuneração.

6.8 - Quanto à faixa etária das pessoas que foram presas transportando drogas

entorpecentes na 3ª Delegacia PRF

Faixa Etária Quantidade 13 – 17 anos 3,98% 18 – 20 anos 7,46% 21 – 25 anos 23,33% 26 – 30 anos 17,41% 31 – 35 anos 14,92% 36 – 40 anos 8,45% 41 – 45 anos 12,93% 46 – 50 anos 3,06% 51 – 55 anos 6,46% Acima de 56 anos 2,00%

Quadro 11 Porcentagem de pessoas detidas por idade Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 16 Porcentagem de ocorrências por idade das pessoas detidas

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Pode-se observar que 34,77% das pessoas apreendidas transportando

drogas na jurisdição da 3ª DLPRF, possuem sua idade abaixo de 26 anos, sendo

assim, deveriam estar em sala de aula, no mínimo terminando seus estudos

universitários; observa-se que 75,55% das pessoas presas deveriam estar no

mercado de trabalho, ao invés de lotarem os presídios, sendo sustentadas pelo

sistema carcerário.

Observação que se pode acrescentar em relação aos estudos dessas

pessoas, pois mesmo presas, o governo poderia proporcionar uma educação de

qualidade dessas pessoas, com a finalidade de não ficarem ociosas quando são

privadas de sua liberdade, por intermédio da educação a distância, como nos

assevera Araujo (2011):

É dessa forma, que as barreiras que separam a pessoa encarcerada da educação “caem por terra”, pois, com os avanços tecnológicos, o preso, mesmo dentro das cadeias e sem possibilidades de estudar fora de seus muros, poderá ter acesso à educação e, até mesmo, de uma formação em nível superior ou de pós-graduação.

6.9 - Quanto a Naturalidade dos Brasileiros Detidos

Estado Porcentagem CE 2,46% DF 1,23% GO 4,32% MA 0,61% MG 5,55%

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MS 45,06% MT 1,85% PA 0,61% PR 1,23% RJ 0,61% RN 0,61% SP 35,18%

Quadro 12 Porcentagem das pessoas detidas por naturalidade

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Figura 17 Porcentagem de ocorrências por naturalidade das pessoas detidas

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Pode-se observar, que 54,94% das pessoas que foram presas não são do

estado de Mato Grosso do Sul, sendo assim as cadeias do estado acabam

recebendo uma população oriunda de outros lugares, onerando e sobrecarregando a

estrutura existente para atendimento de uma demanda regional.

Não só a superlotação dos presídios pode trazer preocupação. É importante

lembrar que essas pessoas quando presas, podem manter contato com facções

criminosas como o PCC28 e, ao invés de serem recuperados pelo governo, acabam

sendo recrutados e se filiando a essas facções criminosas.

28 Primeiro Comando da Capital

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45 6.10 - Quanto ao tipo de transporte de cocaína e seus derivados

Tipo Porcentagem Veículos de passeio e utilitários 35,59% Transporte coletivo 53,67% Veículos de carga 5,64% Motocicletas 3,95% Trem de carga 1,15%

Quadro 13 Porcentagem de tipos de veículos utilizados e apreendidos

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Figura 18 Porcentagem de ocorrências por tipo de transporte Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

É importante ressaltar que as apreensões em veículos de carga

correspondem aos maiores volumes de drogas apreendidas; nos veículos coletivos,

corresponde ao transporte "formiguinha", onde as pessoas usam o próprio corpo

para transportar as drogas, ganhando para isso valores de R$ 200,00 a R$ 1.500,00.

Ainda nesse tipo de transporte, encontra-se a maioria dos estrangeiros que

dissimulam as drogas em outros utensílios com a finalidade de levá-las para fora do

país, servindo o Brasil como um corredor de passagem e embarque nos aeroportos,

como registrado na apreensão divulgada29:

Em fiscalização de rotina no Posto PRF "Guaicurus" (km 605 da BR 262) na região de Miranda/MS, uma equipe da Polícia Rodoviária Federal

29 Disponível em: http://www.aquidauananews.com/0,0,00,6234-42983-BR+262+PRF+ENCONTRA+ 140+CAPSULAS+DE+COCAINA+EM+TRAVESSEIRO.htm

