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ALINE PEIXOTO GRAVINA SUJEITO NULO E ORDEM VS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: um estudo diacrônico-comparativo baseado em corpus Campinas, 2014 i

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  • ALINE PEIXOTO GRAVINA

    SUJEITO NULO E ORDEM VS NO PORTUGUSBRASILEIRO:

    um estudo diacrnico-comparativo baseado emcorpus

    Campinas,

    2014

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  • ALINE PEIXOTO GRAVINA

    SUJEITO NULO E ORDEM VS NO PORTUGUSBRASILEIRO:

    um estudo diacrnico-comparativo baseado emcorpus

    Tese apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da

    Universidade Estadual de Campinas para a obteno do

    Ttulo de Doutora em Lingstica.

    Orientadora: Prof . Dr Charlotte Marie Chambelland Galves

    Campinas,

    2014

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  • ResumoNesse trabalho foi elaborado um estudo comparativo-diacrnico a respeito do

    uso do sujeito nulo e da inverso do sujeito no PB e no PE, a partir de um corpuscomposto por jornais que circularam na primeira e segunda metade do sculo 19 e naprimeira metade do sculo 20 nas cidades de Ouro Preto no Estado de MinasGerais/Brasil e na cidade de vora no Distrito de vora/Portugal. Os jornais utilizadospara este estudo foram os seguintes: O Recreador Mineiro (1845 1848); O JornalMineiro (1897 1900) e Tribuna de Ouro Preto (1945 1948) no Brasil e A Illustraoluzo-brasileira (1856-1858); O Manuelinho de vora (1890-1898) e Notcias de vora(1945-1948). Para efetuar as descries dos fenmenos estudados, foram analisadasmais de 14 mil sentenas desse corpus. Nosso objetivo nesta tese foi o de averiguar edescrever a relao entre o sujeito nulo e a inverso do sujeito na diacronia do PB,atravs de um estudo comparativo com dados do PE. Para respaldar e explicar a relaoentre sujeito nulo e inverso, seguimos a proposta de Holmberg (2010) a respeito dapresena/ ausncia de traos-D no interpretveis em T para as lnguas de sujeito nuloconsistente e para as lnguas de sujeito nulo parcial, respectivamente. Os resultadosquantitativos mostraram que a gramtica do PB sofreu uma mudana no que diz respeitoao uso de sujeito nulo: perdido a caracterstica de uma lngua de sujeito nulo consistentee adquirido propriedades de uma lngua com sujeito nulo parcial. Verificou-se nos dadosum auto preenchimento do sujeito com o decorrer do tempo por meio de uma estratgiaque denominamos de Sujeito Lexical Anforico. A mudana de gramtica de sujeitonulo entre o PB e o PE foi constatada em nossos dados medida que o nmero desujeito nulos encontrados em PE permaneceu com alta porcentagem e constante emtodos os perodos e ambientes sintticos analisados . Alm disso, o PE no apresentouqualquer necessidade de uso de estratgias de preenchimento como foi atestado em PB.A realizao do sujeito nulo com primeira pessoa apresentou um comportamentodiferenciado do sujeito nulo de terceira pessoa nos dados do PB, o que refora ahiptese de o PB ser uma lngua de sujeito nulo parcial (Rodrigues, 2004). Em relao inverso do sujeito, quantitativamente, os resultados no apresentaram diferenas entreuma lngua e outra. Observou-se que tanto em PB quanto em PE, a inverso do sujeitocom verbos inacusativos um ambiente produtivo na diacronia. Entretanto, no PB,observou-se que a ordem VS em inacusativos ocorre preferencialmente com algumelemento, seja ele locativo ou adverbial, preenchendo a primeira posio da sentena.Com verbos transitivos, a ordem que apresentou maior nmero de ocorrncia nodecorrer do tempo foi a ordem VOS no PB. Os objetos presentes nessas construes noso referenciais, Pilati (2002;2006), e verificou que toda a sentena pode ser focalizada,em outras palavras, toda a sentena a informao nova. A consequncia dessa anlisepara a derivao a de que todos os elementos estejam em uma posio mais alta.Diferentemente do PE, que na ordem VOS tem a interpretao de foco apenas nosujeito. A consequncia para derivao que o objeto faz um movimento via scramblingpara uma posio intermediria no TP e produz assim a ordem VOS em posio maisbaixa que o PB.Palavras-chaves: 1) Sujeito Nulo Parcial 2) Inverso do Sujeito 3)Lingustica Histrica

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  • Abstract

    Our goal in this dissertation is to diachronically examine and describe the relationbetween null subject and subject inversion in Brazilian Portuguese (BP), through acomparative study with data from European Portuguese (EP) . In order to do so, wehave assembled a corpus of Brazilian newspapers- O Recreador Mineiro (1845 1848);O Jornal Mineiro (1897 1900) e Tribuna de Ouro Preto (1945 1948)- andPortuguese newspapers- Illustrao luzo-brasileira (1856-1858); O Manuelinho devora (1890-1898) e Notcias de vora (1945-1948). More than 14,000 sentences wereanalyzed to describe the studied phenomena. To support and explain the relationbetween null subjects and subject inversion, we follow Holmbergs (2010) proposal.The author argues that in consistent null subject languages there is an uninterpretable D-feature in T, absent in partial null subject languages. The quantitative results showedthat BP grammar underwent a change with regard to the use of null subjects: it lost thefeatures typical of a consistent null subject language and acquired properties typical of apartial null subject language. We have found out that anaphorical lexical subjects areone of the strategies to realize the subject position in the BP database. A change in thegrammar of null subjects in the BP data is observed from their respective numbers whencompared to those of EP, which have remained constant, with a high frequency duringall periods analyzed according to their syntactic environments. Furthermore, EP showedno strategies to fill the subject position as was attested for BP. The different realizationof first person null subjects vis--vis third person null subjects in the BP data reinforcesthe hypothesis that BP is a partial null subject language (Rodrigues, 2004). With respectto subject inversion, the results showed no significant differences between one languageand the other. Despite both BP and EP display subject inversion with unaccusative verbsproductively throughout their diachronies, in BP it occurs preferentially with someelement filling the sentence first position, with either locative or adverbial value. Withtransitive verbs in BP, the most frequent word order over time is VOS, where O is notreferential, according to Pilati (2002, 2006). Once we argue that in those cases, thewhole sentence is new information - thus presenting large focus projection - allelements end up in a high position in the derivation. On the other hand, VOS order inEP, presents narrow focus as the sentence subject. The consequence for the syntacticderivation is that the object moves via scrambling into an intermediate position inSpec,TP. In other words, the derivation of VOS order in EP involves movement to alower position if compared to the one targeted in BP.

    Keywords: Partial Null Subject; Subject Inversion; Historical

    Linguistics

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  • SumrioIntroduo..................................................................................................................27Captulo 1...................................................................................................................33O Parmetro do sujeito nulo e ordens VS.....................................................................331.1 Caracterizao do parmetro pro-drop.................................................................33

    1.2 - O parmetro topic-drop...................................................................................401.3 - A formalizao de pro no programa minimalista...............................................431.4 A proposta de Holmberg (2010).......................................................................50

    1.4.1 Proposta de derivao de sujeito nulo nas lnguas de sujeito nulo consistente e nas lnguas de sujeito nulo parcial....................................................54

    1.5 O Sujeito nulo no Portugus Brasileiro.............................................................561.6 Estudos sobre a ordem VS...............................................................................65

    1.6.1 O fenmeno da inverso do sujeito...........................................................651.7 Tipos de inverses...........................................................................................72

    1.7.1 - Inverso inacusativa.................................................................................721.7.2 inverso germnica...................................................................................751.7.3 Inverso romnica.....................................................................................76

    1.8 VS em portugus europeu................................................................................761.9 VS em portugus brasileiro..............................................................................82

    Captulo 2...................................................................................................................89Construo do corpus histrico e metodologia de estudos dos dados......................89

    2.1 Corpora............................................................................................................892.1.1 A Illustrao luso-brazileira e O Recreador Mineiro .................................912.1.2 O Manuelinho d vora e Jornal Mineiro.................................................942.1.3 Notcias de vora e O Tribuna de Ouro Preto............................................97

    2.2 Transcrio do Corpus....................................................................................992.3 eDictor...........................................................................................................1032. 4 Corpus Draw/Corpus Search.........................................................................1082. 5 Metodologia de Classificao dos Dados......................................................114

    2. 5.1 Classificao dos tipos de sujeitos no PB e no PE..................................1142. 5.2 Seleo e Classificao dos dados sobre inverso no PB e no PE ..........119

    2. 6 Resumo do Captulo.....................................................................................122Captulo 3..................................................................................................................125O sujeito nulo no portugus brasileiro e no portugus europeu: resultados do corpus........................................................................................................................125

    3.1 Revisitando Gravina (2008)...........................................................................1253.2 Sujeitos nulos e Preenchimentos no Portugus Europeu.................................1313.3 Anlises e comparaes dos resultados entre PB e PE....................................1353.4 Caractersticas do sujeito nulo no PB e no PE nos textos de jornais...............136

    3.4.1 O uso da primeira pessoa nos textos de jornais........................................1373.4.2 Oraes WH.........................................................................................1423.4.3 Oraes completivas verbais..................................................................1463.4.4 Oraes adjuntas finitas..........................................................................151

    3. 5 Discusso sobre o sujeito nulo parcial nos dados do PB...............................1523. 6 Resumo do captulo.....................................................................................161

    Captulo 4...................................................................................................................163Inverso do sujeito e sujeito nulo parcial : resultado do corpus e proposta de anlise. 163

    4.1 Resultados das ordens SV versus VS............................................................1634.2 Metodologia da apresentao dos dados.........................................................1694.3 Sentenas com verbos em construes parentticas........................................171

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  • 4.3 Sentenas interrogativas .................................................................................1734.5 Inverses com verbos inacusativos.................................................................1754.6 Inverses com verbos transitivos....................................................................1804.7 Inverses com verbos estar/ficar.....................................................................1884.8 Inverso do sujeito com verbos inergativos...................................................1894.9 - Sujeito nulo e inverso no PB ........................................................................191

    4.9.1 Apresentaes gerais da proposta de Holmberg (2010)............................1914.9.2 Proposta de derivao para lnguas de Sujeito Nulo Consistente ..............1924.9.3 Proposta de derivao para lnguas de Sujeito Nulo Parcial ....................194

    4.10 Sujeito nulo parcial e restries de inverses no PB: proposta de anlise.....1954.10.1 Anlise do sujeito nulo de primeira e segunda pessoa no Portugus Brasileiro............................................................................................................197

    4.11 Resumo do Captulo.....................................................................................205Consideraes finais.................................................................................................207Referncias Bibliogrficas........................................................................................215Anexo 1.....................................................................................................................223

    Buscas realizadas....................................................................................................225Anexo 2.....................................................................................................................227

    Amostra de Resultados de buscas...........................................................................229

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  • minha me, Antonia, ao meu pai, Samuel (Ad infinitum ), ao meu irmo,Antoniel e ao meu marido Renato.

