um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de nosso senhor...

8
SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO XCVIII | N.º 4778 | 12 DE MARÇO DE 2020 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt P or motivos particulares, sentir-me-ei mais preo- cupado com a epidemia do coronavírus, reno- meado COVID-19, do que a larguíssima maioria dos leitores, o que me leva a dirigir uma prece mais in- sistente de socorro ao Autor de toda a vida, também da vida do vírus em causa. O resto é o que já foi dito: agir com calma, com prudência, com sabedoria e com soli- dariedade. A calma apela à consciência da nossa fra- gilidade, a que o vírus e outros acidentes naturais nos reconduzem continuamente, assim os oiçamos. A pru- dência basicamente é agir como sempre deveríamos agir. Mesmo na missa e nas práticas religiosas. Faço uma exceção aos cumprimentos sociais e ao rito da paz na Missa, não para agora, mas para o tempo de não ris- co epidémico. A sabedoria leva-nos à consideração dos muitos caminhos que temos de percorrer para apren- der a viver de outras formas, mesmo em termos de ges- tão do ambiente ou da nossa interdependência global. Quanto trabalho aí há para fazer! A solidariedade apela à solidariedade mesmo, que começa no não açambar- camento de bens e produtos (como as máscaras!) ou no não roubo nas unidades hospitalares de bens essenciais à proteção da saúde. Para além disto, mas igualmente importante: uma palavra de profundo agradecimento para aqueles profissionais de saúde que estão a dar o seu melhor, por todo o mundo, em situações nem sem- pre fáceis de gerir e com riscos acrescidos. O Correio de Coimbra traz neste número um dos- sier “Mulher”, no qual escrevem mulheres, com um saber identitário e técnico bem maior do que o meu. Por isso, gostaria de deixar aqui apenas duas pe- quenas notas. A primeira, para lembrar o trabalho cul- tural que precisamos de continuar a fazer, sobretudo no âmbito da violência sobre a mulher, muita dela em contexto familiar ou similar. Os números de casos de violência sobre as mulheres, entre nós, continuam a ser assustadores. A legislação, a justiça e as penas serão cer- tamente ajudas significativas para essa mudança cultu- ral, mas não chegam. Precisamos de educar contínua e persistentemente para o respeito absoluto pela integri- dade física, psicológica e espiritual da mulher. A segun- da nota é para sublinhar a identidade maior que preside a ambos os sexos e que, antes de os opor, os unifica: a sua humanidade comum. Colocar o acento nesta huma- nidade comum é puxar ambos para a frente. Colocar o acento na divergência, sobretudo quando colocada em termos conflitivos, é arrastar ambos para trás. Penso eu. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES Caminhos a percorrer Numa cada vez maior consciência universal, celebrámos no dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher. O Correio de Coimbra, alinhado com o twitter do Papa Francisco - “É próprio da mulher tomar a peito a vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é continuar a produzir coisas, mas tomar a peito as coisas que existem” - reflete neste número sobre a Mulher. > centrais CONFERÊNCIAS QUARESMAIS A DESTRUIÇÃO DO PLANETA E DO HOMEM SÃO REVERSÍVEIS Reflexões dos arciprestados de Coimbra Urbana e Cantanhede entrecruzam-se na urgência da passagem da descrença e ‘desesperança’ à esperança. > Página 3 SENHOR DOS PASSOS EM COIMBRA BISPO DIOCESANO EXORTA FIÉIS A FAZER UMA CAMINHADA INTERIOR Antiga procissão dos Eremitas de Santo Agostinho voltou a sair às ruas de Coimbra, este ano no contexto do Jubileu de Santo António e Mártires de Marrocos. > Página 2 CÁRITAS DE COIMBRA CANCELOU PEDITÓRIO PÚBLICO Decisão foi tomada em razão dos riscos gerados pelo COVID-19. > Página 7 SER MULHER Um desafio e uma oportunidade para a humanidade

Upload: others

Post on 30-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO XCVIII | N.º 4778 | 12 DE MARÇO DE 2020 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

Por motivos particulares, sentir-me-ei mais preo-cupado com a epidemia do coronavírus, reno-meado COVID-19, do que a larguíssima maioria

dos leitores, o que me leva a dirigir uma prece mais in-sistente de socorro ao Autor de toda a vida, também da vida do vírus em causa. O resto é o que já foi dito: agir com calma, com prudência, com sabedoria e com soli-dariedade. A calma apela à consciência da nossa fra-gilidade, a que o vírus e outros acidentes naturais nos reconduzem continuamente, assim os oiçamos. A pru-dência basicamente é agir como sempre deveríamos agir. Mesmo na missa e nas práticas religiosas. Faço uma exceção aos cumprimentos sociais e ao rito da paz na Missa, não para agora, mas para o tempo de não ris-co epidémico. A sabedoria leva-nos à consideração dos muitos caminhos que temos de percorrer para apren-

der a viver de outras formas, mesmo em termos de ges-tão do ambiente ou da nossa interdependência global. Quanto trabalho aí há para fazer! A solidariedade apela à solidariedade mesmo, que começa no não açambar-camento de bens e produtos (como as máscaras!) ou no não roubo nas unidades hospitalares de bens essenciais à proteção da saúde. Para além disto, mas igualmente importante: uma palavra de profundo agradecimento para aqueles profissionais de saúde que estão a dar o seu melhor, por todo o mundo, em situações nem sem-pre fáceis de gerir e com riscos acrescidos.

O Correio de Coimbra traz neste número um dos-sier “Mulher”, no qual escrevem mulheres, com um saber identitário e técnico bem maior do que

o meu. Por isso, gostaria de deixar aqui apenas duas pe-

quenas notas. A primeira, para lembrar o trabalho cul-tural que precisamos de continuar a fazer, sobretudo no âmbito da violência sobre a mulher, muita dela em contexto familiar ou similar. Os números de casos de violência sobre as mulheres, entre nós, continuam a ser assustadores. A legislação, a justiça e as penas serão cer-tamente ajudas significativas para essa mudança cultu-ral, mas não chegam. Precisamos de educar contínua e persistentemente para o respeito absoluto pela integri-dade física, psicológica e espiritual da mulher. A segun-da nota é para sublinhar a identidade maior que preside a ambos os sexos e que, antes de os opor, os unifica: a sua humanidade comum. Colocar o acento nesta huma-nidade comum é puxar ambos para a frente. Colocar o acento na divergência, sobretudo quando colocada em termos conflitivos, é arrastar ambos para trás. Penso eu.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

Caminhos a percorrer

Numa cada vez maior consciência universal, celebrámos no dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher. O Correio de Coimbra, alinhado com o twitter do Papa Francisco - “É próprio da mulher tomar a peito a vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é continuar a produzir coisas, mas tomar a peito as coisas que existem” - reflete neste número sobre a Mulher. > centrais

CONFERÊNCIAS QUARESMAISA DESTRUIÇÃO DO PLANETA E DO HOMEM SÃO REVERSÍVEISReflexões dos arciprestados de Coimbra Urbana e Cantanhede entrecruzam-se na urgência da passagem da descrençae ‘desesperança’ à esperança. > Página 3

SENHOR DOS PASSOS EM COIMBRABISPO DIOCESANO EXORTA FIÉIS A FAZER UMA CAMINHADA INTERIORAntiga procissão dos Eremitas de Santo Agostinho voltou a sair às ruas de Coimbra, este ano no contexto do Jubileu de Santo António e Mártires de Marrocos. > Página 2

CÁRITAS DE COIMBRA CANCELOU PEDITÓRIO PÚBLICO

Decisão foi tomada em razão dos riscos

gerados pelo COVID-19. > Página 7

SER MULHER

Um desafio e uma oportunidade para

a humanidade

Page 2: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

2DioceseDe 20 para 21 de março24 horas para o SenhorA iniciativa “24 horas para o Senhor” realiza-se, este ano, de 20 para 21 de março. A ideia partiu do Papa Francisco há 7 anos, e pretende unir espiritualmente as Igrejas espalhadas pelos cinco continentes ao Santo Padre, proporcionando a todos a possibili-dade de fazer uma experiência pessoal da infinita misericórdia de Deus. Entre nós, para além das muitas celebrações paroquiais, há também a iniciativa de âmbito diocesano na Igreja de Santia-go (Coimbra) das 8h do dia 20 às 20h do dia 21. Os responsáveis apelam à participação de muitos orantes.

