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UM NOVO OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DE LONDRINA: UMA EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA
Bruno Sanches Mariante da Silva
Daniela Reis de Moraes
RESUMO
A história da colonização de Londrina contada, sobretudo, nos livros
escolares foi ponto de partida para as ações de um grupo extensionista. O projeto de “Diálogos com o Patrimônio Cultural e a Memória Coletiva.
Londrina-PR” – vinculado ao Programa Universidade Sem Fronteira/SETI – vale-se de um olhar diferenciado sobre a memória da cidade para
evidenciar outros aspectos nem sempre contemplados pela “história oficial”. A primeira ação do grupo foi um curso de extensão para
capacitação de professores da rede pública municipal, que resultou em convites para outras escolas. Desta forma, a referida oficina foi adaptada
para o modelo de palestra proporcionando aos integrantes do projeto perceber o modo com que as pessoas se relacionam com o passado de
sua cidade. A comunicação abordará a experiência dos autores ao ministrarem duas oficinas com material áudio-visual sobre o processo de
formação da cidade de Londrina para alunos de programas de educação
para jovens e adultos em bairros periféricos.
Palavras-chave: Londrina, Memória, História.
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A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa,
não o que acontece, ou que toca. A cada dia se passa muitas coisas, porém, ao mesmo
tempo, quase nada nos acontece. (BONDIA, 2002, p.21).
Este artigo procurará abordar as experiências vivenciadas pelos
autores enquanto integrantes de um projeto de extensão vinculado ao
programa estadual “Universidade Sem Fronteiras”. A base para a
presente reflexão será um conjunto de oficinas elaborado para apresentar
brevemente a história da cidade de Londrina a um público formado por
professores e alunos de escolas da periferia.
Tais oficinas fizeram parte de um conteúdo programático
desenvolvido pelos membros do projeto “Diálogos com o Patrimônio
Cultural e a Memória Coletiva – Londrina/PR” (deste momento em diante
tratado como DPCMC). O projeto está vinculado programa estadual
desenvolvido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
chamado “Universidade Sem Fronteiras”. O USF privilegia uma política de
atuação extensionista e visa atuar em cidades com baixo IDH ou em
regiões de elevada miserabilidade. Os projetos do USF são formados por
alunos de graduação e profissionais recém-formados, estes tem
responsabilidade de líderes do projeto para dar andamento aos projetos e
gerir as atividades dos graduandos. Estes, por sua vez, atuam
diretamente com a população, enriquecendo suas formações e
estabelecendo conexões entre teoria e prática. Desta forma as atuações
dos projetos contribuem não apenas para as populações envolvidas, mas,
sobretudo, aos estudantes e profissionais, principalmente, no que tange
ao desenvolvimento de uma cidadania plena.
O DPCMC possui uma equipe interdisciplinar entre Ciências
Sociais e História, contando com cinco alunos de graduação e três
profissionais recém-formandos, além de colaboradores externos,
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orientados pelas professoras Ana Cleide Chiarotti Cesário e Ana Maria
Chiarotti de Almeida, do departamento de Ciências Sociais da UEL. Tendo
por objetivo estabelecer um diálogo dos segmentos da população da
periferia da cidade com os suportes materiais do patrimônio cultural e da
memória já perenizados e institucionalizados, formou-se uma parceria
com as Secretarias Municipais de Educação e da Cultura. Um dos pontos
do projeto é convidar as populações que habitam nos bairros escolhidos
para reinterpretar os espaços de memória constituídos pela memória
oficial. Deste modo optou-se por atuar diretamente nas escolas de tais
bairros.
Em um primeiro momento desenvolveu-se um curso de
aperfeiçoamento com os professores das escolas municipais nas quais o
projeto passaria a atuar. Desta forma foram ministradas oficinas cujo
tema central fora a memória coletiva e o patrimônio cultural, dividiu-se o
curso em oito oficinas com temas diversos como identidade, cultura(s),
construção da cidadania entre outros. Uma dessas oficinas chamou-se
“Breve História de Little London” e teve como ponto central a
apresentação da música “Para Inglês Ver (Little London)” de autoria da
professora Ana Cleide Chiarotti Cesário. Para esta oficina elaborou-se uma
apresentação onde imagens da colonização e do desenvolvimento da
cidade foram articuladas a letra da música:
Canto a nossa Little London ...
(bis)
A fronteira em movimento
rasga a mata num momento,
preparando a pousada,
na terra desejada.
Nasce a nossa Little London ...