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  • Agradecimentos

    O processo de elaborao de uma tese bastante rduo e demorado, mas ao mesmotempo gratificante. Portanto, ao finaliz-lo, o mnimo agradecer a todos aqueles quedireta e/ou indiretamente contriburam para essa realizao.Primeiramente agradeo a Deus pela fora e por permitir que eu sinta sua presena emminha vida.

    professora Charlotte, orientadora dessa tese, um agradecimento especial: obrigadapela pacincia, pelos ensinamentos acadmicos e pessoais, pela dedicao na orientaoe principalmente pelo voto de confiana ao continuar me orientando, mesmo emperodos de distncia e situaes conturbadas pelas quais passei.

    professora Flaviane Fernandes-Svartman , agradeo pela orientao no trabalho dequalificao de rea e pela ateno especial dispensada em todo processo para apublicao do artigo.

    professora Maria Clara Paixo de Sousa e ao professor Aroldo Leal Andrade,obrigada por compartilhar comigo os conhecimentos cientficos e, sobretudo, por amboster aceitado participar das bancas de qualificao e agora da defesa da tese. Agradeoainda Maria Clara pelos ensinamentos repassados em sala de aula e por ter aceitadofazer parte de minha trajetria acadmica. Ao Aroldo, agradeo pela amizade, pelaagradvel companhia em conversas formais e informais e por ser um exemplo dedeterminao e competncia.

    Agradeo ainda s professoras Snia Cyrino, Elosa Pilati, Maria Aparecida Torres deMorais, Cristina Schimit e Marilza de Oliveira por to prontamente terem aceitadoparticipar da banca de defesa desta tese.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq pelos 15meses de apoio financeiro.

    Aos funcionrios Cludio, Miguel e Rose da ps-graduao, obrigada pelas informaesrepassadas e por toda ajuda dispensada nesses quase 8 anos, somando mestrado edoutorado. Agradeo de maneira geral instituio Unicamp/IEL por toda estruturaconcedida para que este trabalho pudesse ter qualidade, desde bibliotecas muito bemmontadas at financiamentos para participao em eventos internacionais que muitocontriburam para minha formao profissional e pessoal.

    Sempre disse ao Pablo Faria que ele teria uma pgina inteira de agradecimentos emminha tese, infelizmente no poderei cumprir a promessa de forma literal, mas saibaque os meus agradecimentos extrapolam essa pgina que escrevo. Na verdade elescomeam na introduo desta tese e terminam no ltimo pargrafo da concluso, poissem sua ajuda tcnica, essa tese no teria sado. Mais uma vez: muito obrigada pelaajuda a qualquer hora ou distncia (voc fez at assistncia remota), pelas companhiasnos cafs e almoos e pelas contribuies nas discusses acadmicas.

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  • Nestes 5 anos de doutorado foram muitos acontecimentos e reviravoltas, tanto pessoaisquanto profissionais. Peo licena para continuar os agradecimentos a pessoas que estoindiretamente ligadas a esta tese e que de alguma forma contriburam para que estadefesa fosse realizada:

    FAMLIA

    Ao meu pai Samuel por ter me ensinado a generosidade, a bondade e a acreditar naspessoas. Alm de ter sido exemplo de simplicidade e humildade em minha vida. Suapartida repentina na fase final desta tese foi (e ainda ) dolorosa, no entanto, no meretirou a fora para finaliz-la, pois mesmo sem entender muito bem o que significavaem termos tcnicos um doutorado, ele tinha orgulho de contar a todos o que a filhafazia. Mesmo no estando presente materialmente, sei que espiritualmente ele estcomigo e sentir essa vitria tambm como sua.

    minha me Antonia, incentivadora e motivadora de minhas conquistas. Ela quesempre sonhou ter uma filha com um Dr antes do nome, agora poder ver esse sonhorealizado. Concordo que no bem um Dr na rea que ela esperava, nem usarei jalecobranco em minha profisso, mas no fundo, no fundo, ela tambm tem seu dedinho deculpa na escolha dessa rea, pois aos 6 anos de idade, ela me deu um quadro negro e noum estetoscpio (risos).

    Ao meu maninho Antoniel que se revelou um ser humano p no cho, objetivo epragmtico (no toa que ser engenheiro). Em um dos momentos de mais difcilescolha da minha vida, foi ele quem fez a anlise mais realista da situao e teve umimportante papel em minha ida para Laranjeiras.

    Ao meu amigo, companheiro, namorado, amante e agora marido, Renato. Obrigada portodo apoio e incentivo nesta longa jornada acadmica. Nestes 11 anos juntos, tenhoaprendido muito contigo. Saber que posso sempre contar com sua ajuda e seu carinho reconfortante e me d foras para seguir em frente. Te amo!

    Segundo o ditado, amigos so a famlia que escolhemos, dessa forma, aproveito esteespao para agradecer s amigas Natlia (Nath) e Veronique (Verol), que mesmoestando distantes sempre se fazem presente em minha vida. Agradeo ainda aoLeonardo (Lo) pela pacincia e por liberar sua esposa (Nath) para nossas longasconversas. Aos casais: Knia e Douglas, Giselle e Roni, Maira e Claudenilson (Denin),pessoas especiais em minha vida com as quais sempre posso contar em qualquermomento.

    CAMPINASMorei em Campinas de 2006 a 2010 na moradia estudantil com pessoas que quero levarcomigo por toda a vida. Julie a minha amiga-irm-colombiana. Todos os momentosvividos ao seu lado foram intensos e inesquecveis. Ouvir suas histrias, seus anseios ever suas vitrias me fazem muito feliz! Minha eterna mocinha-vil! Lili , que com suapersonalidade forte e espontaneidade me permitiu vivenciar um pouco mais de sua vidae de suas piadas, uma comdia a cada dia, companhia mais que agradvel. Kassandra, anordestina que me apresentou ao mundo Unimcap de uma outra forma, bem maishumana e companheira.

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  • No posso deixar de agradecer s novas moradas da I2, hoje H2, Simone, Mari, Julianae Fernanda, meninas generosas que me acolheram e receberam muito bem no perodoque precisei de hospedagem. Desculpe-me por qualquer incmodo e saibam que semprepodem contar comigo.

    Pelas discusses profcuas tanto acadmicas quanto no acadmicas e principalmentepela amizade arcadiana estabelecida, agradeo Llian, Julia, Marcos e Karla. Semvocs, esse doutorado no teria esse saudosismo que sinto agora...

    No posso deixar de mencionar outros amigos feitos no IEL que tambm me trazemboas recordaes e aprimoraram meu aprendizado cientfico e pessoal. No possoesquecer-me de Gilclia (Gil), Aquiles e Rita de Cssia (amigos do mestrado para a vidatoda), Priscila Toneli (obrigada pela amizade e por topar ser informante do trabalho dequalificao de rea), Adriana Gazola(um anjo que me abriu as portas para emprego emcampinas, quando precisei), Carlos Felipe, Elisngela, Gustavo, Sabrina, Andr, Pauloe Vvian (obrigada pelas contribuies para entender a teoria minimalista no grupoGEMI), Ana Luza (nunca esqueo aquele bolo maravilhoso que voc fez em meuaniversrio), Ana Amlia (obrigada pela super ajuda nesse ano que passou), TatianeMacedo, Juliana Tranin, Lvia e mais recentemente Lus (companheiros de projetoTycho Brahe).

    LARANJEIRAS DO SUL

    A partir de maio de 2010, iniciei minha jornada como docente na Universidade Federalda Fronteira Sul. Ao me mudar para a cidade de Laranjeiras do Sul, no Paran, fui muitobem acolhida por meus colegas e sempre fui incentivada para a finalizao destetrabalho. Gostaria de agradecer principalmente ao diretor do campus Paulo Mayer, e aosprofessores que passaram pela coordenao acadmica, respectivamente, AlexandraFillipak, Betina Muellbert e Cladir Teresinha por nunca terem apresentado qualquerempecilho para as orientaes em Campinas. Agradeo ainda aos professorescoordenadores de curso de Engenharia de Alimentos, Ctia Tavares, CinciasEconmicas, Luis Cludio, e Educao do Campo, Joaquim Gonalves por todo apoio.

    Dentre s amizades laranjeirenses, no posso deixar de destacar minha amiga Vanda.Ouvinte de teorias lingusticas diferentes das estudadas por ela, confidente dosmomentos alegres e tristes, conselheira das horas difceis, psicloga das conversasexistenciais ou, simplesmente, a vizinha das conversas leves que dividimos, ela daporta e eu da minha janela!

    preciso ainda agradecer a agradvel companhia dos colegas acadmicos pelas trocasde aulas e, claro, pelas vrias situaes extra-universidade, tais como jantares, almoos,festinhas, viagens e encontros que fizeram a vida laranjeirense menos lost etornasse menos pesada a escrita da tese. Dentre esses colegas no posso deixar demencionar: Thiago, Fernanda, Diego, Ricardo, Edemar, Larissa, Eduarda, Henrique,Ctia, Humberto, Bruno, Carol, Marcela, Felipe, Josimeire, Josuel e Alexandre Manoel.

    Agradeo ainda pela pacincia e insistncia das amigas da academia para me tirar decasa em dias sombrios e nada produtivos em que precisava de um pouco mais luz (emtodos os sentidos): Marileuza (Mari), Flaviane (Flavinha) e Suelen, sem vocs, comcerteza eu estaria mais gorda e menos feliz!

