um estudo de caso sobre as empresas de factoring

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE " PAULO HENRIQUE DA COSTA CORREA Rio de Janeiro 2004

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Page 1: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS

EMPRESAS DE FACTORING NO

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

" PAULO HENRIQUE DA COSTA CORREA Rio de Janeiro 2004

Page 2: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

TÍTULO

UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR:

PAULO HENRIQUE DA COSTA CORRÊA

BAYMA DE OLIVEIRA DOUTORA EM EDUCAÇÃO

DOUTOR EM PSICOL~GIA

Page 3: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

EBAPE - ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

PAULO HENRIQUE DA COSTA CORRÊA

UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

NO ESTADO DO EspíRITO SANTO

VITÓRIA

2004

Page 4: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

PAULO HENRIQUE DA COSTA CORRÊA

UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

NO ESTADO DO EspíRITO SANTO

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas da Fundação

Getulio Vargas, como requisito parcial para

obtenção do Título de Mestre em Gestão

Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Istvan Karoly Kasznar.

VITÓRIA

2004

Page 5: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ANFAC

BACEN

BNDES

CF

CLT

CMN

COFINS

CPMF

CSLL

CTN

CVM

FCI

FEBRABAN -

FMI

FEBRAFAC -

INSS

IGP

IPC

IR

ISS

LUG

MP

PIB

PIS

PROER

SCTVM

SDE

SFN

SINFAC-ES -

TJLP

VPIB

LISTA DE SIGLAS

Associação Nacional de Factoring

Banco Central do Brasil

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Constituição Federal

Consolidação das Leis do Trabalho

Conselho Monetário Nacional

Contribuição para o Fundo de Investimento Social

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

Código Tributário Nacional

Comissão de Valores Mobiliários

Factors Chain International

Federação Brasileira de Bancos

Fundo Monetário Internacional

Federação Brasileira de Factoring

Instituto Nacional de Seguridade Social

índice Geral de Preços

índice de Preços ao Consumidor

Imposto de Renda

Imposto sobre Serviços

Lei Uniforme de Genebra

Medida Provisória

Produto Interno Bruto

Programa de Integração Social

Programa de Estímulo à Reestruturação! ao Fortalecimento

do Sistema Financeiro Nacional

Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários

Secretaria de Direitos Econômicos do Ministério da Justiça

Sistema Financeiro Nacional

Sindicato das Empresas de Factoring do Espírito Santo

Taxa de Juros de Longo Prazo

Valor da Produção das Instituições Bancárias

Page 6: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrutura do Sistema Financeiro Nacional.................................. 35

Quadro 2 - Ajuste do Sistema Bancário após o Plano Real.......................... 37

Quadro 3 - Funções Desempenhadas e Modalidades Brasileiras ................ 55

Quadro 4 - Associações de Classe ............................................................... 98

Quadro 5 - Motivação Inicial.......................................................................... 99

Quadro 6 - Grau de risco no negócio de factoring........................................ 100

Quadro 7 - Suficiência de Capital.................................................................. 103

Quadro 8 - Capacitação do Operador........................................................... 104

Page 7: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fatores aplicados nos anos de 1993 a 2003 .. ...... ..... ........ .......... 60

Tabela 2 - Balancete com Financiamento de um Banco Comercial............. 84

Tabela 3 - Situação de um Balancete com Financiamento por Factoring ..... 85

Tabela 4 - Segmentos Clientes das Operações do Factoring no Brasil........ 86

Page 8: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................. ................................................. 10 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................... 13 1.1 DEFINiÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO FOMENTO

MERCANTIL ........................................................................................ 13 1.1.1 Conceitos ........................................................................................... 13 1.1.2 Origens históricas ............................................................................. 19 1.1.3 Evolução do factoring no mundo.................................................... 25 1.1.4 Fundamentação legal e evolução do factoring no Brasil.............. 28 1.2 O FACTORING E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ................. 33 1.2.1 O SFN e as operações bancárias e não-bancárias ........................ 33 1.2.2 Atividades institucionais confundidas com o factoring................ 42 1.2.2.1 Desconto bancário ......................................................................... 43 1.2.2.2 Antecipação bancária .................................................................... 45 1.2.2.3 Mútuo civil...................................................................................... 46 1.2.3 Factoring versus instituições financeiras e agiotagem ................ 47 1.3 AS MODALIDADES DE FACTORING............................................. ..... 53 1.3.1 Modalidades domésticas de factoring............................................ 53 1.3.2 Modalidades estrangeiras de factoring........................................... 56 1.3.3 Método de cálculo do fator............................................................... 59 1.4 OPERACIONALlZAÇÃO DO FACTORING NO BRASIL ..................... 63 1.4.1 As funções operacionais do Factor ................................................. 63 1.4.2 A operação de factoring................................................................... 66 1.4.3 Os titulos negociáveis no factoring................................................. 69 1.4.3.1 Duplicata........................................................................................ 69 1.4.3.2 Cheque .......................................................................................... 71 1.4.4 O contrato de factoring..................................................................... 72 1.4.5 Principais instituições ligadas a atividade de factoring................ 74 1.4.5.1 ANFAC ........................................................................................... 74 1.4.5.2 Factors Chain International - FCI ................................................... 76 1.5 CENÁRIO ATUAL E EXPECTATIVAS DO FACTORING NO BRASIL 77 2 ESTUDO DE CASO...................................... ...................................... 87 2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................ 87 2.1.1 Caracterização da Pesquisa.............................................................. 87 2.1.2 Hipóteses e Premissas do Estudo.................................................... 90 2.1.3 Universo e Abrangência da Pesquisa.............................................. 92 2.1.4 Materiais e instrumentos................................................................... 93 2.2 OBSERVAÇÕES DIRETAS PRELIMINARES...................................... 94 2.3 CONTEÚDO DOS INQUÉRITOS......................................................... 96 3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE CAsuísTiCA......................................... 98 3.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................ 98 3.2 PROPOS~ÇÕES .................................................................................. 105 3.3 SUGESTOES PARA ESTUDOS FUTUROS ....................................... 107 CONCLUSÃO................................................................................................ 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 111 ANEXOS ........................................................................................................... 117

Page 9: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

RESUMO

Analisa as atividades das empresas operadoras de Factoring e descreve

resumidamente o surgimento deste segmento paralelo, suas atividades e

suas principais características no âmbito operacional, econômico, legal e

fisco-tributário. Relata que o desenvolvimento dessas atividades ocorre num

contexto de mudanças na dinâmica e na estrutura do Sistema Financeiro, de

forma semelhante ao que se verifica em termos internacionais, ao promover

alterações na forma tradicional de atuação dos bancos no Brasil a partir do

período pós-Real. Busca justificar a assertiva de que o advento das empresas

operadoras de Factoring foi essencial para o desenvolvimento de pequenas

empresas e, finalmente, apura se o programa de reestruturação do sistema

financeiro repercutiu nas atividades de Factoring. Inclui um estudo de caso

envolvendo empresas locais de fomento mercantil (no estado do Espírito

Santo) com o objetivo principal de constatar se dentre estas existem

instituições "camufladas", quais sejam, aquelas que visam somente

operações pecuniárias, assim evidenciando a prática da "agiotagem

empresarial".

Page 10: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ABSTRACT

It aims at analyzing the activities of the Factoring working companies and

describes the raising of that parallel segment, as well as its activities and its

main operational, economical, legal, tax-contributory characteristics. It is

stated that those activities have been developed in a context of dynamical and

structural changes in the National Financiai System, and the same is verified

internationally when promoting alterations in the traditional procedures of the

banks in Brazil, from the "Post-Real "period. In addition, it justifies the

assumption that the raising of the Factoring working companies has been

essential for the development of small companies. Finally, it considers the

repercussion of the restructuring of the National Financiai System to the

Factoring activities. It includes a case study involving factoring local

companies (in the State of Espírito Santo) aiming at checking if among those

companies, there are "disguised " ones, which would be the ones that focus on

pecuniary operations, thus, making evident the practice of "enterprising

speculation"

Page 11: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

10

INTRODUÇÃO

Com o advento do Plano Real, em julho de 1994, o novo ambiente de

estabilização macroeconômico passou a não mais suportar a dimensão que o

sistema bancário havia alcançado, em função do longo período de inflação e

desequilíbrio econômico. Várias instituições financeiras já haviam surgido para

se beneficiarem das receitas inflacionárias (ou float) obtidas entre a captação e

a aplicação de recursos. Logo, diante do novo cenário de estabilidade

econômica, todo o Sistema Financeiro Nacional teve de ser redimensionado e

reorientado para as novas formas de financiamento de suas atividades.

Com a perda das receitas inflacionárias, os bancos tiveram que explorar novas

fontes de receitas, além de adequar as suas estruturas diante do novo modelo,

principalmente como agentes da intermediação financeira, considerando que

tinham deixado essas atividades em segundo plano por um longo período

dedicado aos fáceis ganhos inflacionários. Contudo, de uma ou de outra

forma, continuaram desamparadas as microempresas, assim como os

empreendimentos empresariais de pequeno e médio porte, uma vez que, com

essa perda (float) , os bancos encontraram dificuldades em retornar as

operações de desconto de títulos.

Atualmente, o governo federal tem falado muito no empenho em aumentar o

microcrédito como forma de impulsionar o empreendedorismo, mas pouco tem

falado sobre fomento mercantil (Factoring), atividade essa que é um dos pilares

que sustenta poderosas economias, principalmente as de países da

comunidade européia.

No Brasil, o desenvolvimento dos pequenos, médios e microempresários

sempre dependeu de um agente capaz de agregar valores, impulsionar a

produção e estruturar o sistema de vendas dessas empresas, os factors.

Conceitualmente, o fomento mercantil (ou Factoring) é uma atividade complexa

baseada em dois componentes principais:

Page 12: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

11

prestação de serviços de suporte gerencial e financeiro; e

compra de direitos creditórios gerados pelas vendas da empresa-cliente.

Essa atividade movimentou o equivalente a R$ 30 bilhões no ano de 2002, e

cada vez está mais bem organizada, visando a profissionalização das

empresas geradoras de um grande número de empregos. Daí a importância

desse tema que também nos leva a mostrar o caráter social do Factoring que,

além de gerar inúmeros postos de trabalho, atende principalmente ao nicho dos

microempresários e das pequenas e médias empresas, setores estes que,

apesar da grande dificuldade na obtenção de recursos no setor financeiro para

financiar suas atividades, vêm tendo um crescimento significativo na conjuntura

econômica global.

Vêm à tona inúmeras questões, dentre as quais destacamos as seguintes para

o presente estudo:

o factoring se tomou um método conveniente para satisfazer a

necessidade de capital de giro das pequenas e médias empresas?

o segmento de mercado onde a empresa de factoring se situa vem

apresentando um crescimento significativo?

a propósito, este segmento vem suprindo a ocupação de um mercado

praticamente abandonado pelos bancos brasileiros? e

enfim, é certa a pressuposição de que as empresas de factoring do

Espírito Santo somente prestam serviço de compra de recebíveis das

empresas-clientes?

Para que estas perguntas sejam respondidas a contento, este trabalho está

duplamente fundamentado, posto que a partir de uma primeira vertente, levanta

a essência teórica e conceitual referente ao histórico do sistema financeiro

nacional e das empresas de fomento mercantil, assim como seu surgimento,

evolução e estágio atual. A inferência deste referencial teórico há de propiciar

respostas para as três primeiras questões. Na segunda vertente,

essencialmente empírica, será desenvolvido um estudo de caso, através de

Page 13: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

12

uma pesquisa inquisitiva para busca das respostas para a quarta e última

questão, formulada como hipótese central.

Enfim, o desenvolvimento deste trabalho está contido em três capítulos

dispostos conforme as mencionadas linhas de pesquisa, a saber:

No capítulo inicial, é efetuada uma revisão teórica e conceitual

abrangendo o Sistema Financeiro Brasileiro, desde seus marcos

históricos até a caracterização das operações financeiras bancárias e

não-bancárias, que se estende aos conceitos gerais do fomento

mercantil, descrevendo especificamente a atuação das empresas de

Factoring e, nesse contexto, suas operações;

O segundo capítulo define os materiais e procedimentos metodológicos

empregados no estudo de caso, sob a hipótese de que certas empresas

de Factoring somente prestam serviços de compra de direitos creditórios

e não outros serviços que pressupõem a atividade de fomento mercantil,

servindo apenas como um agente para a obtenção de financiamento; e

Finalmente, o último capítulo descreve os resultados e discussões que

validam (ou não) a hipótese precedente, encerrando com uma conclusão

sobre as demais questões formuladas neste trabalho como um todo.

Num país onde as taxas de juros estão situadas em um patamar bem acima da

média mundial e, por conseguinte, o custo de produção e manutenção das

empresas está cada vez mais alto e difícil, podemos notar que existe uma

busca por fontes de financiamento alternativas, o que pode levar a uma

distorção do papel das empresas de Factoring no Brasil, as quais correm riscos

elevados em face das incertezas e mudanças conjunturais que sofre a nossa

economia.

Page 14: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

13

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 DEFINiÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO FOMENTO MERCANTIL

1.1.1 Conceitos

O conceito de factoring pode ser expresso como sendo a compra parcial ou

total das contas a receber de uma empresa por outra, denominada factor, a

qual assume o risco de crédito mediante uma remuneração, além da

possibilidade de prestação de serviços no âmbito da gestão financeira.

Segundo Leite1, o factoring é uma atividade mista, pois envolve serviços e

compra de créditos (direitos creditórios) resultantes de vendas mercantis.

Factoring é fomento mercantil, uma vez que expande os ativos das empresas

clientes, aumentando suas vendas, eliminando seu endividamento e

transformando as suas vendas a prazo em vendas à vista. É a prestação

contínua e cumulativa de serviços de assessoria mercadológica, creditícia, de

acompanhamentos de contas a receber, etc. Outras definições são expressas

por diferentes autores, conforme se segue, iniciando pelo entendimento de

Phelps2 ao expressar o seu conceito de Factoring:

Modem factoring involves a continuing agreement under a financiai institution assumes the credit and collection function for its client, purchases his receivables as they arise without recourse to him for credit losses, and, beca use of these relationships, performs other auxiliary functions (usually financiai or advisory in nature) for its client. ( ... ) It is to be noted that the receivables purchased in a factoring operation are accounts and sometimes from trade acceptances and single payment notes not installment, sales contracts.3

1 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil, 6 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

2 PHELPS, Clyde W. The role o, Factoring in Modem Business Finance. 2 ed. Baltimore: Commercial Credit, 1962.

3 Tradução nossa: "Factoring modemo envolve um acordo contínuo, em que uma instituição financeira assume o crédito e função de cobrança para o seu cliente, compra seus recebíveis, sem recorrer a ele no caso de inadimplência, e, devido a essa relação, atua em outras funções auxiliares (geralmente financeira ou de consultoria) para seu cliente. ( ... ) Deve-se notar que os recebíveis adquiridos em uma operação de factoring são contas, e às vezes vindo de aceites de negócios e notas de pagamentos não parceladas, contratos de vendas".

Page 15: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

14

Rizzardo conceitua O Factoring como:

a relação jurídica entre duas empresas, em que uma delas entrega à outra um título de crédito, recebendo, como contrapartida, o valor constante no título, do qual se desconta certa quantia, considerada a remuneração pela transação.4

Já Montezano5 define Factoring como a oferta de serviços diversos através da

compra de créditos de curto prazo que as empresas, geralmente pequenas e

médias, tenham (ou venham a ter) em carteira e, por sua vez, Bulgarelli6 , de

forma simples, traduz o Factoring como a venda de faturamento de uma

empresa para outra que se incumbe de cobrar, e que recebe em troca

comissão e juros, no caso de adiantamento.

Deve ser destacado que, para Luiz Lemos Leite, presidente da ANFAC e autor

de inúmeras obras sobre o tema em questão, as empresas de factoring não

cobram juros, pois não são empresas financeiras, e sim, comerciais,

prestadoras de serviços diversos. Para ele, a remuneração recebida pelas

factoring se dá em forma de ad valorem (comissão pelos serviços prestados) e

de deságio dos seus títulos negociados, chamado de fator de compra. Essa é

uma discussão polêmica que será abordada sob diversos prismas nos tópicos

subseqüentes deste trabalho.

o eminente autor reflete uma definição, para o caso brasileiro, revelando que:

o factoring é uma atividade eminentemente comercial que consiste em oferecer três tipos de serviços ao pequeno e médio empresário, tal como imagino deva ser operado no Brasil, a saber: assessoria administrativa(análise de riscos e gestão financeira); cobrança de títulos oriundos das vendas a prazo; e, aquisição definitiva de ativos ou direitos de créditos. 7

4 RIZZARDO, Arnaldo. Factoring. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 11.

5 MONTEZANO, Roberto. Factoring .. Rio de Janeiro: IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), 1983.

6 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis. 10 ed. São Paulo: Atlas, 1998.

7 LEITE (1999, p. 17).

Page 16: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

15

E prossegue:

Como conseqüência da prestação de todos esses serviços, o factoring adquire as contas a receber, mediante um preço à vista, transforma as vendas a prazo (faturadas) em vendas à vista, ou seja, as contas a receber em disponibilidades, sem criar exigibilidades, porque adquire à vista parte do ativo realizável representado pela rubrica contas a receber da pequena e média empresa.8

As diferentes definições de factoring exibem as várias faces dessa atividade, a

qual se incorporam técnicas de gestão financeira e técnicas de gestão

comercial. A gestão financeira se dá no momento da mobilização dos créditos,

assumindo seus riscos. Essa técnica é enfatizada quando o agente de fomento

comercial ou mercantil antecipa créditos, antes dos seus vencimentos, à

empresa-cliente, utilizando uma taxa de desconto para atualizar os valores

negociados. Já em relação à gestão comercial, ocorre quando o factor assume

as atividades de crédito e cobrança, passando pela análise de risco, podendo

até mesmo executar serviços de faturamento e contabilidade, prestados como

consultoria.

o pressuposto básico do factoring é a comprovação de prestação de serviços

conforme a doutrina de Ottawa9. A segunda parte da operação consiste na

compra de recebíveis, na qual a empresa-cliente, ao produzir e vender sua

mercadoria (produto ou serviço), emite documentos(nota fiscal e duplicata)

necessários para caracterizar uma transação comercial. De posse desses

documentos, a empresa-cliente vende à vista seus direitos sobre as vendas

anteriormente realizadas, os quais são comprados pela empresa de fomento

mercantil. Por tratar-se de uma transação mercantil, à vista, é necessário que

sejam estipulados o preço e as condições para que essa transação seja

8 LEITE (1999, p. 18).

9 A definição do factoring moderno foi aprovada pela Convenção Diplomática de Ottawa -Maio/88 - que consolidou toda a doutrina do factoring que vinha sendo praticada no mundo, onde cinqüenta e três nações signatárias (entre estas o Brasil) finnaram este acordo internacional, patrocinado pelo Governo do Canadá e promovido pelo Unidroit (lnstitut Internacional Pour I'Unification Ou Oroit Privé), com sede em Roma e fundado em 1926 pela antiga Liga das Nações. (Leite, 1999)

Page 17: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

16

realizada, não sendo cabível, portanto, cogitar-se da cobrança de juros. Esse

deságio cobrado pela empresa faturizadora é conhecido por fator de compra e

contém todos os componentes do custeio das operações.

Consubstanciado na mencionada Convenção de Otawa, o factoring foi

conceituado legalmente10 como a atividade de prestação cumulativa e contínua

de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção

de riscos, administração de contas a pagar e a receber, conjugada com a

compra de créditos de empresas - resultantes de suas vendas mercantis a

prazo, ou de prestação de serviço -, excluídas transações de consumo,

representadas pela compra de produtos destinados ao uso pessoal, familiar ou

doméstico. 11

Por isso, conforme a Resolução n. 2.144/95 do BACEN, a prática de qualquer

ato financeiro alheio a esta definição legal, viola a Lei de Crimes contra o

Sistema Financeiro (Lei n. 7.492/86), conforme Barros12, e contraria a Lei de

Reforma Bancária 13.

Segundo Diniz14:

o contrato de faturização, de fomento mercantil ou factoring é aquele em que um industrial ou comerciante (faturizado) cede a outro (faturizador), no todo ou em parte, os créditos provenientes de suas vendas mercantis a terceiro, mediante o pagamento de uma remuneração, consistente no desconto sobre os respectivos valores, ou seja, conforme o montante de tais créditos. É um

10 A definição conceitual foi adaptada pela Lei n. 8.981/95, arts. 28, § 1°, c. 4 e 48, parágrafo único, c. 4.

11 Referido conceito foi posteriormente confirmado, em seus exatos termos, pelo art. 58 da Lei n.o 9.430/96.

12 BARROS, José Roberto Mendonça. Análise do Ajuste do Sistema Financeiro no Brasil. SPE Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Artigo disponibilizado pela Internet no site <www.fazenda.gov.br>. Acessado em 15/10/2002.

13 BRASIL, Lei n.o 4595, de 31 dezembro de 1964. Dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e da outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág 12081, 31 de dez. 1964 (retificada na edição de 03 de fev. 1965 à pág 1321).1964.

14 DINIZ. Maria Helena.Tratado Teórico e Prático dos Contratos. São Paulo: Saraiva, 1999, p.71.

Page 18: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

17

contrato que se liga à emissão e transferência de faturas. ( ... ) É, portanto, o contrato principal celebrado entre a empresa de factoring e seu cliente, para aquisição de créditos faturados pelo último, que transfere àquela empresa seus direitos creditários decorrentes de venda mercantil ou prestação de serviços.

Martins descreve que:

o contrato de faturização, ou factoring, é aquele em que um comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo, o montante desses créditos, mediante o pagamento de uma remuneração. 15

o Unidroit, através de técnicos, juristas e empresários, estudou o factoring

durante 14 anos, produzindo muitos relatórios, dos quais se extraíram

preciosos subsídios. Dentre as conclusões, convém ressaltar aquela que

estabelece que só o contrato que inclua a realização de, no mínimo, dois dos

seguintes serviços, em bases contínuas, será considerado como factoring: 16

Acompanhamento comercial e das contas a receber e a pagar;

Exame da situação creditícia da empresa compradora dos produtos;

Seleção de riscos;

Cobrança; e

Suprimento de recursos.

Sendo um conjunto de serviços de apoio gerencial e de fornecimento de

recursos à empresa-cliente, mediante a venda de sua produção, o factoring só

pode ter como clientes pessoas jurídicas(empresas), visto que é um

mecanismo intrinsecamente vinculado ao setor produtivo(de bens ou serviços):

É a prestação de serviços, em base contínua, os mais variados e abrangentes, conjugada com a aquisição de créditos de empresas, resultantes de suas vendas mercantis ou de prestação de serviços, realizadas a prazo. Esta

15 MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações Comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 469.

16 ANFAC - Associação Nacional das Empresas de Factoring. Cartilha: o que é Factoring, disponível pela Internet no site <http://www.anfac.com.br/cartilhaJoqueefactoring.jsp>. Acessado em 19/08/03.

Page 19: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

18

definição, aprovada na Convenção Diplomática de Ottawa, em maio de 1988, da qual participou o Brasil com mais 52 Nações, consta do Art. 28 da Lei 8981/95. No Brasil, traduzimos a expressão FACTORING, de origem latina, para fomento mercantil. As empresas aqui são conhecidas como sociedades de fomento mercantil. São sociedades mercantis, registradas e arquivadas nas Juntas Comerciais. 17

De acordo com a Factors Chain Intemational (IFC), instituição internacional de

empresas independentes de fomento mercantil, podemos destacar a seguinte

definição:

(. . .) factoring is a complete financiai package that combines credit protection, accounts receivable bookkeeping, and col/ection services. It is an agreement befINeen the factor and a sel/er. Under the agreement, the factor purchases the sel/er's accounts receivable, norrnal/y without recourse, and assumes the responsibility for the debtor's financiai ability to pay. If the debtor goes bankrupt or is unable to pay it's debts for credit reasons, the factor wil/ pay the sel/er. When the sel/er and the buyer are in different countries the service is cal/ed intemational factoring. 18 19

Destacados os diferentes conceitos sobre o tema aqui desenvolvido, a

definição que melhor configura o factoring, nos dias atuais, é a de Leite(1999),

a qual abrange todas as atividades que podem ser desenvolvidas pela empresa

de fomento mercantil, como a compra de direitos de crédito e a prestação de

serviços para suas empresas-clientes, assim como a diferença entre empresas

de fomento mercantil e instituições financeiras, a qual será abordada

posteriormente nesse trabalho.

17 'd ibid. 18 Tradução nossa: "( ... ) factoring é um pacote financeiro completo que combina proteção de crédito, gerenciamento de contas a receber e serviços de cobranças. Esse é um acordo entre o facto r e o vendedor. Sob o qual, o factor adquire as contas a receber do vendedor, normalmente sem recurso, e assume a responsabilidade para o devedor de pagar. Se o devedor tomar-se insolvente ou não ter como pagar por razões de crédito, o factor pagará ao vendedor. Quando o vendedor e o comprador estão em países diferentes, o serviço é chamado de factoring internacional".

19 IFC - Factors Chain International Home page da instituição disponível na internet no site <http://www.factors-chain.com/b3/b3.html>. Acessado em 21/08/03.