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apreendeu hoje às 10h o total de 140 cápsulas de cocaína, com peso aproximado de 01 (um) quilo de cocaína acondicionado dentro de um travesseiro. Foi preso em flagrante ARS, casado, 56 anos, jardineiro, residente na cidade mineira de Uberlândia, e trazia o travesseiro "recheado" com a droga no interior de uma mochila de viagem, que no momento da abordagem policial, se encontrava na poltrona ao seu lado. A..., relatou aos policiais que um homem o contactou na cidade de Uberlândia/MG, no interior de um bar e disse estar recrutando pessoas para buscar drogas na Bolívia. O acordo foi fechado em R$ 1.500,00. Segundo o "jardineiro" preso, ele aceitou o serviço devido a sua situação financeira precária. Conforme checagem feita pela PRF, não havia registro criminal contra o mesmo até o momento. A cocaína, que foi adquirida em Corumbá/MS através de uma mulher que identificou-se como V..., seria entregue na estação rodoviária da cidade paulista de Penápolis, sendo que o "jardineiro" não soube dizer quem o encontraria, pois a pessoa já teria os dados sobre suas características físicas e o abordaria. Após a transação, o "entregador" retornaria a Uberlândia/MG.

Nos veículos de passeio ou utilitários, podemos encontrar locais em diferentes

compartimentos para o transporte de drogas, como por exemplo, o tanque de

combustível.

6.11 - Quanto aos Módus Operandi de como as pessoas que transportam

drogas a colocam

Módus Porcentagem Cápsulas dentro do estômago 4,95% Presas ao corpo 4,95% Bagagens 17,7% Introduzidas em partes íntimas 17,35% Fundo falso nos veículos "mocó" 19,83% Estepe de veículos 2,47% Tanque de combustível 13,22% Sem dono 10,74% Outros tipos 5,79%

Quadro 14 Porcentagem dos Módus Operandi das drogas apreendidas

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 19 Porcentagem de ocorrências quanto aos Módus Operandis

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

Percebe-se os mais variados Módus Operandis utilizados pelas pessoas que

transportam drogas. Cabe ressaltar que aquelas que se utilizam do corpo e engolem

ou que introduzem em suas partes íntimas, é um dos módus mais difíceis de se

detectar, por muitas vezes não possuir policial do sexo feminino e a pessoa suspeita

ser do sexo feminino. É importante que se tenha um bom conhecimento de técnicas

de entrevista por parte do agente fiscalizador.

6.12 - Quanto a profissão

Profissão Porcentagem Autônomos 3,2% Comerciantes 9,09% Costureira 3,2% Desempregados 5,34% Afazeres domésticos 10,16% Empresários 1,6% Estudantes 5,88% Mecânico e funileiro 5,88% Motoristas 13,36% Relacionado a construção civil 9,09% Serviços gerais 2,67% Profissões de nível superior 2,13% Outras profissões 28,4%

Quadro 15 Porcentagem das pessoas detidas e suas profissões Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

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Figura 20 Porcentagem de ocorrências quanto a profissão das pessoas detidas

Fonte: Levantamento Documentacional da 3.ª Delegacia PRF/MS

É importante registrar que de todas as pessoas detidas por transporte de

drogas, somente 5,34% alegaram ser desempregadas, fato que poderia "justificar"

seu envolvimento. Os 94,66% restantes declararam ter profissão definida. Isso vem

corroborar com o fato de que a possibilidade de ganho fácil com o envolvimento no

tráfico, incentiva pessoas a deixarem suas profissões e se embrearem na

criminalidade.

Em relatos por parte de algumas pessoas, afirmaram transportar por motivos

de saúde, na busca de um ganho rápido de valores financeiros, para ajudar em

algum tipo de tratamento. Outros por estarem endividados. Aceitaram a oferta de

"amigos" para transportar as drogas, possibilitando assim, possuir dinheiro para

quitar a sua dívida. Há relatos de pessoas que transportam pelo simples fato de

conseguirem dar prosseguimento a seu vício, dentre outros.

Cabe mostrar a apreensão ocorrida no mês de novembro de 2013, sendo

noticiada pela imprensa Campo Grande news30, da apreensão de 318 Kg de Cocaína

e seus derivados, onde o motorista afirma que receberia a quantia de R$ 20.000,00

para o transporte, sendo:

A Polícia Rodoviária Federal interceptou uma carregamento de 270 kg de cloridrato de cocaína na BR-262, região de Corumbá, distante 419 km de Campo Grande. A droga estava em uma Scania, com placas do Paraná.