Catequese de AdultosIniciaram os grupos da Unidade Pastoral Figueira RioDepois de um ano de preparação dos animadores e sensibiliza-ção, a Unidade Pastoral Figueira Rio, que congrega as paróquias orientadas pelo Pe. Nuno Fileno, deu início, no dia 5 de março, à Catequese de Adultos, com a constituição de dois Grupos (zona norte: Bom Sucesso, Ferreira-a-Nova, e capelanias de Moinhos da Gândara, Ribas e Santana; zona sul: Alhadas, Brenha, Maiorca e Vila Verde), que se reunirão quinzenalmente, estando progra-mados também encontros periódicos comuns aos dois grupos.

Movimento da Mensagem de FátimaDia Diocesano do Doente canceladoO Secretariado Diocesano de Coimbra do Movimento da Mensa-gem de Fátima informa que o Dia Diocesano do Doente, que esta-va previsto para o dia 28 de março, foi cancelado, devido ao surto epidémico em curso, relacionado com o Coronavírus.

Seminário Maior de CoimbraDonativos do mês de fevereiroO Seminário dá nota dos donativos recebidos durante o mês de fevereiro: anónimo - 50,00€; ofertório da missa do domingo - 433,03€; donativo de um padre diocesano - 500,00€; donativo de um padre diocesano - 500,00€. O Seminário Maior de Coimbra agradece todas as partilhas e lem-bra que quem quiser colaborar pode entregar pessoalmente ou fa-zer uma transferência para CGD PT 50 0035 0255 0005 9801 132 31.

PUB

A procissão do Senhor dos Passos voltou a sair, pelo segundo ano consecuti-

vo, às ruas de Coimbra, no dia 8 de março, numa iniciativa da Irmandade do Senhor dos Pas-sos da Igreja da Graça e da Paró-quia de Santa Cruz.

Antes da procissão, os fiéis congregaram-se na Igreja da Graça, onde se custodia a ima-gem dos Passos, em celebra-ção eucarística presidida por D. Virgílio Antunes. No início da mesma, o Bispo de Coimbra situou a celebração e a procis-são no contexto da caminhada quaresmal para a Páscoa, na fé e na piedade cristãs. Já na ho-milia, tomando o “chamamen-to de Abraão” e o episódio da “Transfiguração de Jesus” como duas grandes caminhadas inte-riores que Abraão e os Apósto-los tiveram que fazer - Abraão para passar do paganismo à fé num único e verdadeiro Deus; os Apóstolos, da fé judaica à fé em Jesus como Filho de Deus - exortou os fiéis a fazerem idên-tica caminhada interior, numa atitude de “escuta”, de “levan-tar-se”, de “pôr-se a caminho”, para depois poder ir ao encon-tro dos outros, testemunhando a fé, a esperança e o amor.

As reflexões da Procissão esti-veram a cargo do Pe. Carlos No-

ronha Lopes, pároco de Buarcos, que com a sua equipa orientou também os cantos à Paixão de Jesus, dando ao ato especial brio celebrativo, musical e artístico, a que acresceu a participação de um Grupo de Fado de Coimbra junto à Igreja de Santiago. O Pe. Carlos teve ainda o cuidado de situar todas as suas reflexões no contexto do Ano Jubilar de Santo António e dos Mártires de Marrocos, interligando as figu-ras destes santos com os “pas-sos” da Paixão refletidos e com os locais de culto percorridos pela procissão.

Destes “passos”, sublinha-se o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente à Igreja de Santa Cruz; e a lamentação da Verónica, em frente ao Arco de Almedina. Ainda nos “passos”, este ano foi introduzida uma novidade em relação ao ano passado: no regresso da procissão, nova-mente em Santa Cruz, o andor do Senhor dos Passos recolheu ao interior da Igreja de Santa Cruz, dando lugar ao esquife com o Senhor Morto, conduzido finalmente até à Igreja da Gra-ça, onde a Procissão terminou com a bênção final do Bispo de Coimbra.

Na procissão, os andores e o pálio foram conduzidos por di-versos grupos, nomeadamen-te a Confraria da Rainha Santa Isabel e os Cavaleiros da Ordem do Santo Sepulcro. Tomaram também parte as irmandades e confrarias da Cidade de Coim-bra, os agrupamentos de escu-teiros do concelho de Coimbra e algumas crianças da cate-quese que levavam os sinais da Paixão do Senhor. O acompa-nhamento musical esteve ao cuidado da Filarmónica de Montemor-o-Velho.

Passos em Pedrógão Grande

São muitas na Diocese de Coimbra as procissões dos Passos e a piedade

popular em torno delas. Uma das mais antigas no interior da Diocese é a de Pedrógão Grande, que este ano, a par das cerimó-nias do calendário litúrgico, terá a Procissão dos Senhor dos Pas-sos da Capela do Calvário para a Igreja Matriz no dia 28 de março (21h), a Procissão no sentido in-verso (29 de março, 15h) a Procis-são dos Cotos (9 de abril, 21h45), e as Procissões do Enterro do Se-nhor (15h) e do Silêncio (21h45), no dia 10 de abril.

PROCISSÃO DO SENHOR DOS PASSOS EM COIMBRA

Caminhar interiormente, seguindo os desafios da Paixão de Jesus de Nazaré

PROPRIEDADESeminário Maior de CoimbraContr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917Depósito Legal n.º 2015/83

DIRETORA. Jesus Ramos (T.E. 94)

DIRETOR ADJUNTOCarlos Neves (T.E. 1163)

ADMINISTRAÇÃO Communis Missio - Instituto Diocesano de ComunicaçãoCentro Pastoral Diocesano CoimbraRua Domingos Vandelli, nº 23004-547 Coimbra

REDAÇÃOMiguel Cotrim (C.P. 5533)

PAGINAÇÃOFrederico Martins

IMPRESSÃO E EXPEDIÇÃOFIG - Industrias Gráficas, S.A.Rua Adriano Lucas, 3020-265 Coimbra

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:Correio de Coimbra - Seminário Maior de CoimbraRua Vandelli, 2 | 3004-547 [email protected]. 239 792 344

[email protected]

[email protected]

PREÇO DAS ASSINATURASAnual | 30 € Amigo | 35 €Benfeitor | 40 € Paróquia | 20 €

TIRAGEM5000 exemplares

COLABORADORESOs artigos de opinião são da responsabilidade dos seus autores.

ESTATUTO EDITORIALwww.correiodecoimbra.pt

PAGAMENTO ASSINATURA JORNAL NIB: 0018.0003.4059.0291.0201.3Ao fazer transferência bancária pedimos o favor de nos enviar o comprovativo da mesma para o email, [email protected], identificando com o nome, localidade e número de assinante.

Mais fotos em facebook.com/correiodecoimbra

12 DE MARÇO DE 2020

PRÓXIMOS CURSILHOS DE CRISTANDADEIniciou já o processo de inscrições:

Homens – 30 de abril a 3 de maioSenhoras – 14 a 17 de maio

Os interessados deverão contatar os párocos

Page 3: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

33Igreja a caminho

O documentário “O Sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Salgado, sobre

a obra de Sebastião Salgado, foi a “provocação” para o debate na pri-meira conferência quaresmal do arciprestado de Coimbra Urbana, que teve lugar no dia 5 de março,

no Seminário Maior de Coimbra, com o comentário do eurodeputa-do Francisco Guerreiro (PAN).

Sebastião Salgado é um fotó-grafo reconhecido internacio-nalmente, cujo trabalho inicial, no meio de várias atrocidades bélicas e políticas, o levou à

descrença no género humano, tendo, todavia, readquirido essa crença a partir da fotografia da vida animal e da replantação massiva de árvores na sua quin-ta de família, em Minas Gerais, Brasil. De facto, quando tomou a opção de fotografar o Planeta, preferiu fugir ao caminho da denúncia, apostando no cami-nho do anúncio de uma outra realidade possível, na convic-ção de que a destruição da Terra (ainda) é reversível.