Page 20: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

19

1.1.2 Origens históricas

A palavra factoring é de origem inglesa, enraizada no latim - do verbo facere

(fazer), de onde provém o substantivo factor (declinação nominativa), factoris

(declinação genitiva), com o significado de aquele que faz alguma coisa, que

desenvolve ou fomenta uma atividade. O sufixo ing é proveniente do inglês,

que acoplado ao substantivo factor, expressa em fazendo, ou em agindo.

A origem do factoring, conforme respeitados pesquisadores, remonta-se na

mais longínqua Antigüidade. Sebastião de Nóbrega Pizarro e Margarida

Mendes Calixto, autores portugueses, citados por Donini20, afirmam que:

Como em quase todas as relações de caráter comercial, é difícil situar o aparecimento do factoring, ou melhor, da atividade dos factors. Houve quem encontrasse reminiscências deste tipo de atividade na cultura neobabilônica dos Caldeus, onde um sujeito, mediante o pagamento de uma comissão, garantia a cobrança de créditos.21

Nas antigas Grécia e Roma, comerciantes incumbiam a agentes (factors) ,

disseminados por lugares diversos, a guarda e venda de mercadorias de sua

propriedade. A expressão factors, em seu sentido original de "agente mercantil"

para os romanos, designava o comerciante que exercia suas atividades por

conta de outros comerciantes.

No mundo antigo, fenícios, gregos e romanos, que estabeleciam seus pontos

às margens do mar Mediterrâneo, eram considerados comerciantes

especializados que recebiam, armazenavam e vendiam as mercadorias e

faziam cobrança por conta de seus comitentes, mediante uma remuneração. 22

Na Idade Média, os factors se tornaram itinerantes, pois percorriam longas

distâncias entre as várias regiões da Europa e do Oriente Médio, como agentes

20 DONINI, Antonio Carlos. Factoring: de acordo com o novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

21 ____ , 2002, p. 13.

22 LEITE (1999, p. 19).

Page 21: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

20

de compra e venda de produtos, mercadorias e especiarias, desenvolvendo

intenso comércio.

Nos séculos XVI e XVII, a política de expansão colonial adotada pela Inglaterra,

Países Baixos, Portugal e Espanha, valorizou a missão dos factors que

notoriamente itinerantes, foram obrigados a instalar-se nas colônias de além­

mar, tornando-se os representantes e depositários locais das mercadorias

enviadas pelos comerciantes das metrópoles européias.

No período da colonização, a origem do factoring, da forma como praticado na

atualidade, remonta a partir do século XVI na Inglaterra, juntamente com os

descobrimentos marítimos e a colonização britânica no novo mundo, segundo o

professor Jacobo Leonis, citado por Donini23:

o modemo factoring tem seu antecedente mais remoto no século XIV, na Inglaterra, quando foi utilizado ali exclusivamente no mercado têxtil, no setor da lã. As peças de lã confeccionadas pelos fabricantes eram aceitas em regime de consignação por determinados comerciantes que as vendiam a outros e por alguma razão especial os consignatórios garantiam aos fabricantes a cobrança de seus créditos comerciais contra os adquirentes.

Durante os séculos XVII e XVIII, o factoring adquiriu grande importância na

América anglo-saxônica, onde os factors representavam e trabalhavam para

interesses britânicos, recebendo e distribuindo as mercadorias importadas,

efetuando a cobrança das mesmas e ainda efetuando antecipações ou

adiantamentos aos exportadores ingleses.

Mais tarde, com a emancipação dos Estados Unidos da América (EUA), e com

a promulgação das primeiras leis alfandegárias protetoras de sua indústria, os

factors dali se desligaram dos exportadores da antiga metrópole e começaram

a empregar seus conhecimentos e sua capacidade econômica em benefício

dos fabricantes do novo país. No século XVIII, com a implantação da indústria

têxtil na colônia americana, tornou-se preponderante a função do factor, que

23 Leonis apud DONINI (2002, p. 14).

Page 22: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

21

era designado nos contratos com o nome de Agents e Factors. Finalmente, em

1808, na cidade de Nova York, surgiu a primeira operação, que, realizada por

um factor, passou a ser denominada universalmente como factoring. 24

Nos Estados Unidos, até as primeiras três décadas do século XX, o factoring

estava direcionado às manufaturas de algodão, lã e indústria têxtil. Mas, devido

às crises bancárias de 1931 e 1933, o factoring, que ficava à margem das

rigorosas regulamentações bancárias dos Estados Federais da União,

começou a estender-se para outras indústrias como móveis, sapatos, plásticos,

produtos químicos, couro, desenhos e brinquedos, e, posteriormente, de

eletrodomésticos. Assim, por conhecer melhor a solvência dos compradores, a

função do factor era representar os vendedores da metrópole que, ao

tornarem-se os cobradores normais dos créditos decorrentes das vendas,

passaram a adiantar dinheiro em relação aos créditos e, finalmente, a garantir

o adimplemento dos adquirentes das mercadorias.

Essa familiaridade e um clima de confiança que se criava entre os agentes e

vendedores, fizeram com que os pagamentos fossem remetidos logo que

recebidos com uma dedução de uma comissão remuneratória. Posteriormente,

os agentes recebiam os valores junto aos adquirentes, quando efetivamente se

reembolsavam dos pagamentos adiantados. Dessa forma, o factor passou, de

um simples comissário, a assumir uma posição de financiador de comerciantes,

adquirindo os seus créditos mediante o pagamento dos mesmos em épocas

combinadas mas, em regra, antes do vencimento.

A respeito destes marcos históricos, LUZ25 (1996) comenta que:

( ... ) Essa simples corretagem comercial sofreria, nos Estados Unidos, surpreendente evolução. A princípio desenvolveu-se ligada especialmente à importação de produtos ingleses e, mais tarde após a declaração de independência, voltada à produção interna. Alguns desses corretores comissionados foram criando formas de participação mais ativa no negócio de seus representados. Passaram estão a garantir as vendas, mantendo cativo o

24 DONINI (2002, passim). 25 LUZ, Aramy Dornelles. Negócios Jurídicos Bancários. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.

Page 23: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

22

mercado, a garantir o pagamento das vendas, assumindo a prestação de serviços burocráticos, os mais variados, que vão desde a elaboração da contabilidade interna, à emissão de faturas, serviço de cobrança, seleção de clientes, elaboração de produto, marketing, intermediação na compra de matéria prima, controle de custos de produção, compra de créditos, enfim, verdadeira prestação de serviços de administração global. (Luz, 1996: 257)

A origem do factoring remonta de longínquos tempos, quando Hamurabi, o

mais famoso soberano da Babilônia, há mais de dois mil anos antes da nossa

era, fez gravar, como parte do chamado "Código de Hamurabi" 26, fórmulas de

gestão comercial e normas que regulamentavam os procedimentos do

comércio daquela época. É do "Código de Hamurabi" que partem as origens

históricas dos bancos e de outras atividades comerciais relacionadas com o

crédito, dentre elas, o factoring. 27

A figura do agente mercantil nasceu com a civilização para facilitar e

incrementar o comércio, que era, naqueles tempos, baseado nas trocas de

mercadorias - o escambo, uma vez que não existia moeda. A troca(venda) de

mercadorias ou ativos com a finalidade de obter os recursos necessários para

o comerciante tocar e girar os seus negócios é tão antiga quanto o comércio

em si, e utilizada para contornar dificuldades encontradas na comercialização

das mercadorias. Assim, verifica-se que comprar créditos comerciais para

levantar recursos é uma prática dos primórdios da civilização, como consta dos

registros históricos dos negócios, para fazer capital de trabalho.

Segundo Leite28, por volta de 1200 a.C., os fenícios dominaram o comércio do

Mar Mediterrâneo e chegaram à Península Ibérica, onde desenvolveram

substancialmente o seu comércio. Movidos pela necessidade de reduzir o

26 Pesquisadores como Hillyer (1941), citado por Vieira (1999, p. 8), buscaram a origem histórica dos bancos e de outras atividades comerciais relacionadas com o crédito, dentre as quais, localiza-se, o Factoring. Encontrando informações de que, há mais de 2000 anos de nossa era, Hamurabi, Rei da babilônia, fez gravar um bloco de pedra, como parte do chamado "Código de Hamurabi", fórmulas de gestão comercial e normas que regulamentavam os procedimentos do comércio e do crédito naquela época.

27 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. Sed. São Paulo: Atlas. 1997. p.19.

28 __ ,1997. p.19.

Page 24: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

23

"risco de crédito" mediante a presença física de seus agentes no mercado de

destino e para expandir as suas relações comerciais, os fenícios criaram suas

factorias - centros comerciais. O centro comercial mais desenvolvido do

Mediterrâneo foi Cartago, construído pelos fenícios e muito cobiçado pelos

romanos, que lutaram de 264 a 146 a.C. (Guerras Púnicas) para conquistá-lo.

Já os romanos, que construíram um dos maiores impérios da História,

organizaram sua economia explorando as possibilidades comerciais das várias

regiões subjugadas29. Para isso, estabeleceram em pontos estratégicos do seu

vasto território a figura do factor, na maioria das vezes, um comerciante

próspero e de boa índole, conhecido em determinada região e que se

encarregava de promover o comércio local, de prestar informações creditícias

sobre outros comerciantes, receber e armazenar mercadorias provenientes de

outras praças e fazer a cobrança, pela qual recebia em pagamento uma

remuneração. Era um verdadeiro consultor de negócios, um agente mercantil.

O uso milenar das funções de um factor, por comerciantes, tinha como objetivo

facilitar e garantir bons negócios. Os factors, por serem profundos

conhecedores do mercado e da tradição creditícia dos comerciantes locais,

agiam como intermediários nas trocas comerciais e no desenvolvimento da

economia romana. Desempenharam um papel de tanta importância, que

mesmo com a decadência do Império Romano, os factors continuaram a

exercer as suas funções.

Segundo Leite30, esta forma contratual se disseminou, a partir da Idade Média,

em outros povos, desenvolvendo-se com grande expansão na época dos

grandes descobrimentos, em que, principalmente, a Espanha, Holanda,

Inglaterra, Veneza e Portugal lideravam o comércio internacional, com a

conquista de seus territórios ultramarinos. Portugal, em particular, estabeleceu

29 LEITE, 1997, p. 20.

30 Op. cit., p. 21.

Page 25: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

24

em suas colônias da Ásia e da África, as factorias, centros polarizadores entre

a Metrópole, as colônias e outros povos vizinhos.

Nos Estados Unidos, ainda colônia inglesa, esse sistema apresentava

características especiais, pois os factors não apenas administravam e vendiam

os estoques de produtos para os seus proprietários na Europa, como também

garantiam o pagamento como agentes deI credere.

Na época dos grandes descobrimentos, países como Portugal, por exemplo,

estabeleceram em suas colônias da Ásia e da África, as factorias - empórios,

armazém de mercadorias, um centro polarizador entre a Metrópole, as colônias

e outros povos vizinhos. Mas o factoring, como negócio moderno, foi

desenvolvido na Inglaterra que, em suas operações comerciais do século XVI,

indicava um agente comercial (factor) para vender mercadorias a terceiros em

nome próprio, contra o pagamento de uma comissão.

Silva31 descreve que, em face das grandes distâncias entre os centros

consumidores do Estados Unidos, os industriais locais também começaram a

utilizar-se dos serviços dos factors para expandir seus negócios.

Com o crescimento populacional, o comércio entre colônias e a Inglaterra também aumentou, e com isso também houve um aumento da participação da atividade de factoring. Com a revolução industrial, a indústria têxtil foi fortemente impulsionada pela mecanização e seus produtos eram levados para as colônias americanas. Pode-se dizer que a primeira grande indústria a utilizar os serviços de factoring foi a indústria têxtil e, ainda hoje, aproximadamente 200 anos após a revolução industrial, a indústria têxtil continua ocupando posição entre as que mais se utilizam desse serviço. ( ... ) Pode-se dizer que a atividade de factoring cresceu junto com a indústria têxtil, sendo que ocupou papel de grande importância; quando do início da revolução industrial, os factors desempenharam importante papel atuando com vendedores dos produtos (têxteis em especial) britânicos e desempenhando as funções de garantia de crédito e cobrança, e adiantando fundos para os fabricantes britânicos. Acreditamos, então, que o factoring faz parte da cultura da indústria têxti I. 32

31 SILVA, Eduardo Menezes da. Análise da Evolução das Operações de Factoring. São Paulo: EAESP/FGV, 1995 (Dissertação de Mestrado).

32 Op. cit., p. 20.

Page 26: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

25

o factor, que no seu sentido primitivo prestava serviços de comercialização,

distribuição e administração, agregou a função de fornecedor de recursos e,

por conseguinte, com a venda de créditos oriundos da venda dos bens pelos

fornecedores, adquiriu o direito de cobrá-los, como seu legítimo proprietário,

surgindo assim o sentido moderno do factoring. Assim, os factors prosperaram,

passaram a pagar à vista aos seus fornecedores o valor das vendas por estes

efetuadas, antes mesmo de os compradores o fazerem, o que será

comprovado adiante conforme os registros de Leite.

o factor, a par dos serviços prestados, substitui o comprador final daquela

mercadoria. Como as comunicações eram precárias, o produtor enviava, em

consignação, seus bens para que o agente mercantil vendesse e despachasse

para o comprador final, onde "( ... ) o factor se revelava uma espécie de agente

ou representante externo de algumas atividades comerciais".33

Desse modo, o factoring evoluiu de um simples contrato de comissão para

constituir um contrato em que o factor assume a posição de financiador dos

comerciantes, adquirindo os seus créditos, mediante o pagamento dos mesmos

em épocas aprazadas, porém antes do vencimento.

1.1.3 Evolução do factoring no mundo

A América do Norte era uma grande fonte de matéria-prima para os países da

Europa e, durante muito tempo, a colônia teve como principal fonte de renda a

exportação de produtos, como madeira e peles, para o continente Europeu.

Posteriormente, a América do Norte, tornou-se um excelente mercado para que

os produtos acabados, oriundos da Europa, fossem vendidos. Os norte­

americanos tinham seus agentes nas capitais européias, principalmente

Londres, para facilitar a distribuição de seus produtos. Com o desenvolvimento

da colônia, esses agentes passaram a atuar tanto na Europa como na América

33 MONTEZANO (1983, p. 19).

Page 27: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

26

do Norte, e eram responsáveis pela intermediação das vendas e

armazenamento das mercadorias, além de serem responsáveis pelas

cobranças dos créditos gerados por essas transações. Esses agentes eram

chamados de factors. Com o aumento dos negócios, os agentes de factoring

passaram a antecipar recursos para os proprietários das mercadorias, como se

vê no texto de Silva:

Com o crescimento do volume das transações e conseqüentemente da colônia, o papel dos factors começa também a crescer. E ele passa então a também adiantar fundos aos fabricantes antes da cobrança dos valores referentes às vendas. Como garantia os factors mantinham uma parte do estoque em seu poder, e cobravam juros referentes aos valores adiantados por proverem liquidez aos fabricantes. Aspectos como grandes distâncias (e a difícil comunicação entre fabricante e consumidor final) faziam do factoring um bom nicho de mercado. Assim, as principais funções do factoring eram as seguintes: distribuição de bens, avaliação de risco de crédito, contabilidade das transações e empréstimo de fundos aos fabricantes. Após o final da Guerra Civil americana, o papel do factoring começa a mudar, vindo de encontro com uma nova dinâmica das relações entre Europa e América do Norte. ( ... ) Sua importante função de armazenador de produtos passa a ser desempenhada pelos próprios fabricantes americanos que estão próximos dos seus consumidores. A função de vendas ( ... ) passa a ser desempenhada também pelo fabricante. O papel então que o factoring intensifica a sua participação é na intermediação financeira das operações e suas principais funções passam a ser as seguintes: adiantavam fundos em relação a recebíveis, cobravam, mantinham a contabilidade e assumiam riscos. ( .. ) O fabricante passa a ser conhecido como cliente de factoring. 34

Nota-se, então, uma mudança estrutural nesse nicho de mercado, onde

pequenas empresas de factoring fundiram-se, dando início a grandes

corporações de factoring, e passando a atuar em nichos de mercado

específicos, como por exemplo, o da indústria têxtil. A principal característica

dos contratos de factoring nos Estados Unidos(EUA) é a de que as operações

são feitas sem o direito de regresso( a empresa-cliente não tem mais risco

sobre aquele crédito, a partir do momento que ela o vende para a empresa de

factoring) salvo algumas situações como, por exemplo, a mercadoria estar

34 SILVA (1995; p.23).

Page 28: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

27

defeituosa, neste caso a factoring volta-se contra o cedente( empresa-cliente)

do título para cobrar o crédito. 35

Na década de 60, na Europa, quando o factoring assumiu sua forma atual, o

First National Bank, já estabelecido nos EUA, implanta um projeto de factoring

como forma de auxiliar as transações de comércio internacional entre EUA e

países da Europa. A esse respeito, comenta Silva:

A idéia era desenvolver uma rede de empresas de factoring localizada na Europa visando principalmente o apoio ao comércio local, doméstico, de cada país. Para a operação internacional, efetuariam negócios com outras empresas da rede. Para a exportação iriam transferir as faturas de exportação, recebidas de seus clientes, para a empresa localizada no país do importador, onde reside o devedor. ( ... ) Para a importação, receberiam as faturas de devedores no seu país, transferidas pelos representantes ou filiais estrangeiras do grupo. A vantagem é que o serviço seria fornecido em base local pela empresa localizada no país onde o risco existe - o país importador - que conhece o mercado, a operação doméstica, fala a mesma língua do devedor e estaria em uma melhor posição para apreciar a situação financeira do devedor, a extensão do crédito, os procedimentos necessários e todos os trâmites legais. Se uma dívida aprovada pelo factoring no país da importação não é paga, o factoring de importação pagaria ao factoring de exportação no período aprazado acordado após a data aprazada inicial. ( ... ) Assim nasceu a rede internacional que originou a FCI, Factoring Chain International, que junto com a IFG, Intemational Factoring Group, são hoje duas organizações que têm por principal objetivo a divulgação do factoring. 36

Atualmente, ocorre na Europa uma grande participação do setor bancário nas

empresas de factoring, as quais, em sua maioria, são subsidiárias de bancos

comerciais. Os principais serviços oferecidos das empresas européias são:

cobertura de riscos, cobrança e fomento às empresas-clientes.

Como também sucede nos EUA, as empresas de factoring européias podem

fazer captação de recursos no mercado interbancário, por serem consideradas

35 Existe uma diferença básica entre a atividade de factoring desenvolvida nos Estados Unidos e no Canadá, apesar de o factoring ter surgido também no período colonial. No Canadá as empresa de factoring passaram a ser grandes empresas mercantis. A maioria das empresas canadenses não adianta recursos para suas empresas-clientes, elas atuam nas áreas de garantia de crédito, serviços de cobranças e contabilidade (Silva, 1995).

36 SILVA (1995, p. 38).

Page 29: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

28

instituições financeiras. Os principais clientes dessas empresas na Europa

estão dispostos de forma variada. Já nos países da Ásia e Oceania, o factoring

somente se desenvolveu na década de 80. Sua participação apresentou

crescimento com base no comércio internacional, devido, principalmente, ao

"boom" das economias emergentes dessas regiões.

Alguns países, como Japão e Taiwan, têm legislação que impede a operação

desse tipo de empresa, pois os devedores são obrigados a pagar suas dívidas

diretamente aos compradores. Vale ressaltar a tendência de as empresas de

factoring também estarem ligadas a grupos de bancos ou instituições

financeiras.

1.1.4 Fundamentação legal e evolução do factoring no Brasil

A atividade de fomento mercantil ou factoring no Brasil, segundo Leite37,

começa a tomar forma em fevereiro de 1982, quando foi fundada a ANFAC,

que tem por finalidade divulgar os verdadeiros conceitos do factoring, como

mecanismo sócio-econômico, de apoio gerencial e financeiro, sobretudo para

as empresas de médio e pequeno porte, bem como prestar toda assistência

necessária às afiliadas sociedades de fomento mercantil.

Isto quer dizer que a introdução do factoring no Brasil foi preconizada como um

meio de atender às pequenas e médias empresas, na obtenção de capital de

giro, sem as dificuldades observadas no desconto bancário, muitas vezes de

difícil acesso aos "pequenos comerciantes". Mas houve um tempo em que

simplesmente se vedava a prática do factoring por empresas não autorizadas

pelo Banco Central do Brasil (art. 18 da Lei nO 4.595/64).38

37 LEITE (1999).

38 BRASIL (1964).

Page 30: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

29

Não era bastante o registro perante às Juntas Comerciais. Impunham-se os

complexos trâmites exigidos para a constituição de um estabelecimento

financeiro, a fim de viabilizar a atuação no ramo. Nesse contexto, surgiu a

circular proibindo a constituição de sociedades de fomento mercantil enquanto

não viesse a regulamentação própria emanada do CMN.

o Banco Central defendeu a tese de que as operações de factoring

apresentam, na maioria dos casos, características e particularidades daquelas

privativas das instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. No

entanto, decisões da Justiça fizeram com que o Banco Central reconsiderasse

sua posição. Não existia, na verdade, óbice às operações envolvendo o

factoring. Exigia-se, porém, a chancela do Banco Central, o que tornava

extremamente difícil a constituição de empresas no setor. Este primeiro evento

foi marcante da história do factoring do Brasil, considerando seus ditames

abaixo destacados:

Em fase das disposições da Lei nO 4.595 de 31.12.64, em especial as contidas em seus artigos 2°, 3°, inciso V. 48

, incisos VI e VIII, 10, inciso V. 11 inciso VII e 44. § 7°., o Banco Central do Brasil, ouvido o Conselho Monetário Nacional, em sessão realizada nesta data, decidiu tomar públicos os seguintes esclarecimentos: I - As operações conhecidas por factoring, 'compra de faturamento' ou denominações semelhantes, em que, em geral, ocorre a aquisição, administração e garantia de liquidez dos direitos creditórios de pessoas jurídicas decorrentes de faturamento da venda de seus bens e serviços -apresentam, na maioria dos casos, características e particularidades próprias daquelas privativas de instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. 11 - Assim, e até que a matéria seja regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional, as pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas que realizarem tais operações continuam passíveis, na forma prevista no 47° do artigo 41 da Lei nO 4.595 de 31.12.64, das penas de multa pecuniária e detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, ficando sujeitos a estas seus administradores, quando pessoas jurídicas. 39

Este ato, injusto, ambíguo e atípico, que proibia e perseguia o funcionamento

do fomento mercantil, fez com que as entidades ligadas ao factoring lutassem

com suas forças legais para o livre funcionamento deste setor.

Page 31: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

30

o ato foi revogado pela Circular 1359, de 30 de setembro de 1988, que

reconhecia que o factoring era uma atividade séria com o objetivo econômico

claro de ser um mecanismo de apoio às micro, pequenas e médias empresas,

sancionando o caráter mercantil das transações dos facforings. Atualmente,

atualmente vários atos administrativos e legislativos infraconstitucionais

corroboram os conceitos expostos e ratificam a disciplina jurídica do factoring

como instituto regido pelos princípios do direito mercantil, oferecendo-lhe o

suporte legal e operacional.

o factoring é uma atividade comercial, onde não se atua na captação, coleta ou

intermediação de recursos financeiros. Conseqüentemente, para a constituição

de suas empresas ou firmas se procederá normalmente como em outros casos

dos mais diversos ramos de empresas e firmas comerciais. Ou seja, é

suficiente o arquivamento dos estatutos ou dos atos formais na Junta

Comercial.

Operacionaliza-se sob um contrato atípico, vez que não existe legislação

específica, no Brasil, regulamentando ou enquadrando a atividade no direito

positivo. No entanto, aproveita integralmente os princípios e dispositivos de

vários diplomas legais e vai, aos poucos, adquirindo foros ou contornos

próprios no campo do direito.

As mais de setecentas sociedades de fomento mercantil filiadas ao Sistema

FEBRAFAC/ANFAC são sociedades legalmente constituídas, com sua

atividade econômica definida no seu objeto social, e registradas nas Juntas

Comerciais. Ao associar-se, essas sociedades firmam um termo de

compromisso de: praticar o factoring como factoring, dentro da legalidade;

contabilizar todas operações realizadas com base no contrato de fomento

mercantil celebrado com suas empresas clientes (exclusivamente pessoas

jurídicas); pagar regularmente todos os impostos (IR, CSLL, COFINS, PIS,

INSS, CPMF e ISS); contribuir para o incremento das atividades produtivas;

39 Destaque recortado da Circular nO 703, de 16 de junho de 1982, da Diretoria do Banco Central do Brasil, em Brasília (DF), assinada pelo então presidente da instituição Carlos

Page 32: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

31

concorrer para melhorar a liquidez do sistema econômico e não utilizar

mecanismos de intermediação de recursos no mercado privativo das

instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central.

o fomento mercantil deve ser encarado como mecanismo de suporte ao

segmento da pequena e média empresa e não como alternativa para mascarar

negócios legalmente privativos de instituição financeira, ou para justificar

sofisticados planejamentos tributários ou outros tipos de negócios pouco lícitos

acobertados com o nome de factoring. O factoring só pode operar com pessoas

jurídicas, enfatizando e priorizando o setor da produção industrial.