30 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/prf-apreende-carga-de-rs-12-milhoes-de-cocaina-em-corumba

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A carga é de cloridrato de cocaína, substância da qual podem derivar a cocaína em si e outras drogas, como o crack. Nesta quantidade, a carga pode valer cerca de R$ 12,1 milhões. Também foram apreendidos 47,6 kg de pasta base, que estava escondida na cabine do veículo. A Scania foi interceptada no km 706 da BR-262. Segundo informações da assessoria de imprensa da PRF, o veículo era conduzido por um homem de 42 anos, morador de Ibiporã (PR), que não teve o nome divulgado. Os policiais suspeitaram do nervosismo do condutor e durante revista minuciosa localizaram a droga, que estava escondida em 14 compartimentos dentro da cabine. O homem informou que recebeu o entorpecente em Corumbá e levaria até Campo Grande. Pelo transporte receberia R$20 mil. A ocorrência foi encaminhada à Polícia Federal local.

Figura 21 318Kg de Cocaína e derivados Arquivo particular

A referida reportagem e foto, demonstra como o crime organizado e os

narcotraficantes recrutam as pessoas para que as mesmas adentrem e cedam ao

mundo do crime. Nesse caso, uma soma alta de dinheiro, proporcionando ao

motorista a possibilidade de adquirir "em um trabalho" aparentemente fácil, uma

soma boa de dinheiro.

6.13 - Quanto ao efetivo da 3ª Delegacia PRF

O efetivo de policiais rodoviários federais, pertencentes aos quadros da 3ª

Delegacia PRF, atualmente é de 03 (três) PRF’s administrativos, sendo estes o

Chefe da Delegacia, o Chefe de Policiamento e Fiscalização e um administrativo; o

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50 efetivo operacional que trabalha em regime de escala de 24h por 72h de descanso é

de 42 (quarenta e dois) PRF’s.

Os 42 (quarenta e dois) PRF's são distribuídos em 3 (três) postos e 4

(quatro) equipe, excluindo os PRF's de férias e outros afastamentos, proporciona

equipes de 2 (dois) a 3 (três) PRF's por plantão diário em cada posto. Ressaltamos

que em tempos anteriores ao presente, o efetivo operacional chegou em menos de

30 (trinta) PRF's.

Mesmo que os números sejam significativos no combate ao narcotráfico,

acredita-se que não seja o efetivo de policiais rodoviários federais adequado para o

cumprimento dos trabalhos operacionais desenvolvidos pela 3ª Delegacia PRF, mas,

mesmo assim, é considerada a atuação, comprometimento e responsabilidade dos

servidores PRF’s no trabalho de combater ao tráfico de drogas na região.

Ressaltamos que esses PRF's, em sua escala, não estão envolvidos

somente no trabalho de combate ao narcotráfico, os mesmos precisam: fiscalizar as

jurisdições dos Postos PRF onde estão de serviço; atender acidentes; combater os

crimes de trânsitos, descaminhos, contrabandos, ambientais, dentre outros.

Tal fato fica claro na dificuldade de se combater exclusivamente o tráfico de

drogas, quando um veículo transportando cocaína em seu interior, foi apreendido na

cidade de Sidrolândia/MS, por um erro de rota do motorista. Tal atitude do mesmo,

permitiu que a PRF retirasse um volume considerado da referida droga, como nos

assevera a reportagem31:

Um motorista de 38 anos errou o caminho e, ao fazer a correção da rota, caiu em uma barreira da PRF (Polícia Rodoviária Federal) com 332,4 quilos de cocaína. A carga está avaliada em R$ 1,6 milhão, mas pode chegar na Europa rendendo até R$ 6,6 milhões. Conforme a PRF, a droga era transportada em um fundo falso da carreta I/Sinotruck, com placas de Cuiabá (MT). A apreensão aconteceu, ontem à tarde, durante fiscalização no Posto da PRF na BR-060, em Sidrolândia. Os policiais rodoviários federais descobriram a cocaína porque o motorista ficou muito nervoso durante a abordagem. O homem de 38 anos, que não teve o nome divulgado, pegou a droga na Bolívia e levaria para São Paulo. No entanto, em Campo Grande, ele confundiu a BR-163 e pegou a BR-060, no sentido de Campo Grande - Sidrolândia. Ele foi abordado quando voltava para a Capital.