(bis)
Chegam os homens das
“estranjas”,
altos, fortes, olhos claros.
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Nobres gentlemen britânicos,
ora gentis, ora tirânicos.
Comprem a nossa Little London!
(bis)
Assim contam os que viram
os anos trinta por aqui,
com orgulho e muita prosa.
Discurso igual, eu nunca ouvi.
Ah! A bela Little London. (bis)
No campo, lotes de terra estreita,
do espigão descendo aos vales.
A certeza de novos tempos
pairava pelos ares.
Plante café em Little London! (bis)
A cidade se arrumava,
buscando sua fama.
Mas quando não era poeira,
havia muita lama.
Venha até Little London! (bis)
Me disse um certo mandatário
que os “gringos” aqui plantaram,
para orgulho da própria raça,
uma bandeira no chão da praça.
Dancem na praça Little London!
(bis)
Assim, contam os que viram
os anos cinqüenta por aqui.
Não havia lugar mais rico,
do lado oeste do Tibagi.
Ah! A louca Little London. (bis)
Esta terra mudou demais,
mas isso é outra história.
Foge dos dados oficiais,
inglês nenhum quer ver.
Ah! A falsa Little London. (bis)
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Composta na década de 1980, no contexto de produção de sua
tese de doutorado, a música “Para inglês ver” foi retomada pelos alunos
como instrumento pedagógico tendo em vista a narrativa da colonização
da cidade de Londrina. A partir de uma visão crítica em relação a história
tradicionalmente transmitida. A escolha das imagens para a apresentação
em conjunto com a música se deu na tentativa de estabelecer relações
entre letra e imagem, procurando fomentar no público uma reflexão
acerca da história apresentada pelos meios oficiais e das histórias
possíveis. Das 49 imagens a grande maioria integra o acervo do Museu
Histórico Padre Carlos Weiss, da Universidade Estadual de Londrina. A
apresentação contendo as imagens e a música integradas foi apresentada
pela primeira vez para os professores que participavam do curso de
aperfeiçoamento realizada pelo DPCMC.
Em razão da boa recepção e do encantamento dos professores e
diretores, o projeto foi convidado a ministrar a mesma oficina nas escolas
parceiras atingindo diretamente os alunos. Para atender esta nova
demanda formou-se uma equipe com um recém formado – Bruno Sanches
Mariante da Silva – uma graduanda – Daniela Reis de Moraes –,
coordenados pela Profa Dra. Ana Cleide Chiarotti Cesário. O público destas
oficinas era constituído por alunos do EJA - Educação de Jovens e Adultos
– e do ProJovem Urbano. A oficina além do material áudio-visual, também
procurou abordar de forma expositiva a história da cidade ressaltando o
desenvolvimento urbano e a participação de outros indivíduos muitas
vezes silenciados. O ponto central da oficina era a constituição de um
espaço de fala onde os alunos re-significaram as imagens e a música
relacionado-as com suas histórias de vida. Depoimentos vieram à tona,
memórias por muito tempo guardadas, subterrâneas como nos diz Pollak
(1989), foram reveladas. Além disso, foi percebido um grande interesse
por parte dos alunos com as transformações urbanas ocorridas na cidade,
como por exemplo, a substituição da antiga catedral neogótica na década
de 1970.
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A primeira apresentação deu-se no Colégio Estadual Pedro
Vergara e foi realizada com a turma do EJA . Após a apresentação da
oficina os alunos – em maioria acima de 60 anos – sentiram-se
confortáveis em relatar suas memórias e discordar de algumas colocações
acerca história local partindo de suas próprias vivências. Para os
ministrantes este fato foi muito enriquecedor, pois, ao constituir o espaço
de fala foi possível perceber a emersão de memórias e sentimentos por
muito tempo silenciados.
A segunda apresentação aconteceu no CAIC Dolly Jess Torrezini
região sul em uma audiência composta pelo EJA e ProJovem com
aproximadamente cem pessoas. Após esta apresentação a discussão foi
acalorada, principalmente pelos jovens que desconheciam certos aspectos
da história local. Mais uma vez as transformações urbanas tangenciaram
as discussões. Nesta oficina nos foi possível entrar em contato com três
irmãs, que relatam as suas vivências enquanto trabalhadoras rurais. Mais
uma vez o espaço urbano ganhou relativa importância articulado à
memória, haja vista que as irmãs haviam trabalhado em antigas fazendas
cafeeiras localizadas onde hoje se encontram situados o bairro União da
Vitória e o colégio. Tendo sido o espaço urbano ressignificado os antigos
usos permanecem presentes na memória coletiva e no imaginário.