No Brasil, o factoring, revestido de suas características propnas, não está

sujeito às sanções da Lei n.o 4.595/64, conforme o pacto firmado pela ANFAC

com as autoridades.

A ANFAC dispõe, desde 1988, de um Código de Ética, Disciplina e Auto­

regulamentação, orientando suas filiais a operar o factoring como factoring, por

entender que operações feitas com características daquelas privativas de

instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central estão enquadradas nas

disposições dos arts. 17, 18 e 44 da lei n.O 4.595/64. Isto quer dizer que

pessoas físicas ou jurídicas que infringirem as disposições legais citadas

estarão sujeitas a processo de ordem administrativa, que poderá ser instaurado

pela autoridade monetária, e de ordem penal, por meio de denúncia de

iniciativa do Ministério Público, variando a pena de um a dois anos (art. 16 da

Lei nO 7.492/86).

Os negócios realizados com infringência dos dispositivos legais citados são

tratados como mercado marginal pelo Banco Central, sendo este competente

para punir pessoas físicas ou jurídicas que funcionarem como se instituições

autorizadas fossem, e até mesmo as empresas de factoring que fizerem

intermediação no mercado, captando recursos junto ao público e realizando

sua atividade, com todas as características de banco comercial.

Geraldo Langoni.

Page 33: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

32

Em 1989, foi criado o contrato de fomento mercantil, com fulcro nos artigos 191

e 220 do Código Comercial. Assim, o contrato de fomento mercantil é um ato

jurídico perfeito por atender a todos os requisitos estatuídos pelo artigo 82 do

atual Código Civil.

Em 1996, no antigo Tribunal Federal de Recursos, foi reconhecida a

incompetência do Banco Central, para impedir a constituição e funcionamento

de sociedades mercantis, corroborando ou ratificando todas às decisões de

todas as instâncias da justiça brasileira.

Em outubro de 1999, no V Congresso Brasileiro de Factoring, promovido pela

ANFAC, decidiu-se como medida primordial, a introdução da garantia de

solvência no devedor sacado nas operações de factoring. Outra iniciativa da

ANFAC foi celebrar o acordo de Cooperação Técnica com a Secretaria de

Direito Econômico do Ministério de Justiça que objetivou: preservar o fomento

mercantil como instrumento de apoio às atividades produtivas e proteger as

sociedades de fomento mercantil, filiadas, legalmente constituídas, e

estabelecidas, fornecendo-lhes o Certificado de Habilitação e Qualidade para

identificá-Ias com os objetivos do Acordo e estabelecer sistemática de

cooperação técnica, visando a adoção de medidas preventivas e repressivas

contra operações dissimuladas no fomento mercantil.

O setor de factoring exibe uma apreciável imagem institucional, sendo

responsável por uma clientela muito numerosa no país atendendo,

principalmente, às micro, pequenas e médias empresas, em sua maioria dos

setores industriais e comerciais, garantindo, assim, muitos empregos diretos e

indiretos, gerando riqueza, melhorando a liquidez do sistema financeiro, pois

toda a movimentação das sociedades de factoring passa pelo sistema

bancário.

Page 34: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

33

1.2 O FACTORING E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

1.2.1 O SFN e as operações bancárias e não-bancárias

Em razão da estabilidade de atuação e aceitação da atividade bancária no

Brasil, em 1960 existiam aproximadamente 360 bancos atuando no país, o que

comprova o amadurecimento do mercado bancário no sistema financeiro.

Em sua acepção primitiva, a palavra mercado dizia respeito a um lugar

determinado, onde os agentes econômicos realizavam suas transações. Os

textos de história econômica citam os grandes mercados da antiguidade, como

o de Marselha, no Mediterrâneo; de Bizâncio e de Calcedônia, na Ásia; de

Náucratis, no Egito; de Veneza e de Gênova, na Itália medieval.

A esse respeito, Weber40 descreve como os senhores feudais da Alta Idade

Média estabeleciam mercados em seus territórios, concedendo o privilégio de

sua exploração como forma de atender as necessidades de suprimentos em

seus domínios e de facilitar, pela centralização das transações, a cobrança de

tributos. De lá para cá muitas transformações ocorreram em razão das

evoluções tecnológicas e político-econômicas.

No Brasil, dentre as principais mudanças sucessivas no sistema financeiro,

destacaram-se:

A criação do Banco Nacional de Habitação (BNH)41, institucionalizando o

Sistema Financeiro da Habitação (SFH);

A criação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do

Brasil (BACEN)42;

40 WEBER, Max. Historia Geral da Economia. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

41 BRASIL. Lei n.o 4.380, de 21 de agosto de 1964. Institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), e sociedades de crédito imobiliário, as letras imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 de agosto de 1964.

42 BRASIL. Lei n.o 4.595, de 31 dezembro de 1964. Dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e da outras

Page 35: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

34

A disciplina do funcionamento do mercado de capitais no Brasil43.

Com tantas mudanças, ocorreu uma grande diversificação do Sistema

Financeiro, possibilitando o aparecimento de um maior número de

intermediários financeiros não bancários e a ampliação dos Ativos Financeiros

do país. Abrangendo a intermediação financeira através de instituições

bancárias e não-bancárias, o Sistema Financeiro Nacional é regido pelo

Conselho Monetário Nacional, ao qual se reportam quatro entidades

fiscalizadoras:

Banco Central do Brasil (BACEN),

Comissão de Valores Mobiliários (CVM),

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); e

Secretaria de Previdência Complementar (SPC),

o Banco Central do Brasil (BACEN) é o órgão executivo central do sistema

financeiro do país. Faz cumprir as disposições do CMN que regulam o

funcionamento do subsistema de intermediação.

São de sua privativa competência: prover a emissão do papel-moeda e da

moeda metálica, nos limites autorizados pelo CMN, a execução do meio

circulante; a execução das operações primárias do mercado monetário; e a

fiscalização das instituições financeiras.

Por sua vez, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o mais recente órgão

normativo do Sistema Financeiro Nacional. Foi criada em 1976 e suas

atribuições limitam-se ao mercado de capitais, tendo como finalidade principal

o exercício de fiscalização e regulamentação do mercado de títulos e valores

mobiliários de renda variável.

providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág. 12081, 31 de dez. 1964 (retificada na edição de 03 de fevereiro de 1965, pág. 1321).

43 BRASIL. Lei n.O 4.728, de 14 de julho de 1965. Disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág. 6697, 16 de julho de 1965.

Page 36: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

35

A estrutura atual do Sistema Financeiro Nacional está disposta conforme a

configuração mostrada a seguir:

CMN Conselho Monetário Nacional

Quadro 1 - Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Banco Central do Brasil

Comissão de Valores Mobiliários

Instituições Financeiras Captadoras de Depósitos à Vista Bancos Múltiplos com Carteira Comercial Bancos Comerciais Caixas Econômicas Cooperativas de Crédito Demais Instituições Financeiras Bancos Múltiplos sem Carteira Comercial Bancos de Investimento Bancos de Desenvolvimento Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento Sociedades de Crédito Imobiliário Companhias Hipotecárias Associações de Poupança e Empréstimo Outros intermediários ou Auxiliares Financeiros Bolsas de Mercadorias e de Futuros Bolsas de Valores Sociedades Corretoras de Titulos e Valores Mobiliários Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários Sociedades de Arrendamento Mercantil Sociedades Corretoras de Cãmbio Agentes Autônomos de Investimento

Superintendência de Seguros Privados Entidades Ligadas aos Sistemas de Previdência e Seguros Entidades Fechadas de Previdência Privada Entidades Abertas de Previdência Privada Sociedades Seguradoras

Secretaria de Previdência Complementar Sociedades de Capitalização Sociedades Administradoras de Seguro-Saúde Entidades Administradoras de Recursos de Terceiros Fundos Mútuos Clubes de Investimentos Carteiras de Investidores Estrangeiros Administradoras de Consórcio Sistemas de Liquidação e Custódia Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELlC Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos - CETIP

Fonte: BACEN (2003)44

As principais atribuições da Comissão de Valores Mobiliários são:

Assegurar o funcionamento eficiente das bolsas de valores e das

instituições auxiliares que atuam neste segmento de mercado;

Proteger os titulares de valores mobiliários, notadamente os minoritários;

Fiscalizar as emissões e as negociações dos títulos emitidos pelas

empresas de capital aberto; e

44 BACEN - Fonte dos dados: Banco Central do Brasil, site disponibilizado pela Internet em <hUp://www.bcb.gov.br>. Acessado em 02109/2003.

Page 37: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

36

Fortalecer o mercado de capitais ampliando, em longo prazo, a

participação desse segmento no sistema de intermediação, com dois

objetivos: expandir a massa de recursos destinada ao crescimento da

capacidade de produção do país e democratizar a propriedade do capital

das empresas.

Cabe à Superintendência de Seguros Privados(SUSEP), órgão vinculado ao

Ministério da Fazenda, responsabilizar-se pelo controle e fiscalização do

mercado de seguros, previdência privada aberta, capitalização e resseguro,

sendo incumbência da Secretaria de Previdência Complementar(SPC) executar

a política nacional de previdência complementar.

o subsistema de intermediação é conceitualmente desdobrado em dois

grandes núcleos:

Instituições bancárias, que operam com ativos monetários: somente

aquelas que captam e operam com depósitos à vista são consideradas

bancárias;

Instituições não-bancárias, que operam com ativos não monetários: as

demais, que realizam outras formas de captações, como depósitos em

cadernetas de poupança, colocação de certificados de depósitos a prazo

remunerados, letras de câmbio e quotas de fundos de aplicações em

títulos de renda fixa ou variável, são consideradas não-bancárias.

o Banco Múltiplo, por abranger operações caracterizadas em ambos os

núcleos, classifica-se como instituição bancária mista eis que, conforme a

disposição normativa do BACEN45, é uma instituição financeira privada ou

pública, que realiza as operações ativas, passivas e acessórias das diversas

instituições financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de

45 BANCO CENTRAL DO BRASIL Resolução na 2099/94. Aprova regulamentos que dispõem sobre as condições relativamente ao acesso ao Sistema Financeiro Nacional, aos valores mínimos de capital e patrimônio líquido ajustado, a instalação de dependências e a obrigatoriedade da manutenção de patrimônio líquido, ajustado em valor compatível com o grau de risco das operações ativas das instituições financeiras e demais instituições

Page 38: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

37

investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento

mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Essas operações estão

sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições

singulares correspondentes às suas carteiras, onde a carteira de

desenvolvimento é exclusiva e somente poderá ser operada por banco público.

Segregando somente os Bancos Comerciais e Bancos Múltiplos, o número de

instituições migrou de 247 para 203, transformação esta creditada ao ajuste no

sistema bancário após o Plano Real, cujo efeito pode ser apreciado no quadro

configurado a seguir.

Quadro 2 - Ajuste do Sistema Bancário após o Plano Real46

Quantidade de Instituições

6 34 2 1 5 1 1 9 3 1 1 6

34

Tipos de Instituições

BC BM BE BC BE BC BM BM BM BM BM BM BM

BC = Banco Comercial BM = Banco Múltiplo BE = Filial Estrangeira

Liquidação Liquidação Liquidação Incorporação Incorporação Incorporação

TIPO DO AJUSTE PÓS-REAL

Transformação em instituição não-financeira Transformação em instituição não-financeira Transformação em DTVM Transformação em AM Transformação em CFI Transformação em Banco de Investimento Transferência de controle societário 1 venda de ativos

Fonte: BACEN (2003)

autorizadas a funcionar pelo Banco Central. Disponibilizada pela Internet no site <www.cnbv.com.br/CNBV/resolucoes/res2099-1994.htm>. Acessada em 02107/2003.

46 BACEN (2003).

Page 39: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

38

Deve ser lembrado que, anteriormente, muitos estabelecimentos já teriam sido

incorporados por instituições de grande porte, a partir da instituição da COFIE

(Comissão de Fusão e Incorporação de Empresas) há quase três décadas.

Vinculam-se ainda aos normativos da Comissão de Valores Mobiliários, os

seguintes agentes do mercado de capitais:

Bolsas de Mercadorias e de Futuros;

Bolsas de Valores;

Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários;

Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários;

Sociedades de Arrendamento Mercantil;

Sociedades Corretoras de Câmbio; e

Agentes Autônomos de Investimento.

Observa-se que a estratégia de crescimento dos bancos tem passado pela

atuação em outros segmentos do setor financeiro, bancário e não-bancário,

num processo de expansão horizontal denominado como conglomeração

financeira. Ou seja, está cada vez mais distante da realidade falar e pensar em

bancos como empresas puras, que desenvolvem somente atividades de

intermediação de recursos, captando depósitos numa ponta para realizar

empréstimos na outra.

Segundo Goldsmith47, à medida que aumenta a renda e a riqueza de uma

economia, tende também a evoluir a estrutura de intermediação financeira. É

até difícil estabelecer o que vem primeiro: se é o processo de desenvolvimento

de intermediação financeira que puxa o setor real, impulsionando o

crescimento da economia como um todo e os padrões de seu desenvolvimento

empresarial, ou se é o desenvolvimento dos negócios no setor real da

economia que pressiona por maior sofisticação e desempenho do setor de

intermediação financeira.

47 GOLDSMITH, R. W. FinanciaI structure and development. New Heaven: Yale University Press, 1969.

Page 40: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

39

De qualquer forma, ainda que seja difícil estabelecer a direção do processo de

causa e efeito, a correlação é evidente. E mais: a própria segmentação e os

padrões de diversificação e de especialização do sistema financeiro têm muito

a ver com a estrutura econômica das nações. Isto porque cada ramo de

atividade produtiva, como observa Contador 48,

caracteriza-se por diferentes intensidades de absorção de ativos financeiros. Assim, uma economia predominantemente primária, ainda que não necessariamente num baixo estágio de bem-estar social, requer instrumentos financeiros menos sofisticados que uma economia baseada em atividades secundárias e terciárias. A atividade rural, conforme demonstra a experiência dos mais distintos países, requer uma baixa intensidade de ativos financeiros e seu funcionamento eficiente é satisfeito com um número de ativos e de funções financeiras. Mas à medida que as atividades industriais e de serviços assumem maior importãncia relativa, novos e mais sofisticados instrumentos financeiros tornam-se necessários para o funcionamento eficaz do setor real.

Tal situação se reflete na expansão das atividades dos bancos que, por sua

vez, no afã de recriar o seu negócio, também recriam o trabalho bancário,

envolvendo operações realizadas por empresas associadas (coligadas e

controladas ).

Segundo Rossetti49, os critérios de medição dos agregados monetários são

empregados para finalidades específicas:

A medida diária dos saldos é geralmente empregada como parâmetro de

recolhimentos em espécie exigidos pelas autoridades monetárias junto

ao sistema de intermediação financeira; e

Os saldos são usualmente empregados para correlacionar as

disponibilidades efetivas que circulam no setor financeiro com as

variáveis-fluxo do setor real.

48 CONTADOR, Cláudio Roberto. Mercado de ativos financeiros no Brasil: perspectiva histórica e comportamento recente. Rio de Janeiro: IBMEC, 1974.

49 ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 17 ed. São Paulo: Atlas, 1997.

Page 41: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

40

Empregam-se tanto para aferir a liquidez efetiva da economia como um todo

como para acompanhar a velocidade com que eles circulam no setor real da

economia.

Conceitualmente, o sistema bancário é constituído pelas instituições de

intermediação financeira que captam depósitos à vista. O não-bancário opera

apenas com outras formas de captação, os chamados ativos financeiros quase­

monetários. Os bancos de desenvolvimento e os de investimento são exemplos

de instituições não-bancárias, embora tenham em sua denominação usual o

substantivo banco. As financeiras também são instituições não-bancárias,

apesar de bancarem os dispêndios de consumo ou de investimento de agentes

financeiros deficitários. Também são não-bancárias as associações de

poupança e empréstimo, e as sociedades de crédito imobiliário, bem como, por

analogia, as frações dos bancos múltiplos que captam recursos quase­

monetários, operando com intermediários não-bancários.

Para efeito do exame de processos no Banco Central do Brasil, são

considerados como controladores tanto os diretos quanto os indiretos (pessoas

jurídicas intermediárias e pessoas físicas controladoras finais). Quando não

estiver perfeitamente definido o controle societário da instituição, serão

considerados como controladores todos os acionistas/cotistas detentores de

ações/quotas com direito a voto, os quais possam se compor com outros

acionistas/cotistas para formar o grupo controlador.

As compras, vendas e distribuição de títulos e valores mobiliários e as

transações em bolsas de mercadorias e de futuros, assim como as

intermediações em recinto ou em sistema mantido por bolsa de valores, são

regidas pela Comissão de Valores Mobiliários. Isto é feito de acordo com os

diplomas legais que disciplinam o mercado de capitais50 e de valores

mobiliários 51.

50 BRASIL,1965.

Page 42: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

41

A realização das operações é autorizada pelo BACEN52 às instituições

habilitadas para praticar tais atividades - as Sociedades Corretoras de Títulos

e Valores Mobiliários -, que possam atender a regulamentação aplicável e

comprovar a aquisição de título patrimonial de bolsa de valores. As

mencionadas operações - exceto aquelas que requeiram acesso às bolsas de

valores - também são consignadas legalmente53 para essas SCTVM's54.

Agentes autônomos de investimento são pessoas físicas que, após

credenciamento, realizam operações de colocação ou venda de títulos e

valores mobiliários - registrados no BACEN e na CVM - ou títulos de emissão

ou co-obrigação de instituição financeira, bem como colocação de cotas de

fundos de investimentos. São atividades também monitoradas pelo BACEN55 e,

como tal, por este, reservadas exclusivamente às Sociedades Corretoras de

Câmbio, as intermediações em operações de câmbio, assim como a prática de

operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes.

Por sua vez, a prática das operações de leasing - arrendamento mercantil de

bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos

pela entidade arrendadora para fins de uso próprio da arrendatária -, é

reservada pelo BACEN56 às Sociedades de Arrendamento Mercantil.

Destacam-se, dentre outras operações exercidas por instituições não­

bancárias, aquelas relacionadas com os sub-segmentos de fomento mercantil

(factoring) e cartões de crédito (estes, amplamente utilizados pelos usuários do

SFN).

51 BRASIL. Lei n.O 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág. 16037,09 de dez. 1972.

52 Resolução 1655/89.

53 BACEN, 2003.

54 Resoluções 1120/86 e 1653/89.

55 Resolução 1770/90.

56 Resolução 2309/96.

Page 43: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

42

Na definição do BACEN, as factorings buscam consolidar-se como atividade de

fomento mercantil, constituindo-se num conjunto de serviços prestados

essencialmente para pequenas e médias empresas, envolvendo basicamente

duas etapas: suporte técnico para empresas-clientes e compra dos créditos

gerados nas vendas destas empresas.

1.2.2 Atividades institucionais confundidas com o factoring

A sociedade atual é dependente do crédito. Assim, segundo Viana57, o crédito

importa um ato de fé, de confiança do credor. Portanto, o crédito constitui um

bem patrimonial suscetível de transferência, como a idéia de troca de um bem

presente por um bem futuro, ou seja, numa troca em que as duas prestações

não são simultâneas, mas antes, em que uma delas é diferida no tempo, ou

ainda, a troca de uma prestação atual por uma promessa de prestação futura.

Por outro lado, de acordo com Requiã058:

o crédito não é mais do que a permissão para usar do capital alheio. A ilusão de que o crédito multiplica o capital se deve precisamente à criação dos títulos de crédito. Não fossem estes e o capital emprestado, saindo das mãos do mutuante, não seria mais suscetível de mobilização.

Institutos confundidos com o factoring possuem formas assemelhadas

envolvendo, em comum, o crédito, que podem levar a indesejadas confusões.

Assim, no Brasil, as figuras que mais se confundem com o factoring são:

Desconto bancário e antecipação bancária; e

Mútuo civil não-bancário.

57 VIANA, Bonfim. Desconto Bancário, 2 ed. Rio de janeiro: Forense, 1987.

58 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1982, apud DONINI (2002, p. 43).

Page 44: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

43

De acordo com Donini59, os negócios de um banqueiro "não começam quando

ele utiliza seu próprio capital, eles só começam quando utiliza o capital dos

outros". Os bancos, regulados pela Lei 4.595, de 31/12/1964, executam

operações que envolvem a captação de dinheiro, a intermediação do crédito e

a aplicação de recursos próprios ou de terceiros (Artigo 17). Sua estrutura está

afeta ao artigo 18 da mesma Lei, dependendo, para seu funcionamento, de

autorização do Banco Central do Brasil.

A empresa de factoring (faturizador) , por sua vez, não capta recursos, apenas

presta serviços e compra créditos vencíveis, com recursos próprios e não de

terceiros, mediante preço certo (fator) anteriormente ajustado com a empresa­

cliente (faturizado).

Portanto, as empresas de factoring são muito diferentes dos bancos, porque o

campo de atuação destas se limita à compra de crédito, antecipação de

recursos de matéria-prima e prestação de serviços, conjugadas ou

separadamente.

Assim, a Factoring é uma empresa comercial e não uma instituição financeira,

porque no factoring não ocorre uma operação de crédito, tal como aquelas

praticadas pelos bancos, mas, tão somente, uma venda à vista de créditos em

que o faturizado se responsabiliza pela origem dos títulos transferidos à

faturizadora, podendo, ainda, responsabilizar-se pela idoneidade financeira do

devedor, não caracterizando, com isso, operação bancária. As operações

bancárias confundidas com o factoring estão caracterizadas a seguir.

1.2.2.1 Desconto bancário

É a operação de crédito que mais se aproxima da operação de factoring, em

função da característica comum, que é a transmissão de títulos, sendo

indispensável sua análise comparando-o com o factoring.

59 DON/NI (2002, p. 48).

Page 45: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

44

o desconto é uma operação financeira que consiste na obtenção de capital,

mediante cessão ao banco de títulos de crédito sacados contra terceiros, em

que é favorecido o cliente da instituição, garantindo este, por pacto de resgate,

seu pagamento, obrigação que se traduz em recompra em caso de

inadimplemento do sacado. Constitui operação típica de banco comercial

autorizado pelo Banco Central do Brasil, onde ocorre a transformação do

crédito comercial em bancário. Assim, o cliente da instituição que fez uma

venda a prazo ou prestação de serviço, saca uma duplicata da qual passa a ser

credor (crédito comercial) e leva-a ao banco para descontá-Ia (crédito

bancário). Aceito pelo banco, efetua-se o endosso do título e a assinatura do

contrato. Só então será creditada na conta do cliente o valor correspondente ao

título, já deduzidos os juros e as taxas de serviços. O banco, por endosso,

passa e exercer todos os direitos de propriedade do título.

Todos os títulos de crédito, destacando-se a nota promissória, a letra de

câmbio, a duplicata, o cheque, os certificados de depósitos a prazo fixo, os

warrants, as debêntures, as letras do tesouro e mesmo os títulos cambiais, são

aceitos. O contrato de desconto é oneroso porque o cliente ficará com a

obrigação residual de pagar ao banco o principal, juros e custos da operação,

caso não o faça o devedor cedido. Não pagando o devedor o valor

correspondente ao título, o banco assiste-se no direito de promover a execução

do valor junto ao seu cliente que descontou o título. Mas, para dirigir-se contra

o cliente, é necessário o anterior protesto do título. Esse ato é elemento

imprescindível para comprovar a inadimplência do devedor cedido.

Contra o sacado-devedor do título descontado, o banco poderá cobrar apenas

o principal, correspondente ao valor de face do título, acrescido de juros de

0,5% ao mês e correção monetária pelo índice oficial. Já com relação ao

cliente, poderá o banco cobrar:

Principal (valor de face do título);

Juros de mora de 1 % ao mês;

Multa de 10%; e

Page 46: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

45

Juros bancários correspondentes às maiores taxas permitidas pelo

BACEN.

1.2.2.2 Antecipação bancária

Antecipação bancária significa adiantamento. Na linguagem jurídica,

corresponde à acepção de ato praticado quando ainda não se chegou ao fim

do respectivo termo.

Ou seja, o banco concede determinada importância a um cliente, mediante

prévia constituição de uma garantia em títulos, mercadorias ou documentos

representativos dos mesmos, sendo que a garantia será sempre real. O que

ressalta a antecipação bancária é a garantia real que consiste na entrega de

bens contra a obtenção de um adiantamento em dinheiro, de valor proporcional

(sempre inferior) ao dos bens ofertados, para que assim o banco se proteja de

uma eventual depreciação deles, conforme registra Rizzard06o .

. A duplicata é passível de garantia para a antecipação bancária. Mas, na forma

de transferência da propriedade, não existe a venda, pois a duplicata é

transferida para o banco através de endosso para garantir o adiantamento.

Segundo Donini61, também como no desconto bancário, "o devido decorrente

da inadimplência na antecipação bancária poderá aumentar muito em pouco

tempo". Sem dúvida, aí reside uma grande diferença que milita em favor da

factoring que, diferentemente das instituições financeiras, não cobra juros

bancários, limitando-se a cobrar os encargos correspondentes a juros de mora

(1% ao mês), multa (10%) e correção monetária pelo índice oficial.

