um lírico no auge do capitalismo - charles baudelaire

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l \. 1 ER BENJAMIN LEITURAS AFINS Waltec Benjamin jeanne Marie Gagncbin CHARLES BAUDELAIRE UM LÍRICO NO AUGE D CAPITALISMO Os Ar canos do Inteiramente Outro .- 1 Escola de Fm 11 kfurt, a melancolia, a reuotução Olria Mato; Co leção Tu do é História Biografias o lIuminismo Visionário Walter B en ja mi n , leitor de Descartes e Kant Olria Matos Obra; Escolhidas 1: Magia e técnica, arte e política 2 kuu de o úni ca j : Cbar les Ba11 dela ire, Wl lírico 110 auge do capitalismo \X'aher Benjamin ' 1e; e o peJD 3'" OBRASESCOLHIDAS VOLUME III tradução: José Car/os M art in s Barbosa H em erson Atu es 'Baptista Teoria Críti ca Ontem e hoje B á rbar a Fr ei t a g ) \(1;0 t : ' ) ~ f r F rt E L . , : :: § l " ~Mé'JT{2(:: C- { !.ose mA (l Y , J~ (4 : . \ ) L / , , - > A I' ,~ LL , II ~ ) J} - ( ( 11( ; " ( ' A )) editora brasiliense r ' BJBL fE l?JP

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l \. 1E R B EN JA MIN

LEITURAS AFINS

Waltec Benjamin

jeanne Marie Gagncbin

CHARLES BAUDELAIRE

UM LÍRICO NO AUGE D

CAPITALISMO

Os Arcanos do Inteiramente

Outro

.-1 Escola de Fm 11 kfurt, a

melancolia, a reuotução

Olgária Mato;

Coleção Tudo é História

Biografias

o lIuminismo Visionário

Walter Ben jamin, leitor de

Descartes e Kant

Olgária Matos

Obra; Escolhidas

1: Magia e técnica, arte e

política

2 kuu de mão única

j: Cbarles Ba11dela ire, Wl

lírico 110 auge do capitalismo

\X'aherBenjamin

'1e; e

o peJD3'"

OBRAS ESCOLHIDAS

VOLUME III

tradução:

José Car/os Martins Barbosa

Hemerson Atues 'Baptista

Teoria Crítica

Ontem e hoje

B árbara Frei tag

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Paris do Segundo Império

•Uma capital não é a

necessária

A Boêmia

A boêmia surge em Marx num contexto revelainc lu i os conspi radores prof issionais, de que se oculhada resenha das Memórias do Agente Polic ial de

publ icadas em 1850 na Nova Gazeta Renana. Remesiognomonia de Baudelaire significa falar da semelhaexibe com esse tipo po lí ti co. Marx ass im o deline idesenvolvimento das conspirações proletárias surgiudade da div isão do t rabalho; os membros se d iv idi rap iradores casuais ou de ocas ião, i sto é, operários qciam a conspiração a par de suas outras ocupaçõescom a ordem do chefe , f reqüen tavam os encont ros epront idão para comparecer ao pon to de reunião, eradores prof iss ionais , que dedicavam todo o seu serpiração, vivendo dela ... As condições de vida destadicionam de an temão todo o seu carát er. .. Sua exi

l an te e, nos pormenores, mais dependente do acasopria atividade. sua vida desregrada, cujas únicas es

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10 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPBRIO

• Proudhon, que se quer distanciar dos conspiradores profissionais,

denomina-se vez por outra "um homem novo - um homem cujo negócio

não é a barricada, mas a discussão; um homem que, todas as noites,

poderia sentar-se à mesa com o chefe de pol ícia e ganhar a confiança detodos osDe La Hodde do mundo ." (cit. Gustave Geffroy, L'enjermé, Paris

18<n, pp. 180-18t),

Em sua descrição dos consp iradores p rofissio naisMarx: "Para eles, o único requisito da revoluçãosuf icientemente sua conspiração. .. Lançam-se a i nvdevem levar a cabo maravilhas revolucionárias: bomdiárias, máquinas destrutivas de efeito mágico, motiverão resultar tanto mais miraculosos quanto menocionais tiverem. Ocupados com esse frenesi de projet

outra meta senão a mais próxima - ou seja, a degoverno existente - e desdenham profundamentemento mais teórico dos trabalhadores sobre seus inclasse. Daí sua raiva, n ão p roletária mas p lebéia, contnoirs (casacas-pretas), as pessoas mais ou menosrepresentam esse lado do movimento, das quais,como de representant es ofi ci ais do parti do, nunca sefazer d e todo independentes'<.f Em princípio, os visluticos de Baudelaire não excedem os desses conspirafissi onais. Se dirige suas simpatias ao reacionarismose as oferece à insurreição de 1848, sua express ãomediações, e seu fundamento permanece frági l. Aapresentou nos dias de fevereiro - numa esquinaagitando uma espingarda e proferindo as palavrasgeneral Aupick"* - é convincente. Na pior hipóte

ter feito suas as palavras de Flaubert: "De toda aentendo uma coisa: a revolta". Essa frase entãoentendida à luz do trecho final de uma nota que nogue junto com seus esboços sobre a Bélgica: "Digovolução!' como diria 'viva a destruição! viva a expo castigo! viva a morte!'. Seria feliz não só comopouco me desagradaria representar o carrasco, a fi

a revolução pelos dois lados! Todos temos no sangurepubli cano assim como a sífil is nos ossos; estamosde democracia e de sífilis".s

O que Baudelaire assim registra poder-se-ia dmetafísica do provocador. Na Bélgica, onde fez aqumento, teve por algum tempo f~ma de espião da pcesa. Expedientes desse gênero causavam t ão pouca

são as tavernas dos negociantes de vinho - os locais de encon-tro dos conspiradores -, suas relações inevitáveis com toda asorte de gente equívoca, colocam-nos naquel a esfera d e vida que,em Paris, é ch amada a boêmia'í)"

De passagem, deve-se observar que o próprio Napoleão 11 1

iniciara sua ascensão num meio que tinha muito em comumcom o descrito. Um dos instrumentos do seu período gover-

namental foi a Sociedade de 10 de Dezembro, cujos quadros ,segundo Marx, haviam empregado "toda a massa indefinida,diluída e disseminada por toda a parte, a qual os franceses de-nominam a boêmia"? Durant e seu impéri o, Napoleão ap erfei-coou hábitos con spi rativ os. Proclamações surpreendent es, t rá-fi co de segredos, invecti vas bruscas e iro nias impenetráveis cons-tituem a razão de Estado do Segundo Império. Tornamos a acharessas mesmas caracterí st icas nos escr itos teóricos de Baude lai re.O mais d as vezes, ele expõe opin iões apodi ct icamente. Discutirnão é a sua seara. Ele o evita mesmo quando as evidentes con-t radições em teses que adota sucess ivamente exigi ri am um debate.O Salão de 1846 ele o dedicou "aos burgueses"; aparece comoseu porta-voz, e seu gesto não é o do advocatus diaboli. Maistarde, por exemplo em sua invectiva contra a escola do bon

sens, encontra para a "'honnête' burguesia" e para o notário

- a figura do respeito no meio burguês - os traços do boêmiomais raivoso.! Por volta de 1850, proclama que a arte não deveser separada da utilidade; alguns anos depois, defende "I'artpour I'art", Em tudo isso se esforça tão pouco em se reconciliar

com seu público quanto Napoleão III ao passar da tarifa pro-tecionista para o Iivre-carnbismo, quase da noite para o dia eàs escondidas do parlamento francês. Todavia esses traços tor-nam compreensível que a crítica oficial - com Jules Lemaitreà frente - tenha rastreado tão mal as energias teóricas conti-das na prosa de Baudelaire.