Para Jacques Le Goff a memória coletiva é posta em jogo nas
lutas sociais pelo poder, em qualquer sociedade, pois para ele estão todas
lutando “pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela promoção”
(1996, p.45). Ou seja, a memória coletiva está sempre permeada por
conflitos e tensões.
[...] a memória coletiva é não somente uma
conquista é também um instrumento de poder. São as sociedades cuja memória social
é sobretudo oral ou que estão em vias de
construir uma memória coletiva escrita que melhor permitem compreender essa luta pela
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dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória. (LE GOFF, 1996, p.
46).
Portanto, assenhorear-se da memória e do esquecimento é uma
das grandes preocupações de indivíduos ou grupos que dominam ou
dominaram as sociedades. Neste processo para assenhorear-se da
memória os grupos ou sociedades institucionalizam uma versão da
memória e a impõem aos demais grupos sociais. O que não significa dizer
que outras memórias não existam e que não sejam agentes construtores
do passado.
A despeito da importante doutrinação
ideológica, essas lembranças, durante tanto tempo, confinadas ao silencio e transmitidas
de uma geração a outra oralmente, e não através de publicação, permanecem vivas. O
longo silencia sobre o passado, longe de
conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma sociedade civil impotente opõe ao
excesso de discursos oficiais (POLLAK, 1989, p.5).
Maurice Halbwachs nos diz que ao pensarmos a memória
enquanto capacidade humana poderíamos considerar a existência de duas
memórias, a memória individual e a memória coletiva. Isso, para o autor,
levaria o homem a atuar de duas maneiras diferentes, pois uma seria
regida por suas memórias individuais, pessoais, aquelas que estão
inseridas no quadro de sua personalidade. E a outra maneira quem ditaria
as lembranças seria a memória coletiva, a memória do grupo no qual
está/esteve inserido, mantendo as lembranças impessoais. Entretanto,
Halbawachs considera que ambas se penetram, e que a memória
individual vale-se da memória coletiva para “confirmar algumas de suas
lembranças, para precisá-las e mesmo para cobrir algumas de suas
lacunas” (HALBWACHS, 1990, p.53).
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Sobre a memória coletiva, memórias coletivas como prefere
Halbwachs, Ecléa Bosi baseada nas palavras do professor francês, nos diz
que esta memória “se desenvolve a partir de laços de convivência
familiares, escolares, profissionais. Ela entretém a memória de seus
membros, que acrescenta, unifica, diferencia, corrige e passa a limpo”
(1999, p.406). Portanto, a memória coletiva se dá a partir das memórias
individuais.
Muitas vezes as memórias coletivas acabam por se
homogeneizar, ou serem homogeneizadas. É o que Halbwachs chama de
memória coletiva oficial ou nacional. E que para Michel Pollak significa
uma memória enquadrada, significa o enquadramento da memória, ou
seja, dar a memória uma forma especifica, não permitindo outra que
aquela pré-determinada. “A referência ao passado serve para manter a
coesão dos grupos e das instituições que compõem uma sociedade, para
definir seu lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as
oposições irredutíveis” (POLLAK, 1989, p.9). Assim, encontram-se por
diversas vezes as memórias guardadas e silenciadas alimentando uma
versão outra do passado. Entretanto, essas memórias por mais tempo que
estejam guardadas, um dia elas afloram, vem à tona e, segundo, Pollak é
sempre em momentos de crise. Mas as memórias silenciadas podem ser
acessadas por outros meios.
Se a análise do trabalho de enquadramento de seus agentes e seus traços materiais é uma
chave para estudar, de cima para baixo, como
as memórias coletivas são construídas, desconstruídas e reconstruídas, o
procedimento inverso, aquele que com os instrumentos da história oral, parte das
memórias individuais, faz aparecerem os limites desse trabalho de enquadramento e, ao
mesmo tempo, revela um trabalho psicológico do indivíduo que tende a controlar as feridas,
as tensões e contradições entre a imagem
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oficial do passado e suas lembranças pessoais (POLLAK, 1989, p.12).
