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Psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento publicado em 02.07.2017 Carine do Espírito Santo Barreto 1 facebook.com/psicologia.pt UM ESTUDO SOBRE A GESTALT-TERAPIA NA CONTEMPORANEIDADE Artigo baseado nas experiências do Estágio Supervisionado em Gestalt-Terapia 2017 Carine do Espírito Santo Barreto Aluna de Graduação em Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta, Brasil E-mail de contato: [email protected] RESUMO O presente estudo tem como objetivo apresentar a Gestalt-Terapia para estudantes de Psicologia e áreas afins que buscam por estudos a partir de uma conceituação didática e abrangente sobre o tema. O artigo pretende discutir a construção da Gestalt que surgiu através de um estudo mais aprofundado em 1910, segundo uma proposta experimental que se tornou, ao longo do tempo, uma grande referência de prática clínica e teórica. Assim, da leitura de sua estruturação clássica até ao surgimento das perspectivas atuais, esta linha fenomenológica- existencial propiciou um grande progresso sobre a perceção do sujeito, além da criação de novos sentidos para se pensar o ser humano e suas questões subjetivas. A proposta do estudo é servir como um canal para a compreensão da Gestalt-Terapia enquanto abordagem Clínica e Disciplina Acadêmica. Palavras-chave: Contato, disciplina, Gestalt-Terapia, processo, psicologia. Copyright © 2017. This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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ISSN 1646-6977 Documento publicado em 02.07.2017

Carine do Espírito Santo Barreto 1 facebook.com/psicologia.pt

UM ESTUDO SOBRE A GESTALT-TERAPIA

NA CONTEMPORANEIDADE

Artigo baseado nas experiências do Estágio Supervisionado em Gestalt-Terapia

2017

Carine do Espírito Santo Barreto

Aluna de Graduação em Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta, Brasil

E-mail de contato:

[email protected]

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo apresentar a Gestalt-Terapia para estudantes de

Psicologia e áreas afins que buscam por estudos a partir de uma conceituação didática e

abrangente sobre o tema. O artigo pretende discutir a construção da Gestalt que surgiu através de

um estudo mais aprofundado em 1910, segundo uma proposta experimental que se tornou, ao

longo do tempo, uma grande referência de prática clínica e teórica. Assim, da leitura de sua

estruturação clássica até ao surgimento das perspectivas atuais, esta linha fenomenológica-

existencial propiciou um grande progresso sobre a perceção do sujeito, além da criação de novos

sentidos para se pensar o ser humano e suas questões subjetivas. A proposta do estudo é servir

como um canal para a compreensão da Gestalt-Terapia enquanto abordagem Clínica e Disciplina

Acadêmica.

Palavras-chave: Contato, disciplina, Gestalt-Terapia, processo, psicologia.

Copyright © 2017.

This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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INTRODUÇÃO

O termo Gestalt surgiu muito antes de sua criação para a Psicologia. Segundo Carrijo et

al.(2012) a palavra tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando

"o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares".Porém, foi através de uma situção que

ocorreu com Psicólogo Max Wertheimer (1910), ao observar a disposição das luzes que

apagavam e acendiam alternativamente em um vagão de trem que estava, ele e as pessoas do

vagão tinham impressão que existia apenas uma luz que acendia e apagava. A partir desta

observação de ilusão de movimentos, Wertheimer, decidiu fazer experimentos.

De acordo com Engelmann (2002 ,p.1) ao estudar a história da Gestalt:

''Se a luz se acendesse e se apagasse numa figura e posteriormente se

acendesse e apagasse na outra, com intervalo entre eles de mais ou menos 60

milissegundos, enxergava-se apenas a figura indo de um lugar para outro.''

Marx ao publicar um artigo em 1912, discutiu as teorias que poderiam ser utilizadas para

explicar o movimento fi. De acordo com Engelmann (2002), Wertheimer chegou a conclusão que

não seria apenas uma ilusão de ótica e sim tratava-se de um processo contínuo visto como uma

Gestalt. Para o estudioso a percepção dos objetos individuais eram Gestalten e a percepção do

relacionamento entre os inúmeros objetos individuais percebidos era uma Gesltalt ou seja, uma

forma. Segundo (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2001, p. 1449), '' A Gestalt considera os

fenômenos psicológicos como totalidades organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como

configurações.''