• O general Aupick era padast ro de Baudelaire.

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12 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPbRIO

que, em 20 de dezembro de 1854, Baudelaire pôde escrever àmãe, com referência aos l iteratos de aluguel da polícia: "Jamaismeu nome aparecerá em seus registros i nfames"." Dificilmentea causa dessa fama terá sido apenas a inimizade que Baudelairemanifestou contra o então proscrito Victor Hugo, muito cele-brado na Bélgica. Por certo, sua devastadora i ronia part icipouna formação desse boato; facilmente ele mesmo poderia se com-

prazer em di fundi-Ia. O culte de Ia blague, que reencontramosem Georges Sarei e que se tornou componente inalienável dapropaganda fascista, dá em Baudelaire seus primeiros frutos.O título sob o qual o espírito com que Céline escreveu Bagatelles

pour un massacre remete diretamente a um registro do diáriode Baudelaire: "Podia-se organizar uma bela conspiração com o

intuito de exterminar a raça judaica"." O blanquista Rigault,que encerrou a carreira de conspirador como chefe de políciada Comuna de Paris, parece ter tido o mesmo humor macabro,

de que muito se fala em testemunhos sobre Baudelaire. Diz

Charles Proles em Os Homens da Revolução de 1871: "Ao lado

de muito sangue-frio, Rigault tinha em tudo alguma coisa de

um gozador depravado. Tal qualidade lhe era inseparável, atémesmo em seu f anat ismov.ê O próprio ideal terrorista que Marx

encontra nos conspirado res tem seu equivalente em Baudelaire,que, numa carta à mãe, em 23 de dezembro de 1865, escreve:

"Se alguma vez recuperar o vigor e a energia que já possuí,

então desabafarei minh a cólera através de livros horripi lantes.Quero incitar toda a raça humana contra mim. Seria para mim

uma volúpia que me compensaria por tudo'"? Essa fúria encar-

niçada - Ia rogne - foi a disposição de espírito que al imentouos conspiradores profissionais de Paris durante meio século de

lutas em barricadas .

.. São eles - diz Marx a respeito desses conspiradores - osque erguem e comandam as p rimeiras barricadas".'? Com efeito,a barricada é o ponto central do movimento conspirativo. Va-le-se da tradição revolucionária. Na Revolução de Julho, maisde quatro mil barricadas se espalharam pela cidade.!' Quando

Fourier espreita à sua volta em busca de um exemplo do. "tra-balho não assalariado mas apaixonado", não encontra nenhum

mais próximo que a construção de barricadas. Hugomodo impressionante, a rede dessas barricadas, desombra, no entanto, sua guarnição: "Por toda a partevel polícia dos revoltosos vigiava. Mantinha a ordem

a noi te. .. Olhos que, de cima, tivessem olhado essaamontoadas t al vez percebessem, em locai s dispersos,rência indistinta que indicava contornos fragmentad

t raçado a rb it rár io , perfi s de const ruções s ingu la re s.nas se movia algo semelhante a luminárias. Nesses

vam as bar ricadasv.P Na alocução a Paris, que pfragmentária e que deveria fechar As Flores do M

laire não se despede da cidade sem evocar suas b arrica

bra-se de seus "paralelepípedos mágicos que se elevalto como fortalezas't.P Naturalmente essas pedrascas", uma vez que o poema de Baudelaire não conhec

que as colocaram em movimento. Mas precisamente

poderia ser imputado ao blanquismo, po is, de modo

clama o bl anquista Tri don: "O fo rça, ra inha das bar

tu, que brilhas no clarão e no motim ... é para ti

s ioneiros estendem as mãos acorrentadas" .14 Ao fim d

como animal mortalmente atingido, o proletariado r

teante para trás das barricadas. Responsável pela defato de os operários, adestrados em lutas de barricserem favoráveis ao combate aberto que teria bloque

nho a Th iers. Esses operári os preferiram - como

dos historiadores modernos da Comuna - "a luta

quarteirão ao combate aberto e, se preciso, a mortcalçamento empilhado como barricada, numa rua d

Blanqui, o mais importante dos chefes de barricsiense, estava na época confinado em sua última prisdu Taureau, Em sua retrospectiva sobre a RevoluçãoMarx viu nele, e em seus companheiros, "os verdadeirdo partido proletãrio't.l" Dificilmente se pode exagertígio revolucionário que Blanqui então possuía e quaté a morte. Antes de Lênin, não houve quem tivesse

do proletariado traços mais distintos. Traços que stambém em Baudelaire. Há uma folha de sua autori

 

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14 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMP~RIO

ao lado de outros desenhos improvisados, se mostra a cabeçade Blanqui.

Os conceitos a que Marx recorre em sua descrição dos am-bientes conspirativos em Paris permitem, com maior razão,reconhecer a posição ambígua que Blanqui ali ocupava. Se, porum lado, BJanqui entrou na tradição como "putschista", háboas razões para isso. Para a tradição, ele representa o tipo de

político que, como diz Marx, vê sua missão no "antecipar-seao processo de evolução revolucionário, impeli-lo por meio deartifícios para a crise, improvisar uma revolução sem que hajacondições para ela".'? Se, por outro lado, compararmos descri-ções que possuímos de Blanqui, então ele parecerá, antes, umdos habits noirs, em quem os conspiradores viam os seus mal-quistos concorrentes. Uma testemunha ocular descreve assim oclube blanquista de Les Halles: "Se quisermos ter uma idéiaexata da impressão que, desde o primeiro momento, se tinha doclube revolucionário de Blanqui em comparação com os ou trosdois clubes que o par tido possuía na época ... , então o melhorserá imaginarmos o públ ico da Comédie-Française num dia emque são encenados Racine e Corneille ao lado da massa humanaque lota um circo onde acrobatas exibem habilidades de r isco.