Em Londrina a memória oficial foi construída a partir da exaltação
da imagem dos pioneiros. Essa ideia se reflete nas homenagens presentes
nos monumentos, comemorações, nomes de logradouros entre outros
suportes de memória espalhados pela cidade de Londrina. Esses
personagens são tidos como exemplos da bravura e do
empreendedorismo, pois são aqueles que chegaram primeiro e
desbravaram as terras virgens. Hoje a historiografia relativiza dizendo que
são pioneiros não são apenas aqueles que chegaram e “deram certo”, mas
também aqueles que vieram para trabalhar no campo, colher o café e não
enriquecer com ele. Para o poder público, pioneiros são aqueles que
chegaram entre 1929 e 1939. (ARIAS NETO, J. M., 1995. e ADUM, S. M.
S. L., 2009).
Desta forma, entende-se que a memória é um elemento que
ocupa um papel de destaque nas celebrações, delas são exaltadas datas,
acontecimentos, personagens com o objetivo de resgatar o passado de
um grupo. As celebrações e homenagens acerca dessa história oficial
londrinense são dignas de preocupações no que tange o modo como esse
passado foi e ainda é construído, pois cumprem com um papel de apontar,
configurar e determinar o modo com que a memória será apresentada
para tais grupos. Uma vez que o ato de construir o passado está situado
em um campo de disputas onde diversas camadas da sociedade se
“digladiam” numa batalha pela legitimação da memória.
Eternizar é uma ação que se preocupa com a efemeridade dos
atos, exaltar o passado, organizar dados e feitos são determinantes para
registrar notoriedades da sociedade. Segundo Helenice Rodrigues da Silva
o ato de comemorar faz-se buscar no passado fatores de caráter coletivo
que configuram a memória a partir de acontecimento de importância
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fundadora, aquela, na qual terá a incumbência de sacralizar origens. A
autora analisa as comemorações partindo de um olhar menos ingênuo e
deslumbrado. Desta forma, Silva desenvolve seu argumento a partir do
trabalho entorno da manipulação da memória coletiva e formula suas
reflexões a partir da leitura de Paul Ricoeur que parte do pressuposto da
memória coletiva como uma memória oficializada que impõe elementos do
passado pensando na legitimidade do futuro, com isso, conduz o passado
criando uma história institucionalizada determinando aspectos identitários
apropriados posteriormente por outros grupos.
As comemorações são bastiões dessa memória que insiste em
escorrer pelos vãos do tempo. Pierre Nora analisa os lugares de memória
e seus suportes, ressaltando que tais lugares nascem a partir do momento
que não há memória espontânea, e, por isso, refugiam-se em focos
privilegiados, ou como o autor diz que o surgimento de um lugar de
memória nasce a partir da cristalização da memória.
Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea,
que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações,
pronunciar elogios fúnebres, notariar atas,
porque essas operações não são naturais. (NORA, 1993, p. 13).
Portanto, ao serem expostas as imagens de Londrina,
compreendidas como suportes de memória e cristalizações do passado a
partir de registros tradicionais oficinas, estas proporcionaram o
surgimento de memórias individuais que eclodiram em forma de relatos,
questionamentos e até mesmo algumas indignações surpreendendo a
expectativa dos ministrantes desta oficina. Como fora abordado no início
deste artigo mais uma vez ressaltamos a importância deste contato com a
população através das oficinas, o que nos permitiu fazer uma ponte entre
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as teorias apreendidas no meio acadêmico e permitindo aplicá-las e
vivenciá-las in loco nas escolas envolvidas no projeto.
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REFERÊNCIAS:
ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: representações da política em Londrina, 1930/1975. Londrina: Ed. UEL, 1998.
ADUM, Sonia. Imagens do Progresso: civilização e barbárie em
Londrina (1930 – 1960). Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, UNESP -Assis – São Paulo, 1997.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, n. 19 – pp. 20 –
28.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo. Vértice. Editora: Revista dos Tribunais, 1990.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução: Bernardo Leitão. 5ª
edição, Campinas – São Paulo. Editora da Unicamp, 2003.
MORAES, Daniela Reis. Praça Marechal Floriano Peixoto: Espaço de representação da ideologia do Estado Novo em Londrina –PR (1937 -
1945). 78 f. TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de
Londrina, 2009.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n. 10. 1993.
POLLAK, Michael. Memória Esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos.
Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
________. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
SILVA, Bruno S. M. Ressignificações do espaço urbano
londrinenese: Aeroporto, Jardim Santos Dumont e Praça Nishinomiya (1950 - 1988). Especialização (Monografia), Londrina: Universidade
Estadual de Londrina, 2010. SILVA, Helenice Rodrigues da. “Rememoração”/ comemoração: as
utilizações sociais da memória. Revista Brasileira de História. São Paulo,
v. 22, nº 44, PP. 425-438 2002.