A princípio, as Gestalten podem ser compostas em partes. Essas partes são pedaços que

compõem a Gestalt (a forma) completa. Ao fazer uma analogia, é possivel associar a Gesltalt

como um copo de vidro e a Gestalten como cacos que se despedaçaram pelo chão. Comete um

erro quem diz que ''o todo é mais do que a soma de suas partes.'' Pois a Psicologia da Gestalt fala

da soma destes elementos despedaçados. Para se perceber o copo de vidro, e compreendê-lo é

preciso conhecer os cacos, ou seja as suas partes.

A chamada Gestalt-Terapia surgiu no início da década de 50, a partir das reflexões de

Friederich Perls, um psicanalista nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a década de

40 para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde juntamente

com um grupo de intelectuais norte americanos desenvolveu esta nova abordagem.

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Hoje, adotada no mundo inteiro, significa um processo de dar forma ou configuração. Gestalt

significa uma integração de partes em oposição à soma das mesmas num todo. Este campo vem

quebrando grandes paradigmas no contexto acadêmico tanto pela suavidade quanto pela

intensidade de suas intervenções.

A partir do progresso nos estudos sobre a área, a Gestalt foi utilizada em um enfoque

psicoterapêutico tornando-se Gestalt-terapia, com objetivo de entrar em contato com os

fenômenos, com as pessoas, de forma ativa e dinâmica mostrando-se eficaz no processo de

ressignificação da vida. Para desenvolver este estudo, o artigo apresenta a história da Gestalt

como ponto de partida para melhor compreensão e apresenta a subjetividade, a construção desta

teoria em sua aplicação prática além de algumas técnicas utilizadas pelos terapeutas.

A Psicologia da Gestalt

A Psicologia da Gestalt originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912. É uma das tendências

teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores se preocuparam em

construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que

garantisse a consistência teórica.

No fim do século XIX vários estudiosos buscavam compreender o fenômeno psicológico e

suas características naturais principalmente no sentido da mensuração destas particularidades. A

psicofísica era um assunto bastante explorado na época. Ernst Mach (1838-1916), físico, e

Chrinstiam von Ehrenfels(1859-1932), psicólogo e filósofo, ampliavam uma psicofísica com

estudos sobre as sensações de espaço-forma (formato psicológico) e tempo-forma ( formato

físico) e podem ser considerados como os mais diretos precursores da Psicologia da Gestalt.

Porém esta maneira de ver o mundo não é somente empírica, mas também prática. Em um

artigo de crítica a Benussi, Koffka (1915/1938) alarga o que se pode entender por Gestalt. Koffka

propõe que em Gestalt não é apenas a experiência, mas também nas ações dos indivíduos. Cantar,

escrever, desenhar, andar são Gestalts tanto quanto a consciência de ouvir ou de olhar. “O ato

motor é um processo-de-todo organizado; os muitos movimentos individuais podem ser

compreendidos somente como partes do processo que os abraça .” (ASH, 1995; KOFFKA,

1915/1938.) Os correlatos fisiológicos da percepção e da ação, não são excitações individuais

mas eventos unificados. São, como Wertheimer o ressaltou, Gestalten.

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A Gestalt no Brasil

Ao aprofundar sobre a história da Gestalt, foi observado que inúmeros estudos

apresentaram grande diversidade de ideias para se pensar esta abordagem. Notou-se então que

cada perspectiva sobre o assunto aborda um viés particular e perceptivo diferente.

De acordo com (RIBEIRO, 2007) esta prática em estudar a História da Gestalt-Terapia foi

apresentada em Congressos, precisamente em 1991, Brasília, onde a pedido dos membros, a

estudiosa Jean Clark Juliano, de São Paulo, contou com o comprometimento e respeito aos

assuntos científicos que caracterizam a história da Gestalt-Terapia, segundo suas opiniões.

A autora ressaltou neste dia que cada sujeito conta uma história de acordo com a sua

perspectiva. Em suma, cada um conta a história que existe como o resultado do encontro, do

contato, da relação entre outros fatos pesquisados, com as peculiaridades e as crenças do

pesquisador. Afirma então que : ''Ninguém conta uma história ou faz qualquer coisa de maneira

neutra''.(RIBEIRO,2007, p.1).

A Gestalt terapia foi iniciada no Brasil por volta da década de 70, referenciando estudiosos

como Perls, Hefferline e Goodman (1997), em uma palestra pronunciada por Therése Tellegene.