Sendo assim, é possível observar as dificuldades que o governo tem em

combater tal atividade ilícita, quando deixa uma repartição pública, com tanta

31 Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/cidades/motorista-erra-caminho-e-cai-em-barreira-com-332-quilos-de-cocaina

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51 importância na apreensão de drogas ilícitas, totalmente desamparada pela falta de

efetivo, bem como de estrutura para o combate a criminalidades.

É oportuno registrar que no período de 2008 até 2013, o efetivo da delegacia

prendeu 20 (vinte) fuzis de grosso calibre, sendo 13 (treze) de calibre 7,62mm de

uso exclusivo das forças armadas e 6 (seis) de calibre 5,56mm de uso exclusivo das

forças especiais, bem como pistolas e metralhadoras 9mm e farta munição dos

referidos calibres. Importante registrar que as apreensões desses fuzis, representam

18,7% de todos os fuzis apreendidos pelo DPRF.

Essas apreensões representam um verdadeiro arsenal de guerra,

comprometendo assim, a segurança direta dos referidos PRF's, caso haja um

confronto armada, devido a proporcionalidade de policiais X bandidos, e os policiais

que trabalham na referida fronteira não possuírem o mesmo tipo de armamento para

possíveis confrontos.

Não vindo somente a Polícia Rodoviária Federal sofrer, mais a Polícia

Federal, a Receita Federal do Brasil, com a dificuldade em manter servidores em

locais como a região oeste do estado do MS, perdendo com isso a sociedade

brasileira.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pôde-se verificar, ao longo deste trabalho, que o combate ao tráfico de drogas

(cocaína) é bastante complexo. Buscou-se esclarecer terminológicamente o que é e

de onde vêm a cocaína e seus derivados que adentram pela fronteira da Bolívia com

Brasil, especificamente no estado de Mato Grosso do Sul.

De acordo com o levantamento feito no âmbito deste trabalho, diversos tipos

de apreensões de entorpecentes e drogas foram registrados na 3ª Delegacia PRF –

Como bem se pôde observar, várias são as táticas utilizadas pelos elementos para

tentarem ludibriar a fiscalização, o que requer, por parte do policial, conhecimento,

vontade, dedicação e condições para efetuar uma fiscalização com resultado

satisfatório.

Essas condições poderiam ser supridas, se o Governo investisse em

aumentar o quadro de PRF's para comporem o efetivo da 3ª Delegacia PRF do MS;

investimento em tecnologia como escâner, armamento e viaturas. Há necessidade

de capacitar mais seus policiais para possíveis enfrentamentos que, a cada dia, se

torna mais próximo das realidades urbanas dos grandes centros, bem como, o

incentivo em dominar uma outra língua, devido a região ser foco de turistas de

outros países.

De acordo com o levantamento estatístico realizado, buscou-se informar o

leitor sobre a localidade da 3ª Delegacia PRF e seus postos PRF’s, como também,

mostrar dados sobre as apreensões de entorpecentes e drogas, podendo ser

observado que com o passar dos anos as apreensões vêm cada vez aumentando

quanto ao volume apreendido.

Informou-se também a indicação dos tipos de moeda utilizados pelos

traficantes na aquisição de drogas e entorpecentes, além do dinheiro, como alguns

bens móveis em especial, tais como carros roubados/furtados, caminhões,

caminhonetes, dentre outros, que realçam a necessidade de operações conjuntas

com outras instituições policiais, dadas a abrangência e a complexidade do trabalho.

Como já foi salientado neste trabalho, o tráfico de drogas e entorpecentes,

está ligado a outros crimes cometidos em nosso país, tendo como principal objetivo

o lucro ilícito e fácil com desprezo aos interesses da nação e a vida das pessoas

usuárias de drogas.