Era como estar numa capela consagrada ao rito ortodoxo daconspiração. As portas ficavam abertas a todo o mundo. massó vol tava quem era adepto. Após o aborrecido desf il e dos opr i-midos. .. e rgu ia-se o sacerdote daquele lugar. Seu pretexto eraresumir as queixas de seus clientes, do povo representado pelameia dúzia de imbeci s arrogantes e i rri tados, que justamentetinham acabado de ser ouvidos. Na verdade, ele explicava asituação. Seu aspecto era distinto e a roupa impecável; a ca-beça de forma delicada, a expressão tranqüila; apenas de vezem quando um Jampejo sinistro e selvagem lhe atravessava osolhos, que eram pequenos, apertados e penetrantes; em geral,pareciam mais benévo los que implacáveis. Seu modo de falarera comedido, paternal e inequívoco; o modo de falar menosdec1amatório que, junto com o de Thiers, jamais ouvi";" Nestadescrição, Blanqui aparece como doutrinador. Os sinais de iden-

tificação com os habit s noirs se confirmam até nas pequenascoisas. Era sabido que o "velho" costumava ensinar de luvas

pretas. * Porém a seriedade comedida e a irnpenpróprias de Blanqui aparecem de modo distinto soque as coloca uma observação de Marx. "Eles sãoMarx a respeito desses conspiradores profissionais -mist as da revo lução e parti lham inte iramente a desotal e a estreiteza das idéias fixas dos antigos alqCom isso, a imagem de Baudelaire se apresenta com

si própria: a bade1 de enigmas da alegoria em um,segredamento do conspirador em outro.De modo depreciativo, como não poderia deixar d

fala das tavernas onde O conspirador subal terno scasa. Os vapores que aí se precipit avam eram tambres a Baudelaire. Em meio a eles se desenvolveu oma int itulado O Vinho dos Trapeiros. Sua origem ptada em meados do século. Naquela época, temas qnesses versos eram debatidos publicamente. Certa vdo imposto sobre o v inho. A Assemblé ia Const ituin tblica t inha prometido sua abolição, como já prometerEm As Lutas de Classe na França, Marx mostroumoção desse impos to, comungavam uma exigênciar iado e uma dos camponeses. O imposto, que onerade mesa no mesmo nível que o mais fino, reduzia

"uma vez que estabelecera às portas de todas asmais de 4.000 habitantes alfândegas municipais e tcada cidade num país estrangeiro com tarifas protecitra o vinho francês't.ê? "No imposto do vinho - do camponês prova o bouquet do governo." O impoprejudicava igualmente o habitante da cidade, forçdirigir às tavernas da periferia a fim de encontrarbarato. Lá era servido o vinho isento de imposto,barreira. Se se pode crer no chefe de seção na cencia, H. A. Frégier, os trabalhadores, cheios de soblência, ex ib iam então todo o seu prazer, como se fa lhes ser concedido. "Há mulheres que não hesitam

• Baude\aire sabia apreciar esses detalhes .• Por que -

os pobres não usam luvas para mendigar? Fariam fortuna.·

Atr ibui o dito a um desconhecido; ele tem, contudo, o se

laire.

 

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16 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPf.RIO

"Vê-se um trapeiro cambaleante, a fron te inquieta,Rente às paredes a esgueirar-se como um poeta,E, alheio aos guardas e alcagüetes mais abjetos,Ab rir seu co ração em gloriosos p rojetos.

Naturalmente, o trapeiro não pode ser incluídoMas, desde o li terato até o conspirado r p rofissionalque pertencesse à boêmia podia reencontrar no trapdaço de si mesmo. Cada um del es se encontrava, nmais ou menos surdo contra a sociedade, diante demais ou menos precário. Em boa hora, podia simaqueles que abalavam os alicerces dessa sociedade.não está sozinho no seu sonho. Acompanham-notambém à sua volta há o cheiro de barris, e ele taneceu em batalhas. O bigode lhe pende como umalha. Em sua ronda, vêm-lhe ao encontro os mouchar

te s s ec retos sobre quem os sonhos lhe dão supremacisociais do cotidiano parisiente se encontram já em SNele r epresentavam uma conquista da poesia lírica,

p anhar o marido até a barreira, junto com os filhos já em id ad ede trabalhar. .. Em seguida, põem-se todos a caminho de casameio embriagados e se fingem de mais bêbados do que estão naverdade, de modo que a todo o mundo fique claro que bebe-ram e que não foi pouco. Muitas vezes, os filhos imi tam o exem-plo dos pais"." Um observador contemporâneo escreve: "Umacoisa é certa: o vinho da barreira poupou ao governo muitoschoques't.ê? O vinho transmite aos deserdados sonhos de des-forra e de glórias futuras. Assim, em O Vinho do s Trapeiros:

Juramentos profere e d ita leis sublimes,Derruba os maus, perdoa as vítimas dos crimes,E sob o azul do céu, como um dossel suspenso,Embriaga-se na luz de seu talento imenso. "2~

Maior número de trapeiros su rgiu nas cid ad es desde que, gra-ças aos novos métodos industr iais, os rejeitos ganharam certo

valor. Trabalhavam para intermediár ios e r epresentavam umaespécie de indústria caseira situada na rua. O trapeiro fascinavaa sua época. Encan tados, os o lhares dos prime ir os inves tigado-

res do pauperismo nele se fixaram com a pergunta muda: "Ondeseria alcançado o limite da miséria humana?" Frégier lhe de-

dica seis páginas do seu As Classes Perigosas da População. Le

Play fornece para O período de 1849 a 1850, presumivelmenteaquele em que nasceu o poema de Baudelaire, o orçamento deum trapei ro pari siense e dependentes. *

orçamento de um trapeiro - necessidades culturais, recreaç

- aparece da seguinte maneira: "Instrução das crianças:

escolar é paga pelo empregador da famíl ia: 48 F; comp

1,45 F. Assistência social e esmola (os trabalhadores desta

mente não dão esmolas); festas e solenidades: refeições tom

a família numa das barreiras de Paris (8 excursões anuais)

batata fri ta: 8 F; refeições consistindo de macarrão preparad

teiga e queijo, e mais vinho, no Natal, na terça-feira de

Páscoa e em Pentecostes: essas despesas estão registradas

seção; fumo de mascar do marido (tocos de cigarro juntados

trabalhador) ... representando de 5 a 34 F; rapé para a

prado) ... 18,66 F; brinquedos e outros presentes para as

... Correspondência com parentes: cartas para o irmão do

residente na Itália: na média, uma por ano .. _ Adicional:

reveses, o recurso mais importante para a famíl ia consiste

privada. .. Economia anual (o trabalhador não possui nen

previsão; o que lhe importa, acima de tudo, é proporcionar

à filha pequena todo o bem-estar compatível com sua situaç

economia, mas gasta dia a dia tudo o que ganha)·. (Fréd

Les ouvriers européens, Paris, 1855, pp. 274-5.) O espírito

levantamento é ilustrado por uma observação sarcástica de

o sentimento humanitário, ou mesmo o decoro, proíbe q

morrer os homens como animais, então não se lhes pode ne

de um ataúde.". Eugêne Buret, De Ia misêre des classes l

Angl et er re e t en France, Paris, 1840, vol. I, p. 166.)