Francisco Guerreiro, contudo, vê o tempo muito curto, apelan-do à urgência da mudança de comportamentos, sobretudo à redução do consumo. Da Lauda-to Si’, que serve de linha condu-tora às Conferências deste ano, o eurodeputado salientou a de-núncia da antroporreferenciali-dade feita pela Encíclica.

As conferências quaresmais de Coimbra Urbana procuram este ano descortinar “provoca-ções e conversão” a partir desta encíclica do Papa Francisco, lida também por pessoas “não ne-cessariamente cristãs”.

CONFERÊNCIAS EM COIMBRA URBANA

Anunciar e contribuir para a reversibilidade da Terra

D. Virgílio Antunes orien-tou a reflexão da 1ª con-ferencia quaresmal do

arciprestado de Cantanhede, no dia 6 de março, no salão paro-quial daquela cidade, debruçan-do-se sobre a Esperança, a partir

de uma perspetiva bíblica. O tema da esperança, que vai percorrer as Jornadas seguintes (numa pers-petiva antropológica e, depois, vivencial), responde também a alguns casos de “desesperança” detetados no concelho.

O Bispo de Coimbra considerou três fases bíblicas na abordagem do tema: Antigo Testamento, como tempo de anúncio; Jesus Cristo, como tempo/pessoa de realização; tempos apostólicos e Igreja, como tempo da vivência da Esperança com a ajuda do Espírito Santo. Deteve-se depois, mais longamente, sobre a rela-ção da esperança com a fé, con-siderando que o ser humano tem necessidade de esperança numa verdadeira vida eterna - plenitu-de de estar incluído no amor de Deus -, uma esperança absoluta a que nenhuma das esperanças transitórias, “pequenas”, basea-das na ideia de “progresso” e nas realizações das “ciências”, pode responder.

Como escolas da esperança, D. Virgílio apontou a oração, o sofri-mento e o juízo final (proclamado no Credo). Como exemplo da pas-sagem do desespero à esperança, lembrou a vida de Santa Josefina Bakhita, escrava e religiosa cano-nizada por João Paulo II.

CONFERÊNCIAS QUARESMAIS EM CANTANHEDE

O ser humano tem necessidade da esperança

A Comissão Diocesana da Pastoral do Turismo (CDPT), da Diocese de

Coimbra, com a colaboração da Fundação Mata do Buçaco, vai organizar, no próximo dia 29 de março, quinto domingo da Qua-resma, uma Via-Sacra, na Mata Nacional do Buçaco, com início às 15h junto do Convento de San-ta Cruz. Os participantes devem indicar o seu nome no guichet de entrada na Mata do Buçaco, re-ferindo que participam na ativi-

dade. A participação é totalmente gratuita, mas carece de inscrição prévia na página do facebook da Pastoral do Turismo da Diocese de Coimbra, para acesso gratuito à Mata do Buçaco e para a boa or-ganização da atividade.

Em comunicado enviado ao Correio de Coimbra, a CDPT considera que “ao conciliar o património natural, cultural e religioso, esta atividade procu-ra ser um lugar de procura e de encontro com Deus, em tempo

quaresmal, num espaço natu-ral e artístico, de excepção, que a Comunidade Religiosa Carme-lita nos quis legar”. “Propomos - continua o texto - um caminho interior de oração e renovação, seguindo o trilho da Via-Sacra, assinalado com as diversas ca-pelas ali construídas para esse efeito”. Por isso, aquela Comis-são convida à participação de to-das as comunidades paroquiais, comunidades religiosas e leigos interessados.

A organização deixa ainda alguns conselhos práticos, no-meadamente que os participan-tes se previnam com calçado conveniente para o percurso a pé e uma pequena garrafa de água, caso necessitem.

COMISSÃO DIOCESANA DA PASTORAL DO TURISMO

Celebrar a Via-Sacra na Mata Nacional do Buçaco

SE NÃO cai em si, o pródi-go não se ergue. Tomar consciência, é condição:

Pode haver hoje conversão, eclesial e social, se não houver visão crítica positiva? Mas irá a tradição quaresmal típica além da moral e da piedade indivi-dualistas? A que conversão se apela hoje? À luz do Concílio? E se é preciso que despertar e motivar para a Missão! Face ao vazio de valores, à deriva cultu-ral, precariedade de referências no mundo de agora.

Meta-nóia: mudar de atitude, no pensar e agir. Quem atende à urgência de sermos Luz para este mundo nosso? O Papa… Que ressonância tem na prática eclesial entre nós? Uma ou ou-tra menção, não basta. Olhe-se o desfasamento entre as culturas de hoje e os hábitos ‘de sacristia’. Questão global! E omissão grave.

URGE ousar uma Igreja dinâmica. Diferente! Ministros, servidores

do Reino, que distraídos anda-mos deste mundo nosso. Há que romper séculos de retrac-ção. Medo! Abrir ao Rasgo do Espírito. Que sopra onde quer (Jo.3). A despertar, também hoje, do ‘vazio’ (Gén.1).

Primeiro que a moral (só pri-vada?) tem de vir a formação da Fé. E desde logo na resposta a nível humano: A conversão, se o é, tem de ser pessoal-social. Cada um para si e Deus por to-dos? Um ‘eu’ solitário, é aber-rante. Ser Pessoa implica sem-pre dimensão social. O próprio Deus é Com-Unidade: Trindade.

São grandes, já aqui, as carên-cias na atitude e doutrinação tradicional. O enquistamento auto-referencial está por demais enraizado. E a alergia à Incarna-ção. E à dimensão social. A vivên-cia da Com-União (= Igreja!).

TEMOS QUE descolar da acomodação às rotinas (singulares e colectivas)

que nos tornam insensíveis ao Horizonte kat’holón: O de Deus e do Seu Reino. É urgente re-descobrir a Dinâmica da Boa Nova. Perceber com realismo o tempo de agora. Há que tornar muito mais incisiva a inter-pelação actual e a motivação bíblica à Conversão. Com pro-gramas, adequados, de acção--formação conjugada e con-creta. Focada no Essencial.

Mas há reflexão bíblica e teo-lógica a alimentar e renovar os caminhos da nossa pastoral? Se a conversão não for por aqui, nada muda. Tudo isto requer rasgo de fundo:‘copernicana’. E tem de ser estudado, rezado, planeado, e aplicado com méto-do. Não é tema só de quaresma.

QUANTAS inovações tec-nológicas surgiram nas décadas recentes! Quan-

tas alterações culturais! O im-pacto do individualismo (o das redes sociais, é só uma verten-te), a ligeireza do ajuizar, pro-liferação de irreferências nas opiniões, a relativização dos cri-térios de “verdade”, o esvazia-mento dos Valores e do sentido de responsabilidade, a multipli-cação de propostas mediáticas e parlamentares fracturantes, a dispersão e desorientação ou fe-chamento das pessoas perante todo este solavanco cultural…

Face ao tsunami de influên-cias concorrentes, é visível a total desproporção e insuficiência das nossas homilias e catequeses. São tempos de ruptura cultural, para os quais não temos respos-ta. Nem sabemos como ajudar a formar as mentalidades (no plu-ral) que daí brotam.

Calar, ficar colados a costumes morais de âmbito só privado e a uma atitude pastoral para os ‘de dentro’, é erro. Ficar pela “torcida que fumega”, os idosos que res-tam… e uns rituais de pompa exterior? É medo. E demissão. Virá daí a Luz? Lamentar-se pelo clero idoso, cansado, insuficien-te? É iludir o Kairós, a Graça deste tempo, e a Dinâmica do Reino.

QUE FAZER então? Não há respostas feitas, nem ex-periência de épocas his-

tóricas comparáveis. Temos que aprender dos ‘Actos dos Apósto-los’. E da parábola, lição!, de Jesus sobre as ondas do Lago: «Gente de pouca fé»… Investir a fundo na formação da Fé vivida. Aprender de quem sabe de ‘ciências huma-nas’. E procurar, rezar, procurar.

É no vazio que o Espírito pode agir mais à Sua vontade. Ele está a conduzir-nos (à força…) para outro modo de ser Igreja. Mui-to mais com-participativo que vertical-clerical. E muito mais ousado. Confiante na Promessa do Kürios, o Senhor do Reino que está connosco dia a dia. E vencer barreiras e enquistamentos. Pela acção de leigos/as capazes.