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  • Lista de FigurasFigura 1: Descrscimo do uso do sujeito nulo no PB....................................................59 Figura 2: Fonte (Pilati, 2006).......................................................................................70Figura 3:Primeira pgina dos peridicos A Illustrao Luso-Brazileira e O Recreador Mineiro........................................................................................................................94Figura 4: Primeira pgina dos peridicos O Manuelinho de vora e Jornal Mineiro....97Figura 5:Primeira pgina dos peridicos Notcias dvora e Tribuna de Ouro Preto.....99Figura 6: imagem do uso do tesseract e gcans2pdf.....................................................101Figura 7: interface grfica do eDictor 1.....................................................................104Figura 8: interface grfica do eDictor 2......................................................................105Figura 9: interface grfica do eDictor 3......................................................................106Figura 10: Visualizao da Interface arbrea do Corpus Draw....................................110

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  • Lista de Grficos

    Grfico 1 - A Ocorrncia do Sujeito nulo na primeira pessoa do Discurso no corpus.. .63Grfico 2- Distribuio dos sujeitos nulos/pronominais e lexicais anafricos nos peridicos portugueses...............................................................................................132Grfico 3 - Sujeito Nulo versus Sujeito Preenchido em textos de jornais do PE..........133Grfico 4 - Sujeito Nulo versus Sujeito preenchido nos jornais brasileiros sem a primeira pessoa..........................................................................................................157Grfico 5 - Distribuio do sujeito nulo por pessoa do discurso nas oraes matrizes dosjornais brasileiros.......................................................................................................159

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  • Lista de Tabelas

    Tabela 1- Distribuio do sujeito nulo/preenchido nas oraes-wh/relativas e clivadas nos jornais brasileiros...................................................................................................60Tabela 2 - Distribuio da variao sujeito nulo/pronominal nas oraes encaixadas completivas verbais......................................................................................................61Tabela 3 - Distribuio da variao sujeito nulo/preenchido nas oraes encaixadas com adjuntos finitos.............................................................................................................62Tabela 4 - Variao sujeito nulo/ pronominal realizado nos jornais brasileiros............126Tabela 5 - Variao sujeito nulo/ pronominal realizado e sujeito lexical nos jornais brasileiros...................................................................................................................127Tabela 6 - Distribuio dos sujeitos nulos/pronominais e sujeitos lexicais anafricos nos jornais brasileiros.......................................................................................................129Tabela 7- Distribuio dos sujeitos nulos versus sujeitos preenchidos nos jornais brasileiros...................................................................................................................130Tabela 8- Distribuio dos sujeitos nulos/ pronominais e lexicais anafricos nos jornais portugueses................................................................................................................131Tabela 9 - Distribuio dos sujeitos nulos pelas pessoas do discurso nos jornais brasileiros...................................................................................................................139Tabela 10 - Distribuio dos sujeitos nulos pelas pessoas do discurso nos jornais portugueses................................................................................................................139Tabela 11 - Distribuio das ocorrncias verbais da amostra segundo as marcas morfolgicas de pessoa e as estratgias de preenchimento da posio sujeito.............141Tabela 12 - Distribuio dos sujeitos preenchidos pelas pessoas do discurso nos jornais brasileiros...................................................................................................................141Tabela 13 - Resultados gerais do PB e do PE em sentenas com interrogativas direta.144Tabela 14 - Distribuio do sujeito nulo/preenchido nas oraes wh/ relativas e clivadas nos jornais brasileiros...................................................................................145Tabela 15- Distribuio do sujeito nulo/preenchido nas oraes wh/ relativas e clivadasnos jornais portugueses...............................................................................................145Tabela 16- Distribuio da variao sujeito nulo/pronominal nas oraes encaixadas completivas verbais....................................................................................................147Tabela 17 - Distribuio da variao sujeito nulo/pronominal nas oraes adjuntas finitas no PB...............................................................................................................151Tabela 18 - Distribuio da variao sujeito nulo/pronominal nas oraes com adjuntos finitos no PE...............................................................................................................152Tabela 19- Uso de ns (nulo/preenchido) versus o uso de pronome SE (ndice indeterminador do sujeito e apassivador) nos jornais brasileiros.................................154Tabela 20 - Uso de ns (nulo/preenchido) versus o uso de pronome SE (ndice indeterminador do sujeito e apassivador) nos jornais portugueses...............................154Tabela 21- Distribuio dos sujeitos nulos versus sujeitos preenchidos nos jornais brasileiros (sem a primeira pessoa).............................................................................155Tabela 22 - Resumo da porcentagem de reteno pronominal no PB..........................156Tabela 23- Distribuio dos sujeitos nulos pelas pessoas do discurso nos jornais brasileiros...................................................................................................................157Tabela 24 - Ocorrncias da ordem SV versus ocorrncia da ordem VS nos jornais brasileiros...................................................................................................................164Tabela 25- Ocorrncias da ordem SV versus ocorrncia da ordem VS nos jornais portugueses................................................................................................................164Tabela 26- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Recreador

    xxiii

  • Mineiro......................................................................................................................169Tabela 27- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Mineiro 170Tabela 28- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Tribuna de Ouro Preto..................................................................................................................170Tabela 29- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Illustrao luso-brasileira.............................................................................................................170Tabela 30- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Manuelinhode vora.....................................................................................................................171Tabela 31- Distribuio de cada contexto selecionado para anlise no Jornal Notcias de vora..........................................................................................................................171Tabela 32- ocorrncias da ordem SV versus ocorrncia da ordem VS nos jornais brasileiros sem sentenas parentticas........................................................................172Tabela 33- Ocorrncias da ordem SV versus ocorrncia da ordem VS nos jornais portugueses sem sentenas parentticas......................................................................173Tabela 34- Sentenas interrogativas e ordem SV/VS nos jornais brasileiros..............173Tabela 35- Sentenas interrogativas e ordem SV/VS nos jornais brasileiros...............174Tabela 36- Ordem SV/VS com verbos inacusativos no PB.........................................176Tabela 37- Ordem SV/VS com verbos inacusativos no PE.........................................177Tabela 38- Ordem das inverses inacusativas no portugus brasileiro.........................178Tabela 39- Posio do verbo nas construes inacusativas no portugus brasileiro.....179Tabela 40 - Ordem das inverses inacusativas no portugus europeu..........................179Tabela 41 - Posio do verbo nas construes inacusativas nos jornais portugueses. . .180Tabela 42- Ordem SV/VS com verbos transitivos no PB............................................181Tabela 43- Ordem SV/VS com verbos transitivos no PE............................................181Tabela 44 - Ordem das inverses com verbos transitivos no portugus brasileiro.......183Tabela 45 - Ordem das inverses com verbos transitivos no portugus europeu..........184Tabela 46- Proporo de cada tipo de inverso no portugus brasileiro.......................184Tabela 47 - Proporo de cada tipo de inverso no portugus europeu........................185Tabela 48 - Posio do verbo nas construes transitivas no portugus brasileiro.......185Tabela 49 - Posio do verbo nas construes transitivas no portugus europeu.........187Tabela 50 - Tipo de sujeito da inverso: pronominal X lexical....................................187Tabela 51- Ordem SV/VS com verbos estar/ficar no PB.............................................188Tabela 52 - Ordem SV/VS com verbos estar/ficar no PE............................................189Tabela 53 - Ordem SV/VS com verbos inergativos no PB..........................................190Tabela 54 - Ordem SV/VS com verbos inergativos no PE...........................................190Tabela 55 - Distribuio do sujeito de primeira pessoa nas oraes wh/ relativas e clivadas nos jornais brasileiros...................................................................................199

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  • A tarefa no tanto ver aquilo que ningum viu, mas pensar oque ningum ainda pensou sobre aquilo que todo mundo v.

    ARTHUR SCHOPENHAUER

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  • INTRODUO

    Qual a relao entre o sujeito nulo parcial e a inverso do sujeito na diacronia do portugus

    brasileiro (PB)? Essa uma das principais questes que buscamos responder nessa pesquisa. Falar

    sobre o sujeito nulo na histria do portugus brasileiro um tema intrigante e bastante produtivo.

    Na dcada de 1990, Duarte (1993;1995) defendeu que o PB teria deixado de ser uma lngua com

    caractersticas pro-drop. Em outras palavras, no seria uma lngua de sujeito nulo como o PE. Para

    realizar esse trabalho a autora analisou os dilogos de peas teatrais do sculo 19 e 20 e verificou

    uma reduo bastante significativa no uso do sujeito nulo e afirmou que o PB teria perdido o

    princpio Evite Pronome; logo ele estaria se tornando uma lngua com a gramtica de sujeito

    preenchido.

    A diferena de uso do sujeito nulo do PB foi inicialmente apontada por Galves (1987) em

    comparao com o sujeito nulo do PE. Esse trabalho prope que existem diferenas de interpretao

    no sujeito nulo de terceira pessoa do singular entre essas duas lnguas. A autora relaciona as

    diferenas no uso do cltico se e do pronome pessoal ele, no que diz respeito alternncia

    determinao/indeterminao nas duas lnguas. Logo, a realizao do sujeito nulo no PB no estaria

    ligada a uma questo de licenciamento, mas sim a questes de identificao. Negro (1990) apontou

    diferenas no uso de sujeito nulo entre terceira e primeira pessoa do discurso. A autora apresentou

    dados em que o preenchimento de sujeito de primeira pessoa foi superior ao preenchimento de

    sujeito de terceira pessoa.

    Ainda dentro do quadro gerativista, outros autores, como Figueiredo Silva (1996; 2000);

    Negro (1997); Modesto (2000); Barra Ferreira (2000), Kato (2000) e Rodrigues (2004), discutiram

    a questo da identificao/interpretao do sujeito nulo no PB. Em suas anlises, todos esses autores

    apontam para o fato de que o PB atual no possui o mesmo tipo de sujeito nulo encontrado no PE.

    As ocorrncias de sujeito nulo no PB estariam restritas a contextos especficos. Ao tratar dos

    27

  • contextos que restringem o sujeito nulo no PB, h algumas convergncias e divergncias na

    literatura a respeito dos ambientes sintticos em que ainda ocorrem sujeitos nulos.

    Nesta tese averiguamos cada um dos contextos apontados pela literatura contempornea

    como ambientes de realizao de sujeito nulo (cf. Figueiredo Silva, 1996, Barra Ferreira, 2000,

    Modesto, 200, Rodrigues, 2004, dentre outros) e comparamos os resultados observados na diacronia

    com o portugus europeu . Nosso objetivo foi verificar o aumento do preenchimento do sujeito no

    PB em cada um dos contextos no decorrer do tempo.