• E fascinante acompanhar como a rebelião vagarosamente

nho nas diferentes versões dos versos conclusivos do poema.versão diziam:

* Este orçamento é um documento social, não tanto pelos levantarnen-tos realizados numa família definida quanto pela tentativa de fazer a mais

profunda miséria, por ser cuidadosamente recenseada, parecer menos

escandalosa. Com a ambição de não deixar nenhuma de suas desumani-

dades sem o parágrafo que deve ser observado a respeito, os Estados

totalitários fizeram brotar um gérmen que, como se pode presumir aqui,

já dormitava num estádio remoto do capitalismo. A quarta seção deste

 

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18 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPERIO

não do discernimento. A miséria e o álcool contraem no espíritodo ilustrado capitalista uma relação essencialmente distinta da-quela em Baudelaire.

tinha dos deserdados. Faz do conflito dos irmãos bíduas raças e te rnamente irreconciliáveis.

"Neste cabriolé de aluguel examinoO homem que me conduz, verdadeira máquina,Hediondo, barba espessa, longos cabelos emplastrados:

Vício e vinho e sono carregam seus olhos bêbados.Como o homem pode cair assim? pensavaEnquanto me recolhia ao outro canto do assento.v-"

"Raça de Abel, frui, come e dorme.Deus te sorri bondosamente.

Raça de Caim, no lado informe

Roja-te e morre amargamente. "25

• Para amansar o coração e acalmar o sofrimentoDe todos esses inocentes que morrem em silêncio,Deus já lhes d er a o doce sono;Ajuntou o vinho, filho sagrado do Sol."

o poema consiste de 16 dísticos, cujo iníciomente igual ao dos anteri ores. Caim, o ancestral ddos, nele aparece como fundador de uma raça que nsenão a pro le tá ria. Em 1838, Granier de Cassagnasua História das Classes Operárias e das Classes Burg

obra soube proclamar a origem dos proletários: formraça de homens inferiores, resultante do cruzamentoe prostitutas. Terá Baudelaire t omado conhecimentoculações? B bem possível. O ce rto é que foram encoMarx, que saudou em Granier de Cassagnac o "pereação bonapartista. O Capital, ao fixar o conceitoraça de peculiares prop rietários de bens", respondeuracial. Em Marx, é desse modo que se entende o pr

Exatamente nessa acepção aparece em Baudelaire anária de Caim. Obviamente, ele não teria podido draça dos que não possuem outro bem que não a strabalho.

O poema de Baudelaire se encontra no ciclo intituta", As. três partes que o compõem mantêm um tomrio. O sat ani smo de Baudelaire não deve ser tomadomente a sério. Se tem algum significado, é como a úna qual Baudelaire era capaz de manter por muito tem

Assim é o começo do poema; o que se segue é uma interpre-tação edificante. Sainte-Beuve pergunta a si mesmo se sua almanão estaria igualmente abandonada como a do cocheiro de alu-guel.

A litania intitulada Abel e Caim mostra sobre que substratorepousa a noção mais l iv re e mais compreensiva que Baudelaire

• E assim que o vinho reina por seus benefícios.E canta suas f açanhas pela goela do homem.Grandeza da bondade daquel e que tudo ba ti za,

Que já nos dera o doce sono,E quis ajuntar o vinho, filho do 50),Para esquentar o coração e acalmar o sofrimentoDe todos esses infelizes que morrem em silêncio."

Em 1852. diziam:

Por fim, soam em 1857 com uma mudança radical no sentido:

•E para o ódio afogar e o ócio i r e nt re te ndoDes se s mal di to s que em s il ên ci o vão mo rr endo,Em seu remorso Deus o sono havia criado;O Homem o Vinho fez, do 50) filho sagrado!" (p. 381)

• Ao título se segue uma nota prévia, em edições postmida. Declara os poemas deste ciclo uma cópia altamentesofismas da ignorância e da raiva". Na verdade, não secópia. A Procuradoria de Estado do Segundo Império assim

e também as suc es so ras as sim o ent endem. O barão Seilc om mui to de sl ei xo em sua i nt er pr et aç ão do poema i nt rodugação de São Pedra, que contém os segui nt es ve rsos:

Percebe-se nitidamente como a estrofe só encontra sua forma maissegura com o conteúdo blasfemo.

 

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20 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPtRIO

"Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olharQue leva o povo ao pé da forca a desvairar.v'"

tes festejos da corte dos quais ele se rodeava. As mque o conde Viel-Castel descreve a companhia dpermitem que uma Mimi e um Schaunardê? pareçamtos e tacanhos. Na classe alta, o cinismo era debaixa , a a rgumentação rebe lde. Em E/oa, seguindoByron, Vigny homenageara , em sen tido gn6st ico, Lúcaído. Barthélemy, por outro lado, em sua Nêmesis

satanismo aos dirigentes; faz com que se diga um

ágio e que se cante um salmo da renda." Essa dSatã é, de ponta a ponta, familiar a Baudelaire. Pnão fal a apenas pelos in feri ores, mas também peloDifi cilment e, Marx teria podido encontrar um lei toras seguintes linhas: "Quando os puritanos - diz emBrumário - p rotestaram contra a v ida depravada do cardeal Pierre d'AilI trovejou contra eles: - S6pessoa ainda pode salvar a Igrej a católica, e vós exiAssim bradava a burguesia francesa após o golpe dSó o líder da Sociedade de 10 de Dezembro aind aa sociedade burguesa! Só ° r oubo à propriedade,religião, a bastardia à família, a desordem à ordemem suas horas rebeldes não quis Baudelaire, admirasuítas, romper de todo e para sempre com esse saversos se resguardaram do que sua prosa não sepor isso que Satã aparece neles. B a ele que devemde, mesmo no protesto desesperado, não abjuraremde sua obediência àquele que causou indignaçãomento e à humanid ad e. Quase sempre a confi ssão rede Baudelaire como um grito de guerra. Não quer qo seu Satã. Este é o verdadeiro móvel do conflitolaire teve de sustentar com sua descren ça. Não se trmento e oração, mas da ressalva luciferina de difade quem se está à mercê.

Com sua amizade por Pierre Dupont, Baudelairese conhecido como poeta social. Os textos críticosviIly dão um esboço desse autor: "Nesse talento eCaim tem a supremacia sobre o manso Abel - ominto, o invejoso, o selvagem Caim, que se foi par

a fim de sorver o fermento do rancor que aí se aparticipar das falsas idéias que aí vivem o seu triu

sição não-conformista. A última parte do ciclo, As Litanias de

Satã, é, por seu conteúdo teológico, o miserere de uma li turg iaof ídica.?" Satã aparece em sua coroa de raios luciferinos comodepositário do saber profundo, como instrutor das habilidadesprometéicas, como pat rono dos impeniten te s e inquebr an táve is .Entre as linhas lampeja a cabeça sombria de Blanqui.

Esse Satã, que a série de invocações do poema conhece tam-bém como "confessor. .. do conspirador", é diferente do intri-gante infernal, a quem outros poemas chamam pelo nome de"Satã Trismegis to", de "Demônio", e as peças em prosa pelode "Vossa Alteza", que tem sua moradia subterrânea nas pro-x imidades do bulevar. Lemaitre chamou a atenção para a duali-dade que faz do diabo "ora o autor de todo o mal, ora o grandevencido, a grande vítima" .29 Só fazemos formular o problemadiferentemente se lançamos a questão: "O que terá forçado Bau-delaire a dar uma forma teológica radical à sua rejeição aosdominadores?"