A intenção desta palestra era que os Gestalt-Terapeutas estrangeiros contribuíssem para formação

do primeiro grupo de terapeutas nesta abordagem no Brasil.

Segundo RIBEIRO(2007), ainda neste período a Summus Editorial lançou os livros

Gestalt-terapia Explicada (inspiradas em transcrições de workshops realizados por Fritz Perls) e

Tornar-se Presente, de John Stevens. Já para Aguiar, a concepção de homem nesta abordagem,

aqui no Brasil ainda tem uma característica fundamental que é a visão holística, “ é a visão

integral e não fragmentada do homem e da realidade que nos cerca” (AGUIAR, p. 41, 2005).

Neste contexto muitos estudiosos assumiram papéis de grande destaque na

contemporaneidade como: Hycner (1997), Jacobs (1997), Pimentel (2003), Ribeiro(2006), Zinker

(2007) e Aguiar (2014) que explicam desde os conceitos básicos em Gestalt-Terapia, processos

grupais, processos terapêuticos, criativos e psicodiagnóstico.

A abordagem Terapêutica

Uma Gestalt é produto de uma organização e esta organização é o processo que leva a uma

Gestalt . Com isso é possível refletir que a Gestalt-terapia é integrar todos esses pedaços e partes

rejeitadas e alienadas do Self , como a personalidade, e fazer da pessoa um todo novamente.

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Perls (1951) foi fundador da abordagem Gestáltica e os conceitos que desenvolveu

assumiram papéis de grande originalidade e força. Suas obras estabeleceram linhas de teoria e

proposta clínica. O estudioso trouxe uma proposta de psicoterapia que se fundamenta em uma

visão holística sobre o homem e a sociedade, constituindo-se em uma teoria acerca de suas

relações. Segundo Alvin (2007), Perls usou como base a psicanálise freudiana, como primeira

formação, e a nova abordagem foi criada a partir de teorias psicológicas quem vêm sendo

estudadas ao longo dos anos, no âmbito da abordagem, com o objetivo de melhor fundamentar

suas origens históricas e arcabouço teórico.

De acordo com Alvin( 2007,p.2):

''Ribeiro (1985), foi o primeiro autor brasileiro a estruturar as

teorias e filosofias de embasamento da Gestalt-Terapia:

Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teoria Organísmica,

Teoria Holística, Humanismo, Existencialismo e

Fenomenologia, em um trabalho que desenha e discute os

elementos teóricos que sustentam a teoria da Gestalt-Terapia. ''

Para que a teoria da Gestalt-Terapia se sustente, esta abordagem conta com uma ferramenta

primordial, que é o diálogo.

O diálogo é considerado o evento relacional em que o sujeito se manifesta, sendo uma

interação mais específica entre pessoas, onde existe um desejo genuíno de encontrar o outro. De

acordo com Hycner (1995), esse diálogo não se restringe somente ao verbal, e a forma como

acontece não é o principal, mas sim a abertura e intenção de um encontro genuíno e mútuo. É a

partir do diálogo que se pode perceber melhor o indivíduo e se constrói o terapeuta.

A construção do Terapeuta

Goodman (1998) sugere que o terapeuta é, basicamente, uma tela de projeção na qual o

paciente vê seu próprio potencial ausente; a tarefa da terapia é a recuperação deste potencial do

paciente. O terapeuta é sobretudo um habilidoso frustrador. Embora dê satisfação ao paciente

dando-lhe atenção e aceitação, o terapeuta frustra-o recusando-se a dar-lhe o apoio de que carece.

Segundo BALLONE (2005,p 1):

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''O terapeuta age como um catalisador que ajuda o paciente a passar pelos

pontos da "fuga" e do impasse; o principal instrumento catalisador do

terapeuta consiste em ajudar o paciente a perceber como ele ou ela

constantemente se interrompe, evita a conscientização, desempenha papéis

e assim por diante. (As projeções que estão envolvidas na relação do

paciente com o terapeuta fornecem um aspecto bastante significativo da

fuga daquele, mas, como mencionamos anteriormente, outros aspectos

além dos elementos transferências da relação paciente-terapeuta também

são considerados importantes.)''.

A presença do terapeuta permite que o cliente se sinta acolhido, isso torna a experiência

mais confortável, empática, tirando o peso do cliente carregar todas as suas questões sozinho.

Esta presença torna a experiência compartilhada e menos deseperadora para o cliente. (SAFRA,

2004).