60 RIZZARDO (2000).

61 DONINI (2002, p. 58).

Page 47: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

46

1.2.2.3 Mútuo civil

É o contrato pelo qual alguém(mutuante) transfere a propriedade de coisa

fungível a outro(mutuário), que se obriga a lhe pagar coisa do mesmo gênero,

qualidade e quantidade, segundo definição extraída do novo Código Civil. Os

objetos do mútuo são coisas fungíveis que se consomem pelo uso, que

poderiam ser substituídos por outras coisas da mesma espécie, qualidade e

quantidade. Dentre as coisas fungíveis está o dinheiro, objeto do mútuo civil

que, sem dúvida, mesmo com clara diferença com o factoring, ainda assim

chega a ser confundido com este. O empréstimo de dinheiro, caracterizado na

legislação como mútuo civil, é um contrat062:

Real: porque só se aperfeiçoa com a entrega da coisa emprestada, não

bastando o mero acordo entre os contratantes;

Unilateral: apenas se aperfeiçoa com a entrega da coisa, único dever

do mutuante, porque do contrato só restam obrigações para o mutuante.

Não solene: pode ser verbal ou escrito.

Gratuito e oneroso: o contrato do mútuo surge como ato para socorrer

um amigo. Daí, presume a lei, seja gratuito. Mas isto pertence ao

passado e sua superação está na distinção entre crédito ao consumo e

crédito à produção, portanto a idéia de gratuidade no crédito à produção

é inconcebível. Assim, o empréstimo que toma dinheiro emprestado, e o

reaplica, visa um ganho, daí a legitimidade da cobrança de juros.

Juros e correção monetária. O juro é de 0,5% ao mês ou 6,0 % ao ano

Uuros compensatórios). Os juros de mora Uuros moratórios) permitidos

quando expressamente estipulados contratualmente, poderão ser de

1,0% ao mês ou 12% ao ano, de acordo com o artigo 1.262 do CC de

1916 ou artigo 591 do novo Código Civil. A correção monetária não é um

ônus adicional imposto ao mutuário, e sim um prejuízo que se evita ao

mutuante, pois nada acrescenta, simplesmente mantém o capital no

tempo. Em termos econômicos, é medida que busca evitar o

62 DONINI (2002, passim)

Page 48: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

47

enriquecimento do devedor em detrimento do credor, pelos efeitos da

inflação.

Assim, o empréstimo entre empresas ou pessoas físicas, por não terem

autorização do Banco Central do Brasil (Conselho Monetário Nacional), só

poderá ocorrer a título gratuito ou oneroso, podendo-se cobrar, neste último,

juros convencionais de 0,5% ao mês ou 6% ao ano e estabelecer juros de mora

de 1 % ao mês ou 12% ao an063. Acima disso, será considerado agiotagem64

. A

correção monetária será aplicada de acordo com o índice oficial, podendo ter

como parâmetro: o IGP, o IPC e etc.

1.2.3 Factoring versus instituições financeiras e agiotagem

A Lei n.o 7.492/8665, em seu art. 1°, assim conceituou a expressão "instituição

financeira":

Artigo 1° - Considera-se instituição financeira, para efeito desta Lei, a pessoa jurídica, de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.

o factoring não é banco nem instituição financeira. Banco capta dinheiro,

empresta dinheiro e necessita de autorização do Banco Central para funcionar.

À empresa de factoring é proibido, por lei, fazer captação de dinheiro no

mercado e emprestar dinheiro, e quem pratica, sem autorização do Banco

63 RIZZARDO (2000)

64 Qualquer pessoa física ou jurídica - não necessariamente empresa de factoring - que realize operações com características daquelas privativas das instituições financeiras, podem ser fechadas pelo Banco Central e classificadas como "mercado marginal", sujeitas às penalidades previstas no art. 44, § 70

, da Lei n.O 4.595/64: processo administrativo e criminal.

65 BRASIL. Lei na 7.492 de 16/06/1986. Define os crimes contra o sistema financeiro nacional e dá outras providências (diploma legal aHerada posteriormente pela Lei 9080 de 19/07/1995,: que acrescentou o parágrafo. 2 ao Art. 25). Texto integral disponível na internet em <Iegislacao.planalto.gov.brllegislacao.nsf/>. Acessado em 10/08/2003.

Page 49: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

48

Central, qualquer atividade que legalmente é de banco, responde por um

processo administrativo e por um processo criminal, de acordo com a

Resolução n.o 2.144/95 do CMN.

o factoring é um instituto de direito mercantil. Presta serviços e compra

créditos de empresas resultantes de suas vendas mercantis a prazo. A

transação do factoring é mercantil. Não é empresa de mercado financeiro. A

empresa de factoring não pode atuar no mercado financeiro, não pode captar

recursos do mercado financeiro, não pode realizar operações que, por lei, são

ressalvadas às instituições financeiras (Lei n.o 4.595/84 e Lei n.o 7.492/86).

Segundo Leite66, os bancos e instituições financeiras captam recursos junto ao

público e exercitam o crédito, com estrutura própria e sujeita à lei bancária

específica pois, para funcionar, necessitam de autorização da autoridade

monetária.

A ANFAC entende que, como o factoring é uma atividade comercial em que

não há captação da poupança pública, não há necessidade de sujeitar-se aos

rígidos controles legais e regulamentares criados pelas autoridades com o fim

específico de proteger os investidores. As empresas de fomento mercantil

empregam unicamente recursos próprios, não colocando em risco os recursos

da poupança popular. 67

Constata-se, dessa forma, que, atuando mediante a aplicação de recursos

financeiros próprios, e não mediante a captação, intermediação ou aplicação

de recursos de terceiros, as empresas de factoring não podem se sujeitar à

referida conceituação legal de "instituições financeiras", razão pela qual se

revela inadmissível a sua equiparação ao regime jurídico da lei bancária.

66 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. São Paulo: Atlas, 1999, p. 284.

67 LEITE (1999).

Page 50: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

49

Bancos emprestam dinheiro captado junto ao público, que é antecipado e é

adiantado, com o compromisso do tomador devolvê-lo. O pagamento pelo uso

do dinheiro é feito pela cobrança de juros. Por sua vez, Factoring é uma

atividade voltada para o fomento mercantil, incluindo a assistência técnica,

contábil e financeira de pequenas e médias empresas, sob contrato(de um ano,

no mínimo) e, para este fim, utiliza recursos próprios. Caso o empresário ou

agente de factoring venha captar recursos no mercado financeiro, estará

operando à margem da lei, pois isso não é apenas uma deformação conceitual

do que seja factoring, é prática criminal, contrária à Lei Penal.68

Banco não compra créditos, ou seja, direitos oriundos de vendas mercantis,

nem presta os serviços não-creditícios inerentes ao fomento mercantil. Banco

capta recursos do público e os empresta.

A sociedade de fomento mercantil presta serviços os mais variados e

abrangentes, à sua clientela - micro, pequenas e médias empresas - e compra

créditos(direitos resultantes de vendas mercantis) isentando-se da incidência

de risco ao capital alheio, uma vez que não capta recursos da poupança

pública.

Os bancos e as sociedades de fomento mercantil têm suas áreas de atuação

delimitadas por normas legais e administrativas, com sua clientela ocupando

nichos próprios do mercado, que não se confundem. Entretanto, pessoas

desavisadas, que ignoram os fundamentos do fomento mercantil, a priori o

julgam concorrente dos bancos(na verdade, são atividades que se completam

ou se complementam, e esta é uma constatação só aferível por pessoas que

efetivamente tenham vivência do mundo dos negócios

e do factoring, hoje praticado em cerca de cinqüenta países). Assim, as

atividades das factorings diferenciam-se daquelas realizadas pelos bancos por

não realizarem captação de poupança pública e também por não emprestarem

dinheiro. As empresas de factoring não podem receber depósitos de terceiros,

não estando sujeitas, portanto, às normas do sistema bancário, cujos controles

68 BRASIL. Lei n° 7.492 (1986).

Page 51: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

50

estão voltados para proteger os depositantes. Também não podem fazer a

intermediação de dinheiro no mercado financeiro, como já foi mencionado

anteriormente.

Há, contudo, uma forte controvérsia sobre a natureza das atividades das

factorings, ou seja, se elas apresentam características semelhantes às das

instituições financeiras ou se estão restritas somente a uma atividade

comercial. As opiniões são bastante divergentes, uma vez que as discussões

em torno do caráter financeiro das atividades de fomento mercantil continuam

até hoje. Existe ainda a idéia de que o factoring tem impacto na política

monetária, na medida em que concede crédito principalmente aos micros e

pequenos empresários, tornando-se um gerador de expansão de meios de

pagamento.

o fato é que, por não serem consideradas empresas financeiras, as factorings

criam uma certa dificuldade para o governo em monitorar a diminuição, por

exemplo, da oferta de crédito para controlar a taxa de juros, limitando os prazos

mínimos e máximos de operação nos bancos. O governo entende que as

factorings escapam das tentativas de controlar o crescimento do crédito e do

consumo. Como não estão submetidas ao Banco Central, elas não são

atingidas pela maioria das medidas repressivas ao consumo e podem

prosseguir realizando suas operações.

No entender de Bittar69, autor de contratos comerciais, a operação de factoring

representa um fator de realce na circulação do crédito na expansão comercial,

na medida em que, como técnica de reposição de capital de giro, propicia a

imediata injeção de recursos nas empresas em sua venda a prazo,

possibilitando-lhes a ampliação de seus negócios.

69 SITIAR, Carlos Alberto. Divisão de Análises Setoriais da Diretoria de Infonnações Econômicas da Gazeta Mercantil S/A. Análise Setorial - Factoring. São Paulo: Gazeta Mercantil, Março de 2000.

Page 52: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

51

o que existe no país hoje é uma intermediação formal, caracterizada por uma

instituição autorizada a funcionar regularmente pelo Banco Central, e outra de

caráter informal, que são os instrumentos que existem no mercado, a exemplo

do cheque pré-datado, carnê, e até mesmo das empresas de factoring, que

escapam das regras de condutas adotadas pelo setor ou praticam a agiotagem.

Conforme artigo contido na análise setorial já citada(GAZETA70), a

FEBRABAN, que reúne os bancos, compartilha a idéia de que as empresas de

factoring e os bancos não são concorrentes. A operação de crédito não

concorre com a operação bancária por ser mais focada no crédito e nos

sistemas de cobrança. Portanto, seria uma atividade concorrente dos bancos

somente se as empresas de factoring pudessem captar recursos junto ao

público.

Nos últimos tempos, a mídia tem veiculado com maior freqüência, notícias

sobre factoring. Verifica-se, entretanto, que a maioria dos textos é vaga,

superficial, incorreta e divulga conceitos equivocados em torno deste

mecanismo, comparando-o precipitadamente com a agiotagem, termo que é de

conotação pejorativa, posto que indica o comércio especulativo de

empréstimos clandestinos e informais que cobra juros excessivos com vistas a

auferir lucros exagerados ou vantagens exorbitantes, enquanto que o fomento

mercantil(factoring) é um conjunto de serviços que deve ser prestado por

empresa profissionalmente habilitada, especializada em praticá-lo, e destina-se

a ajudar pequenas e médias empresas, o seu mercado-alvo.

Essas pequenas e médias empresas, público-alvo das factorings, costumam

apresentar dificuldades para identificar e dimensionar as suas deficiências,

principalmente no que tange ao acompanhamento de suas contas a receber e

a pagar, controle de estoques, formação de custo e preço de seus produtos,

conhecimento do mercado em que atua, atividades que, por acarretarem um

custo elevado, normalmente são negligenciadas, até porque, por serem

70 LEITE, Luiz Lemos. As Factorings e os Bancos, 2000, p. 88.

Page 53: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

52

pequenas, as empresas não têm condições financeiras de contratar

profissionais para cuidar dos seus departamentos administrativo e financeiro.

Leite71 esclarece que não podemos definir como factoring qualquer tipo de

operação que consista apenas na cessão ou compra de créditos senão aquela

que reúna uma série de requisitos e funções, a saber:

Relação entre a sociedade do fomento mercantil e sua empresa­

cliente deve ser continuada e regulada pela celebração de

contrato de fomento mercantil;

Estreitamento das relações entre a empresa-vendedora(cliente) e

seus compradores;

Aceitação do produto da empresa-vendedora(cliente) no mercado

e seu potencial de crescimento;

Acompanhamento permanente de todas as atividades de sua

empresa-cliente; e

Transformação de vendas a prazo em vendas à vista com a

negociação dos créditos com origem mercantil, ou seja: derivados

das vendas mercantis efetuadas entre a empresa-vendedora

(cliente) e os seus compradores e, como conseqüência, a compra

de créditos deve ser de curto prazo e com a data de vencimento

conhecida.

Entende-se daí que o fomento mercantil, praticado dentro da legalidade, pode

oferecer inúmeros benefícios para a empresa-cliente, cabendo

destacar os seguintes:

a) parceira: aconselhamento ao empresário em suas decisões importantes

e estratégicas, além do apoio às suas atividades rotineiras;

b) eliminação de seu endividamento; e

c) melhora da competitividade no ramo de negócio e racionalização dos

custos, permitindo-lhe aprimorar a produção e as vendas.

71 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil, 7ed. São Paulo: Atlas, 2001 ..

Page 54: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

53

Outras empresas, travestidas da roupagem de factoring, que se dedicam a

práticas onzenárias(agiotagem), definitivamente não fazem factoring, mas

extorquem sua clientela. Enquadram-se na contravenção, atividade controlada

pela polícia. Qualquer pessoa física ou jurídica - não necessariamente empresa

de factoring - que realize operações com características daquelas privativas

das instituições financeiras, podem ser fechadas pelo Banco Central e

classificadas como "mercado marginal", e sujeitas a processo administrativo e

crim ina I. 72

1.3 AS MODALIDADES DE FACTORING

1.3.1 Modalidades domésticas de factoring

As modalidades de factoring praticadas no Brasil, de acordo com as funções

desempenhadas pelos factors, são:

Convencional - Modalidade mais praticada no país que envolve e tem

por objeto as seguintes funções a desempenhar: a cessão de crédito e

prestação de serviços convencionais.

Importação-exportação Conhecida também como "factoring

internacional'. Está voltado exclusivamente para o campo do comércio

exterior onde o factoring atua em três frentes: importação, exportação e

a garantia ou securitização e onde o faturizador adquire, através de

cessão, o crédito que o faturizado possui com o importador. Esta

modalidade geralmente envolve: cessão de crédito e prestação de

serviços convencionais (conjugada ou separadamente).

Maturity - Também conhecida como factoring sem financiamento

(maturity significa vencimento). O factor adquire os títulos e faz o

pagamento ao faturizado somente no vencimento daqueles. Nessa

modalidade, ainda, "o factor presta ao seu cliente todos os serviços

72 Penalidades previstas no art. 44, § 7°, da Lei n° 4.595 (BRASIL, 1964).

Page 55: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

54

administrativos usuais e, opcionalmente, lhe faz adiantamentos sobre o

valor dos créditos comerciais cedidos,,73. Assim, o objeto do contrato é a

cessão de crédito e a prestação de serviços convencionais.

Eventualmente e opcionalmente o faturizador poderá adquirir, através de

cessão de créditos, títulos oriundos das operações mercantis da

faturizada, antecipadamente.

Trustee - Nesse tipo de operação, o faturizador passa a administrar as

contas da faturizada, caracterizando parceria, confiando a gestão das

contas a receber de sua empresa à empresa de factoring ou faturizador.

Neste caso, não ocorre cessão de crédito, porém o faturizador poderá

receber ad valorem(comissão pela prestação de serviços) dos títulos de

crédito(duplicata e cheques pré-datados), através de endosso-mandato,

e não por endosso translativo como ocorre na cessão de crédito. O

objeto do contrato é a prestação de serviços diferenciados envolvendo a

gestão das contas a receber da empresa faturizada, consultoria, parceria

etc.

Matéria Prima - Nessa modalidade, não terá como fomento recursos

financeiros, mas sim matéria-prima e insumos para sua produção, cujo

custo será bancado pelo faturizador junto ao fornecedor que terá, em

contrapartida, direitos e exclusividade sobre a venda dos produtos

oriundos dessa matéria-prima. O factoring assume, junto ao fornecedor,

o pagamento do produto(matéria-primalinsumo). O objeto dessa

modalidade é a antecipação de recursos não-financeiros à faturizada

para aquisição de matéria-prima, por preço certo e determinado.

Finalmente, as funções desempenhadas e modalidades brasileiras, podem ser

mais bem visualizadas no quadro sinótico apresentado a seguir.

73 DONINI (2002)

Page 56: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

55

Quadro 3 - Funções Desempenhadas e Modalidades Brasileiras

Convencional Importação Maturity Trustee Matéria-MODALIDADE exportação Prima

Cessão de Cessão de Cessão de Prestação Antecipa-crédito. crédito. crédito. de ção de

serviços recursos FORMAS DE Pagamento à Pagamento diferencia não ATUAÇÃO vista no vencimen- dos. financeiros

to do título.

Prestação de Prestação de Prestação de Serviços con- serviços con- serviços con-

vencionais vencionais vencionais

Fonte: Donini (2002, p. 86)

Segundo a ANFAC74, nas operações de factoring exportação, estando fechado

o contrato, a empresa de factoring brasileira cobra uma comissão, conhecida

como 'service fee', pelos serviços de apoio, e compra à vista, em reais, os

direitos decorrentes da venda dos produtos de sua empresa-cliente, e a

factoring no exterior, representante do importador, garante a liquidez da

operação, efetuando o pagamento, em dólar, em conta da empresa

faturizadora representante da exportadora. Este sistema, designado "sistema

de dois factors" ou "import-export factoring", tem por objeto a cessão, por um

exportador, à uma sociedade de factoring estabelecida no seu próprio país

(export-factor) , de créditos sobre devedores estabelecidos em outro país. O

export-factor, porém, em vez de cobrar diretamente os créditos sobre os

devedores estabelecidos fora de seu país, contrata uma sociedade faturizadora

do país do devedor(import-factor) para a cobrança desses créditos. Na

operação de "import-export factoring" deverá ser observado o preceito da

Convenção de Ottawa, caso uma das partes seja signatária.

Os benefícios da modalidade maturity para o faturizado são: (1) o faturizado

não vai ter os custos com a cobrança de títulos. (2) o faturizado não terá que se

74 ANFAC Associação Nacional de Factoring. Jornal da ANFAC. Dezembro-1999/Janeiro-2000 - N° 25 - Ano IX.

Page 57: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

56

preocupar com o inadimplemento do devedor, pois o faturizador assume o risco

da insolvência, como atrativo para efetuar a operação.

1.3.2 Modalidades estrangeiras de factoring

Convém esclarecer que as diversas modalidades de factoring apontadas neste

trabalho possuem diferenças apenas na nominação, com semelhanças no seu

conteúdo. Sendo assim, Donini75 relaciona as seguintes modalidades

estrangeiras para a atividade de factoring, conforme se segue.

Colonial factor é uma modalidade quase desaparecida, que consiste na

aquisição de mercadorias pela empresa para colocá-Ias junto a certa clientela,

agindo como depositária ou como comissionária.

Old line factor é uma modalidade onde não existe a compra e venda de

mercadorias, encarregando-se a empresa de factoring de cobrar, sob seu risco,

as faturas emitidas pelo seu cliente, sendo seu papel exclusivamente

financeiro. Donini (op.cit.) registra que, basicamente existem três modalidades:

convencional factoring, maturity factoring e imporf-exporf factoring, citadas

anteriormente.

With recourse é comum na Austrália, Itália e países escandinavos. Neste caso,

há notificação ao devedor da conta, e os serviços são prestados pelo factor,

com a ressalva de que se pode cobrar de seu cliente. Donini (op.cit.) define que

With recourse se verifica quando o cliente ou faturizado recebe a notificação da

conta, que deverá pagar diretamente ao factor. Todavia, acerta-se que poderá

este último cobrar do cliente caso o devedor não cumpra a obrigação junto ao

factor.

Por sua vez, o Inter-credit é uma mistura de financiamento de contas a receber

e a atividade de factoring direcionada a clientes com ótima administração e boa

75 DONINI (2002, p. 41 e passim).

Page 58: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

57

experiência em cobrança. Assim, o factor estabelece linhas de crédito para os

devedores-compradores(customers) e aceita o risco de crédito, cabendo ao

cliente todos os encargos da cobrança, só recorrendo ao factor no caso de

inadimplência. É somente neste momento que o factor notifica o devedor e

tenta fazer a cobrança. O nome designa a atividade dirigida a garantir o

pagamento das faturas. Recebendo as faturas, a empresa pode ingressar com

a cobrança.

Nos Estados Unidos existem duas modalidades de factoring: uma na qual o

cliente se ocupa da cobrança de suas próprias faturas comerciais, ficando

obrigado a transferir ao factor o valor daquelas que sejam liquidadas por seus

compradores, na medida em que os pagamentos ocorram; isto é, ficando

excluído o serviço de cobrança, mantendo todas as práticas restantes. E outra,

na qual o factor antecipa ao seu cliente uma determinada soma de recursos

financeiros em função do valor de suas faturas comerciais, que não se

entendem por cedidas, porém empenhadas a favor do factor como garantia da

antecipação.

Utilizada pelos ingleses, a modalidade undisclosed factoring é aquela onde o

factor aparece apenas como comprador de seu cliente e, em seguida, o nomeia

seu agente de vendas. Significa que há uma venda, pelo cliente, das

mercadorias para o factor, que as revende a outras pessoas, sendo comum

esta modalidade nas exportações. Assim, o factor aparece apenas como

comprador de seu cliente e, em seguida, o nomeia seu agente de vendas.

Nesta visão, há uma simples compra dos produtos, o que não deixa de ser um

financiamento.

Collection type factoring agreement é uma modalidade que representa os

serviços de mera cobrança pela empresa, onde o cliente é pago após o

recebimento das faturas e, por outro lado, a open factoring designa o

financiamento da compra e venda comercial e o compromisso em cobrar as

faturas.

Page 59: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

58

Non notification factoring revela a modalidade onde a cessão de crédito não é

notificada ao cliente devedor. O factor assume o risco da insolvência, também

parcial ou temporária, do devedor e não imputável ao fornecedor. A cobrança é

feita diretamente pelo fornecedor. É usada por empresas que têm seus

próprios meios de cobrança, mas que necessitam de antecipação de recursos,

cedendo os seus créditos. Geralmente essas empresas não querem que a

operação seja conhecida pelos seus devedores, os quais não são notificados.

Factoring interno e factoring externo indicam a localidade onde está uma das

partes envolvidas no negócio: se as operações podem ser realizadas dentro do

país, ou dentro de uma região, denomina-se faturização interna. Entretanto, a

faturização com operações fora do país, como as operações de importação e

importação, por exemplo, é denominada factoring externo.

New style factoring é praticada principalmente na França, sendo uma

modalidade verificada quando o factor presta vários serviços ao cliente,

principalmente de controles financeiros. É muito similar ao trustee.

Accounts receivable financing foi uma modalidade primitiva praticada na

implantação do factoring nos Estados Unidos(EUA). Neste caso, fazia-se uma

cessão de crédito com garantia e o cedente(faturizado) responderia se o

devedor não honrasse a dívida. Como o cessionário(faturizador) não suportava

os riscos, a comissão paga à empresa de factoring era menor. Nos casos de

inadimplemento, ao cedente competia a cobrança dos créditos. Assim, o

cessionário pagava à vista em torno de 20% do total de crédito. O restante

ficava na pendência até a satisfação do valor devido.

A modalidade bulk factoring é um desconto de faturas em que o devedor é

avisado de que deve pagar à sociedade de factoring sem qualquer prestação

de serviços. É usada principalmente por empresas de um mesmo grupo

econômico que têm os seus próprios serviços de cobrança e que assumem os

seus próprios riscos.

Page 60: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

59

1.3.3 Método de cálculo do fator

Na formação do preço de compra, em uma empresa de factoring, deve-se levar

em conta os itens de custeio praticados por qualquer empresa comercial, a

saber:

Custo de oportunidade do capital próprio;

Custo dos financiamentos;

Taxa de risco;

Custos fixos;

Custos variáveis;

Impostos;

Despesas bancárias;

Expectativa de lucro.

o custo de oportunidade é o uso alternativo que os recursos poderiam ter se o

empresário não constituísse sua factoring. Os usos alternativos podem ser,

entre outros: CDB, RDB, Letra de Câmbio, Debêntures, ouro, etc.

Para se determinar o custo de oportunidade do capital próprio em giro na

empresa de factoring, deve haver o cuidado, ao adquirir os títulos de crédito, do

casamento do preço e prazo certos. Como custos de financiamentos entende­

se o juro pago aos bancos pelos empréstimos contratados para complementar

a necessidade de caixa. Para as empresas de factoring, as linhas ideais de

créditos são o desconto de duplicata e a conta garantida. O somatório destes

itens forma o fator-mês, que deve ser aplicado na compra dos créditos. A

ANFAC indica diariamente o fator como mero parâmetro para orientar suas

associadas.

A receita operacional bruta é constituída do ad valor em mais o fator de compra

dos créditos. As empresas de factoring têm as seguintes despesas com

impostos e encargos sociais além do ISS e do IR: PIS, Contribuição Social,

INSS, Fundo de Garantia e décimo terceiro salário. Por sua vez, os serviços

Page 61: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

60

prestados pelas empresas de factoring são cobrados pelo valor de face dos

títulos negociados(ad valorem). A comissão de serviços varia de 0,25 a 1,00%.