Após a derrota do proletariado na Campanha de Junho, a

revolta contra os conceitos de ordem e honestidade estava maisbem preservada junto aos dominadores do que junto aos opri-midos. Os que se declaravam partidários da liberdade e do di-reito não viam em Napoleão 11 1 o imperador-soldado que pre-tendia ser a emulação de seu tio, mas sim o impostor favore-cido pela sorte. Foi essa a imagem que Os Castigos, de VictorHugo, dele fixou. Por seu turno, a boêmia dourada via seus so-nhos de uma vida "livre" se tornarem realidade nos estontean-

"Pensavas tu nos dias...

Em que, a alma pródiga de audácia e de esperança,

Aos vendilhões do templo açoitavas o dorso,

Em que tu foste o mestre enfim? Dize: o remorso

Teu flanco não rasgou mais fundo do que a lança?" (pp. 417 e 419)

Nesse remorso, o irônico intérprete percebe as autocensuras .-por ter

perdido uma oportunidade tão boa de implantar a ditadura do proleta-

riado". (Ernest Seilliere, 8audelaire, Paris, 1931, p. 193.)

 

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22 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPERIO

A int rodução com que, em 185I , Baudelaire contribuiu paraum fascículo de poemas dupontianos foi um ato de estratégia l ite-rár ia . Aí se encon tram os seguintes ju ízos cur iosos: "A r idícula

teoria da 'arte pela arte' excluiu a moral e, muitas vezes, a pró-pria paixão; desse modo, tornou-se necessariamente estéril". E,mai s adiante , numa clara referência a Auguste Barbier : "Quan-do um poeta que, apesar de algumas faltas ocasionais, quasesempre se revelou grande, surgiu e proclamou a santidade daRevolução de T ulho e , em seguida , com versos igualmen te f la -mejantes, escreveu poemas sobre a miséria na Inglaterra e naJ rlanda, ... a quest ão est ava de uma vez por todas liquidada ,e doravante a arte ficou inseparável da moral, assim como dautili dade't.ê? I sso nada tem da profunda dupl ic idade que dá asasà poesia do próprio Baudela ire, que se in teressava pelos opr i-midos, mas tanto por suas ilusões quanto por sua causa. Tinhaum ouvido para os cantos da revolução e outro para a "vozsuperior" que fala a través do rufar dos tambores das execuções.Quando Bonaparte chega ao poder a través do golpe de Es tado ,

por um momento Baudela ire fi ca indignado. "Depois , contem-pla os acontecimentos 'do ponto de vista providencial' e se su-

je ita como um monge.?" "Teocracia e cornunismo'P"para ele conv icções, mas ins inuações que di spu tavao seu ouvido: uma nem tão seráfica, outra nem tãoquanto ele imaginava . Não demorou muito, e Baudedonara seu mani festo revolucionário e , depois de umanos, escreve: "E à graça e à del icadeza femini s de sque Dupont deve as suas pr imeiras canções. Por sodade revolucionár ia que , na época, arrast ava todo os igo não o desv iou totalmente de seu caminho natuBaudelaire, essa brusca ruptura com a " I'art pourvalor apenas como postu ra. Permit ia -lhe proclamarque, como literato, tinha para se mover. Era a susobre os escritores do seu tempo, sem exclu ir os misso se torna evidente que ele se s ituava acima do mque o circundava .

Durante um século e meio, a atividade literáriase movera em torno dos periódicos. Por vol ta de 183letras lograram um mercado nos diários . As alteraçõpara a imprensa pela Revolução de Julho se resumedução do folhe tim. Durante a Restauração, númerosjornais não podiam ser vendidos; só quem fosse assireceber um exemplar. Quem não pudesse pagar a e le

tia de 80 francos pela assinatura anual ficava na ddos cafés, onde , muit as vezes, grupos de várias pesvam um exemplar. Em 1824 havia em Pari s 47 mide jornal ; em 1836 eram 70 mil, e em 1846,200 milo jornal de Girardin, t ivera papel decisivo nesse aumxera três impor tantes inovações: a redução do preçotura para 40 francos, o anúncio e o romance-folhetimmo tempo, a informação curta e brusca começou acorrência ao relato comedido. Recomendava-se pela smercantil. O assim chamado "réclame" abr ia pases se t ermo se entendia uma nota, autônoma na apana verdade, paga pelo editor e com a qual, na seçnal, se chamava a atenção para um livro que, na vésquele mesmo número, fora objeto de anúncio. JáSainte-Beuve lamentava seus efeitos desmoralizantes:

pode condenar na parte crítica um produto. .. dopolegadas abaixo , se l ê que é a maravi lha da época

caracter ísti ca expr ime com exatidão o que fez Baudela ire sol i-dário a Dupont. Tal como Caim, Dupont "se foi para as cida-des e abandonou o id íl io" . "A canção como era entend ida pelosno s sos pais ... , mesmo a singela romança, está muito afastadadele."?" Dupont sentiu chegar a crise da poesia lírica com aprogressiva desintegração entre cidade e campo. Um de seusversos admite is so desairosamente; d iz que o poeta "emprest a

ouvidos alternadamente às matas e às massas". As massas re-compensaram-no por sua atenção; em 1854, Dupont est ava emtodas as bocas. Quando se perderam, uma a uma, as conqui stasda Revolução, Dupont compôs o seu Canto do Voto. Na poesiapolítica da época, pouca coisa há que possa rivalizar com seurefrão. E a folha de louro que Karl Marx reclamara então paraa "sombr ia e ameaçadora f ron te '<" dos combatentes de Junho.

.. Faz ver, f rust rando o ardil,O República! a esses perversos,Tua grande face de MedusaEm meio a rubros c larões! "36

 

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24 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPf.RIO

se a força atrativa das letras crescentes do anúncio ; representauma montanha magnética que desvia a bússola't.'! O "réclame"

se encontra nos primórdios de uma evolução cujo final é a no-tícia da boba publicada nos jornais e paga pelos interessados.Dificilmente a história da informação pode ser escrita separan-do-a da história da corrupção da imprensa.