(P)REFERÊNCIAS

Que Conversão?J. Oliveira Branco

“Face ao tsunami de influências concorrentes, é visível a total desproporção e insuficiência das nossas homilias e catequeses. São tempos de ruptura cultural, para os quais não temos resposta.

12 DE MARÇO DE 2020

CATEQUESE DE ADULTOSFórum diocesano este domingo, com os Frades Menores ConventuaisSanta Cruz e Santo António

Page 4: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

Atualmente a proporção de mulheres no Gover-no e no parlamento

português supera os 36%, o que coloca Portugal acima da mé-dia da União Europeia (EU). Em termos globais, a média de pro-porção de mulheres nos 28 go-vernos nacionais situa-se pelos 30,2% e nos parlamentos pelos 29,9%, sublinhe-se que hou-ve uma evolução desde 2003 (quando os valores médios na UE eram respetivamente de 23 e 21%), mas continua a não haver um único Estado-membro com uma maioria de mulheres no respetivo parlamento nacional. Os países que mais se aproxi-mam de uma maioria femini-na nas respetivas assembleias são a Suécia (47%) e a Finlân-dia (42%), enquanto no extremo oposto da lista encontram-se a Hungria (13%) e Malta (15%).

Na verdade, a participação das mulheres em lugares polí-ticos tem de facto aumentado

nos últimos anos, contudo os lugares de topo ainda são pou-co representados e pouco ocu-pados por mulheres, veja-se, por exemplo, a questão ao nível das Câmaras Municipais: em 308 presidentes de câmara elei-tos em 2017, só 32 são mulhe-res. O número representa uma subida face às 23 eleitas nas eleições de 2013, e significa que, num universo de 308 presiden-tes de câmara, apenas 10,4% são do sexo feminino. Estes resultados são reveladores da fraca evolução existente neste âmbito, percebendo-se não só que há resistências, mas tam-bém que o “espírito” da lei (a representação paritária) não foi ainda verdadeiramente in-teriorizado pela elite política, fenómeno particularmente vi-sível quando olhamos para os cargos políticos onde a Lei da Paridade não se aplica.

Os números contam, mas não são tudo! A verdade é que

as mulheres representam me-nos de um terço das pessoas que se sentam nos parlamen-tos nacionais da União Euro-peia. O que as impede de par-ticipar? Há sistema de quotas? Os interesses e as preocupações das mulheres têm espaço na agenda? O parlamento produz legislação que tem em conta as desigualdades de género? En-quanto local de trabalho, prevê algum apoio à conciliação en-tre vida profissional e vida fa-miliar? Tem um código de con-duta? E formas de combater o assédio?

Estas não são perguntas de al-gibeira. São parte de um instru-mento que o Instituto Europeu para a Igualdade de Género, a agência da União Europeia que promove a igualdade entre ho-mens e mulheres, criou para ve-rificar até que ponto as assem-bleias municipais, regionais ou nacionais têm sensibilidade para as questões de género.

Um estudo sobre carreira política feminina – pro-movido pela Women Po-

litical Leaders por investigado-res de Yale, California-Berkeley e London School of Economics, com base no depoimento 457 de-putados de 84 países – traça um retrato previsível: elas tendem a iniciar a carreira política mais tarde, a ter menos filhos, a passar mais tempo a cuidar da família e a organizar-se para encurtar deslocações; tudo indica que só as que têm retaguarda familiar avançam com uma candidatura; os homens tendem a fazê-lo mes-mo que a família os desencoraje.

Na política, elas ainda se vêem e são vistas como o “outro”. Há a ideia de que este é um mundo de homens. E isso não serve apenas para alguns reagirem mal a mu-lheres candidatas, também para muitas nem pensarem nisso. Elas olham para os parlamentos e questionam-se: será que me sentiria bem naquele meio? Será

que conseguira expressar bem as minhas ideias? Será que me conseguiria fazer ouvir?

O já referido estudo sobre car-reira política explica de que modo as representações sociais sobre “o lugar das mulheres” interferem. Qualquer potencial candidato se preocupa com as artimanhas po-líticas, mas elas preocupam-se mais do que eles com “discrimi-nação de género, dificuldade de angariação de fundos, publicida-de negativa, perda de privacida-de, possibilidade de não serem levadas a sério”.

Os homens não precisam de justificar a sua presença. Parte--se do princípio que têm habi-litações e experiência para o cargo. As mulheres, sim, têm de provar que têm capacidade para que a sua presença se justifique.

Diversos estudos dão conta da dificuldade apontada por al-guns políticos ao nível local, em encontrar potenciais candida-tas. Os estudos sobre a partici-pação das mulheres na política remetem tais discursos para a resistência à mudança. Tudo se agrava nas freguesias mais pequenas, mais rurais e menos povoadas. Essas são mais con-servadoras e mais resistentes à incorporação de novas dinâmi-cas e novos rostos.

Liliana Pimentel e Sílvia Monteiro oferecem-nos duas leituras da Mulher em duas das mais significativas dimensões da sua presença na vida das sociedades do nosso tempo: a intervenção política direta e a exigente atividade profissional. São duas leituras cheias da experiência pessoal de cada uma das suas autoras; e duas leituras de confronto com a narrativa do feminino mais arreigada na nossa cultura comum.

SER MULHER EM 2020

Participar e conciliar as múltiplas

dimensões da vida

A participação das mulheres na política: os números contam, mas não são tudo!Liliana Pimentel

12 DE MARÇO DE 2020

24 HORAS PARA O SENHORNa Igreja de Santiago,

em Coimbra, das 8h do dia 20 às 20h do dia 21 de março

Participe!

Page 5: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

5Mulher

Sou mulher, mãe, médica e católica. Estas são as dimensões essenciais da

minha vida – família, profissão e espiritualidade - profunda-mente interligadas, contribuin-do de forma equilibrada para a construção e felicidade da mu-lher que sou.

Será fácil ser uma mulher rea-lizada nos nossos tempos?

Em todo o mundo, a situação das mulheres é pior do que a dos ho-mens, pelo simples facto de serem mulheres. Embora tenhamos as-sistido a um enorme progresso nos direitos e visibilidade das mulheres ao longo das últimas décadas, con-ciliar a vida pessoal, familiar e profissional continua a ser difícil para mui-tas de nós.

Ser mulher nos nossos dias constitui um

desafio, mas poderá ser tam-bém uma oportunidade para construir uma sociedade mais justa, equilibrada e humaniza-da. Não tenhamos dúvidas: Deus escolheu-nos a todas e a cada uma para uma missão nobre e diferenciadora. Descobrir e acei-tar essa missão é a grande revo-lução de ser mulher.

Nos últimos anos, tenho ten-tado identificar qual a minha missão de vida. Será sempre um caminho inacabado, mas consi-dero que compreender e dar um sentido a tudo o que faço e viver concentrada no essencial cons-tituem o segredo para manter uma vida emocional e espiritual equilibrada, que se reflete em to-das as outras dimensões da mi-nha existência.

Trabalhar em contacto per-manente com a fragilidade e imprevisibilidade da vida, com o sofrimento e a morte, tem--me aproximado do mistério de Cristo morto e ressuscitado, que transforma a minha vida e me leva ao encontro do outro. Ten-to ver em cada doente o rosto do próprio Jesus, que alivia o so-frimento e dignifica a vida hu-mana. Por outro lado, procuro ser testemunha do amor e sinal da presença de Deus para cada doente, para cada irmão que cruza o meu caminho.

Neste processo de descoberta da minha missão enquanto pro-fissional, assumi um lema que me tem ajudado a crescer: “O meu trabalho é a minha oração”. Esta tomada de consciência da proximidade de Deus ao longo

do dia, os momentos frequentes de ligação ao céu e a entrega das situações mais difíceis ajudam--me a viver a vida como um dom, a entregar-me por inteiro e a ser sinal de esperança num local de sofrimento e desilusão.

Todas as profissões são dignas e, em cada profissão, ser Mulher tem de fazer a diferença, tem de deixar o seu perfume. A pro-fissão não pode ser considerada uma dimensão menor da vida da mulher, quer na sua realização

pessoal, quer na sua missão na sociedade. Acredito que este poderá ser o cami-nho de san-

tidade de cada uma de nós.