Percebe-se que o terapeuta é humano, sensível aos acontecimentos e seu encontro com o

paciente envolve o encontro de dois indivíduos, com espontaneidade, o verdadeiro contato que

consolida a relação entre paciente-terapeuta. Este pode escolher dentre vários caminhos para

entrar em contato com o cliente, como esclarece Juliano (1999), ao chamar de experimentos.

“O experimento é qualquer coisa que aumente a consciência.” (JULIANO, 1999 p.42),

pode ser algo pequeno como o espelhar de um gesto, pode ser um desenho ou a dinâmica da

cadeira vazia. A sua intensidade e dimensão irão variar de acordo com o momento daquela

interação e dependerá em grande parte da expertise do terapeuta e da sua sensibilidade para

conduzir o processo. A autora ressalta que o experimento é algo proposto de acordo com o

momento e relação específicos, diferenciando-o dos exercícios que eram tirados de livros, feitos

de maneira generalizada, sem levar em conta a singularidade de cada relação.

Outra forma de atuação para o terapeuta é o manejo de suas técnicas dentro de um grupo.

Segundo Perls (1951) a terapia individual poderia se ampliar para outros moldes. Sugeria que o

trabalho em grupos tinha muito a oferecer, quer o trabalho envolvesse explicitamente o grupo

inteiro, quer assumisse a forma de uma interação entre o terapeuta e um indivíduo dentro do

grupo. Sugeria que o grupo poderia ser extremamente valioso ao fornecer uma situação de

mundo microcósmica na qual as pessoas poderiam explorar suas atitudes e comportamentos uns

em relação aos outros. O apoio do grupo na "emergência segura" da situação terapêutica também

poderia ser bastante eficaz ao indivíduo, assim como a identificação com os conflitos e

questionamentos de outros membros e sua resolução dos mesmos. Nota-se que as trocas ao

conduzir o processo grupal, poderiam ser maiores pela multiplicidade de situações e de vivências

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que ali perpassassem no momento e a terapia em grupo poderia enriquecer o trabalho do

profissional terapeuta por fornecer uma gama inesgotável de possibilidades.

Como se constrói a Gestalt na Terapia?

De acordo com Marcolli (1977), tudo começa com um campo, este é o conceito básico

desta teoria.O campo para o sujeito seria o espaço por onde ele transita, o lugar que ele estrutura

seu ego e o mundo subjetivo.

Para entender melhor é possível fazer uma analogia. Esta construção de campo seria como

uma grande estrada onde nela se percebe duas pessoas vagando em lados opostos. As duas

pessoas estão distantes, mas vão se aproximando com o tempo. Até que um dia se encontram. As

duas pessoas páram, e uma fica de frente para a outra. Depois da distância que deturpava a visão

de ambas, se mostra a figura do terapeuta e com ele, as suas técnicas. Diante da distância que

deturpava a visão de ambas, se mostra o cliente, com um enorme conteúdo de informações sobre

a sua vida. Os dois se olham e se analisam como algo novo e estranho. O cliente olha para o

terapeuta de cima a baixo e aproxima a sua mão ao rosto. O terapeuta faz a mesma coisa, e

aproxima a sua mão ao rosto também. Quando os dois percebem que estão fazendo o mesmo

gesto acabam se identificando. Os dois quebram o silêncio e então riem de si mesmos. Quando se

estabelece um clima onde os dois se sentem a vontade acontece o encontro, que é mais uma

concepção da Gestalt.

Esta pequena metáfora ajuda a compreender um pouco sobre um universo das grandes

possibilidades, em que o terapeuta se permite viver e demonstrar as suas emoções. Já para o

paciente, esta ação pode se construir como fruto da empatia e assim favorece o relacionamento de

ambos no tratamento Psicológico. Vale ressaltar que esta relação de troca no processo terapêutico

deve ser respeitada de acordo com os princípios éticos sobre a conduta do Psicólogo.

Figura e Fundo

Wertheimer, Koftka e Kohlfer (1912) permitem ao Gestaft-Terapeuta compreender como

figura, as necessidades que mobilizam o sujeito para ação, jamais esquecendo que estas são

partes de um fundo e que figura-fundo unificados formam um todo, que se assemelha ao mundo

existencial do sujeito. Para contextualizar é possível imaginar uma pessoa caminhando por uma

longa estrada durante várias horas. Depois de um certo desgaste, o sujeito não consegue mais

prestar atenção na paisagem em sua volta pois ao sentir-se cansado, percebe as batidas ofegantes

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do seu coração e acaba parando para respirar. Neste momento a figura é o seu cansaço, as batidas

rápidas de seu coração e o fundo é a estrada, o sol, a paisagem, o caminho. Do todo, uma parte

emerge e vira figura, ficando o restante indiferenciado ou em um fundo.