    Esse levantamento de dados entre o PB e o PE no percurso histrico deve-se ao fato de que

    uma das principais metas deste trabalho foi verificar e responder a uma questo que ficou pendente

    no trabalho de Gravina (2008): o aumento do preenchimento do sujeito na diacronia do PB

    encontrado em dados de jornais teria ocorrido por questes estilsticas ou sintticas?

    Em Gravina (2008) observou-se a diminuio de sujeitos nulos e pronominais no decorrer

    do tempo, levando em considerao todo tipo de estratgia de preenchimento do sujeito. Alm dos

    pronomes, quantificaram-se outras expresses nominais anafricas. Portanto, o uso de estratgias de

    preenchimento mais frequentes nos evidenciou que os redatores dos jornais, principalmente, os

    redatores da primeira metade do sculo 20, utilizavam uma gramtica com o sujeito mais

    preenchido. Essa estratgia de preenchimento foi denominada nessa pesquisa de Sujeito Lexical

    Anafrico (SLA).

    Um sujeito foi classificado como Lexical Anafrico, quando podia ser substitudo ou por um

    sujeito nulo ou por um pronome lexical realizado em contextos como o apresentado a seguir:

    (i) Charlotte docente do curso de Lingustica na Universidade Estadual de Campinas. A pes-

    quisadora trabalha essencialmente na rea de Lingustica Histrica. Esta sempre soli-

    citada nos mais diversos congressos de sua rea.

    No exemplo acima, tanto A pesquisadora quanto Esta fazem referncia a

    Charlotte. Nos ambientes sintticos em que essas variantes aparecem, podemos substituir esses

    sujeitos tanto por um sujeito nulo quanto por um sujeito pronominal realizado (ela), como dito

    28

  • anteriormente. Logo, os ambientes que demonstraram tais especificaes foram classificados como

    Sujeito Lexical Anafrico. Alm de apontar a variao nos dados quantitativos, essa variante nos

    possibilitou fazer as anlises qualitativas de forma criteriosa e confivel.

    Retomamos e aprofundamos o sujeito lexical anafrico nesta tese com o propsito de

    averiguar os mesmos contextos de Gravina (2008), mas dessa vez em forma de um estudo

    comparativo com o portugus europeu para assim responder uma questo que havia ficado em

    aberto: esse sujeito lexical anafrico seria realmente uma estratgia de preenchimento de sujeito ou

    seria algo prprio do estilo jornalstico?

    A hiptese deste trabalho baseia-se no fato de que, por ter uma gramtica diferenciada

    do PE em relao ao uso de sujeito nulo na sincronia, os dados encontrados na histria do PB

    estariam refletindo a emergncia dessa gramtica no final do sculo 19. Assim, essa nova estratgia

    evidenciada em nosso trabalho, o sujeito lexical anafrico, no seria apenas um recurso estilstico

    do gnero jornalstico, mas sim um recurso utilizado pelo gnero mais formal para evitar que a

    posio sinttica do sujeito ficasse nula.

    Alm da questo do sujeito nulo, a ordem VS tambm possui um papel protagonista em

    nossa tese. Sendo o portugus brasileiro uma lngua de sujeito nulo parcial , qual seria o

    comportamento da inverso do sujeito na diacronia nestes dados de jornais? Ao ver diferenas na

    produo de nmero de sujeitos nulos no decorrer do tempo, haveria tambm diferenas na

    produo da inverso do sujeito entre o PB e o PE? importante ressaltar que no ttulo dessa tese

    SUJEITO NULO E ORDEM VS NO PORTUGUS BRASILEIRO: um estudo diacrnico-comparativo

    baseado em corpus, ao utilizar o termo ORDEM VS estamos nos referindo aos tipos de inverso do

    sujeito, tais como: verbo-sujeito (VS), verbo-objeto-sujeito (VOS), objeto-verbo-sujeito (OVS),

    verbo- termo da orao-sujeito (VXS), termo da orao-verbo-sujeito (XVS).

    O primeiro trabalho a tratar da inverso do sujeito na diacronia do PB foi o de Berlink

    (1995), a autora atesta uma diminuio da ordem VS no decorrer do tempo. Dentro do quadro

    29

  • gerativista pode-se citar vrias pesquisas que trabalharam com a inverso no PB (cf. Duarte,

    1993,1995; Pilati, 2002; 2006, Kato e Tarallo, 2003; Coelho 2006; Coelho e Martins 2012, dentre

    outros). No entanto, no h trabalhos que faam sistematicamente a investigao da ligao entre

    sujeito nulo parcial e inverso, particularmente na diacronia. Nossa hiptese em relao ordem VS

    nos textos histricos passa por duas questes: i) se o nmero de inverses nos dados apresentou

    uma taxa de ocorrncia menor no PB com o decorrer do tempo; ii) se houve uma diminuio de

    ambientes sintticos com inverses no PB, apresentando diferenas de ocorrncias com o PE na

    diacronia. Em outras palavras, alm de apresentar uma diminuio de contextos com inverso,

    espera-se que os ambientes de realizao dessas inverses sejam diferenciados dos ambientes

    sintticos em que se encontram VS em PE.

    Com o propsito de se responder s questes de pesquisa suscitadas at o momento e de

    averiguar as hipteses propostas, essa tese se preocupou em elaborar um conjunto de corpora

    bastante ambicioso.

    Para compor os corpora foram necessrios seis peridicos, sendo que trs brasileiros O

    Recreador Mineiro (1845 a 1848); Jornal Mineiro (1887 a 1900) e Tribuna de Ouro Preto (1945 a

    1948) - e trs jornais portugueses A Illustrao luso-brazileira (1854 a 1858); O Manuelinho d

    vora (1888 a 1895) e Notcias dvora (1945 a 1948). Foram transcritas trezentas mil palavras na

    elaborao do material - cinquenta mil de cada um dos perodos selecionados para o estudo. Essas

    trezentas mil palavras foram analisadas em mais de quatorze mil sentenas. Os textos utilizados na

    montagem do corpus passaram por ferramentas computacionais para que pudessem ser feitas buscas

    automticas. Essa metodologia trouxe mais agilidade e praticidade para os estudos no que diz

    respeito execuo das anlises.

    Para a realizao das anlises tericas, este trabalho se respaldou nos estudos e hipteses de

    Holmberg (2010). A escolha por este autor e por este trabalho se deve ao fato de esse autor

    desenvolver suas propostas a partir de estudos de lnguas classificadas como lnguas de sujeito nulo

    30

  • parcial. Alm disso, a proposta do autor se apresentou bastante condizente com os dados

    apresentados nessa pesquisa.A partir da anlise proposta por Holmberg (2010) buscamos uma

    possvel formalizao para o fenmeno que temos no PB: lngua de sujeito nulo e sua relao com

    ambientes restritos de inverso do sujeito (VS).

    De maneira geral, esta tese se justifica por quatro fatores: 1) a elaborao de um corpus

    bastante amplo e confivel, que permitir que vrios outros estudos possam ser executados; 2) a

    descrio comparativa dos ambientes de realizaes de sujeito nulo em oraes finitas em textos de

    jornais histricos no PB e no PE; 3) a descrio dos ambientes de realizaes de inverses do

    sujeito em oraes finitas em textos histricos em ambas as gramticas (PB e PE); e por fim, 4)

    alm das descries e resultados quantitativos de realizaes de sujeito nulo e inverses, uma

    proposta de anlise para os fenmenos encontrados, baseada nos pressupostos de Holmberg (2010).

    A seguir apresentamos a organizao geral desta tese por captulos.

    No captulo 1- O parmetro pro-drop e a inverso do sujeito, feita a reviso da literatura

    desta tese. Apresentamos as primeiras definies e os primeiros trabalhos que trataram do parmetro

    pro-drop no quadro da teoria gerativa. A seguir apresentamos as anlises mais recentes sobre o tema

    na teoria minimalista e enfatizamos a abordagem terica de Holmberg que guiar nossas anlises na

    formalizao das possveis derivaes para o sujeito em PB. Neste captulo, ainda tratamos de

    trabalhos empricos sincrnicos e diacrnicos sobre o sujeito nulo e a ordem VS.

    No captulo 2 - Construo do corpus histrico e metodologia de estudos dos dados,

    apresentamos toda a elaborao para a montagem do corpus desse trabalho. Por se tratar de uma

    tese na rea de lingustica histrica, os dados se configuram como uma parte fundamental para os

    resultados e concluses discutidos acerca deles. Assim, imprescindvel que a forma de elaborao

    do material seja apresentada de forma detalhada, uma vez que a tese desenvolve um estudo

    comparativo. Alm do trabalho de execuo, nesse captulo apresentada a metodologia utilizada

    para a classificao dos dados desta tese. Assim, antes de apresentarmos os resultados e nossas

    31

  • discusses preciso demonstrar as caractersticas que foram levadas em considerao para se

    executar o presente estudo. Decidimos colocar essas informaes sobre o corpus no segundo

    captulo, pois assim, este funciona como uma ponte para ligarmos a teoria e nossos resultados

    empricos sobre sujeito nulo e inverso do sujeito.

    No captulo 3 - O sujeito nulo no portugus brasileiro e no portugus europeu: resultados

    do corpus, efetuamos um estudo comparativo de realizaes de sujeito nulo no PB e no PE. A partir

    desse estudo comparativo procuramos responder a seguinte questo: o alto ndice de preenchimento

    do sujeito encontrado no PB no trabalho de Gravina (2008) ocorreria por razes estilsticas ou por

    razes sintticas? Alm de responder essa questo tambm apresentamos os resultados quantitativos

    de preenchimento e de no preenchimento do sujeito em ambientes sintticos apontados pela

    literatura, comparando os percentuais de realizao ou no realizao com aqueles do PB.

    No captulo 4 - Inverso do sujeito e sujeito nulo parcial : resultado do corpus e proposta

    de anlise, efetuamos um estudo comparativo quantitativo e qualitativo a respeito dos tipos de

    inverses encontradas tanto em PB em relao ao PE. No final desse captulo realizamos anlises

    das possveis derivaes para o sujeito no PB, uma vez que essa lngua apresenta caractersticas de

    uma lngua com sujeito nulo parcial e contextos de restries de inverses do sujeito.

    E por ltimo, em nossas Consideraes Finais, fazemos um retrospecto da tese, resumindo e

    expondo os principais resultados apresentados.