Com tantos caminhos diferentes, como sei que este é o meu cami-

nho? Ser mulher é confiar.Da mesma forma que Maria

confiou desde o primeiro dia, eu tenho de confiar e transmitir confiança, perante o desconhe-cido, o obstáculo, a dificuldade. As mulheres são tidas como o sexo fraco, mas a confiança em Deus pode dar-nos uma força sobre-humana. Muitas de nós temos profissões exigentes e desgastantes, com necessidade de decisões rápidas e complexas, assustadoras quando analisadas do ponto de vista estritamente humano. Tenho a graça de con-fiar em Deus, sei que não estou só, e isso dá-me a serenidade e confiança necessárias para me concentrar naquilo que é real-mente importante.

Mas a nossa missão não pode resumir-se a resolver os nossos dilemas pessoais. Quando ex-perimentamos este encontro e mantemos uma relação de in-timidade com Jesus Cristo, tal como os primeiros apóstolos, “Não podemos calar o que vimos e ouvimos”. Fruto desta cons-ciência, nos últimos tempos te-nho procurado ser testemunha do amor de Jesus Cristo nas mi-nhas relações interpessoais, no mundo digital e nos media, de forma a ser um sinal de espe-rança no feminino.

Neste mundo cada vez mais frio, distante e duro, as mu-lheres podem fazer a diferen-ça, com a sua ternura e talento natural para a comunicação. O Papa Francisco apresenta-nos a ternura como o verdadeiro ca-nal de comunicação em Igreja. A ternura é o amor que se faz pró-ximo e concreto, implica a capa-cidade de olhar, tocar, abraçar, inclinar-se para chegar ao pró-ximo, deixar-se alcançar, numa atitude de escuta para perceber

as necessidades do outro. Gestos de ternura que são tão próprios e naturais das mulheres e mães. A comunicação é inata à mulher, é um dom particular, expresso em tantos exemplos de mulheres fazedoras de paz, mediação de conflitos, conciliação na família e no trabalho – soft skills de que o mundo tanto precisa.

Durante séculos todas as di-mensões da vida e da sociedade foram dominadas por homens. As mulheres eram criaturas in-visíveis às quais estavam reser-vadas tarefas menores. O que é que isso nos trouxe? Demasiadas vezes guerras de poder, injusti-ças, desigualdades e destruição da casa comum. É urgente mu-dar este paradigma.

Depois dos recentes escânda-los financeiros, os modelos de liderança têm vindo a evoluir na sociedade, assumindo a “li-derança na humildade” o mode-lo mais elevado e reconhecido. O mundo de hoje requer lide-ranças com sentido de missão, olhar atento a cada um, exigên-cia consistente e acompanhada, capacidade de comunicação pró-xima, com clareza, coerência, credibilidade e confiança. O líder humilde caracteriza-se por ter uma visão precisa de si, admitir as suas fraquezas, reconhecer o valor dos colaboradores, ter disponibilidade para aprender, mostrar respeito pelos outros, empatia e acessibilidade.

Penso que ninguém tem dú-vidas que estas qualidades e competências estão natural-mente mais desenvolvidas nas mulheres. Então ser mulher implica uma vocação para a liderança? Sim! Liderar na hu-mildade e no feminino não sig-nifica necessariamente atingir um lugar de topo na sociedade, mas se cada uma de nós no seu trabalho e no seu dia a dia ou-sar fazer a diferença, podemos mudar a nossa realidade hoje, o mundo amanhã.

E o que dizer do papel da mu-lher na Igreja? Na exortação apostólica Querida Amazónia, o Papa Francisco reconhece a força e o dom da mulher e reafirma o seu papel central na Igreja sino-dal. Para que esta realidade seja possível, cada uma de nós tem de colocar os talentos que recebeu (ternura, humildade, confiança, capacidade de comunicação e de liderança) ao serviço de Jesus Cristo e da Sua Igreja, assumindo em cada comunidade, paróquia e diocese a plenitude da sua mis-são enquanto mulher.

Como mulheres, mães, profis-sionais e católicas temos uma nobre missão: colocar ao ser-viço de Deus e do próximo to-dos os dons que recebemos no feminino.

Ser Mulher tem de fazer a diferençaSílvia Monteiro

12 DE MARÇO DE 2020

PASTORAL DO ENSINO SUPERIOR“Noite da Misericórdia”, uma celebração da penitência inspirada no “Cristo Vive” do Papa FranciscoSé Velha, 18 de março, 21h

Page 6: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

Uma vez fascinados pelo encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo,

buscamos aprofundar nossa experiência e percorremos um caminho que nos conduz a con-templá-Lo como “Luz do Mun-do” (Jo 8,12). Entretanto, essa Luz Divina ilumina as nossas trevas interiores e faz-nos des-cobrir a desordem que habita dentro de nós, nossas impure-zas, orgulhos e ganâncias.

Nasce aí a necessidade vital de mudar, pois o seguimento de Jesus exige “renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e, so-mente após isso, seguir Seus passos” (Cf. Mt 16,24).

Nas Sagradas Escrituras en-contramos a exortação de São Paulo: “Renovai-vos pela trans-formação espiritual da vossa mente” (Ef 4,23). A renovação do modo de pensar e agir é a característica daquele que foi alcançado por Cristo. Deve-se, assim, ser notável na luta para conformar-se à imagem do ho-mem novo, recriado e restaura-do pela Misericórdia Divina.

Ouçamos ainda o apelo da que-rida santa portuguesa, há pouco tempo celebrada, Santa Jacinta Marto: “Se os homens soubes-sem o que é a eternidade, fariam tudo para mudar de vida”.

Porque não acolher as santas exortações e aproveitar do tem-po da Quaresma?

“O ponto de partida, que da tua parte tornará possível a realiza-ção deste plano divino, é uma nova conversão. Deves recolher as tuas forças, os teus desejos, os teus afetos que tão facilmente se dispersaram e se detêm nos vales humanos, para os reunir num só feixe fazendo-os convergir todos em Deus, teu único e último fim. Deste modo a tua conversão qua-resmal deve consistir numa ge-nerosa determinação de te pores decididamente no caminho da perfeição. Quer dizer, trata-se de um novo propósito de santidade. O desejo de santidade é a mola da tua vida espiritual; quanto mais intenso e real for em ti este dese-jo, mais te levarás a entregares--te totalmente a ele. Procura na Quaresma despertar e robustecer

o teu propósito de santidade. Se outros esforços feitos no passado falharam, ou não atingiram ple-namente o fim não é motivo para desanimar… «Começo agora» re-pete humildemente e a experiên-cia dos teus insucessos te fará pôr só em Deus a tua confiança.” (P. Gabriel de S. M. M., 1967. Intimi-dade Divina - 99,1. 2ª Ed, Edições Carmelitanas – Porto).

Aproveitemos este tempo, e, como nos diz um piedoso sacerdo-te desta Diocese de Coimbra: “Não façamos desta Quaresma um tempo inútil”. Busquemos a Pala-vra para encontrarmos luzes neste caminho, pois “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4,4)

Eis o convite: Aplicar-nos com renovado esforço a “converter--nos a Deus de todo o coração” (Cf. Joel 2,12). E o próprio Divi-no Mestre vai à frente, sigamos seus passos.

Entretanto, isso nos exigirá a virtude da humildade, resta-nos estarmos dispostos a vencer o nosso orgulho e reconhecer que necessitamos de conversão.

«Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor», ouvi-

mos na segunda leitura. Para Paulo, não conhecer o Senhor, é viver na escuridão. Porém, re-ceber a fé n’Ele, é ser iluminado por uma luz que tudo esclare-ce. Não foi isso que lhe aconte-ceu com ele? Vivia perdido, com ódio e rancor no coração, mas no caminho de Damasco, Je-sus visitou--o e uma grande luz brilhou para Ele fazendo-o ver como andava errado e passan-do a ver tudo de uma maneira nova. É esse ver de modo novo que recebemos de Deus pela fé, como nos diz a primeira leitura. «Deus não vê como o homem: O homem olha às aparências, mas Deus vê o coração.»