O Insight

A Gestalt-Terapia também trabalha com o Insight que significa ter a resposta repentina para

um determinado problema. Seria como uma luz que acendesse na cabeça e assim seria possível

obter uma saída para solucionar uma determinada questão.

Thorndike (1898) havia publicado nos Estados Unidos, um trabalho realizado

principalmente com gatos e cães, no qual demonstrava a longa aprendizagem para abrir uma

porta, atrás da qual se encontravam alimentos. A tradução teórica dessa aprendizagem era a união

associativa entre impressões sensoriais e impulsos motores. A investigação de Thorndike

representava o entretanto, os experimentos mais interessantes foram aqueles nos quais os

chimpanzés se encontravam numa situação no qual o alimento, a banana, era posto fora do seu

alcance. Procuravam diversas soluções e repentinamente o desfecho chegava. É o “Einsicht” ou

sua tradução inglesa insight. Essa palavra inglesa foi importada por diversas línguas, inclusive

por nosso português.

O critério de insight é o aparecimento de uma solução completa com relação à estrutura do

campo, como disse Köhler (1917/1927). O chimpanzé, após o insight, realiza genuinamente o

caminho que leva à solução do problema, inclusive utilizando utensílios para a nova função ou

até inventando-os. Para Ash (1995) e Köhler (1917/1927) o insight era uma solução

momentânea. Os psicólogos da Gestalt não são nativistas. Entretanto, a solução de um problema

requisita exclusivamente uma reorganização do campo para o sujeito. O que importa a esses

psicólogos são os fatos que emergem no presente. Mas o termo foi fielmente utilizado por

terapeutas Gestaltistas em suas análises e um dos mais importantes termos utilizado nas

psicoterapias. Deste modo, quando um cliente consegue superar algum problema dizemos que

este “Fechou Gestalt’’ em tradução para a elaboração de alguma questão que bloqueava o

contato do cliente de uma maneira mais saudável com o mundo externo.

A Abordagem Gestáltica como Disciplina nas Universidades

Nota-se que a abordagem Gestáltica vem crescendo cada vez mais em seu campo de

atuação ao mostrar a sua importância como Ciência na formação dos estudantes em Psicologia.

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Com isso, nota-se que as percepções e contribuições da Gestalt-Terapia são fundamentais para o

mundo acadêmico,trazendo uma nova visão de mundo, que vem graduamente e se tornando

reconhecida. No entanto, ainda é preciso solidificar o seu espaço nas Universidades, ampliando

seus estudos para que suas perspectivas possam atingir mais pessoas através de suas concepções

e funcionalidades no mundo contemporâneo.

Ao observar o quadro de disciplinas acadêmicas, verifica-se a maior divulgação de outras

abordagens percursoras da Psicologia, assim como as abordagens mais objetivas. No entanto,

com a grande ênfase nestas áreas, o investimento nas abordagens teóricas mais questionadoras e

existenciais foi deixada em posição de fundo, sendo caracterizada com disciplina alternativa.

De acordo com os estudiosos :

''[...] A emergência de uma abordagem terapêutica que privilegiava o aqui-e-agora, a

expansão de consciência e a idéia de um contato pleno encontra ecos favoráveis,

ainda que equívocos tenham sido cometidos e que algumas distorções tenham trazido

mal entendidos nada promissores para a nossa abordagem.'' (PRESTRELO;

QUADROS; 2011,p,177-184)

É importante adotar práticas que afirmem o lugar da abordagem Gestáltica no lócus

acadêmico, proporcionando um ambiente que estimule a ampliação da consciência dos alunos a

fim de observar os fenômenos situacionais que envolvem os seres humanos em diferentes esferas

e complexidades.

PRESTRELO ; QUADROS (2011,p.177-184) acrescentam que:

''A contemporaneidade e o arrojo dessas bases propostas revelam uma

possibilidade mais humanizada para a psicologia que, ao nosso ver, pode se

“desamarrar” do compromisso de se afirmar como ciência dura e

dogmática.