    32

  • CAPTULO 1

    O PARMETRO DO SUJEITO NULO E ORDENS VS

    Em praticamente 30 anos, desde a introduo do parmetro pro-drop em Chomsky (1981),

    os estudos a respeito da ausncia/presena de sujeito nulo nas lnguas tem sido um dos temas mais

    debatidos na literatura gerativista. Com o decorrer do tempo, a discusso foi tomando vrios

    caminhos. Atualmente, a abordagem de fenmenos para caracterizar o parmetro pro-drop,

    gerando uma marcao positiva ou negativa para a ocorrncia de sujeito nulo em uma lngua no a

    mais apropriada, isso porque o conceito desse parmetro foi se modificando, juntamente com a

    evoluo da teoria. Atualmente, quando se fala de lnguas de sujeito nulo, no existem apenas duas

    possibilidades: lnguas pro-drop e lnguas no pro-drop; existem tambm as lnguas denominadas de

    ocorrncia de Sujeito nulo parcial (RODRIGUES, 2002; HOLMBERG, 2005; 2010; ROBERTS,

    2010). O portugus brasileiro (PB) seria um exemplo desse tipo de configurao de sujeito nulo

    parcial, ou seja, uma lngua que ainda licencia sujeito nulo, mas com restrio de contextos.

    Neste captulo apresentamos um retrospecto dos estudos sobre sujeito nulo, juntamente com

    a questo da inverso do sujeito. Considera-se importante a abordagem conjunta desses dois

    fenmenos, uma vez que eles foram fortemente relacionados no estudo do parmetro do sujeito

    nulo.

    1.1 Caracterizao do parmetro pro-drop

    O conceito de parmetro pro-drop1, estabelecido no incio da dcada de 80, institua que as

    lnguas deveriam apresentar uma marcao positiva ou negativa (+/- pro-drop) para esse parmetro,

    Chomsky (1981; 1982). Os principais exemplos de lnguas com marcao positiva e negativa,

    apresentadas pelos estudiosos, foram o italiano e o ingls respectivamente.

    Ao propor a teoria de Princpios e Parmetros, Chomsky estabeleceu que os parmetros

    1 O termo pro-drop vem do ingls e possui como significado pronominal dropping, ou seja, queda do pronome.

    33

  • seriam propriedades abstratas e primitivas do sistema gramatical. Sua fixao numa determinada

    lngua implicaria agrupamentos especficos de propriedades lingusticas concretamente

    observveis. Em outras palavras, esses parmetros seriam os responsveis pelas diferenas entre as

    vrias lnguas existentes no mundo, ou seja, o valor marcado por um ou outro parmetro, assumindo

    que sejam binrios, representaria a diferena primitiva entre sistemas gramaticais de uma lngua em

    comparao a outras; j os princpios, estes seriam caracterizados como universais e inatos na

    mente/crebro do falante.

    Para estar associado a um parmetro, um determinado fenmeno lingustico deve fazer parte

    de um conjunto de propriedades relacionadas. Apesar de vrios fenmenos lingusticos terem sido

    apresentados como propriedades de parmetros entre as lnguas, estudos formais tm mostrado que

    o nmero existente de parmetros deve ser bastante reduzido, pois, caso contrrio, uma criana

    levaria a vida inteira para aprender sua lngua - Clark & Roberts (1993) e Gibson & Wexler,

    (1994). Ao tratar de sujeito nulo, nessa primeira fase da teoria, estamos nos remetendo categoria

    vazia pro, ou seja, uma categoria pronominal no realizada lexicalmente. Na proposta de Chomsky

    (1982), os DP's sem matriz fontica apresentam tipologia semelhante dos DP's lexicais:

    + anafricos/ - pronominais = vestgios de DPs - anafricos/+ pronominais = pro - anafricos/ - pronominais = vestgios de Wh + anafricos/ + pronominais = PRO

    Por essa definio, pro teria a capacidade de ser identificado e de ter a mesma funo de um

    pronome lexicalmente realizado, como pode ser visto no exemplo 1.b abaixo:

    (1) a) Eu encontrei o dinheiro no bolso da cala jeans. b) pro encontrei o dinheiro no bolso da cala jeans.

    O conjunto de propriedades relacionadas que compem o Parmetro pro-drop so as

    seguintes (CHOMSKY, 1981, p.240) :

    i) omisso do sujeito;

    ii) inverso livre na ordem do sujeito e verbo;

    iii) extrao do sujeito distncia;

    34

  • iv) resumptivo nulo do sujeito;

    v) ausncia de efeito * that-t;

    O italiano, classificado como uma lngua tipicamente pro-drop, apresenta todas as

    propriedades que configuram esse parmetro:

    (2) i) Ho trovato Il libro.Have.1SG found the book

    *(I) found the book.

    ii) Ha mangiato Giovanni. Has.3SG eaten Giovanni Giovanni ate.

    iii) Luomo [Che mi domando [chi abbia visto]] the.man that me wonder.1SG who has seen interpretation: the man x such that I wonder who x saw

    iv) Ecco La ragazza [Che mi domando [chi crede [Che possa VP]]] here.is the girl that me wonder.1SG who thinks that may.3SG VP This is the girl who I wonder who thinks that *(she) may VP.

    v) Chi credi [che partira ]? Who think.2SG that will.leave.3SG Who do you think (*that) will leave?

    (CHOMSKY, 1981,p.240)

    Seguindo esse conjunto de propriedades, as lnguas seriam classificadas como pro-drop , por

    exemplo a lngua Italiana , ou como no pro-drop, por exemplo a lngua inglesa. De acordo com

    Chomsky (1981), a propriedade de o sujeito no ser foneticamente realizado estaria ligada riqueza

    flexional de uma determinada lngua. Assim, a riqueza flexional apresentada pelo italiano, por

    exemplo, seria o condicionador de essa lngua apresentar sujeito nulo, logo, ser classificada como

    lngua pro-drop. J uma lngua como o ingls, por no apresentar riqueza flexional, no possui

    sujeito nulo e marcada negativamente quanto ao parmetro pro-drop. Segundo Novaes (1996), tal

    interpretao consistiria em concentrar em AGR a responsabilidade de habilitar a omisso de

    sujeito, pelo fato de considerar que o n de concordncia deveria reger o elemento nulo, situado em

    [Spec, AGRP] .

    35

  • Rizzi (1986) prope uma distino entre legitimao e identificao de pro. Em relao

    legitimao formal de pro, o autor apresenta o seguinte princpio:

    (3) pro regido por X0

    Por outro lado, ele faz a seguinte proposio para a identificao de pro:

    (4) X o ncleo legitimador de uma ocorrncia de pro: ento pro tem a especificao gramaticaldos traos em X co-indexados com ele

    Ou seja, Rizzi prope que na identificao do sujeito nulo seu contedo seja recuperado pela

    co-indexao entre os traos fortes de I e pro. De modo geral, o contedo de pro recuperado por

    meio da formao de uma cadeia com seu antecedente, havendo em consequncia vrias

    possibilidades de identificar pro: quer por meio de I, no caso do sujeito nulo referencial, quer por

    meio de V, no caso do objeto nulo em Italiano, quer por interpretao arbitrria, no caso de sujeitos

    impessoais, quer como expletivo no caso de as condies precedentes falharem.

    Para sentenas finitas, apresentam-se os seguintes exemplos de licenciamento do pro em

    italiano:

    (5) a. Ritengo [che pro sia simptico] Eu acredito [que (ele) simptico]. b. Ritengo [che pro sia troppo tardi per...] Eu acredito [que () muito tarde para... ] c. Ritengo [che pro sia probabile che...] Eu acredito [que () provvel que...].

    (RIZZI, 1986, p.541)

    No exemplo (a), o sujeito nulo representado pela categoria vazia pro interpretado como

    referencial, por causa do verbo sia (), detentor da flexo que o resgata, estabelecendo uma relao

    de referencialidade bem definida. Em outras palavras, possvel identificar pela flexo do verbo o

    pronome de terceira pessoa para a posio sujeito da sentena. No exemplo (b), a categoria vazia

    pro referente ao verbo sia pode fazer referncia tanto a um sujeito determinado, como no primeiro

    caso, ou a um elemento de referncia no-definida, uma situao de ambiguidade de interpretao.

    No exemplo (c), o autor defende que o pro recebe, nesse contexto, a interpretao no-referencial.

    Isso se daria pelo fato de, nessa sentena, o verbo sia no ser capaz de estabelecer uma relao de

    36

  • referencialidade definida com o sujeito omitido.

    Em sentenas consideradas no-finitas, o comportamento de referencialidade um pouco

    distinto:

    (6) a. *Ritengo [essere pro simptico] ?Eu acredito [ser (ele) simptico].

    b. Ritengo [essere pro troppo tardi per...] Eu acredito [ser () muito tarde para... ].

    c. Ritengo [essere pro probabile che...] Eu acredito [ser () provvel que...].

    (RIZZI, 1986, p.542)

    Em (a), Rizzi considera pro agramatical em italiano, pelo fato de o verbo da orao

    encaixada essere (ser) se encontrar em sua forma infinitiva, no possuindo morfologia flexional de

    concordncia, portanto incapaz de recuperar o sujeito. Em (b), o verbo infinitivo essere j permite o

    resgate do contedo na posio de sujeito, possibilitando identificaes cujas referncias poderiam

    ser definidas ou no-definidas. Em (c), a nica interpretao possvel, segundo o autor, para a

    categoria vazia pro, nesse contexto, seria a no-referencial. Isso se deveria ao fato de o verbo da

    orao encaixada essere no ser capaz de resgatar o contedo da posio de sujeito; portanto, a

    referncia desse sujeito nulo seria de natureza no-definida.

    Todos os elementos apresentados, at o momento, reforam a ideia de lnguas de sujeito nulo

    estar intimamente ligadas a paradigmas verbais de flexo rica. No entanto, depois de trabalhos

    como o de Huang (1984), a relao entre riqueza flexional e sujeito nulo deixou de ser

    determinante, uma vez que o autor apresentou lnguas como o chins, que tem sujeito nulo, apesar

    de um paradigma verbal sem flexo. Outros trabalhos como de McCloskley & Hale (1984)

    demonstraram que algumas lnguas clticas, como o irlands, por exemplo, apresentam paradigmas

    verbais mistos, ora sintticos (considerados de flexo rica), ora analticos (considerados de flexo

    pobre), de acordo com a pessoa e o tempo verbal. Nesse tipo de lngua, se em uma sentena h um

    verbo que possui um paradigma sinttico, ou seja, um ambiente que licencia o sujeito nulo, se

    37

  • algum pronome for utilizado, a sentena torna-se agramatical:

    (7) *Chuirf-eadh m isteach ar an phost sin

    put.COND-DFT I in on the job that

    I would apply for that job

    (Eu gostaria de me candidatar para o emprego)

    (MCCLOSKEY AND HALE, 1984, p.419)

    A lngua hebraica (Borer, 1989) outro exemplo de lngua com sujeito nulo restrito, onde a

    omisso do sujeito licenciada por certas pessoas do paradigma verbal e no por outras.