Importante é analisar-se o que Geene (2000, p. 265) nos assevera:

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53

O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço e deixar que os outros fiquem com os louros. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

Várias são as formas de se combater este mal que de forma direta ou indireta,

afeta a todas as pessoas que fazem parte da sociedade brasileira, podendo

enumerar como ações: a prevenção, a informação, as campanhas educativas,

investimento na educação, melhores condições de vida, diminuição do desemprego,

tratamento de dependentes, apoio às famílias, acompanhamento social, acordos

bilaterais de cooperação entre Países, ações integradas, policiamento eficiente nas

regiões de fronteira, policiamento ostensivo e repressivo, busca de maiores

conhecimentos, capacitação dos policiais, investimentos na área de segurança

pública e, principalmente, o planejamento de uma política consistente a curto, médio

e longo prazos de combate ao tráfico de drogas ilícitas, sabendo-se ao certo as

consequências e aonde se pretende chegar.

O problema das drogas chegou hoje a um nível de gravidade tal que ninguém

pode-se colocar à margem dele. A responsabilidade social precisa ser assumida, por

meio de ajuda mútua de pais e educadores e de atitudes individuais simples. Todos

podem participar de trabalhos em grupo e oferecer importantes contribuições para

lidar com o problema do crescimento do consumo de drogas.

Vive-se uma cultura das drogas. Os anúncios publicitários, principalmente os

de cigarros e álcool, são sempre ligados a situações positivas de bem-estar, poder,

bens materiais, saúde e boa forma física. Tudo isso será fatal: um dia as drogas

serão oferecidas aos jovens.

O que se precisa é prepará-los, discutir claramente com eles, para, quando

esse dia chegar, saberem como agir ou, pelo menos, não se sentirem obrigados a

aceitá-las. Não ficando esse papel restrito ao combate que as policias realizam, mas

será a união de todos que proporcionará condições para se vencer esse mal que

atinge a sociedade, principalmente através da educação.

Observa-se a luta constante dos integrantes da 3ª Delegacia PRF e como sua

experiência pode contribuir como subsídio ao planejamento futuro de ações

concretas e cada vez mais objetiva. O que não se pode esquecer é:

Ressaltando-se que: “aquele que conhece o inimigo e a si mesmo não correrá perigo algum em cem confrontos. Aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo será por vezes vitorioso e por vezes

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Encontrará a derrota: Aquele que não conhece o inimigo e tampouco a si mesmo será invariavelmente derrotado em todos os confrontos”32 (p.64).

O autor, em sua obra, manifesta as estratégias que se deve ter no

planejamento de uma guerra, como proceder e atacar o seu inimigo. Ora, quando

ele cita "encontrará a derrota", entendeu-se como a droga está relacionada na

violência que têm assolado a sociedade brasileira. Sendo assim, se o Estado-Nação,

nesse caso, entendido como Governo, a qual a PRF está inserida, não conhecer o

módus operandi de como as pessoas que estão envolvidas com o narcotráfico

agem, não será possível mitigar as potencialidades desdobradas por esta prática

ilícita em nosso país.

Por conseguinte, se o governo não fizer uma política pública com eficácia,

não encontrará os resultados efetivos que se espera, por exemplo: a diminuição da

oferta e procura. Dessa forma, ficaremos sempre ineficazes nesse sistema desigual

e combinado. Com isto, de maneira operacional, informa-se três perspectivas na

efetividade do combate ao narcotráfico, quais sejam:

1. Integração dos órgãos de segurança que agem na fronteira (PRF, PF,

RFB, PM, PC, Justiça);

• PRF - Como foi apresentado, cabe a Polícia Rodoviária Federal a

fiscalização das BR's, principalmente aquelas que dão acesso a

fronteira do Brasil com a Bolívia, denominada BR 262. Mas é preciso

que se entenda que ela de forma alguma, têm a possibilidade e deve

trabalhar isoladamente. É preciso a soma de ações para que resulte na

inibição do crime de drogas;

• PF - A Polícia Federal exerce um trabalho eficiente de inteligência e

controle sobre as organizações criminosas e efetuado diversos tipos de

apreensões do tipo: colarinho branco; tráfico de drogas; tráfico de

pessoas, dentre outros. Mas, é preciso que as informações sejam

compartimentadas, quando não existe a possibilidade de que ela

própria realize as detenções. É importante destacar o relacionamento

que a Delegacia da PF em Corumbá tem tido com a 3ª Delegacia PRF

de Anastácio;

32 TZU, Sun – A Arte da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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• RFB - A Receita Federal do Brasil, tem por atribuições, coibi a evasão

de divisas, bem como o controle das importações. É sabido que as

redes e organizações criminosas, utilizam-se da prática de lavagem de

dinheiro obtido por intermédio do crime, dentre eles, pode-se destacar

o de tráfico de drogas. É de suma importância que a Receita trabalhe

em conjunto com os órgãos de fiscalização, repassando informações.