Torna-se falha ou inacabada a prática da Gestalt como abordagem clínica nos estágios

supervisionados se não houver uma fundamentação teórica consistente enquanto disciplina para

que seja possível fazer com que o estudante entre em contato com este novo campo científico de

maneira saudável e construtiva.

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Nota-se que os supervisandos da clínica na perpectiva Gestáltica, se sentem ansiosos e

despreparados para iniciar uma prática sem aprofundar-se nas teorias e no manejo das

intervenções em Gestalt-Terapia.

De acordo com (SOARES; 2009,153):

“Acompanhando os alunos ao longo das disciplinas teóricas da graduação

em Psicologia, observamos a ansiedade crescente em verem aproximar-se o

início do estágio no SPA. Os sentimentos e as fantasias são as mais

contraditórias: desejo, medo, ousadia, sucesso, fracasso, impasses, abandono

pelo cliente, agressões, rejeições, silêncio, etc. Tudo isso vai sendo expresso

mais ou menos claramente, como que se pedissem um aval ao mestre,

esperando um sinal de reconhecimento de prontidão para os futuros

atendimentos.''

Com isso, se faz necessário clarificar e pontuar os conceitos básicos da Gestalt-Terapia

como forma de possibilitar o primeiro contato com a disciplina no intuito de proporcionar a

compreensão de uma nova visão de mundo, realidade, e fenômenos psicológicos.

Conceitos Básicos

Os teóricos de Gestalt-Terapia propuseram uma série de princípios para percepção, tais

como: Proximidade, semelhança, direção, disposição objetiva e destino comum. Também como

conceitos básicos destacam-se: O Todo e a Parte; Figura e Fundo; Aqui e Agora, Campo,

Estrutura e Forma. Outros conceitos ou mecanismos básicos são, a Agressividade, o Ajustamento

Criativo, Auto-Regulação Organísmica, Awarreness ,Bloqueio de Contato,entre outras

estruturações.

Em síntese, abaixo segue a definição sobre alguns conceitos estudados nesta aborgagem .

O campo segundo Marcolli (1977), como já mencionado, é um espaço que apresenta

algumas características sustentadas em todos os seus pontos; o espaço de uma folha de papel

ofício ou a tela de um pintor, são campos, tal como é uma parede a ser pintada, o caminho, a

estrada, uma festa pode ser um campo vivencial. A noção de campo está ligada a noção de

tempo. No meio de uma festa quando um rapaz quer se aproximar de uma moça , a ação decorre

em determinado tempo -leva tempo a percorrer, com o olhar, o trajeto de chegar até a moça, as

suas inseguranças no momento, até a percepção sobre o ambiente, e as pessoas que estão na festa.

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A estrutura, seria a maneira como se organizam as partes de um todo. E a forma faz parte deste

campo visual que se isola e se destaca. Se o sujeito estiver na festa, mas estiver depressivo,

cabisbaixo, triste, introspectivo, com a atenção voltada para si, a sua percepção sobre o ambiente

de fato será diferente das outras pessoas.

De acordo com Ribeiro (2006) ao descrever o conceito de Agressividade,este temperamento

pode ser negativo quando as pessoas usam este instinto agressivo de maneira inapropriada. A

depressão, por exemplo, é uma típica situação de perda de agressividade diante das dificuldades

que o mundo nos apresenta diante das quais perdemos a capacidade de reagir. Alguns dos

bloqueios de contato, sobretudo a deflexão (desvio, deslocamento) a confluência e a introjeção

são situações clássicas de perda da agressividade. Já a projeção sendo acentuada, implica no seu

uso indevido.

A agressividade positiva é trabalhada no indivíduo para que ele possa se recuperar

gradualmente destes anseios, para que ele signifique a presença, o diálogo e necessidades

pessoais como forma reflexiva de ajustamento criativo.

O Ajustamento Criativo segundo (RIBEIRO,2006):

''É o processo pelo qual o corpo-pessoa, usando a sua espontaneidade

instintiva, encontra em si, no meio ambiente, ou em ambos soluções

disponíveis, as vezes, aparentemente não claras para se auto regular.[...]

Somos sempre afetados por variáveis não psicológicas, como a altura, o

calor, o tamanho e o peso.''

Se o sujeito perceber que aquela introspecção não levará a nada, e resolver dançar, nota-se

que o mesmo ajustou-se criativamente.