    Jaeggli e Safir (1987) estipularam que a condio de licenciamento do sujeito nulo no

    seria a presena de uma morfologia rica (AGR), mas sim a uniformidade morfolgica dos

    paradigmas verbais de uma lngua. Para os autores um paradigma morfologicamente uniforme se

    constitui ou de formas derivadas (desinncia de nmero, pessoa, tempo, modo, aspecto etc.) ou de

    formas no derivadas. No primeiro caso o sujeito nulo ocorreria pela presena de AGR e no

    segundo caso pela correferncia com um elemento nominal em posio A ou A c-comandando o

    sujeito. Se o paradigma for misto, apresentar formas morfologicamente complexas (divisveis em

    radical e afixo) ao lado de formas simples, o sujeito nulo no licenciado, como ocorre com o

    ingls e o francs.

    O trabalho de Speas (1995) contribui com a discusso do sujeito nulo e traz aspectos

    interessantes que devem ser levados em considerao. De acordo com a autora, a relao entre AGR

    e sujeito nulo nas lnguas seria baseada na seguinte generalizao:

    Generalizao de Speas:

    a. Uma lngua possui sujeitos nulos se AGR gerado com um morfema em seu ncleo.b. Uma lngua no possui sujeitos nulos se AGR gerado juntamente com o verbo.c. Uma lngua possui sujeitos nulos se a mesma no possui AGR.

    Ao considerar tal generalizao, Speas estipula que AGR poderia ou no permitir o

    apagamento de sujeito, alm de considerar que em certas lnguas esse n no seria projetado em sua

    configurao sinttica. Seguindo o princpio de economia, em lnguas de sujeito nulo, AGR

    38

  • possuiria um n independente, ocasionando o surgimento de um especificador de seu ncleo

    possivelmente vazio, viabilizando, na forma lgica, a omisso de material fontico na posio de

    sujeito. Em lnguas de sujeito preenchido, AGR possuiria um n independente, mas a morfologia de

    concordncia seria gerada no ncleo V e no no ncleo AGR, alm do fato da posio de [Spec,

    AGRP] ser obrigatoriamente preenchida por um NP ou elemento pleonstico. Haveria ainda

    lnguas, como o japons, em que a omisso do sujeito seria licenciada sem a necessidade da

    projeo do n de AGR. Segundo a autora, pelo fato de no haver um n AGRP para onde devem

    se movimentar os NPs para a posio de sujeito, no existiria a necessidade do deslocamento,

    possibilitando, com isso, a omisso desses NPs. Logo, resumidamente, Speas (1995) estipula que a

    depender das caractersticas morfolgicas de uma lngua, o n de concordncia AGRP pode ou no

    pode ser inserido na rvore sinttica da lngua.

    A partir desses estudos, observou-se que a categoria vazia na posio de sujeito poderia ter

    uma natureza diversa, tendo sua interpretao garantida no por flexo, mas por um antecedente

    expresso no contexto sinttico, discursivo ou pragmtico.

    Vrias lnguas foram estudadas com o intuito de averiguar se apresentavam o valor positivo

    para o parmetro pro-drop lnguas romnicas, clticas, germnicas, dentre outras. As anlises e os

    estudos sobre o fenmeno, no decorrer do tempo, apontam para assertiva de que o parmetro pro-

    drop no seria algo uniforme. Ou seja, a binariedade inicialmente proposta para a marcao desse

    parmetro foi abandonada, pois vrias lnguas apresentaram condies e contextos especficos para

    ocorrncia ou no ocorrncia do sujeito nulo, tais como o islands, o portugus brasileiro e o

    finlands, sendo denominadas de lnguas de sujeito nulo parcial. Sigursson (1993), em seu estudo

    sobre o islands, caracteriza que existam pelo menos cinco tipos de sujeitos no realizados:

    a) sujeitos nulos no argumentais, ou expletivos (por exemplo, o alemo e o PB);b) perda de tpico (topic-drop), que permite nulos de primeira e segunda pessoas em incio deperodo (ex: lnguas germnicas);c) sujeitos nulos controlados por um antecedente em posio de c-comando (chins, terceira pessoa do hebraico);d) sujeitos nulos que permitem antecedente em posio de c-comando ou no (islands antigo);

    39

  • e) sujeitos nulos identificados por concordncia (italiano, espanhol).

    Kato (2002), considerando que as variaes nas lnguas esto associadas a itens

    funcionais/gramaticais, traduz as classificaes do autor da seguinte forma:

    a) a possibilidade do nulo no argumental tem a ver com a existncia de um pronomeneutro nulo do tipo it do ingls;b) a possibilidade de nulos de primeira pessoa e segunda tem a ver com pessoas diticas;c) os nulos controlados, por exigirem c-comando do antecedente, sugerem um fenmeno de Ligao: os pronomes seriam variveis ou pronomes presos;d) os nulos genunos podem ser uma mistura de dois processos: controle e elipse, este umfenmeno que ocorre em contexto de no c-comando;e) finalmente, os nulos identificados por concordncia teriam no prprio afixo o elemento pronominal em uma relao do tipo das lnguas pronominais, como sugerido em Kato (1999). (KATO 2002, p.329)

    At o momento caracterizou-se o fenmeno pro-drop a partir de uma abordagem inicial da

    teoria de Princpios e Parmetros. No item 1.3 essa caracterizao ser apresentada a partir de

    estudos do quadro terico minimalista.

    1.2 - O parmetro topic-drop

    O parmetro topic-drop ou parmetro do tpico zero foi proposto por Huang (1984) para as

    lnguas que licenciam a omisso do sujeito, mas no possuem paradigmas verbais de flexo rica,

    tais como o japons, chins e o coreano. O chins teria caracterstica de uma lngua voltada para o

    tpico. Alm da possibilidade da omisso do sujeito, essas lnguas tambm permitem a omisso do

    argumento interno, ou seja, do objeto:

    (8) A

    Zhangsan kanjian Lisi le ma? Zhangsan ver Lisi LE Q Zhangsan viu Lisi?

    B

    cv kanjian cv le. cv ver cv (Ele) viu (ele).

    (HUANG, 1984, p.539)

    O autor salienta que a teoria do parmetro pro-drop no estabelece critrios para os casos da

    possibilidade de omisso do pronome como argumento interno, ou seja, na posio de objeto. Ainda

    40

  • enfatiza que a relao estabelecida por Taraldsen - morfologia de concordncia expressa viabiliza

    sujeito nulo - seria insuficiente para dar conta dos argumentos apagados em lnguas sem morfologia

    de concordncia explcita.

    Em seu estudo sobre o chins, Huang averiguou que nas sentenas que apresentam

    categorias vazias em posio de objeto, nenhuma possui referncia fixada em algum elemento da

    sentena em que se encontrava, mas sim em algum elemento fora da mesma, como mostra a

    agramaticalidade de (9):

    (9) *Zhangsani xiwang [keyi kanjian cvi] Zhangsan espera Lisi poder ver Zhangsani espera que Lisi possa ver [elei].

    (HUANG, 1984, p.561)

    Um argumento na posio de objeto de uma subordinada somente se ligaria a um elemento da

    orao principal, caso esse elemento fosse um NP na posio de tpico dessa sentena. A evidncia

    para tal afirmao seria que, ao inserir um tpico marcado nas sentenas apresentadas

    anteriormente, como neige ren (este homem), o objeto passa a se fixar nesse elemento:

    (10) Neige reni Zhangsan shuo [ Lisi bu reshi cvi] Este homem Zhangsan dizer Lisi no conhece Este homemi, Zhangsan disse Lisi que no conhecia [cvi].

    (HUANG, 1984, p.566)

    A partir dessa constatao Huang (1984) evidenciou que a categoria vazia (sujeito ou objeto)

    deve sempre estar ligada a um tpico discursivo, em lnguas que licenciam a omisso do sujeito,

    mas que no possuem paradigma verbal com concordncia morfolgica. O autor ainda defende que

    os sujeitos nulos das subordinadas em chins poderiam ser considerados sujeitos com referncia

    definida, ou seja, pronominais.

    Huang afirma que o parmetro topic-drop estaria relacionado a outro parmetro denominado

    discurso-orientado vs sentena-orientada. O chins seria caracterizado como uma lngua orientada

    para o discurso e o ingls seria uma lngua orientada para a sentena. As lnguas orientadas para o

    discurso apresentariam trs propriedades bsicas:

    41

  • (11) i. Apagamento de NP tpico: a identificao da categoria vazia pode se dar por elementos

    tpicos presentes em sentenas anteriores.

    [Zhongguoi, difang hen da.] China, lugar muito grande [cvi, renku hen duo.]populao muito extensa [cvi, tudi hen feiwo.] muito frtil[cvi, qihou ye hen hao.]clima muito muito bom [cvi women dou hen xihaun.]todos ns gostamos muito

    ii. Proeminncia de tpico: caracteriza-se por no apresentar uma obrigatoriamente de preencher o

    sujeito na sentena, como acontece no ingls, por exemplo. Nas lnguas de proeminncia de tpico,

    geralmente se tem estruturas conhecidas como tpico-comentrio:

    a. neichang huo, xingkui xiaofangdui lai de zao.

    Este fogo fortuitamente bombeiros vir COMP cedo Este fogo, fortuitamente os bombeiros vieram cedo.

    iii) Anfora de ligao discursiva: esta anfora de ocorrncia exclusiva das lnguas orientadas

    para o discurso, portanto em lnguas com orientao para sentenas no possvel encontr-la.

    Huang (1984) ilustra tal anfora com um exemplo no coreano:

    A: John-i salam- l ponae - ss-ni? Joo-NOM homem-ACC enviar- PAST-Q Joo enviou o homem?