A Quaresma é, na tradição da Igreja, a última etapa da prepa-ração dos catecúmenos (os que se preparam durante dois ou três anos para serem batizados na Vigília Pascal). O Evangelho da Samaritana, no Domingo passa-do, lembrava aos catecúmenos, como nos lembra hoje a nós, que Jesus é a água viva e quem dela beber nascerá nele uma torrente para a Vida eterna. A Samarita-na respondeu: “Senhor, dá-me sempre dessa água”. Essa água

é a Vida divina, a vida de Cristo que o catecúmeno receberá com o dom do batismo e que nós re-novaremos na noite pascal. No evangelho de hoje, continua-se a catequese batismal, agora com o sinal da luz, pois o batismo é uma iluminação, um ser arran-cado às trevas para a luz admi-rável de Cristo. O cego que Jesus curou representa toda a cegueira que habita no coração dos ho-mens fruto do pecado que não deixa ver a luz.

O encontro com Cristo permi-te a este homem encontrar a luz. “Jesus cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego.” Este ato simbólico reenvia-nos ao ato da criação em que Deus modela o homem do pó da terra e faz emergir a humanidade. Agora trata-se da nova criação, pelo ba-tismo, pois pela fé, cada um de nós renasce para uma vida nova. Depois de lavado na piscina de Siloé, isto é, depois de batizado, o cego passa a ver, é transferido do reino das trevas para o seu rei-no admirável de luz. Que bela é a graça da fé que recebemos no batismo e que bela é esta noite santa da vigília pascal! Oh ditosa noite quem infelizmente, ainda tantos cristãos não descobriram!

Que podemos fazer para re-ceber em nós esta vida divina e sermos transferidos das tre-vas para a luz? Em primeiro lugar desejar com todo o cora-ção pertencer a Cristo, viver da sua Luz. Depois, dar um passo de liberdade para se entregar a Ele e receber a sua luz interior. O ato de decisão do cego foi ir lavar-se na piscina, conforme Jesus mandou. Para cada um de nós pode ser a decisão de fazer uma boa confissão, reno-vando assim a graça batismal, fazer um retiro, participar num percurso cristão que nos vá iluminado progressivamente. Ninguém avança na fé sozinho. Precisamos de outros cristãos com quem caminhamos. Pre-cisamos da Igreja. Este cego, agora curado, tornou-se logo um evangelizador como a Sa-maritana. E o seu testemunho é o mais convincente. Ele não apresenta nenhuma doutrina ou ideia que são sempre reba-tíveis. Apresenta a sua própria experiência. “Era cego e agora vejo”. Contra este facto os argu-mentos caem todos por terra.”. Este é o grande testemunho que Deus espera do crente: Contar o que Deus fez por Ele, como o sal-vou das trevas e lhe deu a luz.

ESPIRITUALIDADE - PROVOCAÇÕES INTERIORES

A procura da conversãoBethânia Filha da Esperança, pjc

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

Ver o mundo e os outros à maneira de DeusJorge Silva Santos

LEITURA DO PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL 1 Sam 16, 1b. 6-7. 10-13aNaqueles dias, o Senhor disse a Samuel: «Enche a âmbula de óleo e parte. Vou enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos». (...)Jessé fez passar os sete filhos diante de Samuel, mas Samuel declarou-lhe: «O Senhor não escolheu nenhum des-tes». E perguntou a Jessé: «Estão aqui todos os teus filhos?». Jessé respondeu-lhe: «Falta ainda o mais novo, que anda a guardar o re-banho». Samuel ordenou: «Manda-o chamar, porque não nos sen-taremos à mesa, enquanto ele não chegar». Então Jessé mandou-o chamar: era ruivo, de belos olhos e agradável presença. O Senhor disse a Samuel: «Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo». Sa-muel pegou na âmbula do óleo e ungiu-o no meio dos irmãos. Da-quele dia em diante, o Espírito do Senhor apoderou-Se de David.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 22Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS Ef 5, 8-14Irmãos: Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz, porque o fruto da luz é a bondade, a jus-tiça e a verdade. Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor. Não tomeis parte nas obras das trevas, que nada trazem de bom; tratai antes as denunciar abertamente, porque o que eles fazem em segredo até é vergonhoso dizê-lo. Mas todas as coisas que são condenadas são postas a descoberto pela luz, e tudo o que assim se manifesta torna-se luz. É por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti»..

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO Jo 9, 1.6-9.13-17.34-38Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nas-cença. Cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e começou a ver. Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?». Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio di-zia: «Sou eu». Levaram aos fariseus o que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizera lodo e lhe tinha aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?». E havia desacordo entre eles. Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?». O homem respondeu: «É um profeta». Replicaram--lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?». E expulsaram-no. Jesus soube que o tinham expulsa-do e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?». Ele respondeu-Lhe: «Quem é, Senhor, para que eu acredite n’Ele?». Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor».

DOMINGO IV DA QUARESMA22 de março de 2020

ENTRADAAlegra-te Jerusalém | CEC I 91

Alegremo-no, porque o nosso Irmão... | CEC I 92Olhai para mim, Senhor | CEC II 48

APRESENTAÇÃO DOS DONSEis o tempo da conversão | CT 307

Com o Sol que se levanta | NCT 579Perdoai, Senhor | NCT 440

COMUNHÃOFelizes os puros do coração | CEC II 86

O Senhor é minha Luz e Salvação | CEC II 53Olhai para mim, Senhor | CEC II 51

PÓS-COMUNHÃOJesus Cristo amou-nos | CEC II 135Eu quero misericórdia | NCT II 444

Cantemos glória ao Nosso Deus | CT 408 SUGE

STÃO

DE

CÂN

TICO

S

12 DE MARÇO DE 2020

MÃOS QUE FAZEM MILAGRESRetiro para Casais, no dia 22 de março,

promovido pelo Movimento por um Lar Cristão, sob orientação do Cónego Nuno Santos.

Informações: [email protected] | 964394622

Page 7: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

Foi em agosto de 1993, em Denver, no coração dos Estados Unidos, que se

realizou a VIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Importa ler a mensagem que, por essa altu-ra, o Papa João Paulo II dirigiu aos jovens, pois ela mantém uma atualidade excecional a to-dos os níveis. O Papa exorta ao “respeito pela dignidade do ser humano, o acolhimento da vida, a defesa dos direitos do homem, a abertura ao transcendente e às dimensões do espírito”. Num momento histórico em que no nosso país, a propósito da euta-násia, se discute o valor e a dig-nidade da vida humana, não po-demos perder a oportunidade de nos deixarmos iluminar por tais palavras. São muitas as pessoas que nas redes sociais expressam a sua opinião sobre esta maté-

ria tão profunda e apresentam situações concretas de pessoas em sofrimento que servem para justificar que se satisfaça o pe-dido daqueles que pedem para serem mortos. Ouvimos dizer: “Mas se a pessoa quer morrer porque já não quer mais viver, se a sua vida de dor e sofrimen-to se tornou insuportável, por-que não deveremos fazer a sua vontade? Porque não havemos de a ajudar a morrer?”. Estamos perante uma argumentação que, aparentemente, manifesta compaixão pelo outro e é preci-samente esta aparência de bem que torna a situação tão delica-da e, por vezes, tão difícil de ser verdadeiramente compreendida na sua profundidade. A confu-são começa logo com a ideia do “ajudar a morrer” porque esta é a forma eufemística e engana-

dora que evita o verbo matar. O que queremos dizer, efetiva-mente, quando afirmamos que se deve “ajudar a morrer?” Aju-dar a morrer será matar ou estar com aquele que sofre, cuidando e reconhecendo a dignidade de toda a vida até que ela chegue ao seu fim natural? Na Carta Encíclica Evangelho da Vida, o Papa João Paulo II refere que “o Evangelho da vida, (…) encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e até não crente, porque (...) todo o homem sinceramente aberto à verdade e ao bem pode, pela luz da razão, chegar a reconhecer, na lei natural, inscrita no co-ração, o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo…” E se qualquer pessoa, apenas pela luz da sua razão pode perceber o valor in-

violável de toda a vida humana, os cristãos, de modo particular, deverão ser capazes de ouvir e de entender as palavras que Je-sus dirigiu a um jovem que se aproximou d´Ele para lhe per-guntar: “Mestre, que hei-de fa-zer para alcançar a vida eterna? “(Mt 19,16), ao que Jesus respon-deu: «Se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamen-tos» (Mt 19, 17). O Mestre fala da vida eterna, isto é, da partici-pação na própria vida de Deus. A esta vida, chega-se através da observância dos mandamentos, incluindo naturalmente aquele que diz «não matarás». Este é precisamente o primeiro precei-to do Decálogo que Jesus recorda ao jovem, quando este Lhe solici-ta os mandamentos que terá de cumprir: Retorquiu Jesus: «Não matarás…». De facto, a invio-labilidade absoluta da vida hu-mana inocente é uma verdade moral explicitamente ensinada na Sagrada Escritura, constan-temente mantida na Tradição da Igreja e unanimemente pro-posta pelo seu Magistério. Tal unanimidade é fruto evidente daquele «sentido sobrenatural

da fé» que, suscitado e apoiado pelo Espírito Santo, preserva do erro o Povo de Deus.