Nota-se que a remuneração, traduzida na comissão variável "ad valorem", leva

em conta apenas o volume dos serviços prestados, não se computando, pois,

nem o prazo nem o risco da operação.

A compra dos créditos mercantis é efetuada com base num Fator de Compra,

que corresponde a todos os itens de custeio de uma sociedade de fomento

mercantil (custo de oportunidade de seus recursos, balizados pela taxa SELlC,

carga tributária, custos operacionais, despesas de cobrança e expectativa de

lucro e risco). Da soma da comissão de serviços (ad valorem) e do diferencial

apurado na compra dos direitos mercantis, constitui-se a receita operacional

bruta da empresa de factoring. A seguir, é reproduzida uma série histórica dos

fatores aplicados.

Tabela 1 - Fatores aplicados nos anos de 1993 a 2003

Valores expressos em % ao mês

Série histórica do Fator ANFAC

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Jan 28,07 30,67 8,36 6,64 4,55 4,79 4,52 4,20 3,80 3,89 Fev 25,64 32,96 8,32 6,73 4,43 4,75 4,85 4,16 3,77 3,88 Mar 24,73 34,56 8,90 6,61 4,28 4,64 5,10 4,12 3,83 3,82 Abr 27,00 36,80 9,29 6,51 4,25 4,55 4,92 4,01 3,89 3,83 Mai 26,64 35,30 9,07 6,23 4,24 4,50 4,82 3,99 3,89 3,81 Jun 27,09 35,40 9,00 5,89 4,20 4,42 4,79 3,97 3,93 4,10 Jul 27,42 9,85 9,02 5,60 4,20 4,33 4,75 3,91 4,10 4,04 Ago 28,22 10,40 8,49 5,44 4,15 4,20 4,70 3,88 4,04 4,04 Set 28,83 8,58 8,11 5,25 4,13 4,50 4,56 3,87 4,03 4,01 Out 28,55 8,46 7,85 5,02 4,10 4,55 4,40 3,85 3,97 4,25 Nov 29,47 8,71 7,72 4,78 4,96 4,50 4,39 3,87 3,95 4,37 Dez 31,26 8,36 7,28 4,70 4,80 4,49 4,35 3,83 3,90 4,38

(*) O fator ANFAC dos meses de fevereiro, março e abril de 2003, apresentou a mesma média

2003 4,42 4,40 4,40 4,40 4,43 4,39 4,36 4,35 4,33 4,28

mensal, resultado do número de dias úteis e do custo do dinheiro balizado pela taxa básica SELlC e doCDB

Fonte dos dados: ANFAC (2003)

Page 62: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

61

Sobre o conceito de "ad-valorem", vale registrar uma matéria que foi objeto de

uma Circular ANFAC dirigida às suas empresas filiadas e o resultado de um

estudo elaborado pelo seu presidente, Luiz Lemos Leite:

Conceituação Etimológica - A locução latina "ad vaIarem" é

bastante conhecida e empregada no jargão universal do dia-a-dia

dos negócios de uma sociedade de fomento mercantil. A

preposição latina "ad" significa conforme ou segundo. A tradução

literal de "ad vaIarem" é conforme o valor ou segundo o valor.

11 Conceituação Jurídica - A expressão "ad valorem" é usada para

indicar a cobrança do imposto, tendo como base o valor

monetário do próprio bem ou mercadoria negociada - e não o seu

peso, quantidade ou volume - sobre o qual incidirá a tributação.

Na cobrança dos impostos ou direitos aduaneiros há uma alíquota

"ad vaIarem" que se fixa sobre o preço da mercadoria importada

ou exportada. É o que estabelece o CTN76 em seus artigos 20 e

24, relativamente aos impostos sobre o comércio exterior, de

importação e exportação:

A base de cálculo do imposto é 1 - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; 2 -quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País.

111 Conceituação Operacional - Como na operação de factoring há

uma parte referente à prestação de serviços, deve ser cobrada

uma remuneração que passou a ser feita "ad valorem"n cujo

76 BRASIL. Lei n° 5.172, de 25 de Outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e Institui Nonnas Gerais de Direito Tributário Aplicáveis à União, Estados e Municípios. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 25 de out. 1966.(retificado em 31 de out. 1966).

77 Historicamente, a expressão "ad valorem" começou a ser empregada nas operações de factoring da Inglaterra, um mercado maduro que introduziu na Europa, por volta de 1950, o factoring moderno, originário dos Estados Unidos e praticado por empresas de pequeno porte, que se intitulavam "factors", para prestar serviços de administração de contas a receber, de cobrança e de proteção contra maus pagadores, principalmente para empresas com

Page 63: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

62

parâmetro é o valor nominal dos títulos de crédito negociados.

Com efeito, inspirados nessa praxe, os países que praticam o

factoring consagraram a expressão "ad valorem" para traduzir a

comissão pelos serviços prestados, cobráveis sobre o valor de

face dos títulos de crédito negociados, chamada também de "taxa

de serviço", "comissão" ou "taxa de administração". É,

normalmente, um percentual que varia entre 0,25% e 3,0%, não

se levando em conta nem o risco e nem o prazo. Esta comissão é,

do ponto de vista econômico, remuneratória do conjunto de

serviços realizados pela empresa de factoring.

IV Conceituação Contábil - O componente "serviços" é o pressuposto

básico indicativo de que se está praticando o factoring, uma vez

que seu ciclo operacional se inicia com a prestação de serviços.

Este componente, na operação de factoring, é tão importante que

representa 90% das receitas auferidas pelas empresas de

factoring na Europa e na Ásia.

O factoring não é uma simples técnica de transferência de créditos, pois, por

seu caráter de multi-serviços, tem, por escopo, permitir às empresas-clientes a

liberação de uma série de preocupações e tarefas de ordem administrativa, e

possibilitar-lhes uma simplificação da gestão comercial e dedicação integral

àquilo que o empresário sabe e gosta de fazer, que é produzir.

A sociedade de fomento mercantil se incumbe da análise da qualidade do

padrão creditício dos sacados, de sua situação econômica, financeira e

patrimonial, de seu comportamento no mercado, do prazo médio de seus

títulos, da orientação sobre administração dos estoques de suas empresas­

clientes, dentre outros serviços.

dificuldades de acesso ao mercado tradicional de crédito em Londres. Naqueles primeiros anos, as empresas de factoring na Inglaterra, ao prestar os serviços de apoio em suas operações de compra de créditos, passaram a remunerar-se com uma comissão cobrada "ad va/orem", aplicando, por analogia, o mesmo critério fixado pela Stamp Duty Act, de 1891 (Lei do Selo), que criou o imposto do selo incidente sobre o valor de cada documento negociado (Leite, 1999).

Page 64: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

63

Com a prática do factoring, a estrutura patrimonial das empresas-clientes sofre

uma importante modificação, que se reflete em sua contabilidade. Há uma

permuta entre a rubrica do ativo "contas a receber" e "caixa-disponibilidades".

No passivo, eliminaram-se praticamente as contas "fornecedores" e

"empréstimos bancários", significando sensível redução de seu endividamento.

Em contrapartida, na contabilidade da sociedade de fomento mercantil

aparecerá, no ativo, como patrimônio seu, a conta "títulos a receber", que são

bens móveis, realizáveis, no momento de sua cobrança, em valores monetários

que se reintegram ao giro de seus recursos.

Ademais, o factoring permite às suas empresas-clientes substituir uma parte de

seus custos fixos por outros custos proporcionais ao giro de seus negócios,

resultando uma fonte potencial de economia(parte do custo fixo traduzido como

custo variável). Na operação de factoring, de um lado, a sociedade de fomento

mercantil(endossária) é devedora de um pagamento pela compra dos créditos,

e de outro, é credora de uma remuneração pelos serviços prestados às

empresas clientes(endossante). As empresas clientes contabilizam como

despesa os serviços de factoring e a alienação dos direitos creditórios que, por

outro lado, na contabilidade da empresa de factoring, constituem suas receitas

operacionais a remuneração recebida pelo serviço e o diferencial na compra

dos créditos.

1.4 OPERACIONALlZAÇÃO DO FACTORING NO BRASIL

1.4.1 As funções operacionais do Factor.

De acordo com Brit078, o factoring, ou as atividades de faturização, vem sendo

mencionado no seu sentido mais estrito como compra de faturamento, talvez

78 BRITO, J. Alves. Factoring. Caderno Especial nO 319 - Sindicato dos Bancos do Estado do Rio de Janeiro, 1985.

Page 65: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

64

porque este seja o seu principal aspecto. Mas, as atividades de um factor, ou

empresa faturizadora, são mais abrangentes, a saber:

I. Compra o faturamento da empresa-vendedora ou

fomecedora;

11. Assume os riscos de crédito comercial inerente à compra;

111. Cadastra os compradores da empresa fomecedora, de quem

compra o faturamento, faz avaliação de seu crédito,

assessora na tomada de decisão de suprir ou não crédito, e

quanto ao volume, atualizando continuamente as

informações cadastrais;

IV. Administra a cobrança das contas a receber da empresa­

vendedora e faz os respectivos registros e controle;

V. Realiza a contabilidade referente aos devedores da

empresa-vendedora;

VI. Assessora a empresa-vendedora quanto à estratégia de

vendas, a prazos, estoques, etc; e

VII. Faz avaliação e acompanhamento gerenciais e produz

levantamentos e relatórios estatísticos.

A compra de faturamento, a realização de cadastro, a avaliação de crédito e a

cobrança são atividades de gestão financeira ou de crédito praticadas pela

empresa faturizadora em seu nome ou em nome da empresa-vendedora. Ao

assumir o risco de crédito comercial, a faturizadora oferece garantia. Ao

adiantar recursos, oferece financiamento, além de assessorar nas vendas e

prestar outros serviços que tenham sido objetos de contrato. Segundo Donini79,

No Brasil as funções ou atividades dos factors podem ser destacadas em quatro tipos:

Cessão de crédito: é o meio de transmissão de títulos de crédito adquiridos do cedente-faturizado pelo cessionário-faturizador, através do endosso que predomina a cessão de crédito em face da natureza contratual do factoring. 80

79 DONINI (2002, p. 79)

80 Os títulos objeto de cessão de crédito são duplicatas e o cheque, e é o faturizado que decide os créditos a ceder à empresa de factoring, cabendo ao factor adquirir ou não, escolher, dentre

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65

Prestação de serviços convencionais: não requer uma relação de parceria, ou co-gestão, do faturizador com o faturizado, e, nesta forma de atuação, o faturizador presta serviços administrativos usuais ao faturizado, como por exemplo: avaliação de fornecedores, acompanhamento de contas a receber e a pagar, organização contábil, controle de fluxo de caixa, de estoques, análise de crédito, etc8

\

Prestação de serviços diferenciados: nesta atividade o faturizador tem um envolvimento maior com a empresa do faturizado, onde o faturizador presta serviços de: gestão empresarial parcial, co-gestão empresarial, parcerias, etc82

;

e Antecipação de recursos não-financeiros: nesta forma de atuação, não terá como fomento recursos financeiros mas matérias primas e insumos.

Nesta última operação (antecipação de recursos), o custo desses será bancado

pelo faturizador, junto ao fornecedor em nome deste ou do próprio faturizado.

Nessa modalidade o pagamento é feito com as vendas oriundas das vendas

mercantis da matéria-prima industrializada(duplicatas), que envolverá,

geralmente, o fator, cobrado através do contrato de factoring convencional com

estipulação de condições e cláusulas específicas desse tipo de operação.

o factoring é mais uma alternativa à disposição do comércio, da indústria, da

agricultura e dos serviços, a ser adicionada ao rol das opções existentes e,

neste sentido, é uma forma de melhorar a concorrência no mercado financeiro,

por si mesma benéfica como elemento inseparável do conceito e da prática da

livre iniciativa.

As funções do factor e as modalidades, segundo Donini83, as doutrinas

nacional e estrangeira, tendem a apresentar o factoring geralmente em sua

modalidade convencional que, sem dúvida, é a mais utilizada no país. Porém, a

evolução experimentada por esta prática comercial revelou outras

eles, aqueles que melhor convier. As modalidades domésticas de factoring onde opera a cessão de crédito são: a convencional, maturitye importação-exportação.

81 As modalidades domésticas que se moldam à prestação de serviços convencionais são: convencional, ímportação-exportação e maturíty.

82 Por envolver confiança entre os contratantes, em razão da espécie de serviços prestados onde o faturizado praticamente deixa na mão do faturizador o comando da empresa, a modalidade de factoring que mais se ajusta é o trustee.

83 Donini (2002: p.35)

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66

modalidades. Dizer que o factoring é uma cessão de crédito cumulada ou não

com prestação de serviços é dizer muito pouco. Como já foi dito, a atividade de

factoring envolve a cessão de crédito, antecipação de recursos não-financeiros

e prestação de serviços convencionais ou diferenciados.

1.4.2 A operação de factoring

Como já foi dito anteriormente, a operação de factoring é complexa pois

envolve serviços diversos além da compra de créditos. Tanto é complexa que

muitas empresas "preferem" tão somente comprar o faturamento da empresa

vendedora ou fornecedora, mesmo sabendo que a taxa adicional que a

faturizada paga(ad valorem) é uma contraprestação dos serviços

especializados de assessoramento já referenciados anteriormente. Na verdade,

tal "preferência" descaracteriza a operação de factoring.

Assim instrui a ANFAC:

o ciclo operacional do Fomento Mercantil - Factoring inicia-se com a prestação de serviços, os mais variados e abrangentes, e se completa com a compra dos créditos(dos direitos) gerados pelas vendas mercantis que são efetuadas por suas empresas-clientes. São 2 tempos e 2 componentes: 10

_ Os serviços de apoio às empresas-clientes constituem-se o pressuposto básico da operação de Fomento Mercantil - Factoring. Serviços que normalmente presta uma sociedade de fomento mercantil à sua clientela-alvo, a pequena e média empresa, notadamente do setor produtivo: orienta suas empresas clientes na compra de matéria-prima, na organização da contabilidade, no controle do fluxo de caixa, no acompanhamento de suas contas a receber e a pagar, na busca novos clientes, de modo a melhorar o padrão de seus produtos e a expandir as vendas. O Agente de Fomento Mercantil tem de ser o parceiro de suas empresas-clientes com elas mantendo estreito, e até diário, contato. É um profissional polivalente que deve estar preparado para dar ampla assistência às suas empresas clientes, possibilitando-lhes alcançar o equilíbrio financeiro e permitir uma expansão segura dos seus negócios. Pela prestação de serviços cobra-se uma comissão. 2° - A conseqüência de toda aquela gama de serviços prestados se justifica para facilitar a compra dos créditos mercantis das suas empresas-clientes. Tais direitos são representadas por títulos de crédito, ou seja, a sociedade de fomento mercantil fornece os recursos necessários ao giro dos negócios das suas empresas-clientes, através da compra à vista dos créditos resultantes das vendas a prazo realizadas por suas empresas-clientes. É uma alienação de direitos creditórios, prevista no Artigo 286 do Código Civil. Como a sociedade de fomento mercantil compra créditos, é necessário calcular o preço pelo qual

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67

ela vai adquiri-los. Chama-se fator de compra. Empresa de Fomento Mercantil - Factoring não faz empréstimos, portanto, não pode cobrar juros. Fomento Mercantil não é operação de crédito.84

Instrui ainda a ANFAC85 que

o contrato de factoring envolve três momentos, considerando apenas a cessão de créditos:

1° momento: o devedor (sacado) emite duplicata em favor da empresa­cliente (faturizado) pela compra de mercadorias ou serviços; 2° momento: com o título em mão, a empresa-cliente recorre a uma empresa de factoring (faturizador ou factor') para receber à vista aquele título, endossando-lhe o crédito. O faturizador compra aquele titulo à vista com um deságio ou desconto do valor nominal. Esse deságio é a comissão cobrada pelos riscos de não pagamento, embutidos a correção monetária; e 3° momento: o faturizador, no vencimento do título, cobra e recebe os valores nominais dos títulos negociados anteriormente.

A relação entre faturizador e devedor existe pela sub-rogação dos créditos

cedidos pelo faturizado, que se liberou, em termos de responsabilidade, do

negócio. Poderá acontecer que a relação entre faturizador e faturizado seja

"dupla", ou seja, o direito de regresso. Permite-se o direito de regresso quando

o crédito não for lícito, certo e regular.

A empresa de fomento mercantil não precisa ser um banco, nem se identifica

com instituição financeira conforme as atividades próprias descritas no Artigo

17 da Lei nO 4595/64. Portanto, não é passível de fiscalização pelo Banco

Central do Brasil. Existe jurisprudência em relação a isso:

Sabe-se, comezinhamente, que as operações de factoring evoluíram de mero contrato comissionado, para assumir a posição de financiamento, sem, entretanto, se caracterizar como instituição financeira, regulada pelo Banco Central. Sua função é, tipicamente, de fomento, em razão da inexistência de regulamentação legal ainda. ( ... ) Neste mesmo sentido, também se manifesta o grande mestre Fran Martins, verbis: "nessas condições, sendo característica essencial do contrato de faturização, a isenção do faturizado da responsabilidade de pagar o crédito cedido caso o comprador das mercadorias

84 ANFAC, Associação Nacional de Factoring. Cartilha do Factoring. São Paulo: ANFAC, 2001.

85 Id ibid.

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68

não o faça - o que toma o contrato de factoring uma operação de risco, portanto especulativa, e não uma operação de crédito, como são as operações bancárias". (Contratos e Obrigações Comerciais, 7 ed. - Forense - pp. 554/555). (Apel. 188210-4, 6a Câm. Civil do TAMG, de 23/02/95)86

Pode-se concluir que a empresa de factoring não tem vinculação com o

sistema financeiro, apesar da semelhança com o desconto bancário e, por essa

razão, é impedida de exercer atividades próprias de bancos(inclusive

financeiras, seguradoras, corretoras de valores, etc) de acordo com a Lei

8.981/95.

A empresa de factoring tem caráter mercantil(ou comercial), bastando a

inscrição dos seus estatutos na Junta Comercial e alvará de funcionamento

junto ao município.

Em relação ao faturizado, empresa-cliente das factoríngs, este terá que estar

organizado como pessoa jurídica ou firma individual, uma vez que a faturização

não pode ser realizada como crédito direto ao consumidor.

De acordo com a ANFAC87

Os benefícios do factoring para as empresas-clientes são:

Parceria: aconselhamento ao empresário em suas decisões importantes e estratégicas, além das atividades rotineiras; Menor envolvimento e preocupação do empresário com as atividades rotineiras de pagar, receber e prover recursos, liberando-o para tarefas que considera importantes para melhor gestão empresarial: novos produtos e mercados, maior produção e redução dos custos operacionais; Melhor fluxo de caixa, pagando à vista o que ele vende a prazo e propiciando a expansão segura das vendas. Transforma vendas a prazo em vendas à vista. Condições excepcionais de barganha com seus fornecedores; Crédito ampliado: limite concedido ao sacado. Análise do padrão creditício do sacado-devedor; Eliminação do endividamento; 100% de dedicação à sua empresa, permitindo aprimorar produção e venda e melhorar a competitividade no seu ramo de negócio; e Racionalização de todos os custos da empresa-cliente.

86 BUSSADA, Wilson. Factoring interpretada pelos Tribunais. Campinas: Julex, 1999, p. 206. 87 ANFAC (2001).

Page 70: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

69

1.4.3 Os títulos negociáveis no factoring

Antigamente, o principal objeto de negociação das empresas de factoring eram

as duplicatas de fatura, daí também o termo empregado de faturização.

Atualmente, há o instrumento do cheque pré-datado, melhor definido como

"pós-datado", também usado como objeto de negociação das empresas de

factoring. Apesar da Lei dos Cheques(Lei 7357/85) dizer que o cheque é

pagável à vista (Art. 32), e a Lei 5474/68 proibir a emissão de outra espécie de

título de crédito para expressar vendas a prazo (Art. 2°), esse instrumento

passou a ser muito usual, levando a uma controvérsia entre a lei e a prática.

Admite-se a figura do cheque pré-datado, considerando que a prática da sua

utilização em grande escala no mercado(irregularmente como documento de

crédito) é uma realidade incontestável no país, desde que estruturado e

vinculado a um documento formal que represente uma legítima transação

mercantil entre pessoas jurídicas. 88

Para facilitar o estudo, serão destacados apenas esses dois tipos de títulos, a

duplicata e o cheque pré-datado, apesar de serem operados outros títulos

como warrants, conhecimento de transporte, nota promissória, etc.

1.4.3.1 Duplicata

Considerada como um título de crédito, aplica-se a ela os dispositivos da

legislação sobre emissão, circulação e pagamento das letras de câmbio (Art.

25 da Lei 5474/68). Assim, aplica-se a Lei Uniforme de Genebra(LUG) que

prevê as transferências dos títulos através de endosso. Segundo seu Artigo 14,

"o endosso transmite todos os direitos emergentes da letra", sendo o

endossante o garantidor do pagamento da mesma. Mas, como o endossante é

garantidor do pagamento, como é que o faturizado, que endossa a duplicata ao

faturizador, não responderá pelo não pagamento do devedor?

88 LEITE (1999; passim).

Page 71: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

70

Entende-se que, em relação ao factoring, o endosso opera-se de forma

diferente dos dispositivos da LUG, para chancelar a não responsabilidade do

faturizado com relação ao pagamento dos títulos transferidos. O endosso é

subdividido em diversas espécies. No caso das factorings, ele é translativo e

sem garantia. O endosso é translativo porque transmite a propriedade, e sem

garantia uma vez que a natureza do fomento mercantil não admite o direito de

regresso do faturizador.

Como a duplicata representa um título de crédito, sujeitando-se, assim, às

regras que regem esses títulos, principalmente no que diz respeito à circulação

(Lei n° 5474/68, Art. 25), para que a empresa de faturização possa cobrar do

comprador a importância devida é necessário que ela seja transferida para o

faturizador, o que será feito mediante um endosso, na forma da regra do Art. 14

da Lei Uniforme sobre Letras de Câmbio e Notas Promissórias em vigor no

Brasil.

Como o endossante, segundo os principias básicos do direito cambiário, é

gerador tanto da aceitação como do pagamento do título, a Lei Uniforme, para

facilitar a circulação das letras de câmbio, admitiu o chamado endosso sem

garantia(Art. 15) onde o endossante, transferindo o título, não só deixa de

garantir a aceitação da letra como se exime do pagamento da mesma. Esse

procedimento parece o apropriado para ser adotado na cessão dos créditos no

contrato de faturização, do faturizado para o faturizador, pois é princípio da

essência do contrato de faturização o fato de não responder o faturizado, ao

ceder os seus créditos, pela solvência do devedor, no caso o comprador,

correndo, assim, por conta da empresa de faturização o risco do não

recebimento já que a mesma não pode se voltar contra o faturizado para que

ela satisfaça a obrigação não cumprida pelo comprador. 89

Conclui-se que o endosso sem garantia é uma solução apenas aparente, já

que, segundo a LUG, o emitente(sacador ou faturizado) pode exonerar-se da

aceitação do título, mas não se eximir do pagamento do mesmo (Art. 9°). A

89 MARTINS (2000; passim).

Page 72: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

71

solução proposta por Fran Martins90 seria uma modificação na Lei das

Duplicatas em seu Art. 2°, para permitir que outros títulos, que não a duplicata,

possam servir para a cobrança das vendas a prazo.

Outros autores(inclusive Rizzardo) discordam desta situação, na premissa de

que o factoring constitui uma figura jurídica própria, com uma estrutura e

conteúdo peculiares, além da inexistência de impedimentos legais, onde

podem as pessoas contratar livremente e estabelecer as cláusulas e condições

que forem de sua conveniência sob o domínio do princípio da liberdade

contratual. E que, nesse sentido, não se opera o simples endosso, mas a

negociação do crédito.

1.4.3.2 O cheque

Principalmente no comércio tornou-se comum, no crediário, a utilização de

cheques pré-datados, com data certa de pagamentos futuros, na compra de

bens e serviços. Como as pequenas e médias empresas necessitam de capital

de giro para negociar com seus fornecedores, buscou-se nas factorings uma

forma menos "burocrática" de conseguir recursos para tal. Menos "burocrática"

porque o crédito está cada vez menos acessível a essas empresas, primeiro

por causa do custo das operações que, para esse tipo de setor, está cada vez

mais alto, e, segundo, porque as exigências para a obtenção de recursos

através do crédito são cada vez maiores.

Essa forma contraria a Lei de Cheques, mas a jurisprudência já

institucionalizou a prática desse instrumento, ora como um contrato, ora como

um título de crédito.

90 Apud BUSSADA (1999, p. 206).

Page 73: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

72

Nenhuma lei disciplina o cheque pré-datado, pois a sua utilização decorre

unicamente do costume ou a praxe. Como assinala João Eunápio Borges

(Títulos de Crédito, p. 161) apud Donini91, o cheque pré-datado:

é uma operação de crédito, pois se verificam dois elementos característicos, a confiança e o prazo que intervêm entre a promessa do devedor emitente e a sua realização futura(compensação); apesar de não passar normalmente de mero instrumento de retirada de fundos, ou de movimentação de conta bancária, é também um título de crédito. O cheque, finaliza o festejado mestre, é uma ordem cujo beneficiário o aceita a título de pagamento em lugar do dinheiro que lhe deve o emitente.