    B: ani, caki-ka cikc p o -ss- ta. no o mesmo- NOM em- pessoa vir - PAST No, o mesmo veio em pessoa.

    (HUANG, 1984, p.561)

    Huang constata que a anfora caki recebe caso nominativo pelo fato de ser inferida do

    discurso, pois a mesma estaria ligada ao tpico John, na sentena anterior. Lnguas orientadas para a

    sentena, como o ingls, no permitiriam tal construo:

    (12) A: Did John send the man? Joo enviou o homem?

    42

  • B: *No, himself came. No, ele mesmo veio.

    (HUANG, 1984, p.571)

    Apesar de apresentar propriedades diferenciadas do parmetro pro-drop, o parmetro topic-drop

    tambm capaz de licenciar o sujeito nulo em lnguas orientadas para o discurso, como vimos nesta

    seo.

    1.3 - A formalizao de pro no programa minimalistaNesta seo, a partir da proposta da teoria da regncia e ligao na abordagem terica

    proposta por Rizzi (1986) para os argumentos nulos, a Gramtica Universal consistiria de dois

    princpios parametrizveis: (i) pro deve ser licenciado e (ii) pro deve ser identificado.

    Especificamente no caso dos sujeitos nulos, uma lngua para apresent-los deveria conter um ncleo

    formal capaz de licenciar e de identificar o contedo de pro.

    Com o advento do minimalismo, a partir dos trabalhos de Chomsky (1995), passou-se a

    considerar a abordagem de checagem de traos e, mais adiante, com Chomsky (2001), valorao

    de traos. Nessa abordagem, os traos formais podem ser interpretveis ou no interpretveis.

    Estes ltimos devem ser eliminados da interface antes da Forma lgica (FL). Conforme Chomsky

    (2001), os traos no interpretveis no vm valorados da numerao, portanto, parte do processo

    de eliminar os traos no interpretveis est em assinalar valores a eles no caso de derivao, na

    sintaxe restrita. Dessa forma, segundo Holmberg (2005), a identificao de pro pela flexo, como

    foi estabelecida por Rizzi (1986), no pode ser mantida nesse quadro terico, uma vez que na

    abordagem de valorao de traos, a posio sujeito possui traos interpretveis e a posio de

    flexo possui traos no interpretveis. Logo, no existe compatibilidade entre valorao de traos

    no interpretveis e identificao de pro pela flexo na viso minimalista da teoria.

    Explicando de forma mais detalhada, Chomsky aponta que os traos- (pessoa, gnero e

    nmero) de T so no interpretveis e a valorao desses traos ocorre na operao Agree com o

    43

  • sujeito DP. A operao Agree envolve uma sonda e um alvo. No caso especfico, T seria a sonda e

    o DP o alvo da operao. Os DPs argumentais possuem traos interpretveis e so capazes de

    valorar os traos- de T. Alm dessa valorao, a operao Agree em questo tambm capaz de

    valorar o trao de caso do DP. Abaixo ilustramos o licenciamento de um sujeito no nulo:

    (13) a) Sonda-alvo

    b) aps o movimento

    Para que um trao seja interpretvel necessrio que ele tenha valores. A abreviatura i

    indica que os traos- esto valorados, tais como: pessoa e nmero; j a abreviatura u indica que

    no h valores desses traos-, logo, nem de nmero, nem de pessoa. A operao Agree ser a

    responsvel pela combinao desses elementos e consequentemente sua valorao. Resumidamente:

    um trao definido como no interpretvel, quando no tem valor; um trao definido como

    interpretvel quando o tem. Retornando definio de Rizzi (1986) em que pro necessita de

    identificao para ser licenciado, tem-se aqui uma incompatibilidade com a teoria minimalista, uma

    vez que dentro dessa teoria de concordncia, obviamente impossvel para um pronome no

    especificado inerentemente ser especificado para traos- de I, uma vez que esses traos so, eles

    44

  • mesmos, no especificados inerentemente (ROBERTS, 2009, p.38).

    Pesetsky & Torrego (2004) apresentam um sistema em que os traos no interpretveis e no

    valorados so primitivamente elementos diferentes. Nessa teoria, a ideia de pro, tal qual Rizzi

    (1986) estabelece, pode ser mantida. A categoria pro poderia ser um portador de traos

    interpretveis, mas no valorados. A valorao desses traos possibilitaria a identificao de pro,

    semelhante proposta inicial de Rizzi. A possibilidade tcnica de se caracterizar pro dessa maneira

    deixada de lado por muito pesquisadores, pois altera um conceito central na teoria que a

    interpretabilidade para existir valorao.

    Esse problema em relao ao elemento que expressa formalmente o sujeito nulo no

    programa minimalista foi debatido em vrios trabalhos, dentre eles, Alexiadou e Anagnostopoulou

    (1998), Kato (1999) e Holmberg (2005).

    Kato (1999) props que nas lnguas de sujeito nulo, o pronome sujeito afixal e aparece

    como item independente na numerao, com traos- e de caso, seguindo Alexiadou e

    Anagnostopoulou (1998). O pronome expresso nessas lnguas sempre externo sentena,

    consequentemente um pronome forte. Para classificar como pronome forte, Kato adota a

    tipologia tripartida para as formas pronominais de Cardinaletti e Starke (1999) : fortes , fracos e

    clticos; Kato (1999), por outro lado, faz uma adaptao dessa proposta e estabelece uma viso

    bipartida em pronomes fortes e fracos, sendo estes subdivididos em livres, clticos e concordncia

    pronominal. A autora ainda prope que pronomes fracos checam caso estruturalmente em Spec T e

    os pronomes fortes tm um caso default que em lnguas de sujeito nulo nominativo . Alexiadou

    e Anagnostopolou (1998) afirmam que o sujeito nulo em lnguas prototpicas encontra-se em uma

    posio deslocada e tpica. O tpico nesse ambiente recebe o caso default, pois no h elemento

    que lhe atribua caso.

    Holmberg (2005) aponta que h duas maneiras para solucionar a situao em que pro

    necessita de identificao: Ou pro ou T um dos dois elementos - deve conter traos-

    45

  • interpretveis, pois essa condio faz com que na operao de Agree, a valorao dos traos

    acontea. Dentro desse panorama Holmberg (2005) apresenta as duas hipteses seguintes:

    Hypothesis A2

    The set of -features in T (Agr) is interpretable in Null-Subject Languages (NSLs), and pro istherefore redundant; Agr is a referential, definite pronoum, albeit a pronoun phonologicallyexpressed as an affix. As such, Agr is also assigned a subject theta-role, possibly by virtue of virtueif heading a chain whose foot is in vP, receiving the relevant theta-role.

    Hypothesis B3

    The null subject is specified for interpretable -features, values the uninterpretable features em Agr,and moves to Spec, IP, just like any other subject. This implies that the nullness is a phonologicalmatter: the null subject is a pronoun that is not pronounced.

    O Finlands uma lngua de sujeitos nulos referenciais, mas apresenta possibilidade de

    licenciar um expletivo lexical. Devido a existncia de lnguas como essa, Holmberg rejeita a

    Hiptese A, pois se um expletivo lexical permitido, requerido ou excludo, a dependncia de uma

    dessas ocorrncias vem de suposies independentes, referentes habilidade dos traos- de T de

    satisfazerem o Trao-EPP4. Pela hiptese A, um expletivo no pode aparecer no local onde se

    reconhece a presena de um pro referencial no SpecTP. Explicando a rejeio da hiptese A de uma

    maneira mais clara, o autor apresenta dados o Finlands. A lngua em questo apresenta sujeitos

    referenciais nulos e sujeitos com pronome expletivo lexical. E o sujeito expletivo lexical no co-

    ocorre com sujeitos nulos referenciais:

    2 Hiptese A Em lnguas de sujeito nulo, os traos- de T so interpretveis. Spec T est portanto ausente ou preenchido com algum expletivo (dependendo se o trao- EPP de T necessita ser satisfeito independentemente de seus traos- ).

    3 Hiptese Bpro tem traos interpretveis, ocupa SpecTP e funciona como um pronome lexical. Que pro seja nulo uma questo de PF, ou seja, o sujeito nulo um pronome que no pronunciado.

    4 O trao-EPP requer que o sujeito de toda sentena seja satisfeito.

    46

  • (14) a) Puhun englantia.

    (Eu) falo ingls.

    b) Sit meni nyt hullusti.

    EXPL Foram agora mal

    Agora as coisas andam mal

    c) * Sit puhun englantia.

    EXPL (eu) falo ingls.

    (HOLMBERG, 2005, p.543)

    Como pode ser visto pelos exemplos acima, o expletivo Sit no pode co-ocorrer com o sujeito

    nulo referencial. A partir dessa evidncia, Holmberg conclui que a hiptese B est correta: pro

    ocupa SpecTP, logo, o sujeito nulo um pronome que no pronunciado (HOLMBERG, 2005,

    p.538). Essa anlise retoma uma proposta clssica de Perlmutter (1971): o sujeito nulo surge atravs

    do apagamento do pronome sujeito. A partir dessas informaes, uma das concluses a que se pode

    chegar que a presena dos traos-D5 em T o que faz com que uma lngua seja uma lngua de

    sujeito nulo.

    A hiptese B implica que nenhum pronome expletivo, lexical ou nulo ser encontrado como

    sujeito nulo, uma vez que pro se move para SpecTP para checar o trao-EPP de T. O apagamento

    do sujeito uma questo de PF na interface com a fonologia, j que apesar de ocupar a posio, ele

    no pronunciado.

    Holmberg distingue trs tipos de sujeito nulo: um DP apagado, sob condies de

    recuperabilidade; o segundo tipo seria um pro como NP nu, sem traos- ; o terceiro um

    pronome nulo fraco especificado com traos- , mas sem trao-D, portanto incapaz de (co) referir

    sem a ajuda de um trao-D em I. Este ltimo o caso do sujeito nulo cannico encontrado em

    lnguas como o italiano, espanhol e grego. O Primeiro tipo seria o de lnguas como o finlands, que

    permitiria o uso de mais de um tipo de sujeito a depender do nmero, pessoa e/ou tempo verbal,

    alm da possibilidade de recuperao do sujeito pelo contexto, por um tpico. E o segundo tipo de

    5 Traos de gnero, nmero e pessoa.

    47

  • sujeito nulo seria o encontrado em lnguas do leste asitico.