Enquanto catequistas e evan-gelizadores temos a obrigação de acompanhar os nossos jovens nestas questões que provocam tanta controvérsia e polémica e ajudá-los a compreender a Ver-dade revelada por Jesus Cristo e que nos é transmitida pela dou-trina da Igreja. O Papa Francisco referiu recentemente que “a eu-tanásia e o suicídio assistido são uma derrota para todos. A respos-ta a que somos chamados é nun-ca abandonar aqueles que sofrem, não desistir, mas cuidar e amar para restaurar a esperança”. - “A Igreja sente o dever de ajudar as famílias que cuidam de seus entes queridos quer doentes, quer an-ciãos” - (Amoris laetitia, 48).

Os cristãos têm a missão ur-gente de anunciar que o amor é mais forte do que o sofrimento e a morte e esse anúncio deve-rá ser feito por palavras e por obras de modo a que se diga de novo, como os pagãos do Impé-rio romano diziam ao observar a conduta dos primeiros cristãos: “Vede como eles se amam”!

PROJETO SAY YES

«Eu vim para que tenham Vida, e a tenham em abundância» (Jo. 10, 10)Manuela Miranda

De vez em quando o pro-cesso dinâmico do nosso planeta trata de nos in-

comodar, como que a dizer-nos que, por mais avanços da inte-ligência, da ciência e da técnica, somos seres limitados e “fracos”.

Crescemos habituados a as-sistir a terramotos, a vulcões, a furacões, a grandes incên-dios, a grandes inundações, normalmente circunscritos a uma região ou país. Contudo, discretamente, de modo quase invisível, eis que um minúsculo agente infecioso – um “micror-ganismo” – com um diâmetro de 0,000125 mm, rapidamente se desloca e atinge todo o mun-do, rompendo fronteiras terri-toriais e fronteiras corporais. Como é possível uma coisa tão minúscula assustar tanto toda a gente, até os chefes das grandes nações, a Bolsa de Nova Iorque, o presidente do FMI? Como é pos-sível uma coisa tão minúscula obrigar a cancelar congressos, viagens e desaconselhar as pes-soas a irem a restaurantes ou a cinemas ou a concertos (e até as obrigar a ficar em casa, isola-das)? Como é possível uma coisa tão minúscula causar estragos na economia mundial?

Nenhum país, por mais po-deroso que fosse, nenhum esta-dista, por mais inteligente que fosse, era capaz de semelhante “façanha”. Como é possível?

Somos, realmente, muito fracos.

Uma leitura atenta aos “sinais dos tempos” que este Deus não se cansa de nos enviar – com a discrição a que nos habituou –, remete-nos para o significado das cinzas que caíram na nossa cabeça no início da Quaresma: lembrar-nos que vamos morrer, que somos pó e ao pó da terra voltaremos, que não devemos apegar-nos às coisas terrenas; lembrar-nos que esta vida é uma passagem e que nos espera no Céu a felicidade plena (ou seja, o colo deste Deus que nos ama in-condicionalmente); lembrar-nos que devemos arrepender-nos do mal que fazemos e converter-

-nos. É claro que com o grau de indiferença religiosa que vai ca-raterizando as sociedades “ricas” (como mais ou menos a nossa), esta mensagem não passa, não incomoda.

Esta “quarentena” (na verda-deira aceção da palavra) que a Igreja nos convida a viver, tal como a quarentena do vírus, exi-ge que nos retiremos, que vamos para o deserto, que nos privemos de muita coisa, que cumpramos as orientações superiores – para ficarmos “salvos”. E que reze-mos, não só para alimentarmos a intimidade com Deus, mas também para Lhe pedir ajuda – pois, sem Ele, somos mesmo muito fracos (e “maus”, como nos diz Jesus em Mt 7, 11).

Quem sabe se este insignifi-cante (mas tenebroso) vírus não nos vai ensinar – pelo menos por algum tempo – a limitar as nos-sas ambições, a converter atitu-des e a sentir que nem somos donos da vida nem temos o seu absoluto controlo?

Não sei bem se para este, mas de certeza para outros vírus que discretamente por aí se propa-gam, qual autêntica pandemia (o secularismo, a ideologia do género, o aborto, a eutanásia, a cultura da morte, etc.) a melhor vacina é a que a Igreja há 2000 anos criou, com mais acuida-de na Quaresma: oração, isto é, sentir que eu sou o filho muito amado por Deus e com Ele es-tabelecer uma relação íntima; jejum, visto como autocontrolo, renunciando ao mal; partilha, isto é, sentir-me irmão de todos, sobretudo dos mais débeis.

Esta vacina, sim, é de Graça, está acessível a qualquer mo-mento, e protege-nos de tudo. De que estamos à espera?

COVID-19Jorge Cotovio | [email protected]

“Discretamente, de modo quase invisível, eis que um minúsculo agente infecioso – um “microrganismo” – com um diâmetro de 0,000125 mm, rapidamente se desloca e atinge todo o mundo, rompendo fronteiras territoriais e fronteiras corporais.

ACáritas de Coimbra deci-diu cancelar o peditório público que estava pro-

gramado para esta semana (12 a 15 de março). O anúncio foi feito em Conferência de Imprensa no dia 10 de março, na sede da Insti-tuição, com a presença do Pe. Luís Costa e de técnicos da Cáritas liga-dos à realização do peditório.

A decisão foi tomada no senti-do de minorar os riscos de propa-gação do coronavírus, posto que grande parte do peditório seria feito em áreas de risco agravado: espaços fechados, com grande circulação de pessoas e contato com dinheiro. A Cáritas de Coim-bra quer assim proteger quer os voluntários (230 inscritos até ao início da semana) quer as pes-soas que circulam na via pública e nos espaços comerciais que ti-nham aderido à iniciativa.

Sem certezas, porque o pedi-tório envolve uma logística de âmbito nacional, a Direção da

Cáritas Diocesana espera, contu-do, que o peditório possa vir a ser feito numa nova data, pois seria muito importante para dotar a Diocese de um banco de ajudas técnicas dirigidas às pessoas em situação de necessidade e aos fa-miliares que têm de cuidar delas. Essa seria, como aqui noticiámos na semana passada, a finalidade exclusiva do peditório deste ano.

Numa outra vertente, a Cáritas anunciou também estar a seguir desde a primeira hora todas as orientações dadas pela Direção Geral de Saúde, valorizando par-ticularmente a higienização dos espaços. O seu plano de contin-gência para os trabalhadores está desenhado a dois níveis, tendo em atenção que um grande número dos seus utentes “são pessoas que não fazem opção por estar ou não estar”, e exigem ser servidas, pois não têm possibilidade de recurso a outro enquadramento institu-cional ou familiar.

CANCELADO PEDITÓRIO PÚBLICO

Cáritas de Coimbra espera haver nova oportunidade

12 DE MARÇO DE 2020

LAUDATO SI’ - A LEITURA DO CIENTISTACarlos Fiolhais na 3ª das Conferências Quaresmais de Coimbra Urbana, que este ano decorrem sob o tema “Cuidar da casa comum - provocações e conversão”.Seminário Maior, 19 de março, 21h

Page 8: Um desafio e uma oportunidade para a humanidade · o tradicional encontro do andor de Nosso Senhor dos Passos com o andor de Nossa Senhora das Dores, na Praça 8 de Maio, em frente

CORREIO DE COIMBRA

Última

O meu nome é Érica, tenho 24 anos e esta foi a mi-nha segunda ida a Taizé.