A informação precisava de pouco espaço; era ela, e não oeditorial político nem o romance-folhetim, que proporcionavaao jornal o aspecto a cada dia novo e inteligentemente variadoda paginação, no qual residia uma parte de seu encanto. Preci-sava ser constan temente renovada: mexericos urbanos, intrigasdo meio teatral e mesmo "curiosidades" constituíam suas fontesprediletas. Desde o início é notável sua peculiar elegância ba-rata e que se torna tão característ ica do folhetim. A Sra. Girar-din, em suas Cartas Parisienses, saúda desse modo a fotografia:"Hoje em dia, as pessoas se ocupam muito com a invenção doSr. Daguerre, e nada é mais engraçado que as sérias expl icaçõesque os nossos eruditos de salão sabem dar a respeito. O Sr.Daguerre pode ficar descansado: o seu segredo não lhe vai serroubado ... De fato, sua descobe rta é marav ilhosa, mas as pes -soas nada entendem dela; ela foi por demais explicada't.'? Asatisfação com o estilo folhetinesco não foi tão rápida nem tão

universal. Em 1860 e em 1868 aparecem em Marselha e emParis os dois volumes das Revistas Parisienses, do barão Gast onde Ia Flotte. Tomaram para si a incumbência de lutar contra aleviandade das informações históricas, sobretudo as do folhetimda imprensa parisiense. Era nos cafés, durante o aperitiv o,que se recheava a informação. "O hábi to do ape ri tivo. .. apa-receu com o advento da imprensa do bulevar. Antes, quando sóhavia os grandes e sérios jornais, não se conhecia a hora doaperitivo, que é conseqüência lógica da 'crônica parisiense' edos mexericos urbanos.t'P A atividade dos cafés treinou os re-datores no ritmo do serviço informativo antes mesmo que suamaquinaria estivesse desenvolvida. Quando, por volta do fimdo Segundo Império, o telégrafo elétrico entrou em uso, o bu-levar perdera o seu monopólio. Doravante, os acidentes e oscrimes podiam ser recebidos de todo o mundo.

Assim, a assimilação do l iterato à sociedade em que se encon-trava se consumou no bulevar. Era no bulevar que ele tinha à

disposição o primei ro inc iden te, chiste ou boato.desdobrava os ornamentos de suas relaçõ es com colevidas; e estava tão dependente de seus efeitos ququetes de sua arte de se transvestir." No bulevar, phoras ociosas, exibindo-as às pessoas como parcela drio de trabalho. Por tava-se como se tivesse aprendidoque o valor de cada bem é definido pelo temposocialmente necessário para sua produção. Dessa forde sua própria força de trabal ho adqu ire algumamo ao fantástico em face do dilatado ócio que, apúblico, é necessário para seu aperfeiçoamento. Oestava sozinho em tal avaliação. A alta remuneraçãotim de então mostra que essa opinião se alicerçavasociais. De fato, ex is ti a uma conexão entre a reduçde' assinatura, o incremento dos anúncios e a cresctância do folhetim.

"Devido ao novo arranjo - a redução da taxa d- o jornal tem de viver dos anúncios ... ; para oanúncios, a página quatro, que se voltara para a publicisava ser vista pelo maior número possível de assnecessária uma isca que se di rigisse a todos sem conniões pessoais e que tivesse o seu valor no fato de p

dade no lugar da política. .. Uma vez dado o pontoisto é, o preço da assinatura a 40 francos, chegou-sesamente ao romance-folhetim por via do anúncio."44te isso que explica a alta cotação desses artigos. Emmas fechou contrato com Le Constitutionnel e compelo qual lhe foram prometidos durante cinco anosmínimos de 63 mil francos por uma produção mínim18 vclumes.P Eugêne Sue recebeu por Os Mistério

um sinal de 100 mil f rancos. Calculou-se em 5francos os honorários de Lamartine para o períodoe 1851. Por História dos Girondinos, que apareceu

• "Com um pouco de perspicácia, é fáci l reconhecer qu

que, às oito, se apresenta ricamente vestida num elegante

mesma que, às nove, surge como costureirinha e, às dez, co

sa." (F.-F.-A. Béraud, Les f il les publiques de Paris, et Iarégit, Paris, 1839, voI. I, p. 51.)

 

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26 WAL TER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPBRIO

mente como fol het im, recebera 600 mil francos. Os exuberanteshonorários da mercadoria literária nos diários levavam neces-sar iamente a inconvenientes. Acontecia de o editor, na comprado manuscrito, reservar para si o direito de tê-lo assinado porum autor de sua escolha. Isso pressupunha que al guns roman-cistas bem-sucedidos não tivessem melindres com a própria assi-natura. Amplas informações sobre o assunto são dadas por um

panfleto, Fábrica de Romances , Casa Alexandre Dumas e Cia.46

A Revista dos Dois Mundos escreveu na época: "Quem conhe-ce os títulos de todos os livros assinados pelo Sr. Dumas? Seráque ele próprio os conhece? Se não mantiver um diário com'débito' e 'crédito', certamente esquecerá de mais de um dos fi-lhos de que é pai legítimo, natural ou adotivo" .47 Corria o boa-to de que Dumas empregava em seus porões toda uma compa-nhia de literatos pobres. Dez anos após as constatações da gran-de revis ta, em 1855, encontra-se num pequeno órgão da boêmiaa seguinte representação pitoresca da vida de um romancista desucesso, que o autor chama de Sr. de Santis: "Chegando à casa,fecha a porta à chave cuidadosamente. .. e abre uma pequena

porta atrás de sua biblioteca. Com isso se acha num pequenogabinete mal iluminado e bastante sujo. Ali, com uma longapena de ganso na mão, está sentado um homem sombrio, de

olhar submisso e cabelos emaranhados. Nele se reconhece a umamil ha de distância o verdadei ro romancista de estirpe, mesmo quese trate apenas de um ex-funcionário de ministério, que apren-deu a arte de Balzac através da leitura de Le Constitutionnel. Overdadeiro autor da 'Câmara dos Crânios' é ele; é ele o roman-cista".48* Durante a Segunda República, o parlamento procuroucombater a predominância do fol het im. Taxava-se a continuação

do romance, capítulo por capítulo, com um imposto de umcentime. Com a reacionária Lei da Imprensa que, através derestrições à liberdade de opinião, intensificou o valor do folhe-tim, aquela prescrição deixou de vigorar pouco depois.

A alta cotação do folhetim aliada à sua grande saída ajudouos escritores que o forneciam a fazer nome junto ao público.

Não estava fora do alcance do indivíduo a pestabelecer sua fama em combinação com seusceiros: a carr ei ra pol ít ica abr ia- se-lhe quase porisso se verifi caram novas formas de corrup ção, m

o abuso de nome de autores conhecidos. Tendoa ambição política do literato, era natural queindicasse o caminho certo. Em 1846, Salvandy,

Colônias, ofereceu a Alexandre Dumas, às custasa empreitada custava 10 mil francos -, urna vpara fazer propaganda na colônia. A expedição

vorou muito dinheiro e acabou numa pequenaCâmara. Mais sorte teve Sue que, devido ao sucetérios de Paris , não só elevou o número de as

Constitutionnel de 3.600 para 20.000, como tamdeputado com 130 mil votos do operariado de

res proletários não ganhavam muito com isso.eleição de um "comentári o sentimental que e

ganhos do mandato anterior. Se a literatura po

uma ca rre ira pol ít ica aos privi legiados, essa carr

turno, valiosa na consi deração crítica de seus

tine oferece um exemplo disso.