1.4.4 O contrato de factoring

Encontram-se diversas classificações com relação ao contrato de factoring em

diferentes autores. Antes de tudo, podemos afirmar que ele é consensual, pois

envolve manifestação de vontade entre o cliente e o factor. A esse respeito,

Fran Martins (1977) apud Garcia92 afirma que o contrato de faturização se

forma mediante a simples manifestação do faturizador e do faturizado, não

requerendo a forma escrita, se bem que essa seja a modalidade usual entre as

partes.

o contrato, contudo, pode ser firmado verbalmente, desde que sejam feitas as

escriturações em livros de ambas as partes. É, portanto, um contrato

simplesmente consensual, havendo, como em todos os contratos uma proposta

e uma aceitação.

Em virtude de, em regra, o faturizador dispor de cláusulas mediante as quais

deve o contrato ser feito, dizem-no de adesão, sendo oneroso, já que há

vantagens para as duas partes. É, ainda, um contrato de execução sucessiva,

permitindo várias prestações continuadas. Por último, é um contrato de

exclusividade, já que ao faturizado não é permitido manter contratos

91 DONINI (2002, p. 208).

92 GARCIA, Fábio Gallo. Operações de Fomento Comercial ("Factoring"). São Paulo: EAESP/FGV, 1989 (Dissertação de Mestrado), p. 110.

Page 74: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

73

semelhantes com outros faturizadores. São cláusulas essenciais as relativas à

exclusividade ou totalidade das contas do faturizado, à duração do contrato, à

faculdade de escolher o faturizador as contas que deseja garantir, aprovando­

as, a relativa à liquidação dos créditos, a sobre a cessão dos créditos ao

faturizador, a sobre a assunção dos riscos pelo faturizador e, finalmente, a

sobre a remuneração do faturizador. Outras cláusulas, entretanto, poderão ser

ajustadas no contrato, por conveniência das partes, mas nenhuma deve

derrogar as cláusulas essenciais93.

Assim, destacam-se como cláusulas essenciais em um contrato de factoring,

as seguintes:

Opção de escolha dos créditos a serem negociados por parte da

empresa de fomento comercial (factor);

Os serviços a serem prestados pelo factor;

- A legitimidade dos créditos negociados;

A garantia do risco de crédito;

- A duração do contrato;

A forma de liquidação dos créditos negociados pelo factor com o cliente;

e

- A forma de remuneração do factor.

Garcia94 destaca algumas cláusulas opcionais ao contrato de fomento

mercantil, como estas:

A forma de remessa dos créditos(por exemplo, borderau);

- A periodicidade destas remessas;

Os dados constantes nos documentos de remessa(dados do comprador

e das faturas);

Prazos de cobrança mínimos;

Qual é a forma e quem notificará o comprador;

93 Fran Martins (1977) apud GARCIA (1989, p. 110).

94 GARCIA (1989, passim)

Page 75: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

74

Qual a forma de cobrança das faturas, para que não gere conflitos com

o comprador;

Canais e prazos de comunicação entre o cliente, o factor e o comprador

em casos de problemas com as faturas;

Condições e o valor da recompra dos créditos;

O valor da margem de reserva no caso de adiantamento;

A responsabilidade por tributos, taxas e emolumentos incidentes sobre a

cessão de crédito;

Possibilidades dos créditos cedidos serem negociados com terceiros ou

dados em garantia; e

Cláusula de renovação automática.

As empresas afiliadas à ANF AC, seguem um modelo de contrato padrão onde

constam todos os itens citados anteriormente, além de conter a forma de como

se opera a cessão e transferência dos créditos, denominada de "endosso

preto".

1.4.5 Principais instituições ligadas à atividade de factoring

Nesse tópico serão abordadas as principais instituições de apoio técnico,

classista e de divulgação do fomento mercantil - factoring, destacando suas

funções, área de atuação e finalidades institucionais.

1.4.5.1 ANFAC

A sigla ANFAC significa Associação Nacional das Sociedades de Fomento

Mercantil - Factoring, que é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, tendo por

finalidade:

definir, caracterizar e tipificar o fomento mercantil - factoring, que se deve desenvolver através de normas e obrigações estabelecidas por seus órgãos competentes, as quais devem ser acatadas, respeitadas e reconhecidas por todas as suas empresas associadas ou por seus filiados, como definidoras da atividade que se auto-regulará pela própria ANFAC no interesse setorial a que

Page 76: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

75

se dedicarão, de modo a preservar e viabilizar a prática do fomento mercantil sem conflitos nem transgressões da legislação específica das instituições financeiras e das regras do direito vigente no País. 95

Compete a ANFAC, visando alcançar esses objetivos:

Congregar todas as pessoas jurídicas que exercem a atividade de

factoring, da forma como é entendida pela ANFAC;

Divulgar normas de acordo com os objetivos institucionais dessa

atividade;

Representar e defender interesses desse setor junto aos govemos

(municipais, estaduais e federal) e a iniciativa privada;

Fazer cumprir e estabelecer normas éticas de regulamentação para o

factoring;

Fazer o intercâmbio entre outras associações e sociedades nacionais e

estrangeiras relacionadas a essa atividade;

Dar cursos de formação técnica para agentes operadores de fomento

comercial;

Desenvolver tecnologicamente o factoring e estimulá-lo no segmento

das pequenas e médias empresas;

Representar juridicamente as associadas;

Editar revistas técnicas especializadas sobre a atividade;

Funcionar como Corte de Arbitragem, para dirimir algum problema entre

as suas associadas; e

Subsidiar os poderes do Estado, emitindo pareceres e fazendo perícias

em relação a assuntos envolvendo essa atividade.

Suas associadas obrigam-se a cumprir rigorosamente seu Código de Ética, o

qual se encontra inserido no apêndice deste trabalho(ANEXO C).

95 ANFAC - Associação Nacional das Empresas de Factoring. Instituição e missão. Informes disponíveis pela Internet no site <http://www.anfac.com.br/apresentação/quem.jsp>. Acessado em 19/08/03.

Page 77: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

76

1.4.5.2 Factors Chain International - FCI

Fundada em 1968, a Factors Chain /ntemationa/(FCI), é a maior associação

internacional de empresas de factoring independentes. Quando ela foi criada, a

atividade de factoring só existia na América do Norte e em alguns países da

Europa, mesmo assim em número muito pequeno, onde o conceito de factoring

internacional ou factoring além das fronteiras era muito pouco utilizado. Com o

intuito de desenvolver essa atividade foi criada a FCI, tendo como principais

objetivos:

Introduzir a atividade de factoring naqueles países onde essa atividade

ainda não existia; e,

Desenvolver a integração de uma rede de empresas independentes, em

diferentes países, para trabalharem integradas.

o conceito da FCI era o de que as empresas, nos diferentes países,

continuariam a operar do mesmo modo, de acordo com as características

regionais, como os seus costumes locais e cultura, já que essas empresas

teriam expertise desenvolvida nos mercados em que atuam.

Porém, cada membro utilizaria uma linguagem padrão através de um sistema

de comunicação unificado, e seguiria um código de conduta global para que

houvesse integração dessa rede de empresas, como podemos verificar na

missão da FCI96, apresentada in verbis a seguir.

The Mission of Factors Chain International. FCI is a global network of leading companies, whose common aim is to facilitate international trade through factoring and related financiai services. FCl's mission is to become the worldwide standard for international factoring. FCI helps its members achieve competitive advantage in international trade finance services through:

A global network of first-class factoring companies Modern and effective communication systems, to enable them to conduct their businesses in a cost-efficient way

96 FCI - Factors Chain International Home page institucional disponível pela Internet no site <http://www.fdors-chain.com/b2lb2.html>. Acessado em 19/08/03.

Page 78: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

A reliable legal framework to proteet exporters and importers Standard procedures, aimed at maintaining a universal quality A paekage of training programs

77

Worldwide promotion aimed at positioning intemational factoring as the preferred method of trade finance.

FCI will always have a flexible and market oriented attitude. It will remain an open ehain, encouraging quality factoring eompanies to join its ranks. As an open ehain, FCI will view eompetition as a stimulus for superior service to exporters." 97

1.5 CENÁRIO ATUAL E EXPECTATIVAS DO FACTORING NO BRASIL

o factoring é uma entidade mercantil rigorosamente legal, amparado nas

normas do direito vigente no Brasil. Existiam, até dezembro de 2002, no Brasil,

764 empresas de Fomento Mercantil, associadas ao Sistema FEBRAFAC I

ANFAC, composto de 18 sindicatos regionais que seguem normas de ética e

disciplina ditadas por essas entidades. Não se deve esquecer que existem

muitas empresas que não são afiliadas a essas associações citadas

anteriormente e que algumas delas operam o fomento mercantil na sua

essência, de acordo com os fundamentos dessa atividade já conceituados

nesse trabalho.

97 Tradução nossa: " A missão da Factors Chain Intemational. FCI é uma rede global de empresas líderes que têm em comum o intuito de facilitar o comércio internacional através do factoring e de serviços financeiros relacionados. A missão da FCI é de tomar-se o padrão mundial para o factoring internacional. A FCI ajuda o seus associados a atingir vantagens competitivas em operações financeiras internacionais através de: - Uma rede mundial de empresas de factoring de primeira linha. - Um moderno e eficiente sistema de comunicação para que os associados possam realizar seus negócios com baixo custo e mais eficiência. - Um instrumento legal e confiável para proteção de exportadores e importadores. - Procedimentos padronizados para manter um padrão de qualidade universal. - Programas de treinamentos. - Divulgação e conceituação do factoring internacional como o melhor método de operações financeiras. A FCI sempre será um organização flexível focada no mercado. Ela será sempre uma cadeia aberta para receber empresas de factoring de qualidade que queiram fazer parte dessa associação. Como é uma cadeia aberta, a FCI estimulará sempre na competição visando serviços superiores para os exportadores."

Page 79: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

78

As empresas de factoring atendem a uma clientela muito numerosa98 no país

formada principalmente por micro, pequenas e médias empresas, as quais 85%

são do setor produtivo, garantindo assim mais de um milhão e meio de

empregos diretos e indiretos. Gerando riqueza e mão-de-obra, concorrem para

melhorar a liquidez do sistema financeiro já que toda a movimentação das

empresas de factoring passa pelo sistema bancário, inibindo a

desintermediação financeira.

Segundo Leite(2003), para que o factoring se desenvolva em maior escala no

país, as empresas devem sinalizar novos rumos, tendo sempre a mentalidade

empresarial, dedicando-se com zelo e eficiência à gestão dos negócios, pois

não existe mais espaço para o amadorismo.

Numa época como esta, de turbulências e incertezas generalizadas, deve-se utilizar o planejamento sistemático e abrangente, como instrumento que permite à organização pensar e preparar para o futuro por meio de decisões tomadas no presente, fundamentadas em uma factoring com alto grau de profissionalização. 99

Na atual conjuntura, a demanda por serviços por parte das empresas clientes,

se faz muito intensa e cada vez mais são necessárias a orientação sobre as

tendências do mercado e a avaliação dos negócios.

o número de empresas de factorings associadas à ANFAC aumentou cerca de

10% entre 2000 e 2002. A maior intensidade desse crescimento ocorreu nos

dois últimos anos, indicando que a atividade passou a expressar maior

importância no contexto das operações mercantis. O volume de operações em

2002 foi de R$ 30.057 milhões, o que representou um aumento de 22% no

período citado acima. Apesar desse incremento, o nível de inadimplência,

98 De acordo com a "Cartilha da Anfac" (2003), essa clientela é fonnada de aproximadamente setenta mil pequenas e médias empresas.

99 ANFAC - Associação Nacional das Empresas de Factoring. Cartilha do factoring. Infonnes disponíveis pela Internet no site < http://www.anfac.com.br/cartilha/comoestaorganizado.jsp>. Acessado em 19/08/03.

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79

calculado sobre o montante das operações, aumentou de 2,5% em 2000 para

3% em 2001, havendo posteriormente um decréscimo para 2,9% em 2002.100

o comportamento da inadimplência pode ser explicado pelo maior

acompanhamento técnico das empresas-clientes (que somam mais de 70 mil

em todo o Brasil), o que reduz riscos na compra de créditos considerando as

características dos créditos comprados. Em geral, os créditos adquiridos das

empresas-clientes tratam de vendas realizadas junto ao público, constituindo­

se num conjunto de operações de baixo valor individual onde, geralmente, o

nível de inadimplência é menor por ser pulverizado.

As operações de factoring ainda são bastante concentradas no estado de São

Paulo que, sozinho, responde por mais de 68% dos recursos aplicados, e onde

estão localizadas 35% das empresas. Em termos de distribuição dos recursos

por atividade econômica, notamos algumas mudanças no destino das

operações desde 1994. No ano de 1994 as atividades ligadas à indústria

chegaram a concentrar 84% dos recursos das empresas de factoring. Esta

participação foi se reduzindo até alcançar 52,5% em 1996 e, posteriormente, foi

aumentando até 58,5% em 1997 e 73% em 2002. 101

A evolução do patrimônio líquido das empresas de factoring foi de 14,54%

entre 2000 e 2002, passando de R$ 1.382,9 milhões para R$ 1.584 milhões. O

número de funcionários das empresas coligadas à ANFAC também aumentou

cerca de 5%, atingindo a 6.335 funcionários nessas instituições.

A atividade de factoring tem sido bastante representativa das transformações

pelas quais vem passando a atividade financeira, uma mudança claramente

perceptível no sistema financeiro internacional e que começa também a ser

sentida no Brasil102. Trata-se da alteração na função precípua das empresas do

sistema financeiro em não mais atuar especificamente como intermediários

100 ANFAC (2003).

101 Op. cit.

Page 81: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

80

financeiros, mas sim como prestadoras de serviços, num contexto em que o

crédito passa a ser realizado diretamente entre os agentes interessados na

operação 103.

Essas mudanças não excluem os bancos, porém, obriga-os a operar de forma

diferente, aproximando interesses e não mais intermediando recursos

exclusivamente, deixando assim de assumir riscos tanto na aplicação quanto

na captação de recursos. Este movimento, conhecido como "desintermediação"

financeira, já fez com que nos Estados Unidos os bancos e suas coligadas

tivessem a sua participação no mercado de serviços financeiros reduzida a

aproximadamente 28% do mercado, o que representa quase a metade de vinte

anos atrás.104

o fato das operações de factoring estarem passando por um crescimento nos

últimos anos provavelmente indica a ocupação de um mercado praticamente

abandonado pelos bancos brasileiros. Como as operadoras de factoring

concentram um grande número de operações com pequenos

estabelecimentos, torna-se mais atraente aos bancos operar com a próprias

factorings do que garimpar operações em um contingente enorme de pequenas

empresas.

o crescimento das factoring pode ser ainda mais acentuado no médio e longo

prazos, se analisado sob um contexto de que cada vez menos existem bancos

públicos que, em geral, têm presença em regiões mais afastadas dos grandes

centros e, principalmente, uma base de clientes composta por empresas de

menor porte, que são as que mais enfrentam dificuldades para obter crédito

junto ao sistema financeiro(aprovação de cadastro, principalmente). Mas a

102 RUDGE, Luiz F. e CAVALCANTE, Francisco. Mercado de Capitais. Belo Horizonte: Comissão Nacional de Bolsas de Valores, 1996

103 SODRÉ, Maria C. "Dinheiro de plástico ganha espaços". Relatório Gazeta Mercantil -Cartões de Débito e Crédito. São Paulo, 20/07/99.

104 The Economist. Os grandes bancos internacionais na corda bamba. Gazeta Mercantil, São Paulo, 23/04/99. 8-11.

Page 82: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

81

movimentação de recursos com operações de factoring, no contexto do

Sistema Financeiro Nacional, ainda tem sido pouca expressiva, com relação ao

sistema como um todo.

Em termos comparativos, o volume de operações do setor em 2002

representou 59,17% do saldo das operações de crédito realizadas somente

pelo Banco Bradesc0105 no mesmo ano. A concentração ascendente no setor

do banco comercial sugere que as pequenas empresas estão sentindo uma

crescente dificuldade em manter uma relação com um banco pequeno que

estaria interessado em propiciar empréstimos que atendessem as

necessidades delas. Para muitos pequenos negócios, a obtenção do crédito

tradicional baseado nos seus balancetes ou no fluxo de caixa antecipado ficou

mais difícil. Por isso o factoring se tornou um método conveniente para

satisfazer a necessidade de capital de giro requerido por estas empresas,

eliminando o chamado "ruído de crédito", conforme Slater106.

Os recursos tradicionais destinados às pequenas empresas em expansão que

têm grande necessidade de recursos para ampliar a produção, geralmente são

escassos. Nessas empresas, cujas rendas potenciais estão crescendo mais

rapidamente que a capacidade produtiva atual, um aperto nas condições da

concessão de empréstimos pode comprometer o seu crescimento, no

entendimento de Schiegel107.

O "ruído de crédito", que as pequenas e médias empresas vêm enfrentando,

pode estar impedindo a recuperação econômica do país. Sabe-se que a

pequena empresa pode ser uma força motriz na condução de uma nação ao

longo caminho do crescimento econômico pois, em muitos casos, grande parte

105 o saldo das operações de crédito realizadas pelo Banco Bradesco em 2002 foi de R$ 50.801 milhões de acordo com o Relatório Anual de 2002 da instituição disponível na Internet no endereço: http://ri.bradesco.com.br/rao20021 disponível em 20/11/2003.

106 SLA TER, Robert Bruce. Banks are a Big Factor in Factoring. Bankers Mounthly, January, 1993, p. 37.

107 SCHIEGEL, Michael T. Putting the Mercant Back into Banking. The Secured Lender. January/February; 1992, p.16-18.

Page 83: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

82

da produção vem de pequenas firmas e muitos economistas acreditam que

este setor é o que mais pode contribuir para o aumento do nível de emprego e,

por conseqüência, da renda, além de desempenhar um papel regional decisivo

no processo de desenvolvimento. Portanto, devem ser feitos esforços para

aumentar a provisão de crédito para as pequenas e médias empresas.

As factorings atuam em um nicho de mercado onde elas podem competir

provendo recursos e auxiliando o crescimento orientado das pequenas e

médias empresas, oferecendo serviços especializados a essas empresas que

não são atendidas por bancos comerciais e outras instituições, conforme

Remolona & Wulfekuhler108.

Um novo nicho de mercado para factorings parece ser o das empresas

altamente lucrativas bem administradas e que possuem crescimento muito

rápido(particularmente essas com uma exigência crescente de capital de giro).

As factorings também têm em seu favor o fato de estarem mais acessíveis à

provisão de capital para negócios iniciantes. Há uma diferença fundamental

entre o empréstimo bancário convencional e a operação através de uma

factoring. 109 Ao extremo, o cliente do factoring pode não possuir patrimônio

líquido, nenhum ativo e nenhum registro de crédito, como no caso de negócios

iniciantes. Porém, se os clientes da empresa-cliente são merecedores de

crédito, a empresa de factoring realiza a operação.

Outro aspecto relevante da atividade de fomento mercantil, e que no caso

brasileiro está em fase final de elaboração, é o chamado "Factoring

Exportação", freqüentemente usado no comércio internacional, que os bancos

consideram muito arriscado. Existe uma grande oportunidade para as

empresas de factorings atuarem no comércio internacional a exemplo de

empresas similares que já praticam esta modalidade em outros países como os

108 REMOLONA, Eli M. & WULFEKUHLER, Kurt C. Finance Companies, Bank Competition, and Niche Markets. Quarterly Review, Federal Reserve Bank of New York, Summe, 1993, pp.25-38.

Page 84: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

83

Estados Unidos e Itália. Conforme citado anteriormente, existem algumas

associações de empresas de factoring, em diferentes países, que operam o

factoring exportação. Isto faz com que essas operações se tornem menos

arriscadas, já que as empresas que operam localmente têm vantagens

competitivas em relação às estrangeiras. Conforme HiIl110, as empresas

usuárias desse tipo de atividade podem se preocupar apenas com a

comercialização dos seus produtos deixando todo o processo por conta das

empresa de factoring, o que elimina vários riscos como, por exemplo, risco de

crédito, risco de variação cambial, etc.

Uma empresa que vende suas contas a receber a uma empresa de factoring

melhora sua posição com relação às suas demonstrações financeiras, pois os

recebíveis são transformados em dinheiro no balancete da empresa. Os

recebíveis vendidos não são contabilizados como "empréstimo", como faz o

factoring quando os desconta. Se a empresa optasse por usar os recebíveis

como garantia de um empréstimo junto a um banco comercial, seu balancete

não seria visto de forma tão favorável, conforme podemos observar nos

exemplos das tabelas 2 e 3 seguintes, onde a primeira ilustra um balancete

típico de uma empresa que tomou um financiamento com um banco comercial

em comparação com uma empresa que negociou suas contas a receber com

uma factoring(em nosso exemplo, assumimos os adiantamentos em oitenta por

cento do valor de face dos títulos negociados, em ambos os casos).

No exemplo, a empresa empenhou 200.000 de suas contas à receber contra

um empréstimo de 160.000. O total das responsabilidades da empresa é de

470.000, seus ativos atuais somam 620.000 e o patrimônio liquido é de

200.000. Isto resulta em uma relação de capital de giro(ativos correntes sobre

responsabilidades) de 1.32 e uma relação de dívida/PL de 2.35.

109 o banco analisa principalmente a capacidade de pagamento e preocupa-se com o limite de crédito do seu cliente, já a factoring, em muitos casos, não se preocupa tanto com as suas empresas-clientes, e sim com os clientes dessas. 110 HILL, Donna. Factoring Becomes Fashionable. The secured lender. March/April, 1992. pp.34-40.

Page 85: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

Tabela 2 - Balancete com Financiamento de um Banco Comercial

VALORES EM US$

ATIVO

Caixa

Contas a Receber (*)

Estoques

Ativos atuais

Ativos fixos líquidos

SOMA

20,000

200,000

400,000

620,000

50,000

670,000

(*) empenhou alcançar empréstimos bancários

(**) alcançou por recebíveis

PASSIVO + PL

Contas a Pagar

Devido ao Banco (**)

Despesas a pagar

Responsabilidades

Patrimônio líquido

SOMA

Relação de capital de giro: 620,000/470,000 = 1.32

Relação de dívida / PL =: 470,000/200,000 = 2.35

Fonte: Lux (1988)111

84

300,000

160,000

10,000

470,000

200,000

670,000

No caso de se utilizar uma factoring(tabela 3), a empresa não movimenta suas

contas a receber no seu balancete, pois negociou os recursos dessas contas

em lugar de contrair um empréstimo com garantias desses recebíveis,

registrando somente a diferença da quantia dos títulos que tem a receber no

valor de 40.000, pois foram negociados somente 80% do valor. Analisando

esse segundo caso, verificamos que a relação de capital de giro da empresa é

1.48 e sua relação de dívida/PL é 1.55.

111 LUX (1988, p. 86-89).

Page 86: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

Tabela 3 - Situação de um Balancete com Financiamento por Factoring

ATIVO

Caixa

Contas a Receber (*)

Estoques

Ativos atuais

Ativos fixos líquidos

SOMA

(*) devido à "factoring"

(**) saldo zero

VALORES EM US$

PASSIVO + PL

20,000 Contas a Pagar

40,000 Devido ao Banco (**)

400,000 Despesas a pagar

460,000 Responsabilidades

50,000 Patrimônio líquido

510,000 SOMA

Relação de capital de giro: = 460,000 / 310,000 = 1.48

Relação de dívida / PL: = 310,000 /200,000 = 1.55

Fonte: LUX112

85

300,000

10,000

310,000

200,000

510,000

É claramente mais vantajoso para a empresa utilizar o factoring. Além disso, os

recebíveis empenhados contra o empréstimo bancário são lançados

contabilmente como uma compensação à quantia devida ao banco. Em outras

palavras, não há nenhuma possibilidade de "obter lucro" no caso dos

recebíveis empenhados a um banco se comparados com os recebíveis

vendidos a uma factoring. A relação da dívida/PL para a empresa que obteve

um empréstimo bancário é pior do que aquela usuária do factoring. Além disso,

as empresas que utilizam factoring aparecem mais líquidas com relação ao seu

capital de giro. Além disso, empréstimos bancários normalmente requerem

reciprocidades, tomando o crédito mais caro para as empresas, enquanto o

factoring não o faz, conforme LUX113.

112 LUX (1988, p. 88)

113 LUX (1988, p. 86-90).

Page 87: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

86

Outra possível atuação das factorings, muito em uso nos Estados Unidos, é o

"refactoring". Esse processo consiste somente na prestação de serviços por

parte de pequenas empresas de factoring, deixando a negociação das contas à

receber com outra empresa de factoring, que seria a responsável pela

operação em si. Tais operações normalmente são realizadas entre uma

pequena factoring e uma grande empresa de factoring que geralmente

pertencem a grandes grupos empresariais, principalmente bancos.