O ajustamento criativo é a forma de adaptar-se ao meio, utilizando ferramentas mentais, de

forma intrínseca, achando alternativas para atingir algum objetivo ou resolução de alguma

questão. Cada pessoa ajusta-se de alguma forma de acordo com seu campo vivencial, ou seja,

com as suas experiencias de vida e maneira de encarar a vida, de acordo com seu valores e

emoções.

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Auto-Regulação Organísmica

A teoria de auto-regulação organísmica de Goldstein (1995) é bastante próxima ao estudado

por Kurt Lewin na sua Teoria de Campo, sendo um dos princípios da abordagem gestáltica. Perls

(1998), realmente acreditou nesta proposição, pois grande parte dos resultados das observações e

conceitos estudados por Kurt Goldstein, foram adaptados por Perls para explicar a visão de

homem global da Gestalt Terapia. Para o autor , a auto-regulação organísmica é a forma do

organismo de interagir com o meio, segundo a qual o organismo pode se atualizar, respeitando a

sua natureza, da melhor maneira possível É a capacidade de se auto-regular conforme a

necessidade do próprio organismo,no aqui e agora.Este lidar com o mundo externo pode

acontecer através das reações de aceitação e adaptação, e também através de ações de fuga e

rejeição do indivíduo.Quanto o sujeito sente-se ameaçado frente à alguma situação conflituosa , a

retirada do contato é uma tentativa de adaptação do organismo.Esta noção de fuga, de resistência,

como respostas de manter o equilíbrio, é claramente levada para o campo conceitual da Gestalt

terapia.

Awareness

Segundo Cardella (2002) a awareness é a tomada de consciência do individuo sobre aquela

questão que vai possibilitar o seu crescimento através de processos de ajustamento criativo.

É a partir da diferenciação do que é saudável e do que é nocivo e da consequente

introjeção ou rejeição, que o organismo irá se ajustar. É esta tomada de consciência que permite o

sujeito reconhecer a sua necessidade atual e responder a ela, para que uma outra possa surgir, é

ela que permite que uma gestalt seja fechada para que outra seja aberta. Uma awareness quando

não ampliada irá prejudicar esse processo de formação de gestalt e, consequentemente, o

crescimento do individuo já que ele perderá a sua capacidade de perceber suas necessidades para

satisfazê-

las, acumulando grande número de situações inacabadas no seu fundo. A Awareness é um

momento de encontro com a totalidade, que busca sempre as mais variadas formas de ampliação

de consciência.

Awareness é um caminho de mudança, um processo de integração harmoniosa pessoa-

mundo, de tal modo que fica na pessoa a sensação de fim de linha, de chegada de uma longa e

difícil viagem e, sobretudo, uma sensação de completude, de um chão fecundo em que as

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sementes já podem germinar. Estar reflexivamente consciente de si mesmo no mundo é ter

encontrado respostas de cujas perguntas pouco ou nada se sabia. (Ponciano,2006, p.76):

O Bloqueio de Contato

Segundo Scherpp (conforme citado por Mendes;Baratieri, 2011) o contato ocorre em três

níveis de ação sendo estes emocionais, cognitivos e comportamentais. O contato acontece no

limite em que o homem e o meio externo se tocam, porém este limite de contato pode ser

psíquico ou físico. De acordo com Mendes e Baratieri (2011) é na fronteira de contato que a

interatuação entre o organismo e o meio ambiente ocorre, é onde há a troca simultânea e

recíproca em que homem e mundo se transformam. O contato e fronteira de contato, podem

ocorrer por exemplo quando um rapaz tem interesse em iniciar um diálogo com uma moça que

está a sua frente. Ele chega perto dela, e a única forma de fazer-se perceber naquele momento

seria falando com ela. Então, o rapaz vai cumprimentar a moça. Se a moça responder, eles

estariam iniciando um contato, e durante esta conversação, seria percebida a fronteira de contato

pois os dois estariam interagindo. Desta maneira, o rapaz poderia satisfazer a sua necessidade

pois sua intenção de falar com a moça fora alcançada. Já o bloqueio de contato seria se esta troca

não ocorresse entre uma das partes.

Se o rapaz pensasse que não seria digno de falar com a moça por não achar-se interessante,

inferior ou não ter habilidades sociais suficientes para chegar até ela o bloqueio de contato estaria

instaurado a partir das experiências vivenciais e valores que fazem parte de sua estrutura

psíquica, e este contato não aconteceria de forma satisfatória ou simplesmente não aconteceria.