Êxitos dec is ivos de Lamar tine , As Meditações

nias remontam a urna época em que a clase

franceses detinha o usufruto dos campos de cudos. Em .v ersos ingênuos a Alphonse Karr, o poe

obra à de um viticult or:

"Todo homem com orgulho pode vender seuVendo meu cacho de fruta como vendes tuaFeliz quando seu néctar, sob meu pé que aNos meus tonéis numerosos como riacho deProduzindo para seu dono, .e rnbriagado por sMuit o ouro para pagar muita liberd ade! "30

• O uso do 'negro' não se limita ao folhetim. Scribe empregava para

os diálogos de suas peças uma série de colaboradores anônimos.

Essas linhas, onde Lamartine louva a própri

como se fosse rural e se gaba dos honorárioslhe proporciona na feira, são esclarecedoras se

 

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28 WALTER BEN JAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPfRIO

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menos pelo seu lado moral" do que como expressão do senti-mento de classe de Lamartin e, do minifundiário. Nisso se en con-tra uma parcela da história da poesia de Lamartine. A situaçãodo minifundiário se tornou crítica na década de 40; ele estavaendividado. O minifúndio "já não se encontrava na assim cha-mada pátria, mas sim no certificado de hipoteca"." Com isso,o otimismo rural - f undamento da t rans figurante con templa -ção da natureza, própria da poesia de Lamartine - começou a

desmoronar. "Se o recém-formado minifúndio era naturalmentereligioso em sua concordância com a sociedade, em sua depen-dência d as fo rças n at urais e em sua submi ssão à autor idade que,do alto, o protegia, o minifúndi o arruinado pelas dívi das, indi s-posto contra a sociedade e contra as autoridades, l ançado par aalém de su a p rópria limitação, torn a-se naturalmente irreligioso.O céu era um adendo muito formoso para a minguada regiãorecém-conquistada, tanto mais porque determina o bom e o mautempo, mas vira insulto tão logo seja imposto ao minifúndiocomo cor npensa ção .Y'? Exa tamente nesse céu os poemas de La-martine haviam sido formações de nuvens, como já em 1830

escrever a Sa in te-Beuve: "A poesia de André Chénier ... é, atécerto ponto, a paisagem sobre a qual Lamartine estendeu océu" .53 Esse céu desmoronou para sempre quando os campone-ses franceses votaram em 1848 pel a presidência de Bonaparte.

Lamartine colaborara na p reparação de seus voto s."'''' "Provavel-mente, ele não pensara - escreve Sainte-Beuve sobre seu papel

na revolução - que estivesse destinado a se tornque, com seu áureo arco, deveria conduzir e modinvasão dos bárbaros.Y" Baudelaire o ch ama secamepouco devasso, um pouco prost ituído" .ss

Dificilmente alguém possuía olhar mais penetrantdelai re para os aspec tos problemát icos desse fenômentalvez por ter ele sempre sentido pouco brilho s

mo. Porché é de opinião que Baudelaire, parece, nãlha na negociação de seus manuscritos." "BaudelaireErnest Raynaud - tinha de contar com a prátiristas; tinha de lidar com editores que especulavamdade das pessoas mundanas, dos amadores e dos pe cujos manuscri tos só aceitavam se el es conseguisseras. "S7 O próprio comportamento de Baudelaire coesse estado de coisa. Põe o mesmo manuscrito à dvárias redações, autor iza reimpressões sem caracteri

tais. Desde cedo, contemplou sem ilusões o mercaEscreve em 1846: "Por mais bela que seja uma c

antes de tudo - e antes que nos detenhamos em stanto s metros de altura e tantos de comprimento. A

é a literatura, que reproduz a substância mais difíciantes de tudo um enchimento de linhas, e o arquit

cujo simples nome não p romet e lucros tem de venderpreço" .58 Até o fim da vida, Baudelaire permaneceu

cado no mer cado l it erá rio. Calcula-se que, pelo conobra, não tenha ganho mais do que 15 mil francos.

"Balzac se arruína com café, Musset se embota coMurger morre ... numa casa de saúde, como aindBaudelaire. E nenhum desses escritores foi sociaescr eve [u le s Trouba t, o secret ário particular d eSem dúvida, Baude la ire merece a apreciação que alhe que r imputar. Nem por isso, porém, lhe faltouda verdadeira situação do literato. Confrontá-lo -meiro lugar, a si mesmo - com a puta lhe era hafala o soneto A Musa Venal. O grande poema in tAs Flores do Mal, Ao Leitor, apresenta o poeta na

vant aj osa d e quem aceita moedas sonantes por suaUm dos primeiros poemas de Baudel ai re, e não inc

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• Numa carta aberta a Lamartine, escreve o ultramontano Louis Veuil-

\ot: ·0 senhor realmente não sabe que 'ser livre' significa, antes, des-

prezar o ouro. E, para obter essa espécie de liberdade que se compra com

ouro, o senhor produz seus l ivros do mesmo modo comercial que seus

legumes ou que seu vinho!" (Louis Veuillot, Pages Choisies, Paris, 1906,p _ 31.)

* * Segundo relatórios de Kisseliov, o então embaixador russo em Paris,

o Sr. Pokrowski provou que os eventos se desenrolaram como Marx já

previra em As Lutas de Classes na França. Em 6 de abril de 1849, Lamar-tine garantira ao embaixador que as tropas se concentrariam na capital

- uma medida que, mais tarde, a burguesia procurou justi ficar com as

demonstrações operárias de 16 de abril. A observação de Lamartine de

que precisaria aproximadamente de dez dias para a concentração das

tropas lança efetivamente uma luz ambígua sobre aquelas demonstrações.(Cf. Pokrowski, Historische Aujsãtze, Viena, 1928, pp. 108-9.)

 

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1 :

30 WALTER BENJAMIN PARIS DO SEGUNDO IMPeRIO

15. Georges Laronze, His to ire de Ia Commune . La j us tic

p. 532.16. Karl Marx , Der ach tz ehnt e Bruma ir e des Lou is B

cit., p. 28.17. Kar l Marx e F ri ed ri ch Engel s, Bespr. von Ado lphe C

p . 556 .18. Informe de J . -r . Weiss , c ito Gustave Geffroy, L'enje

pp. 346-8.

19 . Kar l Marx e F ri ed ric h Engel s, Bespr. von AdoIphe C

p. 556.20. Karl Marx, Die Klassenkiimpfe in Frankreich 1848 bi

1895, p. 87.21. H.-A. Frégier, Des c la ss es dangeureus es de Ia popul

g randes v il le s, e t d es moyens de I es r endr e mei ll eu re s, Parisp. 86.

22. Edouard Foucaud, Pari s i nv ent eu r. Phy si ol og ie de l

çaise, Pari s, 1 844 , p . 10.23. Charles Baudelaire, As Flores do Mal, trad. I van

de Janeiro, Nova Fronteira, 1985, 2." edição, p. 379. (As Flores do Mal f or am ext ra ídos des ta edi ção; dor avan tec adas as p ág in as. Os demai s poemas c it ado s nes ta obr a f ort ra duzi do s por Ange la C . M. Guerra.) (N. do T.)