Finalmente, a tabela 4, abaixo apresentada, configura o atual direcionamento

das operações do factoring no Brasil, conforme os estudos mais recentes

levados a efeito pela ANFAC114 :

Tabela 4 - Segmentos clientes das operações do factoring no Brasil

DIRECIONAMENTO DAS OPERAÇÕES NO ÚLTIMO TRIÊNIO

Empresas-Clientes 2000 2001 2002

Indústria Metalúrgica 20,00% 28,00% 25,00% Outras Indústrias (*) 34,00% 35,00% 31,00%

Indústria Têxtil/Confecção Indústria Química

Indústria Gráfica Empresas Transportes

Indústria Sucro-Álcool Prestação de Serviços

5,55% 3,00%

4,00% 3,00%

0,45% 13,00%

5,00% 3,00%

2,00% 0,50%

0,50%

12,00%

8,00% 4,00%

3,50% 1,00%

1,50%

11,00%

Empresas Comerciais 17,00% 14,00% 15,00% (*) Calçadista, agronegócios, embalagem, moveleira, alimentícia e gráfica.

Fonte dos dados: ANFAC (Cartilha da ANFAC 2003)

114 ANFAC - Associação Nacional das Empresas de Factoring. Cartilha do factoring. Informes disponíveis pela Internet no site <http://www.anfac.com.br/cartilha/estatisticas.jsp>. Acessado em 01/11/03.

Page 88: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

87

2 ESTUDO DE CASO

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1.1 Caracterização da Pesquisa

Nesta segunda vertente do trabalho, será apresentada uma pesquisa

descritiva, das operações de factoring no estado do Espírito Santo e as

diversas fases para se chegar ao fim específico deste trabalho onde, como

instrumentos para a descrição, já teremos fundamentado o estudo em fontes

bibliográfica e documental, bem como estarão descritos os fenômenos

estudados, levando-se em conta os dados obtidos pela teoria existente a

respeito do assunto, e a coleta de dados em documentos pertencentes às

instituições envolvidas na pesquisa e que foram publicados anteriormente.

Caracteriza-se, assim, uma pesquisa pelo Método de Observação Direta

Intensiva, conforme Marconi & Lakatos 115, realizada com duas técnicas:

observação e entrevista, utilizando os sentidos na obtenção de determinados

aspectos da realidade:

Não consiste somente em ver e ouvir, mas também em examinar a mutação de fatos ou fenômenos que constituem um objeto de estudo. A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito do objetivo sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento e, portanto, é considerada como o ponto de partida da investigação social.

Também refletem as autoras116, que escolher o tema significa "selecionar um

assunto de acordo com as inclinações, as aptidões e as tendências de quem se

propõe a elaborar um trabalho científico" e "encontrar um objeto que mereça

ser investigado cientificamente e tenha condições de ser formulado e

delimitado em função da pesquisa".

115 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: Análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 1996: p. 79.

116 Op. cit.: p. 23.

Page 89: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

88

Sob esta ótica, este trabalho atende a uma necessidade social, na medida que

estuda a realidade atual de um importante vetor da economia que carece de

reflexão em diversos aspectos, sendo um deles a administração de ordem

socioeconômica, visto que, por tudo que se lê e conhece, não existe uma

proposta definitiva para atender às lides ora expostas. A análise do tema será

altamente benéfica para todos aqueles que pretendem conhecer o

funcionamento e a estrutura do sistema de factoring no estado do Espírito

Santo, o que servirá para ampliar a visão crítica da situação atual e para a

implantação de um modelo mais apropriado, desde que praticável.

Foi proferida uma pesquisa de caráter qualitativo, uma vez que são bastante

diversificadas e complexas as questões levantadas no Sistema Financeiro

Nacional, o que veio a sugerir a formulação de uma única entrevista, tendo

como inquirido o presidente do Sindicato das Empresas de Factoring do

Espírito Santo (SINFAC-ES), João Carlos Ribeiro Vargas, entrevista essa

concedida no dia 4 de junho de 2003.

Para justificar a entrevista única, foi retomada a assertiva que defende o

emprego da pesquisa qualitativa como uma proposta sem rigores estruturais,

prezando pela flexibilidade e servindo bem à exploração de novos enfoques

pelas mãos da criatividade e imaginação. 117

Para alguns autores das técnicas de metodologia e pesquisa, uma entrevista

deve ser considerada como o instrumento por excelência da investigação.

Quando realizada por um investigador experiente, "é muitas vezes superior a

outros sistemas de obtenção de dados", conforme afirma Best.118

A mencionada experiência consiste logicamente em agrupar as questões

conforme os objetivos específicos declarados, de forma que permaneçam

associadas a estes, e que mantenham também uma estreita relação com o

conteúdo da revisão bibliográfica.

117 MARCONI & LAKATOS (1996; p. 78).

118 BEST, J. W. Como investigar en educación. 2ed. Madrid: Morata, 1972; p, 120.

Page 90: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

89

Já no caso particular dos inquéritos através de questionários, foram tomados

como pilares os três primeiros objetivos inerentes à análise de conteúdo de

Selltiz119 assim disposta:

I. Averiguação de fatos: investigar se o entrevistado que está de posse

de determinadas informações é capaz de compreendê-Ias;

11. Determinação das opiniões sobre os fatos: conhecer o que o

entrevistado pensa ou acredita que os fatos sejam; e

111. Determinação de sentimentos: compreender a conduta do

entrevistado através de seus sentimentos e anseios.

Para a devida categorização das questões, foram delineados agrupamentos

conforme será apresentado mais adiante. Dentro destas categorias, as

questões foram formuladas de tal forma a permitir uma obtenção de respostas

compreensíveis segundo os requisitos recomendados por LOdi12o, quais sejam:

I. Validade: Comparação com outras fontes, observando as dúvidas,

incertezas e hesitações demonstradas pelo entrevistado;

11. Relevância: Importância em relação aos objetivos da pesquisa;

111. Especificidade e Clareza: Referência a dados, datas, nomes, lugares,

quantidades, percentagens, prazos, etc., com objetividade. A clareza

dos termos colabora na especificidade;

IV. Profundidade: Está relacionada com os sentimentos e lembranças

dos inquiridos, sua intensidade e intimidade; e

V. Extensão: Amplitude da resposta.

As respostas obtidas deverão ser reordenadas, tendo em vista a construção de

um corpus representacional que permita a aplicação de uma análise temática

de conteúdo. 121

119 SELLTIZ, C. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1965; p. 95.

120 LODI, João Bosco. A entrevista: teoria e prática. 2ed. São Paulo: Pioneira, 1974; p. 12.

121 BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Ed. 70 I Persona, 1979.

Page 91: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

90

Buscou-se, portanto, categorizar as informações coletadas e, para tanto,

partimos de uma formulação de perguntas conforme o esquema adiante

delineado e, além da referida entrevista, foram roteirizados dois processos

inquisitivos, com questionários pré-formatados com respostas fechadas:

o primeiro questionário foi dirigido às empresas que operam fomento

mercantil no estado, sendo ou não filiadas a algum sindicato ou

associação dessa atividade, mas que operam legalmente dentro dos

parâmetros exigidos por Lei para essa atividade; e

O segundo, foi dirigido às empresas usuárias do factoring, também

conhecidas por empresas-clientes, algumas delas indicadas pelas

próprias empresas de fomento mercantil.

2.1.2 Hipóteses e Premissas do Estudo

Consiste o objetivo principal deste estudo em testar a hipótese de que algumas

empresas que operam factoring no Espírito Santo (ES) apenas serviriam para a

compra de direitos creditórios 122 de suas empresas-clientes. Isto quer dizer que

não prestariam os demais serviços previstos para que essa atividade seja

concretizada de acordo com as definições descritas no referencial teórico

contido no capítulo precedente. Ficaria caracterizada, assim, uma operação

típica de agiotagem empresarial, à margem da missão institucional do factoring.

Evidentemente, além da diferente missão de cada uma dessas empresas,

existiria uma grande dispersão no ponto de vista estratégico de cada uma,

emergindo desta questão uma série de hipóteses. De acordo com Marinh0123

Hipótese é sempre uma conjectura inteligente em relação a um problema, numa tentativa de explicação satisfatória dos fenômenos envolvidos. Como norma, as hipóteses buscam oferecer explicações gerais de relação ou de causalidade pelas quais os fenômenos se comportam de determinada maneira.

122 Chamamos por direitos creditórios aqueles originados de uma transação comercial de venda de mercadoria, produto ou serviço, na qual a empresa-cliente negocia com as sociedades de fomento mercantil, ou factorings.

123 MARINHO Pedro. A Pesquisa em ciências humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 1980. p.29.

Page 92: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

91

Considerando que, em linguagem científica, a hipótese equivale habitualmente

à suposição verossímil sobre a verdade ou falsidade dos fatos que se pretende

explicar, ela é, portanto, a suposição de uma causa ou lei destinada a explicar

provisoriamente um fenômeno até que os fatos a venham contradizer ou não.

Neste trabalho, além da hipótese central colocada no enunciado precedente,

reside outra hipótese adicional na dificuldade em se identificar a interface

existente entre a ganância pecuniária e a missão institucional que exala de

uma sociedade de fomento mercantil. Não obstante, o objeto foi estendido à

análise superficial dos sujeitos comparados, onde cada ponto de observação

complementar foi contemplado para abordar hipóteses adicionais.

Dentre tais hipóteses que poderão surgir nas discussões, destacamos o

seguinte questionamento:

o factoring se tomou um método conveniente para satisfazer a

necessidade de capital de giro necessário às pequenas e médias

empresas?

o segmento de mercado onde a empresa de factoring se situa vem

apresentando um crescimento significativo?

a propósito, este segmento vem suprindo a ocupação de um

mercado praticamente abandonado pelos bancos brasileiros? e,

enfim, é certa a pressuposição de que as empresas de factoring do

Espírito Santo somente prestam serviço de compra de recebíveis das

empresas-clientes?

Para que estas perguntas sejam respondidas a contento, este trabalho já

apresentou o levantamento da essência teórica e conceitual referente do

histórico do Sistema Financeiro Nacional e das empresas de fomento mercantil,

desde seu surgimento até o estágio atual, cuja inferência há de propiciar

respostas para as três primeiras questões. Por outro lado, nesta vertente em

curso, será desenvolvido um estudo de caso, através de uma pesquisa

inquisitiva em busca das respostas para a quarta e última questão formulada

Page 93: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

92

como hipótese central, quando suas variáveis estarão associadas aos

seguintes termos-chave:

mercado de factoring no Espírito Santo;

motivação dos seus empreendedores;

perfil das empresas clientes;

riscos operacionais do negócio;

investimento requerido;

apoio de associação de classe;

modo de operação; e

satisfação final da empresa cliente.

2.1.3 Universo e Abrangência da Pesquisa

Delimitou-se o universo da pesquisa às empresas de factoring do estado do ES

e para sua realização foram elaborados dois questionários, anexados a esse

trabalho(ANEXOS A e B). O primeiro questionário foi dirigido às empresas que

operam fomento mercantil no estado, independentemente de serem ou não

filiados a algum sindicato ou associação dessa atividade, mas que operam

legalmente dentro dos parâmetros exigidos por lei para essa atividade. O

segundo, foi dirigido às empresas usuárias do factoring, também conhecidas

por empresas-clientes, algumas delas indicadas pelas próprias empresas de

fomento mercantil. Para compor a amostra foram selecionadas 15 empresas de

fomento mercantil, sendo que 12 estão situadas na região da Grande Vitória124

124 Região metropolitana fonnada pela capital do estado do Espírito Santo, Vitória, e mais seis municípios, Serra, Guarapari, Vila Velha, Fundão, Viana e Cariacica.

Page 94: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

93

e as demais no interior do estado do Espírito Santo, sendo uma em Linhares 125,

uma em Colatina 126 e uma em Cachoeiro do Itapemirim 127.

Tais regiões são consideradas economicamente representativas na economia

estadual do Espírito Santo.

Para a pesquisa com empresas-clientes(faturizadas) das empresas de

factoring(faturizadoras) foi composta uma amostra de 30 empresas de portes

variados e diferentes ramos de atividade, que são usuárias de factoring. Foram

selecionadas 21 empresas da Grande Vitória, onde está concentrada a grande

maioria dessas operações, e 9 empresas do interior do estado, das mesmas

regiões citadas anteriormente na amostra abrangendo empresas de fomento

mercantil.

2.1.4 Materiais e instrumentos

A entrevista requereu os seguintes instrumentos: roteiro semi-estruturado,

gravador de voz e sala especialmente reservada para este fim, em ambiente

contíguo à administração do Sindicado das Empresas de Factoring do Espírito

Santo, onde foi realizada.

Foi considerado o conceito estabelecido dentro do qual a entrevista "consiste

no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade de um

certo ato social, como a conversação".128

125 Município do norte do estado que vem se desenvolvendo muito nos últimos anos, devido ao grande número de indústrias que se instalaram nessa região, principalmente de móveis e as ligadas a fruticultura. Pela sua importância, há alguns anos esse município foi incluído na área da SUDENE.

126 Município ao norte que abriga um grande pólo de confecções do estado do Espírito Santo, exportando grande parte da sua produção para empresas situadas no Rio de Janeiro e São Paulo.

127 Município no sul do estado, próximo ao estado do Rio de Janeiro, que é um dos maiores em extração e beneficiamento de rochas ornamentais, como mármores e granitos, do país.

128 GOODE, William; HATT, Paul K. Métodos em Pesquisa Social. 3ed. São Paulo: Atlas, 1969; p. 237.

Page 95: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

94

Foram utilizados ainda, os arquivos de consulta disponibilizados pela ANFAC -

Associação Nacional de Factoring, com o propósito de identificar dados e

pesquisas anteriores sobre aspectos de administração, custos, gestões e

outras informações que se mostrem relevantes para o estudo. Todo este

material há de resultar em uma análise de conteúdo em contraponto à análise

da entrevista, permitindo que seja delineada uma conclusão consistente e bem

consubstanciada. Neste afã, foram empregados recursos adicionais de

tabulação de dados e base semântica com suporte do software Ms Excel.

2.2 OBSERVAÇÕES DIRETAS PRELIMINARES

O estado do Espírito Santo dispõe de uma posição geográfica privilegiada e

infra-estrutura de ferrovias, rodovias e portos disponíveis em seu território,

figurando como principal pólo industrial brasileiro de rochas ornamentais, fato

este que contribui para o crescimento do intercâmbio comercial entre o Brasil e

outros países. Têm especial destaque neste cenário, alguns municípios onde

vem crescendo e se desenvolvendo a exploração das jazidas de rochas

ornamentais. De um modo geral, o estado do Espírito Santo vem se

desenvolvendo muito a sua atividade econômica na última década com relação

à sua atividade econômica. Os setores de agricultura, comércio e indústria

alcançaram grandes marcos de produtividade em face da privilegiada

localização estratégica do estado(situado entre os principais estados da região

Sudeste e Nordeste) e por algumas atividades como o comércio exterior.

Atualmente no Espírito Santo existe apenas um sindicato de empresas de

fomento mercantil denominado SINFAC-ES, do qual fazem parte 21 empresas,

todas também afiliadas à ANFAC (Associação Nacional de Factoring), sendo

que 80% dessas empresas estão situadas na Grande Vitória, região essa onde

estão situados aproximadamente 70% do PIB do estado, conforme informa o

presidente do SINFAC/ES, nosso entrevistado. O SINFAC-ES é regido pela Lei

dos Sindicatos e está hierarquicamente posicionada abaixo da FEBRAFAC que

é a Federação Brasileira de Factoring.

Page 96: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

95

Através da entrevista, foram apontadas as principais atividades de apoio às

empresas filiadas ao sindicato, a saber:

Troca de experiências entre empresas;

Troca de informações de crédito através de uma central de riscos

criada juntamente com a empresa de informações SCI/Equifax, onde

as empresas trocam informações sobre empresas-clientes, sacados,

taxas praticadas, etc.;

Promoção de reuniões técnicas e almoços-palestras para discutir a

atividade;

Publicações de informativos e jornais; e

Assessoramento das afiliadas em questões legais, operacionais e de

gestão.

De acordo com o presidente do SINFAC-ES, João Carlos Ribeiro Vargas, na

mencionada entrevista concedida no dia 4 de junho de 2003:

( ... ) o mercado está repleto de empresas que não operam factoring de acordo com as suas premissas no estado. Acredito que cerca de 30 empresas praticam essa atividade ilegalmente, portanto a imagem do factoring ainda é deturpada, pois os maus profissionais não trabalham corretamente. Mesmo assim o setor vem crescendo gradativamente, de modo que, em um futuro próximo, acredita-se que vamos dobrar o número de associadas, tentando atrair empresas que operam factoring legalmente, mas não são filiadas ao nosso sindicato.

Informou também, aquele declarante, que o foco de clientes das empresas de

factoring é constituído pelos pequenos empresários, que geralmente financiam

seus negócios através da pessoa física dos seus proprietários e que não têm

acesso a linhas de créditos nas instituições financeiras para suas empresas e,

por isso, além de limites de créditos reduzidos, pagam altas taxas de juros em

suas operações.

Deve ser ressaltado que esta entrevista preliminar propiciou meios e facilidades

para a elaboração dos questionários destinados à amostra populacional dos

Page 97: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

96

atores envolvidos com o cenário do factoring no estado do Espírito Santo, tanto

para as empresas faturizadoras(operadoras de factoring) quanto para as

faturizadas(suas empresas clientes). Sendo assim, fica caracterizado um

processo de validação dos inquéritos mediante o cruzamento de respostas,

uma vez que grande parte das respostas dos clientes há de comprovar a

veracidade das assertivas dos operadores de fomento mercantil e vice-versa.

Desta forma, se as empresas faturizadoras declararem que prestam

incontáveis serviços de assessoramento creditício aos clientes faturizados,

logo, esses clientes estarão declarando que recebem aqueles serviços(caso

contrário, tal declaração da outra parte não será considerada como uma

assertiva válida).

2.3 CONTEÚDO DOS INQUÉRITOS

As primeiras questões foram formuladas no sentido de saber quais empresas

utilizam habitualmente a operação de factoring, por qual motivo e com que

freqüência ou periodicidade, além de expor as taxas que oneram as

antecipações, e quais são os tipos de documentos de crédito envolvidos nestas

transações.

São três indagações consideradas de suma importância. A primeira, sobre o

que leva a empresa a recorrer ao factoring e não aos bancos. A segunda, para

uma percepção sobre o que a empresa-cliente pensa a respeito da

faturizadora, se ela é realmente uma parceira dedicada aos seus negócios ou,

se ela é vista como uma oportunista, praticante de agiotagem, ou seja,

aproveitadora das horas de necessidades ou situações de difícil contorno.

Na terceira questão, o cliente deve manifestar se essa atividade deve continuar

ou não, ou se para ele este fato não tem importância. No contexto das

respostas para estas questões, é possível assegurar que o factoring se tornou

de fato o melhor caminho, configurando um método conveniente para satisfazer

a necessidade de capital de giro necessário às pequenas e médias empresas.

Page 98: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

97

Outras questões importantes foram formuladas para indagar se a empresa­

cliente conhece outros serviços prestados pelas factorings além da antecipação

de recursos financeiros e, neste sentido, quais os serviços que a empresa vem

utilizando. Evidentemente, as respostas a tais perguntas irão confirmar(ou não)

se as dadas empresas locais de factoring somente operam a compra de

recebíveis, ignorando sua missão institucional.

Finalmente, o cliente é indagado se nas operações que sua empresa faz com

as factorings, ocorre o direito de regresso(quando o sacado não quita seu título

e a empresa de factoring cobra da sua empresa).

Para as empresas de factoring de um modo geral, independentemente de seu

porte organizacional ou operacional, o questionário foi resumido nas seguintes

indagações:

Se a empresa é filiada à ANFAC ou SINFAC-ES;

Qual o principal motivo que a levou a atuar nesse tipo de atividade;

Como os titulares da diretoria classificam essa atividade com relação

ao risco;

Quais são os principais fatores de risco identificados: inadimplência,

má fé do cliente(por exemplo, emissão de duplicatas frias); ou, se é o

despreparo das empresas de factoring ao analisar crédito, ou outro(s)

fator(es);

Qual o capital de giro disponível pela empresa para fazer face à

compra de títulos de suas empresas-clientes;

Se a empresa considera os bancos como seus concorrentes diretos e

por quê razão isso ocorre;

Como a empresa calcula a sua remuneração: norteia-se pelas tarifas

de mercado, pelo custo do dinheiro no mercado, pelo perfil do cliente,

pela seleção de títulos; pelo perfil do sacado, ou se é de outra forma;

Quais os serviços que sua empresa presta;

Se o operador de sua empresa é diplomado nos cursos de agente de

fomento mercantil(ou qualificado com tal equivalência);

Page 99: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

98

Se a empresa pretende, considerando o alto índice de fechamento de

pequenas e médias empresas, abandonar/continuar os negócios,

continuar investindo na profissionalização, porém correndo menos

riscos, ou identificar outras alternativas; e

Se a empresa acredita no crescimento do factoring no Brasil e no

estado do Espírito Santo(e por que ela tem esta convicção, em sendo

a resposta afirmativa).

3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE CAsuíSTICA

3.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Inicialmente, vejamos os resultados das oito questões mais importantes dentre

aquelas que foram formuladas para as faturizadoras (empresas operadoras de

factoring):

Questão nO 1 - A sua empresa é filiada à ANFAC ou SINFAC-ES?

Número de

ANFAC SINFAC-

Nenhuma Entrevistados ES

9 X X

2 X

4 X

Quadro 4 - Associações de Classe

Page 100: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

99

Das respostas obtidas dos entrevistados, tem-se que:

Todas as empresas que eram filiadas à ANFAC também eram

filiadas ao SINFAC-ES, portanto, sessenta por cento(60%) dos

entrevistados informaram que estão filiados à ANFAC I SINFAC-ES;

Aproximadamente treze por cento( 13%) dos entrevistados

informaram que estão filiados apenas ao SINFAC-ES.;

Aproximadamente vinte e sete por cento(27%) dos entrevistados

informaram que não estão filiados a nenhuma organização da classe

de fomento mercantil.

Questão nO 2: Qual foi o principal motivo que o levou a atuar nesse tipo de

atividade?

Uma Têm

O momento é Número de atividade Concorrência

experiência propício para

entrevistados bastante é pequena esse ramo de rentável

nesse setor atividade

8 X

2 X

1 X

4 X

Quadro 5 - Motivação Inicial

Das respostas obtidas dos entrevistados, tem-se que:

A grande maioria dos entrevistados, aproximadamente cinqüenta e

três por cento(53%) respondeu que tinha alguma experiência no

setor. Todas essas pessoas eram antes funcionários de instituições

financeiras, principalmente gerentes de banco;

Treze por cento(13%) dos entrevistados responderam que optaram

por esta atividade porque o momento que o país passa há algum

tempo, onde as taxas de juros são bastante elevadas e o crédito é de

difícil de obtenção, é propício para o crescimento dessa atividade,

Page 101: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

100

como forma alternativa de captação de recursos para financiamentos

pelas empresas;

Sete por cento(7%) dos entrevistados atribuíram o seu ingresso

nessa atividade à concorrência pequena de outras empresas que

operam fomento mercantil. Deve-se destacar que essa opção foi

escolhida somente por uma empresa que respondeu ao questionário

e essa está localizada no interior do estado, mais precisamente no

município de Linhares;

Vinte e sete por cento(27%) responderam que optaram por esse

ramo porque o factoring é uma atividade bastante rentável com

relação às demais.

Questão nO 3: Como você classifica essa atividade com relação ao risco?

Número Arriscada de

Muito Pouco como

entrevis-Arriscada Arriscada Risco

qualquer tados outra

9 X

4 X

O X

2 X

Quadro 6 - Grau de risco no negócio de factoring

A maioria dos entrevistados(60%) dos entrevistados considera o

factoring como uma atividade de alto risco, principalmente no que tange

à inadimplência;

Vinte e sete por cento(27%) acham que é uma atividade arriscada,

porém nem tanto comparada com algumas outras atividades sim ilares

pois, segundo os entrevistados, nessa operação a empresa de fomento

mercantil, além da garantia de pagamento por parte sacad0129, tem a

129 Consideramos como sacado aquele que é o devedor do título negociado na transação com a empresa cliente.

Page 102: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

101

garantia de sua empresa-cliente, para a qual foi realizada a operação de

compra desse título. Vale a pena ressaltar que comumente as

operações de factoring realizadas por essas empresas permitem o

direito de regress0130, através da assinatura de um aditivo ao contrato de

fomento comercial, apesar de alguns autores considerarem que uma das

características que diferenciam o factoring das operações bancárias é o

não direito de regresso;

Nenhum entrevistado considerou o factoring uma atividade com baixo

nível de risco;

Treze por cento(13%) dos entrevistados consideraram o factoring tão

arriscado quanto outras atividades.

Os maiores riscos, no entender dos inquiridos, ficaram assim situados:

Inadimplência............................ 7

Má-fé do cliente......................... 4

Despreparo ao analisar crédito 4

Outros....................................... O

De acordo com o presidente do SINFAC-ES, João Carlos Ribeiro Vargas, na

mencionada entrevista concedida, o volume de operações realizadas tem

apresentado um crescimento significativo e, apesar deste incremento, o nível

de inadimplência, calculado sobre o montante das operações, vem se

mantendo estável, não sendo motivo para maiores preocupações.

A propósito, o cálculo do fator aplicado nas operações já inclui uma previsão

para tais contingências. Entenda-se que no caso específico das operadoras de

factoring, este aspecto pode estar relacionado, por exemplo, com o risco de

inadimplência, embora este risco não seja de responsabilidade da faturizadora,

130 Entende-se por direito de regresso o fato da faturizadora "regressar" à empresa cliente para cobrar um título objeto de inadimplência pelo respectivo devedor, independendo do motivo.