• PM - A polícia Militar do estado de Mato Grosso do Sul, exerce um

trabalho eficaz dentro das cidades, tanto em perímetro urbano, quanto

rural. É preciso, nas cidades de fronteira, que os policiais que nela

trabalham, recebam treinamento especializado para se combater o

narcotráfico, seja de grande quantidades ou de pequenas, que se

instalam nas conhecidas "bocas de fumo". Sendo as informações

alimentadas pela polícia civil e outros órgãos de segurança pública;

• PC - A policia Civil do estado do Mato Grosso do Sul, como a Policia

Militar, está instalada em todas as cidades do estado, proporcionando

assim, um efetivo controle e monitoração dos crimes praticados por

facções, bem como quadrilhas. O levantamento de informações e

investigação realizada pelos seus policiais, é de suma importância no

combate aos referidos crimes. Um trabalho integrado, garantiria uma

melhor eficácia nos resultados por parte dos órgãos de segurança.

• Justiça - A justiça, cabe aplicar a Lei e os rigores da Lei à aqueles que

de alguma forma, se envolvem com a criminalidade. É preciso a

aplicação de penas severas para as pessoas que realmente são

consideradas traficantes, confirmando o trabalho que as forças de

segurança realizam. Sendo que às drogas têm proporcionado a

sociedade uma destruição avassaladora de futuros de crianças e bem

estar das famílias.

2. O envolvimento dos órgãos de segurança na formação dos alunos nas

redes públicas e privadas;

É preciso que os órgãos de segurança sejam inseridos na formação dos

cidadãos enquanto alunos da rede pública ou particular, proporcionando uma

aproximação com a sociedade e o repasse daquilo que presenciam no dia-a-dia e os

prejuízo que as drogas proporcionam para as pessoas. Ninguém melhor do que o

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56 policial para ensinar sobre o referido tema, sendo preciso o treinamento para que ele

possa atuar e contribuir no envolvimento das famílias.

3. A própria Ressocialização da pessoa que está presa, por meio do

oferecimento de um aprimoramento em seus estudos e, dando-lhe a

oportunidade de uma capacitação e profissão;

Vive-se em um tempo, em que as pessoas não podem mais ficar alheias ao

conhecimento e impedidas de terem acesso e oportunidades de desenvolverem e

terminar seus estudos. É nesse sentido que ao se visualizar uma população, no

caso, os encarcerados, que estão fora do contexto da sociedade, excluídos, sob o

pretexto de ficarem reclusas de forma definitiva e/ou temporária (semiaberta) da

sociedade, com a finalidade de cumprirem a sanção e/ou julgamento que outrora lhe

fora determinado, pensa-se no processo de ressocialização dos encarcerados, por

meio da Educação à Distância (EAD), e assim, quando estiverem aptos, possam ser

reintroduzidos ao convívio social, de forma qualificada.

Portanto, espera-se, que de maneira integrada, possa haver, ainda mais, uma

maior efetivação de resultados, para que isso aconteça, entendeu-se que as

sugestões apontadas, serão o cerne para a ampliação de políticas públicas voltadas

ao combate ao narcotráfico aqui no Estado de Mato Grosso do Sul, principalmente,

por ser intitulada como 'rota do tráfico'.

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REFERÊNCIAS

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ARAUJO, Robinson Luis. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO EM AQUIDAUANA/MS. TCC pós-graduação. Universidade da Grande Dourados. UNIGRAN, Dourados-MS, 2011.

BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Decreto n.º 4.553, de 27 de dezembro de 2002.

Ferreira PEMS. Estudo do efeito agudo de desafio farmacológico com dipiridamol sobre a perfusão regional cerebral em pacientes com uso crônico de cocaína [Dissertação]. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre; 2000.

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GREENE, Robert. As 48 Leis do Poder, Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 2000.

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Karch SB. The history of cocaine toxity. Hum Pathol 1989;20(11).

Maia CRM, Juruena MFP. Cocaína: aspectos históricos, farmacológicos e psiquiátricos. Rev AMRIGS 1996;40(4):263-73

TZU, Sun e PIN, Sun. A Arte da Guerra, São Paulo: Martins Fontes, 2002.