24. Charles Augustin Sainte-Beuve, Les consolations.

25. P. 419.26. Kar l Marx, Das Kapital, Ber lim, 1932, vol. I, p. 127. T ra ta -s e d e uma s ei ta gn6s ti ca do s écul o 11 que , d ed

da serpente, a fazia um símbolo do Messias. (N. do T.)28. P. 423.29. Jules Lemaitre, Les contemporaines. Etudes et portr

Pa ri s, 1 897, 14. " ed iç ão, p . 30.30. Per sonagens de Scênes de Ia vie de bohême, de Mu31. Cf. Auguste-Marseille Barthélémy, Némésis, Satire

Par is , 1834, voI. I, p. 225.32. Kar l Marx, Der achtzehnte Brumaire des Louis Bona

p. 124.33. [ules-Amédée Barbey D'Aurevil ly , Les oeuvres et le

poêtes, Par is , 1862, p. 242.34. Pierre Larousse, Grand dictionnaire universel du

Par is , 1870, vol. VI, p. 1.413.35. Kar l Marx, Dem Andenken der [uni-Kãmpjer, Vien36. Pierre Dupont, Le chant du vote, Par is , 1850.37. 11, pp. 403-5.38. Paul Desjardins, Poêtes contemporaines. Charles

Revue bleue, Par is , 1887, tomo 14,24.° ano, 2.° semestre, n

39. 11, p. 659.40. 11, p. 555.

Flores do Mal, é dirigido a uma mulher de rua. Diz a segundaestrofe:

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"Para ter sapatos, ela vendeu sua alma;Mas o bom Deus riria se, perto dessa infame,Eu bancasse o Tart ufo e fi ngisse al tivez,Eu, que vendo meu pensamento e quero ser autor.t"?

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A última estrofe - "Essa boêmia - ela é tudo para mim" -inclui despreocupadamente essa criatura na irmandade da boê-mia. Baudelai re sabia como se situava, em verdade, o literato:como jlãneur e le s e d irige à feira; pensa que é para olhar, mas,na verdade, já é par a procura r um comprador.

Notas

~~

I. Karl Marx e Friedrich Engels. Bespr. von Adolphe Chenu, •Les

conspirateurs", Paris, 1850, e Lucien de La Hodde. La naissance de Ia

République en [évrier 1848, Paris, 1850; cit. segundo Die Neue Zeit, 4(1886), p. 555.

2. Kar l Marx, Der acht zehn te Brumai re des Louis Bonaparte, Viena eBerlim, 1927, p. 73.

3. Charles Baudelaire, Oeuvres, 2 volumes, Paris, Bibliothéque de Ia

Pl éiade, 1931/1932, lI, p. 415. (Doravante s6 serão indicados o volume ea pág in a des ta edição.)

4. Karl Marx e Friedrich Engels, loco cit., p. 556.5. lI, p. 728.6. Charles Baudelaire, Lettres à sa m ére, Paris, 1932, p. 83.7. lI, p. 666.8, Charles Proles, Raoul Rigault, La préjecture de police sous Ia

Commune. Les otages. (Les hommes de Ia révolution de 1871), Paris,1898, p. 9.

9. Charles Baudelaire, Lettres à sa mêre, Paris, 1932, p. 278.10. Kar l Marx e F ri ed ri ch Enge ls , l oco c it ., p. 556.11. Cf. A ja ss on de Grand sagne e Mau ri ce P laut , Révolution de 1830.

Plan des combats de Paris au 27, 28 et 29 juillet, Par is , s/do12. Vic tor Hugo, Oeuvres completes. Roman, 8.° vol., Les Misérables.

Paris, 1881, pp. 522-3.13. I, p. 229.!4. Cito Charles Benoist, La crise de l'Etat moderne. Le •mythe" de

Ia "classe ouvriêre", in: Revue des deux mondes. 1.0 de março de 1914,p. 10\.

 

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32 WALTER BENJAMIN

41. Charles Augustin Sainte-Beuve, De Ia l ittér at ur e i ndustrielte, in:Revue des deu x mondes, 1839, pp. 682-3.42. Emile de Girardin, Oeuvres completes. Lettres parisiennes 1836-

1840, Paris, 1860, pp. 289-90.43. Gabriêl Gui ll emot, Le bohême. Physionomies parisiennes, Paris,

rse s , p. 72.44. Alfred Nettement, Histoire de Ia littérature [rançaise sous le

Gouvernernent de [uillet, Paris, 1859, vol. I,pp. 301-2.45. Cf. Ernest Lav is se, Histoire de France contem poraine: La monar-

chie e le [uillet (1830-1848), Paris, 1921, p. 352.

46. Cf. Eugêne Mirecourt, Fabrique de romans. Maison AlexandreDumas et Compagnie, Paris, 1845.47. Paulin Limayrae, Du roman actuel et de nos romanciers, in: Revue

des deux mondes, tomo 11, 1845, pp. 953-4.48. Paul Saulnier, Du roman en généra l et du romancier moderne en

particulier, in: Le bohême, abr il 1855, n," 5, p. 2.49. KarI Marx, Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte, loe. cit.,

p.68.50. Alphonse de Lamartine, Oeuvres poétiques completes, Paris, 1963.

p. 1.506. (" Letlre à Alphonse Karr".)

51. KarI Marx, Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte, loc . c it .,p p. 122-3.

52. Id., ibid., p. 122.53. Charlc: Augustin Sainte-Beuve, Vie, poésies et pensées de losepn

Delorrne, Paris, 1863, pp. 159-60.54. Charles August in Sainte-Beuve, Les Consolation«, loco cit., p. 118.55. Cit. François Porehé, La vie douloureuse de Charles Baudelaire,

Paris, 1926, p . 248.56. CL François Porché, loco cit., p. 156.

57. Ernest Raynaud, Charles Baudelaire. Etude biographique, Paris,1922, p. 319.

58. 11, p. 385.59. Cit. Eugene Crépet. Charles Baudelaire. Etude biographique, Paris,

1906, pp. 196-7.60. I, p. 209.

o Flâneur

Uma vez na fei ra, o escritor olhava à sua volta co

panorama.' Um gênero l it erár io específi co faz suastentativas de se orientar. B uma literatura panorâmicdos Cento e Um, Os Franceses Pintados por si Mesm

bo em Pari s, A Grande Cidade gozavam, simultaneaos panoramas,'e não por acaso, as graças da capital.consistem em esboços que, por assim dizer, imitamestilo anedótico, o primeiro plano plástico e, cominfo rmativo, o segundo plano largo e ex tenso dosNumerosos autores forneceram contribuições para essDesse modo, essas coletâneas são sedimentos do mesmbeletríst ico colet ivo para o qual Girardin inaugurarano folhetim. Os trajes de gala de uma escritura podest inada a se vender nas ruas. Nesse gênero ocupaprivi legiado os fascículos de aparência insignificante,mato de bolso, chamados de "fisiologias". Ocupavam

crição dos tipos encontrados por quem visita a feir