Page 103: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

102

e sim da empresa-cliente que efetuou a venda a praz0131. Contudo, pode ser

previsto que uma cliente faturizada perca seu poder de barganha e incorra em

não resgatar os títulos de seus clientes devolvidos e debitados à faturizadora

ou, na pior das hipóteses, camuflar "vendas frias" para aporte de caixa

mediante troca de títulos.

Este tipo de contingência pode ser facilmente detectado mediante

acompanhamento freqüente das atividades das empresas faturizadas.

Independentemente, a operação de fomento já inclui uma taxa de risco na

remuneração do capital próprio/custos de financiamentos.

Questão nO 4: Quais os serviços que a sua empresa presta?

Nessa questão enumeramos algumas categorias e pedimos que os

entrevistados marcassem quais os serviços prestado pelas empresas a qual

eles representavam. As categorias eram as seguintes:

Cessão de crédito;

Factoring Internacional;

Consultoria financeira e de gestão;

Antecipação de recursos de matérias primas e outros.

Os resultados obtidos nessa questão mostraram que cem por cento(100%) dos

entrevistados prestavam serviços de cessão de créditos e apenas um

entrevistado(7%) respondeu que além da cessão de crédito, a sua empresa

prestava serviços de antecipação de recursos de matéria-prima.

131 De acordo com a pesquisa realizada constatou-se que todas as empresas de factoring trabalham com o direito de regresso.

Page 104: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

103

Questão nO 5: Qual o capital disponível pela sua empresa para a compra de

títulos de suas empresas-clientes?

Número Acima de Acima de

Abaixo de 500.000 1.000.000 Acima de de 500.000 até até 1.500.000

entrevis-reais 1.000.000 1.500.000 reais

tados de reais reais

2 X

3 X

8 X

2 X

Quadro 7 - Suficiência de Capital

Para treze por cento(13%) dos entrevistados, o valor disponível para

a compra de títulos é de até R$ 500.000,OO(quinhentos mil reais), ou

seja, seu capital de giro é dessa magnitude.

Vinte por cento das empresas têm entre quinhentos mil

(R$500.000,OO) e um milhão de reais(R$1.000.000,OO) disponíveis

para serem aplicados na compra de títulos;

Cinqüenta e três por cento dos entrevistados têm entre um milhão de

reais(R$1.000.000,OO) e um milhão e quinhentos mil

reais(R$1.500.000,OO) como capital de giro;

As empresas com recursos acima de um milhão e quinhentos mil

reais(R$1.500.000,OO) representam apenas 13%(treze por cento) do

total de entrevistados.

Page 105: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

104

Questão n° 6: O operador de sua empresa é diplomado nos cursos de agente

de fomento mercantil?

Número de

entrevis- Não Sim tados

9 X

6 X

Quadro 8 - Capacitação do Operador

Essa questão mostra que a maioria dos operadores de factoring não é

capacitada pelos cursos oferecidos pela ANFAC de agente operador de

fomento mercantil.

Questão nO 7: Você considera os bancos seus concorrentes diretos? Por quê?

Todos os entrevistados( 100%) responderam não a essa pergunta. As

respostas mais freqüentes ao porquê dessa negativa foram atribuídas às

seguintes razoes:

a) Os bancos não se preocupam tanto com o sacado do título a ser

negociado e sim com o cliente que vai negociar esse título. Já as

empresas de factoring se preocupam muito com os sacados dos

títulos a serem negociados, além da empresa-cliente.

b) Os bancos fazem muitas exigências burocráticas para fazer

operações de desconto para seus clientes. Já nas factorings as

decisões são mais rápidas e o processo de aprovação de uma

operação é bem mais dinâmico do que nos bancos.

c) A maioria das operações feitas pelas empresas de fomento

mercantil destina-se às micros, pequenas e médias empresas e,

para essas empresas, as taxas de juros cobradas pelos bancos

muitas vezes são superiores às das factorings.

Page 106: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

105

Questão nO 8: Você acredita no crescimento do factoring no Brasil e no estado

do Espírito Santo?

Somente uma empresa respondeu que não acredita no crescimento em razão

de ainda ser o factoring uma atividade nova no Brasil. As demais quatorze

restantes responderam que sim, porque os segmentos das pequenas e médias

empresas necessitam dessa atividade.

Finalmente, entenda-se que as respostas dos inquéritos junto aos clientes não

serão aqui estratificadas para propiciar uma avaliação das empresas de

factoring no Espírito Santo e, sim, já foram utilizadas para validar as respostas

dos faturizadores, onde se fez necessário o cruzamento(malha fina).

Daí, com certeza, temos todas as respostas para as quatro hipóteses que

foram formuladas na introdução do presente trabalho, que serão comentadas

adiante na conclusão final.

3.2 PROPOSiÇÕES

Seria ideal o advento de um programa de gerenciamento da qualidade em

serviços aplicado nas empresas operadoras de factoring, por iniciativa conjunta

da ANFAC e do Sindicato das Empresas de Factoring do Espírito Santo

(SINFAC-ES). Neste sentido, seriam consideradas "regulares" somente as

empresas afiliadas e portadoras de Certificados de Qualificação Técnica para a

prestação dos serviços.

Este procedimento há de requerer também investimentos adicionais na

modernização da infra-estrutura das empresas operadoras, investimentos estes

norteados à medida de cada necessidade, dentro de um Plano de Negócios,

com o objetivo de montar uma instrumentação apropriada, tanto para

acompanhar os negócios das empresas-clientes, quando para aferir o próprio

negócio. Faz-se necessário, sobretudo, comparar periodicamente o

Page 107: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

106

desempenho realizado em dado período com aquele previsto na projeção de

resultados esperados. Stone132 refletiu que "não há sentido em estabelecer

meios e objetivos em seu plano de negócios, a menos que você monitore seu

desempenho". O citado autor entende que, infelizmente, a maioria dos

empresários não emprega nenhuma forma de revisão e apenas reage quando

há problemas, advertindo que estes deveriam reservar tempo para monitorar

seus negócios, como forma preventiva de evitar os problemas antes que eles

ocorram.

Segundo Stone133, existem situações em que o acompanhamento das

informações não financeiras também é de vital importância, pois um ocasional

declínio do negócio pode estar relacionado a outro problema interno ou

externo, sendo que o problema externo é algo sobre o qual a empresa não

exerce controle(por exemplo, um inesperado aumento nas variações cambiais

com reflexos nas taxas de juros, entre outros fatores).

Uma das ferramentas mais importantes para o monitoramento do negócio é a

contabilidade mensal, pois esta permite comparar as projeções orçamentárias

com o desempenho real. Sabe-se que é difícil manter uma contabilidade

mensal atualizada dentro de uma pequena empresa(no caso, a empresa objeto

de estudo), pois geralmente esta utiliza os serviços de escritório de

contabilidade ou contador autônomo. Sendo assim, a empresa deve pensar em

uma solução simples que funcione, algo como uma contabilidade gerencial

simplificada, que possa ser operada até pelos sócios.

O importante é decidir quais informações são cruciais para avaliar as

operações do negócio(contempladas na projeção) e somente armazenar as

informações apropriadas, aquelas que se encontrem com os objetivos

delineados. Quanto mais simples o sistema, mais provável que ele funcione de

forma satisfatória. Afinal, um bom sistema de informações para traçar o

132 STONE, PHIL. o plano de negócios definitivo. Tradução: Roger Msioli dos Santos. São Paulo: Market Books, 2001; p. 53,

133 STONE (2001; p. 53,).

Page 108: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

107

desempenho do negócio e nortear o uso dos recursos disponíveis, propicia

também uma vantagem competitiva.

A propósito, recomenda-se também que a empresa faça pesquisas constantes

sobre a atuação da concorrência, procurando ficar adiante das empresas do

mesmo porte operacional e norteando-se para alcançar as empresas de porte

diferenciado.

3.3 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

Uma questão que merece um estudo subseqüente deve focalizar a

inadimplência, mesmo que ela não esteja afetando diretamente a operadora de

factoring, onde os indicadores de créditos duvidosos têm sido estáveis, mesmo

com o segmento apresentando um crescimento significativo.

Este comportamento da inadimplência pode ser explicado tanto por um maior

acompanhamento técnico das empresas-clientes(que somam mais de 50 mil

em todo o Brasil), evitando riscos na compra de créditos, quanto pelas

características dos créditos comprados.

Em geral, os créditos adquiridos das empresas-clientes tratam de vendas

realizadas junto ao público, constituindo-se num conjunto de operações de

baixo valor individual, onde, geralmente, o nível de inadimplência é menor, por

ser pulverizado. Contudo, o estudo é necessário, até porque, apesar do

ressarcimento líquido e certo(devidamente acrescido dos encargos de

cobrança), tais eventos constituem as operações de curso anormal, estas

consideradas nefastas para o fluxo de caixa planejado.

Este estudo deve incluir também um rigoroso planejamento de contingências a

fim de minimizar as variáveis externas que possam afetar o negócio, tais como

as influências das crises potenciais, medidas governamentais e legais, entre

outras.

Page 109: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

108

CONCLUSÃO

Para configurar maior clareza quanto aos resultados obtidos, serão retomadas

as mesmas questões formuladas na introdução do trabalho ora encerrado,

conforme se segue:

I. O factoring se tornou um método conveniente para satisfazer a

necessidade de capital de giro das pequenas e médias empresas?

o Sim, mesmo porque a maioria das operações feitas pelas

empresas de fomento mercantil é para micros, pequenas e

médias empresas, e para esses setores, as taxas de juros

cobradas pelos bancos muitas vezes são superiores à das

factorings. Além das exigências serem menores para a realização

das operações.

11. O segmento de mercado onde a empresa de factoring se situa vem

apresentando um crescimento significativo?

o Sim, tanto no âmbito da economia global, quanto na economia

brasileira, assim como no estado do Espírito Santo.

111. A propósito, este segmento vem suprindo a ocupação de um

mercado praticamente abandonado pelos bancos brasileiros?

o Claro que sim, que o digam as pequenas e médias empresas. A

propósito, muitos bancos têm praticado a operação de factoring,

por si ou através de coligadas.

IV. Enfim, é certa a pressuposição de que as empresas de factoring do

Espírito Santo somente prestam serviço de compra de recebíveis das

empresas clientes?

o Sim, infelizmente, mas nem todas o fazem movidas pelo "espírito

da agiotagem" mas sim pelo desconhecimento que têm da missão

institucional inserida nos princípios da operação de factoring. Tal

Page 110: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

109

situação pode ser também atribuída à insuficiência de

capacitação dos operadores de factoring disponíveis no mercado

de trabalho.

o factoring se tornou um método conveniente para satisfazer à necessidade de

capital de giro das pequenas e médias empresas porque empresas de menor

porte são as que mais enfrentam dificuldades para obter crédito junto ao

sistema financeiro. Para muitos pequenos negócios, a obtenção do crédito

tradicional baseado nos seus balancetes ou no fluxo monetário antecipado

ficou mais difícil. Portanto, o factoring se tornou um método conveniente para

satisfazer a necessidade de capital de giro requerido por estas empresas,

eliminando o chamado "ruído de crédito".

o segmento de mercado onde a empresa de factoring se situa vem

apresentando um crescimento significativo. E o crescimento dessas empresas

pode ser ainda mais acentuado em médio e longo prazos se considerarmos

que a privatização dos bancos públicos pode afastá-los das regiões mais

distantes dos grandes centros onde se concentram empresas de menor porte.

o fenômeno do crescimento das operações de factoring nos últimos anos

provavelmente indica a ocupação de um mercado praticamente abandonado

pelos bancos brasileiros. Como em operadoras de factoring concentram um

grande número de operações com pequenos estabelecimentos, torna-se mais

atraente aos bancos operarem com a própria factoring do que garimparem

operações em um contingente enorme de pequenas empresas.

Enfim, o empreendimento tem também suas vantagens institucionais sabendo­

se que o fomento mercantil é uma atividade fundamentada basicamente pelos

princípios do direito mercantil. Ocorre que muitas empresas têm apenas a

denominação ou a fachada de factoring, dedicando-se, no entanto, à

concessão de crédito, ou de pequenos empréstimos pessoais, numa típica

atividade bancária. Tais empresas, camuflando o exercício de assessoramento

Page 111: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

110

financeiro, ou de compra de ativos, na verdade atuam com o crédito cobrando

juros altos numa verdadeira prática de "agiotagem".

Neste quadro de atuação, uma(falsa) empresa de factoring fica situada como

titular de uma verdadeira ilicitude, um delito, não merecendo suas transações

qualquer proteção legal. Deve ser ainda ressaltado que tais operações

camufladas, apesar de numerosas, não chegam a afetar o desenvolvimento do

mercado das empresas de factoring de fato. Pelo contrário, assim como as

operações bancárias, contribuem para ampliá-lo mais ainda, uma vez que não

atendem diretamente ao fomento mercantil das pequenas e médias empresas,

que é o maior filão do mercado.

Finalmente, atendidas as premissas de estudo e todas as questões formuladas,

torna-se transparente a validação da proposta colocada como objeto da

presente pesquisa.

Page 112: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

111

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Page 118: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

117

ANEXOS

Page 119: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ANEXO A

ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO COM EMPRESAS DE FACTORING

1. A sua empresa é filiada a ANFAC ou SINFAC-ES?

o ANFAC

o SINFAC-ES

o NENHUMA

2. Qual o principal motivo que o levou a atuar nesse tipo de atividade?

o É uma atividade bastante rentável

o A concorrência é pequena

o Tem alguma experiência nesse setor

o O momento é propício para esse ramo de atividade

3. Como você classifica essa atividade com relação ao risco(*)?

o Muito arriscada

o Arriscada

o Pouco risco

o Arriscada como qualquer outra atividade

(*) Qual o maior risco da atividade?

o Inadimplência

o Má fé do cliente (Ex. : emissão de duplicatas frias)

o Despreparo das empresas de factoring ao analisar crédito

o Outros. Quais?

4. Quais os serviços que sua empresa presta?

o Cessão de crédito

o Serviços de consultoria em gestão financeira

o Factoring internacional

Page 120: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

o Antecipação de recursos não financeiros (Matéria-prima)

o Outros. Quais?

5. Qual o capital disponível pela sua empresa para a compra de títulos de

suas empresas clientes?

o Até R$500.000,OO

o Entre R$500.000,OO e R$1.000.000,OO

o Entre R$1.000.000,OO e R$1.500.000,OO

o Acima de R$1.500.000,OO

6. O operador de sua empresa é qualificado como agente de fomento?

o Sim

o Não

7. Você considera os bancos seus concorrentes diretos?

Porquê?

8. O Sr. acredita no crescimento do factoring no Brasil e no ES? Por que?

Page 121: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ANEXO B

QUESTIONÁRIO FEITO COM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

USUÁRIAS DE FACTORING NO ES

1. Sua empresa utiliza o factoring?

D Sim

D Não

D Não sei o que é factoring

2. Por que usa o factoring?

D Falta de capital de giro

D F alta de planejamento financeiro

D Prestação de serviços

D Outros fatores. Quais? ........................................................................................ .

3. Com que frequência usa o factoring?

D Mais de uma vez por mês.

D Uma vez por mês

D A cada três meses.

D A cada seis meses.

Page 122: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

4. Com respeito as taxas cobradas pelas factoring, em quais elas se

enquadram?

o Mais caros que os bancos

o Mais baratas que os bancos

o Muito mais baratas que os bancos

o Muito mais caras que os bancos

5. Quais são os documentos que você geralmente negocia com essas

empresas?

o Cheques pré-datados

o Duplicatas

o Outros.

Quais? ................................................................................................................. .

6. O que faz você recorrer ao factoring e não aos bancos?

o Menos burocracia

o Mais facil de negociar

o É atendido na hora que precisa

o Outros motivos: ................................................................................................... .

7. O Sr. considera as empresa de factoring como:

o parceiro dos seus negócios

o agiotagem

o aproveitador das horas de necessidades

o Outros:

Quais? ................................................................................................................. .

Page 123: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

8. Essa atividade deve:

o Continuar

o Acabar

o Indiferente

9. Você conhece outros serviços prestados pelas factorings, além da

antecipação de recursos financeiros?

o Não

o Sim.

Quais? ................................................................................................................. .

10. Quais os serviços que a sua empresa utiliza no factoring?

o Adiantamento de recebíveis

o Consultoria Financeira

o Gestão de recebíveis

o Cobrança

o Outros.

Quais? ................................................................................................................. .

11. Nas operações que sua empresa faz com as factorings, elas têm o direito

de regresso (quando o sacado não quita seu título e a empresa de factoring

cobra da sua empresa)?

o Sim

o Não

o As vezes

Page 124: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ANEXO C

CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DO FOMENTO MERCANTil

FACTORING

CAPíTULO 1- DOS OBJETIVOS

ARTIGO 10

o Código de Ética e Disciplina do Fomento Mercantil - Factoring tem por objetivo

fazer cumprir os princípios éticos e de auto-regulamentação em vigor, aplicável às

empresas filiadas à ANFAC - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS SOCIEDADES DE

FOMENTO MERCANTIL - FACTORING.

ARTIGO 20

A aplicação das normas estabelecidas neste Código visa permitir o

processamento e julgamento de denúncia formal, por escrito, de qualquer pessoa

física ou jurídica, à Presidência da ANF AC - quanto à conduta de uma sociedade

de fomento mercantil filiada e de prepostos seus.

CAPíTULO 11 - DO CONSELHO DE ÉTICA E DISCIPLINA

ARTIGO 30

O Conselho de Ética e Disciplina, órgão da ANFAC, subordinado exclusivamente à

sua Assembléia Geral, é composto de 05 (cinco) membros efetivos e 05 (cinco)

membros suplentes, eleitos pela Assembléia Geral Ordinária com mandato de 03

(três) anos, sendo 03 (três) membros não associados, de reconhecida

competência, e 02 (dois) representantes do quadro social da ANFAC.

Page 125: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

Parágrafo Primeiro - Compete ao Conselho de Ética e Disciplina apreciar e julgar

os processos administrativos instaurados na forma prevista no Código de Ética e

de Disciplina do Fomento Mercantil- Factoring, aprovado em Assembléia Geral.

Das decisões do Conselho de Ética cabe recurso à Assembléia Geral, sem efeito

suspensivo, e sem prejuízo da apreciação da mesma matéria pelo Poder

Judiciário.

Parágrafo Segundo - Compete, ainda, ao Conselho de Ética e Disciplina

manifestar-se ou dar parecer sobre a matéria relativa à interpretação de qualquer

dispositivo estatutário ou de normas legais, administrativos e éticos, bem como

atender às convocações para arbitragem comercial ou judicial em matéria de

Fomento Mercantil- Factoring.

Parágrafo Terceiro - Os laudos arbitrais deverão ser elaborados mediante

remuneração do interessado.

ARTIGO 4°

Os membros do Conselho de Ética e Disciplina terão as atribuições e atividades

previstas no seu Regimento Interno.

ARTIGO 50

Os membros do Conselho de Ética são eleitos pela Assembléia Geral Ordinária

com mandato de 3 (três) anos, admitida a reeleição.

CAPíTULO 111- DAS INFRACÕES DISCIPLINARES

ARTIGO 60

A sociedade de fomento mercantil, no exercício de sua atividade, está sujeita ao

dever de disciplina pautando suas atividades ou de seus prepostos dentro das

Page 126: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

normas legais, dos deveres éticos, das Circulares, das decisões da Assembléia

Geral e demais instruções da ANFAC.

ARTIGO 70

As faltas cometidas decorrentes de infrações das normas disciplinares serão

julgadas conforme a natureza do ato e as circunstâncias e gravidade de cada

caso.

Parágrafo Primeiro - São consideradas faltas, entre outras, as que atentam contra

sentimentos de lealdade e solidariedade naturais da classe, contra os deveres

éticos e contra as normas de fiscalização da ANFAC , entre outras:

a) deixar de indicar em seus papéis e documentos o número do respectivo registro

na ANFAC;

b) desrespeitar os estatutos da ANFAC e/ou negar vigência

c) agir com desídia no cumprimento das obrigações decorrentes do contrato de

fomento mercantil.

Parágrafo Segundo - São consideradas faltas, também, as que a lei defina como

crime desde que apurado em procedimento judicial com sentença transitada em

julgado.

Parágrafo Terceiro - São consideradas faltas, ainda, os seguintes procedimentos

dos associados da ANFAC:

a) empregar meios fraudulentos para desviar em proveito próprio ou alheio a

clientela de outrem;

b) anunciar imoderadamente de modo a induzir em erro os clientes ou membros

concorrentes, contra as normas do CONAR - Conselho Nacional de Auto­

Regulamentação Publicitária:

c) divulgar ou se utilizar, sem autorização, violando sigilo profissional, de segredo

de negócios do cliente que lhe foram confiados ou de que teve conhecimento em

razão de sua atividade profissional, mesmo após a rescisão ou cumprimento do

contrato celebrado;

Page 127: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

d) divulgar, por qualquer meio, falsa informação em detrimento ou prejuízo de

empresa congênere ou cliente seu;

e) promover a negociação de ativos que se sabe terem sido adulterados ou

falsificados;

f) promover ou facilitar conscientemente negócios ilícitos, bem como quaisquer

operações e atos que prejudiquem a Fazenda Pública e autoridades constituídas;

g) auxiliar ou facilitar, por qualquer modo, o exercício da profissão ou atividade,

aos que estiverem proibidos, impedidos ou inabilitados;

h) deixar de honrar os seus compromissos para com a ANFAC;

i) violar os princípios éticos do fomento mercantil - factoring, as normas

estabelecidas no Manual do Associado e neste Código de Ética.

CAPíTULO IV - DO PROCESSO DISCIPLINAR

ARTIGO 80

Compete, com exclusividade, ao Conselho de Ética e Disciplina, apurar as faltas e

punir disciplinarmente as sociedades de fomento mercantil e seus prepostos na

forma deste Código, sem prejuízo da sanção civil ou penal que couber.

ARTIGO 90

As infrações disciplinares serão apuradas em processo administrativo, mediante

representação formal, por escrito, de iniciativa de qualquer pessoa física ou

jurídica filiada à ANFAC.

ARTIGO 10°

A representação será arquivada quando o fato apurado não constituir falta

disciplinar mediante decisão unânime do Conselho, irrecorrível.

Page 128: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ARTIGO 11°

O processo será iniciado mediante representação encaminhada ao Presidente da

ANFAC que, através de ofício, o fará distribuir ao Conselho de Ética e Disciplina.

ARTIGO 12°

O representante será citado, com aviso de recebimento pelo Correio, dando-se-Ihe

ciência do inteiro teor da representação e se lhe fixando o prazo de 30 (trinta) dias

para a sua defesa prévia, a qual deverá ater-se aos objetivos da representação,

esclarecendo, desde logo, os fatos, bem como as provas que pretendem produzir.

ARTIGO 13°

A citação será feita por ordem do Presidente do Conselho de Ética e de Disciplina

à pessoa ou representante do indiciado, para que, por si ou por intermédio de

advogado regularmente constituído, venha promover sua defesa, que será ampla,

em todo o curso processual, assegurado o direito de acompanhar e intervir em

todas as provas e diligências.

ARTIGO 14°

Apresentada a defesa, o relator, se entender necessário, poderá solicitar provas e

diligências para a elaboração final do seu relatório.

Parágrafo Único - Para todas as provas e diligências do processo se facultará, às

partes, o prazo de 20 dias.

ARTIGO 15°

Concluído o relatório, o Presidente do Conselho de Ética e Disciplina fixará a data

da sessão de julgamento, na sede da ANFAC, intimando-se as partes

interessadas mediante aviso de recebimento pelo Correio.

Page 129: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

ARTIGO 16°

As penalidade aplicadas pelo Conselho de Ética e Disciplina obedecerão à

seguinte graduação em razão dos motivos atenuantes e agravantes apurados no

processo:

a) advertência em carta reservada;

b) advertência em comunicado distribuído a todos os associados;

c) suspensão temporária das atividades societárias com comunicação distribuída a

todos os associados;

d) exclusão do quadro social da ANFAC com ampla divulgação ao público.

Parágrafo Único - Das decisões proferidas pelo Conselho de Ética e Disciplina

caberá recurso à Assembléia Geral.

ARTIGO 17°

É de competência privativa da Assembléia Geral, convocada especialmente para

esse fim, o conhecimento e julgamento de processo em grau de recurso

disciplinar.

Parágrafo Único - Da decisão da Assembléia Geral não caberá recurso

administrativo.

ARTIGO 18°

Os recursos cabíveis, feitos no prazo máximo de 15 dias da intimação da decisão,

serão encaminhados à Presidência da ANFAC que deverá providenciar o seu

encaminhamento.

Page 130: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING

CAPíTULO V - DISPOSiÇÕES FINAIS

ARTIGO 19°

São supletivas do processo disciplinar instaurado pela ANFAC, as disposições dos

Códigos de Processo Civil e Penal.

ARTIGO 20°

O presente Código de Ética e Disciplina entrará em vigor na data de sua

aprovação pela Assembléia Geral convocada regularmente.

APROVADO PELA AGE DE 09/12/2002