    A formulao de pro como um pronome fraco vem inicialmente de trabalhos como

    Cardinaletti & Starke (1999). Os autores defendem que pro no seria um pronome forte por ser

    capaz de atuar como um expletivo, como um pronome impessoal, por ter referente no humano e

    por no poder atuar como ditico para denotar um referente discursivo no proeminente. A seguir

    tem-se os exemplos das propriedades elucidadas, respectivamente, pelos pesquisadores:

    (15) a) pro/*lui piove molto qui.

    Chove muito. (pro = expletivo)

    b) pro/*loro mi hanno venduto un libro danneggiato.

    Me venderam um livro danificado (pro= impessoal)

    c) pro/*lui molto costoso.

    muito caro. (pro = referente no humano)

    d) Lui/*pro veramente bello.

    Ele (l) muito bonito.

    (CARDINALETTI & STARKE, 1999, p.205)

    Outra propriedade que faz pro ser um pronome fraco, de acordo com os autores, seria o fato de que

    em uma possibilidade de escolha entre um pronome lexical e pro, este ltimo preferencialmente

    escolhido:

    (16) a) Gianni ha telefonato quando pro/*lui arrivato a casa.

    Giani telefonou quando chegou em casa.

    Abaixo Cardinaletti (2004) retoma essa questo com outros exemplos para mostrar que o pro no

    um pronome forte em italiano, comparando (17a) com (17b-c):

    (17) a) Deslocamento esquerda:

    Gianni/*egli la nostra causa non l'ha appoggiata.

    'Joo, a nossa causa, ele no a apoiou.'

    b) Contextos: auxiliar para complementizador

    Avendo Gianni/egli/pro telefonato a Maria...

    'Tendo Joo/ele/pro telefonado para a Maria...

    c) Apagamento de complementizador:

    48

  • Credevo Gianni/egli/pro avesse telefonato a Maria.

    (eu) pensava joo/ele/pro tivesse telefonado a Maria.

    A autora expe que pro nos exemplos acima s permitido nos mesmos contextos em que o

    pronome lexical fraco egli tambm permitido, uma vez que egli e pro possuem as mesmas

    caractersticas, ambos seriam pronomes fracos.

    Com base nos exemplos de Cardinaletti (2004), Roberts (2009) faz a seguinte afirmao:

    pro no um cltico, [isso] vem do fato de que pro ocupa uma posio de especificador, SpecTP.

    (p.44) O exemplo de Holmberg (2005) evidencia essa afirmao:

    (18) a) Puhun englantia.

    '(Eu) falo ingls.'

    b) Sit meni nyt hullusti.

    'Agora as coisas andam mal'

    (HOLMBERG, 2005, p.540)

    Barbosa (2010) apresenta 3 tipos de sujeitos nulos em seu trabalho: i) lnguas de sujeito nulo

    consistentes, tais como italiano, espanhol e portugus europeu; ii) lnguas de sujeito nulo parcial,

    finlands e portugus brasileiro, por exemplo e iii) lnguas de sujeito nulo orientadas para o

    discurso, como o chins, o japons e o koreano. A autora retoma as hipteses A e B de Holmberg

    (2005), argumentando que diferentemente do que foi apresentado pelo autor, lnguas de sujeito nulo

    parcial teriam uma melhor derivao pela hiptese A e no pela hiptese B.

    Barbosa defende que tanto lnguas de sujeito nulo parcial quanto lnguas de sujeito nulo

    orientadas para o discurso compartilham de propriedades que as diferem de uma lngua de sujeito

    nulo consistente. As duas propriedades compartilhadas por essas lnguas seriam: 1) a perda do

    princpio evite pronome; e 2) a possibilidade de ocorrncias de sujeitos nulos indefinidos.

    A autora defende a ideia de que tanto nas lnguas de sujeito nulo parcial, quanto nas lnguas

    de sujeito nulo orientadas para o discurso, exista um NP-anafrico nulo (null NP anaphora) em uma

    posio mais alta, que permite a omisso do sujeito nessas lnguas. De forma geral, as derivaes do

    sujeito se desencadeariam de duas maneiras:

    A) Em lnguas de sujeito nulo consistente, T apresentaria os traos- interpretveis, logo, com

    caractersticas pronominais. Por esse motivo, o specT est ausente ou com algum tipo de

    expletivo preenchido para satisfazer o EPP, caso ainda no tenha sido satisfeito;

    49

  • B) Em lnguas de sujeito nulo parcial e lnguas de sujeito nulo orientada para o discurso, o

    sujeito nulo seria o resultado de um NP-anafrico nulo, no qual a diferena de interpretao

    desse sujeito depender dos recursos disponveis na lngua para as operaes semnticas.

    A proposta da autora, embora interessante, no parece ser a ideal para a derivao de

    sujeitos nulos nas lnguas. As hipteses no conseguem dar conta do fato de se ter sujeito impessoal

    em lnguas tais como o ingls e o alemo. Outro aspecto importante que deve ser levado em

    considerao, ao adotar o NP-anafrico nulo, que a autora est se baseando no trabalho de

    Tomioka (2003). O autor expe nesse trabalho que o NP-anafrico nulo no se aplica a sintagmas

    no argumentais e a discusso proposta por Barbosa (2010) trata-se de lnguas que possuem um

    sujeito nulo no argumental. Por esse motivo que a autora adota a proposta de Holmberg (2005), em

    que o autor expe que haveria lnguas, tal como o ingls, com EPP fonolgico e outras no.

    Na prxima seo detalharemos a proposta de Holmberg (2010). A partir das anlises e

    definies apresentadas pelo autor, assumiremos nesta tese sua perspectiva terica de formalizao

    do sujeito nulo consistente e parcial nas lnguas.

    1.4 A proposta de Holmberg (2010)No trabalho de 2005, Holmberg apresenta duas possveis hipteses6 para sujeito nulo nas

    lnguas. O autor estabelece a distino entre traos interpretveis/valorados e no interpretveis/no

    valorados, termos estes definidos por Chomsky (1995).

    Hypothesis A

    The set if -features in T (Agr) is interpretable in Null-Subject Languagens (NSLs), and pro istherefore redundant; Agr is a referential, definite pronoum, albeit a pronoun phonologicallyexpressed as an affix. As such, Agr is also assigned a subject theta-role, possibly by virtue of virtueif heading a chain whose foot is in vP, receiving the relevant theta-role.

    Hypothesis B

    The null subject is specified for interpretable -features, values the uninterpretable features em Agr,and moves to Spec, IP, just like any other subject. This implies that the nullness is a phonologicalmatter: the null subject is a pronoun that is not pronounced.

    Como visto na seo 1.2 desta tese, Holmberg argumenta que lnguas como o Finlands

    6 Traduo dessas hipteses nas notas 2 e 3 na pgina 36 desta tese.

    50

  • demonstram que a hiptese B prefervel hiptese A. O autor argumenta que sujeitos nulos de

    terceira pessoa so Ps7 que recebem uma interpretao definida por meio de uma relao de

    ligao ou controle de um antecedente em uma orao mais alta. Na ausncia desse antecedente

    para estabelecer essa relao de ligao ou controle, os Ps de terceira pessoa podem ser

    interpretados como genricos. Sujeitos nulos de primeira e segunda pessoa so DPs especificados,

    os quais so deletados.

    Dessa forma, em lnguas de sujeito nulo consistente, tal como italiano, sujeitos nulos so

    Ps e diferem de lnguas como o finlands, uma vez que lnguas de sujeito nulo consistente

    possuem um trao-D em T, o que lhes garantem uma interpretao definida aos Ps sem a

    necessidade de um antecedente.

    Em Holmberg (2010), o autor explora a possibilidade de ter se enganado em sua anlise no

    que diz respeito aos sujeitos nulos definidos de lnguas de sujeito nulo consistente e dos sujeitos

    nulos genricos em lnguas de sujeito nulo parcial. Holmberg (2005) diz que ambos seriam Ps

    incorporados em T, no entanto, a diferena de interpretao estaria ligada a ao fato da

    presena/ausncia de traos no interpretveis em T [uD]. Ou seja, em lnguas de sujeito nulo

    consistente, como T possui os traos-D no interpretveis dos sujeitos Ps, a operao de

    incorporao permitiria a valorao dos traos-D ,e assim, o sujeito nulo seria identificado como

    um sujeito definido. J, em lnguas de sujeito nulo parcial, como T no possui trao-D em sua

    configurao, o sujeito pronominal de terceira pessoa, que um P, pode ser incorporado em T. No

    entanto, o resultado dessa operao um sujeito sem identificao, chamado por Holmberg de

    sujeito genrico8. Essa condio de presena de traos-D em T explicaria o fato de no se encontrar

    sujeito nulo genrico em lnguas de sujeito nulo consistente.

    Diante desses pressupostos, Holmberg (2010) apresenta a seguinte problemtica: Apesar de

    7 P denominao dada a pronomes fracos, deficientes, ou seja, que no possuem um valor de definitude. Essa nomenclatura foi proposta primeiramente por Dchane & Wiltschko (2002).

    8 Holmberg classifica como sujeito genrico, casos em que alguns pesquisadores, tal como Galves (1993) classificamcomo sujeito indefinido. A autora utiliza os seguintes exemplos: a) proUsa-se saia para o portugus europeu e b) proUsa saia para o portugus brasileiro.

    51

  • no apresentar sujeitos nulos genricos, boa parte das lnguas de sujeito nulo consistente apresenta a

    possibilidade de sujeito genrico realizado fonologicamente. Em outras palavras, h lnguas de

    sujeito nulo consistente que apresentam pronomes indefinidos na posio SpecTp e que

    compartilham traos com T para ser valorados e realizados fonologicamente.

    Se a hiptese de Holmberg (2005) estivesse correta, a situao apresentada acima no

    poderia ser verdade. Se os traos-D presentes em T, em lnguas de sujeito nulo consistente, no so

    capazes de valorar o sujeito nulo genrico, eles tambm no deveriam ser capazes de licenciar a

    identificao de um sujeito genrico realizado.

    Para solucionar esse problema terico, Holmberg (2010) reformula sua proposta. O autor

    mantm a ideia de que a principal diferena entre uma lngua de sujeito nulo consistente e uma

    lngua de sujeito nulo parcial seria a presena/ausncia de traos-D no interpretveis em T,

    respectivamente. No entanto, acrescenta que da mesma forma que em lnguas de sujeito nulo

    parcial, as lnguas de sujeito nulo cons