Inscrevi-me nesta peregrina-ção com o intuito de encontrar paz, poder serenar e desintoxi-car da rotina e preocupações ba-nais e mundanas do dia a dia do trabalho, no fundo escapar um bocado à confusão.

Quando lá cheguei deparei--me com uma multidão de jo-vens portugueses que encheram as ruas de Taizé. Onde quer que passasse, haviam sempre risos, músicas e histórias a ecoar pelo ar. Fiz um dia de silêncio para tentar desligar de tudo e poder acalmar-me de qualquer tipo de perturbação mas lá estavam presentes estes risos e palavras

à minha volta e por mais que procurasse o silêncio nunca o conseguia encontrar. Percebi que estava a procurar o silêncio no sítio errado, devia procurá-lo em mim mesma, esvaziar a mi-nha mente e coração de quais-quer preocupações para poder acolher o amor e paz de Deus.

Até mesmo o lugar mais cal-mo e sereno pode parecer um caos se a confusão habitar em maior força dentro de nós, é uma questão de perspectiva.

Porque é que Taizé é um lugar calmo e sereno? Aconselho-te a ires e descobrires por ti mesmo, vou só dar-te uma pista: alegria, simplicidade e misericórdia.”

Érica, Grupo Jovens Sempr’Abrir

A BUSCA DO SILÊNCIO

Testemunho de uma jovem peregrina de Taizé na peregrinação diocesana

“Hoje muitas vezes há «conexão», mas não comunicação. Se o uso

dos aparelhos eletrónicos não for equilibrado, pode levar-nos a ficar sempre colados a um vi-sor. Com esta mensagem, que-ridos jovens, gostaria também de lançar juntamente convosco o desafio duma viragem cultu-ral, a partir deste «levanta-te» de Jesus. Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te». É um convite a abrir-se para uma realidade que vai muito além do virtual”, es-creve o Papa Francisco na Men-sagem para o próximo Dia Mun-dial da Juventude (5 de abril). “Isto não significa - continua o Papa - desprezar a tecnologia, mas usá-la como um meio e não como fim. «Levanta-te» signifi-ca também «sonha», «arrisca», «esforça-te por mudar o mun-do», reacende os teus desejos, contempla o céu, as estrelas, o mundo ao teu redor. «Levanta-te e torna-te aquilo que és». Graças a esta mensagem, muitos rostos apagados de jovens ao nosso re-dor animar-se-ão tornando-se muito mais belos do que qual-quer realidade virtual”.

A Mensagem, sob o título «Jo-vem, Eu te digo, levanta-te! (cf. Lc 7, 14)», recorda que a pala-vra “levanta-se” é a expressão comum aos três anos de pre-paração da Jornada de Lisboa: este ano; no próximo ano, sob o título «Levanta-te! Eu te cons-tituo testemunha do que viste! (cf. At 26, 16)» e, em 2022, «Maria levantou-Se e partiu apressada-mente» (Lc 1, 39).

Seguindo o episódio evangélico da ressuscitação do jovem morto (Lc 7, 11-17), o Papa convida os jo-vens a ver o sofrimento e a morte no mundo de hoje, a ter compai-xão, a aproximar-se e «tocar» e a reerguerem-se eles próprios para uma nova vida de «ressuscita-dos”, deixando, no final, um ape-lo de participação ativa na vida do mundo e da Igreja: “Queridos jovens, quais são as vossas pai-xões e os vossos sonhos? Fazei--os sobressair e, através deles, proponde ao mundo, à Igreja, a outros jovens, algo de belo no campo espiritual, artístico e so-cial. Deixai que vo-lo repita na minha língua materna: «hagan lìo – fazei-vos ouvir!»

MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE

“Deixai que vo-lo repita na minha língua materna: «hagan lìo!»”

O 106º Dia Mundial do Mi-grante e do Refugiado será comemorado a 27 de se-

tembro de 2020. Como título da sua mensagem anual, o Santo Pa-dre escolheu “Forçados como Jesus Cristo a fugir”. A mensagem será centrada no cuidado pastoral das pessoas deslocadas internamente, que são atualmente mais de 41 mi-lhões em todo o mundo.

Como o título deixa bem pa-tente, a mensagem parte da ex-periência do jovem Jesus e da sua família como pessoas deslocadas e refugiadas. Essa experiência fornece uma base cristológica es-pecífica para a ação cristã de aco-lhida ou hospitalidade.

Nos próximos meses, o tema será desenvolvido em seis subte-mas, expressos em seis pares de verbos: conhecer para compreen-der; aproximar-se para servir; ouvir para se reconciliar; com-partilhar e assim crescer; envol-ver para promover; e, finalmente, colaborar e, portanto, construir.

Este ano, mais uma vez a Sec-ção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do De-senvolvimento Humano Integral incentivará, preparará e apoiará a celebração deste dia. Estão a ser desenvolvidos recursos e em breve será iniciada uma campa-nha de comunicação. Todos os meses, serão oferecidas informa-ções, reflexões e recursos multi-mídia como forma de explorar e expressar o tema escolhido este ano pelo Santo Padre.

Comunicado do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento

Humano Integral, Secção Migrantes e Refugiados, 6 de março)

Dia Mundial do migrante e refugiado

De forma a assinalar o Domingo da Palavra de Deus, os Franciscanos

Capuchinhos e a Difusora Bí-blica lançaram uma nova apli-cação da Bíblia Sagrada para telemóvel.

A Difusora Bíblica, Editora da Província Portuguesa dos Capu-chinhos, fundada em 1955, já tinha disponibilizado, em 2007, o texto da Bíblia Sagrada na in-ternet e, em 2011, em diversas aplicações para telemóvel. Agora, em aplicação própria, disponi-biliza-o novamente na primeira edição publicada segundo o atual Acordo Ortográfico. Para já, ape-nas está disponível para Android, mas a Editora afirma-se empe-

nhada no seu desenvolvimento: “Queremos oferecer-lhe, gratui-tamente, uma aplicação com qualidade para que possa aceder, onde quer que esteja, à tradução da Bíblia Sagrada que os católicos portugueses melhor conhecem há mais de cinquenta anos”.

A aplicação, sob o nome “Bí-blia dos Capuchinhos” permite selecionar livros e capítulos, pesquisar determinada palavra ou frase, aceder às Leituras li-túrgicas do dia, instalar outras traduções dos versículos. Nas “definições”, permite alterar o tamanho da letra e o estilo do tema. Pode-se ainda partilhar um versículo de que se goste por sms, WhatsApp ou email.

BÍBLIA NO TELEMÓVEL

Aplicação dos Capuchinhos possibilita várias consultas

Surpresa, suporte e sagra-do - foram as três pala-vras que orientaram os

diferentes momentos da pere-grinação de namorados a pé a Fátima. Uma iniciativa conjunta das dioceses de Leiria e Coimbra, numa primeira edição que se es-pera repetir.

O grupo de casais de namora-dos, não sendo numeroso, viveu a caminhada com muito entu-siasmo e espiritualidade, num

caminho que os conduziu das Cortes a Fátima. Pelo percurso iam surgindo desafios e momen-tos marcantes – como a Eucaris-tia. A peregrinação terminou com o terço e a procissão de velas.

Esta iniciativa insere-se num desafio maior da pastoral familiar de acompanhar mais os casais de namorados. Um desafio que quer ajudar a perceber como o namoro deve ser o lugar da santidade e o caminho para o matrimónio.

INICIATIVA DA PASTORAL FAMILIAR

Peregrinação de Namorados a Fátima

“Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te».

Em linha com outros adia-mentos e cancelamentos originados pela atual si-

tuação relacionada com o novo vírus COVID-19, o Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil adiou o Festival Diocesano da Canção Jovem para data a anun-ciar futuramente, numa decisão tomada com a ajuda do Senhor Bispo, vários responsáveis da Câmara Municipal de Tábua e párocos mais envolvidos. O festi-val estava programado para este sábado, 14 de março, em Tábua.

PASTORAL JUVENIL

Adiado Festival da Canção Jovem

12 DE MARÇO DE 2020

VIA SACRA NA MATA DO BUÇACOIniciativa gratuita da Pastoral do Turismo da Diocese de Coimbra e Fundação Mata do Buçaco, no dia 29 de março, às 15h.Inscrições: facebook da Pastoral do Turismo da Diocese de Coimbra