Essa estratégia seria chamada de resistência. Segundo Ribeiro (2006) diante da

impossibilidade de satisfazer as necessidades e realizar contato, a evitação do contato também é

uma forma de resistência, o organismo recorre a estratégias que assegurem sua integridade e sua

sobrevivência. Por isso, para captar todo o funcionamento do sujeito, é preciso compreendê-lo

em sua totalidade, e ser flexível para perceber suas nuances e fortalecer o Eu do cliente.

A flexibilidade e a Subjetividade

Ribeiro (2006), afirma que uma das ferramentas da Gestalt é usar o tempo presente para

trabalhar os anseios do cliente no aqui e agora .É de acordo com este tempo que o terapeuta vai

trabalhar, agora, no presente. Quando o cliente e terapeuta se envolvem em um processo

dinâmico para compreender o funcionamento do mundo interno do cliente, as intervenções se

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tornam mais ativas e questionadoras. A Gestalt-Terapia se mostra flexível pois não desqualifica o

uso de outras intervenções não comuns à sua abordagem, portanto que seja fundamentada e caiba

naquela situação, se tornando eficaz e funcional dentro do processo terapêutico.

O cliente pode externalizar seus sentimentos e suas angústias, pode falar ou demonstrar

seus medos. A partir desta perspectiva é possível ver como o cliente percebe o mundo e como

lida com seus conflitos.. Assim, o terapeuta consegue analisar a questão para ser trabalhada no

momento e acessar seu mundo subjetivo.

Segundo Ribeiro (2006), cada situação da vida é experimentada de maneira diferente, pois

cada um se estrutura a partir de suas experiências de vida que é individual. Tudo perpassa pela

subjetividade. A subjetividade é para Antony e Ribeiro (2005) o que diferencia e separa um

indivíduo dos demais, tornando-o único em sua totalidade. Dessa forma, também ocorre o

adoecimento tanto com relação à percepção sobre o que é adoecer e sua a importância, quanto à

maneira de enfrentá-la .

Confome Silvia e Boaventura (2011) apontam, a subjetividade permeia todas as questões,

pois é ela que estrutura e delimita as escolhas e caminhos a serem seguidos. É através dela que

entende-se como é o mundo interno do sujeito e como ele se relaciona com o meio. Percebe-se

então o que é a figura e o que é o fundo. A subjetividade também é uma construção pessoal.

Silvia e Boaventura (2011) consideram que :

A Gestalt é uma teoria que considera os fenômenos psicológicos como um conjunto

autônomo e articulado na sua configuração, cada um tem uma maneira própria de entender o

mundo que se dá principalmente pela percepção e pela experiência. O ser humano é único e seus

fenômenos são próprios do indivíduo.

É preciso compreender o sujeito em sua totalidade como um ser integral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao seguir a máxima da Gestalt:

Eu sou eu, você é você. Eu faço as minhas coisas e você faz as suas

coisas. Eu sou eu, você é você. Não estou neste mundo para viver de

acordo com as suas expectativas. E nem você o está para viver de acordo

com as minhas. Eu sou eu, você é você. Se por acaso nos encontrarmos, é

lindo. Se não, não há o que fazer. (Perls,1969)

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A Gestalt-Terapia compartilha o questionamento sobre o que é a vida para o sujeito, como

se formam as suas escolhas, abrindo um leque de possibilidades para que o indivíduo possa se

auto-regular. Na Gestalt, tudo acontece a partir do encontro genuíno, ''se não, não há nada a

fazer.'' (Perls,1969).

A abordagem evidencia como o sujeito reage diante de alguma questão que possa bloquear

a sua capacidade de fazer contato com o mundo externo ou inibir a construção de seu

ajustamento criativo. Cada situação vivenciada pelo indivíduo depende de como foi estruturado o

seu mundo interno e o que ele vai fazer com esta gama de experiências adquiridas.

A Gestalt-Terapia tem como objetivo desconstruir, junto com o cliente, cada vez mais as

expectativas que não fazem mais sentido para o próprio sujeito de modo a reorganizá-lo de forma

saudável. Esta abordagem visa apontar o caminho, e não direcionar o cliente para qual caminho

seguir, mostrando-se totalmente flexível mas firme diante das suas intervenções. Este campo é

atraente, pois proporciona um grande conforto para o terapeuta ao conduzir a psicoterapia tanto

para o cliente ao se sentir acolhido. Quando este clima favorável se instala na relação entre

ambos podemos dizer que houve o encontro, ou seja, a Gestalt.

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